o caminho novo em mapas a capitania de minas gerais
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Márcia Duarte abordou o Caminho Novo e suas articulações com a rede viária estabelecida nos territórios dos documentos estudados, no IV Encontro de Pesquisadores.TRANSCRIPT
Relato do IV Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo – Congonhas, MG – Maio 2013
Nilza Cantoni e Joana Capella
O Caminho Novo em mapas: a Capitania de Minas Gerais
Professora Márcia Maria Duarte dos Santos, doutora em Geografia, coordenadora das ações
educativas do Centro de Referência em Cartografia Histórica da UFMG.
De volta ao convívio dos Pesquisadores do Caminho Novo, a professora Márcia iniciou sua
comunicação esclarecendo que este ano não traria um resultado de pesquisa, mas referências para
os estudiosos com os registros do Caminho Novo em mapas de Minas Gerais. Isto porque sua
experiência no Centro de Referência em Cartografia Histórica da UFMG demonstra que muitos
estudiosos não sabem onde encontrar as informações.
Sendo assim, preparou um roteiro especialmente direcionado a quem não tenha muita
familiaridade com as fontes cartográficas disponíveis.
Em seguida, a platéia foi alertada para dois aspectos que devem ser observados quando se
trabalha com uma fonte cartográfica: qual a escala geográfica e qual a época de produção da fonte.
Para auxiliar a construir o conhecimento sobre o tema, a professora Márcia informou que as
referências sobre o Território das Minas se iniciam no final dos Seiscentos, depois de confirmada a
abundância dos achados auríferos e de um fenômeno que se segue, qual seja um rápido e
desordenado povoamento da área mineradora, com deslocamento de grandes contingentes de
reinóis e paulistas. As Minas entram para a nomenclatura da administração portuguesa, em 1693,
com a criação da Capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas de Ouro, que compreendia também
terras de Mato Grosso e Goiás, onde também existiam minas. Em 1709, Minas de Ouro aparece
nomeando uma circunscrição geográfica menor, que representava mais uma tentativa da Coroa
Portuguesa de se fazer presente numa área importante do projeto colonizador e dos interesses
econômicos da metrópole. Finalmente, consolida-se como topônimo com a instituição da Capitania
de Minas Gerais em 1720.
Relato do IV Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo – Congonhas, MG – Maio 2013
Nilza Cantoni e Joana Capella
Assim, num curto período, consolida-se a Capitania que, ao ser constituída, estava dividida
em quatro Comarcas: Ouro Preto, Rio das Velhas (Sabará) e do Rio das Mortes, criadas
anteriormente (em 1709, Comarcas; e, em 1711, Vilas sedes de Comarcas), que faziam parte da
circunscrição da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro; e Serro Frio, criada concomitantemente à
Capitania.
E, como dado de grande importância, a professora destaca que a unidade geográfica nasceu
com uma população muito numerosa: cerca de 250.000 pessoas viviam nesta área que se chamou
Minas Gerais.
Prosseguindo, pontuou que, com estas referências, a região deveria, naturalmente, ser
muito documentada, dada a importância de sua representatividade no período. Assim, Minas Gerais
é um dos territórios mais cartografados da América Portuguesa.
Em assim sendo, foram produzidos documentos que permitem aos interessados recuperar
informações sobre a localização dos recursos minerais e a organização sócio-espacial. Tão vasta
documentação é trazida pela família Real e fica no Rio de Janeiro, sendo possível consultá-la em
instituições como o Arquivo Nacional, a Biblioteca Nacional e o Arquivo Histórico do Exército.
A seguir, Márcia Duarte apresentou alguns exemplos de cartografia disponível para pesquisa,
como os que compõem a Coleção Mapas Sertanistas da Biblioteca Nacional. O primeiro deles,
produzido por volta de 1717, apresenta nomes das vilas mineiras de então. Foi esclarecido que um
dos elementos para indicar tal data, que não consta do documento, é a ausência da Vila de São José,
criada em 1718 e a presença de Pitangui, que é de 1715.
Para ilustração deste relato, utilizamos a versão abaixo, disponível em
<http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart325618.jpg>, site da Biblioteca Nacional:
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Nilza Cantoni e Joana Capella
A professora chamou a atenção para alguns aspectos que podem dificultar o uso de mapas
como este, como a escala diminuta. As propriedades do documento foram assim descritas: realizado
em escala cerca de 1: 2 900 00, latitudes 16º a 28º e longitudes 334º a 344º; destacando como região
de interesse o norte e o nordeste do território da futura Capitania de São Paulo, bem como o centro
sul e parte da banda oriental da também futura Capitania de Minas Gerais, no centro da
representação. O mapa apresenta distorções consideráveis, em relação à localização e orientação
dos elementos geográficos representados.
Apresenta, com destaque, caminhos, povoações do território, serras e rios, sendo observado
que alguns dados não correspondem ao conhecimento que se tem, atualmente, sobre as bacias de
alguns rios, como, por exemplo, a inserção de afluentes do rio Doce na bacia do São Francisco. Da
mesma forma, as serras da Mantiqueira e do Mar são apresentadas paralelas. Tais fatores,
entretanto, não invalidam o uso do mapa, pois nele se encontram registros toponímicos de valor e
avanços do povoamento da região.
A professora lembrou que devemos realizar o exercício de discutir a fonte a partir de suas
propriedades. E, apesar do mapa apresentado não registrar o Caminho Novo, nele estão inseridos os
elementos estruturais da região.
Em seguida, abordou as seguintes representações do Território das Minas :
• Mapas Sertanistas elaborados por bandeirantes, sertanistas e engenheiros militares:
– em folhas de papel de grosseiro fabrico, a lápis ou a pena;
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– não apresentam escala e referências às coordenadas geográficas;
– representam áreas pequenas do território;
– representam áreas valorizadas e descobertas nos primórdios da ocupação da região
das minas (MG e GO);
– áreas nem sempre conectadas geograficamente ou no espaço de representação.
• A Coleção BN, RJ - <www.bn.br> contém 32 mapas dos quais 4 são de especial interesse:
– Mapas da região de encontro entre os atuais estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais
e São Paulo, e do curso do Rio São Francisco;
– Região das Minas Gerais com uma parte dos caminhos de São Paulo e do Rio de
Janeiro para as minas e dos alfuentes terminais do São Francisco;
– Topographia do caminho novo do Rio de Janeiro athe as minas de ouro; e,
– N. 30 02 25 Cartas da Capitania de Minas Gerais Mapa de parte de Minas Gerais.
Da Coleção do Arquivo Histórico do Exército, foi exibida a Carta Geographica da Capitania de
Minas Geraes e Partes Confinantes, de 1767, de autoria desconhecida, sem legenda e com
Identificação do Meridiano de Origem das longitudes, bem como o Mapa da Capitania de Minas
Geraes com a deviza e suas Comarcas, de José Joaquim da Rocha, que foi reproduzido na Coleção
Mineiriana da Fundação João Pinheiro. Este documento foi trabalhado pela oradora para destacar as
cidades, as cabeças de comarca e os caminhos, com destaque para o Caminho Novo.
Para finalizar, a professora Márcia Duarte reiterou a necessidade de se discutir a informação,
demonstrando os questionamentos que podem ser levantados através do Mapa da Comarca do Rio
das Mortes, de José Joaquim da Rocha, de 1777, em que o Caminho Novo não consta na Comarca do
Rio das Mortes. Portanto, as fontes cartográficas são de valor inestimável, podendo despertar
olhares não perceptíveis em outros documentos.