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Os mais sexy 50 Edição Especial de Aniversário ENSAIO ALÊ DE SOUZA 84 PÁGINAS DE FOTOS RODRIGO LOMBARDI R$ 9,90 9 7 7 1 5 1 6 8 2 0 0 0 0 8 2 6 0 0 ISSN 1516 -8204 26/SET/2011 ANO 13 N° 628

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ISTOE Gente 628

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Osmaissexy50

Edição Especial de Aniversário

50Edição Especial de Aniversário

ENSAIO ALÊ DE SOUZA

mais50mais50mais 84 PÁGINAS DE FOTOS

RODRIGO LOMBARDI

R$ 9,90

ESP

EC

IAL

DE

AN

IVE

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RIO

Os

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ais

sexy

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71

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SN

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26/SET/2011ANO 13N° 628

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Osmaissexy50

Edição Especial de Aniversário

50Edição Especial de Aniversário

ENSAIO ALÊ DE SOUZA

mais50mais50mais 84 PÁGINAS DE FOTOS

RODRIGO LOMBARDI

R$ 9,90

ESP

EC

IAL

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R$ 9,90

Osmaissexy50Edição Especial de Aniversário

OsEdição Especial de Aniversário

ENSAIO ALÊ DE SOUZA

mais50mais50mais 84 PÁGINAS DE FOTOS

ALINNE MORAES

ESP

EC

IAL

DE

AN

IVE

RSÁ

RIO

Os

50 m

ais

sexy

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eleita a mulher mais sexy do aNo, doNa de CurVas PerFeitas – e uma BoCa de Causar iNVeJa e arrePios –, a atriZ aBre o JoGo, Fala de amor e de Como o sexo é tão Vital quaNto BeBer áGua

linneAMoraesSamia Mazzucco

FOTOS Alê de Souza

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eleita a mulher mais sexy do aNo, doNa de CurVas PerFeitas – e uma BoCa de Causar iNVeJa e arrePios –, a atriZ aBre o JoGo, Fala de amor e de Como o sexo é tão Vital quaNto BeBer áGua

linneAMoraesSamia Mazzucco

FOTOS Alê de Souza

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linne Moraes fecha os olhos, respira fundo, concentra-se e, ao comando do fotógrafo, encara tão profunda-mente a lente da câmera que parece querer entrar nela. A densidade no

ar é quase palpável. É um olhar matador e, na definição da própria, melancólico, felino até. Transborda por inteiro uma sensualidade que ela parece buscar no fundo da alma. Entre uma foto e outra deste ensaio especial para Gente, porém, ela mantém um semblante atento, curioso, quase infantil sobre o que está acontecendo ao seu redor. É com essa faceta tímida que Alinne reage dando risadinhas abafadas ao ouvir os griti-nhos de “linda!” vindos da equipe. Mas basta cerrar os olhos novamente para se recompor e voltar a ser a deusa montada em looks que exalam sex appeal, reinando absoluta enquanto posa no terraço de uma casa em estilo grego no bairro do Joá, no Rio. “E Deus criou Alinne Moraes”, resume o fotógrafo e beauty artist Alê de Souza, ao que a atriz se desconcerta rindo e acaba saindo da pose em que estava paralisada.

Coroada como a mulher Mais Sexy de 2011, Alinne reconhe-ce que se enquadra no título, mas naturalmente, sem procurar ser. “É uma atitude, o desconstruído, o cabelo solto, o pé descal-ço. Está ligado a uma coisa animal, primitiva, ao comportamento. Para enxergar alguém sexy, preciso ver o Deus e o demônio de uma pessoa”, afirma ela, que cita como exemplos a modelo Kate Moss e a atriz Angelina Jolie. Já beleza não entra necessariamen-te nesse quesito. “São coisas diferentes. Audrey Hepburn é linda e Jolie é sexy”, define, durante uma das poucas folgas nas gravações da novela das 23 horas. Em O Astro, na pele de uma suburbana sensual, a atriz voltou a mexer com o imaginário masculino.

Mas a Alinne diva sabe, que além de sexy, é bela. Com um rosto perfeito e de traços fortes, que ainda lhe garante campa-nhas de marcas de cosméticos, herança dos tempos de traba-lho como modelo na adolescência, ela diz lidar com naturali-dade com a beleza, à qual chama de “dádiva”. “Sempre agrade-ci muito e entendi que é algo que abre muitas portas. Nunca foi um problema”, conta. E nunca é nunca, ela garante. Nem mesmo quando recebia apelidos nada carinhosos na escola por conta dos lábios carnudos, que, se na infância eram des-proporcionais, hoje é sua marca registrada. “Já gostei muito da minha boca. Hoje posso falar que gosto dos meus ombros e das minhas costas”, entrega.

Mas nem as deusas estão alheias às mudanças de tempera-mento. Alinne sente-se igual a todos os mortais e, assim sendo, há dias em que não gosta do reflexo no espelho. “Tem dia que a gente acorda se sentindo um pouquinho menos e, por estar há 28 anos acostumada com meu rosto, sei exatamente quando estou com olheira. Acho que até precisamos desse dia para a gente

A

Na abertura do ensaio, body La Perla e co-lar Sara Joias. Nesta página, sutiã La Perla, caleçon Daslu e colar Sara joias

“Já escrevi sobre coisas absurdas, sobre mar, vida, batom, barata”Sobre suas poesias. Um dos textos será musicado por Maria Gadú e Daniel Chaudon

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linne Moraes fecha os olhos, respira fundo, concentra-se e, ao comando do fotógrafo, encara tão profunda-mente a lente da câmera que parece querer entrar nela. A densidade no

ar é quase palpável. É um olhar matador e, na definição da própria, melancólico, felino até. Transborda por inteiro uma sensualidade que ela parece buscar no fundo da alma. Entre uma foto e outra deste ensaio especial para Gente, porém, ela mantém um semblante atento, curioso, quase infantil sobre o que está acontecendo ao seu redor. É com essa faceta tímida que Alinne reage dando risadinhas abafadas ao ouvir os griti-nhos de “linda!” vindos da equipe. Mas basta cerrar os olhos novamente para se recompor e voltar a ser a deusa montada em looks que exalam sex appeal, reinando absoluta enquanto posa no terraço de uma casa em estilo grego no bairro do Joá, no Rio. “E Deus criou Alinne Moraes”, resume o fotógrafo e beauty artist Alê de Souza, ao que a atriz se desconcerta rindo e acaba saindo da pose em que estava paralisada.

Coroada como a mulher Mais Sexy de 2011, Alinne reconhe-ce que se enquadra no título, mas naturalmente, sem procurar ser. “É uma atitude, o desconstruído, o cabelo solto, o pé descal-ço. Está ligado a uma coisa animal, primitiva, ao comportamento. Para enxergar alguém sexy, preciso ver o Deus e o demônio de uma pessoa”, afirma ela, que cita como exemplos a modelo Kate Moss e a atriz Angelina Jolie. Já beleza não entra necessariamen-te nesse quesito. “São coisas diferentes. Audrey Hepburn é linda e Jolie é sexy”, define, durante uma das poucas folgas nas gravações da novela das 23 horas. Em O Astro, na pele de uma suburbana sensual, a atriz voltou a mexer com o imaginário masculino.

Mas a Alinne diva sabe, que além de sexy, é bela. Com um rosto perfeito e de traços fortes, que ainda lhe garante campa-nhas de marcas de cosméticos, herança dos tempos de traba-lho como modelo na adolescência, ela diz lidar com naturali-dade com a beleza, à qual chama de “dádiva”. “Sempre agrade-ci muito e entendi que é algo que abre muitas portas. Nunca foi um problema”, conta. E nunca é nunca, ela garante. Nem mesmo quando recebia apelidos nada carinhosos na escola por conta dos lábios carnudos, que, se na infância eram des-proporcionais, hoje é sua marca registrada. “Já gostei muito da minha boca. Hoje posso falar que gosto dos meus ombros e das minhas costas”, entrega.

Mas nem as deusas estão alheias às mudanças de tempera-mento. Alinne sente-se igual a todos os mortais e, assim sendo, há dias em que não gosta do reflexo no espelho. “Tem dia que a gente acorda se sentindo um pouquinho menos e, por estar há 28 anos acostumada com meu rosto, sei exatamente quando estou com olheira. Acho que até precisamos desse dia para a gente

A

Na abertura do ensaio, body La Perla e co-lar Sara Joias. Nesta página, sutiã La Perla, caleçon Daslu e colar Sara joias

“Já escrevi sobre coisas absurdas, sobre mar, vida, batom, barata”Sobre suas poesias. Um dos textos será musicado por Maria Gadú e Daniel Chaudon

Page 8: ISTOE Gente 628

Sutiã La Perla, blusa Emilio Pucci, hot pants Daslu e colar Sara Joias

Corset La Perla, saia-lápis Rodrigo Grunfeld, colar e

anel Sara Joias

“para enxergar alguém sexy, preciso ver o deus e o demônio dessa pessoa”

“(sobre sexo) é como beber água, comer. é natural... é um ato e, com amor, é muito melhor”

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Sutiã La Perla, blusa Emilio Pucci, hot pants Daslu e colar Sara Joias

Corset La Perla, saia-lápis Rodrigo Grunfeld, colar e

anel Sara Joias

“para enxergar alguém sexy, preciso ver o deus e o demônio dessa pessoa”

“(sobre sexo) é como beber água, comer. é natural... é um ato e, com amor, é muito melhor”

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valorizar o que temos a mais”, avalia. Fora as eventuais olheiras, ela diz ter insatisfações com o corpo, mas prefere não listar. Só deixa escapar uma: os doloridos joanetes, herança do balé que pratica três vezes por semana.

Além da dança, diz não fazer nada espeta-cular nos cuidados com o corpo porque tem “preguiça de fazer coisas de mulherzinha”, como ir ao salão de beleza. “Estou sempre com a cara lavada, mas adoro estar produzida. Se tivesse alguém para me maquiar todo dia, fazer o cabe-lo, seria maravilhoso”, brinca. Ainda assim, ela vence a preguiça e investe em pequenos cuida-dos, como a hidratação dos cabelos a cada 15 dias, que faz até em casa. O rosto, um de seus principais instrumentos de trabalho, também merece atenção especial. Diariamente usa filtro solar e, antes de ir para cama vestindo camiseta ou moletom – como gosta de dormir –, ela limpa, tonifica e hidrata a pele. Quanto aos pri-meiros sinais do tempo, imperceptíveis, é bom frisar, ela garante não se sentir incomodada. “Nunca, jamais mexeria no meu rosto. Seria uma burrice tremenda da minha parte. Não há dinheiro que compre suas rugas.”

IntimidadeÉ em casa, longe dos holofotes, que a

Alinne mulherão mais perde espaço para a Alinne menina. “Tenho um lado muito madu-ro dentro de mim, mas eu tenho uma faceta muito infantil e eu opto: é uma escolha diária, enxergar a vida com esses olhos de criança”, diz. E o ar de infância se reflete também no modo como ela vive. Sua casa em um condo-mínio no Itanhangá, no Rio, tem muito do ambiente do interior em que cresceu, em Sorocaba (SP). Além de cachorros e gatos, mora cercada por árvores frutíferas, como lichia, limão e acerola. Zelosa com o lar, não abre mão de fazer o próprio supermercado. “Não consigo deixar para outra pessoa fazer. Vou meia-noite, com meus óculos de grau, posso ler bonitinha as coisas. Adoro, compro tudo o que quero e não tem paparazzi.”

E é longe dos fotógrafos que ela procura manter também o namoro de seis meses com o empresário Felipe Simão, ex de Luana Piovani, sobre o qual prefere ser discreta. Quem sedu-ziu quem? “Do Felipe, não quero falar, mas geralmente eu me aproximo. Sou uma mulher que tem atitude. Acho que isso assusta um pouco os homens”, diz. A atriz entrega que casamento e filhos não estão em seus planos, por enquanto. “Aos 30 anos eu vou mudar algu-mas coisas, procurar um nutricionista, colocar mais alguma atividade física no cardápio. Mas casar e ter filhos, não. É muito cedo”, considera, apesar de sonhar em constituir uma família grande. Bem diferente da sua. Alinne é filha

única e cresceu com a avó e a mãe, com quem sempre manteve um diálogo muito aberto, inclusive sobre sexo. Quando perdeu a virgin-dade aos 17 anos com um namorado, não titubeou em contar a novidade para Ana Cecília Dorelli, sua mãe. “Foi tranquilíssimo”, diz. A importância do sexo em sua vida, aliás, é tamanha que ela o compara a práticas vitais. “É como beber água, comer. É uma coisa natural do ser humano, não existe isso de quantas vezes, não sou assim. Cada dia eu sou de um jeito. É um ato e com amor é muito melhor.”

Apesar de transbordar sex appeal, a atriz garante que isso nunca facilitou a aproximação masculina e, por isso, nunca teve problemas em se aproximar quando tem interesse. “Eu acho cantada algo bem constrangedor, por isso que de repente eu consigo me aproximar mais. Aliás, eu nunca caí numa cantada, por incrível que pareça. Tem esse meu jeito mais criança e provavelmente achei que fosse uma brincadeira e não percebi”, conta. Se até na paquera a atriz não deixa o jeito moleca de lado, com suas poe-sias não ia ser diferente. Sim, Alinne escreve há tempos, mas não costumava mostrar a ninguém pois tinha vergonha. Achava-as “muito infantis”. Um de seus textos, inclusive, será musicado por Maria Gadú e Daniel Chaudon. “Luzia” é inspi-rado em uma senhora, que conheceu através do

Sutiã La Perla, cardigã e saia Emporio Armani,

colar e anel Sara Joias

“nunca, Jamais mexeria no meu rosto. seria uma burrice tremenda. não há dinheiro que compre suas rugas”

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valorizar o que temos a mais”, avalia. Fora as eventuais olheiras, ela diz ter insatisfações com o corpo, mas prefere não listar. Só deixa escapar uma: os doloridos joanetes, herança do balé que pratica três vezes por semana.

Além da dança, diz não fazer nada espeta-cular nos cuidados com o corpo porque tem “preguiça de fazer coisas de mulherzinha”, como ir ao salão de beleza. “Estou sempre com a cara lavada, mas adoro estar produzida. Se tivesse alguém para me maquiar todo dia, fazer o cabe-lo, seria maravilhoso”, brinca. Ainda assim, ela vence a preguiça e investe em pequenos cuida-dos, como a hidratação dos cabelos a cada 15 dias, que faz até em casa. O rosto, um de seus principais instrumentos de trabalho, também merece atenção especial. Diariamente usa filtro solar e, antes de ir para cama vestindo camiseta ou moletom – como gosta de dormir –, ela limpa, tonifica e hidrata a pele. Quanto aos pri-meiros sinais do tempo, imperceptíveis, é bom frisar, ela garante não se sentir incomodada. “Nunca, jamais mexeria no meu rosto. Seria uma burrice tremenda da minha parte. Não há dinheiro que compre suas rugas.”

IntimidadeÉ em casa, longe dos holofotes, que a

Alinne mulherão mais perde espaço para a Alinne menina. “Tenho um lado muito madu-ro dentro de mim, mas eu tenho uma faceta muito infantil e eu opto: é uma escolha diária, enxergar a vida com esses olhos de criança”, diz. E o ar de infância se reflete também no modo como ela vive. Sua casa em um condo-mínio no Itanhangá, no Rio, tem muito do ambiente do interior em que cresceu, em Sorocaba (SP). Além de cachorros e gatos, mora cercada por árvores frutíferas, como lichia, limão e acerola. Zelosa com o lar, não abre mão de fazer o próprio supermercado. “Não consigo deixar para outra pessoa fazer. Vou meia-noite, com meus óculos de grau, posso ler bonitinha as coisas. Adoro, compro tudo o que quero e não tem paparazzi.”

E é longe dos fotógrafos que ela procura manter também o namoro de seis meses com o empresário Felipe Simão, ex de Luana Piovani, sobre o qual prefere ser discreta. Quem sedu-ziu quem? “Do Felipe, não quero falar, mas geralmente eu me aproximo. Sou uma mulher que tem atitude. Acho que isso assusta um pouco os homens”, diz. A atriz entrega que casamento e filhos não estão em seus planos, por enquanto. “Aos 30 anos eu vou mudar algu-mas coisas, procurar um nutricionista, colocar mais alguma atividade física no cardápio. Mas casar e ter filhos, não. É muito cedo”, considera, apesar de sonhar em constituir uma família grande. Bem diferente da sua. Alinne é filha

única e cresceu com a avó e a mãe, com quem sempre manteve um diálogo muito aberto, inclusive sobre sexo. Quando perdeu a virgin-dade aos 17 anos com um namorado, não titubeou em contar a novidade para Ana Cecília Dorelli, sua mãe. “Foi tranquilíssimo”, diz. A importância do sexo em sua vida, aliás, é tamanha que ela o compara a práticas vitais. “É como beber água, comer. É uma coisa natural do ser humano, não existe isso de quantas vezes, não sou assim. Cada dia eu sou de um jeito. É um ato e com amor é muito melhor.”

Apesar de transbordar sex appeal, a atriz garante que isso nunca facilitou a aproximação masculina e, por isso, nunca teve problemas em se aproximar quando tem interesse. “Eu acho cantada algo bem constrangedor, por isso que de repente eu consigo me aproximar mais. Aliás, eu nunca caí numa cantada, por incrível que pareça. Tem esse meu jeito mais criança e provavelmente achei que fosse uma brincadeira e não percebi”, conta. Se até na paquera a atriz não deixa o jeito moleca de lado, com suas poe-sias não ia ser diferente. Sim, Alinne escreve há tempos, mas não costumava mostrar a ninguém pois tinha vergonha. Achava-as “muito infantis”. Um de seus textos, inclusive, será musicado por Maria Gadú e Daniel Chaudon. “Luzia” é inspi-rado em uma senhora, que conheceu através do

Sutiã La Perla, cardigã e saia Emporio Armani,

colar e anel Sara Joias

“nunca, Jamais mexeria no meu rosto. seria uma burrice tremenda. não há dinheiro que compre suas rugas”

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músico, mas sua inspiração nem sempre vem de pessoas. “Já escrevi sobre coisas absurdas, sobre mar, vida, batom, barata”, conta.

Desligando-se de seu lado menina, é em cena que a sensualidade natural da atriz fica mais aflorada. A qualidade, aliás, é bem explorada em seu atual trabalho, a manicure Lili, da novela O Astro. O diretor-geral da novela, Mauro Mendonça Filho, é um dos que engrossam o coro sobre a performance dela na tevê. “Alinne é uma Eva, tão naturalmente linda e sexy que parece um mito. Por trás daquela cara de princesa mora um dragão que cospe fogo. Em um segundo pode passar da doçura para a extrema violência. É uma pessoa muito honesta, apta a desempe-nhar inúmeros papéis”, derrete-se.

E, de fato, a atriz deixou há tempos de ser apenas mais um rostinho bonito na tevê. Em 2009, ao viver a tetraplégica Luciana na novela global Viver a Vida, ela impressionou o País com tamanha entrega e perfeição com que interpretou a personagem. Foi seu divisor de águas na carreira. “Fiquei presa à cama e repre-sentar só com o olhar foi a parte mais difícil. Cresci muito. Me trouxe credibilidade como atriz. As pessoas me viram fazendo uma coisa muito diferente do que eu já tinha feito”, expli-ca. Mais uma prova de que, mesmo quando o objetivo está longe de ser sensual, é impossível resistir ao poder do olhar de Alinne.

DIREçãO CRIATIVA E BELEZA Alê de Souza

(Ar Consultoria de Imagem)

EDIçãO DE MODA Rodrigo Grunfeld e Alê Duprat

STyLING Arno Jr.

PRODUçãO DE MODA Renato Telles e Marco Frige

TRATAMENTO DE IMAGEM Octávio Duarte

Sutiã La Perla, cardigã e saia Emporio Armani, colar e anel Sara Joias

Vestido Renda Samuel Cirnansck, brinco e anel Lafite

“alinne é tão naturalmentesexy e linda que parece um mito. por trás da cara de princesa, mora um dragão que cospe fogo”Mauro Mendonça Filho, diretor-geral da novela O Astro

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músico, mas sua inspiração nem sempre vem de pessoas. “Já escrevi sobre coisas absurdas, sobre mar, vida, batom, barata”, conta.

Desligando-se de seu lado menina, é em cena que a sensualidade natural da atriz fica mais aflorada. A qualidade, aliás, é bem explorada em seu atual trabalho, a manicure Lili, da novela O Astro. O diretor-geral da novela, Mauro Mendonça Filho, é um dos que engrossam o coro sobre a performance dela na tevê. “Alinne é uma Eva, tão naturalmente linda e sexy que parece um mito. Por trás daquela cara de princesa mora um dragão que cospe fogo. Em um segundo pode passar da doçura para a extrema violência. É uma pessoa muito honesta, apta a desempe-nhar inúmeros papéis”, derrete-se.

E, de fato, a atriz deixou há tempos de ser apenas mais um rostinho bonito na tevê. Em 2009, ao viver a tetraplégica Luciana na novela global Viver a Vida, ela impressionou o País com tamanha entrega e perfeição com que interpretou a personagem. Foi seu divisor de águas na carreira. “Fiquei presa à cama e repre-sentar só com o olhar foi a parte mais difícil. Cresci muito. Me trouxe credibilidade como atriz. As pessoas me viram fazendo uma coisa muito diferente do que eu já tinha feito”, expli-ca. Mais uma prova de que, mesmo quando o objetivo está longe de ser sensual, é impossível resistir ao poder do olhar de Alinne.

DIREçãO CRIATIVA E BELEZA Alê de Souza

(Ar Consultoria de Imagem)

EDIçãO DE MODA Rodrigo Grunfeld e Alê Duprat

STyLING Arno Jr.

PRODUçãO DE MODA Renato Telles e Marco Frige

TRATAMENTO DE IMAGEM Octávio Duarte

Sutiã La Perla, cardigã e saia Emporio Armani, colar e anel Sara Joias

Vestido Renda Samuel Cirnansck, brinco e anel Lafite

“alinne é tão naturalmentesexy e linda que parece um mito. por trás da cara de princesa, mora um dragão que cospe fogo”Mauro Mendonça Filho, diretor-geral da novela O Astro

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urioso com o que andavam escrevendo a seu respeito na internet, Rodrigo Lombardi entrou recentemente no site de buscas Google e digitou o próprio nome. Em um blog que nem lembra o nome, viu que

internautas se referiam a ele como o “pedreiro que a gente preci-sava”. A comparação meio esdrúxula se deve principalmente à imagem de virilidade que ele passa em suas aparições na tevê – o que é facilmente comprovado nas tórridas cenas protagonizadas com a atriz Carolina Ferraz em O Astro. “Tenho um estereótipo mais masculino, que atribuo mais a uma questão de postura do que de estética. Mas também tenho traços mais grosseiros, nari-gão, olhão, bocão. Não sou essa coisa feita no compasso, certi-nha”, diz. De fato, o homem consagrado pela segunda vez o Mais Sexy por Gente – na primeira, em 2009, ele surgia como uma revelação na tevê, na pele de Raj em Caminho das Índias – não corresponde ao modelo inatingível de um príncipe num cavalo branco. É a antítese do homem perfeito do senso comum. Com Rodrigo, coisa funciona assim: ao desmistificar a própria imagem, o fascínio que gera sobre o público feminino aumenta na mesma proporção. “Se eu for um cara inacessível, vou trabalhar numa gama de veneração das pessoas, encarnar aquele cara que a gente sonha ser. Eu trabalho mais embaixo, onde as pessoas falam ‘nossa, eu posso ser como ele’. Não tenho nada demais”, diz ele, com modéstia.

O título de galã até bem pouco tempo era rejeitado pelo ator paulista, de 34 anos, cujo indiscutível talento já foi há muito comprovado. “Me irritava o fato de dizerem que eu era galã. O que eu faço com essa informação? Nada. É que sempre me pre-ocupei que o ator ficasse atrás do galã. Mas hoje não me preocu-po mais com isso. Levo na boa”, conta. Melhor assim. Até porque, a barba cultivada para interpretar Herculano Quintanilha, pro-tagonista da novela das 23 horas, serviu para injetar nele ainda mais doses de testosterona. “A ideia para O Astro era fazer sem barba, mas eu quis subverter. Acho que fica legal, dá um peso e cria um mistério porque ela esconde. Ela tem um enigma”, acre-dita. Igualmente enigmático é o turbante que virou marca regis-trada de Herculano. Aliás, esse é o terceiro personagem do ator que não dispensa o acessório de cabeça, desde quando começou a emendar papéis de destaque na Globo, há seis anos, na novela Bang Bang. “É um signo muito forte. Ele imprime um mistério, uma magia que fica no inconsciente de quem assiste. As pessoas gostam, ok, mas é apertado e machuca”, explica.

Mas a magia que Rodrigo exerce sobre o público feminino transcende o adereço e respinga na vida real. Ele mesmo dá gargalhadas ao lembrar de uma nota publicada em um jornal − sobre uma mulher que colocou na sala de estar um display de propaganda com a imagem dele, em tamanho natural, roubado de um supermercado no Rio, há dois anos. “Caminho das Índias

acabou e o namorado tirou o display do lado da tevê. Mas logo depois começou Passione, e ela o recolocou no mesmo lugar”, diverte-se. Em outra ocasião, foi ovacionado pela plateia quando entrou em um teatro para assistir a uma montagem de A Alma Boa de Setsuan, de Bertolt Brecht. “As pessoas se levantaram e me aplaudiram. Virei uma uva-passa de tanta ver-gonha, evidentemente”, admite.

O estilo másculo, contudo, Rodrigo nunca o enquadrou no lugar comum de homem rús-tico. Sua conversa, sempre cheia de referências a grandes nomes da música americana e de clássicos da literatura russa, é envolvente. A paixão por Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Cole Porter é herança do pai, Ari, que morreu de enfisema pulmonar em 2003. A queda por autores russos vem de suas inspeções à estante de livros que a mãe, Rose, sempre manteve em casa. “Sempre fui muito tímido, e em vez de ir para a balada aos 16 anos preferia ler em casa. Porque eu saía e só ficava na vontade. Tinha vergonha de dançar, de conversar com as pes-soas e chegava em casa muito mais estressado”, lembra. Nos tempos de colégio, o esporte era a sua válvula de escape para exorcizar a timidez e a baixa autoestima − devidamente tratada no divã psicanalítico. “Eu era o cara mais engraça-do da turma, sempre puxava a atenção para o humor ou para o esporte. Agora, se quisesse conquistar uma garota eu travava. Na minha adolescência, quando todos meus amigos namoravam, eu jogava voleibol”, conta.

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urioso com o que andavam escrevendo a seu respeito na internet, Rodrigo Lombardi entrou recentemente no site de buscas Google e digitou o próprio nome. Em um blog que nem lembra o nome, viu que

internautas se referiam a ele como o “pedreiro que a gente preci-sava”. A comparação meio esdrúxula se deve principalmente à imagem de virilidade que ele passa em suas aparições na tevê – o que é facilmente comprovado nas tórridas cenas protagonizadas com a atriz Carolina Ferraz em O Astro. “Tenho um estereótipo mais masculino, que atribuo mais a uma questão de postura do que de estética. Mas também tenho traços mais grosseiros, nari-gão, olhão, bocão. Não sou essa coisa feita no compasso, certi-nha”, diz. De fato, o homem consagrado pela segunda vez o Mais Sexy por Gente – na primeira, em 2009, ele surgia como uma revelação na tevê, na pele de Raj em Caminho das Índias – não corresponde ao modelo inatingível de um príncipe num cavalo branco. É a antítese do homem perfeito do senso comum. Com Rodrigo, coisa funciona assim: ao desmistificar a própria imagem, o fascínio que gera sobre o público feminino aumenta na mesma proporção. “Se eu for um cara inacessível, vou trabalhar numa gama de veneração das pessoas, encarnar aquele cara que a gente sonha ser. Eu trabalho mais embaixo, onde as pessoas falam ‘nossa, eu posso ser como ele’. Não tenho nada demais”, diz ele, com modéstia.

O título de galã até bem pouco tempo era rejeitado pelo ator paulista, de 34 anos, cujo indiscutível talento já foi há muito comprovado. “Me irritava o fato de dizerem que eu era galã. O que eu faço com essa informação? Nada. É que sempre me pre-ocupei que o ator ficasse atrás do galã. Mas hoje não me preocu-po mais com isso. Levo na boa”, conta. Melhor assim. Até porque, a barba cultivada para interpretar Herculano Quintanilha, pro-tagonista da novela das 23 horas, serviu para injetar nele ainda mais doses de testosterona. “A ideia para O Astro era fazer sem barba, mas eu quis subverter. Acho que fica legal, dá um peso e cria um mistério porque ela esconde. Ela tem um enigma”, acre-dita. Igualmente enigmático é o turbante que virou marca regis-trada de Herculano. Aliás, esse é o terceiro personagem do ator que não dispensa o acessório de cabeça, desde quando começou a emendar papéis de destaque na Globo, há seis anos, na novela Bang Bang. “É um signo muito forte. Ele imprime um mistério, uma magia que fica no inconsciente de quem assiste. As pessoas gostam, ok, mas é apertado e machuca”, explica.

Mas a magia que Rodrigo exerce sobre o público feminino transcende o adereço e respinga na vida real. Ele mesmo dá gargalhadas ao lembrar de uma nota publicada em um jornal − sobre uma mulher que colocou na sala de estar um display de propaganda com a imagem dele, em tamanho natural, roubado de um supermercado no Rio, há dois anos. “Caminho das Índias

acabou e o namorado tirou o display do lado da tevê. Mas logo depois começou Passione, e ela o recolocou no mesmo lugar”, diverte-se. Em outra ocasião, foi ovacionado pela plateia quando entrou em um teatro para assistir a uma montagem de A Alma Boa de Setsuan, de Bertolt Brecht. “As pessoas se levantaram e me aplaudiram. Virei uma uva-passa de tanta ver-gonha, evidentemente”, admite.

O estilo másculo, contudo, Rodrigo nunca o enquadrou no lugar comum de homem rús-tico. Sua conversa, sempre cheia de referências a grandes nomes da música americana e de clássicos da literatura russa, é envolvente. A paixão por Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Cole Porter é herança do pai, Ari, que morreu de enfisema pulmonar em 2003. A queda por autores russos vem de suas inspeções à estante de livros que a mãe, Rose, sempre manteve em casa. “Sempre fui muito tímido, e em vez de ir para a balada aos 16 anos preferia ler em casa. Porque eu saía e só ficava na vontade. Tinha vergonha de dançar, de conversar com as pes-soas e chegava em casa muito mais estressado”, lembra. Nos tempos de colégio, o esporte era a sua válvula de escape para exorcizar a timidez e a baixa autoestima − devidamente tratada no divã psicanalítico. “Eu era o cara mais engraça-do da turma, sempre puxava a atenção para o humor ou para o esporte. Agora, se quisesse conquistar uma garota eu travava. Na minha adolescência, quando todos meus amigos namoravam, eu jogava voleibol”, conta.

C

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Entrevista

Casado desde maio com a atriz Mônica Torres, o psicanalista ConTardo Calligaris inverte os papéis e, em papo exclusivo com Gente, fala de si, de sexo, relacionamento e por que, para ele, uma audrey Hepburn vale mais que seis Jennifer lopez

no divãContardo

Jacyara Azevedo e Marina Monzillo

fotos Rafael Hupsel/ Ag. IstoÉ

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Entrevista

Casado desde maio com a atriz Mônica Torres, o psicanalista ConTardo Calligaris inverte os papéis e, em papo exclusivo com Gente, fala de si, de sexo, relacionamento e por que, para ele, uma audrey Hepburn vale mais que seis Jennifer lopez

no divãContardo

Jacyara Azevedo e Marina Monzillo

fotos Rafael Hupsel/ Ag. IstoÉ

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O sr. se tornou escritor de ficção tardiamente. Por que demorou tanto?A vida é feita de uma mistura bizarra dos nossos desejos com as oportunidades que ela nos apresenta. sei lá o que aconte-ceu, talvez pequenas traições a mim mesmo. Não queria estudar, embora fosse um aluno, sem dúvida, brilhante. Acabei cedendo aos desejos dos meus pais, o que não tem nada de dramático. A faculdade acabou me interessando poderosamente e, a partir daquilo, me afastei de um caminho. Acho que é um pouco como uma vida se constrói.

Não planeja muito?Posso até planejar, adoro, mas não funciona nunca (risos).

A escolha do protagonista de seus romances, um psicanalista italiano que vive no Brasil, foi por uma facilidade técnica ou para “pagar pecados” no livro?É um tipo de figura que eu conheço um pouco. (Ele sorri...) Existe uma facilidade técnica, claro. Posso imaginar facil-mente como reagiria (o personagem) Carlo Antonini. Não é necessariamente como eu. É um alter ego melhorado, às vezes, piorado. só se faz ficção a partir de pedaços da vida da gente, eventualmente não resolvidos.

Na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, o sr. também não parece ter receio de se mostrar.Não, embora exista uma arte de dizer um monte de coisas sem revelar o essencial (risos). Mas a gente acaba sempre falando mais do que quer.

Quando expõe fatos da sua vida, diferentemente do perfil clássico do psicanalista, faz isto por ideologia ou vaidade?sem dúvida, eu sou medianamente vaidoso. Não no sentido babaca, que se contempla no espelho. E me exponho ainda por ideologia porque sou também um psicoterapeuta de adolescentes. Aprendi que eles não confiam em quem não se entrega e você tem de trocar.

Então, acaba falando de si no consultório também.tem de falar de coisas sentidas, reais. Aí, o paciente pensa: “se esse cara está me entregando um pedaço da sua verdade, talvez eu possa lhe entregar um pedaço da minha”. Além disso, ter feito tantos anos de análise como paciente me permite contar minha vida como uma boa história e com certa leveza.

Qual o ônus da exposição?teria um ônus para os pacientes, que poderiam perder tempo se preocupando comigo em vez de com eles mesmos. Mas a experiência mostra que não.

Hoje, o sr. defende a “não traição de si mesmo”. Vale em qualquer circunstância?Não. Eu não sou muito favorável a heroísmos inúteis, e a vida também é feita de compromissos. Mas existem, sim, baluartes irrenunciáveis. são poucos.

‘‘O sexo é uma espécie de ilusão: cada um transa com a sua fantasia. Desejo tem de ser acalentado’’

No 18º ANDAR de um flat no bairro dos Jardins, em são Paulo, o psicanalista Contardo Calligaris demora para atender a campainha. Quando finalmente abre a porta, aponta para uma pequena sala de espera e se fecha em seu consultório. Passados alguns minutos (são 11h05 da sexta-feira 16), ele volta, estende a mão e acomoda a equipe de Gente em duas poltronas ao lado de seu divã. A cena tem os moldes de uma sessão de análise, mas no lugar de ouvir, Contardo passa a próxima hora falando.

Italiano de 63 anos que já morou na suíça, frança e nos Estados Unidos, ele ado-tou o Brasil há duas décadas. sem medo de se expor, clinica, escreve uma coluna sema-nal no jornal Folha de S. Paulo e participa de debates provocativos sobre seu modo de ver a vida. “Não tenho receio de me mostrar. ter feito tantos anos de análise como paciente me permite contar minha vida como uma boa história”, defende, que só faz questão de preservar seu oitavo e atual casa-mento. Desde maio, ele vive com a atriz Mônica torres, que já foi casada com os atores José Wilker e Marcello Antony. Um dos pedidos de Contardo, antes da entrevis-ta, foi não falar do relacionamento.

Em seu vasto repertório de opiniões, ele prega a não traição de si mesmo e que, acima da felicidade, se interessa mesmo pelas expe-riências intensas. também afirma não haver vida sexual sem fantasia. E assume: “Não lido bem com o assédio feminino porque me sinto em dívida por frustrar o desejo do outro”. Para um homem que viveu intensa-mente os anos 60, dar aquilo que alguém deseja é “um dever político”. Quando o assunto é sensualidade, tema desta edição de aniversário, jura preferir uma Audrey Hepburn a seis Jennifer Lopez. seus pensa-mentos, recentemente, também ganharam a voz de um alter ego: o protagonista de seus dois romances, Conto do Amor e A Mulher de Vermelho e Branco. Com o raciocínio acelerado, firmeza nas convicções e sempre disposto a rir delas, Contardo é um homem que muitas mulheres escolheriam no lugar de meia dúzia de Brad Pitt.

Entrevista

O psicanalista italiano em seu consultório no bairro dos Jardins, em São Paulo

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O sr. se tornou escritor de ficção tardiamente. Por que demorou tanto?A vida é feita de uma mistura bizarra dos nossos desejos com as oportunidades que ela nos apresenta. sei lá o que aconte-ceu, talvez pequenas traições a mim mesmo. Não queria estudar, embora fosse um aluno, sem dúvida, brilhante. Acabei cedendo aos desejos dos meus pais, o que não tem nada de dramático. A faculdade acabou me interessando poderosamente e, a partir daquilo, me afastei de um caminho. Acho que é um pouco como uma vida se constrói.

Não planeja muito?Posso até planejar, adoro, mas não funciona nunca (risos).

A escolha do protagonista de seus romances, um psicanalista italiano que vive no Brasil, foi por uma facilidade técnica ou para “pagar pecados” no livro?É um tipo de figura que eu conheço um pouco. (Ele sorri...) Existe uma facilidade técnica, claro. Posso imaginar facil-mente como reagiria (o personagem) Carlo Antonini. Não é necessariamente como eu. É um alter ego melhorado, às vezes, piorado. só se faz ficção a partir de pedaços da vida da gente, eventualmente não resolvidos.

Na sua coluna semanal na Folha de S.Paulo, o sr. também não parece ter receio de se mostrar.Não, embora exista uma arte de dizer um monte de coisas sem revelar o essencial (risos). Mas a gente acaba sempre falando mais do que quer.

Quando expõe fatos da sua vida, diferentemente do perfil clássico do psicanalista, faz isto por ideologia ou vaidade?sem dúvida, eu sou medianamente vaidoso. Não no sentido babaca, que se contempla no espelho. E me exponho ainda por ideologia porque sou também um psicoterapeuta de adolescentes. Aprendi que eles não confiam em quem não se entrega e você tem de trocar.

Então, acaba falando de si no consultório também.tem de falar de coisas sentidas, reais. Aí, o paciente pensa: “se esse cara está me entregando um pedaço da sua verdade, talvez eu possa lhe entregar um pedaço da minha”. Além disso, ter feito tantos anos de análise como paciente me permite contar minha vida como uma boa história e com certa leveza.

Qual o ônus da exposição?teria um ônus para os pacientes, que poderiam perder tempo se preocupando comigo em vez de com eles mesmos. Mas a experiência mostra que não.

Hoje, o sr. defende a “não traição de si mesmo”. Vale em qualquer circunstância?Não. Eu não sou muito favorável a heroísmos inúteis, e a vida também é feita de compromissos. Mas existem, sim, baluartes irrenunciáveis. são poucos.

‘‘O sexo é uma espécie de ilusão: cada um transa com a sua fantasia. Desejo tem de ser acalentado’’

No 18º ANDAR de um flat no bairro dos Jardins, em são Paulo, o psicanalista Contardo Calligaris demora para atender a campainha. Quando finalmente abre a porta, aponta para uma pequena sala de espera e se fecha em seu consultório. Passados alguns minutos (são 11h05 da sexta-feira 16), ele volta, estende a mão e acomoda a equipe de Gente em duas poltronas ao lado de seu divã. A cena tem os moldes de uma sessão de análise, mas no lugar de ouvir, Contardo passa a próxima hora falando.

Italiano de 63 anos que já morou na suíça, frança e nos Estados Unidos, ele ado-tou o Brasil há duas décadas. sem medo de se expor, clinica, escreve uma coluna sema-nal no jornal Folha de S. Paulo e participa de debates provocativos sobre seu modo de ver a vida. “Não tenho receio de me mostrar. ter feito tantos anos de análise como paciente me permite contar minha vida como uma boa história”, defende, que só faz questão de preservar seu oitavo e atual casa-mento. Desde maio, ele vive com a atriz Mônica torres, que já foi casada com os atores José Wilker e Marcello Antony. Um dos pedidos de Contardo, antes da entrevis-ta, foi não falar do relacionamento.

Em seu vasto repertório de opiniões, ele prega a não traição de si mesmo e que, acima da felicidade, se interessa mesmo pelas expe-riências intensas. também afirma não haver vida sexual sem fantasia. E assume: “Não lido bem com o assédio feminino porque me sinto em dívida por frustrar o desejo do outro”. Para um homem que viveu intensa-mente os anos 60, dar aquilo que alguém deseja é “um dever político”. Quando o assunto é sensualidade, tema desta edição de aniversário, jura preferir uma Audrey Hepburn a seis Jennifer Lopez. seus pensa-mentos, recentemente, também ganharam a voz de um alter ego: o protagonista de seus dois romances, Conto do Amor e A Mulher de Vermelho e Branco. Com o raciocínio acelerado, firmeza nas convicções e sempre disposto a rir delas, Contardo é um homem que muitas mulheres escolheriam no lugar de meia dúzia de Brad Pitt.

Entrevista

O psicanalista italiano em seu consultório no bairro dos Jardins, em São Paulo

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Entrevista

Quais?Não me lembro de ter sido confrontado com situações do tipo que a geração dos meus pais viveu. A luta antifascista pelas liberda-des básicas, por exemplo, não era em abso-luto negociável. Podia valer qualquer tipo de sacrifício. Existem coisas para mim também que são irrenunciáveis. se o Brasil deixar de ser um país democrático, eu vou para (o aeroporto de) Guarulhos.

O sr. já afirmou que a felicidade não o interessa e sim as experiências intensas. É possível ser intenso sempre?seria muito cansativo (risos). Não falo de sen-timentos extremos. Você pode ter intensidade no cotidiano. Viver cada história, mesmo as triviais, na plenitude. Não estou preocupado em ter só experiências boas. Ao contrário, quero estar presente naquelas consideradas ruins, como um luto. Quando eu clinicava nos Estados Unidos, uma geração de pessoas que-ria tomar antidepressivos de maneira preven-tiva. “Meu pai vai morrer? Vou tomar Prozac!”. se seu problema for buscar a felicidade, a solu-ção é heroína injetável duas vezes ao dia. Você vai morrer, mas antes vai ser feliz. É mais inte-ressante viver a dor da morte de um pai do que fumar crack, que também funciona.

Uma das suas frases é que “não há vida sexual sem fantasia”. Qual é o ponto de equilíbrio disso em uma relação?Difícil dizer. Em geral, casais sexualmente felizes conseguem inventar uma fantasia que dê conta da dos dois. Algo complicado. o sexo é uma espécie de ilusão: cada um transa com a sua fantasia. Desejo tem de ser acalentado.

Por que diz que o amor atrapalha muito o sexo? É impossível uma rela-ção inteira com alguém?É completamente possível. Quando digo que o amor atrapalha é que torna o outro um pouco intangível. o sexo não pois, exagerando, é um negócio que arranca pedaços. Existe, sem dúvida, uma contradição. Mas fica mais inte-ressante viver o amor e o sexo com a mesma pessoa. Até porque, multiplicar os relaciona-mentos dá preguiça (risos).

Preguiça porque era jovem nos anos 60, quando a experiência do sexo foi exaurida?tem algo disso sim. Um cansaço da promis-cuidade que era um pouco obrigatória naquela época.

Como lida com o assédio feminino?Putz, acho muito chato (risos). Não lido bem porque sempre me sinto em dívida por frustrar o desejo do outro. soa um pouco idiota, mas é bem anos 60: “se alguém me deseja, eu vou dar” (risos). Isso ficou na

minha cabeça como uma espécie de dever político. Não me comporto assim, mas me chateia recusar. É raro, mas já aconteceu no consultório ou quando era professor.

O que é sensualidade?Para mim, é tudo o que introduz um toque de erotismo na vida cotidiana. As interações no caixa do supermercado ou na entrada de um restaurante podem suscitar olhares que são devolvidos ou não. Mas não se trata de encoxar nin-guém no metrô, que seria um saco (risos).

Mas existe uma hipervalorização do corpo.Isto não é, necessariamente, a sua sensualização. Pode ter alguém que persiga um corpo perfeito, mas que do ponto de vista da sensualidade tem um corpo anestesiado. A grande maioria dos homens é assim. se retirar a área genital, perde a sensibilidade. o corpo masculino é muito menos erotiza-do do que o feminino. Digo isso sem nenhuma crítica aos homens que malham desesperadamente. Eu sempre malhei. Aliás, tenho problema mais com a força do meu corpo do que com a forma. Me sinto mal se levanto menos de 70 qui-los no supino, que é o meu peso (risos).

Ao se declarar um homem de monogamias sucessi-vas, não se coloca num lugar cômodo de pensar uma relação como um evento predestinado a terminar?sempre entrei nas relações achando que aquela seria a

mulher da minha vida. se tivesse pensado que acabariam, nem consideraria como casamentos. Não caio fora na pri-meira dificuldade, mas reconheço as diferenças imutáveis. se separar é muito mais difícil do que encontrar alguém. Há histórias que duram eternidades e todo mundo está infeliz. Mas é possível manter uma relação “eterna”. Meus pais tiveram um casamento feliz até o fim. Dá trabalho.

Quem são as mulheres por quem se apaixona?Elas devem ter alguns traços comuns, como um lado cos-mopolita. Geralmente são pessoas muito viajadas.

Você casou com a atriz Mônica Torres este ano. Ela tem esse perfil?Não gostaria de falar sobre minha vida privada. O estereótipo das brasileiras o atrai?Da cultura de praia? Da movimentação do bumbum? Não é por isso que eu estou no Brasil ou me apaixonei por brasilei-ras. Essa exuberância me interessa pouco. se você me colocar para escolher entre seis Jennifer Lopez e uma Audrey Hepburn, vou ficar com a segunda opção correndo (risos).

Se deitasse no divã agora, o que diria?Hum... Há uns nove anos não me analiso. Não sei bem qual seria o tema. se soubesse, não lhe diria, estaria no divã (risos).

‘‘Se você me colocar para escolher entre seis Jennifer Lopez e uma Audrey Hepburn, vou ficar com a segunda opção correndo’’

“Se seu problema for buscar a felicidade, a solução é heroína injetável duas vezes ao dia. Você vai morrer, mas antes vai ser feliz”, diz Contardo

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Entrevista

Quais?Não me lembro de ter sido confrontado com situações do tipo que a geração dos meus pais viveu. A luta antifascista pelas liberda-des básicas, por exemplo, não era em abso-luto negociável. Podia valer qualquer tipo de sacrifício. Existem coisas para mim também que são irrenunciáveis. se o Brasil deixar de ser um país democrático, eu vou para (o aeroporto de) Guarulhos.

O sr. já afirmou que a felicidade não o interessa e sim as experiências intensas. É possível ser intenso sempre?seria muito cansativo (risos). Não falo de sen-timentos extremos. Você pode ter intensidade no cotidiano. Viver cada história, mesmo as triviais, na plenitude. Não estou preocupado em ter só experiências boas. Ao contrário, quero estar presente naquelas consideradas ruins, como um luto. Quando eu clinicava nos Estados Unidos, uma geração de pessoas que-ria tomar antidepressivos de maneira preven-tiva. “Meu pai vai morrer? Vou tomar Prozac!”. se seu problema for buscar a felicidade, a solu-ção é heroína injetável duas vezes ao dia. Você vai morrer, mas antes vai ser feliz. É mais inte-ressante viver a dor da morte de um pai do que fumar crack, que também funciona.

Uma das suas frases é que “não há vida sexual sem fantasia”. Qual é o ponto de equilíbrio disso em uma relação?Difícil dizer. Em geral, casais sexualmente felizes conseguem inventar uma fantasia que dê conta da dos dois. Algo complicado. o sexo é uma espécie de ilusão: cada um transa com a sua fantasia. Desejo tem de ser acalentado.

Por que diz que o amor atrapalha muito o sexo? É impossível uma rela-ção inteira com alguém?É completamente possível. Quando digo que o amor atrapalha é que torna o outro um pouco intangível. o sexo não pois, exagerando, é um negócio que arranca pedaços. Existe, sem dúvida, uma contradição. Mas fica mais inte-ressante viver o amor e o sexo com a mesma pessoa. Até porque, multiplicar os relaciona-mentos dá preguiça (risos).

Preguiça porque era jovem nos anos 60, quando a experiência do sexo foi exaurida?tem algo disso sim. Um cansaço da promis-cuidade que era um pouco obrigatória naquela época.

Como lida com o assédio feminino?Putz, acho muito chato (risos). Não lido bem porque sempre me sinto em dívida por frustrar o desejo do outro. soa um pouco idiota, mas é bem anos 60: “se alguém me deseja, eu vou dar” (risos). Isso ficou na

minha cabeça como uma espécie de dever político. Não me comporto assim, mas me chateia recusar. É raro, mas já aconteceu no consultório ou quando era professor.

O que é sensualidade?Para mim, é tudo o que introduz um toque de erotismo na vida cotidiana. As interações no caixa do supermercado ou na entrada de um restaurante podem suscitar olhares que são devolvidos ou não. Mas não se trata de encoxar nin-guém no metrô, que seria um saco (risos).

Mas existe uma hipervalorização do corpo.Isto não é, necessariamente, a sua sensualização. Pode ter alguém que persiga um corpo perfeito, mas que do ponto de vista da sensualidade tem um corpo anestesiado. A grande maioria dos homens é assim. se retirar a área genital, perde a sensibilidade. o corpo masculino é muito menos erotiza-do do que o feminino. Digo isso sem nenhuma crítica aos homens que malham desesperadamente. Eu sempre malhei. Aliás, tenho problema mais com a força do meu corpo do que com a forma. Me sinto mal se levanto menos de 70 qui-los no supino, que é o meu peso (risos).

Ao se declarar um homem de monogamias sucessi-vas, não se coloca num lugar cômodo de pensar uma relação como um evento predestinado a terminar?sempre entrei nas relações achando que aquela seria a

mulher da minha vida. se tivesse pensado que acabariam, nem consideraria como casamentos. Não caio fora na pri-meira dificuldade, mas reconheço as diferenças imutáveis. se separar é muito mais difícil do que encontrar alguém. Há histórias que duram eternidades e todo mundo está infeliz. Mas é possível manter uma relação “eterna”. Meus pais tiveram um casamento feliz até o fim. Dá trabalho.

Quem são as mulheres por quem se apaixona?Elas devem ter alguns traços comuns, como um lado cos-mopolita. Geralmente são pessoas muito viajadas.

Você casou com a atriz Mônica Torres este ano. Ela tem esse perfil?Não gostaria de falar sobre minha vida privada. O estereótipo das brasileiras o atrai?Da cultura de praia? Da movimentação do bumbum? Não é por isso que eu estou no Brasil ou me apaixonei por brasilei-ras. Essa exuberância me interessa pouco. se você me colocar para escolher entre seis Jennifer Lopez e uma Audrey Hepburn, vou ficar com a segunda opção correndo (risos).

Se deitasse no divã agora, o que diria?Hum... Há uns nove anos não me analiso. Não sei bem qual seria o tema. se soubesse, não lhe diria, estaria no divã (risos).

‘‘Se você me colocar para escolher entre seis Jennifer Lopez e uma Audrey Hepburn, vou ficar com a segunda opção correndo’’

“Se seu problema for buscar a felicidade, a solução é heroína injetável duas vezes ao dia. Você vai morrer, mas antes vai ser feliz”, diz Contardo

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Diversão & ArteAVALIA

★★★★★ INDISPENSÁVEL

★★★★ MUITO BOM

★★★ BOM

★★ REGULAR

• FRACO

Foto

s H

ELC

IO N

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AM

INE

/ AG

. IST

livros

“Por que acha que estou com a

barba branca? Sofrimento

(risos)”, brinca Morais sobre o

trabalho de organizar o livro

AUTOR DAS ACLAMADAS biografias Chatô – O Rei do Brasil e Olga, o jornalista Fernando Morais volta-se para Cuba, tema de outro livro seu, A Ilha, para contar uma história real digna de romances de espionagem. Os Últimos Soldados da Guerra Fria (Cia. das Letras, 408 págs., R$ 42) desvenda as atividades de agentes secretos cubanos que se passavam por desertores para se infiltrar em organizações de extrema direita na Flórida. Em dois anos de pesquisa, Morais fez cerca de 20 viagens a Cuba e aos Estados Unidos, onde entrevistou tanto espiões cubanos presos quanto mercenários condenados por praticar ataques terroristas, como lançar bombas em hotéis de luxo na terra de Fidel Castro para afugentar turistas e agravar a crise econômica do país. Também teve acesso a incríveis documentos oficiais, alguns reproduzidos na íntegra. E como mestre da prosa que é, Morais criou uma narrativa envolvente que banha de humanidade seus personagens e evita julgamentos morais. Na entrevista, ele diz que o desafio de transformar a montanha de mate-rial em um livro vibrante deixou sua barba mais branca.

Como entrou em contato com os personagens do livro?Primeiro falei com os familiares e, paralelamente, com os grupos de extrema direita em Miami, na Flórida. Comecei a me comunicar pela internet, pois como não sou cidadão americano nem parente, não tinha o direito de fazer visitas. Às vezes, no dia em que os familiares falavam com eles ao telefone, pegava uma carona para dar uma conversada.

É incrível como eles se abriram. Há detalhes da vida pessoal de cada um.Estamos acostumados com aquela imagem mítica do agente secreto tipo James Bond, frio, impessoal. Descobri que os cubanos sentiam saudade, paixão. Um deles se apaixona por uma gringa e pede autorização para se casar. O informe dos cubanos parece coisa de pai falando com filho. “Pô, mas vai casar mesmo, e se ela ficar grávida? E se a paixão acabar? Que tipo de dificuldades pode trazer para a sua missão?” Já o agente Juan Pablo Roque, sósia do Richard Gere, questiona a ordem para casar com uma americana, como parte do disfarce, pois deixara a família em Cuba.

Que tipo de informação foi mais difícil de obter?Do lado cubano, três coisas. Relutaram muito em liberar o dossiê sobre terrorismo que o Fidel mandou para Bill Clinton. Outra foi a cópia do informe que o Gabriel García Márquez escreveu para o Fidel, contando como havia se desincumbido na missão de intermediar a correspondên-cia com Clinton. E a terceira foi a autorização para entrevistar o “Stallone”, que estava no corredor da morte. Do lado americano, houve uma desconfiança muito grande do pessoal da extrema direita em rela-ção a mim. Basta entrar no Google para saber que sou de esquerda. Ficaram com o pé atrás, mas argumentei que escrevi um livro sobre o capitalista Assis Chateaubriand e, aos poucos, eles relaxaram. Também tive dificuldade com o pessoal do FBI, porque são proibidos de dar decla-rações à imprensa mesmo após a aposentadoria. Consegui algumas em off e muitas dicas de lugares para pesquisa.

O serviço de segurança americano se mostra o elo mais frágil dessa realidade. E faz pensar no 11 de Setembro.Tem uma coisa que me chamou muito a atenção e não coloquei no livro porque é uma reportagem e não uma obra analítica. No último parágrafo do informe que envia para Clinton, Fidel diz que “a leniência das autori-dades americanas com essa desenvoltura de terrorismo na Flórida, se hoje representa um perigo para Cuba, de uma hora para outra pode

representar um perigo para os Estados Unidos”. Isso foi escrito em 1998. Três anos depois, a Al-Qaeda fez o que fez em Nova York. Onde os caras de Osama bin Laden aprenderam a pilotar? Na Flórida. Hoje o rigor é maior, mas ainda é possível uma pessoa comprar um fuzil pela internet por US$ 300.

Como foi ordenar aquele montante de informação e transformar em livro?Por que acha que estou com a barba branca? Sofrimento (risos). Como jornalista, estamos acostu-mados a fazer pesquisa, entrevistas, fuçar arquivos. O duro é na hora de juntar a cordilheira de papel e depoimentos, pegar toda a informação, fazer caber em um livro que não pode ter duas mil páginas e ainda criar uma narrativa que seja minimamente saborosa.

Daria um ótimo filme de espionagem. Já vendeu os direitos?Sim, e se não tivesse vendido é bem capaz que o livro não existisse. É uma obra de produção muito cara, que demanda viagens, passagens de avião, hotel, táxi, restaurante e tudo o mais. Consegui um investidor do cinema que me adiantou a grana e com ela realizei o projeto. O livro já nasceu com um pé no cinema.

E o que vem a seguir?Como dizem hoje, não estou namorando, estou “ficando” com o Lula. Já tivemos alguns encontros e vamos ver se rola alguma coisa. Suzana Uchôa Itiberê

“O livro com um pé no cinema”

já nasceu

‘‘Do lado americano, houve uma desconfiança muito grande do pessoal da extrema direita em relação a mim. Basta entrar no Google para saber que sou de esquerda”

Fruto de extensa

investigação, Os Últimos

Soldados da Guerra Fria, de Fernando

Morais, é uma legítima

obra de espionagem baseada em

documentos oficiais

Fernando Morais

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Diversão & ArteAVALIA

★★★★★ INDISPENSÁVEL

★★★★ MUITO BOM

★★★ BOM

★★ REGULAR

• FRACO

Foto

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livros

“Por que acha que estou com a

barba branca? Sofrimento

(risos)”, brinca Morais sobre o

trabalho de organizar o livro

AUTOR DAS ACLAMADAS biografias Chatô – O Rei do Brasil e Olga, o jornalista Fernando Morais volta-se para Cuba, tema de outro livro seu, A Ilha, para contar uma história real digna de romances de espionagem. Os Últimos Soldados da Guerra Fria (Cia. das Letras, 408 págs., R$ 42) desvenda as atividades de agentes secretos cubanos que se passavam por desertores para se infiltrar em organizações de extrema direita na Flórida. Em dois anos de pesquisa, Morais fez cerca de 20 viagens a Cuba e aos Estados Unidos, onde entrevistou tanto espiões cubanos presos quanto mercenários condenados por praticar ataques terroristas, como lançar bombas em hotéis de luxo na terra de Fidel Castro para afugentar turistas e agravar a crise econômica do país. Também teve acesso a incríveis documentos oficiais, alguns reproduzidos na íntegra. E como mestre da prosa que é, Morais criou uma narrativa envolvente que banha de humanidade seus personagens e evita julgamentos morais. Na entrevista, ele diz que o desafio de transformar a montanha de mate-rial em um livro vibrante deixou sua barba mais branca.

Como entrou em contato com os personagens do livro?Primeiro falei com os familiares e, paralelamente, com os grupos de extrema direita em Miami, na Flórida. Comecei a me comunicar pela internet, pois como não sou cidadão americano nem parente, não tinha o direito de fazer visitas. Às vezes, no dia em que os familiares falavam com eles ao telefone, pegava uma carona para dar uma conversada.

É incrível como eles se abriram. Há detalhes da vida pessoal de cada um.Estamos acostumados com aquela imagem mítica do agente secreto tipo James Bond, frio, impessoal. Descobri que os cubanos sentiam saudade, paixão. Um deles se apaixona por uma gringa e pede autorização para se casar. O informe dos cubanos parece coisa de pai falando com filho. “Pô, mas vai casar mesmo, e se ela ficar grávida? E se a paixão acabar? Que tipo de dificuldades pode trazer para a sua missão?” Já o agente Juan Pablo Roque, sósia do Richard Gere, questiona a ordem para casar com uma americana, como parte do disfarce, pois deixara a família em Cuba.

Que tipo de informação foi mais difícil de obter?Do lado cubano, três coisas. Relutaram muito em liberar o dossiê sobre terrorismo que o Fidel mandou para Bill Clinton. Outra foi a cópia do informe que o Gabriel García Márquez escreveu para o Fidel, contando como havia se desincumbido na missão de intermediar a correspondên-cia com Clinton. E a terceira foi a autorização para entrevistar o “Stallone”, que estava no corredor da morte. Do lado americano, houve uma desconfiança muito grande do pessoal da extrema direita em rela-ção a mim. Basta entrar no Google para saber que sou de esquerda. Ficaram com o pé atrás, mas argumentei que escrevi um livro sobre o capitalista Assis Chateaubriand e, aos poucos, eles relaxaram. Também tive dificuldade com o pessoal do FBI, porque são proibidos de dar decla-rações à imprensa mesmo após a aposentadoria. Consegui algumas em off e muitas dicas de lugares para pesquisa.

O serviço de segurança americano se mostra o elo mais frágil dessa realidade. E faz pensar no 11 de Setembro.Tem uma coisa que me chamou muito a atenção e não coloquei no livro porque é uma reportagem e não uma obra analítica. No último parágrafo do informe que envia para Clinton, Fidel diz que “a leniência das autori-dades americanas com essa desenvoltura de terrorismo na Flórida, se hoje representa um perigo para Cuba, de uma hora para outra pode

representar um perigo para os Estados Unidos”. Isso foi escrito em 1998. Três anos depois, a Al-Qaeda fez o que fez em Nova York. Onde os caras de Osama bin Laden aprenderam a pilotar? Na Flórida. Hoje o rigor é maior, mas ainda é possível uma pessoa comprar um fuzil pela internet por US$ 300.

Como foi ordenar aquele montante de informação e transformar em livro?Por que acha que estou com a barba branca? Sofrimento (risos). Como jornalista, estamos acostu-mados a fazer pesquisa, entrevistas, fuçar arquivos. O duro é na hora de juntar a cordilheira de papel e depoimentos, pegar toda a informação, fazer caber em um livro que não pode ter duas mil páginas e ainda criar uma narrativa que seja minimamente saborosa.

Daria um ótimo filme de espionagem. Já vendeu os direitos?Sim, e se não tivesse vendido é bem capaz que o livro não existisse. É uma obra de produção muito cara, que demanda viagens, passagens de avião, hotel, táxi, restaurante e tudo o mais. Consegui um investidor do cinema que me adiantou a grana e com ela realizei o projeto. O livro já nasceu com um pé no cinema.

E o que vem a seguir?Como dizem hoje, não estou namorando, estou “ficando” com o Lula. Já tivemos alguns encontros e vamos ver se rola alguma coisa. Suzana Uchôa Itiberê

“O livro com um pé no cinema”

já nasceu

‘‘Do lado americano, houve uma desconfiança muito grande do pessoal da extrema direita em relação a mim. Basta entrar no Google para saber que sou de esquerda”

Fruto de extensa

investigação, Os Últimos

Soldados da Guerra Fria, de Fernando

Morais, é uma legítima

obra de espionagem baseada em

documentos oficiais

Fernando Morais

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JÁ VIROU TRADIÇÃO. Setembro é o mês mais verde-e-amarelo no agitado calendário de eventos anuais em Nova York. Poucos dias após os desfiles de Carlos Miele e Alexandre Herchcovitch, em sua Semana de Moda, a cidade recepcionaria, na segunda-feira 19, a noite de gala da Brazil Foundation. Desta vez, o evento beneficente teria como cenário a Biblioteca de Nova York, a mesma onde Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica Parker, quase se casa com mr. Big no filme Sex and the City.

Internacional

mulheresmulheresUnidos pelasPersonalidades como Meryl Streep, Diane von Furstenberg e Donna Karan se unem em apoio à fundação dedicada às questões femininas atuais e lançada em Nova York na terça-feira 13

Si eugiamcor sum dolor sustrud dolenissed min

ut autat, consequat ut As apresentadoras de tevê Robin Roberts e Cynthia McFadden

A ex-presidente do Chile Michelle Bachelet

Donna Karan com Tina Brown, a idealizadora do Women in the World Foundation

Tina Brown e Nizan Guanaes

Diane von Furstenberg

Na terça-feira 20, o publicitário Nizan Guanaes e sua mulher, Donata Meirelles, ofereceriam um jantar no Topo do Rockfeller Center, de onde se tem uma das vistas mais bonitas de Manhattan, com presença do ex-presidente americano Bill Clinton.

O primeiro dos eventos ligados à Africa Global, empresa de comunicação comanda-da por Nizan, aconteceu na terça-feira 13. Foi o lançamento da Women in the World Foundation (Fundação Mulheres no Mundo). Liderada por Tina Brown, editora-chefe da revista Newsweek e do site The Daily Beast, a organização pretende encon-trar caminhos para questões como o tráfico de mulheres e a posição feminina no merca-do de trabalho atual. “Dar suporte às mulhe-res é apoiar o desenvolvimento da economia mundial. Elas são líderes nas suas famílias, casas e empresas. O que faltam são soluções práticas e uma legislação específica. É nisso que queremos focar o trabalho da Women in the World Foundation”, comentou Nizan.

Assim como o empresário, personalida-des como a atriz Meryl Streep e as estilistas Diane von Furstenberg e Donna Karan se uniram à fundação. Essas e outras podero-sas mulheres, como a ativista liberiana Leymah Gbowee, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet e a ativista colombiana Ingrid Betancourt, estiveram no lançamen-to, realizado no espaço Three Sixty.

Meryl Streep discursou no

lançamento da fundação

O publicitário Nizan Guanaes; a vice-presidente da Rockfeller Foundation Heather Grady; a editora-chefe da Newsweek, Tina Brown, a atriz Meryl Streep; a ativista liberiana Leymah Gbowee e a apresentadora Robin Roberts

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JÁ VIROU TRADIÇÃO. Setembro é o mês mais verde-e-amarelo no agitado calendário de eventos anuais em Nova York. Poucos dias após os desfiles de Carlos Miele e Alexandre Herchcovitch, em sua Semana de Moda, a cidade recepcionaria, na segunda-feira 19, a noite de gala da Brazil Foundation. Desta vez, o evento beneficente teria como cenário a Biblioteca de Nova York, a mesma onde Carrie Bradshaw, personagem de Sarah Jessica Parker, quase se casa com mr. Big no filme Sex and the City.

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A ex-presidente do Chile Michelle Bachelet

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Na terça-feira 20, o publicitário Nizan Guanaes e sua mulher, Donata Meirelles, ofereceriam um jantar no Topo do Rockfeller Center, de onde se tem uma das vistas mais bonitas de Manhattan, com presença do ex-presidente americano Bill Clinton.

O primeiro dos eventos ligados à Africa Global, empresa de comunicação comanda-da por Nizan, aconteceu na terça-feira 13. Foi o lançamento da Women in the World Foundation (Fundação Mulheres no Mundo). Liderada por Tina Brown, editora-chefe da revista Newsweek e do site The Daily Beast, a organização pretende encon-trar caminhos para questões como o tráfico de mulheres e a posição feminina no merca-do de trabalho atual. “Dar suporte às mulhe-res é apoiar o desenvolvimento da economia mundial. Elas são líderes nas suas famílias, casas e empresas. O que faltam são soluções práticas e uma legislação específica. É nisso que queremos focar o trabalho da Women in the World Foundation”, comentou Nizan.

Assim como o empresário, personalida-des como a atriz Meryl Streep e as estilistas Diane von Furstenberg e Donna Karan se uniram à fundação. Essas e outras podero-sas mulheres, como a ativista liberiana Leymah Gbowee, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet e a ativista colombiana Ingrid Betancourt, estiveram no lançamen-to, realizado no espaço Three Sixty.

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