o poder da magia - israel regardie

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O Poder da Magia Israel Regardie BIBLIOTECA UPASIKA www.upasika.com 1

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O Poder Da Magia - Israel Regardie

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  • O Poder da Magia Israel Regardie

    BIBLIOTECA UPASIKAwww.upasika.com

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  • IndiceIndice .....................................................................................................pag 21.-Arte e Significado da Magia...............................................................pag 21.-Magia no Oriente e no Ocidente........................................................pag2 Interesses Primrios da Magia...............................................................pag4Concepes Errneas Objetivas.............................................................pag 5Formas Divinas........................................................................................pag5Som em Conjuraes Mgicas................................................................pag6A Cruz Cabalstica...................................................................................pag7Lamasmo e Eucaristia...........................................................................pag9Magia Talismnica...................................................................................pag10Consagrao.............................................................................................pag11As Peas de Mistrio Tibetanas................................................................pag12O Papel do Ego........................................................................................pag14O Ritual do No-Nascido..............................................................................pag15Teurgia e Desenvolvimento Espiritual........................................................pag172. A Arte da Magia......................................................................................pag18Os Objetivos da Magia................................................................................pag18Religio e Magia..........................................................................................pag19Adivinhao.................................................................................................pag19Geomancia, Tar e Astrologia....................................................................pag21Evocao........................................................................................................pag21Personalizao de Complexos.......................................................................pag23O Processo de Evocao...............................................................................pag24Viso.............................................................................................................pag25O Supremo Sacramento..............................................................................pag27Invocao.......................................................................................................pag28Iniciao.........................................................................................................pag293. A Significao da Magia.............................................................................pag31Cincia e Magia...............................................................................................pag31Definio de Magia..........................................................................................pag32O Inconsciente..................................................................................................pag33A Barreira Endopsquica.................................................................................pag34Concentrao e Emoo...................................................................................pag36Magia e Qabalah...............................................................................................pag37A Luz Astral e o Inconsciente Coletivo.............................................................pag38Verificao Experimental..................................................................................pag39A Realidade da Magia.......................................................................................pag41

    1 - Arte e Significao da Magia

    1 - Magia no Oriente e no Ocidente

    Quando eu tinha dezessete anos de idade, um amigo emprestou-me um exemplar de Lamaism, do Major L. A. Waddel. Naquele tempo, o livro impressionou me tremendamente, sem dvida por causa de seu macio tamanho. Em todos os sentidos era um tomo pesado e tomos sugeriam ento profundidade e peso da erudio. Naquele tempo, naturalmente, eu nada sabia sobre Magia e, afora algumas tinturas Teosofistas, quase nada

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  • sobre Budismo.Por isso, a maior parte da significao e da vasta erudio do livro deve terme passado completamente despercebida, embora ele seja um armazm de conhecimentos.

    Depois, de repente, reapareceu em meu horizonte, tambm graas ao favor de um amigo. luz do pouco conhecimento e experincia que eu adquirira no transcurso de vrios anos, seu contedo excitou me enormemente e foi com o mximo interesse que eu reconsiderei. Para mim, uma das coisas que mais se destacaram enfaticamente desta vez foi a extraordinria semelhana - e mesmo a fundamental unidade das concepes mgicas mais elevadas e mais bsicas, tanto do Oriente quanto do Ocidente. No minha inteno discutir agora se isso devido, como afirmam muitos expoentes da sabedoria oriental, importao direta da filosofia e prtica oculta do Oriente pela civilizao Ocidental. No obstante, minha crena ponderada que nos pases ocidentais houve definitivamente uma tradio secreta em nvel prtico tradio que durante sculos transmitiu oralmente o melhor desse conhecimento mgico. De fato, to ciosamente guardada em todos os tempos, foi essa tradio que mal chegou a ser suspeitada pela maioria das pessoas. Muito poucos foram os indivduos afortunados que em qualquer poca se viram arrastados, como que por correntes invisveis de afinidade espiritual, at os portais ocultos de seus templos.Ocasionalmente, pequena poro dessa tradio rigorosamente oculta infiltrou-se em livros. Alguns deles so aqueles escritos por Jmblico e os Neoplatnicos mais tardios, e tambm por estudiosos como Cornelius Agrippa, Pietro dAbano e Eliphas Levi. Seus elementos mais toscos encontraram expresso nas famosas Clavculas, nos Grimrios e nas Gotias. Contudo, em sua maior parte, a verdadeira seqncia do ensinamento e as vastas implicaes de seu conhecimento prtico foram, como se disse acima, mantidas em estrita privacidade. A razo deste segredo talvez tenha sido a impresso de que, em qualquer poca, em qualquer pas e entre qualquer povo, s existe pequeno nmero de pessoas com probabilidade de apreciar ou compreender os aspectos mais profundos ou mais sublimes da Teurgia, a magia superior. Isso exige simpatia, muita introviso a capacidade do rduo trabalho que, desnecessrio dizer, poucas pessoas possuem. Conseqentemente, h pouco sentido em difundir dispersivamente essas prolas de brilhante conhecimento, que s poderiam ser mal compreendidas.

    Sem dvida, esta concluso corroborada por Lamaism de Waddel. De fato, muito do chamado conhecimento mgico esotrico est nele contido mas apresentado inteiramente sem compreenso. Conseqentemente, sua declarao sobre aquele aspecto particular do Lamasmo viciada e tornada praticamente intil. E embora possa concordar com Waddel em que algumas prticas Lamastas pouco tm a ver com o Budismo Histrico, suas zombarias a respeito de um Budismo esotrico do lado mgico das coisas simplesmente risveis, pois seu prprio livro uma clara demonstrao precisamente daquele fato que ele absolutamente no percebeu.

    Seu livro, bvio, destinava-se principalmente a ser um relato objetivo sobre o Budismo indgena do Tibete, como praticado por seus monges e eremitas. Infelizmente, os preconceitos e equvocos do autor so mal escondidos. De modo que, embora tenha escolhido alguma das migalhas cadas casualmente da mesa esotrica dos lamas, e as tinha

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  • registrado provavelmente como as encontrou, ele no tinha o necessrio treinamento, conhecimento ou introviso do assunto, que sem dvida possuam alguns dos lamas iniciados superiores com os quais conversou. O resultado que foi incapaz de fazer alguma coisa com aquela informao. De fato, seu relato sobre as prticas dos lamas parece simplesmente tolo ou absurdo. Psicologicamente, consegue tornar ridculo, no os lamas, mas apenas ele prprio.

    Certos aspectos da Teurgia ou Magia Ocidental foram agora expostos comparativamente com clareza. Alguns comentaristas e crticos manifestaram a opinio que meu trabalho anterior, The Tree of Life, foi uma declarao elementar de seus maiores princpios tradicionais, mais clara do que j foi feita at ento. E o livro de Dion Fortune, A Cabala Mstica, verdadeira obra-prima, tambm uma apresentao incomparavelmente boa da filosofia mstica que sustenta a prtica mgica. Sugiro, por isso, que empregando os teoremas empregados naqueles dois livros e aplicando-os ao material do Lamaism, de Waddel, podemos chegar a compreenso de alguns pontos da Magia Tibetana, que sem isso permaneceriam obscuros.

    Interesses Primrios da Magia

    Talvez convenha, de incio, confessar que boa parte da rotina mgica refere-se a um plano psquico, a certos nveis do inconsciente coletivo, embora de maneira nenhuma isso a condene totalmente, como se sentem inclinadas a fazer certas escolas msticas. Outros ramos dizem a respeito a realizaes fenomenais, como fazer chover, obter boas colheitas, espantar demnios e feitos semelhantes, com os quais a lenda tanto oriental quanto ocidental nos familiarizou feitos, ademais, cuja rejeio exige muita explicao dos racionalistas e mecanicistas. Por fim, existe uma parte infelizmente grande que beira a feitiaria pura e simples. Por esta ltima nunca me interessei.

    Mas sustento, como definio primria, que Magia, tanto da variedade oriental quanto ocidental, essencialmente um processo divino Teurgia, um modo de cultura ou desenvolvimento espiritual. Do ponto de vista psicolgico, talvez possa ser interpretado como uma srie de tcnicas, tendo como finalidade a retirada de energia de objetos objetivos e subjetivos, para que, na renovao da conscincia pela libido reemergente, possa ser encontrada a jia de uma vida transformada, com novas possibilidades criativas e espontandeidade. Compreende ela vrios mtodos tcnicos, alguns de natureza simples, outros altamente complexos e de realizao muito difcil, para purificar a personalidade e, naquele organismo limpo, livre de tenso patognica, invocar o eu superior.

    Tendo isto em mente, muitos dos itens da Magia aparentemente desconexos, algumas das suas invocaes e prticas de visualizao, adquirem nova e acrescida significao. So passos psicolgicos importantes por meio dos quais reparar, melhorar ou elevar a conscincia, de modo que ela oportunamente possa mostrar-se um veculo digno da Luz Divina. Uma ou duas sentenas escritas h muitos anos por Willian Quan Judge, em seu panfleto Na Eptome of Theosophy, expressam com tanta exatido a impresso a ser transmitida que merece ser citada: O verdadeiro objetivo a ter em mente abrir ou tornar

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  • porosa a natureza inferior, para que a natureza espiritual possa brilhar atravs dela e tornar-se o guia e governante. cultivada somente no sentido de ter um veculo preparado para seu uso, dentro do qual possa descer.

    Esta concepo igualmente o ponto de vista de nosso sistema mgico. As formas tcnicas de Magia descritas em The Golden Dawn, como o Pentagrama e outros rituais, representaes astrais de formas divinas, evocaes (embora no necessariamente para manifestao fsica) de espritos elementares e planetrios, perscrutao do esprito-viso e invocao do Sagrado Anjo da Guarda, so todas executadas tendo sempre em mente aquele nico objetivo. A Teurgia e os expoentes dos misticismos orientais esto assim em completa concordncia com os princpios tericos fundamentais.

    Concepes Errneas Objetivas

    Para ilustrar o que agora entendo por equvoco completo que pode ser praticado num relato puramente objetivo das prticas mgicas, ser interessante considerar apenas algumas declaraes feitas por Waddel. Antes de tudo, permitam-me citar a pgina 152(2a edio) de seu trabalho: "O mais puro lama Ge-Lug-para, aps acordar cada manh, antes de aventurarse a sair de seu quarto, fortalece-se contra ataque dos demnios, assumindo antes de tudo o disfarce espiritual de seu temvel tutelar ... Assim, quando o lama sai de seu quarto ... apresenta espiritualmente a aparncia do demnio-rei, e os demnios malignos menores, iludidos na crena de que o lama de fato seu prprio e vingativo rei, fogem de sua presena, deixando assim o lama ileso."

    Seguramente, essa uma interpretao pueril. Embora o prprio fato da adoo de formas espirituais de divindades tutelares seja perfeitamente correta, os fundamentos lgicos por ele oferecidos so infantis e estpidos. No que tange a Teurgia Ocidental, sculos de esforo mostraram que um dos mais potentes adjuntos da experincia espiritual, como ajudar a assimilao do eu inferior na psique total, a adoo astral da forma mgica de uma fora divina ou uma divindade. Por meio da exaltao da mente e da alma sua presena, ao mesmo tempo em que dado expresso a uma invocao, admite-se que pode haver uma descida de Luz ao corao do devoto, acompanhada pari passu por uma ascenso da mente em direo ao inefvel esplendor do esprito.

    Formas Divinas

    No que se refere razo e explicao deste processo, pode-se muito bem declarar conscisamente que, de acordo com a hiptese mgica, todo o cosmo impregnado e vitalizado por uma vida onipresente, que por si s tanto imanente quanto transcendente. No alvorecer da manifestao do universo, sado da triplamente desconhecida escurido, surgem as Vidas grandes deuses e foras espirituais, Cosmocratores, que se tornam arquitetos e construtores inteligentes das partes manifestas do universo. De sua prpria essncia espiritual individual, so geradas outras hierarquias menores, que por sua vez emanam ou fazem evoluir de si prprias ainda outros grupos. Estes so os que representam

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  • nas profundidades ocultas da psique aquelas idias primordiais, que Jung chama de imagens arquetpicas, sempre presentes no inconsciente coletivo da raa.

    Assim que, atravs da unio do conscincia humana com a essncia dos deuses em uma escala ascendente, a alma do homem pode aproximar-se gradualmente da raiz e fonte final do seu ser. No esquema budista, isto constitui "a essncia da mente que intrisecamente pura", o Darmakaya, corpo divino incondicionado na verdade. A inteno de assustar demnios malignos no tem lugar no mbito desta tcnica. difcil presumir se esta hiptese originou-se ou no do Major Waddel, embora a tese seja comum a todos os povos primitivos. Provavelmente foi formulada por um lama com predisposio mais leviana, a fim de pr termo a questes mais importantes, embora, ao mesmo tempo, seja verdade que, em momento de perigo psquico, a adoo de uma forma divina de enorme ajuda. No porque o elemento ameaador ou demnio, por exemplo, seja enganado ou assustado pela forma. Mas porque o operador, abrindo-se para uma fase do esprito divino ao adotar sua forma simblica, traz para si ou dotado da autoridade ou domnio daquele deus.

    No que se refere a forma ocidental de magia, foi no Egito que essas formas csmicas receberam cuidadosa ateno e suas qualidades e atributos foram observados e registrados. Surgiram assim pictografias convencionalizadas de seus deuses, que tm significao profunda, embora sejam simples na comovedora eloquncia de sua descrio. As formas divinas egpcias que so usadas na magia ocidental, no aquelas do Tibete e da ndia. Em The Mahatma Letters pode ser encontrado um pargrafo muito profundo no qual K.H. escreveu a A.P. Sinnet: "Como seria possvel voc fazer-se compreender dominar de fato aquelas foras semi-inteligentes, cujos meios de comunicao conosco no so palavras faladas, mas sons e cores, em correlaes entre as vibraes das duas coisas. Isso porque som, luz e cor so os principais fatores na formao desses graus de inteligncia..."

    Embora no seja prudente entrar mais profundamente nessa questo, as observaes de K.H. aplicamse igualmente a outras foras e poderes, alm dos elementos. A forma astral de cor e luz assumida na imaginao cria um molde ou um focode tipo especial, no qual, por modos tcnicos de vibrao e invocao, a fora ou poder espiritual desejado se encarna. Revestido sua prpria forma astral com a figura ideal do deus, agora visualizada pela descida da fora invocada, sustentase que o homem poder ser adotado ou exaltado no prprio seio da divindade e assim retornar gradualmente, com a aquisio de sua prpria humanidade, quela Raiz indescritvel e misteriosa de onde veio originalmente.

    Som em Conjuraes Mgicas

    Outro exemplo da falta de humor e introviso de Waddel ocorre na pgina 322. Descrevendo o treinamento do novio, dito ali que o lama adota uma "voz profunda e rouca, adquirida por meio de treinamento, a fim de transmitir a idia de ela emana maturidade e sabedoria". No sei se algum de meus leitores presenciou qualquer espcie de cerimnia mgica ou ouviu uma invocao recitada por um praticante habilitado - embora possa-se dizer que poucos o fizeram. Sempre adotado o tom que produz o mximo de vibrao. Para muitos estudantes, uma entoao profunda ou um zumbido a que vibra

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  • mais, Por isso, esse o tom ideal para despertar do interior as sutis foras mgicas necessrias. Tem sido observado tambm que as melhores invocaes so sempre sonoras e intensamente vibrantes. A idia de que a voz deve sugerir maturidade e sabedoria pura tolice. Este outro exemplo do desprezo ocidental e no uma tentativa simptica de tentar realmente compreender um sistema estrangeiro. Os espcimes tibetanos de rituais dados por Waddel contm um divertido nmero de Oms, Hums, Has e Phats, mas as conjuraes ocidentais contm igualmente nomes brbaros de evocao igualmente divertidos Yah, Agla, etc.

    Dessa questo de sons em conjuraes mgicas eu tratei um tanto extensamente em outro lugar. Basta observar aqui que, na Doutrina Secreta, Madame Blavatsky sugere que o uso vibratrio de conjuraes e som tem geralmente profunda significao. "Som e ritmo", observa ela, "esto estreitamente relacionados com os 4 elementos... Uma ou outra vibrao no ar certamente provoca poderes correspondentes, com os quais uma unio produz bons ou maus resultados, conforme o caso." Toda a questo de som e o emprego dos chamados nomes brbaros de evocao precisam ser perfeitamente estudados, antes que se atreva a sugerir uma explicao acusando magos ou lamas de terem simplesmente pose de sabedoria.

    A Cruz Cabalstica

    Observa-se com viva ateno que os tibetanos tm uma forma daquilo que aqui no Ocidente chamado como Cruz Cabalstica. Na pgina 423 do livro de Waddel h a seguinte descrio:

    "Antes de comeas qualquer exerccio devoto, os lamas superiores executam uma manobra que tem estreita semelhana com o 'sinal da cruz' dos cristos. O lama toca delicadamente a testa com o dedo ou a sineta proferindo o mstico Om, depois toca o alto do peito, dizendo Ah, em seguida o epigastro (a boca do estmago), dizendo Hum. Alguns lamas acrescentam Sva-ha, enquanto outros completam a cruz, tocando o ombro esquerdo e dizendo Dam e depois Yam. Afirma-se que o objetivo dessas manipulaes concentrar as partes do Sattva, isto , corpo, fala e mente, sobre a imagem ou divindade com quem vai comunicar-se."

    Antes de comentar o que est dito acima, torna-se imperativo indicar certas teorias fundamentais encontradas em alguns livros da Qabalah. Se o leitor est familiarizado com a esplndida Introduction to the Study of the Kaballah, do Dr. Wm. W. Westcott, ou com o livro A Cabala Mstica, de Dion Fortune, ter visto ali um diagrama atribuindo as 10 Sephiroth figura de um homem. Acima da cabea, formando uma coroa, est Kether, que representa o esprito divino, e aos ps est Malkuth. Aos ombros direito e esquerdo so atribudos Gevurah e Gedulah, Marte e Jpiter, Poder e Majestade. Na pneumatologia cabalstica, Kether est em correspondncia com a Mnada, a dinmica e essencial individualidade de um homem, o esprito que procura experincia atravs da encarnao aqui na terra.

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  • altamente significativo o fato dessa Sephirah ou potncia ser colocada acima da cabea e no, digamos, dentro do crebro ou no centro do corao. a Luz do esprito que brilha sempre sobre as trevas abaixo.("O esprito do homem a candeia do Senhor." E ainda: "Quando sua candeia brilhava sobre minha cabea e sua luz eu caminhava atravs das Trevas.") Esta uma idia que tem paralelos tambm em outros sistemas. Por exemplo, em The Epitome os Theosophy, Judge escreve: "Sustenta-se que o verdadeiro homem, que o eu superior, sendo a centelha do Divino, ofusca o ser visvel, que tem a possibilidade de tornar-se unido quela centelha. Assim dito que o Esprito superior no est no homem, mas acima dele."

    Todo processo mstico e mgico tem como objetivo purificar o eu inferior, de modo que aquele eu superior, que normalmente apenas nos ofusca e raramente est em plena encarnao, possa descer para um veculo purificado e consagrado. A tradio tergica afirma que pela execuo da Cruz Cabalstica, entre outras coisas, esse fim pode ser atingido. Como exerccio devoto ou meditao, ela usada em colaborao com as formulaes de certas figuras lineares e as vibraes de nomes de poder, seguidas pela invocao dos 4 grandes arcanjos. Na forma Ocidental o seguinte:

    1. Toque a testa e diga Ateh(Tu s)2. Toque o epigastro e diga Malkuth(O Reino)3. Toque o ombro direito e diga Ve-Geburah(E o Poder)4. Toque o ombro esquerdo e diga Ve-Gedulah(e a Glria)5. Cruzando as mos sobre o corao, diga le-Olam, Amen(para todo o sempre, Amm)6. Aqui siga com os Pentagramas adequados, voltados para os pontos cardeais e vibrando os nomes de poder7. Estendo os braos em forma de cruz, dizendo:8. minha frente Rafael, atrs de mim Gabriel9. minha direita Miguel, minha esquerda Auriel.10. Diante de mim brilha o Pentagrama,11. Acima de mim resplandece a Estrela de 6 raios.12. Repita 1-5, a Cruz Cabalstica

    No que se refere a este pequeno ritual, pode-se descrever sua ao sob vrios ttulos. Primeiro, invoca os poderes do eu superior como fonte constante de vigilncia e orientao. Coloca os processos subsequentes sob a gide divina. Tendo em seguida banido, pelo traado dos pentagramas apropriados, todos os seres no essenciais dos quatro pontos cardeais com ajuda dos quatro nomes de quatro letras de Deus, chame ento os quatro Arcanjos - as quatro funes concretizadas do mundo psquico interior e o par dual de opostos - para proteger a esfera de operao mgica que o crculo do eu. Encerrando, invoque mais uma vez o eu superior, para que, do comeo ao fim, a cerimnia inteira esteja sob a guarda do esprito. A primeira seo, compreendendo os itens de 1 a 5, indentifica o eu superior do operador com os aspectos superiores do universo sefirtico. De fato, afirma a identidade essencial da alma com a conscincia coletiva de toda humanidade.

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  • Tentando-se uma nova anlise, a palavra hebraica Ateh, que significa "Tu", refere-se ao esplendor branco divino, o eu superior que ofusca cada homem. Fazendo descer a Luz para a boca do estmago que representa simbolicamente os ps, pois curvar-se at os ps seria um gesto grotesco estabelecese na imaginao a haste vertical de uma cruz de Luz. A haste horizontal definida tocandose ambos os ombros e vibrando as palavras com as quais se declara que as qualidades do eu superior incluem poder e majestade, severidade e amorosa bondade. Equilbrio a caracterstica especial da cruz como smbolo particular e o traado da Cruz Cabalstica dentro da aura afirma a descida do esprito e seu equilbrio dentro da conscincia ou dentro da esfera mgica. A significao ainda mais acentuada pelo gesto de cruzar as mos sobre o centro Tiphareth, o local cardaco da harmonia e equilbrio, e dizer le-Olam, Amm para sempre

    A palavra snscrita Sattva implica pureza, ritmo e harmonia, e as trs Gunas, ou qualidades, referem-se ao esprito. Igualmente no equivalente ocidental desse esquema, a alquimia, as trs qualidades correspondem aos trs principais princpios qumicos, sal, enxofre e mercrio. Desses, o Mercrio Universal um atributo de Kether o Santo Anjo que o divino Guardio e Vigilante, ofuscando a alma do homem, sempre experando uma aproximao ordenada para que seu veculo possa ser elevado sua glria. Existe aqui, portanto, uma semelhana muito grande entre o exerccio do devoto tibetano e aquele que recomendado como umas das mais importantes prticas da Magia Cabalstica da Tradio Ocidental.

    Lamasmo e Eucaristia

    Na seo do livro em que Waddel descreve a celebrao lamastica da Eucaristia, encontrado outro importante paralelismo. Ele descreve como o sacerdote ou lama que oficia a cerimnia obrigado a purificar-se durante a maior parte das vinte e quatro horas precedentes, por banhos cerimoniais e elevao da mente por meio da repetio contnua de mantras ou invocaes. A descrio efetiva do aspecto interior ou mgico do ritual, embora no seja exposta particularmente bem, dada pelo que vale: "Estando tudo pronto e a congregao reunida, o sacerdote, o cerimonialmente purificado pelos ritos ascticos acima indicados e paramentado com a tnica e o manto, retira da grande imagem de Buda o Amitayus parte da divina essncia daquela divindade, colocando o vajra de seu rdor jethi t'ag sobre o vaso do nctar que a imagem do Amitayus segura em sua lmpada e aplicando a outra extremidade sobre seu prprio peito, no local do corao. Assim, pelo cordo, como que por um fio telegrfico, passa o esprito divino e o lama deve conceber mentalmente que seu corao est em unio efetiva com o do deus Amitayus e que, no momento, ele prprio o deus."

    Depois dessa meditao, o arroz ofertado e o lquido em um vaso especial so consagrados por invocaes muito "fortes" e msica de cmbalo. Em seguida, o alimento e a gua consagrados so tomados pela assemblia.

    Do ponto de visto Tergico, o fundamento lgico da Eucaristia muito simples. Pode haver numeros tipos de Eucaristia, todos tendo em vista fins diferentes. escolhida uma

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  • substncia que, de acordo com a doutrina de simpatias, tenha afinidade especial por determinada espcie de fora espiritual ou divindade e aquele substncia consagrada. Assim, uma hstia de trigo a substncia da divindade do trigo, atribuda aos poderes de Vnus ou ao elemento Terra, presidido por Ceres ou Persfone. leos penetrantess so atribudos especialmente ao elemento fogo, cuja divindade tutelar Hrus. Olivas so consagradas fora fora representada pelo signo de Aqurio, o elemento ar, e deusa Hathor. E vinho atribudo a Dionsio e aos deuses solares, geralmente Osris, R, etc.

    Por uma complicada tabela de correspondncias, possvel selecionar qualquer substncia para ser a base fsica da manifestao de uma idia espiritual. A consagrao, cerimonialmente, da base material por meio de uma invocao da fora divina, configura o que vulgarmente se chama milagre da transubstanciao. Para usar uma terminologia mgica prefervel, a substncia transformada de um corpo inerte e morto em um organismo vivo, um talism em suma. A consagrao carrega-o e d-lhe alma, por assim dizer.

    Magia Talismnica

    Neste ponto, devo registrar minha enftica discordncia com os escritores de cincia e da Magia que, impressionados indevidamente ou de maneira errnea pela psicologia moderna, explicam o efeito de um talism como sendo inteiramente devido a sugesto. Isso puro disparate. E eu s posso presumir que quem expe tal espcie de argumento no tem a menor experincia desse tipo de trabalho mgico. essa espcie de experincia que abrange ou que deve abranger a primeira parte do trabalho prtico inicial de uma pessoa no lado tcnico da Magia. E falta de experincia, mesmo nesse aspecto elementar de virtuosismo tcnico, vicia a opinio de todas opinio sobre outras formas.

    Enfrentamos aqui o mesmo problema que surgiu h mais de um sculo em outra esfera. Os primeiros grandes magnetizadores depois de Mesmer grandes nomes como Puysegur, Deleuze, Du Potet e La Fontaine sustentaram que, por meio da vontade e da imaginao, eram capazes de abrirse a um influxo de fora e depois transmitir de seu prprio organismo uma espcie de poder vital ou magnetismo animal. Afirmavam que essa fora, que impregna todo espao, podia ser usada terapeuticamente. Posteriormente, quando tentavam apropriar-se dos fenmenos de transe e mtodos de curas iniciados pelos mesmeristas, mdicos da escola ortodoxo eliminaram a teoria da fora transmissvel efetiva e em seu lugar empregaram a teoria de sugesto. Comeando com Braid e continuando em uma linhagem de investigadores muito bons, uma duplicao dos fenmenos magnticos foi conseguida por meios puramente psicolgicos sem recurso a qualquer hiptese de magnetismo animal.

    Mas, o fato de fnomenos poderem ser reproduzidos por um mtodo no implica necessariamente que sua duplicao por outro seja falsa. bem possvel que feitos semelhantes possam ser realizados por tcnicas absolutamente separadas, baseadas em hipteses diferentes cada uma delas vlida em sua prpria esfera e cada uma delas capaz de

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  • explicar um conjunto de fatos. Em qualquer caso, a realidade do magnetismo animal ou a transmisso do que no Oriente foi chamado prana, vitalidade, nunca foi desmentida.

    Pelo contrrio, simples provla de maneira perfeitamente adequada. Digamos que uma pessoa normal suspenda seus dedos sobre o brao de uma segunda pessoa, imaginando e querendo que seu prana escorra de seus dedos em longas e tnues correntes de energia. Se a segunda pessoa ficar sentada, absolutamente imvel e cultivar a obejtividade de sentir e esperar, logo sentir uma fria corrente de ar sobre o brao ou um formigamento na ponta de seus prprios dedos, que provm do influxo de prana. Esta uma experincia muito afastada de sugesto, pois pode ser efetuada com aqueles que no tem a menor idia dos princpios fundamentais envolvidos e que, portanto, no so diretamente sucetveis sugesto nesse caso.Espontaneamente e sem estimulao, observaro que foi efetuada uma transmisso tangvel de vitalidade. Deve ser possvel testar isso com algum instrumento muito delicado. Ademais, em um aposento escuro, essas correntes que saem dos dedos podem ser facilmente vistas, se a mo for mantida diante de um pano preto.

    Alm disso, a capacidade de uma pessoa de gerar esse poder passvel de cultivo. Desenvolvi este tema do ponto de vista da autoterapia em A Arte da Verdadeira Cura(ver no final deste volume).Sugiro tambm que o leitor interessado consulte a obra Hipnotism and Self-Hipnotism, do Dr. Bernard Hollander, onde os problemas de sugesto e hipnotismo animal so discutidos com certa minuciosidade, a propsito de trabalho experimental e discutidos muito inteligentemente.

    Em suma, permitam-me dizer que a sugesto no invalida o fato do magnetismo animal, nem o efeito de um talism carregado. Pois, como j disse, estamos diante do mesmo problema surgido anos antes, quanto ao transe e aos fenmenos teraputicos do mesmerismo serem devidos realmente a sugesto ou a uma sobrecarga de vitalidade. Se energia pode ser transmitida a um indivduo, como eu sustento, porque no pode s lo a uma substncia especfica que tenha natureza particularmente apropriada para receber uma carga? A tradio sempre afirmou que metais e pedras preciosas, velino e pergaminhos constituem boa base material para talisms. Se a vitalidade do operador aumentada por simples exerccios de meditao, como foram descritos em A Arte da Verdadeira Cura, ou pelos mtodos mgicos diretos de invocao e visualizao de formas divinas, uma carga muito poderosa dada base material do talism.

    Por si s, porm, o talism nada . S se torna eficaz quando apropriadamente consagrado e vitalizado. Assim, a substncia Eucarstica nada vale, at ter sido devidamente consagrada por uma cerimnia mgica apropriada e transformada no veculo de um tipo de fora.

    Consagrao

    O modo de consagrao, naturalmente, no ser aqui integralmente descrito, por ser coisa demorada e tcnica. Uma das partes importantes da cerimnia de consagrao de um talism ou de uma substncia Eucarstica a adoo astral da forma divina. Aps ter

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  • determinado a natureza da fora divina que deseja invocar e tendo selecionado a substncia material de natureza compatvel com aquela fora, o operador precisa esforarse durante sua cerimnia de consagrao para exaltar o esprito dentro de si, a fim de identificarse realmente, de uma ou outra maneira, com a conscincia daquela determinada fora ou divindade. Quanto mais perfeita e completa for essa unio dinmica, mais automtica e simples se tornar a carga subsequente do talism. No caso da Eucaristia, a idia no , porm, apenas a identificao espiritual com a divindade, como preliminar da ascenso ao Deus universal desconhecido, mas a transmutao alqumica do veculo inferior em corpo glorificado.

    Embora a conscincia superior do mago possa ser dissolvida em xtase, torna-se imperativo criar um elo mgico entre aquela conscincia divina e seu corpo e emoes fsicas. Por isso, a magnetizao cerimonial de uma substncia material, seja hstia, vinho ou erva, impregna-a com aquela mesma fora divina. Sua ingesto introduz aquela fora transmutadora no prprio ser e fibra do mago, para efetuar o trabalho de transformao. Como escreveu certa vez o autor que usava o pseudnimo Therion: "O mgico torna-se repleto de Deus, alimentado de Deus, intoxicado de Deus. Pouco a pouco, seu corpo ser purificado pela lustrao interna de Deus; dia a dia, sua forma mortal, desprendendo-se de seus elementos terrenos, se tornar com muita verdade o Templo do Esprito Santo. Dia a dia, a matria substituda pelo Esprito, o humano, pelo divina; finalmente, a mudana ser completa: Deus manifesto na carne ser seu nome."

    Para apreciar isto, necessria alguma pequena experincia mgica, mas penso que esta explicao simplificada lanar, sobre a efetiva natureza da cerimnia, mais luz do que a descrio de Waddel.

    No desejo seno com poucas palavras a validade de uma cerimnia eucarstica celebrada por outro que no o prprio operador. Tendo em mente que uma cerimnia eucarstica convinientmente realizada resulta na produo de um talism, torna-se claro que essa espcie de operao beneficia principalmente aquele que a efetua. Em meu modo de pensar, parece intil distribuir a Eucaristia em bloco. Segundo consta, Buda observou que nenhuma cerimnia tem a menor utilidade para a obteno de salvao ou rendeno. No me parece que com essas palavras ele tenha atacado a tradio mgica, mas, sim, cerimnias em massa, nas quais a audincia no desempenha o menor papel ativo.. No h estimulao voluntria dos princpis espirituais da audincia uma participao vicria passiva nos trabalhos de uma outra pessoa. A Magia, como o Budismo, concorda com o dito de Madame Blavatsky de que "a doutrina central da doutrina esotrica no admite privilgios ou dotes especiais no homem, salvo aqueles conquistados por seu prprio ego atravs de esforo e mritos pessoais ..."

    As Peas de Mistrio Tibetanas

    H um tpico final que desejo referir-me com certa demora antes de encerrar este estudo comparativo. A fim de faz-lo, necessrio no momento deixar Waddel para reportar-me aos escritos de outros dois estudiosos tibetanos, Madame Alexandra David Neel e Dr. W.

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  • Y. Evans Wentz. Ambos escreveram com simpatia e compreenso sobre a religio tibetana e prticas mgicas. O assunto a ser considerado uma pea de mistrio tibetana em relao a um ritual mgico ocidental.

    Chd uma espcie de drama de mistrio e nele o mago ou iogue o nico ator. O Dr. Evans Wentz, em sua magistral introduo traduo da pea ou ritual, em Tibetan Yoga and Secret Doctrines, explica isso.

    "O rito Chd antes de tudo, um drama mstico, desempenhado por um nico ator humano, assistido por numerosos seres espirituais, visualizados ou imaginados como presentes em resposta sua invocao mgica. O palco um aterrador local selvagem, muitas vezes nos nevados redutos do Himalaya Tibetano, de doze, quize ou mais mil ps acima do nvel do mar. Geralmente, de preferncia um lugar onde cadveres so cortados em pedaos e e dado a lobos e abutres. Nas altitudes menores de Bhutan ou Sikkin, pode ser escolhida a solido de uma densa selva, mas nos pases onde cadveres so cremados, como Nepal e ndia, prefervel um terreno de cremao. Cemitrios ou locais que se acredita serem assombrados por espritos malignos e demonacos so sempre adequados.

    Longos perodos probatrios de cuidadosa preparao sob um mestre de Chd so exigidos antes que o novio seja considerado apto ou tenha permisso para executar o rito psiquicamente perigoso... De incio, o celebrante do Rito Chd levado a visualizar-se como sendo a Deusa da Sabedoria que Tudo Realiza, por cuja vontade oculta ele recebe poderes misticamente; e depois, quando faz soar a trombeta de osso da coxa, invocando os gurus e as diferentes ordens de seres espirituais, ele inicia a dana ritual, com mente e energia inteiramente devotadas ao supremo fim de perceber, como ensina Mahayana, que Nirvana e Sangsara so, na realidade, uma unidade inseparvel.

    s estncias de trs a sete, inclusive, sugerem o profundo simbolismo por trs do ritual; e este simbolismo, como se ver, dependente das Cinco Direes, os Cinco "Continentes" correspondentes da cosmografia lamaica com suas formas geomtricas, as Cinco Paixes(dio, orgulho, lascvia, inveja e estupidez), que o yogin pisoteia triunfantemente sob a forma de demnios, e as Cinco Sabedorias, antdotos das Cinco Paixes... Na nona estncia ocorre o dramtico lanceamento dos elementos do Eu com as danas das Cinco Ordens de Dakinis. Enquanto o Mistrio prossegue e o Yogin prepara-se para o sacrifcio mstico de sua prpria forma carnal, revelada a verdadeira significao do Chd ou eliminao."

    Assim, o Chd, tal como explica Evans Wentz, visto como uma cerimnia mgica altamente complicada, na qual o lama, identificandose com uma deusa atravs da adoo visualizada de sua forma astral ou ideal, invoca o que no Ocidente chamaramos de anjos, espritos e elementos para assistir sua cerimnia. Convida-os deliberadamente a entrar em sua esfera. No atua mais, como em outras formas especializadas de invocao, selecionando apenas uma determinada fora e tentando manter todas as outras fora de sua esfera de conscincia. Agora ele cria um vcuo, por assim dizer; abre-se completamente e,

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  • inteiramente perceptivo, permite que quaisquer influncias o penetrem cada vez mais e participem de sua natureza.

    Em um sentido, ele sacrifica seu ser a elas. Sua mente, emoes e sentimentos, os rgos e membros de seu corpo fsico, as minsculas clulas e vidas que o compes, tudo entregue aos invasores para consumo, se o desejarem. "Durante sculos, no curso de renovados nascimentos, eu tomei emprestado de inumerveis seres vivos - custa de seu bem estar e sua vida - alimentos, roupas e toda espcie de servios para sustentar meu corpo, mant-lo jovialmente em conforto e defend-lo contra a morte. Hoje, pago minha dvida, oferecendo para destruio este corpo que queria tanto. Dou minha carne aos famintos, meu sangue aos sedentos, minha pele para cobrir aqueles que esto nus, meus ossos como combstivel para aqueles que sofrem frio. Dou felicidade aos infelizes. Dou minha respirao para trazer de volta a vida os que esto morrendo."

    , em suma, uma forma muito idealizada de sacrifcio pessoal, na qual a individualidade inteira aberta, hipoteticamente, a quem quer que deseje possu-la. Como operao mgica, deve classificar-se muito em virtuosismo tcnico e, para quem esteja suficientemente dotado de dons mgicos para execut-la, um ritual eficaz no que se refere a resultados.

    A fase final do drama habilmente descrita por Madame David Neel nesta passagem:

    "Agora ele deve imaginar que se tornou um monte de ossos humanos carbonizados que emergem de um lago de lama preta a lama da misria, de sujeira moral e de feitos nocivos com que ele cooperou no decurso de inmeras vidas, cuja origem est perdida na noite do tempo. Ele deve perceber que a prpria idia de sacrifcio no seno iluso, uma ramificao de orgulho cego e infundado. De fato, ele nada tem para dar, porque ele nada . Simbolizam aqueles ossos inteis a destruio de seu fantasma. O "Eu" pode afundar no lago de lama, que no tem importncia. A silenciosa renncia do asctico, que percebe que nada tem que possa renunciar e que abre mo completamente do jbilo resultante da idia de sacrifcio, encerra o rito.

    O Papel do Ego

    Tentando uma comparao entre este rito Chd e rituais mgicos europeus, defrontamo-nos de incio no com o problema da inferioridade de concepo ou percia tcnica, como muitos pensaram at hoje, mas com uma vasta diferena de perspectiva metafsica. Isto , existe uma oposio marcadamente enunciada de objetivo tanto filosfico quanto pragmtico. Em comum com todas as escolas e seitas do Budismo, o Mahayana diretamente antagnico idia de Ego. Toda sua filosofia e cdigo tico esto diretamente relacionados com a eliminao do "Eu" pensante. Sustenta que esse "Eu" puramente uma fantasia nascida da ignorncia infantil, tal como a noo medieval de que o Sol girava ao redor da Terra era resultado de conhecimento imperfeito. Por isso, todo o esquema religioso e filosfico dirigida no sentido de erradicar essa fantasia do pensamento de seus discpulos. Esta a doutrina Anatta e sua importncia para o Budismo funda-se na crena que essa fantasia resulta na dor e infelicidade.

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  • A Magia europia, por outro lado, deve suas doutrinas fundamentais Qabalah. Embora tenha muito em comum com os contornos gerais do Budismo, a metafsica da Qabalah essencialmente egocntrica de maneira tipicamente europia. Contudo, os termos de sua filosofia so to genricos que podem ser interpretados livremente por uma variedade de ngulos. Embora condenando os males e limitaes que acompanham o falso sentimento de ego, ela acentua no tanto a destruio do ego quanto, com um carter prtico verdadeiramente ocidental, sua purificao e integrao. Ele um instrumento muito til, depois de aprendida a necessria lio de que no idntico ao eu, mas apenas um instrumento particular, uma pequena fase de atividade compreendida dentro da grande esfera do indivduo total. Consequentemente, a teurgia prtica que surge como superestrutura da Qabalah terica bsica deve tambm ser afetada por aquele ponto de vista. Em lugar de procurar remover o ego como tal, procura estender as fronteiras limitadas de seu horizonte, ampliar seu campo de atividade, melhorar sua viso e sua capacidade espiritual. Em suma, aumentar seu valor psicolgico para que, tomando conhecimento do Eu Universal que impregna todas as coisas, possa ficar identificado com aquele Eu. Aqui h, portanto, uma distino fundamental no ponto de vista adotado.

    O Ritual do No-Nascido

    Assim como o Chd tem suas razes nos animismo Bn primitivo do Tibete budista, tendo sido muito claramente remodelado pelos Mahayanistas, o ritual ocidental que me proponho considerar aqui tambm tem origem muito tosca. Data possivelmente dos sculos imediatamente anteriores nossa Era Crist. O "Ritual do No Nascido", nome pelo qual se tornou conhecido, pode ser encontrado em sua forma elementar em Fragments of a Graeco-Egyptian Work upon Magic, publicado em 1852 por Charles Wycliffe Goodwin, M.A., para a Sociedade Antiquria de Cambridge. O ritual passou desde ento por considervel transformao. De simples orao primitiva para afastar o mal, nas mos de teurgistas peritos e treinados na tradio Ocidental da Aurora Dourada, evoluiu para um trabalho altamente complexo, mas muito eficiente e inspirador. O ritual, como tal, consiste agora de um longo promio, cinco invocaes elementares e uma eloquente perorao. Inserida entre eles h uma cerimnia Eucarstica.

    No prlogo, o operador identifica-se com Osris por meio da adoo da forma visualizada da forma divina egpcia. Isto , formula, sua volta, a forma de Osris. Sua imaginao precisa ser pictorialmente aguada e suficientemente vvida para visualizar mesmo os menores detalhes de traje e ornamentao em cor e formas claras e brilhantes. Em resultado desse esforo, se o operador bem sucedido, a cerimnia no mais dirigida por um mero ser humano. Pelo contrrio, as invocaes e ordens partem da prpria boca da divindade.

    Osris, em simbolismo mgico, a prpria conscincia humana, depois de finalmente purificada, exaltada e integrada o ego humano como se acha em posio equilibrada entre cu e terra, reconciliando e unindo ambos. Em um ritual de iniciao da Aurora Dourada, um oficiante, ao mesmo tempo que assume a mscara astral do deus, define a natureza dele

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  • afirmando: "Eu sou Osris, a Alma de aspecto gmeo, unida ao mais por purificao, aperfeioada por sofrimento, glorificada atravs de provao. Vim de ones esto os grandes Deuses, atravs do Poder do Poderoso Nome."

    O lama quando executa o rito Chd, imagina-se igualmente como uma das Dakinis, a Deusa da Sabedoria que Tudo Realiza. Esta, na interpretao da Madame David Neel, representa esotericamente e vontade superior do lama. Os conceitos de ambos rituais so efetivamente muito semelhantes.

    Mas a termina a semelhana, na realidade superficial. Isso porque no ritual Chd o lama ou eremita, invocando as vrias ordens de demnios e espritos, identifica-os com seus prprios vcios e assim sacrifica-se. V seu ego composto de dio e ira, lascvia, inveja e estupidez, e arremessa essas qualidades aos espritos e demnios invasores para consumao. Visualiza seu corpo como um cadver sendo desmembrado pela colrica deusa e seus rgos tambm sendo devorados por uma legio de entidades malignas. Em poucas palavras, intencionalmente produzida uma espcie de dissociao.

    No sistema ocidental, as vrias ordens de elementos so tambm invocadas de suas esferas durante esse Ritual do No-Nascido, mas recebem ordem para fluir atravs do Mago, visando no atac-lo e assim destrulo, mas purific-lo. A inteno totalmente diferente. Em cada estao ou ponto cardeal, a divindade tutelar apropriada invocada por meio da formulao da forma astral e das figuras lineares adequadas. No Oriente, em resultado da vibrao dos nomes brbaros de invocao apropriados, que "tm um poder inefvel nos ritos sagrados", e pela enunciao das Palavras de Poder, as Slfides correm atravs de sua esfera de sensao como um delicado zfiro, soprando sua frente a imunda poeira do orgulho. As Salamandras, vindas do Sul, consomem com um fogo ardente a inveja e o dio existentes dentro dele. Lascvia e paixo so purificadas pelas Undinas, invocadas do Oeste, como se o mago fosse mergulhado na gua mais pura da qual sai imaculado e consagrado. Enquanto os Gnomos, vindos do Norte, limpam-no de preguia e estupidez, exatamente como a gua enlameada e impura limpada ao ser filtrada atravs da areia. O operador est, o tempo todo, consciente da injuno a propsito dos elementos dados em uma de suas iniciaes. Ou melhor, a injuno torna-se parte de sua perspectiva inconsciente da vida. "S tu, portanto, pronto e ativo como as Slfides, mas evita a frivolidade e o capricho. S enrgico e forte como as Salamandras, mas evita a irritabilidade e ferocidade. S flexvel e atento as imagens como as Ondinas, mas evita a ociosidade e mutabilidade. S laborioso e paciente, como os Gnomos, mas evita a grosseria e avareza. Assim desenvolvers gradualmente os poderes de tua alma e te ajustars ordem dos espritos dos elementos."

    Terminadas as invocaes elementais trabalho muito difcil, cuja a execuo exige pelo menos setenta ou oitenta minutos de intensa concentrao mgica o operador, estando convencido da presena da fora invocada e do efeito salutar de suas respectivas purificaes sobre ele, inicia o segundo estgio de seu trabalho invocando o quinto elemento,a quintessncia alqumica,Akasha ou ter, em seus aspectos tanto positivo quanto negativo. O efeito dessas duas invocaes equilibrar os elementos j chamados cena de operaes. Tendem elas a

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  • oferecerem um molde esotrico ou vcuo astral, ao qual as foras espirituais podem descer para estabelecer contato com a psique inconsciente do operador.

    Nesta conjuntura, costume celebrar o repasto mstico que tambm parece ter inteno inversa do banquete Chd. Pelo menos a inverso apenas aparente. O mago celebra a Eucaristia dos quatro elementos, depois de recitar fortemente a invocao enoquiana da tbua mstica de Unio, comeando com Ol Sonuf vaorsagi goho Iada balta "Eu reino sobre vs, disse o Deus da Justia..." O perfume da rosa sobre o altar, o fogo baixo na lamparina acesa, o po e o sal, e o vinho so assim poderosamente carregados com a fora divina. De tal modo que, quando ele participa dos elementos, o influxo do esprito eleva no apenas seu prprio ego, mas tambm todas as inmeraveis clulas que compe seu veculo inferior de manifestao. E ainda mais, pois afeta todos os seres espirituais, anjos, elementos e espritos que, em resposta invocao, agora impregnam a esfera astral. Assim, ele executa aquilo que os princpios de todas as religies msticas ordenam, a elevao de todas as vidas inferiores, enquanto o homem evolui. Isto ele faz, neste caso, pela ao das invocaes mgicas e da Eucaristia, de modo que no somente ele abenoado pelo impacto do esprito divino, mas todos os outros seres presentes participam da glria com ele. No h retena de beno, pois aqui, como no rito Chd, no h reteno de poder em relao a qualquer ser.

    No incio da cerimnia, todas as foras e todos os seres so cuidadosamente banidos pelos rituais de banimento apropriados, a fim de deixar um espao limpo e sagrado para a celebrao da cerimnia. Mas para esta esfera consagrada so chamadas todas as ordens de elementos, compreendidas na diviso quintpla das coisas. E esta poderosa legio, purificando a esfera do mago por consumir os elementos indesejveis dentro dele, que consagrada e abenoada pela Eucaristia e pela descida da Luz refulgente. Toda a operao selada pela perorao:

    "- Eu sou Ele!O Esprito No Nascido, que tem vista nos ps! Forte e Fogo Imortal!Eu sou Ele, a Verdade! Eu sou aquele que odeia que o mal seja praticando no mundo! Eu sou Aquele que relampeja e troveja! Eu sou Aquele que cuja a boca flameja sempre! Eu sou Ele!, o gerador e Manifestador da Luz! Eu sou Ele, a Graa do Mundo! O Corao enlaado pela Serpente meu nome."

    Isto coincide com a reformulao da forma divina de Osris. E, com cada clusula do hino final, o mago faz em imaginao o esforo para perceber que elas respondem s qualidades e caractersticas divinas do deus, cuja luz est naquele momento descendo sobre ele. O resultado final iluminao e xtase, transporte de conscincia do mago para uma identidade com a conscincia de tudo que vive, inefvel unio com a Luz, a Vida nica que empregna todo espao e tempo.

    Admitirse o, espero eu, que as concepes ocidentais de Magia no so inferiores de maneira alguma, como muitos chegaram a acreditar no passado, quelas prevalescentes no Tibete e no Oriente. S que as frmas filosficas so um tanto diferentes. E essa diferena

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  • tem suas razes em necessidades psicolgicas variadas que em tempo nenhum so irreconciliveis.

    Teurgia e Desenvolvimento Espiritual

    Devo aqui, portanto, contentar-me com essas comparaes entre vrios pontos de interesse comum tanto para o Oriente quanto para o Ocidente. Meu desejo de compar-los resulta originariamente da leitura do livro verdadeiramente erudito de Major Waddel - onde o leitor pode encontrar itens de grande e absorvente interesse. Mas acho que, a menos que tenham a chave mgica destas prticas e de vrias cerimnias que os lamas praticam, o leitor tende a aborrecer-se e desistir sem adequada compreenso delas. Com todo o devido respeito pela sabedoria oriental, pela qual certamente tenho grande e profunda reverncia, minha crena que neste caso um estudo da Teurgia, como foi desenvolvida pelo gnio ocidental, mais capaz do que qualquer outra coisa de lanar um raio iluminador sobre a verdadeira natureza do desenvolvimento espiritual pelo caminho da Magia. So muitos os caminhos que levam ao objetivo nico da Viso Beatfica. Dessesm um a meditao. Provavelmente, no desenvolvimento da meditao e nos processos puramente introspectivos de Ioga, o Oriente est muito frente do Ocidente. Certamente no existe melhor compndio sobre este assunto do que os aforismas de Ioga Patanjali. E eu reconheo que Blavastky trouxe a Teosofia do Oriente. Mas a Teurgia elevouse as alturas iluminadas pelo Sol nas escolas ocidentais. Nossos Santurios Ocultos de Iniciao, onde a Magia vem sendo h muito tempo empregadacom sucesso , mas negada com excessivo rigor ao conhecimento do mundo exterior, tem uma interpretao mais bela, mais nobre e mais espiritual do que qualquer outra que possa ser encontrada nos sistemas orientais.

    Quanto a mim, s posso dizer que a experincia demonstra que Teurgia no faz confuso em declarao de ideais. No introduz caos supersticioso a respeito do temor dos demnios, etc , que muito aparente no esquema tibetano, a julgarse pelo livro de Waddel. Todo esforo mgico dos lamas descrito como sendo devido a medo ou dio de maus espritos, embora eu no duvide de que muito lamas tm uma compreenso de sistema melhor do que essa. A Teurgia alimenta o ideal de que sua tcnica seja um meio de promoo do desenvolvimento espiritual da pessoa, para que assim ela possa consumar o verdadeiro objetivo da encarnao. No egoisticamente, mas para que possa daqui para diante ser mais capaz de ajudar e participar do progresso ordeiro da humanidade em direo quele dia perfeito em que a glria deste mundo passar e o Sol da Sabedoria se erguer para brilhar sobre o esplndido mar.

    2. A Arte da Magia

    De todos os assuntos que constituem o que hoje chamado de ocultismo, o pior interpretado a Magia. At mesmo a Alquimia, que para alguns incomodamente negra e obscura, desperta em geral muito mais simpatia e compreenso do que a Magia. Por exemplo, o psiclogo Jung observou a respeito da Alquimia, em seu ensaio O Ego e o

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  • Inconsciente, que seria "imperdovel depreciao de valor se aceitssemos a opinio corrente e reduzssemos o esforo espiritual do alquimista ao nvel de retorte e do forno de fundio. Certamente que este aspecto perte alquimia; representou nicio tentativo da qumica exata. Mas ela tambm tem uma lado espiritual ao qual ainda nunca foi dado valor verdadeiro e que do ponto de vista psicolgico no deve ser subestimado."

    Contudo a Magia, estranho dizer, no recebeu avaliao igual exceto at onde se alia o termo Magia com ao inconsciente e se diz que ela representa uma tentativa primitiva de conhecer o inconsciente. Consequentemente, no existe mais do que uma tentativa mnima de chegar compreenso de seus processos. No momento, eu no desejo analizar analizar as possveis razes deste espantoso fenmeno. O que interessa mais, porm, promover uma abordagem do assunto mais ou menos inteligvel, para que, dado o vislumbre inicial da luz brilhante que enche o mundo da Magia, mais pessoas possam sentir-se dispostas a dedicar um pouco de suas energias e de seu tempo ao seu estudo. As vantagens e benefcios so tais que tornam esse esforo extremamente proveitoso.

    Os Objetivos da Magia

    De maneira simples e breve, permitam-me dizer de incio que a Magia se interessa principalmente pelo mundo da psicologia moderna. Vale dizer que ela trata daquela esfera da psique de que normalmente no somos conscientes, mas que exerce enorme influncia sobre nossas vidas. A magia uma srie de tcnicas psicolgicas planejadas para permitir que sondemos mais profundamente ns mesmos. Para que fim? Primeiro, para compreendermos a ns prprios mais completamente. Alm do fato do auto-conhecimento ser por si s desejvel, uma compreenso da natureza interior livra-nos de compulses e motivaes inconscientes e confere o domnio sibre a vida. Segundo, para que possamos expressar mais plenamente aquele eu interior em atividades cotidianas. S quando a humanidade em seu todo tiver atingido ou talvez quando os homens e mulheres mais avanados do mundo tiverem desevolvido algum grau de realizao interior que poderemos ter esperana daquela condio utpica ideal das coisas - ampla tolerncia, paz e fraternidade universal. A finalidades como essas que a Magia deve sua razo de ser.

    Religio e Magia

    Abordando a matria de outro ponto de vista, pode-se dizer a Magia trata dos mesmos problemas da religio. No desperdia seu ou nosso valioso tempo com especulaes fteis a respeito da existncia ou natureza de Deus. Afirma dogmaticamente que existe um princpio vital onipresente e eterno e assim, de maneira verdadeiramente cientfica, estabelece uma legio de mtodos para provlo por si prprio. Como podemos conheceer Deus? Aqui, como antes, h uma tcnica bem definida e elaborada para lidar com a conscincia humana como tal e elevla a uma experincia imediata do esprito universal que impregna e sustenta todas as coisas. Isso porque o sistema tem averso pela atitude daqueles pensadores complacentes, mas confusos, que, recusando aceitar limitaes

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  • humanas como so hoje, miram muito alto sem lidar com os mltiplos problemas no caminho.

    Suponhamos que aquele edifcio tem 10 andares. Como podemos chegar ao telhado? Certamente no ignorando o fato muito bvio de que pelo menos duzentos ps interpem-se entre ns e o telhado! No entanto, essa precisamente a atitude do chamado culto da simplicidade em religio mstica. Deus, afirma eles, um elevado estado de conscincia infinita ao qual a mente microcsmica deve ser unida. At a tudo bem e nisso a Magia est de acordo com a opinio deles. Todavia, essas pessoas propemse a chegar ao cume da realizao ignorando os degraus existentes entre o homem como o encontramos agora e o fim supremo Deus. como se desejssemos saltar do cho ao telhado do mencionado edifcio.

    A Magia adota uma atitude ligeiramente diferente. , porm, uma atitude marcadamente semelhante atitude do senso comum do homem mtico da rua. Para chegar ao alto do edifcio precisamos subir os vrios lanos de escada que levam at l ou ento tomar o elevador. Em qualquer dos casos, um processo gradual - uma evoluo se quiserem.

    O homem, sustenta a teoria mgica, uma criatura mais ou menos complicada, cujas vrias faculdades de sentimento, sensao e pensamento desenvolveram-se lentamente no curso de sculos de evoluo. fatal ignorar essas faculdades, pois evidentemente elas evoluram para algum propsito til em resposta a alguma necessidade interior. Assim, ao aspirar unio divina, certamente um objetivo louvvel, devemos estar seguros de que nosso mtodo, seja qual for, leva em considerao aquelas faculdades e desenvolve-as at o estgio em que possam participar da experincia. Se evoluo considerada um processo adequado, ento o homem inteiro deve evoluir, e no apenas pequenos pedaos ou aspectos dele, enquanto outras partes de sua natureza so deixadas sem desenvolvimento em um nvel de ser primitivo ou infantil. Ademais, essas faculdades precisam ser treinadas para que sejam capazes de "suportar" as enormes tenses a que certamente sero submetidas por uma realizao to exaltada, mas ainda sim to poderosa. Cada faculdade precisa ser deliberadamente treinada e levada de estgio a estgio atravs dos vrios nveis de conscincia humana e csmica, para que se acostume gradualmente ao alto potencial de energia, ideao e inspirao que deve inevitavelmente acompanhar a iluminao e uma extenso de conscincia. O fato de no considerar esse ponto de vista em termos de sua dinmica deve sem dvida ser responsvel pelas catstrofes to frequentemente encontradas em crculos msticos e ocultos.

    A fim de apresentar uma viso geral de todo o campo da Magia, permitamme declarar sumariamente que, por motivo de convinincia, o assunto pode ser dividido em pelo menos trs sees principais: 1. Advinhao; 2. Evocao e Viso; 3. Invocao. Definirei cada uma delas separadamente e com alguns pormenores.

    Adivinhao

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  • No que se refere primeira diviso, a hiptese mgica perfeitamente definida. Sustenta ela que a adivinhao no se interessa em ltima anlise por mera leitura da sorte nem mesmo pela adivinhao das causas espirituais por trs dos acontecimentos materiais, embora esta ltima no seja de pouca importncia. Pelo contrrio, a prtica da adivinhao, quando conduzida de maneira certa, tem por objetivo o desenvolvimento da faculdade psquica interior de intuio. um enorme bem espiritual ter desenvolvido alta sensibilidade ao sutil mundo interior da psique. Quando mantida por perodo de tempo suficientemente longo, a prtica constri vagarosamente, mas eficientemente, uma espcie de ponte entre a conscincia do homem e aquela parte oculta mais profunda da sua psique, da qual geralmente ele no tem conhecimento o inconsciente ou eu superior. Nesses aspectos espirituais mais profundos de sua natureza esto as razes divinas de discriminao, discernimento espiritual e elevada sabedoria.

    O objeto da adivinhao muito simplesmente, portanto, a construo de um mecanismo psquico pela qual essa fonte de inspirao e vida possa ser tornada acessvel conscincia comum, ao ego. O fato desse mecanismo interessarse de incio em fornecer respostas para perguntas aparentemente triviais no por si s objeo a tcnica propriamente dita. As abordagens preliminares de qualquer estudo podem ser indignas daquele estudo ou incomptiveis com ele. E a adivinhao no excesso regra geral. Nem objeo vlida o fato de a tcnica estar aberta a frequentes abusos de charlates inescrupulosos. Mas quando praticada com sinceridade, inteligncia e assiduidade pelo verdadeiro estudante, a conscincia gradualmente se abre a um nvel mais profundo de percepo. "O crebro torna-se poroso para as lembranas e ditames da alma"(para usar uma expresso teosfica corrente) uma verdadeira declarao dos efetivos resultados do treinamento. Como o objeto da psicologia analtica a assimilao do contedo reprimido do inconsciente na conscincia comum desperta , por esses outros meios mgicos a mente humana torna-se consciente de si prpria como infinitamente mais vasta, mais profunda e mais sbia do que jamais percebera antes. Uma noo do aspecto espiritual das coisas desperta na mente - uma noo da prpria alta sabedoria inata e um reconhecimento da divindade trabalhando atravs do homem e do universo.Certamente, esse ponto de vista eleva a adivinhao acima do nvel de mera arte oculta e at uma parte intrseca do esforo mstico.

    Geomancia, Tar e Astrologia

    Estas so tcnicas fundamentais do sistema divinatrio. Geomancia a adivinhao por meio de terra. Em certa poca, seus praticantes usavam realmente areia ou terra preta, na qual traavam seus desenhos e smbolos, mtodo tipicamente primitivo ou medieval. Hoje os adivinhadores geomnticos usam lpis e papel, contando com o grafite de seu lpis para formular teoricamente um elo mgico entre eles prprios e as chamadas inteligncias ou elementos adivinhadores de terra. , pelo que mostra minha experincia, uma tcnica altamente eficiente, em favor da qual se pode alegar um grau de pelo menos 80 por cento de preciso no decorrer de vrios anos.

    Tar o nome de um mao de cartas, em nmero de setento e oito, que foi introduzido na Europa no sculo XIV ou XV. Ningum sabe de onde ele veio. Sua origem um mistrio

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  • completo. Em um perodo no havia na Europa essas cartas, at onde podemos ver. Em outra poca, as cartas estavam circulando livremente.

    Pouca meno precisa ser feita astrologia, pois h muito tempo um dos mtodos mais populares com os quais o pblico se familiarizou. Quem praticar esses mtodos tendo em mente tal objetivo certamente perceber os resultados que descrevi. E, embora seja verdade que seus consulentes de adivinhao podem receber respostas perfeitamente boas para as suas perguntas, afastandose de seu limiar com o esprito de gratido e admirao, o desenvolvimento intuitivo que a pessoa adquire constitui o lado mais importante daquela operao.

    Evocao

    quando deixamos o reino relativamente simples da adivinhao para abordar o obscuro aspecto da evocao, que entramos em guas profundas. Aqui que surge a maior dificuldade. E em relao a esta fase da magia que se desevolveram a maior incompreenso e medo.

    A fim de elucidar a matria, permitam-me usar a terminologia da psicologia moderna. O termo "complexo" adiquiriu uma notoriedade no ltimo quarto de sculo, a partir da divulgao das teorias de Freud e Jung. Significa um agregado ou grupo de idias na mente, com forte carga emocional, capaz de influenciar pensamento e comportamento conscientes. Se meu interesse a Magia, ento naturalmente cada item de informao adiquirido, seja qual for a sua natureza, provavelmente ser construdo por associao naquela constelao de idias que se agrupa em torno de meu interesse - tornando-se no curso de anos, um perfeito complexo. A Sra. Jones, dona da leiteria onde eu compro, devido a suas predilees profissionais, ter seu complexo centralizado em leites, vacas, manteigas e no preo dos ovos.

    Acima dessa definio, porm, est uma outra mais sutil: um grupo de idias ou sentimentos congregando-se em torno de um tema psquico significativo ou dominante, como sexo ou a necessidade de vencer sentimentos de inferioridade, ou algum trauma de infncia, que prende ou fecha energia nervosa. Assim, em resultado de represso, podemos encontrar um complexo do qual o portador totalmente inconsciente complexo que se expressa em sentimentos de insegurana, obsesso por temores mrbidos irracionais e persistente ansiedade. Ademais, pode existir uma constelao de sentimentos, disposies de nimo e reaes emocionais, que se torna muito poderosa, mas ainda sim to desagradvel razo a ponto de ficar completamente afastada da corrente principal da personalidade. O que a psicologia moderna chama complexo, nesse sentido, a antiga psicologia da Magia, que tinha seu prprio sistema de classificao e nomeclatura, chamava Esprito. O sistema de classificao era os Sephiroth Cabalsticos ou as dez categorias fundamentais de pensamento.

    Assim, se tentssemos a traduo dos termos, ao sentimento de inferioridade poderamos denominar o Esprito de Tiphareth, cujo nome consta ser Soras, visto que o Sol, uma das

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  • atribuies ou associaes, considerado o smbolo planetrio da individualidade. Consequentemente, uma aflio da personalidade, o que pode ser considerado uma definio geral ou tosca do sentimento de inferioridade, poderia ser atribuda a Soras - pois o Esprito no caso de cada Sephirah considerado mau. O complexo que se expressa em insegurana o esprito de Yesod e a lua, cujo nome Chasmodai. Esta esfera de Yesod representa o plano ou fundamento astral que d estabilidade e permanncia a formas fsicas; em uma palavra, um smbolo de segurana e fora. Se nos denfrontamos com um caso em que as emoes esto separadas da conscincia, esta a influncia do Esprito de Hod e Mercrio, Taphthartharath. Quem est mergulhado em caos emocional, tendo recusado desenvolver igualmente a conscincia e as faculdades racionais, est sujeito ao Esprito de Netzach e Vnus, Haniel. Uma neurose puramente destrutiva ou suicida, que leva a pessoa a exibir tendncia sintomtica de quebrar coisas deliberadamente ou de us-las para atacar a si prprio, de qualidade marcial, pertencente a Geburah e Marte, o Esprito Samuel.

    Este , naturalmente, o ponto de vista subjetivo. No nego que existe uma teoria hierrquica puramente objetiva, mas esta no pode ser tratada aqui.

    Como lidamos hoje com psiconeuroses na tentativa de curlas de eliminlas da esfera de Pensamento e sentimento do paciente? Principalmente pelo mtodo anlitico Encorajamos o paciente a narrar livremente a histria de sua vida, e delinear pormenorizadamente suas primeiras experincias com seu pai e sua me, suas reaes a irmos e irms, escola e aos colegas, e a todo o ambiente. Pedimos-lhe que trate particularmente de suas reaes emocionais a essas primeiras experincias, que as reviva em sua imaginao, que relate e analise seus sentimentos em relao a elas. Alm disso, seus sonhos no perodo de anlise so sujeitos a cuidadoso exame. Isto necessrio por ser o sonho uma atividade psquica espontnea, em que no interfere a conscincia desperta. Tal atividade revela as reaes inconscientes atuais aos estmulos de vida reaes que modificam e at mesmo formam sua perspectiva consciente. Desta maneira, permitido ao paciente perceber objetivamente a natureza daquele complexo. O paciente deve desprender-se dele durante um curto espao de tempo. E este exame objetivo crtico do complexo, esta compreenso de sua natureza e dos meios pelos quais ele nasceu, permite ao paciente, no imediatamente e de uma vez, mas gradualmente e com a passagem do tempo, expulslos de seu modo de pensar.

    A Magia, porm, procedia em certa poca de acordo com uma tcnica ligeiramente diferente. Percebia tambm como so devastadores esses perversos modos de pensamento e como so mutiladores os efeitos por eles exercidos sobre a personalidade. Indeciso, vacilao, incapacitao de memria, anestesia de sentimento e sensao, compulses e fobias, alm de uma legio de males fsicos e morais, so as resultantes desses complexos ou Espritos dominantes. O paciente permanece to completamente merc de disposies obsessivas, a ponto de ficar quase fora de si, sugerindo assim a vvida imaginao dos antigos uma obsesso real por alguma entidade espiritual estranha. Assim, para desenvolver ao homem sua eficincia anterior ou o padro de normalidade, essas aflies precisam ser eliminadas da conscincia.

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  • Personalizao de Complexos

    Como primeiro passo, a Magia passava a personalizlos, a investlos com figura e forma, e a dar-lhes nome e qualidades definidos. da natureza da psique dar espontaneamente caractersticas e nomeclaturas humanas ao contedo de sua prpria mente. Ao faz-lo, o sistema mgico recebe beno oficial, se assim posso dizer, nada menos que de uma autoridade psicolgica moderna como o Dr. C. G. Jung. Em seu comentrio em O Segredo da Flor Dourada, Jung d a esses complexos a denominao de "sistemas parciais autnomos". Referindo-se a esses sistemas parciais, afirma: "Sendo tambm constituintes da personalidade psquica, eles tm necessariamente o carter de pessoas. Esses sistemas parciais aparecem em doenas mentais nas quais no h diviso psicognica de personalidade(dupla personalidade) e tambm comumente, em fenmenos medinicos." , como j disse, tendncia natural da mente humana personalizar esses complexos ou agrup-los em idias especiais. Como outra prova, podemos citar o fenmeno dos sonhos, nos quais muito frequentemente dada s dificuldades ou complexos do paciente alguma forma humana ou animal.

    Avanando mais um passo, a antiga cincia da Magia postula que para eliminar esse complexo necessrio torn-lo objetivo para a conscincia do prprio paciente ou estudante, a fim de que este possa adquirir algum reconhecimento de sua presena. Enquanto esses ns de ou espritos astrais so desconhecidos e descontrolados, o paciente incapaz de control-los para maior vantagem, de para examin-los completamente, de aceitar um ou rejeitar outro. Antes de tudo, essa era a hiptese, preciso que eles adquiram forma tangvel e objetiva para poderem ser controlados. Enquanto permanecerem intangveis e amorfos, e no percebidos pelo ego, no podero ser adequadamente tratados. Com um programa de evocao formal, porm, os espritos do escuro submundo ou os complexos de idias que habitam as camadas mais profundas do inconsciente podem ser evocados da escurido para aparncia visvel no tringulo mgico de manifestaes. Evocados dessa maneira tcnica, eles podem ser controlados por meio de smbolos transcendentais e processos formais da Magia, sendo trazidos para dentro do domnio da vontade e conscincia estimuladas do teurgista. Em outras palavras, eles so mais uma vez assimilados na conscincia. No so mais espritos indenpendentes vagueando pelo mundo astral ou sistemas parciais morando no inconsciente, perturbando a vida consciente do indivduo. So trazidos mais uma vez de volta para a personalidade, onde se tornam cidades teis, por assim dizer, partes integrantes da psique, ao invs de prias e gangsters, inimigos cruis e perigosos ameaando a unidade e integridade psquicas.

    O Processo de Evocao

    Como so eles evocados? Qual o processo tcnico para tornar objetivos esses sistemas parciais autnomos? Aqui a Magia separa-se da psicologia ortodoxa. Muitos meses de tediosa anlise, por enorme custo financeiro, so exigidos pelo mtodo psicolgico atual para lidar com esses problemas e poucos so suficientemente fortes ou pacientes para

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  • persistir. A teoria mgica prefere uma forma mais drstica de excitao emocional e mental por meio da tcnica cerimonial. Durante a cerimnia de evocao, nomes divinos e de espritos so continuamente vibrados como parte de uma demorada conjurao. Caminhadas em crculo so feitas a partir de posies simblicas no templo representando diferentes camadas do inconsciente, diferentes regies do mundo psquico. Ar inalado para os pulmes e, mais ou menos como na tcnica pranayama dos yogues hindus, manipulado pela imaginao de maneiras especiais. Por meio desses exerccios, a conscincia estimulada am tal grau que se abre, contra sua vontade, elevao forada do contedo do inconsciente. A elevao no casual, mas decididamente controlada e regulada, pois os cabalistas esto perfeitamente familiarizados com as idias de sugesto e associao, arranjando suas conjuraes de modo que, por meio de associao de idias, seja sugerida psique a sucesso de idias necessrias e s aquela sucesso.

    O sistema parcial determinado ento expulso da esfera de sensao e projetado para fora. Incorpora-se chamada substncia astral ou esotrica que normalmente compe o corpo interior e que serve como alicerce ou plano da forma fsica, atuando como ponto de entre o corpo e a mente, da qual o veculo. A forma astral, refletindo agora o sistema parcial projetado do inconsciente, atrai para si partculas do pesado incenso, queimando copiosamente durante a cerimnia. Gradualmente, no curso cerimonial, cria-se uma materializao que tem forma e carter de um ser autnomo. Podese falar com ele e ele pode falar. Igualmente pode ser dirigido e controlado pelo operador da cerimnia. Na concluso da operao, ele absorvido deliberada e conscientemente pelo operador, mediante a frmula habitual: "E agora eu te digo, parte daqui com a beno de ( o nome divino apropriado que governa aquele tipo determinado de complexo ) sobre ti. E que haja paz entre mim e ti. E que estejas tu pronto a vir e obedecer minha vontade, seja por uma cerimnia, seja por apenas um mero gesto."

    Assim, o defeito causada a conscincia pelo esprito-obsesso remediado e, devido entrada na conscincia do tremendo poder e sentimentos envolvidos em tal represso, a psique do operador estimulada de maneira especial, de acordo com a natureza do esprito.

    Recapitulando, o propsito da evocao fazer com que uma poro da psique humana, que se tornou deficiente em uma qualidade mais ou menos importante, seja levada intencionalmente a ressaltar-se, por assim dizer. Tendo o corpo e o nome pelo poder da vontade e da imaginao estimuladas e da substncia astral exsudada, ela , para continuar usando a metfora, especialmente nutrida pelo calor e pelo sustendo do sol, e provida de gua e alimento para que possa crescer e florescer.

    Naturalmente, necessrio familiaridade antes que este tipo de Magia possa ser tentado. Ele exige estudo e longo treinamento. Trabalho persistente e rduo precisa ser realizado com as frmulas apropriadas, antes que a pessoa se atreva a dedicarse a um aspecto to formidvel e talvez perigoso da rotina mgica. Mas tem esta vantagem sobre o processo analtico. infinitamente mais rpido, quando a tcnica foi dominada e os caminhos de associao especial foram conhecidos, e consideravelmente mais completo e eficaz como agente

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  • catrtico. Espero ver um dia uma modificao dele usada comumente por nossos psiclogos.

    Viso

    Existe uma importante variao deste tcnica. primeira vista, talvez parea ter pouca relao com o mtodo de evoca. Mas tem tambm como objetivo a necessria assimilao do contedo inconsciente da psique na conscincia normal. Seu objetivo , tambm, o alargamento do horizonte da mente pelo alargamento das concepes intelectuais do estudante sobre a natureza di universo

    Os processos tcnicos elementares deste mtodo exigem o desenho ou a pintura de smbolos coloridos dos elementos terra, ar, gua, fogo e ter. Cada um deles tem um smbolo e cor tradicionais diferentes. terra atribudo um quadrado amarelo. O ar um crculo azul. gua um crescente prateado, Fogo um tringulo vermelho e ter o ovo preto. Depois de fitar intensamente o smbolo de determinado elemento durante vrios segundos e em seguida voltar os olhos para uma superfcie branca ou neutra, vista contra ela uma imagem reflexa na cor complementar. Tratase de uma iluso de ptica normal, sem qualquer significao especial em si prpria. Obtido o reflexo ptico, o estudante aconselhado a fechar o os olhos, imaginando que diante dele est a forma smbolica na cor complementar do elemento usado. A forma ento ampliada at parecer suficientemente alta para que ele se visualize caminhando atravs dela. Depois ele deve permitir faculdade de fantasia de sua mente ao plena e desimpedida. Particularmente importante que nesse estgio ele deve vibrar certos nomes divinos e arcanglicos que a tradio atribui quele smbolo determinado. Esses nomes podem ser encontrados no primeiro volume de meu trabalho The Golden Dawn.

    Dessa maneira, ele entra, imaginativa e clarividentemente, por meio de sua viso, no reino elemental correspondente natureza do smbolo que escolheu. Empregando elemento aps elemento, ele estabelece contato simptico com o entendimento dos vrios planos hierrquicos existentes dentro da Natureza e assim alarga tremendamente a esfera de sua conscincia.

    Do ponto de vista psicolgico, podemos entender que a teoria mgica sugere que o inconsciente ( que foi comparado aos nove dcimos de um iceberg ocultos sob a gua e no visveis) pode ser classificado em cinco principais camadas ou subdivises. Esses cinco nveis correspondem aos cinco elementos, sendo terra o mais superficial e ter ou esprito o mais profundo. Seguindo essa tcnica de viso ou fantasia, permite-se conscincia comum do candidato atravessar a barreira, sem isso impenetrvel, que subsiste entre ela e o inconsciente. formado um elo entre os dois aspectos da mente, construda uma ponte, atravs da qual a psique pode passar a qualquer momento. Entrar nesses vrios nveis psquicos por meio de projeo imaginativa anlogo a formar caminhos de associao por meio da qual a idia, inspirao e vitalidade so tornadas acessveis conscincia.

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  • A viso assim obtida corresponde geralmente a uma espcie de sonho, experimentado, porm, em pleno estado consciente um sonho do qual nenhuma das faculdades da conscincia, como vontade, crtica e viva percepo, est de maneira alguma em inatividade. A meta do analista, do ponto de vista sinttico e construtivo, atingida prontamente por esses meios. Ampla variedade de conhecimento e sentimento assim aberta e assimilada sem esforo ou dificuldade, para vantagem e desenvolvimento espiritual do indivduo.

    Interpretao da viso um fator importante. A falta de interpretao talvez seja responsvel pela esterilidade intelectual e vazio espiritual to frequentemente observados naqueles que empregam o mtodos semelhantes. O conhecimento dos mtodos de anlise simblica de sonhos e fantasias espntaneas, de Jung, pode ser extremamente til aqui, fornecendo um valioso auxiliar referncia cabalstica de smbolos s dez Sephiroth da rvore da Vida. Antes de passar adiante, interessante notar que Jung faz no final de seu livro Dois Ensaios sobre Psicologia Analtica um relato da fantasia espontnea de um paciente, curiosamente semelhante tcnica tattwa que acabo de descrever. Jung a chama de "viso" que por intensa concentrao foi percebida no fundo da conscincia, tcnica que s aperfeioada depois de longa prtica. to interessante que sou forado a cit-la aqui:

    "Subi a montanha e cheguei a um lugar onde vi sete pedras vermelhas minha frente, sete de cada lado e sete atrs de mim. Permaneci no meio desse quadrngulo. As

    pedras eram chatas como degraus. Tentei erguer as quatro pedras que estavam mais perto de mim. Ao fazlo, descobri que essas pedras eram os pedestais de quatro esttuas de deuses que estavam enterrados de cabea para baixo. Desenterreias e arrumeias minha volta de modo que eu ficasse no meio delas. De repente, elas se inclinaram umas para as outras, de modo que suas cabeas tocaram, formando uma espcie de tenda sobre mim. Eu ca ao cho e disse: "Caiam sobre mim, se for preciso, pois estou cansado." Ento vi que alm, circundando os quatro deuses, formarase um anel de chamas. Depois de algum tempo, levantei-me do cho e derrubei as esttuas dos deuses. Quando caram sobre a terra, quatro rvores comearam a crescer. E ento do crculo de fogo saltaram chamas azuis que comearam a queimar a folhagem das rvores. Vendo tal coisa, eu disse: "Isto deve parar. Preciso entrar no fogo para que as folhas no sejam queimadas." Ento entrei no fogo. As rvores desapareceram e o anel de fogo contraiu-se e tornou-se uma imensa chama azul, que me levou da terra para o alto."

    O Supremo Sacramento

    Adivinhao, evocao e viso so as tcnicas preliminares da Magia. Observamos que h considervel justificao para seu emprego quando existe adequado conhecimento de sua significao e do processo tcnico. Mas elas so apenas processos preliminares. No so degraus que levam consumao do supremo sacramento. O fim inevitvel da magia idnticoquele concebido no misticismo, a unio com a divindade. A Magia concebe a divindade como Esprito, Luz e Amor. uma fora vital penetrante e onipresente, que impregna todas as coisas, sustentando toda a vida, desde de o mais minsculo eltron at as maiores

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  • nebulosas ed dimenses impressionantes. Esta vida o substrato da inteireza de existncia e nessa conscincia primeira que vivemos, nos movemos e temos nosso ser. No curso de manifestao, centros csmicos desenvolvemse dentro de sua infinidade, centros de elevada inteligncia e poder, nos quais a alta tenso csmica pode ser modificada e reduzida a grau mais baixo, de modo a produzir finalmente uma manifestao objetiva. Estes centros csmicos so o que no momento podemos chamar de deuses ( no espritos) seres de enorme sabedoria, poder e espiritualidade, em uma escala hierrquica ascendente entre ns e o Deus desconhecido e inominado. A hierarquia determinada que eles formam recebe em magia uma classificao clara nos termos da rvore da Vida Cabalstica.

    Em um pargrafo anterior, apresentei a metfora de um homem tentando chegar ao alto do telhado de um edifcio de vrios andares. A Magia concebe um desenvolvimento espiritual de maneira anloga. Isto , concebe uma evoluo pessoal progressiva e ordenada. A Divindade o objetivo que procuramos alcanar, o alto do telhado. Ns, aqueles de ns que alimentamos o ideal mstico, estamos embaixo, no cho. Com um salto no podemos chegar ao topo. Uma distncia intermediria precisa ser atravessada. Para chegar ao telhado precisamos usar a escada ou o elevador. Por meio da tcnica mgica, empregamos a invocao dos deuses, que correspondem metaforicamente escada ou elevador, e tentamos a unio com suas conscincia mais larga e mais vasta. Como eles representam os vrios nveis csmicos de energia e mente existentes entre ns e o supremo objetivo, na medida em que nos unimos em amor, reverncia e rendio a eles, mais nos aproximamos da fonte ltima e raiz de todas as coisas.

    Invocao

    Usando o plano da rvore da Vida como guia, o mago invoca os deuses menores ou arcanjos, como so chamados em outro sistema, desejos de misturar sua prpria vida e entregar seu prprio ser maior e mais extensa vida do deus. Assim, essa percepo espiritual tornase mais aguda e mais sensvel, e a conscincia do mago acostuma-se com a alta tenso da fora divina que flui atravs dele. Prosseguindo sua evoluo interior, ele invoca a Sephirah ou plano imediatamente acima. Seguindo o mesmo processo, tenta assimilar sua prpria essncia, sua prpria conscincia integrada quela da divindade que invocou. E assim por dianteat finalmente encontrarse sobre o alto pico Darien da realizao espiritual, unido com a transcendental vida do infinito, sentindo o amor e compaixo universais, consciente de toda vida e toda coisa com suprema viso e poder. Como Jmblico, o teurgista neoplatnico, expressou certa vez: "Se a essncia e perfeio de todo o bem esto compreendidas nos deuses, se o primeiro e antigo poder deles est conosco, sacerdotes (isto , teurgistas ou magos), e se, por aqueles que aderem igualmente a naturezas mais excelentes e obtm genuinamente uma unio com elas, o princpio e o fim de todo bem seriamente perseguido: se assim , aui so encontradas a contemplao da verdade e a posse da cincia intelectual. E um conhecimento dos Deuses acompanhada pelo conhecimento de ns prprios."

    Basta de teoria. Como se processa a arte da invocao? O mais importante de tudo a faculdade imaginativa. Esta deve ser treinada para visualizar smbolos e imagens com a

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  • mxima clareza, facilidade e preciso. A necessidade disto resulta no fato de que certas formas divinas precisam ser visualizadas. Na tcnica mgica, as mais populares so as formas divinas egpcias. Parece haver certa qualidade de preciso especfica em certas formas como Osris, sis, Hrus e Nuit, por exemplo, que as torna peculiarmente eficazes para esta espcie de treinamento. Em outro sistema, no qual os arcanjos so sinnimos de deuses divinos, so visualizadas formas baseadas em uma anlise das letras individuais que formam o nome de Deus. Vale dizer, se empregarmos o sistema cabalstico judaico, a cada letra hebrica atribuda uma cor, um smbolo astrolgico, uma significao divinatria em Tar e Geomancia, e um elemento. Ao construir na imaginao a chamada imagem telesmtica do arcanjo, tomamos cada letra como representando uma parte ou membro determinado da forma e um formato, aspecto e cor determinados. Assim, a partir da letra de seu nome, construda idealmente uma forma altamente significativa e eloquente.

    Sentado ou deitao em estado fsico perfeitamente relaxado, no qual nenhuma tenso muscular ou nervosa possa mandar uma mensagem perturbadora ao crebro, o estudante esfora-se por imaginar que forma divina ou imagem telesmtica cerca-o ou coincide com sua figura fsica. s vezes, apenas alguns minutos bastam para produzir uma percepo consciente da presena, embora na maioria das vezes pelo menos uma hora de trabalho seja necessrio para obter resultados valiosos. medida que a concentrao e a reflexo se tornam mais intensas