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AS REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA GEOGRAFIA: OS MAPAS TEMÁTICOS Tese de Livre Docência apresentada ao Departamento de Geografia – FFLCH – USP Marcello Martinelli 1999 MARTINELLI, M. As representaçõess gráficas da geografia: os mapas temáticos. São Paulo: Edição do autor, 1999. INTRODUÇÃO O mapa, e em particular, o mapa temático, a nosso ver, sempre careceu de maior reflexão sobre seu papel junto à geografia. É uma questão que nos leva a perguntar: o que o mapa tem a ver com a geografia e o que a geografia tem a ver com o mapa? Nossa experiência com o ensino fundamental, médio e superior mostrou que a prática de mapas era vista apenas como uma tarefa de desenho técnico ilustrativo. Nunca foi questionado "O que se pretende alcançar?", "Como fazer?", "Para quem?", "A pedido de quem", "Como chegar à compreensão?", "O que revelou?". Percorrendo os escritos técnicos e metodológicos da geografia podemos verificar, principalmente nos mais recentes que tal tema não mereceu grandes considerações. O mapa sempre constou, praticamente, como uma ilustração. Não encontramos tal resposta. Mas o que nós nos propusemos fazer nesta pesquisa, foi de percorrer o longo caminho da afirmação da cartografia desejosa de construir mapas da geografia. Consideramos esta problemática como uma questão metodológica profunda da cartografia, principalmente em seu ramo temático. Não tivemos a pretensão de elaborar um produto acabado, fechado, pois entendemos que sempre estaremos vivendo um processo de amadurecimento, mas que para o qual esperamos ter, com certeza, contribuído com uma reflexão fundamentada na literatura a nós disponível. Assim, em nosso roteiro, iniciamos o trabalho com uma sucinta revisão histórica, tentando nos conscientizar das principais transformações da vida material da sociedade e da sua repercussão no desenvolvimento da cartografia. Por esse motivo, nosso primeiro capítulo foi intitulado, Antecedentes. Num segundo momento, fizemos algumas considerações sobre as representações. Elas sempre co-existiram com a sociedade. Em qualquer campo da reflexão

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AS REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA GEOGRAFIA: OS MAPAS TEMÁTICOS

Tese de Livre Docência apresentada ao Departamento de Geografia – FFLCH – USPMarcello Martinelli

1999MARTINELLI, M. As representaçõess gráficas da geografia: os mapas temáticos. São

Paulo: Edição do autor, 1999.

INTRODUÇÃO

O mapa, e em particular, o mapa temático, a nosso ver, sempre careceu de maior reflexão sobre seu papel junto à geografia. É uma questão que nos leva a perguntar: o que o mapa tem a ver com a geografia e o que a geografia tem a ver com o mapa?

Nossa experiência com o ensino fundamental, médio e superior mostrou que a prática de mapas era vista apenas como uma tarefa de desenho técnico ilustrativo. Nunca foi questionado "O que se pretende alcançar?", "Como fazer?", "Para quem?", "A pedido de quem", "Como chegar à compreensão?", "O que revelou?".

Percorrendo os escritos técnicos e metodológicos da geografia podemos verificar, principalmente nos mais recentes que tal tema não mereceu grandes considerações. O mapa sempre constou, praticamente, como uma ilustração.

Não encontramos tal resposta. Mas o que nós nos propusemos fazer nesta pesquisa, foi de percorrer o longo caminho da afirmação da cartografia desejosa de construir mapas da geografia. Consideramos esta problemática como uma questão metodológica profunda da cartografia, principalmente em seu ramo temático.

Não tivemos a pretensão de elaborar um produto acabado, fechado, pois entendemos que sempre estaremos vivendo um processo de amadurecimento, mas que para o qual esperamos ter, com certeza, contribuído com uma reflexão fundamentada na literatura a nós disponível.

Assim, em nosso roteiro, iniciamos o trabalho com uma sucinta revisão histórica, tentando nos conscientizar das principais transformações da vida material da sociedade e da sua repercussão no desenvolvimento da cartografia. Por esse motivo, nosso primeiro capítulo foi intitulado, Antecedentes.

Num segundo momento, fizemos algumas considerações sobre as representações. Elas sempre co-existiram com a sociedade. Em qualquer campo da reflexão

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humana sempre existiram representações. Seja nas concepções míticas, no imaginário, como na lucubração científica, as representações sempre estiveram presentes. Foi preciso ver como os conteúdos das sociedades e a produção de seus espaços constituiu a evolução de conteúdos representados em mapas.

Neste mesmo contexto fizemos também uma breve incursão na complexidade da estruturação da representação espacial inerente ao ser humano, consoante com seu desenvolvimento mental. Há certamente o entrelaçamento da representação do espaço com os conteúdos específicos e selecionados deste mesmo espaço, que a sociedade entende ressaltá-los para serem comunicados aos outros, como informações novas, para construir opiniões, influenciar pessoas, iludir, constituir poder, etc. Estas considerações fazem parte do segundo capítulo, As representações.

No capítulo três, intitulado Os mapas temáticos e sua cartografia, elaboramos uma lucubração em torno do processo da emancipação do mapa temático dentro da produção do saber cartográfico. Percorremos os principais momentos que promoveram sua confirmação, em paralelo com a trajetória das exigências das pesquisas, em várias áreas de estudo, principalmente após a sistematização das ciências, fruto da divisão do trabalho científico, que se iniciou entre o fim do século XVIII e o início do século XIX. Este desenrolar de acontecimentos foi revisto com maior cuidado junto à confirmação e desenvolvimento das diferentes propostas metodológicas da ciência geográfica, principal promotora do estabelecimento dos métodos de representação da cartografia temática explorados até hoje.

Um quarto momento que estipulamos para desenvolver nossa abordagem consistiu em verificar como se estruturou a linguagem do mapa temático focalizada sob o prisma do paradigma semiológico, consoante com os parâmetros estabelecidos por BERTIN (1973), que a considera condizente com os sistemas semiológicos monossêmicos. Esta avaliação integra o quarto capítulo, A linguagem da cartografia temática.

No quinto capítulo, denominado A sistematização de uma metodologia, organizamos uma forma de entendimento do desenrolar da proposta metodológica do ramo temático da cartografia, a qual teve a preocupação para uma consistente sistematização, principalmente após a década de 50. Dentre elas, procuramos encaixar uma nova contribuição. Deixamos de lado os clássicos ditames para nos apoiar definitivamente nas orientações estabelecidas por BERTIN (1973), ao organizar as representações gráficas em mapas. Com base nestas considerações estruturamos o sexto capítulo. Nele, lucubramos de forma mais detida e apurada uma reflexão crítica acerca dos métodos de representação da cartografia temática, porém, agora vistos sob esta nova ótica. Demos particular atenção à questão das representações dinâmicas, hoje se encaminhando para um outro posicionamento metodológico e, por fim, tratamos das representações de síntese, em permanente ebulição por conta das transformações nas condutas de pesquisa adotadas pela Geografia dos últimos cinqüenta anos. Este capítulo foi denominado Os métodos de representação da cartografia temática.

Reservamos um capítulo, o de número sete, para fazermos algumas reflexões críticas sobre os elementos do mapa, como o título, a escala, a legenda e a projeção. Geralmente descuidados estes aspectos são de capital importância quando nos detemos a fundo dentro do emaranhado da sistematização da cartografia como ciência, principalmente em seu ramo temático. Este capítulo foi intitulado Uma reflexão crítica: o tema, a escala, a legenda e a projeção.

No último capítulo, sob o pretexto de comentar as novas cartografias, tal como propõe RIMBERT (1990), fizemos uma incursão que se adentrou no variado leque de

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proposições que os recentes avanços na área da informática estariam oferecendo para a ciência cartográfica. Estas considerações compuseram o oitavo capítulo, As novas cartografias.

Por último, fechando nossa argumentação, como Considerações finais, salientamos os principais pontos que concatenaram a reflexão feita sobre o caminho da sistematização da cartografia temática, ressaltando o lugar de destaque, que a nosso ver, ocuparia a proposta de BERTIN (1973).

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1 ANTECEDENTES

Quando falamos em “MAPAS”, imediatamente os associamos à “GEOGRAFIA”. É um aspecto eminentemente cultural. Os mapas, portanto, representariam a geografia, o que é geográfico. Eles comporiam a própria geografia. Seriam sinônimos.

Neste sentido, podemos verificar que o mapa sempre surge como representação simbólica da geografia. Isto parece se confirmar mais ainda em nossos dias. Organizações geográficas, eventos de geografia, instituições científicas ligadas à geografia, até mesmo empresas que lidam com várias partes do mundo e operadoras de turismo marcam sua presença mediante tal símbolo nos seus logotipos. Tudo o que é geografia, em geral, tem como logotipo básico um planisfério ou globo terrestre, mesmo que não se reflita ou discuta nada sobre mapas, nem acerca de seu conteúdo político, ideológico, temático.

Ademais, a geografia sempre se confundiu com o mapa. Na verdade, fazer geografia era fazer mapas. Isto fica bem claro antes do final do século XIX, antes da geografia se confirmar como discurso cultural universal (LACOSTE, 1976).

Nos albores de sua existência, o homem gravou em pedra ou em argila, pintou em pele de animais ou armou em estruturas diversas (mapas concretos) o seu lugar, o seu ambiente e suas atividades. Ao fazer isto não só representava a prática de suas relações espaciais, em terra ou mar, como também expunha o conteúdo das relações sociais de sua comunidade (KISH, 1980).

Todas as culturas, mesmo primitivas, em todos os tempos procuraram representar com estruturas abstratas seu espaço social. Porém, só com a materialização da abstração em um suporte disponível é que temos o testemunho da representação cartográfica, mesmo que a sociedade ocidental, depois, tenha excluído certos registros da história da cartografia, como aqueles das culturas não européias, da China, Índia, Austrália, África e América pré-colombiana. Neste sentido, compartilhamos com as convicções de HARLEY (1991), que propõe uma definição de mapa, abarcando a capacidade que cada sociedade tem ou teve para perceber e produzir imagens espaciais: "representação gráfica que facilita a compreensão espacial de objetos, conceitos, condições, processos e fatos do mundo humano”.

Os desenhos ou estruturas - mapas concretos - apresentavam desde então uma forma original de interpretação acerca de seus territórios ou domínios em mares, sempre servindo para satisfazer necessidades que foram surgindo nas condições do trabalho humano, para demarcar vias de comunicação, definir lugares de ação e outros usos. (SALICHTCHEV, 1979).

Fica patente nestes constructos que a paisagem registrada é a expressão espacial daqueles homens. O homem, ao produzir aquele espaço, com certo conteúdo, empregou suas próprias representações. Materializou um esquema que nasceu em sua alma. Fez uma mediação entre a realidade e o intelecto (ANDRÉ, et al., 1989) (JACOB, 1992).

O exemplo mais evidente neste sentido é o Mapa de Bedolina, da idade do Bronze (2.500 a.C.). Embora referente a estágios primitivos do desenvolvimento social, tal mapa já revelava a organização do grupo, mostrando casas sobre palafitas, homens no campo, gado, áreas cultivadas e caminhos interligando diversos lugares. A escala estava nitidamente vinculada ao nível de uma abrangência pessoal ou de pequenos grupos. A representação procurou registrar a localização dos objetos, na forma ainda de relações

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espaciais topológicas, as primeiras a serem experimentadas e apreendidas pelo ser humano no progressivo contato com o seu mundo.

Este mapa ia além da visão panorâmica que se podia obter do vale do rio Oglio, na Itália, a partir de um penhasco adjacente. Já se constituía num instrumento de gestão e controle da vida coletiva, da organização social e econômica daquela comunidade. Podia assim, revelar a divisão do trabalho, os sistemas agrícolas e de irrigação, bem como marcar os limites das propriedades.

O citado mapa desvelou a necessidade daquele grupo primitivo de documentar um recorte fundiário, um cadastro, mesmo na ausência de um sistema de escrita. Ficou claro assim, mesmo naquela época, que a imagem intervinha onde a palavra era impotente. Portanto, com este fato, confirma-se desde então que a instantaneidade da imagem opõe-se frontalmente à linearidade do discurso, base para a estruturação de uma cartografia eficiente (JACOB, 1992).

Os mapas nem sempre confirmaram esse compromisso prático. Em muitas culturas e em variados momentos das respectivas histórias, eles representaram graficamente múltiplos aspectos da atividade e do pensamento humano. Assim, como construções sociais, variados usos dos mapas devem ser enaltecidos: míticos, psicológicos, místicos, imaginários e simbólicos; além de práticos, os mais valorizados e reconhecidos como essenciais em todos os tempos da sociedade humana.

Este é o caso do mapa encontrado em Çatal Höyük, na Turquia, elaborado há cerca de 6.000 a.C. É tido como o mapa autêntico mais antigo. Pelo fato de ter sido encontrado em lugar que era sagrado concluiu-se que sua criação fazia parte de um ato ritual para atender aquele momento específico, sem o intuito de fazer algum registro para ou contra outrem (HARLEY, 1991).

O imaginário também não pode ser deixado de lado. Diferentes concepções da forma da Terra, antes daquela tida como redonda, foram graficamente representadas por várias civilizações antigas, bem como até o registro de acontecimentos célebres comprovados ou não e a localização de fatos absolutamente imaginários, como por exemplo, a Atlântida. Tal inspiração vinha de obras literárias e filosóficas. Mesmo nos mapas modernos podemos constatar a imposição de versões dirigidas, comprovando assim, constante presença do mito e da lenda (DELANO-SMITH, 1991).

Entretanto, a finalidade mais marcante em toda a história dos mapas, desde o seu início, parece ter sido aquela de estarem sempre voltados à prática, principalmente a serviço da dominação, do poder. Sempre registraram o que mais interessava a uma minoria, fato este que acabou estimulando o incessante aperfeiçoamento deles.

A apreensão do espaço e a elaboração de estruturas abstratas para representá-lo sempre marcaram a vida em sociedade dos homens. Este afã constante acompanhou o empenho humano em satisfazer também necessidades que foram surgindo nas condições de trabalho.

Os mapas, junto a qualquer cultura, sempre foram, são e serão formas de saber socialmente construído; portanto, uma forma manipulada do saber. São imagens carregadas de julgamentos de valor. Não há nada de inerte e passivo em seus registros.

Como linguagem, os mapas conjugam-se com a prática histórica, podendo revelar diferentes visões de mundo. Carregam, outrossim, um simbolismo que pode estar associado ao conteúdo neles representado. Eles constituem sempre um saber que é produto social, ficando atrelados ao processo de poder, vinculados ao exercício da propaganda, do controle, detendo influência política sobre a sociedade (GOULD e BAILLY, 1995).

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Ao lado da dimensão prática dos mapas não podemos deixar de lado outro gênero de expressão, muito mais especulativo, aquele do mapa como imagem, respondendo à necessidade do homem de criar para si um mundo centrado nele mesmo. Este constructo vai do foco conhecido por ele aos bordos imaginários, povoados de monstros, de seres fabulosos e de criações mitológicas, outros mundos que se configuram a partir do centro bem familiar do seu dia a dia e vai se esmaecendo na sua periferia. Estas representações, sempre, constituíram visões de conjunto que marcaram a iconografia de cada civilização. Apresentaram-se como mapas-múndi ou planisférios, significando a imagem da terra, como visões míticas e empíricas, um mundo além do horizonte, cujo papel teria sido mostrar ao homem seu lugar no cosmo ou na terra.

Estas representações vêm desde a Antigüidade. Porém, é no fim da Idade Média que podemos verificar que o mapa - instrumento, de uso prático, se confunde cada vez mais com o mapa - imagem, para pouco a pouco dar chance ao nascimento da cartografia, moderna, exata, científica (KISH, 1992).

Enaltecendo o aspecto prático do mapa, podemos verificar que na Antigüidade egípcia, os geômetras, como colaboradores dos fiscais da fazenda, mediam não comprimentos, mas sim áreas, não só para garantir o correto parcelamento das terras irrigáveis, como também para impor a carga tributária estipulada pelos faraós (LIBAULT, 1967).

Na Antigüidade grega, Homero não acreditava que a Terra fosse redonda, porém plana, como um disco, circundada por mar. Podemos verificar que esta concepção etnocêntrica do mundo era generalizada e adotada também por outros povos. Confirmaria ser um constructo compatível com a mente humana.

A visão da Terra imaginada por Homero manteve-se até a época de Hecateu (entre 520-500 anos a.C.), que estabeleceu um mundo circular dividido em dois grandes continentes: a Europa, ao norte, e a Líbia-Ásia, ao sul. No centro, articulavam-se o mar Mediterrâneo e Euxino e o Mar Cáspio (TUAN, 1974). (Fig. 1)

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A história da cartografia considera que foi na Antigüidade Clássica, principalmente junto à civilização grega, que teria havido um verdadeiro início de uma cartografia comprovadamente científica. Após especulações filosóficas sobre a forma da Terra iniciadas no séc. IV a.C. foram os matemáticos gregos que descobriram que ela era, agora, realmente esférica e não mais circular (Aristóteles, 350 a.C.), calculando suas dimensões (Erastóstenes, 276/94 a.C.). Eles ainda estabeleceram as bases para as projeções cartográficas, vistas como leis matemáticas para se passar da superfície curva da Terra ao plano do mapa, definindo os paralelos e meridianos, como linhas específicas para se configurarem como coordenadas geográficas.

A cartografia antiga atingiu o seu apogeu com o Tratado de Geografia de Cláudio Ptolomeu (98/168 d.C.). Para Ptolomeu, a representação cartográfica da Terra seria a tarefa fundamental da geografia. Em seu trabalho constavam um mapa-múndi e vinte e seis representações elaboradas com dados do mundo conhecido da época. Este conjunto constituiu a primeira coleção sistemática de mapas temáticos, portanto um primeiro Atlas Universal.

Para os romanos, a cartografia tinha fins eminentemente práticos. Utilizaram os mapas de Ptolomeu com fins militares e administrativos para exercerem o domínio sobre povos conquistados. Os mapas constituíam-se assim, em verdadeiras armas intelectuais para adquirir um poder, administrá-lo, codificá-lo e obter sua legitimidade. Com a adoção das coordenadas, devidas a Ptolomeu, os centuriões puderam impor um controle territorial arbitrário completamente desvinculado das responsabilidades sociais e respectivas conseqüências. Neste exercício, entretanto, foram indiferentes aos cuidados com a precisão cartográfica, realizando mapas com fins práticos, específicos para viagens nas estradas que cruzavam todo o império. Ilustravam a posição relativa dos principais lugares habitados e indicavam as distâncias entre eles, em milhas romanas. Eram mapas compridos e estreitos, sem proporção, porém, fáceis de enrolar e desenrolar para manuseá-los (GOULD e BAILLY, 1995).

Na construção e representação de seu espaço, os romanos não se preocuparam com as distâncias, mas sim com a duração da viagem. Portanto, seus mapas não eram simples itinerários, eram mapas que já apresentavam certa elaboração (LIBAULT, 1967).

Um destes mapas é conhecido por Tábua de Peutinger (por volta do ano de 200 d.C.), que até certo ponto seria um primitivo mapa turístico contendo itinerários relacionados com símbolos de referência, para designar estalagens e locais de culto.

Talvez esse mapa fosse a melhor forma de expressão da certeza de uma segura unidade que todo o império Romano gozava antes da invasão dos bárbaros, cuja ocupação implantou o feudalismo, quebrando assim, aquela integridade territorial.

(Fig.2)

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O mundo islâmico teve papel de grande importância para a história das ciências: os muçulmanos salvaram um bom número de obras clássicas, que traduzidas em árabe, foram reintroduzidas mais tarde na Europa medieval.

Destaca-se na cartografia árabe o mapa-mundi de Idrisi, denominado Tábua de Roger, com exatidão superior àqueles contemporâneos do mundo cristão. Dividia o mundo de então em zonas ditas "climas" uma espécie de orientação ligando os solstícios de inverno e verão nos quatro quadrantes com base nos esquemas gregos, porém com modificações. Era orientado com o Sul para cima.

Seus mapas também tinham clara definição, destinando-se a fins militares, políticos, religiosos e de propaganda.

Com a crise da sociedade escravista dos séculos III e IV houve forte decadência da cultura antiga. A ascensão do regime feudal praticamente dispensou mapas. Com os pequenos domínios feudais, fechados em si, e com a ciência a serviço da igreja cristã, os mapas começaram a ser concebidos conforme as Escrituras Sagradas, sendo mais simbólicos do que representativos. Por esta razão, na Idade Média, os mapas voltaram a serem realizados consoantes ao conceito sobre a Terra tida como um disco. O mundo todo era colocado dentro de um círculo tendo por centro Jerusalém. São os mapas ditos ecumênicos. A metade superior representava a Ásia e a parte inferior, a Europa e a África, separadas pelo Mar Mediterrâneo, disposto na vertical. Eles se configuravam como monogramas, com o "T" dentro do "O". Por isso ficaram conhecidos por Orbis Terrarum ou

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simplesmente por mapas "T" no "O". Eram orientados com o Leste para cima (SALICHTCHEV, 1979) (KISH, 1980) (DUARTE, 1994).

Sem dúvida alguma, o grande avanço da cartografia se deu centrado na Europa, estando relacionado com o Renascimento (séculos XIV e XVI), época que começaram a surgir relações capitalistas. Com a intensificação do comércio entre Oriente e o Ocidente, exigindo o desenvolvimento da navegação, houve novamente grande ímpeto na necessidade de mapas, bem como a criação de meios para a respectiva orientação - a bússola. Confirmavam-se os Portulanos, mapas para navegar que foram estabelecidos desde o fim da idade média, porém, agora, já bastante corretos, tendo em vez dos atuais paralelos e meridianos uma rede de rosas-dos-ventos entrelaçadas.

Nesta época houve uma redescoberta mais profunda da obra de Ptolomeu, a qual já ditara os princípios para a construção de uma cartografia mais sistemática e científica.

Sem dúvida alguma, a invenção da imprensa foi um marco cultural do século XV que teve grande influência no progresso da cartografia, porquanto possibilitou a fácil reprodução de mapas, barateando seu custo unitário, permitindo maior difusão. Pode-se perceber, assim, a passagem do mapa registro, do mapa memória, para o mapa mercadoria. Por outro lado, o fato de reproduzir mapas por impressão, reduzindo os erros dos copistas, desencadeou uma marcante revolução nesta atividade. Estabeleceu-se assim, a cartografia como ofício, dando-lhe nova definição: exposição gráfica da informação geográfica (KISH, 1980) (MACHADO, 1997).

O desmantelamento do feudalismo fez novamente crescer a demanda de mapas. As grandes monarquias feudais, absolutistas, como a da Baviera (1561), precisavam mapear seus extensos territórios. Além disso, os mapas passaram a reforçar a legislação para modificar e legitimar os regimes de exploração. Confirmaram possessões facilitando seu controle. Passam a disciplinar o espaço.

Outro grande impulso à cartografia foi dado pelos grandes descobrimentos (séc. XV e XVI). Os interesses da expansão do mercantilismo europeu engendraram enorme revolução espacial. As novas rotas marítimas acabaram por motivar uma articulação entre as várias partes do mundo de então. Desta feita, povos de outros continentes tornaram-se submissos ao modo de produção da burguesia européia. Navegantes, colonizadores e comerciantes exigiam mapas cada vez mais corretos. A busca crescente de mapas para registrar o mundo inteiro, bem como a criação de novos tipos de mapas para representar questões especificas, forçou a entrada da cartografia na manufatura, passo decisivo para ela integrar o processo capitalista de produção. Os mapas confirmaram-se como armas do imperialismo, promovendo a política colonial.

A cartografia deste período se despoja das penumbras da ignorância, marcando uma espetacular transformação no papel dos mapas para as sociedades ocidentais. De mapas que serviam de ilustração ou de guias para pequenas incursões costeiras no Mediterrâneo, tornaram-se documentos secretos: passaram a servir o Estado (KISH, 1980).

É assim que a Terra Santa perde seu status simbólico de ser o centro do mundo, deixando que esta posição passasse a ser assumida pela Europa, legitimando conquistas.

Desta época, destaca-se a grande realização de Mercator (1512-1594). Ele estabeleceu um sistema de projeção cilíndrica, apresentando os paralelos como linhas paralelas, horizontais e meridianos como linhas paralelas verticais, em cuja rede mantinha-se a propriedade de conservar os rumos corretos, passando assim, a ser de grande utilidade na navegação marítima. O percurso do viajante desenvolvia-se em linha reta, mantendo um ângulo constante em relação aos meridianos.

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Ele idealizou esta projeção para seu planisfério de 1569. Esta representação plana e contínua da terra toda, centrada na Europa, permanece como imagem símbolo tradicional e dominante do mundo até nossos dias, com presença marcante na propaganda, publicidade e no ensino mediante Atlas e livros escolares de geografia. Assistimos, ainda hoje, a certa reticência contra a aceitação de novos tipos de projeção mais condizentes com a visão e entendimento do mundo da atualidade.

Outro cartógrafo, Abraham Ortelius, irrompeu em 1570 com a publicação de seu Theatrum Orbis Terrarum. Esta obra é considerada como o primeiro Atlas moderno, superando aquele de Ptolomeu realizado em 1513. A grande inovação introduzida por ele foi o estabelecimento de uma ordem lógica para os mapas: iniciando com planisfério, passa, em seguida, a trabalhar com mapas da Europa, Ásia, África e do Novo Mundo - a América -, terminando com cartas detalhadas dos países. É o esquema clássico de estrutura de Atlas, que persiste até hoje: do distante para o próximo! Talvez fosse uma imposição contrária ao raciocínio natural: de cima para baixo.

É um período que começam a serem publicados também os Atlas especiais, como aquele de Wagner (1584-1585).

Depois da revolução burguesa, no final do século XVI, a atividade cartográfica centraliza-se em Amsterdã. Aparece assim, uma importante obra - o Atlas de Blaeu (Bleaw) - editado em 1635 em cores e em várias línguas, estruturado em 12 volumes, com mapas temáticos complementados por textos geográficos e históricos.

Outro grande passo na cartografia foi dado no século XVIII, com a instituição de academias científicas, marcando assim o início da ciência cartográfica moderna. Grandes inovações foram propostas pelo astrônomo francês Cesar - François Cassini de Thury (1714/1784), que elaborou a primeira série sistemática de mapas topográficos para a França.

Mesmo que a curva de nível tenha sido proposta por Dupain - Triel desde 1791, a partir da adaptação dos trabalhos de M. du Carla para as profundidades oceânicas, os mapas topográficos só ganharam aperfeiçoamento na segunda metade do século XIX, em atendimento, não só a exigências militares, como também a instâncias de aplicação na engenharia para a construção de ferrovias. Assim, passou-se a fazer uma representação do relevo geometricamente exata, através do traçado das citadas curvas de nível - linhas que unem pontos de mesma altitude do relevo terrestre. O registro da topografia do terreno, assim resolvida, atendeu às demandas do exército por conta do desenvolvimento da artilharia que necessitava não só da precisão da visada e da distância, como também das diferenças de altitude.

A cartografia topográfica passou a ter assim, a grande incumbência de identificar e delimitar com exatidão os objetos circunscritos à face da Terra, além de localizá-los com precisão sobre o relevo do terreno representado através das curvas de nível.

A curva de nível foi sem dúvida alguma um grande achado. A cartografia deu um enorme salto em seu desenvolvimento na busca da precisão na representação geométrica do relevo em épura. Com aquela isolinha o mapa se libertou de ficar preso apenas às duas dimensões do plano e a símbolos localizados, não tendo capacidade de mostrar em elevação a continuidade da superfície modelada pelas formas do relevo, mediante medidas precisas tomadas no terreno.

A política colonial dos Estados da Europa Ocidental, bem como a rivalidade entre si, motivou grandes empreendimentos na cartografia das colônias. A crescente

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demanda de mapeamentos teve, assim, grande desenvolvimento consoante com o florescimento da economia capitalista.

Outro ramo da cartografia oficial com grande desenvoltura foi o da cartografia Náutica. Não só adotou a projeção cilíndrica conforme, mais conveniente para traçar os rumos, como também ela iniciou a complementar seus mapas com dados sobre as profundidades oceânicas, mediante pontos cotados e curvas batimétricas, proporcionando assim, maior segurança à navegação.

Entretanto, o grande passo dos mapeamentos como apoio aos novos conhecimentos se dá com o avanço do imperialismo, no fim do século XIX. Cada potência necessitaria de um inventário cartográfico preciso para as novas incursões exploratórias, incorporando assim, também esta ciência, às suas investidas espoliativas nas áreas de dominação (PALSKY, 1984).

É com o pensamento positivista, enxugando todo o conteúdo crítico e político da ciência, que se dá a grande afirmação dos mapas temáticos. Foi com o florescimento dos diferentes ramos científicos sistematizados, desde o fim do século XVIII que foi se multiplicando a demanda de mapas temáticos.

Mas esta neutralidade não existe. O conteúdo representado nos mapas temáticos pertence ao mundo social que os produziu. Não se trata de um conhecimento autônomo e fechado.

A representação em si expressa no mapa pode evidenciar uma inocência, porém, aparente. É preciso adentrar nela para desmistificá-la e quebrar a presumida ligação entre realidade e representação proclamada pelo positivismo científico. É necessário desvendar as forças sociais que estruturaram tal forma de cartografar. Há sempre um modo particular de considerar a realidade, a qual, em geral, não é transparente. Em seu "discurso", o mapa temático tem regras que regem seu desenvolvimento. Elas devem ser conhecidas (HARLEY, 1992).

Na concepção positivista, os mapas temáticos teriam o compromisso de reproduzir a realidade de forma correta; porém, com uma existência independente do construtor da representação. Ela deveria, portanto ser expressa em termos matemáticos, ganhando assim autenticidade verdadeira, podendo ser verificada e testada independentemente do sujeito que elaborou o mapa.

É no século XIX que se confirmaram tais regras, expurgando toda a arte em favor da comunicação cartográfica. Adentra-se, assim, na era da cartografia científica, a qual não seria afetada pelos fatores sociais. Este afã cresce desmesuradamente nos dias de hoje. Buscam-se representações com precisão cada vez da realidade, cobrando da informática métodos para transmitir conhecimentos verdadeiros. Entretanto, precisamos estar bem atentos ao fato de que, mesmo que os mapas sejam construídos dentro do maior rigor científico eles acabam sendo sempre metáforas do aspecto social (GOULD e BAILLY, 1995).

Da pretendida neutralidade das ciências, ganharíamos com os mapas temáticos a verdadeira representação da realidade como já apontamos, vista como uma totalidade definida na escala regional, na qual ela poderia ser apreendida de forma mais completa.

Este corte isolando a Região de seu contexto espacial maior - apenas um único nível de análise - favoreceu o desenvolvimento dos Atlas, primeiro os Nacionais, depois os Regionais, monografias cartográficas por excelência, com grande profusão de mapas específicos abordando temas particulares.

Os Atlas nacionais se constituíram em verdadeiros símbolos do Estado. Os primeiros exemplos de sua afirmação como tais, foram os Atlas que a Inglaterra e a França

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fizeram no fim do século XVI. A primeira exaltou no "Atlas of England and Wales" (SAXTON, 1579), todos os territórios ingleses, confirmando sua unidade sob a autoridade de ELIZABETH I. O mesmo fez Henri IV para a França com o Atlas "Théâtre Françoys" (BOUGUEREAU, 1594), proclamando sua integridade nacional (MONMONIER, 1991). (Fig. 3)

Neste período, floresceram as idéias das correlações e a pesquisa dos fenômenos baseados no método comparativo. Humboldt estabelece em 1817 as isotermas para avaliar o padrão de distribuição das temperaturas no globo, iniciando assim, a criação de mapas climatológicos, o que favoreceria a posterior sistematização da climatologia como ciência.

A cartografia geológica também teve grande impulso por conta das exigências dos conhecimentos vinculados às explorações das jazidas de hulha para atender as necessidades da indústria que substituiria a madeira pelo carvão. O primeiro mapa geológico foi o da região norte da Inglaterra. Foi elaborado por William Smith (1769-1839) com uma estratigrafia baseada no estudo dos fósseis.

A Primeira Guerra Mundial constituiu um marco da época moderna, como época histórica de passagem para a época contemporânea, momento em que o modo capitalista de produção se confirmou, obtendo grande desenvolvimento no mundo de então. (SALICHTCHEV, 1979).

Até a guerra de 1914, os mapas topográficos eram estabelecidos na medida dos deslocamentos de tropas e dos alcances das peças de artilharia, desenvolvendo-se, portanto, em escalas próximas à 1:20.000.

Com o aparecimento do automóvel e do avião assistimos a uma grande mudança na cartografia: a mudança de escala. Passa-se a necessitar escalas menores que vão de 1:200.000 a 1:1.000.000. (LIBAULT, 1960).

O automóvel além de facilitar as operações de levantamentos cartográficos promove uma profusão de mapas rodoviários, com grande destaque até os momentos atuais.

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O avião por sua vez, ganhou ênfase como plataforma portadora das câmaras para a emergente fotografia aérea.

A partir da invenção da fotografia devida a Niepce, com a reprodução em chapa de prata (1827), Daguerre, em chapa de cobre (1839) e Talbot, em folha de papel (1841); Laussedat teve a idéia de associar ao teodolito uma câmara fotográfica, fazendo tomadas de objetos em base terrestre, com deslocamento horizontal, controlando certa sobreposição das mesmas. Em 1862 estava inventada a fotogrametria, de múltiplas aplicações.

A fotografia aérea tornou-se prática a partir dos primeiros ensaios de Gaspar Felix Tournachon, chamado Nadar, em 1858, com tomadas oblíquas em balão livre. A primeira fotografia aérea feita na vertical foi realizada por Tissandier e Ducom em 1885 sobre a localidade de Petit-Clamart, ao sul de Paris. Entretanto, a primeira foto aérea de boa qualidade foi devida ao americano Wendell Holmes, que, em 1863 fotografou Boston a partir de um balão. Em seguida, em 1892, o alemão Stolze usa a estereoscopia para obter a visão tridimensional.

Com a invenção do avião, atribuída aos irmãos a Wright (EUA, 1903) e Santos Dumont (França, 1906), pôde-se obter fotos aéreas a partir de aeronaves. Wright fez registro em 1909. Tardivo, em Bengasi (Líbia), executou fotos aéreas, de avião, para fins de mapeamento.

Com a citada Guerra implementaram-se não só registros fotográficos para fins bélicos como também novos métodos e técnicas para a construção de mapas, destacando-se, sem dúvida alguma, o emprego das imagens aéreas.

Desenvolve-se, assim, a aplicação da fotogrametria às operações topográficas. Para tanto, bastou aplicar os mesmos métodos já comprovados em terra, a partir da dupla visão tomada por avião em deslocamento. Estabeleceu-se assim, por volta de 1923, uma nova ciência, a aerofotogrametria, substituindo os clássicos métodos de levantamentos topográficos. Emprega pares fotogramétricos com apoio geodésico terrestre para obter a imagem cartográfica exata do terreno, a qual, depois, é restituída em mapa (LIBAULT, 1975).

A indústria automobilística e a aviação, como já adiantamos, confirmaram excelentes avanços na cartografia de escala média, agora já com a aplicação dos métodos aerofotogramétricos para o traçado das curvas de nível na representação do relevo.

Este foi outro grande salto qualitativo que a ciência cartográfica realizou em paralelo ao desenvolvimento da curva de nível. Sem dúvida alguma, sua determinação por métodos aerofotogramétricos constituiu um grande avanço na sólida sistematização deste ramo do saber.

Um outro marco importante da cartografia, porém agora em seu ramo temático, foi a criação dos Atlas Nacionais, como já anunciamos. A iniciativa pioneira foi desenvolvida pela Finlândia, em 1899. No entanto, um interesse maior por estes Atlas confirmou-se somente a partir do fim da Primeira Guerra Mundial. O progressivo surgimento de novos países independentes, a política de planejamento dos países agora autônomos em busca de recursos naturais e novas possibilidades econômicas, além da ampliação da exploração espoliativa das colônias em atendimento ao crescente mercado junto às metrópoles, motivaram uma grande profusão destes Atlas. Confirmou-se, assim, a verdadeira aplicação prática da cartografia temática (SALICHTCHEV, 1979).

Deve ser ressaltada, também, a iniciativa de realização de um mapa internacional do mundo na escala 1:1.000.000, a CIM, com projeção única e simbologia convencional padronizada. Esta proposta partiu de A. Penck, por ocasião do Congresso

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Internacional de Geografia realizado em Berna, em 1891. É um mapa hipsométrico com uma planimetria bastante completa.

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945), também por sua vez, demandou grande número de mapas com precisão para atender operações militares. Com o término da Guerra, o triunfo da democracia popular em vários países da Europa e da Ásia, de um lado, e o estabelecimento da política de guerra fria junto à corrida armamentista dos países imperialistas, de outro, foram os principais motivos para o grande impulso da cartografia contemporânea.

Com o surgimento, na Europa Ocidental, de um bom número de países independentes constituídos no após aquele conflito, o Atlas Nacional tornou-se símbolo por excelência da soberania destas novas nações. Após a década de 40 estes Atlas multiplicaram-se consideravelmente. As antigas colônias européias se serviram desta cartografia para confirmar sua identidade política adquirida com a recente independência. São exemplos marcantes aqueles da Índia e do Marrocos.

Assim, voltaram a se fortalecer os já aludidos Atlas nacionais, bem como, agora também aqueles regionais. Tais Atlas facilitaram o planejamento de medidas para recuperação dos países destruídos pela guerra. Outros fatores que motivaram sua confirmação foram a necessidade das potências imperialistas que perderam suas colônias de reconhecer mais detalhadamente os próprios territórios. Também as próprias colônias, agora livres da intervenção das metrópoles, precisavam investigar a fundo suas potencialidades (SALICHTCHEV, 1979).

O fato dos novos estados independentes renovarem a tradição destes Atlas, não só os tornaram conscientes da necessidade de conhecimentos mais aprofundados, como também puderam contar com um símbolo por excelência para a sua soberania e perfeição científica. Tais obras tornam-se assim, símbolo do Estado, como já salientamos.

A ansiedade das novas nações em confirmar cartograficamente sua independência se reflete na prática das grandes potências coloniais de usar mapas para legitimar suas conquistas territoriais, sua espoliação econômica e seu imperialismo cultural (MONMONIER, 1991).

No início dos anos 70 assistimos ao desenvolvimento de nova e revolucionária tecnologia, a do Sensoriamento Remoto, caracterizado especificamente pelo emprego conjugado de uma multiplicidade de sistemas sensores, desenvolvidos através de várias missões aplicadas às ciências da terra e da atmosfera. O primeiro satélite para o sensoriamento dos recursos terrestres foi o ERTS (Earth Resources Technology Satellite) lançado em julho de 1972. Iniciava-se assim, o sistema de Sensoriamento Remoto orbital LANDSAT. Ao lado das missões dirigidas especificamente ao domínio da meteorologia e climatologia, com o lançamento do Landsat 4 e 5 obtém-se sensível melhora na precisão de posicionamento da plataforma, além de maior resolução espacial, graças ao emprego do novo sensor, o THEMATIC MAPPER (TM), com grande aplicação na cartografia temática, o que é feito basicamente mediante classificações digitais supervisionadas ou não. (NOVO, 1989).

Outro marco importante neste conjunto de empreendimentos foi sem dúvida o lançamento do primeiro satélite da série SPOT (Satellite Pour Observer la Terre), em 1986, oferecendo registros em modo pancromático ou multiespectral, com resoluções espaciais e espectrais mais apuradas. A grande inovação nesta nova tecnologia foi a possibilidade de obtenção, no modo pancromático, de imagens estereoscópicas, permitindo a restituição do relevo (CASSANET, 1988).

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O modo pancromático, outrossim, privilegia a precisão geométrica da imagem possibilitando maior acuidade no reconhecimento das formas, enquanto que aquele multiespectral favorece a percepção colorimétrica, facilitando a identificação dos objetos pelos seus matizes.

Hoje em dia, as imagens multiespectrais ou estereoscópicas do sensoriamento remoto visam inúmeras aplicações: a elaboração de mapas de regiões ainda pouco conhecidas, o traçado de estradas, a busca de sítios favoráveis à prospecção mineral, a identificação de regiões com riscos sísmicos, a monitoração dos efeitos da aridez prolongada, das inundações, das queimadas, da poluição, bem como permitem a previsão de safras agrícolas. São empregadas eficientemente na atualização de mapas topográficos e temáticos (CERVELLE, 1989).

Atualmente, a cartografia entra na era da informática. A automação se introduz na cartografia através das fases mais matemáticas do processo cartográfico, graças ao aparecimento dos computadores, por volta de 1946. As primeiras aplicações são feitas aos cálculos astronômicos e geodésicos, ao estabelecimento das projeções e, mais tarde, aos tratamentos estatísticos de dados, principalmente para os mapas temáticos. Mas é a partir da década de sessenta que podemos considerar uma cartografia assessorada por computador, a qual passa a ser operacional em todas as etapas da elaboração dos mapas. Na cartografia temática, em especial, ela tem grande avanço em função do sensível progresso da geografia quantitativa, a partir da década de 50. Pelo fato da crescente necessidade de se trabalhar uma grande massa de dados, bem como uma boa variedade de parâmetros específicos para uma consciente análise matemática e estatística, é que se buscam os processos computacionais (JOLY, 1990).

Com o auxílio de satélites e de computadores, a cartografia vem se tornando cada vez mais um verdadeiro Sistema de Informações Geográficas, visando a coleta, armazenamento, recuperação, análise e apresentação de informações sobre lugares, monitoradas no tempo, além de proporcionar simulações de eventos e situações complexas da realidade, tendo em vista a tomada de decisões deliberadas.

É bom lembrar que este é um momento em que a produção da informação, graças à tecnologia, através do computador, do fax, do satélite, está aumentando vertiginosamente. Poderá até gerar ansiedade, pois existirá sempre uma constante e crescente distância entre o que podemos compreender e o que achamos que deveríamos compreender. Esta ansiedade é agravada ainda mais pela confusão que persiste entre dados e informação, entre fatos e conhecimento. O entendimento desta diferença será básico para ajudar na compreensão e aumentar o conhecimento (WURMAN, 1989).

O exemplo mais simplista é aquele que aponta o dado como a data de nascimento e a informação como a idade. Mas adotaremos as explicações de DAVIS e Mc CORMARCK (1979). Para os autores, dados são fatos e informação é o sentido que os seres humanos atribuem a eles. Dados em si não trazem grande significado; só depois que estes forem de alguma forma agrupados ou processados é que poderemos ver o significado se revelar. Podemos notar que este mesmo raciocínio será a base de toda a proposta de BERTIN (1973), a qual será apresentada e discutida ao longo deste trabalho para o caso dos mapas temáticos.

Entretanto, apesar de todo este desenvolvimento tecnológico que a cartografia vem se beneficiando na atualidade, deve existir uma clara conscientização com o fim de avaliá-la permanentemente em seu contexto social. Assim, não basta que os mapas respondam apenas à pergunta “Onde fica?”. Hoje, eles precisam responder também a outras

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questões como “Por quê?”, “Quando?”, “Por quem?”, “Para que finalidade?” e “Para quem?”.

Assim, hoje não podemos falar sobre cartografia sem nós nos referirmos ao MAPA, ao processo através do qual ele é criado e ao contexto social no qual ele se insere. Neste sentido, pode-se considerar para os dias atuais a seguinte definição para cartografia: “a organização, apresentação, comunicação e utilização da geoinformação nas formas gráfica, digital ou tátil. Pode incluir todas as etapas, desde o levantamento dos dados até o uso final seja de mapas, como de produtos relacionados com a informação espacial” (TAYLOR, 1991; 1994).

Esta definição é bastante similar àquela proposta por BOARD, em 1990, que conforme citação em KRAAK e ORMELIG (1996), a coloca nos seguintes termos: “uma representação ou abstração da realidade geográfica”. Um dispositivo para a apresentação da informação geográfica em uma determinada maneira, como visual, digital ou tátil. Nota-se assim uma ampliação no domínio da sensibilidade cartográfica: a tátil.

É claro que, atualmente, a ciência dos mapas também não pode ser vista fora do contexto da era da informação de onde desponta como conceito central o de visualização cartográfica, tido como uma forma de amalgamar os entendimentos da cartografia associados à cognição e análise, à comunicação e às tecnologias computacionais. Especificamente, a visualização se tornaria a aplicação da cartografia computadorizada para viabilizar os procedimentos de análise e comunicação junto às representações feitas através de mapas. Podemos esperar, assim, como resultado, uma cartografia dinâmica oferecendo um grande potencial para a manipulação interativa das informações espaciais.

O desenvolvimento de tecnologias computacionais trouxe para a cartografia, junto aos interesses da visualização, a exploração de novas operações de multimídia com grande aplicação educacional, interligando os lares às livrarias, escolas, empresas, instituições, através de redes de informação cartográfica.

A comunicação cartográfica também está se beneficiando enormemente das já citadas novas tecnologias vinculadas à visualização e à multimídia. Assim, além da comunicação visual tida como central, outras formas adicionais não-visuais como o som e o texto estão participando efetivamente. Obtemos assim, uma comunicação integral completa. Com esta efetiva interação entre o usuário e o mapa podemos esperar grandes avanços no ensino e na comunicação em geral.

Confirma-se assim, uma verdadeira cibercartografia, fazendo com que a cartografia possa ser aplicada a um espectro mais amplo de temas. Esta visão não é nenhuma grande novidade. GRYGORENKO (1982), em seu artigo no Bulletin du Comité Français de Cartographie já apontava a visão do processo de comunicação cartográfica, junto ao sistema global do fluxo de informações, em seu conjunto, como sistemas cibernéticos de informação, no qual o fluir de mensagens se efetua através da intermediação do raciocínio e reflexão humanos, pois controlariam todo o sistema. A imagem cognitiva da realidade geográfica, tida como modelo de concepção do mapa, é que seria o motor responsável pelo funcionamento do sistema de comunicação cartográfica.

Em época bem anterior, também RIMBERT (1968) já lucubrara que a cartografia, pelo fato, de um lado, fornecer mapas cada vez melhor resolvidos para a representação de fenômenos espaciais e de outro, participar do raciocínio para o esclarecimento do entendimento, podia ser associada à cibernética.

A cibercartografia, hodierna, sem dúvida alguma combinará um crescente número de novos meios e redes de comunicação à distância. A exploração da multimídia

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poderá promover não só uma cartografia multidimensional, como também uma cartografia dinâmica com animações.

A cognição cartográfica, por sua vez, é um processo bastante singular que envolve o cérebro para reconhecer padrões e relações espaciais, o qual necessita incontestavelmente da visualização cartográfica para desencadear esta elaboração.

É no campo da cognição e da análise, principalmente quando vistas como resultantes do uso da visualização, que podemos entrever um maior estreitamento dos laços entre a moderna cartografia e a atual geografia.

A visualização tida como aglutinadora de todos os aspectos da cartografia não poderia se divorciar de seu contexto social, pois sem dúvida alguma, o conteúdo do mapa é muito mais importante do que as técnicas na história social da cartografia.

Entretanto, deve ser levado em conta ao fazer cartografia, a natureza da convergência tecnológica concentrando o poder da informação nas mãos de poucos, quase que exclusivamente junto às nações pós-industriais do mundo desenvolvido, excluindo deste clã aquelas ainda em desenvolvimento. É diante deste contexto que deverá haver maior esclarecimento no sentido de estimular entre os cartógrafos um amplo interesse pela cartografia social e cultural, bem como uma avaliação das implicações sociais e culturais de todos estes novos avanços da ciência dos mapas. Os realizadores de mapas não poderão ignorar o contexto em que a informação cartográfica é usada. Todos estes novos avanços não são nada neutros, podendo ter significativas conseqüências socioeconômicas.

2 AS REPRESENTAÇÕES

É expressiva, hoje, a abundância de representações. Constituem feitos sociais por excelência. Elas são produtos da mente humana. Significam sombras dos ecos das presenças perdidas. Os deuses múltiplos e o deus único dos teólogos são representações do ser oculto. São construções que substituem coisas e resultam de uma atividade. A medição do tempo de trabalho representa a atividade produtiva, assim como uma curva num gráfico representa um fenômeno físico. Assim, as representações podem constituir uma etapa, um momento do processo do conhecimento. É com esta consideração que pretendemos defender a validade do mapa na geografia.

As representações ocupam, portanto interfaces - entre o sujeito e o objeto; entre a presença e a ausência; entre o vivido e o concebido. Poderão conter desta feita mais conteúdo que o representado (LÉFÈBVRE, 1981) (ANDRÉ et alii, 1989) (LENCIONI, 1997).

Entretanto, devemos tomar cuidado para não considerar a representação como substitutiva da realidade, mesmo que ela faça parte dela. Assim, os mapas como representações da realidade são distintos desta. Devemos saber distinguir a realidade da sua representação.

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Nesta linha de raciocínio, os mapas passam a ser meios e instrumentos destas representações, lembrando, entretanto, que o conhecimento deve ir além da aparência, além do que aparece representado.

Do ponto de vista da filosofia, a representação consiste no que um objeto está presente no espírito (imagem, conceito).

As especulações do homem de cada civilização em desejar figurar algo mais que seu meio circunscrito, o mundo além do horizonte, que vai do real ao imaginário, desembocaram em imagens, visões do mundo e do cosmo constituindo-se em verdadeiras representações destas aspirações.

Estas representações do mundo possuem em geral, traços comuns como: são mapas circulares, quadripartites, etnocêntricos, com um elemento quase universal, o oceano. Estas figuras concebidas como mapas-múndi teriam apelado para um espírito universalizador, voltado a construir um modelo concreto para representar concepções filosóficas (LIBAULT, 1967) (KISH, 1980).

No caso da representação da Terra, é preciso estar conscientes de que ela foi elaborada durante a Idade Média, do século XII ao século XV, quando seus idealizadores, ao escamotear as contradições da época, conseguiram conciliar o mito bíblico da Terra plana - no nível do ecúmeno - com a concepção grega de uma Terra esférica - no nível da astronomia.

Entretanto, com os resultados práticos das experiências trazidas pelas navegações no Atlântico, principalmente no hemisfério sul, reformularam-se as bases daquela representação, e num curto espaço de tempo, de 1480 a 1520, a imagem medieval de uma Terra plana transformou-se na visão de uma Terra esférica: a do globo terrestre; uma mudança epistemológica fundamental na evolução do homem (RANDLES, 1980).

Outro domínio da representação é o psicológico. Neste, ela passa a ser a percepção, a imagem mental, na qual o conteúdo se reporta a um objeto, a uma situação, a uma cena do mundo no qual vive o sujeito. Dentro deste campo nos interessa particularmente a questão do espaço representativo relacionado com fatores fisiológicos e psicológicos associados com o desenvolvimento das percepções de objetos e fenômenos que se dão no espaço. A percepção e o conhecimento dos objetos implicam num contato direto com os mesmos. A representação lastreia-se em evocar os objetos em sua ausência, duplicando a percepção em sua presença. Estas considerações são básicas para a concepção e entendimento dos mapas.

A construção do espaço se inicia desde os primeiros momentos da vida humana. Ela se processa progressivamente, tanto no plano perceptivo como representativo.

De início, a construção do espaço se realiza junto a um espaço perceptivo, ligado à percepção e à motricidade. Processa-se através da interação entre o organismo e o meio ambiente. Depois, tal construção passa a ser representativa, coincidindo com o aparecimento da imagem e do pensamento simbólico. A última etapa da construção do espaço é operatória. Também acontece mediante reconstruções sucessivas, primeiro, de maneira concreta, depois, formal.

Neste sentido, a representação espacial da superfície da Terra é uma atividade mental que leva ao conhecimento desta (OLIVEIRA, 1978).

Este raciocínio é básico para se entender como os mapas passarão a participar da vida das pessoas. Para tanto, é necessário verificar como isto se realiza, desde os primeiros anos de vida.

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Assim, é desde criança que se inicia o processo de construção, aprendizado e domínio do espaço. Ele se realiza em etapas, em conformidade com os passos do desenvolvimento mental do indivíduo.

De um espaço perceptivo, de ação, apreendido concretamente, a criança passa posteriormente à construção do espaço representativo. Substitui a ação ou objeto por um símbolo ou signo, o que lhe permitirá mais tarde raciocinar sobre um espaço que está representado em mapa, mesmo sem antes tê-lo vivenciado.

Para isto, tanto no plano da construção do espaço perceptivo e depois, naquele representativo, será necessária uma libertação progressiva do egocentrismo - referencial sediado na própria criança - para localizar objetos no espaço (11 a 12 anos). Este processo é chamado descentração. Ele acontece numa seqüência de etapas que envolvem a construção de relações espaciais.

As primeiras relações espaciais, as mais simples que as crianças conseguem estabelecer, são as topológicas (5 a 6 anos). Localizam através do tato, visão e dos próprios deslocamentos, objetos no espaço, em termos de perto/longe, dentro/fora, em cima/ embaixo, etc. (Fig. 4)

Depois, as crianças passam a considerar relações projetivas: direita/esquerda, frente/atrás, acima/abaixo - primeiro em relação a elas próprias (5 a 8 anos), depois, em relação a outrem colocado à sua frente (8 a 11 anos) e finalmente coordenando vários pontos de vista, colocando-se mentalmente nestas mesmas posições (11 a 12 anos). (Fig.5)

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Dominadas estas três fases, a criança pode começar a entender as direções cardeais.

Finalmente, elas passarão a ter a capacidade de estabelecer relações euclidianas ou métricas, apoiadas nas noções físicas de verticalidade e horizontalidade (9 a 11 anos) e de distância sobre tais direções ou situar objetos em relação a um referencial fixo, como aquele das coordenadas geográficas. (Fig. 6)

Neste ponto, as crianças serão capazes de localizarem-se e orientarem-se usando referenciais abstratos, atividades essenciais para sua própria organização espacial.

Com o aparecimento da função simbólica (capacidade de substituir a ação ou objeto por símbolo), a criança começa a construir a relação significante (o que ela desenha)/significado (o que ela pensa), para depois passar aos poucos a elaborar o espaço representativo (2 anos). Primeiro, ela interioriza as ações, depois, as exterioriza através da reprodução gráfica das mesmas (desenho - tradução das percepções táteis e dos movimentos em imagens visuais).

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A criança irá iniciar a se expressar com a representação das relações espaciais mais simples, as topológicas, para depois conseguir fazer aquelas projetivas, as quais, de um único ponto, aquele onde ela está, evoluem para a diversidade dos pontos de vista. Posteriormente, de maneira simultânea e interdependente passarão a elaborar as euclidianas, as mais completas, coordenando medidas de distância nas direções, horizontal e vertical, a partir de um referencial fixo arbitrado, para se localizar.

Este mesmo encaminhamento pode ser constatado no ato de representar o espaço feito pela sociedade humana desde os primórdios de sua existência. Ao homem de então lhe bastava um espaço limitado conhecido e vivenciado pela experiência do seu dia-a-dia. Ao representá-lo de forma bastante rudimentar, com riscos gravados em pedra ou em outros materiais ou com o arranjo de peças articuladas entre si, como gravetos, cordas e conchas, transcrevia a prática de suas relações espaciais, revelando o conteúdo das relações sociais de sua comunidade, como já falamos de início.

OLIVEIRA (1978) salienta que, em geral, estas construções primitivas não apresentam grandes preocupações com a distância métrica e a localização absoluta. Pode-se averiguar que ao elaborar tais mapas, o homem procurou localizar as distâncias e os fenômenos apenas de um ponto de vista topológico. A mesma autora frisa, ainda, que as etapas do processo mental colocado em ação, foram as mesmas que seriam mobilizadas na cartografia. Tais mapas devem ser vistos sempre, não só como meios de comunicação, mas também, e principalmente, como instrumentos para a ação e dominação.

Em termos psicológicos, OLIVEIRA (1978), pondera que, quando se considera a construção do espaço, os homens primitivos que elaboraram tais mapas estariam no período pré - operatório do desenvolvimento mental. Portanto, eles não seriam ainda capazes de estabelecer relações espaciais cognitivas.

De inspiração fenomenológica devem ser consideradas também as representações do imaginário e das fantasias dos homens, como já salientamos. Junto à geografia da década de sessenta, a geografia da percepção e do comportamento, mais humanista, que passou a enaltecer a importância da estética e do imaginário na sua análise, instituiu-se a concepção dos mapas mentais. São mapas subjetivos e construídos a partir da percepção que os homens têm do espaço, segundo a qual se elabora a respectiva imagem. Neste sentido, estes mapas passariam a ser reveladores das imagens que as pessoas têm acerca dos lugares adquirindo grande importância no estudo da construção social destes (DOWNS e STEA, 1973) (GOULD e WHITE, 1974) (TUAN, 1974)

Hoje em dia, no campo do turismo podemos verificar que, cada vez mais há uma ansiedade, por parte dos agentes promotores do espaço turístico, de ir ao encontro das imagens que se formam na mente dos indivíduos, fruto de suas fantasias, ao se satisfazerem da necessidade de viajar, fabricada pela sociedade contemporânea.

Estas representações ganham, assim, importância nas campanhas publicitárias para a promoção e venda de espaços turísticos, transformando o imaginário em realidade imbuída de aventuras e de exotismos.

Neste contexto, desenvolve-se uma grande variedade de formas de comunicação visual com forte presença da informática. Deixando de lado, pelo momento, os recursos da realidade virtual, lembraremos aqui para o nosso estudo, o destaque da participação, tanto da imagem figurativa como do mapa, na tarefa de serem portadores dos lugares que vêm ao encontro das pessoas (RODRIGUES, 1977).

No nosso entender, é incontestável a função da representação paisagística da fotografia ou desenho, seja de um amplo panorama, seja de um detalhe de um ambiente

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urbano, tornando-se um instrumento poderosíssimo em prol de uma fácil aproximação do grande público ao entendimento consciente do espaço turístico que podemos lhe oferecer.

O mapa, por sua vez, completa-lhe, em representação gráfica, o conteúdo, porquanto pode ser portador de um adequado repertório sistemático de informações úteis. Para tanto, ele deve ser concebido como um sistema semiológico monossêmico, dispensando convenções, onde se exalta a relação entre os significados dos signos. Ademais, o mapa turístico deve ainda articular várias escalas em consonância com a conexão dos diferentes níveis de manifestação do fenômeno turismo, com o fim de mostrar e conscientizar o público sobre o embutimento contínuo dos espaços, que poderão ser apreciados com maior ou menor detalhe, em função das necessidades do turista. (MARTINELLI, 1996).

Devemos lembrar ainda, que as representações como abstrações em mapas conterão o concreto dos homens bem como dos espaços por eles produzidos, tidos em seu conjunto, como objeto de estudo da geografia. Portanto, o geógrafo deve estar consciente de que tais representações permitirão ao poder um melhor controle. Cabe então ao pesquisador explicá-las diante das pessoas que vivem no espaço que ele estudou (LACOSTE, 1976).

3 OS MAPAS TEMÁTICOS E SUA CARTOGRAFIA

Desde o grafito de Bedolina até os mapas em meios magnéticos ou em realidade virtual de hoje, a história da cartografia dos mapas temáticos ocupa um lapso de tempo bastante breve, se confirmando praticamente em épocas bem recentes.

Entretanto, desde o fim do século XVI já começavam a aparecer mapas que representavam fenômenos particulares com objetivos essencialmente práticos. São os mapas hidrográficos, das florestas, das rotas dos correios, dos limites políticos e aqueles administrativos.

Para LACOSTE (1976), a cartografia como tarefa de fazer mapas, que era antes da geografia, se consolidou somente no século XIX, época que se definiu o então mapa especial reportando certo número de conjuntos espaciais resultantes das classificações dos fenômenos que integram o objeto de estudo de um determinado ramo da ciência.

Dando idéia até de um anacronismo, a expressão “Cartográfica Temática” referente a tais mapas surgiu na Alemanha por volta de 1934, sendo atribuída a R. V. Schumacher (SANTOS, 1991). Até mesmo o vocábulo "cartografia" não está muito distante. Foi um neologismo forjado em 1877 pelo português Visconde de Santarém. Condensa termos derivados do grego.

De criação mais recente ainda, é o conceito de "mapa temático" introduzido em 1952 por Creuzburg no congresso de cartografia de Stuttgart.

Entretanto, não podemos ser categóricos ao afirmar a clássica consideração de que a cartografia apresentar-se-ia dividida em dois ramos distintos: a cartografia topográfica e a temática, como aparece, em geral, nos manuais daquela disciplina.

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Para PETERS (1992), a concepção de uma cartografia temática bem delimitada contrapondo-se a uma cartografia topográfica geral, constitui o mito cartográfico mais recente, da década de 60, mesmo depois de derrubado aquele que impôs por longo tempo a visão eurocêntrica do mundo.

Pode-se verificar assim, que num período bastante curto, de 1966 a 1972, autores como: ARNBERGER (1966), WILHELMY (1966), RIMBERT (1968) e WITT (1970) publicaram livros específicos sobre o ramo temático, doutrinando uma nova disciplina que se completava em si mesma, como uma parte da ciência cartográfica.

A cartografia temática não surge de forma espontânea; é historicamente sucessiva à visão topográfica do mundo, essencialmente analógica.

Com o florescimento e sistematização dos diferentes ramos de estudos operados com a divisão do trabalho científico, no fim do século XVIII e início do século XIX, desenvolveu-se outro tipo de cartografia, a cartografia temática, domínio dos mapas temáticos, como já frisamos. Esta nova demanda de mapas norteou a passagem da representação das propriedades apenas “vistas”, para a representação das propriedades “conhecidas” dos objetos. O código analógico é substituído paulatinamente por um código mais abstrato. Representam-se agora, categorias mentalmente e não mais visualmente organizadas. Confirma-se, assim, o mapa como expressão do raciocínio que seu autor empreendeu diante da compreensão da realidade, apreendida a partir de um determinado ponto de vista: sua opção de entendimento do mundo. É a confirmação de uma postura metodológica na elaboração da cartografia temática.

Para uma geografia que inicialmente se preocupava mais com a descrição, sem explicação, a cartografia tinha como maior incumbência a localização dos objetos geográficos além de qualificá-los. A mensagem comunicada passava a ser recebida apenas através da mobilização das duas dimensões do plano.

Pode-se avaliar aqui um dos motivos do não aproveitamento total do mapa por geógrafos: eles apenas exploram o “onde”.

Pode-se considerar como um prenúncio da gradativa transição da representação topográfica para uma representação temática mais específica, aquela que se pode chamar de cartografia descritiva (séc. XVII e XVIII), que tinha o propósito de inventariar objetos discerníveis, portanto, percebidos como distintos, compondo o conjunto daqueles que a sociedade em cada época produz e considera pertinentes à sua percepção de mundo.

Nos primeiros mapas tidos como temáticos, naqueles elaborados no século XVIII, pode-se perceber já certa transformação: o mapa deixava de se preocupar com o inventário e descrição exaustiva de todos os objetos que podiam ser recenseados à superfície da Terra, para ressaltar apenas um desses elementos, com vistas à maior compreensão e controle do espaço. Consolidava-se, assim, um caráter eminentemente prático para esta cartografia emergente.

Podemos considerar como tais, como já apontamos os mapas das rotas dos correios (itinerários e estalagens), com uma preocupação altamente seletiva, deixando de lado os demais registros topográficos de base. Com estes singelos acréscimos temáticos temos o que se pode chamar de mapas para-temáticos. Pode-se considerar um começo de explicação, porém, sem ainda uma nítida ruptura da descrição tradicional do mundo visível. São chamados de pré-temáticos (PALSKY, 1996).

A cartografia temática nasce, assim, essencialmente positivista, pronta a atender a exigência da concepção filosófica e metodológica dos vários ramos científicos da época. Sempre foi o papel de ela mapear o conhecimento empírico, a aparência dos fenômenos, a

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partir de observações e mensuração palpáveis da realidade, tendo em vista fornecer um instrumental adequado à descrição, enumeração e classificação dos acontecimentos.

O fato da geografia, nessa concepção tradicional, contar com apenas um único método de interpretação reflete-se, de certa forma, na maneira como a cartografia temática representa questões da natureza e da sociedade. A mesma superfície estatística aplicada às chuvas representada por isolinhas podia ser empregada para mostrar distribuições espaciais vinculadas à sociedade, expressas em isopletas.

Outra questão que perdura até nossos dias, fruto desta maneira Kantiana de pensar, é a incapacidade da cartografia temática de representar conjungadamente o espaço e o tempo. São considerados separadamente.

A afirmação da geografia, como ciência de síntese, na busca da classificação, faz com que a cartografia temática se encaminhe no ensejo da concretização do mapa de síntese, na pretensão de alcançar ser um fecho do conhecimento científico, unificando assim, os estudos sistemáticos realizados pelas demais ciências.

A sistematização desta geografia se dá consoante com a emergência do modo de produção capitalista numa Europa que já se havia preparado para promover a passagem do feudalismo para o capitalismo, momento em que a cartografia forneceu bases seguras para desencadear o processo de transição (MORAES, 1981).

A crescente vocação da cartografia em busca de uma especialização acontece notadamente no século XVIII. Isto vai se operando com uma gradativa libertação do registro eminentemente analógico, passando a considerar temas que paulatinamente se acrescentam à topografia. Esta nova construção mental na cartografia fica evidente com a preocupação do mapeamento do uso do solo: o mapa topográfico vai sendo enriquecido com acréscimos temáticos (ROBINSON, 1982).

São os mapas corocromáticos. Nesta fase transitória não podemos falar de uma autêntica cartografia temática, pois ela não adota ainda um sistema gráfico de signos definitivamente estruturado, com uma sintaxe bem definida. Fica clara, portanto a tese defendida por PALSKY (1996) de que os mapas temáticos passam a restituir categorias mentalmente e não tanto, visualmente organizadas, como já apontamos de início.

O maior exemplo desta nova vocação da cartografia está na elaboração dos mapas mineralógicos do século XVIII, como é o caso do "Mapa mineralógico" de DUPAIN-TRIEL (1781) para França, no qual se reconhecem elementos básicos da topografia acrescidos de informações a respeito do subsolo. Pode-se notar aqui já um forte progresso com a preocupação da explicação, mas ainda sem uma ruptura profunda com a consciência descritiva anterior, como já adiantamos. Vemos que os acréscimos temáticos são feitos pontualmente, carecendo ainda de uma informação espacial contínua.

Entretanto, o primeiro mapa geológico propriamente dito foi considerado, como já apontamos oportunamente, aquele da região norte da Inglaterra, elaborado por WILLIAM SMITH (1769-1839), tendo sido construído com base na subdivisão estratigráfica apoiada no estudo dos fósseis (LEINZ e AMARAL, 1968).

A descrição tradicional do mundo visível inibe o avanço temático revelado pelo progresso científico ou pelas preocupações aplicativas. Impede também a busca de uma linguagem autônoma para esta representação. A expressão gráfica continua, assim, presa à herança topográfica, com conseqüente multiplicação de signos pontuais, rigorosamente amarrados às normas e convenções.

A passagem do código analógico para uma linguagem específica de maior abstração, torna-se difícil não só no plano conceitual, mas também naquele representativo. A própria geografia pouco contribuiu para esta tarefa, pois insistiu em ser a ciência dos

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lugares, cabendo à cartografia de posicioná-los. Nítida postura positivista (PALSKY, 1996).

Esta visão topográfica, locacional da cartografia temática pode ser constatada de forma evidente junto aos estudantes que ingressam na graduação de geografia. Sua primeira leitura do mapa temático é aquela que repertoreia os lugares, sem entrever o relacionamento espacial do conteúdo e significado dos mesmos, o que encaminharia os estudantes para um raciocínio mais elaborado condizente com a proposta de uma cartografia temática bem sistematizada.

Por sua vez, PETCHENIK (1977) considera que os mapas não carregam em si os significados, mas os desencadeiam na cabeça do usuário. Os signos apreendidos pelo leitor constróem em sua mente o significado do conteúdo que foi formulado pelo construtor do mapa. Neste sentido, o significado dos mapas é resultado do arranjo espacial, não dos objetos, mas sim do conjunto de relações entre os objetos. O leitor deve reconstruir em sua mente estas relações. Neste momento, o mapa passa a ter significado. É assim que se opera a apreensão do conhecimento espacial através de mapas. Como resultado, poderemos saber onde os lugares ficam e como se estruturam, sem mesmo tê-los visitado.

A cartografia náutica, já enunciada anteriormente, é outro ramo que se inclui nesta transição, pois exige uma linguagem distinta daquela topográfica. Certos fenômenos úteis à navegação, que não se inscrevem materialmente e geometricamente sobre a superfície da Terra, como o magnetismo terrestre, os ventos e as correntes marítimas, contribuíram para o avanço no campo da lucubração dos mapas temáticos.

Edmond HALLEY elaborou o primeiro mapa dos ventos oceânicos em 1686. Mais tarde, em 1701, construiu aquele das declinações magnéticas. É a primeira elaboração da linha de igual valor, a isolinha.

(Fig. 7)

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BOUGUER (1753), por sua vez, produziu o mapa da direção geral dos ventos conjugados à variação da bússola (linhas isogônicas), colocando na mesma representação uma rede de linhas orientadas, expressando um fenômeno com ocorrência zonal, os ventos, e a rede de linhas de mesma declinação magnética.

(Fig. 8)

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Pode-se perceber nestas representações o início de uma ruptura com o mundo visível e a busca da exploração da variação perceptiva em terceira dimensão visual dissociada do espaço em duas dimensões intrínsecas ao mapa como figura do terreno. É assim que começa a se esboçar a representação do tema com uma conscientização progressiva de que este deve ser explorado evidenciando-se a relação entre os significados dos signos, base fundamental para a elaboração de uma sintaxe para a linguagem desta cartografia emergente.

Esta forma de expressão, essencialmente temática, passa a se confirmar com a passagem das representações eminentemente qualitativas e ordenadas para a percepção e expressão das quantidades.

Até o fim do séc. XVIII, as quantidades eram representadas apenas mobilizando sua manifestação embutida nas duas dimensões do plano, isto é, não se mostrava a quantidade da população, apenas a extensão dos lugares habitados.

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As primeiras realizações da cartografia temática quantitativa eram feitas inscrevendo - se diretamente sobre o mapa, nos lugares de ocorrência, as quantidades referentes à população, economia, produção, extraídas das estatísticas oficiais.

O padre DAINVILLE aponta o mapa anônimo “Carte générale de Sévennes” (1726) como o primeiro mapa a introduzir uma quantificação de população, que é representada por tamanhos de signos figurativos, classificando a importância das respectivas aglomerações.

Entretanto, do ponto de vista metodológico lembramos que toda evolução e confirmação da representação quantitativa na cartografia temática se devem à estatística. É através da “estatística gráfica” que se estipula a construção dos gráficos que assim se colocam como precursores dos mapas quantitativos. Pode-se verificar que os métodos das representações quantitativas consistem em se transferir diretamente os gráficos para a cartografia.

Deve ser dado especial destaque à criação entitulada de “Essai d’une table poléométrique”, datada de 1782, por obra de Charles de FOURCROY. É considerada como a primeira representação empregando as figuras geométricas proporcionais, portanto, mobilizando tamanhos para comparar as superfícies das cidades. Uma série de quadrados superpostos permite, não só de ver a hierarquia das extensões das superfícies ocupadas pelas cidades, como também de classificá-las em várias categorias, desde cidades muito pequenas até cidades grandes. Percebe-se aqui, a exploração das duas dimensões do plano, não mais apenas para localizar o visível, mas sim para mostrar o quantitativo, como também para tratar os dados com o fim de descobrir agrupamentos que eles constróem. Hoje, são os SIG’s que realizam estas operações sob solicitação (FOURCROY, 1782) (BERTIN, 1973) (PALSKY,1996).

(Fig. 9)

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Neste ponto, entra em cena William PLAYFAIR (1759-1823) que inventou a “aritmética linear” para ilustrar suas obras, trabalhos de cunho político e econômico. Trata-se do sistema de gráficos estatísticos que foram desenvolvidos para o “Comercial and political Atlas” de 1786 e para o “The statistical breviary” de 1801. Embora matemáticos tivessem estabelecido gráficos a nível teórico para a representação de funções, Playfair os lançou ao uso aplicativo.

Ele idealizou assim, formas de visualização dos dados. Estabeleceu metodologia para a aplicação de gráficos de linhas e de colunas às estatísticas financeiras. Ele explica seu método: se no fim de cada dia empilhássemos as moedas ganhas, cada pilha corresponderia a um dia de trabalho e a sua altura seria proporcional à respectiva receita. Por este método muita informação pode ser obtida em poucos instantes de observação. Sem ele, contando apenas com a tabela, seria necessário muito mais tempo para se chegar ao mesmo entendimento.

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É do mesmo autor a construção de um gráfico de linhas para representar a balança comercial da Inglaterra no período 1770/1782, ressaltando o saldo positivo com vermelho e o negativo com azul. Com isto, PLAYFAIR (1786) não só tratou a informação, como também revelou seu conteúdo, dando através de uma visão de conjunto, transparência instantânea à verdadeira situação daquela realidade. A escolha da oposição entre as cores - azul e vermelho - mostra com clareza a oposição entre as operações. Vê-se a cor, aqui, sendo usada como variável visual e não como símbolo, muito menos como um componente decorativo. (Fig. 10)

Em 1805 inventou o setograma, apoiado no sistema estabelecido por BERNOUILLI - o sistema polar - círculos concêntricos e raios que convergem para um pólo. O setograma de PLAYFAIR serviu para ilustrar o relatório “Statistical account of the Unded States of America,” de autoria de DONNANT. Tal gráfico representava, nesta obra, a proporção das superfícies dos estados americanos em relação ao país como um todo. O círculo era dividido, portanto, em setores condizentes (HOLMES, 1991).

O primeiro método para representações quantitativas a ser estabelecido foi o coroplético: a uma série estatística com os dados agrupados em classes significativas corresponde uma ordem visual - do claro para o escuro. Deve-se assim a DUPIN, com a “Carte figurative de l’instruction populaire de la France”, datada de 1826, a elaboração de um primeiro mapa estatístico. Com sua idealização temos uma primeira forma de representar quantidades por variações visuais sensíveis dissociadas do significado localizacional das duas dimensões do plano do mapa (DUPIN, 1826).

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(Fig. 11)

O mais importante a ser ressaltado nesta proposta é o fato de colocar às claras a relação entre a instrução popular e o desenvolvimento econômico. A oposição claro/escuro torna-se SÍMBOLO, colocando em oposição uma França já esclarecida contra uma França ainda no obscurantismo. Portanto, passando à representação de uma escala de valores morais. Assim, este mapa constitui uma IMAGEM eloqüente em favor da indústria e das doutrinas inglesas de civilização e economia política. Esta cartografia temática pioneira se associa desta maneira, ao discurso do capitalismo industrial e liberal emergente. Fixam-se, assim, as bases para uma progressiva evolução do sistema gráfico de signos em direção à sua autonomi (PALSKY, 1996).

Outras criações semelhantes apareceram na produção da cartografia temática da época, revelando-nos que a linguagem cartográfica de então hesita em renunciar ao simbolismo figurativo da representação, não aceitando facilmente a adoção do rigor de uma sintaxe lógica (CARON, 1980).

Outra representação quantitativa inventada no inicio do Século XIX, primeira no gênero, fugindo da tradição estabelecida por DUPIN, foi o "Método dos pontos de contagem". Foi definido por FRÈRE DE MONTIZON ao realizar o mapa “Carte

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philosophique figurant la population de la France” (1830), para mostrar a distribuição do seu efetivo em valores absolutos (MONTIZON, 1830). (Fig. 12)

Este método teve grande difusão e aplicação quando da representação de populações com efetivos reduzidos e padrão de distribuição disperso, principalmente no início do século XX. Isto pode ser constatado através da publicação do Atlas "Geography of the world agriculture" de autoria de FINCH e BAKER (1917).

Uma outra reflexão teórica importante que deve ser levada em conta na estruturação da linguagem da cartografia temática é a contribuição dada por LALANNE (1843). Em base à sua teoria sobre a representação gráfica das leis que levam em conta três variáveis, estabelece o que hoje chamamos de Gráfico isoplético adotado por SNYTKO (1976) para a análise temporo - espacial dos regimes naturais dos geossistemas.

LALANNE elabora um gráfico intitulado “Courbes d’ égale temperature moyenne à Halle” (1843).

(Fig. 13)

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Em suas pesquisas de 1863 LALANNE esboça, em tese, o que hoje chamamos de mapeamento das isopotenciais, esboçando as leis que presidem os agrupamentos de população, que por sua vez exerceriam influências na contextualização de uma rede de vias de comunicação. Esta contribuição prefigura a Teoria dos Lugares Centrais estabelecida por Christaller, em 1933 (CHRISTALLER, 1966).

O mesmo autor apontava, na época, o que hoje é bastante sabido: que os mapas em linha de igual valor revelam o sentido e direção através dos quais as variações quantitativas do fenômeno representado atingem seus máximos e seus mínimos e a influência que produz cada um daqueles componentes naquelas variações quantitativas.

A busca de uma representação coroplética que pudesse substituir as classes de percepção ordenada por classes de percepção quantitativa, levou BOLLAIN a criar texturas de linhas, cuja espessura varia na proporção dos valores relativos representados. Mas seu maior êxito foi conseguido com a proporcionalidade dos círculos para a representação da população aglomerada.

Com a Revolução Industrial tem-se o início da busca da avaliação da mobilidade dos homens e das mercadorias. As vias de circulação constituem um fator básico na geração de riqueza e desenvolvimento. É neste contexto que MINARD (1840) propõe uma cartografia econômica, abordando a dinâmica espacial e temporal dos fenômenos através da

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representação por FLUXOS. É o tamanho, isto é, a largura do corpo das flechas que vão fazer saltar aos olhos as proporções entre os dados numéricos.

Fica extremamente evidente aqui a busca de um modo de expressão de grande autonomia que pudesse desvincular completamente o mapa do texto.

Deve-se notar que as lucubrações engendradas para se chegar à representação por fluxos têm origem nos mapas das redes de comunicação dos séculos XVII e XVIII. Já na época, espessuras e formas dos traços sugeriam uma classificação segundo a viabilidade.

Deve-se também a MINARD a representação corocromática, onde as cores informam a extensão da área de ocorrência de um fenômeno, portanto apenas com abordagem qualitativa de sua presença.

Ele também explora a proporção comparativa entre dois círculos para mostrar o balanço energético entre produção e consumo (MINARD, 1851). Isto revela que, na época, já se esboçava a iniciativa do tratamento dos dados para revelar o conteúdo da informação, e não apenas para mostrar os dados.

Embora como já dito anteriormente, o setograma deve-se a PLAYFAIR (1805), MINARD (1858) usa o círculo dividido em setores centrado nas áreas de ocorrência para mostrar parcelas que compõem totais, georreferenciados.

MINARD retoma a proposta de BOLLAIN para tentar transcrever, não apenas a ordem visual, mas a proporção: estabelece linhas paralelas cuja distância varia em proporção ao valor da variável a ser representada, por exemplo: três linhas num centímetro representariam uma densidade de 15 hab/km².

O citado autor já previa que para a transcrição correta do conteúdo quantitativo do mapa era necessária a construção da imagem, explorando, assim, preferencialmente as variáveis visuais da imagem: o Valor e o Tamanho.

Com MINARD, portanto pode-se assegurar que se inaugura o uso do mapa como meio de análise espacial, o que hoje os SIG’s fazem sob comando. Ele emprega mapas de fluxos para definir onde implantar serviços com o fim de dar melhor atendimento ao público.

O período entre 1860 e 1900 pode ser considerado como de culto às estatísticas, promovendo assim grande profusão de mapas e gráficos quantitativos. Com isto, pode-se verificar uma institucionalização deles, com a respectiva adoção pelo poder público. Na França editam-se vários “Album de statistique graphique”, orientados por CHEYSSON, compostos por uma série de pranchas temáticas contendo mapas e gráficos. Em geral congregam muitos mapas de fluxos para definir a otimização dos transportes. Nota-se assim, através da criação destes documentos uma vocação metodológica que se encaminha para a junção da ação de planejamento com a reflexão teórica sobre a organização do espaço.

Embora a cartografia temática quantitativa tenha alcançado grande profusão, ela acaba entrando tardiamente na geografia (PALSKY, 1996)

Este fato acontece primeiro na Alemanha com sua aplicação na elaboração do "Physikalischer Atlas" de BERGHAUS (1838 - 1848). Tanto na Alemanha como na França a cartografia temática ingressa na geografia, inicialmente através dos mapas físicos.

A grande eclosão da geografia humana se dá com a antropogeografia de RATZEL (1882), no fim do século XIX, legitimando a vontade expansionista do Estado alemão recém - estruturado. Na França, se firma com a escola da Geografia Regional, oposta às idéias de Ratzel, dentro de um quadro autoritário de dominação burguesa, veiculando através da ciência, o interesse das classes dominantes. Por volta da década de 1870, VIDAL DE LA BLACHE propõe uma nova visão de geografia a partir de críticas

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feitas a Ratzel. Centraliza-se na relação homem - natureza projetada na paisagem. (MORAES, 1981). Na sua obra, a natureza passa a ser vista como possibilidades para a ação humana. Com seu trabalho - a Geografia Universal - foi estabelecido o conceito que balizaria a geografia francesa: - a região. É uma unidade de análise geográfica que exprimirá a maneira de os homens organizarem o espaço, apresentando certa individualidade. Assim, a região passou a ser compreendida como um processo histórico de organização. É a partir da região que se firma a Geografia Regional, forma de estudo que envolve monografias para se chegar a um conhecimento cada vez mais profundo da realidade.

É nesta proposta que vai ser estimulada uma ampla aplicação da estatística, da estatística gráfica, e da própria cartografia temática quantitativa. A conclusão das pesquisas geográficas, em geral, era constituída por uma coletânea de mapas temáticos, cada um resumindo um capítulo. Na superposição destes, encontrar-se-ia a síntese, que espelharia a dinâmica da vida regional, dando assim, uma visão global da realidade (CLAVAL e WIEBER, 1969)

A profusão destes estudos motivou especializações, que através do levantamento de elementos específicos levaram ao estabelecimento de vários ramos da geografia: Geografia agrária, Geografia urbana, Geografia das indústrias, da população, do comércio; cada um deles demandando mapas temáticos particulares (MORAIS, 1981).

São os trabalhos de LEVASSEUR que trarão a estatística para a geografia. Junto àquela viria a representação estatística, enaltecendo a posição dos mapas temáticos quantitativos diante dela. Como principal contribuição deste estudioso tem-se a exaltação da noção de densidade demográfica para a geografia. O “método Levasseur” estipula oito classes, quatro acima e quatro abaixo da média, representadas mediante duas ordens visuais opostas. Ao aproximar a estatística ao estudo da demografia, o mesmo autor propõe outras representações coropléticas para números relativos, como a taxa de urbanização.

Discípulos de Vidal de La Blache, como Emmanuel de Martonne, com sua Geografia Física e Jean Brunhes, com sua Geografia Humana, deram início às análises feitas através de mapas temáticos quantitativos, tomando por base as propostas de LEVASSEUR (MORAES, 1981) (PALSKY, 1996).

Outro autor que merece destaque é Elisée Reclus, que baseado em MINARD propos a cartografia da densidade demográfica por quadrículas, bem como a representação da população urbana por círculos proporcionais, que foram aplicados em sua obra “Nouvelle géographie universelle”.

Apesar de toda esta euforia com as estatísticas, uma reflexão crítica teve início, na época, acerca da validade dos registros numéricos oficiais. Os geógrafos começaram a perceber que as representações que se aproximavam da exatidão das estatísticas eram puramente numéricas, se afastando, portanto, da geografia. A crítica passava a ser feita sobre o fato de que os números acabavam substituindo os fenômenos propriamente ditos, mascarando o conteúdo concreto e social, perdendo-se assim o caráter geográfico das pesquisas (PALSKY, 1996).

Outra questão que começa a incomodar os geógrafos, já no fim do século XIX, é a representação quantitativa vinculada às unidades observacionais “artificiais”, as quais são definidas por limites arbitrados pela administração pública. Vários autores alemães sugeriram a quadriculagem. Entretanto, é muito difícil conseguir restituir os dados em nível de cada unidade elementar do espaço.

Os franceses propuseram a representação isoplética. Eliminaria a questão da artificialidade das unidades observacionais, porém, de qualquer forma, os dados seriam

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sempre originários destas. Além do mais, o construtor do mapa menos avisado poderia traçar as linhas isopléticas passando por áreas onde o fenômeno não ocorresse.

Em 1871, MAYR propõe um método, chamado de “Método das áreas naturais” que procura determinar exatamente os limites geográficos dos agrupamentos naturais dos fatos concretos em substituição às divisões administrativas. Mesmo assim, haveria o inconveniente de que, a homogeneidade e veracidade destes espaços não seriam ditadas por fatores naturais ou sociais, e sim por imposições puramente matemáticas. Na sua concepção, tais áreas deveriam ser estatisticamente homogêneas, o que exigiria fazer reiteradas vezes os cálculos a fim de recompor a homogeneidade. Esta idéia acabou derivando para a proposta de organizar tais áreas homogêneas com base em critérios de geografia física.

O próprio de Martonne, em 1903 propõe que elas sejam definidas através de limites físicos, como curvas hipsométricas, limites geológicos, ou outros.

VIDAL DE LA BLACHE também adota as unidades físicas, porém fica evidente que tal critério leva à reafirmação do determinismo geográfico.

Já SORRE propõe um método que vai à busca das áreas “naturais” através de um agrupamento de áreas artificiais mínimas de base. Sua idéia leva a uma reflexão que mostrará que fatores não físicos poderão orientar melhor a maneira de proceder a tais agrupamentos.

Entretanto, esta busca ao perfeccionismo cartográfico pode estar levando a um retorno à exaltação da precisão topográfica, pois a localização dos fenômenos seria primordial. Nos mapas que mostram as quantidades deveria aparecer também a localização e extensão das áreas de produção. Um círculo proporcional à quantidade taparia parte da área, origem desta produção. Assim, chegar-se-ia ao extremo em se considerar que para construir mapas da intensidade dos fenômenos com a fiel localização dos mesmos, não haveria necessidade de se construir mapas temáticos; aqueles topográficos seriam os ideais.

Passa-se a viver assim, no fim do século XIX, uma revalorização das representações topográficas. Estes mapas serão considerados como básicos para a análise e interpretação de fenômenos de interesse para a geografia. GALLOIS (1898) recomenda que para estudar a população não haja nada melhor que a exploração do mapa topográfico em escala de detalhe, pois os mapas estatísticos, para ele, mascarariam os fatos.

O próprio VIDAL DE LA BLACHE exalta não só a utilidade do mapa topográfico para a análise do povoamento como também certifica sua validade para os estudos econômicos. Isto pode ser confirmado ao avaliar seu Atlas général (LA BLACHE, 1894), no qual a prancha sobre as regiões industriais da Europa, justapõe vários mapas topográficos na escala 1: 1.000.000. Parece que os geógrafos, embora admitindo o rigor dos mapas estatísticos, não lhes conferem muito crédito, seja talvez por causa de utilizarem um código bastante abstrato, seja então pelo caráter artificial das unidades de observação que serviram de base para o levantamento dos dados numéricos (PALSKY, 1996).

Muito embora se possa observar certa reticência - a mesma que perdura até os dias atuais - em se considerar a IMAGEM como sistema de comunicação autônomo, é com VAUTHIER (1890) que se inicia uma preocupação direcionada para a estruturação de uma metodologia para a linguagem da representação gráfica neste sentido. Ele aponta que é necessário se ter uma sintaxe. Esta orientação passa a se confirmar com as contribuições apresentadas nos congressos internacionais de estatística organizados por QUÉTELET. Delineia-se assim um prenúncio de um encaminhamento em direção à busca de uma semiologia gráfica. Dentro deste contexto, tem lugar várias propostas para classificações

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dos métodos de representação gráfica, sejam mediante mapas ou gráficos, vistas por seus autores como as primeiras etapas na estruturação de uma gramática gráfica.

É fácil notar que aquela apresentada no Congresso Internacional de Estatística de Viena, em 1857 confirma o que hoje adotamos como básico na estruturação de uma metodologia da Cartografia Temática. (Fig. 14)

Por outro lado, podemos verificar um paulatino avanço em busca de uma gramática gráfica. Não só se tem maior preocupação com a análise da informação e a elaboração dos dados em base científica, como também se dá início à substituição de signos figurativos por signos simples e mais geométricos como: quadrados, círculos, triângulos, etc., buscando maior clareza.

LEVASSEUR, em 1885 proclama que existe apenas uma regra gráfica para os mapas: a clareza. Assim, ele esboça a noção moderna de níveis de leitura. Anuncia que não adianta congestionar os mapas com detalhes ou sobrecarga de signos. A abundância deles não seria tanto criticável do ponto de vista da informação, mas sim da percepção. O mesmo autor salienta que, embora sendo sempre possível assegurar a percepção elementar isolando um componente, o mapa deve resultar significativo, prioritariamente ao nível global de leitura. Assim, ele dá um passo importante ao privilegiar a imagem em detrimento da figuração e coloca na sintaxe gráfica a questão da percepção instantânea do olho.

Assim, na passagem para o nosso século já se esboça, por parte dos estatísticos, uma orientação para que a representação deva ser regida por uma lógica de significação.

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Busca-se um sistema de comunicação do tipo matemático, portanto, monossêmico (PALSKY, 1996).

Também BERTIN (1971), mostra como se teria dado a passagem da cartografia topográfica para a temática. De uma cartografia que tinha como principal propósito multiplicar a precisão das localizações (X, Y) para um número constante de fenômenos (Z), passou-se paulatinamente para uma cartografia cujo interesse maior era multiplicar o número de fenômenos (Z) propostos pela abordagem da ciência moderna, sejam apreciados de forma estática ou dinâmica, referentes a um espaço (X, Y) constante. Para o citado autor, o primeiro período teria sido o período “topográfico” da cartografia, enquanto que o segundo, é aquele “temático”.

A partir dos anos 50, não só a cartografia temática, como também o contexto geral das atividades ligadas à cartografia como um todo, tiveram grandes avanços propiciados pelo progresso tecnológico e pelas pesquisas teóricas e experimentais. Deve-se reconhecer que o pensamento cartográfico, representado pelas universidades e periódicos científicos, recebeu influências dos acontecimentos da produção, tanto no campo oficial como no da indústria privada (MULLER, 1983).

Nesta época, também a geografia inicia um movimento de renovação com relação à postura tradicional, buscando novos caminhos metodológicos. As bases da crise estão no desenvolvimento do modo de produção capitalista que já havia ultimado sua fase concorrencial, passando, agora a viver a época monopolista, clamando para a intervenção estatal na economia, quando o planejamento econômico se firma como uma arma de intervenção, cobrando das ciências um instrumental para tanto.

Este movimento de renovação, que se consolidou a partir de 1970, procurou sua efetivação mediante a construção de uma lógica e de uma linguagem científica, um positivismo lógico que ditaria que os enunciados científicos só seriam pertinentes se fossem passíveis de verificação. Esta nova perspectiva abrange um leque muito amplo de concepções, as quais podem ser agrupadas em dois grandes conjuntos: a Geografia pragmática e a Geografia crítica (MORAES, 1981) (LENCIONI, 1997).

A Geografia pragmática dirige-se à ação, portanto, procurando ser utilitária, na medida em que informa a ação do planejamento. Esta Geografia vai se concretizar mediante várias propostas, como a Geografia quantitativa que explicaria o temário geográfico mediante métodos matemáticos, a Geografia sistêmica, fundamentada na teoria dos sistemas que explora o uso de modelos de representação e explicação no tratamento dos temas geográficos. Além destas haveria a proposta da Geografia da percepção e do comportamento, que buscaria entender como os homens percebem o espaço vivenciado, como reagem frente aos seus componentes e como este processo se reflete na ação sobre o espaço (MORAES, 1981).

Consoante com a citada vertente da geografia, vamos encontrar uma cartografia que considera os mapas como modelos, que chama para seu campo os mapas mentais e que elabora mapas que espacializam dados relacionados, mediante correlação simples e múltipla, regressão linear, covariação, análise de agrupamento e outras, podendo constituir representações explicativas de uma realidade estudada. É o auge da cartografia dita “multivariada”. É a grande descoberta da cartografia para o planejamento.

Na pesquisa cartográfica, que na década de setenta estaria entrando na época contemporânea, salienta-se a vertente da cartografia teórica.

RATAJSKI (1978) reconheceria várias tendências que influenciariam as opiniões filosóficas dos cientistas, quanto à essência daquela como ciência. O autor destaca

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as seguintes: a teoria da informação, a semiologia, a teoria dos modelos, a metaciência e a teoria do conhecimento.

A teoria da informação teve uma influência básica, para a definição do papel das funções do mapa para a cartografia moderna. Ela fundamentou a tendência de pesquisas denominada de Comunicação cartográfica. MOLES (1964) foi o primeiro a definir a cartografia como veículo específico da Teoria da comunicação. Mas foi KOLACNY (1969), que estabeleceu os fundamentos para as pesquisas com base no modelo de comunicação cartográfica por ele criado.

Mas apesar do fascínio exercido pela teoria da informação, os estudiosos do assunto começaram a avaliar a questão de uma maneira mais crítica, contestando que no processo de comunicação não podem ser consideradas apenas as perdas de informação. É certo que ao lado das perdas pode-se falar em ganhos da informação extraídos da análise e interpretação do conteúdo do mapa, empreendidos pelo usuário.

É digna de destaque a crítica de SALICHTCHEV (1978). Segundo ele, é importante salientar que o processo de comunicação cartográfica não deveria ficar apenas preso à teoria da informação, a qual considera somente as perdas de informação em cada etapa da comunicação, preocupando-se essencialmente com a minimização destes extravios. É preciso considerar o valor cognitivo dos mapas.

(Fig. 15)

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Adentrando-se mais detidamente no processo de comunicação cartográfica poderemos atentar, conforme ressalta SALICHTCHEV (1978), para o fato de que no primeiro, segundo e terceiro estágios podem ocorrer perdas de informação, enquanto que no quarto e parcialmente no segundo contaríamos com ganhos. Isto se refletirá no maior ou menor desencontro entre o que foi considerado importante por quem fez o mapa e o que seria reputado como significativo pelo usuário.

De fato, no primeiro estágio, seja iniciando-o com o construtor do mapa que observa o mundo real, seja principiando-o indiretamente, através de uma documentação, não utilizamos toda a informação disponível. É praticamente impossível, senão inútil, abarcamos toda a complexidade da realidade. Haveria sempre um interesse dirigido; procedemos, portanto, a uma seleção. Não se trata ainda de uma perda, mas sim de uma escolha deliberada. Por outro lado, mesmo a parte de interesse, objeto de uma representação temática, apresentará limitações seja pela negligência ou despreparo do cartógrafo, seja pela disponibilidade propendida das informações a ela atinentes.

O estágio da construção do mapa acarreta perda no processo de representação e de generalização exigida pela escala. O construtor do mapa como primeiro leitor crítico deste, pode realizar correções e acomodações. Mas a generalização não pode ser entendida somente como perda de informação. Através dela é possível adquirirmos novas informações a nível qualitativo, além de nos proporcionar uma imagem espaço - temporal global do fenômeno que está sendo mapeado. Esse fato comprovaria que a informação em nível de conjunto provinda das combinações e interrelações apresentadas pelo mapa, excede em muito a simples soma das informações elementares contidas nos signos considerados isoladamente.

No terceiro estágio emerge toda a informação contida, tanto nos signos tomados individualmente, na correspondência significado/significante, como nas relações entre seus significados, mas nem sempre é totalmente utilizada. Isto pode ocorrer seja pelo despreparo do leitor, seja pelo ato de excluir o que lhe parece inútil. Daí, a importância de se conhecer as necessidades dos usuários para se fazer de antemão uma seleção prévia, deixando de lado o que não vai ser usado. Mapas sobrecarregados de dados, além de se apresentarem visualmente congestionados, produziram um ruído na comunicação da informação, bloqueando sua revelação ao leitor.

Por outro lado, a extração de dados por certas técnicas, como a da cartometria e da análise estatística, poderão revelar o conteúdo de novas informações: os mapas em curvas de nível poderão delatar os aspectos do relevo quanto aos gradientes, isto é, as declividades, exposição de suas vertentes ou outras.

No último estágio, quando se dá a interpretação do conteúdo da informação que o mapa revelou, o principal propósito é gerar a expansão dos conhecimentos sobre a realidade mapeada, a partir das experiências e conhecimentos já acumulados pelo usuário. Estes últimos variam de pessoa a pessoa. Tal fator subjetivo pode explicar diferenças no grau de profundidade e exatidão na interpretação da realidade mapeada (SALICHTCHEV, 1978).

O papel da semiologia, vista como teoria geral dos signos, é fundamental para se determinar a especificidade de uma linguagem cartográfica. Os trabalhos de BERTIN (1967; 1973; 1977), trouxeram grandes contribuições neste sentido. Junto à classificação dos sistemas de signos, o autor considera que os mapas constituem a parte racional do

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mundo das imagens. A partir destas considerações, ele estabelece os fundamentos para a gramática da linguagem da representação gráfica.

Outros pesquisadores também têm procurado aproximar a cartografia de uma linguagem, avaliando as suas possibilidades semiológicas. Esta seria a linguagem cartográfica para a qual é defendida também a criação de um alfabeto cartográfico acompanhado de uma coerente padronização internacional dos signos (RATAJSKI, 1978) (MEINE, 1978).

Esta aproximação tem encontrado sérias dificuldades apontadas por vários autores. Dentre eles destaca-se RATAJSKI (1978), que discute a principal questão: a cartografia tem uma estrutura bidimensional e não linear, seqüencial, como acontece nas linguagens naturais. Essa diferença é mais marcante na sintaxe e parcialmente na pragmática. As maiores analogias aparecem no domínio semântico.

BRUNET (1988), por sua vez, salienta que a linguagem do mapa não está nos signos que se utiliza, mas sim nas configurações que ele revela em seu conjunto. O mapa fala pela imagem global e não pela sua legenda, que é apenas um código. Tal imagem expõe as estruturas, os eixos, os arquipélagos, os gradientes, os quais deverão ser analisados. Corresponde à forma de organização do território. Para tanto, o autor defende que é necessário considerar uma semiologia da imagem (do mapa) e não a semiologia dos signos. Assim, critica frontalmente BERTIN (1973), que no seu entendimento, se apega apenas aos detalhes da legenda. No nosso entender, BRUNET não compreendeu a proposta de BERTIN (1973).

A teoria dos modelos é derivada da cibernética. Foi BOARD (1967) um dos primeiros a considerar o mapa como modelo. Para ele os mapas não são apenas modelos representativos da realidade, mas também modelos conceituais, que contêm a essência de generalizações do mundo real. Neste sentido, os mapas passariam a ser instrumentos analíticos capazes de auxiliar os pesquisadores a observarem o mundo mediante uma visão inteiramente nova revelando-lhes a essência de seu conteúdo.

Na geografia sistêmica como já apontamos, o positivismo lógico vai fazer do mapa um modelo em busca da ordem no real, uma lógica na organização do espaço. Sendo viável desvendar a ordem do espaço, será possível entrever como ele tenderá a ser organizado. Assim, passa a ser factível estimar projeções e elaborar prognósticos, o que aproxima cada vez mais a geografia da ação do planejamento.

A cartografia temática passa a participar deste encadeamento de raciocínios, no momento em que ela é chamada para representar em mapas o modelo de potencial baseado na teoria gravitacional, o modelo de fluxos, expressando o espaço como um campo de ação de movimentos. Ambos levam à comprovação de que fluxos econômicos entre cidades elaboram uma hierarquia urbana, chegando a determinar níveis hierárquicos de cidades e respectivas áreas de influência, possibilitando alcançar, assim a regionalização.

Ao nível de projeções e prognósticos, a cartografia temática elabora os cenários que, dentro dos objetivos do planejamento consistem basicamente em determinar as características da situação desejada, sendo já conhecidos os atributos de uma dada situação (HILHORST, 1971) (MARTINELLI, 1980) (LENCIONI, 1997).

Outro autor que ressalta o aspecto da relação entre a realidade e seu modelo, o mapa, é GRYGORENKO (1982). Para este pesquisador, como já salientamos, o mapa é modelo da realidade - imagem cognitiva da realidade materializada através do mapa cartográfico. Para ele, ainda o sistema de comunicação cartográfica é um sistema cibernético autônomo que opera em base às informações que nascem na consciência de quem faz o mapa. A produção da mensagem cartográfica resulta da transformação do

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modelo abstrato da realidade (modelo mental que está na cabeça do construtor do mapa) em modelo material, sob forma de concepção gráfica do mapa.

Ainda no que tange à geografia sistêmica que elabora modelos, deve-se considerar que, nestes, os fenômenos se apresentam como sistemas, onde as relações entre as partes são articuladas por fluxos. Lucubram-se assim, os geossistemas, que na proposição de SOTCHAVA (1972) devem ser estudados através de uma análise integrada - a conexão entre a natureza e a sociedade humana, ponderando assim, além dos fenômenos essencialmente naturais, aqueles econômicos e sociais, vislumbrando desta maneira a possibilidade de consolidar a unidade entre a geografia física e humana.

Esta postura metodológica deu grande impulso aos estudos de geografia física. Na ecologia, TANSLEY, em 1935, já vislumbrara a visão sistêmica como método, criando o conceito de ecossistema, constituindo-se, depois, em linha mestra das pesquisas de BERTRAND (1971), SOTCHAVA (1972 e 1977), e TRICART (1977).

Estas considerações serão fundamentais no momento em que pretendermos traçar as diretrizes para a sistematização de uma cartografia ambiental. A concepção desta cartografia constitui, a nosso ver, ainda um desafio. Até hoje persiste indefinição para a sua consolidação. Várias tentativas foram feitas nestes últimos vinte anos, tendo como marco inicial as reflexões do Grupo de Trabalho estabelecido pela União Geográfica Internacional sobre “a cartografia do ambiente e de sua dinâmica”, as quais ditaram as bases para uma cartografia integrada envolvendo elementos essenciais do meio natural (solo, água, vegetação) e da ação humana (passada e presente) (UNESCO, 1985).

Pode-se, em vista de as propostas para estudos ambientais serem praticamente todas de caráter sistêmico e integrador, já vislumbrar um encaminhamento suficientemente adequado para a sua cartografia. Embora se possam considerar, mapas analíticos que abordem todos os componentes ambientais levados em conta de forma conjugada, no nosso entender, é a cartografia de síntese que tem maior consonância com a citada proposição (MARTINELLI, 1993) (MARTINELLI, 1994) (MARTINELLI et al, 1997).

Outra posição que abre bastante a visão da cartografia temática é aquela de SALICHTCHEV (1971). Ele chama atenção para seu caráter dualístico. Os seus diferentes ramos temáticos pertencem à ciência cartográfica pelos seus métodos; como também aos vários ramos do saber, pelo seu conteúdo.

No nosso entender, o que deve ser ressaltado de mais importante nesta linha de raciocínio é que a elaboração do modelo cartográfico pode constituir um método cartográfico de pesquisa. Esta posição é defendida principalmente por SALICHTCHEV (1971) e SALICHTCHEV e BERLIANT (1973). Para eles, os objetivos do método cartográfico de pesquisa são múltiplos: a análise da distribuição espacial, a avaliação das relações entre fenômenos, o estudo da evolução, a previsão dos fenômenos, etc. Tal método tem por base a concepção dos mapas como modelos espaciais da realidade, ao mesmo tempo em que eles operam como meios de armazenamento e de comunicação das informações espaciais. O método, ainda pode ser aplicado tanto sobre mapas isolados, como sobre uma série de mapas conjugados. Hoje, os SIG’s exploram estes raciocínios exaustivamente.

A metaciência se reporta à metodologia das ciências dedutivas consideradas como teorias formais. Com o avanço de suas pesquisas, vários estudos foram dirigidos também ao domínio das ciências não formais. No campo da cartografia, BUNGE (1962) reivindica a metacartografia como uma metaciência da teoria da comunicação cartográfica.

Dentre os esforços para estudar a cartografia como uma ciência a partir do ponto de vista da teoria do conhecimento está a contribuição de ROBINSON e PETCHENIK

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(1976), mediante suas pesquisas. Para os autores o fator principal do processo cartográfico está no caráter cognitivo, tanto de quem faz como de quem usa o mapa. Portanto, o interesse maior deverá se colocar na maneira pela qual a informação passa do cartógrafo ao usuário. É neste momento que entra em cena a questão do ruído, revelando a importância da Teoria da Comunicação para a cartografia, de onde se pode emprestar a analogia para linguagem, com o fim de elucidar o processo de comunicação cartográfica. Entretanto, os citados autores chamam atenção para a diferença que existe entre a forma de transmissão do significado via mapa e aquela feita através da linguagem verbal, concluindo que não há nada compatível com a sintaxe na comunicação através da cartografia, pois, enquanto a leitura de texto é linear e seqüencial, aquela do mapa não o é; porquanto os dois sistemas de signos diferem substancialmente.

Para os mesmos autores, ainda, o mapa é visto como uma forma de cognição visual. A percepção e interpretação dos símbolos que estão no mapa não é um simples processo físico, mas sim um procedimento físico e mental bastante complexo, através do qual o usuário cria para si uma ordenação elaborada a partir do estímulo visual, podendo reconhecer assim arranjos, padrões espaciais, os quais, evidentemente, carregam influências dos conhecimentos já adquiridos pelo leitor. Para os aspectos da percepção visual, os autores buscam apoio no trabalho dos psicólogos, mas alertam que o peso maior deve ser dado aos fatores culturais.

Baseados em PIAGET e INHELDER (1972), os citados estudiosos chamam atenção para a concepção do espaço, o qual se processa seguindo as etapas do desenvolvimento mental das crianças, do espaço perceptivo para aquele representativo. O primeiro se constrói a partir da percepção direta junto aos objetos que estão no espaço, enquanto que o segundo se expressa mediante sua representação, a partir das imagens mentais da experiência perceptiva as quais passam a ser simbolizada. Assim, analisando as operações mentais que se processam na concepção do espaço, tais autores distinguem as operações lógico-matemáticas e as operações infralógicas. As primeiras, dizem respeito às similaridades e diferenças entre objetos sem levar em conta sua localização no espaço, enquanto que as últimas se reportam à classificação dos objetos no espaço, cristalizando a ordem geográfica.

Nestas reflexões podemos entrever certo esboço das considerações feitas por BERTIN (1973), quando considera que são três as relações entre objetos a serem representadas: a diversidade, a ordem e a proporcionalidade, além de apontar o mapa como uma rede ordenada na ordem geográfica.

Com este raciocínio, os autores ainda sugerem uma base lógica para a classificação dos mapas em topográficos e temáticos, sejam em escala grande ou pequena. Enquanto os mapas topográficos tratam mais da localização, aqueles temáticos se preocupam, mormente com os padrões espaciais exibidas pelas distribuições.

Na linha da geografia crítica, poderemos considerar uma cartografia também crítica, isto é, uma cartografia que passe do estágio passivo e contemplativo para aquele capaz de revelar a essência dos fenômenos, em busca de propiciar um espaço mais eqüitativo possível de ser organizado em benefício dos interesses de todos.

Neste sentido, é necessário mobilizar uma linguagem que possibilite ao mapa se revelar, colocando às claras o conteúdo e o movimento da realidade que cada um vive no seu dia a dia, em prol de uma transformação justa da sociedade.

Consoante com o período técnico-científico e informacional que estamos vivendo, marcado pela multinacionalização das firmas e a internacionalização da produção

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e do produto, além de uma generalização do fenômeno do crédito, a cartografia também busca novas concepções. (SANTOS, 1994).

Com a globalização, podem-se esperar amplas expectativas para os trabalhos interdisciplinares direcionados à busca de um melhor entendimento do todo, porquanto hoje em dia há maior possibilidade de se contar com a interdependência da ciência e da técnica em todos os setores da vida social. A cartografia não pode ficar alheia a este movimento.

A possibilidade de mapeamentos a partir do imageamento sistemático do globo por variados sensores a bordo de satélites ou outras plataformas permitem o registro da simultaneidade, o que constitui um meio importante para o conhecimento do real, do processo permanente de transformação.

Hoje, mais que nunca é marcante a presença cada vez maior dos movimentos, dinamizando, de forma crescente, os fluxos, proporcionando um maior destaque à vida de relações.

No uso do território intercruzam-se os mais variados circuitos, não só de matéria, mas também daqueles não materiais, como os de capital, de informação, de mensagens, de ordens, os quais encontram na rede urbana seus pontos nodais.

Neste sentido, entreveríamos a necessidade de uma cartografia temática que fosse ao encontro destas novas formas de percepção da realidade. Portanto, idealizaram-se mapas temáticos representativos dos eventos independentes que acontecem em cada momento em todos os lugares, fazendo parte de um mesmo sistema de relações. Mas só isto não basta. A cartografia temática teria que ter a incumbência de representar o emaranhado de redes que se intercruzam nos diferentes níveis de abordagem, necessitando para tanto, de um raciocínio que levasse em conta um embutimento de escalas de abordagem, o que se refletiria nas escalas cartográficas adotadas pelos mapas elaborados.

A cartografia de hoje é sem dúvida a cartografia digital. Mas não basta digitalizar mapas ou produzir mapas digitais. A revolução está no conteúdo do raciocínio que parte de uma concepção de cartografia com base sólida, o que deverá ser passado para a elaboração de softwares adequados.

Portanto, a cartografia temática não poderá ficar alheia a estas inovações tecnológicas.

Muito embora os CAD’s (Computer Aided Design) possam oferecer uma série de boas soluções para a cartografia temática, associando um mínimo de operações prévias de tratamento estatístico dos dados e de opções de representação, hoje em dia, são os SIG’s (Sistemas de Informações Geográficas), que fundamentados no geoprocessamento despontam como um arsenal de possibilidades extremamente consistente para trabalhar de uma forma bastante completa e integradora àquela cartografia na atualidade.

A história dos SIG’s começou com o programa de computador para fazer mapas do início dos anos 60, chamado SYMAP, uma espécie de ancestral dos atuais sistemas. Os SIG’s são sistemas informatizados que compreendem uma base de dados relacionados a um conjunto de unidades geográficas e um software ou mais, para coleta, registro, tratamento, armazenamento, atualização, resgate e apresentação desses dados, bem como sua visualização. Os sistemas incluem também operadores e periféricos, como mesa digitalizadora ou "scanners" para a entrada de mapas – base e dispositivos de saída, como "plotters" para “prints” vetoriais e impressoras para produtos em raster.

Há inúmeras possibilidades que os SIG’s oferecem como base para as pesquisas. Hoje, tais sistemas oferecem soluções que vão desde a simples construção de um mapa temático ao nível apenas de inventário até visões sobre realidades virtuais. É neste ponto que poderemos dinamizar pesquisas sérias mobilizando sistemas de cartografia inteligente,

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atendendo à crescente necessidade de um conhecimento consistente sobre a sociedade e seu espaço nos dias atuais, sem se apegar apenas ao deslumbramento tecnológico.

Em ambiente de multimídia há possibilidade de interligações com mapas através de explorações estáticas, interativas e até mesmo animadas, podendo implementar, assim, aplicações educacionais no campo da geografia. Os tão propalados “Atlas eletrônicos” têm essa pretensão. Ainda são primitivos e não apresentam nada de construtivo ao nível das operações mentais lógicas. Entretanto, apresentam enormes possibilidades para o desenvolvimento de multimídias construídos dentro destes parâmetros metodológicos.

Consolida-se assim o que veio a se chamar para comparecer depois da cartografia digital, de cibercartografia, como já comentamos. Sem dúvida alguma, ela poderá convergir para seu campo, junto à exploração da multimídia, não só uma cartografia multidimensional, mas também uma cartografia dinâmica como já exposto anteriormente.

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4 A LINGUAGEM DA CARTOGRAFIA TEMÁTICA

Para que haja claro entendimento dos mapas temáticos dentro do contexto teórico - metodológico da cartografia, é necessário fazermos uma incursão num domínio bem específico, o da REPRESENTAÇÃO GRÁFICA. Este se inclui no domínio da comunicação visual que por sua vez faz parte da comunicação social.

A representação gráfica - sistema gráfico de signos - é uma linguagem de comunicação gráfico - visual, porém de caráter monossêmico (significado único). Sua especificidade reside essencialmente no fato de estar fundamentalmente vinculada ao âmago das relações que se dá entre os significados dos signos, como acontece com a matemática, dispensando completamente qualquer convenção. É o domínio das operações mentais lógicas. Interessa, portanto, verem-se instantaneamente as relações que existem entre os significados signos, que significam relações entre objetos geográficos, deixando para um segundo plano a preocupação com a relação entre o significado e o significante dos signos, característica básica dos sistemas semiológicos polissêmicos (significados múltiplos). É o que acontece na comunicação visual feita através da imagem figurativa: a fotografia, a pintura, a publicidade.

ACKERMANN (1957), já há um bom tempo, havia entrevisto os mapas como uma linguagem, afirmando que o homem utiliza quatro maneiras básicas para comunicar-se: pela música, pelas palavras, pelos números e, finalmente, pela que poderíamos chamar representação gráfica. A linguagem da representação gráfica, segundo ele, incluiria os mapas.

A comunicação por linguagem verbal, por sua vez, também é polissêmica, portanto equívoca. Há limitações pela língua que mobilizamos, na qual as palavras podem ter significados distintos entre as pessoas. Não existe forma certa; há várias possibilidades. Praticamente é uma arte conseguirmos comunicar uma idéia a outrem. Por outro lado, as palavras da linguagem têm significado completo quando colocadas em seu contexto: haja vista sua sutil função nos trocadilhos e nos duplos sentidos (WURMAN, 1991).

É, portanto, por este caminho que iniciaremos a descartar as convenções constituídas.

A distinção entre estes dois sistemas semiológicos é fundamental para evitar a confusão que persiste no contexto dos mapas. Esta é a causa de bloqueios muito sérios, principalmente aos estudantes do ensino fundamental e médio, junto à disciplina geografia daquele nível, quando se pretende trabalhar com mapas.

É através deste entendimento que a cartografia poderá dar seu grande passo, libertando-se completamente de suas tradições, que a vinculam estreitamente ao mundo da estética, das artes. (MARTINELLI, 1990; 1991; 1998). Ela continua persistindo em estruturar seu domínio como um código formalizado dentro de um círculo estreito de especialistas. Este grito há de vir ao romper suas amarras com o aspecto formal das convenções. Certamente ele será muito mais eloqüente junto ao ramo temático da cartografia.

Diante da imagem figurativa, nós nos perguntamos: o que nos diz a imagem? (Fig.16)

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É um grafismo figurativo. Para cada um de nós, ele conota algo. Há, portanto, ambigüidade.

Na representação gráfica, entretanto, há somente uma maneira de se dizer visualmente que a indústria "A" emprega quatro vezes mais trabalhadores que a indústria "B". Não há mais ambigüidades (MARTINELLI, 1998). (Fig. 17)

A tarefa essencial da Representação Gráfica é a de transcrever as três relações fundamentais - de diversidade (≠), de ordem (O), de proporcionalidade (Q) - entre objetos, por relações visuais de mesma natureza. Portanto, fazer mapas assim, significa que, levados em conta posturas metodológicas coerentes com a ciência que se milita, as modalidades de concepção da realidade que se possa ter se ela for constituída e entendida como feita de

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relações de diversidade entre objetos, será representada por relações visuais de diversidade. Se vista como organizada por relações de ordem será registrada sobre o mapa como relações visuais de ordem. Entretanto, quando se deseja representar a realidade como configurada por relações de proporção, o mapa deverá expor graficamente relações visuais de proporção, isto é, a dimensão do signo que representa a quantidade "quatro" deverá ser o quadruplo em superfície daquele que representa a quantidade "um". Dispensam-se as convenções. Concebido assim, o mapa quando submetido a uma atenta leitura confrontando previamente na legenda, não só as relações entre significante e respectivo significado, mas, sobretudo a relação entre significados dos signos adotados na representação poderá revelar o conteúdo da informação expresso pela cartografia considerada (BERTIN, 1973; 1977) (BONIN, 1975) (GIMENO, 1980) (BORD, 1984) (BONIN e BONIN, 1989) (MARTINELLI, 1990, 1991, 1998) (BLIN e BORD, 1993).

Este ponto é básico para que possamos contar com uma cartografia que possibilite transcrever a realidade como ela é, “pensada" e "entendida" por quem vai realizar o mapa. Este autor, agora, estará liberto das convenções e das tradições podendo assim, estruturar seu raciocínio sobre sua forma de encarar a realidade. É esta visão, este entendimento, que será transcrito, de forma fidedigna e livre, dando chance a este autor de expor sua linha de raciocínio de forma transparente, através da legenda. (Fig. 18)

A representação gráfica se expressa mediante a modulação das duas dimensões do plano (X, Y) - as dimensões horizontal e vertical da folha de papel que temos para desenhar ou mesa para digitalizar - e variando visualmente cada elemento bidimensional deste plano. As duas dimensões do plano, mais seis modulações visuais possíveis que cada elemento do plano pode assumir constituem as VARIÁVEIS VISUAIS (BERTIN, 1973; 1977).

(Fig. 19)

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Para se ter absoluta destreza com a aplicação deste sistema semiológico na transcrição gráfica para a redação de mapas temáticos é preciso dominar com clareza e

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segurança as propriedades perceptivas que as variáveis visuais apresentam diante de nossos olhos. As propriedades básicas de BERTIN (1973; 1977) são as seguintes:

Percepção SELETIVA (≠)- o olho consegue isolar os elementos distintos (cor, tamanho,

valor, granulação, forma);

Percepção ORDENADA (O)- as categorias se ordenam espontaneamente (valor, tamanho, cores

na ordem natural de uma das metades do espectro visível);

Percepção QUANTITATIVA (Q) - a relação de proporção é imediata (somente e tão somente o

tamanho).

Outros autores, em datas mais recentes propuseram classificações sintáticas ampliadas. A de Mac EACHREN (1995) estabelece doze variáveis visuais, as quais são relacionadas às escalas de mensurações nominal, ordinal ou intervalar e razão, avaliadas em três níveis de eficácia: boa, marginal e precária. (Fig. 20)

Dentre as variáveis visuais antes apresentadas, a cor merece uma atenção toda especial. Apesar de seu aspecto sedutor e complexidade, mesmo dispondo de meios informatizados, podemos verificar uma ignorância total no emprego da cor em mapas. Ela é

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uma realidade sensorial sempre presente. Sem dúvida alguma, tem grande poder na comunicação visual, além de atuar sobre a emotividade humana.

No conjunto do espectro eletromagnético, as radiações visíveis, isto é, aquelas sensíveis ao olho humano, têm comprimentos de onda que vão desde 380 até 760 nanômetros. Cada faixa dessas radiações corresponde a uma luz de determinada cor, assim categorizadas (DELORME, 1982). (Fig. 21)

Cor Comprimento de onda(em nanômetros)

Azul-violeta 380-470Azul 470-475Azul esverdeado 475-480Azul-verde 480-485Verde azulado 485-495Verde 495-535Verde amarelado 535-555Verde-amarelo 555-565Amarelo esverdeado 565-575Amarelo 575-580Amarelo alaranjado 580-585Laranja 585-595Vermelho 595-770

Muitas teorias científicas têm procurado explicar a visão da cor. Destacamos a de Young-Helmholtz. Segundo ela, o olho humano obteria a sensação da cor mediante a excitação de três tipos de cones retinianos sensíveis às três principais regiões da porção visível do espectro de radiações eletromagnéticas: as regiões do azul-violeta, do verde-azulado e do vermelho-alaranjado.

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Quando há excitação apenas de um cone formam-se alternadamente as cores fundamentais: azul-violeta, verde-azulado e vermelho-alaranjado. Quando há excitação simultânea de dois cones fornam-se, alternadamente, as cores primárias: cyan, yellow e magenta.

Prova-se, também, esta composição através da síntese aditiva. Na experiência de Young, superpõem-se parcialmente três feixes luminosos numa câmara escura. Na superposição total das três luzes coloridas forma-se o branco. Na superposição parcial do verde-azulado com o vermelho-alaranjado forma-se o amarelo (yellow). Na superposição parcial do azul-violeta com o vermelho-alaranjado aparece o magenta. Finalmente, na superposição parcial do verde-azulado com o azul-violeta defini-se o azul (cyan). A televisão a cores se baseia neste processo. É o sistema PAL. (Fig. 22)

Fig. 22 – A síntese aditiva. (DELORME, 1982)Superpõem-se parcialmente três feixes luminosos numa câmara escura. Na superposição total das três luzes coloridas foma-se o branco. Na superposição parcial do verde-azulado com o vermelho-alaranjado forma-se o “yellow”. Na superposição parcial do azul-violeta com o vermelho-alaranjado aparece o “magenta”. Finalmente, na sperposição parcial do verede-azulado com o azul-violeta define-se o “cyan”.

No raciocínio inverso, isto é, bloqueando-se parcialmente a luz branca com filtros teremos, sobre uma tela branca, a síntese subtrativa. Na superposição total dos três filtros - yellow, magenta, cyan - não há passagem da luz. Aparece o negro. Na superposição parcial do filtro yellow com o filtro magenta obtem-se o vermelho-alaranjado. Na superposição parcial do filtro yellow com filtro cyan obtem-se o verde-azulado. Finalmente, na superposição parcial do filtro cyan com o filtro magenta obtem-se o azul-

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violeta. As artes gráficas baseiam-se neste processo. São pigmentos que se combinam. (Fig. 23)

Fig. 23 – A síntese subtrativa. (DELORME, 1982)Superpõem-se parcialmente três filtros coloridos bloqueando-se a luz branca diante de uma tela. Na superposição total dos três filtros há bloqueio total da luz, aparecendo o negro. Na superposição parcial do filtro “yellow” com o filtro “magenta” obtem-se o vermelho-alaranjado. Na superposição parcial do filtro “yellow” com o filtro “Cyan” forma-se o verde-azulado. Finalmente, na superposição parcial do filtro “cyan” com o filtro “magenta” define-se o azul-violeta.

Nas sínteses, aditiva e subtrativa, são ditas cores complementares aquelas que, numa mistura, completam, respectivamente, o branco e o preto. Por exemplo, na síntese aditiva, o magenta é complementar do verde, pois é a luz que falta acrescentar para formar a luz branca; na síntese subtrativa, o magenta é complementar do verde, pois é o filtro que falta para bloquear completamente a luz branca, formando o preto.

Na percepção das cores devemos levar em conta três fatores que intervêm conjugadamente. São chamados também de as três dimensões perceptivas das cores.

O MATIZ é uma nuança cromática na seqüência espectral. Ele está associado, portanto, a uma radiação espectral pura. É a cor pura. Corresponde a um comprimento de onda dominante bem definido na faixa do visível.

A SATURAÇÃO é a quantidade de matiz numa cor. Seria a variação que assume um mesmo matiz, indo desde o neutro absoluto (cinza) até a cor pura espectral. É o grau de pureza da cor.

O VALOR é a quantidade de energia refletida. Uma série de valores pode ser comparada a uma seqüência de cinzas, indo desde o preto até o branco, organizados em eqüidistâncias perceptivas.

Estas três dimensões podem ser representadas mediante vários sistemas, onde se situam as amostras das nuanças coloridas. Os mais conhecidos são os de OSTWALD, na Alemanha e de MUNSELL, nos Estados Unidos.

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O sistema de OSTWALD consiste num círculo cromático que segue em montagens sucessivas para cima e para baixo, que se direcionam, num sentido, para o branco e no outro, para o preto. (Fig. 24)

O sistema de MUNSELL se apresenta como um sólido - um duplo cone assimétrico -, onde, no eixo vertical apreciamos o Valor, desde o preto, no ápice inferior, até o branco, no ápice superior. No eixo horizontal avaliamos a Saturação; desde o neutro até a cor pura. No equador distribuem-se as cores puras - os Matizes.

(Fig. 25)

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Lembra-se que o branco, o cinza e o preto são cores neutras, pois não possuem nem saturação nem matiz.

Na prática das cores é cômodo dispormos de um círculo cromático. Para construí-lo consideramos uma série de pastilhas coloridas segundo a sucessão espectral, de acordo com os comprimentos de onda, como já vimos. Na série violeta, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho podemos considerar uma variação contínua de cores intermediárias, nuanças cromáticas diferenciadas pelos seus matizes. Misturando-se os extremos obteremos uma seqüência de cores púrpura, dando continuidade à série, permitindo-nos fechar esta seqüência num círculo.

Esta mesma série de cores pode ser organizada relacionando-a aos mecanismos naturais da percepção humana, possibilitando-nos estabelecer, agora, o CÍRCULO PSICOMÉTRICO DAS CORES, onde estas estão numa seqüência de eqüidistâncias perceptivas, conforme as pesquisas realizadas por FILLACIER (1986) e sua equipe.

(Fig. 26)

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A partir dele podemos escolher cores diferenciadas, saltando de um lado para outro no círculo para tomar matizes com forte contraste ou podemos selecionar cores em ordem visual, das claras às escuras, considerando uma parte ou outra do círculo, respectivamente, a seqüência das cores quentes e a seqüência das cores frias.

A combinação entre cores numa composição não é fortuita. Podemos tentar, intencionalmente, dar idéia de tensão por antagonismos num mesmo campo ou, ao contrário, buscar a sensação de harmonia e quietude.

Uma combinação é contrastante quando as cores são totalmente diversas entre si, como as opostas sobre o círculo cromático - as complementares.

Uma combinação é harmônica quando as cores possuem uma parte básica comum a todas, como a escala monocromática ou as cores vizinhas sobre o círculo cromático ou psicométrico.

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É com base nessas considerações teóricas que podemos efetuar modulações corretas da variável visual cor na representação gráfica, em geral e na cartografia temática, em particular.

É uma variável visual altamente seletiva, portanto ideal para transcrever relações de diversidade entre objetos, principalmente nas ocorrências zonais. Por exemplo, as diferentes categorias do uso do solo.

Entretanto, hoje em dia, mesmo com a facilidade de manuseio de cores a partir de programas de computador, passa-se a exigir um conhecimento mais profundo e seguro sobre o assunto, ao contrário do que parece. Isto é verdadeiro, devido à estruturação de tais softwares, que trabalham as cores sempre mobilizando concomitantemente suas três dimensões.

Portanto, a aplicação das cores, vista sempre em suas três dimensões perceptivas (matiz, saturação, valor), deve levar em conta (BERTIN, 1973) (LIBAULT, 1975) (BERTIN, 1977) (BREWER, 1994):

1. As cores puras (saturadas) oferecem a melhor seletividade. Entretanto, devem considerar o valor (brilho) e saturação, ambos distintos. Nas representações binárias, aquelas que os atributos formam apenas duas categorias seriam usadas duas cores distintas com pouca diferença de valor.

2. As cores puras (saturadas) não possuem o mesmo valor. De um lado e do outro do amarelo, na seqüência espectral, existem sempre duas cores de mesmo valor visual, sendo percebidas mais como semelhantes do que diferentes. Ademais, percebemos que as cores das extremidades são escuras, enquanto que as centrais são claras.

3. A percepção dos valores prevalece sobre a percepção dos matizes. Um verde e um vermelho de mesmo valor visual mais parecem semelhantes do que diferentes. Assim sendo, podemos ordenar, num crescendo, todas as cores do espectro: amarelo, verde claro, laranja, vermelho, azul, violeta. Como conseqüência, podemos considerar:

a) A seletividade das cores varia com o valor; para os valores claros, obtemos a melhor seletividade com o verde, o amarelo e o laranja; para os valores escuros ela é obtida com o vermelho, o azul e o violeta.

b) Na seqüência espectral, as cores criam duas ordens visuais opostas a partir do amarelo, que se encontra no centro: de um lado para matizes frios, em direção aos violetas; de outro, para matizes quentes, em direção aos vermelhos. Assim, a seqüência espectral convém para fenômenos que se manifestam como divergências, isto é, mediante duas ordens opostas a partir de uma situação intermediária.

Entretanto, é bom lembrar que tais ordenações não são tão evidentes e lógicas para a nossa percepção.

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MONMONIER (1991) cita uma experiência que coloca vários cartões com sete cores diferentes com mesmo valor e saturação. Solicitado a dez pessoas para ordená-los segundo o espectro, teríamos dez resultados diferentes. Umas, as ordenaria do verde ao vermelho. Outras, do azul ao vermelho. Haveria quem também tentasse o arranjo do arco-íris, que seria o mais lógico. Apareceriam também dúvidas quanto a um acordo sobre qual seria a parte de cima e a de baixo do espectro. Assim, a experiência demonstra-nos que não existe uma ordem preestabelecida fácil de ser memorizada, dispensando os reiterados retornos à legenda. Esta dificuldade de leitura pode ser constatada junto ao mapa apresentado na figura 47.

Por outro lado, é necessário atentar também para a leitura das cores, avaliando a possibilidade de um emprego deliberado ou inconsciente delas na hora da elaboração do mapa. Mesmo que a manipulação não se manifesta, muitas vezes, certas cores podem veicular associações sutis, interferindo na assimilação do conteúdo do mapa.

c) Cores de mesmo valor não se ordenam visualmente, mesmo sendo percebidas como desaturadas principalmente entre as escuras ou claras. Não podem representar uma informação ordenada, além de tenderem à confusão.

4. A ordem visual pode ser conseguida também por uma sucessão de valores crescentes ou decrescentes a partir de uma cor saturada de base. Entretanto, o escalonamento dos níveis de valor deve obedecer à lei de Weber-Fechner, a qual estabelece que a correspondência não seja linear, mas sim, logarítmica: "a sensação varia segundo o logaritmo da excitação" (FECHNER, 1860).

O correto uso das cores em um mapa é particularmente importante nos dias de hoje, principalmente quando ingressamos no contexto dos mapas animados e interativos, pois o usuário deve atentar para as mudanças de padrões que os mapas exibem, dispondo de pouco tempo para olhar a legenda reiteradas vezes.

BREWER (1994; 1997), a partir de um raciocínio paralelo ao de BERTIN (1973; 1977), desenvolve uma orientação mais avançada e completa para o uso das cores em mapas de acordo com as alternativas estipuladas para representações a uma ou duas variáveis. Tal reflexão se destina à aplicação da cor aos mapas coropléticos, isarítmicos e corocromáticos qualitativos e ordenados. Pode ser estendida também aos mapas de pontos de contagem coloridos e de linhas coloridas.

A autora estabelece quatro esquemas básicos de cores para os mapas temáticos: aspecto qualitativo, binário, seqüencial, ordenado e divergente. Fica claro nesta proposta seu completo desprendimento do componente estético da cor para enaltecer enormemente a sua participação na cartografia como variável visual.

Apresenta um quadro que organiza as orientações para a mobilização das características perceptivas, em termos de matiz e valor, que devem ser colocadas em

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correspondências com as quatro maneiras de conceber as relações entre os objetos, apontadas acima.

(Fig. 27)

A partir de tais indicações, a autora organiza um quadro com a esquematização de legendas simplificadas como modelo para os dados organizados nas formas, qualitativa, binária, seqüencial e divergente, seja para uma só variável como também para as respectivas combinações entre duas variáveis. Os esquemas para legendas com uma variável estão com fundo preto; aqueles combinados são mostrados com contorno em traço preto; os esquemas em linhas cinza não são recomendados, pois ou são redundantes ou podem ser mais bem trabalhados com a combinação entre cores e hachuras. A legenda de "balanço" entre variáveis, em fundo cinza, é um caso especial do esquema que combina seqüência/seqüência.

Para o caso de três variáveis, a solução está no arranjo das cores subtrativas primárias que vão se combinando em direção ao centro.

(Fig. 28)

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A mesma autora salienta ainda que os esquemas divergentes, baseados na organização natural das cores espectrais, a do arco-íris, muitas vezes são empregados em mapas temáticos para representar dados ordenados. Porém, não são lógicos. Enquanto os dados se organizam numa única ordem a transcrição revela duas ordens opostas, como

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argumentam vários autores, como DENT (1985), Mac. EACHREN (1992), BERTIN (1973) e outros.

Entretanto, diante dos resultados de suas pesquisas, BREWER (1997) afirma que os esquemas divergentes para representar uma única ordem de dados tornam os mapas mais compreensíveis para pessoas leigas, bem como, com pequena alteração na região dos verdes, facilitam a discriminação das cores pelos daltônicos.

LIBAULT (1975) também chama a atenção para esta mesma adequação dos esquemas espectrais. A exploração da dupla ordem visual divergente tem emprego plausível quando o objetivo do mapa é de destacar a oposição entre os máximos e mínimos das ocorrências.

Em particular, os esquemas divergentes apresentados com duas ordens visuais opostas, encontram várias aplicações na representação de dados quantitativos que progridem em sentidos opostos, a partir de um ponto central crítico da série. Assim, pode ser empregado para ressaltar desvios acima e abaixo da média, mediana e zero (absoluto ou relativo). Tem grande eficácia na visualização do mapeamento dos resíduos positivos e negativos, gerados a partir da aplicação de um modelo de regressão.

Em ambiente interativo, devemos atentar para que, muitas vezes, a alternância entre uma transcrição por uma ordem visual e uma transcrição por duas ordens visuais opostas para a representação dos mesmos dados pode revelar diferentes aspectos destes e nos auxiliar na sua investigação.

Transcendendo as considerações da cor apenas como uma variável visual, devemos alertar sobre seu papel de atrair e distrair. No mapa pode constituir uma cilada cartográfica. Entretanto, não podemos negar seu poder de sedução. Uma cor quente tem tendência a se aproximar do espectador, enquanto que uma cor fria se afasta.

Hoje com a facilidade dos computadores notamos, não só um mau uso das cores como também até um abuso. Seu papel decorativo suplanta seu escopo funcional. Por outro lado, entram em cena também as preferências. Para certas cores elas variam de acordo com a cultura, idade e características demográficas. Os homens tendem a preferir o laranja ao amarelo e o azul ao vermelho, enquanto, o contrário se dá com as mulheres. As crianças da pré-escola gostam de cores fortemente saturadas, ao mesmo tempo em que os adultos tendem a escolher, de preferência, cores em tom pastel (MONMONIER, 1993).

Cada pessoa reage consciente e inconscientemente às cores. Desde a infância armazenamos no subconsciente, muitas associações a elas, podendo-nos manifestar frente às mesmas por gestos, aversões. Entretanto, por contínuas repetições ao longo do nosso viver poderemos aceitar certos usos como normais.

A sensibilidade humana para as cores manifesta-se desde cedo. Elas desempenham um papel importante nas emoções, podendo tornar-se até símbolos. A nossa dupla "verde-amarela" dispensa comentários.

O papel psicológico das cores, portanto, é notável. Não faz muito tempo que a humanidade vem usando a cor intensivamente. Antes do século XIX corantes e pigmentos conhecidos eram poucos; por serem de origem orgânica, eram muito caros.

A cor sempre fez parte da vida dos homens. A natureza as exibe. Mas na sua evolução, a cor também foi sendo produzida pela própria sociedade.

Embora haja sempre uma reação particular e subjetiva do indivíduo à cor, ela sempre adquiriu certos significados nas mais variadas culturas.

Sem dúvida alguma, as cores constituem estímulos psicológicos. Assim, as cores adquirem significados. Estes vêm desde a antiguidade. O vermelho sempre foi excitante. Ele atrai num primeiro momento para depois repelir. As cores "quentes" e "frias"

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parecem ter a ver com a sensação de calor e frio. Tais percepções são puramente psicológicas, não implicando, portanto, em nenhuma modificação térmica das pessoas. Há, outrossim, uma verdadeira preferência de cores, que pode variar mais com a idade que com o lugar de vivência dos indivíduos. Neste sentido, numa escala seqüencial, o azul estaria em primeiro lugar. Depois viria o vermelho para chegar aos violetas e verdes tidos até como desagradáveis. O mesmo se pode dizer entre as tonalidades. As claras são preferidas às escuras, sombrias.

O papel fisiológico da visão das cores é mais difícil de ser definido, pois se amalgama solidamente aos aspectos psicológicos e até mesmo físicos daquelas. Nesta questão entra em cena o problema da adaptação. O olho sempre se adapta melhor às cores monocromáticas, causando-lhe menos cansaço, do que às cores compósitas.

No domínio funcional das cores, hoje, estão presentes as dimensões psicológicas, ao lado de suas características físicas. Estes conhecimentos são largamente mobilizados para a criação de ambientes, seja de trabalho, de residência, de lazer, de compras, ou de tratamentos clínicos. Inserem-se neste contexto os ambientes "acolhedores".

É bem conhecido também o uso racional das cores na sinalização, seja rodoviária, aérea, marítima e ferroviária.

Entre as cores, desde o aparecimento do homem, estabeleceu-se um simbolismo e uma linguagem. Mesmo a partir das civilizações antigas as cores já tinham seu simbolismo. Na pré-história, o vermelho se atrelava ao mito do fogo e da vida, sendo usado em rituais atrelados aos funerais. Os caldeus coloriam com cores diferentes os andares de seus zigurates. No Egito antigo, o simbolismo das cores era bem evoluído. O vermelho era o fogo e o amor; o verde estava associado à esperança; o azul, ao ar e à sabedoria. A safira, portanto, era o atributo do grande sacerdote. Nas antigas Grécia e Roma também as cores tinham forte significado. Os imperadores usavam a cor púrpura como símbolo de poder, punindo com a morte quem a desrespeitava. Hoje, são os cardeais que a ostentam.

A linguagem das cores provinda de seu simbolismo teve e tem sem dúvida alguma, grande importância na heráldica para estabelecer a cor de seus brasões.

As cores podem evocar também conceitos diferentes conforme países ou regiões do globo. O azul claro é símbolo da pureza e do infinito para o mundo ocidental, enquanto que o amarelo e o verde têm respectivamente estes mesmos significados nos países islâmicos e no Extremo Oriente. As cores que se associam à dor e à morte têm mudado, não só no tempo como também segundo as etnias.

Não podemos deixar de lado a participação das cores em seus simbolismos na moda, no folclore. A escolha das cores nacionais não é fruto de fantasias; a história das bandeiras pode-nos comprovar (TUAN, 1980) (DÉRIBÉRÉ, 1985) (FARINA, 1987) (PEDROSA, 1989).

A prática racial da cor é outro domínio de forte presença em nosso dia-a-dia. Ela não se dissocia, seja de uma cultura nacional, como também dos preceitos elaborados por um grupo sócio-cultural, como foi o caso do Bauhaus. Nesta dimensão da cor entra em cena o colorista profissional que terá a tarefa, não limitada apenas a fornecer uma solução para um problema dado, mas sim de analisar a forma em que se coloca tal questão e controlar as motivações que o engendraram. Assim, seu plano de colorir o ambiente se situa entre a liberdade de criação e a aplicação formal das normas que regem este campo de trabalho.

Hoje, a prática da cor faz parte também de uma ciência nova - a psicometria. Ela associa a medida científica ao domínio da sensibilidade humana. Em tempos recentes, as pesquisas deste campo têm se direcionado a uma aplicação da informática: já existe um bom número de softwares realizados com base na psicometria. E também nada impede de

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pensar que, daqui para frente, os conceitos fundamentais da visão das cores tidas até hoje como leis, não sejam recolocadas em questão (FILLACIER, 1986).

O mesmo Autor compõe o Polyton “Integrador universal”, com seus 288 tons de base, o que premite realizar e codificar 220.000 percepções de cores.

(Fig. 29)

Na tradição cartográfica, as cores estão sacramentadas como símbolos. Através de uma analogia evidente, podemos constatar que toda a produção de mapas desde a antiguidade, usa certas cores mediante uma sistematização de convenções: o azul para as águas sob forma líquida (rios, oceanos) ou sólida (geleiras), o sépia para as curvas de nível, o verde para o uso do solo e vegetação natural, o vermelho para as áreas urbanas e rodovias.

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O preto é reservado para os elementos que devem chamar atenção como a toponímia, os símbolos de ocorrências localizadas ou lineares, os símbolos geodésicos, as linhas das coordenadas geográficas e da quadrícula quilométrica, as fronteiras, as linhas de transmissão e ferrovias, bem como as informações gerais externas.

No estabelecimento das cores hipsométricas para a representação do relevo, as convenções internacionais foram concordes com as impressões psicológicas do relevo aparente e com o efeito de ofuscamento devido ao véu atmosférico (CUENIN, 1972).

Para o caso dos mapas políticos, a aplicação da mesma cor a um país expressa instantaneamente que ele é uma unidade administrativa. Se aplicarmos uma ordem visual a partir de uma cor de base a um conjunto de países, poderemos ressaltar sua homogeneidade administrativa, formando um bloco de certo significado.

O uso de cores diferenciadas para países surgiu na era do domínio colonial europeu. Com apenas um golpe de vista podia-se vislumbrar com evidente clareza, a extensão que cada estado europeu submetia, dominava e explorava o resto do mundo.

Nos dias de hoje a situação é bem diferente. Os países extra-europeus tornaram-se independentes. Há necessidade, portanto, de colorir os mapas políticos numa outra concepção.

A partir do progressivo sentimento de identidade entre as populações de cada continente, o historiador PETERS (1992) sugere colorir os respectivos estados com uma variação ordenada de valores visuais a partir de um matiz de base, mostrando, no conjunto, os agrupamentos de países soberanos que cada continente organiza. Assim, o colorido diferenciado dos planisférios políticos de outrora, que correspondia à necessidade de informação da era da hegemonia européia sobre o mundo, cede lugar a uma imagem deste segundo cores continentais harmoniosamente graduadas.

O simbolismo de certas cores na cartografia pode entrar em conflito com o seu papel de metáfora para as paisagens naturais, principalmente no mundo de hoje. É o caso do azul para as águas, a qual existiria só para os ecologistas sonhadores.

Um uso não acurado da cor na cartografia pode fazer com que ela se torne uma fonte de erros. Num primeiro momento, devemo-nos perguntar se a cor está representando uma ordem de intensidade de manifestações ou uma diferença entre seus aspectos. Muitos mapas não atentam para uma coerência lógica junto a este raciocínio.

As cores hipsométricas também podem engendrar confusões neste sentido. O branco das altas montanhas pode associa-se à neve. O verde das planícies pode lembrar a presença de uma densa vegetação ou a fertilidade dos terrenos planos. O amarelo e o ocre podem sugerir o deserto.

Existe ainda a questão do fenômeno ótico dos contrastes simultâneos. Trata-se da tendência em perceber um contraste maior entre cores quando estão justapostas. Assim, um verde médio cercado de outros verdes mais escuros sobre o mapa parecerá mais claro do que o mesmo verde médio colocado na legenda, ao ter por fundo o branco do papel.

Por outro lado, uma cor aplicada em grande extensão parecerá mais saturada que a mesma cor disposta numa área restrita sobre o mesmo mapa.

Tendo assim estruturado o sistema gráfico de signos, um sistema semiológico monossêmico, compete a quem for fazer uma representação gráfica saber aplicá-lo convenientemente. Transgredindo tais fundamentos estaríamos comunicando mentiras, falsidades.

Tomando por base este sistema gráfico, podemos passar à construção dos mapas temáticos.

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Fazer um mapa significa explorar sobre o plano bidimensional as correspondências entre todos os elementos de uma mesma componente espacial da informação - as posições ou as unidades observacionais, dadas em coordenadas geográficas. É o componente locacional (BERTIN, 1973; 1977).

As duas dimensões (X, Y) do plano identificam a localização do lugar (Longitude e Latitude). Caracterizam a ordem geográfica: a localização de São Paulo não pode ser permutada com a de Presidente Prudente. (Fig. 30)

Mas os mapas podem mostrar algo mais do que apenas a localização do lugar, isto é, de somente capacitá-los para dar resposta à questão “ONDE FICA?”. Podemos notar que a mídia começou a descobrir os mapas por este lado.

Entretanto, eles podem dizer muita coisa sobre cada lugar ou conjuntos espaciais, caracterizando-os. Este é o domínio dos mapas temáticos.

A fim de representar o TEMA, seja no aspecto qualitativo (≠), ordenado (O) ou quantitativo (Q), seja com manifestação pontual, linear ou em área, temos que explorar variações visuais sensíveis com propriedades perceptivas compatíveis. Mobilizaremos assim, a terceira dimensão visual do plano.

O aspecto qualitativo (≠) responde à questão “O QUÊ?”, caracterizando relações de diversidade entre os conteúdos dos lugares ou conjuntos espaciais.

O aspecto ordenado (O) responde à questão “EM QUE ORDEM?”, caracterizando relações de ordem entre os conteúdos dos lugares ou conjuntos espaciais.

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O aspecto quantitativo (Q) responde à questão “QUANTO?”, caracterizando relações de proporcionalidade entre os conteúdos dos lugares ou conjuntos espaciais.

(Fig. 31)

Devemos salientar ainda que, as duas dimensões do plano se esgotam para dizer o “ONDE”. Contamos, portanto, apenas com a variação visual de cada localização (elementos de superfície do plano) para representar o tema, o que não apresenta nenhuma dificuldade quando se trata de mostrar as modulações seletivas (≠), ordenadas (O) ou proporcionais (Q) de apenas um atributo. Neste caso, a tabela dos dados, que será o ponto de partida da elaboração do mapa temático, apresenta-se numa única linha. (Fig.32)

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A construção do mapa temático é fácil: a terceira dimensão visual (Z) do plano é mobilizada para mostrar a distribuição espacial do atributo “campo”.

(Fig. 33)

Entretanto, na maioria das vezes, defrontamo-nos com a necessidade de mostrar as modulações de mais de um atributo.

Tradicionalmente, a cartografia temática da geografia tem se preocupado em abordar seus temas de estudo de forma exaustiva, achando que esta maneira de representá-los seria condizente com o processo de apreensão da realidade. Resultam, assim, os clássicos mapas ditos erroneamente de “síntese”, carregados de signos de toda espécie, até mesmo de símbolos que a sociedade elabora, exigindo do leitor um enorme esforço para desmembrar a imagem que cada fenômeno constrói. Esta postura metodológica conserva ainda hoje, adeptos convictos. Uma pena.

Esta forma de fazer mapas acaba fazendo crer que tal atividade se resume em apenas criar um enorme elenco de signos, quase sempre confundidos com símbolos, para legendas que os decodificam. Concebidos assim, os mapas estariam se arriscando de permanecer à margem do processo de entendimento do mundo real. São apenas registros exaustivos, sem reflexão metodológica, tal como era feito no alvorecer dos mapas.

A cartografia continua persistindo nesta elaboração: criar um código formalizado, como já dito oportunamente.

A tabela para o caso de vários atributos mostrar-se-ia da seguinte forma:

(Fig. 34)

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Nesta situação - a da maioria dos mapas temáticos como vimos - a terceira dimensão visual (Z) do plano não permite separar os atributos. Teremos que optar por:

- uma SUPERPOSIÇÃO. É a solução exaustiva, aquela que superpõe vários atributos sobre um mesmo mapa. A grande maioria dos mapas temáticos é resolvida desta maneira. Pretendem esgotar o assunto que se propõem a representar. Entretanto, não fornecem resposta visual instantânea às questões de conjunto, geralmente as mais solicitadas pelos usuários: “Onde está tal atributo?” Respondem apenas as questões ao nível elementar: “O que há em tal lugar?” (Fig. 35)

- uma COLEÇÃO DE MAPAS. Confecciona-se um mapa para cada atributo. É a solução ideal para se obter resposta visual instantâneas, de conjunto, evidentemente fornecendo também respostas ao nível elementar. (Fig. 36)

Podemos, entretanto, idealizar uma solução intermediária, considerando uma legenda por coleção de mapas. A cada rubrica desta associamos um pequeno mapa, reportando o registro da respectiva ocorrência. Este artifício gráfico - visual preconizado por BERTIN (1973; 1977) e seus colaboradores permitirá ao usuário a leitura, seja ao nível

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de conjunto, o que ele faria com o auxílio dos pequenos mapas, seja ao nível elementar, o que ele empreenderia mediante o exame exaustivo do mapa de superposição. (Fig. 37)

A fotografia do respectivo argumento do significado do signo, associada a cada rubrica da legenda, já organizada em coleção de mapas das ocorrências individuais, pode propiciar um maior alcance na compreensão do mapa (UNESCO, 1985). (Fig. 38)

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5 A SISTEMATIZAÇÃO DE UMA METODOLOGIA

A sistematização de uma metodologia para a representação gráfica na cartografia temática se consolida ao longo do século XIX, como já adiantamos.

Vista a grande vantagem, avaliada pelos autores da época, de se poderem empreender representações gráficas para mostrar temas e a conseqüente profusão de mapas delas resultantes, dá-se início a um contínuo projeto para discipliná-las.

Assim, esboçam-se classificações de formas de representação gráfica, conduzindo-as a tipos bem definidos. Na época, esta organização, por conta das representações temáticas, se confundia com os diagramas, reunindo tanto mapas como gráficos.

CHEYSSON (1878) ressalta que a primeira etapa para o estabelecimento de uma gramática gráfica é a classificação. É por ocasião do Terceiro Congresso Internacional de Estatística sediado em Viena, em 1857, como já ilustramos que se propõe uma primeira classificação dos métodos de representação gráfica lucubrados durante o século.

No quadro sinótico desses métodos apresentado no evento, pode-se ver que as soluções às questões colocadas podem ser feitas por gráficos ou mapas, mostrando que a cartografia temática estava ainda situada entre uma cartografia topográfica em transformação e uma estatística gráfica já bem sistematizada. (Fig. 39)

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Pode-se constatar, ainda, que no quadro exposto, os fenômenos susceptíveis de uma representação gráfica obedecem às categorias do saber, isto é, ao objeto (natureza, existência, propriedade - o “O QUÊ?”), à quantidade (intensidade, potência - “QUANTO?”), ao espaço (localização, extensão - o “ONDE?”) ou ao tempo (modificação, variação, movimento - o “QUANDO?”). Nada mais são as mesmas que hoje consideramos como básicas para a organização do raciocínio dentro das preocupações metodológicas da cartografia temática hodierna, mesmo esbarrando atualmente em certas críticas quanto à divisão dos ramos do saber.

Por outro lado, nota-se a omissão do método isarítmico, dos pontos de contagem e dos fluxos. (Quantidade em movimento).

É na Alemanha, com MAYR, que se dá novo impulso teórico à questão. Este autor organiza os métodos de estatística gráfica tomando por base a distinção entre diagrama e cartograma. O diagrama é a expressão geométrica dos dados estatísticos, enquanto que o cartograma é a representação das estatísticas em relação ao mapa dos territórios. Percebe-se claramente, aqui, que o conteúdo do mapa não ia muito além do território (MAYR, 1874).

Entretanto, estes dois ramos do método gráfico, segundo BLOCK (1878), não podem ser reciprocamente exclusivos: sabemos que um mesmo tema pode mobilizar as duas modalidades de exploração do plano: (gráfico/mapa).

Resta ainda avaliar onde se incluiriam as anamorfoses cartográficas, inicialmente produzidas para fins didáticos.

As classificações baseadas no conteúdo a ser transcrito podem considerar: a representação de números isolados sem relações entre eles; a representação de relações mútuas entre dois elementos variáveis; e por fim, a representação de três elementos variáveis, constituindo assim, três classes (VAUTHIER, 1890).

Este progressivo estabelecimento de classificações em busca de maior adequação da imagem à informação vai se dirigindo para uma reflexão semiológica mais consistente, tornando aquelas cada vez mais, ao mesmo tempo, regra e gramática gráfica (PALSKY, 1996).

VAUTHIER (1890), já na época, ressaltava um fato extremamente importante para encarar a representação gráfica de forma diferente. Ele já se afastava das considerações sobre a questão do “gosto artístico” e apontava que a escolha do método de representação deveria fornecer resposta apropriada a um problema de informação a ser comunicado. Talvez já fosse uma ansiedade na busca de um sistema semiológico monossêmico.

Em seu tratado de estatística, BERTILLION (1896), já mostrava uma preocupação metodológica em tal direção. Apresentava duas maneiras de mapear a população estrangeira em Paris, discutindo as respectivas vantagens e desvantagens. Numa delas, fez um mapa coroplético para a proporção de estrangeiros por 1000 habitantes ao nível de bairro. Chamava atenção para o fato de o valor relativo elaborado expressar apenas uma quantidade por unidade de observação, podendo esconder por trás de valores similares quantidades absolutas muito díspares. Neste sentido, julgava melhor adotar outro método. Estabeleceu para cada bairro um retângulo, onde a base era proporcional à população absoluta, e a altura proporcional à freqüência de estrangeiros por 1000 habitantes. Assim, o impacto visual da superfície do retângulo, externo ao impacto das duas dimensões da base cartográfica, seria proporcional ao número absoluto de estrangeiros, além da variação de forma adquirir significado: os retângulos altos e estreitos indicavam alta proporção e

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pequeno número absoluto, os retângulos baixos e largos mostravam proporção baixa, mas quantidade absoluta considerável.

Embora parecesse esquecido, este método foi retomado por LIBAULT (1970) ao elaborar o Atlas do Estado de São Paulo, nos mapas referentes às indústrias: a área do retângulo é proporcional ao valor da produção municipal; o comprimento, proporcional ao pessoal ocupado e a altura proporcional ao valor de produção por pessoa ocupada. Ao se examinar o mapa fica patente, não só onde estão os municípios de maiores valores da produção, como também, dentre estes, quais são os de maior produtividade. Assim, por exemplo, na época, Cubatão apresentava na indústria química uma produção um pouco maior que Santo André, porém, com uma produtividade elevadíssima denotando assim, já uma presença efetiva de tecnologias específicas mais avançadas.

Fruto de uma grande variedade de propostas para a classificação dos métodos de representação gráfica começa a surgir, ainda no fim do século XIX, maiores preocupações com uma unificação de tais métodos, buscando ditar as regras de construção gráfica.

Mas, discussões e mais discussões de especialistas sobre o assunto levaram a concluir, já no início do século XX, que a uniformização completa seria difícil. Eles sempre buscaram uma uniformização que tomaria por base convenções estáveis e rigidamente formuladas. Chegam assim à conclusão que a “escrita” da representação gráfica deveria resultar de convenções rigorosas. Muito embora a busca desta unificação dos métodos não chegasse a grandes resultados, não podemos descartar algumas investidas no plano semiológico. (PALSKY, 1996).

Por exemplo, a “codificação” dos mapas coropléticos levantou duas questões: como dividir a série estatística a representar e como construir a gama de cores? É uma questão ainda atual. Autores hodiernos continuam abordando o assunto que parece não se fechar. Entretanto, na época, estabeleciam-se apenas regras rígidas, como se a relação entre ordem visual e ordem das classes selecionadas dos agrupamentos fosse uma convenção. Sobre a formação das classes debatia-se adotar agrupamentos naturais ou artificiais determinados matematicamente.

Esta discussão perdura até nossos dias, quando encontramos um bom número de métodos para a discretização das séries estatísticas. Mas a decisão esbarra sempre em limitações, sejam de ordem lógica - a definição do número de classes - de ordem técnica - cores ou níveis dos valores visuais destas em número tecnicamente possível - e enfim, de ordem visual - número de valores visuais numa seqüência ordenada discerníveis pelo leitor - tonalidades arranjadas em eqüidistância perceptiva ideal (FILLACIER, 1986) (CAUVIN et alii, 1987) (PALSKY, 1996).

A definição da escala de cores também suscita debates. Apontam-se três procedimentos: a ordem visual das tonalidades de uma mesma cor, as nuanças ordenadas de duas cores, e as cores diferentes, evidentemente que organizadas em ordem de seus valores visuais intrínsecos.

A monocromia é a solução que predomina nesta época, por ser a mais econômica. A opção pela sua escolha revela também, já certa preocupação em direção a uma lógica semiológica: trata-se de mostrar fatos que variam de lugar para lugar em escala crescente de intensidades, portanto, convindo de representá-los por tonalidades ordenadas de uma mesma cor (LEVASSEUR, 1885).

Entretanto, se o acordo foi fácil pela opção da escala monocromática, o mesmo não foi possível para a definição do número de classes. Sugerem-se entre 6 a 7, mas não foi possível regulamentação.

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Embora a solução monocromática tivesse tido grande aceitação, críticas apareceram no tocante à questão de se mascarar através dela, a média da série estatística. Após várias propostas, aceitou-se aquela de BERTILLON (1877), que aconselhava a bicromia com ordens visuais opostas, a partir da média. Entretanto, sabe-se que o leitor fará confusão e espontaneamente tentará ver apenas uma ordem visual, como alerta BERTIN (1973).

O uso de cores diferentes para representarem variáveis agrupadas em classes fora visto como inadequado. Demanda alto custo mental para o leitor, porquanto a memória tem que se lembrar a todo o momento da convenção adotada, necessitando de se recorrer muitas vezes à legenda.

É para ajudar a memória em se lembrar das cores convencionais que VAUTHIER (1878) sugere uma escala de cores para mapas isopléticos inspirada nos aspectos naturais do relevo. Assim, para os altos valores do fenômeno, ele coloca o branco associado às neves eternas; para os valores que estão logo abaixo, indica o verde, que evoca as florestas temperadas, depois, escolhe o amarelo que é relativo às culturas cerealíferas de planície e por fim, para os valores mínimos aponta o azul das águas. Apesar de a idéia ter sido genial, pouco acrescentou à eficácia da leitura dos mapas. Continuou-se a estabelecer convenções.

Paralelamente às questões do desejo de se normalizar a linguagem dos mapas, estabelecendo regras para as gamas coloridas e para a definição das classes, cresce cada vez mais uma preocupação com as questões de legibilidade. Começa assim, a substituição do inventário exaustivo, com a acumulação extremada de signos, por uma espoliação e maior simplificação destes, como aqueles construídos em base geométrica, evitando os iconográficos.

LEVASSEUR (1885), proclama com grande ênfase que existe uma única regra: a clareza. Assim, começa a se esboçar a busca por uma orientação metodológica para a construção de mapas temáticos que permitam fácil apreensão de seu conteúdo, com consciente conhecimento dos níveis de leitura que eles podem oferecer. Não basta a certeza apenas da percepção elementar - cada signo, isoladamente - deve-se atingir prioritariamente a leitura ao nível de conjunto.

Aparece então, já bem clara, esta nova tendência, a de se privilegiar a imagem em detrimento da figuração, confirmando assim, a necessidade de uma sintaxe gráfica para o sucesso da completa apreensão do conteúdo do mapa pela vista, o que será defendido, na década de 60, por BERTIN (1973; 1967).

Ao entrar no século XX podemos ter uma noção clara do que vem a ser a proposta da cartografia temática através das palavras de WHITFIELD (1994): “No século XX, técnicas científicas sofisticadas têm, paradoxalmente diluído bastante o simples ideal de objetividade, diante da diversidade de conceitos. Mapeamentos temáticos têm se aprimorado a mostrar radicalmente o invisível: vastas estruturas geológicas sob a superfície terrestre, a forma dos continentes milhares de anos atrás, o subsolo oceânico - em todos esses casos, a imaginação científica tem construído imagens do mundo que o olho humano jamais verá, embora elas possam ser objetivamente verdadeiras”. Notamos claramente aqui, a passagem da proposta do registro da simples objetividade para uma lucubração mais elaborada do conhecimento sistematizado que os vários ramos científicos fizeram acerca das facetas da realidade concreta. Foi exatamente aqui que residiu a nova proposta da cartografia para aquela virada de século...

Tomando as contribuições metodológicas deste novo século, podemos ver que é principalmente a partir da década de 50 que contaremos com maior profusão de obras

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específicas sobre a cartografia temática. Entretanto, os autores não deixam clara a organização metodológica do desenvolvimento deste ramo da cartografia.

O mestre LIBAULT em sua La cartographie, na 1a edição de 1962, não estrutura sua obra pelos métodos de representação. Estes aparecem conforme os tipos de mapas que ele comenta os solicitam.

Já a obra de RIMBERT (1964) parece que inclui no campo da cartografia, tanto mapas como gráficos. Embora com uma boa introdução à questão metodológica, tanto da geografia como da cartografia (capítulos I, II e III), a autora considera, a parte, aquela da cartografia temática, envolvendo a questão da representação de fenômenos geográficos em seus aspectos, qualitativo, quantitativo e evolutivo. Dá um grande passo ao distinguir dois grandes grupos de mapas temáticos: os analíticos e os de síntese. Os métodos de representação se resumem em: as curvas, as áreas coloridas e os símbolos. Sem dúvida alguma, já era um esboço de lucubração metodológica de considerável peso.

É na década de 60 que aparece uma obra, a nosso ver com uma proposta totalmente revolucionária. É a Sémioloque graphique de BERTIN (1967). Consolidou-se a partir de uma série de experimentos e reflexões feitas desde 1957 no Laboratoire de cartographie da École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris.

Muita confusão persiste, ainda hoje, em torno de sua proposta, como por exemplo, o fato de se considerar a semiologia gráfica como, sinônimo de cartografia ou até mesmo de método cartográfico.

BERTIN (1967) propõe uma visão da construção dos mapas, gráficos e redes (organogramas, fluxogramas, cronogramas e dendrogramas) como pertecendo a um mundo de imagens bem distinto das figurações, sejam figurativas ou não. Ele estabelece a sintaxe da linguagem da representação gráfica, concretizando assim, sua semiologia. No que tange aos mapas, vistos como redes ordenadas, ele os desenvolve estruturando-os em mapas a uma componente, a duas componentes, e a mais de três componentes. Naqueles a duas componentes, um desdobramento de tratamento para aqueles que cuidam das diversidades, das ordens e das proporções. Nestas últimas, destaca a representação por distribuição regular de círculos de tamanho crescente, de sua invenção, e por curvas de igualdade, as isarítmas. Ressalta, ainda, dentro deste mesmo item, as representações estereográficas - os blocos-diagrama, - que prova não serem mapas.

Quem dá, no nosso entender, um grande avanço na estruturação metodológica da cartografia temática é CUENIN (1972). Fica claro no capítulo Cartographie théorique de seu livro de Cartographie générale (Tome 1) a lucubração metodológica em torno dos sistemas de representação.

Ele diz que a escolha do sistema de representação deve ser condicionada pela natureza do fenômeno, pela característica de seus componentes qualitativos, quantitativos, ordenados ou não, de sua ocorrência pontual, linear ou zonal, de sua distribuição localizada ou dispersa no espaço com ou sem continuidade; enfim, a representação pode ser estática no espaço e no tempo ou ainda, dinâmica, expressando-se por variações no tempo ou movimentos no espaço.

Tal autor consegue assim, dar de forma concisa, a mais abrangente configuração metodológica para a citada cartografia.

Para tanto considera:

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1. Sistemas de representações tipológicas2. Sistemas de representações quantitativas

. pontos de superfície constante

. signos de superfície variável

. diagramas localizados (Cartodiagramas)

. áreas diferenciadas por valores visuais variáveis

. isarítmas3. Sistemas de representações dinâmicas

O professor LIBAULT (1975), por sua vez, dentre nós em seu compêndio Geocartografia, estabeleceu uma organização de métodos de representação voltada para a transcrição gráfica de fenômenos subjetivos e de fenômenos estatísticos:

Neste sentido, considera:

1. Cartas de localização2. Método corocromático3. Cartas corocromáticas quantitativas 4. Cartas corocromáticas complexas5. Representação dos valores absolutos6. Distribuição dos pontos de contagem 7. Métodos isarítmicos8. Cartas dos movimentos

ROBINSON e SALE (1969), na 3a edição de seu livro: Elements of cartography, elabora uma estrutura metodológica para a cartografia que, no seu entender, organiza a base conceitual para o simbolismo cartográfico.

Nota-se que, embora estes dois autores tenham proposto uma excelente organização do raciocínio em prol do desenvolvimento de uma metodologia para cartografia temática, quase arriscando uma boa estruturação dirigida para uma sintaxe da tal linguagem cartográfica, ficam ainda presos à tradição dos símbolos cartográficos. Eles consideram o mapa como um sistema de codificação de informações, e não um meio de comunicação visual com linguagem cuja sintaxe é completamente liberta de todo e qualquer código elaborado ao longo dos tempos, carregando tradições e convenções, na busca de uma segura padronização.

Como prova de uma boa estruturação metodológica, apresentamos a organização dos “símbolos” para representar ocorrências pontuais, lineares e zonais, para a apreciação dos fenômenos em escala nominal, ordinal e intervalar ou na combinação delas, onde os autores ROBINSON e SALE (1969) esboçam a exploração de apenas três variáveis visuais: forma-cor-tamanho.

(Fig. 40)

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Em data mais recente, BÉGUIN e PUMAIN (1994) apresentam uma organização dos modos de representação cartográfica para dados qualitativos (nominais, ordinais) e quantitativos (escala intervalar e razão) em implantação pontual, linear e zonal, em forma de quadro. É interessante notar que o Método coroplético e isarítmico, tradicionalmente concebidos como de representações quantitativas, estão enquadrados no grupo das expressões cartográficas ordenadas, postura correta, porquanto a ordem visual é incoerente para a transcrição de dados em escala razão. (Fig. 41)

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No nosso Curso de cartografia temática (MARTINELLI, 1991) fizemos uma estruturação metodológica fundamentada nas orientações estabelecidas por BERTIN (1973), ao organizar as representações gráficas em mapas.

Embora possamos enaltecer que BERTIN e seus colaboradores tenham sido extremamente originais, abrindo uma nova visão sobre a cartografia temática, completamente livre das amarras das convenções, outros autores, em épocas anteriores, também arriscaram algumas incursões neste domínio, sem, entretanto concretizar um paradigma.

Somos partidários desta posição metodológica, porquanto nos dá liberdade absoluta de trabalhar a cartografia temática mais próxima do nível das operações lógicas mentais do que ficar apenas preso às suas questões semânticas.

O nosso dia a dia, no ensino desta área do conhecimento em nível superior, seja de graduação como de pós-graduação, tem nos mostrado que, quando os alunos descobrem a cartografia transitando num nível superior de raciocínio, resolvem facilmente as questões sintáticas do mapa que estão elaborando e conseguem trabalhar com clareza e de forma crítica o respectivo conteúdo.

Ao estruturarmos nosso livro, já citado (MARTINELLI, 1991), retemos que os mapas temáticos possam ser construídos levando - se em conta vários métodos, cada um mais apropriado às características e forma de manifestação - em pontos, linhas ou áreas - dos fenômenos considerados em cada tema, seja na abordagem qualitativa, ordenada ou quantitativa. Podemos empreender também uma apreciação dos mesmos, do ponto de vista estático ou dinâmico.

Neste sentido, ponderamos que os métodos de representação da cartografia temática pudessem ser agrupados em quatro categorias fundamentais:

1. Métodos para representações qualitativas2. Métodos para representações ordenadas3. Métodos para representações quantitativas4. Métodos para representações dinâmicas

Devemos salientar, ainda, que os fenômenos que compõem a realidade podem ser considerados dentro de um raciocínio geográfico analítico ou sintético. Neste sentido, teremos de um lado uma cartografia analítica - abordagem dos temas em mapas analíticos, atentando para seus elementos constitutivos, mesmo que cheguem à exaustão, através de justaposições ou superposições - e de outro, uma cartografia de síntese - abordagem dos temas em mapas de síntese, atentando para a fusão dos seus elementos constitutivos em “tipos”. (RIMBERT, 1968).

CAUVIN (1998), baseada em pesquisas e testes de sua lavra feitas durante as décadas de 80 e 90, na Université Louis Pasteur de Strasbourg associados a uma larga experiência didática, propõe uma reflexão metodológica que ultrapassa as concepções elaboradas até aqui. Não basta apenas colocar em evidência o que é observável, o que é feito mobilizando uma correta gramática gráfica, é necessário conceber mapas como meios capazes de revelar, de fazer emergir as estruturas dissimuladas. Para tanto, num primeiro momento é necessário vislumbrar construções elaboradas, produzindo assim, mapas temáticos comparáveis, reproduzíveis e interpretáveis, congregando para tanto, não só a estatística e o modelismo matemático, como também, com mais propriedade nos dias de hoje, os sistemas de informação geográfica. Neste sentido, dentro de um roteiro científico experimental, os mapas temáticos devem ser passíveis de verificação, em termos de

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aceitação ou refutação diante de hipóteses formuladas dentro de uma postura teórico-metodológica tomada a partir da problematização do tema escolhido. Esta linha de pensamento vem ao encontro com a firme proposição feita ao Congresso de Viena, em 1975, reconhecendo a cartografia como CIÊNCIA autônoma (KRESTCHMER, 1977).

Assim, segundo CAUVIN (1998), os mapas temáticos deverão compreender duas grandes facetas na sua elaboração: a primeira, propondo uma construção de base passível de experimentações e/ou demonstrações; a segunda, permitindo sua comunicação, apoiando-se, agora sim, nos ditames da gramática da linguagem da representação gráfica. Esta reflexão pode ser esquematizada pela disposição das etapas do raciocínio cartográfico. (Fig. 42)

Entretanto, para entendermos claramente esta lucubração é necessário retomar, junto à estruturação metodológica da autora para a cartografia temática, a etapa da escolha dos métodos de representação. Eles estarão vinculados aos componentes (X Y, Z) do mapa (ocorrências pontuais, lineares, zonais, fenômenos discretos ou contínuos, etc.), à resolução dimensional dos atributos (Z) (duas ou três dimensões) e ao tipo de correspondências entre as observações (Z) e as referências locacionais (X, Y) (sistema de transferência, de superfície ou de anamorfose). Este raciocínio é ilustrado mediante um quadro elaborado pela citada pesquisadora. Hoje, os SIG's já estão acostumados a fazer estes relacionamentos, resolvendo-os praticamente em tempo real (CAUVIN, 1998). (Fig. 43)

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4 OS MÉTODOS DE REPRESENTAÇÃO DA CARTOGRAFIA TEMÁTICA.

Uma revisão e reflexão crítica sobre o assunto são indispensáveis.

6.1 Representações qualitativas

As representações qualitativas em mapas são empregadas para mostrar a presença, a localização e a extensão das ocorrências das categorias dos fenômenos que se diferenciam pela sua natureza, característica, podendo ser classificados por critérios estabelecidos pelas ciências que os estudam.

As ciências sistemáticas são as que principalmente trazem esta questão para a cartografia temática resolver.

As classificações podem ser organizadas através de um sistema de numeração progressiva das divisões e subdivisões do conteúdo temático, o que constituirá a estrutura básica da composição da legenda. As seções primárias são as principais divisões do tema. O indicativo delas segue a seqüência dos números inteiros a partir de 1. Elas podem ser desdobradas em seções secundárias; as secundárias, em terciárias; as terciárias, em quaternárias, e assim sucessivamente.

O indicativo de uma seção secundária é constituído pelo indicativo da seção primária a que pertence, seguido do número que lhe for atribuído na seqüência do conteúdo tratado pelo mapa e separado por ponto. Repete-se, depois, o mesmo procedimento em relação à sucessão das demais seções (GRUPO, 1968) (LIBAULT, 1975) (ABNT, 1989).

Seção Primária Seção Secundária Seção Terciária

11.1

1.1.11.2

1.2.11.2.2

2 2.1

2.1.1 etc...

Conforme os fenômenos se manifestam em pontos, linhas ou áreas no mapa utilizam-se respectivamente as entidades geométricas homólogas, pontos, linhas e áreas,

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que terão uma variação visual com propriedade perceptiva compatível com a diversidade: a seletividade visual.

Por outro lado, já é sabido que o terceiro componente da imagem, a dimensão visual (Z), pode expressar apenas um atributo, o que nos levará, na maioria dos casos, a adotar a solução exaustiva: a diversidade será representada sobre um mesmo mapa dotado de legenda.

Entretanto, não se deve esquecer, como já comentamos oportunamente, que ao fazer isto estaríamos superpondo várias imagens sobre o mesmo mapa; é a mesma coisa que superpor várias exposições fotográficas sobre o mesmo filme, ou assistir a vários canais de TV no mesmo monitor. Nessa superposição, o olho percebe apenas a forma de conjunto criada pela soma dos atributos, porém, sem significação. É o seu limite. É a exaustão. Essa solução obrigará o usuário a fazer uma leitura ao nível elementar, isto é, de ponto a ponto, até conseguir memorizar seletivamente as imagens individuais que cada taxon da classificação constrói.

Estas considerações sugerem como já foi dito a solução mediante a coleção de mapas, um para cada atributo. Esta afirmação leva a incluir nesta categoria de representação também aquelas que registram apenas a presença/ausência de um atributo no espaço. São chamadas representações binárias ou dicotômicas.

Tal solução, como já foi salientada, tem a vantagem de proporcionar ao usuário uma leitura ao nível de conjunto. Entretanto, o mapa temático neste caso permaneceria apenas a nível de constatação. É um arquivo.

Pode-se ainda, como já vimos considerar o mapa exaustivo, porém, com uma legenda por coleção de mapas, proporcionando ao usuário, tanto a leitura a nível elementar como de conjunto. Fotografias selecionadas poderão completar as descrições da legenda.

Para encaminharmos nossas posteriores discussões sobre este nível de representações temáticas consideraremos como ponto de partida uma cartografia simplificada da Geologia do Estado de São Paulo (IGG, 1974), onde será ressaltada a relação de diversidade entre as modalidades de conjuntos espaciais que a geologia estabelece. (Cada unidade espacial é distinta).

Num primeiro momento podemos considerar uma representação do tipo tradicional, aquela que leva em conta a organização do mapa como um código, portanto ressaltando apenas a relação entre o significante e o significado dos signos. É o domínio das convenções.

O resultado é o típico mapa exaustivo. Demanda, como vimos certo esforço por parte do leitor para desmembrar a imagem que cada categoria do fenômeno desenha.

(Fig. 44)

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Uma outra solução é aquela com legenda por coleção de mapas, oferecendo ao mesmo tempo a visão de conjunto e a leitura a nível de detalhe, como já demonstramos anteriormente.

(Fig. 45)

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Embora as rubricas da legenda possam obedecer à organização cronológica, esta não fica evidente ao darmos uma olhada no conjunto do mapa. O leitor tem que recorrer à legenda a todo instante para saber o significado de cada signo, e construir mentalmente a imagem que a seqüência cronologicamente ordenada de conjuntos espaciais constrói, no espaço.

6.2 Representações ordenadas

As representações ordenadas em mapas são indicadas quando as categorias dos fenômenos se inscrevem numa seqüência única e universalmente admitida. A relação entre objetos é de ordem. Definem-se, assim, as hierarquias.

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Por sua vez, o tempo, além de linear, se apresenta também naturalmente ordenado. É a concepção do tempo como sucessão. É o tempo histórico.

Assim, podemos admitir que certos fenômenos nos autorizem a impor-lhes uma classificação segundo uma ordem lógica e evidente, considerando categorias deduzidas de interpretações quantitativas ou de datações.

Conforme as categorias dos fenômenos se manifestem em pontos, linhas ou áreas, no mapa utilizam respectivamente, pontos, linhas e áreas que terão, agora, uma variação visual com propriedade perceptiva compatível com a ordenação: o valor, o qual pode se organizar numa ordem visual crescente.

Tomando-se ainda o caso do mapa da geologia do Estado de São Paulo (IGG, 1974) (simplificado) teremos desta vez, uma representação evidenciando a ordenação das modalidades de conjuntos espaciais que a geologia estabelece na escala do tempo geológico, sua coluna estratigráfica (idades). (Fig. 46)

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Como a variável visual mobilizada foi o valor, imediatamente aparece a imagem do conjunto, podendo dar resposta visual instantânea às questões do tipo: “Onde estão as rochas mais antigas?” ou “Onde estão os terrenos mais recentes?”. Desta maneira a representação poderá fornecer facilmente a resposta à questão mais comprometedora, aquela que exigirá raciocínio ao nível das operações mentais lógicas: “O que o mapa revelou?”. De uma maneira geral, no exemplo paulista, o mapa revela que, conforme caminhamos de leste para oeste, os terrenos vão dos mais antigos aos mais recentes, na escala do tempo geológico. Esta resposta seria difícil de ser alcançada através do exame do mapa com solução seletiva, mesmo com a legenda por coleção de mapas estruturada na seqüência da coluna estratigráfica.

O raciocínio empreendido na representação ordenada para a geologia de São Paulo poderia incentivar os professores do ensino fundamental uma excursão com seus alunos para entenderem, de uma vez por todas, como é a geologia do Estado. Os estudantes passariam, assim, a ver tal mapa com outros olhos. Não mais como uma ilustração que acompanha um texto geográfico.

Dentro das representações ordenadas podem-se considerar também aquelas que transcrevem duas ordens opostas de ocorrências com manifestação zonal, mobilizando duas ordens visuais opostas.

Para ilustrar este caso podemos representar de forma simplificada o uso e revestimento do solo do Estado de São Paulo (TROPPMAIR, 1983). O mapa evidencia a oposição que existiria entre o natural e o antropomorfizado, entre a natureza e a sociedade, tentando captar a idéia de que a relação do homem com a natureza vai mudando com o tempo - há movimento como fruto da história. A evolução do homem em sociedade passa a exigir cada vez mais formas diferentes de relações com a natureza. Produz-se assim; o espaço geográfico.

Por outro lado, se a pressão da sociedade sobre qualquer estágio da evolução da primeira natureza para a segunda cessar, entram em ação as leis e princípios que regem a natureza: cada situação ecológica das séries dinâmicas de vegetação evoluiria para o respectivo clímax. Para tentar encaminhar o leitor para o entendimento da “oposição” de movimentos em permanente tensão é que se arriscaria explorar a dupla ordem visual, das cores frias em oposição às quentes, atentando também para o aspecto sensorial, psicológico, místico e simbólico das cores: a ordem das cores frias estaria associada à ordem das situações mais naturalísticas enquanto que a ordem das cores quentes ficaria vinculada à ordem das condições mais alteradas, antropomorfizadas.

(Fig. 47)

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6.3 Representações quantitativas

As representações quantitativas em mapas são empregadas para evidenciar a relação de proporcionalidade entre objetos (B é quatro vezes maior que A). Esta relação deverá ser transcrita por uma relação visual de mesma natureza. A única variação visual que transcreve fidedignamente esta noção é a de TAMANHO.

Conforme os fenômenos se manifestam em pontos, linhas ou áreas utilizam-se respectivamente os homólogos geométricos pontos, linhas e áreas que terão uma variação visual com propriedade perceptiva compatível com a proporcionalidade: a proporcionalidade visual.

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6.3.1 Método das figuras geométricas proporcionais

Na ocorrência pontual modulamos o tamanho de uma forma escolhida implantada sobre o local de ocorrência. Esta solução é ideal para a representação de fenômenos localizados com efetivos elevados, como é o caso da população urbana. O tamanho da tal forma será proporcional ao efetivo da ocorrência. Constitui a aplicação do chamado “Método das figuras geométricas proporcionais”. Ele é devido, numa primeira aplicação aos mapas, a MINARD (1851), que estabeleceu círculos proporcionais em implantação pontual para representar a produção das principais jazidas de carvão da França, combinada aos fluxos dos combustíveis minerais no mesmo território. Deve-se também ao próprio MINARD (1859) a idéia da aplicação da divisão do círculo em setores, partes de sua superfície compreendida entre dois raios, que ele colore conforme a espécie das quantidades consideradas nas parcelas que compõem os totais.

Embora se enalteça MINARD (1851) pela primeira aplicação das figuras geométricas proporcionais aos mapas, não podemos deixar de mencionar a importância pioneira da estatística gráfica, como já frisamos. Os gráficos precederam os mapas quantitativos, abriram o caminho à cartografia das quantidades. Constituíram, assim, uma etapa histórica e epistemológica básica para o desenvolvimento desta cartografia consolidada por MINARD (1851).

Neste sentido, já apontamos que deve ser creditada a FOURCROY (1782), a primeira representação com tamanhos proporcionais, mobilizando as duas dimensões do plano que não fossem a localização, porém, não sobre mapa.

O mesmo deve ser dito em relação a PLAYFAIR (1801), que também estabeleceu círculos proporcionais para mostrar os tamanhos dos países europeus combinados com a respectiva população e renda, mas ainda como gráficos. Ao mesmo PLAYFAIR deve-se também a divisão dos círculos proporcionais em setores - o gráfico denominado de Setograma - que MINARD (1859) aplicou aos mapas.

6.3.2 Método dos fluxos

Em ocorrência linear modulamos a espessura do traço proporcionalmente à intensidade do fenômeno, no caso, evocando uma intensidade do fluxo entre dois pontos. Esta consideração cai no raciocínio que elabora as representações dinâmicas, trazendo certa confusão na sistematização metodológica da cartografia temática. Pois, o fato de variar o tamanho (espessura) da linha, consolidou já há um bom tempo, uma representação dinâmica. Ela é devida, a MINARD (1845), resolvida a partir de uma extensão dos fluxos (movimentos da circulação) representada como gráficos.

Neste sentido, retomaremos estas considerações, junto às representações dinâmicas que tratam dos movimentos no espaço.

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6.3.3 Representações quantitativas das ocorrências zonais

Para a ocorrência zonal dos fenômenos contamos com várias propostas de métodos de representação, desde os mais simples e tradicionais até os mais elaborados e consistentes. Entretanto, é necessária uma avaliação crítica para se fazer uma opção consciente.

6.3.3.1 Método coroplético

As representações quantitativas de fenômenos com manifestação zonal têm sido tradicionalmente resolvidas mediante mapas coropléticos (do grego PLETHOS, quantidade), literalmente mapas que expressam dados quantitativos por região (CUENIN, 1972).

Estas representações, que consistem na aplicação do “Método Coroplético”, coincidem com a ansiedade de se conseguir elaborar os primeiros procedimentos de cartografia quantitativa. É exatamente entre 1825 e 1840 que se vislumbra a representação das quantidades em mapas, através da mobilização de uma variável visual distinta e a parte das duas dimensões do plano (PALSKY, 1996).

Esta forma de representação foi preconizada por DUPIN (1826) ao propor seu mapa da alfabetização da França. Ele estabelece uma ordem visual, atribuindo valores visuais cada vez mais escuros conforme cada Departamento francês coloca cada vez menos crianças nas suas escolas.

Com isto consegue mostrar a real situação da França, evocando de forma gritante a oposição entre uma França esclarecida ao norte e uma França obscura ao sul, como já comentamos.

A partir desta idéia básica, a concepção mais simplista e a mais difundida dos mapas coropléticos, até mesmo em nossos dias, tem sido a que explora uma série ordenada de valores visuais crescentes ou a propriedade de ordem das cores de uma das duas metades do espectro visível. Esta representaria séries estatísticas mais especificamente de valores absolutos referentes a unidades observacionais bem definidas.

(Fig. 48)

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Esta solução incorre num grave erro. Em primeiro lugar, há incoerência entre a natureza dos dados e a variação visual adotada. Os dados estão em escala razão, ou seja, há proporcionalidade entre os valores numéricos, principalmente quando são absolutos, enquanto que a variação visual se encontra em escala ordenada.

Por outro lado, a superfície de ocorrência do fenômeno (unidade observacional) passa a fazer parte do signo, sem fazer parte dos valores numéricos a serem representados. Fornecerá, portanto, uma visão distorcida das quantidades reais.

Resolver esta representação por figuras geométricas proporcionais aos valores absolutos forneceria ao leitor as suas verdadeiras relações visuais. (Fig. 49)

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Ao considerar valores relativos (tipo A/B), ao invés de absolutos, não resolveremos plausivelmente o problema, a não ser que as superfícies das unidades de observação constituam o denominador. É o caso das densidades. Taxas e proporções são igualmente ilógicas, pois o tamanho das unidades observacionais fará parte do signo, como já apontamos. (Fig. 50)

São indicadas duas soluções para este caso: A primeira recomenda que o denominador da relação imponha uma

proporcionalidade à área de ocorrência para receber, em seguida, um valor visual correspondente ao valor relativo. Fazer isso significa realizar um cartograma - transformação que faz com que, as áreas das unidades observacionais sejam proporcionais às quantidades do fenômeno, porém, guardando a respectiva contigüidade daquelas unidades, isto é, sua topologia. Um mapa de taxas de urbanização receberia valores visuais

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em unidades observacionais com áreas proporcionais à população total (MULLER, 1983) (RIMBERT, 1990).

(Fig. 51)

A segunda manda colocar valores visuais que correspondem aos valores relativos dentro de círculos de tamanhos proporcionais aos denominadores (um valor visual de classe de taxa de mortalidade vai dentro do círculo proporcional à população total) (MULLER, 1983).

(Fig. 52)

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BERTIN (1973) argumenta que o mapa isométrico - representação estereográfica por prismas justapostos elevados a partir das unidades observacionais tidas como base, sem deformá-las com a perspectiva - seria uma solução ideal para a representação quantitativa da manifestação em superfície referente àquelas unidades. São as alturas dos prismas que valem. (Fig. 53)

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Esta representação quantitativa, também chamada de mapa em prismas (BLIN e BORD, 1993), seria imaginada como um histograma tridimensional ou como uma superfície estatística desenvolvida em patamares, portanto com descontinuidade entre os valores quantitativos na passagem de uma unidade observacional para a outra, exatamente como acontece na realidade.

Esta construção teria de positivo a capacidade de nos revelar agrupamentos, não só em termos das proximidades geográficas das unidades observacionais semelhantes, mas também, em função da homogeneidade dos valores quantitativos assumidos pela variável objeto de representação. BERTIN (1973) defende ainda, que este seria o procedimento correto para o estabelecimento das classes, pois estas deveriam ser, o fim da representação e não o meio. De fato, ele tem razão, pois a distribuição estatística da série de dados é distinta da distribuição geográfica, isto é, do padrão do arranjo espacial dos valores representativos do fenômeno objeto do mapa.

Entretanto, MULLER (1983) contesta esta proposta, alertando que o que aparece à primeira vista é o volume, o que na verdade não entra em jogo. Haverá, portanto, distorção da informação.

Por seu turno, BERTIN (1977), embora apontando as vantagens acima expostas, lembra que quando as perspectivas deformam o plano de base não podem mais ser consideradas como mapas. As duas dimensões (X, Y) do plano não são mais homotéticas ao rigor da ordem geográfica que caracteriza a cartografia, e assim a imagem não é mais universal.

Por outro lado, conforme a distribuição espacial dos valores e a posição do observador que define a visão de estereograma, alguns prismas mais baixos podem se ocultar por traz dos mais elevados. Neste caso seria necessária uma rotação para achar a posição mais conveniente para a visão de conjunto do bloco-diagrama. Os computadores, hoje, facilitam esta operação. (Fig. 54)

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Outra questão bastante discutida na aplicação do método coroplético é a que diz respeito ao estabelecimento das classes que deverão agrupar os valores da variável. Há uma literatura bastante extensa sobre o assunto, recomendando adotar desde classes estabelecidas arbitrariamente, até classes definidas por métodos rigorosamente elaborados.

A operação de divisão em classes de uma série estatística é também chamada de discretização, pois torna discreta uma série medida em escala contínua de valores - escala intervalar ou escala razão (BÉGUIN e PUMAIN, 1994).

O compromisso maior desta tarefa seria a de perder o menos possível de informação, o que no extremo resultaria no mapeamento de todos os valores da série estatística, o que esbarraria nos limites impostos pela percepção visual.

Sabe-se que, com base em trabalhos de psicólogos, o leitor começa a ter certa dificuldade em discernir com clareza o escalonamento dos tons de uma ordem visual quando ela vai ultrapassando os seis a sete níveis (OLSON, 1975) (GILCHRIST, 1977) (DIAS, 1988).

Trata-se então de conjugar o rigor das operações de discretização com a boa legibilidade da imagem cartográfica.

Podemos considerar baseados em CAUVIN et alii (1987), que por sua vez se apoiaram em EVANS (1977), seis grandes famílias de métodos de discretização:

1. discretizações intuitivas, arbitrárias;2. discretizações exógenas;3. discretizações matemáticas;4. discretizações estatísticas e probabilísticas;5. discretizações gráficas;6. discretizações experimentais

As discretizações intuitivas são determinadas mediante a intuição e experiência do autor. São extremamente subjetivas. Não se prestam para comparações.

Nos métodos de discretizações exógenas, os limites são determinados a partir de um referencial externo, por exemplo, a média estabelecida em um nível de observação mais global.

As discretizações matemáticas empregam princípios matemáticos. Demandam certos cuidados em termos de avaliar se há adequação entre o princípio matemático e a característica do fenômeno estudado.

Dentre elas destacam-se: a discretização em classes de igual amplitude (ou de intervalos constantes); em classes segundo uma progressão aritmética e em classes conforme uma progressão geométrica. Em particular, estes dois últimos procedimentos têm vantagem de detalhar mais os pequenos valores da série.

As discretizações estatísticas e probabilísticas apoiam-se em parâmetros estatísticos clássicos ou às probabilidades. Elas se baseiam sobre um estudo das freqüências e não sobre os valores da variável. São elas: discretização, segundo os quantis (classes de efetivos iguais), segundo a média e o desvio padrão, segundo as médias embutidas, baseada na noção de variância (minimização da variância intraclasses e maximização da variância interclasses) e discretização em classes equiprováveis. Estas últimas seriam adequadas às distribuições estatísticas uniformes, nas quais todos os valores teriam a mesma probabilidade de acontecer (BÉGUIN e PUMAIN, 1994).

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Por sua vez, as discretizações gráficas são as mais amplamente divulgadas e utilizadas, até mesmo por técnicas computacionais. Os limites das classes são determinados com a ajuda de gráficos.

São duas as maneiras de proceder: a partir de agrupamentos naturais exibidos pelo histograma e por meio das inflexões da curva da freqüência acumulada ou da curva clinográfica da distribuição observada.

A partir do histograma podemos identificar visualmente os agrupamentos naturais que se formam: são as classes significativas. Os limites das classes assim determinados poderão ser balizados pelos próprios valores da tabela, os quais as abrem e fecham. A adoção deste critério dá segurança ao leitor de que a variabilidade dos valores de cada classe se enquadra dentro dos respectivos limites declarados. Assim, a classe que contém um único valor será indicada pelo mesmo.

BERTIN (1977) alerta que é importante avaliar o significado da amplitude e da natureza dos extremos numa série estatística representativa de determinado fenômeno. Podem caracterizar comportamentos de natureza deferente. A densidade demográfica das grandes concentrações urbanas é de natureza distinta daquela de outras áreas não metropolitanas. Portanto, é válido agrupar vários valores extremos, mesmo que eles estejam bastante distantes na distribuição estatística.

SANCHEZ (1972) e LOMBARDO e SANCHEZ (1975) propõem definir os intervalos de classe com a aplicação do processo de Classificação Hierárquica dos Pares Recíprocos. (Classificação Ascendente Hierárquica).

Eles defendem esta técnica classificatória pelo fato de limitar consideravelmente a subjetividade do pesquisador. Ele pode decidir sobre qual nível de perda de detalhe vai adotar, a partir da árvore de ligação, a qual aposta ao mapa dá transparência esta a escolha, além de expor o arranjo estrutural de como os dados foram se nos agrupando diferentes níveis de ligações.

Nas legendas de seus mapas, os citados autores organizam as classes abrindo-as e fechando-as com os próprios valores da série estatística. Quando a classe inclui um único valor ela é designada pelo próprio, como já dissemos.

Com a construção da curva de freqüência acumulada podemos determinar as classes, seja por quantis ou observando as inflexões apresentadas pela linha, as quais significam maiores ou menores descontinuidades na série de valores.

A curva clinográfica coloca em correspondência os valores da série estatística organizados em ordem crescente e a superfície coberta por cada um destes valores, de forma acumulada, em porcentagem, em função das unidades observacionais às quais eles correspondem.

Esta curva tem a particularidade de associar simultaneamente as características do tema e as características de sua distribuição espacial que será exibida pelo mapa.

A partir dela pode-se considerar dois procedimentos distintos para determinar os limites das classes:

a) Método dos quantis espaciais: procurar que valores correspondem aos cortes de quantidades iguais do espaço sobre o eixo horizontal do gráfico correspondente.

b) Método dos patamares espaciais: examinar a quais valores correspondem as principais inflexões verificadas na curva.

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Por fim, temos a família das discretizações experimentais, que segundo CAUVIN et alli (1987) já citados, podem ser somente aplicados em casos específicos, onde se tem pleno conhecimento da lei que rege o fenômeno estudado. Os limites das classes se vinculariam rigorosamente a cortes teóricos, determinados por leis ou modelos.

A partir do leque de opções apresentado cabe ao pesquisador resolver qual método adotar para que sua discretização resulte ideal, combinando a característica da distribuição da série estatística com o padrão de distribuição espacial do fenômeno em pauta.

É bastante conhecida a crítica que pode ser feita às diferentes opções de limites de classe par os mapas coropléticos. Agrupamentos distintos poderão nos levar a fazer interpretações radicais. MONMONIER (1991) mostra que mapas das habitações desprovidas de telefone com mesmo número de classes e escala de valores visuais podem levar a visualizar imagens bem contrastantes, sugerindo interpretações específicas.

(Fig. 55)

O mapa da esquerda mostra um só Estado - a Virginia - com a participação mais alta, como também um só Estado com a porcentagem mais baixa - Connecticut. Sua "leitura" pode-nos sugerir que a Virginia congrega alta forte proporção de negros desfavorecidos enquanto que o Connecticut conta com forte presença de ricos residentes em palacetes.

Já o mapa da direita mostra uma distribuição mais equilibrada levando-nos a fazer uma interpretação diferente. Os estados com as porcentagens mais elevadas registrariam maior participação da população rural enquanto que aqueles com valores reduzidos caracterizariam áreas mais urbanizadas e industrializadas.

Prejulgamentos mais ou menos intencionados também podem manipular a mensagem. (Fig. 56)

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Os dois mapas permitem interpretações políticas divergentes. O mapa da esquerda mostra que a maioria dos Estados está numa zona fortemente desprovida de telefones residenciais, sugerindo que o governo é incapaz de implantar um bom atendimento remediando a pobreza. A representação da direita já mostra que a política de telecomunicações do governo é eficaz, engendrando a prosperidade.

Outra questão sobre a qual muito se discutiu e ainda se discute nas representações coropléticas é a que se diz respeito à definição da série de valores visuais em ordem crescente ou decrescente, como já comentamos. O próprio, já citado DUPIN (1826), no século passado, ao propor a representação coroplética: mais do que um resultado de um raciocínio elaborado, ele fabricara um simbolismo. O contraste entre claros e escuros dos extremos da ordem visual de níveis de cinza na imagem construída pelo mapa constituía-se em símbolo que dava o significado moral da oposição entre uma França iluminada, ao norte, e o obscurantismo situado ao sul.

No extremo oposto, ao valorizar a ordem visual para a transcrição de uma relação ordenada entre objetos, FILLACIER (1986) ressalta o aspecto dos mecanismos naturais da percepção humana como um importante componente desta construção visual, como já apontamos. Assim, para se obter um melhor discernimento na sucessão dos valores visuais, seja entre cores espectrais, ou seja, numa sucessão de cinzas, eles deverão ser organizados em eqüidistância perceptiva, isto é, os saltos perceptivos, na passagem de uma tonalidade para outra devem ser sempre constantes.

Entretanto, esta seqüência ideal só é possível ser obtida experimentalmente, com base na psicometria, ciência muito solicitada a participar de um amplo desenvolvimento na prática social da cor, como já anunciamos em momento oportuno (FILLACIER, 1986).

Hoje, contamos com softwares para cartografia temática, como o MAPTITUDE, por exemplo, que resolve automaticamente o escalonamento de valores visuais em

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eqüidistância perceptiva, ao lhe ser fornecido a primeira cor, a mais clara e a última cor da série, a mais escura, e o número de classes desejado.

A inobservância da eqüidistância nos níveis visuais pode promover interpretações diferentes acerca dos dados representados.

Os quatro mapas da figura 57 podem induzir a quatro interpretações:

a) oposição entre Paris e o resto da França;b) oposição entre a região mediterrânea e o resto da França;c) uma França dividida ao meio;d) quatro regiões distintas (BLIN e BORD, 1993) (Fig. 57)

Outro ponto crítico, ainda, que existe neste método de representação, é a forma de apresentação das classes numéricas. Há dois extremos. Um, possibilita ao usuário uma

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leitura rápida da legenda. O outro, lhe fornece a maior precisão possível da característica da série.

A primeira solução ajusta a amplitude total dos dados que exprimem a série, com o fim de obter limites de classes com números redondos em intervalos de igual amplitude, mais fácil para serem lidos e memorizados.

A segunda, como já salienta oportunamente, em classes disjuntas, permite ter a exata idéia, não só do comportamento da série estatística, como também da variabilidade interna em cada classe. Para tanto, cita o valor exato que abre e fecha cada classe. Quando este é único, ele mesmo designa a classe, como salientamos várias vezes.

Além da questão sobre o significado geográfico, a comparação entre vários mapas coropléticos também demanda a uma série de considerações de cunho metodológico no campo da cartografia temática.

A primeira questão que aparece é a que diz respeito à discretização, cujos métodos diferem segundo os objetivos da comparação (DIAS, 1988) (BÉGUIN e PUMAIN, 1994).

No confronto da posição na ordem de valores visuais das unidades observacionais entre várias distribuições, as representações serão comparáveis quando adotada uma discretização que tem por base a média a partir da qual se formam classes acima e abaixo dela, em intervalos baseados em certo número de desvios padrão.

Especificamente, ao se deseja comparar visualmente várias distribuições que possuem grande variabilidade e amplitude atribui-se uma gama curta de valores visuais para a série de pequena amplitude e uma gama ampla, para aquela com grande dispersão.

Para a comparação visual de um mesmo fenômeno em datas diferentes podemos definir as classes estatísticas levando-se em conta a série que congrega o conjunto geral dos valores observados nas várias datas.

Por sua vez, BERTIN (1973; 1977) e BONIN (1975) propõem duas possibilidades na organização dos mapas coropléticos a serem comparados, com base na visibilidade: ou considerando classes definidas por agrupamentos apropriados a cada série de dados ou levando em conta classes definidas por um agrupamento comum a todas as séries de dados. Adotar a primeira solução - a da legenda própria - significa salientar visualmente os agrupamentos espaciais pertinentes, construídos por cada distribuição. Considerar a segunda - a da legenda comum - significa sacrificar tais agrupamentos em benefício da percepção do comportamento da variabilidade dos valores entre as várias distribuições. Essa última solução permite visualizar a importância das quantidades, autorizando - nos a compará-las, enquanto a primeira proporciona maior precisão na avaliação das características de cada padrão espacial, salientando as respectivas disparidades e contrastes intra-regionais.

Coleção de mapas com classes definidas por agrupamentos apropriados a cada série (legenda própria).

(Fig. 58)

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Coleção de mapas com classes definidas por um agrupamento comum a todas as séries. (legenda comum). (Fig. 59)

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6.3.3.2 Método dos pontos de contagem

BERTIN (1973; 1977) BONIN (1975) e BOARD (1984), argumentam que a representação ideal para o aspecto quantitativo de fenômenos com manifestação zonal é

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aquela que, além de fornecer as quantidades permite ver as densidades. São duas as possibilidades para esta solução gráfica.

Uma delas é feita mediante a variação do número de pontos de tamanho e forma constantes distribuídos regularmente ou não pela área de ocorrência - a unidade observacional. Cada ponto sintetiza determinado valor unitário: 1 ponto = 200 pessoas. Este método é chamado de “Método dos pontos de contagem” (CLAVAL e WIEBER, 1969) (CUENIN, 1972) (LIBAULT, 1975).

Tal solução cartográfica mobiliza apenas as duas dimensões do plano. Estas dão as posições dos pontos, todos iguais e de mesma significação. O mapa resultante permitirá como já adiantamos uma dupla percepção: a das densidades, obtida pela relação entre o preto dos pontos em contraste com o fundo branco do papel e a das quantidades, constatadas através da contagem dos pontos, os quais se adicionam visualmente com grande facilidade.

Este método foi idealizado por FRÈRE DE MONTIZON (1830), um dos primeiros que instituíram a representação em mapa da distribuição de quantidades - população - em valores absolutos. (Fig. 60)

Também este autor quis dar um ar simbólico ao seu mapa, a "Carte philosophique figurant la population de la France". Ele concebeu tal mapa considerando a

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população vista sob o ângulo filosófico, isto é, relacionando-a com o estado físico, intelectual e moral do país.

Entretanto, a maior difusão do método dos pontos de contagem se deu somente no início do século XX, com a publicação do Atlas "Geography of the world agriculture" de FINCH e BAKER (1917), como já anunciamos anteriormente. Porém, STEN DE GEER (1908) teria se antecedido na proposta desta representação.

Este autor também estabeleceu a avaliação gráfica de cidades com círculos proporcionais. Teria idealizado também, pela primeira vez, a combinação entre pontos de contagem para a população rural e esferas para a população urbana, adotando este método para o caso da Suécia (DE GEER, 1922).

É importante lembrar que para seus idealizadores, o método dos pontos de contagem seria o mais adequado para a representação de fenômenos com pequenos efetivos e padrão de distribuição disperso. Nota-se assim, a busca de uma representação fiel à manifestação do fenômeno.

Esta construção pode ser resolvida por dois procedimentos alternativos, como já apontamos. Os pontos podem ser distribuídos de forma uniforme e regular em cada unidade observacional, ou estes pontos podem ser implantados no endereço certo, onde realmente ocorrem.

Pelo fato desta representação compor uma imagem binária, torna fácil a comparação entre vários mapas.

Quando construídos adotando o mesmo valor unitário e unidade de medida possibilitam comparar e correlacionar diferentes distribuições, porém de espécies pertencentes a um mesmo conjunto. Não se trata de comparar a população humana com a bovina, mas sim as toneladas de feijão com as de milho na produção agrícola (LIBAULT, 1975).

6.3.3.3 Método distribuição regular de pontos de tamanhos crescentes

A outra solução para a representação quantitativa de fenômenos com manifestação zonal, avaliada em dados discretos, é a que considera a variação de tamanho dos pontos distribuídos regularmente em toda a extensão da superfície de ocorrência. Este método foi uma inovação proposta por BERTIN (1973), como já adiantamos, argumentando possibilitar a percepção quantitativa, portanto, vislumbrando a proporcionalidade, em ocorrência zonal.

Cada ponto sobre o mapa exprimirá, seja uma densidade, seja uma quantidade. Ao nos determos sobre um ponto ou um conjunto destes, percebemos seja uma quantidade total e uma densidade global seja uma quantidade parcial e uma densidade elementar. Facilita, assim, verificar se há formação de agrupamentos espaciais característicos, que é o que mais interessa.

Uma quadrícula regular é superposta ao mapa-base e cada unidade observacional recebe tantos pontos quantos forem os cruzamentos que caírem em seu interior, porém com tamanhos tais que, somados os respectivos valores, perfaça o total quantitativo.

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A escala da rede de pontos determina um ponto para cada unidade de área que se escolher em função da escala do mapa.

O próprio BERTIN, já em 1964, experimentara a realização deste método automaticamente. Utilizara uma máquina de escrever IBM onde as letras foram substituídas por pontos proporcionais, conectada a uma leitora mecanográfica de cartões perfurados (Patente Bertin-Serti). (Fig. 61) e (Fig. 62)

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Este procedimento permite-nos resgatar as quantidades absolutas e os valores relativos. As quantidades por unidades observacionais são obtidas multiplicando o valor numérico do ponto pelo número de pontos existentes no interior de cada área. A densidade será traduzida pela variação do valor visual que resulta da justaposição de pontos de tamanhos crescentes que formam a imagem binária de conjunto. Tem a vantagem, ainda, de excluir completamente a interferência do tamanho da unidade observacional, geralmente arbitrada por critérios político - administrativos. É neste ponto que BERTIN (1973) defende a supremacia deste método de representação quantitativo para fenômenos com ocorrência zonal, sobre os demais inventados até hoje.

A variabilidade de tamanhos é estabelecida a partir de uma série natural de dimensões proporcionais crescentes que se escalonam na razão de um diferencial perceptivo mínimo, necessário e suficiente. Para o mesmo autor - BERTIN (1977) - este multiplicador seria 1,122. Esta variabilidade também pode ser calculada em função do valor

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a ser atribuído proporcionalmente a cada ponto, o qual resulta da divisão da quantidade total que ocorre na unidade observacional pelo número de pontos que esta vai receber.

Seguindo o raciocínio lucubrado por BERTIN (1973; 1977), a legenda resultará dupla. Os tamanhos escolhidos como referenciais para constarem da legenda, representarão, sejam as quantidades, sejam as densidades. (Fig. 63)

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6.3.3.4 Método das figuras geométricas proporcionais para ocorrências zonais

Apesar das vantagens apontadas por BERTIN (1973; 1977) para o seu método de distribuição regular de pontos de tamanhos crescentes, a representação do aspecto quantitativo em manifestação zonal mais difundida nos dias atuais, sem dúvida alguma, é aquela que adota o já citado “Método das figuras geométricas proporcionais” para o caso das ocorrências localizadas. Os softwares para cartografia temática adotam incontinenti este sistema. É pena que não explorem aquele estipulado por BERTIN (1973; 1977). É muito simples. Este autor já experimentara uma realização bastante rudimentar, como já comentamos.

Para tanto, seremos obrigados a apelar para uma abstração. Em geral, fazemos valer a proporcionalidade do tamanho de uma forma associada a uma figura geométrica plana para toda a extensão da unidade observacional da ocorrência do fenômeno, implantando-a no centro de gravidade da área considerada. Entretanto, tal solução, em implantação nitidamente pontual, sem levar em conta a superfície das unidades de observação, transmite uma idéia falsa. O que vemos são as quantidades independentes das áreas das unidades observacionais, em base às quais foram computadas. Lembramos que estas quantidades, levantadas em nível das respectivas unidades observacionais, não são independentes das dimensões destas.

Por exemplo, seja uma unidade observacional de 10 km² e outra de 4 km². Na primeira, recensearam-se 100 pessoas e na segunda 40. A representação com o tamanho de um único signo não consegue transmitir visualmente a realidade, isto é, que as duas unidades observacionais possuem a mesma densidade demográfica. As distribuições uniformes ficariam, assim, mascaradas, tal solução exclui totalmente a percepção visual densimétrica. (Fig. 64)

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Lembramos que a já aludida proposta de BERTIN (1973; 1977) para a representação das quantidades com distribuição regular de pontos de tamanhos crescentes, como já comentamos, vem ao encontro desta questão dando-lhe uma solução perfeitamente adequada. (Fig. 65)

Por outro lado, quando comparamos a solução por figuras geométricas proporcionais para valores absolutos com a representação coroplética para valores relativos, veremos que a opção por uma ou por outra, pode assegurar-nos da possibilidade de vislumbrar a manipulação que a cartografia temática nos oferece, demonstrando, assim, a chance de produzir o espaço manipulado.

Em duas representações do "Islã no mundo", BLIN e BORD (1993) nos demonstram que, dentro de um raciocínio dialético, tal como coloca RUFIN (1991), a posição do Islã pode ser vista como uma espécie de novos bárbaros frente ao Império. Ora ele aparece como um espaço tampão que não deve ser desestabilizado, ora surge como forte ameaça às portas do império.

Na representação da quantidade absoluta de muçulmanos a imagem coloca um Islã centrado no Sudeste asiático. Talvez isto fosse o que os ocidentais desejariam de assegurar: os muçulmanos são numerosos, mas estão longe de nós! Já o mapa coroplético, em valores relativos, mostra que a participação dos muçulmanos na população total é alarmante: os muçulmanos estão à porta do Império! (Fig. 66)

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Num outro contexto de reflexões, ao contarmos com dados para a escolarização, podemos mostrar em que lugares estão os adultos iletrados, o que poderia dirigir eficazmente a alocação de recursos em educação. Em contrapartida, se nós nos

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preocuparmos com a justiça social, deveríamos representar no mapa a porcentagem dos analfabetos, o que revelaria onde estariam as áreas mais desfavorecidas.

Fica claro que a escolha do método de representação em consonância com os tipos de dados selecionados, absolutos ou relativos, poderá orientar o discurso seja pela mídia escrita ou eletrônica. O redator do mapa terá em suas mãos elementos para poder falsificar ou distorcer a informação visual. Os resultados alternativos também poderão causar impressões bem diferentes para quem lê ou toma decisões (DELAUNAY, 1995).

6.3.3.5 Método Isarítmico

A representação quantitativa de fenômenos, com ocorrência zonal pode adotar o Método isarítmico.

Este método é ideal para a representação de fenômenos contínuos, como a temperatura, a altitude, a pressão, a partir de valores de medições obtidas em descontinuidade. Restabelece, assim, a continuidade do fenômeno, a partir de um levantamento em ocorrência pontual, portanto discreto (RIMBERT, 1990).

O fenômeno é contínuo quando apresenta valores em todos os pontos do espaço de tal maneira que mesmo entre duas observações bastante próximas manifestam-se sempre valores intermediários. Assim, mesmo não se conhecendo os valores nos demais pontos, poderemos dispor de uma informação sobre eles, pois por hipótese, entre dois valores próximos conhecidos o fenômeno assumiria sempre um valor intermediário (BÉGUIN e PUMAIN, 1994) (LIBAULT, 1975).

Além de seu conteúdo matemático, a dicotomia entre o discreto e o contínuo possui um significado psicológico. Sabe-se que o conhecimento do espaço se inicia através da justaposição de objetos num ambiente de relações topológicas, para depois se firmar com a concepção de superfície de referência (ROBINSON E PETCHENIK, 1976).

Por outro lado, deve ser ressaltado que, para a realidade de hoje, a solução isarítmica possibilita a representação dos campos de força, evocando aqueles do magnetismo terrestre. A partir deles se pode deduzir a viabilização de movimentos e de transformações e a representação das superfícies de tendência geral, demonstrando, por exemplo, o avanço de um processo de difusão espacial (epidemia ou invasão: chegada de ferrovia) (CLAVAL e WIEBER, 1969) (BÉGUIN e PUMAIN, 1994) (GERARDI e TUBALDINI, 1977).

Cada valor que exprime a intensidade do fenômeno, tomado em pontos localizados (X, Y), constitui uma terceira dimensão (Z). O conjunto desses pontos com valor Z será visto como uma superfície tridimensional que se eleva acima do plano de referência. Sua representação no plano do mapa - plano horizontal da épura - é a projeção ortogonal das linhas, interseções da superfície com planos paralelos e obrigatoriamente eqüidistantes ao primeiro, como regra absoluta.

(Fig. 67)

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Esta superfície tridimensional denomina-se genericamente de superfície estatística, sendo representada por isolinhas - linhas que unem pontos de mesmo valor.

O traçado das isolinhas leva em conta uma interpolação linear, a partir dos dados referentes aos pontos de levantamentos, cuja localização é conhecida.

Embora esta operação possa ser feita manualmente, SIU - NGAN - LAM (1983) recomenda que seja procurada uma função susceptível de melhor representar a superfície conhecida apenas através de uma rede de pontos observados e que ao mesmo tempo permita avaliar qualquer ponto intermediário. Hoje em dia existem softwares específicos para tanto, levando em conta vários métodos à escolha para realizar a interpolação.

Na representação isarítmica, as isolinhas mobilizam duas variáveis visuais: o espaçamento entre elas, que se traduz por um efeito de valor visual, dando a idéia de declividade e a orientação, a qual se manifesta perpendicularmente à direção das vertentes, mais especificamente, acompanhando a linha de maior declive. (MONMONIER, 1991).

(Fig. 68)

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As bases da representação isarítmica remontam à metade do século XVI, quando foram mapeadas pela primeira vez as isóbatas, linhas de igual profundidade oceânica, denotando uma clara necessidade para se contar com informações fidedignas em prol da navegação comercial e militar (BOBINSON, 1971).

Mas a confirmação de tal expressão gráfica em mapa temático pode ser atribuída a HALLEY (1701), com o registro das declinações magnéticas. Este desenho do campo magnético terrestre pode ser considerado como um marco, ponto de partida da linguagem moderna da cartografia temática. Portanto, começa aqui a ruptura com o mundo preso apenas ao visível, passando a explorar a variação perceptiva em terceira dimensão visual, para representar um tema que é uma abstração mediante medidas além das duas dimensões do plano, estritamente vinculadas à localização. Com o traçado da rede de isolinhas consolidou também a representação de fenômenos com ocorrência zonal contínua, superando a estreiteza das representações apenas pontuais, até então realizadas.

Em 1777, MEUSNIER propôs a isoípsa como meio de representar a superfície da forma do relevo sendo depois também aplicada por DUPAIN-TRIEL (1782) para a mesma finalidade.

HUMBOLDT, por sua vez se inspira nestas considerações para criar, mais tarde, no início do século XIX, as isotermas (CLAVAL e WIEBER, 1969) (PALSKY, 1996).

Diante do resultado cartográfico apresentado pela rede de isolinhas, apesar de definir exatamente a quantidade que ocorre em cada ponto do mapa, o leitor tem somente a idéia de declividade da superfície, sem ter a noção de elevação, nem sentido do gradiente. Para construir mentalmente estas noções, ele será obrigado a descer ao nível elementar de leitura, contando as linhas e lendo os respectivos valores.

Preenchendo os espaços intercalares, em redundância, com uma ordem visual do mais claro ao mais escuro, acompanhando a progressão dos valores numéricos, obtém-se a imagem, dando imediatamente a visão de conjunto da distribuição espacial do fenômeno. Entretanto, obter-se-á apenas a expressão da informação de nível ordenado, não possibilitando a avaliação quantitativa. (o vermelho não é o dobro do amarelo) (BERTIN, 1973; 1977).

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Estas considerações mostram a razão da dificuldade que os alunos iniciantes dos nossos cursos de graduação da geografia apresentam ao se defrontarem com mapas topográficos, pela primeira vez. É solicitado a eles apreenderem a configuração da forma do relevo a partir de um mapa que não lhes dá a imagem deste, obrigando-os a ler todas as cotas e acompanhar o movimento das curvas de nível, uma a uma, até restituírem mentalmente a imagem do relevo representado. Um mapa hipsométrico demandaria apenas alguns instantes de percepção após entendimento do raciocínio, envolvido na sua construção e exposto na sua legenda.

Entretanto, o próprio mapa hipsométrico concebido mais como uma convenção do que como uma linguagem com regras específicas para a sua gramática, apresenta problemas.

A representação convencional estipula a adoção de uma série de verdes, do escuro ao claro para as altitudes mais baixas condizentes com os relevos de planícies costeiras, para gradativamente numa ordem visual que vai das camurças claras, passando pelos ocres cada vez mais escuros para chegar aos marrons, para as altitudes médias e elevadas correspondentes aos planaltos e montanhas. Esta proposta faz com que, mediante o impacto visual, num primeiro instante de percepção, o leitor agregue as faixas de altitudes em dois grupos distintos. Só em seguida, é que seu cérebro irá desenvolver o raciocínio da ordenação decrescente e crescente entre as classes altimétricas. Portanto, terá um esforço redobrado, além de ter que conviver com uma interferência desnecessária na clara recepção da mensagem comunicada pelo mapa. É este o esquema adotado para o ensino do mapa do relevo para crianças do ensino fundamental e médio, mediante o livro didático e Atlas geográfico.

Por outro lado, em muitas legendas de mapas hipsométricos, principalmente junto aos textos didáticos, as faixas de altitudes expressas por caixas separadas, são designadas em classes em vez de atribuir as cotas altimétricas às linhas que delimitam tais faixas organizadas em caixas juntas. Esta última forma de organizar a legenda estaria mais coerente com o entendimento do relevo como um fenômeno contínuo, sendo representado por uma superfície contínua, e não como um fenômeno discreto como sugere a proposta inicial.

Esta questão passa a ser ainda mais séria quando a didática propõe estudar o relevo queimando a etapa analítica - mapa do relevo em cores hipsométricas - para passar diretamente a um raciocínio de síntese, explorando a representação de sua tipologia.

A definição da ordem visual a ser empregada nas representações isarítmicas esbarram com certos aspectos, não só conotativos, mas também convencionais. Parece estar comprovado perceptivamente que valores escuros correspondem a grandezas maiores, ao mesmo tempo em que a sucessão de cores quentes é geralmente empregada para as temperaturas e a ordenação entre as cores frias são indicadas para a pluviosidade (ROBINSON, 1967).

Pelo fato de mobilizar a variação visual de valor, construindo a imagem, torna-se fácil a comparação entre mapas isarítimicos. Esta é uma operação clássica da cartografia, e é a partir dela que podemos entrever a possibilidade de constatar a existência de correlações entre fenômenos (Mc CARTY e SALISBURY, 1961).

O artifício de construir mapas transparentes em ordem visual crescente nas três cores primárias pode, na superposição três a três, desvendar instantaneamente se existe correlação direta, inversa ou até mesmo nula entre os fenômenos (BERTIN, 1977).

Ao elaborar a prancha “Variações espaciais da temperatura: tendências médias e extremos sazonais” para o Atlas do Estado de São Paulo, o professor MONTEIRO (1976)

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utiliza um artifício similar para representar as tendências médias associadas aos extremos de verão e inverno, um mapa a meio caminho da síntese cartográfica do clima.

As três redes de isolinhas são traçadas sobre o mesmo mapa: a ordem visual entre as cores representa a tendência central enquanto que a seqüência ordenada de hachuras, sobrepostas em transparência, mostra os extremos.

O resultado cartográfico, segundo a análise do professor MONTEIRO, revela que as médias refletem a influência da compartimentação geomorfológica, enquanto que os máximos de verão estão presentes no oeste e os mínimos de inverno encontram-se no leste, exibindo, portanto, sua clara implicação com a altitude.

A comparação de mapas isarítmicos pode ser feita também na organização seqüencial dos mesmos conforme o tempo. Lembrando que os elementos climáticos apresentam uma variabilidade em seqüência cíclica, as duas dimensões do plano poderão ser exploradas neste sentido: a seqüência dos mapas mensais de determinado elemento climático poderá ser disposta fechando o ciclo anual. (Fig. 69)

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O método isarítmico é também empregado para o traçado de superfícies de tendência para avaliar matematicamente a forma da superfície que caracteriza a tendência geral de uma distribuição, revelando, outrossim, possíveis anomalias, indicando necessidade de pesquisas mais detalhadas. (COLE, 1972). Assim, com esta análise GERARDI e TUBALDINI (1977) avaliam a tendência da expansão ferroviária no Estado de São Paulo, identificando os centros de dispersão, a direção e magnitude das vagas de expansão na estruturação do espaço paulista. Esta caracterização é representada pela superfície de tendência geral de 5º grau. (Fig. 70)

A representação da citada superfície mostra que a tendência geral da expansão ferroviária a partir de São Paulo, praticamente não encontrou barreiras impermeáveis que pudessem impedir o processo. O mapeamento dos resíduos entre a superfície de tendência geral e aquela dos valores reais, sendo feito através do mesmo método, revela que aqueles positivos atestam uma implantação precoce da estrada de ferro naquele ponto em relação às suas circunvizinhanças. Ao contrário, os desvios negativos denotam uma instalação mais tardia.

Com base, ainda na cartografia dos campos de força podemos considerar a aplicação do modelo gravitacional a um sistema de cidades, com o fim de avaliar seu relacionamento espacial. A representação isarítmica do potencial de atração entre cidades, visto como um índice de acessibilidade ao espectro de oportunidades urbanas nelas

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disponíveis, constrói uma superfície estatística do respectivo campo de força, o qual pode ser hipotetizado através do arranjo espacial dos gradientes de suas isopotenciais (ISARD, 1969) (RIBEIRO e NETO, 1976) (MARTINELLI, 1980). (Fig. 71)

Fig. 71 – O método isarítmico na representção do campo gravitacional aplicado a um sistema de cidades (ISARD, 1969) (RIBEIRO e NETO, 1976) (MARTINELLI, 1980).

A representação isarítmica do potencial de atração entre cidades visto como um índice de acessibilidade ao espectro de oportunidades urbanas nelas disponíveis, constrói uma superfície estatística do respectivo campo de força, o qual pode ser hipotetizado através do arranjo espacial dos gradientes de suas isopotenciais.

Esta pretensão teórica com incontestável apoio nas leis dos fenômenos físicos, experimentáveis e repetíveis, diz-se aplicável aos fenômenos eminentemente sociais. A cartografia nada retira e/ou acrescenta, mas deveríamos estar sempre atentos para uma tomada de posição metodológica diante do contexto científico em que a pesquisa se insere.

Retomando as contribuições de LALANNE (1843) já apresentadas inicialmente como gráficos, é preciso chamar aqui mais uma vez a atenção desta forma de aplicação do Método isarítmico. O citado autor estabelece as bases para a construção do gráfico envolvendo três variáveis para determinado lugar: a hora do dia e os meses do ano como abscissas e ordenadas e a temperatura média como coordenada perpendicular ao plano. A superfície estatística obtida é representada pelas linhas de igual valor de temperatura.

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LALANNE (1843) utiliza este gráfico para traduzir a “Lei de variação da temperatura média por hora nos diferentes meses do ano em Halle” (Alemanha). (Fig. 72)

Devemos lembrar ainda que, MÓSCIBRODA (1982), tal como LIBAULT (1975) e DENT (1985), chamam a atenção para os mapas isopléticos, que não devem ser confundidos com aqueles isarítmicos, pois representam fenômenos com diferente caráter conceitual. Portanto, a imagem resultante não pode ser confrontada com aquela obtida a partir de medidas ou observações feitas diretamente em cada lugar do levantamento. Assim, a representação isoplética feita mediante isopletas é específica para as variáveis resultantes de combinações, como a densidade demográfica, o desvio padrão...

Neste sentido, o mapa isoplético tem afinidade com o gráfico chamado isopletograma pelo fato deste considerar os lugares num dos eixos do gráfico, onde suas localizações obedecem à simples sistematização de seus módulos no eixo vertical. Portanto, o cronograma resultaria como o perfil da superfície estatística que o isopletograma traça ao longo das datas para determinado lugar (MÓSCIBRODA, 1982).

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6.4 Representações dinâmicas

Do ponto de vista metodológico, as representações dinâmicas constituem ainda hoje um grande desafio para a cartografia. Podemos dizer que se trata de uma busca consciente em prol da sistematização de uma cartografia dinâmica. Este é um conceito novo que ganha grande ímpeto por conta, não só da necessidade de representação da mutação rápida da geografia que vivemos atualmente, mas também da cobrança por parte de um planejamento que deve subsidiar a ação em favor de setores de acelerada transformação ou de áreas sensíveis, frágeis ou instáveis (STEINBERG e HUSSER, 1988).

Atualmente, o termo cartografia dinâmica refere-se especificamente à manipulação interativa da informação espacial, possível em tempo real, fruto dos grandes avanços tecnológicos, envolvendo a cartografia digital, o que certamente promoverá profundas mudanças na disciplina.

Entretanto, apesar desses progressos da tecnologia relacionada a procedimentos computacionais, podemos verificar que persistem ainda questões ao nível metodológico.

Embora ainda presas a este questionamento, tais representações deveriam ocupar posição de destaque na cartografia atual, pois a realidade, hoje em dia, mais do que nunca, é essencialmente mutante, fluída, não estática, congelada.

Portanto, à cartografia deveria interessar mais os processos do que as formas, padrões, fatos passíveis de observação imediata. As formas não trariam em si as explicações. São as aparências. Ignoraríamos desta feita, os processos que as elaboraram. A cartografia deveria explorar e tentar resolver cada vez melhor a representação desta dinâmica, em seu total conteúdo.

Tempo e espaço são dois aspectos fundamentais da existência humana. Tudo o que existe situa-se num tempo, ocupando um espaço, bem como tudo o que acontece também tem vida num tempo e num espaço. Tudo à nossa volta está em permanente mudança. Certos objetos mudam de posição, como também se operam mudanças nas suas características: é marcante o aspecto mutante da vegetação na sucessão das quatro estações do ano, principalmente nas zonas temperadas (MUEHRCKE, 1983).

A natureza do tempo em si pode ser vislumbrada de várias maneiras. Uma delas é o tempo físico. Este passa sem cessar a despeito da ação do homem. É o tempo natural, o das relações terrestres, estruturado pelo ritmo diário entre o claro e o escuro, o ciclo mensal da lua, a sucessão anual das estações. Já em 3.500 a.C. o homem anotava a passagem do dia e da noite com um relógio solar (ANTUNES et al., 1993).

O tempo biológico, por sua vez, é o tempo de todos os seres vivos, evidentemente relacionados com o ritmo da Terra, sol, estrelas, segundo um delicado e preciso relógio biológico. Qualquer descontrole nesta contagem pode causar stress - haja vista o caso de uma viagem rápida atravessando muitos fusos horários, tanto a leste como para oeste. O transcorrer deste tempo também não é constante: a latitude, altitude e condições climáticas condicionam o seu andamento. Como componente naturalmente ordenado, o tempo pôde assim, se tornar quantitativo somente a partir do momento que a humanidade reconheceu no dia, no ano, e numa época relativamente recente, mediante o segundo atômico, a presença de unidades intervalares suficientemente estáveis. (BERTIN, 1973). Assim, por comodidade, a sociedade adotou como referencial básico o tempo do relógio e do calendário.

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A origem da contagem dos tempos também tem sido arbitrada pelas diferentes culturas, mostrando claramente que todas as datas são formas evidentes de medidas intervalares.

Cada cultura estabeleceu um padrão de contagem de tempo relacionando-o com referenciais vinculados a momentos e efemérides de grande significado na sua existência. Assim, se considerarmos os pontos de referência para a contagem dos tempos de forma comparativa para os Cristãos, Judeus e Muçulmanos, teremos a seguinte correspondência: (ANTUNES et al., 1993). (Fig. 73)

Ainda, se tomarmos como referência o ano 2 000 do calendário gregoriano, adotado hoje em substituição ao Juliano, ele seria 2 753 segundo o calendário romano, 2749, segundo os babilônios, 6236 de acordo com o primeiro calendário do Egito, 5 760 no

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calendário judaico, 1 420 no calendário muçulmano, 2 544 segundo os budistas, 5 119 no calendário maia e 208 de acordo com o calendário da Revolução Francesa (DUCAN, 1998).

O mais importante a ser considerado é que, embora os calendários e os relógios sejam constantes, o tempo é relativo, parecendo que passa depressa em certas situações e demora em outras. Minutos numa cadeira de dentista parecem horas; horas ao lado de quem amamos parecem minutos. Assim, percebemos nosso transcorrer de vida segundo um tempo psicológico. E, portanto, o tempo não pode ser visto como uma dimensão única e independente do nosso viver, do nosso ambiente, como os mapas querem nos fazer acreditar (MUEHRCKE, 1983).

A percepção do tempo hoje é linear, seqüencial, necessitando apenas de uma dimensão do plano para representá-lo, deixando livre a outra. Esta última pode comportar outra componente da informação, permitindo que as correspondências transcrevam uma evolução. A construção gráfica será então, um cronodiagrama (BERTIN, 1993).

Para a cartografia interessa como as feições ambientais mudam com o tempo. As mudanças se dão de duas maneiras. O estado dos ambientes pode mudar: o solo sofre erosão, os lagos se congelam. Em segundo lugar, a posição espacial pode mudar. O resultado da difusão de objetos e idéias no espaço está na mudança contínua da configuração do ambiente. As mudanças tanto no estado como na posição possuem dois componentes: a velocidade da mudança e a forma como essa mudança se dá no tempo.

Como fim de manter mapas ao corrente, seus elaboradores sempre deram preferência à cartografia de fenômenos com mudanças lentas, considerando temas de feições físicas e inorgânicas, deixando de lado temas que abordem processos de mudanças rápidas, como alterações geológicas e atmosféricas, bem como processos cujo motor é o dinamismo da sociedade. Os primeiros são os mapas “permanentes” e os segundos são os mapas “efêmeros” (JACOB, 1992).

A forma como a mudança se dá no tempo pode ser avaliada através das tendências cíclicas e não cíclicas. Os fenômenos com mudanças cíclicas são aqueles que se caracterizam pelo retorno periódico à situação inicial, como a temperatura e a precipitação. Muitas vezes este comportamento fica mascarado quando são usadas as médias do período que por sua vez podem ainda variar conforme a definição do intervalo de tempo considerado.

Os fenômenos com mudanças não cíclicas apresentam flutuações com ritmos diferentes em intervalos de tempo diferentes (MUERHRCKE, 1983).

Tempo e espaço são vistos também como duas dimensões de uma mesma realidade, estando uma em conexão com a outra, manifestando permanente interdependência e interação, dependendo, outrossim, de todo o conjunto da materialidade do mundo que nos cerca. Não há, assim, espaço sem tempo e tempo sem espaço. São manifestações da matéria em movimento (GOMES, 1991).

No incessante suceder-se do tempo, desde o infinito passado, indo para o eterno futuro nada se repete. Se o tempo é visto como uma progressão linear e irreversível o mesmo instante não se repete e o mesmo lugar já não será mais o mesmo. Tudo muda. Onde há mudança, há movimento.

O tempo, com conceito linear e direcional passou a fazer parte da sociedade somente no século XVIII, a partir do que os seguidores de Newton postularam como trajetória natural de toda matéria em movimento: a linha reta.

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Esta nova postura substitui o sentido de tempo essencialmente cíclico do homem medieval. Assim, a diferença de tempo tornou-se importante, pois podia ser convertida em distância.

Tempo e espaço definem posições e ocasiões de ocorrências singulares; a narração as conecta. Portanto, para TUAN (1980), o tempo importa mais, que o instantâneo, pois as pessoas interessam-se mais pelas narrações do que pelas imagens estáticas. Assim, a linguagem verbal seria melhor para as crônicas do que a linguagem visual.

O que podemos apreciar à nossa frente no presente é a atualidade em sua dimensão temporo-espacial. Não podemos negligenciar que por trás dessa realidade há uma dinâmica social que produz o espaço, o espaço geográfico, do qual somos parte integrante. Este se relaciona com a história da humanidade. Nessa dinâmica, as sociedades foram se modificando elaborando novas formas de sobrevivência, construindo novos espaços, sempre em resposta às demandas das suas necessidades (SANTOS, 1982).

No presente momento da história humana, o tempo ganha indiscutível importância e significado. E o espaço expressa os tempos, caracterizando o tempo de determinada relação social. Pois, é no espaço produzido que se opera a materialização de tempo mediante o trabalho dos homens (RIBEIRO, 1988).

O tempo presente como real no espaço, agora expõe momentos que já se foram, sendo expressos como objetos geográficos, tidos como formas do presente, podendo abrigar uma essência, participando da vida atual.

Para que o presente possa ser apreendido devemos avaliar o passado no que pode conter as raízes do presente no seu desenrolar histórico mediante o suceder e a transição dos momentos dos modos de produção (SANTOS, 1982).

A dimensão tempo em geografia pode ser apreendida, de acordo com SANTOS (1994), segundo duas óticas: o tempo como sucessão e o tempo como simultaneidade. O primeiro, é o tempo do suceder de acontecimentos. Há uma ordem temporal: um fenômeno vem depois de outro constituindo o tempo histórico, mais abstrato. O segundo, é o tempo dos fenômenos concomitantes, é o tempo que condiz mais com a vida em sociedade, coordenando espaços com um uso diferenciado do tempo entre os homens, portanto, um tempo mais concreto: cada ação se dá em seu tempo, mas as diversas ações se dão conjuntamente.

Assim, é o fato do existir homens usando sempre o tempo e o espaço que faz com que o espaço possa reunir variadas maneiras de uso relacionadas com possibilidades diferentes de uso do tempo.

Esta postura metodológica é básica para que a cartografia daqui para frente possa tentar construir representações dinâmicas condizentes com o entendimento da realidade como interação. Nesta, poderíamos vislumbrar o espaço constituído de fixos (casas, fábricas, plantações) e fluxos. Os fixos emitem ou recebem fluxos comandados pelas relações sociais. Os fluxos não têm a mesma velocidade e neles os elementos que se deslocam podem ser materiais (produtos, mercadorias, mensagens materializadas) e não materiais (idéias, ordens, mensagens não materializadas). Esse entendimento, portanto, vê a realidade como um conjunto de lugares onde o acontecer simultâneo dos diversos agentes considera o uso diferenciado do tempo (SANTOS, 1994).

Na cartografia dinâmica não se pode menosprezar a relação espaço-tempo e seu vínculo com os níveis de análise da realidade e conseqüentemente, também, com a escala de seu mapeamento.

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Fica patente que na representação cartográfica há estreitas relações entre a extensão de determinado conjunto espacial, o tempo e o número e a natureza dos critérios que definem sua identidade. Assim, os conjuntos espaciais mais extensos necessitam de mais tempo para sua organização, do mesmo modo que bastam poucos critérios e de menor precisão para caracterizá-los. Ao contrário, aqueles mais exíguos organizam-se em menos tempo, porém, necessitam de um maior número de critérios e de maior precisão para sua caracterização.

Os períodos curtos são medidos em minutos ou horas e os períodos longos, em dias, semanas, meses ou anos. Já os períodos muito longos precisam ser contados em décadas e até em séculos. Os tempos longos são aqueles das grandes transformações que ocorreram e ocorram na Terra, como a formação das rochas, o aparecimento da vida e depois o surgimento do homem. É o tempo da natureza o dito tempo geológico, que conta bilhões de anos. Entretanto, as transformações que ocorrem na sociedade humana acontecem mais rápidas. Desde a invenção da escrita até a era da informática, que vivemos atualmente, passaram-se séculos. É o tempo histórico.

Em qualquer lugar, todo objeto, todo fenômeno e toda combinação destes congrega certa herança do passado e conta com certo potencial para se projetar no futuro. Assim, toda organização espacial se caracteriza num certo intervalo de tempo, durante o qual ela pode ser considerada como uma característica original marcante. Se este intervalo de tempo for curto, intervêm muitos fatores e de forma localizada para determinar sua identidade. Se for longo, implicarão os fatores mais duráveis e mais universais, e o conjunto espacial será mais simples, porém, vasto. Assim, a singularidade de determinado universo de abrangência espacial é relativa. Esta unidade diz respeito a certo espaço e a certo tempo de duração, evidentemente não completamente independentes. Tal unidade se reporta a certa escala temporo-espacial, podendo corresponder a uma escala de representação cartográfica que seria definida, não só em função da extensão da manifestação, mas também do tema a ser tratado, dos detalhes a serem atingidos e dos meios de aquisição dos dados e informações empregados (JOLY, 1976).

Infelizmente, como já apontamos anteriormente, a grande maioria dos mapas temáticos produzidos apresenta uma visão estática. É mais cômodo abordar temas que não mostram grande dinamismo, apresentando a realidade como se fosse estática e imutável.

Tradicionalmente, também consideramos mapas que representam temas relacionados com o tempo, distintamente daqueles referentes ao espaço, concentrando-nos, evidentemente, nestes últimos. A prática mais comum para construirmos a idéia do dinamismo é a de confrontarmos várias edições de um mesmo tipo de mapa, numa seqüência temporal.

Entretanto, podemos contar com mapas que incorporam o tempo, seja no conteúdo temático, seja na simbologia empregada, como veremos adiante.

Mesmo assim, temos que nos lembrar de que um mapa sempre será uma representação ultrapassada quando chegar às mãos do usuário, pois envolve certo tempo em sua elaboração.

STEINBERG e HUSSER (1988), lembrando que a cartografia dinâmica não só trata da representação das mutações dos fenômenos geográficos, como também tem grande aplicação no planejamento, como já anunciamos no início, apresentam uma classificação destes mapas temáticos em: mapas diacrônicos de uso da terra e revestimento do solo, mapas de evolução das potencialidades e dos entraves e mapas, os ditos “Sistêmicos”, os quais tratam de redes, fluxos e polarizações.

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Os primeiros mostram as categorias de uso da terra e revestimento do solo de um território feito pela sociedade em sua evolução. Pode-se mostrá-la através da seqüência de imagens estáticas das diferentes situações no tempo ou registrar apenas o que mudou entre duas imagens sucessivas.

Com tal procedimento podemos colocar em evidência o aspecto quantitativo, isto é, as áreas que sofreram mais alterações contra aquelas que ficaram estáveis, bem como avaliar se as mudanças foram extensas ou exíguas em superfície.

No plano seletivo podemos verificar, também, se certos usos progrediram em dado momento, enquanto que outros teriam se alterado em outros períodos.

Por outro lado, em certas fases da evolução, podemos constatar se duas ou mais formas de uso e revestimento do solo evoluíram correlativamente ou em função de fatores distintos.

Os mapas de avaliação das potencialidades ou dos entraves pertencem à categoria daqueles que cuidam do estudo e do planejamento ambiental, avaliando a aptidão, a sanidade da vegetação, os valores da paisagem, tendo em vista, certos objetivos balizados entre um custo mínimo e um máximo benefício para a sociedade (MAC HARG, 1969).

Para os autores já citados, STEINBERG e HUSSER (1988), os mapas sistêmicos são eminentemente dinâmicos, pois mostram, sejam estruturas espaciais, bem como os movimentos que as afetam no tempo e no espaço. Estas representações são dinâmicas por conta de que uma estrutura não tem existência sem movimento, sem fluxos, sem trocas entre suas partes e destas com o exterior, bem como ela mesma evolui com o tempo, se transforma incessantemente.

Estes mapas congregam representações das redes com os seus nós de interligação. Tanto as linhas como os pontos podem ser quantificados, resultando em mapas de fluxos e da hierarquia das respectivas interligações.

Os mapas sistêmicos correspondem também às representações dos pólos de atração e respectivas áreas de influência, muito empregados na regionalização voltada ao planejamento.

Por fim, os mesmos mapas incluem, ainda, as representações por isócronas, que se constituem em um bom indicador sistêmico por combinar os efeitos do tempo e do espaço sobre os deslocamentos, tornando tais mapas, também de grande interesse para o planejamento.

(Fig. 74)

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Dentro de uma desejável postura metodológica da cartografia temática já bem sistematizada, podemos concordar com CUENIN (1972) quando coloca que o dinamismo dos fenômenos pode ser apreciado no tempo (se traduz pelas variações quantitativas ou pelas transformações dos estados de um fenômeno, que se sucedem no tempo para um mesmo lugar). E no espaço (o fenômeno se manifesta através de um movimento, deslocando certa quantidade de elementos através de certo percurso dotado de certo sentido

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e direção, empregando para isso, evidentemente certo tempo). Ao considerarmos o movimento em relação ao tempo entra em jogo a noção de velocidade, bem como a avaliação do tempo de duração para realizar certo percurso. Como vemos, é impossível dissociarmos o tempo do espaço.

Dentro desta concepção básica, a cartografia dinâmica seria relativamente simples. Ao considerarmos apenas a apreciação quantitativa poderíamos estabelecer dois enfoques fundamentais: as variações no tempo e os movimentos no espaço. As primeiras poderiam ser computadas ou por valores absolutos, enaltecendo as diferenças algébricas, ou por valores relativos, explorando as taxas de variação.

Os movimentos no espaço, por sua vez, serão representados pela articulação de flechas, com larguras proporcionais às quantidades deslocadas, seguindo roteiros estipulados. Mobilizaremos, assim, a variável visual tamanho, em implantação linear. Trata-se, portanto, de retomar a proposta de MINARD (1845), como já enaltecemos oportunamente.

Para uma abordagem didática sobre a questão das representações dinâmicas preferimos ficar com a proposta de CUENIN (1972). Foi ela que lastreou a organização do nosso trabalho voltado ao ensino de cartografia temática (MARTINELLI, 1991).

BERTIN (1973) tem uma visão diferente neste empreendimento metodológico. Parte da relação do tempo como componente da informação, com a mobilização das duas dimensões do plano. Como já falamos, sendo o tempo ordenado linearmente, quando uma informação o considera, as correspondências no plano transcrevem uma evolução sobre um diagrama.

Já quando uma informação introduz combinadamente o tempo e a ordem geográfica, isto é o espaço, as correspondências traduzem um movimento. Mas sabemos que as duas dimensões do plano se esgotam ao representar o espaço, o que constitui o problema básico da representação do movimento em cartografia. Para o citado autor existem três soluções possíveis.

1. construir uma série de imagens. Esta solução, entretanto, pode esbarrar nas limitações do processo da leitura quando a série é muito longa.

2. Representar o rasto e o sentido de um móvel, o que dará idéia de movimento no plano.

3. Explorar uma variável visual compatível com o tempo dividido em categorias ordenadas: o valor numa seqüência de níveis de uma ordem visual. Entretanto, o resultado visual não sugere o movimento no plano, mas permite se ter uma imagem de conjunto da classificação de lugares numa ordenação cronológica.

MUEHRCKE (1983), por sua vez, dá destaque especial aos mapas que consideram a dimensão temporal da existência humana. Seriam aqueles que incorporam o tempo, seja no conteúdo temático, seja na simbologia empregada. Com base nestas considerações, aponta vários tipos de representações relacionadas com o tempo.

Lastradas neste autor e em outros da literatura sobre o assunto, vislumbramos os seguintes tipos de representações dinâmicas:

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6.4.1 Diagramas localizados

Ao lado dos fluxos de MINARD (1845) desenvolveram-se mapas com diagramas localizados, os "cartogramas", privilegiados por CHEYSSON (1878). A grande euforia das representações gráficas estimuladas por este mesmo autor na série de "Álbuns de estatística gráfica", junto ao Ministério de obras e à Estatística da França, deu margem a uma grande inventividade para a expressão das evoluções explorando para tanto, os mais variados tipos de diagramas localizados.

Esses mapas, às vezes chamados pela designação francesa de cronocartodiagramas, ainda são muito explorados, principalmente para elementos climáticos através de climogramas localizados. Quando resolvida no sistema polar, os gráficos mostram determinadas "silhuetas" características, cuja visualização pode sugerir agrupamentos em tipos para indicar os caminhos em direção à delimitação de conjuntos espaciais que significam a síntese da dinâmica.

Embora os mapas com cronogramas exijam uma leitura ao nível elementar, gráfico por gráfico, quando estes, no conjunto, detectados como silhuetas podem auxiliar a vista a realizar operações mentais que demandam a síntese.

Este tipo de mapa, em pleno uso nos dias de hoje, mostra a persistência no apego às representações localizadas para fenômenos que têm expressão zonal.

6.4.2 Mapas das mudanças espaciais

Estes mapas mostram as evoluções e mudanças ocorridas num intervalo de tempo. Eles podem ser qualitativos - registram as partes acrescidas ou removidas num intervalo de tempo - e quantitativos - representam a ordem de grandeza das mudanças.

A representação das alterações espaciais havidas levando em conta apenas a dimensão qualitativa pode ser concebida, a título de exemplo, como um mapa da dinâmica dos espaços agrícolas de determinada região. É chamado mapa diacrônico. Tal mapa poderia ser indicativo de tendências tais como: nas áreas de maiores perdas poderiam estar ocorrendo uma especulação imobiliária ou reserva de valor. As áreas de maiores ganhos poderiam denotar certa orientação para uma especialização hortifrutigranjeira e nas áreas de relativo equilíbrio, seriam as próprias acomodações dos sistemas agrícolas, as responsáveis pelas flutuações.

(Fig. 75)

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Na evolução de determinado ambiente podemos apreciar, na seqüência de mapas, uma recolonização florestal, como uma sucessão secundária no intervalo de três décadas (OZENDA, 1986).

(Fig. 76)

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Fig. 76 – A cartografia diacrônica no espço rural (OZENDA, 1986).A sequência das fotografias aéreas e dos respectivos mapas mostam a tendência dinâmica da vegetação: uma sucessão secundária numa pastagem abandonada, no intervalo de 30 anos.

No espaço urbano ser pode colocar em evidência as novas áreas construídas, fazendo ressaltar, como no exemplo de BERTIN (1977), a clara transformação de um pequeno centro periférico em cidade dormitório.

(Fig. 77)

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Numa apreciação quantitativa, os mapas das mudanças podem representar apenas se a alteração foi pequena ou grande. Mas podem ir além, registrando o valor absoluto da magnitude da mudança. Estes últimos apresentam um grave inconveniente, dificultando a correta avaliação, ao não apresentarem a grandeza de base sobre a qual houve a variação. Um acréscimo de 100 indivíduos numa população de 500 pessoas tem um significado bem diferente daquele que se daria em base a um efetivo de 500.000 habitantes.

(Fig. 78)

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6.4.3 Mapas das mudanças vistas através da sucessão de intervalos de tempo numa única representação

Estes mapas mostram as alterações, em superposição, num único mapa.Mudanças qualitativas podem ser registradas em cores diferentes para cada data

sobre o mesmo mapa tomado como ponto de partida.No entanto, esta forma tradicional de resolver esta cartografia cai numa grave

incoerência. A noção de tempo não é seletiva, e sim ordenada. Portanto, sua transcrição deverá ser feita pela ordem visual, o que construirá rapidamente a imagem de conjunto.

(Fig. 79)

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Esta representação ordenada pode ser explorada para o mapeamento exaustivo da seqüência das fases de vários processos dinâmicos em curso. Cada um será expresso por uma ordem visual distinta.

Um bom exemplo deste tipo de cartografia é aquele proposto por FALINSKI (1986) para a dinâmica da vegetação, já comentado anteriormente, na qual mostra a transformação da composição dos grupos vegetais.

As bases teóricas lastreiam-se nas pesquisas do citado estudioso, as quais estipulam que tal dinâmica, como já vista, compreende:

- dois processos direcionais distintos: a sucessão e o seu oposto, a regressão.

- certos processos reversíveis que congregam mudanças irregulares operadas em intervalos de tempo variáveis: a flutuação e a degeneração/regeneração.

O mapa "Dynamical tendencies in the vegetation of Bosco Quarto", já citado, foi realizado dentro desta concepção metodológica. (Fig. 80)

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A coleção de mapas combinada com os respectivos mapas exaustivos de cada período, por sua vez, pode ser bastante reveladora. O exemplo dos ciclos de cultivos em Kanserege, África, deixa claro que a coleção de mapas por atributos torna as mudanças mais evidentes, além de revelar uma sensível diferença entre o norte e o sul do território. Esta interpretação torna-se rápida pelo simples fato de mobilizar imagens binárias (MESCHY, 1974). (Fig. 81)

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Os movimentos relacionados com o tempo podem ser representados mediante o registro dos pontos alcançados em datas marcantes ao longo de um itinerário de interesse.

A superposição de mudanças no tempo pode constituir também uma forma eficaz de se avaliar a expansão ou contração de um fenômeno em movimento com manifestação zonal. A representação isarítmica em linhas que unem os pontos alcançados pelo fenômeno numa mesma data, quando estabelecida em intervalos iguais de tempo pode revelar se o fenômeno está em processo de expansão ou retração. GERARDI e TUBALDINI (1977), já citados, ao estudarem a expansão das ferrovias do estado de São Paulo à luz de metodologia e técnicas objetivas, chegam a identificar centros de dispersão e a direção e magnitude das vagas de tal movimento, com apoio de mapas isarítmicos processados junto à análise das superfícies de tendência, como evidenciamos oportunamente. (Fig. 82)

Para o caso europeu teríamos a seguinte representação. (Fig. 83)

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A representação isarítmica do tempo pode ser reveladora mediante os mapas isocrônicos já mencionados. Ao tratamos de movimentos, como já apontamos, muitas vezes interessa saber o tempo gasto para cumprir determinado percurso. Podemos, então, mapear o tempo empregado pelos trabalhadores da periferia em seus deslocamentos diários para atingirem determinado centro industrial. Conhecidos os caminhos a serem percorridos pelo meio de transporte coletivo dominante, trem de subúrbio, por exemplo, e os pontos atingidos em intervalos iguais de tempo, traçam-se as isócronas.

Esses mapas permitem o estudo das possibilidades de deslocamentos para trabalhadores das cidades onde moram. Estudos prospectivos neste sentido podem planejar a implantação de novas áreas para a construção de conjuntos habitacionais, bem como a instalação de um adequado sistema de transportes públicos (ASSOCIATION POUR..., 1963).

A representação por isócronas coloca também em evidência a acessibilidade, isto é, o grau de relativa facilidade em que certo lugar pode ser alcançado. Os vários níveis de acessibilidade repercutem claramente na intensidade de fluxos entre vários lugares.

Uma pesquisa nesse sentido para a Bahia mostra o importante efeito das distâncias que separam moradores do interior do Estado em relação à Capital, Salvador, interferindo no acesso aos bens e serviços metropolitanos, contribuição básica aos estudos de regionalização (SILVA, 1982). (Fig. 84)

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6.4.4 Mapas das variações

Nestes mapas o tempo está embutido na própria simbologia quantitativa. Mostram aumentos ou estabilidade ou decréscimos num período mediante taxas de variação representadas pelo método coroplético, explorando duas ordens visuais opostas. Para maior acurácia nesta representação convém utilizar as variações relativas.

LIBAULT (1975) lembra que nestas representações poderíamos explorar uma complexidade estatística que seria acrescentada, em superposição, a valores relativos básicos estáticos. Assim, estes se associariam às taxas de variação que seriam comparadas não a zero, mas sim à variação global de todo o conjunto estudado.

Sua representação seria feita com a superposição, à ordem visual, de duas cores de hachuras que se escalonam do claro para o escuro; uma para os aumentos, outra para os decréscimos.

Já salientamos em MARTINELLI (1991), baseados em MULLER (1983), que na solução coroplética a superfície da ocorrência passa a fazer parte do signo. A proposta melhorativa é a que recomenda colocar valores visuais correspondentes às taxas de variação dentro de círculos proporcionais aos denominadores. Para o presente caso o círculo

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proporcional ao valor absoluto tomado por base evitaria qualquer distorção no entendimento do fenômeno.

MUEHRCKE (1983) inclui nesta categoria também os mapas de fluxos, bem como aqueles que classificam as rodovias por limite de velocidade. Nos mapas rodoviários, muito mais do que quantas faixas de rolamento podemos dispor, interessa saber em quanto tempo podemos fazer o percurso desejado.

6.4.5 Cartogramas temporais

Nesta categoria de mapas a dimensão temporal é incorporada diretamente à sua geometria. O tempo é substituído pela distância física. A escala do mapa estará em unidades de tempo. Tais representações tornam-se verdadeiros mapas topológicos, perdendo assim a propriedade básica do mapa cartográfico. (COLE e KING, 1968) (BERTIN, 1973).

Podemos considerar duas variantes nestes cartogramas: aqueles em que a escala em unidades temporais é uniforme em todas as direções e aqueles em que, ao contrário, esta uniformidade não existe. Estes últimos são mais condizentes com a realidade, destacando variadas situações ou fatores que estariam interferindo na aludida uniformidade.

6.4.6 Mapas animados

Estes mapas são obtidos apelando para a cinética, a partir de uma série de mapas estáticos das etapas de um processo. Verdadeiros mapas animados e até dramáticos são obtidos atualmente pela seqüência horária das imagens da Terra registradas por satélites meteorológicos. Este é um campo em franco progresso graças também ao rápido desenvolvimento e exploração da imagem virtual elaborada por métodos computacionais.

Os mapas animados não é nenhuma novidade. No início do século XX já se almejava restabelecer a continuidade da série de mapas por intervalo de tempo através da animação cinematográfica. Eles evoluiriam no tempo, segundo uma cadência demonstrativa. Tiveram muito sucesso, porém sua exploração tornava-se antieconômica (LIBAULT, 1960).

Ao incorporarmos o tempo na representação dos fenômenos, podemos dispor nos dias de hoje, graças aos avanços da cartografia computadorizada, principalmente em ambiente multimídia, de dois novos e essenciais modos de expressão: a interação e a animação. A interação requer um tempo para que o analista planeje uma mudança desejada na representação. A animação, por seu turno, exige um tempo para expressar mudanças de posições e/ou de atributos dos elementos gráficos, numa seqüência de representações (DI BIASE et al, 1994).

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6.4.7 Mapas de fluxos (Método dos fluxos)

Para MUEHRCKE (1983), os movimentos estariam incluídos em outra categoria da cartografia dinâmica. O autor os coloca junto aos símbolos lineares proporcionais, gerando as linhas de fluxos, capazes de mostrar a variabilidade no montante do fluxo de qualquer coisa.

Para nós, entretanto, os mapas de fluxos adquirem uma importância particular. A nosso ver, eles copõem um capítulo a parte na cartografia dinâmica, merecendo grande destaque. Se por um lado constituem a única forma de representação quantitativa com manifestação linear, por outro compõem a representação dinâmica do movimento. Como já anunciamos em várias ocasiões, eles têm em MINARD seu grande idealizador.

A cartografia dos fluxos, de certa forma, pode ser considerada como uma herança das primeiras incursões no mundo dos protótipos dos mapas temáticos realizados nos séculos XVII e XVIII, mediante as representações das redes de comunicação. Elas expunham uma classificação da viabilidade, como já comentamos oportunamente. Entretanto, a representação específica dos movimentos foi desenvolvida a partir das idéias planteadas, para o registro do avanço das tropas, seguindo um esquema fundamentado na noção do rasto e do sentido de um móvel.

Esta cartografia, como já apontamos, floresceu a partir do desenvolvimento dos transportes e do crescimento dos intercâmbios comerciais advindos da revolução industrial. Ela não pode ficar alheia à determinação da infraestrutura utilizada. Constitui-se assim, uma rede, que é percorrida então, pelos fluxos, os quais acontecem como decorrência das diferenças de “potenciais” entre lugares interligados (RIMBERT, 1990).

A representação está lastreada, como já apontamos, na possibilidade gráfica do plano bidimensional em sugerir um movimento. Isto pode ser feito mediante o registro do rasto deixado por um móvel que pode ser um ponto, uma linha ou uma área. Entretanto, só o ponto fornece um móvel capaz de sugerir um movimento que se manifesta linearmente, tornando-se uma flecha quando ele é orientado. Esta lucubração pode ser denominada de "Método dos fluxos" (BERTIN, 1973).

Quando os dados dos fluxos são integrados, isto é, computados nos dois sentidos, as flechas tornam-se faixas sem ponta, podendo contar com um acabamento retangular nas extremidades tangentes aos nós da rede de ligações.

(Fig. 85)

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Fig. 85 – Os fluxos de intensidade de trânsito (SP, 1982).A representação possibilita identificar a formação de pólos e controlar como se estrutura a rede de interligações e o respectivo grau de relacionamentos.

Pelo fato de mobilizar a variável visual tamanho, o mapa do fluxo oferece resposta visual fácil aos dois níveis de questões a ele colocadas. Em nível elementar: “Qual a intensidade do fluxo em tal trecho?” Em nível de conjunto: “Onde estão os maiores fluxos?” “Como se agrupam?” “Como se articulam no espaço?”.

Com isto, podemos identificar se há formação de pólos e controlar como se estrutura a rede de interligações e relacionamentos; se há um único sistema ou vários independentes, separados por possíveis barreiras físicas, políticas, econômicas, ideológicas de diferentes graus de permeabilidade. Pode-se verificar, também, se aparecem eixos preferenciais e se estes se definem mediante fluxos de maior intensidade (CLAVAL e WIEBER. 1969).

Estes mapas podem também dar a idéia do relacionamento entre pares de terminais de fluxos, que podem ser cidades, colocando-as na categoria de dominantes, quando seus maiores fluxos dirigem-se a cidades menores; e de subordinadas quando seus fluxos mais intensos demandam a cidades maiores. No conjunto das cidades de um território é possível detectar sua organização regional (ROCHA, 1974).

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Dentro ainda do campo da exploração analítica, os mapas de fluxos podem indicar a interação, isto é, o grau de maior ou menor relacionamento entre lugares, o qual está estreitamente vinculado aos níveis de acessibilidade, como já vimos. (SILVA, 1982). (Fig. 86)

6.5 Os dois raciocínios: a análise e a síntese

6.5.1 Representações analíticas

As representações analíticas são aquelas que envolvem um raciocínio dirigido à análise do espaço geográfico, mobilizando procedimentos de classificação, de combinação e de explicação dos fatos ou fenômenos observados. Seriam construções racionais, cuja estrutura, evidentemente, estaria expressa na legenda. As operações mentais se dirigirão aos questionamentos colocados a partir da visualização que poderá revelar irregularidades ou agrupamentos na distribuição geográfica dos fenômenos (RIMBERT, 1968).

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Os mapas analíticos, em grandes linhas, permitem, - quando a relação entre os componentes tratados em cada tema revela, mediante o arranjo do padrão espacial exibido, o conteúdo da informação - formular hipóteses sobre o que explicaria a geografia dos fenômenos. Entretanto, eles por si só seriam incapazes de sugerir as causalidades ou de dar as explicações (CLAVAL e WIEBER, 1969).

As pesquisas das correlações não geram mapas; são operações intermediárias entre a análise e a síntese. Podemos avaliar até que ponto certas particularidades de uma distribuição espacial se refletem em outra, adotando um método clássico, o da superposição de mapas isarítmicos transparentes, idealizado por SCHAEFER (1953). Tal proposta permite-nos ver se aparecem certas concentrações de fenômenos em determinados lugares. Entretanto, resta-nos a questão de se saber se as concentrações indicariam realmente relações entre os fenômenos estudados ou seriam coincidências fortuitas. Há necessidade de controle.

No nosso entender, é nesse nível de raciocínio que a realidade concreta ou pelo menos alguns de seus componentes passam para uma abstração mediante lucubrações mentais que se expressam através de concepções intelectuais - os mapas. O perigo está em ocultar as estruturas e os valores sociais por trás do espaço abstrato "revelado" pela representação. Precisamos ver se não seriam as regras rígidas da cartografia a deformarem a realidade.

6.5.2 Representações de síntese

O raciocínio de síntese, por seu turno, é muito caro aos geógrafos. Nasceu com a geografia regional de Vidal de La Blache, na qual a região se consubstanciava como integração e síntese dos aspectos humanos e naturais, compondo, assim, uma unidade entre o homem e a natureza.

Como unidade de análise geográfica, seu estudo demandou monografias regionais as quais estabeleceriam as integrações entre elementos naturais e sociais, além de acrescentar uma visão sintética do conjunto, amarrando-o ao todo nacional.

A síntese fica evidenciada na possibilidade de justapor uma série de mapas temáticos, como aqueles elaborados para o "Atlas historique et géographique" de VIDAL DE LA BLACHE (1894), permitindo facilmente relacionar os fenômenos nele representados. A forma de organizar esta obra em um conjunto de mapas vislumbrando as mais variadas relações, fazia com que o mapa, segundo o citado autor, se tornasse um elemento revelador da realidade que estaria na síntese regional, culminando na representação de uma tipologia de espaços (MORAES, 1981) (LENCIONI, 1997). Neste intento, a síntese regional se expressaria como objetivo maior do trabalho do geógrafo.

Apesar de todo este lastro metodológico, mesmo ultrapassado, temos observado que, no ambiente acadêmico que explora a cartografia temática, existe ainda muita confusão sobre o que seja uma cartografia de síntese.

Muitos a concebem, ainda, mediante mapas ditos - de síntese - porém, não como sistemas lógicos e sim como superposições ou justaposições de análises. Resultam, portanto, mapas muito confusos onde se acumula uma multidão de hachuras, cores e símbolos, até mesmo índices alfanuméricos, negando a própria idéia de síntese.

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Na síntese, não podemos mais ter os elementos em superposição ou em justaposição - característica básica dos mapas analíticos exaustivos -, e sim a fusão deles em tipos - unidades taxonômicas. Isto significa que, no caso dos mapas, deveremos identificar agrupamentos de lugares caracterizados por agrupamentos de atributos ou variáveis. Ou ainda, trata-se de obter agrupamentos de unidades espaciais em função de vários critérios e mapear os resultados obtidos (RIMBERT, 1968).

Para ilustrar o que vem a ser síntese podemos tomar de empréstimo o trabalho experimental feito por GIMENO (1980), junto a crianças do ensino fundamental. Ele dirigiu e acompanhou os passos que as crianças fariam para representar as relações entre um conjunto de objetos (animais) e aquele de seus atributos, descobrindo assim, o quadro de dupla entrada.

Estas relações podem ser dispostas conforme a seguinte matriz adaptada de GIMENO (1980). Ela permite identificar 42 dados elementares que são as correspondências entre objetos e atributos fornecidos. Possibilita colocar dois tipos de questões: (Fig. 87)

1. O objeto “2” (gato) possui o atributo “D” (mia)?2. O atributo “D” (mia) se atribui ao objeto “2” (gato)?

A partir dessa matriz inicial podemos descobrir uma tipologia dos objetos. Trata-se de encontrar grupos de animais definidos por grupos de atributos. Após a manipulação da matriz, passamos a contar com três grupos em vez dos 42 dados

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elementares. Isto permitirá compreendermos, de forma integrada, o conjunto. É a síntese. A informação revela-se por inteira.

Possibilita-nos, outrossim, colocar outras duas questões, porém, agora, em nível de conjunto: (Fig. 88).

1. Como se agrupam os objetos (os animais)?2. Como se agrupam os atributos (as características dos animais)?

A forma mais tradicional de compor a síntese na cartografia é através da superposição de mapas em transparência. As rubricas são representadas por uma sucessão ordenada de valores visuais, condizentes com uma escala de valores ambientais, por exemplo, estabelecidos a partir de critérios, como, naturais (potencialidades versus entraves) e sociais (maior versus menor vantagem social) (Mc. HARG, 1969).

BERTIN (1977), BONIN (1980) e BONIN e BONIN (1989) colocam a síntese como uma representação capaz de mostrar em mapa os agrupamentos de lugares caracterizados por agrupamentos de atributos, como já frisamos. Ela será obtida a partir de um tratamento gráfico dos dados, mobilizando matrizes de permutação - tabelas em forma de quadro de dupla entrada, cujos dados devem ser transcritos por classes de valores ou tamanhos visuais. Se os dados constituem uma série de unidades territoriais de análise com os respectivos atributos, forma-se uma matriz ordenável, aceitando permutações, tanto das linhas como das colunas entre si. Esta permutação é feita aproximando as linhas e colunas

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que se assemelham, obtendo-se uma segunda imagem - a matriz ordenada -, que deve ser interpretada analogamente ao que fazemos quando utilizamos a análise fatorial. Isto significa, portanto, individualizar visualmente os conjuntos de atributos que correspondem aos conjuntos de unidades territoriais de análise, definindo assim, a legenda.

O agrupamento das malhas individuais sobre a matriz ordenada formará agrupamentos no espaço, ao que corresponderá, enfim, ao mapa de síntese.

As etapas para o desenvolvimento do raciocínio de síntese que desemboca num mapa das tipologias podem ser esquematizadas simplificadamente pela seguinte seqüência de operações: (BONIN, 1982). (Fig. 89)

Para mostrar este raciocínio de uma forma mais clara, recorremos novamente às experiências pedagógicas trabalhadas por BERTIN e GIMENO (1982). Os autores demonstram que é possível mobilizar entre crianças do ensino fundamental, de 9 a 11 anos, procedimentos gráficos que permitam fazer mapa de síntese. O exemplo trabalhado é a busca de uma tipologia climática para a França a partir dos dados de temperatura, precipitação, insolação e relevo que constam do Atlas e do livro texto de geografia.

O tratamento gráfico dos dados feito mediante uma matriz comportando a transcrição visual destes com posteriores permutações entre linhas e colunas, na busca dos agrupamentos que os atributos formam, compõe uma imagem final que é a síntese do conjunto. Os sete tipos de clima são depois representados no mapa por uma legenda adequada, cujas rubricas recebem epítetos concisos. (Fig. 90)

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Chamamos a atenção para a representação de síntese explorada mediante estes exemplos simples porquanto temos notado a grande dificuldade que têm nossos alunos do ensino superior, seja da graduação como da pós, de discernir uma cartografia analítica exaustiva de uma cartografia de síntese. Esta confusão tem permeado também os meios didáticos colocando indiscriminadamente tanto mapas analíticos como de síntese para

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representar determinado tema. São exemplos típicos os mapas do clima e do relevo, que aparecem nos livros didáticos de geografia do ensino fundamental e médio, sem um correto encadeamento do raciocínio, organizando-o em etapas, primeiro ao nível analítico para depois passar para aquele de síntese.

No nosso entender, para estes níveis de ensino é fundamental mantermos, de forma clara e evidente, um roteiro de apresentação e trabalho com mapas que vai da análise para a síntese. Assim, para o relevo colocamos antes, seu estudo com a representação de suas grandes formas e respectivas altitudes, mediante curvas de nível associadas a uma ordem visual, perfazendo o chamado colorido hipsométrico. Tais conjuntos de formas devem ser analisados vinculados ao traçado da rede hidrográfica, cujo arranjo e regime são responsáveis, além de outros fatores da dinâmica externa, pelos processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos, na esculturação do relevo pretérito e recente.

Depois de se ter alcançado este entendimento é que poderemos trabalhar com o raciocínio de síntese. Serão vislumbrados agrupamentos de formas de relevo em unidades morfoesculturais, as quais se agregam em três tipos básicos de unidades geomorfológicas, que refletem suas gêneses: os planaltos, as depressões e as planícies.

No caso do clima o encaminhamento é análogo. Primeiro devemos estudar os elementos climáticos, como a temperatura e precipitação ao longo dos meses do ano, bem como os aspectos dinâmicos da atmosfera, controlados por mapas analíticos da participação das massas de ar na sucessão das quatro estações, como também, certo resumo exibido pela articulação das principais correntes atmosféricas durante o ano.

É a partir da análise rítmica destes elementos, dentro dos parâmetros metodológicos da climatologia dinâmica, que se constrói, mediante um raciocínio de síntese, uma tipologia climática.

Os dados dos exemplos apresentados acima foram tratados manualmente, mas hoje existem softwares interativos de tratamento gráfico, baseados na complementaridade das técnicas da análise fatorial e dos métodos gráficos desenvolvidos por BERTIN (1973) e seus colaboradores. Um deles é o AMADO, disponível em versão Macintosh e Windows PC (CISIA, 1994).

Tal software foi projetado para realizar a análise e tratamento de dados. A análise de dados multidimensionais é feita por técnicas digitais trazidas da álgebra, da análise matemática e da geometria. Estas técnicas permitem descobrir rapidamente os grandes traços da estrutura da tabela de dados, a qual se tornará "visível" mediante a aplicação das regras de representação gráfica. Trata-se, assim, de melhorar consideravelmente a legibilidade dos resultados da análise, revelando a sua estrutura. Esta poderá ser em diagonal, quando ela existe (um fator preponderante da Análise Fatorial das Correspondências ou dos Componentes Principais) ou uma classificação cruzada entre linhas e colunas da tabela de dados.

A síntese pode ser obtida também, evidentemente que com resultados mais objetivos, através de métodos matemáticos. O mais difundido é o da Análise Fatorial, utilizada em trabalhos que exigem o estudo de diversas variáveis ao mesmo tempo. A matriz de correlação das variáveis é o ponto de partida. De sua análise resultam grupos que se destacam. São chamadas de fatores ou componentes principais, consideradas em ordem de importância, segundo a proporção explicada da variação total entre as variáveis.

A partir da matriz dos escores fatoriais procede-se, em seqüência, a uma análise de agrupamento. Os agrupamentos de lugares vão sendo feitos num encadeamento de pares de maior semelhança, definindo uma árvore de ligação. Um corte transversal nesta estabelece os grupos que configuram a síntese, a qual pode ser colocada em mapas.

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Estes procedimentos tiveram seus momentos de prestígio junto a época áurea do neopositivismo, cultuado pela geografia quantitativa.

A pesquisa de SALVI (1984) para delinear uma tipologia climática para o Estado de São Paulo é um exemplo claro desta aplicação. Seu mapa é seguramente a síntese tal qual foi também a proposta de MONTEIRO (1973; 1976), com a qual a autora faz comparações entre as possibilidades de abordagens quantitativas e qualitativas neste tipo de pesquisa objetiva. (Fig. 91) e (Fig. 92)

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Um caso particular de cartografia de síntese é aquele que busca a representação da classificação de “tipos” de estruturas ternárias específicas, isto é, por variáveis formadas por três componentes colineares. Para esta situação podemos mobilizar um tratamento gráfico bastante simples: através de o diagrama triangular. Este gráfico participará, assim, da construção do mapa, servindo-lhe depois de legenda.

As diferentes combinações dos três componentes I, II, III da variável estudada são sintetizadas através de pontos no interior do triângulo. Quando a variável se reporta aos lugares, cada ponto do gráfico representa a estrutura daquele lugar.

A partir da análise visual da nuvem de pontos resultante podemos agrupar o conjunto de lugares em categorias definidas pela posição que ocupam no triângulo. A classificação pode ser efetuada junto aos seis setores que o triângulo fica dividido, a partir de paralelas que passam pelo ponto que corresponde à estrutura média do conjunto. Uma sétima categoria pode ser aquela que se caracteriza por ter uma estrutura muito próxima do padrão médio. Ela seria delimitada por um hexágono tal que em seu interior não tivéssemos qualquer desvio superior a um desvio padrão de cada componente (BÉGUIN e PUMAIN, 1994). (Fig. 93)

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As categorias, assim definidas, serão depois transcritas para o mapa, o qual representará a síntese de estruturas ternárias agrupadas em poucas classes significativas. O gráfico triangular será sua legenda, dando transparência total ao raciocínio empreendido na construção do mapa.

(Fig. 94)

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Em geral, a cartografia de síntese é pensada junto a situações estáticas. Mas podemos elaborá-la também para abordagens dinâmicas. Pode-se considerar o exemplo que leva ao estabelecimento de tipos de evolução populacional.

Para se chegar a esta síntese é necessário fazer um tratamento dos dados. Ele poderá ser elaborado a partir da coleção de gráficos evolutivos.

Todos os gráficos evolutivos construídos ao nível analítico em mono-log para as diferentes unidades observacionais serão classificados visualmente, aproximando aqueles que mais se assemelham, procurando formar grupos com características similares de evolução. Cada grupo constituirá um “tipo” que será qualificado na legenda por epítetos específicos e concisos como:

- evolução muito positiva;- evolução positiva;- evolução ligeiramente positiva;- evolução ligeiramente negativa ou nula;- evolução negativa;- evolução fortemente negativa. (PITTE, 1991)

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Cada rubrica da legenda, assim especificada poderá receber uma cor indicadora para ser lançada no mapa que expressará a síntese. Podemos considerar que os “tipos” detêm características distintas. A transcrição adotará a seletividade. Se, ao contrário, entrevermos que os “tipos” possam constituir duas ordens opostas - os que têm crescimentos se opondo aos que incluem decréscimos - fica evidente que a legenda deverá ser organizada com duas ordens visuais opostas: das cores quentes, desde as mais escuras até as mais claras, passando, depois, para as cores frias, desde as mais claras até as mais escuras. (Fig. 95)

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RIMBERT (1968) inclui também como raciocínio de síntese a dupla comparabilidade reduzida a uma simples diferença: um balanço, mostrando os saldos positivos ou negativos em valores absolutos. É claro que o mapa não exibirá mais os dados, mas sim a informação. Entretanto, no nosso entender, para que o mapa mostre uma verdadeira síntese deveria representar a tipologia desses saldos.

No âmbito da questão da cartografia de síntese, gostaríamos de lucubrar algumas reflexões a respeito da problemática da cartografia ambiental. Seria uma cartografia de síntese?

A questão básica para o estabelecimento de uma cartografia ambiental é a tomada de um posicionamento metodológico consistente. Neste sentido, temos que estar conscientes de que o ambiente pode ser encarado ou como um fenômeno da natureza ou da sociedade. A primeira opção é a mais clássica, a mais difundida, aquela que resultou na realização da grande maioria dos mapas sobre o assunto.

Tradicionalmente, coerente com o paradigma positivista, o mapa do meio ambiente considera a natureza exterior à atividade humana. Empreende-se uma concepção dualística desta cartografia: a natureza de um lado e o homem de outro, como componentes muitas vezes antagônicos.

Tais mapas podem transmitir informações mentirosas, ufanistas ou compartimentadas, por conta de uma metodologia de tratamento temático e de representação cartográfica condizente com aquela opção. São os enfoques das disciplinas que se consideram como autônomas, alem de científicas e neutras.

Hoje a temática ambiental tem ganhado posição de destaque e motivado acirrados debates em foros das mais variadas instâncias. Por conta disto, o questionamento que é feito ao ambiente não deve ser direcionado apenas à natureza, mas também, e principalmente, à sociedade. Os problemas ambientais da atualidade são nitidamente sociais pois emergem do interior da sociedade e não de dentro da natureza. De fato, eles nascem em decorrência das apropriações e transformações que o homem impõe à natureza para satisfazer suas necessidades. As formas como os homens se relacionam com a natureza depende do modo como eles se relacionam entre si, o que é determinado pelas relações sociais vigentes em certo modo de produção, em dado momento do percurso da história da sociedade humana.

Neste sentido, a reflexão para a sistematização consciente de uma metodologia para a cartografia ambiental deve considerar as bases para a definição de uma cartografia crítica que incorpore todas as relações, mediações, contradições entre os componentes que perfazem a natureza e a sociedade. Estas, ainda, devem ser vistas à luz do entendimento de que junto à sucessão dos diferentes estágios do conhecimento científico e tecnológico foram se produzindo e reproduzindo com a modernização, ambientes espaciais que adquiriram certas características que a sociedade as detectou como problemáticas.

A cartografia que representaria estes espaços seria uma cartografia envolvida com a geografia. Entretanto, não bastaria apenas representar temas geográficos, é preciso que eles se reportem à materialidade deste espaço cujo ambiente é o centro das atenções.

Ademais, esta cartografia, ao defrontar-se com a complexidade da realidade a ser considerada, deve também articular as diferentes maneiras de ver dos vários ramos

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científicos, cada um concebendo uma representação específica do espaço, envolvendo uma escala temporo-espacial adequada ao seu estudo e concepção.

Haveria necessidade, portanto, de estruturarmos uma cartografia que leve em conta, de um lado a articulação dos diferentes níveis de análise em conformidade com as ordens de grandeza em que os fenômenos se manifestam. E de outro, as combinações e contradições que acontecem entre conjuntos espaciais de natureza distinta, definidos pelos fenômenos sob apreciação, num mesmo nível temporo-espacial, como já adiantamos.

Esta realização cartográfica, portanto, seria conceptível somente através de um raciocínio de síntese. Na representação de síntese não podemos mais contar com a participação dos elementos considerados nas etapas analíticas, e sim a fusão deles em conjuntos espaciais característicos, o que é feito mediante um mecanismo que mobiliza o nível das operações mentais lógicas, como já falamos.

Dentro desta concepção metodológica de cartografia ambiental podemos considerar a realização do mapa das unidades de paisagem.

O conteúdo temático deste mapa que representa tais unidades, vistas como uma expressão da realidade concreta, tida como resultado da convergência de vários componentes, como a história geológica, a morfogênese, as características climáticas, a dinâmica da vegetação e todo o processo social envolvido na produção e uso do espaço pela sociedade deverão ser trabalhados numa sucessão de etapas.

Precisamos considerar como ponto de partida, que o conhecimento litogeomorfológico ao nível dinâmico da realidade é fundamental. Assim, a superfície terrestre modelada em formas esculturais do relevo, deve ser relacionada, não só às rochas que a sustentam como também aos solos que a recobrem. Não menos importante é também a atuação combinada dos fluxos atmosféricos e da estrutura da litosfera, ambas vistas com um comportamento em constante estado de evolução. Tudo isso demonstra-nos o caráter dinâmico desse importante componente ambiental, o qual deve ser levado em conta na cartografia que pretendemos fazer (ROSS, 1995).

Neste sentido, será fundamental a individualização de macrounidades paisagísticas, vistas como amplos complexos eminentemente geomorfológicos que se distinguem por uma coesa origem estrutural, uma constituição litológica específica e uma expressiva característica morfoescultural, além de pedológica e climática, que lhes conferem uma singular evidência, a qual determinaria a personalidade de um conjunto solidário de unidades paisagísticas. Desta feita, cada um destes constituiria uma “tessela”, segundo os princípios da Sinfitosociologia, a qual se coligaria dinamicamente com as demais ao seu entorno (RIVAS MARTINEZ, 1985; 1987) (GÉHU, 1991) (PEDROTTI et alii, 1997).

(Fig. 96)

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Essas bases geomorfológicas constituem, seguramente, um fator fundamental a imprimir determinadas feições identificadoras para o reconhecimento das grandes categorias de paisagem, as “tesselas” as quais, evidentemente, poderão ser decompostas em função das descontinuidades morfoesculturais do relevo, topoclimáticas e sobremaneira, em correlação com a distribuição das séries de vegetação (ASENSI MARFIL et alii, 1993) (CATORCI et al, 1995).

Nesta decomposição passaríamos a raciocinar com um desdobramento escalar a nível de análise, o qual se refletirá, não só na estruturação da legenda, como também na definição da escala de mapeamento, como já apontamos.

Numa segunda etapa sobre essa ossatura geomorfológica, devemos considerar a vegetação potencial, que seria aquela que se constituiria em determinado ambiente a partir do momento em que a ação antrópica cessasse, considerando-se ainda que o clima permanecesse praticamente constante. A distribuição espacial destes clímaces se daria em estreita relação com ambientes que apresentassem condições ecológicas favoráveis. Assim, a cada macrounidade morfoescultural corresponderia uma série de vegetação, como já adiantamos, na qual as respectivas associações estariam reunidas por um liame de tipo dinâmico (FALINSKI, 1985) (FALINSKI e PEDROTTI, 1990) (FALINSKI, 1990) (PEDROTTI, 1994) (PEDROTTI, 1998).

(Fig. 97)

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Na etapa seguinte, a reflexão avaliaria a vegetação real e as tendências dinâmicas de suas associações relacionadas com as respectivas séries vegetacionais no espaço produzido pelas relações sociais dinamizadas pela periodização dos modos de produção que a humanidade viveu e está vivendo em sua história, como já mencionamos. Nesta operação poderíamos já identificar os conjuntos espaciais que indicariam um esboço preliminar voltado à articulação das unidades paisagísticas que perfazem o espaço geográfico.

(Fig. 98)

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Estes processos ecológicos, que acontecem embricados entre si, compreendem como já apresentamos dois processos direcionais opostos - a sucessão (primária e secundária) - e a regressão, além de diversos processos de mudanças operadas em tempo variáveis - a flutuação (primária e de origem antrópica) e a degeneração/regeneração (FALINSKI, 1986).

Seriam estas considerações que poderão garantir uma segura compreensão da dinâmica da elaboração da realidade espacial, não só na dimensão vinculada à natureza, mas muito mais, no componente que se refere à dinâmica social do presente período histórico.

A flutuação acontece em áreas de vegetação em equilíbrio estável, provocando apenas variações determinadas por processos biológicos.

Os fenômenos relativos à sucessão primária levam ao desenvolvimento da vegetação estável em áreas onde ela não existe. Podem acontecer em zonas de escorregamentos engendrados ou por fatores naturais ou por indução antropogênica.

A sucessão secundária parte das comunidades vegetais substitutivas daquelas originais, e tende a reconstruir a vegetação clímax graças ao aporte de sementes ou propágulos provenientes de outras fitocenoses. Este processo dinâmico é típico de áreas com pastagens ou culturas abandonadas.

A regressão é o fenômeno oposto, como vimos. Passa, em sentido inverso, por todos os estágios da sucessão secundária até chegar naquele arbustivo ou herbáceo. É

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desencadeado por fatores exógenos. Pode aparecer em áreas com alta declividade que se tornaram instáveis por conta de desmatamentos ou do excessivo pastoreio.

A degeneração e a regeneração são processos que devem ser considerados interdependentes: a vegetação é afetada por um lapso de tempo pelos efeitos de deterioração de alguns componentes estruturais e florísticos para, logo em seguida, regenerar-se com as próprias forças até restabelecer as condições primitivas.

A última fase considera um raciocínio de síntese, o qual, como já dissemos, confirmaria a delimitação de grupos de conjuntos espaciais que seriam lançados sobre o mapa, os quais seriam caracterizados por grupos de atributos. Tais conjuntos seriam referidos na legenda por epítetos concisos, que definiriam as respectivas unidades de paisagem.

Estas, por sua vez exibirão combinações características, podendo corresponder ou a um fragmento de série de vegetação como também a fragmentos de várias séries, em conformidade à sua extensão e funcionalidade paisagística, nas quais, além da dinâmica da natureza estão presentes também atividades antrópica que lhes conferiram particularidades estruturais específicas (MARTINELLI, 1998). (Fig. 99)

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Configura-se, assim, o mapa das unidades de paisagem. (PEDROTTI et al, 1997). (Fig. 100)

Para o caso do estado de São Paulo podemos exibir a representação de síntese elaborada por TROPPMAIR (2000), configurando a oranização espacial dos geosistemas.

(Fig. 100a)

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100a

Outro exemplo significativo é o mapa de síntese que representa o padrão de distribuição dos tipos de paisagem na Romênia.

(Fig. 100b)

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100b

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7 UMA REFLEXÃO CRÍTICA: O TEMA, A ESCALA, A LEGENDA E A PROJEÇÃO.

Há muito tempo os mapas sempre foram da geografia, porém de uma geografia "fundamental", um conjunto de saberes para a ação e para o poder. A tarefa de fazer mapas, atribuída à cartografia, que era antes da geografia, se sedimentou somente no século XIX, como já acenamos. É nesta época também, como já vimos fruto da divisão do trabalho científico, que se delineia o mapa especial, depois denominado de temático. Reporta certo número de conjuntos espaciais resultantes das classificações dos fenômenos decorrentes das posturas metodológicas assumidas pelas ciências frente a seus objetos de estudo, tendo em vista determinado propósito na busca de dar mais um passo no ensejo de conhecer melhor a realidade concreta.

Porém, como toda forma de representação, esta transcrição cartográfica do mundo real pode levar a modificar o objeto de pesquisa e, por conseguinte, a orientar ou alterar sua percepção inicial. Portanto, precisamos estar sempre bem atentos com olhos críticos, às ciladas que essa relação estreita e recíproca entre a definição do objeto, sua percepção e respectiva representação pode-nos armar. (CAMBRÉZY, 1995).

O tema é anunciado pelo título. Nos mapas antigos, ele era freqüentemente muito desenvolvido, e já opunha certa descrição do conteúdo do mapa, uma relação de seus encartes e uma chamada à sua gênese. O título deve estabelecer um contrato entre quem fez o mapa e quem vai lê-lo. Ele liga o mapa ao seu referencial geográfico. Portanto, para ser completo, o título tem que declarar o tema, isto é o "O quê". Deve, outrossim, dizer, a qual lugar e a que época se refere, isto é, deve designar o "Onde" e o "Quando".

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Apesar dos mapas terem se tornado mais especializados, passando a se chamar "temáticos", isto não quer dizer que são da geografia, principalmente quando vistos separadamente em seus variados temas. Para serem da geografia, eles devem ser considerados conjugadamente, representando um mesmo território ou espaço geográfico, abordando-o não só mediante uma diversidade temática, como também em diferentes escalas, colocando em jogo a articulação entre diferentes níveis de resolução temporo-espacial dos fenômenos levados em conta naqueles temas - um verdadeiro embutimento de escalas, do local ao global (LACOSTE, 1976).

Esta cartografia, como já salientada oportunamente, ao defrontar-se com a complexidade da realidade a ser considerada, deve também articular as diferentes maneiras de ver dos vários ramos científicos, cada um concebendo, uma representação específica do espaço, envolvendo uma escala temporo-espacial adequada. Portanto, ela deve levar em conta, de um lado a articulação dos diferentes níveis de análise em conformidade com as ordens de grandeza em que os fenômenos se manifestam e adquirem territorialidade e de outro, as combinações e contradições que acontecem entre conjuntos espaciais de natureza distinta, definidos pelos fenômenos sob apreciação, num mesmo nível temporo-espacial.

É neste ponto que gostaríamos de defender nossa posição ao considerarmos o mapa temático, visto dentro da ótica acima exposta, como representação do espaço geográfico como espaço da sociedade humana, o qual é ocupado, utilizado e transformado pelo homem.

Neste sentido, tal espaço é um produto social que pode ser representado em um constructo que, por sua vez, também é um produto social. Tem como gênese a existência humana. É a ação humana que transforma a natureza em espaço geográfico. É, assim, vivo e sofrendo constantes alterações em conformidade com as exigências da sociedade na sucessão dos momentos históricos da evolução humana.

Na presente fase da história da humanidade, o espaço geográfico se confundiria com o próprio meio técnico-científico, por conta da interdependência da ciência e da técnica em todos os aspectos da vida em sociedade, manifestando-se em todos os lugares do planeta, graças a sua interligação, fruto dos avanços da informática. O espaço geográfico é, portanto, mundializado. Neste sentido o espaço é formado de fixos e de fluxos, estes últimos comandados pelas relações sociais que por sua vez prescindem dos fixos para terem vida; tudo isto se desenrolando no tempo combina um entrosamento de ações, cada uma com sua temporalidade, porém todas ocorrendo concomitantemente (SANTOS, 1994).

O mapa temático da geografia seria esta representação.Fica nítido, a esta altura das considerações, o surgimento de uma questão

metodológica de fundamental importância para a cartografia dos mapas temáticos: a escala.Neste sentido, é necessário avaliarmos o significado da escala além daquele

relacionado com o recurso matemático mobilizado para estabelecer uma medida de proporção da representação gráfica.

Na evolução da cartografia, a escala nem sempre esteve presente. Ela se confirmou a partir do final do século XVII quando do início dos grandes levantamentos com base nas medições geodésicas.

Muito embora, bem antes da Era Cristã, Eratóstenes tivesse calculado o tamanho da Terra, as dimensões dos continentes eram transcuradas pelos cartógrafos antes do século XVII, pois davam maior importância às formas que seriam expressas em planisférios ou mapas-múndi.

Para a geografia, a noção de escala adquire um conteúdo mais elaborado para expressar a representação - não necessariamente cartográfica - dos diferentes modos de

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percepção e concepção da realidade concreta. Nestes termos, ela participaria da geografia como estratégia de aproximação do mundo real, envolvendo não só seu aspecto dimensional, como também fenomenal.

É básico para a abordagem geográfica sensibilizarmos acerca do tamanho do espaço a considerar, independentemente de ponderá-lo como escala, pois envolve o conteúdo de seus fenômenos. Neste sentido, a escala geográfica não se associaria à escala cartográfica. A primeira requer um grau maior de abstração ao tratar da complexidade do espaço geográfico e as diferentes dimensões e intensidades das manifestações dos fenômenos nele embutido. Desta feita, a escala passaria a ser válida com o significado de ser definidora de espaços de pertinência da manifestação dos fenômenos a eles atinentes. É esta sensibilização que sugeriria a noção de escala geográfica.

Assim, a escala adequada para o mapa temático, atendendo a determinado propósito, e concebido dentro de um contexto teórico-metodológico, tem a ver com a categoria de estudo, a parte da realidade de interesse, evidentemente compatível com a resolução do fenômeno ou fenômenos nela enquadrados. Estes, por sua vez, demandam certa duração para a sua organização e conseqüente manifestação espacial característica. Portanto, a categoria espacial e concomitantemente temporal (tempo ou tempos de duração para sua organização) de interesse, estaria inserida numa seqüência hierarquizada de escalas temporo-espaciais, a qual escalonaria os tamanhos das manifestações dos respectivos relacionamentos ou oposições junto à natureza ou sociedade. Porém, cada uma correspondendo à sugestão de uma escala cartográfica para a busca de uma representação adequada (JOLY, 1976) (LACOSTE, 1976) (RACINE et al, 1983) (HENNING, 1983) (GOMES, 1983) (CRUZ, 1985) (CONIAT, 1985) (SANTOS, 1994) (CASTRO, 1995) (PEDROTTI et al, 1997) (MARTINELLI, 1998).

Frente à escala cartográfica podemo-nos deparar com outro problema metodológico: a generalização. No mapa temático ela se ramifica em dois questionamentos: a generalização do mapa-base e a generalização do conteúdo.

A generalização do mapa-base, já com elementos necessários selecionados, considera os ditames metodológicos da cartografia em geral, especificamente da cartografia topográfica, envolvendo operações de seleção, esquematização e harmonização. Embora hoje contemos com métodos quantitativos e a geometria dos fractais devida a MANDELBROT (1983), a generalização é sempre discutível. É subjetiva (JOLY, 1976).

O conteúdo, por sua vez, também pode necessitar de uma generalização em função da escala. Neste sentido, na generalização das características discretas - os pontos - a escolha pode levar em conta a importância deles. Na generalização das áreas procedemos a uma simplificação do contorno e à eliminação de frações isoladas quando muito pequenas. A generalização das redes, por sua vez, contabiliza a importância dos trechos, os quais estão estreitamente vinculados à magnitude dos pontos que se interligam.

Para BERTIN (1973), a generalização do conteúdo, que será realizada em função da escala poderá ser estrutural ou conceitual. A generalização estrutural consiste em simplificar a estrutura mantendo o mesmo conceito e implantação, enquanto que aquela conceitue; exigirá a mudança de implantação, o que implicará em nova conceituação (os poços das minas de carvão se transformarão em bacia hulhífera; a bacia hulhífera se converterá em signo pontual para designar a ocorrência de carvão). (Fig. 101)

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Para SALICHTCHEV (1979), a operação da generalização engendra um aumento no valor cognitivo do mapa, pois proporciona à representação a possibilidade de revelar as características particulares, bem como os traços gerais dos fenômenos cartografados. Neste sentido, a generalização estaria relacionada com a passagem do concreto ao abstrato. Representações das temperaturas médias a partir de observações realizadas durante um longo período dão um maior valor ao mapa como meio pesquisa do que aquelas realizadas com dados de determinados momentos.

Outra questão metodológica não menos importante é a que se refere à legenda. Pouca importância tem sido dada a ela. Parece que para os cartógrafos ela tem um papel menor: de apenas servir de decodificador do código, das convenções rigidamente estabelecidas por eles. É o lugar e a hora de declararmos o que todos os signos significam. Às vezes, até mesmo símbolos que nossa cultura fabricou. É um momento polissêmico! É uma questão de semântica. Sem dúvida alguma ela não pode deixar de cumprir esta missão básica. Entretanto, seu papel é muito mais envolvente. Ela estrutura a linha que norteou o raciocínio empreendido pelo pesquisador na realização do mapa, isto é, desde a tomada de

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uma posição para o entendimento da realidade até a formalização de sua exposição, mediante o emprego racional e correto da sintaxe da linguagem da representação gráfica.

A legenda é a porta de entrada do mapa. Depois de lido o título, é através dela que ingressamos no conteúdo da representação. Esta ação se reveste de ansiedade na busca da informação que atenda o que desejamos saber, para com isto obtermos compreensão.

O título e a legenda constituem a identificação externa do mapa. Devem permitir ao leitor tomar ciência do invariante e dos componentes mobilizados na representação. A identificação externa é independente da representação gráfica. Entretanto, de nada adianta uma representação em mapa onde não se possa identificar o invariante e os componentes do conjunto de dados a ser transcrito (BERTIN, 1973).

O momento da simbolização é a reprodução adulta de uma operação básica que se manifesta nos seres humanos desde criança: a função simbólica. Substituímos as ações ou objetos por símbolos ou signos que podem ser imagens ou palavras. Uma imitação. O gesto, a fala, a grafia evoca uma ação sobre objetos. Falamos sobre o "au-au" que vimos! O "miau" que saltava! Damos assim, início à construção da relação significante (o que desenhamos) / significado (o que pensamos).

Hoje, a legenda é um componente obrigatório do mapa. Constitui a parte da identificação externa, junto ao título, à escala, à projeção, e à fonte, como vimos. Mas ela resulta de uma evolução na qual teve outras conotações. No início, vista como a parte textual do mapa, ia além da simples denominação de posições geográficas. Veiculava o conteúdo natural ou cultural dos lugares e de seus moradores, onde a linguagem tornava-se necessária para resolver as limitações dos signos da representação gráfica.

A legenda quase que não se constituiu em um componente essencial dos tradicionais mapas de referência que, além de registrarem as localizações, abordavam as formas do relevo por curvas de nível.

Ela apareceu como constructo indispensável, onde a pretensa supremacia da imagem como linguagem universal falhou. A complexidade de seu conteúdo, quando introduzida pelo raciocínio científico, mediante classificações e hierarquias, revelou que o mapa não podia falar por si só, como retrato simbólico da realidade.

Na sua história, a legenda apareceu num primeiro momento na cartografia dentro da própria área mapeada sob a forma de enunciados aos textos explicativos, junto aos lugares para os quais a informação se referia.

Com o tempo, ela passou a ocupar uma posição mais específica e externa ao campo da representação. Marcou assim, em sua evolução, uma separação cada vez mais nítida entre o espaço reservado à visualização, dentro do qual a vista percorre eixos ou áreas conforme a articulação dos objetos de interesse e o espaço de leitura racional, estruturado dentro de uma lógica tabular.

As transições operadas entre os mapas sobrecarregados de escrituras, exigindo mais a leitura do que o olhar e aqueles que depois passaram a privilegiar a supremacia da visualização sobre a leitura corresponderam muito mais a uma escolha do cartógrafo e a uma necessidade do leitor, do que a uma evolução histórica. Este processo de mudança testemunhou uma etapa da evolução da cartografia cujo objeto se situaria entre o livro e a imagem.

Toda esta transformação se deu em etapas. Num primeiro momento, os enunciados verbais inscreviam-se junto aos objetos do mapa. A partir do século XVI, a palavra foi substituída pela inicial ou abreviação. Depois, o signo passou a designar o dado. Os signos começaram, assim, por desenhos iconográficos. Quando as "silhuetas" destes excediam em muito os lugares de ocorrência dos significados, os signos tornavam-se

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pictogramas. Com a multiplicação e a miniaturização crescente destes, sua esquematização passou a se acentuar para desembocar, mais tarde, na abstração da forma geométrica. Tornaram-se ideogramas.

Hoje, as legendas organizam-se em quadros abstratos, criando correspondências horizontais, bem como hierarquias verticais.

A mutação na concepção e organização da legenda viabilizou a passagem de uma cartografia que privilegiava as identidades elementares atinentes aos lugares para uma cartografia que se organizou em classes de objetos, onde a sua produção ou reprodução importava mais que a simples identificação. Esta segunda modalidade, cristalizada nos mapas atuais, ultrapassou a simples enumeração dos objetos para alcançar um discurso sobre o espaço que o mapa representa. Neste sentido, veremos que a escolha dos termos da legenda refletirá as verdadeiras intenções de quem faz o mapa, portanto de sua visão hierarquizada sobre os objetos representados.

E, também, através deste seu olhar e escolhas exaltará os reflexos da sociedade a que pertence. Portanto, o mapa certamente espelhará determinada ordem social, legitimando-a. A legenda passa a ser assim, um código social significativo de cada época de elaboração dos mapas (CARON, 1980 a; 1980 b) (WURMAN, 1989) (JACOB, 1992).

Há legendas e legendas. Quando os mapas são do tipo exaustivo, isto é, como já vimos, quando superpõem todos os atributos tratados pelo tema sobre a mesma representação - os mais difundidos - não possibilitam ao consulente obter resposta visual instantânea para questões do tipo "Tal atributo, onde está?" Neste caso, podemos considerar uma legenda por coleção de mapas, como já apresentamos. A cada rubrica desta associamos um pequeno mapa reportando o registro da respectiva ocorrência. Cada um deles comporá uma imagem capaz, portanto, de dar a visão de conjunto solicitada.

Segundo RIMBERT (1990), é bom lembrar aqui, com bastante veemência que, embora de caráter polissêmico, é incontestável a função de representação paisagística da fotografia. É necessário, entretanto, dar-lhe sempre um título, um slogan, uma legenda.

Tomados estes cuidados, a fotografia torna-se um instrumental importantíssimo, aproximando mais o grande público aos objetos de estudo científico. Neste intento, nada impede que se aponha também aos mapas, imagens fotográficas, podendo adquirir, sem dúvida alguma, um maior alcance social.

Podemos, assim, utilizar esta associação, opondo - se a cada rubrica da legenda, já organizada em coleção de pequenos mapas, uma fotografia do respectivo argumento do significado do signo (UNESCO, 1985).

Entretanto, do ponto de vista metodológico, em nossa opinião, o que deveríamos mais enaltecer na legenda é o papel de dar transparência ao raciocínio empreendido pelo construtor do mapa, como já salientamos. Assim, ela estruturar-se-á conforme determinada teoria, a partir da qual obteremos os encaminhamentos necessários para dirigir a leitura, análise e interpretação do mapa de acordo com a seqüência estabelecida na organização mental do autor.

Para esclarecermos tal raciocínio, tomaremos o caso da legenda para o mapa "Dynamical tendencies in the vegetation of Bosco Quarto" (FALINSKI e PEDROTTI, 1990). Sua organização parte das considerações elaboradas por FALINSKI (1986). A dinâmica da vegetação considera fundamentalmente a dinâmica interna das fitocenoses. Esta dinâmica leva em conta, basicamente, dois grandes grupos de processos cujos desdobramentos envolvem seqüências ordenadas de fases:

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1. Direcional • sucessão

-primária-secundária

• regressão

2. Flutuacional- primária- secundária - de origem antrópica

A esquematização desta postura teórico-metodológica é apresentada mediante um organograma. (Fig. 102)

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Direcional e Flutuacional.

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A legenda deixa transparente tal linha de raciocínio. (Fig. 103)

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A mudança de um paradigma de certo ramo científico pode resultar em significativa alteração na concepção de sua cartografia temática e organização da respectiva legenda. É o caso da geobotânica. Os mapas fitosociológicos de tipo clássico consideravam o registro detalhado da distribuição espacial das associações vegetais, segundo a proposta metodológica de BRAUN-BLANQUET (1964).

Em tempos mais recentes, os conhecimentos ultrapassaram as bases colocadas anteriormente e propuseram novos encaminhamentos de pesquisa, através da fitosociologia integrada ou ciência da paisagem, conforme a colocação de RIVAS MARTINEZ (1985), estabelecendo a partir deles os mapas fitosociológicos integrados.

Os primeiros, mormente se destinam a uma leitura imediata das características vegetacionais de determinado território, porquanto mostram claramente a vegetação natural atual.

Os segundos representam as séries de vegetação, decompostas em suas associações, desde aquelas pioneiras até as clímaces. Pelo fato destes mapas representam também a vegetação potencial são indispensáveis às previsões, portanto, para usos potenciais.

Neste sentido, podemos considerar esta alteração da concepção da cartografia geobotânica mediante um bloco-diagrama esquemático que visualiza de um lado a organização do mapa fitosociológico clássico e respectiva legenda e de outro, a estruturação do mapa fitosociológico integrado, dando orientação para a construção, também de sua legenda. (Fig. 104)

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A partir destas diretrizes veremos que a legenda para o mapa fitosociológico clássico ressaltará as associações vegetais, porém, de forma isolada e tomada somente em base às características florísticas. As rubricas estão lançadas na seqüência que vai das associações arbóreas até as herbáceas passando pelas arbustivas

(Fig. 105)

Já para o mapa fitosociológico integrado, a legenda colocará em evidência as séries de vegetação, uma para cada unidade geomorfo-ecológica, congregando as respectivas associações, desde as pioneiras até as do clímax, como já comentamos. (PEDROTTI, 1987). (Fig. 106)

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Para RIMBERT (1968), a elaboração da legenda deve estar consoante com a proposta de fazer com que o mapa possua propriedades racionais que o tornem um sistema lógico. Portanto, as legendas não são apenas listas dos enunciados dos signos empregados, são estruturações comandadas pelo raciocínio.

Ressalta que para o construtor do mapa expressar suas idéias e teorias deve ter o domínio das regras gramaticais da linguagem gráfica, portanto, coerente com a linha norteadora de toda a obra de BERTIN (1967; 1973; 1977). A legenda não pode ficar apenas ao nível de um simples inventário, deve passar para o estágio do raciocínio lógico mental, onde por meio de sua estrutura racional fornecerá uma primeira explicação das relações geográficas entre os fenômenos espaciais. Desta feita, sua organização parte da configuração do raciocínio a ser transcrito, donde se depreende sua elaboração, que pode considerar uma hierarquização de categorias que congregam subdivisões racionais convenientes, as quais, também, por sua vez, poderão ser escalonadas segundo algum critério levado em conta na lucubração de tal cartografia.

A legenda pode também ser concebida a partir de um raciocínio que demanda uma classificação com desdobramentos, estruturada como uma rede, um grafo aberto de forma arborescente, um dendrograma como segue (ANDRÉ, 1980).

(Fig. 106 a)

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A projeção pode parecer, num primeiro momento, ter pouca interferência no mapa temático. Ela tem a ver diretamente com a escolha do mapa-base. Nos dias de hoje, esta operação fica geralmente confiada a uma ação bastante mecânica, a de realizar apenas uma busca junto ao estoque de mapas-base, dos arquivos, dos softwares cartográficos. Não devemos nos esquecer, entretanto, que atualmente poderemos dispor também de softwares interativos, que possibilitam modular a projeção mais adequada à utilização prevista.

Neste sentido, a escolha de uma projeção inadequada pode induzir os leitores e espectadores a erros graves. Na publicação do quotidiano Ouest-France de 28 de outubro de 1988, resultou a divulgação de um planisfério localizando a Nova Caledônia sobre a projeção de Mercator. Esta projeção exagera a escala conforme a latitude cresce, deformando consideravelmente a medida das distâncias. Além do mais, se a proposta era mostrar o caminho mais curto, os traços destes deveriam se encurvar conforme as respectivas ortodromias. Mas se desejamos fornecer ao usuário as distâncias exatas e em linha reta, bastaria adotar uma projeção azimutal eqüidistante centrada sobre aquela ilha francesa.

(Fig. 107)

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A influência maior das projeções nos mapas temáticos aparece quando abrangem grandes extensões espaciais ou mesmo o mundo todo. Os planisférios temáticos não podem negligenciar este aspecto.

De fato, desde que a cartografia temática proclamou representações cujo conteúdo ia além da simples localização e orientação passou a exigir mapas-base com fidelidade de superfície. Esta questão tornou-se mais imperativa quando as representações eram sobre planisférios. Esta mudança constituiu certo golpe sobre a imagem eurocêntrica do mundo baseada na projeção de Mercator. Agora os planisférios passariam a transmitir uma nova imagem do mundo com uma representação paritária a todos os povos, nações, países e continentes.

Entretanto, esta reviravolta não foi total. Houve certa reticência à mudança quando se tratava de mapas físicos. Foi o que aconteceu com o Schweizerischer Mittelschulatlas de IMHOF (1976), no qual o autor adotou planisférios equivalentes inscritos em contornos elípticos com pólos retos para os temas da sociedade e planisférios conformes inscritos em contornos retangulares para temas da natureza. Desta feita, como ficaria o entendimento da Terra para o estudante suíço que encontra em seu Atlas estes dois tipos de representações? (PETERS, 1992).

A projeção de Mercator, por exagerar consideravelmente as regiões acima dos 40 graus de latitude Norte e Sul, foi muito explorada como meio de propaganda buscando exagerar a ameaça comunista quando a União Soviética e China eram coloridas de um vermelho vivo e simbólico.

Tal projeção, dotada de grandes exageros, sempre adornou a maioria das salas de aula do século XIX e início do XX. Figura também como pano de fundo dos noticiários televisivos. Gerações de educadores foram, assim, insensíveis ao ensino de um mundo grosseiramente deformado, reduzindo consideravelmente a importância da faixa intertropical em benefício do Canadá e da Sibéria.

A projeção de Mercator foi básica para mostrar com grande eloqüência a grandiosidade do império britânico. Centrada no meridiano de Greenwich e expondo as colônias inglesas espalhadas desde a Austrália até o Canadá, passando pela África do sul, mostrava todo aquele poderio antes da Segunda Guerra mundial.

Em 1967, o historiador e jornalista alemão Arno Peters, com um doutorado sobre a propaganda política, publicou uma nova projeção do mundo estabelecida com a propriedade da equivalência, semelhante àquela proposta por Gall, em 1855. Traçada dentro de um contorno retangular tem como apoio uma rede de linhas ortogonais fechando áreas proporcionais às homólogas do globo. Nessa projeção, embora guardando a proporção das dimensões, as terras próximas aos pólos ficam largas e achatadas, enquanto que aquelas vizinhas ao equador resultam estreitas e alongadas. Além dessas deformações, as distâncias também sofrem fortes alterações: a medida norte-sul do Brasil fica o dobro da distância leste-oeste, quando na realidade elas são aproximadamente iguais.

Mas o mérito dessa projeção, segundo o seu idealizador, é desbancar a superioridade do primeiro mundo, deslocando a Europa de sua posição central e enaltecendo as nações do mundo tropical, dando-lhes, para fazer justiça, o seu verdadeiro tamanho e posição.

O doutor Peters aproveitou-se dessa configuração para seduzir o público, mostrando a grande qualidade de seu constructo: a de ser mais igualitária e precisa na representação do mundo, chamando à atenção para a apresentação injusta dos países do

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terceiro mundo. Desta feita, a projeção de Peters tornou-se símbolo para provocar uma reflexão de solidariedade (MONMONIER, 1991).

Apesar deste propósito enaltecedor, tal projeção recebeu críticas severas por parte dos defensores da cartografia científica por não apresentar uma fundamentação matemática consistente (LOXTON, 1985).

Outras projeções para planisférios inscritas em contornos circulares, não são novidades. Os primeiros planisférios foram circulares. A imagem metafísica do mundo passou para uma visão lastreada na percepção e experiência: uma superfície circular rodeada de águas por todas as partes. Com Pitágoras tivemos uma terra esférica, a forma mais harmônica que existia. Na Idade Média, a cartografia retorna a conceber mapas circulares remetendo-se aos textos bíblicos.

Com o grande desenvolvimento da teoria das projeções, principalmente no século XVIII, propuseram-se as projeções azimutais, vistas como projeções perspectivas de uma porção da esfera terrestre sobre um plano tangente a ela, a partir de um ponto de vista selecionado. Quando são eqüidistantes têm grande aplicação prática vinculada aos deslocamentos que podem ser feitos a partir de um único ponto do globo, o pivô. Sobre elas determina-se facilmente o azimute e a rota mais curta para qualquer lugar do mundo.

Pelo fato das projeções azimutais contarem com um centro, o ponto de tangência, configuram-se como projeções geopolíticas. Permitem-nos ter uma visão da Terra toda sob a perspectiva do Estado. Assim, em suas considerações estratégicas, cada país pode vislumbrar sua percepção de mundo.

Desta feita, as projeções azimutais excluem qualquer pretensão de objetividade e neutralidade. São parciais, adotando tantas visões de mundo quantos forem os Estados. Confirmam-se como instrumentos a serviço do poder. Temos o exemplo brasileiro: a "Projeção azimutal, eqüidistante e oblíqua tendo por centro a cidade de São Paulo" de SOUKUP (1966).

(Fig. 108)

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Quando estão centradas no pólo Norte, as aludidas projeções salientam a relativa proximidade entre a atual Rússia, ex-URSS, e os Estados Unidos dentro de um mundo militarmente bipolarizado, emergido da Segunda Guerra Mundial, como foi, durante a velha ordem da Guerra Fria. É a concepção da Terra estruturada em centro-periferia.

(Fig. 109)

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No próprio logotipo da ONU está estampada uma projeção azimutal eqüidistante, com o meridiano Greenwich na vertical. As terras situadas ao Sul do Equador ficam comprometidas pela crescente deformação, afastando cada vez mais as massas continentais, aludindo a um hemisfério meridional tido como periferia do mundo.

(Fig.110)

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Hoje, tais projeções já podem mostrar uma nova ordem internacional, a do mundo multipolar. A estrutura do sistema internacional alterou-se para configurar três macro-áreas, três mundos. Estes megablocos se assentam sobre os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha e influenciam periferias maiores ou menores, congregando Estados com diferentes níveis de modernização (MAGNOLI, 1994).

(Fig. 111)

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Ainda, se considerarmos a coroa circular delimitada pelos paralelos de 30 e 60 graus de latitude Norte, do ponto de vista geopolítico, fica claro que ela reúne os centros mundiais de poder de primeira grandeza, numa massa terrestre bastante compacta, em contraposição com o aspecto insular da América do Sul, África e Austrália. (Fig. 112)

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8 AS NOVAS CARTOGRAFIAS

É bem conhecido o impacto das técnicas recentes sobre a evolução da cartografia. Hoje é muito fácil e rápido fazer mapas. Entretanto, vale mais explorar tais possibilidades em direção a uma cartografia analítica, visando, sobretudo a concepção e valorização de superfícies observadas ou teóricas, promovendo a elaboração de novas representações a partir de dados georreferenciados. (RIMBERT, 1990).

Podemos, assim, em vez de valorizar as clássicas distribuições geográficas, priorizar os padrões espaciais que os atributos constroem, atentando para o respectivo aspecto morfológico. Trata-se, portanto, de fazer uma reflexão sobre a rede de relações que se modelam no espaço de interesse geográfico. Devemos lembrar ainda, que não existe uma única solução cartográfica para expressar tais padrões, sendo necessário buscar formas alternativas de se passar facilmente de uma solução a outra.

Por outro lado, do ponto de vista fenomenológico, sabemos que fazer um mapa consiste em materializar numa forma visual, as percepções de um espaço que não é neutro, porém carregado de sentido, revelando uma valorização daquilo que não é totalmente individual e subjetivo, mas que se inclui no mundo elaborado. (MOLES, 1990).

Seria na direção desta cartografia subjetiva que os aspectos simbólicos das formas e cores ganhariam maior importância, como também, as anamorfoses das superfícies permitiriam de expressar valores atribuídos ao espaço e as cores quentes, frias e neutras autorizariam enaltecer as percepções afetivas que poderemos ter deste espaço. Neste sentido, poderemos considerar facetas múltiplas da cartografia temática do ponto de vista conceitual. Esta riqueza de novas possibilidades pode ser confirmada através das seguintes opções: as transformações temáticas que poderão ser trabalhadas sobre os atributos dos lugares, as generalizações e as simulações.

A novidade maior neste campo está na possibilidade de se cartografar o invisível, seja de cunho físico, conceitual, mental ou imaginário (RIMBERT, 1990).

Para se conseguir essas novas cartografias, torna-se básico ter os mapas bem como seu conteúdo temático, digitalizados. Com isto, são obtidas tabelas digitais susceptíveis de serem estruturadas em matrizes matemáticas passíveis de uma transformação algébrica ou geométrica, podendo passar a qualquer momento, sob solicitação, do formato digital à respectiva visualização.

Uma primeira grande vantagem da concepção do mapa digital é a de possibilitar a extração de neovalores, tornando tal mapa fonte de dados derivados.

O exemplo clássico é o do Modelo Digital do Terreno, feito a partir dos dados do mapa topográfico. Dele podemos extrair uma série de dados derivados que poderão ser expressos em novas construções gráficas, tais como:

- perfil topográfico- bloco-diagrama- volume do terreno- determinação das zonas escondidas de um relevo para determinado observador- mapa hipsométrico- mapa clinográfico- mapa de orientação das vertentes- mapa com relevo sombreado

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Os mapas, acima citados, já são tradicionalmente considerados como mapas derivados. O processo de construção deles não consiste apenas numa redução pura e simples da informação. Ao contrário, trata-se de mobilizar um processo de modelização visando chegar a novas informações. Na prática, também podem ser elaborados a partir de operações cartométricas tradicionais aplicadas aos mapas topográficos como básicos (SALICHTCHEV, 1973).

Outra gama de transformações bastante exploradas são aquelas que se operam sobre as distâncias, mudando sua escala de distância real em distância-tempo ou distância - custo, pois nossas decisões são mais influenciadas pelo consumo de tempo e dinheiro, fazendo assim com que as distâncias econômicas se tornem mais realistas que as distâncias quilométricas no plano euclidiano (COLE, 1972) (RIMBERT, 1990).

Mas a idéia de transformar dados quantitativos em superfícies proporcionais já é bastante conhecida. São os cartogramas e as anamorfoses cartográficas. Para RIMBERT (1990), entretanto, há uma sutil distinção entre as duas representações. Enquanto o cartograma é construído como um puzzle, acomodando peça por peça, a anamorfose é realizada a partir de uma superfície que sofre dilatações ou contrações de forma contínua, em função da importância da presença maior ou menor de um fenômeno que gera tensão.

Nos cartogramas, são as áreas das unidades observacionais que passam a ser proporcionais, não mais às superfícies reais geográficas, mas sim, às quantidades que nelas ocorrem. Desta feita, podemos deparar instantaneamente a prevalência das dimensões antes de preocuparmos com as distorções que elas acarretam. As dimensões, por sua vez transcrevem instantaneamente a importância das quantidades, podendo-se ter de imediato a visualização das relações espaciais que estas estabelecem no espaço geográfico considerado. Porém, as deformações dificultam o reconhecimento da ordem geográfica, porquanto o hábito adquirido torna-se praticamente inútil. Assim, obriga-nos a descer ao nível elementar de leitura para decifrarmos o topônimo de cada unidade espacial (BERTIN, 1973).

Um exemplo claro desta representação é o cartograma retangular mostrando o PNB no Continente americano para 1977, segundo KIDRON e SEGAL (1981). Ele, além de registrar o inventário do PNB dos países americanos, evidencia o trágico desequilíbrio que contrapõe os hemisférios norte e sul. No caso apresentado, o contraste entre as superfícies tem, sobre o usuário, um impacto bem mais gritante que uma representação do mesmo indicador por solução coroplética organizada em classes de valores visuais crescentes (RIMBERT, 1990).

(Fig. 113)

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Para o caso de um planisfério podemos mostrar o cartograma retangular para o PNB dos países do mundo agrupados por cores que fazem referência aos Continentes.

(Fig. 113a)

113aMUNDO: PRODUTO NACIONAL BRUTO

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Nas anamorfoses, é a geometria básica do mapa que irá sofrer contrações ou dilatações, conforme o estabelecimento de uma mudança contínua de escala, numa única direção ou em várias, de acordo com analogias, em geral emprestadas da física, em consonância com a importância da manifestação quantitativa do fenômeno a representar.

As anamorfoses se diferenciam dos cartogramas. As primeiras ganham supremacia sobre estes últimos pelo fato de produzirem representações progressivas e contínuas em vez de discretas e descontínuas da variável em análise.

Seja o exemplo da anamorfose multipolar sobre a participação dos jovens na população da França para 1975. A representação vai evidenciar uma contração do território no centro-sul, onde a população é mais idosa, em contraste com uma dilatação do mesmo, ao norte, onde a população é jovem em sua maioria. O programa empregado foi transferido da engenharia dos materiais para a superfície cartográfica, evidenciando a resposta em termos dos esforços enfrentados por uma superfície plana quando submetida a cargas aplicadas em certos pontos (RIMBERT, 1990).

(Fig. 114)

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Se tomarmos, em comparação, o caso da participação dos estrangeiros na população total das regiões da França, a representação vai mostrar uma contração das regiões ocidentais por conta da pequena presença de estrangeiros nesta metade do país, enquanto que a região parisiense e aquelas do leste, onde os estrangeiros são numerosos, revelam-se, ao contrário, dilatadas.

(Fig. 115)

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Para o caso do planisfério teríamos esta anamorfose, representando tanto o Produto Nacional Bruto, como o PNB por habitante dentro de cada país do Mundo.

(Fig. 115a)

115a

A transformação de mapas que representam movimentos pode desembocar na cartografia de previsão de fluxos, como é o caso da transferência de renda de um lugar para outro, durante certo período de tempo. Tomamos o exemplo do modelo digital aplicado aos fluxos de renda nos Estados Unidos de 1970 a 1976, o qual tende a mostrar que estas transitam junto com o movimento da população.

O procedimento envolve um raciocínio que demanda a elaboração de uma seqüência de três mapas. A partir de um primeiro mapa representativo do campo do potencial de renda estimado para 1970/1976, passa-se a um segundo, que registra as trajetórias dos fluxos, cujo cálculo por estado desemboca num terceiro mapa revelando as transferências interestaduais de renda (TOBLER, 1981; 1986).

(Fig. 116)

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As generalizações, por sua vez, são operações bem conhecidas dos cartógrafos. Na atualidade, elas se tornam ainda mais indispensáveis, por conta da economia de trabalho ao se processar mapas, momento em que vem a ser mais oportuno armazenar informações cartográficas numa única escala - a escala grande - a partir da qual poderemos realizar transformações automáticas.

Neste domínio, entra em cena também a questão da generalização temática. Enquanto a generalização das formas concerne aos arranjos das coordenadas planas (X, Y), aquela dos conteúdos temáticos tem a ver com a organização e comportamento dos atributos expressos na terceira dimensão do mapa, a visual (Z).

Um exemplo bastante sugestivo neste campo é aquele em que a generalização se volta para demanda específica de um ou mais públicos, para os quais podemos separar a informação essencial daquela parasita. Trata-se do caso dos folders ou dos mapas oferecidos aos turistas, hóspedes da estação alpina de esqui de Grindelwald. Podemos considerar que a cada mudança de demanda possa corresponder uma mudança de representação. Assim, ela pode evoluir da riqueza da visão de conjunto da paisagem, quase como uma foto, à extrema esquematização dos trajetos úteis aos esquiadores. É uma forma inteligente de produzir uma cartografia do turismo consciente.

A seqüência das três representações a seguir mostra três interpretações gráficas do mesmo lugar, porém com um grau de iconicidade que vai da imagem figurativa com forte valor estético-afetivo à rede de pistas de esqui reduzida a um grafo, onde se deixa de lado a topografia para exaltar a topologia (RIMBERT, 1990). (Fig. 117)

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Fig. 117 – A generalização para uma demanda cada vez mais específica (RIMBERT, 1990).A seqüência das representações mostra três interpretações gráficas do mesmo lugar, porém, com um grau de iconicidade que vai da imagem figurativa com forte valor estético-afetivo à rede de pistas de esqui reduzida a um grafo, onde se deixa de lado a topografia para exaltar a topologia.

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As simulações, por sua vez, são procedimentos que nos permitem passar da série de mapas estáticos ao entendimento dos processos naturais ou sócio-econômicos que se desenrolam incessantemente no espaço geográfico.

Sabemos que os processos são observáveis através de seus efeitos. Para estudá-los é necessário construir um sistema que nos permita passar de um estado para outro. Para tanto, será necessário formalizar o funcionamento do sistema através de um modelo. Os modelos de decisão e de previsão são os mais adequados para fazer com que os mapas se tornem móveis: a partir de um padrão espacial conhecido podem-se gerar evoluções possíveis que até então não haviam sido observadas (RIMBERT, 1990).

Não podemos deixar de acrescentar a estas neo-elaborações, também aquelas referentes à cartografia da variabilidade e da previsão.

A cartografia da variabilidade possibilita evidenciar através de mapas isarítmicos o problema da regularidade e irregularidade de um fenômeno contínuo ocorrer no tempo e no espaço. Tomando-se o caso da pluviosidade podemos avaliar se, por exemplo, uma região de pouca pluviosidade tem, como no caso de certas regiões da Bahia, de um ano para outro, praticamente a mesma quantidade de chuva ou, se ao contrário, apresenta grandes variações ao longo de determinado período. Para tanto, serão feitos mapas isarítmicos de valores medidos ou derivados. O mapa básico será o das isoietas anuais. Para a variabilidade poderão ser representadas as amplitudes de precipitação anual em termos absolutos, os desvios-padrão e o coeficiente de variação de precipitação anual. Esta aplicação pode revelar regiões com grandes, médias ou pequenas variações de precipitação ao longo do tempo, individualizando áreas sensíveis às secas ou enchentes periódicas (SILVA, 1981).

(Fig. 118)

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A cartografia da previsão é realizada mediante mapas isarítmicos das probabilidades de certo fenômeno ocorrer ou não. No caso da busca de um conhecimento mais seguro das áreas mais provavelmente sujeitas a secas, por exemplo, no sertão baiano, podemos elaborar dois tipos de mapas, capazes de responder às seguintes perguntas:

1. Qual é a probabilidade de anos com precipitações abaixo de determinado valor de chuva?

2. Qual é a precipitação anual de dado posto, que provavelmente não seja ultrapassada em uma porcentagem prefixada de anos?

Para responder à primeira pergunta será feito o mapa de isolinhas entre os valores de cada posto da probabilidade de anos com precipitação anual abaixo de certo valor.

(Fig. 119)

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Para responder à segunda, será elaborada a representação isarítmica dos valores de chuva de cada posto que provavelmente não seja ultrapassada em certa porcentagem dos anos da série.

(Fig. 120)

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Uma outra categoria de novas representações, a nosso ver, é a cartografia coremática. Esta cartografia foi idealizada por BRUNET (1980), fundamentada na teoria dos Coremas, formulada pelo mesmo autor. Um corema (do grego "choros", região geográfica, e do sufixo "ema", empregado sistematicamente em lingüística) é uma estrutura elementar do espaço que, em combinação com outras, pode constituir um modelo. Para modelizar o espaço é necessário procurar suas estruturas e suas dinâmicas fundamentais. O corema deve assim, significar. Ele é signo com uma forma e um significado. O significado será o mecanismo que está em jogo. Desta feita, a aplicação de um corema para representar o essencial da organização de uma estrutura espacial tem sentido, podendo revelar um processo, um arranjo. Com esta modelização gráfica fundamentada no conceito de corema, o citado autor entende que é possível construir o mapa - modelo, capaz de oferecer uma eficaz interpretação e representação dos espaços, distribuições e dinâmicas geográficas. Não se mostraria, mas também explicaria. Defende ainda, o mesmo pesquisador, que com esta lucubração promoveríamos o surgimento de uma nova linguagem cartográfica. Neste sentido, a linguagem do mapa não estaria no código exposto mediante a legenda, mas sim nas estruturas das distribuições e das organizações espaciais contidas na representação (BRUNET, 1986).

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Uma experiência feita com alunos do ensino fundamental revela que os estudantes conseguem combinar facilmente Coremas na elaboração de um mapa-modelo representativo da estrutura espacial de uma paisagem urbana conhecida e vivenciada por eles (CLARY et al, 1986).

(Fig. 121)

Esta linha de pesquisa incentivou THERY (1986) a publicar um Atlas coremático para o Brasil, no qual aborda vários temas analíticos, elaborando sínteses pertinentes.

Junto a recentes pesquisas assistimos também a uma busca voltada às possibilidades de conceber uma expansão da estrutura teórica colocada por BERTIN

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(1973), passível de ser aplicada às representações que interessam à cartografia mediante signos e sinais relacionados a todos os sentidos humanos.

VASCONCELLOS (1993) estudou as possibilidades da equivalência das variáveis visuais de BERTIN (1973) para deficientes visuais.

Mac. EACHREN (1995) considera que o som também pode encontrar equivalentes nas variáveis gráficas e dinâmicas do sistema visual.

Por sua vez, KIMERLING e BUCKLEY (1997) conduziram experimentos com mapas coropléticos com o fim de lhes aplicar variáveis de olfato e paladar para tais representações.

Outra vertente desta extensão é a adequação da estrutura das variáveis visuais estipuladas por BERTIN (1973) às animações cartográficas. Nestas, acrescentamos a dimensão tempo. Nela, certo número de variáveis pode ser lucubrado para serem aplicadas no controle da animação. Chamar-se-iam de variáveis dinâmicas. Várias tentativas já foram feitas no sentido de se estabelecer uma adequada sintaxe. Entretanto, segundo os pesquisadores envolvidos, persistem ainda pontos questionáveis.

Mac. EACHREN (1995) estabeleceu uma sintaxe para as variáveis visuais dinâmicas. Partiu do pressuposto de que a dinâmica espacial pode ser vista como mudanças nas características dos objetos espaciais ao longo do tempo; e que a maneira de melhor visualizar tais objetos em seus contextos espacial e temporal seria através das animações.

A grande vantagem está no fato que os usuários não precisam comparar os vários mapas individuais em seqüência temporal e confiar na dedução da memória para obter a apreensão das mudanças. A dinâmica seria vista diretamente.

Mac. EACHREN (1995) define as variáveis visuais dinâmicas da seguinte maneira:

1. início das mudanças;2. seqüência ordenada das cenas;3. duração do intervalo de tempo entre duas exposições seguidas;4. número de cenas por unidade de tempo;5. diferença entre ordens de grandeza das mudanças por unidade de

tempo;6. sincronização entre os andamentos de duas ou mais séries.

Para a sua sintaxe, o mesmo autor organiza um quadro de acordo com a respectiva eficácia: boa, marginal, precária. Adverte, ainda, que o esquema não pode ser usado do mesmo modo que fazemos com as variáveis visuais, pois os níveis de mensuração não se referem aos atributos dos objetos a serem representados, mas sim ao efeito da variável.

(Fig. 122)

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Assim, o "início da mudança" é um efeito que está na escala nominal: ele começa ou não. A "sincronização" também se desenvolve em escala nominal: está ou não em fase. A "duração" pode ser medida em escala ordinal ou razão.

Hoje estamos diante de uma verdadeira cibercartografia, uma cartografia que iria além da cartografia digital, aplicando-a a um espectro de temas bem mais amplo do que aqueles explorados até atualmente. Mobilizará um número cada vez maior de novos meios e rede de telecomunicação. Ao explorar novas formas de multimídia se tornará uma cartografia multidimensional e amplamente interativa (TAYLOR, 1994).

Entretanto, a relação entre a cartografia e a cibernética já fora notada há um bom tempo. RIMBERT (1968) salientava na época, que os computadores trariam uma revolução na lucubração intelectual, encarregando-se do trabalho subalterno aliviando o pesquisador destas tarefas mecânicas.

Vislumbrando esta relação entre o trabalho intelectual soberano e aquele subalterno, WIENER (1948) propôs chamar a ciência que estuda o uso das máquinas capazes de interpretar e de transmitir ordens de "Cibernética". MORRIS (1955), em sua teoria geral dos signos, vislumbrara a semiótica constituída de três grandes áreas: a lógica simbólica - o estudo de linguagens formais e matemáticas; a lingüística - o estudo da comunicação entre os homens; e a cibernética - o estudo da comunicação entre o homem e a máquina, ou entre máquinas. Nascia, assim, um contexto de relações no qual se inseria também a informática, que desde 1962 é considerada como a ciência que tem por objeto o estudo das técnicas e dos métodos de tratamento lógico e automático da informação.

Nos dias de hoje, embora estejamos mais habituados a manusear e trabalhar com mapas impressos, os mapas fugitivos expostos pelo monitor via aplicações

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computadorizadas, apresentam enormes possibilidades interativas, superando em muito qualquer artifício para tanto, que possa ser empreendido com os primeiros. Entra assim em cena a interface do usuário, considerada na atualidade como um novo ramo da cartografia. Neste contexto, os mapas visualizados por meio do monitor adquirem as seguintes novas propriedades:

. Dinamismo - o mapa pode mudar ao longo do tempo;

. Interatividade - o mapa pode reagir às ações impingidas pelo usuário;

. Modificabilidade - o usuário pode modificar o mapa;

. Multimídia - novas formas de comunicação podem ser acrescentadas;

. Comunicação esquemática - o mapa não necessita ser preciso.

Junto a este ambiente interativo surgem, nos dias atuais, as técnicas de hipermídia. Nesta aplicação teríamos uma coleção de pacotes de informações, os quais podem ser conectados entre si com o fim de organizar a informação em constructos semânticos. Podemos, assim, fazer conexões e navegar através do material armazenado em vários meios: textos, gráficos, som, música, vídeo, etc. Todas estas atividades poderão ser exploradas para produzir bons Atlas eletrônicos com fins educacionais (ARTIMO, 1994) (LINDHOLM e SARJAKOSKI, 1994).

Os Atlas eletrônicos constituem um promissor filão da cartografia temática com amplas possibilidades de desenvolvimento em ambientes interativos de hipermídia. Eles constituem uma nova forma de representação cartográfica para ser desenvolvida na mídia eletrônica, contando para tanto, com a vantagem de explorar mapas dinâmicos mediante a visualização de fenômenos dependentes do tempo, o que é feito através do emprego da animação. Em geral, tais Atlas baseiam-se no conceito de Sistema de Informação Geográfica (SIG). Com esta estruturação é possível ampliar em muito a capacidade de trabalhar com dados e informações. Pode-se também contar com ampla gama de funções cartográficas para a elaboração dos mapas, além de oferecer alto desempenho na análise cartográfica interativa.

Além de contarem com várias funções básicas, como a apresentação contínua de janelas selecionadas a partir de um mapa completo, a possibilidade de evidenciar detalhes cartográficos solicitados por intermitência luminosa, a animação e a interatividade, oferecem uma ampla gama de análises numéricas. Elas são: a análise de superfícies de tendência, análise de redes e modelos de simulação. Estes últimos, em particular, permitem reconstruir novas distribuições hipotéticas simulando vários cenários e revelando as implicações das decisões tomadas.

Esta tecnologia teve início no Canadá, Suécia e Países Baixos, junto à produção de seus Atlas nacionais. Teve forte repercussão, aquele do Canadá, estabelecendo até mesmo uma linha de orientação metodológica, a parir de 1980.

A Espanha lançou um de seus Atlas regionais em 1993 - o "CD Atles de Catalunya".

O Brasil já conta também com um Atlas eletrônico, senão completo, porém, seguindo aproximadamente, numa edição mais simplificada, a mesma linha de raciocínio. Trata-se do "Atlas Melhoramentos Brasil". (MELHORAMENTOS/IBGE, 1998).

Podemos notar nesta nova concepção de Atlas uma nítida volta e reafirmação da proposta neopositivista. Embora a parafernália da informática apregoe uma socialização do saber, a abordagem dos conteúdos ficará vinculada aos ditames do positivismo lógico, correndo o risco de se afastarem da verdadeira concretude dos objetos de estudo.

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Outro desafio da cartografia atual é o atendimento à cobrança de representações compatíveis com a tridimensionalidade e até mesmo multidimensionalidade da realidade percebida, vivida e experimentada. A natureza multidimensional das questões ambientais pode contar hoje com o desenvolvimento de visualizações computacionais inovadoras.

Pelo fato dos sistemas ambientais serem dinâmicos, modelos espaciais poderão ser desenvolvidos para simularem impactos e interações, preverem situações futuras e avaliar mudanças em função do tempo. As necessidades de análise, interpretação e transcrição das informações acerca desses fenômenos, abrem um campo de pesquisa voltado à criação de novas representações, enriquecendo assim, as possibilidades hodiernas da cartografia ambiental (KOUSSOULAKOU, 1994).

Portanto, a era da informática poderá nos proporcionar grande agilidade para trabalhar com mapas, temáticos analíticos com apenas um atributo, temáticos analíticos com superposição ou justaposição exaustiva de muitos atributos (mapas compostos), sejam estáticos como dinâmicos. Também para operar com mapas de síntese, tanto em modo estático como dinâmico isto é, animados, além de permitir atuar com mapas perspectivos (isométricos), sejam configurados em duas ou três dimensões (bloco-diagramas), tanto para a superfície do terreno como para superfícies estatísticas, ambas rotacionáveis. Desse modo, estes últimos, possibilitariam a observação a partir de diferentes pontos de vista com animação ou não, nas variadas alternativas de janelas, com ou sem zoom (variação de escala), sobre o monitor do computador. Em ambiente de SIG, Multimídia e Hipermídia interativos, todas estas representações podem ser analisadas, comparadas e trabalhadas para gerar simulações ou elaboradas com fins educacionais.

Com a passagem dos dispositivos de visualização passiva para aqueles interativos, haverá um deslocamento do eixo central da configuração metodológica da cartografia. Enquanto que no processo tradicional de comunicação cartográfica a mensagem fica conhecida mediante o mapa, nos sistemas interativos baseados nos modelos de visualização, a mensagem é desconhecida. O usuário se tornará um analista e o sistema o assistirá através da visualização dos dados disponíveis e da experiência e conhecimentos já adquiridos pelo leitor (ARTIMO, 1994).

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As representações gráficas como mapas temáticos são constructos sociais de criação bem recente, muito embora com embriões instalados em diversos momentos da história do saber cartográfico, que no início se confundia com o saber geográfico.

Para entender como se deu esta transformação, sua consciente sistematização e vislumbramentos para ao futuro próximo, necessitamos de uma reflexão que siga os passos do desenvolvimento da cartografia, desde os primórdios da humanidade até os nossos dias, em todas as culturas.

Ver a cartografia temática brotar de uma cisão da cartografia, como um corpo de saberes estratégicos, é temerário. Tanto na visão de PALSKI (1996), que entrevê uma paulatina transformação, como naquela de PETERS (1992), que considera a concepção do ramo temático em contraposição àquele topográfico como um mito cartográfico, a subdivisão da ciência dos mapas não foi um rompimento traumático.

Como em toda a produção do saber, também a cartografia teria seus grandes avanços nas inovações em estreita consonância com as mais significativas transformações da vida material da sociedade. Este desenvolvimento, portanto, não pode ser entendido nem explicado fora do contexto do processo de desenvolvimento das forças produtivas e relações de produção.

Em todos os cantos do mundo, junto a todas as civilizações, existiram sempre primórdios de elaborações de estruturas abstratas para representar o espaço do homem, desde o início de sua presença na Terra.

Dos momentos das sociedades mais primitivas, mesmo em seus mais baixos níveis do desenvolvimento social há legados que os confirmam como constructos tidos formas de interpretação para satisfazer necessidades humanas. Neles, podem-se ver, de certa forma, os primórdios de determinadas lucubrações temáticas.

O primeiro grande passo na concepção da cartografia foi, sem dúvida, a representação da Terra concebida como sólido de forma esférica mediante projeção com paralelos e meridianos pelos gregos.

Com Ptolomeu temos uma geografia que era cartografia e uma cartografia que era cartografia temática. Sua obra, "Tratado de Geografia", o atesta.

Os romanos serviram-se desses mapas para finalidades bélicas e administrativas. Em função das exigências da vida econômica e política de Roma, dependente das comunicações e transportes, assiste-se a uma incisiva transformação da cartografia: as relações espaciais euclidianas são substituídas pelas relações topológicas, tidas como básicas e suficientes para a aplicabilidade dos mapas às viagens por todas as rotas do império. Surge assim, a "Tábua de Peutinger". Um ancestral do mapa turístico, uma temática bastante em voga na atualidade.

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Com a Idade Média não podemos falar de qualquer incursão pelos mapas temáticos. A passagem da ordem social escravista para a feudal acabou quase os negligenciando.

É com o Renascimento, época que começam a surgir as relações capitalistas, que se dá um grande avanço nos conhecimentos cartográficos de forma sistemática e científica. Com o desenvolvimento do comércio dá-se um passo decisivo para os mapas voltados à navegação: os portulanos. Verifica-se assim, uma cartografia mais voltada aos fins práticos do que dedicada a temáticas de estudos científicos.

Com a decomposição do feudalismo e afirmação do poder unificado pelas monarquias, iniciam-se levantamentos cartográficos sistemáticos dos territórios.

Junto ao estímulo dado à ciência dos mapas pelos grandes descobrimentos dos séculos XV e XVI assiste-se a um enorme salto na produção da cartografia científica: a elaboração da projeção cilíndrica conforme para a representação da Terra toda em planisfério por Mercator.

Com o amplo desenvolvimento das relações capitalistas no mundo de então, passa-se a exigir mapas mais apurados bem como novos tipos destes com o fim de atender os levantamentos sistemáticos com princípios matemáticos.

Com o estabelecimento da política colonial pelos estados europeus desenvolve-se a cartografia das colônias, onde se pode constatar a necessidade de representações temáticas.

É no fim do século XVI que podemos ver se esboçar o aparecimento de uns primeiros mapas temáticos representando assuntos selecionados com fins aplicativos. Porém, sua afirmação definitiva se dá no fim do século XVIII com a sistematização dos vários ramos de estudos consolidados a partir de uma divisão do trabalho científico. Passamos a assistir a um paulatino acréscimo de tematismos à cartografia topográfica eminentemente analógica tomada como base. Esta nova vocação vai se desenvolvendo de forma a romper os liames com o mundo visível, buscando a exploração da variação perceptiva em terceira dimensão visual dissociada do espaço bidimensional intrínseco ao mapa como figura do terreno.

Assim, ingressando no século XIX vai se firmando cada vez mais a conscientização de que a representação do tema deve ser vista como forma de evidenciar a relação entre os significados dos signos, base fundamental para a elaboração de uma sintaxe para a linguagem desta cartografia emergente.

Esboçam-se assim os alicerces para uma metodologia que vai se estruturando com a passagem das representações nitidamente qualitativas e ordenadas para aquelas quantitativas. Nesse sentido, o fim do século XIX é bastante rico em novas lucubrações para estas representações. Ao ingressar no século XX já contamos com a sistematização de todos os métodos da cartografia temática, assistindo apenas às reformulações na forma de entender a cartografia e estabelecer uma metodologia dentro de paradigmas coerentes com os diferentes avanços científicos, tecnológicos e informacionais deste recente período histórico.

O único método de representação temática inventado, constituindo um verdadeiro avanço do presente século, foi o da distribuição regular de pontos de tamanhos crescentes, devido a BERTIN (1943; 1977), resolvendo plausivelmente a representação quantitativa de fenômenos com manifestação zonal avaliados por dados discretos.

Dentro deste contexto, o paradigma semiológico parece-nos o mais promissor para a consciente adequação da cartografia temática aos ditames científicos, tecnológicos e informacionais, que se fará no próximo milênio.

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Tomamos esta postura, pois vislumbramos o entendimento do mapa temático dentro desate raciocínio de uma maneira completamente desprendida dos arcaicos ditames presos às convenções cartográficas.

Quem lucubrou todo um arcabouço teórico-metodológico para a construção de uma cartografia temática completamente liberta da camisa de força dos aspectos convencionais foi BERTIN (1973) e seus colaboradores. O grande mérito de sua obra, além de ditar as bases para uma semiologia gráfica, foi o de pensar a construção o mapa temático como uma imagem livre de sua fixidez e trabalhada com um raciocínio ao nível das operações lógicas.

Foi uma pena que sua idéia não tenha sido amplamente encampada e divulgada junto ao meio científico, cultural e educacional desse fim de século. Ao examinarmos os atuais softwares, tanto para a cartografia temática e SIG's como para os Atlas eletrônicos, podemos lamentar esta falta de entendimento, o qual poderia ter sido explorado ao extremo, aproveitando as potencialidades da informática do nosso dia-a-dia. Os mapas não seriam apenas exercícios de manovrar convenções e os Atlas eletrônicos trabalhariam ao nível do raciocínio lógico.

Recentemente despontou outra linha de pensamento cartográfico, porém voltado a uma ampla exploração das possibilidades oferecidas pela informática. A questão metodológica agora mudou de rumo. Discutem-se novas cartografias a partir da facilidade oferecida em contornos com dados georreferenciados. Elas estariam fundamentadas na valorização dos padrões espaciais que os atributos constroem, atentando para o respectivo aspecto morfológico, em vez de ficarmos apenas presos às constatações das distribuições geográficas.

De consistência bastante rica, novas possibilidades poderão ser trabalhadas através de: transformações temáticas que poderão ser lucubradas sobre os atributos de lugares, as generalizações e as simulações (RIMBERT, 1990).

Como uma outra categoria de novas representações, incluiríamos também a cartografia coremática proposta por BRUNET (1980), fundamentada na teoria dos Coremas. Seria uma modelização gráfica capaz de oferecer uma eficaz interpretação e representação dos espaços, distribuições e dinâmicas geográficas.

Novas perspectivas dirigiriam-se ainda, para uma expansão da estrutura teórica estabelecida por BERTIN (1973), possível de ser aplicada às representações que interessam à cartografia, mediante signos e sinais relacionados a todos os sentidos humanos. Assim, hoje, existem experimentos para a equivalência das variáveis visuais para a deficiência visual para o som, olfato e paladar (VASCONCELLOS, 1993) (MAC. EACHREN, 1995) (KIMERLING e BUCKLEY, 1977).

Outra vertente desta extensão é a adequação da estrutura das variáveis visuais às animações cartográficas (Mac. EACHREN, 1995).

Por fim, temos consciência de estarmos diante de uma verdadeira cibercartografia, a qual irá mobilizar um número cada vez maior de novos meios e redes de telecomunicação e explorar novas formas de multimídia, transformando a tradicional cartografia, muitas vezes desacreditada, numa cartografia multidimensional e amplamente interativa (TAYLOR, 1994).

Neste ambiente interativo podemos contar com as técnicas de hipermídia, permitindo conectar entre si uma grande multiplicidade de pacotes de informação, com o fim de organizar esta última em constructos semânticos.

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Outro desafio para a cartografia atual é cobrança de representações compatíveis com a tridimensionalidade e, até mesmo, multidimensionalidade da realidade. Há uma sensibilização cada vez maior neste sentido.

Podemos notar também que, com a passagem dos dispositivos de visualização passiva para aqueles interativos, os estudiosos estão prevendo um deslocamento do eixo central da configuração metodológica da cartografia: enquanto que tradicionalmente a mensagem ficava conhecida através do mapa, na interatividade a mensagem permaneceria desconhecida. O usuário se tornará um analista para que, assistido pelo sistema possa adquirir compreensão (ARTIMO, 1994).

É neste ponto que entrevemos o início de uma nova era para a sistematização de uma metodologia para a cartografia coerente com todas novas perspectivas que a tecnologia está oferecendo.

Ao nos propormos a fazer esta reflexão sobre o mapa temático procuramos mostrar que esse enfoque vai buscar sua consistência de início, no conviver praticamente uno entre a geografia e a cartografia. Este coexixtir, depois, pareceu-nos apresentar um divórcio cada vez maior em consonância com a evolução e confirmação de cada ramo científico junto às transformações da sociedade, principalmente entre o fim do século XVIII e o início do século XIX.

Muito embora, em certos momentos do desenrolar da história do pensamento geográfico tal representação possa ter ficado num plano secundário, os progressos da informática possuem excelentes chances para garantir ao mapa temático seu verdadeiro valor informacional, podendo transcender a informação em si para participar do processo do conhecimento, almejando a total compreensão da realidade concreta.

Nosso objetivo foi, portanto, de participar da construção de um raciocínio metodológico em prol da defesa do mapa temático como representação gráfica da geografia, entrevendo-o como um constructo capaz de promover a cientificidade deste ramo do saber.

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