jornal porto. nº1

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O NOSSO PAPEL E stamos na era digital, onde tudo se processa a grande velocidade e, em segundos, a informação passa a obsoleta. Os sites, as aplicações móveis, as redes sociais, o vídeo vieram alterar e confundir a valoração das notícias e a sua hierarquização. Por muito que cheguem rapidamente por essas vias, não têm, nunca terão, o peso que a tinta lhes dá no papel. Por isso, depois de um período em que a cidade reflectiu sobre a sua imagem, a sua marca e se renovou digitalmente, regressamos às notí- cias em papel. Como todos sentimos, o Porto é uma cidade cheia de carácter. O que talvez alguns não tenham repa- rado é que carácter e caracter são a mesma palavra, derivando da ideia de “cunho” e de personalidade que só os mais nobres possuem. O carácter de uma cidade é, por isso, a sua chancela, a sua assina- tura em tudo o que faz e na forma como se apresenta ao Mundo. Neste jornal, em papel, distribuído nas moradas da cidade, expressa- mos um pouco do carácter da cida- de, abdicando dos lugares-comuns da propaganda política monolítica e promovendo o debate das ideias que, saudavelmente, misturamos com a informação ao munícipe. No jornal Porto. todas as forças políticas que os portuenses deci- diram eleger para os órgãos muni- cipais têm a palavra, porque tam- bém fazem parte do carácter da cidade e têm, por isso, aqui, direito a deixar impresso o seu caracter. Rui Moreira N.º 01 P. 2 O Porto possui um fundo no valor de dois milhões de euros, destinado aos mais des- favorecidos. Só na vertente da habitação, o Porto Solidário já ajudou mais de 500 famílias a pagar mensalmente a sua ren- da da casa. Este fundo municipal criado em 2014 destina-se também a apoiar as instituições de solidariedade social. ∫≤ Acordo do Porto Câmara do Porto e Governo encerraram, em julho, velhos diferendos, como contas referentes a terrenos no aeroporto, obras pagas pela Metro, património da STCP e a Porto Vivo. O saldo, a favor do Porto, foi de 40 milhões de euros e o acordo, já assi- nado, inclui a construção de um terminal rodoviário em Campanhã. O Bolhão será o Bolhão O concurso para o restauro do Mercado do Bolhão será brevemente lançado e as obras avançarão no próximo ano. O projeto, apresentado em abril, foca-se na preserva- ção da autenticidade do mercado público de frescos que sempre foi e no cuidado a ter com os comerciantes, considerados como a alma do Bolhão. Para isso, a Câmara prepara um mercado transitório nas ime- diações. Além de manter a traça do edifício, as obras dotarão o mercado de infraes- truturas modernas de eletricidade, frio, aquecimento, mobilidade e segurança. P. 4 O primeiro entrevistado do jornal Porto. é um músico. Mas é também um cronista atento à política e um conhecido comen- tador desportivo, adepto do FC Porto. Mi- guel Guedes, também vocalista dos Blind Zero, diz tudo o que pensa acerca do Porto, numa extensa entrevista a Artur Carvalho, jornalista da rádio TSF. ∫≤ P. 22 O jornal Porto. é impresso a uma cor, mas nele pode encontrar todas as tonalidades. As forças políticas que conseguiram eleger deputados para a Assembleia Municipal do Porto nas últimas eleições autárqui- cas foram convidadas a contribuir com as suas opiniões, através da nomeação de um cronista. ∫≤ A contagem decrescente para 2016 será dada este ano por Pedro Abrunhosa. O conhe- cido músico portuense está a preparar, assim, o seu regresso aos grandes concertos no espaço público da sua cidade, com um concerto espe- cial na Avenida dos Aliados, que inclui um espetáculo de fogo de artifício, este ano com novidades. Em 2014, depois de uma primeira experiência, Rui Moreira anunciou que a Câmara do Porto iria apostar na promoção da passagem do ano, à semelhança do que acontece noutras grandes cidades, oferecendo mais animação aos portuenses e, simulta- neamente, estimulando o turismo e a dinâmica comercial e económica da baixa do Porto. Estender o turismo além das épocas de picos tradicionais, tem sido uma preocupação do executivo, fazendo com que os visitantes passem mais tempo na cidade, se estendam ao longo do ano e deixem mais rendimento na economia local. Pedro Abrunhosa na passagem de ano nos Aliados Na entrada de 2015, a Avenida dos Aliados registou uma das maiores enchentes da sua história, com mais de 140 mil pessoas a afluírem à fes- ta montada pela Porto Lazer, em que atuaram os Clã e os Expensive Soul e em que a contagem decrescente foi feita pelo DJ Fernando Alvim. Este ano, a organização promete diversas melhorias no recinto. As novas datas referenciais criadas pela política de eventos da Câmara do Porto têm ajudado a sustentar o crescimento do turismo na cidade, que no primeiro semestre deste ano registou um aumento de 17% no nú- mero de dormidas de estrangeiros, relativamente a 2014, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Um estudo do Instituto de Planea- mento e Desenvolvimento do Turis- mo revela que os turistas de visita ao Porto e Norte também estão a gastar mais e a ficar mais tempo na região. Em média, pernoitam seis noites e gastam 762 euros, 389 euros dos quais na estadia. Info Mail O jornal Porto. é um trabalho do Gabinete de Comunicação e Promoção da Câmara Municipal do Porto, distribuído gratuitamente em todos os endereços residenciais e comerciais da cidade. Além da atualidade e de artigos de fundo sobre temas de interesse para os cidadãos, é um veículo de liberdade de expressão, de todo o espectro social, cultural e político do Município. • Direção Rui Moreira • Coordenação Editorial Nuno Nogueira Santos • Edição de Fotografia Miguel Nogueira • Redação Jorge Rodrigues, Milene Câmara, Patrícia Campos e Ana Rita Tavares • Direção de Arte Eduardo Aires • Paginação Oscar Maia • Impressão Naveprinter • Tiragem 180.000 exemplares Colaboraram nesta edição André Noronha, Artur Ribeiro, Gustavo Pimenta, José Soeiro e Luís Artur – opinião • José Caldeira – fotografia “Coppia” • Artur Carvalho – entrevista a Miguel Guedes OUTONO 2015 • DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Jornal da Câmara Municipal do Porto - Outono 2015

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Page 1: Jornal Porto. Nº1

O N O S S O P A P E L

Estamos na era digital, onde tudo se processa a grande velocidade e, em segundos, a informação passa a obsoleta.

Os sites, as aplicações móveis, as redes sociais, o vídeo vieram alterar e confundir a valoração das notícias e a sua hierarquização. Por muito que cheguem rapidamente por essas vias, não têm, nunca terão, o peso que a tinta lhes dá no papel.Por isso, depois de um período em que a cidade reflectiu sobre a sua imagem, a sua marca e se renovou digitalmente, regressamos às notí-cias em papel.Como todos sentimos, o Porto é uma cidade cheia de carácter. O que talvez alguns não tenham repa-rado é que carácter e caracter são a mesma palavra, derivando da ideia de “cunho” e de personalidade que só os mais nobres possuem.O carácter de uma cidade é, por isso, a sua chancela, a sua assina-tura em tudo o que faz e na forma como se apresenta ao Mundo.Neste jornal, em papel, distribuído nas moradas da cidade, expressa-mos um pouco do carácter da cida-de, abdicando dos lugares-comuns da propaganda política monolítica e promovendo o debate das ideias que, saudavelmente, misturamos com a informação ao munícipe.No jornal Porto. todas as forças políticas que os portuenses deci-diram eleger para os órgãos muni-cipais têm a palavra, porque tam-bém fazem parte do carácter da cidade e têm, por isso, aqui, direito a deixar impresso o seu caracter. •

Rui Moreira

N.º 01

P. 2O Porto possui um fundo no valor de dois milhões de euros, destinado aos mais des-favorecidos. Só na vertente da habitação, o Porto Solidário já ajudou mais de 500 famílias a pagar mensalmente a sua ren-da da casa. Este fundo municipal criado em 2014 destina-se também a apoiar as instituições de solidariedade social. ∫≤

Acordo do PortoCâmara do Porto e Governo encerraram, em julho, velhos diferendos, como contas referentes a terrenos no aeroporto, obras pagas pela Metro, património da STCP e a Porto Vivo. O saldo, a favor do Porto, foi de 40 milhões de euros e o acordo, já assi-nado, inclui a construção de um terminal rodoviário em Campanhã. •

O Bolhão será o Bolhão

O concurso para o restauro do Mercado do Bolhão será brevemente lançado e as obras avançarão no próximo ano. O projeto, apresentado em abril, foca-se na preserva-ção da autenticidade do mercado público de frescos que sempre foi e no cuidado a ter com os comerciantes, considerados como a alma do Bolhão. Para isso, a Câmara prepara um mercado transitório nas ime-diações. Além de manter a traça do edifício, as obras dotarão o mercado de infraes-truturas modernas de eletricidade, frio, aquecimento, mobilidade e segurança. •

P. 4O primeiro entrevistado do jornal Porto. é um músico. Mas é também um cronista atento à política e um conhecido comen-tador desportivo, adepto do FC Porto. Mi-guel Guedes, também vocalista dos Blind Zero, diz tudo o que pensa acerca do Porto, numa extensa entrevista a Artur Carvalho, jornalista da rádio TSF. ∫≤

P. 22O jornal Porto. é impresso a uma cor, mas nele pode encontrar todas as tonalidades. As forças políticas que conseguiram eleger deputados para a Assembleia Municipal do Porto nas últimas eleições autárqui-cas foram convidadas a contribuir com as suas opiniões, através da nomeação de um cronista. ∫≤

A contagem decrescente para 2016 será dada este ano por Pedro Abrunhosa. O conhe-cido músico portuense está a

preparar, assim, o seu regresso aos grandes concertos no espaço público da sua cidade, com um concerto espe-cial na Avenida dos Aliados, que inclui um espetáculo de fogo de artifício, este ano com novidades.Em 2014, depois de uma primeira experiência, Rui Moreira anunciou que a Câmara do Porto iria apostar na promoção da passagem do ano, à semelhança do que acontece noutras grandes cidades, oferecendo mais animação aos portuenses e, simulta-neamente, estimulando o turismo e a dinâmica comercial e económica da baixa do Porto.Estender o turismo além das épocas de picos tradicionais, tem sido uma preocupação do executivo, fazendo com que os visitantes passem mais tempo na cidade, se estendam ao longo do ano e deixem mais rendimento na economia local.

Pedro Abrunhosa na passagem de ano nos Aliados

Na entrada de 2015, a Avenida dos Aliados registou uma das maiores enchentes da sua história, com mais de 140 mil pessoas a afluírem à fes-ta montada pela Porto Lazer, em que atuaram os Clã e os Expensive Soul e em que a contagem decrescente foi feita pelo DJ Fernando Alvim. Este ano, a organização promete diversas melhorias no recinto.As novas datas referenciais criadas pela política de eventos da Câmara do Porto têm ajudado a sustentar o crescimento do turismo na cidade, que no primeiro semestre deste ano registou um aumento de 17% no nú-mero de dormidas de estrangeiros, relativamente a 2014, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.Um estudo do Instituto de Planea-mento e Desenvolvimento do Turis-mo revela que os turistas de visita ao Porto e Norte também estão a gastar mais e a ficar mais tempo na região. Em média, pernoitam seis noites e gastam 762 euros, 389 euros dos quais na estadia. •

Info Mail

O jornal Porto. é um trabalho do Gabinete de Comunicação e Promoção da Câmara Municipal do Porto, distribuído gratuitamente em todos os endereços residenciais e comerciais da cidade.Além da atualidade e de artigos de fundo sobre temas de interesse para os cidadãos, é um veículo de liberdade de expressão, de todo o espectro social, cultural e político do Município.

• Direção Rui Moreira • Coordenação Editorial Nuno Nogueira Santos • Edição de Fotografia Miguel Nogueira • Redação Jorge Rodrigues, Milene Câmara, Patrícia Campos e Ana Rita Tavares• Direção de Arte Eduardo Aires • Paginação Oscar Maia • Impressão Naveprinter • Tiragem 180.000 exemplares

Colaboraram nesta edição André Noronha, Artur Ribeiro, Gustavo Pimenta, José Soeiro e Luís Artur – opinião • José Caldeira – fotografia “Coppia” • Artur Carvalho – entrevista a Miguel Guedes

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Novo mercado de artesanato

Arrancou em setembro uma nova feira de artesanato localizada entre a Praça Parada Leitão e as traseiras da Reitoria da Universidade do Porto. O Mercado de Artesanato do Porto veio substituir a feira da Ribeira, aliviando, assim, a pressão criada pelo turismo na zona ribeirinha, já muito sobrecarregada.A criação desta feira disponibiliza um con-teúdo com potencial turístico e de animação para uma zona acima da Igreja dos Clérigos, alargando assim o eixo Ribeira-Clérigos. É também a primeira a receber a designação de “Mercado Urbano do Porto”, um “selo” de qualidade carimbado pela autarquia juntamente com a Polícia Municipal. •

Cidade desafia portuenses

Os portuenses responderam ao apelo lan-çado pela Câmara do Porto em junho pas-sado e apresentaram cerca de 300 desafios para a cidade que querem ver resolvidos. O “Desafios Porto” é um projeto municipal com o apoio de quatro parceiros empresa-riais, CEIIA, NOS, EDP e Ernst & Young, que, numa primeira fase, convidou os ci-dadãos a identificar os desafios vividos pela cidade que podem ser resolvidos de forma eficaz através do uso da tecnologia.Desde 1 de agosto (data em que encerra-ram as candidaturas) e até 1 de setembro, foram analisadas as mais de 300 propostas recebidas. O processo passa agora pela se-leção de quatro ideias dentro de cada uma das quatro áreas temáticas de problemas (Saúde e Bem-estar, Energia, Mobilidade e Ambiente, Cidade Digital) e as startup e empresas tecnológicas interessadas poderão apresentar, até 15 de outubro, a solução que propõem para um ou mais dos problemas selecionados.Os projetos vencedores serão anunciados até 23 de novembro e recebem 250 mil euros para poderem ser colocados em prá-tica. Cada solução conta com o apoio de 50 mil euros, aos quais se somam 12,500 euros por projeto, num apoio de consulto-ria prestado pela Ernest & Young.Como curiosidade, entre os suportes de comunicação criados, está um videoclip que ilustra a música que João Salcedo con-cebeu e Miguel Araújo protagoniza e que foi oferecida ao projeto que contou com centenas de contribuições de pessoas que desafiaram a cidade a encontrar soluções para pequenos ou grandes problemas. •

Os bairros municipais do Porto, onde vivem perto de 30 mil pes-soas, têm sido alvo de alguns dos maiores investimentos re-

alizados até agora pela autarquia no presente mandato, um valor que será superior a 20 milhões de euros, até ao final de 2016.Os conjuntos habitacionais da fregue-sia de Campanhã têm vindo a receber importantes intervenções, como foi o caso da reabilitação do Bairro de São Vicente de Paulo, já completa.Em fase final de obra ou já concluídas estão também as obras nos bairros de Aldoar, Contumil e Lagarteiro, onde a requalificação anteriormente iniciada tinha ficado incompleta, por falta de comparticipação do Instituto de Habi-tação e Reabilitação Urbana (IHRU) e foi agora integralmente assumida pela Câmara do Porto.

Dois milhões para emergência social

A Câmara do Porto disponibilizou, este ano, dois milhões de euros destinados ao Fundo de Emergência Social (FES), com o lançamento da segunda edição da inicia-tiva e com um reforço na ordem dos 500 mil euros à verba inicialmente prevista, duplicando o número de agregados aju-dados pelo programa, ou seja, permitindo ajudar mais 300 famílias. O programa, oficialmente denominado Porto Solidário - Fundo Municipal de Emergência Social lançado em 2014, diri-ge-se a três áreas: apoio à habitação, apoio e inclusão de cidadãos com deficiência e apoio a instituições de solidariedade social sem fins lucrativos.O fundo destina-se a pessoas e famílias com graves dificuldades financeiras, em situação de pobreza, devido à crise pro-longada que se vive no país e que acentuou problemas como o desemprego e a perda de prestações sociais.No início de janeiro, o fundo de emergên-cia já tinha recebido 638 candidaturas. Em julho decorreu uma segunda fase de candidaturas que se encontram agora em análise pelos serviços municipais. •

Reabilitação do pavilhão Rosa MotaA Câmara do Porto lançou este ano um concurso público internacional para re-abilitar e explorar o pavilhão Rosa Mota, que há anos espera por obras. Contudo, o júri do concurso acabou por excluir todas as propostas que recebeu. O executivo de Rui Moreira terá agora que decidir qual a solução para avançar com as obras, já que o pavilhão necessita de intervenções urgentes, devido à sua degradação. •

Bairro Rainha Dona Leonor

Embora tenha sofrido atrasos, depois dos problemas apontados pelo júri às respostas ao concurso público lançado pela Câmara do Porto, o Bairro Rainha Dona Leonor será mesmo requalificado brevemente, através do modelo inicialmente propos-to. O novo concurso já foi aberto e prevê a demolição dos blocos ainda existentes e a construção de pelo menos 58 novas habitações sociais. •

Vinte milhões investidos na habitação social até final de 2016

Também em obra está o Bairro de Par-ceria Antunes e, recentemente, comple-tou-se mais uma fase de reabilitação do Bairro de Santa Luzia, em Paranhos. Neste bairro está em obra uma outra fase a que se seguirão duas outras, atualmente em processo de contratação.Nos próximos meses, avançarão obras de reabilitação nos bairros de Ramalde, Eng. Machado Vaz, São Roque da La-meira (três blocos em falta) e São João de Deus, estando em fase de projeto importantes intervenções nos bairros do Bom Pastor, Monte da Bela, Falcão, Cerco do Porto e Pasteleira, cujas em-preitadas deverão arrancar durante o próximo ano e meio.Nos bairros municipais do Porto exis-tem mais de 12 mil habitações, atual-mente ocupadas por mais de 29 mil pessoas que representam 12,2% da população total da cidade. •

Fórmula 1 no rio Douro

Pela primeira vez, o Douro entre Porto e Gaia recebeu uma prova do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 em motonáutica. A competição aconteceu no início de agos-to e juntou nas margens do rio cerca de 200 mil pessoas, em três dias, o que cons-titui o recorde da história da competição. Com as duas cidades a coorganizarem a competição, a prova constitui um enorme sucesso, tendo sido transmitida em direto para mais de 40 países e em Portugal pela RTP e Sport TV.O campeão do Mundo Philippe Chiappe foi o vencedor de uma corrida empolgante numa tarde de verão elogiada pela orga-nização internacional da competição e por todos os pilotos. O português Duarte Benavente, que compete no mundial da modalidade, não conseguiu terminar a prova, devido a problemas mecânicos.Nesta 14ª edição, participaram 19 pilotos de 10 equipas, que desafiaram as leis da gravidade, conduzindo a mais de 200km/h sobre as águas do rio Douro, num circuito com cerca de dois quilómetros de períme-tro entre o edifício da Alfândega do Porto e a Ponte D. Luís I. •

N O T Í C I A S D O P O R T O

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A plataforma de transportes de Campanhã, que contava já com metropolitano e comboio, vai ter um terminal rodoviário para au-

tocarros de passageiros. A obra, esperada há mais de 12 anos, vai finalmente avançar, graças ao acordo que foi conseguido por Rui Moreira com o Go-verno e que põe fim a décadas de conflitos pendentes entre o Estado e a Autarquia, a propósito dos terrenos do aeroporto e de património da STCP.A obra é considerada fundamental para o desenvolvimento da freguesia de Campa-nhã e de toda a zona oriental da cidade, enquadrando-se num conjunto de outros investimentos incluídos no programa de governação de Rui Moreira.O terminal permitirá não apenas uma maior intermodalidade, como retirará da Baixa do Porto muito do atual trânsito de pesados de passageiros.

Estacionamento concessionado

A Câmara do Porto conseguiu concessio-nar o estacionamento à superfície, objetivo que perseguia há anos, o que lhe permitirá libertar meios e aumentar a capacidade de atuação da Polícia Municipal em outras áreas de fiscalização, nomeadamente, no âmbito do estacionamento abusivo, fora das zonas de parcómetros.O concurso público de concessão, ganho pelo consórcio Empark, permitirá, ainda, um encaixe financeiro imediato, bem como a manutenção ou mesmo o aumento de receitas de estacionamento nos próximos anos. A receita será aplicada na melhoria da qualidade da via pública.O concessionário entregará à Autarquia, além do pagamento inicial de oito milhões de euros, 54,15% da receita bruta dos par-cómetros, o que deverá ser superior ao que atualmente a Câmara consegue recolher.O nível de cobrança atual nos lugares pagos ronda os 15%, devido às limitações que o Município sente no que diz respeito a meios de fiscalização, estando legalmente impe-dida de contratar mais meios humanos.A passagem da fiscalização para o conces-sionário garante, por isso, uma maior ro-tatividade dos lugares de estacionamento e aumentará a receita. O contrato de con-cessão não representa, contudo, qualquer aumento das taxas em vigor aplicadas ao público e garante as condições especiais para os moradores que, recentemente, foram melhoradas.O processo de concessão do estacionamen-to à superfície faz parte do programa de melhoria da mobilidade do Executivo Ca-marário, inserindo-se num conjunto de me-didas que têm vindo a ser implementadas, nomeadamente quanto à pedonalização de ruas no centro da cidade e à alteração de percursos em algumas zonas. •

Dezasseis novos parques infantis

A Câmara do Porto vai investir cerca de um milhão de euros nos próximos dois anos em 16 parques infantis, distribuídos por todas as freguesias da cidade, embora com um peso acrescido na zona oriental.O Pelouro do Ambiente apurou haver um défice destes espaços, com base num es-tudo efetuado. A existência de excedente orçamental em 2014 permitiu apostar num investimento imediato nesta área que, em 2015, contou com uma verba de aproxima-damente meio milhão de euros. •

PDM está em revisão

O Plano Diretor Municipal (PDM) do Porto encontra-se em revisão. O documento que define as principais opções urbanísticas da cidade está sob escrutínio público. O PDM atualmente em vigor foi publicado em 2006, sendo que esta revisão vai per-mitir adequar o modelo de intervenção urbana ao quadro de desafios atuais e ultrapassar algumas limitações reconhe-cidas ao instrumento anterior.Das opções assumidas pelo atual Execu-tivo Municipal é possível identificar três pilares estratégicos: sustentabilidade do desenvolvimento urbano, tendo como opção prioritária a reabilitação urbana; reforçar um modelo de desenvolvimento económico internacionalmente compe-titivo, que respeite as identidades locais e uma oferta turística de referência; e a coesão sócioterritorial, centrada na redu-ção das disparidades de qualidade de vida e de bem-estar dos cidadãos. •

Mais investimento na educação

As escolas do primeiro ciclo do ensino bási-co do Porto estão a receber, até ao início do ano letivo, obras de requalificação no valor de 2,1 milhões de euros, que incluem inves-timento nos recreios, cantinas e espaços interiores nas EB Fernão de Magalhães, EB da Torrinha, EB da Corujeira, EB da Constituição e EB Augusto Lessa.Até ao final de 2015, a Câmara do Porto, responsável por estes investimentos, inter-virá também na EB dos Castelos, EB Fonte da Moura, EB da Vilarinha e EB do Viso.Além das obras, o Município investe mais de 200 mil euros em mobiliário e apetre-chamento das salas de aula, em materiais de educação e recreio, em kits mochila para 1.770 alunos do 1º ano de escolaridade do primeiro ciclo e em mil kits de natação.Novidade é ainda a disponibilização de lanche aos alunos do pré-escolar, que as-sim se soma ao almoço já disponibilizado anteriormente, à semelhança do que já acontece no primeiro ciclo.Além dos investimentos no edificado e em material escolar, a Câmara do Porto desenvolve ainda programas como Porto de Crianças, Porto a Ler, Porto de Futuro, Porto de Atividades, Crescer Interativo, Educação para os Valores ou Educação para o Conhecimento, como componen-te do Plano Municipal de Educação e do Projeto Educativo Municipal. •

Nos últimos 18 meses, o Município tem vindo a apostar na reabilitação dos es-paços verdes municipais, muitos deles de cariz histórico para a cidade.Só este ano já foram realizadas obras nos Jardins do Passeio Alegre e da Ave-nida Carlos I, na Avenida das Tílias (Palácio de Cristal), na Rua Ezequiel Campos (em Ramalde), na Praça do Marquês e no Jardim de S. Lázaro. Foi também recuperada a fonte exis-tente na Avenida Montevideu que se

encontrava bastante degradada, po-tenciando o enquadramento estético deste património, que voltou a ter água corrente e a ser iluminada durante a noite. Os jardins dessa avenida e do Ho-mem do Leme foram igualmente alvo de intervenções ao nível do pavimento e dos sistemas de drenagem.Os próximos projetos de requalificação previstos pelo Pelouro do Ambiente destinam-se aos jardins da Praça da República e da Praça da Corujeira. •

Jardins históricos recuperados

Terminal Rodoviário de Campanhã vai avançar

O acordo, considerado histórico, trans-fere para o Município os terrenos onde será construído o novo equipamento e que estavam, até agora, na posse da REFER.O documento prevê ainda que a Câmara do Porto receba mais de 40 milhões de euros, contando com os cinco milhões respeitan-tes ao contrato-programa para a Sociedade de Reabilitação Urbana, que passa a ser inteiramente detida pela Autarquia.Igualmente resolvidos ficam diferendos relacionados com as indemnizações pela ocupação de terrenos do Aeroporto do Por-to, tal como diversas questões referentes à Metro e STCP, em que estas empresas se consideravam credoras do Município em várias obras de reabilitação urbana e a Câmara reivindicava pagamento pela entrega de património.O acordo resolve ainda o pagamento ao Estado da manutenção da Ponte do Infante até ao final de 2014. •

N O T Í C I A S D O P O R T O

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A liberdade passou por aqui. Nas páginas do jornal Porto. cabe uma entrevista sem amarras a Miguel Guedes, o músico, o adepto, o cronista político. Num texto quase falado, de uma conversa comandada e transcrita por Artur Carvalho, um jornalista profissional de rádio, contam-se os 20 anos dos Blind Zero, partilham-se recordações de uma cidade que marca ambos e atravessam-se pontes. Como se ambos estivessem sentados no autocarro que outrora os trazia de Gaia para virem “ao Porto” e a conversa os levasse da música ao futebol e até a uma possível carreira política que, afinal, não existe. Pode não haver carreira, mas há ideias, sobre o centralismo, sobre a cultura que explode na cidade e sobre o que ainda está por fazer.

Sinto quehá um povo

do Porto

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uma marca da cidade e dos que nela vivem que Miguel Guedes sublinha. O vocalista dos Blind Zero olha para o Porto e vê uma cidade de que se orgulha: nobre, aberta aos outros e disponível para a cultura. Mas, também alerta que falta cumprir uma etapa maior, a da coesão social. O músico, que também é

comentador de futebol na pele de aguerrido adepto do FC Porto, confessa que há quem já tenha deixado de gostar dele e de ouvir a música que faz por causa desse afeto pelo azul e branco. São coisas ditas numa demo-rada conversa. O cadeirão era confortável, mas Miguel Guedes não se imagina sentado nele noutra circunstância. Não sente o apelo de um cargo político, diz que não vê como esse tempero possa entrar na sua vida.

Recuemos no tempo e cheguemos a esta conversa de autocarro. Era como quan-do voltavas a casa há mais de vinte anos, estudante de Direito em Coimbra, para passar o fim de semana. Numa entrevista recente dizes que sentias a nostalgia de uma só semana fora desta cidade. Ainda sentes o mesmo?

Nessa altura, o dia de regressar ao Por-to - mesmo só tendo estado fora pouco tempo - era encarado por mim como o dia D, do desembarque. A meio da semana já queria voltar. Isso tem a ver com múltiplos

fatores e nenhum deles passava por me sentir mal em Coimbra, antes pelo con-trário. Era antes o facto de ter genuínas saudades do Porto e das pessoas. E depois, a circunstância de o autocarro terminar a viagem aqui, nos Aliados, era especial. Estava de volta e o lugar era, apenas e só, a “sala” da cidade. E isso ainda hoje acontece. Mesmo tendo sempre morado em Gaia, a minha relação com o Porto sem-pre foi muito afetiva desse ponto de vista. Gosto de voltar, independentemente das distâncias a que estou. E também sinto isso na autoestrada, quando chego e vejo qualquer placa que diga Porto (risos). Acho que isso não tem nada a ver com bairrismo ou provincianismo, como alguns gostam de etiquetar. Não, trata-se apenas do afeto da chegada a um sítio onde nos sentimos bem. E eu sinto-me tão bem na minha cidade de acolhimento, que sempre foi Gaia, como nas ruas do Porto onde nasci.

Sei, por experiência própria, que há uns bons anos, quem não vivia aqui na cida-de, mas nos arredores (nomeadamente em Gaia), dizia “hoje vou ao Porto”. Tinha qualquer coisa de acontecimento. Tam-bém sentias isso?

Sentia e verbalizava isso: “Hoje vou ao Porto!” (risos). Isso até era uma espécie de anedota e motivo de gozo dos meus ami-gos. Grande parte das minhas relações de amizade estava no Porto. E eles brincavam comigo quando lhes dizia “amanhã vou ao Porto”. Consideravam isso algo estranho,

porque quem cá está não pensa que haja alguém muito próximo que possa vir. Não vem, está. Mas essa é uma parte da relação entre Porto e Gaia. Há, sem dúvida, uma proximidade muito grande que nenhuma ponte abala. Sempre vivi do lado de lá, mas nasci em Cedofeita, no Hospital da Lapa. E nunca tive a sensação de estar do outro lado, de ser menos portuense pelo facto de estar em Gaia. Há uma relação en-tre as duas cidades, entre as duas gentes, muito à custa de um fenómeno identitário natural, de trabalho, de passagem diária, de famílias que são as mesmas, mas que habitam neste Grande Porto, que também é Porto e Gaia. E, claro, muito pelo futebol, que faz tanto por esta ideia de identidade partilhada pelas duas cidades.

Que memórias, que marcas de lugares e afetos guardas da cidade de quando eras mais novo? Por onde passaria a tua viagem sentimental, nostálgica pelo Porto?

Caberiam imensas memórias. A come-çar por aquilo de que não me lembro e só vislumbro dos primeiros anos de vida, recorrendo às fotografias que convocam “flashes” de memória. E depois, daquilo de que me lembro verdadeiramente, a minha infância, de quando vinha ter com a minha família portuense em Cedofeita. Por exemplo, de alguns quiosques e lojas…

…O antigo bazar dos “Três vinténs”?Sim, mas também lojas mais anónimas

e quiosques da Baixa, como os que havia

aqui perto dos cafés dos Aliados, onde a minha tia me comprava livros de banda desenhada. E as coleções de automóveis que o meu avô me oferecia, um carro de quando em vez. E havia o lanche, o lanche na Baixa! É algo que agora está na moda, mas que nesse tempo era muito mais um ritual familiar de encontro.

Ia-se ao cinema e depois lanchava-se um pingo ou uma meia de leite acompanhados de um bolo, escolhido da caixa de plástico que o empregado trazia à mesa…

Tal e qual! E tudo isso para mim tinha um carácter frequente e quase que com os dias marcados. Eram três ou quatro ho-ras passadas aqui na baixa ou, subindo um pouco mais, na zona de S. Lázaro, onde o meu avô sempre viveu. E é esse o mapa que recordo dessa altura. Cedofeita, Clérigos, Aliados, Passos Manuel, 31 de Janeiro… No fundo, do lugar onde nasci até à casa do meu avô ou à casa das minhas tias do Porto.

O Porto, nos últimos vinte e tal anos, mu-dou muito mais do que a paragem nos Alia-dos dos autocarros que vinham de outras terras. Hoje sentes falta de alguma coisa doutros tempos, que tenhas pena que se tenha perdido?

O tempo passa e as pessoas acompa-nham o seu passo. Não acho que nada tenha saído do sítio, a não ser a desertificação da Baixa que aconteceu durante muito anos e que foi profundamente impactante e devastadora do ponto de vista de quem chegava e via a “sala de visitas” da cida-de sem gente a dar-lhe vida. Mas julgo que o mais importante não se perdeu, o caráter. Isso é o mais importante numa cidade, é isso que ela não pode perder. E sob esse ponto de vista, o tempo passou, deixou marcas e efetuou mudanças, mas o caráter continua o mesmo. Eu sinto a mesma afetividade nas pessoas do Porto, uma disposição inquebrantável, de coração aberto. E o caráter também não mudou na determinação dos portuenses de quererem mais, de continuarem a reivindicar para si aquilo de que acham que não podem abdi-car. E isso viu-se em vários momentos nos últimos anos. As pessoas nunca desistiram.

O Porto de agora é uma cidade diferente. O processo tomou forma há alguns anos, foi crescendo e hoje diz-se que está na moda, há sempre qualquer coisa a acon-tecer, renovam-se espaços, fervem ideias, sente-se ânimo e orgulho. É como se, de repente, a cidade tivesse deixado de estar ensimesmada, se tivesse libertado de um certo complexo de inferioridade, de ser a segunda, ou pior ainda, subalterna. Achas que o Porto ganhou maturidade, está me-nos “queixinhas”?

Em primeiro lugar, penso que nós temos direito de nos queixarmos. Em segundo, quando o Porto se sentiu subalternizado

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estava a sê-lo. E, portanto, eu acho per-feitamente normal que a cidade tenha reivindicado e que continue a fazê-lo, se necessário. Muitas vezes, isso é confundido com provincianismo ou derrotismo. Ou até com autoflagelação, com incapacidade de seguir, de olhar para a frente, pelo facto de nos posicionarmos - confortavelmente e com comodismo - no lugar de segundos, no número dois. E ainda por cima sem número três a morder os calcanhares! Mas não concordo com essa ideia de que passávamos o tempo a queixar-nos e a vitimizarmo-nos. Penso que o Porto tinha e tem razões de queixa. E não é só o Porto. Neste país a assimetria é brutal. Se o Porto tem razões para se queixar, que dizer de Bragança, Évora ou Portalegre? Pensar que a macrocefalia, ainda que num país pequeno, resolve os problemas e faz com que ele se engrandeça à custa de uma só cidade, espécie de império urbano, é uma falácia. Isso não existe. No caso do Porto, em concreto, o nevoeiro e o granito, es-tas ideias feitas (em parte verdade, em parte mito), acabam por contribuir para essa imagem de uma cidade que durante muito tempo se limitou a autoflagelar-se. Não concordo. E a prova está nos vários momentos em que a cidade do Porto se constituiu com massa crítica, rebelando-se contra perigos nascidos ou exponenciados dentro dela própria. E essa reação não parte do nada, não nasce de convocatórias por SMS, as pessoas juntaram-se por algo mais fundo, foram convocadas pelo bati-mento cardíaco.

A rapidez deste processo de mudança do Porto, a velocidade com que esse ímpeto se manifesta e impõe na cidade, não te causa apreensão?

Volto à imagem do momento, por redu-tora que seja: o Porto está na moda. Ora, todos sabemos que as modas passam. O que nada tem de mal, se tivermos criado lastro, sedimento para baralhar e dar de novo.

Acreditas que essa sustentação, esse ali-cerce existe?

Julgo que há uma grande diferença en-tre a moda e o saldo. O Porto está feliz e, definitivamente, na moda. O importante é que não saltemos desta situação para de-pois anteciparmos os saldos. É importante ter esta ideia presente, prevenir que isso não aconteça. No fundo, antecipando o que não queremos. Parece-me que quando se fala, por exemplo, de uma pegada turística no Porto, fala-se com toda a propriedade. Há estudos claros sobre o que o turismo pode fazer a uma cidade, como a pode des-caracterizar, oferecendo-lhe coisas que não lhe são intrínsecas, sem acrescentar algo de verdadeiramente bom no final. Mas o Porto tem uma nobreza que casa muito bem com esta coisa de ter “hype”. De resto, não acho que esteja na moda por

maus motivos, está por belíssimos moti-vos. Por ser uma cidade com história, com gente que tem a sua marca, com afeição. O Porto está com um “momentum” próprio. Apesar da crise que vivemos em Portugal e na Europa, sente-se aqui diferença e que aqui faz-se a diferença. Já era altura disso acontecer e que as condições políticas na cidade permitissem que o Porto se soltasse e assumisse verdadeiramente a sua inten-ção e vontade em linha com a sua génese, a de uma cidade que recebe. Não tenho receio, até ver, que esse turismo e este fulgor possam vir a dar mau resultado, sendo destrutivos da cidade e que tudo este momento possa estar assente em pés de barro. Não me parece.

Falemos agora do “à moda do Porto”, en-quanto feitio, maneira de ser. Disseste, e cito, que “No Porto há uma visão muito pouco cínica da vida, vive-se mais olhos nos olhos, com o coração na boca e com muito afeto”. Imagino que em Lisboa, onde passas parte da vida, tenhas amigos que te dizem “deixa-te disso, há gente assim e ao contrário, aqui, no Porto e em todo o lado”. Queres fazer a defesa da tese?

Quando digo que o Porto tem esse per-fil, não pretendo excluir outros lugares que também o tenham. Não acho que as pessoas tenham de enfiar carapuça nenhu-ma quando nós fazemos uma afirmação dessas. Falar assim da nossa cidade não quer dizer que estejamos a reivindicar qualquer exclusivo.

Mas estás pelo menos a sublinhar uma marca distintiva…

É verdade. Mas é porque ela existe. E isso tem muito a ver com o que o tempo nos permite. Achando eu que nós vivemos todos muito depressa, isso ainda é mais acentuado em Lisboa. Não falo necessa-riamente de mais ou melhor trabalho, refiro-me à velocidade. E talvez por em Lisboa não existir uma força de agregação como no Porto, talvez por falta de maior carácter identitário, algumas variáveis desembocam num maior cinismo. Lisboa, enquanto comunidade, não tem uma mar-ca de identidade tão sólida como outras cidades do país, o que se agrava com a velocidade a que se vive. Sinto que há um povo do Porto. E não sinto isso em muitos outros sítios.

Para citar, com alguma latitude, o título de um disco dos GNR: há, efetivamente, uma “psicopátria” chamada Porto?

Sim, existe e, muitas vezes, no divã. Como falávamos, o Porto é uma cidade que quer e gosta de receber (e isso é dito e redito, é quase um cliché). Mas há ou-tros lugares-comuns, como “no Porto é que se come bem” ou “que bem que vocês vivem no Porto” ou “no Porto é tudo mais barato” (risos). E essas ideias feitas, e fei-tas por quem cá não vive, acabam por se impor à nossa fôrma primordial, à ideia que temos de nós próprios, o que também convoca muito o nosso divã. E depois - o que também contribuirá para esse traço

psicológico -, coexiste o granito e a som-bra, o facto de não sermos propriamen-te a cidade mais ensolarada do planeta. Mas somos das mais iluminadas. Disso não tenho a mínima dúvida, o iluminismo também sempre esteve aqui.

Com duas décadas de Blind Zero ain-da dizes que “é obvio que se paga um preço por ser artista no Porto, as coisas passam-se muitas vezes num copo no Bairro Alto”. Do ponto de vista da tua carreira e da banda, perderam por não terem abalado para Lisboa?

Perdemos e ganhámos, como em tudo. Quando alguém da área artística pretende dar a conhecer o que faz para lá do seu círculo familiar ou de amigos, precisa de poder comunicar através. Estando o estado social das artes concentrado e cada vez mais centralizado em Lisboa - enquanto não está todo em Madrid… -, quem lá não está tem, evidentemente, uma desvantagem, sofre por isso. Pena--se por não se poder passar a mensagem ou o que se quer dizer, face a face. Mas há sempre um reverso. Não termos saí-do daqui também nos trouxe vantagens. Por exemplo, não estarmos próximos da órbita do poder central e do que ele tem de perverso permite-nos, nomeadamente, o poder fazer só porque se quer e por-que nos apetece. Ficamos mais imunes ao “standard” imposto pelo poder, ou seja, nem somos tentados a ceder, nem somos convidados a fazer diferente.

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Fazemos o que realmente queremos. Obviamente que não vejo mal algum em ir viver para Lisboa. Até porque há a possibi-lidade de querer voltar com rapidez, o que é um sentimento muito bom! (risos). Mas considero que, por não termos as oportu-nidades à distância de um copo no Bairro Alto, do Cais do Sodré ou do Bar-disco da moda, isso também nos molda o carácter. Fazemos o nosso percurso com outra in-dependência, ainda que vivendo menos na comunicação social e sobrevivendo mais na vida real. Não tenho dúvidas que, em Lisboa, os Blind Zero já não existiriam.

Os Blind Zero estão a celebrar vinte e um anos. O jovem “rocker” Miguel Guedes, o de 1994, acharia graça ao quarentão de hoje, dir-lhe-ia que valeu a pena?

Nessa altura, não tinha grandes ex-pectativas sobre mim próprio, sabes? Nós vivíamos muito o momento, só tí-nhamos a noção de que queríamos andar por aí por uns tempos, mas sem fazer verdadeiramente a antecipação de um percurso. No meu caso pessoal, sempre procurei estar mais do lado da sombra do que do lado da luz, - à exceção de quinze dias no verão… (risos) -, porque é aí que me sinto bem. Tenho a ideia de que esse caminhar pela sombra é algo que me permite estar equilibrado. Nun-ca gostei muito de exposição e, se em algum momento a tive ou tenho, nunca a procurei, vivo bem sem ela. Mas tenho algum orgulho do que fizemos enquanto banda, sendo que também me distancio, muito friamente, de algumas das coisas que fizemos neste percurso. Não porque as queira negar, mas porque não queria voltar a fazê-las. E, portanto, acho que se o Miguel dos vinte anos olhasse para o de hoje, veria um familiar muito próximo.

O mundo deu muitas voltas desde que se estrearam. Tudo se tornou mais instan-tâneo e efémero, desde logo por causa dos suportes de divulgação da criação artística que, ao mesmo tempo que facilita o chegar ao público, também pulveriza a oferta e a torna efémera. Uma canção pode nascer hoje e estar morta amanhã. Como se convive com isso?

Não me sinto propriamente muito con-fortável com o fenómeno do “saco” digital. Os Blind Zero são uma banda que teve o privilégio de ainda gravar em fita. Era uma época em que fazer um disco demorava o seu tempo. Nós saíamos do Porto, íamos para Paço D`Arcos - onde estão os estúdios da Valentim de Carvalho - e gravávamos analogicamente, sem recurso a compu-tadores. As coisas evoluíram, a realidade digital dos zeros e dos uns é inegável, tan-to na forma como se faz, como na forma como se divulga. O que, maioritariamente, é muito bom. Mas acho que a permissão e a permissividade é tão grande que quase

deixamos de fazer escolhas. Deixámos de parar para ouvir. E isso não é uma verda-deira escolha. Eu não me sinto o romântico nostálgico do tempo em que o vinil era escutado tantas e tantas vezes que acabava por riscar. Não é isso. Mas agora chegamos a um tempo em que acabamos por nem sequer fruir, em grande medida porque aquilo não é tido como nosso, a escolha deixou de implicar um preço ou um custo ou um esforço, o que, às vezes, se reflete na fruição da arte e da música em particular. Ouvimos tudo, mas escutamos quase nada, guardamos muito pouco do que ouvimos. Por outro lado, vemos festivais de música

(e ótimos, também no Porto, como o NOS Primavera Sound), repletos de pessoas ávidas de música alternativa, com imensa vontade de conhecer e interpretar a oca-sião. E esse público está muito direcionado para o momento, para a compra daquele momento, o momento do concerto que, obviamente, passa e não se repete. É a magia desse efémero. Mas o fenómeno da repetição inerente à audição de um disco parece que já não existe. E sem esse fenó-meno de repetição não existe verdadeira descoberta e apreensão do objeto ou da música. Isso causa-me desconforto.

Admitamos que quem ler esta entrevista ainda não sabe que os Blind Zero têm um disco novo, chamado “Kill Drama II”, lan-çado no dia 1 de junho. O que lá se ouve?

É um disco com as canções do anterior, “Kill Drama”, revisitadas. Para assinalar as

duas décadas da banda, em detrimento do “best of” que seria o habitual, decidimos pegar no último trabalho e transformá--lo num disco de duetos, com convidados. No fundo, foi um pretexto para estarmos com pessoas que passaram pelo nosso per-curso durante estes vinte anos. Algumas que nos tocaram muito levemente, sobretu-do na estrada, outras que já tinham grava-do connosco, como o Jorge Palma. Tantos outros nomes, a Marta Ren, o Fernando Ribeiro… O Mark Kozelec ou a Sandra Na-sic (Guano Apes). Como nos permitiu ter o privilégio de chamar a este disco bandas e projetos novos ou menos conhecidos como

os a Jigsaw, Old Jerusalem, Dan Riverman. Também lá está o Pedro Abrunhosa, que fez o seu magnífico “Viagens” há vinte anos, quando nós estávamos a começar. E que também é um portuense, pronto, de…

De se algemar ao Coliseu…Exatamente! Um portuense de (al)

gema! (gargalhadas) E, portanto, foi um enorme privilégio poder ter todas estas pessoas, foi incrível.

A par da música, em 2010 ganhaste outra montra, tornando-te comentador televi-sivo de futebol, defendendo as cores do FC Porto, oficio que mantens. Isso causou--te algum engulho, houve algum choque de planos junto dos que gostam do Miguel Guedes dos Blind Zero?

Se as nossas opiniões e pontos de vista influenciam a imagem, o julgamento que

as pessoas fazem de nós ou do nosso tra-balho? Evidentemente que sim. Quando tomo uma posição política, societária ou sobre determinado assunto ou questão de costumes (ou sobre algo que quase nasce connosco, eu diria, como é o caso do amor clubístico), isso mexe com algumas pessoas. E, naturalmente, há pessoas que acham que nós devemos ser unidimensionais e que, em nome de um projeto artístico, não devemos ser cidadãos, nos devemos demitir de ter opinião.

Sendo que o universo artístico é parti-cularmente alvo desses preconceitos...

Sim, é verdade. É uma espécie de auto--recriação mutiladora, onde os artistas devem ficar a recriar-se nesse seu “play-ground”, no seu jardim de recreio, pare-cendo que não podem ver o mundo à volta e que até é crime participar nele. Ora, so-mos todos gente antes de sermos artistas. No meu caso, antes do aparecimento dos Blind Zero sempre tive posições políti-cas (uma das primeiras, que me lembre, foi a luta contra a PGA, a Prova Geral de Acesso ao ensino superior). E, portanto, se tiver uma opinião mais ou menos (in)formada sobre um determinado assunto, não tenho que me violentar não a transmi-tindo, querendo. Nunca me demiti de ter opinião com cariz político ou de tomar as atitudes públicas que entenda que deva tomar. Mas, no caso da bola é tudo mais fraturante, sabes? O futebol. Não o des-porto, é o futebol. Aí, de facto, às vezes deparamos com pessoas que dizem deixar de gostar da banda ou deixam de querer ler o que eu escrevo, pela circunstância de a pessoa de quem gostavam (o apreço já é passado, nessa altura) ser do… Futebol Clube do Porto. Também é verdade que são uma imensa minoria. E se é verdade que tenho muita simpatia pelas minorias, não tenho nenhuma por esta. Deixar de gostar de alguém por ser de um clube que não é o nosso é uma patetice. Mas confio muito na inteligência das pessoas e em 99% dos casos as que se têm cruzado connosco separam perfeitamente as águas.

Se quando saíres daqui apanhares o Metro, interpelam-te mais depressa para falar de Lopetegui ou de "Kill Drama II"?

No metro, é possível que a coisa ande sobretudo à volta de um treinador espanhol e basco chamado Julen Lopetegui...(risos)

E no geral?No geral, o geral divide-se. E tem fases.

Nesta altura, com um disco cá fora, os Blind Zero têm uma notoriedade mais acentuada. As pessoas, naturalmente, per-guntam mais como é que está tudo a cor-rer. Perguntam pelos concertos, onde nos poderão ver, coisas assim. Mas o futebol é mesmo um mundo à parte, especialmente se associado à televisão. Estou há dez anos

“Tenho algum orgulho do que fizemos enquanto banda, sendo que também me distancio, muito friamente, de algumas das coisas que fizemos neste percurso. Não porque as queira negar, mas porque não queria voltar a fazê-las. E, portanto, acho que se o Miguel dos vinte anos olhasse para o de hoje, veria um familiar muito próximo.”

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a fazer o programa “Grandes Adeptos”, na Antena 1. Sou o único “sobrevivente” do painel inicial, lá continuo religiosamente às segundas-feiras, entre as sete e as oito da noite. A verdade é que, só a partir do momento em que comecei a fazer o “Trio D`Ataque” na televisão, é que começaram a interromper os meus almoços em centros comerciais (risos). A televisão, se ligada ao futebol, tem um efeito multiplicador e voraz, mas com o qual lido muito bem porque não defendo nem visto nenhuma camisola em que não acredite apaixona-damente. Para além de que no futebol a questão nem é tanto ter-se razão ou não: é sentir-se paixão pelo jogo, pelo clube e tentar manter alguma racionalidade e bom-senso. E humor. E aí já não é nenhum privilégio de portistas, de benfiquistas, de sportinguistas, boavisteiros ou de adeptos de outros clubes. Sentimos semelhante, como o nosso semelhante.

Pode ser-se portista ou tripeiro e não ser do FC Porto? Convives bem com isso, quando as duas coisas não coincidem?

Acho que devia haver quotas (risos). Convivo bem com isso, porque entendo que pode haver muitas e boas razões para se ser benfiquista ou sportinguista no Porto. Terá que ter havido qualquer coisa muito forte que levou a que tal acontecesse. E não foi só a conquista de umas Taças dos campe-ões europeus há mais de cinquenta anos, os golos do Eusébio ou os cinco violinos. Tem a ver com a família, muitas vezes até por um fenómeno de oposição. Isso é profun-damente estimável. Prezável. É admirável ser-se benfiquista ou sportinguista no Porto e portista em Lisboa.

Dizes isso com um ar de alguma condes-cendência...

Não, é com carinho. Até estou a sorrir... (risos) Acho que é perfeitamente possível. (gargalhada)

Para além da música e do comentário fute-bolístico, és cronista do Jornal de Notícias. São prosas assumidamente de esquerda, sobretudo na crítica ao atual Governo e ao rumo da Europa, mas também de desa-lento - do ponto de vista doméstico - com o espetro político que é o teu, ou seja, a esquerda. A poucos dias das eleições, em que ponto é que estás?

Na política, e sobretudo nas eleições, nunca fui partidário do “mal o menos”, porque isso se confunde demasiadas vezes com o voto útil, que não é nada certeiro. Só num cenário de segunda volta de presiden-ciais, por exemplo, é que concebo o voto útil. Em legislativas, acho que a escolha deve ser feita onde tem que ser. Nesse sentido, continuo a defender alternativas, na certeza de que estamos cada vez mais obrigados a fazer escolhas sérias e compe-tentes, sob o risco de configurarmos uma

externo e que não se restringem ao Syri-za e ao Podemos. Já estão mais largos, hoje em dia, apesar das contrariedades do processo após a chantagem final à Grécia. Mas há também os movimentos de cida-dãos independentes, como o que sucedeu aqui no Porto à escala autárquica que, sem filiação partidária (embora muitos também a tenham e possam ter, obvia-mente) convocam essa ideia libertadora que, definitivamente, este povo merece. Na luta contra esta ditadura da especulação económica e financeira que tem subtraído e amordaçado o poder da política e o seu primado, que se encontra como que encos-tado a um muro de fuzilamento. E quando vemos a política neste estado de demissão ativa, não encontro outra solução que não passe por algum fenómeno de fratura ou de rutura política.

Continuemos pela política, achas que a cidade está mesmo diferente do ponto de vista cultural? Em quê?

No sentimento de que há alguém que cuida e quer. Para além de isso ser con-substanciado na prática (com o Teatro do Bolhão, na devolução do Rivoli à cidade, com a tentativa de equilibrar o Coliseu – ainda lhe chamo tentativa –, no olhar que tem que ser cada vez mais exigente sobre a Casa da Música, na quase assu-mida perfeição da Fundação Serralves, para dar alguns exemplos), também pela inteligência de um vereador e de uma von-tade presidencial. Sabendo que a vontade existe de facto e que está no ativo dos dias. É, sobretudo, a confiança de sabermos que alguém olha a cultura com zelo. O Porto tinha mesmo que se canalizar para a cul-tura, depois de tempos muito maus. Julgo que isso está a ser muito bem trabalhado e que ainda há muito melhor que pode-mos esperar. As pessoas sentem-se mais acarinhadas, sentem que há interlocuto-res, que não há desprezo, preconceito ou ostracização. Que, em última análise, não há má-fé ou “a prioris” sobre a cultura na cidade (seja essa cultura portuense, ou que nos chegue à cidade como portuguesa ou do mundo).

E sem necessariamente com o aceno de um cheque...

Sem dúvida. Mas também não tenho grandes ilusões de que há determinadas artes que, pelo peso que têm e pelo in-vestimento que convocam, necessitam de subvenção estatal. Seja do poder central ou do poder local A música também a teve no passado, algo disfarçada pelo sistema, através do circuito que as câmaras muni-cipais promoviam com o agendamento de concertos. Dizia-se que a música não tinha apoios. Mas não era verdade, esses apoios existiam através desse circuito que hoje é raquítico e está vulgarizado pelas escolhas óbvias e mais populistas.

espécie de califado. Portugal está numa situação verdadeiramente subalterna que, política e economicamente, não pode ser o resumo da nossa vida. Nem concebo que possa ser o nosso futuro. Continuo a ter esperança em alguma mudança, embo-ra acredite menos que possa acontecer de uma forma súbita. Basta olhar para a esquerda e como ela se posiciona neste momento eleitoral. Os homens e mulheres de esquerda têm muita dificuldade em en-tender-se. Se calhar por terem tão grandes e inabaláveis ideias e por valorizarem tanto as suas pequenas diferenças. Faz parte de um património da esquerda, a diferença e o respeito por ela. Mas, quando a diferença passa a ser sobretudo um fenómeno de colisão e atraso constante na ação, ao não se perceber que essas diferenças acabam por ser apenas partículas, não há grande futuro a não ser o que se possa reinven-tar. E a esquerda já não vai a tempo de se reinventar como um todo para as próximas eleições legislativas.

A esquerda mais à esquerda do Partido Socialista...

Sim. Porque no espetro da esquerda representada pelo PS não me parece que tenha havido qualquer reinvenção. Há al-gumas mudanças que só espero e desejo que se acentuem.

Um Miguel Guedes político. É o que ainda falta cumprir?

Sinceramente, penso que não. Não estou mesmo a ver.

Mas não o almejando, seria algo que admi-tirias, mesmo que com sacrifício?

Se tivesse que o fazer, sem dúvida. Por-que acho que esse é o compromisso que temos com as nossas ideias e com aquilo que de mais importante defendemos. Eu estou particularmente à vontade e numa posição cómoda para dizer isto, porque, no contexto actual, não creio mesmo que possa acontecer. Mas, se surgisse um pro-jeto que mobilizasse a esquerda nos mol-des que tenho enunciado publicamente, estaria nele de alma e bagagem, fazendo o que fosse necessário fazer. Como poderia demitir-me desse projeto unificador depois de todos estes anos a defender uma ideia pela qual – acredito – é possível construir uma sociedade mais fraterna e inclusiva, mais justa, mais solidária? Se isso for pos-sível, não poderei deixar de estar nessa luta, assumindo as minhas convições. E não será com sacrifício. No fundo, seria o mes-mo miúdo que lutava contra a PGA, nesse momento futuro a fazer coisas semelhantes num contexto diferente da vida de todos.

Sendo claro que não estás esperançado que esse seja o rumo que as coisas possam tomar nos tempos mais próximos, o que te alimenta o alento? É, em parte, o que se passou na Grécia e que toma forma em Espanha?

São dois fenómenos e ambos tem a ver com independência (ou a tentativa da in-dependência) e a autonomia. Por um lado, ressalvar a extrema importância desses movimentos sociais que referiste a nível

“Às vezes deparamos com pessoas que dizem deixar de gostar da banda ou deixam de querer ler o que escrevo, pela circunstância de a pessoa de quem gostavam ser do… Futebol Clube do Porto. Também é verdade que são uma imensa minoria. E se é verdade que tenho muita simpatia pelas minorias, não tenho nenhuma por esta.”

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Usando a terminologia do "Trio D`Ataque", suponho que a atitude da Câmara do Porto para com a cultura é o teu “topo” para o que tem sido o exercício de Rui Moreira. E tens um “fundo” ou, pelo menos, um rés--do-chão para atribuir neste primeiros tempos de mandato?

Julgo que não se pode exigir a alguém que ganha a cidade e encontra algo que não foi seu, que consiga fazer tudo de uma só vez ou em muito pouco tempo. Isso não seria só pedir demasiado: seria sobretudo uma belíssima casca de banana, um convi-te para que se estragasse tudo e um ato da mais pura demagogia. Há algo de que esta cidade precisa e precisa cada vez mais: maior coesão social. O Porto é ainda uma cidade socialmente pouco paritária, aliás, à semelhança do que acontece em todo o país. Não considero, como já considerei no passado, que exista uma espécie de muro de Berlim entre a parte ocidental e a parte oriental da cidade. Mas, sinto que ainda há um muro algures. É inegável que há vontade para o derrubar. De algu-ma forma, sinto o avanço das pás e das picaretas (risos). Mas esta falta de coesão social ainda existe e a questão não pode ser resolvida ou fechada num mandato, nem sequer em dois. Nem é razoável pen-sarmos que essa tarefa pudesse ser rea-lizada unilateralmente pelos anteriores executivos. A ideia de coesão social não pode ser defendida só pela cidade do Por-to. Tem de ser defendida pelo país e... se o país nos permitir a “ousadia” de pensar pela nossa própria cabeça. Numa lógica de proximidade, sopesando o bem e o mal, defendo a regionalização há bastante tempo. Julgo que não é o tempo certo para a mantermos dentro da agenda política, mas não tenho dúvidas de que só com um processo de regionalização bem conduzi-do e ponderado é que poderemos atacar frontalmente a falta de coesão social em todo o país. Já perdemos muito tempo e só espero que a realidade económica e social do país permita reacender esta discussão com a maior brevidade.

Se agora te levantasses dessa cadeira e fosses ao gabinete do presidente da câ-mara munido do privilégio de um pedido com caráter de cumprimento obrigatório, era esse que farias?

Era, claramente. E pode também fazer-se pelo lado da cultura. É a parte mais difícil do trabalho. É a face que assoma por últi-mo porque só pode concretizar-se depois de muitas outras variáveis estarem cum-pridas. E essas, sublinho, não dependem só de nós portuenses ou de quem nos re-presenta. Mas temos, indiscutivelmente e cada vez mais, de olhar para nós, olhando por nós, percebendo que as assimetrias são demasiadamente grandes e que não nos podemos nunca demitir de fazer parte desse combate.

Dentro da tua - ainda que distante - dis-ponibilidade para a política, vês-te, um dia, a ocupar um cargo neste edifício? Quiçá, até o de presidente. Afinal, não seria a primeira vez que sucedes a Rui Moreira…

Isso aconteceu, mas foi com as câmaras à frente, não foi à frente de uma câmara...(gargalhada). Não, não tenho nenhuma ideia de que isso possa ser possível. Não vejo como esse tempero possa entrar na minha vida. Teríamos que assistir a um cenário em que as janelas estivessem todas abertas e houvesse muita corrente de ar.

E isso não há no Porto...Não é que não haja no Porto, não há no

país! O Porto não é - e desejo que nunca o seja - um fenómeno à margem. O Porto tem que correr por dentro, sempre. Mesmo contra as más figuras e os Adamastores.

Terminemos como começámos, mas nos dias de hoje. Fazendo de conta que che-gamos agora de autocarro aos Aliados, vindos de Coimbra. Onde iriamos, Miguel?

Íamos aqui mesmo ao lado, à rua Sam-paio Bruno, tomar um café ao “Embaixa-dor”. À semelhança do pingo que tomava, enquanto miúdo, com o meu avô. •

“O Porto ainda é uma cidade pouco coesa, à semelhança do país. Mas a falta de coesão social não pode ser resolvida apenas num mandato ou em dois. Nem é razoável acharmos que essa tarefa pudesse ter sido realizada pelos anteriores executivos. Ela não pode ser combatida só pela cidade, mas pelo país.”

Artur Carvalho é jornalista da TSF no Porto. A sua voz é hoje um clássico dos noticiários da “telefonia sem fios”, onde a atualidadee a política marcam o ritmo. Mas nem sempre foi assim. Artur Carvalho deu muita música a ouvir em estações de rádio como a Nova Era

ou a Energia. A música foi a sua vida e, por isso, muitas vezes a voz de Miguel Guedes cantava nos discos que passava. O Porto. pediua Artur Carvalho, com autorização da direção da TSF, para o entrevistar, na Câmara do Porto, não apenas como líder dos Blind Zero

e artista, mas também como alguém que tem sobre o Porto uma visão transversal e informada.

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Os saboresdo Bolhão

A reabilitação do Mercado do Bolhão é assunto desde há quase meio século e conhece sucessivos projetos desde 1990, mas todos têm ficado pelo caminho e alguns morrido na praia. Em abril deste ano, Rui Moreira garantiu à cidade que a obra vai mesmo avançar antes do final deste seu mandato e que a traça, alma e gentes que lhe dão forma e o animam serão preservadas.

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Ninguém sabe ao certo em que ano começou a funcionar o Mer-cado do Bolhão, mas foi em 1914 que o atu-al edifício começou a ser construído. Antes disso, já em 1839, na-quele local, a Câmara do Porto tinha cons-

truído uma praça, onde passou a decorrer um mercado, bem por cima do lamaçal ou pântano, a que chamavam “bolhão” e que deu nome ao local.O Mercado do Bolhão, seja ele o que já ali existia a céu aberto desde então, seja o edifício que o Município demorou nove anos a construir, no início do Século XX, é, seguramente, um lugar referencial para a cidade há pelo menos 100 anos. Classifica-do como Edifício Patrimonial, desde 1997, como Imóvel de Interesse Público, desde 2006, e como Monumento de Interesse Público, desde 2013, recebe todos os anos milhares de visitantes, entre os quais se contam perto de 500 mil turistas.A última metade da vida deste edifício icónico, projetado pelo arquiteto Correia da Silva, foi, contudo, conturbada. Há pelo menos 50 anos que comerciantes e clientes pedem obras e há 30 anos que foi identi-ficada a urgência em reabilitar o edifício. Em 1984, depois de uma inspeção realizada pelos serviços camarários, foram deteta-das patologias construtivas graves no piso do edifício. Na sequência das obras então

realizadas, concluiu-se pela necessidade de uma intervenção mais séria e profunda, capaz de consolidar o edifício do ponto de vista estrutural.Mas o Mercado do Bolhão não precisa de obras apenas devido aos problemas de degradação e estruturais do imóvel, que praticamente acompanharam toda a vida de um edifício de grandes dimensões, cons-truído em cima de um aterro. Efetivamen-te, quando foi projetado, há 100 anos, os requisitos técnicos de um mercado eram bem diferentes dos atuais e as certificações energéticas, de higiene alimentar, acessibi-lidade e segurança não existiam.Os últimos 50 anos foram, por isso, de inúmeras vontades e muitas intenções, mas sem nunca se ter podido concreti-zar qualquer projeto de reabilitação. O primeiro foi elaborado em 1992 e chegou a ser decidida a sua execução, de acordo com um processo que envolveu, também, o então embrionário sistema de metro do Porto. Este primeiro projeto de reabili-tação previa a preservação da função do mercado e a traça do edifício, mas a obra nunca chegou a ser adjudicada.Seguiu-se novo processo em 2007, em que se propunha a demolição total do interior do edifício e a sua transformação completa, mitigando a função de mercado tradicional. Contudo, um ano mais tarde, a Câmara Municipal acabou por rescindir o contrato, por incumprimento de obrigações contratu-ais, decidindo-se, então, por uma parceria com a Direção Regional de Cultura e pela

elaboração de um novo projeto, mais con-servador, mas que previa a cobertura do edifício. Também este projeto acabaria por nunca ser executado, por falta de condições financeiras da autarquia para realizar uma obra então orçada em 20 milhões de euros e sem recurso a fundos comunitários.Foi já em 2015 que o atual presidente da Câmara anunciou o restauro do Mercado do Bolhão, processo que classificou como sendo irreversível, prometendo desde logo o lançamento do concurso público da obra ainda este ano e o início das obras de res-tauro neste mandato.Em pleno Mercado do Bolhão, onde nunca quis fazer campanha eleitoral “por res-peito”, Rui Moreira garantiu, também,

que a Autarquia possui agora os meios financeiros necessários para lançar a obra, mesmo que esta não venha a ser cofinan-ciada pela Comissão Europeia. Contudo, o presidente da Câmara do Porto espera que isso venha a acontecer, estando a ultimar uma candidatura para o efeito.As verbas necessárias estão, contudo, já garantidas, graças a um saldo de gerência, obtido pelo executivo camarário em 2014. O anúncio do avanço do projeto foi, aliás, anunciado na mesma semana em que a Câmara do Porto aprovou as contas do ano transato.Nos próximos anos, o edifício do Mercado do Bolhão vai, ao cabo de meio século, ver resolvidos os seus problemas estruturais, mas vai também modernizar-se e tornar-se compatível com os tempos modernos.Há, contudo, dois aspetos que o presidente da Câmara do Porto não admite tocar: a traça arquitetónica do edifício e, ainda mais importante, a sua “alma”. Nada mais, nada menos do que os seus vendedores, os seus pregões e afetos, a sua pronúncia e espírito e, claro, os seus produtos mais genuínos e autênticos.O Mercado do Bolhão, para tranquilidade dos portuenses, continuará a ser autênti-co e não será nem um shopping, nem um mercado gourmet, nem a “Boqueria” de Barcelona. Como está agora claro, o Bolhão será o Bolhão, como sempre o conhecemos, mas preparado para mais e mais gerações que o encham de sabores por mais 100 anos, pelo menos.Para isso, será preciso esperar pelos re-sultados de um concurso que demorará meses e uma obra que poderá demorar anos. Nesse período, os comerciantes serão instalados noutro local, com boas condi-ções. Aí, poderão manter a sua atividade, sobreviver ao período em que o Mercado do Bolhão sofrerá a cirurgia reconstrutiva mais importante da sua longa vida, para depois regressarem às suas bancas com novas condições, mas que continuarão a respirar os aromas e a sentir os sabores de sempre do Bolhão. •

Para tranquilidade dos portuenses, o Bolhão continuará autêntico enão será um shopping, nem um mercado gourmet ou a “Boqueria” de Barcelona.

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Porto espera, pelo menos há trinta anos, por obras neste mercado.Trinta anos são muito tempo para um equipamento que a cidade reco-nhece como sendo uma sua jóia. So-

bretudo, é tempo demais para os comer-ciantes que aqui exercem a sua actividade. Diria mesmo, que aqui vivem, há gerações que perpetuam de mãe para filha, de pai para filho, uma forma de ser Porto.É tempo demais, também, para os seus clientes e para os turistas que insistem em ver o Bolhão como um lugar de passagem obrigatória.Não devemos, contudo – não vou fazê-lo – lamentar-nos pelo tempo perdido.Prefiro acreditar que desde 1984, ano em que, definitivamente, foi identificada a ur-gência de obras no Mercado do Bolhão, se foi ganhando consciência em relação aos modelos arquitectónicos e políticos que deveriam aqui ser aplicados.Esse tempo, esses modelos e projectos, gosto de vê-los como um caminho de aprendizagem e até de sondagem ao sen-timento da cidade.Esses projectos que foram sendo lançados, da autoria de arquitectos vários e em con-junturas políticas distintas; os modelos e as soluções alvitrados e mesmo as reacções

O DiscursoA voz de Rui Moreira na apresentação do projeto, a 22 de abril deste ano, fez cair lágrimas a quem já não acreditava na reabilitação do Mercado do Bolhão. Em poucos minutos, perante os comerciantes, o presidente da Câmara assumiu compromissos a cumprir neste mandato.

mais ou menos intempestivas que a cidade foi manifestando em relação a algumas opções, foram, na verdade, uma extraor-dinária fonte de informação e inspiração para o projecto que hoje apresentamos.O edifício deveria ou não manter a sua fisionomia arquitectónica? Deveria ou não ter uma cobertura? Deveria ou não ter uma grande cave para estacionamento? Deveria ou não ter residências e restaurantes? Deveria ou não ser entregue a privados? Deveria ou não ser transformado num shopping ou num mercado “gourmet”? Deveria ou não privilegiar os seus naturais vendedores? Deveria ou não preservar a sua função?

Na verdade, no Porto tudo se discute!Porque no Porto tudo se pode discutir. A ci-dade sempre recusou grilhetas e mordaças. Sempre recusou calar-se e virar as costas, indiferente, ao seu património e às suas raízes. O Porto sempre foi a cidade liberal onde todos querem participar em tudo.Já o disse: isso faz parte do carácter da cidade. Esse é o nosso ADN e é esse ADN que queremos preservado aqui no Bolhão.Se estes 30 anos deram ao Mercado algu-ma coisa, essa consciência do que quere-mos ou não queremos aqui fazer é, com certeza, o mais importante.Mas, como em tudo na vida, há um tempo para pensarmos, um tempo para propor-mos, há um tempo para discutirmos e até recusarmos… e há um tempo para fazermos.

Este é o tempo para fazermos!Este é o tempo para executarmos o Pro-jecto do Mercado do Bolhão!Não é cedo, mas também não é tarde para o fazermos e para garantir que os cheiros, os sabores, os sons e o espírito do Bolhão não se perdem.E não é tarde, porque o Bolhão não perdeu a sua alma. Os seus vendedores, a sua mú-sica, o seu afecto, os seus afectos, nunca se perderam. Esses, não precisam de rea-bilitação. Esses só precisam que saibamos devolver-lhes o carinho que, por cada um de nós, sempre souberam esbanjar.Foi em nome desse carinho que sempre aqui senti, quando vinha comprar um peixe

para o jantar ou, quando, simplesmente, passava para ter a certeza que o Bolhão ainda cá estava, foi em nome desse respei-to que sempre tive por este lugar e pelas suas gentes, que aqui não entrei na última campanha eleitoral.Terei sido, porventura, o único candidato, em décadas, que cá não veio para distribuir beijinhos e autocolantes, prometendo o mundo e o seu contrário e garantindo que isso aconteceria já depois de amanhã.

Não quero hoje, no momento em que apresentamos o Projecto do Mercado do Bolhão e damos início a um processo sem retorno, comprometer-me com grandes datas ou que a obra estará completa para que alguém aqui possa vir na próxima campanha eleitoral.Mas, posso garantir que foi uma obra bem pensada. Que foi bem projectada, por uma equipa multidisciplinar politicamente li-derada por mim e pelo meu vereador, o Arquitecto Correia Fernandes, e por todo o executivo, diga-se.Posso também garantir que o projecto de arquitectura está bem entregue nas mãos do Arquitecto Nuno Valentim e da sua equipa.Posso, ainda, garantir que o concurso públi-co para a sua execução será lançado depois

“Terei sido, porventura, o único candidato, em décadas, que cá não veio para distribuir beijinhos e autocolantes, prometendo o mundo e o seu contrário.”

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deste Verão e que a obra será feita no menor prazo possível para ficar bem feita, a tempo dos seus actuais vendedores regressarem e voltarem a encher este lugar com a sua fruta, as suas flores e sua alegria.

Embora isso não me assustasse como hipó-tese de recurso, posso ainda garantir que, este projecto, não precisará de dinheiros privados para ser executado. A Câmara do Porto, graças a um caminho de susten-tabilidade que encetou há anos e que no último ano e meio soubemos honrar, tem uma situação financeira que lhe permite encarar este desafio sem sobressaltos e sem depender de ninguém.Acreditamos, contudo, que será possível candidatá-la a co-financiamento comunitá-rio. Pela importância que o Bolhão repre-senta para a economia da cidade, para o turismo e para a reabilitação urbana, não posso sequer imaginar que assim não seja.Os pouco mais de 20 milhões de euros que a operação custará no total, incluindo a construção do mercado que transitoria-mente acolherá os actuais comerciantes e todo um conjunto de despesa que previmos nas mais variadas alíneas que uma inter-venção desta dimensão acarretará, são, por isso, um investimento pesado, mas sustentável para as boas contas do Porto.Minhas senhoras e meus senhores, é tem-po, por isso, de fazermos o que tem de ser feito.E o que tem de ser feito? O Bolhão!O Bolhão que não precisa de nenhuma

operação plástica. O Bolhão que é lindo, que respira, que deixa entrar em si a ci-dade e que tem o céu como o seu tecto.

O que tem que ser feito é, portanto, o Bo-lhão. Nem mais. Com a dignidade e com a sua função de sempre. Devolvidas e as-seguradas por muitos anos.As soluções que aqui vamos aplicar, todas bastante conservadoras no seu aspecto final – propositadamente conservadoras – não são contudo um “lavar de cara”, como alguns chegaram a preconizar que bastaria.

Os problemas estruturais do edifício, a degradação de um século de desgaste e o adiar de soluções, tornaram este mercado muito doente e a precisar de intervenções muito profundas.Também as exigências da modernidade nos obrigam a intervir em soluções tec-nológicas actuais.Temos que garantir a elevação de pessoas com mobilidade reduzida através de ele-vadores; temos de assegurar que aqui se podem fazer cargas e descargas com con-dições de sustentabilidade e conforto para

as imediações do mercado. Temos que garantir que, ainda quanto a esse aspecto, o mercado apresenta condições competi-tivas para que a indústria da restauração e da hotelaria aqui venha abastecer-se.O conforto dos comerciantes e dos visitan-tes; as condições de segurança humana e alimentar que hoje são exigidas; o acesso fácil e confortável a partir de transporte público, nomeadamente, a partir da rede de Metro do Porto; redes de electricidade, esgotos, frio e aquecimento modernas e muitas outras valências exigidas em pleno século XXI, têm que estar presentes.E, tudo isto, sem estragarmos o Bolhão. Tudo isto, mantendo a sua traça, a sua função, as suas soluções mais genuínas e a sua alma.O que temos pela frente é, então, o quê? Uma requalificação, uma regeneração, uma reabilitação, um restauro? Deixo os conceitos e termos técnicos para a discus-são natural que os arquitectos, certamen-te, lançarão. Na verdade, a qualificação da operação que aqui vamos começar, pouco importa aos portuenses. Chamemos-lhe então, simplesmente, “O Projecto do Mer-cado do Bolhão”.Um projecto que tem uma dimensão de ar-quitectura, uma dimensão económica, uma dimensão cultural, uma dimensão turística e uma dimensão humana que ultrapassam, até, qualquer entendimento técnico.

Queria terminar confessando-vos:Vai ser difícil ver o Mercado do Bolhão em obras. Viver sem ele durante muitos e muitos meses. Passar sem os seus cheiros e sabores.Tudo faremos, contudo, para informar os portuenses sobre o andamento do pro-cesso, das obras e sobre o momento do regresso. Tudo faremos para que ninguém esqueça o Bolhão e os seus vendedores. Queremos que regressem depressa. Mas não atropelaremos qualquer data em fun-ção de qualquer conveniência política, elei-toral ou pessoal.Esta obra, a sua qualidade e o regresso ao funcionamento do mercado têm que ser um bom pronúncio para o próximo século de Bolhão.A comunicação do mercado, a formação de quem aqui irá trabalhar e a promoção e animação do espaço são temas críticos para que esse próximo século não seja tão sofrido e não voltemos a ter que passar mais 30 anos a pensar no passo seguinte e dizermos que é urgente.Como muitos outros equipamentos da ci-dade, também o Bolhão poderá vir a ter um ou mais mecenas que nos possam ajudar nestas tarefas acessórias mas fundamen-tais. Numa condição: o Bolhão terá que ser sempre o Bolhão.O Bolhão que conhecemos e amamos.O Bolhão, mercado de frescos, público, aberto, livre, liberal e sem preconceitos.” •

“Tudo faremos para que ninguém esqueça o Bolhão e os seus vendedores. Queremos que regressem depressa. Mas não atropelaremos qualquer data em função de conveniências políticas, eleitorais ou pessoais.”

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A cidade que nãoperdeu a alma

Manuel Correia Fernandes é o vereador do urbanismo da Câmara do Porto, estando por isso intimamente ligado ao projeto de regeneração do Mercado do Bolhão. Mas a sua relação com o edifício e com a sua função começou muito antes, como explica na primeira pessoa.

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O arquitetoNuno Valentim Lopes é o arquiteto que lidera a equipa encarregue do projeto que devolverá o Mercado do Bolhão à cidade. Nasceu em 1971 e é licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e mestre em Reabilitação do Património Edificado pela Faculda-de de Engenharia da Universidade do Porto.Docente na faculdade onde se li-cenciou, foi regente da Unidade Curricular de “Construção I” e de-senvolve tese na área do Projecto de Reabilitação no Programa de Dou-toramento em Arquitetura desta Faculdade. É “Membro Integrado” desde 2009 da Equipa de Investiga-ção do Grupo “Património da Arqui-tetura, da Cidade e do Território” do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da FAUP.Foi distinguido com vários prémios, com destaque para o Prémio João de Almada, como co-autor, com Fran-cisco Barata e José Luis Gomes, do Projeto de Reabilitação do Edifício de 1928 da Rua Alexandre Braga, autoria de José Marques da SilvaEm 2013, recebeu o Prémio Ibéri-co de Arquitetura ‘Palmarés Ar-chitecture Tecnhal’ na categoria de Reabilitação. •

Há cerca de sete anos, no dia 24 de Janeiro de 2008, no salão nobre do Ate-neu Comercial do Porto cheio de comercian-tes e cidadãos, ganhou forma de

“movimento” o grito de indignação gerado na cidade pela entrega do Mercado do Bo-lhão às mãos de quem o não compreendia. Esse “movimento” tomou o nome de “Pla-taforma de Intervenção Cívica do Porto” (PICporto) que se deu à luta e não mais descansou até que o Bolhão ficasse a salvo do camartelo. Foi o que veio a começar a acontecer oito meses depois, no dia 23 de setembro, quando, sob a pressão da opi-nião pública, a Câmara do Porto declarou a extinção do compromisso que, em má hora, tinha assumido com a “Tramcrone”, a tomadora do insensato “projeto”.O papel desta Plataforma, independente dos partidos políticos e estruturalmente cidadã, foi decisivo para que, hoje, possa-mos dizer que, nesta questão do Bolhão, foi a cidadania e o interesse público que venceram. O trabalho desenvolvido foi árduo, complexo e desgastante, mas a cau-sa que mobilizou a sociedade e as suas instituições valeu a pena.Da história do “processo”, urgente, longo, e penoso, constam pequenas e grandes ações, dezenas de encontros e reuniões, múltiplas ações de sensibilização e esclare-cimento público, seminários e workshops, numerosos manifestos, reportagens e arti-gos na comunicação social, audiências com decisores políticos, declarações públicas e, de forma não menos relevante, mais de 50.000 assinaturas apostas na maior Petição de sempre dirigida à Assembleia da República para “que seja impedida a demolição do Mercado do Bolhão no Porto”, recolhidas em pouco mais de um mês à porta do imponente mercado. Hoje, sabemos que nada do que aconteceu foi em vão! De facto foram muitos os incentivos, os apoios, e as participações de cidadãos, associações e instituições da cidade, da região, do país e, até, do estrangeiro, que, de qualquer modo, se manifestaram individu-almente ou militantemente nas fileiras da Plataforma desde que o risco de destruição do Bolhão se tornou iminente. Contudo, mais do que todas as vontades e ações, foi o incansável querer dos comercian-tes do Bolhão que sustentou a resistência que nem a gritante falta de informação, nem a exasperante lentidão do processo e nem mesmo o abandono total do merca-do, foram “argumentos” suficientes para dobrar. O lema foi sempre a luta pela não destruição do Mercado e, o objetivo, a de-fesa do “Bolhão como “mercado público,

tradicional e de frescos, adequadamente modernizado, confortável e funcional”.Mas não se ficaria por aqui a luta em de-fesa do Bolhão. De facto, passados cerca de dois meses e meio, em 12 de dezembro de 2009, o Ministro da Cultura de então decide, finalmente, assumir a responsa-bilidade inerente à tutela do património classificado, assinando um acordo com a Câmara do Porto para a elaboração de um “novo projeto com um novo programa”, a ser executado pelo próprio MC/IGESPAR, comprometendo-se a Autarquia a financiar a obra com os referidos 20 milhões de eu-ros. Tal acordo foi recebido com moderado otimismo pelos cidadãos em geral e pela Plataforma em particular que, desde logo, se disponibiliza para “participar” no pro-cesso, na medida das suas possibilidades e das suas capacidades e desde que tal acordo tivesse como objetivo a reabilitação e não a destruição do Bolhão.No entanto, quatro anos teriam ainda de decorrer, até que o Bolhão voltasse a ser notícia, pelas piores razões, já que a Câmara declarava não ter a verba para executar a obra.O projeto seria conhecido em novembro de 2012. Aí, ficaria a saber-se que o Bolhão seria totalmente encerrado (com a cober-tura de ferro originalmente desenhada mas nunca executada,) com duas caves (uma técnica e outra para estacionamen-to), e com um orçamento de 20 milhões

de euros. Contudo de fora, continuavam a ficar os custos inerentes à indispensável operação de instalação transitória do Mer-cado, os custos de operação e reocupação pós-obras, as garantias de retorno dos atuais comerciantes e os planos e calen-dários de obra.E foi assim, nesta indefinição ou nesta impossibilidade, que o Bolhão chegou às eleições municipais de outubro de 2013. Na campanha, todas as forças políticas assumiram o compromisso de reabilitar o Bolhão, sendo que apenas o movimento de Rui Moreira e o PS assumiram rever em baixa o projeto, alinhando, para o efeito e na generalidade, pela “carta de princípios” sempre defendida pela PICporto.Finalmente, em janeiro de 2014, pouco tempo depois da sua posse, o atual execu-tivo acorda num novo e definitivo projeto que, no essencial, se propõe respeitar a luta desenvolvida pelos diversos movi-mentos de cidadãos pela devolução da dignidade ao emblemático Mercado. E foi esse o projeto que a Câmara do Porto deu a conhecer no passado dia 22 de abril, junta-mente com a garantia de financiamento da obra que, em qualquer caso, candidatará a fundos europeus.E aqui chegados e vindos de muito longe, tanto o país como a Plataforma, só podem esperar que agora seja de vez, possamos aplaudir, e dizer que só falta mesmo... pôr mãos à obra!” •

A obra que devolverá o Mercado do Bolhão à cidade, modernizado e pre-servado, custará cerca de 20 milhões de euros, valor que inclui já a instala-ção transitória dos comerciantes. O projeto poderá vir a ser cofinanciado por fundos europeus, ainda dependen-

tes de uma candidatura apresentada pela Câmara do Porto. O Município já possui, contudo, os recursos necessá-rios para a sua concretização, graças à criteriosa gestão da autarquia nos últimos anos, que gerou um saldo po-sitivo histórico. •

Quanto custa a obra?

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Metro no BolhãoQuando o mercado reabrir, já será possível ir às compras ao Bolhão de transporte pú-blico e com grande conforto. A estação de Metro do Bolhão terá uma entrada direta para o mercado, melhorando a acessibilida-de e facilitando o transporte de compras. No subsolo existirá uma cave técnica, que permitirá a instalação de equipamentos e também de cargas e descargas, sem provo-car constrangimentos de trânsito na zona. Embora não tenha estacionamento público próprio, o mercado será bem servido por parques que existem e estão em projeto nas imediações. •

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Fórum do Futuro em novembro

Depois do sucesso da primeira edição, o Fórum do Futuro – Festival de Pensamen-to regressa ao Teatro Municipal Rivoli, entre 1 e 8 de novembro, em parceria com as principais instituições culturais da ci-dade: Casa da Música, Teatro Nacional de S. João, Fundação de Serralves e Univer-sidade do Porto.Organizado pela Câmara do Porto apre-senta um intenso programa de debates em áreas muito diversas, propondo uma reflexão sobre a felicidade nas sociedades atuais, tema transversal à atividade do Pelouro da Cultura em 2015. Luz, Redes Sociais, Imagem, Memória, Igualdade, Inclusão, Risco, Odor e Sabor, estão entre os temas desta edição.O projeto foi criado em 2014 para dar es-paço à descoberta de ideias que marcam o pensamento nacional e internacional. No ano passado, com convidados como o en-cenador Robert Wilson, os Pritzkers Jean Nouvel (pela primeira vez em Portugal) e Rafael Moneo, o prémio Nobel da Química 2004 Aaron Ciechanover, o Rivoli registou uma taxa de ocupação superior a 90 por cento. Este ano, a programação do Fórum será anunciada no final de setembro. •

A felicidade na Feira do Livro

Após oito décadas de história, a Feira do Livro do Porto foi pela primeira vez orga-nizada pela Câmara do Porto em 2014. O modelo de sucesso, então adotado, foi este ano replicado, apostando-se na mesma localização e datas e num forte progra-ma cultural e de animação, sob o tema da “felicidade”. Além das principais editoras, inscreveram-se livreiros e alfarrabistas, lotando a Avenida das Tílias, nos jardins do Palácio de Cristal, com 130 pavilhões. Do programa cultural fazem parte ses-sões de cinema, de spoken word, debates, performance, exposições e música e uma novidade, designada “speaker’s corner”.A edição deste ano integra também ativi-dades relacionadas com as comemorações dos 150 anos dos jardins do Palácio.Livreiros e editoras falam em vendas re-corde na edição deste ano e a Biblioteca Municipal Almeida Garrett e a Galeria com o mesmo nome registam também forte afluência ao programa que desenvolvem desde o dia 4 de setembro a propósito da feira. Depois de homenagear Vasco Graça Moura em 2014, a feira deste ano distin-guiu o trabalho de Agustina Bessa-Luís, através da atribuição de uma tília. •

Há um ano nascia o Teatro Mu-nicipal do Porto (TMP) com os seus dois pólos, Rivoli e Campo Alegre, e com a missão de de-

volver à cidade um dos seus principais palcos e a estratégia de construção de um projeto que conseguisse olhar o mundo contemporâneo com os pés assentes no território. Com uma taxa de ocupação na ordem dos 90 por cento, o Teatro move-se em diferentes áreas como a música, o teatro, o cinema, a literatura e o pensa-mento, com especial enfoque na dança/performance. Dezenas de espetáculos e milhares de visitas depois, e com a chegada em ja-neiro de 2015 do novo diretor artístico Tiago Guedes, acaba de ser apresentada a programação de setembro a dezembro da nova temporada. Destaque especial para o Festival Internacional de Ma-rionetas do Porto (FIMP), o Foco Novo Teatro Novo e o Fórum do Futuro. Seguindo as grandes linhas de pro-gramação definidas desde o primeiro momento pelo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, cumprem-se o desenvolvimento de parcerias institu-cionais de coapresentação com teatros de outras cidades, a estreia de oito es-petáculos internacionais e a aposta em coproduções nacionais, num total de 28 a estrear, apenas neste quadrimestre.

Uma das grandes novidades acontece em novembro, com a primeira pro-dução do Teatro Municipal do Porto, intitulada “Ícones do Desporto”, uma homenagem ao universo desportivo que coloca em palco a medalhada olímpica Rosa Mota e o Bota de Ouro Fernando Gomes, em dois espetáculos encenados por Pedro Penim e Miguel Loureiro.Este será o período do ano com maior número de estreias absolutas, quer de artistas e companhias locais como de outros nomes que encontraram no Porto uma nova casa.Na programação internacional, des-taque para o regresso à cidade do coreógrafo francês Christian Rizzo, para a estreia da artista visual belga Miet Warlop, com uma peça repre-sentativa do seu imaginário caótico, e do jovem belga/holandês Jan Mar-tens, que apresentará uma peça de dança minimal e hardcore. De referir ainda dois espetáculos do encenador espanhol Pablo Fidalgo, inseridos no programa da Mostra Espanha, e a residência artística de dois meses da norte-americana Meg Stuart, um dos mais importantes nomes mundiais da dança contemporânea.O Teatro Municipal do Porto fecha o ano com a mais recente criação do argentino Rodrigo García, o enfant terrible do teatro europeu. •

Rivoli e Campo Alegre no novo

Teatro Municipal do Porto

Festas de São João estão a crescer

e chegam a outras zonas da cidade

“Coppia” foi um dos espetáculos mais marcantes da primeira temporada do Teatro Municipal do Porto, com o palco do Grande Auditório do Rivoli transformado num court de ténis.

A performance, coreografada por Victor Hugo Pontes, incluiu música e dança contemporânea, contando com Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves, Joana Castro e Valter Fernandes em palco.

O São João continua a ser a gran-de festa do Porto e os cálculos da Autarquia apontam para que a edição de 2015 tenha sido a

maior festa de sempre na cidade, com mais de meio milhão de pessoas a par-ticipar, nas ruas, nos festejos públicos organizados ou coordenados pela Porto Lazer, entre as 20 horas do dia 23 e as sete da manhã do dia 24 de junho.Após o regresso da animação à Ro-tunda da Boavista, em 2014, este ano a Câmara do Porto apostou fortemente nas Fontainhas, devolvendo a festa aos locais mais tradicionais da cidade.Na Avenida dos Aliados realizaram-se quatro concertos, nas noites anteriores à festa, que reuniram cerca de 250 mil pessoas, no total, com destaque para os 80 mil que Rui Veloso atraiu. Este modelo de concertos na avenida foi implementado pela primeira vez em 2014 e alargado em 2015, ano em que a noite de São João contou também com

um inesquecível espetáculo de José Cid, por onde terão passado perto de 100 mil pessoas.Por outro lado, por decisão do presi-dente da Câmara do Porto, não foram admitidos palcos na Ribeira, onde se colocavam problemas de segurança, nem foram autorizadas as tradicionais festas montadas pelas televisões, que espelhavam pouco o que é o verdadeiro São João do Porto.O mês de junho ficou ainda marcado, no Porto, pelo NOS Primavera Sound, que bateu também recordes de assis-tência ao receber mais de 78 mil espe-tadores no Parque da Cidade. Cerca de 50% dos bilhetes foram vendidos a estrangeiros, o que faz do festival portuense o mais internacional do país e também o que provoca maior retor-no internacional e visibilidade para a cidade. A próxima edição do festival está já assegurada e tem data marcada para de 9 a 11 de junho. •

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Ao que saberá a primeira luz?O que provocará o primeiro aconchego?

Porque não nos lembramos desses momentos irrepetíveis, inenarráveis do primeiro beijo?

O primeiro, mesmo. O beijo da mãe.

Porque não nos lembramos dos primeiros cheiros e sabores? O que regista a nossa mente nos primeiros instantes?

Porque não se quer lembrar do primeiro soluço quenos marca a vida?

A primeira vida.

Há mistérios que não se repetem, mas que acontecem,sempre novos, sempre outros, a toda a hora, a todas as horas,

e que nem o primeiro olhar desvenda.

E é o olhar que nos distingue.

A Leonor Alexandra tem dias. Dias imensos, do tamanho da sua vida, de luz e aconchegos. E tem um olhar que a distingue.

Sentiu e sentimo-la no Hospital de São João, no Porto, no momento em que nasceu.É de Campanhã, onde a Carina Pinto e o Bruno Mesquita lhe vão mostrar nova luz, novos cheiros e sabores e outros beijos e desafios. Já tem irmãos e uma família. É portuense. É do Porto. É filha do Porto. É de Campanhã.Este ano, até final de julho, já nasceram 8.847 como ela - ou não como ela - no Dis-trito do Porto. Mais 450 do que em 2014.Sempre que nasce uma Leonor, uma Ale-xandra ou uma Leonor Alexandra, a cidade

Sangue Novoenche-se de luz. A misteriosa luz que não sabemos recordar.Dois destes milagres por hora no Porto, num hospital como o nosso São João, ou noutro sítio qualquer. São milagres. E são cada vez mais.Esta é uma das imagens do Porto que lhe queremos mostrar no primeiro número do jornal Porto., um Porto novo, que se distingue pelo olhar, pelo carácter e que – agora sim – está a crescer.

Está invertida uma tendência de muitos anos, com menos milagres por hora. Os números são do Instituto Ricardo Jorge e dizem-nos, sem a poesia do olhar da Le-onor, que há razões para a esperança. •

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A E S T R U T U R A “ V E R T I C A L ”

Na primeira fase das suas existências – ou seja, entre o início de actividade dos três diários, ainda no século XIX, e o dealbar do século XX –, O Comércio do Porto (de 1854 a 1922), O Primeiro de Janeiro (de 1868 a 1901) e Jornal de Notícias (de 1888 a 1900) apresentavam, do ponto de vista gráfico, uma estrutura vertical dominante e rígida.Para além do factor humano, o grafismo das primeiras páginas dos três jornais foi determinado pela evolução das con-dições técnicas da imprensa. Este mo-nolitismo estrutural era motivado pelos constrangimentos técnicos da época, que obrigavam, por exemplo, a uma lenta e fatigante composição a frio tipo a tipo. A rudimentar composição a frio exigia enormes esforços físicos e não permitia grandes variações tipográficas.

Daí que, numa primeira fase, os jornais apresentassem um figurino denso, cin-zento e linear. Durante este período ma-tricial, o logótipo assomava como o ele-mento gráfico dominante nas primeiras páginas dos três jornais, estruturando graficamente toda a solução. Em plano de destaque estavam, igualmente, as extensas e cerradas manchas de texto. À época, os periódicos preenchiam a sua mancha útil com textos contínuos, o que torna-va a solução gráfica densa e homogénea. Neste período, temos os tipógrafos como

Da inovação ao declínio

Há duas formas de encarar a história da imprensa no Porto: a nostálgica, que embora justificável se re-

vela infrutífera, e a proactiva, que procura encontrar no passado en-sinamentos para o presente e o fu-turo. Ora o que me proponho neste artigo é, justamente, caracterizar a evolução gráfica da imprensa por-tuense, sublinhando os aspectos inovadores que esta assumiu e que podem ser lições para os jornais da actualidade. Fá-lo-ei centrando--me no percurso histórico dos três principais diários da história da imprensa portuense – O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias –, por considerá--los emblemáticos da modernidade gráfica que os jornais desta cidade assumiram ao longo dos séculos XIX e XX.Para além de estarem sedeados no Porto, reflectirem alguma da mundividência local e terem sido fundados na segunda metade do século XIX, O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias desenvolveram um per-curso histórico paralelo, mas nem sempre coincidente, ao nível das soluções gráficas.Durante século e meio, os três pe-riódicos procuraram adequar o seu grafismo a várias condicionantes: à evolução tecnológica e editorial da imprensa e aos factores humanos, designadamente os padrões de gos-to dos leitores e o sentido estético de quem concebia os jornais. Assim se explica que O Comércio do Por-to, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias tenham assumido, ao longo do tempo, diferentes mode-los gráficos, os quais não só deter-minaram a sua identidade visual como caracterizaram o grafismo da imprensa portuense.

Eduardo AiresDesigner, docente da FBAUP e autor da tese de doutoramento “A estrutura

gráfica das primeiras páginas dos jornais O Comércio do Porto, O Primeiro de

Janeiro e Jornal de Notícias”, da qual este artigo é extraído.

grandes protagonistas da concepção grá-fica dos três jornais. Tratava-se de uma classe socioprofissional muito unida, culta, consciente dos seus direitos laborais e que pugnava galhardamente pela salvaguarda dos mesmos. Dentro dos jornais, a ascen-são profissional da classe era motivada pelo mérito. Normalmente, a progressão na carreira fazia-se do aprendiz até ao chefe de tipografia, chegando-se, assim, ao topo da pirâmide hierárquica.Ao chefe de tipografia cabia, então, o de-senho do periódico e, de forma colateral, a definição da própria linha editorial. Desenvolvia, pois, uma função de grande importância na imprensa da época e, por isso, revestida da maior autoridade junto das restantes. Na partilha do poder no seio dos jornais, os chefes de tipografia ficaram, na altura, com um grande quinhão, so-bretudo em relação aos jornalistas. Estes últimos não trabalhavam em exclusivo para os jornais e, por isso, não passavam grande parte do seu tempo no interior das estruturas produtivas dos mesmos. Ao invés, os tipógrafos dedicavam-se por inteiro à impressão dos periódicos e faziam das respectivas oficinas tipográficas uma segunda casa.

A E S T R U T U R A “ P U Z Z L E ”

Numa segunda fase da vida dos diários portuenses, entre o início do século XX e a década de 60, O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias usufruem das potencialidades gráficas ofe-recidas pela evolução das técnicas de pro-dução, designadamente as que advinham da composição a quente. De referir que a composição a quente veio abrir um leque de possibilidades gráficas aos tipógrafos, embora também fosse muito exigente do ponto de vista físico. Tirando partido da maior capacidade “plástica” desta técni-ca, os autores das primeiras páginas dos diários portuenses desenvolveram vários modelos gráficos, conferindo aos periódi-cos um conjunto de soluções gráficas que não tinham patenteado até então.Este segundo período representa, assim, na sua fase inicial e que se poderá carac-terizar pelo modelo “puzzle primário”, que foi evoluindo graficamente com o tempo.

Assistiu-se igualmente ao recurso, porven-tura em excesso, das colecções de tipos, o que conduziu, amiudadas vezes, à des-caracterização gráfica e tipográfica dos três periódicos portuenses. O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias competiam entre si pela exibição de tipos, cuja variedade era considerada um sinal de prosperidade económica e até de sofisticação intelectual. Relativamente à questão autoral, regista--se uma alteração que se verificaria na década de 60 do século XX, quando os chefes de redacção, e em particular os do Jornal de Notícias, ancorados nos seus conhecimentos não apenas editoriais como gráficos, assumiram, quase por inteiro, o controlo das soluções gráficas adoptadas nos jornais. Contudo, a mudança não foi feita contra os tipógrafos mas, sim, com a estreita colaboração destes. A nova gera-ção de chefes de redacção nunca deixou, com humildade, diga-se, de aproveitar a sapiência técnica dos mestres tipógrafos para rejuvenescer os diários portuenses de que eram editorialmente responsáveis.

A E S T R U T U R A “ P U Z Z L E C O M M O L D U R A ”

A partir dos anos 60, surge com a terceira fase, um novo elemento gráfico: o espaço

Há duas formas de encarar a história da imprensa no Porto: a nostálgica e a proactiva, que procura encontrar no passado elementos para o futuro.

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em branco, que passa a delimitar visual-mente as notícias e a “deixar respirar” as primeiras páginas. A estrutura gráfica dos jornais começa a ser definida segundo o que designamos por modelo “puzzle com moldura”, ou seja, as notícias encaixavam umas nas outras, com ou sem denúncia das suas lâminas de contorno. O recurso às “molduras” e a “espaços brancos”, en-quanto elementos gráficos, atribuem uma característica gráfica muito peculiar às pri-meiras páginas. Regista-se, igualmente, um decréscimo do número de blocos de texto corrido associados aos títulos e a imagem ganha importância, quer pela quantidade, quer pela área que vai ocupando na mancha útil de impressão. Daqui resulta uma dilui-ção da hierarquia visual entre os diferentes elementos gráficos, que antes era dominada pelo logótipo. Agora, este elemento surge diluído na solução gráfica da página.

Esta nova identidade visual foi motivada por dois factores. Primeiro, a erudição de quem editava os jornais. Uma nova gera-ção de chefes de redacção conhecedores, ou mesmo estudiosos, das tendências da imprensa mundial dos meados do século XX emerge, então, nos diários portuen-ses, o que impulsiona a introdução, nas respectivas estruturas gráficas, de ele-mentos estéticos inspirados nos grandes periódicos da época, em particular os de origem francesa (a intelligenzia lusa era, na altura, eminentemente francófona).Ao mesmo tempo, essa nova geração pretendia importar ideais modernis-tas à prática diária dos projectos edi-toriais. O segundo factor determinante para a adopção do modelo “puzzle” é, naturalmente, o salto tecnológico que a tipografia conheceu a partir da déca-da de 60. A composição a quente passa a ser trabalhada com uma plasticidade invulgar, permitindo novos cambiantes gráficos na imprensa da época, designa-damente na que era publicada no Porto.

A E S T R U T U R A “ N A T U R A L ”

O U A U T O D I D A C T A

A quarta fase surge a partir dos anos 80, os três grandes periódicos do Porto revelaram um espectro de soluções grá-ficas como em nenhuma outra fase. Essa multiplicidade e variedade de primeiras páginas foi fruto não só da emergência da fotocomposição, técnica que permi-tiu abandonar a composição a quente, como da singular conjuntura política e socioeconómica que o país vivia no perí-odo após 25 de Abril. Paradoxalmente, a maior sofisticação técnica então alcança-da provocou uma certa confusão visual nos três diários.A imprensa diária portuense não fugiu à regra, verificando-se uma proliferação de modelos estruturais proporcionada pelo avanço tecnológico das artes gráficas. Como ainda não dominavam na perfeição a fotocomposição e porfiavam em esque-mas mentais baseados na tradição do que vinham fazendo, os responsáveis pelas primeiras páginas dos jornais portuenses caíram no exibicionismo gráfico, adoptan-do soluções dispersas e complexas. Um exemplo desse deslumbramento com a fotocomposição é o constante recurso ao “efeito condensado” nas fontes. Verifica--se o abandono, em definitivo, das gran-des manchas de texto corrido, em favor dos grandes títulos e imagens em grande escala. Em termos autorais, na década de 80 verificou-se uma nova mudança de res-ponsabilidades. Ainda que com alguma resistência, os chefes de redacção cede-ram, ou melhor partilharam, as suas com-petências na definição gráfica dos jornais aos maquetistas, que assim se tornaram os novos protagonistas da identidade visual da imprensa da época.

Os maquetistas provinham de diferentes origens, sendo, no entanto, mais comum a sua transferência da secção de tipografia ou de gravura. Contudo, não tinham o sen-tido de classe dos velhos tipógrafos. Nas suas funções, operavam com autonomia quer em relação à chefia da redacção, quer em relação à chefia da tipografia. Repor-tavam, por conseguinte, às direcções e, por vezes, às administrações dos jornais. Subjacente à inépcia gráfica revelada com o surgimento da fotocomposição esteve uma luta, mais ou menos velada, por pro-tagonismo entre os chefes de redacção e os maquetistas, uma nova função motiva-da, precisamente, pela evolução técnica. Os primeiros procuravam salvaguardar o controlo sobre o grafismo dos diários por-tuenses, enquanto os segundos pretendiam afirmar-se à luz das novas potencialidades trazidas pela fotocomposição.

A Q U I N T A F A S E : E S T R U T U R A “ M O D U L A R ”

Introduzida tardiamente em Portugal, a fotocomposição teve vida efémera na nossa imprensa, a do Porto incluída. Com o advento dos computadores, logo na dé-cada de 90, uma nova revolução gráfica se inicia, consubstanciando uma outra fase no percurso histórico dos diários portuenses.

A informática permitiu a adopção de novas soluções gráficas, sem que isso se tenha traduzido, de imediato, em projectos de design editorial estruturados. O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias mostraram, então, alguma relu-tância em condicionar as soluções gráficas adoptadas diariamente a um projecto de design desenvolvido a montante. Nesta fase, só o JN implementa um projecto edi-torial integral, onde o design ocupa uma

função estratégica, dado que não só dá res-posta a um programa de encomenda como conduz o jornal à sua reestruturação totalA informatização da imprensa vai, por outro lado, trazer novos actores para os jornais – os designers – permitindo o desenvolvimento de estratégias gráficas, consistentes e criativas, fazendo com que a repetição de modelos entre periódicos deixasse de existir e de fazer sentido. Desta forma decorre a passagem de testemunho entre maquetistas e designers.

O M E U J O R N A L

A evolução gráfica que os três títulos históricos do jornalismo portuense – O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias – conheceram é um espelho do declínio que atingiu a imprensa portuense. À excepção do JN, que continua a registar boas audiências (é o segundo diário generalista mais lido em Portugal) e a apresentar um grafismo actualizado, os restantes títulos da imprensa do Porto entraram numa espiral de decadência e acabaram mesmo por soçobrar (O Pri-meiro de Janeiro continua a publicar-se mas é uma sombra do jornal de outrora). Acresce que, para além da decadência dos jornais tradicionais, verificou-se, nas últimas décadas, o sucessivo fracasso de projectos de comunicação social desenvol-vidos a partir do Porto, podendo mesmo afirmar-se que a cidade vive hoje uma crise de identidade mediática. Os media estão actualmente concentrados em Lisboa, o que significa a perda de peso político--mediático da capital nortenha. Perante isto, importa estudar as causas que motivaram a actual degradação do panorama comunicacional no Porto, no-meadamente do ponto de vista do design editorial. O conhecimento da História pode, de facto, ajudar a definir estratégias futuras num sector determinante para o desenvol-vimento e afirmação da cidade. Conhecer as causas deste retrocesso da imprensa é não só pertinente para a compreensão his-tórica da capital nortenha na passagem do século XX para o XXI, como também para o arranque de um processo de revitalização da comunicação social portuense.Bem sei que a imprensa vive uma crise a nível mundial, fruto do advento da internet e dos dispositivos digitais. Mas se o livro resistiu à investida do e-book, creio que também a imprensa tradicional pode fi-delizar e conquistar leitores, inclusive aos portais de informação. O sucesso mundial da revista Monocle, por exemplo, veio relançar a esperança na sobrevivência do papel. Até porque, como vários estudos comprovam, a leitura em papel exige mais concentração e, por isso, é mais produtiva e enriquecedora. Por outro lado, acrescento eu, o papel tem outro charme e eficácia comuni-cacional. Não é em vão que se afirma: “este é o meu jornal”. •

D A I N O V A Ç Ã O A O D E C L Í N I O • A R T I G O D E F U N D O

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O B O L H Ã O E A S C O N T A S À M O D A D O P O R T O

Eu sou do Porto. Nasci no Porto e vivi sem-pre no Porto. Vivo o Porto em tudo o que faço. E o Bolhão é esse Porto que vivo. O Porto da vontade, da perseverança, que não baixa a cabeça, que não aceita ordens de ninguém. Altivo até. E por isso custa ver, há tanto tempo, o Bolhão assim, parece que entregue à sua sorte.Com a apresentação do novo projecto de reabilitação do Bolhão parece que esse estado de coisas mudou. Mudou agora, mas é uma opção que pôde ser tomada depois de um longo percurso - do Bolhão, mas não só.O Presidente da Câmara Municipal do Porto - porventura bem - não quis nunca, a este propósito, falar do passado e do que (não) se fez nos últimos 30 anos. Mas é sempre o passado que explica e autoriza o presente. Desde 1992, esta é a quarta iniciativa pública de reabilitação do Bolhão e temos de pensar porque é que as outras não foram avante e esta vai. Lembremo-nos do primeiro projecto do Arquitecto Joaquim Massena, de 1992, que, em obediência ao concurso respectivo, tinha por fundamento manter o carácter geral do edifício. O projecto foi aprovado por “una-nimidade com Distinção e Louvor”. Não foi certamente por falta de vontade política que não foi executado. Recordo que o projecto de execução foi aprovado por todos os or-ganismos de tutela, estando pronto a ser executado em 1998. Mas não foi.Em 2007, a Câmara Municipal do Porto decidiu abrir um novo concurso públi-co de concepção/construção/exploração, admitindo expressamente a entrega do Bolhão para exploração por privados. Este modelo não era o melhor para a cidade do Porto, mas, atenta a impossibilidade de executar o projecto anterior, por absoluta falta de meios financeiros, era o modelo possível, aquele que permitia não deixar simplesmente ruir o Bolhão e fazê-lo de-saparecer do nosso património colectivo. Não se decidiu então como se queria, mas como se podia.

D O B O L H Ã O A C A M P A N H Ã

1. Nesta primeira circunstância em que somos convocados a partilhar institucional e publicamente um dos veículos municipais de contacto com os portuenses, a inicial palavra necessária é de saudação.Sendo o Porto um sítio de gente vária, di-versificada e, por isso e nisso, imensamente rica no seu caráter único, abrir espaço à manifestação da pluralidade de pensamento representada nos seus órgãos autárquicos revela a maturidade e autoconfiança de quem dirige os destinos da cidade.E se tanto devia ser tão natural quanto habitual, a verdade é que se nos apresenta inédito: honra, pois, a quem o promoveu.O PS procurará, também por este meio, manifestar pública afirmação da sua au-tonomia político/programática no quadro do seu empenhado e robusto compromisso com a gestão municipal que os portuenses escolheram.Nesse quadro, este agora nosso espaço de interação com os cidadãos do Porto estará aberto à sua participação crítica, à reflexão sobre todas as questões que justifiquem intervenção municipal. O nosso diálogo com a cidade acolherá também a opinião, mesmo se, ou sobretudo se, desafiante da-queles que, com seriedade de propósitos, quiserem contribuir para que o Porto seja cada vez mais e melhor Porto.2. Da atividade da Câmara duas ações me-receram por estes dias especial destaque: o projeto de recuperação do Mercado do Bo-lhão e o estudo sobre a reabilitação das ilhas.Respondem ambas a compromissos elei-torais e ambas representam a tenacidade com que o executivo municipal enfrenta desafios e dificuldades.A recuperação do Bolhão levará o seu tempo, terá os seus sobressaltos, mas não defrontará obstáculos de muita monta.Já a reabilitação das ilhas se configura como empreendimento de enormíssima dificuldade.Pilotando a recuperação do Bolhão, Cor-reia Fernandes não deixará de ter sobre os ombros uma responsabilidade de tomo, haverá de enfrentar situações inesperadas

O Porto. é um jornal plural e aberto à opinião de todas as sensibilidades da cidade, pelo que se pediu a todas as forças políticas com assento na Assembleia Municipal do Porto que nomeassem um cronista por edição. Este espaço é, pois, da inteira responsabilidade de quem assina cada uma das colunas, estando identificadas as forças políticas que representam.

Por intransigência do município quanto ao cumprimento das obrigações do con-curso e pela acção de muitos portuenses, o projecto não foi executado. Mas o Bolhão continuava sem solução. A Câmara Muni-cipal do Porto decidiu-se, então, por uma parceria com o Ministério da Cultura, mas, no fim de 2011, anunciou não poder avançar com o projecto de 20 milhões de euros sem uma comparticipação substancial de fundos comunitários.Agora, a Câmara Municipal do Porto anuncia que, com um custo previsional desses mesmos 20 milhões de euros, a obra é possível e será feita, sem neces-sidade de parceiros privados ou fundos comunitários.O projecto prevê a manutenção das valências actuais, agora com as como-didades próprias dos nossos tempos, numa concepção sóbria e que respeita a história do monumento e do patrimó-nio que o Bolhão representa. A Câmara Municipal do Porto decidiu bem. Muito bem. Porque o fez em consciência e em total liberdade. É que a verdadeira liberdade em política só existe quanto há verdadeira indepen-dência económica. Só assim o político é verdadeiramente livre para escolher a melhor solução, a solução que realmente quer, que julga servir melhor os cidadãos, sem depender de outros e sem ter de lidar com as pressões dos que, legitimamente, têm interesses diferentes dos da autarquia que lidera.Este projecto é hoje possível porque a Câ-mara Municipal do Porto, num caminho já longo e também no último ano e meio, adoptou uma política de grande rigor fi-nanceiro. Com contas “à moda do Porto”.A Câmara Municipal do Porto tomou a melhor decisão. Porque quis, mas e por-que pôde.E pôde porque fez por isso.Fez o que devia fazer em termos finan-ceiros para ter a necessária liberdade em termos políticos.

André NoronhaRui Moreira: Porto, O Nosso Partido

e ultrapassar escolhos imprevistos. Mas a sua sábia lucidez garante que, finalmente, vamos ter o Mercado por que há tanto tempo esperamos.Já Manuel Pizarro se propõe, ao desen-cadear a intervenção nas ilhas, timonar um projeto cuja dimensão está longe de ser possível estimar, à partida, com um mínimo de rigor confortável.O estudo de levantamento e caraterização executado pela Faculdade de Engenharia com a preciosa colaboração da Domus Social – excelente e indispensável traba-lho – dá bem a ideia da complexidade e magnitude dos objetivos a atingir.No Porto, espalhados por todo o seu terri-tório embora com alguma predominância em Campanhã, há mais de 950 aglomera-dos habitacionais que, por economia de expressão, podemos designar por ilhas.A realidade do seu estado de conservação e da sua dimensão aponta para diversas hipóteses de intervenção, que se estendem desde a demolição pura e simples até uma quase mera manutenção do edificado atual.A intensidade habitacional é também múltipla, indo do quase abandono até à ocupação total, como diversa é a vontade manifestada dos moradores relativamente ao seu destino: uns preferem permanecer no sítio, outros almejam pelo realojamento.O regime de propriedade das ilhas, esma-gadoramente privada, é muito heterogé-neo, indo desde um só dono a vários, sendo uns nelas residentes e outros não.Cada caso será um caso, com intervenção de múltiplas competências e entidades. Trata-se de intervir no plano da verdadeira regeneração urbana, sobretudo na sua capi-laridade para o interior dos quarteirões, com exigências de cariz arquitetónico e urbanís-tico que se não adivinham de fácil solução.Mas será, porventura, a ação mais mar-cante da atividade do Município.Ir-se-á intervir no verdadeiro âmbito da coesão social, no delicado domínio dos que quase não têm capacidade de se fazer ouvir, protestar ou reivindicar.

Gustavo PimentaPartido Socialista

Opinião

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C A U S A S P O R T U E N S E S

“A Pessoa é a medida e o fim de toda a atividade humana. E a política tem de estar ao serviço da sua inteira realização”—Francisco Sá Carneiro

Orgulhamo-nos das posições credíveis que temos tomado na Assembleia Municipal, e no sentido de serviço que temos tido na opo-sição, demonstrando que o PSD está iden-tificado com as causas dos Portuenses, tal como nos ensinou Francisco Sá Carneiro.

Da Reabilitação UrbanaUma das causas do Porto é o repovoa-mento e a reabilitação urbana. A cidade perdeu nos últimos trinta anos mais de 90.000 habitantes, acentuando-se a de-sertificação, o desequilíbrio do ponto de vista da pirâmide etária, da estrutura sócio económica e de um edificado devoluto em más condições de conservação.O Porto está na moda, é uma cidade que atrai cada vez mais turistas. Mas o Porto, é uma cidade única, e não po-derá nunca ser uma cidade para turistas, mas sim, e em primeiro, tem de ser uma cidade dos e para os portuenses.A grande prioridade política e estratégica passa por inverter a situação de perda de população, porque onde não há cidadãos não há verdadeira cidade.Defendemos na AM propostas concretas, para acelerar esta dinâmica:A alteração institucional do Estatuto da SRU, que alargue a participação acionista ao sistema financeiro e a investidores priva-dos nacionais e estrangeiros, de referência;O empenhamento político do Município, para a captação acelerada de investimento priva-do nacional e estrangeiro para a realização de reabilitação, e/ou para a aquisição do edi-ficado recuperado, fortalecendo inclusive um mercado de arrendamento de classe média; A extensão do conceito da reabilitação ur-bana a toda a cidade, aumentando a oferta concorrencial e evitando movimentos espe-culativos no preço do edificado recuperado.

Da Justiça FiscalApresentamos na AM uma proposta de redução da taxa geral do IMI de 2015, de 0.36% para 0.33%, com base na própria dinâmica de geração deste imposto, sem prejuízo da receita municipal.Além da redução da taxa geral e tendo em conta princípios de justiça social, no tocante ao agregado familiar, na defesa da família, da promoção da natalidade e da protecção dos idosos, que promovam um Porto mais solidário, propusemos também a redução do IMI nos casos de imóvel desti-nado a habitação própria e permanente, em função do número de dependentes a cargo: 5% para 1dependente, 8% para 2 depen-dentes e 15% para 3 ou mais dependentes. A cobrança do IMI teve um acréscimo na execução orçamental de 2014 de 6.1%,

2.5 milhões de euros, de +4.3%, 1.8 milhões de euros face ao exercício de 2013 e +3.3%, 1.4 milhões de euros face ao valor orça-mentado para 2015.Por outro lado a situação financeira da CMP, permite sem nenhum constrangimento fi-nanceiro a redução deste imposto municipal;Uma proposta de redução do IMI financei-ramente sustentada, mas que foi infeliz-mente “chumbada” pela maioria municipal, contrariando uma lógica de justiça fiscal a favor dos portuenses.As causas dos Portuenses e o Porto esta-rão sempre em primeiro.

Luis Artur Ribeiro PereiraPorto Forte

N E M S E M P R E O Q U E P A R E C E , É .

Costuma dizer-se que “em política o que parece é”. Discordo. Na política como em tudo na vida, as coisas “nem sempre são aquilo que parecem” É o caso do Porto.Após as eleições autárquicas de setembro de 2013, Rui Moreira sucedeu a Rui Rio. Corre por aí que a cidade está melhor, que com Rui Moreira tudo melhorou. Vamos ver.Depois da gestão anterior de Rui Rio ter atingido elevados níveis de autoritarismo, prepotência, desrespeito pelos órgãos elei-tos, hostilização de forças sociais, bem se pode afirmar que seria quase impossível fazer pior. É pois evidente que não foi difícil a Rui Moreira projetar e concretizar uma indiscutível mudança de estilo.Mas não nos equivoquemos. A simpatia não pode ser confundida com mudança de políticas, e desse ponto de vista, infe-lizmente, mudou muito pouco.Rui Moreira e o CDS (agora juntos com o PS), cortaram no investimento públi-co, não aliviaram o peso da carga fiscal, aceleraram a delapidação do património municipal. Mantendo a mesma linha de pensamento da ministra das finanças, que diz que “o país tem os cofres cheios” quando o povo está a passar tão mal, Rui Moreira diz que em 2014 poupou quase 50 milhões, mas somou à austeridade do governo o aumento da carga fiscal cobra-da aos portuenses, não reabilitou bairros sociais que precisam de ser reabilitados, não requalificou ruas e jardins que bem precisam de requalificação. Seguindo o caminho de Rui Rio, que entre-gou tudo aos privados (Palácio do Freixo, Ferreira Borges, Bom Sucesso, Rivoli, tentou mas não conseguiu privatizar o Bolhão, o Rosa Mota, o Silo Auto e até parte impor-tante do capital das Águas do Porto, con-cessionou a limpeza de metade da cidade num negócio terrivelmente ruinoso e só não vendeu a Torre dos Clérigos porque, feliz-mente, não é da Câmara), mas dizia eu que seguindo o mesmo caminho, Rui Moreira

não rompeu com o negócio do Bairro do Aleixo, privatizou a exploração do estaciona-mento na via pública, acordou tarde para a privatização da Metro e da STCP, que trará grandes prejuízos à população, recusou-se a aplicar o regime das 35 horas de trabalho semanal para os funcionários municipais não respeitando o acordo celebrado com os representantes dos trabalhadores.Afinal, onde está a mudança?A CDU, por seu lado, como força porta-dora de um projeto alternativo, com um trabalho de contacto de grande proximi-dade com as pessoas, continuou a fazer o atendimento aos munícipes às 3ªas feiras, a realizar visitas por toda a cidade aos fins-de-semana para tomar conhecimento dos problemas, a apresentar propostas nas reuniões da Câmara. O espaço de que aqui disponho não me permite dar nota do imenso trabalho desenvolvido. Sempre direi, no entanto, que até ao momento em que escrevo e só no mandato atual (menos de 2 anos) a CDU realizou 48 visitas e re-cebeu no gabinete municipal 768 pessoas. O vereador da CDU apresentou na Câma-ra 78 propostas e fez 156 requerimentos dirigidos ao Presidente ou a vereadores sobre problemas concretos que exigiam a atenção dos serviços. Assim se cumprem as características muito justamente reconhecidas à CDU de “Trabalho, Honestidade e Competência”.Regressando ao título deste meu trabalho, direi que precisamos de mais tempo para avaliar, de facto, o que é que mudou no Porto. Para já mudou a simpatia. Mas é pouco. Muito pouco.Se eu fosse o Prof. Marcelo e fazendo apelo a um sentido de humor que habitualmente não tenho, daria um 2 a Rui Moreira. Mas deixava desde já um aviso: ou trabalha melhor no futuro, ou corre o risco de no pró-ximo período continuar a ter nota negativa.

Artur RibeiroColigação Democrátoca Unitária

P O N T O F I N A L ?

Porto ponto. O Porto é o Porto, ponto final. Assim estaria a cidade, de honra e coração cheio, hoje mais do que nunca em modo afir-mativo. Mas é assim que queremos o nosso orgulho pelo Porto? Ou ele impõe-nos também que conjuguemos a cidade noutros modos?O Porto que amamos tem vários Portos dentro. Tem o Porto da Foz Velha e tem o Porto do Lagarteiro. Tem duas Pasteleiras com uma fronteira social a dividi-las. Tem as Galerias de Paris e tem as ilhas escon-didas no Bonfim e em Campanhã. Tem restaurantes gourmet e tem também mais filas para a sopa dos pobres. Tem hostels novos a abrir cada semana e tem o recorde dos acidentes de trabalho.Gostar do Porto é falar disto tudo. Com espanto perante a injustiça e perante

o discurso satisfeito e com vontade de continuar a fazer interrogações.Hoje, no Porto, celebramos a vinda de tu-ristas, que facilmente se apaixonam pela nossa cidade. Mas planeamos pouco e por isso ficamos cada vez mais dependentes do humor das agências, do fluxo das low-cost, da moda da cidade very tipical, tipo Disney, sem pensarmos no day after.O Porto que sabe receber quem vem de fora continua a ser a mesma cidade que to-dos os anos perde milhares de habitantes, porque não se faz reabilitação nem habi-tação social no centro e porque continua a não haver uma oferta de arrendamento com preços controlados. E no entanto, não era isso que se esperaria de uma Câmara?Temos a feira do livro no Palácio, e que bom. Temos de novo o Rivoli, a produção cultural está mais visível, a oferta é mais variada: o Porto exibe-se com orgulho. Mas não estamos a fazer da cultura um biombo dourado que esconde o desprezo pelo sofrimento social?No Porto, continua a haver gente que é ex-pulsa das casas camarárias por suspeita sem prova nem julgamento. Duas mil pessoas não têm onde morar, à volta de 100 dormem na rua, outras 400 em casas abandonadas, o resto em pensões da segurança social. No Porto, só neste ano, já morreram 8 sem--abrigo – e o inverno ainda não chegou.Nas ruas, temos mais carros com formato de comboio a fazer “magic tours”. O ho-rário noturno de autocarros e do Metro ao fim de semana alargou-se (e bem) para acompanhar a movida. Mas extinguiram--se 12 linhas dos STCP, os passes aumen-taram, os utentes ficam horas nas para-gens porque há menos 200 motoristas e estamos em vias de perder para uma empresa privada de outro país a concessão dos transportes públicos da nossa cidade.O Porto tem gente com ideias e espaços no-vos a fervilhar. Surgem bares e restauran-tes e negócios híbridos onde dantes havia comércio tradicional. Mas não se promo-vem os ofícios nem se utiliza a derrama (cobrada sobre os lucros das empresas) para a dinamização de atividades locais.O negócio do Aleixo conta agora com a Mota-Engil e houve quem celebrasse. Teremos um condomínio de luxo, mas as pessoas de lá, essas, têm na mesma de ir embora, porque a vista do rio continua a ser considerada demasiado bela para que possam ser os mais pobres a usufruir dela. Este ano, 21 prédios municipais serão ven-didos, com um valor superior a 24 milhões de euros. A especulação agradece.É neste Porto que vivemos. Nós temos orgulho dele e ele tem orgulho de si. Mas não deixa de se olhar ao espelho para ver o avesso, o que não se vê o que ainda não é. Na verdade, nenhum ponto é final. E ainda bem.

José SoeiroBloco de Esquerda

O P I N I Ã O

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Chamam-lhe o homem das chaves. À porta do edifício dos Paços do Concelho, o senhor João já viu passar presidentes, bispos, ar-

tistas e atletas. Mas, em 32 anos de serviço, nem sempre foi o dono das chaves na Câmara do Porto.Primeiro, na limpeza de casas de banho públicas, depois ao serviço das pisci-nas, o senhor João fez o seu caminho, até ao edifício onde hoje serve o Muni-cípio com a descrição que o lugar exige.Foram muitos os presidentes a quem o senhor João abriu as portas, viu-os

Geração Erasmus

A praça Gomes Teixeira recebeu, pela primeira vez, a 10 de setembro os novos estudantes da Universidade do Porto, que este ano são mais de quatro mil. Além das boas-vindas dadas pelo Reitor e pelo presidente da Federação Académica do Porto, os novos alunos, boa parte oriundos de outras cidades, ouviram uma mensagem de esperança de Rui Moreira. O presidente da Câmara dirigiu-se-lhes como sendo a “geração Erasmus” e como sendo os “primeiros europeus”. Nas palavras aos estudantes advertiu não se poder espe-rar “que a cidade se repovoe com turistas ou com as antigas famílias que, atraídas por habitação mais acessível noutros con-celhos, deixaram a cidade há décadas”, acrescentando que “os novos habitantes do Porto, a nova dinâmica social e económica da cidade, têm que estar sedimentados numa nova geração de famílias, que tragam um espírito novo e adotem novos para-digmas e padrões de vida”, concluindo: “Não há cor e esperança como aquela que a geração Erasmus nos traz. Venha ela da Escandinávia ou de Bragança. Vocês aqui presentes e todos aqueles que entram no Porto e dele se usam para estudar, para empreender mas, sobretudo, para viver uma vida confortável e interessante, são o Porto do futuro. O Porto europeu, o Porto sem trincheiras, que chama portuense a quem quer ser e se sente portuense”. •

INATEL vai ser recuperado

O campo de Ramalde, que pertence ao INATEL, vai passar a ser gerido pela Câ-mara do Porto e vai ser recuperado, segun-do um acordo assinado entre a Autarquia e o Governo. O complexo, que possui um campo capaz de receber modalidades como o futebol e o rugby, e uma pista de atletismo, bastante degradados, vai rece-ber um investimento de meio milhão de euros que permitirá colocá-lo à disposição dos clubes da cidade e dos portuenses. As obras, que ficarão a cargo da Autarquia avançarão logo que o Tribunal de Contas vise o contrato e incluem a implantação de relvados sintéticos, a recuperação de instalações e balneários e a construção de uma pista de tartan para atletismo. •

A voz do operário João

Marca distinguidaA marca Porto., lançada há cerca de um ano e concebida, a pedido da Câmara do Porto, pela White Studio, uma empresa da cidade de que é diretor de arte Eduardo Aires, ainda não parou de ganhar prémios de importância mundial. O mais recente, o Graphis, foi atribuído, em agosto, em Nova Iorque. Antes, a marca tinha já sido distin-guida nos D&AD Awards, em Londres, e nos European Design Awards, em Istam-bul, onde, além de ter conquistado o ouro na categoria de implementação de marca, recebeu a mais alta distinção da cerimónia, como o melhor trabalho de design do ano em toda a Europa. Também a revista espa-nhola Brandemia a premiou como melhor identidade gráfica criada no último ano na Península Ibérica e América Latina. A mar-ca Porto., que revolucionou a comunicação visual da Autarquia e da cidade, tanto a nível nacional como internacional, permitiu também o relançamento da comunicação digital do Município e dos seus serviços. •

O Porto em vídeoAs ruas e as freguesias do Porto são mo-tivo para a produção de duas séries em vídeo que o Gabinete de Comunicação da Câmara do Porto está a realizar. Os filmes retratam o estilo de vida dos portuenses, procurando encontrar as histórias pas-sadas e atuais de cada lugar, sobretudo, dos lugares menos óbvios. O programa “Ruas do Porto” já descobriu a Travessa de Cedofeita, a Rua de Miraflor e o Largo Baltazar Guedes, entre outros, entrando em estabelecimentos comerciais e falan-do com os mais típicos moradores. Além destas duas séries, são ainda produzidos dois noticiários semanais, um dedicado à atualidade (“Notícias do Porto”) e outro à atividade cultural e de animação da cidade (“Cidade Líquida”). Os vídeos estão dispo-níveis no Youtube e Facebook, bem como no Portal de Notícias, em www.porto.pt. Desde que começaram a ser lançados há cerca de ano e meio, já foram vistos cerca de um milhão de vezes. •

Turismo continua a crescer

No primeiro semestre do ano, o destino turístico Porto e Norte registou um cres-cimento de 17% no número de dormidas de estrangeiros na Região, relativamente a 2014. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, a região alcançou entre janei-ro e junho deste ano, um total de 1.365.900 de dormidas de estrangeiros, ou seja, mais 200 mil. “Estes números vêm sustentar a estratégia que a ATP está a seguir e que se tem materializado em resultados muito positivos para o destino”, considera Rui Mo-reira, presidente da direção da Associação de Turismo do Porto (ATP). No primeiro semestre deste ano, a ATP trouxe ao Porto e Norte 139 agentes do setor e 110 jornalistas internacionais provenientes de mercados diversos, aos quais foi dada a oportunidade de conhecer a diversidade e a autenticidade da oferta turística da região e aquilo que a diferencia de outros destinos. A ATP des-taca também a nova base operacional da EasyJet para a captação de novas rotas aéreas, como Porto-Istambul, operada pela Turkish Airlines, Porto-Dusseldorf, ope-rada pela Germanwings, e Porto e Praga, operada pela Czech Airlines.Os espanhóis são os turistas estrangeiros que mais visitam o Porto (23,2%), logo se-guidos pelo mercado francês (15,4%) e pelo brasileiro (10%). Segundo um estudo do Ins-tituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, os turistas que visitam o Porto também estão a gastar mais e a ficar mais tempo na região. Em média, pernoitam seis noites e gastam 762 euros, 389 euros na estadia. • Portal de Notícias

Mais de dois milhões de utilizadores já visitaram o portal de notícias lançado em finais de 2014. Com morada virtual em www.porto.pt, este autêntico jornal online difunde reportagem vídeo, além de texto e fotografia, sobre o que se passa na cida-de. Qualquer instituição ou cidadão pode contribuir com conteúdos. •

Inscrições abertas para as Piscinas

Estão abertas as inscrições para a nova época da rede municipal de piscinas. Exis-tem várias promoções, tanto para quem já é utilizador, como para quem pretende iniciar atividade. Até 30 de setembro, pode usufruir de um desconto de 50% na reno-vação da inscrição e nas mensalidades. •

N O T Í C I A S D O P O R T O

entrar e viu-os sair. De alguns já nem recorda o nome, mas há um que não esquece, por ter sido ele a abrir-lhe a porta. Não a de entrada ou do gabinete presidencial no 3º andar, mas a porta dos quadros: “Foi o Dr. Paulo Vallada que me admitiu”, recorda.O senhor João é um dos operários de uma imensa estrutura que todos os dias trata de serviços quase invisíveis ao cidadão. Mas todos necessários. Operários que têm uma vida, como o senhor João, que em casa se dedica à família, à fotografia e à carpintaria. •