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Tecnologia 62 WWW.CARTACAPITAL.COM.BR/CARTA-NA-ESCOLA A o redor da escola, muitas manifesta- ções culturais acon- tecem em bibliotecas, parques, praças e mu- seus, mas nem sem- pre os conteúdos que ali são produzidos conseguem adentrar os portões e chegar à sala de aula. Para ajudar nessa transposição, o portal Cul- turaEduca, desenvolvido em parceria entre o Instituto Lidas e os ministérios da Cultura e da Educação, quer identi- ficar essas iniciativas e incentivar que a comunidade escolar faça uso delas e, as- sim, ajude a fomentar a criação de políti- cas públicas em educação e cultura. Para isso, o portal vai identificar es- paços culturais e educativos, de educa- ção não formal, nas proximidades de 15 mil unidades educacionais da rede pú- blica que integram o Programa Mais Educação, do governo federal. De pos- se dos dados sobre centros de cultu- ra e serviços públicos de saúde, espor- te e assistência social, serão criados ma- pas com ferramentas de georreferencia- mento (tecnologia similar a do Google Maps). Também haverá galerias de ima- gens e vídeos, painéis de indicadores e fóruns de debate para promover a inte- gração entre educadores, agentes cul- turais, estudantes, gestores de políticas públicas, pesquisadores e interessados. Serão catalogados os dados das áreas situadas em raios entre 2 e 5 quilôme- tros de distância das instituições de en- sino, extensão que varia de acordo com a base censitária de cada região. Para criar a plataforma, a equipe do Instituto Lidas, organização que desenvolve tecnologias de mapeamen- to para facilitar ao cidadão a apropria- ção de seu território de vivência, partiu de um banco de dados extenso. Porém, de acordo com Inaê Batistoni, diretora- -presidente da entidade, o levantamen- to não dá conta de iniciativas impor- tantes, mas pouco divulgadas. “A exis- tência de um coral na igreja ou de uma roda de samba na praça são coisas rele- vantes que as informações oficiais não suportam.” A partir desses dados, a po- pulação poderá corrigir ou acrescentar informações livremente, criando assim uma rede colaborativa. “O usuário será o sujeito das ações. A rede só pode existir com colaboração. Do contrário, ficamos restritos às in- formações oficiais, que são apenas um elemento da região, mas não sua tota- lidade”, explica Inaê. Para além da re- lação entre território educativo e esco- la, o projeto ainda prevê a criação de O que tem pra lá do muro CARTOGRAFIA | Site mapeia centros culturais e educativos próximos a escolas para integrá-los com a aula POR ISABELA MORAIS O projeto trará também propostas pedagógicas para professores, que poderão criar seus próprios temas de aula Colaborativo. Usuários irão corrigir ou acrescentar informações a respeito de suas respectivas comunidades ••CETecnologia72.indd 62 20/11/12 18:41

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Ao redor da escola, muitas manifesta-ções culturais acon-tecem em bibliotecas, parques, praças e mu-seus, mas nem sem-pre os conteú dos que

ali são produzidos conseguem adentrar os portões e chegar à sala de aula. Para ajudar nessa transposição, o portal Cul-turaEduca, desenvolvido em parceria entre o Instituto Lidas e os ministérios da Cultura e da Educação, quer identi-ficar essas iniciativas e incentivar que a comunidade escolar faça uso delas e, as-sim, ajude a fomentar a criação de políti-cas públicas em educação e cultura.

Para isso, o portal vai identificar es-paços culturais e educativos, de educa-ção não formal, nas proximidades de 15 mil unidades educacionais da rede pú-blica que integram o Programa Mais Educação, do governo federal. De pos-se dos dados sobre centros de cultu-ra e serviços públicos de saúde, espor-te e assistência social, serão criados ma-pas com ferramentas de georreferencia-mento (tecnologia similar a do Google Maps). Também haverá galerias de ima-gens e vídeos, painéis de indicadores e fóruns de debate para promover a inte-gração entre educadores, agentes cul-turais, estudantes, gestores de políticas públicas, pesquisadores e interessados.

Serão catalogados os dados das áreas situadas em raios entre 2 e 5 quilôme-tros de distância das instituições de en-sino, extensão que varia de acordo com a base censitária de cada região.

Para criar a plataforma, a equipe do Instituto Lidas, organização que

desenvolve tecnologias de mapeamen-to para facilitar ao cidadão a apropria-ção de seu território de vivência, partiu de um banco de dados extenso. Porém, de acordo com Inaê Batistoni, diretora--presidente da entidade, o levantamen-to não dá conta de iniciativas impor-tantes, mas pouco divulgadas. “A exis-tência de um coral na igreja ou de uma roda de samba na praça são coisas rele-vantes que as informações oficiais não suportam.” A partir desses dados, a po-pulação poderá corrigir ou acrescentar informações livremente, criando assim uma rede colaborativa.

“O usuário será o sujeito das ações. A rede só pode existir com colaboração. Do contrário, ficamos restritos às in-formações oficiais, que são apenas um elemento da região, mas não sua tota-lidade”, explica Inaê. Para além da re-lação entre território educativo e esco-la, o projeto ainda prevê a criação de

O que tem pra lá do muro cartografia | Site mapeia centros culturais e educativos próximos a escolas para integrá-los com a aulaPor Isabela MoraIs

O projeto trará também propostas pedagógicas para professores, que poderão criar seus próprios temas de aula

Colaborativo. Usuários irão corrigir ou acrescentar informações a respeito de suas respectivas comunidades

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painéis para o cruzamento de dados de cultura e educação que permitam, por exemplo, relacionar as taxas de analfa-betismo e leitura com a existência de bibliotecas em determinada comuni-dade – informações que podem incen-tivar a formulação de políticas públicas locais. “Com isso será possível identifi-car bolsões de necessidades e de possi-bilidades”, analisa.

Em fase de desenvolvimento, o site ainda não traz o mapeamento comple-to, mas já aceita registros de membros e conta com um fórum de discussões. Em dezembro, foi lançado o projeto pi-loto com os dados dos territórios edu-cativos da cidade do Recife. Após a ava-liação dos primeiros resultados, a totali-dade dos mapas deverá estar disponível para consulta nos meses seguintes.

Segundo a diretora do Instituto Li-das, além das informações georreferen-ciais, o projeto também disponibiliza-

rá um conjunto de propostas pedagógi-cas a ser aplicadas pelos professores em sala de aula, com base nos elementos da plataforma. Em um primeiro momento, esses planos serão disponibilizados pe-lo próprio instituto, mas a ideia é que, a partir da troca de experiência entre os usuários, os próprios docentes criem e compartilhem planos de aula.

Em Matemática, Inaê afirma que os mapas permitirão ao educador traba-lhar com medidas, distâncias e levan-tamentos estatísticos. A pesquisa da história da comunidade local e a rees-crita dessa narrativa podem ser pro-postas interessantes para as aulas de História. Já os dados censitários da região, como as pirâmides etárias e a concentração populacional, podem ajudar os estudantes no entendimento de conceitos da Geografia. “Para o pro-fessor, esse é um salto importante, pois muitas das dificuldades acontecem

justamente pelo distanciamento entre o aluno e o conteúdo das disciplinas.”

Para Inaê, o cruzamento de mapas, estatísticas e indicadores sociais de uma determinada área em uma plataforma online gratuita e colaborativa dá ao ci-dadão a oportunidade de entender sua comunidade e assumir papel ativo nas transformações sociais, sobretudo nas regiões mais pobres. “Conhecer e apo-derar-se de seu território é o primeiro passo para a verdadeira cidadania. Tra-balhar os espaços de vivência dos alu-nos dentro da sala de aula é também um meio de formar cidadãos.”

As propostas do portal querem dialo-gar com os princípios do Programa Mais Educação de constituir entornos educa-tivos para o desenvolvimento de ativi-dades de educação integral e de agre-gar políticas educacionais e sociais. As atividades do programa governamen-tal começaram a ser implementadas em 2008 e hoje atendem 5,1 milhões de es-tudantes em 3.381 municípios de todo o Brasil. Dele participam unidades esta-duais, municipais e distritais escolhi-das pela Secretaria de Educação Básica do MEC, a partir de critérios estabeleci-dos a cada ano. Em 2012, foram selecio-nadas instituições de ensino com Índice de Desenvolvimento da Educação Bási-ca abaixo ou igual a 4,2 nas séries ini-ciais ou 3,8 nas séries finais. Também foram priorizadas as escolas localiza-das em áreas atendidas pelo Plano Bra-sil Sem Miséria, unidades com 50% ou mais de estudantes cadastrados no Bol-sa Família e instituições que participam do Programa Escola Aberta ou que este-jam em zonas rurais. •

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