na ponta da língua - nº2

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Coletânea de textos escritos pelos alunos da EPM-CELP

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Page 1: Na Ponta da Língua - Nº2
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Page 3: Na Ponta da Língua - Nº2

A paixão de comunicar

O livro digital “Na Ponta da Língua” arrisca-se a dar que falar cada vez mais. Esta segunda coletânea, correspondente ao ano letivo 2012/2013, manteve o número de autores que, porém, produziu maior número de textos em relação à primeira publicação. Não é que a estatística tenha um valor absoluto e supremo, mas os dados encorajam-nos a prosseguir a campanha de publicação dos textos escritos pelos nossos alunos.

Incentivamos a escrita e a leitura entre os nossos alunos, apoiando a edição e a publicação de textos da livre criação. Desta forma, estimulamos o ato criativo que forja a individualidade e a realização pessoal do aluno. Simultaneamente, encorajamos a participação social dos nossos alunos nos vários ambientes em que se integram, particularmente na vida escolar, assumindo uma atitude interventiva e responsável perante a sociedade. Escrever criativa e responsavelmente é construir uma cidadania ativa e comprometida com o sucesso de todos os membros de uma comunidade.

António LopesEditor

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Uma viagem debaixo de águaO 125º aniversário de Maputo

Receita para fazer um bom vizinhoUm presente igual ao passado

Grande livro vermelho da poetisa desconhecidaO zarolho e o cego

O Grillo e a formigaCom outra estaleca

Viver a vida por nós próprios ou pelos outrosO privilégio de valorar

A relação entre o saber e o pensar saberQuem é o responsável

Revolução filosóficaO importante é partir, não chegar

Homem e deus

AutoretratoA vermelha rosa

Os gostos no futebolSe eu fosse um burguês

Declaração cantadaPoema

A revolução dos cravosContos de fada

Uma noite mágicaA história do capuchinho vermelho

O meu cão MontyNova Iorque

Miguel Padrão Raquel LadeiraManuel PessoaManuel PessoaMiguel PadrãoMargarida PintoManuel PessoaLara GonçalvesMiguel VieiraVicxita MahendralalIago CarvalhoVasco Sampaio

Ana SousaAlunos do 11ºCCatarina AntunesSara SilvaSofia BritesMiguel PadrãoMiguel PadrãoMiguel PadrãoIva GonçalvesIva GonçalvesMiguel PadrãoMiguel PadrãoGuilherme PessoaMargarida PintoMargarida Pinto

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Com semblante carregadoAssim se arrasta, se move,Olhos de um castanho mortiço, agastadode castanho que a vida comove.

Alto, de nariz empinadoNo umbigo centra o Universo aplanadoE triste, infeliz, rosto congestionadoCabelo castanho, futuro traçado

Invulgar venerador da CiênciaMesmo pesando a sua indecênciaTenta-se aproximar da luz, do caminhoMas da torre não chegará ao cimo.

Dinâmica deveras intrincadaConsciência um pouco pesadaOlha em redor, seu olhar pesarosoRoupa descomposta, pensamento gravoso.

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Miguel Padrão (10ºA1)

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Ela lança um encantoe atrai-te à sua beleza.No entanto, comporta-se como uma realeza.De dia é luminosa e elegante,De noite, traiçoeira e intrigante.Como acabará esta minha paixão?Será para sempre ou partir-me-á o coração?Será um bom sonho ou um pesadelo?10

Raquel Ribeiro Ladeira (6.º C)

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Os Gostos no FutebolO futebol é um desportoUm desporto que eu não sei jogarFico sentado em frente à TVSempre a comer e a engordar.

O futebol é um desportoUm desporto para cairBasta isso acontecerComeço-me logo a rir.

O futebol é um desportoUm desporto de porcariaSe eu jogasse esse desportoSeria uma tortura que eu não aguentaria.

O futebol é um desportoUm desporto para burrosBasta sofrerem faltaE começam logo aos urros.

Isto é o que dizUma pessoa que não gosta deste desportoPois para estas pessoasO futebol é um desporto morto.

E agora vamos verO que diz uma pessoa que gosta de futebolO que é uma pessoa com gostosO que não é um caracol.

OS GOSTOS NO FUTEBOL

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Amor de mãe. Este amor é incondicional,não tem fimnem preço.O futebol é um desportoUm desporto que eu sei jogarLá vou eu a correr com a bolaBasta tê-la já estou a fintar.

O futebol é um desportoUm desporto que se joga em equipaSó de levar com a bolaO guarda-redes vomita.

O futebol é um desportoUm desporto inspiradorEles vêm-me com a bolaFicam cheios de terror.

O futebol é um desportoUm desporto emocionanteEu finto-os tantoQue até dizem que sou irritante.

O futebol é um desportoUm desporto de homem honradoA minha equipa ganha o jogoE o adversário fica "nhongoado" ( zangado ; irritado ).

O Barcelona é um clubeUm clube que tenta marcarMas chega o Real MadridE impede-os de a defesa penetrar.

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Page 13: Na Ponta da Língua - Nº2

O futebol é um desportoUm desporto emocionanteEu finto-os tantoQue até dizem que sou irritante.

O futebol é um desportoUm desporto de homem honradoA minha equipa ganha o jogoE o adversário fica "nhongoado" ( zangado ; irritado ).

O Barcelona é um clubeUm clube que tenta marcarMas chega o Real MadridE impede-os de a defesa penetrar.

O Real Madrid é um clubeUm clube que consegue marcarA bola chega ao RonaldoPara o golo basta chutar.

O Real Madrid é um clubeUm clube com um bom guarda da redeBasta o Messi chutar duas vezesDesiste logo e fica com sede.

Isto é oque dizemAs pessoas que gostam do Real MadridMas a grande verdadeÉ que no campo eles fazem chichi.

E agora vamos verO clube que faz magiaO adversário que os enfrentaMeteu-se numa regalia.

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O Real Madrid é um clubeUm clube de porcariaTanto para avançados como para defesasPreferia a minha tia.

O Barcelona é um clubeUm clube esplendorosoCom a cabazada que levaO adversário fica ranhoso.

O Barcelona é um clubeUm clube que joga à volta da áreaPassam a bola ao MessiE ele penetra a defesa como uma águia.

O Ronaldo é um jogadorUm jogador excelenteOs jogadores vão todos à bolaMas ele finta toda a gente.O Ronaldo é um jogadorUm jogador com remate penetranteQuando tenta a sua sorteLeva sempre a avante.

Ó Messi, o que estás a fazerA tentar encontrar o tesouroMas o Ronaldo já o encontrouEram duas bolas de ouro.

Isto é oque dizemAs pessoas que gostam do CristianoMas a verdadeÉ que só duas bolas de ouro o acharam bacano.

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Agora vamos verO que acham as pessoas com gostoQuais as suas preferênciasE o que lhes está estampado no rosto.

O Messi é um jogadorUm jogador que mete um pãozinho (cuequinha) ao "Casillas"A bola rola tão rápidoQue até parece uma ervilha.O Messi é um jogadorUm jogador que me inspiraDá tantas voltas e tantas fintasQue o Ronaldo até gira.

O Ronaldo fica a comerA comer pão, massa e louroE o Messi a receberAs quatro bolas de ouro.

A Nike é uma marcaUma marca de arrasarAquelas sapatilhasSão mesmo para usar.

A Adidas é uma marcaUma marca que não me espantaLogo que vejo um parComeça-me a doer a garganta.

A Nike é uma marcaUma marca muito bonitaQue antes de jogar comigoO adversário até hesita.

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Isto é o que dizemAs pessoas que gostam destas chuteirasMas a realidadeÉ que calçam chinelos e guardam as Nike na algibeira.

Agora vamos verO que diz uma pessoa que gosta de sapatilhas a sérioPois quem usa NikesEstá num grande mistério.

As Adidas são sapatilhasSapatilhas esplendorosasPois quando é para jogar futebolAs Nikes ficam babosas.

As Nikes são chuteirasNão parecem mas, são chuteirasE eu encontrei muitas delasAo lado da minha lixeira.

As adidas então ganharamCom uma nota muito altaPois no fim deste poemaUsa-as toda a malta.

E é isto que eu entendoO que eu entendo por futebolO Messsi, as Adidas e o Barcelona ganhamE o Ronaldo, o Real Madrid e as Nikes ficam a secar ao Sol.

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Manuel Pessoa (6.º A)

Ó futebolÓ futebolQue seria de mim sem tiQue seria de ti sem mim.

Vou-me então despedirDepois deste poema ditarDesejem-me então sortePara muitos golos marcar.

“Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”

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Se eu fosse um burguês, o meu quotidiano seria levantar-me e vestir-me:Eu sou um burguêsE ando com cartolaTenho pena do povoQue para se vestir tem de pedir mola!

Não seria só a cartola, também o colete, a casaca e a sobrecasaca até aos joelhos, umas calças pretas e uns sapatos engraxados.

Depois iria de fora, olhar para a minha rica casa:Eu sou um burguêsTenho uma casa de verdadeTenho pena do povoQue só de ter casa já é uma felicidade.

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A seguir, desfrutaria de um bom almoço, num restaurante rico e decorado, na minha mesa uma grande variedade de comida e as sobremesas "NHAMMM":Eu sou um burguêsComo comida variadaTenho pena do povo,Que pede comida emprestada.

Ia então para o trabalho, seria um ministro importante como Fontes Pereira de Melo:Trabalho pouco tempoTenho um alto salárioEu sou o inversoDe um operário

De seguida, iria à ópera com a minha mulher e com os meus filhos, no entanto podia não ir a um teatro, a um clube ou a um baile, etc:Eu sou um burguêsTeatros eu vou verTenho pena do povoQue fica na taberna a beber.

Os burgueses eram assim, em quase todas as quadras tinham pena do povo, mas então porque não inventaram uma quadra que, finalmente, ajudasse o pobre grupo social?

Manuel Pessoa (6.º A)

“Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”

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Declaro guerra à guerraMaldosa vontade de matarDestruir, ferir, pilharAbrir feridas, esventrar a terraDeclaro saudade e tristezaTristeza de nunca serDe quase, mas nunca chegarDe no sangue mágoa correrDeclaro melancolia e temorTemor de partir sem chegarDor de a meio cairSaudades daquele meu lugarEm que nunca cheguei a sorrirAo qual não irei retornar

Declaro, porém, esperançaDe um dia poder chegarDe debaixo da canga sairDe ninguém me subjugar

É que o medo pode pesarO medo de cair sem tentarO medo de nada atingirO medo de não alcançar

Assim só me resta esperarO fim da mágoa, do terrorA alegria e a bondade a vingarE declarar, sem temorSer possível sonhar

Miguel Padrão (10.º A1 )

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Era uma vezNuma terra distanteUma linda princesaJovem e deslumbrante

Cinderela era o seu nomeGata borralheira a chamavamSua madrasta e meias irmãsQue tanto a odiavam

Trabalhava dia e noiteSem nunca descansarSó com os seus amigos ratosPara a ajudar

Uma noite um convite veioPara um baile as convidarEra no palácio realQue a festa se ia dar

Madrasta e irmãs lá foramDeixando Cinderela a trabalharSurgiu a fada madrinhaPara o baile a levar

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Um vestido deslumbrante lhe deuUm coche apareceu para a levarUma noite mágica lhe prometeuMas à meia-noite teria de voltar

No baile o príncipe conheceuE por ele se apaixonouMas à meia-noiteA sua casa voltou

Deixou para trás um sapatoSapatinho de cristalO príncipe o encontrouE por ela procurouEncontrou-a como empregadaMas não se importouTanto a amavaQue com ela se casou.

Margarida Pinto (9.º E)

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Havia muitos cravosQue eram disparados ao arEstavam todos tão contentesPorque a P.I.D.E. estava a basar

Cada um dos soldadosTinha uma espingardaE ganharam ao CaetanoQue só tinha uma granada

Até as mulheresTinham armas ao peitoEstavam todas felizesPois iam ganhar um direito

Não foi só um direitoForam até muitos maisChoravam de alegriaPois iam ser todos iguais

Oh Salazarinho!Caíste da cadeiraPois não ouvias os outrosDe nenhuma maneira

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Chateaste o povoEle ficou irritadoAgora já entendesteQue tu é que estavas errado

Irritaste os meus avósOs avós dos meus colegasPois eles não queriamEssas tuas regras

Tu e o MarceloLevaram um açoitePor isso tocou GrândolaLogo à meia-noite

A revolução dos cravosNo dia 25 de AbrilDespachou o MarceloA correr para o Brasil

O povo venceuAs colónias desapareceramAngola e MoçambiqueLogo se ergueram

Vou-me então despedirDepois deste poema ditarDesejem-me então sortePara muitos cravos atirar ao ar.

Manuel Pessoa (6.º A)

“Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”

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Pele branca como a neveLábios vermelhos como uma rosaNunca num reino tão grandeSe viu uma donzela tão vistosa

Memórias de princesasA minha infância enchiamE de roxo laranja e turquesaOs meus sonhos coloriam

Com o tempo asMúsicas são esquecidasGestos são escondidosE a nostalgia permitida

A perfeição da inocênciaE a inocência da perfeiçãoAli, numa história de criançasQue fica sempre no coração

Lara Gonçalves (9.º E)

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Cum rapaz que vivia numa quintaDas vacas cuidavaE as galinhas alimentavaDo galo até à pinta

Com os avós viviaNum humilde larJá sabia até dez contarE já algumas palavras dizia

Cereais ao pequeno almoço comiaAo almoço jamais faltava o feijãoSempre acompanhado por papaE para sobremesa melancia

Quando batia as nove para seu quarto subiaOnde uma história lhe era contada pela avóE quando ele adormecia, ela o deixava sóE ele pacificamente dormia

Mas certo dia, a noite passavaE adormecer, bem ele queriaMas o vento tão fortemente rugiaQue nem a coruja piava

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Desceu as escadasBem devagarPara não tropeçarE saiu pela calada

Pisou a relva friaE caminhou em frenteEm direcção ao horizonteE escutou o que o vento dizia

Olhou para o céuE viu uma estrelaTão belaCoberta com um véu

Véu esseBranco e leveBranco como a neveComo se o de uma noiva se tratasse

E a estrela chamou-oSuavementeComo se fosse genteE ele foi...

Miguel Vieira (9.ºE)

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Ó, minha netinhaUma história vou-te contarEra uma vez, uma linda VermelhinhaQue a sua avó foi visitar

Mal de casa saiuLevando flores e bolinhosUm lobo viuTrocando-lhes os caminhos

Lá foi o loboPelo mais curto andandoNão, sendo loboMais cedo chegando

Chegando a VermelhinhaFlorzinhas cheirando,Para a casa da avozinhaIa chegando

Batendo a porta,Surpreendida, pelos dentesQuase foi morta,Salva por uns valentes

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Vicxita Mahendralal (9.º E )

Resgatando a avó,Feliz se sentiu.Desatando o nó,Alegre, tarde partiu.

Espero que esta história,Espalhada pelos ares,Fique na memória,Para mais tarde contares.

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Eu adoro o meu cãoEle é branco e castanhoMuito brincalhãoE tem pouco tamanho.

É ágil e inteligenteTodos o acham um amorPor vezes age como gente e éRápido como um beija-flor.

É muito engraçadoO meu Monty amigo,"impossível de ser duplicado"Está sempre comigo... como se fosse o meu umbigo.E mais não digo.

Iago Carvalho (6.º D )

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A Nova Iorque,eu gostaria de ir,com os meus amigos,para me poder divertir.

Times Squareeu vou visitar,para o meu irmão,me poder invejar.

Central Park,o parque mais famoso do planetaeu vou atravessar,mais rápido que um cometa.

Muitos sítios novos,nesta cidade maravilhosa,há para descobrir...

mas para o meu paísvou ter de voltar,porque as férias,para sempre não vão durar.

Vasco Sampaio (6.º D )

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Ana Bouças (4.º E)

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Quando fui dormir comecei a sonhar que navegava num barco.Naquele sonho, eu estava aborrecida porque não acontecia nada, mas de repente o

barco afundou-se e eu fui vestir um fato de mergulhadora e saltei para o Oceano das Letras. Fui até ao fundo do mar e vi uma cauda a passar, nadei mais um bocado e encontrei uma cidade cheia de peixinhos e sereias e também homens sereias.

Cheguei lá, as pessoas eram muito simpáticas, mas disseram-me que era preciso usar um fato de sereia porque sem o fato, a rainha zangava-se e prendia a pessoa sem fato durante dez anos. Umas sereias muito simpáticas levaram-me às escondidas para uma loja e vestiram-me um fato de sereia e puseram-me uma coisa que me pôs a conseguir respirar debaixo de água.

Depois levaram-me a conhecer várias pessoas, algumas até tinham filhos. De repente ouvimos um barulho, que parecia de um barco a apitar, mas não, era a rainha e o rei a chegarem. Eu senti-me desorientada porque não sabia se tínhamos de nos sentar, dizer bom dia, fazer uma dança…Por sorte, as minhas colegas repararam que eu estava muito perdida e disseram-me que só bastava estar de pé.

A rainha já era velha e feia, mas lidava muito bem com aquilo.Passados alguns dias a rainha descobriu que eu era intrusa e mandou os seus guardas

apanharem-me e eu e as minhas amigas fugimos, mas a rainha também tinha alforrecas venenosas e ficamos encurraladas. Tivemos que lutar e quando sobrava uma alforreca fugimos até muito longe e fomos parar a um sítio de golfinhos e peixes coloridos e conchas muito bonitas. De repente chegaram alforrecas gigantes que também eram guardas da rainha e rasgaram-me o fato na parte dos pés e viram uns pés com cinco dedos cada um.

Lutamos muito e derrotamos os guardas até ao último.

Depois apareceram mais e aquilo nunca mais acabava e… eu acordei do meu sonho!

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Alunos do 11.º C

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Maputo comemora, amanhã (11 de novembro) 125 anos de existência, durante os quais a cidade foi-se transformando. Hoje temos uma cidade caracterizada, principalmente, pela sua cultura, onde se destaca a gastronomia, as danças, a música e o artesanato.

A capital de Moçambique tem um clima tropical húmido, o aroma caraterístico de África e as paisagens da baía, onde podemos apreciar, juntamente com a praia, as palmeiras e os barcos dos pescadores, que trabalham arduamente para sustentar as suas famílias. Sem dúvida que, em Maputo, podemos apreciar um pôr-do-sol único! O ambiente social integra-se no caráter especial e interessante da cidade.

Apesar das grandes qualidades apontadas, existem determinadas caraterísticas, como a constante presença de lixo e o consequente cheiro, a falta de interesse na preservação do património, a pouca disponibilidade dos transportes públicos – provoca fraca mobilidade -, o nível de corrupção em diversos setores e o grau de criminalidade na cidade, que fazem com que esta cidade maravilhosa nem sempre o seja.

Como referido, Maputo apresenta alguns problemas relativamente às infraestruturas, ao saneamento básico e à recolha do lixo. Individualmente não é possível resolver estes problemas, contudo existe uma área onde é possível dar um contributo prático, que é o lixo. Se cada um de nós tiver uma atitude ativa, não deitando lixo para o chão, e, quando vir alguém deitar lixo em locais inadequados, ou seja, chamarmos a pessoa à atenção e indicarmos o local apropriado ou o procedimento correto, decerto a quantidade de lixo nas ruas irá diminuir. No entanto, para causar o efeito desejado é importante que o Conselho Municipal disponibilize os recipientes adequados, isto é, vulgares caixotes do lixo.

Cada munícipe pode começar pelo seu local de trabalho ou de residência. E porque não começarmos com esta atitude proativa na nossa Escola?

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Ingredientes- 300g de amizade- 250g de respeito- 250g de solidariedade- 200g de bom humor- 200g de generosidade

PreparaçãoMistura-se a porção de amizade com a solidariedade e a generosidade, mexendo muito bem. Acrescenta-se, pouco a pouco, o bom humor. Numa taça à parte bate-se o respeito em castelo ao qual se junta a restante massa, envolvendo-a com muito cuidado. Leva-se ao forno a cozer, observando, com cuidado, a sua cozedura.

Serve-se quente, morno ou frio.

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Catarina Antunes (8.º A)

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O "Sermão de Santo António aos Peixes" foi escrito pelo padre António Vieira, que expôs cruamente vários defeitos dos homens do seu tempo que, infelizmente, persistem nos nossos dias.

António Vieira faz uma alusão a um pequeno peixe chamado Torpedo, cuja virtude é conseguir fazer tremer os braços dos pescadores. Contudo, afirma que existem mais pescadores na terra do que no mar e que a nenhum deles treme a mão ou o braço por pescar. Traduzindo esta metáfora, o que António Vieira queria dizer é que, no seu tempo, todos roubavam, dos mais insignificantes aos mais poderosos. Todos sem excepção. E o pior é que ninguém ficava com remorsos ou com a consciência pesada.

Hoje em dia, tristemente, acontece o mesmo em todo o mundo, desde roubos a lojas e a pessoas, passando por casas e bancos, até empresas e países: políticos que metem dinheiro do Estado ao bolso; patrões e chefes que criam empresas fantasma e/ou desviam dinheiro. Mentem, roubam e extorquem sem piedade, sem um pingo de vergonha na cara ou de remorsos. Vangloriam-se perante todos os outros, achando-se superiores e clamando as suas boas índoles, que nada mais são que despautérios sem valor, como lobos que vestem a pele de cordeiros para que ninguém desconfie da sua pérfida natureza.

No entanto, ainda não chega, pois a raça humana não pode, de modo algum, contentar-se com um só defeito.

O padre conta que Deus ouviu a prece de David, pedindo que lhe virassem os olhos ou para cima, para que pudesse contemplar o Céu, ou para baixo, para que pudesse ver o Inferno; desde que os seus olhos não tivessem de observar a vaidade dos homens. No tempo de António Vieira a vaidade prosperava; hoje em dia, a vaidade prolifera, deturpa e corrói a mente da humanidade.

As pessoas só pensam em comprar, ter e comprar mais. Dão mais valor aos bens

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materiais do que a elas próprias, já que existem pessoas a preferirem viver no meio da rua, numa caixa de cartão e a usarem Versace, Dolce & Gabana e outras marcas caras a viver instaladas numa boa casa, não ligando tanto à roupa.

Nós, seres humanos, autointitulamo-nos de seres desenvolvidos e em evolução, no entanto, passaram-se dezenas de anos sem que conseguíssemos corrigir os nossos defeitos. É, de facto, triste e desesperante. Contudo, talvez não estejamos perdidos de todo; afinal, nos dias que correm, podem já existir vários "padres Antónios" Vieiras e "Santos Antónios" que, neste momento, estejam a pregar aos peixes.

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Sara Silva (11.º A1)

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Sofia Brites (9.º A)

Entrei na sala escura e velha, de um lado estantes velhas cheias de livros cobertos de poeira, do outro uma mesa simples com duas cadeiras, uma de cada lado. Numa das cadeiras estava sentada Dona Isabel, vestida com uns panos estranhos e coloridos. Permanecia serena, como habitualmente.- Bem-vinda sejas - murmurou Dona Isabel - E o teu nome é?- Eu ... eu sou a Joana - respondi um pouco envergonhada e receosa.- Em que posso ajudar? - perguntou Dona Isabel com um sorriso - Senta-te aqui minha querida.Sentei-me e afirmei:- Bem, sabe, eu ando com uns problemas com a família, temos pouco dinheiro e e sou a mais velha de cinco irmãos. A vida está difícil, o meu pai está desempregado e a minha mãe é dona de casa e trabalha para José da Silva como cozinheira...- Para o teu problema tenho eu a solução - interrompeu-me ela procurando nas estantes um livro qualquer.Fiquei calada, observando apenas. Passados uns minutos, Dona Isabel voltou com um grande livro vermelho de uma poetisa que eu desconhecia.Leu-me uns quantos versos do poema e senti que já sabia a solução para o meu problema, senti-me feliz, aconselhada e agradeci.Dona Isabel despediu-se de mim com um beijo na testa de boa sorte.

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Fomos acometidos, recentemente, por duas demonstrações da mais profunda irreflexão moral e fundamentalismo, provenientes não de uma qualquer ditadura despótica, não de um ditador inflexível, mas sim da mãe da Democracia Moderna: sim, falo dos autoproclamados paladinos da igualdade, guardiões da liberdade de expressão e do direito à inocência até prova em contrário.

O mundo não é um local seguro. Não o será no futuro, nem o foi no passado; ainda menos o é hoje, devido à crescente globalização, não só do lucro fácil, da facilidade de acesso à informação ou do progresso científico, mas também do extremismo religioso, das afirmações irrefletidas, dos ódios de estimação. Daí a justificação da necessidade - por vezes paranóica - da segurança externa e interna dos responsáveis norte-americanos, cujo lugar preponderante no comando do auto e hetero proclamado "Ocidente" implica serem tidos como alvo preferencial de anarquistas, terroristas e outros indivíduos, cujo objetivo é apenas a continuação do ódio e do medo entre irmãos. Mas não nos enganemos.

A 14 de abril, engenhos explosivos deflagraram em Boston, Massachusetts, durante uma maratona desportiva, ceifando a vida a três inocentes, num dos atos terroristas mais bárbaros - se é que os podemos assim classificar - dos últimos tempos, numa imperdoável demonstração de uma falta de consciência moral e da tentativa humana de atingir determinados fins sem olhar aos meios utilizados.

Imperdoavelmente rancorosa e persecutória foi também a caça às bruxas subsequente, levada a cabo pelas autoridades norte-americanas e pelos media, que se pautou pela publicação de fotografias de suspeitos inocentes, comentários xenófobos e racistas por parte de um editor e comportamentos que trouxeram ao de cima o pior da sociedade norte-americana e fazem temer um recrudescimento da antipatia ianque face aos estrangeiros - em particular árabes -, terminando com a morte de um dos suspeitos e uma caça ao homem copiosamente seguida pela comunicação social, na qual Boston foi encerrada, enclausurada, isolada do mundo exterior para se conseguir proceder à captura do segundo suspeito, por sinal um rapaz de 19 anos.

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Miguel Padrão (10.º A1)

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Esta atitude permite-nos constatar um facto, menos mediático, mas igualmente pertinente e controverso, que se refere à disparidade de tratamento por parte dos políticos norte-americanos entre as ameaças externas (e o bode expiatório que é o terrorismo) e o barril de pólvora interno, que ninguém ousa destapar e permite ser tratado com desleixo: a legislação de posse e venda de armas de fogo.

Como se poderá permitir que se vendam armas livremente a indivíduos com cadastro? Como pode não existir registo obrigatório destes "paus de pólvora", que, sub-repticiamente, vão tirando a vida a milhares de americanos? Mais: como é que a pressão popular pôde imperar face ao cumprimento da lei e à moderação kantiana na mente de procuradores, juízes e agentes policiais, que aceitaram e apoiaram uma autêntica farsa teatral, uma tentativa de eternizar o já podre poderio norte-americano, que crucificou publicamente dois SUSPEITOS, sem que as suas culpas tivessem sido inteiramente apuradas?

Como se pode apontar o dedo à proveniência estrangeira dos suspeitos, se estes foram introduzidos desde jovens no país que hoje os toma por traidores, sendo, inclusive, o mais velho estudante de medicina numa afamada academia local? Como podem os norte-americanos aumentar o número de tranquitanas nos aeroportos, quando há armeiros à frente das universidades? Como pode Obama procurar problemas no

estrangeiro, quando a sua maior luta é interna? Como podem os americanos diabolizar os estrangeiros, quando eles próprios o são? Como podem apontar o dedo a suspeitos, quando eles mesmos são incendiários em potência?

Desenganemo-nos: este espírito está presente, chama-se NRA. E precisa-se, celeremente, de um exorcista.

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O recentemente reempossado presidente italiano, Giorgio Napolitano, conseguiu que Enrico Letta, braço direito do demissionário Bersani, formasse um governo de coligação com a direita do omnipresente Berlusconi, terminando o impasse iniciado há dois meses com as eleições de fevereiro, que não permitiram a formação de um governo maioritário em ambas as casas do parlamento italiano (Câmara Baixa e Senado). Bastou este anúncio para o alívio progressivo nos mercados especulatórios e uma diminuição dos juros exigidos à maioria dos países afetados pela atual crise das dívidas soberanas.

Infelizmente, a notícia não trouxe somente felicidade e alívio. Alguns Grillos, que, anteriormente, guiavam demagogicamente as formigas - que somos todos nós - e troçavam da nossa "paranoia" em pagar o que devemos, considerando como atitudes neoliberais ou mesmo "fascistas" o que o comum dos mortais entende como honra, justiça e hombridade, agitaram os seus acólitos fiéis, prometendo a instabilidade do novo Governo e a inevitabilidade de novas eleições, nas quais esperam mandato popular para governar...

Itália sempre foi - e continua a ser - uma nação particularmente pitoresca, especialmente no quesito político: após o governo de um primeiro-ministro que organizava festas com as amantes nas suas mansões insulares, a crise económica e social e a necessidade de consenso político levaram à indigitação de um tecnocrata, Mario Monti, como chefe de governo, no qual fez um excelente trabalho, saneando a função (pouco) pública italiana, cortando despesas supérfluas do Estado e promovendo uma auditoria geral às suas contas - o que já deveria ter sido efectuado em Portugal -, que descobriu casos do mais rocambolesco e, diria mesmo, dantesco que se poderá imaginar. Como, por exemplo, uma comissão para pagar reformas aos inválidos da guerra de 1866, vulgo Guerra de Unificação Italiana, que incluía motorista e secretárias, não fosse o Conde Cavour ter-se esquecido de alguma compensação a Garibaldi.

Mas, Monti tinha um grave senão: não era político, nem tinha personalidade para politiquices ou jogos partidários, o que levou a sua votação, nas passadas eleições, a não atingir sequer os 10 por cento, uma derrota esclarecedora da austeridade, segundo alguns, ou do bom senso do povo italiano, segundo outros. Ainda mais, quando aliado à subida

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vertiginosa da esquerda antieuropeísta.Felizmente essa esquerda fracassou no passado fim-de-semana, quando um dos seus,

o comunista Napolitano, anunciou o novo governo de centro. Felizmente fracassou. Felizmente para Itália, Portugal e Europa. Felizmente para a própria esquerda, que demonstra que, dentro de si, ainda existe alguma decência democrática, da qual foi, aliás, paladino no passado recente.

Não tenhamos dúvidas: o sul da Europa, no qual se inclui a Itália, encontra-se há muito endividado: de diversas formas e sob diversos programas, de diversos governos e diferentes ideologias, portugueses, espanhóis, gregos e italianos entregaram-se a uma política despesista, que os trouxe ao estado em que hoje estão: de mão estendida para os credores internacionais, obrigados a diminuir despesas e aumentar receitas com vista a tornarem-se excedentários e financeiramente viáveis.

E é isto que escapa a Grillo: as medidas contra as quais se coloca vão ao encontro de diversos estudos e previsões de órgãos europeus e mundiais, tentando os seus aplicantes, mormente, agradar aos povos dos respetivos países, enquanto equilibram as contas públicas. A sua aplicação é obrigatória e necessária, assim como é necessário colocar os demagogos e hipócritas que pululam na Europa no devido lugar: é sabido que os momentos de crise são, também, os mais fáceis para apelos vagos a independências, extremismos,

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fanatismo e até mesmo fanatismo, pelo que não seria de todo mal pensado responsabilizar criminalmente os políticos – e todas as figuras com responsabilidades públicas - aquando dos seus apelos à violência, à segregação ou à dissidência. No momento em que a Europa mais precisa de união, não nos podemos dar a este luxo!

Porque os Grillos deste mundo esquecem-se de uma coisa: em última instância, os credores têm a face e o queijo e a faca na mão, pelo que poderão sempre dizer a um aluno mais rebelde: "Ai cantavas? Pois agora dança.»

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Muitos de nós ficaram surpreendidos quando a Islândia, um país riquíssimo em bancos de pesca, fontes hidrotermais, riquezas geológicas e com uma das melhores qualidades de vida e desenvolvimento humano do mundo, se declarou insolvente em 2008. No entanto, salvo alguns desenvolvimentos inusitados, imediatamente divulgados como "exemplares" pela comunicação social, a situação islandesa foi, rapidamente, esquecida: afinal, não passavam de um pequeno país de 500 mil habitantes, periférico e cuja responsabilidade cívica foi suficientemente elevada para o país retomar o crescimento (mais de dois por cento este ano, o que contrasta com o afundanço europeu).

Contudo, o país do tubarão podre, dos vulcões espirrantes de lava e da língua imutável ao longo dos séculos foi, uma vez mais, destaque nesta semana, após as eleições, do passado fim-de-semana, expulsarem a esquerda do poder e reinstalarem no governo a direita, responsável pela crise recente.

O porquê desta decisão é, pelo menos para mim, desconhecido. Talvez se deva à continuação de uma oligarquia à frente dos maiores bancos e empresas públicas do país; talvez seja uma resposta às promessas não cumpridas pelos sociais-democratas; talvez o aparente crescimento do país não beneficie realmente os seus cidadãos; talvez a desvalorização da coroa islandesa tenha dificultado a vida aos islandeses, cujas importações e deslocações ao estrangeiro tiveram de ser repensadas; talvez...

Na mesma semana e apesar de algumas boas notícias, a situação generalizadamente descendente dos países europeus, em particular dos intervencionados, entre os quais Portugal, foi comprovada pela UE: além de um desemprego a roçar os 20 por cento na "Ocidental praia lusitana", a superar os 25 na pátria de Cervantes e no país de Homero, a recessão manter-se-á na Europa até, pelo menos, ao próximo ano. Desta forma, impõe-se-me questionar: porquê?

Sendo a Islândia um país tão similar a Portugal (pequenos, periféricos, isolados, com uma população que teve de recorrer à emigração para sobreviver), o que é que nos faz diferir tanto na visão da democracia, na assertividade da nossa ação democrática, na nossa

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educação proativa e na nossa responsabilidade cívica? O que é que permitiu à Islândia ter superado a crise e o desemprego em tão pouco tempo, enquanto Portugal e a Europa se mantêm no marasmo e no pântano? O que levou os islandeses a responsabilizar, criminalmente, os responsáveis políticos, a reescreverem a Constituição, a limparem o seu sistema político das sanguessugas partidárias e a reformularem toda o seu Estado em menos de cinco anos?

Serão os islandeses de outra matéria que não a apatia europeia ou apenas tiveram a vida facilitada por fatores que não atuaram nas restantes situações de resgate? Teria sido melhor possuirmos uma moeda própria, cuja (des)valorização controlássemos? Teria sido preferível nunca ter-mos aderido à CEE? Deveríamos ter "batido com a porta" aos credores internacionais que participaram no nosso empréstimo, cujos juros usurários não permitem o relançamento da economia?

Talvez sim, talvez não. Mas o tempo não volta para trás, é inútil chorar sobre o leite derramado. O resgate já foi assinado, a adesão acordada, a moeda atualizada e, apesar dos pesares, a atual geração é a mais preparada, a nível de formação académica pelo menos, para lidar com a situação. Por isso, apenas nos resta, como diria uma das pessoas a quem estimo mais (não só pessoalmente, mas também ao nível da opinião sobre estes, todos os

assuntos), "apanhar as canas" após mais de 20 anos a "deitar foguetes". E esperar, esperançosamente, que as próximas gerações consigam revolucionar a nossa sociedade, a nossa maneira de olhar o mundo e a nossa relação com o Estado. Que tenham estaleca suficiente para expelir os políticos atuais e responsabilizar os autores dos erros do passado.

Que, não deixando de ser portugueses, se tornem um pouco islandeses. O país agradeceria.

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Muitas vezes vivemos a vida passivamente, aceitando sempre tudo o que nos é dado e assumindo-o como óbvio e certo. Não nos importamos em saber porque é que é certo fazer uma coisa e errado fazer outra. Não nos importamos em perceber realmente o que são as coisas.

Pois eu proponho que nos imaginemos todos a viver sem nunca termos aberto um livro. Dir-nos-iam que é muito interessante ler, que é divertido imaginar a forma física do que lá está escrito e explicar-nos-iam o que é dito no livro. E nós acreditaríamos de bom grado, pois isso seria a melhor informação que tínhamos. No entanto, se um dia resolvêssemos abrir um livro será que nos depararíamos com as mesmas sensações, as mesmas opiniões? Talvez, mas também era muito provável que discordássemos em alguns ou até em todos os aspetos.

Não somos obrigados a ter as mesmas opiniões do que os outros, pelo contrário, é muito pouco provável que duas pessoas pensem exatamente o mesmo sobre tudo. Ora, se sabemos isto e se admitimos que é normal eu não gostar de livros da mesma forma que um amigo meu e que é normal vinte pessoas gostarem de vinte coisas diferentes, temos a obrigação de entender que, viver segundo os olhos dos outros, segundo as diretrizes dos outros, não é viver, mas, sim, ser um passageiro na vida alheia.

Deste modo, sugiro que abramos um livro, que tentemos, quando falamos, distinguir a nossa opinião da opinião do mundo, já embutida no nosso cérebro. Sugiro que larguemos os preconceitos, os dogmas mundanos e tudo o que nos foi dito até agora e comecemos a pensar no que nós realmente queremos e acreditamos, no que nós próprios consideramos certo.

Iva Gonçalves (10.º A2 )

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A expressão "valorar" é, normalmente, associada apenas à ideia de atribuir uma qualidade ou um defeito a algo. Mas essa definição está imperfeita. Valorar é mais do que isso. Não é muito difícil perceber que a beleza de um quadro não está nele, mas no indivíduo que o aprecia, que a crueldade de um ato não se encontra propriamente lá, mas na avaliação que a sociedade faz dele, que a harmonia de uma canção está nos "ouvidos" de quem a escuta e não nela própria. O quadro pode ser feio para outra pessoa, assim como o ato, pode não ser tão cruel na perspetiva de outro alguém e a canção pode ser apenas ruidosa para um indivíduo.

Depois de apresentadas estas ideias, penso que é possível concluir que os valores estão em nós, fazem parte do nosso ser. A cor de uma flor, que é uma caraterística própria, existiria mesmo que nenhum ser humano fizesse uma apreciação da mesma. No entanto, a beleza apenas existe devido a uma opinião humana, a uma mente, a um Homem. Esse mesmo Homem que tem o privilégio de ser o único animal na face da Terra capaz de valorar, de dar opiniões, de refletir sobre o certo e o errado, de decidir o que quer e o que não quer fazer, com base num motivo e numa intenção; o único animal que não está preso a programações biológicas e a reações extremamente impulsivas e reativas, próprias dos animais irracionais. Esse mesmo Homem que tem a opção de decidir o que quer ser, de se criar a si próprio. Nada nem ninguém o pode obrigar a valorizar algo que ele não gosta ou não considera louvável. Pode-se ensinar a uma criança o que é honesto e o que não é, o significado de ser leal e o que implica a mentira, no entanto, ela própria é que chegará à conclusão de aceitar ou não estas "definições", estas "normas".

Todos estes valores são relativos, são abstratos. Eles não existem por si só, está tudo "dentro" da nossa mente. É por isso que, ao valorar, o ser humano progride, torna-se mais humano e menos animal, torna-se quem é. É baseando-se nos valores que são mais importantes para ele que um indivíduo faz as suas escolhas e vive a sua vida, defendendo aquilo que, para si, é essencial à vida.

Iva Gonçalves (10.º A2 )

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Certamente que sim, existe uma ligação entre o "saber" e o "pensar saber", uma vez que, tal como os prisioneiros que apenas observam sombras simbolizadoras e tradutoras da realidade, hoje em dia muitos de nós utilizam as Tecnologias de Informação e Comunicação de forma abusiva e desregrada. Faz-se do seu uso um meio de obtenção de informações instantâneas, um veículo de propagação de boatos e falácias, preconceitos e mentiras e um importante aliado da propaganda, não só política, mas também religiosa, social e económica, pelas facilidades acima referidas.

Desta forma, muitas vezes grandes fatias da população são ludibriadas por pensadores, políticos e figuras públicas demagógicas, as quais se servem, regularmente, de redes sociais, dos blogues e de outros meios de transmissão de informação online para ampliar e hiperbolizar o seu discurso, aguçar a sua retórica e exporem os seus dotes oratórios, fazendo dos cidadãos mais crédulos – e, portanto, ignorantes e desprevenidos - os seus alvos e as suas primeiras e principais vítimas. Até mesmo os jogos nos transportam para a visualização de sombras de uma realidade, da qual facilmente ficamos prisioneiros, em virtude da sua veracidade e crescente realismo.

Assim, é certo que se pode fazer uma analogia entre os prisioneiros da Alegoria da Caverna e o modo como, alguns de nós, utilizam estas ferramentas. A atual necessidade de consumo de informação leva a que a sociedade que inventou o "fast-food" crie, agora, a "fast-info", informação facilmente alterável e proveniente de fontes duvidosas, que preconiza um acesso instantâneo, porém virtual e facilmente maleável, à informação e ao conhecimento.

Continuamos, no entanto, a acreditar piamente naquelas mesmas fontes uma vez que, como os prisioneiros, não nos questionamos sobre a veracidade de tudo o que vemos e continuamos na penumbra da ignorância, aceitando, passivamente, tudo o que ouvimos e vemos, ao invés de nos libertarmos das correntes que nos prendem a estigmas e preconceitos e não nos permitem atingir a luz do conhecimento, que o Mundo tanto precisa nos dias de hoje.

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Era uma vez um reino, amarelo, ensolarado e plantado à beira-mar, cuja população estava descontente, pois considerava estar a ser discriminada, mas também esquecida pelos seus governantes. Como em Democracia (e, neste caso particular, eu sou testemunha) são sempre os cidadãos a ter razão, esta coroa imaginária - ou nem tanto - foi por mim ou por eles imaginariamente julgada.

Deveras difícil foi o trabalho de apurar a responsabilidade de um determinado crime, ato ou acontecimento. Além de ser influenciado por diversas variáveis externas, o próprio autor tinha de estar na posse da razão para poder ser responsabilizado. No entanto, um exercício de catarse não foi custoso de realizar, facilitando, em muito, toda a gestão do trono. E assim começa a sentença, sem réu, mas apenas com uma consciência, que espero responder por todos nós: "Como puderam deixar-nos, abandonados, enquanto uma pandilha maquiavélica nos assaltou e vexou, assobiando para o lado e nada mais fazendo senão incentivar campanhas patéticas de propaganda para lavagem cerebral? Como puderam ausentar-se num eterno jantar num palácio distante, nunca estando disponíveis nos seus postos quando necessário? Como puderam desfazer o país em momentos tão importantes, envergonhá-lo publicamente, obrigarem-no a ficar de calças na mão? Como podem não ser responsabilizados por tudo o que fazem, fizeram e, se não agirmos, farão?

A incompetência deve ser responsabilizada, criminalmente se possível. Desta forma, todos quantos foram e são responsáveis pela situação atual (de políticos a gestores, de deputados a diretores, de funcionários a banqueiros) deverão ser sentados no banco dos réus: não foram eles que, de uma forma ou de outra, blindaram todos os contratos com os credores que agora renegam, de tal forma que, actualmente, ninguém sabe o segredo ou como desatar este nó Górdio, obrigando os atuais governantes a tentar arrombar a parede de ajustamento alternativo (que, apesar de pessoalmente considerar ter efeitos mais duradouros na estrutura do edifício do Estado, é quase, unanimemente, reprovada pela sociedade civil) num contrarrelógio desesperado que poderia ser evitado e que só aumenta a ansiedade e o sofrimento do povo português.

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Miguel Padrão (10.º A2 )

Infelizmente, desde sempre o discurso demagógico tem mais influência na sociedade, em particular em momentos de crise económica, social e pessoal – afinal, são ou não as sociedades, mais que tudo, formadas por indivíduos, que lhe dão todas as suas características e particularidades? - como o que atualmente vivemos. Se analisarmos o comum dos mortais (nos quais, aliás, me incluo), este preferirá um hipócrita que lhe consegue contar uma fábula e entretê-lo (Pão e Circo, um velho lema que continua atual) com uma mentira caridosa do que uma figura mais austera e séria, que o confronta com a verdade, administrando-lhe toda a medicação pós-ressaca, que, apesar de dolorosa e desconfortável, é estritamente necessária.

O nosso declínio estava há muito traçado: no momento em que se iniciou uma tresloucada "corrida aos direitos adquiridos", escudados numa constituição de cariz marcadamente socialista e demasiado protetora da manutenção de quadros incompetentes, pagos pelas contribuições de todos, vivendo subsidiados pelo orçamento geral de um Estado para que parcamente contribuem, o destino do País foi vincado.

Um país, uma empresa, uma escola, que da humildade, modéstia, honestidade, espírito de sacrifício e de luta que imperavam no passado, se transfere para o cinismo, a arrogância, a ganância de funcionários imprestáveis e mal preparados, diretores ausentes, incompetentes e altivos, e para a inconsciência e infantilidade de uma Esquerda órfã de ideologias e de líderes, está condenado ao fracasso e ao colapso. Nada nem ninguém o salvará, nem mesmo um génio.

PS- Qualquer metáfora aqui citada é meramente... metafórica. Não há qualquer intenção por parte do autor em retratar factos ou nomes reais, sendo todas as personagens fictícias.

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Guilherme Pessoa (6.º A

Era uma vez, num reino muito distante, uma pequena cidade, onde vivia o rei e a sua família real. No entanto, o rei estava velho e prestes a morrer. Apesar de ter um filho, estava envolto em preocupações, pois era ousado, egoísta e só se preocupava com ele mesmo.No primeiro de dezembro, aconteceu o que se temia, o rei faleceu e sucedeu-lhe o filho com 11 anos. Quando este completou um mês de governo, a sua casa estava caótica e o reino um caos: pessoas mal vestidas e a pedir aos turistas e a crise financeira aumentava pela importação de brinquedos para o jovem.

Um dia, o povo, rispidamente, disse: "Vamos à revolta". Planeou, então, uma luta eficaz contra o príncipe.

Na madrugada do dia seguinte, todo o povo se aproximou do castelo gritando. A rainha ficou impressionada e foi dizer ao príncipe que reagisse, recebendo a sua ignorância. A rainha ficou tão perturbada que a sua ira ressoou pelo castelo.

Um guerreiro, muito destemido, eficaz e com muitas capacidades, subiu à janela e entrou pelas cortinas. O príncipe, obstinado e com maus pressentimentos, foi ver o que se passava. Encontrou o plebeu e travou-se uma batalha. O mais provável seria o príncipe vencer.

A batalha foi renhida: o entoar da espada de ouro a bater num machado de madeira, a armadura de cobre e estanho com a roupa fraca e furada, o penteado e a pele limpa com o monte de cabelo e a pele suja e áspera.

No fim da luta, o plebeu perdeu e foi morto, mas o príncipe mudara de atitude. Agora era um rei sincero, sábio e ponderado, que tratava todos de igual forma. Ele abriu escolas e hospitais e deu empregos às pessoas que passaram a viver bem e sem fome. Diminuíram os doentes e analfabetos e uma nova filosofia se espalhou pelo reino.

“Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”

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Margarida Pinto (9.º E )

Acho que quando gostamos de uma pessoa é bem mais difícil deixá-la partir, especialmente quando começamos a sentir algo especial por ela.

Tenho um exemplo na minha vida. Vivia em Portugal e, quando tinha seis anos, custou-me muito vir para Moçambique, pois achava que não ia gostar do país. Agora que vivo aqui há nove anos é muito difícil passar férias em Portugal, pois tenho aqui pessoas e coisas que me prendem afetivamente.

Partir é bem mais doloroso do que chegar. Nós chegamos sempre onde queremos, basta lutarmos pelo que, realmente, desejamos e esforçarmo-nos para a ter. Agora, partir? Custa muito, pois deixamos pessoas, amigos e familiares de quem gostamos muito e de quem não nos queremos separar.

Na nossa vida vamos passar por muitas partidas e chegadas. Cada um de nós deve estar preparado para isso. Basta ser forte e corajoso, seguir sempre em frente e não deixar que nada nem ninguém nos deite abaixo.

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Margarida Pinto (9.º E )

Concordo com Gaston Bachelard, porque também acho que partir é como se uma parte de nós morresse. Deixamos para trás coisas de que gostamos muito e, sobretudo, pessoas em relação às quais sentimos muito carinho. Quando partimos temos de ser muito fortes, senão não conseguimos ultrapassar a nossa dor e todos os obstáculos que nos podem passar pela frente.

O autor também fala da morte como de uma viagem se tratasse. Na verdade, morrer é viajar definitivamente para um lugar desconhecido. Não acredito numa vida para além da morte, por isso encaro-a como uma consequência natural da vida. Penso, assim, que a morte determina o fim da nossa existência física e espiritual.

Respeito, contudo, as crenças das outras pessoas, principalmente aquelas que defendem a existência do Paraíso e do Inferno, como lugares de recompensa ou castigo pela vida que levaram na Terra. Por outro lado, também não acredito numa força maior porque considero que Deus foi uma criação do Homem e não o Homem uma criação de Deus. Reconheço, no entanto, que as pessoas que acreditam numa Força Superior ultrapassam mais facilmente os seus problemas, porque encontram nela um conforto espiritual que ajuda a lidar com as dificuldades com mais firmeza.

Para concluir, é necessário reforçar a ideia de que, relativamente a este assunto, devemos ser tolerantes, isto é, aceitar e respeitar as diferenças, quer sejam políticas, religiosas, sociais ou culturais.

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2014

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