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MANAGEMENT POR CAROLINA SCHUBERT O dilema das agências de DJs Com um número de artistas que, muitas vezes, vai além da própria capacidade, muitas agências brasileiras já não conseguem elaborar um plano de carreira para cada um dos DJs – e passam a ser meras vendedoras de datas. Mas essa realidade parece tomar novos rumos Em teoria, fazer parte de um grande time agrega valores e conceitos àqueles que conseguem um lugar entre os escalados. Pode parecer que falamos de futebol, mas não é somente dentro das quatro linhas que vale tal “regra”. Em qualquer área, os profissionais buscam por empresas renomadas, pois essas dão destaque ao currículo e à carreira. Como não poderia ser diferente, esse formato chegou ao mundo da discotecagem refletido no que chamamos de “agências de DJs”. No Brasil, elas conquistaram o mercado na mesma velocidade em que novos disc-jóqueis foram surgindo, e hoje, algumas empresas são destaque no mercado nacional por apresentarem castings bastante extensos, formados por nomes brasileiros e gringos. Em contrapartida, no exterior a realidade desse “comércio” segue por outra tangente. Na Europa e nos EUA, o trabalho costuma ser feito entre pequenos grupos com afinidades musicais, sendo mais intimista e focado. Muitos selos como Rebels Agency, Cocoon e Def Mix também contam com bookers, responsáveis por cuidar da carreira de determinados DJs. Inclusive, a Def Mix está entre as mais respeitadas do mundo, por conta do simples fato de Judy Weistein – a primeira manager de DJs do mundo – ter sido responsável pela criação desse nicho, há 25 44 // WWW.HOUSEMAG.COM.BR

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Publicada na ed. 32 da House Mag.

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Page 1: O DILEMA DAS AGÊNCIAS DE DJS

MANAgEMENt

POR carolina schubert

O dilema das agências de DJsCom um número de artistas que, muitas vezes, vai além da própria capacidade, muitas agências brasileiras já não conseguem elaborar um plano de carreira para cada um dos DJs – e passam a ser meras vendedoras de datas. Mas essa realidade parece tomar novos rumos

Em teoria, fazer parte de um grande time agrega valores e conceitos àqueles que conseguem um lugar entre os escalados. Pode parecer que falamos de futebol, mas não é somente dentro das quatro linhas que vale tal “regra”. Em qualquer área, os profissionais buscam por empresas renomadas, pois essas dão destaque ao currículo e à carreira. Como não poderia ser diferente, esse formato chegou ao mundo da discotecagem refletido no que chamamos de “agências de DJs”. No Brasil, elas conquistaram o mercado na mesma velocidade em que novos disc-jóqueis foram surgindo, e hoje, algumas empresas são destaque no mercado nacional por apresentarem castings bastante extensos, formados por nomes brasileiros e gringos.

Em contrapartida, no exterior a realidade desse “comércio” segue por outra tangente. Na Europa e nos EUA, o trabalho costuma ser feito entre pequenos grupos com afinidades musicais, sendo mais intimista e focado. Muitos selos como Rebels Agency, Cocoon e Def Mix também contam com bookers, responsáveis por cuidar da carreira de determinados DJs. Inclusive, a Def Mix está entre as mais respeitadas do mundo, por conta do simples fato de Judy Weistein – a primeira manager de DJs do mundo – ter sido responsável pela criação desse nicho, há 25

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anos. No casting deles está ninguém menos que Frankie Knuckles, o pai da house music, e o brasileiro Memê, que esclarece: “Os artistas são escolhidos a dedo pelo conjunto da obra, pelas possibilidades que trazem e, acredite, pelo entrosamento pessoal entre todos os agenciados e a própria Judy.”

Além de fazer parte da norte-americana Def Mix, Memê também optou por trabalhar com uma booker exclusiva no Brasil. A relação com Mariana Verzaro começou quando ele fez parte de uma grande agência onde ela atuava como booker, mas em determinado momento, com a saída de Mariana da empresa, os resultados começaram a cair. “Liguei para ela, e disse: ‘Vamos?’ Ela topou na hora”, conta. A partir daí, além da independência e volta do bom rendimento, Memê ainda ganhou a parceria de outra agência, não exclusiva, que atua no mesmo compasso de competência e segurança de Judy, que muitas vezes deixa de ganhar 20% em cima das gigs do DJ brasileiro. “O interesse dela é empurrar a minha carreira, e se precisar, fica sem ganhar nada. Isso, sim, é parceria”, coloca.

Para ele, as vantagens de trabalhar nesse formato são claras e objetivas: “O Brasil por si só já é uma espécie de continente eletrônico, onde há um número gigante de gigs que nenhum outro país oferece, e isso obviamente acontece também pela sua grandeza geográfica. Portanto, quem cuida exclusivamente disso já tem trabalho demais. Já no exterior, há diferentes línguas, territórios e cenários, normalmente ainda não conquistados por nenhum booker brasileiro. Vamos chegar lá, tenho certeza, mas os gringos ainda estão muito à frente no que diz respeito a conhecer esses territórios e tê-los em sua carteira de clientes. Claro, eles estão fazendo isso há mais de 20 anos. Não dá pra competir ainda. Cada macaco no seu galho.”

Monique Dardenne, manager da Modular Management: “O tratamento, a atenção, o cuidado, são coisas que andam pesando muito, além da quantidade de gigs. O artista quer resultados, quer ver o seu crescimento”

“Quanto mais pessoas trabalhando e fomentando esse segmento, melhor”, coloca Jeje, empresário da T2 eventos

DO LaDO De LÁ

Ao que tudo indica, como em diversos segmentos, as tendências gringas, quando o assunto é agenciamento de DJs, estão fazendo a cabeça dos brasileiros. Recentemente, alguns pequenos times começaram a chamar atenção. é o caso da Modular Management, que soma 15 artistas e surgiu com o objetivo de atender os clientes (artistas/promoters) com o maior cuidado e atenção. “A agência só irá crescer em quantidade se conseguirmos trabalhar com a mesma qualidade no tamanho que estamos hoje”, conta Monique Dardenne, manager da Modular. Ela acredita que, dessa forma, o artista ganha um atendimento mais pessoal e, consequentemente, com mais qualidade. “O tratamento, a atenção, o cuidado, são coisas que andam pesando muito, além da quantidade de gigs. O artista quer resultados, quer ver o seu crescimento, quer tomar conta da sua imagem, quer conversar, e numa agência pequena com poucos artistas, você consegue dar mais atenção a isso.”

Em contrapartida, o mercado ganha movimentação e se destaca quem tem um serviço diferenciado e focado. “A concorrência é saudável, é assim que se profissionaliza o negócio, que no Brasil ainda tem muito que caminhar”, completa Monique, fazendo mais uma observação: “Pode ser que algumas agências venham se destacando e fazendo trabalhos que tenham gerado um certo tipo de visibilidade que só as agências tradicionais tinham. Mas não vejo isso como tendência, até porque continuamos acompanhando fusões entre grandes agências, e até clubs abrindo as suas próprias.”

Do lado dos “compradores”, um dos nomes mais em alta do momento – com o sucesso da Tribaltech – acredita que esse movimento de novas e diferenciadas agências no mercado

brasileiro é positivo, sim. “Quanto mais pessoas trabalhando e fomentando esse segmento, melhor. Muitas vezes, uma festa pequena lá no interior consegue conquistar um novo adepto seguidor de musica eletrônica que, futuramente, vai frequentar minhas festas. O mesmo acontece com as agências. Quanto mais DJs tiverem algum tipo de suporte e auxílio, por mais tempo eles ficarão na cena, e consequentemente serão propagadores que colaboram com o aumento da cena como um todo, e isso é bom pra todo mundo”, opina Jeje, empresário da T2 eventos.

Diante desse cenário que se renova com rapidez, parece que o marcador chegou à democratização da “venda”. Batalhar para pertencer a um grande time deixou de ser o caminho mais promissor a seguir. O leque se abriu, e, provavelmente, esse vai ser mais um forte denominador nas mudanças de mercado que estão por vir.

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Nós, DJs, vivemos obrigatoriamente de momentos altos e baixos. Mesmo

sendo natural, essa oscilação não faz de você um DJ pior. Muitas vezes, no

momento de ‘baixa’, para surpresa de todos, você começa perdendo a

atenção dentro da própria agência. E você se pergunta: ‘O que houve? Isso

não deveria ser assim

Nós, DJs/artistas, vivemos obrigatoriamente de momentos altos e baixos. Ninguém é número 1 para sempre, e isso acontece também no exterior. Elegemos Fatboy Slim o melhor do mundo, depois fizemos o novo Fatboy ser Bob Sinclar, e agora o novo Bob é... David Guetta. Isso sem falar no Tiësto, que ninguém mais corre para ver, como acontecia antes.

Mesmo sendo natural, essa oscilação não faz de você um DJ pior, mas tende a mudar o foco sobre você. Muitas vezes, no momento de “baixa”, para surpresa de todos, você começa perdendo a atenção dentro da própria agência, quando nesse momento eles partem para olhar para outros DJs, pois, normalmente, agências registram no mínimo mais de 30 DJs em seu casting. E numa hora dessas, você se pergunta: “O que houve? Isso não deveria ser assim”. Mas pelo menos 90% das agências são desse jeito, e ponto final.

Muita gente se desilude, pois a grande confusão é achar que agência é gerenciadora de carreiras, mas na verdade, são apenas vendedores de datas, tal e qual uma agência de domésticas. E, obviamente, escolhem trabalhar com os que estão “em alta”, pois o trabalho é mais fácil e rápido. O que vale dentro de um escritório desses é quanto cada um pesa.

Agora vem a diferença. Quando você entrega seu booking para uma pessoa específica que foca somente em você (ou no máximo em três/quatro pessoas), todos os problemas citados

acima desaparecem instantaneamente, pois ambos passam a depender um do outro. é como um casamento, onde o manager/booker confia tanto no seu trabalho, que bota 100% dos esforços em empurrar você, e indiretamente ganha também, formando um círculo lucrativo. Porém, essa oportunidade é muito rara, pois como ainda estamos engatinhando na construção de profissionais dedicados e competentes, a grande maioria que prefere começar com apenas dois DJs, não resiste e acaba com 45.

A comparação geral pode ser mais ou menos assim: em agências, somos como nobres p****, onde você entrega seu tempo e trabalho, e mesmo rebolando ao máximo, fica esperando clientes e dependendo sempre do seu intermediário – que tem várias outras p**** pra cuidar.

Já um manager ou booker pessoal são família. O círculo é pequeno, e por isso, de inteira confiança e intimidade, onde ninguém deixa de ser lembrado 24hs por dia.

Não estou dizendo que agências são dispensáveis, muito pelo contrário, são absolutamente necessárias a todos nós. Mas a realidade é uma só: você pode passar a vida se “prostituindo”, mas se achar uma pessoa ideal, casa. A meu ver, esta será uma tendência sim, mas quase VIP, pois tal e qual comparei, casamento não é para todos, e managers também não. ■

polêmico memêAo conversar com a House Mag sobre bookings e todo contexto envolvendo o nicho, Meme colocou na mesa uma opinião um tanto polêmica: “Managers não são para todos.”

Todas as quartas 22:00

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