os alckimistas estão chegando

46
CRASE #19 Fevereiro - 2012 Ano 2 - 19ª Edição - Fevereiro - 2012 OS Alckimistas estão chegando

Upload: revista-crase

Post on 26-Mar-2016

229 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Décima nona edição da Revista Crase.

TRANSCRIPT

Page 1: Os Alckimistas estão chegando

CRASE#19

Fevereiro - 2012

Ano 2 - 19ª Edição - Fevereiro - 2012

OSAlckimistas

estãochegando

Page 2: Os Alckimistas estão chegando
Page 3: Os Alckimistas estão chegando
Page 4: Os Alckimistas estão chegando

índice

Editorialp. 08

p. 10

Inscrições abertas para edição espe-cial do Oficinão Residência.

Revisitando alguns temas em Blade Runner.

p. 16

MODERNIDADE OU UMANOVA IDADE DAS TREVAS

15 ANOS DE OFICINÃO COMRITA CLEMENTE E JÔ BILAC

Escolha e clique na matéria desejada.

Quando o que você veste é mais que uma expressão do seu estilo.

p. 20 É SÓ ROUPA?!

Page 5: Os Alckimistas estão chegando

Quando o desempenho se torna o caminho para a felicidade.

p. 32

A rainha do rock pendura os microfones, mas não perde a realeza.

p. 38

A analista, pesquisadora e bailarina fala sobre o suposto desenvolvimento do brasil.

CRASE CONVIDA

Flávia Seidelp. 42

A tragédia do Pinheirinho.p. 24 Os Alckimistas estão chegando

MEME QUER, MAL ME QUER

RITA LEE, AQUI E ACOLÁ

Page 6: Os Alckimistas estão chegando

REVISTA

CRASEDIRETORIA

Direção-Geral: Dans SouzaDiretor de Redação: Rafael Farah

REVISTA CRASERedatores: Amanda Guerra, Bruno Buhr,

Cadu Senra, Clarissa Affonseca, Deborah Pinheiro, Leonardo Alves, Leandro Bertholini, Patricia Teles,

Renan Alves, Vanessa Vieira, Vinícius BaiãoProdução: Hélio Lobato, Yves Araujo

ARTE Diretor de Arte e Diagramação: Nicolas Dani

FOTOGRAFIA

Editor: Diego ValFotógrafos: Caio Pagin, Leonardo Ferreira,

James Donahue

INTERNET Programador: Dans Souza

CAPA Arte: Dans Souza

Page 7: Os Alckimistas estão chegando
Page 8: Os Alckimistas estão chegando

8

Carnaval chegando. Na esquina, praticamente. Para alguns já até começou; milhares de foliões

já foram às ruas comemorar... O quê? Alguém se lembra por que comemoramos - tanto - o carnaval? Muito maior do que admitimos, essa festa não é apenas uma ode à promiscuidade, beleza – vide a famosa bunda brasileira – e o samba, que foi implementado como hino por nós.

A tradição do carnaval começou lá atrás, na Grécia antiga e, era realizada como forma de cultuar e agradecer aos deuses. Acredite se quiser, a tradição foi adotada pela Igreja Católica aproximadamente mil anos depois, como uma forma de se “libertar da carne”. Daí o nome carnaval, que se originou do latim carne vale.

Como um enteado, adotamos as festividades como nossas - até porque podemos todos concordar que nenhum outro povo festeja tão bem quanto o nosso – e fizemos do nosso carnaval uma referência mundial. Apesar da busca por prazer ser uma marca registrada desde a Antiguidade, com o passar dos anos e a atitude hedonista do brasileiro, levamos essa procura a um patamar jamais

Editorial

Page 9: Os Alckimistas estão chegando

9

sonhado por gregos e romanos. Dois mil anos de evolução não foram o bastante para nos livrarmos de rituais tribais como este. Como no passado, usamos estas festividades como desculpas para embebedarmo-nos, escapar do trabalho e, em alguns casos, contrair um vasto leque de DSTs - uma salva de aplausos para a campanha à favor do uso da camisinha. Isso sem contar com os rios de dinheiro movimentados pela mais esperada festa brasileira.

Em falar em movimentação de dinheiro, a matéria de capa desta edição está imperdível. Sensacional artigo sobre a recente ocupação da comunidade de Pinheirinho e as “proezas” do governo de Geraldo Alckimin. Também nesta edição, trazemos dois novos integrantes da família Crase: Renan Alves e Vanessa Vieira com artigos deliciantes sobre cinema e moda, respectivamente.

Mesmo com o carnaval batendo à porta, não esqueçamos que o mundo ainda gira e, que a Crase – assim como vocês - gira com ele.

Rafael Farah

Page 10: Os Alckimistas estão chegando

10

por Renan Alves

Cinema

MODERNIDADE OU UMANOVA IDADE DAS TREVASRevisitando alguns temas em Blade Runner.

Page 11: Os Alckimistas estão chegando

11

Nã o f a z m u i t o t e m p o , n u m a

madrugada qualquer em Portugal, tive a oportuni-dade de (re)ver este clás-sico do cinema sci-fi; Blade Runner, de Ridley Scott. É incrível como que este visionário fi lme de 1982 (baseado no romance de Philip K Dick “Do androids dream about a electrical sheep”) tange diversos níveis de críticas à moder-nidade e dá margem aos mais variados t ipos de discussão. Dos diferen-tes temas que podemoss identif icar, o mais gri -tante seria a inversão dos papéis proposta por esta mesma modernidade caó-

tica. A maquinização do homem e a humanização da máquina. No enredo, uma sociedade altamente tecnológica e utilitarista, andró ides que são de certa forma considera-dos defeituosos e ultra-passados, não servindo mais para qualquer tipo de finalidade, são caça-d o s i m p l a c a v e l m e n t e por Deckard (Harr ison Ford). Por serem defei-tuosos, são considera-dos ameaça pública. Os andróides - os quais tem um tempo de vida limitado - partem para um tudo ou nada numa busca deses-perada pela sobrevivên-c ia a qua lquer custo .

Page 12: Os Alckimistas estão chegando

12

O cur ioso é que cada andróide foi desenvolvido para desempenhar deter-minada função na socie-dade (o utilitarismo pre-sente novamente), mas um deles, interpretado pela atriz Daryl Hannah é ded icada a funções artísticas, o que é uma característ ica intrinse-camente humana. Rachel (Sean Young), a andróide que mantêm uma espé-cie de relação amorosa com Deckard, também começa a despertar sen-t i m e n t o s t i p i c a m e n t e humanos como a nostal-gia (de memórias não vivi-das), angústia e medo.

O u t i l i t a r i s m o radical e exagerado é fruto de uma sociedade governada pela razão téc-

nica em que vivemos. Um grande nome da filosofia moderna, o alemão The-odor Adorno, nas déca-das de 30 e 40 já escrevia grandes ensaios sobre o tema. Acusava o ilumi-nismo como precursor de uma sociedade dominada pela razão. Esse modelo de sociedade, que visava o desligamento do domí-nio das religiões, gerou um outro tipo de opres-s ã o , q u e c u l m i n o u n o positivismo e numa socie-dade capitalista explora-tória sem precendentes, onde tudo tem um valor de troca. O homem, em uma sociedade dominada pela técnica, não obt i -nha mais o saber para deleite, ou pelo prazer, mas s im para produzir algo. Estava alienado e

Page 13: Os Alckimistas estão chegando

13

escravo do uti l i tarismo e até nas horas do lazer é escravo dos meios de produção. Produz a todo instante. Menos se vive, mais se produz. A conse-quência disto foi a perda da experiência humana. C o n t u d o , A d o r n o n ã o pode ser considerado um pessimista, pois vê uma saída para o homem e, ela está na arte. A arte

é a lgo perfe i to d iante de uma realidade imper-feita, liberta o homem dos tentáculos do s istema. Portanto a razão técnica não é absoluta e pode desaparecer. Lembremos mais uma vez da andróide interpretada por Deryl Hannah. É na actividade art íst ica que o homem pode buscar sua l iber-tação e ser ele mesmo.

Page 14: Os Alckimistas estão chegando

14

Ta m b é m v a l e

lembrar o filme “Tempos

M o d e r n o s ” , i n t e r p r e -

t a d o p o r C h a p l i n . U m

claro exemplo do homem

que fo i maquin izado e

l o b o t o m i z a d o p o r s u a

f u n ç ã o u t i l i t a r i s t a .

Apertar parafusos. Em

contrapartida temos Roy

B a t t y ( R u t g e r H a u e r ) ,

l íder dos andróides em

sua busca pela sobrevi-

vência, em seu celebre

d iscurso, quando des-

c r e v e a s s u a s v i s õ e s

o n í r i c a s a s q u a i s s e

p e r d e r a m c o m s u a

m o r t e , c o m o l a g r i m a s

na chuva. Grande cena.

Hoje ao assist ir-

mos o Blade Runner, con-

seguimos enxergar um

f i lme que manteve um

incrível d ialogo não só

com seu tempo, mas com

toda uma modernidade

degradada, assim como

as ideias de Adorno, que

c o n s e g u e m s e r t r a n s-

cendenta is , sempre se

r e n o v a n d o e o f e r e -

cendo novas leituras. É

por isso que daqui a 50

anos , em 2062 , nossos

netos ass i s t i rão B lade

Runner e lerão Adorno.

C o n i t n u a r ã o s e n d o

a t u a i s . C o m o n u n c a

foram antes.

Page 15: Os Alckimistas estão chegando

15

Page 16: Os Alckimistas estão chegando

16

por Patrícia Teles

Inscrições abertas para edição especial do Oficinão Residência.

Teatro

15 ANOS DE OFICINÃO COMRITA CLEMENTE E JÔ BILAC

O G a l p ã o C i n e H o r t o , c e n t r o

cultural do Grupo Galpão, é um dos mais importan-tes pólos de fomento à cultura de Minas Gerais. Fundado em 1998 em um

antigo cinema no bairro do Horto em Belo Horizonte, o Galpão Cine Horto esti-mula a criação cênica e a formação de novos profis-sionais, além de apresen-tar em sua programação

Page 17: Os Alckimistas estão chegando

17

eventos que se tornaram tradicionais na cidade, entre eles o Oficinão Resi-dência, um projeto único no Brasil que conta com o patrocínio da Usiminas.

Uma vez por ano são selecionados 15 atores p a r a p a r t i c i p a r e m d o Oficinão. O diretor pode ter seu projeto selecio-nado ou ser convidado. Nas primeiras edições os próprios atores do Grupo Galpão dirigiram o Ofici-não. O projeto resulta na montagem de um espetá-culo que fica em cartaz no teatro do Galpão Cine Horto. Contudo, o princi-pal objetivo é a vivência dos atores com os demais profissionais envolvidos, por isso o processo dura

em média 10 meses, um longo per íodo onde é possível investigar deta-l h a d a m e n t e a l i n g u a -gem que o diretor deseja ut i l i zar na montagem.

Esse ano o Ofi -cinão completa 15 anos e, para comemorar, o Galpão Cine Horto prepa-rou uma edição especial. Foi convidada para diri-gir a montagem, a atriz e diretora mineira Rita Cle-mente, indicada ao Prêmio Shel l de Teatro de São Paulo em 2008 pela direção

“Esse ano o O f i c i n ã o c o m p l e t a 1 5 anos...”

Page 18: Os Alckimistas estão chegando

18

de “Amores Surdos” do “Grupo Espanca!”. Quem assume a dramaturgia é o jovem dramaturgo carioca Jô Bilac, vencedor do Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro na cate-goria de melhor autor com a peça “Savana Glacial”.

O s i n t e r e s s a -dos em participar da 15ª edição, podem se inscre-ver até o dia 23 de feve-reiro. No site do Galpão Cine Horto (www.galpao-cinehorto.com.br) estão todas as informações para os candidatos. Após a triagem dos currículos, 40 atores serão selecio-nados para participarem da Oficina-Teste, onde ao longo de cinco dias Rita Clemente e sua equipe terão a oportunidade de

conhecer melhor os candi-datos e assim escolher os 15 atores que integrarão o elenco da montagem.

Durante as 14 edi-ções do Oficinão Residên-cia, atores de diferentes nacionalidades e estados mudaram-se para Belo Horizonte para vivencia-rem essa intensa experi-ência teatral. Os ensaios ocorrem de segunda a sexta e, quando a estréia se aproxima há ensaios aos sábados, domingos e feriados, de acordo com a necessidade do diretor. Os atores participam gra-tuitamente do Oficinão e recebem uma pequena porcentagem da bilhete-ria quando a montagem entra em temporada. Até hoje o espetáculo que

Page 19: Os Alckimistas estão chegando

19

mais se destacou no Ofi-cinão foi “Quando o Peixe Salta” de 2006; dirigida por Rodrigo Campos e Fer-nando Mencarelli, rece-beu 4 prêmios Usiminas/Sinparc, entre eles o de melhor espetáculo adulto.

A s s i m c o m o o

Oficinão, o Galpão Cine Horto também an iver-saria em 2012. Porém, o principal presente para o centro cultural está pre-visto para 2014. Após um acordo com o governador

de Minas Gerais, Antônio Anastasia, o Galpão rece-berá uma nova sede; o antigo cinema será tro-cado por uma instalação mais moderna, um prédio de quatro andares com arquitetura sustentável, teatro com capacidade para 400 pessoas, esta-c i o n a m e n t o , s a l a s d e ensaio, entre outros. A nova sede será constru-ída no bairro da Espla-nada e permitirá que o Galpão amplie suas ações culturais na cidade.

SeboRio de Janeiro - RJ

Page 20: Os Alckimistas estão chegando

20

por Vanessa Vieira

Quando o que você veste é mais que uma expressão do seu estilo.

Moda

É SÓ ROUPA?!

A l g o q u e p a s s a aparentemente

despercebido pela nossa rotina é a relação entre as roupas e as crenças, celebrações e ocasiões sociais. Por mais displi-

cente que seja a sua rela-ção com o vestuário e a moda, por mais fútil que ache tudo o que vem desse meio, por mais que você não siga tendências, não acompanhe as semanas

Page 21: Os Alckimistas estão chegando

21

de moda e não entenda completamente a fascina-ção das pessoas com uma simples peça de roupa ou adereço, estamos todos ligando roupas com diver-sos rituais. A história nos acondiciona a isso, está enraizado nos princípios d a s o c i e d a d e . P a r e c e e x a g e r o , m a s n ã o é .

H á p o u c o m a i s de um mês, passamos por um desses rituais, o Ano Novo. Do cara cético àquela sua tia mais ape-gada em simpatias, todo mundo se preocupa em ter uma roupa nova, um chinelo novo. O impor-tante é estar vestido para o que a situação repre-senta: estar novo para o novo que vem por aí.

E s s a r e l a ç ã o passa do mais raso ao mais profundo: o kipá, o hijab, o rakusu, as vestes sacerdotais não são nada além de peças de roupa que simbolizam aspectos religiosos, passando uma mensagem para além dos limites religiosos. Em todo lugar, há pessoas usando o que vestem para comu-nicar o que pensam, o que acreditam, o que querem pra si. É a auto afirmação que passa do estilo para algo mais denso. Querer que o mundo mais que

“Em cada c o r t e , e x i s t e uma h istór ia, um crença...”

Page 22: Os Alckimistas estão chegando

22

apenas veja, mas entenda o que acontece com você.

N ã o e s t a m o s falando de dress code. Ele serve para te dizer como se vestir em deter-minada ocasião. Aparên-cia física. Algo banal. Um livrinho de regras e só. É certo que, às vezes, o dress code e a tradição se confundem, mas podem ter le i turas s imból icas também, como o branco da noiva e o preto do luto. Ta m b é m n ã o e s t a m o s falando de estilo, embora o próprio est i lo seja a exteriorização de várias convicções pessoais, mas ainda estamos um passo a d i a n t e n e s s e t e m a .

Ass im, podemos pensar com mais atenção

o que se passa no mundo da moda, que está dentro de uma cerca fora destas questões tão profundas: os estilistas buscam ins-p i r a ç õ e s d e d i v e r s a s naturezas, para comuni-car o que pensam, com tanta convicção quanto quem passa o ano novo chinês vest ido com um qipao porque acredita no que aqui lo representa.

Se quem não vive neste meio já tem uma relação ritualística com a roupa (por mais que não perceba), imagine quem vive, respira e tra-balha com moda? O que acontece ali , criar uma história para desenvol-ver uma coleção, já é um ritual muito pessoal e cheio de convicções.

Page 23: Os Alckimistas estão chegando

23

M a s n ã o f a z sentido espiritual izar a moda. O intuito é mos-t r a r q u e , t a l v e z , n ã o seja só roupa. Porque, sim, no meio da loucura de egos, carões e discus-sões que existem sobre essa rea l importânc ia das roupas e da moda e, querendo desfazer esta confusão, colocando na cabeça que “é só roupa”, não é só isso. Não pode ser só isso. E se, como há quem diga, uma peça de roupa é uma obra de arte? E a arte, por defi-

nição ser uma manifesta-ção estética de emoções e ideias, que visam atin-gir e estimular o indiví-duo com seu significado?

Em ca da corte , existe uma história, um crença, um desejo de estabelecer uma ligação com a essência daquele criador. E é isso que todos nós queremos, não é? Comunicar e sermos com-preendidos de verdade. E você achando que era só um monte de botões, panos e linhas, hein?

Page 24: Os Alckimistas estão chegando

24

Política

Page 25: Os Alckimistas estão chegando

25

por Bruno Buhr

OsAlckimistasestãochegando A tragédia do Pinheirinho.

Page 26: Os Alckimistas estão chegando

26

D ia 22 de janeiro, Es tado de São

P a u l o , S ã o J o s é d o s C a m p o s , c o m u n i d a d e do Pinheirinho. O que se pôde acompanhar atra-vés da cobertura dos grandes veículos foi a d e s o c u p a ç ã o e r e m o -ção violenta dos mora-dores de tal localidade afim de reestabelecer a ordem e impor a lei em um local onde aparente-mente esta não vigorava.

N o e n t a n t o olhando com lentes um pouco mais ajustadas aos fatos, despidos do véu de demagogia e cinismo político com que se tenta encobrir a barbárie esta-tal, pode-se observar que

impera uma unilaterali-dade constitucional nesta terra de Vera Cruz. Isto porque se percebe que os direitos e garantias fundamenta is em inú-meros casos correm em uma v ia de mão única em direção aos bolsos fartos, ass im como as restrições penais percor-rem o caminho inverso numa avenida expressa em direção à pobreza.

Depois do poder executivo local ter atin-gido seu objetivo de desa-lojar brutalmente mais de 1.500 famílias deixando-as em condições animales-cas e flutuando despro-tegidas em um mar de incertezas, o governador

Page 27: Os Alckimistas estão chegando

27

Geraldo Alckimin apresen-tou uma declaração que dava a entender que a desocupação havia sido um sucesso graças ao planejamento minucioso e ação pacífica da polí-c ia mi l i tar. Em contra-partida é notório que a simples e suja negativa

não é capaz de desconsti-tuir os fatos, mais do que documentados da tragé-dia humanitária que se abateu sobre a Comu-nidade do P inheir inho.

N e s t e j o g o d e empurra a pres identa Dilma chegou a assumir

Exército dos Desvalidos

Page 28: Os Alckimistas estão chegando

28

a postura mecânica e de espírito estéril, mas ficou por aí, o PT se calou e preferiu ficar em cima do muro a perder os votos do eleitorado que pende para a direita.

A notícia das vio-lações dos direitos e a d ign idade destas pes-soas, embora não tenham ganhado nada mais do que pequenas notas de pesar tanto de representantes das três esferas de poder estatal como dos gran-

des telejornais, chegou ao conhecimento da OEA (Organização dos Estados Americanos) através da iniciativa orquestrada por Fábio Konder que contou com o apoio de outros tantos juristas brasileiros.

O g o v e r n o d e G e r a l d o A l c k i m i n v e m de modo obtuso instau-rando uma espécie de governo onde os con-tra tem p os que envo l -vem questões relativas à pobreza são resolvidos através da força policial, dando azo ao ressurgi-mento da situação facista e d o f o r t a l e c i m e n t o do “poder po l i c iár io” .

O direito à pro-priedade só existe atre-lado ao cumprimento da

“Existem no Brasil cerca de 200 ocupações c o m o a s d o Pinheirinho...”

Page 29: Os Alckimistas estão chegando

29

função social, porém no caso em tela o terreno colossal que abrigava a comunidade do Pinheiri-nho estava improdutivo, à mercê apenas da especu-lação imobiliária. Em 2004 a tal área começou a ser ocupada, fazendo valer a garantia constitucional à moradia disposta no artigo 6° da Carta Magna.

É evidente que a justiça se baseia no equi-líbrio decorrente do sope-samento de direitos. Toda-via, a balança, símbolo da equidade e justeza parece ter sido adulterada em prejuízo dos moradores da comunidade. O fato é que o despejo das quase 7.000 pessoas que habi-tavam o terreno ocor-

Page 30: Os Alckimistas estão chegando

30

reu mediante inúmeros a s s a l t o s a o s d i r e i t o s humanos, entre absur-dos e aberrações proces-suais e constitucionais.

É este paradigma de ordem que se deseja? Onde o direito constitu-cional à moradia de mais de 1.5 mil famílias é pre-terido em razão da satis-fação de d ire i tos c iv is p a t r i m o n i a i s e m p r o l dos créd i tos da admi -nistração pública contra a massa fal ida de uma empresa de propriedade de um conhecido este-l ionatário? É assim que se deseja tratar a ques-tão da pobreza neste país? Afastando da vista, escondendo e varrendo pra debaixo do tapete a cruel e inevitável conclu-

são do fracasso das políti-cas publicas no Brasil que empurram mi lhares de cidadãos rumo ao abismo da miséria, da necessi-dade e do subemprego; para que depois estes mesmos cidadãos rece-bam um tratamento bes-tial e brutal, que os fere com a chaga da diferença.

D e a c o r d o c o m levantamento feito pelo ministério das cidades, existem no Brasil cerca de 200 ocupações como as do Pinheirinho. Será o prenúncio de outras v io lações dos d ire i tos humanos e estraçalha-m e n to da l e ga l i da de ?

O Rio de janeiro já sofreu do mesmo pro-blema na primeira década

Page 31: Os Alckimistas estão chegando

31

do sec. XX, a famosa reforma do “bota abaixo” que sob o pretexto de uma reformulação do espaço urbano de cunho sanitarista e afim de pro-mover o embelezamento da c idade, removeu a suposta feiura dos Corti-ços do centro da cidade para áreas inóspitas do então distr i to federal .

E assim a pobreza sempre foi enxotada de um canto ruim para outro

pior, sempre que um inte-resse escuso e egoísta se manifestava. Foi assim na reforma Pereira Passos, no Rio de Janeiro em 1906 e está sendo assim na comunidade do P inhei -rinho, em São Paulo em 2012. Trágico que em 100 anos a tecnologia evoluiu, alguns conceitos sociais, ev identemente evolu í -ram, mas as paixões que cegam nossos governan-tes pertencem aos tempos da caverna.

Page 32: Os Alckimistas estão chegando

32

por Leonardo Alves de Lima

Quando o desempenho se tornao caminho para a felicidade.

Sociedade

MEME QUER

MAL ME QUER

Page 33: Os Alckimistas estão chegando

33

A p r o c u r a p e l o melhor desempe-

nho aliado ao vácuo ideo-lógico deixado pelo último século vem apresentando como resultado, a falta de um ganho social sig-nificativo em meio a um tsunami de repetições e pelo furacão de imitações que vão à contra mão da demanda real, ou seja, a busca por novos pro-cessos invent ivos que definirão esta década.

Diante da ameaça nazista, a figura do “pai” despontou como porto seguro e esperança para u m a I n g l a t e r r a b o m -bardeada e sob r isco de invasão. Church i l l , aquele senhor vestindo terno perfeitamente ali-nhado, gravata borboleta

e fazendo o “v” da vitó-ria não só inspirou como influenciou o comporta-mento de uma geração que soube manter as apa-rências mesmo diante da ruína. Quanto ao compor-tamento eram ouvintes. Davam ouvidos ao pai, a BBC através do rádio que em lugar de destaque na sala de estar reunia toda a família, e aos ser-mões do B i l l y Graham.

N ã o à t o a , n a década seguinte a figura imaculada do pai foi subs-tituída pelo l íder caris-mát ico, as aparênc ias deram lugar à rebeldia e de ouvintes passivos os jovens passaram a sujei-tos ativos na busca por suas respostas, e foi jus-tamente esta busca que

Page 34: Os Alckimistas estão chegando

34

p ro p i c i o u a fo rma ç ão da chamada ‘ansiedade global’. Ou seja, aquilo que todos querem mesmo sem saber exatamente o que é, marca importante da sociedade de consumo. Na década de 1980 esta ansiedade estava repre-sentada pela ambição. O modelo a ser seguido era aquele capaz de respon-der a pergunta: Eu quero vencer como? O herói não era o pai, não era o líder carismático e sim o ven-cedor. A ostentação era a vitrine da vida, no mais puro est i lo Miami Vice. Produzia-se para ganhar dinheiro sem preocupa-ção com a religião, cada vez menos legi t imada.

Foi a “ideologia”, quem melhor respondeu

àquela pergunta e diante de capitalistas e comunis-tas o mundo girou. Mas toda esta ansiedade é abstrata, volúvel. A queda do muro de Berlim em 1989 marcou o fim das ideolo-gias e, por conseguinte, do próprio século XX, o que ficou imortalizado na voz de Cazuza: “(...) ide-ologia, eu quero uma pra viver”. Este grande vácuo ideo lóg ico nos de ixou órfãos, talvez uma das razões pelas quais sucum-bimos tão fragi lmente a parvoíces como as da guerra contra o terror empreendida por l ide-res igualmente parvos, isto já no nosso tempo.

O indivíduo deixou suas crenças para se tornar o que? Bento XVI

Page 35: Os Alckimistas estão chegando

35

em Sidney na 23° Jornada Mundial da Juventude: “Não vos deixeis enganar por quantos vos olham como meros consumido-res num mercado de pos-sibilidades indiferencia-das, onde a escolha em si mesma se torna o bem.” Nas palavras do Pontífice,

nos tornamos um pacote de preferências onde a escolha da marca é o que confere valor individual.

Neste universo de preferências, o desem-penho faz a diferença. Numa época onde todos parecem ansiar por felici-

Page 36: Os Alckimistas estão chegando

36

ou performance, pois erros e acertos são vistos como aprendizado e a qua-lidade está no conteúdo ao invés da superfície. Relacionam-se colaborati-vamente, opinam, escrevem e pensam

dade, a pergunta é: Quem sou eu? Quem responde? A performance. Não importa se bom ou ruim, se cool ou ridículo, quão melhor a performance, mais clicado, mais repetido, mais tuitado, mais cur-tido, compartilhado, seja a garga-lhada de um bebê, a propaganda de um automóvel, a frase em um comercial de empreendimento imo-biliário. A vida se tornou “meme”

É difícil definir qual a ten-dência desta década, o que é pos-sível dizer é que se faz necessário a presença da chamada minoria criativa. Aqueles que através de processos de ruptura apontarão o futuro. Para estes o valor indivi-dual não está no consumo, enxer-gam as avenidas digitais como ferramenta para o autoconhe-cimento e expressam-se na van-guarda do comportamento sem se importar com o desempenho

Page 37: Os Alckimistas estão chegando

37

ou performance, pois erros e acertos são vistos como aprendizado e a qua-lidade está no conteúdo ao invés da superfície. Relacionam-se colaborati-vamente, opinam, escrevem e pensam

na contra mão das vias oficiais. No universo do besteirol, o siga-me que interessa não está no Canadá, não pode ser imitado e está por aí, entre nós. Só precisamos encontrá-lo.

Page 38: Os Alckimistas estão chegando

38

RITA LEE,AQUI E ACOLÁ

por Cadu Senra

Música

O ano de 2012 mal começou, mas o

cenário musical brasileiro já sofreu sua primeira baixa: Rita Lee, a rainha ru iva do Rock N’ Ro l l , anunciou sua aposenta-doria dos palcos no último

mês, alegando sofrer de severa debilidade física a p ó s s e u s c o n c e r t o s . Entretanto, Lee tratou de deixar claro, para alívio de seus fãs, que o afasta-mento se restringirá aos palcos, e que não signi-

A rainha do rock pendura os microfones,mas não perde a realeza.

Page 39: Os Alckimistas estão chegando

39

ficaria, em absoluto, o fim de sua carreira. Ela a inda aproveitou para dizer que, agora que não fará mais shows, acabaria se tornando uma “rata--de-estúdio”, pois garante q u e p r e t e n d e p a s s a r longas horas no ambiente, gravando novos projetos.

Desde o início da carreira, Rita já demons-trava a predestinação e irreverência que a tor-nar ia uma referênc ia da música mundial. Sem apelar para sua bela e exótica aparência – cabe-los lisos cor de fogo, pele branca como neve e olhos levemente puxados -, ela se valia de seus muitos talentos para se desta-car. Além de ser poliglota – fa la quatro l ínguas

fluentemente -, a menina que contava apenas com 19 anos quando se juntou à sua pr imeira banda, “Os Mutantes”, em 1966, era também mult i - ins-trumentista, dominando fora os vocais ; a gui -tarra; a flauta; o banjo; sintetizadores e instru-mentos de percussão.

Sua banda partici-pou dos primeiros traba-lhos da tropicália de Gil e Caetano, tendo feito par-ceria com ambos em diver-sas músicas, como “Panis Et Circenses”, que contém

“Sua influ-

ência foi funda-

mental para o

rock brasileiro...”

Page 40: Os Alckimistas estão chegando

40

alto teor anti ditatorial. Ao sair do grupo por moti-vos até hoje controver-sos – ela foi casada com o companheiro de banda Arnaldo Baptista -, R ita Lee já era uma cantora consagrada, e continuou s u a c a r r e i r a t o c a n d o com a banda de apoio “ Tu t t i - F r u t t i ” d u r a n t e grande parte da segunda m e t a d e d o s a n o s 7 0 .

Sua influencia na música foi fundamental para o rock brasi leiro, pois a cantora foi uma das primeiras entusiastas das guitarras elétricas sendo utilizadas por mulheres, antes mesmo de Joan Jett e as “Runways” estou-rarem com seu punk--rock feminista em 1975. E falando em feminismo,

suas letras estão longe de serem consideradas comportadas, fa lando de amor e sexo de uma forma natural, sem maio-res pudores, sempre dei-xando em ev idênc ia a sua posição a favor da independência feminina

Como não podia ser diferente, a despe-dida definit iva da diva do rock dos palcos foi no festival Verão Sergipe da forma mais apoteót ica possível. Teve direito a um repertório cheio de sucessos, confusão e um discurso inflamado, que culminou na prisão da ex--mutante ao término do espetáculo. Isso se deu devido a uma ação da Polí-cia Sergipana realizada durante o show, em que

Page 41: Os Alckimistas estão chegando

41

os policias começaram a revistar pessoas da pla-teia à procura de drogas. R i ta achou a operação invasiva e descabida, e acabou, sem papas na língua, defendendo seu público de um jeito bem pessoal e autêntico, onde acabou se excedendo ao chamar de “cachorros” os responsáveis pelo policia-mento. O governo de Ser-gipe já retirou as queixas, em uma sensata decisão.

A CRASE agradece à Rita Lee por sua contri-buição à música brasi -leira, e deseja que, agora em estúdio, seu trabalho continue a todo vapor, nos proporc ionando a música de qualidade que sempre produziu, apesar de sabermos que para ela; nada é melhor do que não fazer nada, só para deitar e rolar com Roberto de Carvalho, seu guitarrista e marido.

Page 42: Os Alckimistas estão chegando

42

Flávia Seidel tem 30 anos, mora no Rio de Janeiro, é Analista Inter-nacional, pesquisadora no Laboratório de Estu-dos do Tempo Presente da UFRJ e Professora de Bal-let Clássico.

CRASE CONVIDA

Flávia Seidel

P Passei a lguns anos da minha v ida me incomodando com um email recebido inú-

meras vezes, em que, supostamente, uma holan-desa maravi lhada com esta terra, faz ia vár ias citações incitando-nos, brasileiros, a nos orgulhar do Brasi l e de tudo que ele nos tem a oferecer.

Se uma estrangeira assim o pensa, porque não nós? Valorizemos o que temos! Obviamente aquele email amplamente circulado foi apenas um grãozinho de orgu-

Outra vez, a ladainha da educação

Page 43: Os Alckimistas estão chegando

43

lho que já enche o peito dos brasileiros. Quando eu era pequena, tínhamos o maior estádio de futebol do mundo, o melhor jogador de futebol do mundo, a maior floresta do mundo. Hoje o povo mais inculto ainda opina e tem remota ideia de alguma notícia sobre o governo, ou até do exterior, e de fato o Brasil, pelo menos, projetou-se internacionalmente de maneira impensada há 20 anos.

Mas basta de histórias! Este é o título do livro do jornalista argentino Andrés Oppenheimer, no qual ele cita o conselho dado por Bill Gates aos países latino--americanos durante uma conversa: que os latino-ame-ricanos precisam ter humildade. Têm orgulho sobrando. E orgulhosos do status quo, nada mudam. O fato é que, devemos reconhecer as limitações de nossos países e a falta de capital humano e intelectual para concorrer com os Estados mais desenvolvidos e com as grandes economias do planeta. Este reconhecimento é vital e o primeiro passo rumo ao desenvolvimento concreto.

É certo que o Brasil está entre os países que mais crescem economicamente em todo o mundo. Desde a ascensão de Lula ao poder, as políticas emer-genciais para a inclusão dos marginalizados e mais pobres à economia formal e a um menos cruel padrão de vida, proporcionados, por exemplo, pelos Progra-

Page 44: Os Alckimistas estão chegando

44

mas Fome Zero e o Bolsa Família são patentes. Outro destaque para a condição interessante do país foi sua inserção no tabuleiro de negociações internacio-nais, mediante participação no G20 e a política coo-perativa dos BRICS. Ah! Você ta dizendo que isso é pouco? Claro que não! Mas não pode ser o bastante.

Devido à pouca sensibil idade dos meios de produção no Brasi l à crise f inanceira mundial de 2008, temos a impressão de que estamos muito bem quando comparados a outros países do mundo. Mas a realidade é que a parcial imunidade econômica do país ainda não produz desenvolvimento coletivo.

A ideia de que as mazelas sociais no Brasil serão solucionadas com crescimento econômico é totalmente equivocada. Crescimento econômico não necessaria-mente gera desenvolvimento. O mesmo pressupõe primordialmente educação formal com qualidade para todas as etnias, credos e classes sociais, com dificul-dades sanadas nos primeiros anos de escolaridade, um ensino médio impecável e ensinos técnico e uni-versitário competitivos a ponto de se parearem aos

Page 45: Os Alckimistas estão chegando

45

dos países mais desenvolvidos do globo terrestre. O Brasil atualmente, nem no futebol pode se decla-rar competit ivo perante outros países do mundo.

É muito fácil pra quem produz intelectualmente ou conhece alguém que produz conhecimento, dizer que o Brasil tem sim representação no exterior. Mas, aqueles que adentram o âmago da realidade brasi-leira e se deparam com as piores condições educa-cionais do mundo, com uma população que, empa-relhada aos demais países latino americanos possui em média 7 anos de escolaridade, distribuídos em torno de 5 horas por dia, durante no máximo 200 dias de estudo por ano, sabem do que eu estou falando.

Ainda estamos muito aquém do que um país pode fazer para estar páreo aos que nos inspiram, não só a crescer, mas a desenvolver coletivamente.

Flávia Seidel

Page 46: Os Alckimistas estão chegando