o caba me pergunta: "você sabe tudo?" eu digo: "não sou só aprendiz"

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1613 Inhapí Outubro/2014 Esta frase é bem capaz de definir o agricul- tor Ricardo Pereira da Silva, ele que é da comuni- dade Baixa do Galo, em Inhapí, Alagoas e lá mora com sua esposa Jucileide Pereira e seus cinco filhos: Ronifer Rafael, Michael, Manuel Rian, José Carlos, José Ricácio e Jéssica Raissa. Ele conta que há dezesseis anos, quando chegou ao pequeno pedaço de terra, que compreende duas tarefas e meia, “aqui era só mato, depois das opor- tunidades, as coisas melhoraram, tem luz, água para as hortaliças, hoje tá muito bonito”, diz orgu- lhoso, se referindo à diversidade existente hoje em seu quintal e roçado. É perceptível, logo ao chegar a casa dessa família, que ali moram pessoas que se preocupam com sua sustentabilidade, visto pelas inúmeras tecnologias adaptadas ao clima semiárido, implan- tadas na pequena propriedade. A casa é rodeada de fruteiras frondosas, como cajueiros e mangueiras, inúmeras laranjeiras também se vê por lá, uma a uma, cuidadosamente regadas com irrigação de salvação, ou seja, uma espécie de gotejamento, feito com garrafa PET e uma fina borracha, que dá a planta a quantidade ideal de água, para que ela permaneça viva, sem desperdiçar o recurso, tão importante para região. Ricardo e sua família se dividem nas tare- Realização Apoio O caba me pergunta: “Você sabe tudo?” Eu digo: “Não. Sou só aprendiz.” Ricardo

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Esta frase é bem capaz de definir o agricultor Ricardo Pereira da Silva, ele que é da comunidade Baixa do Galo, em Inhapí, Alagoas e lá mora com sua esposa Jucileide Pereira e seus cinco filhos: Ronifer Rafael, Michael, Manuel Rian, José Carlos, José Ricácio e Jéssica Raissa. Ele conta que há dezesseis anos, quando chegou ao pequeno pedaço de terra, que compreende duas tarefas e meia, "aqui era só mato, depois das oportunidades, as coisas melhor

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1613Inhapí

Outubro/2014

Esta frase é bem capaz de definir o agricul-tor Ricardo Pereira da Silva, ele que é da comuni-dade Baixa do Galo, em Inhapí, Alagoas e lá mora com sua esposa Jucileide Pereira e seus cinco filhos: Ronifer Rafael, Michael, Manuel Rian, José Carlos, José Ricácio e Jéssica Raissa. Ele conta que há dezesseis anos, quando chegou ao pequeno pedaço de terra, que compreende duas tarefas e meia, “aqui era só mato, depois das opor-tunidades, as coisas melhoraram, tem luz, água para as hortaliças, hoje tá muito bonito”, diz orgu-lhoso, se referindo à diversidade existente hoje em seu quintal e roçado. É perceptível, logo ao chegar a casa dessa

família, que ali moram pessoas que se preocupam com sua sustentabilidade, visto pelas inúmeras tecnologias adaptadas ao clima semiárido, implan-tadas na pequena propriedade. A casa é rodeada de fruteiras frondosas, como cajueiros e mangueiras, inúmeras laranjeiras também se vê por lá, uma a uma, cuidadosamente regadas com irrigação de salvação, ou seja, uma espécie de gotejamento, feito com garrafa PET e uma fina borracha, que dá a planta a quantidade ideal de água, para que ela permaneça viva, sem desperdiçar o recurso, tão importante para região. Ricardo e sua família se dividem nas tare-

tarefas e meia, “aqui era só mato, depois das oportunidades, as coisas melhoraram, tem luz, água para as hortaliças, hoje tá muito bonito”, diz orgulhoso, se referindo à diversidade existente hoje em seu quintal e roçado. É perceptível, logo ao chegar a casa dessa seu quintal e roçado. É perceptível, logo ao chegar a casa dessa seu quintal e roçado. Realização Apoio

fas, e com o acompanhamento técnico da Visão Mundial, eles conseguem dá qualidade a produ-ção. Na Unidade produtiva de criação de gali-nhas poedeiras, por exemplo. O tratamento agroe-cológico, com plantas da caatinga, contribui para que doenças não venham afetar a produção. E somente com a produção de ovos, a família consegue manter uma margem de lucro de trezen-tos reais por mês. Ele tem duas incubadoras, uma cedida pela Visão Mundial, que suporta 500 ovos e a outra foi ele mesmo quem criou, a partir de exemplos que viu na internet, esta permite chocar 300 ovos. Inventor, curioso e entusiasta, Ricardo acordou para a vida. Quando era mais jovem não quis estudar, hoje está nas fileiras da Educação de Jovens e Adultos – EJA, pois ele se preocupa muito em ser um exemplo para os filhos, como mesmo costuma dizer: “Parei de fumar e de beber, por isso eu consigo produzir. Antes não. E se eu continuasse bebendo, que escola eu estava

dando aos meus filhos?!” E além de tudo isso, ele gosta do lugar em que mora, “passei um tempo em São Paulo, mas daqui eu não saio não, meu lugar é aqui.” Mostrando sua sintonia de sertanejo, agri-cultor, que acredita na convivência com o semiári-do. O quintal produtivo onde se encontram as hortaliças é bonito de se ver! Tudo muito verde, uma diversidade surpreendente. Cercada com gar-rafas PET, a horta foi construída numa área de vinte por dezesseis metros quadrados, no chão, em canteiros e suspensa, onde é aproveitado qualquer recipiente que possa encher de areia, estrume e semente pra germinar, coentro e cebolinha. Além dessas, encontramos, cenoura, berinjela, couve, repolho, alho, tomate, maxixe, pimentão, quiabo, pimentas ardosas e de cheiro. Cultivados com cari-nho, amor e agroecologia. Em sua volta, cajueiros, mangueiras, umbu-zeiros, fazem o sombreamento da propriedade, além de fornecer seus frutos. No fundo da proprie-

dade avista – se meia tarefa de caatinga preserva-da. Ou seja, das duas tarefas e meia que a família possui, duas delas estão produzindo alimentos, e meia tarefa conserva a energia e a vitalidade das plantas nativas. A preocupação da família é alimentar-se sobretudo com qualidade, o seu quintal produtivo, é responsável por grande parte dos alimentos con-sumidos por eles, o excedente da produção é comercializado na feira livre do município e na feira agroecológica, esta que acontece aos domin-gos na cidade de Inhapí. Ricardo diz que a feira agroecológica é um grande sucesso, é lá que eles se juntam a outros grupos e fazem a economia soli-

dária acontecer. Seja na venda, seja no consumo. Mas quem gosta mesmo de ir feira é sua esposa Jucileide, lá ela vende, cajus, ovos e as hor-taliças. Eles também contam com o disk ovos, através do telefone celular, quem tiver interesse em consumir ovos de boa qualidade é só ligar e serão prontamente atendidos. Toda essa produção só é possível por que Ricardo e sua família conseguem fazer a gestão dos recursos hídricos disponíveis. Com apenas a sua cisterna de dezesseis mil litros para o consu-mo, eles contam com a água, abastecida pelos carros pipas, através do Programa Água para Todos, do Governo Federal e também de uma

pequena barragem comunitária. Ricardo aos trinta e sete anos é um agricul-tor experimentador, com suas habilidades em eletricidade, habilidade esta aprendida por um técnico amigo seu, e hoje aplicada para melhorar as tecnologias de captação de água e na produção de ovos de galinha caipira, dão vida e graça a ele e sua família. O largo sorriso desse homem, estampado no rosto também de sua esposa dos seus filhos, traduzem a satisfação de trabalharem de forma sustentável. A natureza lhes está sendo generosa, pois são generosa as mãos que a cuida neste pequeno chão sertanejo.

O caba me pergunta: “Você sabe tudo?”Eu digo: “Não. Sou só aprendiz.”

Ricardo

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Articulação Semiárido Brasileiro – AlagoasBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Esta frase é bem capaz de definir o agricul-tor Ricardo Pereira da Silva, ele que é da comuni-dade Baixa do Galo, em Inhapí, Alagoas e lá mora com sua esposa Jucileide Pereira e seus cinco filhos: Ronifer Rafael, Michael, Manuel Rian, José Carlos, José Ricácio e Jéssica Raissa. Ele conta que há dezesseis anos, quando chegou ao pequeno pedaço de terra, que compreende duas tarefas e meia, “aqui era só mato, depois das opor-tunidades, as coisas melhoraram, tem luz, água para as hortaliças, hoje tá muito bonito”, diz orgu-lhoso, se referindo à diversidade existente hoje em seu quintal e roçado. É perceptível, logo ao chegar a casa dessa

família, que ali moram pessoas que se preocupam com sua sustentabilidade, visto pelas inúmeras tecnologias adaptadas ao clima semiárido, implan-tadas na pequena propriedade. A casa é rodeada de fruteiras frondosas, como cajueiros e mangueiras, inúmeras laranjeiras também se vê por lá, uma a uma, cuidadosamente regadas com irrigação de salvação, ou seja, uma espécie de gotejamento, feito com garrafa PET e uma fina borracha, que dá a planta a quantidade ideal de água, para que ela permaneça viva, sem desperdiçar o recurso, tão importante para região. Ricardo e sua família se dividem nas tare-

fas, e com o acompanhamento técnico da Visão Mundial, eles conseguem dá qualidade a produ-ção. Na Unidade produtiva de criação de gali-nhas poedeiras, por exemplo. O tratamento agroe-cológico, com plantas da caatinga, contribui para que doenças não venham afetar a produção. E somente com a produção de ovos, a família consegue manter uma margem de lucro de trezen-tos reais por mês. Ele tem duas incubadoras, uma cedida pela Visão Mundial, que suporta 500 ovos e a outra foi ele mesmo quem criou, a partir de exemplos que viu na internet, esta permite chocar 300 ovos. Inventor, curioso e entusiasta, Ricardo acordou para a vida. Quando era mais jovem não quis estudar, hoje está nas fileiras da Educação de Jovens e Adultos – EJA, pois ele se preocupa muito em ser um exemplo para os filhos, como mesmo costuma dizer: “Parei de fumar e de beber, por isso eu consigo produzir. Antes não. E se eu continuasse bebendo, que escola eu estava

dando aos meus filhos?!” E além de tudo isso, ele gosta do lugar em que mora, “passei um tempo em São Paulo, mas daqui eu não saio não, meu lugar é aqui.” Mostrando sua sintonia de sertanejo, agri-cultor, que acredita na convivência com o semiári-do. O quintal produtivo onde se encontram as hortaliças é bonito de se ver! Tudo muito verde, uma diversidade surpreendente. Cercada com gar-rafas PET, a horta foi construída numa área de vinte por dezesseis metros quadrados, no chão, em canteiros e suspensa, onde é aproveitado qualquer recipiente que possa encher de areia, estrume e semente pra germinar, coentro e cebolinha. Além dessas, encontramos, cenoura, berinjela, couve, repolho, alho, tomate, maxixe, pimentão, quiabo, pimentas ardosas e de cheiro. Cultivados com cari-nho, amor e agroecologia. Em sua volta, cajueiros, mangueiras, umbu-zeiros, fazem o sombreamento da propriedade, além de fornecer seus frutos. No fundo da proprie-

dade avista – se meia tarefa de caatinga preserva-da. Ou seja, das duas tarefas e meia que a família possui, duas delas estão produzindo alimentos, e meia tarefa conserva a energia e a vitalidade das plantas nativas. A preocupação da família é alimentar-se sobretudo com qualidade, o seu quintal produtivo, é responsável por grande parte dos alimentos con-sumidos por eles, o excedente da produção é comercializado na feira livre do município e na feira agroecológica, esta que acontece aos domin-gos na cidade de Inhapí. Ricardo diz que a feira agroecológica é um grande sucesso, é lá que eles se juntam a outros grupos e fazem a economia soli-

dária acontecer. Seja na venda, seja no consumo. Mas quem gosta mesmo de ir feira é sua esposa Jucileide, lá ela vende, cajus, ovos e as hor-taliças. Eles também contam com o disk ovos, através do telefone celular, quem tiver interesse em consumir ovos de boa qualidade é só ligar e serão prontamente atendidos. Toda essa produção só é possível por que Ricardo e sua família conseguem fazer a gestão dos recursos hídricos disponíveis. Com apenas a sua cisterna de dezesseis mil litros para o consu-mo, eles contam com a água, abastecida pelos carros pipas, através do Programa Água para Todos, do Governo Federal e também de uma

pequena barragem comunitária. Ricardo aos trinta e sete anos é um agricul-tor experimentador, com suas habilidades em eletricidade, habilidade esta aprendida por um técnico amigo seu, e hoje aplicada para melhorar as tecnologias de captação de água e na produção de ovos de galinha caipira, dão vida e graça a ele e sua família. O largo sorriso desse homem, estampado no rosto também de sua esposa dos seus filhos, traduzem a satisfação de trabalharem de forma sustentável. A natureza lhes está sendo generosa, pois são generosa as mãos que a cuida neste pequeno chão sertanejo.

pequena barragem comunitária. Ricardo aos trinta e sete anos é um agriculpequena barragem comunitária.

A natureza lhes está sendo generosa, pois são generosa as mãos que a cuida deste pequeno

chão sertanejo.

“Passei um tempo em São Paulo,

mas daqui eu não saio não, meu lugar é aqui!”

“Parei de fumar e beber, por isso eu consigo produzir. Antes não. E se eu continuasse bebendo,

que escola estava dando aos meus filhos?!”