mestres da vida ... doadores da sabedoria

Upload: nana-damino

Post on 01-Nov-2015

46 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Livro de Contos narrados por idosos

TRANSCRIPT

MESTRES DA VIDA...

...DOADORES DA SABEDORIA

Dedicatria

Este livro dedicado a pessoas do bem... Alessandra Monteiro Duarte, minha terapeuta, por apresentar-me ao GAIA. Snia Maria Vicentini Fernandes, por abrir acolhedoramente as portas do GAIA para implantao de meu projeto voluntrio.Aos idosos, por me introduzirem afetuosamente em um universo admirvel, repleto de princpios e amor, guiando minhas reflexes alm das histrias.Ao meu filho e meu marido, por vibrarem com minhas descobertas e incentivarem meus planos, mesmo quando parecia que no seria possvel terminar. Deus, por me dar a doena como forma de valorizar a sade!

Nna Damino

MESTRES DA VIDA...

...DOADORES DA SABEDORIA.

(1 edio)2015

Histrias narradas por idosos, recontadas, recriadas, reescritas e organizadas por Nna Damino

Projeto Conta que eu Conto

Agradecimentos

Equipe dos bastidores e demais voluntrios do GAIACarlos Prudente Fotgrafo e Cinegrafista www.selvaemfoco.com.brFabrizio Bechelli AssessorAna Carolina Conrado DigitadoraJonas Ribeiro FotgrafoFamiliares do grupo de Idosos

APRESENTAO

O nmero de pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos cresce espantosamente no Brasil e o fenmeno envelhecer impressionante, pois a esperana de vida cada vez maior. Ser idoso no sinnimo de inservvel, incapaz, descartvel ou em desuso, mas sim o resultado do acmulo de experincias que, se soubermos aproveitar, certamente que aprenderemos grandes ensinamentos e teremos timas oportunidades com aqueles que considero os Mestres da Vida, doadores da sabedoria.Desde criana sempre tive afeio pelos idosos e percebi que ao longo de minha existncia, a afinidade e empatia com esses seres humanos maravilhosos crescia de forma natural e extremamente satisfatria. Ento, como um radar natural de idosos, comecei a notar o quanto tinha a aprender com eles se estivesse disponvel para ouvir e dar ateno, pois sentia que no precisavam de coisas materiais nem de ouvir histrias como as crianas, eles apenas desejavam ateno, respeito e valorizao.Como escritora de histrias infantis, comecei a olhar para esse universo e perceber o quanto nosso mundo precisa resgatar valores que ficaram no passado e nada melhor do que resgat-los em boas prosas com os idosos, fonte inesgotvel de inspirao para inumerveis contos infantis.Vivendo um momento pessoal conturbado, assim como presenciando a doena em idosos muito queridos, notei o quanto o fato de um idoso no ser ouvido nem valorizado me incomodavam. Tomava para mim o sofrimento que era deles, me indignava com a ateno e carinho no dispensados pelos familiares e ficava perplexa com a forma como a sociedade destratava alguns desses seres magnficos como algum que estivesse na fila de espera para a morte.Resolvi conversar comigo mesma e com Deus e numa caminhada em um lugar paradisaco, fui abenoada com a inspirao em elaborar um projeto onde pudesse coletar histrias de pessoas idosas, que tivessem experincia de vida, saudosismo, ensinamentos e todo contedo que nunca tiveram a oportunidade de contar.Foi assim que conheci o GAIA, instituio que acolhe, cuida, valoriza e trata os idosos como eles realmente merecem e precisam ser tratados: com dignidade e respeito.Minha convivncia com um grupo de mais de cento e cinquenta idosos, de vrias classes sociais e faixas etrias comeou a tomar conta de minha perspiccia e reflexo, tornando-se um combustvel na busca do conhecimento. A valorizao de suas histrias com o simples gesto de ouvir, acolher, valorizar e am-los como realmente so foi o maior presente que recebi em toda minha vida, pois ganhei vida, sorriso, vontade de viver mais e melhor, amor, carinho e uma bagagem intelectual jamais imaginada.A cada histria coletada, a sede na busca de maiores detalhes tomou conta de meus pensamentos, num mpeto de abraar tudo o que aparecesse, pois era um universo que nunca tinha visitado, oportunidade mpar e fonte de inspirao para contos infantis. Estava certa de que suas histrias seriam como sementes a germinar para que as futuras geraes transformem o mundo de amanh em algo mais justo e melhor, internalizando os valores e atitudes doados pelos idosos, alterando a vivncia do ser humano em nosso planeta.Assimilei entre lgrimas, risadas, empolgao e muita lio de vida que o tempo urge com necessidade de desmistificar os falsos parmetros sobre a velhice no Brasil. O quadro brasileiro vexatrio e o idoso precisa de um estatuto para conseguir viver com o mnimo de decncia, mas podemos e devemos sim, implementar no s aquilo que est escrito, nos relacionando em famlia ou em sociedade de forma positiva com os idosos, conhecendo melhor seus aspectos culturais, biolgicos, legais, sociais, econmicos e tnicos para repensar as atitudes e definitivamente fazer com que a populao brasileira mude sua postura junto a eles, valorizando e respeitando-os, reconhecendo suas potencialidades, criatividade e vigor de forma a favorecer sua incluso social, promovendo sua existncia de forma extremamente positiva.Idoso muito mais do que bagagem, experincia, sabedoria, precisam ser tratados com tolerncia, prudncia, pacincia e ateno. O bem-estar do idoso no s o conforto e cuidados com a sade, mas poder sentir-se valorizado quando tm a oportunidade de compartilhar experincias de vida e conhecimento adquirido ao longo dos anos. Ouvir uma forma de retribuir carinho queles que tanto devemos, pois realizaram o mundo e a humanidade.Um dia, todas as crianas, jovens e adultos sero idosos e se nos colocarmos desde j nesse papel, tratando-os como gostaramos de ser tratados em nossa velhice, certamente que a transformao j estar implementada desde ento, passando a ser um exerccio que ser incutido naturalmente.Espero que esta obra, atravs das vrias histrias coletadas e recontadas, auxilie o leitor a refletir, repensar, criar empatia e decididamente cumprir com sua obrigao junto a qualquer idoso com o qual se relacione, em qualquer ambiente e circunstncia. Anseio que o contedo coletado nesta obra seja precursor de novos comportamentos, atitudes, sentimentos e que atravs da valorizao pelo registro da memria do idosos, haja transmisso de conhecimentos e habilidades aos mais jovens, garantindo no s a identidade cultural, mas tambm sua continuidade, ressignificando o mundo de amanh, pelos ensinamentos dos Mestres da Vida.

SUPERAO OU MILAGRE?

Difcil explicar o porqu, mas assim como os gatos, ao longo dos anos de minha vida, percebi que tinha mais vida do que poderia imaginar. Lenda, pode ser, s a dos gatos, mas minha histria, acredito que esteja calcada na f e na esperana.Nascida em Dores do Turvo, interior de Minas Gerais, j cheguei ao mundo fraca e com um tumor no peito, do tamanho da palma da mo de minha me. No haviam mdicos naquela poca, nem tratamentos, s chs, emplastro e muita orao. Minha situao era morre ou no morre, ento chegou um curandeiro e disse: Levem essa menina para a cidade de Rio Doce. Procurem a dona Zinha que ela vai rasgar o tumor com o grampo de uma pituca (prendedor de coque em V, usado para torcer o coque).Minha me, cansada de sofrer, decidiu arriscar, mas antes de partir, meu av pegou uma formiga cabeuda e colocou no tumor do meu peito. A formiga me picou e o tumor sangrou. Ento, minha me resolveu descansar um pouco antes de me levar a Rio Doce e enquanto dormia, meu tumor vazou inteiro, deixando tudo em volta sujo.Sem saber o que fazer, mame seguiu a opinio popular e desistiu de me levar outra cidade: Lave a menina com gua e creolina. S assim conseguir limpar o que vazou do tumor!Sem pestanejar, mame rapidamente banhou-me com gua e creolina e eu, recm-nascida, mais do que rpido desmaiei.Minha av desesperada, pegou caf coado e colocou uma gota em minha boca para me reanimar, mas o caf estava muito quente e queimou meus lbios.Vendo que eu sobrevivi, levaram-me ao farmacutico, que receitou trs vidros de Emulso Scott (medicamento para desnutrio). Se eu tomei? No sei, mas o tumor estava curado!Com seis meses de vida, peguei Coqueluche e fui mais uma das raras sobreviventes da terrvel doena que assolava naquela poca.Aos dezoito anos, um tumor resolveu instalar-se em meu seio, o que afastou muita gente, por acreditarem que era cncer. Sozinha e com muita dor, me ensinaram a colocar emplastro e uma toalha de fralda por cima, para que o tumor no ficasse exposto. Pode imaginar?Num dia de muito frio, sentei-me no cho perto do fogo a lenha que aquecia a casa onde morava. Queria me esquentar e acabei cochilando no cho. Quando acordei, o tumor tinha estourado sozinho na toalha de fralda, vazando por todo lado. Minha me, assustada, me levou para fazer curativos na farmcia e como eu j era mocinha, morria de vergonha de mostrar meu seio ao farmacutico.Inacreditavelmente sobrevivi mais uma vez, porm, o estoque de vidas parecia ser grande e com vinte anos o tumor voltou, porm agora no outro seio. Esta foi a primeira vez em que fui a um mdico que resolveu fazer uma transfuso de sangue, alm de me aplicar um remdio no brao, que era misturado ao meu prprio sangue. Apesar da esquisitice, curou! Como uma verdadeira sobrevivente, consegui me casar aos vinte e trs anos. A festa na fazenda foi maravilhosa e acredito que comemoramos mais do que um casamento: celebramos a vida!Durante meu maravilhoso casamento, que j dura sessenta e dois anos, tive meus sete filhos, sendo que seis deles nasceram em casa pelas mos de uma parteira e o ltimo foi gerado atravessado na barriga, o que me levou a ter presso muito alta e ter que ser levada pela primeira vez em minha vida a um Hospital!Nossa, preciso tomar flego para continuar esta histria!Parto difcil, no haviam chances para mim nem para meu filho que teve que ser puxado a frceps. Minha presso subiu demais e a nica alternativa foi receber uma injeo direto no corao. Como se no bastasse e como se fosse mais uma tentativa de testar minha vontade de permanecer neste mundo, o parto ligeiro necessitou que virassem a cabea de meu filho enquanto ainda estava dentro do meu tero. Esse movimento me rasgou por dentro e a falta de recursos fez com que os mdicos me mandassem para casa, onde tive muita dor e febre.Novamente voltei ao hospital e meu filho teve que ser cuidado pela madrinha. A cirurgia no abdmen foi muito arriscada e quando terminou, os mdicos no sabiam se eu estava viva, ento, fizeram um teste riscando meu brao com uma caneta e viram que eu estava l, firme e forte.O leitor acha que agora tudo terminou? Claro que no, s gastei cinco vidas at agora!Aos sessenta e cinco anos precisei operar o esfago e trocar sua vlvula, mas, como sou eu quem conta esta histria, claro que superei mais uma. Ainda na mesma poca precisei operar a vescula.Ainda aos setenta e oito anos precisei fazer uma cirurgia do corao. Os mdicos contaram que durante cinco horas, ficaram com meu corao nas mos para limpar os cogulos. Apesar de ficar cinquenta e oito dias internada, nem mesmo dez cirurgias tiram minha vontade de viver, minha alegria, meu sorriso e minha f!Superao ou milagre?Prefiro crer que eu, assim como Nossa Senhora das Dores, padroeira que deu nome cidade em que nasci, tambm tenha vivido minhas dores, como ela viveu nos momentos da paixo de Cristo. Acredito que a confiana e a pacincia so como uma fora que no se prescreve, mas se adquire quando possumos uma f ativa e proveitosa, capaz de produzir esperana.

Sra. Annita Martins Cabral 85 anos

PROIBIDO BEIJAR!

Vou contar uma histria, difcil de acreditar,Nem mesmo eu sei, como pude me enganar.Era moa e desimpedida e s sabia respeitar,Meus pais me ensinaram, que era proibido beijar! Beijar s depois do casamento! Falava papai para me intimidar. Menina, v se te cuida e nunca h de beijar, seno vai engravidar! Ensinava mame para me amedrontar. Olha bem o que vai fazer e no adianta fazer s escondidas. Se um dia voc beijar, sua boca vai te entregar! Alertava vov, deixando claro que toda boca de moa fica diferente aps o primeiro beijo.Aos dezoito anos minha irm fui visitar e na frente de sua casa, os garotos estava a admirar.Eu contemplava, eles tambm,Apenas uma olhadinha, no fazia mal a ningum! Tomava cuidado, para no ficar mal falada,Moa que beijou antes de casamento, nenhum marido arranjava.Estava eu bem na porta e vi um moo bonito passar,Saindo do tiro de guerra, ele caminhou a me fitar.Veio em minha direo e meu corao comeou a disparar,Arrancou-me um beijo roubado, que eu correspondi sem pensar.Assim que ele foi embora, fui para dentro desesperada,Olhar meus lbios no espelho, esperando a transformao indesejada.Fiquei horas ali observando, cada pedacinho da boca,Esperando a mudana que vov dizia e que certamente no seria pouca.Depois de tanto tempo, nada aconteceu,Mas lembrando do que mame dizia, meu corpo estremeceu.Posso ter sido privilegiada e minha boca no ter sido alterada,Mas a barriga h de crescer e eu ficarei mal falada.Porque no pensei nisso tudo, na hora do beijo correspondido?Agora era tarde demais e meu mundo j estava perdido.Depois de dias em pranto, deduzi que tudo era mentira,Quanta lembrana saudosa, da melhor poca que j existira!

Sra. Antnia, dos Santos Oliveira 67 anos

TODA ME VACINADA!

Penso eu que criana tudo igual em qualquer poca! Passam-se os anos, tudo se moderniza, mas algumas coisas e determinadas atitudes continuam as mesmas, por anos e anos a fio.Em qualquer cidade, qualquer pas, qualquer escola, qualquer posto de sade e qualquer clima, nada muda se o assunto for Vacina!! Principalmente com a presena das apavorantes agulhas. Sim, elas, que apesar de minsculas, quase invisveis e imperceptveis, possuem uma fora que alaga rostos, cria asas nas pernas, rasga olhos arregalados e congela pequeninos corpos infantis. Muito mais poderosas do que muitos viles!L pelos meus dez anos, quando estudava no Colgio Nossa Senhora Aparecida, cheguei escola e percebi que era dia de tomar vacina. Olhei para aquelas meninas com a manga da blusa arregaada e bionicamente, conseguia enxergar, a qualquer ngulo e em qualquer distncia, o sanguinho saindo do furinho da vacina, que tinham tomado no brao. Aterrorizante!Como se meus olhos fossem responsveis pela velocidade de meus pensamentos e decises, rapidamente cheguei perto de uma das freiras, na hora do recreio e disse que minha me tinha pedido para que fosse embora naquele horrio, pois precisava ir ao mdico. Porque no avisou mais cedo? Perguntou a freira, achando tudo meio esquisito. porqu... eu esqueci!Ela me olhou desconfiada, mas, como sempre fui bem-comportada, deixou que sasse.Tratei de dar no p! Corri para casa sem olhar nem para os lados. S sei que fui!Chegando em casa esbaforida, minha me me olhou assustada. Porque est chegando da escola a essa hora? No estou me sentindo bem me, por isso pedi para sair mais cedo.Apesar de ser comportada, me me e no se engana facilmente! Ela, claro, no engoliu minha histria e me interrogou tanto, que mais parecia uma tortura. Acabei contando sobre o episdio da vacina.Rpida como um leopardo, no teve dvidas, sem piscar e nem dar uma palavra, pegou minha mo e me levou de volta para o colgio. Caminhava to rpido, que um passo dela eram trs dos meus. No andava, voava! Acho que de tanta raiva!No caminho de volta escola, a uma certa altura, avistei a moa da vacina, mas, desta vez, o pensamento foi mais rpido do que meus olhos e no titubeei, passei direto por ela, tranquilamente de mos dadas com minha me, pois sabia que aquela torturadora de criancinhas no me conhecia, pois no me deixei ser vista por ela na escola! Aliviada por ter me livrado da vacina, puerilmente olhei para mame e ainda tentando sair por cima da situao, acrescentei. No adianta mais me levar ao colgio me, pois o horrio da vacinao j terminou!Decidida e tipicamente me vacinada, ignorou meu comentrio e me levou de volta ao colgio mesmo assim. Com ar de satisfao, entregou-me Madre Superiora, que discorreu um rosrio inteirinho em cima de mim. Mas, como bronca no di como furinho de vacina, melhor ter terminado assim.Vitoriosa de minha travessura, esqueci o assunto e continuei minha costumeira rotina. Como fazia um curso de alemo no prprio colgio, s que no perodo vespertino, fui inocentemente para a aula naquela tarde, mas, qual no foi minha surpresa ao deparar-me com a torturadora moa da vacina e suas horripilantes agulhas! Sim, elas estavam l naquele fatdico dia, escolhido pela Madre Superiora para a vacinao das crianas do perodo da tarde! Caminhando leve como uma bailarina, uma freira com um sorrisinho de canto de lbio foi me buscar no meio da aula de alemo.Ainda querem saber, como terminou essa histria?

Sra. Bertha Gomes Ribeiro 76 anos

O BARQUINHO DE SIMO[footnoteRef:1] [1: Autor desconhecido ]

Um dia li uma histria que assim como me lembro, gostaria de compartilhar....O pequeno barquinho de Simo, remando mundo afora sem parar, quantos foram os que tentavam em vo, o seu bem tosco barquinho afundar.Ele vai navegando em mar sereno, outras vezes em mar bravo e por ser to frgil e pequeno, s remar era seu grande desafio.Mas vai seguindo sempre calmo, manso e altaneiro, sem nunca olhar para trs, remando pelo grande mar remanso, seja em tempo de guerra ou de paz.E segue lado a lado de navios de grande, mdio ou de pequeno porte, mas enfrenta todos os desafios sem temer o furor do vento forte.Depara com grandes barcos pesqueiros e tambm com navios de turistas, passa perto de grandes petroleiros que vo pelo mundo, a perder de vista.Enfrentando os navios poderosos, segue em frente o barquinho de Simo, remando pelos mares tenebrosos, com Francisco e Jesus na direo.

Agora que leu toda histria, sobre si e sua vida, gostaria que ficasse a pensar!Sra. Ccera Maria do Amaral 63 anos

RECEITA DE VIDA

Tenho uma receita, que leva anos para elaborar, mas com f e confiana, ao final h de valorizar.

INGREDIENTES:

Ter nascido colono em uma fazendaViver do trabalho braal na lavouraPescar lambarizinhos com peneiras, em guas cristalinasUm pai trabalhador acidentado sob uma toraUm milagre salvando a vida de meu paiPossuir muitos irmosBrincar de escorregar na barranca, em folhas de bananeirasUma vida de muitas dificuldadesSobreviver graas a ajuda de amigos colonosApartar as vacas junto com minha irmMesmo aps tanto sofrimento, conseguir ter seu prprio sitioSaborear frutas colhidas do pA luta para ser algumTentar a vida em So PauloEnfrentar muitas dificuldadesAinda assim, sentir saudades da roaEstudar quatro anos em uma escola de tbuasLembrar de quando pulava de pedra em pedra l na FazendaAlmejar em concluir o ginsioPersistir, sonhar e acreditarArrumar um emprego de domsticaSentir o cheiro dos gravetos de lenha que colhia no stioIr e voltar a p do trabalho para poder comprar livrosConseguir concluir o ginsio graas a meu esforoProgredir de emprego, iniciando novo ciclo de vida profissionalAproveitar todas as oportunidades de uma vidaTer f e Deus ao meu lado me conduzindoMarejar os olhos de saudades ao lembrar de quando enchia barris de guaCasar e ter uma famlia maravilhosaMe aposentar em uma grande empresaPoder ser abenoada por minhas memriasTer a oportunidade de compartilhar minha histria.

Siga cada passo em sua ordem. Feche os olhos e tente se imaginar em meu lugar. Sinta cada momento como se fosse seu. Coloque objetivos, esperana e fora de vontade em seu corao. Persiga meus caminhos sem esmorecer.Aguarde uns minutos para refletir.Agora olhe para sua prpria vida hoje. Feche os olhos e tente imaginar se ela poderia ser melhor. Pondere o que falta para chegar onde deseja. Coloque objetivos, esperana e fora de vontade em seu corao. Persiga seus caminhos sem esmorecer. Tenha Deus como seu guia e prossiga, que assim como eu, voc h de vencer!

Sra. Darcy Gorete Caixeta Ferreira 61 anos

INFNCIA DE VERDADE

Quando nasci no ano de um mil, novecentos e quarenta e seis, Capinpolis, cidade da zona rural do tringulo mineiro, ainda era um povoado, que um dia tambm foi chamado de Distrito Arraial do Capim, devido a uma coroa de capim Jaragu existente no local. Esse capim era proveniente da regio e servia para a alimentao dos animais, por isso, aproveitaram para dar nome cidade, que um dia j foi habitada por ndios caiaps, teve vrios achados de vestgios de civilizaes antigas pr-histricas e tambm abrigou um quilombo da poca da escravido.Em sua terra frtil, raramente se passava fome e quem no podia comprar uma terra, assim como meus pais, arrendavam em sociedade com os donos da poca, e ramos chamados de meeiros.Lembrar da minha maravilhosa infncia magnfico, pois grande parte vivi l, correndo pelos campos, comendo frutas do p e colhendo verduras e legumes na horta, perto da bica que fazia o monjolo funcionar, dentro do meu quintal! Na parte da frente da antiga e gigante casa onde morava, havia um pasto, que era mais alto do que o terreno da casa. Abaixo do pasto havia um arrozal e na poca de colheita, tiravam toda palha do arroz batendo seus cachos, o que resultava numa montanha de palhas onde eu e minha irm caamos de cima do pasto. Um macio e aconchegante mergulho seco! Era muito bom!Nossos brinquedos eram sempre os mesmos, no importa qual idade tnhamos e eram feitos por meu irmo, usando frutas verdes como mangas, bananas e laranjas. O nico brinquedo que no era feito com frutas eram as bonecas, algumas vezes feitas de pano e outras muitas com espiga de milho.Eletrnicos, playground, animais domsticos, frutas compradas na feira ou no supermercado, TV, brincar dentro de casa, no comer verduras e legumes? No, nada disso existia, era a vida com seu real significado, infncia de verdade, singela, pura, colorida, divertida e que certamente permitiu registrar em minhas memrias, acmulos de momentos felizes que os jovens de hoje no vivero jamais!

Sra. Diva Imdia Dutra - 67 anos

DIVINA VIDA

O olhar para o jovem de hoje enche meu peito de saudade da mocidade dos velhos tempos. Tempo em que as atitudes e as oportunidades eram muito diferentes e os jovens mais respeitadores do outro e de si mesmos.Acredito que criamos e buscamos nossas prprias oportunidades e o respeito fruto do amor incondicional recproco.Ainda mocinha, trabalhava em uma casa de famlia e dormia em meu emprego. Para minha sorte, tive patres maravilhosos que foram muito bons comigo e certamente minha gratido foi presente por tanto apreo.Minha profisso dos velhos tempos aos poucos foi tomando outra forma, onde alguns servios foram substitudos por mquinas, o quarto de dormir das criadas virou lugar de despejo e at lei existe para proteger aquelas que se dedicam aos cuidados de uma famlia. No h comparao!Lembro-me alegremente de deliciosos momentos em que viajava com meus patres. Nova York? Itlia? Disney? No! Passeava em Poos de Caldas. Nossa, sentia-me privilegiada em minha posio, principalmente em poder usufruir de guas raras, sulfurosas e termais que curavam muita gente. Muitos famosos seguiam at l e a cidade tambm foi palco de muita lua de mel. Eu achava um luxo, principalmente por ser a era e o local de grandes cassinos.Poos, apesar de muito valor para a sade foi dando espao a novos destinos, mais materialistas, menos saudosistas e com deslumbres pirotcnicos. Nada como antigamente, onde a magia estava na natureza e no no consumismo. O surgimento dos antibiticos na dcada de quarenta deixou a eficcia do termalismo para trs e hoje Poos, j no brilha mais.Namorar naquela poca? Eu? Claro que namorei! Apesar de muito pouco, o namoro moda antiga tinha alguns palcos: o banco da praa, o sof de casa e o parapeito da janela! Atualmente pode ser visto como sem sal, mas s quem passou por isso sabe que no h momento igual!Namorava pela janela com economia de palavras, trocadas pelo calor do romantismo. O sentimento era to verdadeiro e a empolgao era to mgica que nos amassvamos pelo olhar e nos entregvamos pelo sorriso. A cumplicidade era embrulhada em bilhetes e os beijos e abraos eram tomados como num assalto. Claro que ns mulheres dizamos ter sido extorso! O amor de ontem traduzido em Contos de Fadas, em serenatas e no flerte e o de hoje, em teclas e teclados. J no existem contos e muito menos fadas e a afeio no se oferece de mos dadas. por isso que me orgulho de minha histria, que assim como meu nome, divina!

Sra. Divina Emdio de Oliveira 76 anos

FRUTO PROIBIDO

A ma uma rvore cultivada h milhares de anos pelo homem e sua plantao se alastrou por todo o mundo. Sendo uma das frutas mais vendidas e fceis de se encontrar, com certeza a mais acessvel para se comer, certo?Teoricamente sim, mas minha primeira experincia com ma aos oito anos de idade mostrou o contrrio. Senti amargamente tratar-se de um fruto realmente proibido, pelo menos para mim naquela poca.Mame trabalhava em uma casa de famlia e era responsvel por todo tipo de servio da casa. De vez em quando me levava ao seu trabalho e alm de lhe fazer companhia, tambm aproveitava para apreciar tudo o que eu no podia ter.Naquela poca era muito difcil ver e comprar uma ma, mas na casa que minha me trabalhava elas ficavam sobrepostas em uma fruteira, lindas e pareciam me hipnotizar. Vagamente me recordo em ter engraxado os sapatos do patro de mame em um dia que fui com ela ao trabalho e como forma de gratido, ganhei uma ma vermelha, linda, mas muito linda mesmo. Filha, vai embora para casa porque eu vou demorar hoje me avisou mame.Como morvamos perto, peguei aquela ma e fui para casa segurando ela nas mos, sem tirar os olhos. Estava louca para comer aquele fruto, naquele momento no mais proibido, mas como tinha mais dois irmos, decidi que dividiria com eles assim que chegasse em casa.Pelo caminho precisava passar sobre uma ponte que ficava em cima de um pequeno crrego. Sem saber o que me aconteceu, acredito que tropecei e vi que a ma cara dentro do riozinho. Sentei na ponte, com as pernas penduradas e chorei copiosamente, pois nunca havia ganho nem comido uma ma em toda minha vida.Fiquei um bom tempo ali sentada, s olhando a fruta afundar e chorando sem parar um minuto sequer. Uma vizinha da minha famlia passava pela ponte e me viu sentada.Porque voc est chorando Edna? Olha l minha ma! Edna, no d para voc pegar essa ma pois este um crrego de esgoto.Fui embora para casa soluando, muito triste mesmo. No dia seguinte voltei ponte, sentei e vi que a ma estava no mesmo lugar. Me questionava: porque no peguei ela? A ma continuava no crrego e ningum mexeu!Embora a vontade fosse maior do que a coragem, entendi que no deveria peg-la e o fruto tornou-se para mim novamente proibido.Para muitos, uma simples fruta, mas essa situao marcou muito minha vida. Circunstncia triste e reflexiva que ficou guardada na memria por quase sessenta anos, tamanho desejo tinha em comer uma singela ma naquela poca. Para alguns um fruto to barato, mas que me custou muitas lgrimas e tambm a lembrana de um desejo no alcanado. Seguramente que ningum sentir o sabor da ma como sinto hoje, na certeza de que o valor que se d s coisas depende no s do tipo de vida que tivemos, mas do foco que damos para aquilo que julgamos valoroso, que levar aos diferentes significados para a coisas da vida.

Sra. Edina Alves de Souza 68 anos

QUARTETO DE VNUS

H quem diga que a adolescncia um perodo traumtico, principalmente para pessoas de descendncia humilde, mas, que assim como eu, considerava traumtico no ter determinao e no se permitir acreditar ser possvel realizar os mais imaginrios e incrveis sonhos! Por volta dos anos sessenta houve a exploso do rock and roll e com esse maravilhoso movimento nascia um rei: Elvis Presley, o famoso cantor que danava de forma extravagante e ousada, deixando qualquer adolescente como eu hipnotizada e como milhares de jovens, totalmente influenciada positivamente pela febre do rock. Lembro-me que naquela poca, junto com meus irmos e uma turma de amigos, fazamos parte de umas reunies que aconteciam a maioria dos sbados e que chamvamos de Os embalos de sbado noite. Que saudosa oportunidade para, alm de contar piadas e dar muitas risadas, danar livremente e tambm paquerar pela troca de olhares aqueles garotos que chamvamos de po! Antes de cada baile, treinava danar rock durante toda semana com meu irmo pois queramos dar um show no sbado. Essa febre do rock com as msicas incrveis de Elvis foram tomando conta da minha vida e da vida de mais trs amigas e quando menos espervamos, j estvamos brincando de cantar e formamos o grupo Quarteto de Vnus, em homenagem ao planeta, mas onde os verdadeiros astros ramos ns e a magia era viver intensamente, como se estivssemos em outro mundo.Cantvamos as msicas de sucesso daquela poca e dentre elas, a que mais me lembro era Diana, de Carlos Gonzaga.

No te esqueas, meu amor Que quem mais te amou fui eu Sempre foi o teu calor Que minha alma aqueceuE num sonho para dois Viveremos a cantar A Can-tar o amor, DianaNos teus braos sem querer Quase sempre vou parar No consigo te esquecer Oh! Diana vem sonhar E eu te quero, meu amorVem trazer-me o teu calor Vem vi-ver pra mim, Diana Vem querida, minha vida

Vem depressa eu, e eu te espero E eu te quero com paixo

Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!Only you pode fazer-me feliz Only you tudo aquilo que eu quis Para mim tu s a felicidade E sem ti eu morrer de saudade Vem amor, oh! Oh! Vem amorPor favor, oh! Oh! Vem pra mim Vem vi-ver pra mim, Diana Pra mim, Diana Pra mim, Diana.

Ah, como cantvamos essa msica, quanta saudade dos bons e melhores tempos de uma vida. Mas, muitos outros bons momentos vieram e se Elvis, que cresceu em meio a destroos de um furaco e mesmo tendo sido lanterninha de cinema e motorista de caminho, conseguiu se tornar o prprio furaco do rock, porque ns, do Quarteto de Vnus no poderamos cantar no Programa de Calouros mais prestigiado pela juventude da poca, no Teatro Paulo Eir?Teatro lotado, apesar da vergonha, eu era a voz principal. L fomos ns participar do programa com a adrenalina tpica da juventude mais feliz que j existiu. Comeamos a cantar e quando olho para as pessoas sentadas na primeira fila, l estava um rapaz que me paquerava. Ele ficava de p cantando e puxava as palmas com todo entusiasmo. Nossa, que sensao inesquecvel. A carreira de cantora no foi adiante, mas o namoro sim! Casamos em maio do ano de um mil, novecentos e sessenta e cinco, e eu me senti a prpria Diana da msica que muitas vezes cantei. No me tornei nenhuma sensao como Elvis, mas vivi intensamente, saboreando momentos mgicos e memorveis que mesmo com o avanar da idade, felizmente no esquecerei jamais.

Sra. Edmia Mariano de Arajo 68 anos

ERA UMA VEZ...

Era uma vez Jos e Maria, um casal apaixonado que viveu h muitos anos no Reino de So Paulo. H cinquenta e trs anos atrs tiveram uma linda menininha, a quem deram o nome de Elza, nascida ainda numa poca onde a Rainha Maldade quase no imperava.Elza foi uma criana muito feliz e teve o privilgio em poder brincar muito com seus cinco irmozinhos. Jos sempre foi um pai extremamente presente e carinhoso, conduta rara em cavalheiros daquela poca, em que pese no dispensar que seus filhos respeitassem as pessoas, assim como exigia que pedissem a beno aos mais velhos, beijando-os na mo.E assim Elza degustou sua infncia e juventude, at seus vinte e oito anos, sem grandes dissabores.Um dia a linda Elza encontrou seu Prncipe Encantado, com quem se casou algum tempo depois e como sempre foi moa afetuosa, decidiu morar prximo de Jos e Maria para que pudesse v-los constantemente.Elza era muito dedicada no s ao matrimnio, mas tambm famlia e ao trabalho e graas aos exemplos amorosos que recebeu durante sua criao, no dispensava visitar os pais todos os dias, logo que retornava para casa.Certa vez Elza no pde visit-los e necessitou ir para casa. Exausta, cuidou de suas obrigaes caseiras e se recolheu a seus aposentos. Logo aps deitar-se, eis que uma de suas irms bate porta de sua casa. Elza colocou rpido suas vestes e no esperava que a irm lhe anunciasse a morte do pai.A jovem ficou desolada e apesar de lamentar no o ter visto naquele dia, entendeu que sua vida deveria prosseguir, apesar de sua dor, da saudade e de calorosas lembranas.E a vida assim prosseguiu no Reino de So Paulo ...Acreditando que seu padecimento havia findado, Elza trilhava seu novo destino quando de repente se deparou com um terrvel vilo, que invadiu a vida de seu amado, maltratando-o sem compaixo. Ele era mau, impiedoso e golpeou fortemente a garganta de seu Prncipe, agoniando a vida do casal por interminveis meses.O excomungado era e continua sendo o nefasto mais temido de todos os tempos. Seu nome? Cncer!Ah, que rdua batalha para nossa herona. Sim, herona pois apesar de muito sofrimento em ver a degradao de seu amado, Elza ainda travou duelo com uma srdida cirurgia de corao!Mas, o leitor deve estar se perguntando: e o Prncipe? Quem zelou por ele enquanto sua amada adoeceu?E a valente Elza? Quem dedicou cuidados consorte do casal sem filhos?Apesar de viverem em um contemporneo Reino, nele ainda habitavam fadas e duendes, que atendiam pelo chamado de cunhado, cunhada, me e irms. Sim, as fantsticas criaturas do bem davam conta de tudo e de todos, enquanto o casal lutava por recuperar a sade, cada um separado em seu leito.Aos poucos e graas ajuda das fadas, Elza se recuperou, mas seu Prncipe, mesmo com o auxlio do duende, no suportou a atrocidade do abominvel rei das trevas. Corajosa, a herona no se deixou abater, pois compreendeu que sua solido era prefervel a tanto sofrimento experimentado at ento por seu adorado.Vinte e dois bem-aventurados anos foi o tempo que Elza conviveu ao lado de seu companheiro e conseguiu seguir adiante, graas a amigos sinceros que o Rei Deus colocou em sua vida.A popular ancestral Tristeza jamais conseguiu se apoderar da moa que sempre se alimentou de clices de Esperana para abrandar a solido e a dor em seu corao.E a vida mais uma vez prosseguiu no Reino de So Paulo...Mas nossa narrativa desta fez continuou diferente. Elza foi agraciada com a companhia de uma sobrinha e seus quadrigmeos, a quem dedica cuidados e preenche sua vida de alegria. Atualmente uma anci, a experiente Elza convicta de que o Rei Deus sempre recompensa aquele que no lamenta e como forma de gratido, distribui sorrisos todos os dias.

Sra. Elza Aparecida do Nascimento Gonalves 53 anos

BRINCANDO DE BONECA

Papai era agricultor e vivamos daquilo que plantvamos e colhamos. Para me alegrar numa infncia escassa, mas feliz, minha av me fazia um dos brinquedos mais antigos e populares do mundo, a boneca de pano. Ela tinha o rosto achatado, era simples e rudimentar, feita com retalhos de pano das sobras das costuras de minha me. Apesar da simplicidade, toda boneca de pano tinha seu charme e delicadeza, deixando a infncia de muitas meninas muito mais agradvel, pois eram nossas companheiras, amigas e confidentes e nunca saiam de perto de ns, principalmente na hora de dormir.Minha boneca de pano era como uma filha, mas vou te contar meu grande sonho, cheia de lembranas e com muita rima.Queria ter uma boneca de papelo, at que o meu sonho realizei, sonho esse que se desmanchou depressa quando minha boneca banhei! Chorei, chorei e chorei, pois sabia que no poderia ganhar outra, ento, o que me restaria seno, brincar com minha boneca de pano velha e rota.Mas como toda criana tem muita imaginao, me contentei com aquela que preencheu o vazio do meu corao. Brinquei com uma bruxinha de pano e cabelo de milho em quem fazia penteados cheios de glamour e muito brilho.A brincadeira acabou aos meus quinze anos quando me casei jovem e inocente. Aos dezesseis ganhei minha primeira boneca de carne e osso, de quem pude ser me, mesmo sem ser experiente!Quanta lembrana gostosa de tempos que no voltam jamais e de brincadeiras saudosas que hoje no se brinca mais.

Sra. Eva da Silva Carvalho 79 anos

CRIANDO OPORTUNIDADES

Logo ao nascer meu tio me apelidou de Quita e a partir da ningum sabia meu nome. Confesso que particularmente no gostava de ser chamada assim, pois todos que conhecia eram chamados pelo nome e somente eu era pelo apelido. Apesar de acostumada, esperava ansiosa por uma oportunidade de reverter a situao.Do primeiro ao quarto ano estudei no Grupo Escolar e adorava ir bem cedo para chegar com tempo de jogar queimada antes do incio da aula. Mame queria que eu chegasse na hora de comear a aula, ento, atrasava o relgio de casa, assim pensava que estava saindo mais cedo e chegaria na hora que ela queria. Levei um tempo para perceber a enganao, mas assim que notei ter algo errado, aprendi a ver a hora rapidinho, mesmo naquele despertador com algarismos romanos. Relgio digital? Isso no existia!Para entrar no ginsio naquela poca era preciso fazer o exame de admisso, ento, no quarto ano do primrio fiz um curso particular de preparao, pois passar vexame e no conseguir entrar no ginsio da escola pblica, ganhava o castigo estudar na escola particular. Tudo to diferente de hoje em dia!Desde pequena fui muito independente e ao passar no exame de admisso, no aceitei que meu pai fizesse minha matrcula, providenciei todos os papis e me matriculei sozinha. Um grande feito para uma mocinha de antigamente! Sempre fui boa aluna e quando estava no primeiro ano do ginsio, meu irmo Luiz Carlos nasceu e ao invs de estudar, ficava cuidando dele como se fosse meu melhor brinquedo, ento, acabei sendo reprovada em latim.[footnoteRef:2] [2: Latim: lngua adotada antigamente pela Igreja Catlica como oficial. Deu origem ao portugus, espanhol, italiano e francs. Considerada lngua morta atualmente]

Lembro que meu professor de latim era um ex - seminarista e se realizava em dar nota zero aos alunos. Toda vez que algum tirava zero, ele escrevia Z E R O ocupando a folha de papel almao inteira. Era um choque!!!A partir da, apesar de ter sido reprovada com mais da metade dos meus amigos, me dediquei mais aos estudos e como no gostava de ficar desocupada, aproveitei todas as oportunidades para estudar.E por falar em oportunidade, aos dezesseis anos minha famlia mudou-se para Presidente Prudente e assim que cheguei por l, a primeira deciso que tomei foi me apresentar a todos que conhecia como Luiza, restringindo o apelido apenas aos que j estavam habituados.Depois do curso normal, cursei o cientfico e a faculdade de geografia e durante o terceiro ano fui aprovada em um concurso para trabalhar no SESI, porm, antes de iniciar o trabalho era preciso realizar um curso em So Paulo. Chegando na terra da garoa, precisei morar na casa de minha tia, no bairro do Tucuruvi e entre festas, amigos e muitas recordaes, conheci Jos Lus e os detalhes de nossa histria podem ser admirados no conto UM ENCONTRO COMPLICADO, tambm narrada neste livro.

Sra. Francisca Luiza Gimenez Cardieri 66 anos

IMENSO CORAO

Filha do brasileiro Sebastio e da Italiana Santina, nasci em Poos de Caldas, onde vivi meus primeiros cinco anos de vida. Meu pai, senhor severo como nos tempos antigos, andava com uma fina varinha nas mos que por algumas vezes serviu para dar-me umas varadas, tamanha insistncia em acompanha-lo para dar aulas de alfabetizao s crianas da fazenda onde trabalhava. Para mim, alm de uma grande brincadeira, tambm era uma doce curiosidade.Apesar de severo, dentro dele, assim como de todos os homens, havia um grande corao, este que me presenteou com uma to sonhada e enorme boneca. Um boneco! Ah, que breve deleite! Desejava cuidar de minha boneca como se fosse minha filha e com todo amor e carinho, resolvi banh-la para ficar limpinha. Quanta desiluso ao descobrir que a boneca era de [footnoteRef:3]papelo. Muitas bonecas naquela poca eram feitas assim, mas meu imenso corao era maior do que minha grande ingenuidade! [3: Algumas bonecas nos anos quarenta eram importadas e feitas de pasta de papel marche. No podiam ser molhadas, pois se desfaziam. ]

Sra. Gersi Sales Giubilato 74 anos

VER OU ENXERGAR

Me vejo h quase cinquenta anos atrs, aos oito anos de idade, sentada no colo de minha me, esta que por muitas vezes levou-me a um dos nicos recursos de socorro sade que tnhamos naquela poca: a farmcia. Sinto o calor de meu corpo arder em febre como se fosse hoje, acometida por um forte sarampo, responsvel por deixar complicaes em minhas crneas.Existem momentos marcantes em nossas vidas que nos possibilitam registrar memrias do passado que podem ser vistos como repletos de barreiras, ou enxergados como fartos de estmulos, tudo depende da maneira como enfrentamos os fatos!Ainda muito menina, tive grandes dificuldades de viso, o que atrapalhou substancialmente meus estudos e minhas atividades. Mesmo assim nunca temi enxergar e encarar o por vir e comecei a aprender os afazeres domsticos com minha saudosa av.Apesar das dificuldades, consegui concluir at terceiro ano superior, o que me preencheu de maturidade pessoal, profissional e saber humanitrio. Convicta de que meus outros sentidos eram possveis de suportar aquele que me faltava, fui adiante, saboreando os estudos, o trabalho e o lazer com o objetivo de me tornar uma pessoa forte, pois desta forma, minha luta jamais seria em vo. Enxergando cada dificuldade como um desafio e jamais vendo-os como um obstculo, fui capaz de vislumbrar mentalmente que minha vida futura me traria a satisfao do dever cumprido, e assim ele se fez, certa de que com o passar dos anos no me permiti ouvir a voz do desnimo, mas sim apalpei e agarrei a luta da vida, com mos de uma gigante!Mesmo sem poder ver direito, persegui intuitivamente o perfume de meus sonhos, graas s atitudes e determinao para a superao, que nunca acomodaram minha limitao fsica, sobre os ombros de duas pequenas crneas.Termino minha histria agradecendo por ter sabido aproveitar cada sentido das oportunidades que se fizeram presentes na vida, certa de que o proveito, depende exclusivamente da coragem presente em cada um de ns!

Sra. Graa Maria Lopes de Almeida 55 anos

PASSOS LENTOS

Passos lentos, cabelos brancos,Um currculo no passado,Que nenhum jovem tem.

Alegrias e tristezas,Saudades sem fim!

Saudades da juventude,Que no volta jamais!

Coisas que deixei de fazer,Pois no tinha tempo!No tempo, passei a correr!

Passos lentos, cabelos brancos,Passa o tempo...Tudo passa!

S no passa a vontade,De viver.

Sra. Helena dos Santos Tofino 67 anos

CHICA TATU!

Conhece Cana do Reino? Aposto que est pensando em caldo de cana e tudo o que ela tem de saboroso, mas, sou obrigada a mexer seu caldo com uma bengala!Como assim? O que a Cana do Reino tem a ver com bengala? Do ponto de vista da botnica, tudo a ver, pois contm silcio, uma substncia usada na fabricao de bengalas resistentes. Muito teis para pessoas da minha idade, mas, do ponto de vista geogrfico, nada a ver.Isso mesmo, Cana do Reino era o nome da cidade onde eu morava quando criana, que no ano de um mil, novecentos e sessenta e dois, passou a se chamar Carvalhpolis, l na saudosa Minas Gerais. Uma cidadezinha com vielas, parques e montanhas, cheia de causos e curiosidades.Acredite, lembro de um acontecimento inesquecvel de quando era bem pequena, mais ou menos uns trs anos de idade. Como dizia minha me: criana s lembra do que acha graa!Eu e minha irm mais velha Maria Fia, junto com as minhas tias Laura e Zina, que apesar de minhas tias, tinham quase a mesma idade, adorvamos aborrecer uma senhora, cujo apelido, sei l o porqu, era Chica Tatu!Toda vez que vamos a senhorinha, bem velhinha, andando devagarzinho com sua bengala perto de minha casa, mais do que rpido, ns quatro gritvamos em coro, sem a menor cerimnia: Chica Tatu! Bem alto!E isso aconteceu vrias e vrias e vrias vezes.L vinha ela de novo, devagarzinho, tpico de uma idosa bem velhinha, com seus sapatinhos.Toc, toc, toc.E ns quatro, mais do que rpido e sem precisar de ensaio, gritamos mais uma vez. Chica Tatu!A senhorinha, desta vez no deixou de graa. Muito brava, com o rosto todo vermelho, colocou a bengala de baixo do brao, acelerou o passo e marchou em direo minha casa, berrando: Chica tatu o seu ...!! No posso dizer o palavro, mas ela disse e bem alto!Corremos para dentro de casa e no sei como, ns quatro conseguimos nos enfiar debaixo de uma cama de solteiro, tamanho medo que ficamos da mulher. Mas, como para criana tudo graa, depois que o corao desacelerou, samos de baixo da cama e caminhamos p ante p at a rua. L longe estava ela, toda faceira, desfilando calmamente na viela, com pose de vencedora.Olhamos uma para a outra dando risada, medimos seguramente a distncia que nos separava dela e corajosamente uivamos em coro: Chica Tatuuuuuuuuuuuuuuu! Chica virou, mirou a bengala como se fosse uma flecha e atirou, tentando nos acertar, mas o cajado espatifou no cho.Ser que foi a partir da que comearam a fazer bengala de Cana do Reino?

Sra. Honria Caixeta de Lima 73 anos

CMERA? AO!

Viver como um filme de vrios gneros, hora drama, alguns instantes de romance, tantos outros de pura aventura, guerra, outras cenas de terror e vrias de suspense. Claro que no h como categorizar a vida, sendo ela, em qualquer idade, poca, Pas, raa ou condio social, uma miscelnea de cenas reais que nos remetem a protagonizar com versatilidade e maestria dos grandes e talentosos atores de cinema.Posso dizer que durante sessenta e oito filmes j experimentei muitas cenas de diversos estilos, cada uma se sobrepondo s outras e tornando-me experiente para tantas que vieram e ainda esto por vir.O documentrio da vida de uma pessoa comum como eu no tem subjetividade e retrata a veracidade de uma moa simples, cuja me era dona de casa e o pai um motorista de caminho. Como todo bom brasileiro, fizeram muito sacrifcio para proporcionar bons estudos aos filhos, vivendo sem dvida muitas cenas de aventura para conseguir oferecer-nos a suposta fico do estudo em uma escola particular de bom nvel.Diariamente vivamos cenas de muita ao, onde o dilogo entre os personagens principais de minha vida, meu pai e minha me, eram ocos e cheios de brecha, que podiam ser entendidos simplesmente pelos gestos corporais repletos de severidade e escassez de palavras.Dilogos curtos como: Voc tem que obedecer, e pronto! Era o pouco que ecoava entre ns, propiciando cenas de suspense onde predominava o sentimento de constante apreenso. Mas, como em todo bom filme, os cenrios mudam drasticamente, mesmo com a forte personalidade dos personagens, podendo surgir cenas de grata fantasia, onde h momentos atrs vivenciava-se a obscuridade do futuro. Assim, de cena em cena, pude formar-me professora, o que para uma famlia como a minha, por muitas vezes parecia apenas uma fico especulativa, que no s pelo esforo de meus pais, mas tambm pela interveno dos personagens do mundo fantstico, foi possvel transformar sonhos em realidade.A maioria de minhas cenas resumia-se entre minha casa e a escola onde lecionava, mas, como um bom longa metragem, a mocinha precisa viver boas cenas de romance para empolgar a histria e entre um dilogo de fofoca, inesperadamente conheci aquele personagem que at ento no aparecia em cena e que mais tarde, tornou-se meu marido. Como muitos romances dramticos, o envolvimento amoroso dos protagonistas no resultou em cenas de pura felicidade, pois o mocinho tinha uma personalidade marcada pela autoridade e falta de dilogo. O desenrolar do filme mostrou episdios onde tudo sucedeu como ele queria, alimentando minha esperana que o porvir traria momentos de transformaes positiva, mas, lembrei-me muitas vezes que no era um filme, mas a vida real.Infelizmente por muitas vezes conseguimos protagonizar mais de vinte dias abrindo mo dos dilogos e investindo exclusivamente na fora da imagem corporal. Apesar do desgaste, outros personagens surgiram ao longo desse filme, na esperana de conseguir mant-lo ainda nas bilheterias.O filho Beto foi o primeiro personagem, que roubou a cena da professora que abandonou erroneamente o emprego e passou a dedicar-se exclusivamente para a casa e o filho. Quanto arrependimento em ter protagonizado a cena onde meu marido me convenceu a abandonar o emprego! Mas, o que se h de fazer seno seguir o roteiro escrito pelo Diretor Divino! preciso ser profissional!Numa torrente desencadeada pela aventura frentica do protagonizar a me, surge Alec, o segundo filho de uma histria vivida sem cortes, com todas as mais fortes e violentas cenas tpicas de um filme de guerra, no economizando choro e desespero da perda pelo bito aos dez anos, aps ter nascido com grave problema cardaco e muita luta aps trs cirurgias.A difcil protagonizao trouxe revolta, rejeio dos atores principais, dramatizando a perda de viso perifrica e o cncer de meu marido, que o tornou ainda mais rude e autoritrio, com constantes maus tratos aquela que maior dor sofria em cena: a me!No fim da guerra, mais um falecimento e o mocinho sai de cena trazendo alvio e libertao de meus sofrimentos. Nada fcil contracenar um novo filme, sem nenhuma experincia artstica da moda: cuidar do carro, do oramento domstico e contracenar com conjunturas nunca experimentadas. O novo filme trouxe muito aprendizado, trazendo novos atores e episdios como o terapeuta, a triste solido, minha teimosa e ingrata me de noventa e dois anos morando comigo uma vez ao ms, Andra, a nora e finalmente o melhor presente de um roteiro, Jlia, minha neta, que tornou a vida de minha personagem Isabel em uma herona imortal, esperanosa de que meu filme nunca saia de cartaz!

Sra. Isabel Pires Pacchini 68 anos

PASSOS PELA VIDA

Deitei minhas plpebras e avistei-me nas brumas de minha infncia, na roa de Sabinpolis.Vago suspiro de memria traz a imagem de minha me partindo aos meus cinco anos, para nunca mais voltar. Doena, tristeza e desnorteio esculpiram a misria entre papai e meus sete irmos, devastando tudo o que tinha dentro e fora de ns. , a morte no marca hora, a doena no limita dispndios materiais nem pessoais, sendo assim, nada mais foi plantado, pois as horas eram consumidas por meu pai entre cuidados e quilmetros de caminhadas para aquisio de remdios.Se no planta, no colhe! Se no colhe, no come e no vive. Sobrevive! Perdemos tudo!Dois irmos partiram para So Paulo para ajudar na sobrevivncia financeira da famlia, com futuro incerto e documentos adulterados. Alterar a idade no documento naquela poca era muito fcil, bastava ir ao cartrio, falar para o escrivo quando a criana tinha nascido e pronto, documento providenciado. Sim, somente desta forma era possvel um salrio digno, uma vez que criana naquela poca, ganhava metade do salrio de um adulto. Apesar de tudo, papai sempre cultivou esperana e confiana em Deus. Diariamente nos reunia em volta dele para rezar e falar. Vamos agradecer a Deus pelo dia e hoje que no foi bom, mas amanh pode ser melhor!Entre a misria e o inacreditvel desmoronamento de nossas vidas, papai casou-se novamente e mais nove irmos chegaram ao longo dos anos para se agregarem ao seio do calor familiar, pois no havia nada para usufrurem.Contudo, a vida simples nunca tirou minha esperana pela vida, nem mesmo os panos de trapo que vestia, pois no havia dinheiro para comprar roupas. Aqueles farrapos apenas cobriam minha vergonha no sendo suficientes para vestirem a parte de cima do meu corpo.Quando tinha que lavar aqueles trapos, entrava dentro do quarto, tirava-os, jogava pela janela, algum passava uma barra de sabo naquilo, colocava em cima do fogo de lenha para secar, jogava de volta pela janela para dentro do quarto e assim vestia de novo.Apesar da misria, a fogueira de So Joo era garantida todos os anos pela tradio de meu pai, o que reunia muita gente em minha casa. Alguns traziam abbora e um pouco de fub para nos ajudar e outros pediam para meu pai dar os filhos para eles criarem. Meus filhos so meus!O tempo foi passando e a situao de misria continuava.Com quinze anos calcei meu primeiro sapato. Comprei-os de segunda mo e paguei com servios de carpintaria. Os ps descalos h tantos anos j no suportavam mais as feridas e as dores.Vim para So Paulo jovem e tive a oportunidade de trabalhar em uma metalrgica. Percebi a necessidade de estudar, ocasio que nunca tive na infncia e resolvi agarrar aos vinte e trs anos. Fiz o Mobral ao mesmo tempo que estudava e trabalhava, no era nada fcil, mas eu no desistia de poder ter uma vida melhor, por isso conquistava as melhores notas. Aprendi muita coisa sozinho tentando e errando, com um lpis e papel que sempre carregava no bolso. Trabalhei muito, constitu uma famlia maravilhosa aps um namoro de sete anos por correspondncia. Hoje ergo minhas plpebras e me sinto privilegiado, com quatro filhos formados em faculdades renomadas e a certeza de que venci, graas dedicao e a f que guiaram meus passos pela vida.

Sr. Ismar Zito do Nascimento 72 anos

ME LEMBRO DE COISAS ASSIM....

Devia ter uns quatro anos e me lembro de coisas assimquando era bem nova, bem novinha....Saa na garupa do cavalo com meu pai e para todo lado que ele ia, sempre me levava. Lembro de quando fomos para a roa e tambm recordo os tatus, que naquele tempo estragavam muito as plantaes. Para preservar o que era plantado, os proprietrios das lavouras colocavam uma armadilha chamada [footnoteRef:4]Mundu. A arapuca era feita com uma madeira pesada e assim que o tatu entrasse em baixo para comer uma isca de milho, essa madeira caia em cima dele e alm de matar o bicho, tambm o deixava completamente achatado. Recordo chegar na plantao e encontrar o tatu morto. [4: . Mundu: armadilha que mata por esmagamento. Consiste em um tronco de rvore, elevado a uma certa altura e que pode variar dependendo da caa desejada. A caa pode ser induzida a passar por baixo, atravs de uma cerca de varas ou pode ser armada no carreiro (caminho de animais). Ao passar, o animal desarma o gatilho e a armadilha cair sobre ele. (Orientaes gentilmente cedidas pelo Fotgrafo e Cinegrafista Carlos Prudente www.selvaemfoco.com.br)]

Enquanto meu pai trabalhava carpindo a roa, brincava o dia inteiro com bonecas de milho. Essas bonecas eram feitas com as prprias espigas ainda no p, onde tranava o cabelo do milho, fazendo cachinhos, fingindo que eram crianas ali comigo, at a hora de retornar para casa. Fui ensinada que no poderia colher a espiga do milho, seno, ele estragaria e no poderia ser aproveitado, assim, antes de ir embora, desfazia todo penteado de minhas bonecas, no retirando coisa alguma, nem casca, nem cabelo, nada, mesmo assim, a brincadeira me tornava uma criana feliz, trazendo a expectativa que num outro dia, a espiga estaria l para que eu pudesse brincar novamente.Tranava e cacheava cabelos loiros, avermelhados, pretos e no sabia o porqu tinham aquela diferena de cor. Era mgico e muito divertido. O que importava para mim era a diverso e a companhia que as bonecas me proporcionavam. No havia nada para prender as tranas, mas havia um imenso prazer em brincar daquilo. Rememoro brincar ali, o tempo todo, at passar o dia. No comia nada enquanto ficava com meu pai na roa, mas hoje me alimento dessas memrias, que ficaram guardadas por tantos anos e ainda me surpreendem com a mesma sensao maravilhosa dos velhos tempos, como se pudesse estar ali, com minhas mozinhas tranando cada cabelinho de milho.

Sra. Ivone Oliveira Silva 80 anos

ALUGUEL D SAMBA!

Recordar um exerccio, que muitas vezes fica gravado na memria, graas a alguns momentos, que marcam nossa histria. Menininha aos seis anos, morava l em Minas Gerais, na saudosa So Loureno, que no esqueci jamais.Tocava muito no rdio, uma marchinha de Carnaval, que eu at hoje, considero excepcional:

[footnoteRef:5] Daqui no saioDaqui ningum me tiraDaqui no saioDaqui ningum me tira [5: Marchinha de Carnaval Daqui no saio dcada de cinquenta uma das msicas mais cantadas at hoje em dia.]

Onde que eu vou morar?O senhor tem pacincia de esperar!Inda mais com quatro filhosOnde que vou parar?Sei que o senhorTem razo de quererA casa pra morarMas onde eu vou ficar?Nesse mundo ningumPede por esperarMas j dizem por aQue a vida vai melhorar

Eu e meu irmo a msica comevamos a cantar, toda vez que o dono da casa, o aluguel vinha cobrar!Todo ms era a mesma ladainha e ele muito irritado, nem terminava a visitinha!poca dura e bem divertida. Pena que essa inocncia, hoje est comprometida!

Sra. Joana Martins Venncio 68 anos

MINHA MELHOR FOTOGRAFIA

Tenho uma recordao bonita para contar, que sempre me lembro, desde minha infncia.Meu pai era um homem muito amoroso, com toda famlia. Eu tinha um problema de bronquite asmtica e o mdico receitou que eu fosse a lugares onde houvessem pinheiros e eucaliptos para poder tomar um ar mais puro.Por isso, papai me levava todos os domingos pela manh para passear no Jardim Europa, em So Paulo. Era um bairro chique, de pessoas abastadas financeiramente. Ns no ramos ricos.Todas as vezes que amos ao Jardim Europa ficava olhando os pais que batiam fotos de seus filhos. Eu era muito pequena, acredito que tinha uns cinco anos e admirava aquelas cenas onde as crianas eram fotografadas. Um dia, falei para o meu pai. Pai, tira uma foto para mim! Tiro minha filha. Senta ali onde tem aquelas flores.Arrumei meu vestidinho e ele disse para mim. Joana, fique olhando aqui. Apontou meu pai para o chapu que usava na cabea.E eu olhei para o chapu do meu pai.Meu pai tirou o chapu da cabea, ajeitou-o deitado entre suas duas mos, bem na frente de seu rosto, mirou em minha direo e me disse. Fique olhando e eu olhei. D um sorriso e eu sorri.De repente, ele bateu uma mo na outra rapidamente, amassando o chapu entre as duas, simulando que havia tirado minha fotografia. Plaft - bateu minha foto, como ele podia.Depois desse dia sempre lhe perguntava. Pai, e a foto, quando vai chegar?Ele sorria e me acariciava. Est demorando, mas vai chegar!

Mas foi uma fotografia que nunca chegou! Passaram-se os anos e minha foto jamais apareceu.Hoje vejo que muitas pessoas pegam fotos em papel, rasgam e jogam fora. Minha foto, tirada por meu pai naquele dia no h como ser arrancada de mim, pois apesar de nunca ter sido realmente registrada, est eternamente guardada em minha memria.

Sra. Joana Palmieri Lagreca 81 anos

UM ENCONTRO COMPLICADO

Timidez no me faltava naquela poca e em festas de aniversrio, um jovem como eu sentia-me um covarde!Minha irm fazia aniversrio e a festa j estava marcada. No dia fatdico, como um perdido entre o eco das msicas e o nevoeiro de meus olhos, perambulava acanhado entre as pessoas, torcendo pela invisibilidade de meu ser.De longe avistei uma garota! Era como se a nebulosidade tivesse sido descortinada por uma luz forte e brilhante, capaz de penetrar e irradiar toda graa, simpatia e alegria que aquela moa despontava em mim. Imediatamente meu corao foi invadido por Luiza, mas o acanhamento conseguiu me lanar para danar nos braos de outras moas, embora meu corao no deixasse de mir-la.O aquecimento na dana com outras moas serviu de impulso e coragem, logrando a ddiva em conseguir vencer o embarao e bailar uma nica vez com Luiza. Sentia meu corpo mover-se em cadncia, como o oscilar das chamas em uma lareira.Ao findar a festa Luiza despediu-se de todos e eu beijei-a no rosto, com um n na garganta e me amaldioando por ser to inibido. Logo ela entrou no carro e como se algum tivesse dado um pontap no meu traseiro, fiquei face a face com a garota na janela do carro, balbuciando inacreditavelmente que desejava conversar com ela durante a semana. Claro! Concordou Luiza.Na segunda feira, mais aguerrido, liguei para conversarmos e combinar de ir ao cinema no final de semana. Lembro que Luiza morava com uma tia no Tucuruvi e me explicou que deveria tomar um determinado nibus na Praa do Correio, mas eu precisava prestar ateno, pois havia outro nibus que tambm ia para esse bairro. O trajeto de ambos era idntico at determinado local, onde um dos nibus virava esquerda, numa avenida, e o outro direita, na mesma avenida. Luiza estaria me esperando do lado esquerdo da avenida, no primeiro ponto de nibus. Ento no domingo, fui todo entusiasmado encontrar a garota, mas a apreenso e o despreparo me fizeram tomar o nibus errado e entrei na avenida do lado direito. Sem perceber o engano desci no primeiro ponto e fiquei esperando, esperando, esperando... e nada dela aparecer. Aquele mesmo pontap que levei no traseiro desta vez me acertou o crebro, fazendo-me desconfiar estar do lado errado da avenida, o que me fez ir verificar. De longe, percebi que Lusa realmente estava l, mas para minha surpresa, estava acompanhada por uma senhora. Pensei: Era s o que faltava para eclodir minha tenso. Encontrar algum que poderia ser minha namorada e logo de cara ela vem me apresentar sua me!Sem alternativa, me aproximei de ambas como se minhas pernas no estivessem pesando cem quilos e meu corao no tivesse disparado batendo no pescoo. Cumprimentei Luiza meio sem jeito que gentilmente me apresentou quela senhora, acrescentando que ela apenas pedia-lhe informaes. Suspirei aliviado! Aps nos despedirmos da mulher, finalmente fomos ao cinema e Luiza hoje, presenteia meus sessenta e nove anos ainda como minha esposa!

Conselhos a quem quiser aproveitar!Preste sempre muita ateno ao que os outros falam, principalmente se for uma mulher, pois qualquer titubeio, poder te levar perda de algo muito importante em sua vida!Nunca tire concluses precipitadas, pois de longe, todas as gatas so pardas! Sr. Jos Lus Cardieri 69 anos

MEU MAIOR SONHO

Quantos anos tenho? No sei! Setenta e .... Eu no sei a minha idade!Muita gente pode achar uma vergonha, mas a minha verdade, mesmo que muita gente ache essa situao uma ignorncia.Imagino que tenho hoje uns setenta e oito anos, porque meu filho tem quase cinquenta e dois anos, ento, fao as contas me baseando pela idade dele. No sei se quando nasci fizeram meu documento. Naquela poca, ningum se interessava por documento na minha terra, s se precisasse! Como eu nunca pude estudar, nunca precisei de documento!Nasci num stio, l no serto de Pernambuco, num povoado que no sei ao certo como chama. Um dia, me disseram que aquele lugar se chama Florestal, mas no sei se est certo! Naquela poca, o serto era muita pobreza.Fui criada sem pai, s com a minha me e ela era muito doente. J com nove anos trabalhava na roa, plantava mandioca, algodo, arroz, cana, feijo, enfim tudo o que se planta numa roa. Carreguei muito pote de gua na cabea, muito longe, subia e descia ladeira com a lata dgua na cabea.Brincadeira de criana? Nem sei o que isso, no conheo nenhuma, no brincava, s trabalhava! Precisava trabalhar porque seno passava fome. Cozinhava banana nanica verde na gua, com casca e tudo. Depois descascava e comia com feijo e farinha. Era isso o que comia todos os dias.Um dia cismei que queria estudar, ento, comprei uma cartilha que chamvamos de Carta de ABC. Para ir da minha casa no lugar onde davam aula, que no era uma escola, s davam umas aulinhas, precisava passar por dentro de uma mata fechada muito grande e resolvi ir mesmo assim. Quando cheguei l pela primeira vez, estava sentada vendo a aula e meu irmo foi me buscar. Disse que minha me tinha me procurado em casa e como no me achou, pediu para ele me procurar. No sei como ele me achou ali!Ele me levou para casa e quando cheguei, minha me me deu uma [footnoteRef:6]pisa de chicote. Desde aquele dia, nunca mais fui para escola. [6: Pisa: sinnimo de surra]

Vim para So Paulo j adulta, no sei com quantos anos, acho que tinha uns vinte anos. Vim trabalhar de domstica para uma famlia e quando eles souberam que no tinha documento, minha patroa me levou at o cartrio.Chegando l, chutei a minha idade s para poder tirar meus documentos. Era meu sonho poder ter um documento! Disse que tinha nascido em Maraial, Pernambuco, no dia quatro de setembro do ano de um mil, novecentos e trinta e cinco. Mas esse no o dia que nasci e nem sei qual foi o dia, porque nunca comemoraram meu aniversrio quando era criana. Essas comemoraes no existiam naquela poca l no serto! As nicas coisas que esto corretas nos meus documentos so os nomes dos meus pais, pelo menos isso eu no precisei inventar.Desse dia em diante, pude realizar o meu sonho. Consegui minha certido de nascimento, depois tirei meu RG e at ttulo de eleitor tenho!Hoje em dia, acredito que ningum tem esse tipo de sonho e espero que nunca precisem ter, pois apesar de ter tudo o que preciso hoje em dia, minha memria jamais conseguiu esquecer!

Sra. Josefa de Souza 79 anos

OS MEUS ANOS DOURADOS

Sentei beira do caminho e fiquei a esperar os pedaos de minha vida, que eu deixei l, mas, como no os encontrei, comecei a imaginar se haviam desprezado, meus pedaos ali deixados, para todos recordar.Os anos que ali vivi, muito aprendi com os amigos. Andei, muitas coisas conquistei, lugares por onde passei, muitas amizades deixei, de pessoas muito querias, que so por mim amadas. Daqueles que se foram, restou muitas saudades, dos momentos que juntos vivemos, naqueles anos dourados.Uma histria iniciei! Foi l que eu nasci, h muitos nos passados. Por isso fiquei a pensar, que amigos ia encontrar, que eu deixei a muitos anos passados. Eu no podia imaginar, que eles haviam esquecido, os nossos anos dourados.Nos momentos que ali fiquei, at mesmo chorei de saudades. Sem ter com quem falar, senti-me sozinha e sempre a esperar, algum por ali passar, para comigo andar, mas, sem ter com quem falar, foram tantas lembranas, que tive daqueles amigos, que eu deixei naqueles anos dourados.

Sra. Josefa Maria dos Santos 70 anos Reviso: Nna Damino

O SANTO REI AINDA QUER ENTRAR

Fui criada beira da estrada de ferro, na antiga linha Araraquarense, onde papai trabalhava, por isso, morvamos em uma casa cedida pela empresa que ficava muito prxima da linha do trem. O trem passava h apenas quatro metros e balanava todas as paredes, vidraas e venezianas. Tnhamos uma vida de razovel fartura e comamos o que era plantado no quintal de casa. L vivi at meus vinte e dois anos de idade. Foi uma vida maravilhosa!Como a casa era de propriedade da ferrovia, no podamos pregar nada nas paredes, nem as sujar, seno o feitor responsvel pelo local recebia multa, por isso as crianas eram sempre muito vigiadas. Era um regime muito rigoroso. Perto haviam algumas fazendas e meu pai ia at l para pegar as roas para trabalho dos oito filhos. Trabalhei muito e apesar da tarefa rdua, era completamente feliz.Casei e fui morar no stio com alguns parentes de meu marido. Aps trs anos, nos mudamos para uma pequena colnia de uma fazenda, onde tinham apenas trs casas.Numa noite, aproximadamente trs horas da madrugada, escutei uma cantoria na porta. O Santo Rei chegou! O Santo Rei quer entrar. Abre a porta que o Santo Rei quer entrar! Acordei assustada e falei para o meu marido. O que isso? Nunca vi isso na minha vida! Se arruma, levanta rpido, vamos abrir a porta. a Folia de Reis. A Folia de Reis passa sempre, voc nunca viu isso? Eu no! Respondi espantada. Na estrada de ferro onde morava nunca teve isso! No? Perguntou indignado. Levanta, isso maravilhoso! Eles batem nas portas das casas, cantam, ns abrimos a porta, eles entram, nos do a beno e oferecemos algo para comerem. Mas o que vamos dar para eles agora, fora de hora? - Perguntei preocupada. Damos o que temos. D uma garrafa de refrigerante e algo que tiver para comer, eles agradecem e vo embora.Meu marido abriu a porta e me disse: Ns dois temos que ficar na sala.Dois deles entraram e trs ficaram na porta. Eles cantavam uma orao, danavam, ajoelhavam e faziam continncia. Era algo indescritvel.Agradeceram o alimento, nos abenoaram e fiquei olhando tudo aquilo, como se estivesse no mundo da lua, pensando que nunca tinha visto nada to lindo em toda minha vida. Senti algo gratificante em poder receber o Divino Esprito Santo em minha casa.At hoje, aps sessenta anos, no esqueo de quando vi o Santo Rei chegar pela primeira vez na minha vida e infelizmente tambm a ltima!Era to bonito! Anualmente abenoavam as casas, as pessoas que nela moravam, com uma santificada misso. Carregavam cabos de vassoura altos, com o desenho do Santo na ponta e cheio de fitas coloridas balanando. Eles danavam, cantavam e nos maravilhavam, mesmo chegando de madrugada.Penso em como a Festa do Divino hoje em dia? Sei que ainda existe em alguns lugares do interior do Brasil, mas, quem abre as portas de sua casa para uma cantoria? Quem confia em uma visita com discurso de abenoar-nos? Sem dvida que a evoluo do mundo fundamental para o ser humano, mas se a humanidade no tivesse perdido sua f e seu carter, imagino que a Festa do Divino nos traria um carro de som nossa porta, com pessoas cantando oraes em ritmos modernos e beliscando petiscos industrializados servidos por ns, porm, nos abenoando com a mesma pureza de todos os tempos, pois esta no h como modernizar, basta resgatar!Anseio que os futuros idosos deste mundo abram as portas da reflexo, pois o Santo Rei ainda quer entrar!

Sra. Maria Alves Papalardo 85 anos

CARTA PARA VIDA

Querida vida,

Lembra-se de quando nasci h sessenta e sete anos atrs, l em So Joo Del Rei? J faz tanto tempo, mas ainda no esqueci da saudosa Minas Gerais.Sei que sou apenas mais uma entre tantos em sua imensido, porm, jamais apagarei meu mais rduo tormento, quando levou meu pai embora, me deixando rf com apenas sete anos de idade. No imagina o quanto sofri, mas te digo que seus dias foram capazes de fortalecer minha me, que lutou bravamente para criar os oito filhos. Ufa! No foi nada fcil, mas vencemos seus desafios.Pelas curvas e pedras da sua estrada, conheci meu marido. No ano de um mil, novecentos e sessenta e cinco vim morar em So Paulo e logo de cara precisei cuidar de dez cunhados que moravam comigo. No tem noo do quanto isso me deixou triste e refletiu em minha histria. Ficava todo tempo s pensando em voc!Depois de tanto trabalho e tanta dedicao gostaria de te agradecer, pois sei que no me esqueceu. Pensa que no reconheo os trs presentes maravilhosos que me enviou como filhos? Graas ao bom Deus, hoje tenho minha casa e estou bem, assim posso desfrutar os dias que voc ainda me d.Olha vida, escrevo para te dizer que tenho conscincia de minhas necessidades. Sei que preciso participar de mais atividades, pois algumas vezes tenho minhas dificuldades de sade. Mas no se preocupe Vida, prometo que vou me cuidar! Escrevi tambm para te contar que h algum tempo frequento um lugar chamado GAIA e nele sou muito feliz.Obrigada Vida, tenho certeza que foi voc quem me levou at l!

Sra. Maria Amlia Figueiredo Maia 68 anos

OBRIGADA

Obrigada pais, por me darem a vidaE uma grandiosa famlia de oito irmos.Grata Deus por amar e me sentir amada,Pela sade que propiciou o trabalho na lojinhaContribuindo com o sustento em casa.Pai, agradeo seu esforo de trabalhar como motorista de caminhoE puxar muita lenha para os fornos das padarias.So Paulo, acho que nunca te agradeci,Pela oportunidade em deixar minha famlia tentar a vida aqui.Me casei com um primo e tive dois filhos,Mas infelizmente ele foi embora com outra,Mesmo assim ainda agradeo,Pois logo aps casei com uma outra pessoa.Criamos meus filhos e eles pudemos formar.Hoje j tenho um netinho,Que minha vida veio abenoar.Agradeo ainda em poder recobrar a memria,E em poder escrever, um pedacinho da minha histria.

Sra. Maria Antonia Martinho 60 anos

SAUDADE

Saudade no uma lenda, realidade. algo que se sente e que no se pode emprestar. algo s meu e mais ningum conhece igual. Sentimento sem cor e sem cheiro, mas repleto de amor.A saudade no se traduz, apenas se sente traduzida em msica, cheiro, sabor, poema ou por uma simples recordao.Lembrana que me remete a remotos anos de minha vida, que os anos no apagam jamais.Saudade de Bocaiva, que abrigou meu primeiro lar,De uma infncia maravilhosa onde ajudava minha mezinha a cuidar de meus oito irmos mais novos.E quem diria sentir saudades de quando ajudava meu pai na roa, E de meus quatorze anos que no voltaro jamais.Tempo que foi brindado com o incio do namoro com Rivaldir,E a poca em que comecei a danar.A mesma saudade que hoje sinto, Me fez parar por uns instantes no tempo, Revivendo os seis anos de noivado e depois o meu casamento.Hoje olho para trs e vejo que nunca estive sozinha, E por isso agradeo essa saudade, que com a solido,Jamais poderia ser conhecida.Hoje sinto saudade todos os dias,Pois a vida est repleta de meus sete filhos,Oportunidade nica em poder agradecer,Meus quarenta e sete anos casada com Rivaldir,Que tornaram minha vida cheia de sentido.Rivaldir partiu e sinto ainda mais saudade,Agora de meu grande e inesquecvel amor,Boa saudade que no me deixa sozinha,Pois tenho as lembranas,Que apagam toda e qualquer dor.

Sra. Maria Aparecida de Alkimim Carneiro 76 anos

ALM DO HORIZONTE

Minha biografia como muitas j narradas, famlia volumosa, estudo escasso, sofrimento abundante e uma vontade de ter o mnimo de uma vida, motivada pela farta necessidade financeira. No havia emprego na dcada de cinquenta em Sabinpolis, o que me incitou na busca de uma ocupao remunerada em Belo Horizonte e aps dois anos, a firme deciso de tentar a vida em So Paulo.Entre o retorno de Belo Horizonte e a partida para So Paulo, fiquei por um tempo em minha cidade natal, onde conheci um rapaz com quem comecei a me encontrar apenas como um amigo. Depois de alguns encontros ele me pediu em namoro. No posso disse a ele - estou decidida morar em So Paulo. No namoro moa de So Paulo! Moa para casar tem que ser virgem.Como um bom machista da poca e pelo fato de ter morado em So Paulo por algum tempo, sua insegurana no permitiria que casasse comigo caso me mudasse para a cidade grande. Desculpe, no posso ficar e meu pai no tem sequer uma agulha para meu enxoval de noivado.Diga para seu pai juntar o dinheiro das bananas que vende para comprar seu enxoval. Por favor, no v! Quero me casar com voc.Decidida, resolvi deix-lo em Sabinpolis.Inconformado, l estava ele no local de onde partiria a [footnoteRef:7]jardineira, no dia de minha viagem. Subiu e sentou-se no banco ao meu lado e por uma hora de viagem tentou convencer-me a voltar para ficar com ele. [7: * Jardineira: tipo de micro-nibus antigo, com apenas uma porta dianteira e bagageiro no teto. ]

Quando a jardineira parar na prxima cidade, pedirei ao cobrador que desa suas malas para voltar comigo.Antes da primeira parada, o veculo teve um problema mecnico, tendo que interromper o trajeto num trecho da estrada para consert-lo. Era inverno de agosto, a vegetao estava seca e o ar denso, porm, beira da estrada havia uma montanha rochosa e entre elas, nasciam flores brancas chamadas Sempre Vivas.Enquanto consertavam a jardineira, o rapaz subiu no alto das montanhas e colheu vrias Sempre Vivas, com o que decorou toda a janela e em cima da cortina de onde eu me sentava no veculo. Gentilmente pegou algumas dessas flores e adornou meus cabelos. Leve estas flores com voc e guarde-as para lembrar de mim.Foi quando percebi que era um homem romntico, raridade naqueles tempos. Jardineira consertada, prosseguimos viagem at a prxima cidade e assim que chegamos, ele insistiu em dizer que pediria para descerem minhas malas, mas no aceitei. Ento, ele voltou e eu... segui meu destino.Chegando em So Paulo, vim morar em um pensionato de freiras que se encarregariam de arrumar emprego para as moas em casas de famlia. Apesar do extremo controle que as religiosas tinham sobre as moas, em um domingo sa com uma amiga para ir ao cinema, foi quando conheci o rapaz com quem me casei aos vinte e quatro anos.Filho de fazendeiro, nunca permitiu que eu trabalhasse e minha vida se resumiu em cuidar da casa e dos quatro filhos. Apesar de trabalhador e sem vcios, nunca foi romntico, carinhoso e nem companheiro, acreditando que bastava dar o melhor sustento famlia.Ingnua e iludida, vivi por vinte e quatro anos acreditando que meu marido era um homem de virtudes intocveis, mas apesar de descobrir que me traa com mulheres muito mais jovens, ainda o perdoei e tentei evitar a separao por outros longos anos.Basta! Demorei quarenta e trs anos num casamento de iluses para ter amor prprio e decidir nossa separao.Apesar de filhos e netos maravilhosos, hoje vivo sozinha e ele voltou para a fazenda da famlia, lugar onde seu umbigo foi enterrado e para onde prometeu que voltaria ao se aposentar. Sei que continua namorando mulheres bem mais jovens mas acredito que a vida como a letra de uma msica [footnoteRef:8]Alm do Horizonte... [8: Msica: Alm do Horizonte composio de Roberto e Erasmo Carlos, sucesso da Jovem Guarda]

...Se voc no vem comigoNada disso tem valorDe que vale o paraso sem amor......Alm do horizonte existe um lugarBonito e tranquilo pra gente se amar...

Sra. Maria da Conceio Maia Oliveira 70 anos

EU, A BICA E O MONJOLO!

Rememoro minha deleitosa infncia, quando mame lavava roupa no cocho de um Monjolo.J sei! Monjolo, cocho, talvez no seja algo to popular hoje em dia, ento, vou clarear minha histria, antes de cont-la.O Monjolo uma mquina conhecida como preguia, por causa da sua l e n t e z a ! Tem uma haste de madeira que de um lado tem uma concha (ou cocho), que recebe gua vinda de uma bica por uma canaleta, at encher tudo. Isso faz com que o outro lado da haste, onde tem uma estaca, se levante por causa do peso da gua. Quando a concha esvazia, o movimento se inverte, que nem uma gangorra. Essa haste soca geralmente arroz e milho, dentro de um pilo. timo para economizar energia!Ah, o pilo! Imagine um copo ENORME feito de madeira, onde se coloca o gro e a haste soca com toda p r e g u i a do mundo!Seguindo minha histria, toda vez que minha me ia lavar a roupa no cocho do monjolo, adorava ir junto com ela. Afinal, no importa a poca, se nos anos quarenta, sessenta, oitenta... toda criana gosta de brincar com gua!Um dia, mame disse: Lourdes, no chega perto da bica porque choveu muito essa noite e gua t muito forte!gua sinnimo de criana, criana sinnimo de brincadeira e brincadeira sinnimo de surdez, ento, teimosa, no ouvi nada e claro que no obedeci. Entrei dentro da bica, a bica quebrou e eu, fui parar dentro do cocho que minha me usava como tanque.Minha me ficou biruta e comeou a gritar: Nossa Senhora, proteja Lourdes que s faz travessura!Sa de l inteira e hoje me pergunto o porqu a gente cresce, pois deixei de ouvir o barulho que marcou o ritmo de minha infncia! Alivio meu corao com o aconchego das lembranas que ainda guardo na mente, convicta do quanto era feliz e realmente no sabia!

Sra. Maria de Lourdes de Oliveira de Toledo 76 anos

UMA HISTRIA DE AMOR

Alagoas meu bero de vida, mas So Paulo meu bero de amor.Quando em So Paulo cheguei, fui morar em Mau e fiz amizade com Jeine que namorava um rapaz. Ele trabalhava na Volkswagen e logo me apresentou um amigo que trabalhava com ele.Quando conheci esse rapaz moreno e bonito, percebi que ele era um dos trs filhos de um fazendeiro rico, l de minha terra natal e nossa amizade se transformou com o tempo em um amor sem igual.Namoramos por trs anos, mesmo morando distante e todos os finais de semana ele me buscava no trabalho e me levava onde morava com meus pais.Chegou um final de semana em que Pedro no veio e fiquei chateada, mas, foi quando ouvi no rdio que o setor em que trabalhava tinha pego fogo. Apesar do ocorrido, no sbado fui para a casa de meus pais mesmo sem ele. No dia seguinte ao olhar para a rua, me deparo com Pedro vindo em minha direo. Nos abraamos com muito amor e ele me presenteou com um relgio.Naquele dia, Pedro me avisou que estava em frias coletiva por causa do incndio e por isso visitaria os pais em Alagoas. Quando retornasse, ficaramos noivos e nos casaramos naquele mesmo ano.Chegando em nossa terra natal, meu belo e rico moo iniciou namoro com a filha de um fazendeiro, dez anos mais velha do que ele. Ao retornar a So Paulo, Pedro terminou nosso namoro. Por que? Perguntei. Minha famlia no aceitou nosso relacionamento, pois voc filha de pais separados. Por isso, fiquei noiva de outra pessoa e me caso em trs meses.Claro que sabia que era um casamento de interesse, mas Pedro casou mesmo assim me deixando s e muito triste.Essa histria de amor o tempo nunca vai conseguir apagar, mas Deus me agraciou com o pai de meus filhos, uma outra histria que um dia ainda hei de contar.

Sra. Maria de Lourdes Fernandes 63 anos

VIVERE LA VITA!

Sou uma imigrante baiana. Sim, vim mimbora com meus pais e irmos, como muitos nordestinos na dcada de cinquenta. Sem dvida nenhuma que a busca de melhores condies de vida impulsionou centenas de famlias, onde trabalhadores como meu pai, trocaram a lavoura pelo trabalho tpico das grandes capitais.Ainda em idade escolar, minha famlia mudou para a capital e papai foi trabalhar como operrio, enquanto mame costurava em casa, onde poderia ganhar parte do sustento da famlia e conciliar o cuidado dos cinco filhos.Oportunidade! Acredito ser a necessidade premente que impulsionou meus corajosos pais nesta nova experincia de vida, que graas aos contnuos esforos, nos proporcionaram bons estudos e bons empregos. Sem falar nos bens materiais que chegaram como recompensa, o que remete lembrana de um rdio onde ouvia msicas romnticas italianas como Datemi um Martelo, cantada por Rita Pavone e Dio Come Ti Amo, cantada por Gigliola Cinquetti. Uma emoo e um sentimento sem igual.A vida prosseguiu e me casei com Edison, com quem tive dois filhos e mantenho uma famlia maravilhosa h quarenta e quatro anos. Mas, o destino de minha filha seguiu como o meu e assim, tambm na busca de melhores oportunidades, migrou para a Itlia, local onde tive a mais cmica oportunidade em uma visita de turistas de primeira viagem.PIM BOM Ateno senhores passageiros, Edison, Elvira, sua irm Edithe e suas filhas gmeas Lgia e Lilian, embarcam para a Itlia. Assim como toda adolescente, acharam graa de tudo, enquanto as mulheres se divertem e o marido... nem tanto! Diria a aeromoa se assim pudesse prever nossos prximos passos.Nenhum de ns sabia falar o italiano e embora Edison tenha convivido com avs italianos, no sabia uma palavra do idioma. Isso nos rendeu alguns entraves ao entrar no pas, onde as gmeas riam a todo momento ao passar pela imigrao e meu marido ficava nervoso, achando que seramos presos por elas estarem rindo ali.Ironicamente, uma de minhas irms, que coincidentemente casou-se com um italiano, nos preparou um manual de sobrevivncia para a viagem, mas em ocasies desesperadoras, nunca encontrvamos o que procurava. Edison ia ao panifcio comprar dez pes e voltava com sete, era tudo engraado para ns, no para ele!Fizemos vrios passeios, mas o Edison nem chegou perto das gndolas de Veneza. Tambm subimos as montanhas, num frio de menos nove graus e descemos escorregando pelo gelo, uma diverso sem fim. E Edison? Ficou sentado emburrado em sua cadeirinha. Como prmio por sua rabugice, congelou as pontas dos dedos e tivemos que ir embora.Parques, museus, Verona, comidas gostosas e momentos que jamais vou esquecer nos mostraram que a vida pode sim ser um grande sucesso, onde quer que estejamos, aqui ou acol, e depender exclusivamente da forma que percebemos e desfrutamos sua grandeza. E viva a vida![footnoteRef:9]Vivere la vita! [9: Vivere la vita = viva a vida, ou viver a vida (em italiano)]

Sra. Maria Elvira Pereira 66 anos

SEDE DE VENCER

Sempre tive sede de vencer na vida e para quem nasceu de famlia to humilde como eu, sabe o quanto difcil a luta pela sobrevivncia. Tentar de tudo para ser algum um dia parece algo distante, mas no impossvel para quando acreditamos que podemos ser o que quisermos, bastando apenas tentar sem temer.Foi assim que comecei minha deciso por aprender a ler e escrever. Mesmo sem condio financeira alguma, desejava ser mais do que era, ento, resolvi aproveitar as oportunidades que estavam ao meu alcance.Entrei para o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetizao) de Pernambuco assim que ele foi criado e tudo o que desejava era aprender a ler e escrever para ter uma condio melhor de vida, o que certamente no foi o bastante para conseguir tal proeza. Fui uma das primeiras alunas da poca e me dedicava utilizando os livros e cadernos para aprender e ter uma letra melhor.Como trabalhava de domstica juntava todos os papis de po, uma folhinha beije bem fininhas e quase transparentes, com qualidade bem inferior. Pegava cada folha, esticava e costurava uma na outra, formando como se fosse um caderno, com uns vinte a trinta pedacinhos. Depois de todas costuradas, recortava-as no mesmo tamanho e fazia disso o meu caderno. Para decorar pegava folha de bananeira e punha para secar, cortava e fazia uma capa para o caderno, bem bonita, cuja cor dava contraste com as folhas do papel de po. Me esforando, treinei e acabei aprendendo a escrever no meu caderno de papel de po e capa de folha de bananeira.Depois de alguns anos precisei continuar a luta pela sobrevivncia na cidade de So Paulo. Cheguei aqui com um casaco que minha me comprou parcelado, pois sabia que a cidade era muito fria.Tudo o que eu tinha era uma mala de saco cujo cadeado era um n! No tinha nada na vida e ao chegar, todo dinheiro que me restou para procurar meus tios equivalia ao valor de um selo de cartas na poca. A esperana e a sede de vencer era imensa, pois precisava ajudar minha famlia, que ficou em Pernambuco.Quando localizei meus tios, tive a sorte de conhecer o senhor Joo Avelino na igreja que eles frequentavam e ele me ajudou a encontrar meu primeiro emprego com carteira registrada. Um sonho realizado!Sr. Joo me encaminhou para a Caloi, mas como eu nunca tinha trabalhado registrada, eles no me aceitaram. Sa de l aos prantos e chegando na igreja, senhor Joo Avelino me incentivou a no desistir e voltar Caloi para falar com um senhor da estamparia.Voltei e me fizeram preencher uma ficha e passar pelo exame mdico. Quando cheguei na enfermaria, a enfermeira me disse: Tira a roupa! Como que ? - Perguntei. Tira a roupa para fazer o exame mdico. No quero emprego mais no! Disse eu enfermeira, indignada de ter que tirar toda a roupa s para um exame mdico de emprego. Eu no vim pra So Paulo para me despir, no!Da, foi aquela briga danada e a histria acabou virando piada, mas minha vida no, esta tornou-se mais generosa, tal qual minha nsia de vencer.

Sra. Maria Gecilda da Silva 59 anos

A VIDA ENTRE ATOS E CENAS

Sonhei, desde menina, ser artista de teatro. L na roa onde morava, me imaginava atuando nas peas, encenando cada momento de minha vida como se fosse um ato, dividido em vrias cenas, que eram vividas por mim mesma entre uma apario e outra no palco de minha vida.Minha magia teatral nunca foi valorizada somente no hoje, mas foi vivida intensamente por todos os dias de minha vida, at que pude concretizar meu sonho aos sessenta anos de idade, quando imaginariamente pude viver em outros mundos e conhecer melhor o encanto e a fascinao do viver uma outra pessoa, nem que fosse por breves momentos.Em Desterro do Melo, cidadezinha de Minas Gerais, a roa era meu palco e por muitas vezes saa ao vento, com meus braos abertos, sentindo a brisa suave em meu rosto e fingindo representar uma personagem. Era uma sensao nica que somente eu e minha imensa imaginao tnhamos a capacidade de viver e sentir. Era real, ntido e inigualvel.Um de meus palcos prediletos era a cozinha. Adorava inventar desde pequena, pratos de comida diferentes e frequentemente encenava, na cozinha de casa, que era uma cozinheira. Tudo era to real para mim que fazia a comida de verdade, me sentindo muito segura a cada prato que estava preparando e com a audcia tpica das atrizes de teatro, dizia a mame: Hoje no vou comer sua comida!Encenar para mim era bem mais do que representar, era uma forma de diverso, relaxamento, onde conseguia me desligar das questes do dia a dia com um toque de magia.Mame, olhava-me preocupada e dizia para si mesma. Essa menina maluca!Ah, como eu adorava ser maluca e ainda gosto. Se maluca sinnimo de feliz e realizada, ento, serei eternamente maluca!Como nunca tive a oportunidade de estudar, resolvi fazer supletivo aos quarenta anos de idade o que meu deu embasamento para participar da primeira pea aos sessenta anos, que apesar de me sentir a melhor das malucas, tive que faz-la na raa, pois no s a responsabilidade, mas a ansiedade de atuar de verdade fez com que minhas pernas ficassem moles e meu corao disparasse.Na pea, que vagamente me recordo chamar Leitura Imaginria, fazia o papel de uma moa chamada Risonha. Ela era muito mandona, comandava as outras mocinhas e como o prprio nome diz, era muito risonha e nessa parte, muito parecida comigo.Apesar do sorriso, ela vivia dizendo na pea: Vamos desempenhar nossa funo!E fantasiosamente desempenhvamos.Lembro que ao final da pea tinha minha ltima fala e mesmo aos sessenta anos, ainda me sentia aquela menininha l da roa, cheia de vida e de energia e com todo vigor, terminava dizendo para as mocinhas. Vamos deixar tudo para l!Ainda bem que esta fala fazia parte de uma pea de teatro e no de minha vida real, pois em minha existncia, nunca deixei nem nunca deixarei meus sonhos e meus desejos para l, todos estaro sempre comigo, me guiando e me impulsionando para viver intensamente, cada cena, cada segundo como se fosse um novo ato, tornando minha vida uma grande histria.

Sra. Maria Geralda da Silva 78 anos

MULHER REZANDO

Uma senhora viva ia todos os dias uma Igreja e se ajoelhava diante do altar.No belo altar enfeitado, havia a imagem de Jesus crucificado e tambm a de Nossa Senhora.Todos os dias, em voz alta, a senhora viva pedia Nossa Senhora que lhe desse um marido, pois vivia muito s e precisava de companhia.Um dia, o rapaz que trabalhava como ajudante na Igreja, pensou em dar um susto naquela mulher, pois j no aguentava escutar sempre a mesma ladainha, rogando por um marido!Escondido atrs do altar, disse em tom de voz que a senhora