mergulho nas piscinas naturais

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Reportagem publicada na Revista Mergulho, n172, novembro de 2010.

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Page 1: Mergulho nas Piscinas naturais
Page 2: Mergulho nas Piscinas naturais

Às vezes escrever um editorial é mais difícil do que escrever uma matéria de 90 laudas. Ele traz impressões

pessoais e muitas vezes revelam o que o editor sente naquele exato momento. Começo a escrever estas poucas linhas

sentada em frente ao mar, numa praia que curiosamente tem o meu nome: Daniela, em Florianópolis. Um lugar

indescritivelmente belo, de areias brancas que contrastam com o belo azul do Atlântico. Mar calmo, sem ondas e que traz

uma paz absurda, principalmente para quem vive na correria de São Paulo, onde se faz tudo no automático e a vida da

grande maioria das pessoas é totalmente mecanizada.

Em Floripa visitei várias praias - todas maravilhosas - e comecei a prestar mais atenção nas piscinas naturais formadas na maré

baixa. O que me fez olhar diferente para estes pequenos ecossistemas, foi a matéria belíssima de Áthila Bertoncini e

Maíra Borgonha. Eles relatam em um texto impecável ilustrado por fotos surpreendentes, o que um mergulho raso, utilizando

apenas máscara e snorkel pode nos proporcionar. Às vezes, não é preciso ir fundo e carregar pesados equipamentos para se deliciar com as belezas subaquáticas... Basta esperar a maré baixar, dar alguns passos na areia e o espetáculo acontece a

menos de dois metros de profundidade. FANTÁSTICO!

Outra matéria muito especial é a de Ivan Cavas, que nos apresenta 10 razões mais do que especiais para visitar um de nossos paraísos sub mais cobiçados: Abrolhos, na Bahia. O Parque Nacional Marinho dos Abrolhos é um complexo e maravilhoso ecossistema marinho, de águas transparentes,

calmas e que recebe todos os anos visitantes ilustres: as baleias-jubarte! Confira as dicas de Ivan e faça já sua

mala rumo ao paraíso.

Mudando de águas brasileiras, para as super povoadas águas da Indonésia, quem mais uma vez nos presenteia com seu

trabalho é o fotógrafo Daniel Botelho, autor da bela foto da capa deste mês. Desta vez, Daniel visitou Bali para fotografar

peixes-lua. Bali é considerada a capital mundial dos Mola-mola (peixe-lua), mas guarda também belas surpresas como as raias-

manta e uma infinidade de seres marinhos dos mais variados tamanhos e cores. Como sempre, um show de imagens...

Gostaria de convidar você, leitor, a fazer parte da nossa comunidade no Facebook (Revista Mergulho). Lá você vai poder opinar sobre as matérias, saber das novidades que acontecem no mundo sub, sugerir pautas e conversar diretamente conosco.

Boa leitura e bons mergulhos!

Presidente e editor: Ernani PaciornikVice-Presidente: Denise Godoy [email protected]

Vice-Presidente executiVa: Silvana Cassol

Redaçãodiretor de Produto: Alcides Falanghe [email protected]

editora-chefe: Daniela Maximo Breitbarg [email protected] de arte: Alexandre Sakihama [email protected]

tratamento de imagem: Paulo Nery [email protected]ário: Murilo Barros [email protected]

reVisão: Lia Gomescolaboraram nesta edição: Ary Amarante, Áthila Bertoncini, Cezar Torres, Daniel Botelho,

Eduardo Vinhaes, Flávio Lima, Gabriel Ganme, Luiz Fernando Cassino, Ivan Cavas, Marcio Lisa, Maíra Borgonha,

Mauricio Carvalho, Maurício Szpilman, Osmar Luiz Jr., Paulo Amorim, Paulo Francisco da Silva, Rodrigo Correia, Sandro Cesar do Nascimento, Eduardo

Vinhaes

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Representante Paraná: Gustavo Ortiz Sampaio [email protected]

endeReçoAv. Brigadeiro Faria Lima, 3064 – 10º andar - CEP 01451-000

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Mergulho é uma pu bli ca ção men sal da GR Um Edi to ra Ltda. ISSN 1413-408X.Novembro de 2010. Jor na lis ta res pon sá vel: De ni se Go doy MTb 14037. Ar ti gos

as si na dos não re pre sen tam ne ces sa ri a men te a opi ni ão da re vis ta. To dos os di rei tos re ser va dos. Mergu lho é dis tri bu í da com ex clu si vi da de no Bra sil pe la

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Gosta de aventuras? Provar os extremos? Superar seus limites? Lança-mos um desafio: os mergulhos incrivel-mente rasos. Para encarar a experiên-cia, primeiro, é necessário estar devi-damente equipado: pegue máscara, snorkel e – pasmem! – nada mais, nem mesmo as nadadeiras! Cilindro, colete e neoprene? Nem pensar! Estamos fa-lando de um mergulho que está ali, tão próximo e acessível que você muitas vezes mal se dá conta: o mergulho nas piscinas de maré.

O mergulho possibilita estar imerso em ecossistemas que, por meio do ex-celente aperfeiçoamento de técnicas e equipamentos, conhecemos cada vez mais a fundo (literalmente!). Da mesma forma, a fotografia, o vídeo e o regis-tro de relatos lançam aos quatro ventos o que lá observamos. Atualmente, a ati-vidade abarca incontáveis novos adep-tos: amantes e curiosos sobre o assunto, que só se sentirão satisfeitos vendo o mundo submerso com os próprios olhos.

No entanto, para se tornarem mergu-lhadores, muitos simpatizantes esbarram na fronteira financeira. O pacote ins-trução-equipamento-manutenção, bem como a viabilidade da operação em-barcada, demanda investimentos nem sempre modestos. Portanto, não são os mergulhos cada vez mais profundos e técnicos que queremos tratar, mas os rasos, simples, fáceis e não menos espe-ciais. Aqueles em que pouco ou nenhum recurso, exceto a vontade e a paixão pela vida subaquática, são necessários.

Mergulho no extreMo

Que tal mergulhar em locais onde não é preciso cilindro, roupa de neoprene e nem mesmo nadadeiras? Estamos falando de mergulhos em piscinas naturais, rasos, simples e fáceis, mas não menos especiais

Texto e Fotos: Áthila Bertoncini e Maíra Borgonha

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Água pela canelaContrariando as regras, que tal co-

meçar por 30 cm de profundidade e acabar perto dos 1,5 m? Dá pra estre-ar... e estrear muito bem! Num primeiro momento pode parecer estranho, mas quem já mergulhou nas piscinas de maré pode ter uma breve noção da incrível riqueza que abrigam.

O que podemos ver nas piscinas de maré é um verdadeiro laboratório a céu aberto. A fotografia macro é muito bem-vinda nesses ambientes, uma vez que a vida marinha vibra em pequenas proporções: peixes jovens, diminutos invertebrados e diversas espécies de algas são o carro-chefe na observação. Ainda, a presença das interações ecoló-gicas como a predação entre espécies, torna-se um recurso extremamente didá-tico para o conhecimento e conservação da vida marinha.

Nas piscinas, é possível presenciar um contraste permanente entre estruturas delicadas, ao mesmo tempo resistentes, que residem em uma área de transição (terra e mar) e sofrem adversidades extremas por se exporem às variações da maré. Imperam pepinos do mar, es-ponjas, algas e corais. Muitos crustáceos circulam pela zona entre marés, sendo possível observar seus deslocamentos entre pequenas poças. Cardumes de cirurgiões, sargentinhos, trilhas e bodiões são avistados abundantemente. Soli-tários parus escondem-se por entre as inúmeras frestas das rochas. Polvos, mui-to visados pela pesca, escondem-se em meio à camuflagem natural e aplísias “pastam” nos campos de algas. Ouriços, em diversas formas, alimentam-se tran-quilos e quítons, que parecem seres pré-históricos, compõem a paisagem sub.

Nas paredes das piscinas os polique-tas (Sabellidae) formam tufos coloridos. É preciso ter cuidado, pois qualquer movimentação brusca pode fazer o es-petáculo desaparecer. Algumas piscinas são de tamanhos tão pequenos, que até mesmo as donzelinhas, conhecidas por serem peixes territorialistas, nos dão a impressão de formar cardumes.

Mas, antes de cair neste mergulho de “extrema profundidade”, cabe enten-der alguns detalhes sobre as piscinas de maré.

Atualmente, os recifes de coral tro-picais contribuem significativamente para a subsistência e para a segurança das regiões costeiras, seja por meio do turismo, com base na sua beleza estética, seja pela renda e alimentação obtidas das espécies que abrigam. Além disso, a proteção dos litorais contra tempestades e ondas não deve ser es-quecida. Embora cubram apenas 1,2% das plataformas continentais do mundo, estima-se que entre 500 milhões e mais de um bilhão de pessoas dependam dos recifes de coral como uma fonte de ali-mentação, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Eles também sustentam entre um e três milhões de espécies, incluindo aproximadamente 25% de todas as es-pécies de peixes marinhos.

Donzelinhas (Stegastes variabilis) formam

“cardumes” nas piscinas menores

Ouriço-branco (Tripneustes ventricosus), geralmente encontrado

sobre locais sombreados, pode ser visto passeando nas piscinas

Donzelinha (Stegastes fuscus) sobre o fundo arenosa das piscinas

Os recifes de coral enfrentam diversas ameaças, incluindo: sobrepesca, poluição proveniente de fontes terrestres, pesca com uso de explosivos, surtos de doenças, “branqueamento” devido a temperaturas mais quentes do mar – resultantes das mudanças climáticas e acidificação dos oceanos pela maior concentração de dióxido de carbono dissolvido, como uma consequência de emissões atmosféricas induzidas pelo homem.

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Caranguejo (Eriphia gonagra) que transita entre as piscinas

Algas verdes (Caulerpa sp.)

Jovem bodião-rei (Halichoeres poeyi), na sua “versão” verde,

por entre tufos de alface-do-mar (Ulva sp.)

Jovem peixe-borboleta (Chaetodon striatus),

espécie abundante nas piscinas

Poliqueta (Sabellidae)

Algas marrons (Padina sp.)

Garoupinha (Cephalopholis fulva), em uma de suas versões coloridas, espreitando a presa

Algas marrons (Dictyota sp.)

Jovem hermitão que acaba de encontrar sua casa, do tamanho de uma unha

Anêmona (Anthopleura sp.): figurinha fácil e abundante

nas piscinas em geral

Garoupinha-gato (Epinephelus

adscensionis)

Caranguejo hermitão

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com a força das ondasA dinâmica de formação das piscinas

é muito simples: durante os períodos de maré baixa e com a diminuição no nível do mar, parte da água fica aprisiona-da entre recifes e/ou costões, formando as famosas “piscinas”. Assim, as melho-res condições para um bom mergulho ocorrem nas luas cheia e nova, quando Terra, Sol e Lua estão alinhados e a maré atinge grandes amplitudes, levan-do mais tempo para começar a subir novamente. E não pense que só é possí-vel aproveitar à luz do dia; as piscinas representam ainda uma ótima oportu-nidade para você fazer o seu primeiro mergulho noturno.

No Brasil, as piscinas, também cha-madas de poças de maré, podem ser encontradas de norte a sul do país, sendo as do Sul principalmente de ori-gem vulcânica, ou seja, costões rochosos que acidentalmente formaram áreas de aprisionamento das águas. Já no Nordeste, têm sua origem principal nos cordões recifais, formados por corais e/ou algas, paralelos à linha de costa. Nos locais onde as barreiras afloram, formam-se ecossistemas singulares, de importância única e com muita vida para ser observada.

A cada estação do ano é possível experimentar um mergulho diferente nas piscinas de maré. Tratando-se de ambientes rasos, sofrem uma grande influência não apenas da dinâmica dos nutrientes disponíveis, mas também da luz, da salinidade e principalmente dos sedimentos (areia) da praia, que ora recobrem o ambiente, tornando-as ainda mais rasas (por vezes desapare-cendo), ora descobrem, disponibilizan-do uma infinidade de novos habitats e esconderijos para espécies.

Em certas estações, algumas algas dominam o ambiente, impondo sua cor. Na primavera, a cor verde é predo-minante devido à presença da alface-do-mar (Ulva sp.), sobressaindo sobre outras espécies também abundantes, como as algas pardas (Padina sp. e Dictyota sp.).

Na próxima ocasião em que se de-parar com esses presentes naturais ao alcance dos olhos não hesite: a diversão pode estar mais próxima do que se imagina! Muitas vezes, nem é preciso sair do quintal de casa.

A beleza e a importância dos ambientes costeiros (costões rochosos, recifes de coral, es-tuários, manguezais, praias, etc) vêm sendo cada vez mais disseminadas entre os usuários, que anteriormente apenas viam tais ambientes como fonte de alimento, local de lazer e pouco se importavam se o lixo ali se acumulava ou se espécies eram impactadas. Portanto, antes de cair nas piscinas, não deixe de ler as dicas preciosas do Conduta Consciente em Ambientes Reci-fais (www.mma.gov.br).

Para conhecer mais sobre os ambientes costeiros e ações em prol da sua conservação, visite as iniciativas de projetos como o Coral Vivo (www.coralvivo.org.br), o Projeto Ponta de Pirangi (www.pontadepirangi.org.br), o Instituto Recifes Costeiros (www.recifescosteiros.org.br) e o projeto Pró-Arribada (www.ecomarbrasil.org).

Jovem bodião-brasileiro (Halichoeres brasiliensis) em meio a um cardume de ameaçados fumeiros (Anisotremus moricandi)

Diversão e lazer garantidos durante

os períodos de maré baixa

oceanógrafos, Áthila e Maíra trabalham em prol da conservação marinha por meio do estudo da bioecologia de peixes e do conhecimento ecológico local de pescadores. Para desenvolver suas pesquisas utilizam-se do mergulho e da fotografia subaquática. endereços para correspondência dos autores: [email protected] e [email protected].

Jovem paru (Pomacanthus paru).

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