mulheres empreendedoras são mulheres...

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Ano III nº14 Março 2008 A embaixatriz da diversidade Entrevista especial com a desembargadora Berenice Dias Página 14 Mulheres empreendedoras são mulheres transformadoras Negócio próprio Página 10 Costura que deu certo Página 4 Receita de trufa Página 17

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Ano III nº14 Março 2008

A embaixatriz da diversidade Entrevista especial com a desembargadora Berenice Dias

Página 14

Mulheres empreendedoras são mulheres transformadoras

Negócio próprioPágina 10

Costura que deu certo

Página 4

Receita de trufaPágina 17

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2 REVISTA DO INSTITUTO 3CONSULADO DA MULHER

Inês Meneguelli Acosta, Diretora Executiva do Instituto Consulado da Mulher.

Há seis anos atrás iniciamos nossa caminhada para ampliar as oportunidades de trabalho às mulheres, inaugurando a primei-ra casa do Consulado da Mulher em Rio Claro, em 2002. O obje-tivo da ação era mostrar à socie-dade a importância da mulher e que com seu desenvolvimento todo mundo sai ganhando: há redução da pobreza e diminuição das desigualdades sociais.

Hoje, a maioria das mulhe-res que chegam ao Consulado atuam na manutenção da casa, cozinhando, lavando, passan-do, na busca por escolas para os filhos(as), no cuidado com os(as) doentes da família e, também, pagando as contas. Além disso tudo, várias atendem aos cha-mados para a ação voluntária em comunidades de bairro. Essas mulheres ainda querem melho-rar sua vida e de seus familiares com a geração de renda própria. Mas, na maioria dos casos, não sabem por onde começar. É aí que entramos. O Instituto ofe-rece conhecimentos e assessoria para que possam traçar as suas histórias de felicidade.

De acordo com o estudo do Centro Internacional da Pobreza,

E D I T O R I A L M U L H E R , H O M E M

Mulher = trabalho e renda

As mulheres ainda trabalham mais dentro do lar do que os homens

do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de janeiro deste ano, eliminar as barreiras para a entrada femini-na no mercado de trabalho pode ser eficaz para reduzir a pobreza mais do que igualar salários de homens e mulheres que já tra-balham. Derrubando esses obs-táculos, a proporção de pobres poderia cair até 25% no Brasil, e na Argentina e no Chile, mais de 41%. Sem diferença nos salários a queda na pobreza também va-riaria em 10% no Brasil e apenas em 1,1% no Chile.

Esses dados mostram que a desigualdade de gênero repre-senta um peso para toda a so-ciedade e não só para as mulhe-res. Isso reforça nossas energias, como Consulado, e estimula ainda mais nossa crença em uma vida melhor para todas e para todos, principalmente agora que temos atividades também em Manaus (AM) e em São Paulo, além de outras cidades do Brasil que são atendidas pelo Programa Usinas do Trabalho.

A crescente participação das mulheres no mercado de traba-lho não reduziu sua jornada nos afazeres domésticos, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007. O público feminino de 25 a 49 anos ocupa 94% do seu tem-po com o trabalho do lar.

No país, 109,2 milhões de pes-soas de 10 ou mais anos de idade declaram realizar tarefas domés-ticas, sendo que, deste conjunto, 71,5 milhões (65,4%) são mulhe-res e 37,7 milhões (34,6%) são

homens. Na região Sul, 92,4% das mulheres e 62% dos homens estão envolvidos nessas ativida-des, as maiores médias nacionais. A participação masculina também cresce conforme seu grau de es-colaridade. Quanto mais estudo, mais apoio às mulheres (54%).

Apesar de a jornada das mu-lheres no mercado de trabalho ser menor, se for considerado o trabalho da mulher com a casa e a família, a carga de trabalho semanal total delas supera a dos homens em quase cinco horas.

É preciso mudar esse cenário! Só com a união de homens e mulheres compartilhando tarefas

e trabalhando juntos será possível criar um mundo melhor para as futuras gerações.

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4 REVISTA DO INSTITUTO 5CONSULADO DA MULHER

Uma máquina de costura era tudo que tinham quando começaram em 2000. Mas as mulheres do Ponto de Ouro de Manaus (AM) nunca se abate-ram ou desistiram por isso. A vontade de trabalhar era maior do que qualquer dificuldade. Encontravam-se todos os dias no período da tarde em espaço disponibilizado por uma igreja da cidade e revezavam-se para costurar.

Em 2004, uma pessoa da própria igreja onde atuavam fez um projeto para o Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), e conseguiu mais má-

Luta e felicidade marcam a históriado Ponto de Ouro das empreendedoras

Peças íntimas são seu foco de produção, o próprio negócio, seu sonho

M I R E - S E N O E X E M P L O M I R E - S E N O E X E M P L O

quinas para o grupo, que pôde melhorar a sua produção signi-ficativamente.

Já em 2007, com a chega-da do Consulado da Mulher a Manaus, as mulheres mudaram o seu modo de trabalhar para evoluir. “A economia solidá-ria nos mostrou uma nova re-alidade, apresentou também como vender as nossas peças com um preço justo. O Institu-to com certeza nos faz crescer mais a cada dia. Já participamos até de feiras e eventos”, conta Francisca Azevedo de Almeida, empreendedora, 44 anos, mãe de dois filhos.

A própria renda“Algumas mulheres do Pon-

to de Ouro tinham esposos que não davam nenhum dinheiro para elas. Agora já podem con-tar com o próprio pagamento para comprar suas coisas”, expli-ca alegremente dona Francisca.

O trabalho fora de casa tam-bém trouxe auto-estima para o grupo que se fortaleceu e se emancipou. “Uma de nós tam-bém teve um marido que per-deu o emprego e ela sustentou a casa sozinha. Falou para ele: ‘Não vamos passar necessida-des’ e, realmente, não passa-ram graças ao trabalho dela”.

Planos para o futuro“Hoje já temos um fluxo de

comercialização. Muita gente do bairro compra de nós”, diz Francisca. Mas seus planos são de crescimento. “Queremos vender as peças íntimas que produzimos nas lojas da cidade e quem sabe até exportar. Esse é nosso sonho e tenho certeza que um dia será realidade. Es-tamos trabalhando para atingir esse objetivo junto com o Con-sulado.”

Associação de Costura Ponto

de Ouro Venda e encomenda de

peças íntimas de segunda a sexta a partir das 14h.

Rua São Paulo, 137 - Igreja Nossa Senhora da Esperança

Fone: (92) 3248-6391

“Não desistam nunca! Passamos muitas dificul-

dades, mas estamos aqui. Acredite sempre no seu

potencial que você chega a qualquer lugar.”

Francisca Azevedo de Almeida

Costureira Alessandra Souza da Silva mostra com orgulho a confecção do Ponto de Ouro.

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6 REVISTA DO INSTITUTO 7CONSULADO DA MULHER

Q U E N T I N H A S D O C O N S U L A D OQ U E N T I N H A S D O C O N S U L A D O

Joinville (SC) Rio Claro (SP)

Semana da mulher na Whirlpool

Nos dias 6 e 7 de março, o Consulado da Mulher realizou na Whirlpool atividades para lá de interessan-tes com as funcionárias da companhia. As ofici-nas iam de decupagem e bijuterias até massa-gem relaxante.

Todas as ações fo-ram ministradas por voluntários(as), das 9h às 17h, na sala de trei-namento da empresa.

Casa aberta A casa do Consulado da Mu-

lher de Rio Claro e a Usina do Trabalho foram palcos do even-to “A mulher e o trabalho”, que aconteceu no dia 10/3, das 14h às 17h, gratuitamente e aberto ao público em geral.

Para se ter idéia do que rolou na data, a casa do Instituto teve várias salas temáticas sobre a condição de trabalho da mulher em diversas áreas, como, por exemplo, na inclusão digital, em atividades ligadas a beleza, ao artesanato, entre outras.

Atividades no bairro Jardim Edilene

A parceria entre o Instituto e o Centro de Referência da As-sistência Social (CRAS) trouxe para as mulheres do bairro Jar-dim Edilene uma série de ações no dia 5 de março. As oficinas foram desde “Cestinha de Pás-coa”, “Coelho e feltro para a Páscoa” até “Rabicó de fuxico”, “Customização de roupas” e “Ervas medicinais para a saúde da mulher”.

O iniciativa também trará no-vidades todas as quartas-feiras para as mulheres da localidade, das 14h às 17h. Fique atento(a) para as próximas atividades.

Sábado da mulher na Whirlpool

Pensando na mulher colabo-radora da empresa Whirlpool S.A., mantenedora do Consu-lado, o Instituto preparou uma programação repleta de atrati-vos no dia 8 de março. Veja só qual foi a grade de atividades: massagem relaxante, coelhinho de Páscoa de feltro, cestinha de Páscoa de papelão, decupagem em madeira, confeccção de bi-juterias, limpeza de pele, flor de meia de fina, maquiagem bási-ca e muito mais.

Consulado na Câmara dos Vereadores

Com o tema “Mulheres no Espaço de Poder”, o Conselho Municipal dos Direitos da Mu-lher de Joinville realizou no dia 7/3, uma mesa redonda sobre o assunto. Ela teve como media-dora Maria de Fátima Olberg, representante do Conselho e educadora social do Consulado da Mulher de Joinville.

O evento foi gratuito e aber-to ao público que compareceu na rua Hermann August Letter, 1.100, Centro, Joinville.

Consulado no Conselho Municipal da Condição

FemininaSete de março foi a data em

que uma representante do Con-sulado da Mulher junto com os(as) de outras instituições focadas na causa da mulher to-maram posse no Conselho Mu-nicipal da Condição Feminina de Rio Claro.

A atividade aconteceu no Centro Cultural Roberto Pal-mari, Rua 2, nº 2.880, Vila Operária, Rio Claro (SP) e teve apresentação do coral “O men-sageiro” e da peça teatral “O inventário feminino”.

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8 REVISTA DO INSTITUTO 9CONSULADO DA MULHER

Q U E N T I N H A S D O C O N S U L A D OQ U E N T I N H A S D O C O N S U L A D O

Oficinas na comunidadeAtividades de artesanato,

corpo e mente e qualidade de vida esperam as mulheres ma-nauaras, a partir do dia 17/3 percorrendo uma série de re-giões da cidade.

Além disso, todas elas te-rão intervenções interessan-tes sobre o tema “A mulher e o trabalho”. Fique de olho na programação de Manaus. Infor-mações: (92) 3651-1556.

Manaus (AM) São Paulo/SP

Chá da tarde na WhirlpoolNo dia 10/3, o Consulado

da Mulher recebeu esposas de colaboradores da Whirlpool, representantes da comunidade e empreendimentos populares apoiados pelo Instituto, num delicioso chá da tarde com iguarias da região.

Durante a atividade, houve apresentação de depoimentos de voluntários e voluntárias da empresa falando sobre sua ex-periência ao atuar com a causa da mulher.

Marcha pela causa da mulher

A equipe do Consulado da Mulher participou da passeata em prol a melhores condições de vida para a mulher, no dia 8 de março, saindo da Praça Ra-mos, em frente ao Teatro Mu-nicipal de São Paulo.

A iniciativa foi da Marcha Mundial das Mulheres, ação do movimento feminista interna-cional de luta contra a pobreza e a violência sexista. As mani-festações acontecem em 159 países e territórios, envolvendo milhares de mulheres em todo o mundo anualmente.

Consulado na WhirlpoolO Núcleo do Consulado da

Mulher prepara atividades es-peciais para o mês da mulher. Uma delas é a ação “O corpo é reflexo do ser”, que acontece nas unidades do Compra Certa, São Paulo e Centro Administra-tivo, de 12 a 14 de março.

O objetivo da ação é trazer a reflexão sobre o padrão de beleza que homens e mulhe-res tornam-se cada vez mais escravos(as), na atualidade, por meio de dinâmicas, exposição de idéias e debate. Mais infor-mações: (11) 3566-1703.

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REVISTA DO INSTITUTO 11CONSULADO DA MULHER10

E U P O S S O

Montar meu próprio

negócioA história de Maria Lúcia começou

dentro do Consulado da Mulher há qua-tro anos. Foi por meio de um anúncio no jornal que chegou até a instituição. Ins-creveu-se como participante de uma ofi-

cina, mas logo começou a mi-nistrar ativida-des de “Pintura em tela” como voluntária. “A minha intenção era apenas re-passar e trocar conhecimentos. Não imaginava que esse ato t ã o s i m p l e s para mim daria tanto retorno. Não falo de re-torno financei-ro, mas sim de carinho, ami-zade e muita

alegria”, conta.

Entretanto, o retorno financeiro tam-bém chegou para Maria, assim como o desejo de gerar a própria renda. Então, ingressou como membro de um grupo de artesãs que mais tarde constitui-se em uma cooperativa, apoiada inclusive pelo

“Sou uma pequena

empreendedora que

realizou o sonho de

ter o próprio

negócio. Alio

a minha força

de vontade à

fé. Sou grata

a tudo que a

vida me deu

e, também,

ao Consulado

por me mos-

trar que sou

capaz. Hoje eu

sei que... Eu

posso!”

Maria Lúcia Santana, mem-

bro do empreendimento “Nós

Catarina”, assessorado pelo

Instituto.

E U P O S S O

Lindas peças artesanais e bijuterias para você. Presenteie quem você ama com a gente!

Aceitamos encomendas. Telefone: (47) 3426-1834

[email protected]

Nós Catarina

Consulado. “Foi uma experi-ência bastante enriquecedora. Aprendi muito!”, diz.

Mas não parou por aí: seus sonhos aumentaram e come-çaram a se tornar realidade. Também teve a experiência de confeccionar seus produtos sozinha, mas em seguida uniu forças a outras quatro mulheres

para a comercialização de suas peças, tornando-se “Nós Cata-rina”, grupo que atua dentro da unidade Joinville da Whirl-pool e recebe assessoria do Ins-tituto. “Hoje eu já posso falar de retorno financeiro, já que o Consulado da Mulher me ensi-nou a sonhar e a realizar meu sonho”, conta Maria feliz.

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12 REVISTA DO INSTITUTO 13CONSULADO DA MULHER

As mulheres do Consulado agrade-cem o carinho, o aprendizado e a solidariedade das(os) voluntários(as) que fazem a mudança de fato na sociedade.

E X P R E S S Ã O D E C I D A D A N I A E X P R E S S Ã O D E C I D A D A N I A

Orgulho em ser voluntária

“Ser voluntária é uma sur-preendente experiência, pois recebemos mais do que doa-mos. É uma oportunidade para nos conhecermos melhor, reali-zar ações e aprender. Comecei com uma reportagem especial para o site do Consulado, entre-vistando mães de meninos(as) atendidos(as) pelo Instituto Dom Quixote em São Paulo. E digo, se você tem vontade de ser voluntário(a) do Instituto, não tenha dúvida de que vale muito a pena”.

Emília A. F. Ricardi, voluntária do Ins-tituto e colaboradora do Centro Adminis-trativo da Whirlpool, em São Paulo.

Dividir o que se sabe é tudo!

“Ser voluntária é adquirir e compartilhar conhecimentos, valores e identidades. É doar. É também aprender com as pes-soas que buscam a oficina que ministro mais até do que elas com a gente.

Digo que ser voluntária de fato enriquece muito mais quem ensina do que aquele(a) que aprende. Na verdade, é um compartilhar constante, que faz muito bem para todos e to-das”.

Carmem Richter Eger, voluntária de culinária do Consulado de Joinville e empre-endedora do grupo Delícias Solidárias.

É preciso se mexer“A mudança surge quando

percebemos que o mínimo que temos pode ser o máximo de conhecimento para quem não tem nada. Iniciei minha atua-ção no Consulado na inclusão digital, atuei também em várias áreas. Hoje fico muito feliz de ver que várias pessoas com as quais compartilhei o que sabia estão empregadas. Acho que se queremos um país melhor precisamos fazer alguma coisa agora”.

Bruno Martins Rondon, voluntário do Instituto e colaborador da Whirlpool de Rio Claro (SP).

Transformação de verdade

Uma mudança de visão

“Trabalhar como voluntário no Consulado, num primeiro instante até me assustou porque pensei que seria muito compli-cado. Mas ao realizar a minha oficina de empreendimento, justamente numa comunidade indígena, minha visão começou a mudar. Senti o quanto pos-so colaborar com aquelas mu-lheres e ser retribuído com um belo sorriso”.

Iremar B. Luz, voluntário do Consu-lado e colaborador da Whirlpool, unidade Manaus (AM).

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P Á G I N A S C O L O R I D A S

14 REVISTA DO INSTITUTO CONSULADO DA MULHER 15

P Á G I N A S C O L O R I D A S

A trajetória de Maria Be-renice Dias, desembarga-dora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, é re-pleta de grandes batalhas e vitórias em prol dos direi-tos dos(as) chamados(as) “excluídos(as)”: mulheres, homossexuais, prostitutas etc. Por isso, não é a toa que é chamada de a Embaixatriz da Diversidade. Sua luta co-meçou quando ela própria foi alvo de discriminação apenas por querer alcançar seu sonho, ser juíza, numa época em que as mulheres não tinham acesso ao mun-do público. Continua, ainda hoje, travando verdadeiras guerras pelos direitos huma-nos e conta para a Revista do Consulado da Mulher sobre a situação feminina na atu-alidade no trabalho e no lar. Confira!

Revista do Consulado: Na sua opinião, as mulheres ain-da buscam igualdade com os homens?

Berenice: O movimento fe-

“A minha a luta é pelos(as) excluídos(as), pelos segmentos que a sociedade teima em fingir não perceber.”

“O trabalho trouxe para a mulher um ponto de gratificação, resgatou a sua identidade de ser humano e não apenas

de mãe e esposa.”

minista começou com essa pro-posta, sim. As mulheres queriam ser como os homens. Hoje já bus-cam igualdade, mas de oportuni-dades. Mantêm sua identidade feminina, sem precisar se mascu-linizar para entrar no universo do trabalho. Isso é muito importan-te, pois recupera as suas qualida-des, a sua visão e as valoriza.

Revista do Consulado: Essa identidade feminina também se faz presente nos espaços de po-der, como na política, na admi-nistração de empresas etc?

Berenice: Com certeza, mas o poder ainda está em mãos masculinas. A caminhada fe-minina continua andando, mas vagarosamente. É preciso que o movimento de luta por mais espaços não pare.

Revista do Consulado: En-tão, o que você acha que falta para as mulheres atingirem esse ponto?

Berenice: Darem-se conta de que ainda têm migalhas nos locais de poder. Se você anali-sar o mercado de trabalho,

Berenice Dias, desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

A embaixatriz da diversidade

verá que as mulheres ainda têm menos que os homens, como a remuneração, por exemplo. Mas o que escancara de fato essa desigualdade é a violência doméstica. Acho que isso gera um desequilíbrio. E quando há de-sequilíbrio nas relações do lar, a mulher tem uma sobrecarga e não consegue ocupar tanto os espa-ços no universo público quanto poderia.

Revista do Consulado: Com a violência doméstica, a mulher também acaba desem-penhando uma função inferior ao homem dentro do lar?

Berenice: Sim, porque ela se sente subjugada a ele, inferior. E se somarmos a dupla, tripla jornada de trabalho que têm no dia-a-dia, ainda vemos limites em suas oportunidades no mundo público, como no trabalho, em viagens etc. Já o homem, com muita desenvoltura, faz cursos em outras cidades e participa de

congressos. Para a mulher tudo isso é muito complicado. Ela até sofre um drama quando precisa se ausentar da família por um pe-ríodo, mesmo que curto. E quan-

do o faz precisa deixar o refrige-rador cheio, mãe cuidando dos(as) filhos(as)... Na si-tuação inversa, o homem não pre-cisa se envolver

com nada que fica.

Revista do Consulado: Em sua opinião, a solução para a emancipação da mulher é a participação masculina dentro do lar, nas distribuições de ta-refas domésticas, no cuidado com o(a) filho(a)?

Berenice: Com certeza. E também é algo muito saudável para todo grupo familiar. É óti-mo para a criança conviver mais com o pai. Mas para ele ocupar esse lugar também é preciso que a mulher deixe, já que muitas vezes ela tem o sentimento de propriedade com o filho(a). Acha que o marido não sabe pegar no

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17CONSULADO DA MULHER

xergar a mãe como se não fos-se um grande eletrodoméstico dentro de casa, assim também aconteceu com muitos maridos.

Sobre Maria Berenice Dias

• É vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito

da Família;• Criou o JusMulher, serviço voluntário de

atendimento jurídico e psicológico às mulheres

de baixa renda;• Foi indicada pelo

“Projeto 1000 Mulheres” para o Prêmio Nobel

da Paz 2005;• É autora dos livros

A Lei Maria da Penha na Justiça, Manual

de Direito das Famílias, entre outros.

Mais informações: www.berenicedias.com.br

REVISTA DO INSTITUTO16

P R A T I Q U E A I D É I A D A

CleuzaGomes

cole

cion

e es

ta id

éia

Confira na página seguinte uma deliciosa receita e colecione esta idéia!

O constante interesse em participar das capacitações do Consulado e o convívio com as participantes em suas oficinas como voluntária geraram para Cleuza uma gama de aprendi-zados que, como ela mesma diz, “são coisas boas que co-nheci e levo para a vida, para as atividades dentro do Insti-tuto, para o meu trabalho... Enfim, gerando sempre mais oportunidades para meu ne-gócio e para as pessoas com quem compartilho conheci-mentos”.

Cleuza Gomes, 54 anos, mãe de cinco filhos, é voluntá-ria do Consulado de Rio Claro desde 2002. Também partici-pante do grupo de mulheres que administra o Espaço Soli-dário na fábrica da Whirlpool em Rio Claro, mantém em sua casa um segundo empreendi-mento: produção de salgadi-nhos e docinhos para festas, ovos de Páscoa, entre outras pequenas delícias.

Receita de massa para trufas e

ovos de Páscoa

P Á G I N A S C O L O R I D A S

colo, não sabe dar mamadeira. Enfim, que ele não sabe cuidar. Mas ela também não sabia no começo. Compartilhar tudo na vida a dois é essencial.

Revista do Consulado: Hoje o trabalho fora de casa ganhou grande importância na vida das mulheres? Por quê?

Berenice: Acho que atual-mente ele é fundamental. Antes os únicos pontos de gratifica-ção feminina eram: casamento, filhos(as), marido, lar. Esse era o mundo da mulher. Não tinha uma realização sua. Agora, o trabalho trouxe isso para ela, um ponto de gratificação. Também melhorou sua auto-estima e res-gatou a sua identidade de pessoa e não apenas de mãe e esposa.

Revista do Consulado: Como você avaliaria a situação da família agora com a mulher cada vez mais no mercado de trabalho?

Berenice: Mudou a visão dos integrantes da família com rela-ção à figura feminina. Hoje vemos os(as) filhos(as) orgulhosos(as) de suas mães. “Minha mãe trabalha com isso, aquilo”, dizem aos(às) coleguinhas. Começaram a en-

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18 REVISTA DO INSTITUTO 19CONSULADO DA MULHER

P R A T I Q U E A I D É I A D A

CleuzaGomes

Recheio de trufa• 1kg de chocolate ao leite

• 1 xícara (chá) de cacau em pó

• 200ml de creme de leite caixa de UHT

• 1 colher (sobremesa) de manteiga sem sal

• 2 colheres (sopa) xarope de milho (glucose)• 1 colher (sobremesa) essência de amêndoa para chocolate

• 1 xícara de conhaque para perfumar

Modo de preparoDerreta o chocolate ao leite. Aque-ça separadamente: o creme de leite, a manteiga trufada, a essência e o conhaque. A glucose não precisa ser aquecida. Misture tudo manualmen-te. Leve para a geladeira por 3 horas. Retire e recheie o ovo.

Ovo

• 1kg de chocolate meio amargo

Derreta o chocolate, cuidando para não queimar. Pegue a metade do chocolate derretido e jogue na bancada, espalhe o chocolate com uma espátula, espere esfriar até atin-gir a temperatura de 27ºC.

Dica: coloque um pouco de chocolate na ponta da faca e veja se está endurecendo por igual e se a aparência está brilhante. Misture bem com a outra metade que ficou na vasilha. Numa forma própria para ovo de Páscoa, coloque uma camada de chocolate e leve para a geladeira por 2 minutos. O restante que ficou na vasilha, mexa sempre para não cristalizar. Retire a forma com a pri-meira camada da geladeira e passe a segunda camada de chocolate; repita a operação. Passe o recheio trufado e cubra com o chocolate, leve para a geladeira por 2 minutos e depois tire da forma.

A mulher é guerreira por natureza. Seu instinto propor-ciona grande capacidade de transformar a sua própria re-alidade e a de seu lar. Elas são verdadeiras multiplicadoras, mães, administradoras dentro e fora de casa, conciliadoras e, às vezes, até psicólogas da família. És uma maestrina.

Mulheres que abrem portas e alcançam o sol

Apesar de desempenhar inúmeros papéis ao longo da vida, o percurso do rio de sua luta nem sempre flui em seu favor, muitas vezes esquece-se de si. Doar-se é importan-te, mas é preciso também lembrar a cada momento que o maior amor da vida de uma mulher tem que ser o consigo mesma. Só com confiança se conquista sonhos e superam-se obstáculos, e todas as mu-lheres são capazes disso, fo-ram feitas para isso.

Por esse motivo, esta edi-ção da Revista do Consulado da Mulher parabeniza todas as mulheres por fazer história todos os dias, ultrapassando caminhos difíceis e tempesta-des até alcançar o verdadeiro brilho do sol.

palavras para a mulher transformadora,

devem ser sempre bonitas e agradáveis

Receita de massa para trufas e

ovos de Páscoa

cole

cion

e es

ta id

éia

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Ano IV Nº14 Março 2008

A Revista do Consulado da Mulher é uma publicação bimestral do Instituto do Consulado da Mulher.

Coordenação da Publicação Alexandra Ebert e Inês Meneguelli.

Conselho Editorial Alexandra Ebert, Célia Regina Lara, Christiano Basile, Dayla C. Souza, Guilherme Diefenthaeler, Iara Honorato, Juliana Souza, Leda Böger,

Lenira Vicari, Maria de Fátima Olberg, Mônica Souza, Paula Watson, Renata Watson e Sandra Pólo.

Fotos Marcelo Caetano (Joinville - SC); Gilberto Júnior (Rio Claro - SP);

Erick Pereira (Manaus - AM) Páginas coloridas: arquivo pessoal Berenice Dias

Textos Jornalista responsável: Alexandra Ebert (MTB: 42674)

Educadoras sociais: Iara Honorato, Lenira Vicari e Maria de Fátima Olberg Convidada: Juliana Duraes (voluntária de SP)

Estagiária: Mônica Souza Analista de Comunicação: Ailton Botelho

Projeto Gráfico, Diagramação e Ilustrações Traço Comunicação (www.watsons.com.br)

Projeto Editorial Alexandra Ebert

Tiragem 6.000 exemplares

Instituto Consulado da Mulher Núcleo São Paulo SP: (11) 3566-1665 • Unidade Rio Claro SP: (19) 3532-4446

• Unidade Joinville SC: (47) 3433-3773 • Unidade Manaus AM: (92) 3651-1556

www.consuladodamulher.org.br

Parceria