lambada: a cara do brasil

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA LAMBADA: A CARA DO BRASIL 29/09/2010 Curso de Comunicação Social Habilitação: Jornalismo Disciplina: Formação Social Brasileira Aluna: Kary Hellen Marins Subieta Matrícula: 20101100086

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Page 1: Lambada: a cara do Brasil

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

LAMBADA: A CARA DO BRASIL

29/09/2010

Curso de Comunicação Social

Habilitação: Jornalismo

Disciplina: Formação Social Brasileira

Aluna: Kary Hellen Marins Subieta

Matrícula: 20101100086

Page 2: Lambada: a cara do Brasil

PRINCIPAIS REFERÊNCIAS Luís Florião*

Chico Peltier** Adriano Duarte Rodrigues***

* Professor e pesquisador especializado em danças brasileiras Idealizador do Movimento Lambada Brasil. Tel.: (005521) 85340306 ou 2568782 E-mail: [email protected]

** Professor e pesquisador de danças nacionais e internacionais Titular da Spaço Art, academia de Dança de Salão, instalada em Itaim Bibi/SP Tel: 005511)31681131 E-mail: [email protected]

*** Professor Catedrático na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa Doutor em Comunicação Social Investigador das áreas: Ciências da Comunicação; Linguística Pragmática; Interação Verbal; Conversação.

Telefone: 351-1-7168109 ou 351-931.359223 E-mail: [email protected]

Page 3: Lambada: a cara do Brasil

Resumo

O presente artigo tem como objetivo mostrar através de fatos históricos que a lambada é um

produto cultural brasileiro. Suas raízes evidenciam a expressão que este gênero tem. A popularidade

da lambada no exterior e sua expressividade, junto ao seu histórico, são pontos discutidos em

pesquisas e referências dos autores Luís Florião e Chico Peltier, estudiosos em danças brasileiras e

danças internacionais, respectivamente. O autor Adriano Duarte Rodrigues contribui para o artigo

com trabalhos referentes à cultura dentro de um contexto social em que os meios de comunicação de

massa interferem no gosto popular. Há quem acredite que foi apenas um modismo, e morreu, mas

publicações de outros autores, citados no decorrer deste trabalho, mostram que este símbolo

brasileiro se atualiza continuamente na modernidade que lhe é necessária para que perpetue. Para o

presente artigo contribuíram: trabalhos, livros e pesquisas, publicados na Internet e contato em rede

social com o autor Luís Florião.

Palavras-chave: Lambada. Cultura brasileira. Símbolo brasileiro.

Resumen

En este artículo se pretende demonstrar a través de hecho histórico que la lambada es un

producto cultural brasileño. En sus raíces se demostró la expresión que existe en el género. La

popularidad de la lambada en el extranjero y su expresividad, junto con sus puntos históricos,

son puntos discutidos en las encuestas y las referencias de los autores Luis Florião y Chico Peltier,

los estudiosos de danzas brasileñas e internacionales, respectivamente. El autor Adriano Duarte

Rodrigues ha contribuido con el trabajo sobre la cultura en un contexto social en que los medios de

comunicación de masas están a interferir en el gusto popular. Algunos creen que fue sólo una moda

pasajera, y murió, pero otras publicaciones, que son de autores citados en este trabajo muestran que

este símbolo se actualiza continuamente en Brasil con la modernidad que es necesario para

mantenerlos. Ha contribuido a este artículo: libros y investigaciones que se encuentran publicados en

Internet y el contacto por la red social con el autor Luis Florião.

Palabras-llave: Lambada. Cultivo brasileño. Símbolo brasileño.

Page 4: Lambada: a cara do Brasil

Sumário

Introdução .......................................................................................................................... 1

O Carimbó – Ascendente Direto da Lambada ................................................................ 2

O Rádio e a Música Caribenha.........................................................................................3

O Hibridismo Lambadesco...............................................................................................3

Uma Jogada de Marketing................................................................................................4

O Quase Enterro da Lambada..........................................................................................6

Um Novo Estilo Em Dançar Lambada.............................................................................6

Dançando Lambada Ê, Dançando Lambada Lá.............................................................7

Enquanto Um Lambadeiro Existir, A Lambada Jamais Morrerá...................................8

A Origem do Título Musical e Sua Autoria......................................................................9

A Defesa da Nacionalidade Brasileira...........................................................................9

Conclusão........................................................................................................................12

Bibliografias.....................................................................................................................13

Referência Artística.........................................................................................................13

Anexos.............................................................................................................................14

Page 5: Lambada: a cara do Brasil

1

Introdução

O Brasil é composto de um número tão grande de elementos culturais, que seria uma

injustiça defini-lo com apenas um símbolo. Em cada região geográfica, é cultivada uma

maneira de viver e de pensar, de modo que a regionalidade pode ser considerada a grande

responsável pela gestação das diversas tradições que compõem a riqueza cultural brasileira.

Os elementos que moldam cada subdivisão cultural dessa são de fontes plurais, indo desde a

influência dos imigrantes e nativos até a proximidade geográfica e comunicativa com outras

nações.

A cultura é um conjunto de sentidos que busca a sociabilidade. O entretenimento

sempre esteve presente com seu papel social. Música e dança são manifestações artísticas e de

religiosidade que são encontradas em todas as culturas.

O povo brasileiro tem a alegria como sua marca mais visível. Assim, uma das formas

de manifestação cultural que fazem com que isso seja possível é a dança, para a qual se faz

necessária a existência de uma música condizente com a mesma.

A Lambada, ao surgir, trouxe consigo uma carga histórica, fazendo o papel de

perpetuação de uma cultura que data dos tempos coloniais. Partindo deste posicionamento, a

lambada é uma cultura resultante do sincretismo da música e da dança brasileiras ao longo de

toda a história do Brasil.

Page 6: Lambada: a cara do Brasil

2

O Carimbó – Ascendente Direto da Lambada

Pesquisador de danças nacionais e internacionais, o professor de danças de salão

Chico Peltier, em seu artigo Histórico da Lambada, no qual se descreve como tendo vivido e

aproveitado a época, diz que desde os tempos da colônia se dançava uma dança de origem

africana (mais especificamente do povo Yorubá) chamada Carimbó. Ao relatar a dança como

datando das épocas coloniais, ele aponta sua nacionalidade, a qual está ligada, indiretamente

às danças que descenderam do carimbó. Descreve que a sensualidade da dança seria

representada pelos movimentos onde a mulher tentava encobrir o homem com a saia e muitos

giros (Peltier, 1999), além de galanteios e rotações de cabeça. Hoje, ainda é muito praticada

no folclore amazônico e há indícios, segundo o estudioso das danças brasileiras, Luís Florião,

de que provavelmente, era cultivada pela tribo Tupinambá. (Florião, 2010)

O nome deriva do instrumento de percussão indígena, principal artefato para a

realização dos encontros em terreiros, o curimbó, feito de tronco de madeira e pele de animal

(Gabbay, 2010). Este instrumento comunicacional era usado em rituais religiosos, festas

populares e reuniões sociais (Gabbay, 2010) e figurava a relação entre o trabalho e a

desigualdade social.

Nas últimas décadas, o carimbó foi matriz para diversos gêneros contemporâneos,

como o tecnobrega e a lambada (Gabbay, 2010). Foi através de compositores como Pinduca,

Mestre Lucindo, e Mestre Verequete que o gênero ganhou espaço nas mídias, pricipalmente

no rádio, a partir da década de 70.1

O carimbó permanece presente enquanto cultura, emprestando elementos estéticos à

modernidade, através da adequação aos padrões estéticos e comerciais contemporâneos

(Gabbay, 2010). Um dos ícones da nossa cultura, o cantor e compositor Pinduca, o Rei do

Carimbó (como é carinhosamente conhecido em todo Brasil) (Farias, 2008), disse em

entrevista ao Diário do Pará: Hoje, o carimbó deixou de ser uma curiosidade ‘exótica’ e virou

referência pop entre a nova geração de músicos. Sempre achei que o carimbó tinha que

evoluir. Se não modernizar, não anda (Gabbay, 2010). Na mesma reportagem, datada de

2009, o Carimbó Urbano é mostrado como sendo uma cultura integrada aos novos padrões

comerciais, de tecnologias e midiatização, possuindo, assim, uma postura globalizada perante

1 Nos últimos anos, o carimbó vem protagonizando debates de artistas, ativistas e agentes culturais

em torno de sua apropriação aos códigos considerados modernos, seja esteticamente, seja

discursivamente, ou ainda simbolicamente (Gabbay, 2010).

Page 7: Lambada: a cara do Brasil

3

o público massivo. O jornal ainda define Pinduca como o cara que mostrou à cena paraense

que a tradição e a modernidade não se chocam, mas se completam (Gabbay, 2010).

O Rádio e a Música Caribenha

Segundo Rodrigues (Rodrigues, 1999), a sociabilidade se alimenta de processos de

trocas simbólicas generalizadas que geram os laços sociais; e o alcance pelos meios de

comunicação social contribuem para o alargamento da nossa experiência pelo mundo. Um

exemplo destes meios interferirem diretamente na cultura está na influência caribenha na

região norte do Brasil, através do rádio.

O rádio estava no gosto amazônico e, no seu interior, as emissoras que mais se ouviam

eram as estrangeiras, especialmente as caribenhas. Em entrevista concedida ao Jornal Liberal,

Rui Barata faz uma observação acerca disto: No Recife havia a Rádio Clube do Pernambuco.

No Rio a rádio Tupi, e no Rio Grande do Sul a rádio Farroupilha. Todas essas estações

usavam as ondas largas, que nos chegavam com péssima recepção. O jeito era ouvir as

estações do Caribe que ofereciam melhores audições.

Foi através do rádio que a região paraense recebeu influências das músicas do caribe,

como merengue, cúmbia e zouk, principalmente o merengue. É evidente que cultura e

comunicação são dois termos que se interpenetram desde o surgimento dos primeiros meios

de comunicação social (Silva A. F.).

O contato constante com as músicas caribenhas permitiu o surgimento de novos

ritmos, como o Sirimbó o Lári-Lári, além de dar cara nova ao Carimbó. Ao surgir, estes

ritmos permitem um estreitamento dos laços sociais, uma vez que mais ritmos permitem uma

maior abrangência de seguidores, se forem vistos como ritmos para todos os gostos.

Rodrigues diz que estes laços são estabelecidos através dos meios de comunicação mediados

por símbolos concebidos, elaborados e legados por gerações sucessivas (Rodrigues, 1999).

O Hibridismo Lambadesco

Muitos autores consideram o rádio como principal produtor do gosto popular e da

cultura na região norte, o que não é de todo errado considerar. Mas a Lambada, tendo

recebido a cultura caribenha, não deixou de servir-se da cultura local na sua construção,

quanto à música e à dança.

Page 8: Lambada: a cara do Brasil

4

A fusão do carimbó (da região amazônica) com a guitarrada (música eletrônica do

Pará) e o forró (do nordeste brasileiro_ Bahia), mais o zouk, o merengue e a cúmbia, das Ilhas

Caribenhas, constituíram um ritmo brasileiro que mais tarde eclodiria em uma febre

internacional (persistindo até os dias de hoje), a Lambada.

Os ritmos caribenhos fizeram surtir algumas diferenças na forma de se dançar o já

existente carimbó. A dança carimbó passou a ser dançada a dois, binária (muito parecia com

o merengue) e bem girada, diferente do que era antes, uma dança de duplas soltas, as duplas

passaram a ser enlaçadas (Peltier, 1999).

Quando chegou à Bahia, a dança se misturou como o Forró e começou a ganhar

uma cara nova, além de o ritmo ter se transformado em quaternário com um passo diferente

do paraense (Peltier, 1999).

Algumas figuras do maxixe também foram incorporadas à dança, tal como o balão

apagado e o peão. A lambada desta época usava as pernas bem dobradas e era marcada

lateralmente com dois movimentos para cada lado (Peltier, 1999).

Segundo Chico Peltier, a Lambada surgiu no apogeu do Carnaval Baiano, onde a

cada ano era lançada uma dança, como o Ti-ti-ti e o Fricote, que vieram antes da lambada. E

foi em Porto Seguro que ela teria conseguido um solo fértil para se desenvolver. Esta fase

pode ser considerada o primeiro Boom da Lambada. O autor também conta que ainda existia

muito preconceito no sul do país.

Luís Florião cita como referências do desenvolvimento inicial da lambada na Bahia

as casas Lambada Boca da Barra, em Porto, e o Jatobar, em Arraial D”Ajuda, onde,

segundo ele, dançava-se lambada ao som das rumbas flamencas_ que chamavam de lambadas

espanholas_ e dos zouks_ chamados de lambadas francesas.

Uma Jogada de Marketing

A valorização da lambada enquanto cultura só se deu após o sucesso do ritmo no

exterior. O verão tinha terminado e com ele a lambada estava se preparando para cair no

esquecimento, uma vez que a lambada era reconhecida como o ritmo do verão (Peltier,

1999). A Europa estava atenta, de olhos abertos (Peltier, 1999) e foi então que após o término

do verão, dois empresários franceses vieram ao Brasil e compraram os direitos autorais de

mais de 300 músicas Brasileiras (Peltier, 1999). Além de levar dançarinos brasileiros para lá

Page 9: Lambada: a cara do Brasil

5

e contar com músicos de qualidade, montaram uma boa estrutura de marketing para então

formar o grupo Kaoma e garantir o seu sucesso pelo mundo.

O Kaoma foi um grande difusor da Lambada internacionalmente. Tornou-se um

fenômeno de vendas. Com o este sucesso, seguiram-se inúmeras composições. Aqui no

Brasil, muitos cantores, como Beto Barbosa, Manezinho do Sax e Sidney Magal, explodiram

em suas carreiras ou incrementaram-na ao gravar as lambadas. Algumas das músicas que

embalaram na época foram: Adocica, Dançando Lambada, Chorando se foi, Vamos abrir a

roda e Me chama que eu vou, dentre muitas outras.

Ao voltar ao Brasil, a lambada fez sucesso em toda a sua extensão, inclusive no sul do

país. Esta fase é chamada por Peltier de Segundo Boom da lambada, pois foi a partir dela que

as marcas foram deixadas na nossa cultura; a lambada ganhou igualdade no samba quanto à

sua representatividade no exterior2. O que foi febre na época, hoje ainda com uma legião de

adeptos, é parte de uma loucura híbrida, chamada Brasil.

Surgiram outras manifestações artísticas que também pegaram carona no novo ritmo

brasileiro. A exemplo, tem-se os filmes Lambada, a dança proibida (do original The

Forbidden Dance) e Lambada (do original Lambada - Set The Night On Fire, também

conhecido no Brasil como Lambada Em Los Angeles), que surgiram em meio à febre da

lambada, e a abertura de Rainha da Sucata (novela de Sílvio de Abreu, da rede Globo,

transmitida em 1990).

A lambada começou a aparecer em praticamente todos os programas de auditório

(Florião, 2010). Surgiram concursos e shows, em que a necessidade do espetáculo fez com

que os dançarinos criassem coreografias cada vez mais ousadas, com muitos giros e

acrobacias (Florião, 2010). A necessidade de aumentar seu potencial para a realização de

espetáculos fez com que a lambada utilizasse a ressignificação pela qual o gênero passou na

Europa, pelo contato com outras danças. O balé foi relevante neste processo, emprestando

elementos técnicos e artísticos à lambada.

2 Os autores Luís Florião e Chico Peltier concordam com esta adjetivação conferida à lambada

enquanto cultura brasileira vista no exterior; Roberta Ribeiro, que não considera a lambada uma boa imagem brasileira, reconhece a popularização do ritmo. A sua representividade hoje é um fato observado por Luís Florião nos congressos mundiais em que advoga em favor da manutenção de uma cultura brasileira e na defesa do nome lambada (para que não se perca a consciência da brasilidade da dança). Ele a descreve como uma ’semente verde-amarela’ espalhada pelo mundo (Florião, 2010).

Page 10: Lambada: a cara do Brasil

6

O Quase Enterro da Lambada

Líder dos topos das paradas de sucesso de todo o mundo, durante anos, a lambada

começou a perder a majestade. As músicas pararam de ser gravadas, mas em muitas

danceterias (particularmente, lambaterias) buscava-se um ritmo que pudesse substituir a

lambada, enquanto música, a fim de nutrir o público ávido em lambadear. As músicas

francesas, espanholas, árabes, estadunidenses, africanas, caribenhas etc. foram então

cultivadas nestas danceterias por permitir dançar lambada. Um exemplo de banda que fez

sucesso no Brasil neste quesito foi a Gipsy kings (que tocava rumba flamenca). Mas foi o

ritmo francês Zouk, muito praticado em termos de dança no Caribe, lá dançado parecido com

o merengue, foi o que melhor se encaixou para dançar lambada, além de ter o significado da

palavra em si bastante propício para figurar uma dança brasileira_ zouk significa festa.

Um Novo Estilo em Dançar Lambada

O novo ritmo no qual se configurou a lambada, resultou em algumas mudanças na

forma de se dançar. Mais lento e com mais pausas, o zouk permitiu uma fluidez e suavidade

que levaram à exploração de uma sensualidade que não era vista ao dançar-se no ritmo

lambada.

Pode-se encontrar dois estilos bem diferenciados hoje no Brasil (embora existam

atualmente mais do que estes dois, eles são os de maior expressividade), são eles: o estilo

Porto Seguro e o estilo Rio. O estilo Porto Seguro utiliza preferencialmente as músicas mais

rápidas (lambadas, zouks e músicas árabes), aproxima-se mais da lambada da década de 80 na

forma de dançar, mantendo a base na Polca. O estilo Rio serve-se das músicas mais lentas

(zouk Love e kizomba Love), incorporando elementos do samba de gafieira na sua forma de

dançar, mantendo a base rítmica na valsa3.

A lambada está passando por um período de fluidez dando origem a novas práticas

(Florião, 2010), apresentando-se em outros estilos, menos difundidos no momento, surgiram

(e ainda estão a surgir) com nomes diferenciados para atender a demanda de mercado4. Em

vista disso, temos que a cultura brasileira, como tantas outras, é influenciada pelo modelo

3 Em síntese, a produção cultural da lambada convive em constantes processos de troca que

promovem novas singularidades que outros consideram como perda de identidade (Florião, 2010). 4 Novos nomes são criados sob o pretexto de delimitar as fronteiras de dançar os estilos, mas, na

verdade, o que ocorre é uma adesão à tendência neoliberal de comercialização da cultura e, desde que a concorrência é muito acirrada, os estilos são nomeados como marcas de produtos. Sendo assim, surgem “novas” estéticas, tais como: o zouk árabe, soulzouk, neozouk, zoukrevolution, flow, entre outros (Oliveira & Júnior, 2010).

Page 11: Lambada: a cara do Brasil

7

consumista, característico do capitalismo difundido_ fala-se em indústria cultural5. Alexandre

Figueiredo diz que a lambada, à época do seu surgimento, não passava de um símbolo da

estereotipação sócio-cultural imposta pelo capitalismo dos EUA à América Latina.

Figueiredo defende que os ritmos brega-popularescos, como ele chama (como também o são

o sertanejo, o funk e o axé music), surgem como pretensão de um discurso social na grande

mídia para o populismo de direita e políticos. Este modo de pensar figura um radicalismo

desnecessário por sua natureza ignorante quanto às raízes reais da lambada, comprovadas

historicamente.

Dançando lambada ê, dançando lambada lá6

A lambada, no seu segundo Boom, modificou o panorama de dança social entre os

jovens. A juventude contagiou-se com o rock na década de 60 e com a discoteca no final de

70, deixando de dançar a dois. Com o surgimento da lambada, voltaram a dançar aos casais e

não pararam desde então. Escolas de dança de salão se espalharam pelo país, devido à

crescente procura. Os bailes começaram a ser mais freqüentes, onde pessoas de todas as

idades estavam resgatando o prazer da dança a dois. Nesta época, surgiram os grandes

talentos de dança de salão que são reconhecidos nos dias de hoje7.

A dança hoje é conhecida por diversos nomes que designam o mesmo estilo no

Brasil, são eles: lambada-zouk, lambazouk, zouk, lambada brasileira, zouk brasileiro e outros

nomes já citados que designam subestilos que no fim são mesclados formando uma dança

única.

5 O termo indústria cultural foi “cunhado” pelos pensadores da Escola de Frankfurt, Adorno e

Horkheimer, para designar a indústria mediática que estes autores entendiam como sendo a indústria de produção simbólica capitalista. De acordo com estes teóricos os produtos culturais contribuem para criar, reproduzir e manter não apenas uma ideologia dominante numa sociedade mas também a própria estrutura dessa sociedade. Esta recria-se e reproduz-se constantemente de acordo com a base ideológica dominante, em parte devido à força dos produtos culturais, que pela sua produção em massa se tornariam estandardizados e homogêneos (Silva A. F.).

6 Música Dançando lambada, Beto Barbosa.

7 Visto que citar nomes do mundo em lambada-zouk acarretaria em uma injustiça, pois poderiam ser

esquecidos alguns cruciais para esta manifestação, seguem-se alguns dos professores mais

conhecidos deste gênero no Rio de Janeiro, que têm expressiva participação na continuidade desta

cultura: Renata Peçanha, Alex de Carvalho, Luís Florião, Jaime Arôxa, Lídio Freitas e Leonardo

Neves. Os citados participam ativamente em congressos nacionais e internacionais da lambada-zouk

e são responsáveis pelo planejamento e continuidade de muitos dos que são realizados no Brasil,

além de serem defensores desta arte como patrimônio nacional.

Page 12: Lambada: a cara do Brasil

8

Enquanto um lambadeiro existir, a lambada jamais morrerá8

Com a carreira iniciada aos 14 anos, ele, que é criador de tantos ritmos paraenses, já

tem mais de 40 anos de estrada musical, tem o intuito de levar a cultura musical e as coisas

do Pará a todos os lugares onde realiza os seus shows. O mestre Pinduca é visto pela Agência

de notícias do Acre como um dos ícones da nossa cultura, devido ao reconhecimento como

criador de ritmos como Sirimbó, lambada, Lári-lári e Lamgode, e difusor do carimbó.

Loalwa Braz, ex-vocalista do grupo Kaoma, é reconhecida pelo continente europeu

como representante da lambada. Ela diz que a lambada no exterior tem alto reconhecimento

como ritmo brasileiro e que tem tantos adeptos quanto o samba de gafieira. Devido à dança

ser praticada no ritmo zouk, atualmente, Loalwa diz as pessoas acham que estão dançando

‘zouk’, mas na verdade estão dançando lambada. A atual dança a qual chamamos hoje de

zouk (que é puramente a lambada, como explica claramente Loalwa) é chamada de filhote da

lambada por Roberta Ribeiro (Ribeiro), que se lamenta pelos rastros deixados pela lambada

serem seguidos e terem força como cultura9.

O casal brasileiro de professores de dança de salão Adriana D’Acri e Luís Florião

participa constantemente de congressos internacionais e ministram oficinas sobre a lambada.

Seu trabalho é focado na preservação das tradições e na defesa da cultura da lambada como

brasileira. Durante os congressos, ao observar como está a lambada pelo mundo, se

surpreendem ao ver dançarinos de diversas nacionalidades dançando lambada e com

principalmente um grande amor e curiosidade pelo que é brasileiro, diz Adriana. Florião

afirma: a lambada é a nossa dança de par mais conhecida no exterior (mais até do que o

samba). Os congressos têm como objetivos informar ao grande público, livrar-se de

estereótipos muitas vezes até pejorativos e definir uma estratégia mundial de divulgação da

lambada (Florião, 2010). No Brasil, a sede do Congresso Internacional de Lambada-Zouk,

anual, ocorre em Porto Seguro, que ele chama de Meca dos lambadeiros.

O Carimbó, que ascendeu à lambada, conta com um engajamento político na sua

preservação, através da Campanha Carimbó Patrimônio Brasileiro. Nessa, há a fluidez entre

o tradicional e o moderno. O site do Intercom, no seu IX Congresso de Ciências da

Comunicação na Região Norte (Rio Branco/AC – 27 a 29 de maio 2010), teve como uma das

discussões as Representações Sobre O Carimbó: Tradição X Modernidade, em que

8 Lema da casa noturna Ilha dos Pescadores, da Barra da Tijuca/RJ).

9 A lambada passou. E só não há o alívio completo porque deixou filhotes (Ribeiro)

Page 13: Lambada: a cara do Brasil

9

reconheceu-se a importância da modernização das tradições para que elas sejam reconhecida a

nível global10

. Para a fundamentação das pesquisas, foi feita uma entrevista com Pinduca, que

reconheceu a importância da modernidade para a manutenção da cultura do carimbó. E, se a

modernidade do carimbó resulta em outros ritmos como a lambada, deve a mesma ter para a

cultura nacional uma expressiva representatividade, uma vez que, dentre os descendentes do

carimbó, ela é a de maior popularidade. É vista como espelho do nosso país no exterior e a

que causou mais impactos sociais, que perduram na atualidade_ como, por exemplo, a cultura

da dança de salão e a sua persistência no cultivo dela.

A Origem do Título Musical e sua Autoria

As raízes africanas, ao se misturar com o som metálico e eletrônico do Caribe, fez

surgir um som único, que, segundo diversos relatos de paraenses, uma emissora local

chamava de ‘Lambadas’ as músicas mais vibrantes (Florião, 2010), ou os ritmos de batida

forte, como chama Peltier. Este nome teria sido adotado devido ao lambadeio das saias das

praticantes.

Mas a origem do batismo do ritmo é controversa. Pinduca (considerado por muitos o

verdadeiro Pai da Lambada) teria usado a primeira vez a palavra lambada em uma música

sua, de 1976, Lambada (Sambão), faixa número 6 do LP No embalo do carimbó e sirimbó

vol. 5, sendo a primeira gravação de uma música sob o rótulo de ‘Lambada’ na história da

música popular brasileira (Florião, 2010).

Há também quem sustente que o inventor da lambada teria sido Mestre Vieira, já

consagrado inventor da guitarrada, já que em 1978 ele lançou o disco Lambada das

Quebradas, mas garante tê-lo gravado ainda em 1976.

A Defesa da Nacionalidade Brasileira

Devido ao seu caráter híbrido, como o são muitas das culturas brasileiras, a lambada

sofre muitos questionamentos acerca da sua nacionalidade. Levantamentos de fontes que

sustentem as dúvidas não faltam.

Uma das controvérsias está no hino da lambada durante o sucesso do grupo Kaoma.

Batizado de Lambada, mas muito conhecida como Chorando se foi, seu nome original é

10

Quando o carimbó é objeto de um acontecimento folclórico ou regional, pende à representação tradicionalista, e quando é objeto de um acontecimento com viés mais contemporâneo ou global, pende à modernidade (Gabbay, 2010).

Page 14: Lambada: a cara do Brasil

10

Llorando se fue, e é uma música boliviana. Existe quem afirme que a lambada é música

boliviana só por causa disso.

Devido à lambada ter passado pelo seu momento de crise em que cessaram as

gravações das músicas de lambada, passaram a dançar lambada em rumbas flamencas e nos

zouks. Há quem considere a lambada européia devido à dança ser praticada nestes ritmos

espanhol e francês, respectivamente. Na, já citada, novela Rainha da Sucata, falavam que a

lambada vinha da França, como concorda um blogueiro11

, que diz ainda mais: Não foi criada

no Brasil. Não, não, não. É um ritmo caribenho que fez sucesso na França, com o grupo

Kaoma (que era francês). Quando a lambada começou a tocar no Brasil, já era moda no país

de Zidane.

Muitos blogs discutem o tema ainda hoje; lambadeiros mostram-se saudosos da época

de febre do ritmo. Abertos à discussão popular, estes blogs recebem também críticas

destrutivas sobre a repercussão da sensual dança da lambada. Há quem interprete de maneira

errônea a sensualidade dela12

.

No Perú, década de 60, surgiu um ritmo com influências de Pinduca que é considerado

similar da lambada, a cúmbia tropical. Não se tem indícios de que cheguem a considerar a

lambada como sendo uma cultura peruana, uma vez que é reconhecido o fato de a dança

peruana ter tido exemplo no carimbó de Pinduca para ter sido formada13

.

Há ainda um levantamento que diz respeito à origem da lambada ser caribenha e outro

quanto à lambada e ao zouk serem apenas nomes diferentes que designam o mesmo ritmo.

Florião diz que esta confusão na cabeça das pessoas é comum, devido à enorme quantidade de

11

Sidney Magal cantava o tema de abertura de "Rainha da Sucata", novela de Silvio de Abreu que incluía a moda da lambada no enredo (é bom registrar, por justiça, que na novela eles corretamente avisavam que a coisa vinha da França) (Algumas curiosidades sobre a lambada, 2006) 12

Segue uma parte de um relato sobre a lambada feita por um anônimo a um dos blogs que

rememoram a lambada: Na verdade, era um bando de mães que pensavam bem menos do que uma

mula e deixavam as filhas, meninas que mal sabiam o que estavam fazendo, mostrarem a bunda em

todo lugar,sem o menos pudor; mães que achavam bonito ver suas filhas ficarem se esfregando em

meninos e, consequentemente terem uma iniciação sexual muito cedo, se tornando mães solteiras.

Tudo isso por causa de um débil mental que colocou uma menina loira para dançar com um negro

para fazer sensacionalismo, passando a infeliz ideia de que toda mulher branca gosta de negro,o que

não e verdade,isso sim foi a lambada (Lambada, 2008). 13

Um dos maiores representantes desta expressão cultural na Amazônia-Paraense é o popular

‘Pinduca’, conhecido como ‘O rei do carimbó’, quem com sua produção discográfica inundou a Bacia

Amazônica desde o Brasil até o Peru. No Peru, provavelmente em Iquitos, agrupamentos e

orquestras musicais desenvolveram a partir da década de 60 uma forma popular de música que

chamaram ‘Cumbia tropical’, muito similar à lambada do estado do Pará (revistacontratiempo.com).

Page 15: Lambada: a cara do Brasil

11

influências que recebeu esta cultura, e diz mais: ...nada disto é verdadeiro. Para entender

como surgiu a lambada e desfazer essa confusão é preciso saber um pouco mais, separando

danças e músicas neste caldeirão de ritmos (Florião, 2010).

Page 16: Lambada: a cara do Brasil

12

Conclusão

A lambada é uma evolução do carimbó e uma forma de manifestação dele que se faz

presente até os dias de hoje. Ela garantiu a sua perpetuação com apenas alguns aspectos da

modernidade, para que se mantivesse vivo até a atualidade e não deixar a cultura ser

esquecida.

Todo o processo de mudanças e reposicionamento da lambada no decorrer de

aproximadamente 20 anos é essencial para a preservação de sua raiz, o carimbó. É inegável

que é uma cultura marcada pelos processos de contato cultural entre elementos estéticos de

diferentes fontes, mas ainda assim há a preservação de aspectos do carimbó original. Hoje

apresentada com o nome zouk, que de francês só tem o nome. Por isso, é importante existir

defensores sobre a nacionalidade da lambada, Afinal, não podemos deixar que outras nações

se apropriem de uma cultura que se mostra historicamente tão brasileira!

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Bibliografia

Algumas curiosidades sobre a lambada. (2006). Gravataí Merengue .

Farias, R. (2008). Pinduca no Arraial Cultural. Agência de notícias do Acre .

Florião, L. (2010). A Lambada e o Zouk. www.conexaodanca.com .

Gabbay, M. M. (2010). Representações Sobre O Carimbó:. Intercom .

Lambada. (2008). As melhores lembranças dos anos 80 e 90 .

Oliveira, P. R., & Júnior, L. V. (2010). Processos de Hibrideização Cultural na Lambada-

Zouk. E. F. Deportes .

Peltier, C. (19 de outubro de 1999). Histórico da Lambada. Dancasdesalao.com , p. 1.

Ribeiro, R. Proibida só lá fora a moda da lambada.

Rodrigues, A. D. (1999). Comunicação e Cultura.

Silva, A. F. Os meios de comunicação social enquanto elementos de regulação cultural.

Silva, P. (15 de outubro de 2006). A Cultura. Nota Positiva , pp. 1-2.

Silva, P. (2006). A Cultura.

Referência Artística

Lambada, a dança proibida (The Forbidden Dance)_ filme.

Lançado em 1990, auge da lambada, o filme conta a história de uma princesa brasileira

que quer salvar a florestra tropical que está em risco de ser destruída por uma multinacional.

Para isso, ela descobre um meio de conseguir comover o povo americano com a causa nobre:

participar de um concurso de lambada, realizado por um programa de televisão, com seu

affair.

O filme gira em torno dos ensaios da dança. A protagonista exprime suas emoções ao

se embalar pela lambada. A paixão exercida pela personagem contagia as outras personagens

do filme, como referência à febre da lambada no mundo na época de lançamento do filme.

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Anexos

Registro de reuniões e palestras sobre o nome e/ou história da lambada:

1. 1o Congresso Lambazouk de Barcelona (2004) – reunião professores;

2. 1o Congresso de Lambada e Samba de Londres (2004) – reunião professores;

3. 1o Br Danças – Congresso Internacional de Danças Brasileiras (2005) – palestra;

4. 1o Congresso Internacional de Zouk em Brasília (2005) – palestra;

5. 1o Curso de Extensão em Dança de Salão – Rio de Janeiro (2005) – palestra;

6. Pós Graduação em Dança de Salão da Famec – Curitiba (2006) – palestra;

7. 3o Minas Zouk (2006) – mesa redonda com professores;

8. 1o Zouk´n Rio (2006) – palestra;

9. 2o Congresso Internacional de Lambada Zouk de Porto Seguro (2007) – reunião

professores.

Dançarinos de shows à época do surgimento da Lambada

Primeiro álbum do grupo Kaoma (1989)

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Lambada, a dança proibida – o filme

Lambada – o filme

Movimento giro da dama

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Loalwa Braz (ex-vocalista do grupo Kaoma), na atualidade

Loalwa Braz de volta ao Brasil, 2010

Propaganda de um workshop de lambada dos dias de hoje

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Propaganda de concurso de lambada na Meca dos lambadeiros