jan van eyck (1385-1447)

40
Jan Van Eyck (c. 1380/90-1441) Vitor Serrão (IHA-ARTIS-FLUL)

Upload: trandien

Post on 08-Jan-2017

291 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jan Van Eyck (c. 1380/90-1441)

Vitor Serrão (IHA-ARTIS-FLUL)

Page 2: Jan Van Eyck (1385-1447)
Page 3: Jan Van Eyck (1385-1447)

AGRADECIMENTOS Maria João Neto Pedro Flor Fernando Baptista Pereira Luís Urbano Afonso Pedro Lapa e Museu Berardo

Page 4: Jan Van Eyck (1385-1447)

Lionello Venturi

(Modena, 1885 – Roma, 1961)

Nos setenta anos da edição de PARA COMPREENDER A PINTURA...

Page 5: Jan Van Eyck (1385-1447)

O sucesso de Para compreender a Pintura. De Giotto a Chagall (1945) , e o compromisso social do seu autor, é o triunfo da própria

autonomização da História da Arte nas suas vertentes de alta divulgação, e a valorização de um método: o relativismo histórico, na tradição

de Riegl e de Wolfflin, aliado a um renovado formalismo, a crítica objectiva de julgar as

formas e o poder imaginativo dos criadores.

Page 6: Jan Van Eyck (1385-1447)

«obra máxima da própria essência da arte da Pintura independentente do lugar ou tempo, pela sua profunda humanidade ...» Erwin Panofsky, 1953

Page 7: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jehan van Eyck, ou jɑn vɑn ɛik, nasceu em Maaseik pouco antes de 1390 (quase de certeza em 1488) e faleceu na cidade flamenga de Bruges a 9 de Julho de 1441. Ele é, reconhecidamente, a mais fortes e mediatizada personalidade da Pintura do Renascimento do Norte durante. É autor de obras celebérrimas como o Políptico de Gand (em colaboração com seu irmão Hubert van Eyck), a Virgem com Van der Paele, as iluminuras do Livro de Horas Turim-Milão. Devem-se-lhe seguramente de vinte e cinco pinturas executadas de 1432 a 1439, dez delas assinadas com a fórmula em caracteres gregos ALS IK KAN (Assim pelo melhor modo que eu (Eyck) posso).

Page 8: Jan Van Eyck (1385-1447)

A oficina de Jan van Eyck segundo Jan van der Straet (1525-1605), dito Stradanus.

O

Page 9: Jan Van Eyck (1385-1447)

Percurso artístico de Jan van Eyck

O artista – o mais célebre dos Primitivos Flamengos e nome maior da pintura proto-renascentista nórdica -- nasce c. 1488 em Masseik (Holanda), recebe influência da escultura tardogótica (Broedeldam, Sluter, foi provável discípulo do Mestre de Flémalle (Robert Campin e deve a sua inovação ao citado ‘atrevimento’ no modus operandi. Usa o óleo como diluente com secagem rápida e os preparados de branco para conferir à película cromática um brilho intenso. Serviu João da Baviera, conde de Holanda, em Liège, de 1422 a 1424. Mas em 1425 é já pintor de câmara do Duque Filipe o Bom, instala-se em Lille por cinco anos, viaja a Espanha e Portugal em missões do duque, e só em 1430 se fixa definitivamente em Bruges.

É ainda obscuro o que Jan deve a seu irmão Hubert van Eyck, com quem teria trabalhado como miniaturista-iluminador e no retábulo de Gand, começado c. 1420 por Hubert. Outro irmão, Lambert, foi também pintor. Hubert, que a lenda pinta como pintor celebrado no seu tempo, é ainda uma incógnita e tem escassa obra segura.

Page 10: Jan Van Eyck (1385-1447)

As Três Marias no Túmulo, obra iniciada por Hubert Van Eyck cª 1410-20 (Rottrerdam, van Beuningen).

Obra completada na oficina de Jan Van Eyck cª 1440

Page 11: Jan Van Eyck (1385-1447)

Filipe o Bom, Duque de Borgonha, conditor Belgii, governador dos Países Baixos de 1417 a 1467, tornou o território da Bélgica durante meio século um pólo fundamental da estabilidade europeia. À frente de uma Flandres que governa com o seu chanceler Nicolas Rolin a partir de Bruges ou de Bruxelas e que inclui os conselhos de Namur, Hainaut, Brabante, Limbourg, Somme, Luxemburg, e os principados episcopais de Liège e Cambrai, o tempo de Filipe o Bom é uma espécie de chefe da cristandade, afirma as virtudes cavaleirescas, cria uma corte luxuosa onde se protegem as artes e letras e que atrai a Bruges (então com 150.000 habitantes) mercadores, banqueiros e artistas. O ambiente estável propicia o desenvolvimento das artes.

Retrato de Filipe o Bom, com o Colar da Ordem do Tosão de Ouro, Por Roger de la Pasture (réplica de um original perdido)

Page 12: Jan Van Eyck (1385-1447)

Filipe o Bom (iluminura das Chroniques de Hainaut) rodeado da sua corte brugense, com o chanceler Rolin à esquerda. Em 1430, casou

com Isabel de Portugal, filha de D. João I, que será mãe de seu sucessor, o príncipe Carlos, o Temerário.

Page 13: Jan Van Eyck (1385-1447)

O Ofício dos Mortos, fólio do chamado Livro de Horas de Turim. Desta obra truncada,

iniciada pelo duque de Berry, a autoria da chamada «mão

G», de cerca de 1417-20, que integra iluminuras delicadas de realismo, frescura de cor

e arrojadas paisagens na zona inferior, foi identificada (pelos historiadores de arte

como Hulin de Loo, Max Friedlaender, Lorn Campbell,

Maryan Ainsworth) como sendo uma obra precoce de

Jan Van Eyck.

Page 14: Jan Van Eyck (1385-1447)

O Nascimento de São João do Livro de Horas Turim-Milão atesta a mão de Jan van Eyck, c. 1420, no delicado modo de banhar de luz as atmosferas e

formas, no arrojo de interpretar o espaço, na visão paradisíaca da terra, e já quase anuncia o estilo do Retábulo de Gand.

Page 15: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jan Van Eyck e oficina, Díptico do Calvário e

do Juízo Final, cª 1425-1430.

Metropolitan Museum,

New York (565x195 mm)

Page 16: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jan Van Eyck, Retrato de Homem com turbante azul e

anel, cª 1428-30, Museu Nacional de Brukenthal,

Sibiu, Roménia

Page 17: Jan Van Eyck (1385-1447)

O que torna a arte de Jan Van Eyck ruptural com a tradição gótica flamenga é, antes de mais, o prodígio técnico com que tira partido de cores finamente ligadas pelo óleo (com ovo e vernizes secativos) numa película transparente e brilhante de finas camadas cristalinas de glacis sobre uma preparação branco-marfim de cola animal e cré que se impregna desse ligante à base de óleo e que integra o brilho lumínico, a profundidade dos relevos, o jogo de sombras, as dinâmicas do espaço, que releva o desenho e o afirma. Trata-se da descoberta genial de um novo meio de expressão poética que mostra o orgulho e plenitude de uma época estável, tão diferente das conquistas da perspectiva dos antigos que o Proto-Renascimento entretanto desenvolvia em terras italianas.

Page 18: Jan Van Eyck (1385-1447)

Percurso artístico maduro de Jan van Eyck

Já a obra madura de Jan van Eyck, após 1430, como pintor da corte de Filipe o Belo e membro da guilda de Tournai, está documentada com exactidão, até à morte em Bruges em 1441.

Em 1427, foi alvo mesmo de uma homenagem em Tournai por parte de colegas e admiradores.

Conhecem-se vinte e cinco pinturas absolutamente identificadas, dez delas assinadas com o célebre moto ALS IK KAN, que surge pela primeira vez em 1433.

Com a morte, a viúva Margareta e os filhos de Jan Van Eyck vão continuar a ser alvo da protecção do Duque, que pagava um salário excepcional ao artista.

O mito cria-se: os humanistas Ciriaco de’Pizzicolli (1449) e Bartolomeu Facio (1456) elogiam a sua obra, e o tratadista Giorgio Vasari (1550), destaca-o como inventor da pintura a óleo e um dos ‘primi lumi’ do Renascimento.

Page 19: Jan Van Eyck (1385-1447)

Castelo e convento de Avis, hoje em ruínas, onde Jan Van Eyck e a missão de Borgonha passam

nove meses de Outubro de 1428 e o Verão de 1429, por causa da peste que grassava em Portugal.

O célebre pintor tomou aí a vera efígie da futura duquesa de

Borgonha D. Isabel, filha do rei D. João I.

O casamento de

Isabel com Filipe o Bom decorreu em Bruges no

dia de Natal de 1429.

Page 20: Jan Van Eyck (1385-1447)

Cópia de um perdido Retrato de Isabel de

Portugal pintado durante a viagem a

Portugal de Jan van Eyck (com estada de nove meses em 1428-1429

em Avis e Lisboa) para contratar o casamento da Infanta, filha de D.

João I, com Filipe o Bom de Borgonha

Page 21: Jan Van Eyck (1385-1447)

Em 2013, Barbara von Barghahn publicou o livro Jan van Eyck and

Portugal 's "Illustrious Generation“, onde investiga a missão do artista a Portugal para pintar dois retratos da princesa, bem como as relações entre a casa de Borgonha e a dinastia de Avis. Defende aí que o pintor teve uma «segunda missão diplomática» em 1437,

ligada à expedição a Tânger do Infante D. Henrique e à aliança pretendida por D. Duarte com Afonso V de Aragão. Resta ainda

descobrir o impacto de Jan Van Eyck na arte portuguesa, antes da eclosão do fenómeno Nuno Gonçalves após 1450...

Page 22: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jan Van Eyck, Estigmatização de S. Francisco de Assis, cª 1430, Galeria Sabauda, Turim (existe versão menor no Museu de

Filadélfia, adquirida em Lisboa cerca de 1830)

Page 23: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jan Van Eyck, Estigmatização de São Francisco de Assis, cª 1429-1430. Filadélfia, John G. Johnson Collection.

Page 24: Jan Van Eyck (1385-1447)
Page 25: Jan Van Eyck (1385-1447)

Acrescenta-se um dado pouco conhecido dos estudiosos de Van Eyck: no inventário feito em 1517 dos bens de Margarida de Áustria, governadora dos Países Baixos, vem citado o retrato de uma dama portuguesa: «ung moyen tableau de la face d’une Portugaloise que Mme a eu de don Diego fait de la main de Johannes et est fait sans huelle, sans couverture ni feuillet…». O mesmo quadro reaparece no inventário da casa em 1523, feito em Malines: «jeune dame accoustrée à la mode de Portugal, son habit rouge fouré de martre tenant en la main droite un rolet avec un petit Saint Nicolas en hault»…, e acrescenta-se que se chamava ao quadro «la belle Portugaloise». Era, muito provavelmente, um dos retratos que Jehan van Eyck pintou em Avis, em 1428, de Isabel de Portugal, para ser enviado a Filipe o Bom.

Page 26: Jan Van Eyck (1385-1447)

Mestre de Flémalle, Virgem com o Menino, NG

Jan van Eyck, Virgem do Cónego van der Paele, 1436, GM

Unificação de pormenores

Page 27: Jan Van Eyck (1385-1447)

Retrato do cardeal Niccolò Albergati de Jan Van Eyck, 1431, desenho com anotações escritas no dialecto de

Maaseik, região de Liège de onde era originário o artista) e pintura a óleo no Kunsthistorisches Museum de Viena.

Page 28: Jan Van Eyck (1385-1447)
Page 29: Jan Van Eyck (1385-1447)

Jan Van Eyck, Leal Souvenir, assinado e datado de 10 de Outubro de 1432, National

Gallery, Londres

O génio eyckiano atesta as altas virtudes flamengas, com a

ambiguidade da sua divisa, com que assina: ALS IK KAN, «assim e pelo

meu melhor modo». O retrato mostra assume o realismo, com

descrição minuciosa dos gestos e adereços, mesmo na bela ilusão marmórea do parapeito onde se

inscreve o título.

Page 30: Jan Van Eyck (1385-1447)

St Bavon, Gand

O políptico do Cordeiro Místico, iniciado cerca de 1426 por Hubert e já acabado em 1432, é o primeiro caso de retábulo na Flandres com 5 metros de altura e vinte painéis em anverso e reverso. Encomenda do rico mercador Josse Vijdt e sua mulher Isabelle Boorlut, mostra numa paisagem florescente a Adoração do Cordeiro Pascal por anjos, santos mártires, juízes íntegros, eremitas e peregrinos, sob a luz da aurora, verdadeira epopeia da fé …

Page 31: Jan Van Eyck (1385-1447)

O Retábulo do Cordeiro Místico (completado em 1432) dos irmãos Hubert e Jan Van Eyck, Catedral de Saint Bavon, Gand

Page 32: Jan Van Eyck (1385-1447)

«…vi o retábulo de São João (de Gand) Pintura estupenda e cheia de inteligência» (Albrech Durer, 1521)

São, ao todo, vinte painéis. Aberto, vemos Adão e Eva, anjos músicos, o Padre Eterno, a Virgem e o Precursor, e a Adoração do Cordeiro Místico. Fechado, vemos os profetas Zacarias e Miqueias, as sibilas Eritreia e Cumana, a Anunciação, os doadores, São João Baptista e São João Evangelista.

Page 33: Jan Van Eyck (1385-1447)

A obra foi definida como conquista definitiva da pintura de realidade no Norte…

Page 34: Jan Van Eyck (1385-1447)

Retábulo da Catedral de

Saint-Bavón, Gent

Jan van Eyck (Hubert?)

Pormenor

O painel OS JUÍZES ÍNTEGROS (IVST IVDICES) foi alvo de roubo na noite de 10 de Abril de 1934, e teve de ser substituído por um hiper-restauro (cópia) da autoria de Joseph-Marie van der Veken (1872-1864). Uma ode sobre o políptico de Gand do poeta Lucas de Heere (1559), ao elogiar o conjunto, refere que neste painel estavam os retratos de Hubert, o primeiro juíz, e de Jan van Eyck, na terceira fila.

Page 35: Jan Van Eyck (1385-1447)
Page 36: Jan Van Eyck (1385-1447)
Page 37: Jan Van Eyck (1385-1447)

A narrativa retabular (séculos XIII-XVI)

Os mais antigos quadros «verticais» colocados sobre e atrás da mesa de altar, surgidos na Itália, substituindo os formatos «horizontais» directamente derivados dos frontais de altar, mais comuns na Espanha e na Europa do Norte, apresentam, ao centro, «imagens de devoção» (de S. Francisco de Assis, p. ex., rodeadas de pequenas cenas narrativas dos seus milagres e dos passos mais significativos da sua Vita).

Page 38: Jan Van Eyck (1385-1447)

O trecento e as décadas iniciais do Quattrocento, em Itália e também em Espanha e Alemanha, vai desenvolver o gosto pelos polípticos, verdadeiras estruturas arquitectónicas ao gosto gótico, com registos sobrepostos, enquadrando tábuas de diferentes formatos. O registo principal é constituído geralmente por três, cinco ou sete painéis, sendo o central o de maiores dimensões. Em altura, apresenta dois ou três registos, terminando no topo em formastriangular à maneira de gablete e contemplando na base uma predela.

Sassetta, Retábulo de Borgo San Sepolcro, 1444

Page 39: Jan Van Eyck (1385-1447)

• Nas catedrais e nalgumas igrejas monásticas surgiram polípticos pintados nas duas faces, uma virada para a nave e para os fiéis e outra virada para o coro e para o clero, disposto atrás do altar

• O surgimento da «pala» de altar no palco florentino na década de 1430, com o célebre retábulo da Anunciação de Fra Angélico, impõe a unificação retabular: a própria estrutura arquitectural, de cariz renascimental, funciona apenas como moldura, através da qual se admira a cena representada (e unificada). Caso próximo pode ser visto, na mesma data e a Norte dos Alpes, no célebre Políptico do Cordeiro Místico de Hubert e Jan Van Eyck, terminado em 1432, em que dois dos registos formam duas cenas unificadas, distribuídas por cinco e por quatro painéis de suporte.

• Fontes: AA. VV. Poliptiques, Paris, Louvre, 1990; Fernando António Baptista Pereira, Imagens e Histórias de Devoção. Espaço Tempo e Narrativa na Pintura Portuguesa do Renascimento (1450-1550), Lisboa, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2001

Page 40: Jan Van Eyck (1385-1447)