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Universidade Presbiteriana Mackenzie Língua e Cultura Latina I Profª. Drª. Elaine C. Prado dos Santos Apostila de Língua e Literatura Latina

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

PAGE Universidade Presbiteriana Mackenzie56Lngua e Cultura Latina

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Lngua e Cultura Latina I

Prof. Dr. Elaine C. Prado dos Santos

Apostila de

Lngua e

LiteraturaLatinaSo Paulo

2008 SUMRIO

1. Apresentao 3Literatura

3Grcia

3Uma religio antropomrfica

3O culto aos deuses 3Mitologia

42. A Religio 4A religio entre gregos e romanos 4A religio romana

53. Deuses 6Homem e Mito: A alvorada e o crepsculo dos deuses 6Os mistrios celestes tm um Intrprete: o Sacerdote 7O Olimpo: deuses e semideuses 7Uma tragdia csmica: Saturno devora os filhos 8Mtis, quem era ela? 9Zeus, o pai e o senhor dos deuses e dos homens 9Palas Atena ou Minerva Armada 10Hera, a romana Juno, a Prima-Dona do Olimpo 10Apolo, ou o Iluminante 11rtemis, ou Diana, a virgem exterminadora de mil homens 12Afrodite, a deusa do amor. 134. Noes Histricas 14A fundao de Roma e a realeza 14A repblica romana e as lutas internas 16Instituies romanas 175. A Lngua 21A lngua latina 22O Latim e a expanso romana 22Latim literrio e Latim vulgar 23As Lnguas romnicas 24A romanizao da Pennsula 256. Morfologia dos substantivos e dos adjetivos 25Introduo s declinaes 25Gneros. 25Terminao 25Casos e declinaes 25

7. Primeira Declinao 26 Primeira declinao 26Frases: traduo, anlise de caso e funo 27Verbo - 1. conjugao - presente do indicativo 28Verso 29Traduo, anlise de caso e funo II: 30 I - A descoberta do mundo antigo 30II - Italia, Graecia, Gallia 30III - Roma antiqua 31Exerccios morfolgicos 318. Segunda Declinao 33Segunda declinao 33 Algumas observaes sobre a segunda declinao 34 Frases: traduo, anlise de caso e Funo 38

VII - De Vita Rstica 39Exerccios morfolgicos 39Bonus, Bona, Bonum 41Pronomes 439. Voz Passiva - Agente da Passiva 45Voz passiva e Agente da passiva 45Exerccios 4810. Sintaxe 50Sintaxe elementar dos casos 5011. Vocabulrio 5312. Bibliografia 56APOSTILA DE LNGUA E CULTURA LATINA I1. APRESENTAOLiteratura

Literatura, nome tirado do latim littera, letra, o conjunto das obras escritas de uma nao, ou ainda, de determinada poca, notveis pela beleza da forma e a sublimidade do pensamento.

Grcia

A Grcia uma pennsula localizada ao sul dos balcs. Primeiros povos: Aqueus, Drios, Jnios e Elios. Eles diziam descender de Hlen, deusa que escapara do dilvio, por isso chamamos os gregos de helenos. Adoravam inmeros deuses como: Jpiter, Atenas, Dionsio, Hera e Posseidon. Todo o desenvolvimento da Grcia girou em torno das cidades: Tebas, mas principalmente de Esparta e de Atenas. Cada uma formava um Estado independente, com leis e organizao prpria. A Grcia considerada o bero da civilizao; sim, por que ali, todas as cincias, artes, letras e filosofia tiveram impulso. Notamos nesse longo perodo, o aparecimento de grandes pensadores: Scrates, Plato, Aristteles, Xenfanes, Parmnides. Nas artes: Fdias, Miron, Polcreto. Em sntese, tivemos um cu onde brilharam milhares de estrelas, cujo brilho ilumina nossas mentes.

Uma religio antropomrfica

O antropomorfismo religioso desenvolveu-se muito entre os gregos. Para eles, os deuses tinham forma humana e eram imortais.

Muito embora fossem politestas, os gregos tinham um deus mais importante. Zeus era o maior e mais importante de todos os deuses, o senhor do mundo.

Zeus vivia com sua famlia no monte Olimpo. Onde tambm vivia Hera, sua mulher, Ares, o deus da guerra, Hermes, o deus do comrcio, Apolo, o deus do Sol e das artes, Afrodite, a deusa do amor, Artemis, a deusa das florestas e das montanhas e Atena, a deusa da inteligncia.

Alm do culto aos deuses, os gregos faziam o culto aos heris, uma espcie de intermedirios entre os deuses e os gregos.

O culto aos deuses

Os deuses gregos eram cultuados na famlia, na cidade e nas colnias. Onde o grego estivesse morando, l estavam seus deuses. No se concebia a presena de um grego sem a presena dos deuses e dos seus heris.

Em cada famlia havia um culto particular. Prximo ao altar, representando a famlia e os antepassados, havia um fogo permanentemente aceso.

O culto tambm aparecia na cidade, onde os cidados construam templos para os deuses. O mesmo acontecia nas colnias, onde o culto permanecia vivo no seio da famlia.

Mitologia

A Grcia Clssica produziu uma das maiores, seno a maior florao cultural da Antigidade no mundo ocidental.

Suas artes, sua filosofia, sua literatura so de to alto nvel que at hoje servem no s de referncia e comparao como tambm de inspirao para as escolas surgidas posteriormente.

Sabemos que os estados gregos, por sua rivalidade procura da hegemonia, entraram em conflitos que os enfraqueceram, levando-os exausto e finalmente s mos dos povos brbaros macednios.

Mais tarde caram sob o poderio do Imprio Romano (146 a.C.).

nessa poca que comea a histria da literatura latina.

Antes dessa poca os latinos haviam produzido alguma coisa em matria de literatura: dilogos acompanhados por msica e bailados, cantos sacros, versos com metrificao pesada, versos satrnios.

Em contato com os gregos vencidos que, aprisionados foram a Roma como escravos, os romanos conheceram a cultura grega e dela se inspiraram para criar suas obras literrias.

Desse modo, enquanto a Grcia levou sculos para amadurecer sua cultura, estabelecendo perodos entre a criao dos vrios gneros, as epopias de Homero datam de 1.000 a.C., enquanto as tragdias foram compostas entre 500 e 300 a.C., os latinos, a partir da conquista da Grcia, receberam de uma vez todas essas manifestaes artsticas, literrias e culturais.

No comeo, os escravos gregos, tornados professores, traduziram para o latim as principais obras gregas. Mais tarde, os prprios latinos, a partir das obras gregas, passaram a criar, ou imitando-as fielmente, ou atravs da contaminatio (reunio de vrias obras para criar uma nova), ou apenas inspirando-se nelas, como o caso dos escritores que viveram no perodo ureo da literatura latina.

Depois que a Grcia passou para o domnio da Macednia, foi criado um novo centro de cultura, a Alexandria, da qual se originou a Escola Alexandrina, escola cujos cnones se opunham aos do Classicismo Grego. Essa escola potica, de carter popular, criou novos gneros literrios, mais curtos, mais leves, como a elegia amorosa, que teve grande desenvolvimento em Roma, na poca de Augusto, produzindo obras de valor.

2. A RELIGIOA religio entre gregos e romanos:Hesodo foi um poeta grego, nascido em Ascra, na Becia, entre os sculos VIII e IX a.C. Escreveu, entre outras obras, uma Teogonia, poema sobre as origens dos deuses. Na Teogonia de Hesodo, h a reunio de diversos mitos e lendas sobre deuses gregos.

Diferenas entre Mito e Lenda:

O Mito tenta explicar e decifrar o mistrio e o significado das fbulas. A Lenda a histria dos feitos praticados por santos e heris, da tradio oral ou escrita, atravs dos tempos.

Segundo a Teogonia de Hesodo, Cronos e Ra (sua mulher) eram Tits, (gigantes), nascidos do Cu e da Terra e provenientes do Caos.

Alm desses Tits, havia outros: Jpeto, Atlas, Oceano, etc.

Cronos, que era dono do mundo, para evitar que os filhos o destronassem, comia todos os filhos vares.

Zeus, um dos filhos de Cronos, conseguiu sobreviver auxiliado pela me, a qual fez com que Cronos engolisse uma pedra envolvida em panos em vez do filho. Zeus cresceu numa gruta na ilha de Creta. Quando se tornou jovem, Zeus destronou Cronos e outros Tits. Fez Cronos vomitar os outros filhos que havia engolido e partilhou com seus irmos Possidon e Pluto o domnio do mundo.

Quanto aos outros Tits, receberam penalidades diversas: Atlas foi obrigado a carregar o mundo; outros Tits foram precipitados nos Infernos, que era o lugar para onde iam os mortos. Os bons iam para os Campos Elsios e os rprobos para o Trtaro.

Zeus casou-se com Hera e teve grande nmero de filhos tambm com outras deusas.

Zeus tornou-se o deus do cu, pai dos homens, dos outros deuses, era tambm deus do raio, das noites, das nuvens, protegia as colheitas. Castigava o que violavam a justia e prejudicavam as sociedades humanas como a famlia e a ptria. Morava com os outros deuses no Olimpo.

Zeus partilhou o mundo com seus irmos: Possidon, que se tornou o deus dos mares e oceanos, Pluto, deus subterrneo das riquezas e dos mortos.

A religio romana

A religio romana aponta influncias sofridas desde tempos remotos de vrios povos. Devido essa mltipla origem, encontramos na religio romana cultos diferentes, at opostos que persistiram atravs dos sculos. Assim havia o costume de enterrar os mortos com oferendas para aplac-los, costume herdado dos lgures, na crena de que os mortos permaneciam entre os vivos. Ao lado deste, havia o costume de incinerar os mortos, de origem indo-europia, na crena de que os mortos se reuniriam aos deuses. Havia cultos agrrios, herdados dos sabinos e cultos celestes, indo-europeus. Finalmente, houve o entrosamento da religio romana com a grega em poca posterior, quando a Grcia foi conquistada pelos romanos.

Os primeiros sentimentos religiosos dos romanos esto no culto do lar e dos antepassados. Da nasceu a famlia, unida pela religio.

Desde o tempo mais antigo, havia na entrada de cada casa romana um altar onde ardia o fogo sagrado, que era conservado dia e noite e ao qual eram oferecidos incenso, vinho, flores e frutas. Havia tambm os Penates, nos quais estavam includos os cultos aos mortos para que tivessem paz na outra vida.

Entre os deuses venerados pelos romanos desde pocas mais remotas, esto: Ceres: deusa cultuada em grande parte da Itlia. Protegia a agricultura e a fertilidade, foi assimilada a Demeter, divindade grega da agricultura.

Jano: deus das portas, das encruzilhadas, das passagens. No tempo de Cicero, seu nome era invocado ainda no comeo das preces. O sacerdote de Jano era o primeiro dos sacerdotes.

Juno: no incio protetora das mulheres, velava pelos nascimentos e casamentos. Mais tarde foi identificada Hera grega e foi considerada esposa de Jpiter.

Lares: identificados com os Manes (as almas dos mortos). Eram, no incio, protetores da propriedade rural, velando pela fertilidade dos campos. Mais tarde, os Lares passaram a receber o culto domstico.

Jpiter: era a grande divindade dos romanos. Foi cultuado, desde os tempos mais remotos, em muitas cidades. Regia os fenmenos atmosfricos: luz. Foi identificado com Zeus.

Saturno: deus itlico. Refugiou-se na Itlia, quando foi expulso pelo filho. Governou o Lcio, onde fez reviver a Idade de Ouro. Foi identificado com Cronos.

Marte: deus que presidia a todas as atividades humanas essenciais e tambm guerra. Identificado como Ares grego.

Vesta: divindade oficial, cujo fogo era mantido pelas Vestais.

Minerva: divindade itlica, que presidia inteligncia, s artes, indstria. No Capitlio, seu templo principal situava-se junto a Jpiter e Juno. Foi identificada com Palas Atenas.

Vulcano: deus do fogo e do metal, identificado com Hefastos.

Vnus: deusa do amor entre os latinos. Simbolizava a fecundidade da natureza. Apesar de identificada Afrodite grega, deusa da beleza e do amor, conservou muitas de suas caractersticas prprias e possua muitos templos em Roma.

Cupido: deus do amor, filho de Vnus, identificado com Eros.

Diana: divindade itlica, deusa das montanhas e dos bosques. Foi identificada a rtemis, deusa grega da caa.

Baco: deus do vinho de culto itlico e mais tarde identificado com Dioniso grego.

Netuno: deus do mar, identificado com Possidon.

Alm desses deuses, durante a helenizao romana, foram trazidos da Grcia, mais alguns deuses. Esses deuses importados da Grcia e outros genuinamente latinos constituram a religio oficial no tempo de Augusto. O pontifex Maximus restaurou templos, restabeleceu antigos cultos e cerimnias e mobilizou poetas para que buscassem inspirao nos motivos religiosos.

Augusto, ao incrementar a religio, visava restaurao de costumes, da autoridade, da paz, com vistas em prprio poder.

Os romanos tambm receberam cultos vindos de outros lugares: do Egito receberam sis e Cibele; da Babilnia, Mitra.

3. DEUSESHomem e Mito: A alvorada e o crepsculo dos deuses

Onde esto os deuses, os felizes habitantes do cu, que o homem chamava de imortais Jpiter, pai e patro, ou a sbia Minerva, o astuto Mercrio ou o belicoso Marte, a sedutora Vnus, ou Ceres, me fecunda Desapareceram. No esto mais no cu nem na terra. Refugiaram-se dentro de ns, como a lembrana de um mito, ou de uma linda fbula, em que cada um deles antecipava algo nosso, no bem e no mal.

Com efeito, mito quer dizer conto. No tempo de Homero designava um discurso genrico e somente mais tarde, quando o Olimpo estava se apagando como um cu estrelado com a proximidade da alvorada, essa palavra passou a significar um conto sobre a divindade, uma histria que envolvia cu e terra, os celestes e os mortais.

A origem do mito perde-se na noite da pr-histria, mas coincide, pelo menos virtualmente, com um acontecimento de extraordinria importncia no longo caminho da evoluo humana. O homem, at ento aterrorizado e subjugado pelas foras da natureza, compreende que o raio incendirio, o tornado, o mar tempestuoso ou o sol que escurece no meio do cu tm uma causa, obedecem a uma lei misteriosa e poderosa da qual depende a vida de tudo e de todos.

A partir desse momento comea a lenta vitria da inteligncia humana sobre o medo milenar da escurido e da morte; o caos, o cego aglomerado da matria primordial, anima-se e toma forma, torna-se um universo ordenado onde cada fora csmica recebe um nome e uma funo.

Para a fantasia primitiva, frvida como a de uma criana, Urano o cu, aquilo que est em cima, e Gaia (ou Gia), a terra que est embaixo, enquanto Eros o palpitar que distende o corpo, o fogo do amor. Do Caos, como relata Hesodo, o antigo narrador desses acontecimentos prodigiosos, consolida-se o rebo, smbolo das trevas eternas, enquanto o Dia se separa da Noite. Urano junta-se ainda Terra e ao Mar, e o Universo se povoa de seres divinos.

Agora o homem no est mais s. Ele sabe que em cada fenmeno da natureza escondem-se presenas sobre-humanas; aprende a reconhec-las e a cham-las pelo nome, e oferece sacrifcios e preces para merecer proteo.

Surgem os primeiros templos e os primeiros altares; nasce o culto sagrado.

Os mistrios celestes tm um intrprete: O Sacerdote

3 claro que nem todos os homens compreendem que o trovo ou o terremoto so fenmenos naturais. Quem intui tudo isso um privilegiado, um indivduo que se qualifica entre todos os seus semelhantes como o mais inteligente e perspicaz, um precursor que enxerga e conhece aquilo que os outros ignoram e temem. Para ele fcil, portanto, impor-se ao cl ou tribo, tornando-se o intrprete desses fenmenos celestes ou terrestres que aterrorizam os outros. As foras invisveis encontram nele um porta-voz necessrio e insubstituvel, e as leis da natureza tornam-se cincia; mas uma cincia secreta, que se transmite dentro de uma casta sacerdotal rigorosamente selecionada. O templo nasce, assim, de um recinto primitivo de plantas ou de pedras, para onde o sacerdote - mago se aparta com seus discpulos para esquivar-se dos olhares curiosos da tribo. Um pequeno bosque silencioso s margens da comunidade, ou um cubo de pedras, aberto no alto, em que se queimam folhas aromticas e se oferecem primcias ao Nume invisvel; uma pedra no centro - a ara do sacrifcio - sobre a qual se imola um manso cabrito ou um touro indomvel para dedicar aos deuses as vsceras fumegantes: desses ritos primitivos, por conseqncia natural, chega-se ao clssico templo erguido na parte alta da cidade, como o marmreo Parternon, ornado com esttuas pintadas.

O Olimpo: deuses e semideuses

Esse mundo ideal, visvel apenas aos olhos fechados, no pode estar na terra nem suspenso no ar, e os sacerdotes dizem que ele se encontra num pico da Tesslia, chamado Olimpo, cercado de brancas nuvens, arejado por tpidas brisas e de onde se pode manter sob controle toda a Terra.

Mas, olhando para baixo, e interessando-se cada vez mais pelas vicissitudes dos homens, os deuses comearam a preferir a terra ao cu e o amor dos mortais ao dos imortais.

Nascem os bastardos, meio deuses, meio homens, os semideuses que, colocados pelo Destino entre o cu e a terra, participam de prerrogativas divinas e de limitaes humanas.

Comea assim uma histria cheia de aventuras extraordinrias, que pode merecidamente ser considerada o mais emocionante romance da Antigidade. Os deuses soltam-se, sem inibies, provocando guerra e paz, alianas e traies, feitos hericos e vinganas infames; dividem-se em faces e partidos, transformam-se em seres humanos para combater-se, atravs de intermedirios, no cu ou na terra.

O homem, por sua vez, familiarizando-se cada vez mais com os imortais, aprende a superar e vencer sua primitiva natureza atemorizada e vulnervel.

O semideus e o heri parecem-se como duas gotas de gua: Aquiles, filho do mortal, Peles e da divina Ttis, no menos humano nem menos herico que seu grande antagonista Heitor, filho de Priamo e Hcuba.

O cu, nessa poca, torna-se pequeno e insuficiente para acolher a enorme proliferao deuses. Cada nume um gerador de foras que presidem a cada ato da vida. Muitos deuses transferem-se diretamente para a Terra, fundem-se com seus adoradores.

Uma tragdia csmica: Saturno devora os filhos

O cu estrelado, ou Urano, apaixonou-se, pois, por Gaia, a Terra, e no fim de cada tarde, como relata Hesodo, ele descia junto com a noite e abraava a Terra deitando-se em cima dela. O ardor amoroso do Cu fecundava com a chuva sua esposa. Mas Urano queria reinar sozinho e obrigou seus quatro filhos, Tit, Oceano, Jpeto e Crono, a se esconderem embaixo da terra. Eram filhos de propores colossais. Crono, o Tempo, era o mais novo. Com a ajuda dos irmos e da me, que lhe deu uma foice, armou uma cilada ao pai: esperou que ele descesse para abraar a Terra e, enquanto Urano estava se estendendo ternamente sobre ela o filho mandou que seus gigantescos irmos o imobilizassem, e com a foice cortou-lhes os rgos genitais e os jogou no mar.

Urano perdeu assim toda a esperana de ter descendncia direta; e com ele a abobado celeste perdeu a superioridade sobre a superfcie terrestre. Ento, enfurecido, o deus do cu gritou pedindo vingana; e o mar, onde haviam cado seu sangue, o smen e os rgos de sua virilidade, comeou a agitar-se ameaador e gerou as Frias.

Agora o Tempo - Crono para os gregos e Saturno, mais tarde, para os romanos - dono do Cu e da Terra e impe sua lei. As horas e os dias, as estaes e os anos, os sculos e as eras: toda a vida medida e regulada por ele, o deus Tempo, que tem nas mos a vida dos homens, do nascimento morte.

Crono, temeroso de que um de seus filhos se revoltasse contra ele, resolveu destruir toda sua descendncia. De que maneira Comendo os herdeiros um aps outro. Primeiro as filhas: Hstia, Demter a Hera, e depois Hades e Possidon. Ao primeiro vagido a me desventurada devia levar o recm-nascido ao marido, que o devorava. Crono possua at um instigador: o irmo Tit, que exultava por ver aquela carnificina de herdeiros legtimos.

Crono, porm, no contara com o Destino. Com efeito, um misterioso orculo o alertara desde o incio de seu reinado, de que um dos filhos o despojaria o trono; e ele, para precaver-se contra esse acontecimento, devorara todos. Quando Ria, a mulher de Crono, percebeu que estava novamente grvida, resolveu salvar a vida de seu filho. Por isso, logo depois do parto, ela escondeu o menino e levou a seu esposo uma pedra embrulhada nas roupinhas do recm-nascido.

O obtuso dspota engoliu o pedao de rocha e continuou reinando sem de nada suspeitar. Enquanto isso, o pequeno Zeus, confiado aos cuidados das ninfas, crescia e tomava conscincia de si. Tornou-se jovem e forte, compreendeu que sua hora chegara, abandonou a ilha-refgiu para enfrentar o velho pai.

Ele pegou Crono de surpresa, tomou-lhe a foice da mo e, com a mesma lmina utilizada para mutilar o Cu, tornou-o impotente, jogando no Trtaro os rgos amputados. O que significa isso O mito de Crono-Saturno significa a fatal autodestruio do Tempo, que gera os dias e os anos e os destrui. Crono-Saturno que devora os filhos esse processo fatal que se chama devir e pelo qual tudo nasce, cresce, reproduz-se, definha e morre.

Homem, lembra-te de que s p tornars, advertia um texto sagrado. como dizer: tua me nutriu-se dos produtos da terra e tu os absorveste enquanto estavas em seu seio. Depois a terra te alimentou com as substncias de seus trs reinos, at que, no fim, recolheu-te em seu seio para transformar-te novamente em matria terrestre, p.

Crono-Saturno a lei que rege o cosmo, o segredo de cada histria humana. No um crime, mas um sinal de esperana, uma promessa de imortalidade.

Mtis, quem era ela?Ria, a infeliz esposa de Crono, no se resignava lembrando-se dos filhos que haviam acabado na garganta paterna; e depois que Zeus punira e destrona o pai, foi procurar uma amiga para pedir-lhe conselho. Essa amiga vivia afastada de tudo e de todos. Chamava-se Mtis, que significa prudncia, e conhecia muitos segredos da natureza ignorados pelos outros deuses.

Mtis preparou uma bebida e disse a Ria que a desse para Crono, ainda dorido pela mutilao. Ele a bebeu e foi logo surpreendido por terrvel nsia de vmito, mediante a qual devolveu me os corpos dos filhos que havia comido. Ria os massageou com um ungento (medicamento para uso externo) preparado pela amiga, e eles voltaram vida. Zeus, admirado, apaixonou-se por Mtis e casou-se com ela; mas pouco depois um orculo o avisou de que aquela deusa lhe daria um filho destinado a dominar todo o universo.

Zeus teve medo que o destino de Urano e de Crono se repetisse, e para no se separar da amada e sbia Mtis, comeu-a junto com o filho que trazia no seio, para transferir para si e assimilar o conhecimento do bem e do mal. Aquela refeio era indigesta e provocou em Zeus uma terrvel enxaqueca.

Zeus, consciente de sua misso, sabe que um soberano no pode prescindir da prudncia, se quiser reinar com sabedoria e justia.

Saturno, com efeito, levara consigo a foice de metal escuro que lhe servira como arma parricida (quem cometeu assassinato do prprio pai) para separar-se do Cu. Mas na terra sua foice tornou-se instrumento de paz e de bem estar: com ela ceifavam-se as searas e comeava a abundncia - a foice era de ouro, smbolo de fecundidade e riqueza.

Zeus, o pai e o senhor dos deuses e dos homens

Zeus (o mais mulherengo e deus dos disfarces), pois, foi o ltimo do Tempo e da Terra: o ltimo, mas tambm o predestinado. Ele tirou do pai o cetro real para constituir seu poder alm de qualquer limite de tempo e de espao, na eternidade.

ele o verdadeiro pai dos deuses e dos homens, o senhor do cu e da terra. Sua me Ria, tambm chamada Cibele, pariu-o na ilha de Creta; e para livr-lo da vida boca paterna, ela confiou-o a duas ninfas amigas, Ida e Adrastia. Uma cabra, chamada Amaltia, forneceu o leite; uma abelha, chamada Pancris, o mel. O pequeno Zeus cresceu forte e seguro de si; ento saiu do esconderijo desafiando o velho e desconfiado pai, e venceu-o. Seus irmos, Hades e Possidon, tornaram-se depois seus aliados, e as irms, cmplices.

Zeus, chamado mais tarde Jpiter pelos romanos, sinnimo de fora vital, energia criadora, proliferao celeste e terrestre. Depois do trgico fim de Mtis, ele se casou com sua irm Hera, e desse casamento nasceram Ares e Hefastos, o artfice das forjas celestes.

Hera, a esposa legtima, no aprovava as aventuras amorosas de seu divino cnjuge. Contudo Zeus, como marido libertino, procurava esconder aos olhos de Hera os numerosos adultrios. Para amar Mnemsine, isto , a Memria, ele se transformou em pastor, tornando-se subitamente pai de nove filhas: Clio, Euterpe, Melpmene, Talia, rato, Polmnia, Terpscore, Urnia, Calope, as nove Musas...

Urano, segundo a rvores genealgica descrita por Hesodo, era seu av; o cu, portanto, subjugava a terra infundindo temor e respeito pela inacessibilidade de sua abbada celeste.

Crono, ltimo filho de Urano e pai de Zeus, apossou-se do poder; e o Tempo tornou-se o senhor absoluto da vida. Zeus, o ltimo filho do Tempo, destituiu por sua vez, pela astcia, o pai; e seus filhos, no mais relegados a cavernas subterrneas como os de Urano, nem devorados como os de Crono, povoaram o cu e a terra.

Palas Atena ou Minerva Armada

Aquela refeio feroz e excepcional - nada menos que a sbia e prudente esposa Mtis, grvida - no podia deixar de ter conseqncias nem mesmo nas celestes vsceras do Deus dos deuses. De fato, o corpo da suave Mtis provocou em Zeus uma enorme indigesto e uma dor de cabea insuportvel. Zeus estava transtornado; parecia-lhe que os olhos saltavam das rbitas e que em sua cabea havia um exrcito de guerreiros decididos a abrir uma passagem para sair. No fim, no suportando mais, ele chamou o filho Hefastos para que o ajudasse. O filho de Zeus pegou o machado e com um golpe seguro partiu ao meio a cabea do pai. E ela, belssima, apareceu; armada dos ps cabea, pronta a desafiar e a lutar.

Atena, que os latinos chamaram de Minerva, nasceu assim, da cabea de Zeus: e foi uma deusa prudente e sbia, a protetora das cincias e das artes, a instigadora de todo nobre empreendimento, a inspiradora do saber. Armada, sem dvida, porque a cincia deve saber defender-se de seus opositores e o conhecimento no pode deixar-se vencer pelo obscurantismo da ignorncia - uma deusa no-belicosa (que incita guerra), mas aguerrida (acostumada guerra), pronta a combater pela verdade e justia.

Foi amiga de todos e no pertenceu a ningum. Ajudou, sobretudo os heris, mais que os deuses; foi inimiga implacvel da injustia, ops-se a toda manifestao de dio ou de vingana, mesmo de seu predileto Aquiles, ou fora bruta de ares, o feroz deus da guerra.

Um dia teve que competir com Possidon, o poderoso deus do mar, diante de um jri composto por todos os deuses: a competio consistia em dar um presente mais bela cidade da Grcia, que do alto de sua cidadela espelhava-se no mar. Aquele que desse o presente mais til e agradvel cederia seu nome cidade. Possidon, com um golpe de tridente, fez sair da terra um cavalo; Atena, com um gesto da mo, fez nascer e crescer uma oliveira carregada; e ganhou. Em honra dela, a cidade tomou seu nome: Atenas; e a adorou invocando-a pelo nome de menina, pallas, e pelo de virgem, parthnos, e lhe dedicou um magnfico templo, o Partenon.

Atena uma mulher, mas como se fosse um homem; ou ento como se fosse de outra espcie, uma amiga fiel a quem se pode contar tudo, contanto que seja lcito e justo.

Foi denominada glaucpide, que significa de olhos azuis; tambm foi chamada Nik, vitria, igual ao pai na coragem inteligente e na prudncia, afirma Hesodo.

A filha sem me, nascida da cabea do divino progenitor, o pensamento que se apresenta maduro e j adulto, com a lana da eqidade (disposio de reconhecer igualmente o direito de cada um), o elmo da sabedoria, o escudo da prudncia, para opor ao impulso dos instintos do freio da razo.

Hera, a romana Juno, a Prima-Dona do Olimpo

Zeus, o deus do trovo profundo, o deus dos deuses, tem Hera como irm e mulher. Hera, filha, como Zeus, de Ria e Crono, e devorada pelo pai ansioso e ciumento de seu prprio domnio, foi ressuscitada graas poo da prudente Mtis; e ela a primeira companheira do jovem Nume (deus) que destronou o pai: irm e mulher.

Ela virtuosa, insensvel corte dos celestes, intocvel por ser a mulher do pai de todos os deuses; mas, sobretudo porque, de suas virtudes de esposa, obstinadamente fiel a um marido habitualmente infiel, ela fez um motivo de orgulho e uma arma, com a qual condena e chantageia quase todos os habitantes do Olimpo.

Zeus, para seduzi-la, transformou-se em cuco. Era inverno. A moa bopide, isto , de grandes olhos bovinos apanhou o pssaro e o aqueceu ao seio: e assim, para o jovem deus, foi fcil vencer a casta irm. Ento ele fugiu com ela para o monte Citron, onde Hera recebeu de Gaia sua av, como presente de casamento as mas de ouro das Hesprides, ou seja, as roms, smbolo e auspcio (pressgio) de fecundidade.

Hera a deusa de alvos braos e de rosto velado pela tristeza, smbolo da me prolfica e da famlia, protetora das jovens esposas, nume da fecundidade. Sob o aguilho (estmulo) do cime, Hera torna-se o smbolo da mulher briguenta e vingativa, que usa qualquer pretexto para contradizer o marido e lanar-lhe na cara suas infidelidades. Se Zeus tem simpatia pelos troianos, ela toma abertamente o partido dos gregos. Ares, filho de Zeus e Hera, justamente o fruto desse profundo dissdio: o deus que personifica violncia e dio, dor e terror. O outro filho foi Hefastos, o deus do fogo rubro (vermelho muito vivo), que ergue um martelo entre jorros de fascas. No dia em que Hefastos, durante uma das habituais brigas familiares, ousou tomar a defesa da me, foi arremessado do Olimpo por Zeus, com um pontap, e quebrou as pernas, ficando coxo para sempre.

No entanto, sua maneira, Hera amava Zeus, e ele gostava de sua mulher.

O desventurado xion ainda est girando pelo ar amarrado a uma roda em chamas, apenas por ter ousado apaixonar-se por Hera e ter abraado um simulacro (simulao) dela, feito de nuvens.

Aps muitas brigas, Hera abandonou o Olimpo; no entanto, Zeus percebeu que no podia reinar em paz sem sua terrvel e bela esposa. Ento espalhou o boato que iria casar-se de novo. Mandou fazer uma esttua de madeira parecida com Hera, que mandou cobrir e enfeitar com roupas e jias. Depois determinou que a esttua mulher fosse levada num cortejo pela Eubia, numa carruagem dourada, puxada por doze cndidos bois. Hera no resistiu. Saiu do retiro, correu at a carruagem e arrancou os vus da esttua para ver sua rival: e depois de descobrir o truque, comeou a rir, enquanto pelas faces corriam-lhe lgrimas, no se sabe se de raiva ou de felicidade.

Apolo, ou o Iluminante, o maior de todos os deuses depois de Zeus

Jovem e belo, resplandecente e puro, o filho de Zeus e Leto o maior de todos os deuses depois do pai. Apolo o deus da luz, como um sol que acende todos os astros do cu; e com o nome de Febo, justamente, ele dirige os indmitos (indomveis) cavalos que transportam pelo cu o carro do Sol.

Ele recebeu no prprio dia de seu nascimento trs presentes: de Hefastos, um arco e uma aljava (estojo) cheia de flechas; do pai, Zeus, um coche (carruagem) de ouro puxado por um bando de cisnes, e de Leto a misteriosa me (lateo, que significa em latim estou escondido), a profecia e a viso das coisas ocultas.

Com apenas quatro dias realizou o primeiro prodgio, matando com uma flecha a serpente monstruosa Pton, gerada por Gaia, que por ordem da ciumenta Hera perseguira sua me.

Para os primitivos povos indo-europeus, o grego Apolo era talvez uma divindade nrdica, que trazia de presente a luz e o tepor do sol depois da longa noite boreal, e tornava a terra fecunda de um fruto substancioso, a ma, que em sua honra foi chamada abal pelos antigos celtas, e hoje apple pelos ingleses e apfel pelos germnicos, e colhida especialmente na ilha mtica de Avalon.

Mas o divino inspirador tambm um deus temvel e terrvel. No ltimo livro da Ilada ele se impe a Aquiles, que h doze dias estraalha em torno dos muros de Tria o cadver de Heitor, acusando-o de ferocidade desumana e convidado os deuses a unirem-se a sua indignao.

Amou ninfas e mulheres mortais. Dafne, a linda filha de Peneu, despertara a paixo de um jovem chamado Leucipo, quando Apolo tambm se apaixonou por ela. Leucipo, seguindo as instrues da amada vestiu roupas de mulher para ficar junto dela sem que ningum percebesse. Mas o deus clarividente descobriu o embuste (mentira artificiosa) e ordenou s ninfas que matassem o rival.

Para esquivar-se ao desejo de Apolo, Dafne fugiu e quando o Nume apaixonado estava a ponto de alcan-la, pediu socorro veneranda Gaia, que a transformou em loureiro. Os amores de Apolo freqentemente estavam ligados morte, ou se envolviam no mistrio de obscuras e trgicas metamorfoses. Trs episdios de amor no correspondido, trs exemplos significativos: por que a luz, sinnimo de Verdade, ainda no tem direito de acesso ao corao dos homens, onde se aninha a sombra das paixes. Apolo o raio de luz que procura abrir um caminho no escuro, a palavra que, atravs de seus orculos, exorta (incita) todo ser vivo a buscar em si essa luz. Homem, conhece-te a ti mesmo, gritava a sibila (profetisa) Dlfica a quem lhe pedisse o segredo da vida.

rtemis, ou Diana, a virgem exterminadora de mil homens

rtemis a caadora solitria, a sempre distante; seu reino a floresta povoada de ninfas, onde o homem receia aventurar-se; as codornizes, que voltam toda primavera aos tpidos declives da Grcia, so seus animais sagrados, pois as aves migradoras amam e conhecem as distncias.

rtemis a virgem intocvel; uma criatura esquiva (arisca) e selvtica que atinge com dardos mortferos o temerrio (arriscado) que dela se aproxima.

Era ela, com efeito, a causa das febres malricas e puerperais, e ao mesmo tempo a protetora das parturientes. Amava os lees: em Tebas, seu templo era guardado por um leo de pedra. Era chamada tambm caadora de cervos, pois esse animal era selvagem como ela, gil e desconfiado.

Ela evitava a companhia de outros deuses, rejeitava qualquer relao sentimental, odiava todas as manifestaes fsicas do amor: era a deusa belssima e intocvel, de mil nomes e mil atributos.

Se Apolo representava a fora luminosa do Sol, rtemis era misterioso influxo da Lua na vida terrestre.

De fato, a lua que marca os tempos e os ritmos terrestres; da lua as plantas recebem um benfico impulso junto com as virtudes fertilizantes do orvalho. E rtemis, como a lua, fria e distante, envolta no mistrio das selvas como o nosso satlite na obscuridade da noite: e como a lua, que, do alto, solitria habitante do cu, preside e influencia todos os acontecimentos terrestres, desde o nascimento das plantas e dos animais at o do homem, assim a belssima deusa reina soberana sobre a vida dos campos e dos prados, dos montes e dos bosques, sobre todos os animais, e a ela oferecem presentes todas as parturientes (mulher que est prestes a parir), dedicando-lhe os filhos. Porque era ela, a misteriosa deusa lunar, que tomava sob sua proteo todas as mulheres grvidas, media o tempo da gestao, assistia-as no parto Sagrada, portanto, e distante como a lua de qualquer paixo, intata (pura) e inviolvel.

Um caador levou um fim muito trgico. Caando na floresta, com um matilha de ces, ele surpreendeu rtemis que se banhava, nua, num lmpido rio. Antes de v-lo, a deusa sentiu sobre si o olhar profanador do homem, e com um gesto da mo transformou-o num cervo. Logo os ces, ao verem o animal selvagem, confundiram-no com uma presa e o estraalharam. Esse homem chamava-se Acton. A-theos, em grego, significa sem deus, ateu; e o ateu no deve profanar o mistrio da divindade, no pode olhar com olho incrdulo a Verdade oculta, a Verdade nua, impunemente. Assim tambm nenhum ser humano pode escarnecer e ofender o que sagrado.

Afrodite, a deusa do amor

Afrodite, a alma Vnus dos romanos, nasceu assim, da branca espuma do mar, como somente a deusa da beleza e do amor poderia nascer.

No ar ressoava ainda o terrvel grito de Urano, depois que o filho Crono o mutilara traioeiramente; o mar, onde o sanguinrio filho do Cu jogara os rgos genitais do pai, fervia furioso: mas o smen sado destes rgos uniu-se espuma do mar e fecundou-a; impelida por Zfiro a espuma afastou-se, para correr alegre em direo ilha de Chipre, em cujas margens depositou uma concha da qual surgiu, gotejante de luz, a belssima filha do Cu, a cipriota Afrodite.

As Horas, enviadas ilha por Crono, cuidaram dela; vestiram-na com roupas divinas, puseram-lhe na cabea uma coroa de ouro, cingiram-lhe o pescoo e o peito com colares de ouro, como costumavam usar as prprias Horas. Depois de enfeit-la, levaram-na, esplndida, presena dos deuses, que a cumprimentaram, extasiados, e se apaixonaram por ela.

Afrodite tornou-se esposa do poderoso ferreiro do Olimpo e deus do fogo, justamente quando ia responder favoravelmente ao amor de Ares. Mas tanto um como outro se afastavam freqentemente. Afrodite tornou-se amiga do deus Apolo e posteriormente sua amante. Certo dia a deusa pediu a Zeus permisso para visitar a estrela da manh, e o pai dos deuses autorizou Apolo a lev-la at l no carro dourado do sol. Mas os dois, ao invs de se dirigirem para o astro longnquo, desceram na terra, passando juntos uma breve lua de mel, em Rodes, at que a Aurora chamou para o cu o carro da luz.

Mas a Maledicncia perturbou esse amor, dizendo a Afrodite que seu amante a traia. Afrodite, de fato, confirmou a traio, ofendida e humilhada, retirou-se para a ilha de Chipre. Foi l que conheceu o jovem belssimo Adnis. Amaram-se como duas criaturas mortais, mas, a felicidade terrestre, ensinam os deuses, efmera (passageira). Ao voltar de uma de suas guerras, Ares foi informado do novo amor de Afrodite e vingou-se do seu rival, fazendo um javali dilacer-lo. Afrodite, ento, consolou-se com Ares (deus da guerra). Quando o clarividente Apolo descobriu que ela e Ares se amavam, enciumado, denunciou-os a Hefastos que, uma noite, enquanto os dois adlteros dormiam juntos, envolveu-os numa finssima rede para mostr-los a todo o Olimpo. Ares fugiu para a Trcia e Afrodite retirou-se para a ilha de Chipre, onde deu luz um filho que se chamou Amor.

Celestes e mortais, todos, com efeito, amaram Afrodite; e todos tiveram dela uma prole (filho). De Hermes, ela teve um belssimo filho: Hermafrodito. Um dia, ele, ainda jovem mergulhou na gua da fonte Slmacis, e a ninfa que presidia quela nascente apaixonou-se por ele. Infelizmente Hermafrodito no correspondeu ao sentimento da ninfa e a repeliu. Ento Slmacis o apertou em seus braos, enlaou-o fortemente, clamando aos deuses para que nunca mais a deixassem separar-se do amado. O pedido foi atendido: Hermafrodito tornou-se macho e fmea.

De Dioniso (vinho), o deus da embriaguez, Afrodite pariu Priapo, um deus disforme e possante, smbolo de luxria e virilidade.

por causa dela que nasce a trgica e longa Guerra de Tria. Diz a lenda que a Discrdia no fio convidada para um banquete nupcial de que participavam os Imortais. Para vingar-se, ela deixou na mesa um pomo de ouro com estas palavras: Para a mais bela. Hera, Atena e Afrodite consideraram-se as mais dignas, e Zeus mandou que o rduo julgamento fosse confiado a um mortal. Hermes levou-as para junto de Pris, o belssimo filho de Pramo. E Pris ofereceu o pomo de ouro a Afrodite, recebendo como prmio o amor da mais bela de todas as mortais, Helena, esposa de Menelau. O Amor traz a paz e a guerra. Amor omnia vincit.

Afrodite , provavelmente, uma divindade que chega Grcia de muito longe, atravs do mar; a Istar da Mesopotmia, a Astartia da Sria e da Fencia, a sis do Egito, a Xiva do Oriente: o eterno feminino de todo lugar e tempo.

Tanto na Grcia como em Roma, Afrodite teve dois rostos e dois cultos: a Afrodite Urnia, a Vnus celeste, smbolo do puro Amor, e a Afrodite Pandmia, mulher de todos, sensual e provocadora.

Afrodite no morreu com o Olimpo, pois uma lei da vida, o impulso que assegura a continuao de tudo o que vive no tempo. Seu ms abril, quando a natureza toda fermento produtivo.

Afrodite, ou Vnus, aquilo que existe no homem de mais sagrado e de mais profano, e que pode fazer dele um super-homem ou um bruto.

4. NOES HISTRICASA fundao de Roma e a realeza

a) Geografia e povos da ItliaA histria de Roma comea com a fundao da cidade margem do rio Tibre e compreende trs perodos: realeza, repblica e imprio.

A Itlia, pennsula alongada, estreita, semelhante a uma bota, divide o Mediterrneo em duas partes: oriental e ocidental. limitada ao norte pelos Alpes e possu dois rios importantes: o Tibre e o P.

Na Antigidade diversos povos habitavam a Itlia ao norte; ao centro e ao sul. Ao norte situavam-se os gauleses, na regio chamada Glia Cisalpina (aqum dos Alpes). Alm dos Alpes, fica a Frana, na Antigidade tambm povoada por gauleses e por isso chamada Glia Transalpina (alm dos Alpes).

O centro da Itlia era povoado pelos italiotas e etruscos. Os italiotas eram indo-europeus, como os gauleses, e um dos seus ramos mais importantes, o latino, habitante da regio do Lcio, deu origem ao povo romano.

Os etruscos, cuja origem os sbios ignoram, j possuam adiantada civilizao, quando Roma ainda era uma cidade humilde. Deixaram milhares de inscries, mas infelizmente seu significado permanece at hoje desconhecido.

Os etruscos tinham adiantada indstria de bronze e ferro, fabricavam armas, como espadas, capacetes e escudos, sabiam trabalhar o ouro e a prata, com que faziam jias com incrustaes de pedras preciosas; foram ainda notveis arquitetos e, na construo de seus templos, criaram a abbada, forma de teto que os gregos no conheceram. De suas prticas religiosas algumas chegaram at os romanos, como a de adivinhar o futuro pela observao do vo dos pssaros ou pelo exame das vsceras dos animais sacrificados aos deuses.

O sul da Itlia, chamado Magna Grcia, possua numerosas colnias fundadas pelos gregos; uma delas, Tarento, sustentou guerra contra os romanos, quando estes empreenderam a unificao da Itlia.

b) Fundao de Roma

No se sabe com exatido quando e como foi fundada Roma. H, porm, uma lenda sobre esse acontecimento transmitida por Tito Lvio, clebre historiador romano do tempo do imperador Augusto.

Conta-se que, depois da destruio de Tria pelos gregos, o heri troiano Enias fugiu para a Itlia, onde fundou a cidade de Alba Longa. Um rei de Alba Longa, Numitor, pai de Ria Silva, foi destronado pelo irmo, Amlio.

Ria Silva era vestal, nome das sacerdotisas do culto da deusa Vesta, encarregadas de manter aceso o fogo sagrado da cidade. As vestais eram obrigadas ao voto de castidade, mas Ria Silva teve com Marte, deus da Guerra, dois gmeos, Rmulo e Remo.

Amlio, receando ser destronado pelos gmeos, ordenou que os lanassem ao Tibre. Milagrosamente salvos, foram amamentados por uma loba at que um pastor, Fustulo, os recolheu. Como mais tarde viessem, a saber, de sua origem, os dois irmos expulsaram Amlio do trono de Alba Longa e puseram no lugar o av Numitor. margem do rio Tibre, no monte Palatino, fundaram a cidade de Roma (753 a.C.). Depois, Rmulo matou Remo e tornou-se o primeiro rei.

Para os historiadores Roma no teve fundador, como conta a lenda. Primeiramente, formaram-se margem do Tibre, naquele lugar, diversas aldeias de latinos que se dedicavam ao pastorio e agricultura; depois, lentamente, essas aldeias foram-se agrupando at constituir-se a cidade.

c) A realeza

Como a fundao de Roma, tambm os acontecimentos da realeza so narrados de modo lendrio. Do governo de Rmulo recorda-se o episdio que se chamou rapto das sabinas. Como em Roma s houvesse homens, os romanos, durante uma festa, raptaram as mulheres dos sabinos, seus convidados, povo tambm italiota.

Conta a tradio que Rmulo desapareceu durante uma tempestade e passou a ser adorado como um deus, sob o nome de Quirino. Seu sucessor, Numa Pomplio, organizou um calendrio e criou numerosas leis. Depois reinou Tulo Ostlio que empreendeu uma guerra contra Alba Longa. O rei seguinte, Anco Mrcio, fundou na foz do rio Tibre o prto de stia.

Os ltimos reis romanos, Tarqunio Prisco ou Antigo, Srvio Tlio e Tarqunio o Soberbo eram etruscos, o que prova haver este povo dominado Roma.

Tarqunio Prisco construiu as cloacas (canais subterrneos de esgoto) e o Circo Mximo, destinado s corridas; a Srvio Tlio atribuem obras de defesa da cidade, como as muralhas que cercavam as sete colinas por onde se havia estendido a populao romana. Por isso Roma ficou conhecida pelo nome de Cidade das Sete Colinas.

O ltimo rei, Tarqunio o Soberbo, concluiu o Capitlio, o mais famoso templo romano, dedicado a Jpiter, cuja construo fora iniciada por Tarqunio Prisco.

Durante a realeza, o poder do soberano era limitado pelo das assemblias, principalmente o senado, formadas pelos cidados romanos ou patrcios; eles eram como os euptridas de Atenas, ricos proprietrios de terras. A outra classe, que no exercia os cargos pblicos nem participava das assemblias, constitua a plebe. Ento Tarqunio o Soberbo, para fortalecer-se no poder, procurou o apoio dos plebeus contra os patrcios; mas estes se revoltaram, destronaram o soberano e estabeleceram a repblica (509 a.C.).

A repblica romana e as lutas internas

a) Organizao da repblica

Estabelecida a repblica, Roma passou a ser governada por dois cnsules, eleitos pelo senado, por um ano.

Em ocasies de perigo, quando a cidade se encontrava ameaada, escolhia-se um ditador, que dispunha de toda a autoridade. Sua palavra, isto , o que ele dizia (da o nome ditador), tinha fora de lei. Mas, com tanto poder, o ditador poderia pretender tornar-se rei e, para que tal no acontecesse, ficou estabelecido que ele s podia permanecer no poder pelo prazo de seis meses.

Dos outros magistrados importantes da repblica, cita-se o censor, que fazia a censura, isto , zelava pelos bons costumes e tambm contava a populao, o que ainda hoje se chama censo. por isso que duas palavras censo e censura, de significado diverso, tm a mesma origem.

Entre os romanos, ao concluir-se o censo, feito de cinco em cinco anos, havia uma cerimnia religiosa, chamada lustrum, destinada a limpar ou purificar a populao dos seus pecados. por isso que a palavra lustro, que significa brilho, tambm tem o sentido de perodo de cinco anos.

O mais clebre dos censores foi Cato; muito severo, combateu o luxo, que se introduziu em Roma durante as conquistas.

Das assemblias a mais importante era o senado. Os senadores, a princpio em nmero de trezentos, eram escolhidos pelos censores entre cidados de honestidade comprovada. Os senadores no podiam exercer determinadas atividades comerciais, como emprestar dinheiro a juros. Possuam, entretanto, muitos privilgios; tinham lugar de honra nos jogos pblicos e, quando acusados de algum crime, s podiam ser julgados em Roma.

b) As lutas internas

A princpio, todas as funes pblicas, como tambm as religiosas, eram exercidas exclusivamente pelos aristocratas ou patrcios, descendentes das antigas famlias de Roma. Os outros, os plebeus, no tinham nenhum direito: cultivavam a terra, exerciam diversos ofcios e, como soldados, participavam das guerras. Nessas ocasies, suas pequenas propriedades eram devastadas e, reduzidos situao de misria, tinham que recorrer aos patrcios, solicitando-lhes emprstimos e, se no pagavam as dvidas, passavam condio de escravos dos seus credores.

Pouco a pouco, porm, os plebeus foram-se igualando aos patrcios: primeiramente, conseguiram a nomeao de dois tribunos para a defesa dos seus interesses (tribunos da plebe); depois obtiveram leis escritas, gravadas em doze tbuas de bronze, por isso chamadas Lei das Doze Tbuas; seguiram-se outras conquistas, como os casamentos mistos, isto , entre patrcios e plebeus, e o exerccio, por eles, de todos os cargos polticos e religiosos.

Mas no se deve pensar que, estabelecida a igualdade entre patrcios e plebeus, a repblica romana se tornasse democrtica. Com as conquistas houve romanos que se apoderaram de extensas terras, tomadas aos vencidos, e se tornaram poderosos, constituindo uma espcie de nobreza, enquanto que outros, embora cidados romanos, viviam em Roma em extrema misria. Ento os termos patrcio e plebeu mudaram de sentido: patrcio ou nobre era o cidado rico e plebeu, o de condio humilde.

Na luta entre ricos (patrcios) e pobres (plebeus) distinguiram-se os dois irmos Gracos: Tibrio e Caio. Eleitos tribunos, procuraram resolver a questo agrria, isto , a distribuio das terras cultivveis, de modo que os plebeus pudessem tornar-se proprietrios.

Os poderosos, sentindo-se prejudicados, levantaram-se contra os Gracos: Tibrio, acusado de aspirar a seu rei, foi assassinado e seu cadver jogado s guas do rio Tibre; Caio Graco, para no ser vtima de seus inimigos, pediu a um escravo que o matasse.

Depois dos Gracos, surgiram generais que se diziam defensores dos ricos ou dos pobres; na realidade, procuravam apoiar-se nessas classes para satisfazer suas ambies. Desses generais dois ficaram clebres: Mrio e Sila.

Nessa ocasio as leis da repblica j no eram mais respeitadas e a numerosa plebe, formada de cidados pobres, vendia seu voto aos ambiciosos. Tudo parecia favorvel formao de um regime em que o poder coubesse, de modo definitivo, a um s homem. Esse regime, que se chamou imprio, foi afinal fundado por Otvio, sobrinho de Csar.

c) O exrcito romano

Os romanos deveram o imprio que conquistaram excelente organizao de seus exrcitos.

Comandado pelo ditador ou pelos cnsules, o exrcito dividia-se em legies, semelhantes aos atuais regimentos; cada legio dividia-se em manpulos e cada manpulo em duas centrias. O comandante da legio era o tribuno militar.

O legionrio trazia, alm do capacete e do escudo, uma espada curta, o gldio, e uma lana, chamada pilo, semelhante ao dardo dos gregos, que se usava como arma de arremesso. Cada legio possua a sua insgnia, geralmente a figura de uma guia (aquila). O soldado que a conduzia era o aquiles feris e dessas palavras latinas derivou-se alferes, nome dado a um posto militar no antigo exrcito brasileiro e hoje correspondente a segundo-tenente.

Para as operaes do cerco o exrcito romano dispunha de mquinas apropriadas; uma delas era o arete, cujo nome se deriva de aries (carneiro), pois consistia num grosso e pesado tronco que terminava numa pea de ferro com a forma de cabea de carneiro. O arete destinava-se a abrir brechas nas muralhas inimigas.

A disciplina do exrcito romano era muito severa: por faltas insignificantes o soldado era condenado morte. Tambm havia punies coletivas; a mais importante consistia em dizimar a legio, quando esta cometia faltas graves, como traio e fuga: em cada dez soldados um era sorteado para sofrer a pena de morte.

Havia tambm recompensas, como a coroa cvica, uma coroa de ramos de carvalho, oferecida ao soldado que salvava da morte um companheiro. A mais importante, porm, de todas as recompensas era o triunfo, que o senado concedia ao general vencedor: coroado de louros, entrava ele em Roma, seguido de seus soldados, que entoavam hinos guerreiros, e dos chefes inimigos acorrentados. Para fugir a essa humilhao, os vencidos preferiam muitas vezes o suicdio, como a rainha egpcia Clepatra, quando suas foras foram derrotadas por Otvio. Durante o triunfo, a multido aclamava o vencedor, que se dirigia para o templo de Jpiter Capitlio onde, junto esttua do deus, depositava a coroa de louros.

Outra recompensa que o senado dispensava ao vencedor era a ovao: consistia no sacrifcio de uma ovelha no templo de Jpiter Capitlio.

Instituies romanas

A famlia romana

A famlia foi uma das mais importantes instituies em Roma. Na verdade o lar dos romanos era bem diferente da casa do grego; para este, a casa era somente o lugar para comer, dormir e guardar seus objetos. Para o romano, a venerao pelos antepassados, pelas tradies fazia com que o lar fosse um lugar sagrado, ao qual dedicavam seu respeito e seus cuidados. Nesse ponto, os romanos foram os verdadeiros criadores do que se chama um lar.

Numa famlia romana o pater famlias era o chefe da casa, o pai de famlia. No tinha ascendente vivo (pai ou av), e estavam sob seu poder a mulher, os filhos, os netos, libertos, escravos e bens.

A mulher era mater famlias e tinha a posio de filha. Se casada cum manu passava da dependncia do chefe de sua famlia para a dependncia do marido e do pai deste. O marido adquiria, pois, total poder sobre a mulher. Seus bens eram absorvidos pelos bens do marido. Se casada sine manu, a mulher, mesmo casada permanecia na dependncia de seu pater famlias e continuava a dispor de seus bens, usufrua a mesma situao social do marido. Mais tarde o casamento sine manu predominou sobre a outra modalidade.

A cerimnia do casamento foi assim descrita por um escritor: (1) A moa conduzida casa do esposo. Como na Grcia, vai velada, leva uma coroa e um archote nupcial precede o cortejo. Canta-se sua volta um antigo hino religioso... O cortejo pra em frente da casa do marido. A apresentam moa o fogo e a gua. O fogo o emblema da divindade domstica; a gua a gua lustral que serve famlia em todos os atos religiosos. Para que a donzela entre em casa preciso, como na Grcia, simular o rapto. O esposo deve tom-la nos braos e com ela ao colo atravessar a soleira sem que seus ps a toquem.

1 - Coulanges, Fustel. A Cidade Antiga, vol. I, p.66.

Entre os romanos havia a dissoluo do matrimnio: quando o marido morria; quando ele era aprisionado; pelo divrcio.

No matrimnio cum manu s o marido podia dissolver o casamento. Ele possua o poder de repudiar a mulher por motivos graves, nos tempos mais antigos e por motivos leves, mais tarde, com a decadncia de costumes que atingiu a sociedade romana.

No casamento sine manu, os cnjuges, por consentimento mtuo podiam divorciar-se; a mulher podia repudiar o marido e este tambm podia repudi-la. Na poca imperial houve tal epidemia de divrcios que a natalidade decresceu. Augusto, preocupado em este fato, querendo dar mulher nova oportunidade para casar, permitiu que a mesma, com certas restries, reivindicasse seu dote, pois este era um atrativo para os pretendentes. A conseqncia dessa lei foi prorrogar unies por motivos de ordem material e s vezes transformar a mulher bem dotada em senhora absoluta do marido.

No lar romano a matrona desempenhava um papel muito importante. Era a fiel auxiliar do marido, sua colaboradora, participando da alegria das festas, da autoridade do lar e das honrarias da vida pblica.

To grande era o prestgio da matrona na famlia romana que Cato, escritor romano muito moralista (234 a.C. e 149 a.C.) comentava com azedume: Todas as naes dominam suas mulheres; ns dominamos todas as naes, mas somos dominados por nossas mulheres.

A Histria da posio da mulher romana na famlia e na sociedade assinala uma crescente conquista de autonomia e liberdade. O casamento significava, em geral, para a mulher um alargamento no horizonte de suas atividades, pois com o mesmo adquiria relativa liberdade de vida e de movimento. Nisso era mais afortunada que as mulheres gregas as quais pelo casamento passavam de enclausuradas na casa do pai para enclausuradas na casa do marido; patroas das escravas, mas elas tambm escravas.

As matronas romanas, ao contrrio, gozavam da confiana de seus maridos; saam, trocavam visitas, iam pelos armazns para fazer compras. Acompanhavam os maridos aos banquetes e voltavam tarde para a casa.

As transformaes sociais motivadas pelas conquistas ampliaram muito o campo de liberdade de ao das mulheres. Nos ltimos tempos da Repblica assinala-se o incio do feminino triunfante. Com a abolio de velhas leis as mulheres tornaram-se livres e como sempre acontece, o prisioneiro libertado, a primeira coisa que faz abusar da liberdade. Foi o que aconteceu sociedade romana desta poca e todos os desregramentos havidos de parte das mulheres podem ser explicados pelo encanto e enlevo que a liberdade lhes trouxe. As mulheres, sob o manto do divrcio, passavam de um marido para o outro; outras, com atrevimento, ostentavam o escndalo. Juvenal (fins do sculo I a.C. a comeo do sculo II a.C.) nos fala de uma esposa que no espao de cinco outonos teve oito maridos. Para abandonar os maridos as mulheres arranjavam qualquer pretexto: velhice, doena, partida para a guerra.

Mas, apesar de tudo, ainda temos belos exemplos de mulheres romanas que despertam nossa venerao como a admirvel me dos Gracchos, Cornlia, Paulina, esposa de Sneca, grande trgico romano vtima de Nero (4 a.C. a 65 d.C.), Arria, esposa do senador Petus e outras.

Um famoso epitfio diz: Foi casta, cuidou da casa, fez l.

A educao em Roma

Os principais objetivos da educao romana eram:

1 - Domnio de si mesmo.

2 - Obedincia a toda autoridade, a comear pela autoridade paterna e a terminar pela autoridade pblica.

3 - A benevolentia (boa vontade, dedicao) para com o prximo.

4 - Sobretudo o respeito aos mos maiorum (costume dos antepassados).

Antes de nascer, a criana estava sujeita a um srio perigo: o aborto, que a lei no vedava, pois o produto da concepo era considerado como parte do organismo da gestante.

Ao nascer a criana corria ainda o perigo de ser abandonada pelo pai: este devia levantar o filho do cho para reconhec-lo; se no o fizesse a criana era condenada a morrer de inanio.

A infncia das crianas era alegre, entre o carinho da famlia e das amas e velhas escravas que lhes contavam belas estrias. Aqui aparece a grande misso da materfamilias: educadora dos filhos. A Histria mostra inmeros exemplos de influncia materna exercida sobre o filho: a me de Cesar, que foi grande conselheira do filho; a me de Augusto qual este deveu boa parte de seu triunfo; a me de Coriolano que fez o filho desistir de sua marcha contra Roma; Cornlia Graco, honrado pelo prprio Estado que mandou erigir uma esttua sua, s expensas de tesouro pblico.

Aos sete anos os meninos passavam a sentir mais diretamente a influncia do pai: seguiam os pais por toda a cidade para se instrurem sobre os segredos da vida pblica na qual um dia deveriam desempenhar papel importante. As meninas permaneciam no lar, aprendendo a fiar l e a desempenhar os deveres de dona de casa.

Aos sete anos a criana ia para a escola primria. O mestre da escola primria era muito mal pago, ganhando o mnimo para seu sustento e gozava de pouco considerao. Os alunos eram levados escola pela manh por um escravo chamado paedagogus que desempenhava papel decisivo em sua educao, explicando-lhes as lies, servindo-lhes de companhia at a idade de envergarem a toga viril. Depois que a Grcia foi conquistada geralmente o paedagogus era um escravo grego.

O ano letivo durava de oito a nove meses e as frias iam de julho a meados de outubro.

O programa da escola abrangia a leitura, a escrita e a aritmtica.

A disciplina escolar era rgida e feroz, incluindo os castigos fsicos.

Aps o trmino dos estudos elementares os meninos ingressavam na escola secundria. O professor de escola secundria era um pouco mais considerado que o da escola primria, ganhando quatro vezes o que este ganhava. A os meninos aprendiam a boa linguagem, liam os poetas clssicos, estudavam os fundamentos de Histria, Geografia, Astronomia, etc.

Como a sociedade romana permaneceu sempre uma sociedade aristocrtica, poucos podiam continuar seus estudos alm do curso secundrio. A educao era por isso elitista.

O professor da escola superior era o rhetor, retor, que ocupava uma posio mais elevada em relao aos seus colegas de magistrio. As primeiras escolas de retrica latina foram criadas no sculo I a.C. O retor latino visava ensinar as regras da oratria e a maneira como se utilizar delas. A influncia grega foi enorme nas escolas de retrica latina, sendo essa uma cpia daquela. Aps a parte terica, os alunos passavam para a parte prtica: composio e declamao de discursos. Os pais dos alunos iam ouvir essas aulas de retrica, entusiasmados com os arroubos oratrios dos filhos.

Como a influncia da cultura grega sempre esteve presente em toda a sociedade romana, primeiro em contacto com os gregos da Magna Grcia e em seguida pela conquista da Grcia, podemos afirmar que a civilizao grega penetrou, com todos seus aspectos, na sociedade romana impregnando-a desde as altas rodas aristocrticas at as camadas servis.

Com isso, a mocidade romana passou a freqentar os centros de civilizao grega como aperfeioamento de sua formao intelectual. Para isso era necessrio o conhecimento da lngua grega, de modo que em Roma falava-se constantemente o grego entre as pessoas cultas, incluindo as moas, que admiravam os poetas gregos.

A estrutura social entre os romanos

A sociedade romana era composta em linhas gerais de:

Patricios, descendentes das grandes famlias que haviam fundado Roma e detinham o poder poltico e a riqueza. Estes pertenciam a uma casta orgulhosa e fechada, afastando do governo todos os que no pertenciam s grandes famlias e no possuam magistrados entre os antepassados.

Clientes, descendentes empobrecidos de antigas famlias de projeo. Eram protegidos pelos patrcios que lhes davam dinheiro e vveres em troca de votos.

Mais tarde, durante as guerras contra Cartago, surgiu uma nova classe social, a dos cavaleiros. Estes, impedidos pelos patrcios de ingressarem no Senado, voltaram-se para os negcios: comrcio, bancos, cobrana de impostos, trabalhos pblicos como construo de estradas, portos, canais, explorao de minas, salinas, etc.

Os plebeus eram aventureiros, negociantes, viajantes. Seus direitos variavam de acordo com os bens que possuam. Dentro dessa classe estavam os pequenos agricultores que mal podiam subsistir, pois voltando da guerra encontravam sua propriedade arruinada e no podendo reconstru-la vendiam-na a preo baixssimo, ficando quase na misria.

Ao lado dos homens livres havia ainda uma classe - a dos escravos. A sorte dos escravos era tristssima; eram considerados pelo dono como coisa e no pessoa, sem direito algum. Seu dono podia tortur-lo, mat-lo, faz-lo trabalhar o ano inteiro sem uma folga. Podia tambm libert-lo. O escravo tornava-se ento um liberto mas ainda no podia ser considerado cidado; somente seus netos o podiam. A princpio havia pequeno nmero de escravos em Roma, mas as conquistas romanas lanaram na escravido milhes de vencidos que eram escravizados e levados a Roma. Os ricos possuam por vezes milhares de escravos a seu servio.

Aspectos da vida cotidiana

Depois de ser levantada do cho pelo pai, isto , ser aceita, a criana recebia seu prenome e penduravam-lhe no pescoo uma bulla, um saquinho com amuletos para protege-los das desgraas possveis.

Em geral o romano tinha trs nomes: o prenome, o nome de famlia e o sobrenome. Por exemplo o grande escritor e orador Ccero chamava-se Marcus Tullius Cicero; Marcos era o prenome; Tullius era o nome de famlia, porque pertencia famlia Tullia; Cicero era o sobrenome e significava O homem do gro de bico, talvez porque um dos seus antepassados tivesse na ponta do nariz uma excrescncia em forma de gro de bico.

As mulheres usavam um nico nome, o de sua gens (famlia) no feminino: Tullia, filha de Cicero, cujo nome de famlia era Tullius.

De acordo com a idade as pessoas em Roma eram chamadas:

Infans (que no fala) era toda a criana at os sete anos.

Puella e virgo eram designaes para meninas e mocinhas. Mas o termo puella tambm significava namorada.

Uxor era a esposa. Matrona designava a me de famlia. Anus era a mulher idosa.

Puer era o menino dos sete aos dezessete anos. Pelos dezessete anos o rapaz envergava a toga virilis, deixando de lado a bulla. As meninas s deixavam a bulla no dia do casamento.

Aos quarenta anos o homem era senior; a partir de sessenta e trs anos o homem era senex (velho).

Os romanos usavam a tnica (homens e mulheres), espcie de camisa sem mangas. Os homens por cima usavam a toga que era o traje nacional dos romanos. As mulheres usavam a stola. Os romanos calavam sandlias. As mulheres tambm calavam sandlias, mas em cores vivas e ornamentadas.

Os romanos, pelo sculo II a.C. adotaram o costume de cortar o cabelo e fazer a barba. As mulheres dedicavam grande cuidado ao penteado com enchimentos, tinturas, perucas e unguentos.

Havia as termas onde os romanos se banhavam. Os romanos ricos dirigiam-se s termas acompanhados por escravos, massagistas, depiladores, etc.

A partir do sculo II a.C. o romano fazia trs refeies dirias: pela manh comiam po e queijo. Ao meio-dia faziam uma refeio com carne fria, legumes, frutas, vinho, alimentos que eram tomados de p. A cena era a refeio principal servida numa sala especial onde havia uma mesa e os triclnios (leitos inclinados), pois os romanos faziam sua principal refeio deitados, por influncia dos povos orientais e gregos. Comeava a cena perto das 15 horas e ia at a noite. Durante esse tempo os comensais falavam sobre vrios assuntos, faziam leituras, recitaes, audies musicais, cantos, jogos, danas, etc.

Alm das termas e dos banquetes os romanos iam a festas familiares (casamentos, recebimento de toga viril), a solenidades pblicas de carter religioso, e aos espetculos teatrais.

A partir do sculo II a.C. comearam a ser construdos teatros de madeira, desarmveis. No tempo de Augusto j havia teatros de pedra.

Nesses teatros os romanos assistiam a:

1 - atelanas, mimos, stiras dramticas, que eram os gneros prediletos dos assistentes.

2 - Tragdias e comdias imitadas do grego e versando sobre assunto grego; e tragdias e comdias, imitadas do teatro grego, mas tratando de assuntos romanos.

Outra diviso dos romanos eram os circos onde havia manobras militares, pugilatos, corridas a p, a cavalo, e de carro.

Havia ainda os anfiteatros onde os gladiadores lutavam entre si ou com feras e de feras entre si. Os gladiadores eram escravos, condenados, prisioneiros de guerra ou voluntrios.

Giordani, Mrio Curtis. Histria de Roma. Petrpolis, R.J. Editora Vozes Ltda, 1976

5. A LNGUALngua do Lcio, lngua do mundo.

(J. Marouzeau, grande filsofo francs)

A lngua latina

O latim foi primeiramente o idioma falado numa pequena zona da Itlia Central, margem esquerda do rio Tibre, no longe do Mar Tirreno. A cidade principal dessa minscula regio, chamada Lcio, foi e Roma, fundada, segundo consta, por Rmulo no dia 21 de abril de 754 a.C.

Essa lngua do Lcio, seguindo as conquistas dos exrcitos de Roma, implantou-se na Itlia Central, depois em toda a Itlia, na Espanha, em Portugal, no Norte da frica, nas Glias (Frana, Sua, Blgica, regies alems ao longo do Reno), na Rcia e no Nrico (ustria), na Dcia (Romnia) e, menos profundamente, na Gr-Bretanha, na Frsia (Holanda), na Dalmcia e na Ilria (Iugoslvia), e na Pannia (Hungria).

O mais vetusto (antigo) documento da Lngua Latina uma inscrio do 6. sculo a.C., mas os mais antigos textos literrios que chegaram at ns, pertencem ao 3. sculo antes de nossa era. Nesses escritos a lngua j bem desenvolvida, mas apresenta ainda alguma incerteza na ortografia e no emprego das formas.

Foi no 1. sculo da era crist e no sculo precedente que a Lngua Latina teve seu mximo esplendor. Pertencem a este perodo, chamado idade de ouro, os maiores escritores latinos (os clssicos): Marco Tlio Cicero (106-43 a.C.), poltico, filsofo, um dos maiores oradores de todos os tempos; Caio Jlio Csar (100.44 a.C.), escritor primoroso, um dos grandes generais da histria; Caio Crispo Salstio (87-35 a.C.), historiador; Pblio Virgilio Maro (70-19 a.C.), um dos mais excelsos poetas da humanidade; Quinto Horacio Flaco (65-8 a.C.) e Pblio Ovdio Naso (43 a.C. - 17 d.C.), grandssimos poetas lricos; Tito Lvio (59 a.C. - 17 d.C.), o maior dos historiadores romanos.

Com a queda do Imprio Romano (476 d.C.) acaba a Histria Romana e um sculo depois, mais ou menos, termina tambm a Histria da Literatura Latina, mas o latim continua ainda por quase mil anos, sendo em toda a Idade Mdia a lngua da Civilizao Ocidental, inspirando assim todas as obras primas das literaturas modernas da Europa (e da Amrica).

Em nossos dias o latim no mais falado em parte alguma, mas a lngua oficial da Igreja e estudado em quase todas as naes do mundo, por ser, com razo, considerado elemento precpuo (principal) e fator eficiente de cultura, instrumento indispensvel para o conhecimento profundo das lnguas neolatinas (portugus, italiano, espanhol, francs, rumeno, etc.) e meio incomparvel para educao da inteligncia, disciplina do raciocnio e formao do carter.

QUESTIONRIO: Roma a cidade principal de qual regio? Roma foi fundada no mesmo dia que Braslia. Quantos anos antes? Que devemos entender por idade de ouro da Lngua Latina? Quem nasceu antes: Cicero ou Csar? Nomeie um clssico latino que tenha morrido depois de Cristo. Csar foi somente escritor? Por que o Latim estudado em quase todas as naes?O Latim e a expanso romana

1.A lngua portuguesa provm do latim, que se entronca, por sua vez, na grande famlia das lnguas indo-europias, representada hoje em todos os continentes.

2.De incio, simples falar de um povo de cultura rstica, que vivia no centro da Pennsula Itlica (o Lcio), a lngua latina veio, com o tempo, a desempenhar um extraordinrio papel na histria da civilizao ocidental, menos por suas virtudes intrnsecas do que pelo xito poltico do povo que dela se servia.

Foram as vitrias de seus soldados e o esprito de organizao de seus homens de governo que estenderam e, em parte, consolidaram o enorme imprio, que, no auge de sua expanso, ia da Lusitnia Mesopotmia, e do Norte da frica Gr-Bretanha.

3.Enumeremos, cronologicamente, as conquistas que dilataram de tal forma os domnios do Imprio Romano.

At meados do IV sculo antes de Cristo, os romanos pouco haviam ampliado as fronteiras do antigo Lcio. Foi com a guerra contra os samnitas, iniciada em 326 a.C. e terminada com a decisiva batalha de Sentino (295 a.C.), que comeou a irresistvel penetrao romana na parte meridional da Pennsula Itlica, concluda em 272 a.C., com a anexao de Tarento.

Principia, ento, o longo perodo das conquistas externas. Sucessivamente, vo sendo subjugados os territrios da Siclia (241 a.C.), da Sardenha e da Crsega (238 a.C.), da Ilria (229 a.C.), da costa este e sul da Pennsula Ibrica (218-197 a.C.), dos reinos helensticos do Oriente (200-168 a.C.), da Glia Cisalpina (191 a.C.), da Ligria (154 a.C.), de Cartago e Norte da frica (146 a.C.), da Macednia e da Grcia (146 a.C.), da Glia Narbonense (118 a.C.), da Glia do Norte (50 a.C.), da Msia (29 a.C.), do Noroeste da frica (25 a.C.), do resto da Pennsula Ibrica (19 a.C.), da Nrica (16 a.C.), da Rcia (15 a.C.), da Pannia (10 d.C.), do resto da Mauritnia (42 d.C.), da Bretanha (43 d.C.), da Trcia (46 d.C.), da Dcia (107 d.C.), da Arbia Petria, da Armnia e da Mesopotmia (107 d.C.)

Com a anexao da Dcia (Romnia) e, sem carter permanente, dessas regies da sia Menor, o Imprio atingia, sob o governo de Trajano, o mximo de sua expanso geogrfica.

4.Ao mesmo tempo em que estendiam os seus domnios, os romanos levaram para as regies conquistadas os seus hbitos de vida, as suas instituies, os padres de sua cultura. Em contato com outras terras, outras gentes e outras civilizaes, ensinavam, mas tambm aprendiam. Aprenderam, por exemplo, muito com os gregos, e isso desde pocas antigas, atravs dos etruscos e, principalmente, das colnias helnicas do Sul da Itlia, que formavam a Magna Grcia. Lvio Andronico, o primeiro que tentou elevar altura de lngua potica aquele rude idioma de agricultores e pastores, que era ento o latim, procurou diretamente em Homero e nos trgicos gregos os modelos para suas experincias de traduo e adaptao literrias. Ele prprio era um grego de Tarento. E, na sua trilha, Plauto, nio, Nvio e todos os que, pioneiramente, se impuseram a rdua tarefa de criar obras de arte na lngua nacional no deixaram de inspirar-se nos estimulantes exemplos da Hlade, cuja influncia vai ampliar-se mais ainda, a partir de 146 a.C., quando vencida pelas armas, acabou dominando pelo esprito o cruel vencedor.

Graecia capta ferum victorem cepit et artes Intulit agresti Latio. - Entende-se: A Grcia subjugada, subjugou o cruel vencedor e introduziu as artes no agreste Lcio.

Diz-nos Horcio.

Latim literrio e Latim vulgar

1.Desde o sculo III a.C., pios, sob a benfica influncia grega, o latim escrito com intenes artsticas foi sendo progressivamente apurado at atingir, no sculo I a.C., a alta perfeio da prosa de Cicero e Csar, ou da poesia de Verglio e Horcio. Em conseqncia, acentuou-se com o tempo a separao entre essa lngua literria, praticada por uma pequena elite, e o latim corrente, a lngua usada no colquio dirio pelos mais variados grupos sociais da Itlia e das provncias.

2.Tal diferena era j sentida pelos romanos, que opunham ao conservador latim literrio ou clssico (sermo litterarius) o inovador latim vulgar (sermo vulgaris), compreendidas nesta denominao as inmeras variedades da lngua falada, que vo do colquio polido s linguagens profissionais, e at s grias (sermo quotidianus, urbanus, plebeius, rusticus, ruralis, pedestris, castrensis, etc.).

Foi esse matizado latim vulgar que os soldados, colonos e funcionrios romanos levaram para as regies conquistadas e, sob o influxo de mltiplos fatores, diversificou-se com o tempo nas chamadas lnguas romnicas.

As Lnguas romnicas

1.Se dos gregos os romanos foram discpulos atentos, dos outros povos vencidos souberam eles ser os mestres imitados. No s na Itlia, mas tambm na Glia, na Hispnia, na Rcia e na Dcia, as tribos mais diversas cedo assimilaram os seus costumes e instituies, adotaram como prpria a lngua latina, romanizaram-se.

2. fcil concluir que, falado em tamanha rea geogrfica, por povos de raas to diversas, o latim vulgar no poderia conservar a sua relativa unidade, j precria como a de toda lngua que serve de meio de comunicao a vastas e variadas comunidades de analfabetos.

Nos centros urbanos mais importantes, o ensino do latim difundia o padro literrio e, com isso, retardava at certo ponto os efeitos das foras de diferenciao. Mas no campo ou nas vilas e aldeias a lngua, sem nenhum controle normativo, ia voando com suas prprias asas.

A partir do sculo III da nossa era, podemos dizer que a unidade lingstica do Imprio no mais existia, embora, continuassem os contatos polticos entre as suas diversas partes, interligados por certa comunidade de civilizao; o que se entende por Romania, em contraste com Barbaria, as regies habitadas por outros povos.

3.Alguns fatos histricos vieram contribuir para ativar o processo de dialectalizao. Enumeremos os principais.

Desde 212, o edito de Caracala estendera o direito de cidadania a todos os indivduos livres do Imprio, com o que Roma e a Itlia perderam a situao privilegiada que desfrutavam.

Diocleciano, que governou de 284 a 305, instituiu a obrigatoriedade do latim como lngua da administrao. Mas, contraditoriamente, anulou os efeitos dessa medida unificadora as descentralizar poltica e administrativamente o Imprio em doze dioceses, caminho aberto para o aguamento de nacionalismos regionais e locais. No sendo mais capital, Roma deixou, conseqentemente, de exercer a funo reitora da norma lingstica.

Em 330, Constantino, que se tornara defensor do Cristianismo, transferiu a sede do Imprio para Bizncio, a nova Constantinopla.

Com a morte de Teodsio em 395, o vasto domnio foi dividido entre os seus dois filhos, cabendo a Honrio o Ocidente, e a Arcdio o Oriente. O Imprio do Oriente teve vida longa. Conservou-se at 1453. O do Ocidente, porm, depois de sucessivas invases de hunos, visigodos, ostrogodos, burguinhes, suevos, alanos e vndalos, sucumbe em 476, quando Odoacro destrona o imperador fantoche Romulus Augustus, apelidado com o diminutivo Augustulus, Augustinho.

As foras lingsticas desagregadoras puderam ento agir livremente, e de tal forma que, em fins do sculo V, os falares regionais j estariam mais prximos dos idiomas romnicos do que do prprio latim. Comea ento o perodo do romance ou romano denominao que se d lngua vulgar nessa fase de transio que termina com o aparecimento de textos redigidos em cada uma das lnguas romnicas: francs (sc. IX), espanhol (sc. X), italiano (sc. X), sardo (sc. XI), provenal (sc. XII), rtico (sc. XII), catalo (sc. XII, ou princpios do sc. XIII), portugus (sc. XIII), franco-provenal (sc. XIII), dlmata (sc. XIV) e romeno (sc. XVI).

A romanizao da Pennsula

1.Os romanos chegaram Pennsula Ibrica no sculo III a.C., por ocasio da 2. Guerra Pnica, mas s conseguiram domin-la por completo, ao fim de longas e cruentas lutas, em 19 a.C., quando Augusto venceu a resistncia dos altivos povos das Astrias e da Cantbria.

2.Muito pouco se sabe das antigas populaes ibricas. No incio da romanizao habitava a Pennsula uma complexa mistura racial: celtas, iberos, pnico-fencios, lgures, gregos e outros grupos mal identificados.

Das lnguas desses povos quase nada conservaram os idiomas hispnicos. Com relativa segurana, atribui-se origem pr-romana apenas a uns quantos sufixos, como: arra (bocarra), orro- (beatorro), asco- (penhasco) e ego- (borrego) e algumas palavras de significao concreta: arroio, balsa, barro, Braga (s), carrasco, gordo, lama, lana, lousa, manteiga, tamuge, tojo, veiga, etc.

3.A romanizao da Pennsula no se processou uniformemente. Das trs provncias em que Agripa (27 a.C.) dividiu a Hispnia - a Tarraconense.6. MORFOLOGIA DOS SUBSTANTIVOS E DOS ADJETIVOS INTRODUO S DECLINAES

Gneros

O latim, alm do masculino e do feminino, tem tambm o gnero neutro, isto , nem masculino nem feminino.

Terminao

O adjunto restritivo, o objeto indireto, o objeto direto, etc., exprimem-se em portugus por meio de artigos e preposies.

Em latim no h artigos, por isso a palavra latina rosa pode, conforme as circunstncias traduzir-se por: a rosa, uma rosa ou, simplesmente, rosa; os complementos e os adjuntos se exprimem, em geral, por meio de modificaes na parte final das palavras.

parte final varivel de qualquer nome chamaremos terminao.

Casos e Declinaes

a) Declinar (ou flexionar) quer dizer acrescentar parte invarivel de um nome as terminaes dos casos.

b) Os Casos so seis: o nominativo para o sujeito e para o predicativo do sujeito; o genitivo para o adjunto restritivo; o dativo para o obj. indir.; o acusativo para o obj. dir.; o vocativo para o vocativo; o ablativo para o agente da passiva e para muitos adjuntos que sero estudados mais tarde.

c) As Declinaes dos substantivos so cinco e distinguem-se pela terminao do genitivo singular, a qual : ae- na primeira declinao, i- na segunda, is- na terceira, us- na quarta, ei- na quinta.

Por isso os dicionrios registram os substantivos, dando por extenso o nominativo singular e acrescentando a terminao do genitivo singular: nauta, ae marinheiro (1. decl.); avus, i av (2. decl.); civis, is cidado (3. decl.); manus, us mo (4. decl.); species, i espcie (5. decl.).

O professor que, pela vez primeira, abre a gramtica na declinao de rosa, rosae, no sabe sobre que canteiros de flores abre a alma do jovem.

(Charles Pguy, primoroso romancista francs contemporneo)

7. PRIMEIRA DECLINAO

Primeira declinao (Genitivo singular- ae)

Todos os substantivos da 1. declinao se flexionam como rosa, rosae (f):

CasosSingular Plural

Nom.ros-a a rosa ros-ae as rosas

Gen.ros-ae da rosa ros-arum das rosas

Dat.ros-ae rosa ros-is s rosas

Ac.ros-am a rosa ros-as as rosas

Voc.ros-a rosa ros-ae rosas

Abl.ros-a pela rosaros-is pelas rosas

Exerccios

a) Declinem-se estes substantivos femininos: casa, casae choupana; luna, lunae lua; rota, rotae roda; corona, coronae coroa; via, viae rua; lacrima, lacrimae lgrima.

b) Declinem-se estes substantivos masculinos: conviva, ae comensal; collega, ae colega; nauta, ae marinheiro; poeta, ae poeta; incola, ae habitante; scurra, ae bobo.

Traduo, Anlise de Caso e Funo de Frases:

1. Puella amat rosam.

2. Domina vocat ancillam.

3. Nauta amat lunam et stellas.

4. Puellae amat coronas rosarum.

5. Vos donatis puellis coronas rosarum.

6. Opera agricolae fecundat terram.

7. Sapientia est gloria poetarum.

8. Britannia est insula.

9. Viae et silvae et insulae et paeninsulae in Europa sunt.

10. Silvae et viae in insula Britannia sunt.

11. Brasilia est terra magna in America.

12. Lingua nostra est lingua Lusitana.

13. Lingua Lusitana paene lingua latina est.

14. Magna est fama Siciliae.

15. Familiae magnae sunt et vita dura est.

16. Viae in Sicilia non bonae sunt.

17. In Brasilia sunt etiam multae viae novae et longae.

18. Quid puella parva portat? Rosas portat.

19. Ubi rosas parat?

20. In silva multas rosas parat et in corbula portat.

21. Ubi silva est?

22. Silva in insula longa est.

23. Cur puella parva rosas portat

24. Quia rosas amat.

25. Rosas amatis, puellae

26. Rosas amamus.

27. Maria solum rosam albam amat, sed Priscilla amat etiam rosam rubram.

28. Quis rosam pulchram non amat?

29. Puella pupam suam amat.

30. Pupa puellae est pulchra.

31. Puella etiam pulchra est.

32. Puella est filia agricolae.

33. Puella oboedit agricolae.

34. Agricola dat pupam puellae suae.

35. O puella, pulchra es!

36. Puella amat patriam et agricolam.

37. Puella exiit ex patria cum agricola.

38. Casa puellae parva est.

39. Puella habet magistram pulchram et bonam.

40. Magistra dicit puellae Historia est magistra vitae.

41. Puella est pulchra.

Puellae sunt pulchrae.

42. Puella est filia agricolae.

Puellae sunt filiae agricolarum.

43. Puella oboedit agricolae.

Puellae oboediunt agricolis.

44. Agricola dat pupam puellae.

Agricolae dant pupas puellis.

45. O puella, pulchra es.

O puellae, pulchrae estis.

46. Puella exiit ex patria cum agricola.

Puellae exierunt ex patriis cum agricolis.

Verbo - 1. Conjugao - Presente do Indicativo:

laud-o

lauda-s

lauda-t

lauda-mus

lauda-tis

lauda-nt

Verbos - Presente do Indicativo:

Esse

LaudareDelere (Destruir)Legere (Ler)

Audire (ouvir)

Sum

laudo

deleo

lego

audio

Es

laudas

deles

legis

audis

Est

laudat

delet

legit

audit

Sumus

laudamusdelemus

legimus

audimus

Estis

laudatisdeletis

legitis

auditis

Sunt

laudant

delent

legunt

audiunt

N.B. Como, para indicar o nmero, a pessoa do verbo, usam-se desinncias ditas pessoais, assim, na lngua latina, no