introdução ao desenho urbano

201
Introdução ao DESENHO URBANO no Processo de Planejamento f7 ({ Vicente dei Rio Projeto cultural ~ BRAS51NTER 5.4. W INDUSTRIA E COMERCIO

Upload: guilherme-fraga

Post on 18-Mar-2016

244 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Introdução ao desenho urbano

TRANSCRIPT

Page 1: Introdução ao desenho urbano

Introdução ao

DESENHO URBANOno Processo de Planejamento

f7 ({ Vicente dei Rio

Projeto cultural ~ BRAS51NTER 5.4.W INDUSTRIA E COMERCIO

Page 2: Introdução ao desenho urbano

Parte IOrigens e definição do desenho urbano

Capitulo 1Os anos 60: contexto para mudanças disciplinares

Capitulo 2Planejamento urbano x arquitetura:desenho urbano?

Capitulo 3Por uma definição de desenho urbano

Parte 11O processo e as metodologias

Capitulo 4Processo de planejamento e desenho urbano

Capitulo 5Uma proposta metodológica• Morfologia urbana• Análise visual• Percepção do meio ambiente• Comportamento ambiental

Capitulo 6Implementando o desenho urbano

Capitulo 7Agora. um caminho aberto

Anexo 1Urbanização. estruturação e crescimento de favela.Desenho urbano na favela da Maré. Rio de Janeiro

Anexo 2Desenho urbano e revitalização no bairro deFelis Point. Baltimore. EUA

Anexo 3Os projetos de estruturação urbanano processo de planejamento:experiências recentes no Rio de Janeiro

BibliografiaBibliografia comentada

Page 3: Introdução ao desenho urbano

I

13iy)r 0

Page 4: Introdução ao desenho urbano

no Processo de PlanejamentoVicente dei Rio

BRAS51NTER 5.4.INDÚSTRIA E COMERCIO

Page 5: Introdução ao desenho urbano

Dedico este trabalho à memória de meu pai, EdgardForte presença da sua austJncia

Carl Ruskin e Sérgio LordelloAmigos e urbanistas que também se foram cedo demais

"Na esperança de que nossa potencialidade criativa transformea vida urbana e seu espaço em fontes de prazer e liberdade"

Page 6: Introdução ao desenho urbano

no Processo de Planejamentot7 v1 Vicente dei Rio

5$

Projeto cultural ~ BRAS51NTER 5.4.W INDÚSTRIA E COMERCIO

Page 7: Introdução ao desenho urbano

INTRODUÇÃO AO DESENHO URBANONO PROCESSO DE PLANEJAMENTO©COPYRIGTH EDITORA PINI LTOA.Todos os direitos de reprodução ou tradução reservados pela Editora Pini Ltda.

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Dei Rio, Vicente, 1955-Introdução ao desenho urbano no processo de pla-

nejamento / Vicente dei Rio. - São Paulo: Pini,1990.

Bibliografia.ISBN 85-7266-031-3

CDD-711-711.4

1. Cidade: Urbanismo 711.42. Desenho Urbano: Urbanismo 7113. Planejamento urbano 711.44. Urbanismo 711

Edição de texto: Mariza PassosProdução gráfica: Carlos MazettiPaste-up: Carlos GomesCapa: Concepção - Vicente dei Rio; ilustração - Jorge BaptistaSecretaria editorial: Márcia Melkan

Editora Pini Ltda.Rua Anhaia. 964 - CEP O1130-900 São Paulo SPFone: 011 3352-6400- Fax 011 3224-0314 'Internet: www.piniweb.com - E-mail: [email protected]

lU edição6" tiragem: 1.000 exemplares, nov/20017" tiragem: 1.000 exemplares, fev/20038" tiragem: 1.000 exemplares, mai/2004

Page 8: Introdução ao desenho urbano

"Introdução ao Desenho Urbano" é um livro altamentesignificativo. Vicente dei Rio é um dos teóricos urbanos deponta no Brasil e sua pesquisa em desenho urbano começoua cobrir o abismo entre o planejamento urbano e o projetode arquitetura.

Talvez seja por ironia que uma das maiores conquistas doSéculo XX no campo urbano, a construção de Brasília, tenhaocorrido em um momento em que o desenho urbano comouma profissão ainda não era reconhecido em nenhum país.O projeto da capital deveria ter servido como início de umprocesso de desenvolvimento do conhecimento no campodo desenho urbano no Brasil, o que infelizmente não severificou em sua plenitude. Dentre asdiversas razões, várias inclusive abordadas neste trabalho,creio que as mais fortes tenham sido as limitações impostaspor um país em desenvolvimento, de rápida urbanização eesparsos recursos. A "outra face" de Brasília, as favelas,apontariam no final dos anos 60 e nos 70 como a maiortemática para o desenho urbano. Nesta questão, Vicente deIRio desenvolveu pesquisa pioneira, em seu trabalho deMestrado em Oxford alguns anos atrás, com um enfoquemorfológico de desenho urbano para melhorias nas favelase~~~~oo~OO~~M~~~~OO~de Janeiro. A partir daí, seu trabalho na Universidade Federaldo Rio de Janeiro tem sido reconhecido internacionalmente.

Este livro reconhece a cnse na Arquitetura Moderna e ocriticlsmo geral que o planejamento urbano tem atraído nãoapenas da mídia como do público em geral. Enfatizar aimportância da participação comunitária no processo deplanejamento nunca será demais e o autor mostra as diferençasentre as abordagens acadêmica e pragmática nesta questão.

O enfoque acadêmico no desenho urbano começou nos EUA,com as admiráveis pesquisas de Kevin Lynch há mais de três

Apresentação

décadas e, na Europa, há uns 20 anos. Vicente dei Rioenfatiza que o desenho urbano não é só umatemática visual, preocupada com a forma tridimensionalda Cidade, mas que eXistem outros fatores significativos,que incluem também a compreensão dos aspectosrelacionados ao desenvolvimento imobiliário.

A questão principal abordada neste trabalho é a dificuldadede concordância sobre uma definição precisa do realsignifl:cado do desenho urbano. Muitos autores nos EUA,Europa e América Latina propõem definições que, às vezes,se opõem mas o autor atesta-a com um quadro maiscompreensível e global. São discutidos o processo e váriasmetodologias, como as diretrizes de desenho urbano,avaliações de performance, zoneamentos de incentivos,entre outros. Entretanto, o aspecto mais importante destetrabalho consiste nas metodologias que embasarão aspropostas, e aqui o autor sugere sua própria abordagemmetodológica cobrindo a análise Visual, percepção ambiental,estudos compo,rtamentals, além das interpretaçõesmorfológicas. E apenas através de tão profundasinvestigações que estratégias racionais de ocupação territorialpodem ser propostas de uma maneira lógica; aquiincluindo-se as estruturas espaciais, os sistemas demovimento, as atividades suporte e até a controvertidalegislação de incentivos.

As imensas dificuldades enfrentadas pelas grandes áreasmetropolitanas brasileiras, resultantes de seu crescimentoexplosivo na última metade do Século XX só podem serresolvidas a partir de uma atitude para com o planejamentourbano diversa da prevalente até hoje. Para tanto, Vicentedei Rio começou a nos proporcionar chaves importantes eé por ISto que este livro deve ser particularmente visto comouma obra de referência definitiva.

*-Co-autor de "Concepts of Urban Design" (Academy Editions, Londres, 1984).- Ex-Diretor da Faculdade de Arquitetura, Universidade de Sheffield, Inglaterra.- Professor e Diretor do Centro para Desenho Urbano, Universidade de Cincinnati, EUA.

Page 9: Introdução ao desenho urbano
Page 10: Introdução ao desenho urbano

Importa afirmar aqui que a agradável e compensatória leituradeste livro nos remete à conclusão de que este extraordináriotrabalho intelectual consagra seu autor, Vicente dei Rio, comoum dos mais destacados pensadores na área do DesenhoUrbano, no Brasil. Constitui a mais gratificante revisitaçãodos mestres que empolgaram as três últimas décadas embusca de um melhor entendimento da cidade como o lugardas coisas da vida humana. Nada melhor do que fruir ocaminho proposto, através do diálogo dos mestres, na catarseque leva à fundamentação das Idéias de Vicente dei Rio,relativamente à definição desse campo disciplinar, suametodologia e sua implementação. Por pura homenagema todas essas cabeças, bússolas inexoráveis de todas ascrises, citamos muitas delas. Nos anos 60: Kevin Lynch,Jane Jacobs, Gordon Cullen, Bernard Rodowsky, PaulDavidoff, Fraçoise Choay, Christopher Alexander, RobertVenturi, Aldo Rossi, Herbert Gans, Edmund Bacon e AmosRapoport. Nos anos 70: Robert Goodman, John Turner,Manuel Castel/s, Charles Jencks, Christian Norberg Schulz,E. F Schumacher, Peter Blake, Rob Krier, Leon Krier e ColinRowe. E, nos anos 80: Kenneth Frampton, Jonathan Barnett,Donald Appleyard, Allan Jacobs e David Gosling. Além destes,não poderíamos deixar de mencionar os demais autoresbrasileiros citados por Vicente dei Rio ao configurar um quadrocompleto de trabalho, através de suas teorias, práticas econtribuições ao campo das disciplinas do Desenho Urbano.

Vicente dei Rio procura o seu próprio lugar neste contexto.E quando afirma que "o Desenho Urbano é o campodisciplinar que trata a dimensão físico-ambiental da cidade,enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemasde atividades que interagem com a população, através desuas vivências, percepções e ações cotidianas", nos damosconta de que tal definição pressupõe uma longa experiênciateórica e prática, e uma obsessiva vontade e competênciana pesquisa, como este livro, um livro aberto, aberto aodebate.

Seu tema central é a sl!peração do "gap" entre PlanejamentoUrbano e Arquitetura, onde se deve situar o Desenho Urbano,porém, sem sucumbir à distorção de se procurar, com isso,

Apresentação

onde termina o primeiro e onde começa o segundo. O queimporta é que "o Desenho Urbano deve ser encarado comouma atividade de Planejamento, cujos objetivos se reportamà qualidade físico-ambiental das cidades". Por isso, Vicentedei Rio trata de bem localizar o campo de atuação acadêmicae profissional do Desenho Urbano e seu consequente papelno processo de controle do desenvolvimento.

Daí a importância do livro, que trata das MetodologlasPossíveis, convocando a esfera acadêmica a bem organizarsuas disciplinas e cursos, onde a qualidade físico-espaClaldas cidades reivindica a qualidade do ensino e a excelênciauniversitána. É que o corpo teórico do Desenho Urbanonecessita constantemente de alimentar-se, através de umcentro de produção de conhecimento, caminho seguro parao prestígio de qualquer atividade profissional.

Por outro lado, as políticas, os planos, projetos e programasque caracterizam sua implementação são examinados aqUi;à luz das estruturas institucionais, e daquilo que já seconseguiu implantar no Brasil, ao nível da legislação e daprática profissional. É oportuno, pois, ressaltar que a novaConstituição Brasileira (7988) dedica, pela primeira vez, doiscapítulos às políticas urbana e de meio ambiente. Trata-sede uma nova etapa para o Desenho Urbano no Brasil E odesafio maiór vincula-se aos conceitos básicos que informamnossa Constituição, como cidadania, participação dacomunidade, sentido social da propriedade e tantos outros.

Finalmente, se Charles Jencks e Robert Goodman tiveramrazão ao denunciar - o primeiro, a morte da ArquiteturaModerna, simbolizada na implosão do conjunto residencialPruitt Igoe, em Saint Louis, 7972, obra do arquiteto MinoruYamasakl;' e o segundo, o cansaço do planejamento urbano,através de seu livro "After the Planners, What?" (7977)-é tempo de concluir-se que vivemos um período de buscade novos caminhos. Este livro constitui um deles, comocontnbuição definitiva ao Desenho Urbano no Brasil.

Page 11: Introdução ao desenho urbano
Page 12: Introdução ao desenho urbano

Prefácio

Plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro. Des-cobri que o mais difícil dos ideais do Homem é, sem quererminimizar a importância da procriaçâo, parir um livro ... e istotambém implica em publicá-Io, uma tarefa quase tão árduanos dias de hoje, e ficar torcendo para que alcance o públicoleitor. Mas, sem dúvida, o processo de um escritor que sepretende técnico é longo e doloroso; dói conseguir definirtoda a temática a ser abordada, dói ter de se Impor limitesa todo o momento, dói saber que o resultado fica muitoaquém das potencialidades e, sem pretensões, da perfeição.

Neste trabalho trato do Desenho Urbano, suas origens edefinições, teonas e metodologlas básicas, papel e possibi-lidades no processo de planejamento das cidades. Acimade tudo é um texto com objetivos acadêmicos, . voltado paraos profissionais de arquitetura e urbanismo, principalmenteos estudantes, tão carentes de livros-texto para pesqUisa.Acredito que esta temática se faz necessána, por dois moti-vos principaiS, no momento que o pais atravessa.

Primeiro, porque em nosso pais já se tornou uma regra (quecomo toda regra possui algumas poucas exceções) a condi-ção de caos ambiental em que vivem as nossas cidades.Como se o subproduto do progresso, tão positivistamentetransformado em moto nacionalista, implicasse necessana-mente em um despreparo e desprezo quase total das estru-turas urbanas para o cotidiano.

Minha cidade, que nos "bons" tempos foi a cantada cidademaravilhosa, há muito deixou de sê-Io e tão bem representaesta situação, repetida em maior ou menor escala por todoo país. Se a construção do Maracanã (o "maior estádio do

mundo") não contemplou preVisão de estacionamentos, secasas são substituídas por espigões Ignorando-se os Impac-tos nas estruturas, se o desenvolvimento põe em nsco asatrações turísticas e até os nossos próprios valores culturais,se nosso cotidiano é incomodado pela poluição visual oupor calçadas e áreas públicas tratadas como terra-de-mn-guém, se a nova iluminação da pr3la e o novo gradeamentodos postos de salvamento em Copacabana estão mais parapenitenciána, ou se o simples andar é agora uma torturaa evitar, há "algo no ar além dos aviões de carreira". Evidente-mente, em pnmeira instânCia estão os motivos estruturais,gerados a partir de uma complexa situação política e econô-mica, mas os reflexos físico-ambientais que nós, cidadãos,sentimos em nosso dla-a-dia, representados pelos conflitossimples acima, demonstram que também eXiste muito des-preparo e incompetência do poder público e de nossa própriaprofissãO.

Em segundo lugar, porque vivemos um período de rede fi-nições na vida do país, prinCipalmente no campo da políticae da partiCipação cidadã, que já têm se rebatido nos planose papéis acadêmicos e profissionaiS. Uma destas implicaçõesé que o Desenho Urbano vem sendo tratado como uma novamoda anglo-saxã, como já o foi a expressão PlanejamentoUrbano. Se, por um lado, ISto pode ser positivo no sentidoda popularizaçâo de seus conteúdos, potenciais e objetivos,por outro pode ter consequênclas negativas, pOIS muitos seutilizam da expressão para mascarar práticas de "arquiteturagrande" ou como substituto do atualmente impopular Plane-jamento Urbano. EXiste, também, o problema gerado pelasconotações que "desenho" possui popularmente, tão maislimitadas que o Inglês "deslgn ", de onde se originou a expres-são. Nesta problemática cabe destacar a penetração e a im-

Page 13: Introdução ao desenho urbano

portância alcançadas pelos resultados do I e li semináriosde Desenho Urbano, realizados em 7984 e 7986 pela Univer-sidade de Brasília.

Respondendo a estes dois apelos, neste trabalho tento de-monstrar minha certeza do Desenho Urbano como um cam-po disciplinar que se expressa como especialização profis-sional, assumindo entre nós, arquitetos, um lugar especial.É um campo típico para nossa atuação pois trata a qualidadeda dimensão físico-ambiental das cidades, talvez o objetivomaior de nossa profissão.

Apesar disto, não acho que deva ser campo exclusivo dosarquitetos pois nele utilizam-se dimensões de análise e deatuação antes especificas de outras disciplinas, como as Ciên-cias Sociais (Teorias da Percepção e do Comportamento,por exemplo) ou a Geografia (estudos de Modologia Urbana,por exemplo), entre outras. O Desenho Urbano deve incluirprofissionais de outras áreas; a complexidade do fato urbanoeVidentemente faz com que sua análise e administração se-jam necessanamente multidlsclplinar Aliás, como já obser-vava Kevin L YNCH há anos, nós, arquitetos, sabemos muitopouco da vivêncla dos ambientes que nós próprios projeta-mos, principalmente os de escala urbana.

Entendemos a prática do Desenho Urbano como processogerenclador e conformador do ambiente urbano, como vere-mos, e ficamos longe de indicar modelos "certos" e paradig-mas, algo sempre buscado pelas expectativas de nossa cultu-ra arquitetõnica. Ao contrário, o que são mostrados são cami-nhos para se gerar o processo, caminhos de análise e cami-nhos de prática.

Portanto, o escopo que defini/TIos para este trabalho, tratandopossibilidades e metodologlas ao Desenho Urbano, acabougerando pretensões bastante amplas. Inúmeras fontes foramconsultadas e o leitor poderá faCilmente fazer uso das referên-cias bibliográficas para maior desenvolvimento de seus estu-dos e projetos. Evidentemente, não se pretendeu esgotaro tema (que, aliás por definição, é aberto a constantes reavalia-ções) mas abnr possibilidades e definir campos de pesqUisa.

O livro está organizado em duas partes pnncipals. Na Primei-ra Parte, a ilustração de abertura mostra o magnífico maneja-mento urbanístico da Praça de São Pedro, por BERNINI, emmeados do século 77, representando o Início de uma cons-cientização da importância da qualidade físico-espaclal nas

cidades. Nesta parte são tratadas as origens e definiçõespossíveis do Desenho Urbano, sempre entendido em umcontexto histórico e como integrante do processo de Planeja-mento Urbano. Veremos como e porquê surgiu o campodisciplinar a partir de todo um contexto crítico propício nosanos 60, quals as suas características básicas para tentarformar um corpo conceitual coerente em torno a uma defini-ção de Desenho Urbano que responda ao contexto brasileiro.

A ilustração de abertura da Segunda Parte do livro, o conjuntode King Circus e Roval Crescent em Bath, projetos de JohnWOOD pai e filho em meados do século 78, constitui-sedas primeiras atividades imobiliánas como as conhecemose representa a importância do designer lograr unir dimensõesàs vezes conflitantes na produção da cidade. Nesta partediscutimos o papel do Desenho Urbano no processo de Plane-jamento e propomos um enfoque metodológico possível deinvestigação/atuação em nosso contexto. Este enfoque partede quatro categonas complementares às que o próprio Plane-jamento Urbano nos legou; são discutidos os conceitos emetodologias básicos das categorias de "modologia urbana ","análise visual", "percepção ambiental" e "comportamentoambiental".

A Morfologia Urbana é uma categoria com origens na geo-grafi8 e desenvolvimento com base pnnclpal na Itáli8 e França.Mostramos como os trabalhos de sITTE, A YMONINO, ROs-SI, DE ARCE, PANERAI, CAsTEX e dos irmãos KRIER, paracitar apenas alguns, foram Instrumentais para o desenvol-vimento de seus conceitos e metodologlas de analisar a formaurbana como lógica evolutiva das forças SOCiaiS. Veremoscomo esta categoria nos mostra diversas temáticas extrema-mente válidas para o estudo da cidade como um conjuntocoerente de elementos, CUja existênCia, papel estrutural eInter-relações são razões importantes na qualidade das for-mas urbanas.

O trabalho de Gordon CULLEN serve de base prinCipal paraa categona de Análise Visual e sua identificação de qualida-des VisuaiS da paisagem urbana, profundamente enraizadasna experiênCia topo lógica do observador em movimento. Sãodestacadas qualidades como complexidade e diversidade de"inputs" perceptivos nos percursos em trabalhos de gentecomo RAPOPORT e LOZANO Comentados também os estu-dos de "gestalt" urbana, representados por TRlEB e KOHLs-DORF, assim como as possibilidades de aplicação da sem/ó-tica a níveis arquitetõnico e urbano por autores como BAR-THEs, JENCKs e VENTUR/.

Page 14: Introdução ao desenho urbano

A Percepção Urbana, oriunda da psicologia, trata da nossaexperiência urbana como atividade perceptiva e do processode cognição como um momento vital para a compreensãoe retenção das imagens estruturadoras desta experiência.Sendo um dos campos de estudo mais profícuos para o Dese-nho 'Urbano, comentamos o trabalho pioneiro de KevinL YNCH, fundamentado em PIAGET e GIBSON. assim comode outros pesquisadores importantes como APPLEYARD,BAIU Y, GOODEY, CANTER e LEE. Aqui também falamossobre a análise mais fenomenológica do espaço desenvolvidapor gente como NORBERG-SCHUL TZ e TUAN.

A quarta e última categona indicada, a chamada Comporta-mento Ambiental, também origina-se na psicologiB, masno chamado "behaviorismo", ou comportamental/smo. Nes-te caso, parte-se do princípio que o meio ambiente construídoinfluenCia as nossas atitudes, ações e decisões, sendo seuestudo, portanto, extremamente importante para a promoçãode níveis adequados de satisfação da população em seu coti-diano. Importantes trabalhos são comentados, como os dospioneiros SKINNER, SOMMER e HAU, e os de seus segui-dores como LANG, APPLEYARD, ZEISEL, GEHL e PFEIFFER.

Em seguida, são discutidas algumas temáticas de DesenhoUrbano para sua implementação se tonal no processo de Pla-nejamento, e para sua adoção como defil71doras de critériosde qualidade urbana a se perseguir nos planos e programas.Para tanto, discutimos alguns instrumentos de implemen-tação ainda pouco conhecidos em nosso país, mas com gran-de potencial, como o "zoneamento de incentivos ': os "paco-tes de desenho", e o "solo cnado". Finalmente, traçamosbreves comentános sobre os caminhos mais eVidentes parao cuidado com a qualidade físico-ambiental urbana e futurasinvestigações e desenvolvimento do campo.

Em anexo, os três estudos de caso apresentados, em quetive participação direta, nos aUXiliam na avaliBção das discus-sões conceituals e metodológicas anteriores e de sua aplicabi-lidade. Primeiro, comentqmos um caso de intervenção naFavela da Maré, Rio, discutindo conceitos é a elaboraçãode uma proposta para a urbanização do assentamento e cons-trução de novas áreas habitacionals conjugadas, alternativaà do BNH. O segundo estudo trata de proposta adotada eem implantação para a revitalização de área nbeirinha embairro histórico de Baltimore, EUA. Finalmente, discutimosos chamados Projetos de Estruturação Urbana da prefeiturado Rio de Janeiro, sua assumida atuação em Desenho Urba-no, a nível de suas características, possibilidades e limitações.

Além de uma completa bibliografia, fazemos breves comen-tários específicos sobre alguns títulos que indico como bási-cos para o aprofundamento dos conhecimentos neste campodisciplinar. Sempre que possível, indicamos edições brasi-leiras e aquelas de fácil acesso ao leitor.

As discussões teóricas. conceitos e métodos discutidos nolivro são permeados por exemplos concretos e ilustradosda melhor maneira possível. Embora sejam feitas referênciasà produção brasileira, principalmente a teórica, ao longo dotexto, permiti-me não incluir no escopo deste trabalho umaavaliação completa das experiências c!assificáveis no campodo Desenho Urbano no Brasil. Este não era nosso objetivoe para esta tarefa pretendo estar instrumentalizando o leitor.

Numa época em que estamos cada vez mais conscientesdos baixos níveiS de qualidade de vida das grandes Cidadese, com certeza, da baixa qualidade físico-ambiental que invadenosso cotidiBno, o Desenho Urbano sem dúvida possui impor-tante papel a cumprir. Espero que esta publicação colaboreno sentido de melhor definir como podemos responder aeste desafio.

Este trabalho se originou de uma tese, elaborada em 7989,para inscrição 'em concurso de professor titular em planeja-mento urbano na FAU/UFRJ. Por se tratar de cadeira emcurso de Arquitetura, acreditei que seria propício uma mono-grafia sobre o Desenho Urbano e acabei me entusiasmandocom o texto resultante; incentivado pelos colegas, decidireestruturá-Io, preparando-o para ser acessível ao seu princi-paj público potenciBl.

Para o leitor normal, os agradecimentos sempre correm onsco de ser uma listagem enfadonha e inútil. Para o escntor,é quando fazemos um mínimo de justiça aos tantos quenos incentivam e ajudam, na vida, na profissão e na escrita.

A meu pai, a quem dedico este trabalho, e minha mãe tenhoa agradecer o amor e o constante incentivo às minhas ativida-des. A Monica e Adnana, minhas irmãs, ao amor Escorpiãoda Valéna, a Evelin, Alessandra, Marcio, Glauco, David, MlhaiPaschoal e meus amigos mais chegados, obrigado pelo cari-nho e paciência com que aguentaram meu emburrado pro-cesso de criação. Aos meus alunos Jonathan (obrigado pelasfotos), Marcelo, Christina, Marco, Tarcisio, GUilherme, N/lene,Francl; Claudia, Lu, que representam tantos outros, forçamaior por trás da academia. .

Page 15: Introdução ao desenho urbano

o incentivo e a opinião de vários colegas me foram inestimá-veis. Agradeço principalmente a Luiz Cartos Toledo, amigodo peito e urbanista, um dos meus iniciadores,' quisera terconsegUido corresponder completamente ao seu interessepor minhas idéias aprimorando este livro. Agradecimentostambém são devidos ao apoio sempre presente de meu orien-tador Prof Dr. Lauro Birkholz (FAUlUSP) e aos comentáriosdos amigos Milton Feferman (FAUIUFRJ), Humberto Yamaki(DAUlUEU Ana Lucia Nadalutti e Vera Tângari. Agradeçoao Departamento de Planejamento de Arquitetura e à FAUIUFRJ, pelo apoio às minhas pesquisas.

Finalmente, agradeço aos arquitetos e professores DavidGosllng e Miguel Pereira, por suas gentis palavras de apresen-taçâo, ao colega Jorge Baptista Azevedo por emprestar oseu dom de ilustrador, e ao empenho do pessoal da PINI,principalmente ao Mário. Cabe um agradecimento todo espe-cial à BRA SSIN TER, nas pessoas de seu presIdente JoséRoberto Torres e do assessor de diretona Ary Frederico TorresNeto, pelo apoio cultural a esta publicação.

Page 16: Introdução ao desenho urbano

índice

Capftulo 1 - Os anos 60: contexto para mudanças disciplinaresCapftulo 2 - Planejamento urbano x arquitetura: desenho urbano?Capftulo 3 - Por uma definição de desenho urbano

Capftulo 4 - Processo de planejamento e desenho urbanoCapftulo 5 - Uma proposta metodológica

• Morfologia urbana• Análise visual• Percepção do meio ambiente• Comportamento ambiental

Capftulo 6 - Implementando o desenho urbanoCapftulo 7 - Agora, um caminho aberto

576770869296

107117

Anexo 1 - Urbanização, estruturação e crescimento de favela:Desenho urbano na favela da Maré, Rio de Janeiro 123

Anexo 2 - Desenho urbano e revitalização no bairro de Fells Point,Baltimore, EUA 145

Anexo 3 - Os projetos de estruturação urbana no processode planejamento: experiências recentes no Rio de Janeiro 157

Bibliografia 171Bibliografia comentada 183Créditos das ilustrações 195

Page 17: Introdução ao desenho urbano
Page 18: Introdução ao desenho urbano

Parte I

Origens e definiçãodo desenho urbano

Page 19: Introdução ao desenho urbano
Page 20: Introdução ao desenho urbano

Capítulo 1Os anos 60: contexto para mudanças disciplinares

A década de 60 via surgir as primeiras críticas e protestosgeneralizados sobre a qualidade do ambiente urbano quevinha sendo produzido, tanto pelo poder público quanto pelainiciativa privada. Criticava-se tanto o impacto dos empreendi-mentos sobre o meio ambiente e a vida das comunidades,quanto a própria qualidade dos espaços urbanos e da arquite-tura. Essas críticas surgiram, principalmente, da populaçãoafetada, além de pesquisadores e acadêmicos de ponta eda imprensa em geral.

Vamos destacar as cinco questões básicas na origem dosdebates e que, no nosso entender, passariam a caracterizara produção de conhecimento dos anos 60 e 70, como umrepensar das formas de como o próprio desenvolvimentovinha ocorrendo até então, num primeiro momento, nos paí-ses do chamado Primeiro Mundo. Claro está que este "repen-sar humanístico" deu-se, podemos dizer, em paralelo e inde-pendente ao desenvolvimento normal de campos de conheci-mento ditos "científicos", como a própria informática. Istolevaria a novas ideologias, novas posturas e valores, fortale-cendo, inclusive, as Ciências Sociais com enfoques mais hu-manísticos, e outras disciplinas com enfoques mais "pé nochão", como a microeconomia e a educação básica. Até mes-mo novas disciplinas e campos de conhecimento viriam aser abertos, facilitando o aparecimento de novas profissões.

Foi a partir destas atitudes críticas, dos novos valores surgidose da necessidade de novas categorias de análise e de novosinstrumentos para o controle do desenvolvimento urbano,que o Desenho Urbano se consolidaria enquanto campo deconhecimento e, para muitos, profissão específica.

A seguir, sem a pretensão de esgotar o assunto, destaca-remos os fatos e trabalhos mais significativos e influentes

para a consolidação do Desenho Urbano e seu desenvol-vimento acadêmico nos diversos centros de pesquisa e cur-sos de pós-graduação. Organizamos esta discussão em tornodas cinco questões básicas na origem dos debates sobrea qualidade do meio ambiente.

Foi nos anos 60 que, pela primeira vez, intensas e violentasondas de protesto enfrentavam as intervenções urbanísticase os programas de renovação urbana das grandes cidades(fig. 1). Essas políticas públicas haviam sido iniciadas, outomado corpo, a partir da 1I Grande Guerra Mundial e visavama reposição completa de grandes áreas do tecido urbanoconsolidado, principalmente aquelas dos antigos centros que,se não haviam sido bombardeados, eram considerados "dete-riorados" ou em decadência.

Page 21: Introdução ao desenho urbano

Em muitos casos, aqueles de áreas grandemente afetadaspela guerra, como nas cidades de Coventry (Inglaterra). Rot-terdam (Holanda) e Berlin (Alemanha). para citar apenas oscasos mais famosos, esta atitude se justificava face à escalada destruição. Os novos planos e projetos seriam sempredesenvolvidos segundo os novos paradigmas e preceitos dosCongressos de Arquitetura Moderna e da Carta de Atenas.

É muito demonstrativa a observação do famoso urbanistabritânico Sir Percy JOHNSON-MARSHALL, responsável porinúmeros esforços de reconstrução e um dos mais famososurbanistas na Grã-Bretanha, quanto à área de entorno dahistórica Catedral Saint Paul, em Londres. A área havia sofridointenso bombardeio e, segundo o urbanista, " .. apesar dadevastação, se mantiveram de pé um número suficiente deedificações como que para criar problemas na hora de reorga-nizar a estrutura urbana" (JOHNSON-MARSHALL 1986:124) Para ele, talvez fosse melhor se as bombas tivessemconseguido acabar com tudo para possibilitar o livre exercíciodo urbanismo modernista (fig. 2).

Nos países do Primeiro Mundo, principalmente nos EUA,este tipo de ideologia e de modo de atuação se aplicariaàs políticas públicas para com as áreas centrais, tanto habita-cionais quanto comerciais, que se encontrassem em situaçãode esvaziamento populacional e econõmico. Esvaziamentoeste que, na maioria das vezes, não era causado pelas caracte-rísticas físico-ambientais das áreas mas, de um lado, pelaspróprias políticas regionais vigentes e de outro, pelos novosmodos de vida e paradigmas buscados pela classe média,insuflados pela sociedade de consumo. Seriam as novas con-dições "dignas" de moradia ofertadas pelo subúrbio, as cida-des-novas onde tudo era "corretamente planejado para nossoconforto", as migrações das grandes empresas para maioreficácia de sua atuação e de sua imagem, a nova formade comprar dos" shopping-eenters", entre outros fatores (fig.3). Como consequência, as áreas centrais se deterioraramfísica, econômica e socialmente; os grupos mais abastadosse instalariam em suas novas casas de subúrbiO, o comércioe as atividades culturais perseguiram seu mercado, mudandopara os subúrbios, os imóveis das áreas centrais passariama apresentar alto índice de deterioro e abandono, os gruposmenos favorecidos herdariam estas condições e os cortiçose guetos se formariam.

Grandes intervenções do Poder Público, ou por ele apoiadas,buscariam adequar estas áreas centrais às novas funçõespr conizadas pelos planos diretores e políticas de renovação,

Figura 2 -As linhas modernistas de projeto modelo de renovaçãonos esforços do pós-guerra; centro multiuso Barbican, Londres,Chamberlain-Powell & Bon, 1954

Figura 3 - O shopping-center regional e novos padrões deocupação nos subúrbios norte-americanos; incompatibilidademorfológica com o urbano tradicional em Stonestown, SanFrancisco

de forma a viabilizar os mercados imobiliário e financeiro.Impunham-se CBDs ("Central Business Districts", distritoscentrais de negócios). imponentes e grandiosos sistemasviários, espia nadas monumentais, grandes conjuntos habita-cionais em periferias mas com condições mais "dignas",shopping-centers etc. (figs. 4 e 5). As cidades eram entãovistas como simples problemas de funcionamento, maximi-zação de investimentos e viabilização da reprodução e acumu-lação do capital.

Importantes aspectos seriam ignorados nestes processos,tais como os valores da população e os intensos e lonÇ)os

Page 22: Introdução ao desenho urbano

:.;1Figura 4 - Conjuntos residenclals para programas de renovação'urbana e o paradigma corbusiano; Stuvvesant Town e PeterCooper Village, Nova lorque, 1943

.:-:~.~\,I'"..,~~

• 10Figura 5 . Os projetos de renovação e suas vias expressas comobarreiras e o abandono do potencial de lazer da margem dorio, hoje uma prioridade; Cincinati, EUA

investimentos sociais e econômicos das comunidades e doindivíduo no seu ambiente habitacional. As característicassimplistas e, não raro, desumanas dos ambientes então gera-dos desconsideravam a complexidade da vida urbana, de

patrimônio histórico, da integração e inter-relaçã<J entre asfunções e atividades humanas, a importância das redes so-ciais estabelecidas, dos valores afetivos e de tantos outrosfatores vitais para o cidadão.

Nos EUA. por exemplo, nos anos 50 aprovou-se legislaçãopassando a permitir que os governos locais adquirissem com-pulsoriamente, ou por outros meios convincentes, os imóveisconsiderados em condições de abandono, revendendo-os noestado ou após reurbanizações e melhorias no entorno, aempreendedores que se dispusessem a construir algo deacordo com o que o Poder Público achasse "desejável" paraa cidade. Seus objetivos sempre implicariam em prioridadepara a dinamização da economia formal. o incremento dosimpostos, e os lucros financeiros imediatistas Estas políticasseriam conhecidas como do "bulldozer" (trator) ou "urbanremoval" (remoção urbana). ou até "negro removal" (remo-ção de negros), por seu viés preconceituoso e elitista (CAS-TELLS 1971, GOODMAN 1971)

Por todo mundo iriam implementar-se políticas e programasdo tipo "arrasa quarteirão", inclusive no Brasil. O Rio foipalco de diversos deles, inaugurados por Pereira Passos navirada do século, para serem retomados depois, na épocado milagre. Ainda hoje sentem-se os efeitos de intervençõesmodernistas traumatizantes, como as da esplanada de SantoAntônio (Av. Chile e adjacências). do Catumbi, do Estácioe da Cidade Nova, além das violentas remoções de favelas(figs. 6 e 7) Alguns destes casos estão bem cobertos porliteratura existente no Brasil (PERLMAN 1976, VALLADARES1978, SANtOS 1981). Hoje ainda ronda o fantasma destaideologia, que se utiliza do discurso de ser o "remédio paraas doenças patológicas dos centros decadentes", como nocaso recente de São Paulo e o prefeito Jânio Quadros.

Fazendo frente a esta situação e às violentas remoções degrupos de baixa-renda e minorias étnicas, surgiram ondasde protesto que, não raro, acabavam em "lutas urbanas"(riots) de violentas proporções e base racial. São conhecidosos casos das cidades americanas de Baltimore, Newark eDetroit, em meados dos anos 60 (GOODMAN 1971, scon1971) Os estudos acadêmicos, a opinião pública, as campa-nhas da imprensa e o apoio dos próprios técnicos mais cons-cientes terminaram por obter apoio político suficiente paraalterações nos programas de renovação irrestrita e nas inter-venções urbanísticas de cunho meramente funcionalista.

Page 23: Introdução ao desenho urbano

Poderíamos, sem dúvida, destacar como pioneiro nesta cons-cientização o livro da jornalista americana Jane JACOBS(1961) em que critica profundamente as ideologias dos plane-jadores de então, seu distanciamento do mundo real e oproduto de seus trabalhos. Ela destacava fatores e qualidadesurbanas totalmente ignorados pelos planos modernos, comoa variedade de funções e suas inter-relações, a importãncia

de haver intensas atividades nos espaços públicos para maiorsegurança, e as limitações da ordem visual. Segundo ela,"a pseudociência do planejamento urbano e sua companhei-ra, a arte do city design, ainda não romperam o confortosuperficial de desejos, superstições familiares, supersimplifi-cações e símbolos, e não iniciaram a aventura de provaro mundo real" (JACOBS 1961. 23).

) r~-·-j,·.A~t?, Iç--'nnr-'\l,' './., ~J~ ,.., ~.e_"_ \\ I I \\':~ r~ l!)~ :I :~:':~~~::. . -

Figura 6 - Projeto de reurbanização da área resultante do desmonte do Morro de Santo Ant6nio, centro do Rio; Affonso E. Reidy, 1948

Page 24: Introdução ao desenho urbano

Também foram de grande importância os trabalhos geradospelas Ciências Sociais, como os dos sociólogos HerbertGANS (1968) e Suzanne KELLER (1968), e da antropólogaLisa PEATTIE (1972). O primeiro levantava a incompatibilidadeentre os planos urbanísticos e os interesses das populaçõesdiretamente atingidas, enquanto as duas últimas desenvol-veram pesquisas comprovando a importância dos valores edas relações sociais para os bairros de baixa renda. No casobrasileiro foram fundamentais as pesquisas pioneiras dePERLMAN (1976), que estudou a inadequação das políticasde remoção de favelas no Rio, e de VAL.LADARES (1978),que demonstrou a falência dos programas de financiamento

e dos conjuntos habitacionais, com a maioria dos mutuáriosrepassando seu imóvel para outra família e retornando àsfavelas.

Novas posturas profissionais também viriam a ser assumidas,gerando novas formas de atuação, como a do citado RobertGOODMAN e sua postura anárquica, e de Paul DAVIDOFF(1965). Este lançou o conceito de "advocacy planning" (plane-jamento advocatício ou advocacional) que se tornaria muitopopular nos EUA, onde até hoje técnicos perfilam-se ao ladoou são contratados por comunidades atingidas por um projetoou plano para que advoguem soluções alternativas.

_. .~':Figura 7 - Ambiente gerado pela legislação urbanística na Esplanada (ex-morro) de Santo Ant6nio, Rio, inspirada noprojeto de Reidy: monofuncionalidade, conflitos morfológicos e grandes dist/1ncias para o pedestre

Page 25: Introdução ao desenho urbano

Na década de 60 o mundo despertou para a Questão dopatrimônio histórico, para os valores tradicionais, a produçãovernacular, as culturas alternativas e uma maior consciênciados excessos do consumismo. Talvez seja possível afirmarQue se tratou de um ressurgimento do Humanismo, tomandoo termo em suas conotações mais amplas e positivas. Paraas áreas da Arquitetura e do Urbanismo destacaríamos algu-mas vertentes de pensamento na produção de conhecimentoe de influência no desenvolvimento destas disciplinas.

Nesta Questão, foram muito influentes os trabalhos de Gor-don CULLEN (1961) e Ivor DE WOLFE (1963l. representativosdo renascimento do interesse público e profissional pelo am-biente construido vernacular. O vernacular define-se comoa linguagem, técnicas e valores transmitidos tradicionalmentena cultura de um determinado grupo social, sem sofrer maio-res influências externas. Os dois autores se inspiram naspitorescas cidades antigas e nas belezas geradas pelo Urba-nismo "espontãneo" vernacular (fig. 8). Ainda nesta linha,mas tomando outra dimensão de análise, menos visual emais "objetiva", encontram-se os trabalhos Que tratam da"morfologia urbana", Que estuda o tecido urbano e seuselementos formadores, através de sua evolução, transfor-mações, inter-relações e dos processos sociais Que os gera-ram. Estas teorias serão tratadas com maiores detalhes nocapitulo sobre metodologias.

Pelo lado norte-americano também pesQuisava-se e publica-va-se sobre o vernacular, a dimensão cultural e a antropo-lógica do ambiente construído. Obteve grande popularidade,em meados dos anos 60, a exposição (lIVro de mesmo nome)"Arquitetura Sem Arquitetos", com fotos de exemplos detodo o mundo, organizada por Bernard RUDOWSKY (1964)no Museu de Arte Moderna de Nova 10rQue (de 9/11/64 a7/2165). Esta temática seria retomada em dois trabalhos fun-damentais do arquiteto e antropólogo Amos RAPOPORT(1967, 1969l. ao estudar as relações entre o ambiente cons-truído e a cultura, chamando a atenção para valores comoa complexidade de significados, as mensagens visuais experi-mentadas pelo cidadão e a importãncia das ricas conotaçõesdos elementos arQuitetônicos vernaculares e indígenas. Maistarde, o mesmo pesquisador publicaria um dos trabalhos maisinfluentes e citados em Desenho Urbano, ainda sobre osaspectos humanos e antropológicos da forma urbana (RAPO-PORT 1977) (fig. 9).

Figura 8 -San Gigminiano, a cidade das torres na Itália, retrataa redescoberta das qualidades e belezas da arquiteturavernacular e das cidades "não-planejadas"

O interesse nas mensagens arQuitetônicas e suas diferentesleituras fomentou o desenvolvimento dos estudos de semio-logia, ou semiótica, aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo.A semiologia estuda todos os fenômenos de comunicaçãocomo se fossem um sistema de símbolos, ou seja, umalinguagem. Um grande modismo do fim dos anos 60 e iníciodos 70, na Itália e França, revelou-se depois limitado enquantomaiores desenvolvimentos de sua praticidade. Quanto à suaaplicação em nossa área de estudos e suas obras mais impor-tantes, comentaremos durante nossa proposta de procedi-mentos metodológicos.

Nesta dimensão analítica do simbólico, destacamos os con-trovertidos e influentes livros do arquiteto americano RobertVENTURI e colaboradores (1966, 1977). Eles lidam com osaspectos contraditórios e complexos das mensagens arQuite-tônicas, colocando em evidência seus significados mais popu-lares ditos "cafonas" ou "bregas", utilizando-se do termocontemporâneo Seus livros e seus projetos tornar-se-iamreferências obrigatórias para a Arquitetura Pós-Moderna. Emum de seus escritos, por exemplo, em Que defende a validadede edificações como o estande em forma de "pato", VEN-TURI (1966: 166/167) diz Que "as Justaposiçôes de elementosde má-reputação, Que parecem caóticos, expressam um tipointrigante de vitalidade e validez, alcançando também umaaproximação inesperada da unidade. ( ) ... no edifício ouna paisagem urbana validamente complexos, a visão não Quer

Page 26: Introdução ao desenho urbano

Figura 9 -A "arquitetura sem arquitetos" e as possibilidadesde soluções mais apropriadas e adaptação ao meio. Há centenasde anos, o melhor uso das possibilidades das formaçõesvulcânicas na Capadocia, Turquia

ser satisfeita rápida ou facilmente em sua busca pela unidadeno conjunto" (fig. 10) Ainda segundo VENTU RI (1977). aarquitetura depende da experiência passada e da associaçãoemotiva para a sua percepção e criação. I

Todas estas discussões e pesquisas terminaram por influen-ciar decisivamente no desenvolvimento de nova corrente depensamento arquitetõnico que veio a contrapor-se ao Movi-

Figura 10 - O pato, estande de "fast food" referido por VENTURIcomo das principais manifestações da arquitetura simbólica,a que toma a forma do próprio símbolo; Long Island, Novalorque

mento Moderno. A arquitetura Pós-Moderna que, em seuestado mais válido e original, tenta uma recuperação e reinter-pretação de símbolos e linguagens tradicionais ou populares,ignorados pelo modernismo do International Style (fig. 10).Busca-se, para tanto, uma arquitetura mais rica em suas di-mensões simbólica e lúdica, como deixa claro o importantetrabalho de Charles JENCKS, o responsável pela colocaçãofeliz da expressão "Arquitetura Pós-Moderna" (JENCKS1977) Isto é verdadeiro se analisarmos as obras pioneirasdesta corrente, como as dos arquitetos americanos CharlesMOORE, Robert VENTURI e Robert STERN, dentre outros.Um bom exemplo é a Piazza d'ltalia, projeto de Charles MOO-RE e associados, de 1977, uma praça símbolo para a comuni-dade italiana onde o arquiteto manipulou decorativamentediversos símbolos típicos daquela cultura, como uma fonteem forma de mapa da Itália ou colunas e capitéis de ordemromanas, só que em aço escovado, tudo com intenção ceno-gráfica e lúdico-irõnica (fig 11) Talvez pela característica con-sumista do Pós-Moderno, utilizando-se de símbolos arquite-tõnicos de fácil comunicação e apelo popular, foi justamentenos EUA onde mais prosperou.

Também podemos identificar projetos urbanísticos Pós-Mo-dernos, tendo por base principal a Europa. Isto porque a

Page 27: Introdução ao desenho urbano

aFigura 11 (a, b) - D Pós-moderno lúdico e cenográfico da Piazzad'ltalia, praça sfmbolo para a comunidade italiana de NovaDrleans; coordenação de Charles MDDRE, 1977. No medalhão,o rosto do arquiteto

·;;"1••• 1nuFigura 12 - D Pós-moderno no neo-racionalismo de A Ido RDSSIe seu projeto para a sede do governo local de Trieste, Itália,1974

corrente gerou fone contextualismo, por isto muitos os classi-ficam como "neo-racionalistas", e larga utilização de técnicasde análise de Morfologia Urbana, que serão comentadas noCapitulo 5. São exemplos os trabalhos dos irmãos Leo eRob KRIER, de Aldo ROSSI e do escritório de James STIR-L1NG e Michael WILFORD (figs 12 e 13)

o público em geral consumiu facilmente o Pós-Modernismo,talvez por seu fácil apelo a símbolos já aceitos pela classemédia. Como no sucesso dos projetos do catalão RicardoBOFI LL. No complexo habitacional Les Arcades du Lac, nosarredores de Paris, construido no fim dos anos 70, o arquitetoutilizou-se de uma linguagem arquitetônica e de organizaçãoespacial neo-clássica, embora os métodos construtivos te-nham sido de moderna pré-fabricação. A idéia foi muito bemaceita e o empreendimento é hoje um sucesso para os gruposde classe média ascendente (fig. 14). Mais tarde, BOFILLfoi vencedor de concurso internacional para renovação daárea conhecida por Quartier Les Halles, em Paris, e, desde

Page 28: Introdução ao desenho urbano

',,~(cr;) G'O"OU""'l'b'b'b •••••••••• .-:

ooooooel.).ot' (Í)"O\~.OOQOOQOCílI1tQOOOOI»GiOOOOOOO"G~Ot'OüI!'OOOOOOOOG~OI\) OrlJQQC-1IÜOüQ0QQOOOOOOOO()

6@l".Wóe:s •• oOO()O(JOf}ClO~OOoe ••()()t){)()O~OO OOGUOef#

j t'j(\UU(}OOOO(,ilO."'~ ••l"lO(H)00CJOOOOGoe ee

\ ('I()OOO(JOOc:>o~oooe •.

'().oooooooooooOOOOOOOOOQOOOOOO000000000000000000000000000000000000000000000000p~OG000000GOOOOO

( O()f'QOOOooaoo'--f')I)O{lO()1 lOOOOOOO4ll O(~I") O(l(~{1(10()O 00000 Ol10 ~'lnU(ll lon(") 000 G 10 o~O(1Q(I(JH(){)OOüOOGOO00 ~)l(.;OOOOOOOUOOQlV

Figura 13 - Uma linguagem mais contextual e expressionistarepresentada pelo projeto para o Centro Regional da Toscana,Florença, de James STlRLlNG e Associados, 1977. Elementosorganizados sobre quadrfcula romana e remanescentes doséculo 1 AC

a concepção original do projeto. em 1974. até a controvertidaanulação dos resultados e demolição do pouco que haviasido construido em 1978. inspirou-se profundamente no neo-c1assicismo elitizante.

Este sucesso também se refletiu junto ao público em geral.tanto em termos arquitetõnicos quanto urbanísticos, coma Bienal Mundial de Veneza (1980), a Bienal Internacionalde Arquitetura (1980) e o Salão de Outuno (1981). ambosem Paris, que exaltaram o Pós-Moderno. popularizando-o ain-da mais, assim como um Urbanismo mais consciente dopassado e do patrimõnio instalado. culminando os esforçosiniciados nos meados dos anos 60.

Por seu lado, a corrente Neo-Vernacular também se popula-rizou, pela mesma razão de fácil consumo de símbolos. sóque estes apelando para o "rudimentar" ou o "rústico". Bomexemplo disto é Port Grimaud. proj to d François SPOERRY.um luxuoso complexo de re idências d veraneio na co tada França mediterrãnea. construído em 1977. que explorouas imagens de vernacular franc's c mo produto "chiqu "de consumo (fig. 15). Um fenõm no de consumo sem Ihantao que hoje observamos. por x mplo. no litor I Rio-Santose em Búzios. cidade de praia no Estado do Rio. com uas"casas de pescadores".

Em segundo lugar. apontamo a importância das pesquisasdas transformações urbanas: o r0 ultados fí ico- spaciaide processos de apropriação pela população dos elementosurbanos e arquitetõnicos ao longo dos séculos. como os anfi-teatros romanos. Servindo como "estruturas-suporte" paraas transformações. são elementos que acabaram transmu-tados em praças. residências etc .. perfeitamente incorpo-rados ao tecido urbano mas cuja lógica conformadora e estru-turas básicas ainda são distinguíveis (fig. 17)

Uma grande alteração nas políticas urbanas e nas profissõesocorrida neste período foi relativa à ampliação da democracia

Page 29: Introdução ao desenho urbano

A partir do crescente descontentamento dos habitantes sub-metidos a ambientes modernistas e dos movimentos de pro-testo e resistência aos programas de intervenção urbana,fato comentado anteriormente, as populações das grandes

cidades dos países desenvolvidos foram conquistando impor-tantes reivindicações. Assim como nos EUA. as principaiscidades européias seriam palco de movimentos sociais seme-lhantes e suas administrações se veriam pressionadas a inse-rir maior participação comunitária em seus processos de pla-nejamento e, principalmente, nos programas habitacionais(fig. 18).

na gestão urbana e na própria produção arquitetõnica, atravésda participação das comunidades e dos usuários dos projetos

! 'I .•Figura 14 - Conjunto residencial de média-renda Les Arcades du Lac; pós-moderno classicista de Ricardo BDFFIL em subúrbiode Paris; final dos anos 70. Sucesso nas classes burguesas com a linguagem simbólica associada ao clássico e seu rígido formalismo

Page 30: Introdução ao desenho urbano

Ao mesmo tempo, verificava-se um forte questionamentoda própria noção de progresso e de desenvolvimento. Sur-giam os grupos de defesa do meio ambiente, a ecologiase impunha como ciência necessária à própria sobrevivênciada nossa espécie. levantava-se a questão de utilizar os recur-sos não-renovàveis, e a noção de produtividade econômicaacabaria por ser contestada pela de produtividade social

(SCHUMACHER 1973, BRASilEIRO 1981) Surgiram, nestnépoca, estudos e movimentos que advogavam a utilizaçã()de tecnologias mais apropriadas aos contextos da produção,tomados como partes de um todo profundamente inter-rela-cionado, e de processos alternativos que, em Arquiteture em Desenho Urbano, maximizassem a utilização dos recul-sos disponíveis, da mão-de-obra, e a participação dos próprios

~'.~~"~:~

~

. ,"No';'.;;"i"''/ ~ ',t ,to'

'},Figura 15 - Port Grimaud, costa francesa mediterr/Jnea, luxuoso empreendimento de veraneio projetado por François SPOERRY,1977. Sucesso na reprodução de padrões vernaculares locais; os corretores desafiavam o comprador a tentar achar duas casasiguais!

"'-:"4~ ,.-~""~

.'.• ,If,.'4: ."i/-, . .

, ) .' .e:",'. ,."",-t'~•

Page 31: Introdução ao desenho urbano

~ Í"--. _ i~

Figura 17 (a, b) - A contfnua apropriação de antigas estruturas pela população, como os anfiteatros romanos: em Florença elefoi absorvido pelo tecido e em Lucca sua arena conforma uma praça e sua estrutura incorporou-se às casas

Page 32: Introdução ao desenho urbano

Figura 18 - As cidades tornadas palco de movimentos sociaispor melhor qualidade ambienta! e as comunidadesconquistando mais peso na "balança" polftica

usuários no seu meio ambiente construído. Evidentemente,pela sua natural importância na reprodução da força de traba-lho, as alternativas habitacionais tomaram lugar primordialnestas preocupações (TURNER & FICHTER 1972, WARD C1974, HARMS 1982)

A sociedade, principalmente através da nova geração e seusmovimentos estudantis, buscava novas ideologias alterna-tivas e forma comunitária de vida, como os movimentos "Flo-wer Power" e "Hippie", ou as comunidades "drop out",ao som do rock de protesto ou de baladas romântico-lisér-gicas. Bom exemplo desta nova maneira de pensar o desen-volvimento encontra-se no famoso livro de E. F. SCHUMA-CHER (1973), um "best-seller" até hoje, que se inspirou naobra de Gandhi para tratar de "economia como se fossem

as pessoas o que importasse". Também foi sintomática ap netração do livro de Richard SENNET (1970), onde defendeos "usos da desordem" e a necessidade de contexto urbanod ord nado e diversificado com in trumento de liberaçãop I lib rd d de ação para H m m.

Nos p r d r I ncia dos siste-m s Ir dicion i ntaç O polítiCt, r Ila de susten-tação omunit ri p r S tivid d do Pod r Público e aprovisão dos serviç urbanos (CA I LI 1 72, AUNDERS1979). Era crescente o distanciam nt d p Iíti os das reaisnecessidades da população. Os gov rn viram-se, então,obrigados a lidar com a participação popul r nos processosde planejamento, mesmo porque se consci ntizaram queesta seria uma solução mais populista e econômica do queo enfrentamento direto. Evidentemente, esta participação vi-ria tomar várias formas, desde a co-optação até a utilizaçãode mão-de-obra comunitária barata para as obras, não sendo"per se", garantia de influência nos processos de tomadade decisões (GOODEY 1980) (fig 19).

•..··jrtf I CO~TROLE:. oos Jf'''~

CIPAPAOS 6 ~A

\- \"~~IIlI"1 l!WJiiI

DElE~AÇAO DE . "l'lAU5PODE'"

I- - l !"-"II'""'I/7 DE. pODER.50el EDADE i ' R~~1'

I- "'1;l!11 ~~II'~• !IJ

PACIFICA~Ã ~ ((5 . ;::

r '~~'jI ~

CONSULTA LE"'ITIMAÇÃO

~

7J11'''l ' E POPULISMO

~NFORMAÇÃO •. 3 .•••••.

TERAPIA '2 " ..4~

MANIPULAÇÃO _ fWdil _i··· l1-C-'--::---= 1 HAO PiC,PAÇAO

r1\;~-j' -.,.,j~

FIgú7a 19 - Os nfveis da participação comunitária nos projetose processos decisórios como degraus de uma escada, desdea manipulação dos participantes pelos técnicos (participaçãozero) até o controle decisório (participação máxima)

Page 33: Introdução ao desenho urbano

Não se pode negar. entretanto. que a partir disto os processosde planejamento se tornariam um pouco mais transparentespara a população e mais permeáveis a suas reivindicações:mais em alguns países e cidades do que em outros. Osmovimentos de bairro e de grupos de cidadãos com interes-ses especiais. como os grupos de defesa do meio ambiente.se institucionalizariam e passariam a ser consultados e ater voz ativa na administração e no desenho das cidades.

Na Grã-Bretanha. por exemplo. foi aprovada legislação. em1965. que tornaria obrigatória a participação popular na elabo-ração de planos diretores locais. Nos EUA. em 1969. novalegislação federal instituiu a obrigatoriedade de relatórios deimpacto ambiental e participação das comunidades onde se-riam aplicados os recursos federais. Logo. em 1974. tambémpassaria a exigir-se a participação das comunidades de áreasatingidas por programas federais de urbanização para defini-ção de prioridades de investimentos (fig. 20).

Estas novas instâncias políticas e movimentos sociais urba-nos levariam as Universidades e os técnicos a uma redefi-nição de seus papéis no processo de desenvolvimento urbano(SIMMIE 1974). As disciplinas sociais se veriam obrigadasa incorporar a dimensão participativa em seus programas.e a produzir novas metodologias. Surgiram novas atividadesprofissionais e até mesmo novos cursos superiores. comofoi o caso dos cursos de graduação em Planejamento Comu-nitário ("community planning''), nos EUA.

Inúmeros exemplos poderiam ser citados para ilustrar o cres-cimento da participação popular e sua incorporação à gestãodas cidades nos países do Primeiro Mundo. As experiênciasproliferaram nos anos 70 e foram de enorme influência nodesenvolvimento do Desenho Urbano.

Em Nova lorque instituiu-se 59 Comissões Comunitárias dePlanejamento para participar do processo decisório da gestãosobre alguns serviços urbanos. Em Baltimore. também nosEUA. implantou-se o planejamento comunitário distrital (com-munity district planning). um sistema de planejamento coinci-dente com os distritos políticos oficiais a nível local. Em Ams-terdam. na Holanda. o governo viu-se obrigado a ceder aosprotestos. implantando um sistema de repasse de verbasa fim de que as comunidades contratassem seus própriosescritórios de projeto para elaboração de planos locais. poisverificou-se ser muito mais barato do que se o governo proce-desse à produção e aprovação do plano frente à participaçãodos moradores.

Figura 20 - D desenho participativo através da televisão e detelefonemas dos espectadores; projeto de reurbanização emDayton, Dhio, EUA, coordenado por Charles MDDRE em 1976.Hoje o baixo custo relativo da TVa cabo aumentou o potencialde uso deste veiculo para programas comunitários .

Na Inglaterra. vale mencionar uma experiência participatlvano projeto e implantação de conjunto habitacional que obteriagrande sucesso popular. Trata-se de Byker, na cidade deNewcastle. onde o arquiteto Ralph ERSKINE e sua equipemontaram um escritório de campo onde os nove mil mora-dores podiam participar da decisão de diversos elementosdo projeto arquitetônico e urbanístico. num processo quedemorou de 1969 até 1982. quando complementou-se a obrafinal (BERNFELD et ai. 1980. BUCHANAN 1981. TRANCIK1986 (fig. 21)

Page 34: Introdução ao desenho urbano

Por toda Europa e EUA repetiam-se os casos bem-sucedidos,evidenciando a importância da participaçâo direta. Revela-va-se, entretanto, a sua viabilidade relativa pois verificavam-sefortes determinantes na escala do projeto e no próprio con-texto sócio-eultural em que se trabalha. A participação legíti-ma revelava-se muito dependente da capacidade organiza-cional das próprias comunidades participantes do plano ouprojeto, como demonstraram vários estudos.

Foi também no fim dos anos 60 que teóricos e técnicoscomeçaram a se concientizar da escala do problema habita-cional e a importância da autoconstrução, auto-ajuda e muti-rão no Terceiro Mundo (fig. 22). Importância esta que serefletia não apenas a níveis psicológico e cultural, e evidentemaior satisfação dos usuários com o produto de projeto, mastambém a nível econômico. Se, por um lado, o Estado veriapossibilidades amplas de maximização de seus investimentos

Figura 21 - Conjunto residencial de Byker, Newcastle, Inglaterra,1969/1982, arquiteto Ralph ERSKINE. Participação dos futurosmoradores em decisões relativas a suas unidades e ao conjunto

Figura 22 -A intensidade do problema habitacional mostroua importtJncia dos investimentos já feitos pelos moradores ede programas mais participatívos; favela de Jacarezinho, Rio,população oficial 31.405 moradores (1980)

Page 35: Introdução ao desenho urbano

nos programas habitacionais de baixa-renda, por outro asfamílias teriam a possibilidade de melhor investir conformesuas próprias capacidades de desembolso a longo prazo, ad-ministrando seus próprios gastos a partir da segurança geradapor um título de propriedade de um lote urbanizado ou casa-embrião (DEL RIO 1982, WARD 1982).

Neste sentido, destacamos o trabalho de HABRAKEN (1962).que apresentava estudos para programas habitacionais com"estruturas-suporte", edificações com interiores e fachadasflexíveis à participação dos moradores, enquanto que algunselementos seriam fixos, como os núcleos de cozinha e ba-nheiro e o sistema estrutural. Esta alternativa ao alojamentode massa, de concepção racionalizada, tem uma grande pene-tração acadêmica até hoje (fig. 23). .

Por seu lado Charles ABRAMS (1964). que foi assessor dogoverno norte-americano em questões de habitação e urbani-zação para países em desenvolvimento, informava em seusrelatórios, publicados em forma de livro posteriormente, daimportãncia e viabilidade da autoconstrução, da capacidadede progresso sócio-econâmico da população, dos assenta-mentos ilegais, e das desvantagens de sua remoção indiscri-minada.

Uma extensa experiência junto ao governo do Peru possibi-litou que William MANGIN e John TURNER compreendes-sem amplamente o problema da habitação de baixa-rendanos países do Terceiro Mundo e os levou a publicarem traba-lhos importantíssimos para o desenvolvimento da questão.Os trabalhos e a atuação dos profissionais, divulgando seusresultados, vieram a ser instrumentais para as alterações daspolíticas governamentais e das instituições internacionais decrédito, como o Banco Mundial, no estabelecimento de suaspolíticas e programas habitacionais (PAYNE 197-6, WARD1982).

Contestando alguns conceitos aceitos na época, MANGIN(1967) negava que as favelas eram caóticas e desorganizadas,marcadas por "patologias sociais", como o crime, e defendiaque se constituíam, na verdade, em solução eficiente dospobres e dos migrantes para o problema da falta de habitação.Junto com TURNER publicaria alguns artigos em revistasde penetração, sempre sobre suas experiências com as "bar-riadas" (assentamentos ilegais) de Lima, demonstrando asreais possibilidades da participação popular (MANGIN & TUR-NER 1968).

Figura 23 - Estruturas-suporte; elementos prefixados eparticipação dos moradores: processos flexfveis àsnecessidades e com potencial para interessantes resultadosplásticos. Esqueleto de prédio invadido no Rio Comprido, Riode Janeiro

Porém, foi TURNER o mais influente nesta questão, tantopor seus trabalhos publicados quanto por sua atuação acadê·mica e como ativo consultor internacional (TURNER & FICH-TER 1972, TURNER 1976, 1982). Ele defendia o potencialda autoconstrução e dos processos por mutirão se dirigidose apoiados pelo Estado. A idéia básica seria a instituciona-lização de processos participativos em habitação, maior auto-

Page 36: Introdução ao desenho urbano

nomia local e o Estado agindo como provedor de condiçõesnão-passíveis de serem conquistadas pelas comunidades.como programas de financiamento, transporte coletivo, assis-tência técnica, acesso à terra etc. (fig. 24)

No Brasil destacou-se a atuação pioneira de grupo de arqui-tetos à frente da CODESCO (Companhia de Desenvolvimentode Comunidades). antigo órgão estadual criado em meadosdos anos 60 e que, embora de curta existência, provou avíabilidade de trabalhos participativos de urbanização de fave-las. A literatura existente já se dedicou à experiência da favelade Brás de Pina: urbanização participativa de forma progres-siva por setores e com resultados físico-espaciais e sócio-eco-nômicos significativos. principalmente se analisados numaperspectiva histórica, embora sofrendo diversas limitaçõescomo a não-regularização da propriedade do solo (BLANK1977 e 1979, SANTOS 1981)

Algumas outras experiências recentes brasileiras demons-tram a viabilidade da participação comunitária na produçãohabitacional. a nível de projeto e de construção. como asde Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo. e Favela do Gato.em Niterói. O conjunto Vila Nova Cachoeirinha abrigou. emterreno originalmente ocupado por uma favela com 105 famí-lias, mais 333 novas famílias que. num processo de partici-pação e ajuda mútua. conseguiram implantar o conjunto em15 meses, sob coordenação de equipe da prefeitura de SãoPaulo Apesar de diversos percalços, principalmente a nívelinstitucional, a experiência foi bem-sucedida e encontra-sedetalhada em REINACH (1985). Já no caso da Favela doGato. originalmente um assentamento de pescadores às mar-

"'-" 4. 'j"'~ li: ~~"Z"""

,:;,••. I- :zot:,~C .(

"'~~ ,,( ~ ..Ju,~"" ....... o.1.U",)4 Z J'. t:/<:""<0 - '" "~OVf-P.NO •e /•C.E.NTll-.~L

"-~OVERNO e • /•LOCA\...'\.

)t.TO~pP;iVADO e /

r.. /'\OI1-.~])Ofl..E.~ • • "Figura 24 - Matriz baseada em TURNER para maior autonomialocal sobre habitação e ambiente: como é e como deveria ser;o Estado como provedor e a população como decisora erealizadora

gens da Baía de Guanabara, os moradores obtiveram asses-soria técnica de uma equipe do Departamento de Arquiteturada Universidade Federal Fluminense para lutar contra suaremoção. quando da construção de uma nova rodovia federal.Através de pressões junto ao DNER, CEHAB e BNH, conse-guiu-se a manutenção da comunidade e um projeto partici-pativo definiu a urbanização da favela e a construção de umnovo conjunto, em área próxima. para as famílias removidas(CANEDO & BIENENSTEIN 1984).

O trabalho dos pioneiros nos anos 60/70, corroborado porpesquisas em outras disciplinas, influenciou toda uma com-preensão mundial para a importância da participação dos mo-radores na produção de seu ambiente habitacional. Organis-mos como as Nações Unidas, principalmente após sua confe-rência internacional HABITAT de 1976, o Banco Mundial e,mais tarde. a partir do final dos anos 70 o próprio BNH.alteraram suas políticas e programas de forma a incluir opúblico-alvo através da autoconstrução dirigida. Elas acaba-riam incentivando algum tipo de participação dos grupos afe-tados em quase todos os programas para os quais ofereciamfinanciamento. Isto manifestava-se até nos programas cultu-rais e educativos. como as experiências pioneiras do Conse-lho da Europa dos anos 70 (GOODEY 1981).

A institucionalização da autoconstrução e do mutirão temsido bastante criticada; ela estaria legitimizando formas deespoliação das famílias de poucos recursos, através da sobre-exploração de sua mão-De-obra e seu tempo livre (WARD1982. DEL RIO 1982). Sem dúvida, seria completamente equi-vocado advogar-se estas alternativas como os únicos progra-mas habitacionais a serem oferecidos à baixa-renda. Entre-tanto. eles se apresentam como das opções a serem oferta-das amplamente, e não se pode negar que vieram a contribuircom o despertar de uma nova atitude para projetos maisdemocráticos. ao menos no que diz respeito às opções domorador em sua capacidade de investimento e na flexibilidadedo produto final para suas necessidades.

Também foi nos anos 60 que apareceram as primeiras críticasao que era preconizado pelo Movimento Moderno para aArquitetura e o Urbanismo. Os moradores e os usuários dosambientes e edificações modernas. projetados com as tãoconhecidas premissas modernistas. manifestavam-se des-contentes, tanto em termos estéticos quanto de confortoambienta!. ou mesmo quanto aos aspectos econômicos e

Page 37: Introdução ao desenho urbano

funcionais. A crítica a este último aspecto era a própria ironiado destino. uma vez que era a funcionalidade um dos precei-tos do Modernismo.

Quanto à Arquitetura, as críticas principais reportavam aochamado International Style. um submovimento do Moder-nismo. e à própria postura ideológica e conceitual dos arquite-tos, cUIOSprotestos ignoravam as condições específicas docontexto onde se inseriam, fosse em termos físico-ambien-tais ou sócio-culturais. Esta corrente levaria às últimas conse-quências o conceito da "máquina de morar" de Le Corbusiere, com o aval do capital especulativo imobiliário, que via nelaimensas economias. faria surgir a mesma tipologia seja emNova lorque. Londres. Tóquio ou São Paulo. Suas fachadasem "curtain wall" (cortinas de vidro). seus pilotis. sua ocupa-ção em centro de terreno, suas grandes alturas, seu despoja-mento e formas simples, sua economia de acabamento, eramos valores universais teorizados e vendidos (fig. 25).

A outra corrente popular dos modernistas promovia edificaçõesmuito mais personalistas. de dotes escultóricos e, muitas vezes,de inegável beleza pláslica. Entretanto. pecariam por excessoe cairiam nos mesmos equívocos decorrentes por incompatibi-lidade ao contexto. fraco desempenho climático e de confortoambienta I, desrespeito às condições do terreno, linguagem emchoque com culturas locais e pobre inserção ao seu entorno(fig 26). Isto tudo sem mencionar os graves problemas constru-tivos de detalhamento e funcionamento interno. sacrificados pelaestética externa.

Profissionais de renome e inegável importância incutiram nes-tes erros. nestas duas correntes arquitetônicas. influenciandovárias geraçôes. Atualmente muitos ainda praticam a mesmaArquitetura. com os mesmos equívocos de antes. Trabalhosacadêmicos e da crítica especializada têm sido publicadossobre esta questão e nas palavras do crítico inglês, atual-mente diretor da escola de arquitetura de Columbia (EUA).Kennet FRAMPTON

a Arquitetura teve, evidentemente, um certo papel noempobrecimento do Meio Ambiente. particularmente ondefoi instrumental na racionalização das tlpologias e métodosconstrutivos, e onde tanto o material do acabamento quantoa forma da planta foram reduzidos a.o seu denominador co-mum mais básico, para tornar a produção m8ls barata e otimi-zarouso"(FRAMPTON 1981. 9)

As críticas mais consistentes foram publicadas pela primeiravez a partir da segunda metade dos anos 60 e diversos auto-

Figura 25 (a, b) - Dois paradigmas modernistas para o mundo:o modelo sobre pilotis de Le Corbusier para o Ministério daEducação, Rio, e a l/imina sobre embasamento do prédio daSeagram's de Mies Van der Rohe

Page 38: Introdução ao desenho urbano

Figura 26 - O Memorial da América Latina, projeto de OscarNIEMEYER, São Paulo, 1988. A linha modernista "escultórica"e sua fraca resposta às atividades humanas e às condições dositio. Os espaços entre as edificações como "EspaçosNegativos", as "Sobras" ...

res e pesquisadores poderiam ser citados. Fundamental pe-netração teve a obra de Robert VENTU RI em que. num primei-ro livro. chamava atenção para a importãncia da contradiçãoe da complexidade nas mensagens arquitetônicas e. no se-gundo. fazia elogios ao simbolismo arquitetônico de Las Ve-gas e à função de suas ricas mensagens (VENTURI. IZENOUR& SCOTT-BROWN 1977)

Cabe lembrar. também, o livro intitulado "A Forma egueo Fiasco". parodiando a máxima modernista "a form eguea função". onde o autor expunha diversas experi ncias mal-sucedidas da Arquitetura e do Urbanismo Modernos (BLAKE1974) (fig. 27). De importância semelhante foi o livro de Char-les JENCKS (1973), que analisava os movimentos modernosda Arquitetura. suas origens. influências e conflitos. Maisrecentemente o jornalista autor do "best-seller" "A Fogueiradas Vaidades" publicou um livro sobre as desventuras daarquitetura moderna que. com seu estilo cínico. cômico ealtamente personalista. teve ampla penetração (WOLFE1981). Sobre a reação dos operários à habitação projetadapor Le Corbusier para Pessac. em 1925 (fig. 28), WOLFEcomenta:

Figura 27 - Pessoas idosas sofrendo os efeitos do ventoacelerado através situação espacial gerada pela aplicaçãoinconsequente dos paradigmas modernistas: prédios altos emlâmina e amplas plazas; Boston, EUA

"Se os operários gostaram de sua habitação? Oh, eles recla-maram, o que era próprio de sua natureza neste momentohistórico. Em Pessac as pobres criaturas estavam desespera-damente virando os frios cubos de Corbu de dentro parafora. tentando torná-Ias aconchegantes e coloridos. Mas istoera compreensível. Como o próprio Corbu disse, eles tinhamde ser reeducados para entender a beleza da Cidade Radio-sa ... não havia porque consultá-Ias diretamente pois. comoGropius havia dito. eles eram intelectualmente subdesen-volvidos "(WOLFE 1981: 32)

Estas obras críticas foram vitais para a formação teórica eideológica que nutre quase todos os trabalhos de DesenhoUrbano atual. Mas este criticismo teórico ou. algumas vezesempírico (NEWMAN 1972), viria a ser corroborado com meto-dologias mais científicas a partir do final dos anos 70 como desenvolvimento de pesquisas de avaliação pós-ocupação.

Page 39: Introdução ao desenho urbano

atualmente indispensáveis para grandes projetos, como vere-mos ao tratar de procedimentos metodológicos para o Dese-nho Urbano (RABINOWITZ 1979, DEL RIO 1989). Os conflitosverificáveis entre os usários e seus ambientes modernistasvão desde insatisfação com a rigidez de edifícios de "desenhototal", onde o arquiteto controlava até os cinzeiros a seremutilizados, como no caso do edifício da CBS em Nova lorque,estudado por RAPOPORT (1967). até falhas técnicas e estru-turais.

Em relação ao Urbanismo ditado pelo Movimento Moderno,algo similar aconteceu pois evidenciou-se a falácia de assu-mir-se um modelo de Homem universal e reduzir a vida urbanaa quatro variáveis: habitar, trabalhar, circular e cultivar o corpoe espírito. Que os seres humanos não são máquinas de com-portamento amoldável e totalmente previsível foi compro-vado a duras penas pela população usuária dos ambiente"modernistas. Os urbanistas inspiravam-se em visões simplis-tas do urbano, colhendo seus paradigmas de Le Corbusiere suas Cite, Contemporaine (1922) e Ville Radieuse (1930)(fig.29)

Dos textos críticos, resultantes de pesquisas mais "cientí-ficas" sobre os impactos negativos do Movimento Modernono ambiente construído que influenciaram o desenvolvimentoacadêmico do Desenho Urbano, alguns devem ser mencio-nados para situar nossa argumentação. Muitos deles, comonão poderia deixar de ser, abarcam mais especificamenteo campo da Arquitetura que o do Urbanismo.

Em artigo que se tornaria um clássico, Christopher ALEXAN-DER (1965) criticava a visão simplória com que o Modernismointerpretava o urbano e seu conhecido paradigma da cidadecomo uma estrutura em árvore. O pesquisador observavaque esta visão ignorava a complexidade do fato urbano ea superposição de subsistemas da vida na cidade (fig. 30).A partir desta hipótese básica, nos anos 70, ele desenvolveriasua teoria da "pattern language" (linguagem de padrões) quese propunha a identificar diretrizes para projetos urbanos earquitetõnicos intimamente ligadas à qualidade do ambientee a uma "maneira intemporal de construir"; estágio do pro-cesso que garantiria permanência da qualidade no tempo,conferindo-lhe certa universalidade.

Parte da argumentação de JACOBS (1961). já anteriormentecomentada, seria retomada mais tarde por Oscar NEWMAN(1972). em um estudo clássico sobre as inter-relações entrea violência urbana e as características dos projetos urbanos,onde demonstrava a importância de usos diversificados eatividades constantes ao redor dos espaços livres públicoscomo garantia da segurança de seus usuários. Seguindo outralinha, MARTIN & MARCH (1972) demonstraram através deestudos geométricos e matemáticos que a escala e o padrãoda malha viária afetam diretamente a eficiência dos arranjosedificados, comprovando a ilimitada capacidade de adaptaçãoda malha em xadrez. Os prédios altos do modernismo nemsempre se apresentam eficientes, como mostrou MARTINpara trecho de Manhattan (fig. 31); o mesmo volume cons-truído, obtido com uma ocupação total semelhante a prédios

Page 40: Introdução ao desenho urbano

Figura 30 - A estrutura em árvore, paradigma do urbanismomodernista, permite apenas associações simples dois a dois,enquanto a estrutura em semi-retícula representa melhor acomplexidade das múltiplas associações encontradas em umacidade

Page 41: Introdução ao desenho urbano

tipo Seagram de 36 pavimentos, seria possível em edifica-ções lineares de apenas oito pavimentos se a malha viáriafosse ligeiramente alterada, resultando em 28 áreas equiva-lentes a Washington Square, que por sua vez poderiam serdestinadas ao lazer ou, ainda, a escolas ou equipamentoscomuns,

As atenções principais no sentido de novas posturas e méto-dos em Desenho Urbano concentraram-se, no inicio dos anos60, na obra de Kevin LYNCH, talvez o pesquisador mais in-fluente para seu desenvolvimento, em todo o mundo, LYNCHnão exatamente criticava o Modernismo, mas chamaria aatenção para novas categorias de análise e atuação sobrea forma urbana ao introduzir a participação maior do usuárioatravés da investigação no campo da psicologia, mais especi-ficamente na percepção do meio ambiente (LYNCH 1960,1972, 1976 e 1981), Sempre desenvolvia suas idéias a partirda análise de comportamento, valores e imagens públicas,Em sua última obra, antes de seu precoce falecimento em1984, LYNCH desenvolveu uma teoria para a promoção de"boas formas urbanas" através de dimensões de perfoman-ce. Suas teorias e métodos de atuação serão objeto de análiseem nossa proposição metodológica.

Incluiríamos também nesta categoria de influências, quatroimportantes autores: Amos RAPOPORT, Christian NOR-BERG-SCHULZ, Aldo ROSSI e Rob KRIER. Já nos referimosao primeiro, e sua obra mais influente para o nosso campode estudo trata das dimensões culturais e antropológicasda cidade, o seu espaço perceptivo e cognitivo. Ele entendeo Desenho Urbano como a organização das variáveis espaço,tempo significado e comunicação, criticando, assim, indireta-mente, as posturas do Movimento Moderno (RAPOPORT1977) Tampouco NORBERG-SCHULZ (1971,1980) foi críticodireto mas seus trabalhos, de elevado valor teórico, destacama noção de "espaço existencial" e a fenomenologia da Arqui-tetura em busca da produção do "Lugar", com toda suacarga de significados através dos tempos, produzindo umaqualidade e uma dimensão impalpáveis.

Já os trabalhos de ROSSI (1966) e KRIER (1975) criticamdiretamente o Modernismo e seus produtos. Eles estão entreos arquitetos e autores mais publicados da nova arquitetura,um representando a "nuova tendenza" itàliana, outro o pós-modernismo. Ambos defenderiam em suas obras o contex-tualismo nas intervenções urbanas, como já mencionamose desenvolveremos com maior profundidade no capítulo dedi-cado à morfologia urbana.

575'~ 575'a _._----------_._---~..----~ê~..__ ._-~~~_._-=--~~:E_.__ • __ ~-§,$. o..w-------.,-----._---_ .•.---425._, 425'

-I·

.

~Rockefeller Union

Cantar CarbideFigura 31 - Se uma área de Manhattan totalmente ocupada porprédios de 21 pavimentos tivesse sua malha viária e tipologiaarquitetónica alteradas, o mesmo volume construido poderiaser obtido com apenas sete pavimentos

Igualmente importante foi a noção de "collage city" (cida-de colagem) em um livro onde seus autores afirmam que" a cidade da arquitetura moderna, tanto como produtopsicológico quanto como modelo físico, tornou-se tragíca-mente ridícula" (ROWE & KOETTER 1978: 4). Baseiam seuargumento no que acreditam ser objetivos divergentes doarquiteto moderno, como atender ao mesmo tempo à "ciên-cia" e ao "povo", ao "despotismo da ciência" e à "tiraniada maioria". Apresentam a noção da cidade moderna cornodepositária da "desilusão construtiva" e buscam no urbanoa valorização de contrastes corno entre simples e complexo,ordem e desordem, inovação e tradição.

Para ilustrar estes argumentos, alguns casos podem ser cita-dos; eles já foram objeto de diversos estudos que ajudarama demonstrar os problemas causados pela rigidez do urba-nismo Modernista. Primeiro, está o premiado projeto de1925/1955 do arquiteto Minoru YAMASAKI, para o conjuntohabitacional Pruitt-Igoe, em Saint Louis, EUA. Tratava-se deimenso complexo com 33 edifícios rigorosamente idênticos,com 11 pavimentos e abrigando 2.764 famílias. Em 1972ele teve de ser totalmente implodido, como derradeira atitu-de, pois todas as medidas do governo foram incapazes desuperar o estigma social, o abandono das unidades, o vanda-lismo instalado e a insegurança, gerados pela insatisfaçãodos moradores com o seu ambiente estéril, impessoal e dife-rente do resto da cidade "normal" (NEWMAN 1972, ROWE& KOETTER 1978, JENCKS 1977). O crítico Charles JENCKS,inclusive, chega a tomar a demolição deste conjunto comoo momento morte simbólica da Arquitetura Modernista.

Page 42: Introdução ao desenho urbano

Já no caso de Chandigarh, capital do Punjab. em 1951 LeCorbusier tratou de viabilizar toda a sua série de "ensina-mentos" urbanísticos modernistas e aplicar seus paradig-mas: forte hierarquia viária e unidades celulares definidaspor setores retangulares de 800 x 1.200 metros. Os elemen-tos mais importantes da estrutura são os prédios da Assem-bléia. o Secretariado e a Corte Suprema. tratados de formaisolada e monumental. Entretanto, nos dizeres de GALANTA Y(1975: 17), a cidade foi mais projetada do que planeja-da; é um monumento ao gênio artístico de Le Corbusier...... uma miragem que não combina direito com a realidadeda índia e é duvidoso se poderá moldar a índia do futuro".DE ARCE (1978) possui interessante estudo de redesenhoe transformação de Chandigarh. através de seu adensamentoe recuperação de um tecido mais tradicional (fig. 32l.

Outro exemplo bastante estudado, a cidade de Brasília, espe-lha muito bem o urbanismo Modernista e possui fortes seme-lhanças com Chandigarh; também uma cidade tratada comoum projeto de arquitetura, mais que planejada (EPSTEIN

1973. FEFERMAN 1976). De indiscutível importãncia histó-rica. Brasília também pode ser elogiada em diversas de suassoluções urbanísticas e seu desenho global. altamente coe-rente e de forte imageabilidade. As críticas maiores, no entan-to. referem-se à sua pouca eficiência na utilização do solo.encarecendo a infra-estrutura e todos os serviços e dimi-nuindo a acessibilidade (fig. 33)

O Plano Piloto é reconhecidamente rígido na distribuição com-partimentada de funções e atividades. reproduzindo uma es-trutura em árvore tão criticada por ALEXANDER (1965). Embusca de sua utopia nacional-<Jesenvolvimentista. a ótica deLucio COSTA privilegiou o formalista como síntese e refe-rência de uma conciliação entre tradição e modernidade (CAR-DOSO 1989). Nesta nova cidade, rompendo com as tradiçõesque o urbanista não considerou dignas de permaneceremreproduzidas, não existe a possibilidade para ambientes urba-nos mais semelhantes ao que a população espera de vanta-joso em uma cidade normal: variedade. flexibilidade, oportuni-dades múltiplas, distãncias fáceis para o pedestre, tipologias

Figura 32 - Redesenho de DE ARCE para o centro monumental de Chandigarh (Le Corbusier, 1951); a superposição de malha50 x 50 m permitiria utilização mais intensa do solo, recuperando padrões tradicionais e revalorizando os prédios monumentaiscom novas relações espaciais

Page 43: Introdução ao desenho urbano

arquitetônicas variadas e elementos sácio-eulturalmente vi-tais, como esquinas, botequins, praças e ruas com usos mis-tos e bastante animação urbana (HOLLANDA 1975, PAVIANI1985)

Dentro desta temática, cabe citar as palavras de JonathanBARNETI, arquiteto durante muito tempo responsável peloprocesso de Desenho Urbano na prefeitura de Nova lorque,sobre o Movimento Moderno:

"O que começou com uma visão romântica da tecnologiamoderna, libertando o indivíduo das limitações da tradição,revelou-se admiravelmente adaptável à repetição burocráticainconsciente e aos cortes de despesas de empresários ganan·ciosos" (BARNETI 1982: 8)

li;"";---', ',~ ::

__ } ,"~__ '\ ---'1_---I / ;- __ 1, , ,, ,, ,/ ,

" ,1)R~~IÚJ>, . $.Q.). lONl>l',itJ~ i<L~.CUlTRO 1'<0 IPANE.I'\ •••.

D.B.I1.': 320li/H D.B.'1"'OO "/~ D.I\.I1. -= ?l~o"IHFigura 33 - A comparação simples de plantas figura-fundo demesma escala de Brasília, Londrina (bairro central) e Rio(lpanema), permite uma avaliação da efici~ncia de seus padrõesde ocupação espacial e uso do solo

Page 44: Introdução ao desenho urbano

Foi também no final dos anos 60 e início dos 70 que severiam expostos os resultados e limitações dos processose práticas do Planejamento Urbano. Nos países do PrimeiroMundo, onde a institucionalização destes processos está alia-da a economias capitalistas avançadas, poderíamos identificarduas razões principais por trás destas dificuldades do Planeja-mento enquanto meio de implementar ambientes satisfa-tórios, tanto social quanto economicamente.

A primeira razão estaria no plano político e, consequente-mente, nos próprios objetivos do Planejamento. Explica-se

com o distanciamento dos políticos e seus programas departido das reais necessidades e interesses imediatos dascomunidades. Três são as causas principais apontadas porGOODEY (1981 : 17/18) para explicar o declínio do entusiasmoe esperança em assuntos políticos nos países europeus: des-facelamento da base comunitária das sociedades, controlecentralizado dos serviços públicos e a submissão dos assun·tos locais aos interesses dos partidos políticos (fig. 34)

o mesmo autor observa, ainda, que a situação de ineficiênciados governos de democracia representativa parecia ser araiz do aumento do interesse do público em sistemas repre-sentativos e grupos de pressão fora do sistema polftico for-

Proposta do orgaofinanciador

Especificações dorelatório

Concepção do chefecoordenador da análise

Projeto dos técnicos O que foi O que a comunidadee urbanistas implantado havia reivindicado

Figura 35 -Diferentes interpretações de um problema e modelos de soluções conflitivo!: entre os técnicos e a população

Page 45: Introdução ao desenho urbano

mal. Este fOI o caso da consolidação do Partido Verde, naAlemanha, que nasceu de um movimento de protesto. Asituação era a mesma em outros países desenvolvidos, certa-mente nos EUA, e encontra paralelo também em nosso País.

A segunda razão das dificuldades encontradas pelo Planeja-mento Urbano está no excessivo tecnocracismo que permea-va suas teorias e métodos de análise e implantação. Porum lado, a realidade viria a provar a dificuldade, se não a1mpossi bi Iidade, do verdadei 1'0 "planejamento integ rado",com sua ambição de análise de absolutamente todos os as-pectos da realidade e de controle total do seu funcionamento.Por outro, a realidade sismava em não se amoldar aos mode-los rígidos idealizados pelos planejadores, nem era tão sim-pllsta quanto as suas visões profissionais idealistas faziamcrer (fig. 35)

Seguidamente verifica-se o dlstanciamento do planejado, fru-to de trabalhos tecnocráticos de gabinete, da realidade, princi-palmente quando da implantação dos planos, geralmente pre-vista a médio e longo prazos (GANS 1968, CASTELLS 1972,PRESSMAN & WILDAVSKY 1973) A dimensão política tam-bém ajudava a complicar a implantação, seus objetivos eprogramas, que ficavam, na verdade, a mercê dos interessesimediatistas ou eleitoreiros pois "planejadores e outros asses-sores técnicos têm influência apenas na medida em quepuderem persuadir seus supenores políticos; o seu poderé o poder da idéia" (BECKMAN 1964 262)

Além disto, na falta de um processo institucionalizado departicipação real dos cidadãos na tomada de decisões, o pla-nejador estará sempre mergulhado no que SIMMIE (1974.148) chama de um "paradoxo": por um lado, ele tem dejustificar seu papel social e ser altruísta e neutro, por outro,ele possui dificuldades em assumir uma posição quanto àsua visão de eqüidade urbana.

Ainda hOJe, em diversas situações e certamente no Brasil,quando o destino dos planos não é a gaveta dos políticosresponsáveis por sua aprovação e implantação, suas partesaproveitadas são apenas aquelas que os interessam pessoal-mente ou para fins político-partidários. Nos anos 60 a avalia-ção do planejamento ja evidenciava a realidade da implan-tação e verificava-se que os resultados eram destoantes dasreais necessidades das comunidades, que simplesmente nãoserviam aos objetivos propostos, ou que a devida integraçãoentre os agentes nunca ( I'a alcançada.

Evidentemente, a falta de processos de participação comu-nitária efetiva seria uma das maiores causas destes deman-dos, assim como a falta de sensibilidade quanto à dimensãotemporal dos planos, tanto a política, relativa à continuidadeadministrativa, quanto a percebida pela população atingida,que espera resultados concretos em curtos espaços de tem-po.

Assim, concordamos com CAULI (1982), quando afirma quecontra as características típicas do Planejamento Urbano dosanos 60, tais como o formalismo, os modelos estáticos, atecnocracia, a rigidez e a pretendida amplitude, víeram opor-se características do Desenho Urbano, como a informalidade,os modelos dinâmicos, a participação comunitária, a flexibili-dade e a especificidade. Indubitavelmente, uma das caracte-rísticas que mais minou a prática do Planejamento Urbanoàs vistas do público foi a sua falta de pragmatismo e de .resultados a curto prazo, ao que os processos de DesenhoUrbano respondem com mais prontidão e consequência.

Page 46: Introdução ao desenho urbano

Capítulo 2Planejamento urbano x arquitetura:

desenho urbano?

o título escolhido para esta seção comporta propositalmenteum falso conflito, que atualmente se tornou comum nosmeios acadêmicos brasileiros. O que seria, no Brasil, o Dese-nho Urbano? É um novo substituto para o Planejamento Urba-no? Ou seria para o Urbanismo? Alguns sustentam, ao contrá-rio, que não passa de "arquitetura grande", pois admitemo tratamento arquitetânico à escala urbana, sem dúvida umaherança do modernismo. Tentaremos tratar esta questão,trazendo a seguir algumas considerações sobre o surgimentodo Desenho Urbano para, em seguida, tratar de levantar algu-mas considerações sobre suas definições mais apropriadas,de forma a situar este campo disciplinar dentro dos objetivosdo presente trabalho e do contexto brasileiro.

Vimos como o contexto de mudanças dos anos 60 refletiauma insatisfação geral com o ambiente construido. Isto, evi-dentemente, refletia-se no Planejamento e na Arquitetura,uma situação que mais tarde seria também constatada noBrasil. A compreensão desta situação nos países do PrimeiroMundo, principalmente Grã-Bretanha e EUA. tanto em termosdisciplinares quanto no âmbito da prática profissional, nosajudaria a compreender melhor as razões do surgimento,o desenvolvimento e a consolidação do Desenho Urbanocomo campo de conhecimentos específicos.

Na realidade, segundo diversos autores, parece que as primei-ras preocupações mais sistematizadas com o ambiente físicodas cidades, enquanto objeto de intervenções institucionaisreguladoras, ressurgiram nos EUA após o período do pós-guerra, época em que o planejamento havia assumido enor-me importância estratégica. Fundaram-se cursos de pós-gra-duação do que então se definia "Civic Design", em Bostone na Filadélfia, em meados dos anos 50. Um dos fundadores

e principais expoentes do de Filadélfia foi Edmund BACON,famoso por seu trabalho pioneiro no plano regulador de reno-vação para o centro daquela cidade. Depois publicaria uminfluente livro sobre o desenho de cidades, principalmenteinspirado no tema da estética e das conexões entre elemen-tos urbanos, numa visão arquitetônica da questão (BACON1967). Entretanto, nem a época ainda era propícia nem avisão abraçada pelo "civic design" ultrapassou conceitual-mente a compreensão do urbano como "arquitetura grande",ficando na tradição modernista e monumentalista, aliás, comoseu próprio nome conota.

Já comentamos a situação do Planejamento Urbano ao fimdos anos 50 e durante os anos 60. Após a II Grande Guerra,com os países do Primeiro Mundo saindo de terrível recessão,a demanda por planejadores pelo poder público aumentoude forma considerável. Com o Estado envolvido nos esforçosde reconstrução e reestruturação econômicos, e com o de-senvolvimento do sistema capitalista, necessitava-se de pIa-nos, principalmente econômicos e de investimentos. O Plane-jamento Regional e Urbano passaria a assumir posição dedestaque neste processo de desenvolvimento, a fim de ga-rantir sua racionalização e implementilção de objetivos.

Por isto o Planejamento impunha-se como um "processopara determinar ações futuras através de uma sequência deopções", no dizer de DAVIDOFF & REINER (1962 11). ecomo "aplicação de um método científico ao processode elaboração de políticas", segundo Andreas FALUDI(1973: 1). Planejar não mais seria encarado como atitude "so-cialista", depois da guerra, mas como uma necessidade paraintegração de ações e maximização dos investimentos, se-gundo opções necessariamente políticas.

Page 47: Introdução ao desenho urbano

o poder público incentivaria, portanto, a criação e o desenvol-vimento de cursos de Planejamento, inclusive a nível de gra-duação. Fortaleciam-se os procedimentos "racionais" paraa tomada de decisões, auxiliado por várias disciplinas, comoa economia, a sociologia e a geografia (FALUDI 1973). Avisão necessariamente globalizante e integrada buscada peloPlanejamento resultou em um tratamento da cidade comoum sistema, ou conjunto de sistemas, racionalmente dispos-tos (McLOUGHLlN 1969)

Os enfoques generalizantes advindos desta visão ignoravamespecificidades do urbano, tanto a nível físico-espacial, quantosócio-eultural, ou mesmo microeconômico. Os planos urba-nos eram elaborados a partir de estatísticas e dados ditosobjetivos, e as propostas resultantes possuíam pouca ou ne-nhuma relação com a realidade do cotidiano da população.Além disto, o planejado r seria um profissional basicamentepreocupado com alocação de recursos. Portanto " ... no Plane-jamento Urbano as propostas físico-espaciais são formuladasa partir de diretrizes ou planos sócio-econõmicos e institu-cionais. o espaço urbano é prefigurado através de outroscampos disciplinares, quando não é totalmente omitido"(KOHLSDORF 1985: 41). Compreensão semelhante da ques-tão existe entre diversos outros estudiosos (p.e. ATKINSON1979, GOODEY 1979, BARNETT 1982, APPLEYARD & JA-COBS 1982, GOSLlND & MAITLAND 1985).

Enquanto isto, com a "descoberta" do Planejamento e oseu novo estatus acadêmico, ao fim dos anos 60, os arquite-tos, conturbados em sua identidade profissional, formam-seplanejadores urbanos, "abandonando o ferramental básicode sua profissão. e buscando nas ciências sociais ... novosinstrumentos para intervir no tecido urbano sem, entretanto,abandonar os preconceitos e o formalismo do MovimentoModerno da Arquitetura" (GASTAL 1984: 74)

Tudo isto fez com que a dimensão urbanística e a escala viven-cial do cotidiano dos cidadãos, aquilo que percebemos e vive-mos diretamente, fossem totalmente ignoradas pelos planosdiretores e outros instrumentos do Planejamento Urbano.Os zoneamentos, por exemplo, eram manchas coloridas emum mapa escala, no mínimo, 1: 10.000, tratados em suaforma final até com a preocupação estética de uma pintura.Assim, as re ultantes tinham pouca ou nenhuma relação comas caracterí Ilcas do local: morfológicas, topográficas, fundiá-rias ou sóci ,ulturais e políticas. As especificidades paisagís-ticas ou amlllentais, as identidades dos bairros e o caráterdas cidade, não eram objeto de preocupação. Os códigos

de obra, ainda hoje, prevêem tipologias construtivas rígidase comuns a um território de grandes proporções, bem comozonas homogêneas independentemente das característicaslocais; uma situação comum na grande maioria das cidadesbrasileiras e no caso do Rio de Janeiro, que apresentamosno estudo em anexo.

Por sua vez, a Arquitetura tampouco mostrava-se com maio-res preocupações pelo cotidiano dos cidadãos ou pelas espe-cificidades físico-ambientais das cidades e seus subcomparti-mentos. Por um lado, ainda como nos lembra KOHLSDORF(1985). a formação profissionalizante, sem tradição de pesqui-sa, investigação e teorização, gerava uma ausência de refle-xão na produção arquitetônica. Por outro, o Modernismo emquase nada, ou nada, preconizava uma inter-relação biunívocaentre a edificação e o seu contexto, formal ou socialmente.

São inúmeros os exemplos desta problemática de distancia-mento contextual da Arquitetura, como já vimos anterior-mente. Cidades repletas de boa arquitetura não possuem,necessariamente, um bom Desenho Urbano geral: o resul-tado final não é a simples soma das partes (BARNETT 1982,GOODEY 1985). As preocupações dos arquitetos, em plenosanos 60 e início dos 70, resumiam-se quase que exclusiva-mente a buscas formalistas e debates de estilo, ou a novastecnologias e métodos construtivos. Evidentemente, não setrata aqui de menosprezar estas temáticas, mas de apontara subestimação da contextualidade patente na obra arquite-tônica de então. Ainda assim, campos de pesquisa foramexplorados neste sentido, como a participação comunitáriae a semiologia, uma das fontes que deram origem à Arquite-tura Pós-Moderna.

Com a importãncia dada 20 símbolo, enquanto transmissorde valores sócio-culturais específicos, os estilos assumiriamprioridade maior na produção arquitetônica, principalmentenaquela ligada à classe dominante e à burguesia ascendente.Uma postura, aliás, bastante coincidente com a situação en-tão buscada pelo Movimento Modernista e o InternacionalStyle: muito diferente do engajamento social-democráticode suas origens. Prevaleciam os modelos formais ou de fun-cionalismo extremado, a "corporation image" e o "hig tech"com as últimas inovações tecnicistas.

Portanto, o ensino e a prática da Arquitetura estavam igno-rando preocupações tão vitais para a qualidade das cidadescomo a inserção da obra em seu contexto urbanístico: res-peito a tipologias, a morfologias, à paisagem, ao sítio e àsinter-relações entre os vários elementos urbanos e seus usuá-

Page 48: Introdução ao desenho urbano

rios. A arquitetura, como o Planejamento, não conseguia umaperfeita integração de seu objeto de estudo e trabalho ao"genius loci", expressão feliz de NORBERG-SCHULZ (1980)que bem expressa o caráter e a identidade de um lugar.Outros estudos também já começavam a apontar para a im-portância de um novo redirecionamento da prática arquite-tõnica para a questão da "criação do Lugar", ou seja, parauma "redefinição crítica porém criativa das qualidades concre-tas do domínio do construído" (FRAMPTON 1981: 10). Estaquestão conforma uma das preocupações principais do Dese-nho Urbano.

Atualmente já se admite que, uma vez gerada uma formaespacial particular, ela tende a institucionalizar e a determinar,em certos aspectos, o futuro desenvolvimento dos processossociais (David HARVEY in TURKIENICZ 1984) O arquitetonão teria trabalhado a interseção entre os processos sociaise a morfologia urbana tendo " ... ou estudado o espaço inde-pendentemente da sociedade real. ou discutido a sociedadereal colocando em segundo plano a configuração dos espa-ços" (TURKIENICZ 1984: 10)

Assim, o distanciamento das preocupações do Planejamentodas de Arquitetura, e o quanto as cidades ainda sofrem como surgimento deste "gap", um verdadeiro abismo disciplinarno tratamento do urbano em sua dimensão mais evidentepara a população: o espaço vivencial público de seu cotidiano.Foi para responder à necessidade de complementar este"gap" que se impôs o Desenho Urbano, com suas novascategorias de análise e atuação sobre o urbano.

Desenvolvimento Acadêmico-Profissional eDesenho Urbano

A situação acadêmica na Grã-Bretanha em 1970 foi analisadapor importante relatório do Real Instituto Britânico de Arquite-tura (RIBA) que admitiu a necessidade de profissionais treina-dos em Desenho Urbano no mercado e no Poder Público(citado in GOSLlNG & MAITLAND 1985 7). Uma décadadepois, documento elaborado por GOODEY (1982) para oConselho de Pesquisas em Ciências Sociais (Social ScienceResearc Council, SSRC) seria demonstrativo dos caminhostomados pelo Planejamento Urbano e a Arquitetura na forma-ção de campo disciplinar para o Desenho Urbano.

Neste documento afirma-se que o apoio de entidades oficiais,como o próprio SSRC e os Reais Institutos de Arquitetose de Planejadores da Grã-Bretanha (RIBA e RITP), foi instru-

mental para o desenvolvimento dos cursos de Desenho Urba-no e sua sobrevivência, em termos de alocação de recursos.Da mesma forma, este apoio foi vital para a conquista do"espaço profissional" no mercado de trabalho. Neste pontoos graduados em Desenho Urbano, segundo o documento,não encontravam dificuldades em obter emprego, pois erampercebidos como portadores de uma série específica de co-nhecimentos e novas idéias.

Portanto, já no início dos anos 80 existiam nove cursos depós-graduação em Desenho Urbano na Grã-Bretanha captan-do, inclusive, grande clientela de alunos do exterior. Estescursos, por convicção, preocupavam-se em oferecer um trei-n m nto pragmático para seus estudantes, visto como es-

nci I para o Desenho Urbano, uma disciplina de "design".Er m programas que geralmente se situavam entre os depar-tamentos de Planejamento Urbano e de Arquitetura das facul-dades, entendendo sua função também como uma espéciede "remédio": os inscritos, se planejadores, teriam que rece-ber formação em temas de natureza físico-espaciais, de "de-sign" e estética; se arquitetos, teriam que passar a compreen-der e saber atuar sobre todo o entorno de sua área e ocontexto urbano como um todo.

Em relação a esta questão, estudos encomendados peloSSRC ao seu Comitê de Planejamento concluíram que oscursos de Desenho Urbano deveriam ser multidisciplinares,incluindo disciplinas de Arquitetura, Paisagismo, Planejamen-to e disciplinas instrumentais, como Sociologia, Antropologiae Psicologia. Sua preocupação principal deveria ser em rela-cionar os sistemas analíticos das Ciências Sociais com possi-bilidades de compreender e desenhar a cidade e seus espa-ços: um nível mínimo de competência em desenho projetivoera exigido dos estudantes inscritos nos cursos.

O Grupo de Trabalho do SSRC, em trabalho de 1980, concluíaquanto a uma possível definição de Desenho Urbano que:"Como Planejamento, o termo Desenho Urbano está abertoa uma série de t/'Jterpretações. Nós o entendemos, de umamaneira geral. como Significando o projeto e gerenciamentodo meio ambiente tndimensional, maior que a edificação indi-vidual. Consideramos que seu campo de interesse localizou-se na t/'Jterface entre a arquitetura paisagística e o planeja-mento urbano, inspirando-se na tradição de projeto da arquite-tura e da arquitetura paisagística, e na tradição de gerencia-mento ambiental e de ciênâas soâais do Planejamento con-temporâneo" (in B. GOODEY 1982 13)

Page 49: Introdução ao desenho urbano

Também Kevin LYNCH (1979: 65) considera o Desenho Urba-no mais como uma atividade de planejamento do que de"arquitetura grande", pois lidava com objetivos para períodosde tempo consideravelmente grandes, tratados através depolíticas, programas e diretrizes, mais do que de projetosespecíficos. Mas, interessantemente, enquanto faz questãode frisar tratar-se mais de uma arte do que de uma ciência,afirma que não é tarefa específica de arquitetos. Reafirmaesta posição em obra posterior, a última antes do seu precocefalecimento, quando diz que "o Desenho é uma arte ... umamistura peculiar de racionalidade é irracionalidade" (LYNCH1981: 290)

Enquanto o SSRC desenvolvia seus estudos, nos EUA a edu-cação do Desenho Urbano era implementada em diversoscursos, sendo que o seu primeiro programa, como o conhe-cemos hoje, parece ter sido iniciado em Harvard, por voltade 1960 (BARNETT 1982). A matéria foi objeto de importanteConferência da Costa Oeste nos Estados Unidos, em 1979,na Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde dava-seo tom da disciplina naquele País. Concluía-se, na época, queo interesse do público no Desenho Urbano ultrapassa a ques-tão de implantação de edificações específicas ou de detalhesde projeto, dirigindo-se à questão de qual vai ser o estilode vida e a imagem da sua cidade, o seu "caráter" geral.Poder-se-ia afirmar, segundo as conclusões da Conferência,que as comunidades estariam engajadas em lutas relativasà imagem de sua cidade, uma imagem da qual dependeriampara identidade própria e auto-respeito. O Desenho Urbano,portanto, é frequentemente utilizado para proteção ou institui-ção desta imagem urbana (LYNCH 1960 e 1976, GOODEY1979).

Enquanto o Desenho Urbano se concentra, atualmente, emcompreender as complexidades do processo de desenvol-vimento urbano e em elaborar possibilidades para interven-ções a nível da qualidade físico-ambiental, já em sua institucio-nalização acadêmica inicial admitia-se que ele não poderiaignorar praticamente nenhuma área de conhecimento do am-biente urbano e da vida de seus habitantes. Assim, são utiliza-dos teorias, procedimentos e técnicas de Arquitetura, Psico-logia, Ambiental, Geografia, História, Paisagismo, Planeja-mento, Ciência Política, Engenharia, Transportes, Adminis-tração de Imóveis, Micro-Economia e tantas outras.

Neste sentido, SAMPAIO (1986: 36) afirma acertadamenteque" ... a complexidade do fenômeno urbano induz as catego-rias de análise ao nível interdisciplinar, inclusive para clareara especificidades do próprio espaço físico". Segundo ele,

estas categorias em muito ajudam a definir o próprio sentidoda forma, mas nunca antes estiveram instrumentadas paraoperações de criação e de dar forma ao espaço.

o Desenho Urbano concentra-se, então, em algumas temá-ticas de desenvolvimento disciplinar, as quais podemos iden-tificar como sendo:

- técnicas e instrumentos de controle do desenvolvimentodo meio ambiente construído;

- interpretação de valores e necessidades comportamentaisindividuais e de grupo;

- desenvolvimento de técnicas operacionais do ambiente ur-bano;

Portanto, além da pesquisa fundamental em campos discipli-nares diferentes, aplicados ao ambiente urbano, às percep-ções, ao comportamento e aos valores da população, é funda-mental que o Desenho Urbano possa desenvolver programase projetos operativos, com horizontes de médio e longo prazode implantação.

A marginalidade (no sentido de estar fora) do Desenho Urba-no, em relação aos campos acadêmicos e profissionais tradi-cionalmente mais fortes e competitivos, vem fazendo comque hoje ele enfrente uma intensa limitação de recursos parapesquisa, ou mesmo para o próprio funcionamento dos cur-sos (GOODEY 1982). Isto o coloca em situação extrema-mente difícil, indicando que as fronteiras profissionais estãose fortalecendo e que o Desenho Urbano corre o risco dese perder neste "jogo". Esta vem sendo, sem dúvida, asituação na Grã-Bretanha, principalmente face aos grandescortes de subsídios promovidos pelo Governo Thatcher.

Já nos EUA a atuação do Desenho Urbano é mais sólida,se não conscientemente, ao menos em termos das práticasde governo e profissional. Naquele país, a dimensão públicadas cidades e dos bairros é motivo de grande interesse porparte da população, que dela participa ativamente.

Page 50: Introdução ao desenho urbano

Os programas de Desenho Urbano têm, inclusive, cedidoo espaço acadêmico aos de" environmental design", ou dese-nho ambiental, em que se tenta um enfoque ainda maisamplo para a questão do meio ambiente. Talvez um dosmotivos principais para esta modificação tenha sido a institu-cionalização dos relatórios de impacto ambiental e suas con-sequências para o projeto, bem como a importância assumidapelos estudos de percepção e comportamento, prestandodefinitivamente um caráter interdisciplinar à atuação sobreo ambiente construído.

De qualquer forma, nos EUA o Desenho Urbano é visto comoimportante área profissional, onde a maioria dos atuantessão arquitetos ou "planners" (graduados em planejamento).tal qual o perfil encontrado na Grã-Bretanha. A diferença éque no contexto de desenvolvimento norte-americano, aquestão da qualidade da dimensão físico-!:lspacial da cidadeadquire importância fundamental à reprodução do Capital eà satisfação política dos grupos de comunidade. Este con-texto é, acredito, de especial interesse para nós, uma vezque o sistema capitalista norte-americano, quanto à questãoda ocupação do solo urbano e dos empreendimentos imobiliá-rios, possui situações extremas e equiparáveis à das grandesmetrópoles brasileiras.

Concordante com BENTLEY (1979': 41) é preciso cada vezmais entender o "desenhador urbano" como um promotorimobiliário consciente. Ele deve ser capaz de conquistar ashabilidades para o controle do desenvolvimento urbano queo permitam se engajar na negociação em todos os níveisdo processo, principalmente quanto às implicações econômi-co-financeiras das imagens e formas que está promovendopara um determinado ambiente. Com isto não se está tentan-do minimizar a importância dos aspectos físico-espaciais, masatentar para fortes aspectos determinantes de sua implan-tação e seu sucesso real.

Ainda sobre esta questão, destacamos a importância dostrabalhos e publicações de BARNETT (1974,1982), um arqui-teto que instituiu e liderou o departamento responsável peloDesenho Urbano da prefeitura da cidade de Nova lorque,EUA. Cabe a citação de um deles:

"O futuro do desenhador urbano está naquelas instituiçõesgovernamentais que detêm o poder sobre as decisões delarga-escala no meio ambiente, e naqueles negócios e indús-trias cujas atividades têm um grande impacto em nosso entor-no físico.

Colocando em outras palavras, as mesmas instituições queforam consideradas os "caras maus" no desenho das cida-des possuem a maior capacidade de ser os caras bons.

Tal transformação deve certamente começar no topo. O su-cesso das atividades cotidianas depende de gente para fazero trabalho, entretanto, as inovações maiores são praticamen-te impossíveis em grandes instituições sem que as liderançasestejam a favor da mudança" (BARNETT 1982: 241).

Portanto, segundo BARNETT e outros profissionais e pesqui-sadores do Desenho Urbano, destaca-se o importante e cres-cente papel do investidor corporativo ("corporation investor")como crucial na qualidade emergente do nosso meio ambien-te. Entretanto, seja qual for a área de pesquisalatuação queentendamos mais importante para o Desenho Urbano, nosdiferentes contextos de trabalho, é certo que necessitamosdeste campo disciplinar para enfrentar a complexidade dosproblemas das cidades modernas (APPLEYARD & JACOBS1982)

E para que possam produzir resultados significativos, tantodo ponto de vista prático quanto do artístico, ainda segundoBARNETT (1982: 12). os desenhadores urbanos devem selivrar da noção negativa de que seu trabalho ficaria "conta-minado" se partissem para a compreensão dos processosdecisórios políticos e do mercado de capitais. Aquela tradicio-nal postura ingênua, ainda hoje comum e típica dos arquitetos,que tapam o sol com a peneira quanto aos processos imobi-liários e especulativos, formação e reprodução do lucro nosprojetos urbanos, não pode ter mais vez no campo do Dese-nho Urbano, sob pena de distanciamento do real e da capaci-dade de implementação.

Os pensamentos de CUTLER & CUTLER (1983: 87) são eluci-dativos quanto às tendências atuais deste campo profissionale acadêmico. Dizem os autores que o Desenho Urbano éonde negócios, desenvolvimentos, governo, planejamentoe projeto convergem. Ainda, ele seria uma tentativa de subs-tituir a especialização por uma compreensão geral dos proces-sos de produção e apropriação do espaço urbano, alcançadaatravés da combinação de alguns estudos em profundidadecom uma maior consciência dos diversos campos discipli-nares que possam contribuir para um enfoque mais corretodo urbano.

Page 51: Introdução ao desenho urbano
Page 52: Introdução ao desenho urbano

Capítulo 3Por uma definição de desenho urbano

Faremos, a seguir, algumas considerações sobre as defini-ções mais comuns de Desenho Urbano antes de traçarmosa nossa própria proposta do que seria este campo disciplinarno Brasil. Após as considerações anteriores, pudemos verifi-car que seu surgimento deu-se no "preenchimento do vazio"entre as disciplinas de Arquitetura e Planejamento, cobrindoo campo vivencial mais próximo do usuário dos sistemase estruturas urbanas. Portanto, podemos resumir as duascaracterísticas principais do Desenho Urbano como sendo:

Esta nossa preocupação por uma definição que seja ampla-mente aceita, não se limita ao campo infrutífero da simplesdiscussão semântica. São considerações que se fazem ne-cessárias para perfeita determinação de um campo acadê-mico e um campo profissional; consequentemente, definindoo seu papel no processo de desenvolvimento urbano. Estadiscussão se faz ainda mais importante no atual momentobrasileiro de desenvolvimento acadêmico e profissional quan-do se utiliza da expressão Desenho Urbano como" ... bálsamopara as feridas abertas pela recente fase, da qual ainda nãosaímos, do urbanismo e da arquitetura irresponsáveis" (DELRIO 1987: 103). Em ocasiões anteriores nos propusemosa discutir definições de Desenho Urbano aplicáveis ao con-texto brasileiro pois já vislumbrávamos risco de a expressãoser adotada irrestritamente por mero modismo, dos que nos-so país se vê seguidamente vítima (DEL RIO 1982, 1985,1986, 1987).

Importante compreender, de início, um dos problemas en-frentados por nós: o termo inglês "design" possui conota-ções muito mais amplas do que seu correlato em nossalíngua. Significa muito mais do que desenho, uma atividadebasicamente artística em português, e não é plenamentetradutível para projeto, como querem muitos. Isto porque"design" possui toda uma conotação que engloba desenho,projeto, planejamento e processo: não é a palavra limitadorae estática como desenho ou projeto, em suas conotaçõesusuais. Segundo LANG (1987), "design" pressupõe síntese,análise, previsões, avaliação e tomada de decisões (ondese encontra concentrada a criatividade). O dicionário de Ox-ford traz toda uma série de definições para "design", sãoao menos oito entre as quais a de "adaptação dos meiosaos fins" (The Concise Oxford Dictionary, 6~ Edição, 1976)Uma conotação, portanto, que subentende processo e a no-ção de planejamento.

O Urbanismo, por sua vez, teve uma trajetória específicano Brasil. Esta trajetória não permite, a nosso ver, a utilizaçãodeste termo para classificar a atuação do "urban design".De caráter mais amplo em seus objetivos de ação, mas aomesmo tempo mais limitado em suas categorias de análisee ação, o Urbanismo possui, no entanto, lugar na percepçãoe vocabulário da população em geral, sendo palavra maisusual do que a expressão Planejamento Urbano, mesmo nosmeios profissionais. Já é tido como um saber específico,uma "nova ciência para uma nova cidade" (a da RevoluçãoIndustrial"). nos dizeres de Idelfonso CERDA, o idealizadordo plano de Barcelona, por volta de 1867.

O mesmo ocorre com a palavra "urbanista", já notoriamentesignificando "aquele que estuda e projeta cidades", muito

Page 53: Introdução ao desenho urbano

mais popular do que "planejador", que diz muito mais masnão diz nada ao mesmo tempo. Por outro lado, temos oimportante fato de que o Urbanismo já é profissão devida-mente regulamentada pelos Conselhos Regionais de Enge-nharia, Arquitetura e Agronomia (CREAs) e pelo Ministérioda Educação, aparecendo pela primeira vez nas atribuiçõesdo engenheiro civil e do arquiteto em 1936 (LOBO 1964,BIRKHOLZ 1967, SILVEIRA 1984)

O Desenho Urbano, segundo nossas considerações aqui tra-çadas, pode ser entendido como área específica de atuaçãodo Urbanismo. Caberia, entretanto, no contexto do Brasil,uma total reavalização e recuperação acadêmica do Urba-nismo, tratado de forma extremamente limitadora há muitonos poucos cursos de pós~raduação que ainda existem. En-tende-se que ele deva tratar da cidade de maneira interdis-ciplinar, preocupada com sua organização ambiental e seusprocessos sociais. O urbanismo trataria dos ambientes urba-nos. a cidade. como um todo e das políticas e programaa ela aplicáveis, políticas. sociais. econõmicas. espaciais esetoriais.

Neste sentido. os Urbanistas poderiam ser arquitetos. enge-nheiros, geógrafos, psicólogos. sociólogos. médicos, sanita-ristas. biólogos, ecologistas e tantos outros profissionais quetêm na inter-relação entre o urbano e a população as suaspreocupações fundamentais. Já o Designer Urbano, especia-lidade maior da área do Urbanismo. deveria ser profissionalCom maior embasamento de formação acadêmica na dimen-são físico-espacial. o que por vezes o confunde, limitada erro-neamente. ao arquiteto e ao engenheiro.

Por estas razões. podemos tão-somente estar sempre aber-tos ao debate quanto a esta questão, enquanto temos adota-do, até mesmo por falta de melhor substituto, a palavra dese-nho como sua equivalente em inglês, conotando todos ossignificados daquela. Por isto também temos nos referidoComo "designers urbanos" aos profissionais que atuam nocampo. Somos, entretanto, abertos para outra posição desdeque de consenso, como já observamos em ocasiões pas-sadas.

Assim como outras disciplinas, caso da própria Arquiteturae o Planejamento Urbano, há inúmeras dificuldades em setentar definições como esta pois existe margem para interpre-tações diversas a partir mesmo de contextos sócio-culturaisdiferentes ou da formação do pesquisador. Acreditamos,no entanto, que o debate em torno do assunto é positivo

e só pode tender a um consenso. Por isto, o mais indicadoparece ser a busca de definições a partir do objeto em quese pretende atuar e dos objetivos a se alcançar, observandoo contexto onde estará inserido, no caso, o brasileiro.

Não podemos, entretanto, concordar com o tratamento quealguns vêm dando ao Desenho Urbano no Brasil. Existe umacerta confusão de definições aplicáveis: ele é uma nova mo-da. Como afirmamos em ocasião anterior, utiliza-se destaexpressão inconsequentemente, apenas porque vêem nelauma nova roupagem para suas antigas práticas de "arqui-tetura grande" ou de planejamento urbano "arrependido".Há poucos anos passávamos por processo semelhante, quan-do da adoção da palavra "planejamento"; sua instituciona-lização como uma nova disciplina cedeu a um aparte anglo-saxão, um modismo sem maiores considerações de seusreais significados potenciais, ou sua inserção em nosso con-texto em que já se utilizava do termo "urbanismo". Até mes-mo em Arquitetura a disciplina de Projeto teve seu nometrocado pelo de Planejamento de Arquitetura.

Como observado por GASTAL (1984: 74) " ... nos anos 70,a elite urbana (brasileira) buscava seus símbolos de progres-são nas fontes da vertente cultural anglo-saxônica", a inven-tora do "city" ou "urban planning". O mesmo autor aindamostra como os processos de Desenho Urbano naquela épo-ca eram voltados para a solução e não à interpretação dosproblemas, gerando propostas baseadas em conceitos deeficiência, sob o ponto de vista etnocêntrico da elite culturaldominante. Realmente, ainda hoje em diversos casos, pareceque o simples fato de o profissional adotar a expressão Dese-nho Urbano como nova etiqueta classifica-o melhor para aatuação, mesmo que ela não difira em seu conteúdo dasanteriores, quanto à qualidade e legitimação de seus produtosfinais.

Exemplo desta atitude podemos encontrar em diversas publi-cações brasileiras recentes que se intitulam sobre o tema.Muitas possuem grandes inconsistências teóricas e não tra-zem um posicionamento coerente sobre o que entendempor Desenho Urbano. Alguns estão claramente seguindo "amoda", como é o caso de RODRIGUES (1986: 9). que chegaa afirmar que utilizava o termo Urbanismo, depois utilizoua expressão "Arquitetura dos Espaços Urbanos" e que" ...agora cedemos às tend~ncias atuais (grifo nosso) no sentidode adotarmos a denominação Desenho Urbano, embora des-conhecido para o leigo se o compararmos com Urbanismo".

Page 54: Introdução ao desenho urbano

Parece, inclusive, que diversos destes trabalhos ignoram ostextos mais importantes no desenvolvimento de nosso cam-po disciplinar.

o Desenho Urbano, a nosso ver, tampouco comporta defini-ções aplicadas a áreas geograficamente limitadas da cidade,como o bairro ou o espaço entre os edifícios. É o caso daimportante obra de GOSLlNG & MAITLAND (1984, DEL RIO1987), por exemplo: os autores certamente acertaram consi-derando que o Desenho Urbano lida com a dimensão pública("public realm") mas também afirmam que ele " ... lida coma forma física da esfera pública em área limitada da cidadee, portanto, situa-se entre as bem estabelecidas escalas daArquitetura, e do Planejamento ..." (GOSLlNG & MAITLAND1984: 9). É evidente que a forma física das partes da cidadeé aspecto importante na determinação de sua qualidade am-biental, mas o Desenho Urbano não se limita a isto, comopretendemos demonstrar.

É curioso trazermos, aqui, o ponto de vista tradicionalistade BACON (1967), embora com restrições pois carregadode etnocentrismo, quando afirma que a forma da cidade éum indicador do estado de uma civilização. Poderíamos acei-tar tal afirmação se lembrarmos que, realmente, as relaçõesentre as formas urbanas e os processos sociais que as produ-zem e delas se apropriam são, realmente, indicativos dascaracterísticas de uma sociedade. Há muito concorda-se naimportância do estudo da história urbana como processo so-cial para uma melhor compreensão do momento presentee melhor determinação de nosso futuro, como nos faz vera colossal obra de MUNFORD (1961). Neste ponto somosconcordantes com ROSSI (1966) e com LUCAIN (1981) emque toda função social só é visível e possível através deuma forma, e que é a forma que permite a existência dofato urbano.

Importante é frisar que as características democráticas e plu-ralistas do Desenho Urbano são a própria essência de suascategorias de análise e da sua atuação, identificáveis nosdiscursos dos mais importantes profissionais e pesquisado-res, e em suas definições para Desenho Urbano. Trata-se,aliás, como afirmam MACKIE & METHUEN (1978), do campodisciplinar que o público mais identifica como PlanejamentoUrbano. Já BACON (1967: 13) apresentava a interessanteafirmação que " .. a partir de uma visão clara da idéia dedesenho, a multiplicidade de vontades que constituem nossoprocesso democrático contemporâneo podem se fundir emação positiva, unificada, em escala de tamanho tal que possaalterar substancialmente o caráter de uma cidade". Aqui,

o autor nos transmitia otimismo talvez em demasia, mascertamente um cenário desejável enquanto produto contínuode um processo político democrático.

A "escola americana" nos ajuda a compreender o contextode atuação e possíveis definições para Desenho Urbano. Oarquiteto-antropólogo Amos RAPOPORT (1977), por exem-plo, diz que o Planejamento difere do Desenho Urbano, emparte, por uma questão de escala pois não se pode desenharuma cidade inteira mas organizá-Ia e estruturá-Ia: enquantoo Planejamento lida com decisões políticas e locacionais,o Desenho Urbano trata da natureza dos elementos urbanose suas inter-relações, como experimentados e compreen-didos pela população.

Uma definição eficiente é dada por CUTLER & CUTLER (1983:81) que dizem que o Desenho Urbano é "a disciplina quelida com o processo de dar forma e função a conjuntos deestruturas, bairros inteiros ou à cidade em geral". Mas, nonosso entender, uma importante contribuição foi dada pelogeógrafo GOODEY (1979) ao destacar as seis característicasbásicas que marcam o campo de iltuação do Desenho Urba-no, que não se limita a uma delas em particular:

Escala espacial: o espaço entre os edifícios, o bairro, locaisdas atividades do cotidiano;

Escala temporal: transformações e evolução, meio ambien-te como processo, programas e linhas de ação;

Interações homem/meio ambiente: campo onde usuáriose grupos sociais são identificáveis, análise destas realizaçõese das transformações;

Cliente múltiplo: negociações e conciliação de interesses,o profissional como animador ou catalisador;

Multiprofissional: capaz de compreender as capacidadese os limites de outras profissões e de coordenar suas açõesem relação à dimensão físico-espacial do urbano e suas fun-ções;

Monitoração/Orientação: capacidade de controle de desen-volvimento urbano dirigir o processo de transformação deuma área ou da cidade.

Page 55: Introdução ao desenho urbano

Entretanto, o autor mais influente no campo do DesenhoUrbano, referência obrigatória para qualquer trabalho, o ameri-cano Kevin LYNCH não se utilizava da expressão DesenhoU~bano, mas de "City Design", acreditando ser esta maisampla e aplicável à atuação em nossos contextos sócio-eul-turais (LYNCH 1979, 1981). Esta expressão, no entanto, não"pegou", talvez por já possuir conotações muito limitadorasno passado, como já vimos anteriormente, e pelo fato de"urban design" já estar sendo amplamente utilizada àquelaépoca.

LYNCH sempre buscava inserir em suas preocupações depesquisa e, consequentemente, nas definições que apresen-tava para "City Design" ou Desenho Urbano, tanto a dimen-são físico-espacial quanto a temporal. a idéia do gerencia-mento do Habitat, e os seus efeitos nos cotidianos e nasexperiências individuais da população (LYNCH 1979). Em suaúltima e importante obra afirmava que o Desenho Urbanoé:

.. a arte de criar possibilidades para o uso, gerenclamentoe forma de assentamentos ou de suas partes significantes.Ele lida com padrões no tempo e no espaço, tendo suajustificatIVa na experiência cotidiana humana destes padrões.Não lida exclusivamente com coisas grandes, mas tambémcom politicas para coisas menores - como bancos, árvoresou o sentar em pórticos e entradas - quaisquer aspectosque afetem o performance do assentamento. O "City Oe-sign" se preocupa com objetos, atividades humanas, institui-ções de gerenciamento e processos de transformação"(LYNCH, 1981: 290).

Partindo, portanto, do campo de atuação produto do DesenhoUrbano, podemos finalizar esta primeira parte de nosso traba-lho propondo defini-Io como o campo disciplinar que trataa dimensão ffsico-ambiental da cidade, enquanto con-junto de sistemas f(sico-espaciais e sistemas de ativida-des que interagem com a população através de suas vi-vl}ncias, percepções e ações cotidianas, Procura-se tratarda produção, da apropriação e do controle do meio ambienteconstruído, processos estes que estão, necessariamente,permeados pela dimensão temporal.

Page 56: Introdução ao desenho urbano

Parte 11

, rocessos mêtódologias

Page 57: Introdução ao desenho urbano
Page 58: Introdução ao desenho urbano

Capítulo 4Processo de planejamento e desenho urbano

Vimos, nos comentários já delineados, que o Desenho Urbanodeve ser encarado muito mais como PROCESSO do quecomo projeto ou produto acabado. Realmente, o gerencia-mento físico-ambiental da cidade e de seus processos detransformações, como nos demonstraram diversos estudio-sos, estão muito mais ligados a uma atividade de planeja-mento do que de arquitetura (LYNCH 1981; BARNETT 1982;CUTLER & CUTLER 1983).

O trabalho de SHIRVANI é elucidativo a este respeito quandocomenta como as "atividades de desenho urbano buscamdesenvolver o quadro de políticas onde os desenhos físicossão criados" (SHIRVANI 1985: 2). O autor argumenta quea atividade em discussão sempre fez parte do quadro geraldo planejamento pois, após uma primeira decisão de construirou não, logo se tem de entrar numa segunda categoria deci-só ria que deve ser o que e como construir: função, localiza-ção, configuração, modos de implementação e relacionamen-tos com o entorno Para SHIRVANI o Desenho Urbano éa parte do processo de planejamento que lida com a qualidadedo meio ambiente e, portanto, pos,\ui um grande compro-misso público.

Assim, as cidades sempre lidam com o Desenho Urbanoem seus processos de planejamento, mesmo que inconscien-temente, pois todas as decisões terminarão por afetar a quali-dade do meio ambiente.

Mas quando deve aparecer o Desenho Urbano no processode planejamento 7 É evidente que a existência e o funciona-mento de uma cidade são fatos extremamente complexosque demandam um amálgama de conhecimentos multidisci-plinares para sua compreensão, planejamento e administra-

ção. O Desenho Urbano aparece como uma dimensão quedeve sempre permear o processo de planejamento, desdea elaboração dos objetivos gerais até a consecução de suasestratégias e recomendações específicas. A preocupação pe-la qualidade físico-espacial do meio ambiente deve nortearos esforços do setor público e, ao mesmo tempo, ser produtodestes esforços.

Na verdade é uma distorção pensarmos em onde deve dar-seo "fim do Planejamento Urbano e o começo do DesenhoUrbano", como muitos buscam saber. O processo de planeja-'mento, ao ser permeado sempre pela dimensão do desenho,embute um processo constante de idas e vindas do conteúdopara o continente, do produto para o fato criador. Não existeum momento exato para "começar a pensar em DesenhoUrbano", esta preocupação deve estar sempre presente naadministração das cidades, gerando uma inter-relação dinâ-mica e constante entre planos e projetos (entre o geral eo particular), entre conteúdo e continente (entre dentro efora), entre a formulação e aimplantação (entre início e fim).Desta maneira, estar-se-ia evitando um dos equívocos relati-vos à ordenação de nossas cidades, já mencionado anterior-mente quando relatamos a problemática das cinco questõesambíentais básícas dos anos 60 que fomentaram o apareci-mento do Desenho Urbano enquanto campo de conhecimen-tos específicos.

Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha7 O ovo, o produtofinal. não poderia ser gerado sem que o agente gerador esti-vesse plenamente consciente de sua forma, seu conteúdo,os tempos e materiais envolvidos. Elaboração de objetivos,planejamento, desenho, implementação e administração de-

Page 59: Introdução ao desenho urbano

vem ser compreendidos como intimamente inter-relaciona-dos. Os planos determinam e influenciam o físico-ambiental.tanto quanto o Desenho Urbano deve influenciar a elaboraçãodos planos e seus objetivos

O planejamento deve ser entendido como uma atividade-meio permanente, um processo indispensável à tomada dedecisões. A partir de decisões políticas a nível dos objetivossociais e econômicos a serem alcançados, é através do plane-jamento que estabelecemos os melhores meios e ações paraatingir estes objetivos. Nesta lógica, podemos entender oDesenho Urbano também como atividade-meio a nível daconfiguração físico-espacial e atividades humanas comple-mentares. Suas atividades-fim seriam seus programas e pro-jetos, com impactos diretos no cotidiano das populações.

Um dos pesquisadores mais respeitados em Desenho Urba-no, Christopher ALEXANDER, e equipe desenvolveram teorianeste sentido, com o objetivo de possibilitar a geração daforma construída, seja arquitetura seja cidade, com a quali-dade da "maneira intemporal" de construir, o "genius loci"indefinível encontrado em algumas obras e ambientes reco-nhecidamente excepcionais em todo o mundo (ALEXANDERet ai. 1977). Para tanto, desenvolvem uma linguagem depadrões (ou tipologiasl. ao todo 253, plenamente interligados,através dos quais é possível uma infinidade de combinações.Estes padrões nada mais são do que critérios filosóficos queamoldam o desenvolvimento de projetos e programas. As-sim, por exemplo, para o padrão n? 25, chamado "acessoa corpos de água" (access to water) afirma-se:

'Ouando corpos de água naturais ocorrem cerca de assenta-mentos humanos, trate-os com grande respeito. Sempre pre-serve uma faixa de terra comunitária imediatamente juntoà água. E permita que assentamentos densos venham atéa água apenas em intervalos infrequentes ao longo da mar-gem" (ALEXANDER et aI. 1977: 137)

Recentemente, ALEXANDER e seus colaboradores publica-ram um desenvolvimento destas idéias que propõe ser umanova teoria de desenho urbano (ALEXANDER et aI. 1987).Nela aceita-se que a principal qualidade do desenho das cida-des do passado é a unidade do todo, uma unidade "orgânica"perdida na cidade moderna, que se refletia em todos os seusdetalhes. Os autores defendem que esta comparação comas formas biológicas não é uma simples analogia, mas uma" ... visão acurada de uma qualidade estrutural específica.

cada uma destas cidades crescia como um todo, segundosuas próprias leis do todo ..." (ALEXANDER et aI. 1987: 2).Para viabilizar a recuperação do que com razão define como"processo" de desenho, propõem que todas as ações sejamintegradas e obedeçam sempre a sete regras que só seriamválidas se utilizadas juntas e em busca desta "totalidade"(wholeness) orgânica. Desta maneira lida-se com crescimen-to por pequenas partes, a integração das partes com partesmaiores, qualidade de comunicação e integração das edifica-ções, criação de espaços urbanos coerentes e bem definidosentre as edificações etc. Os autores incluem no livro a aplica-ção destas idéias numa proposta para uma área de "water-front" de São Francisco.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, APPLEYARD & JA-COBS (1982) escreveram um manifesto de Desenho Urbano.Os autores salientam algumas metas, a nível geral de Planeja-mento, para a vida urbana de boa qualidade, tais como: identi-dade e controle, acesso a oportunidades e ao lazer, vidacomunitária e pública etc. Posteriormente, definem quais se-riam as cinco grandes características do Desenho Urbano,vistas como metas específicas em uma atividade-meio: ruase vizinhanças de convívio, densidades mínimas e intensida-des de uso para a vida urbana, integração de atividades, asedificações devem ser organizadas como definidoras de espa-ços públicos, e, finalmente, diversidade nas inter-relaçõese configurações entrelde edificações e espaços.

Finalmente, salientamos que possui postura semelhante ogenial Kevin LYNCH (1981) que, ao contrário de tentar umtrabalho normativo sobre Desenho Urbano, desenvolveu oque intitulou uma "teoria para a boa forma urbana". Nela,LYNCH apresenta o que denominou "dimensões de perfor-mance", ou seja, grandes valores ou metas para o DesenhoUrbano que, se respeitadas e perseguidas, semeariam o ca-minho para ambientes urbanos de qualidade. São elas:

- vitalidade: grau em que a forma apóia as funções humanasvitais; dimensão ligada diretamente a nosso bem-estar físico;

- senso: grau em que o assentamento é percebido, com-preendido e estruturado mentalmente em termos espaciaise temporais;

• congruência: capacidade da forma e dos espaços apoiaremações, comportamentos e atividades sociais e humanas;

Page 60: Introdução ao desenho urbano

- acesso: possibilidade de alcançar outras pessoas e todosos lugares do assentamento;

- controle: grau em que os habitantes controlam a produção,o uso e a gerência do ambiente urbano;

. eficiência: relação custo-benefício de criar e manter oassentamento;

- justiça: forma pela qual os benefícios ambientais são distri-buídos pela população.

Portanto, como vemos, o Desenho Urbano deve ser encaradocomo uma atividade de planejamento, cujos objetivos se re-portam à qualidade físico-ambiental das cidades. Em termostemporais no processo de elaboração de planejamentos inte-grados, por exemplo, não há como identificar um momentoexato para a inserção da preocupação pelo Desenho Urbano,ao contrário, ela deve existir desde o primeiro momento depensar a cidade, permeando todo o processo desde a defini-ção dos objetivos políticos a alcançar até os instrumentose programas de implantação.

Nada mais ilustrativo do tema que agora abordaremos doque o comentário de Jonathan BARNETT (1982: 13): "muitoda história recente do Desenho Urbano teve a ver com oproblema de desenhar cidades sem desenhar edifícios". Se-gundo este autor, o nosso desafio está em "identificar asregras para as opções significativas que dão forma à cidadedentro de um quadro institucional que possa ser modificadona medida em que os tempos, e as necessidades, mudam"(BARNETT 1982: 12). Desta questão certamente BARNETTentende, uma vez que foi o responsável pela organizaçãodo departamento de Desenho Urbano da cidade mais dinâ-mica do mundo, Nova lorque.

Muito se discute sobre as dificuldades de implementaçãode critérios, normas e projetos que busquem verdadeiramen-te a qualidade físico-ambiental das cidades. Para muitos, istoseria impossível dentro do contexto de uma economia demercado, onde todos os investimentos sempre buscam lucromáximo; nesta lógica, a qualidade ambiental não teria vez.Grande engano, pois já existem inúmeras experiências portodo o mundo que demonstram a possível aliança entre osinteresses do poder público, do empresariado e da populaçãoa ser atingida (BARNETT 1974, 1982; BENTLEY 1979; CU-

TLER & CUTLER 1983; DEL RIO 1986). Evidentemente, tudodepende da co-relação de forças e o resultado ambientalserá sempre politicamente determinado; entretanto, uma si-tuação de compromisso pode ser atingida. Neste sentido,a responsabilidade social do Poder Público é determinante,tanto na perseguição dos interesses da população quantona realização de lucros para o empresariado .

Algumas cidades européias e americanas são exemplaresnesta questão pois conseguiram esta situação de compro-misso entre os diversos grupos de interesse que se expres-sam sobre a dimensão físico-ambiental urbana. As experiên-cias bem-sucedidas repetem-se na Inglaterra, Alemanha, Ho-landa, França e Estados Unidos da América. Neste país, estu-damos mais detalhadamente os casos de algumas cidades,como os de São Francisco, Nova lorque, Washington e Balti-more, onde constatamos alguns resultados de Desenho Urba-no extremamente positivos, tanto no sentido dos resultadosfísico-ambientais, da realização de lucros e de satisfação dapopulação usuária.

Segundo SHIRVANI (1985: 158) "o interesse em DesenhoUrbano vem aumentando na medida em que se conscientizaque ele pode levar a empreendimentos econômicos bem-su-cedidos para uma comunidade enquanto gera ambiente devida com qualidade para a população residente". Neste senti-do, este autor observa como o governo federal nos EUAvem apoiando o Desenho Urbano, desde 1969, através doPrograma de Desenho Ambiental Urbano, componente doAto de Política Ambiental Nacional (National EnvironmentalPolicy Actl. importante peça legislativa que implantou a obri-gatoriedade dos influentes relatórios de impacto ambienta Ipara a liberação de financiamentos e recursos federais (tam-bém em SCOTT 1971).

Em São Francisco a Prefeitura implantou, no início dos anos70, um plano de Desenho Urbano cujo inventário e recomen-dações tornaram-se base para um conjunto claro e consis-tente de políticas para nortear novas legislações de controlee uso do solo. O plano foi instrumental para preservaçãoe para encorajar a continuidade entre o novo e o velho (MOU-DON 1986: 191) e diversos estudiosos são unânimes noselogios a este processo pioneiro (JACOBS 1980, BARNETT1982, SHIRVANI 1985) Partindo de um aprofundado estudoinicial da forma e da imagem existente da cidade, que chegavaao nível da qualidade estética de cada quarteirão e lidavacom levantamentos sociológicos de percepções públicas, aequipe pode gerar um consequente inventário de "princípios

Page 61: Introdução ao desenho urbano

de desenho". As categorias de desenho adotadas na análisee no plano foram:

Os princípios de desenho resultantes. embora em sua maioriasubjetivos e concentrados em percepção visual e confortoestético, geraram base sólida para a formulação de políticassetoriais e de legislação urbanística (figs. 36 e 37). Mais recen-temente, em 1984, aprovou-se um piano de desenho urbanoespecífico e detalhado para a área central, seguindo a mesmaorientação conceitual.

Já no caso de Nova larque, cidade de conhecida intensidadede desenvolvimento urbano e ação do Capital imobiliário, oscasos são bastante complexos, refletem a predominância domercado, mas os resultados nos são extremamente significa-

buildings"""""'--- ., ..•..

;' ,,/' hill "

'" ------....-. ,',~ ~'", '•..

'" ~'..~....~,:;.,.-"-:.:,... .~;:'.

Figura 37 - Recomendação do Plano de São Francisco para ofortalecimento da imagem e da estrutura da cidade, através dopaisagismo e iluminação pública diferenciando a rede viáriaprincipal da local

tivos. Esta cidade havia sido pioneira em regulamentação deuso do solo ao aprovar. em 1916. estandares mínimos de luze ar para as vias públicas e separar atividades incompatíveisentre si (BARNETI 1982, SCOTI 1971). Isto gerou os famososprédios que vão diminuindo sua seção horizontal na medidaem que sobem em altura (fig. 38). A cidade também implantounesta época o "zoneamento de incentivos" e deu início a umprocesso que permite a negociação entre o Poder Público eo empreendedor (este processo será comentado com maioresdetalhes no Capítulo 6 e no Anexo 2).

No final dos anos 60, um grupo de profissionais lideradospor Jonathan BARNETI (1974, 1982) instituiu a prática doDesenho Urbano no Departamento de Planejamento da Pre-

Page 62: Introdução ao desenho urbano

Figura 38 - Vista geral de Manhattan onde identificam-se prédiosdo tipo "bolo de noiva", volumetria resultante do zoneamentopioneiro de 1916 que garantia nfveis de incid~ncia de luz relativosaos gabaritos

feitura de Nova lorque. Para tanto, tiveram de vencer diversasresistências, inclusive legais, quanto a interpretações consti-tucionais do direito de construir. Desenvolveram, então, todauma experiência que, no fundo, diz respeito a negociaçõesentre o poder público e os empresários; como é o casodos distritos especiais, os bônus de, desenvolvimento e osolo criado (embora este último tenha sido aplicado primeiroem Chicago, como veremos no Capítulo 6). Um dos maisrecentes resultados destes processos é o bem-sucedido epopular projeto do distrito histórico de South Street Seaportem Manhattan, uma mescla dos instrumentos distrito espe-cial, preservação histórica e solo criado (fig. 39).

Já no caso de Washington, nos reportamos à atuação daPennsylvania Avenue Development Corporation, uma entida-de semipública (capital misto) que vem obtendo excelentesresultados na reorganização e desenvolvimento físico-am-biental da avenida de mesmo nome, importante artéria nocentro de Washington, que liga o prédio da Casa Brancaao do Senado. Em 1961, ao desfilar de carro pela avenidapara ser empossado, o presidente Kennedy chegou a consi-derar a implantação de um projeto modernista de renovaçãourbana, impressionado por suas condições deterioradas. Fe-lizmente nada foi realmente feito até a criação da PADC em1972, que recebeu o poder de comprar, desapropriar, desen-volver empreendimentos imobiliários e executar obr públi-cas. A companhia vem conseguindo administrar bons proje-tos e programas, valorizando uma via que antes possuía div r-

sos imóveis abandonados e áreas subutilizadas ou em declí-nio (fig. 40).

Destacam-se, a nosso critério, os resultados obtidos coma reciclagem de prédios históricos para novos usos, comoo caso do Old Post Office (antigo prédio dos correios) transfor-mado em centro comercial, e da compatibilização de novasedificações com o patrimônio histórico recuperado (fig. 41).Os projetos inteiramente novos também têm sabido guardaro espírito de classicismo institucional da cidade (fig. 42). Umexemplo de administração pública, as atividades da PADCem seus cinco anos de existência receberam a alocação deUS$ 88 milhões para melhorias públicas e geraram quaseUS$ 1,5 bilhão em investimentos privados (PADC AnnualReport 1987).

Finalmente, mencionamos o caso da cidade norte-americanade Baltimore, cuja análise mais detalhada encontra-se no Ane-xo 2. Acossada por forte esvaziamento de sua base econõ-mica, a cidade apresentava em meados dos anos 50 umambiente urbano em franco deterioramento físico e social.Um plano diretor proposto pela comunidade empresarial em1957 foi adotado pela Prefeitura e suas ações recomendadasforam, em sua maioria, implantadas. Entre elas encontrava-seum projeto-piloto de renovação de área central bem comoprogramas de revitalização (fig. 43).

Alguns fatores diretamente ligados ao Desenho Urbano foramessenciais para o sucesso destes empreendimentos, dosquais destacamos: a recuperação da integração entre o cen-tro e o "waterfront" (rio); a alta qualidade físico-espacial dosprojetos, desde o cuidado no detalhamento da iluminaçãopública até o relacionamento volumétrico das edificações;a cuidadosa mistura de usos; implantação de atividades lúdi-cas de alta atratividade; implantação de um processo de apro-vação de projetos através de uma comissão consultiva espe-cial (design advisory panel). A criação de empresas semipú-blicas (capital misto) específicas para as áreas de projetofoi talvez o meio de implementação mais efetivo que pode-riam ter instituído para alcançar os objetivos pretendidos.

O programa de revitalização do "waterfront" em Baltimore,ao alcançar extremo sucesso na recuperação físico-ambien-tal, social e econõmica das áreas centrais, abriu frente paraações semelhantes em diversas outras cidades norte-ame-ricanas: recuperação da simbiose entre o tecido central eo corpo d'água através de atividades públicas e de lazer aquá-tico, implantação de shoppings-centers especiais (os "harbor-place") e'de aquário/museu, volta do uso residencial a áreas

Page 63: Introdução ao desenho urbano

o.:;.~ ec,'L <:0\.0.:;.<:0

••.• \'Sl ;;.<", ,§)~•.•• ~ve, ~e~~, \

Figura 39 - Isométrica de South Street Seaport Nova lorque, 198084; conjuntos de lojas, mercado, museus, restaurantes eoutros atrativos, em edificações portuárias históricas recicladas

To Subwaysand PATH

\;

Page 64: Introdução ao desenho urbano

centrais, respeito a edificações históricas significativas e ex-celência de projeto nas áreas públicas e mobiliário urbano(fig. 44). É importante ressaltar que um dos fatores essenciaisé a participação do empresariado, mormente o comercial,na definição de atrativos-ãncora para o consumo, como os"harborplace". O modismo americano atual, aliás, diz respeitoa projetos em "waterfront" (área marginal a corpos d'água)para revitalização de centros urbanos, uma vez conscienti-zados de seu alto potencial para valorização social e econô-mica da área, face às qualidades estéticas e de lazer envol-vidas nas intervenções, como recentemente tem sido feitoem Miami (fig. 45)

Assim, vemos que diversas cidades têm adotado processosde Desenho Urbano integrados a seus processos de Planeja-mento, com bastante êxito tanto em termos de qualidadefísico-espacial quanto em termos econômicos. No Anexo 3,discutiremos, com mais vagar, algo da recente experiênciadesta temática na Prefeitura do Rio de Janeiro.

Figura 40 - Maquete geral de simulação do desenvolvimentoprojetado para a área da Pennsylvania Avenue, que liga a CasaBranca ao Senado, em Washington

Figura 47 - Conjunto de Market Square, projeto deHARTMAN-COXIMORRlS, e a praça da Marinha, com piso emglobo terrestre, de CONKLlN ROSSANT; revitalização daPennsylvania Avenue, Washington, 1986

Figura 42 - Detalhe da integração de um prédio novo na GalleryRow, projeto de HARTMAN - COX I OEHRLEIN, na área daPennsylvania Avenue, Washington, 7984

Page 65: Introdução ao desenho urbano

Figura 43 - Perspectiva da área central de Baltimore, EUA, mostrando os volumes de construção previstos (em branco)e as edificações a serem recicladas (linha envoltória branca), em 1979

Page 66: Introdução ao desenho urbano

,/'r~:\:;::,"'"

~3:L*~

Page 67: Introdução ao desenho urbano
Page 68: Introdução ao desenho urbano

EXistem diversas teorias e propostas metodológicas para oDesenho Urbano. Nenhuma delas é completa e suficientepor si própria e todas vêm complementar as metodologiasde Planejamento Urbano e Arquitetura já conhecidas, quecontinuam sendo necessárias para a análise e o desenhodo urbano. Como já comentamos, o Desenho Urbano nãoé uma disciplina mas define um campo disciplinar, paraonde convergem, portanto, métodos de análise e atuaçãode várias disCiplinas.

Diversas metodologias de Desenho Urbano, no entanto, noslevam a diferentes dimensões de análise da cidade e conse-quentemente a compreensões diferenciadas As diversas po-sições conceituais nos levam a identificar diferentes facetasdas problemáticas analisadas que, por sua vez, solicitarãodo "designer" diferentes posturas quanto ao desenvolvimen-to dos diversos caminhos para a elaboração das proposiçõesde intervenção. Muitos afirmam estar aí a fragilidade do Desé·nho Urbano e a prova de que, por não possuir corpo teóricoespecífico, ele não existiria corno uma disciplina indepen-dente. Entretanto, as suas necessidade e especificidade paraa dimensão físico-ambiental das cidades já foram exaustiva-mente discutidas e comprovadas no desenvolver deste traba-lho. Sua alegada fragilidade tampouco existe porque é exata-mente da riqueza de dimensões analíticas e em sua comple-mentaridade que reside a sua força maior, possibilitando-nosuma maior oportunidade para uma melhor compreensão dacomplexidade do fato urbano.

Evidentemente, seria um equívoco considerar única e inequí-voca qualquer das teorias existentes como, aliás, quer grandenúmero de seus autores. Como em qualquer campo do co-nhecimento, teorias levam a análises e conclusões especí-

Capítulo 5Uma proposta metodológica

ficas que, geralmente, só nos mostram certos ângulos darealidade. Nunca teremos, é verdade, uma teoria suficiente-mente holística para nos permitir uma compreensão completado urbano. Devemos lembrar, como nos diz LANG (1987:14), que "teorias bem-sucedidas consistem de generaliza-ções simples mas poderosas sobre o mundo e como elefunciona, de modo a nos permitir predizer com precisão asoperações futuras"

Por isto, acreditamos que para o Desenho Urbano necessi-tamos do conhecimento de diversas delas, utilizando-nos decada uma conforme a especificidade do problema, e podendofazer uso de diversas visando sua complementaridade. Natentativa de compreensão do fato urbano os radicalismosteóricos são extremamente prejudiciais, às vezes tanto quan-to não possuir uma teoria e um procedimento metodológicoembasando a atuação.

Neste ponto observamos que não nos deteremos nos chama-dos "manuais" de Desenho Urbano ou projeto, pois são,em sua maioria, receitas metodológicas. Um dos mais antigose conhecidos, chegando a levantar inúmeras consideraçõesconceituais, é o de LYNCH (1962), que aborda o planejamentodo sítio e a perfeita implantação do projeto em seu contextourbano e natural. O mesmo autor nos apresentou, mais tarde,um excelente trabalho voltado para considerações extrema-mente pragmáticas sobre gerenciamento ambiental a nívelregional e urbano, lidando com políticas, programas de açãopara agências governamentais e técnicas de investigação eprojeto (LYNCH 1976)

Outros manuais são famosos, embora sem o mesmo pesoconceitual, como o de CAMINOS & GOETHERT (1978), espe-

Page 69: Introdução ao desenho urbano

cificamente destinado a projetos de lotes urbanizados empaíses de Terceiro Mundo, originado de um relatório elabo-rado pelos autores para o Banco Mundial; sua metodologiacriteriosa aborda todos os aspectos, elementos e critériosda urbanização, inclusive os seus custos. Seguindo esta mes-ma linha, foi recentemente publicado por DAVIDSON & PAY-NE (org. 1983). baseado na experiência de uma firma consul-tora inglesa em projetos residenciais de baixa renda no Egito,um trabalho útil pelo enfoque didático e processual adotadopara as fases da metodologia de trabalho. Finalmente, reme-temos os leitores para os trabalhos de PRINZ (1980) e BA-ZANT (1983). que apresentam todos os detalhes projetuaisdas diferentes fases do projeto urbano, verdadeiras receitas.

Um interessante trabalho recentemente publicado como ma-nual didático foi o de BENTLEY et aI. (1985) que, no entanto,traz interessantes considerações conceituais. Para seus auto-res, o ambiente urbano deve ser "responsivo" às necessi-dades da população, o que se reflete em sete conceitos-metade projeto para o meio ambiente, como a "permeabilidade"(capacidade da forma físico-espacial permitir a integração eacessibilidade). "apropriedade visual" (incorporar de apro-priar-se/incorporar repertórios simbólicos existentes) e "ro-bustez" (capacidade de responder bem a diferentes usos).

Voltando à nossa temática principal. a maioria dos trabalhospublicados em nossa área partem de um corpo teórico-con-ceitual para definir os consequentes procedimentos metodo-lógicos de sua aplicação; muitas vezes partem de uma visãonecessariamente limitadora da problemática. Neste sentidovárias obras seriam dignas de nota por altamente influentescomo as de LYNCH (1961). que viriam a ampliar o escopode seu trabalho com suas diversas obras posteriores, CUL-LEN (1961) com a sua teoria do "townscape", ALEXANDERet aI. (1977) com sua trilogia de livros levando a uma lingua-gem de padrões para o desenho, ou, ainda, KRIER (1979)com sua visão contextualista e nostálgica. Comentaremosdetalhada mente mUitos deles mais adiante.

Muitos trabalhos em nossa área, previsivelmente comen-tados na Parte I, nos trazem basicamente preocupações erebatimentos metodológicos oriundos da Arquitetura, algunsexagerada mente formalistas, como o clássico de SPREIRE-GEN (1965) que discutia o Desenho Urbano como a "arqui-tetura das cidades", uma possibilidade para o "embeleza-mento" dos espaços e conjuntos urbanos tomando por baseapenas o "bom gosto" bastante subjetivo dos arquitetos.Este é também o caso de Rob e Leo KRIER, embora seustrabalhos possuam um embasamento histórico-morfológico

bastante marcante, principalmente dentro do contexto euro-peu, como veremos. Nesta linha de preocupação que pode-mos chamar de mais formalista, remetemos o leitor paraum trabalho interessante recentemente publicado por TRAN-CIK (1986). que propõe três teorias complementares no trata-mento do espaço urbano: a de figura-fundo. a das conexõese a do "lugar". Estas colaboram em sua proposta de enfoqueintegrado através de princípios de desenho, tais como "interll-gação do movimento sequencial" e "fechamento lateral econtinuidade dos limites" (fig. 46); na verdade estes princí-pios mostram-se como sugestões de performance da formaurbana.

Por outro lado, há trabalhos que buscam uma compreensãomais abrangente do urbano. buscando complementar seuembasamento em diversas disciplinas. Alguns estudos in-fluentes certamente caem nesta classificação, como os deRAPOPORT (1977. 1982). que partem da antropologia culturale da comunicação não-verbal para analisar a forma urbanae seu significado. os de APPLEYARD (1981). com suas análi-ses do espaço da rua enquanto um sistema de atividadeshumanas. os de LYNCH (1981). com sua proposta de dimen-sões de performance para a boa forma urbana. Já mencio-nadas neste trabalho ou. ainda. o recente livro de GOSLlNG& MAITLAND (1984). um trabalho bastante abrangente sobreos conceitos de Desenho Urbano (DEL RIO 1987) Estesautores, assim como diversos outros. se detêm indiferen-I mente em várias disciplinas. como a psicologia. a sociologia.

antropologia e a geografia, para embasar suas constatações.us conceitos e suas proposições metodológicas.

I m aumentado consideravelmente a literatura dedicada análises mais fenomenológicas do espaço, importante como

fortalecedora de nosso embasamento humanístico e concei-lual. Este caminho, sem dúvida. foi aberto pelo clássico dofilósofo francês Gaston BACHELARD (1958). que discorriaobre a poética dos espaços da casa-moradia. Diversos des-

l trabalhos são oriundos da Geogrélfia, como os de TUAN(1974 e 1977). RELPH (1976) e WALTER (1988) EmboraI UAN possa ser melhor situado. como veremos. na categorianalítica da percepção do meio ambiente. podemos dizerue estes trabalhos tentam uma compreensão da experiência

humana mais ampla do que permite nossas linguagens técni-cas, que não expressam a unidade e a coerência de nossaexperiência holística dos "lugares" (WAL TER 1988)

Neste sentido. destacam-se. na Arquitetura. os trabalhos deNORBERG-SCHULZ (1965. 1971. 1979). que desenvolvemconceitos fenomenológicos importantíssimos como "espaço

Page 70: Introdução ao desenho urbano

Figura 46 (a, b) - Os enfoques de desenho destacados porTRANCIK: figura-fundo, conexão e lugar; sua aplicação emproposta de reestruturação física de Jarntorget, emGotemburgo, Suécia, 1986

existencial" e "genius loci"; uma qualidade holística que ex-pressa a identidade, o caráter e a qualidade de um lugar.Sobre o "genius loci", APPLEYARD (1979: 22) observa quepodemos gerar novos ambientes de qualidade "buscandoinspiração no passado, no genius loei, nas necessidadese valores particulares das pessoas comuns ..." e que "muitodisto vai depender em aprendermos como escutar as pessoasnão-profissionais, compreender o que querem, como elesvêem, e realmente colaborar com eles ...".

,-"-~.._~"'.1 Gola Ríver

~--, ~,';'i.'~'" Walk 10 lhe. .". - Waler [->,

Por estas razões, o leitor pode compreender porque venhotentando adotar para o Desenho Urbano um enfoque metodo-lógico que não se concentre em nenhuma teoria específica,mas que saiba buscar em várias delas a complementaridadenecessária para a compreensão dos fenômenos urbanos. Oque permeia as teorias adotadas talvez seja a tentativa debuscar sempre dimensões de análise e atuação sob a óticado usuário. Ou seja, as formas com que ele vê, sente, com-preende, utiliza e se apropria da cidade, de sua forma, seuselementos e suas atividades sociais. Esta pustura é, semdúvida, coerente com a definição para Desenho Urbano quepropusemos na primeira parte deste trabalho.

Para tanto, ajuda-nos o psicólogo-ambiental David CANTER(1977) sugerindo que o "sentido do lugar" (sense of place),aquela qualidade indiscritível mas que ao mesmo tempo diztudo sobre a qualidade físico-ambiental dos espaços urbanos,é gerado na sobreposição de três esferas de nossa consciên-cia: atividades ou usos, atributos físicos propriamente ditose as concepções e imagens. O modelo permite um diagramaque ajuda a compreender o conceito (fig. 47) e, realmente,para o ser humano o espaço e a forma só começam a fazersentido a partir do momento em que nos conscientizamosdesta qualidade através das três esferas de consciência.

O enfoque metodológico que proponho a seguir busca istoe surgiu a partir da aceitação da hipótese básica das três

Page 71: Introdução ao desenho urbano

esferas de vivência, com o Desenho Urbano atuando emseu "overlapping". Mas, para fins de facilidade de trabalhoe por conformarem teorias e dimensões de análise bastantedistintás, com distintos procedimentos metodológicos, pro-pomos a divisão da classificação da esfera "Concepções eImagens" em duas: "ANÁLISE VISUAL" e "PERCEPÇÃODO MEIO AMBIENTE". As outras seriam compreendidasatravés do "COMPORTAMENTO AMBIENTAL" e da "MOR-FOLOGIA URBANA".

A Morfologia Urbana possui suas origens na Geografia, en-quanto as outras poderiam ser c1assificáveis dentro das" ciên-cias do comportamento" ou da nova classificação norte-ame-ricana de "meio ambiente-eomportamento" (environment-behavior). O leitor certamente notará a importãncia que da-mos às ciências do comportamento para o Desenho Urbano,e isto se justifica através da nossa busca por uma corretacompreensão dos impactos e influências do meio ambientesobre a ação, atitudes e valores de seus usuários, na buscada qualidade físico-ambiental.

Neste sentido cabe citar excelente trabalho de LANG (1987).onde desenvolve a noção de uma teoria de arquitetura basea-da nas ciências comporta mentais. Ele está correto ao afirmarque "a qualidade da base do conhecimento para a ação dodesign necessita ser incrementada" e que as ciências com-portamentais nos oferecem muito para ajudar a desenvolveruma teoria "positivista" (explanatória de fenômenos e proces-sos) e teorias "normativas" (prescrições para a ação) (fig.48). Os arquitetos, como já afirmamos, ainda possuem umacompreensão incompleta e inadequada sobre as inter-rela-ções entre o ambiente construído e o comportamento hu-mano.

Quando na orientação teórica e metodológica para meus alu-nos de graduação e pós-graduação, venho também adotandoesta sistemática. Não raro a turma é dividida em subgruposque analisam a mesma área urbana sob o enfoque destasdiferentes teorias e categorias de análise. Após o estudoe a discussão teórica de cada categoria, procede-se às visitasa campo para recolhimento de informações específicas. Aanálise e o intercâmbio dos achados entre os grupos tornam-se ricos e sua compreensão do urbano mais completa. Nafase de elaboração de propostas os alunos podem, então,utilizar-se deste rico conjunto de informações complemen-tares.

Nosso objetivo, na discussão destas categorias de análise,é, antes de tudo, permitir ao leitor acesso a um enfoque

AT~I:BVíO,fl,ICO}

Figura 47 - Esquema representativo da formação do "sentidodos lugares", na confluência das dimensões física,comportamental e de percepções, sugerido por David CANTER

--------- ---- - --- --- ---- ----- --,I 05JE.TO I ... . :I ""'PACTO; f--7 "'''o Al"lBI·'"11. I' ~ ,,,

rRiNC(p(05' DE. : FO<.o Dt ATEN'..:b

: B D~.Pl"IÊ.JJ(i "f'\biu.lTAL. :L ~Figura 48 - Modelos conceituais sugeridos por LANG para teorias"normativa" (a) e "positiva" (b) da arquitetura

metodológico possível para a atuação em Desenho Urbano.A discussão não será exaustiva, mas detalhada o suficientepara permitir a aplicação das categorias e o aprofundamentode seu estudo.

A origem do conceito de Morfologia Urbana pode ser atribuídaaos geógrafos alemães e franceses no primeiro quarto doséculo e, depois, aos ingleses (WHITEHAND 1981 e 1987,MERLlN 1988). Entendiam que "período morfológico" é uma"fase da história social e cultural que gera formas materiaisdistintas" (Wf-j:TEHAND 1981: 14) Sua aplicação no campodo Urbanismo e da Arquitetura pode, entretanto, ser identi-ficada primeiramente na Itália, na área da preservação histó-rica.

Recentemente, um simpósio internacional na França não con-seguiu concluir uma definição consensual (MERLlN, 1988),

Page 72: Introdução ao desenho urbano

entretanto, entendemos que a Morfologia Urbana deva servista como " ... o estudo analítico da produção e modificaçãoda forma urbana no tempo" (SAMUELS c.1986: 2). Estuda,portanto, o tecido urbar.lo e seus elementos construídos for-madores através de sua evolução, transformações, inter-re-lações e dos processos sociais que os geraram.

Os primeiros trabalhos nesta linha teriam surgido na Itália,precedidos pelas análises ditas tipológicas. Identifica-se Save-rio MURATORi como o primeiro a adotá-Ios para a análisee proJetação do urbano e da arquitetura, ainda nos anos 50.Ele registrava com seus alunos as tipologias do processoevolutivo e as mudanças ocorridas no tecido urbano de Vene-za. Deve-se ter em mente que os objetivos de estudos tipoló-gicos são de reduzir a algumas categorias analíticas a varie-dade das formas existentes, a partir da definição de critériospara sua identificação e classificação (MERLlN, 1988).

A Morfologia Urbana surgiu a partir de um questionamentodas atitudes modernistas em relação às cidades históricase as relações sociais que as regem; por isto, SAMUELS(c. 1986) chega a afirmar ser inevitável que os pioneiros fos-sem os italianos devido à sua enorme herança urbanísticae à contínua evolução e adaptação de suas cidades. Até hojeos italianos têm liderado nesta linha de trabalhos, muito bemrepresentados pelos estudos para a cidade de Padova, desen-volvidos por um grupo de conhecidos pesquisadores, entreeles Aldo ROSSI e Carlo AYMONINO (AYMONINO et ai.1970), seguidos pelos franceses, como veremos.

O livro de Aldo ROSSI (1966), famoso arquiteto neo-racio-nalista italiano, discute a arquitetura da cidade e sua reconhe-cida importância reside em seu apelo à continuidade históricae à importância formal da cidade. Ele é tido como o especia-lista mais reconhecido entre os que estudam a MorfologiaUrbana (MERLlN, 1988). A recuperação da dimensão arquite-tõnica das cidades, ROSSI prega, deve passar pela valorizaçãodos monumentos, entendidos como elementos urbanos maisvisíveis e constantes no tempo. Esta valorização se expres-saria na estruturação da organização física do tecido e nacombinação dos elementos tipológicos. Ele também apre-senta dois conceitos interessantes, o da "permanência" notempo das estruturas urbanas, e o de "temático/não temá-tico" relativo à homogeneidade e diferenciações dos conjun-tos urbanísticos (fig. 49) Segundo Peter EISENMAN, no pre-fácio à edição norte-americana do livro de ROSSI este, comseus estudos baseados na história e na geografia das cidades,tenta identificar e recuperar o inconsciente coletivo expressoem sua arquitetura urbana.

O trabalho de AYMONINO (1975, 1988) também é significa-tivo, outro dos principais arquitetos da "nuova tendenza".Já em sua contribuição à análise da cidade de Padova (1970),ele havia estudado as possibilidades de estabelecer-se umarelação entre as características morfológicas da cidade e asindividualidades tipológicas de alguns fatos edilícios, conse-quentemente verificando se poderiam ser avaliados enquantoconstantes no tempo nas diversas condições históricas. Comos fenõmenos urbanos estudados desenvolveu conceitos im-portantes como os de tipo e tipologia, e sua influência nasformações urbanas. Logo, iria escrever sobre o significadodas cidades segundo a leitura de sua morfologia, abordandotemáticas como relações entre seus elementos componen-tes, como equipamentos e a estrutura urbana (AYMONINO,1975) (fig. 50). Aqui a arquitetura é vista como fenõmenourbano e novamente aparece o importante conceito de tipolo-gia edilícia no estudo das relações entre tipos edificatóriose metodologias do projeto arquitetõnico. Segundo este autor,pode-se observar que:

nos casos em que uma Cidade possui um significado,isto é, quando pode se encontrar nela desde uma perspectivamorfológica até uma homogeneidade de representação arqui-tetônica (independentemente da época de construção dasdiferentes edificaçôes), podem ser estabelecldas relaçõesprecisas e, portanto, identificáveis, entre a forma urbana ea escala das edificações (em particular dos monumentos),enquanto fenômenos mutuamente determinados" (AYMO-NINO 7975' 38)

A prática da Morfologia Urbana na Itália é bem representadapelos planos e projetos italianos, como no exemplar planodiretor de preservação para Bolonha, detalhada mente divul-gado pelas obras de CERVELLATI, seu maior responsável(CERVELLATI & SCANNAVINI, 1973; CHIAVARI1987) Esteplano, muito bem-sucedido em seus objetivos de preservaçãodo caráter urbanístico e .arquitetõnico do centro histórico,mais do que um exemplo único é um modelo do que sebusca fazer na Itália em termos de preservação histórico-arquitetõnica (SAMUELS c.1986: 5) No caso de Bolonha,chegou-se a um meticuloso estudo da evolução das formase tipologias para a orientação de intervenções urbanísticase arquitetõnicas apropriadas em cada caso específico (fig.51): Os trabalhos recentes de AYMONINO (1988), que pos-suem especial interesse pela praça enquanto tema de projeto,também revelam os resultados de anos de estudos por umamelhor inserção dos novos elementos no contexto urbanoexistente (fig. 52).

Page 73: Introdução ao desenho urbano

Figura 49 (a, b) - Ipojuca, Pernambuco, 1978: uma estrutura urbana bem definida e com temáticas claras, seus elementospúblicos valorizados e bem interconectados (a). Note-se o cemitério à esquerda ligado com a igreja Matriz (b), à direita,e com a praça central

Page 74: Introdução ao desenho urbano

!:/fll

"ii1ll

VI1 ' i'\'T~C.."'''· !.;. . :i .~

,/- If. i: i; ~.; ". ~

Figura 50 - A evolução da cidade de Nimes, na França, e apermanência de elementos e parte da estrutura urbana romanaem estudo de A YMONINO

Figura 51 .~Perspectiva de um quarteirão do plano depreservação do centro histórico de Bolonha

*it,Ai !fj-~-.,j- ,~!;}4

..of~~qli~li:~~1~.Li~-

Figura 52 - Recomposição cuidadosa do tecido e valorizaçãode interconexões na proposta de A YMONINO para umainterligação do Museu de São Marco, no alto da colina, ao mar;Nápoles, 1987

Page 75: Introdução ao desenho urbano

Um importante resultado deste novo interesse pelo passadono Desenho Urbano foi a redescoberta de antigos trabalhosteóricos e projetos urbanos, como o mapa de NOLLI, ouos escritos e projetos de Idelfonso CERDA. Camillo SITTEe Raymond UNWIN, que CHOAY (1965) classifica na vertentedo urbanismo "culturalista", Em meados do século XVIII,o já famoso topógrafo Giovan Battista NOLLI recebeu a in-cumbência do papa Clemente XII de desenhar um mapa com-pleto e preciso de Roma, que seria publicado em 1748, em12 pranchas (AURIGEMMA in GRAVES 1979) Para a precisãocientífica necessária NOLLI utilizou-se da técnica de projeçãovertical desenhada como figura-fundo, que veio a se revelarde grande valia na identificação de relações entre domíniospúblico, semipúblico dos grandes edifícios e privado, assimcomo outras relações morfológicas importantes como distân-cias e acessibilidade, ou relação entre cheios e vazios (GRA-

VES 1979) (fig, 53) Este método, aliás, tornou-se um dosmais usuais nas análises morfológicas por expor claramentediversas das relações entre os elementos conformadoresdo tecido urbano.

A importância do mapa de NOLLI pode ser verificada emsuas inúmeras citações, como também em interessante exer-cício projetual intitulado "Roma Interrotta", levado a cabopor um grupo de 12 famosos arquitetos, entre eles MichaelGRAVES, James STIRLlNG, Aldo ROSSI, Robert VENTURI,Colin ROWE, Paolo PORTOGHESE e os irmãos KRIER. Con-sistiu em que cada um recebesse uma das 12 pranchas domapa de NOLLI para naquela área propor a sua utopia eespeculações projetuais (GRAVES 1979). Apenas um excên-trico exercício poético que, apesar de durar um ano, nãotrouxe mais que um punhado de hipóteses interessantes.

Page 76: Introdução ao desenho urbano

BRVGE S,""RlAe des'Pierres. -:Pa

Figura 54 (a, b) - Composição estética e precedentes históricos-nos estudos (a) e projetos (b) de Camilo 5ITTE; proposta pararecomposição do tecido da área da universidade e da praçaVotive, Viena, 1909

Já o idealizado r do plano regulador da expensão de Barcelona,de 1859, Idelfonso CERDA foi quem primeiro apontou a ne-cessidade de uma nova ciência, o "urbanismo", para enfren-tar uma "nova" cidade, a industrial. Em sua obra "TeoriaGeneral de Ia Urbanización", publicada em 1867, defendiaa importãncia da análise da evolução histórica da cidade, dossistemas de circulação e da sistematização de elementostipológicos básicos, como ruas, praças e quarteirões (CHOA Y1969, ROSSI 1966).

Page 77: Introdução ao desenho urbano

Alguns classificariam o vienense SITIE na categoria de Aná-lise Visual, mas ele foi talvez dos " ... primeiros teóricos doespaço urbano a olhar detalhadamente os precedentes histó-ricos", chegando, por exemplo, à conclusão que o fecha-mento (enclosure) era um dos "mais significativos compo-nentes do espaço urbano bem-sucedido" (TRANCIK 1986:69). O estudo de sua obra nos mostra os interessantes resul-tados de suas propostas quanto à recomposição do tecidourbano por adições cuidadosas (COLLlNS & COLLlNS 1965,CHOA Y 1970, ARAUJO 1988) (fig. 54) Para SITIE, a cidadedevia ser projetada de acordo a princípios artísticos e istoincluía uma visão arquitetõnica do conjunto e o respeito pelopassado (SITIE 1889)

Finalmente citamos Raymond UNWIN que, em seus projetosurbanos e obra escrita, parece ter sido altamente influenciadopor SITIE e sua preocupação estética compositiva (CHOAY1965, 1969) Com seus planos pioneiros de cidades-jardim,como Letchworth (1903), o subúrbio londrino de HampsteadGarden (1907), e sua obra publicada, ele influenciou profunda-mente toda a produção urbanística anglo-saxã posterior (UN-WIN 1909) (fig. 55)

Voltando a comentar os trabalhos contemporâneos, tambémidentificamos na França importantes contribuições no campoda Morfologia Urbana, representados pelos estudos originaisde CASTEX & PANERAI (1971) sobre processos e elementosde formação da estrutura urbana. Mais tarde, três importantes

trabalhos foram publicados com a participação dos mesmosautores onde analisavam a evolução e degradação da formaurbana, numa crítica ao modernismo (CASTEX et aI. 1977),aplicavam uma metodologia de análise morfológica para com-preender a evolução e os significados de Versailles (CASTEX'et aI. 1979) (fig. 60) e discutiam os elementos metodológicospara a análise urbana (PANERAI et ai. 1980) (fig. 56). Osautores refutam as analogias paradigmáticas e buscam com-preender a cidade " ... recuperando as bases da análise estru-

Page 78: Introdução ao desenho urbano

tural, da leitura da cidade como uma organização, de demons-trar a sua lógica, de descrever sua estrutura formal" (PANE-RAI et aI. 1980: 9) (fig. 57).

Os trabalhos dos irmãos KRIER também podem certamenteser classificados nesta categoria e sua influência no desenvol-vimento de um novo desenho de cidade é considerável. Co-nhecido arquiteto, Rob KRIER foi particularmente influenciadopor Camilo SITTE e utilizou-se desta lógica como pano defundo para sua metodologia projetual em seu importante livrosobre o espaço urbano (KRIER 1975) (fig. 58) Neste trabalhoele desenvolve toda uma tentativa projetual respeitosa do con-texto existente e inspirada em modelos do passado (fig. 59).

Bem mais conhecido, por seus polêmicos artigos e projetos"utópicos" publicados, Leo KRIER possui visão extremamen-te arraigada no passado, em suas tipologias e formas de

D ~~g >gD] 'UHM~rn~~~~~~~;.dn~n '& rF!4rFll~M~ ~b!JFigura 58 -A tipo/agia de praças de cidades européias nosestudos de Rob KR/ER

produção, vendo no modo de produção capitalista todos osproblemas de nossas cidades: "se a cidade européia vai sersalva, ela deve ser recomposta através de técnicas urbanasa serem aprendidas da história da cidade" (in GOSLlNG 1985:53; KRIER, Leo 1978). Como apontado por Colin ROWE (inPORPHYRIUS 1984). Leo KRIER deve ser radical para poderfazer chegar a sua mensagem, assim como um "Le Corbusierde nossos tempos" (sic.), que até prefere permanecer apenasno campo de especu lações projetuais publicadas pois acre-dita lidar com temas de moral idade e estilo de vida. Suacapacidade de polemicista pode ser verificada em suas pro-postas para Roma, um dos exercícios especulativos de RomaInterrotta (GRAVES, 1979), ao sugerir uma megaestruturatriangular interrompendo o eixo da Praça de São Pedro e suatransformação em um lago para o lazer, ou em um de seustrabalhos mais recentes, para Washington (figs. 60 e 61).

Os críticos disparam que a ideologia expressa por Leo KRIERé demasiadamente acadêmica e destacada da realidade. Osirmãos KRIER aplicariam seus conceitos " ... mesmo que istosignifique que a história seja massageada um pouco a fimde gerar um contexto de intensidade e autoridade suficientespara a escala do trabalho a ser feito (MAITLAND 1984: 5).APPLEYARD (1979: 22) chega a afirmar que "para um obser-vador, os projetos resultantes de KRIER e ROSSI parecemtão autoritários e impessoais quanto a Ville Radieuse". Jácompararam os projetos de Rob KRIER para Stuttgart (KRIER,Rob 1975) com os planos neoclássicos nazistas de AlbertSPEER. Quanto a Leo KRIER, ele certamente tem uma ten-dência a agir como o "arquiteto do rei" e hoje deve estarmuito contente por haver se tornado o preferido do PríncipeCharles da Inglaterra (fig. 62).

Uma outra corrente estuda a evolução das formas urbanase arquitetõnicas, sua apropriação pela população e as conse-quentes adaptações; tem sido uma corrente analítica frutíferana compreensão das lógicas sociais do espaço. Os trabalhos

Page 79: Introdução ao desenho urbano

de DE ARCE (1978) mostraram a importância de estudarmosos processos de transmutações de edificações históricas,como os palácios e anfiteatros romanos, sua incorporaçãoà estrutura da cidade e sua apropriação pela população aolongo dos séculos. Muitas das estruturas básicas destas for-mas monumentais ainda são distinguíveis e os pesquisadoreschamam a atenção para a validade de conceitos como dasestruturas-suporte e das permanências no tempo. SegundoDE ARCE, estes conceitos poderiam ser aplicados positiva-mente na recuperação ou re-semantização de cidades e espa-ços modernistas como Chandigarh e a Unidade de Habitação(vide figs 17, 32 e 63)

Vale a pena destacar o livro recente de Anne MOUDON (1986)em que apresenta um detalhado estudo sobre a evoluçãoe as transformações físicas de uma área residencial de 60quarteirões em torno a Alamo Square, em São Francisco.Para ela, as transformações sofridas pelas ruas, quarteirões,lotes e casas sempre definiam um alto grau de coerênciaentre si até o aparecimento dos projetos de renovação urbana

e os edifíCIOSde apartamentos, que rC)mperam com a ordemespacial e arquitetõnica predominantEls. O estudo de MOU-DON aborda as razões por detrás da qu alidade destes ambien-tes e de sua capacidade de incorporar as transformações;para ela, esta qualidade depende de um contínuo adaptardos elementos no tempo, da casa mantendo-se como umacélula interdependente com a cidade, e da importância inicialdo perfil fundiário e dos lotes como reguladores das transfor-mações.

Atualmente, diversos arquitetos já seguem este tipo de pos-tura adotando uma linha conhecida por "Contextualismo",corrente que, como comentamos anteriormente, pode seridentificada dentro do Pós-Modernisnno, como James STIR-L1NG e sua proposta da recuperação da Meineken Strasse,Berlin (fig 64) TRANCIK (1986 228) destaca que a belezapode ser medida na razão do quanto Os componentes combi-nam-se com uma estrutura espacial maior e que "para sealcançar um design integrador e contextualista não se deveiniciar do nada mas reunir as compOlientes conhecidas emnovas combinações de forma a expressar uma condição espe-

Figura 59 - Proposta de Rob KRIER para a praça Rotebuhl, Stuttgart, Alemanha, início dos anos 70: remete a &squemase elementos preexistentes, visando disciplinar e definir as relações entre as edificações vistas como "fundo" e conjunto harmãnico

Page 80: Introdução ao desenho urbano
Page 81: Introdução ao desenho urbano

--- -jJ~,. - :--71:~.:/~~~~Figura 61 - O romantismo de um grande canal nesta propostapara o redesenho de Washington; Leo KRIER, 1984

cífica". Esta arquitetura inspira-se no entorno e seu contextocultural, incorporando-o em suas soluções plásticas e espa-ciais

Já afirmava acertadamente DE ARCE (1978: 237) que ""sendo um processo sedimentário, as transformações aditivasgarantem um senso de continuidade na construção da cidadee um senso de lugar em termos espaciais e históricos .. "Os estudos nesta linha morfológica vieram, portanto, abrirnovas possibilidades para maior atenção na dimensão tem-poral dos projetos urbanísticos, nas suas inevitáveis muta-ções e adaptações pela apropriação coletiva das populações."Pensar nas cidades e no que revelam a partir de suas formasé ser morfo-Iógico" (SANTOS 1984: 116) Neste sentido,como colocado por SAMUELS (c.1986: 8) "o programa, ogerador de forma para o projeto de acordo com os paradigmasdo Movimento Moderno, é substituído pela investigação docontexto presente e passado".

Também classificável na categoria de Morfologia Urbana, re-centemente vem-se popularizando entre certos meios acadê-micos brasileiros, o enfoque de Bill HILLlER com suas teoriasde sintaxe espacial em que analisa a capacidade do t cidourbano de gerar encontros a partir de sua organização bidi-mensional (HILLlER & HANSON 1984). Esta teoria vem in-fluenciando uma série de estudos de docentes da Univer-sidade de Brasília, como HOLLANDA (1985) e KRUGER &

Figura 62 - Saudosismo e negação da modernidade na propostade Leo KRIER para o desenvolvimento da área de SpitalfieldsMarket, Londres, 1986

TURKIENICZ (1986). que investigam as tipologias de espaçosentre os edifícios de Brasília e a qualidade derivada destaorganização espacial enquanto seus graus de continuidadee descontinuidade. Cabe notar, entretanto, como tambémo faz MERLlN (1988: 16). que o problema fundamental comque este enfoque se enfrenta é que ele compreende a morfo-logia do espaço urbano apenas através de suas duas dimen-sões planares, ignorando fatores essenciais como tipologiasarquitetõnicas, usos de edificações e legibilidade de conjun-tos edificados.

Page 82: Introdução ao desenho urbano

No Brasil podemos identificar alguns outros bons trabalhos "mor-fológicos". Destacam-se aqueles vinculados a pesquisas parapreservação de conjuntos urbanos. O trabalho relativo aoCorredor Cultural. área de interesse para preservação no cen-tro do Rio de Janeiro. e que será comentado no Anexo 3.possui algumas características do gênero. assim como osde MACEDO (1986) sobre as mutações de um bairro paulista,e os de BICCA et. ai (1986) sobre as diferentes morfologiascoexistentes em Brasilía. Destacaríamos também as pesqui-

sas sobre as estruturas espaciais das cidades de colonizaçãojaponesas, alemãs e italianas no Brasil desenvolvidas porYAMAKI (YAMAKI & NARUMI 1985). YAMAKI nos mostracomo as cidades de colonização seguiam intenções de proje-to não tão simples como se supunha, perseguindo uma "ima-gem inicial" e uma estrutura com claras definições ideoló-gicas e conceituais, às vezes perseguindo modelos europeusdo início do século. como os de cidade jardim (fig. 65).

Figura 63 - Estudos de PEREZ DE ARCE para transformações em edificações do tipo Unité d'Habitation, com elementos aditivos querecuperam as dimensões urbanas tradicionais, como mescla de usos, escalas apropriadas para os pedestres e rua-corredor

Page 83: Introdução ao desenho urbano

íl /Figura 64 - Projeto de James STlRLlNG, Michael WILFORD e Associados para o redesenho de uma edificação modernistana rua Meineke, Berlim, 1976: recomposição das características do quarteirão, como alinhamento das construções, escalas,ritmos e a esquina

Aqui também já começam a surgir importantes estudos sobretipologias arquitetônicas vernaculares e regionais. Comoexemplo o interessante estudo dos prédios residenciais "pro-to-modernistas" de Copacabana (anos 30/40). que até hojenão eram considerados "exemplares" mas que definem solu-çôes e espaços urbanos altamente significativos e de qualida-des indiscutíveis (CONDE et aI. 1985). De grande importânciatambém são os projetos desenvolvidos pela equipe da Eletro-sul, como o de relocação da cidade de Itá, Santa Catarina,onde as novas tipologias edilícias foram inspiradas no reper-tório existente na cidade original e na região (SANTOS &REGO 1986; veja Revista Projeto n? 126, outubro, 1989).Estudos tipológicos como este estão começando a embasara prática arquitetônica recente no sentido de soluçôes maisconscientes de nossas raízes e de suas relaçôes urbanísticas(fig.66).

Importante trabalho também foi recentemente publicado porSANTOS (1988). em que faz uma abrangente abordagemsobre a formação e o desenvolvimento da cidade brasileira,com propostas pragmáticas de desenho e instrumentos de

Nf.W P>Rt,l.JI,U~'\~~: /IlEnÃ

tJDVO MlL.MJO1~t5: iTALi",J"

~Figura 65 - Comparação entre malhas de cidades de colonizaçãono Brasil, mostrando seus elementos principais de estruturação:japonesa/escola, alemãlrua principal-rio, italiana/igreja;baseado em estudos de Humberto YAMAKI

implementação. O autor preocupa-se sempre em uma produ-ção possível da cidade democrática, em que seus habitantescompartilham seus elementos a nível de identidade e deimagens coletivas. Para tanto, embora o trabalho não seja

Page 84: Introdução ao desenho urbano

~--"" .~ ~~T'iíF ~''''-7D bFigura 66 (a, b) - Estudo de tipologias e repertório local paraprojetos mais apropriados. Casa tradicional de madeira emLondrina (a) e residência do arquiteto Marcos BARNABÉ, 1986

especificamente dedicado à questão da morfologia urbana,a exemplo de outros autores SANTOS apóia sua discussãoem análises de estruturas urbanas e em modelos morfoló-gicos que considera básicos na formação urbana: o lote, oquarteirão e as ruas. A apreensão e produção coletiva de" ... padrões que todo mundo conhece, a estrutura que todomundo projeta junto ..." viabilizarão um resultado potencial-mente harmõnico e, sem dúvida, mais democrático (SANTOS1988: 54).

Portanto, podemos ser pragmáticos dizendo que, em termosmorfológicos, a cidade pode ser compreendida com três ní-veis organizativos básicos: o coletivo, o comunítário e o indivi-dual, em torno aos quais estruturam-se todos os sígnificados

e acontecem as apropríações sociaís (DEL RIO 1981) O nívelou dimensão coletiva é o que possui uma lógica estruturadorapercebída inconsciente e coletivamente; aqui estaria o con-junto de elementos primários do tecido e se verifica umamaior permanência no tempo. A dímensão comunitária trazaqueles elementos e uma lógica com significados especiaisapenas para um restrito círculo de população, o bairro porexemplo. A dimensão individual, por sua vez, conforma ondemais livremente se expressam os significados individuaís,a residência e seu espaço imediato, e, consequentemente,é a que apresenta uma maior rapidez de mutações.

Neste momento, já podemos sugerir alguns temas e elemen-tos para a pesquisa da Morfologia Urbana, expondo as lógícas

a evolutivas e estruturadoras da cidade (ROSSI 1966, CASTEX& PANERAI 1971, PANERAI et ai. 1980, GEBAUER 1980,DEL RIO 1981) São eles:

- crescimento: os modos, as intensidades e direções; ele-mentos geradores e reguladores, limites e superação de lími-tes, modificação de estruturas, pontos de cristalização etc.;

- traçado e parcelamento: ordenadores do espaço, estruturafundiária, relações, distâncias, círculação e acessibílídade etc.(fig.67);

- tipologias dos elementos urbanos: inventário e categori-zação de tipologias edilícias (residências, comércio etc.). delotes.e sua ocupação, de quarteirões e sua ocupação, depraças, esquinas etc. (fig. 68);

-articulações: relações entre elementos, hierarquias, domí-nios do público e privado, densidades, relações entre cheiose vazíos etc.

Outros autores, como AYMONINO (1988) e ROSETI (1985),também desenvolvem suas pesquisas e interesses projetuaisno campo da Morfologia Urbana concentrando-se em elemen-tos formadores, como as praças, espaço coletivo por exce-lência, expressão máxima da dimensão cívica e pública dascidades, onde o monumental se encontra com o cotidiano.ROSETI apresenta, por exemplo, um repertório básico decaracterísticas das praças e as consequentes implicaçõesde projeto: relações urbanas, funções, condições de uso,organização, características físico-formais, mobiliário e paisa-gismo.

Em nossa própría experiêncía pudemos aplícar esta dimensãode análise no desenvolvimento de dissertação de mestrado

Page 85: Introdução ao desenho urbano

Figura 67 (a, b, c, d) - Plantas figura-fundo destacando malha·viária (a), espaço privado (b), perfil fundiário (c) e espaço dconstruido (d); Saúde, Zona Portuária, Rio

Figura 68 (a, b, c) - Estudo de tipologias urbanas: trés esquinasno Rio de Janeiro, Rua Sara (Morro do Pinto, inicio do século)(a), Ladeira dos Guararapes (éosme Velho, anos 20) (b), RuaPaissandu (Flamengo, anos 50) (c)

Page 86: Introdução ao desenho urbano

(DEL RIO 1981). Tratou-se de uma proposta de intervençãopara estruturação das áreas faveladas existentes e a constru-ção de novas áreas habitacionais na Favela da Maré, porocasião do Projeto Rio. Além de uma proposta alternativade programa habitacional, propúnhamos novas diretrizes paraprojeto de Desenho Urbano, baseando-nos principalmenteno estudo morfológico do assentamento. Investigamos te-mas como linhas e formas de crescimento, tipologias habita-cionais, de quarteirões e de vias, densidades, relações públi-co-privado e estruturação geral. Concluímos propostas denovos modelos físico-espaciais para os elementos urbanos,bem como de fortalecimento da estrutura interna do assenta-mento e suas relações com a cidade. Estes estudos estãomelhor detalhados no Anexo 1.

Mais tarde, também tivemos a possibilidade de aplicar parcial-mente esta dimensão de análise, em conjunto com a dimen-são "Análise Visual" que comentaremos a seguir, em nossoprojeto de Desenho Urbano para a revitalização do "water-front" do bairro histórico de Fells Point, em Baltimore. Aproposta visava à integração morfológica, visual e funcionalde um novo conjunto de edificações a ser construído nabeira do rio: logràndo-se posteriormente a sua aprovação co-mo adendo à legislação local. como veremos no Anexo 2.

Finalizando, repetimos que a importância da categoria de aná-lise de "Morfologia Urbana" está em compreender a lógicada formação, evolução e transformação dos elementos urba-nos, e de suas inter-relações, a fim de possibilitar-nos a identi-

Page 87: Introdução ao desenho urbano

ficação de formas mais apropriadas, cultural e socialmente,para a intervenção na cidade existente e o desenho de novasáreas.

Como já observamos, sentimos necessidade de subdivisãoda esfera "Concepções e Imagens", do modelo de CANTERde formação do "sentido do lugar" (vide figo 47). em duascategorias: "Análise Visual" e "Percepção do Meio Ambien-te". Isto também foi percebido por KOHLSDORF (1985:50/51). que faz uma distinção das que chama "escolas dobom desenho" ou pragmáticas, de tradição anglo-saxã, eas de "análise de percepção", que utilizam mais ..... a percep-ção como elemento mediador entre o homem e o meio am-biente De toda forma, ambas surgiram quase ao mesmotempo, fins dos anos 50 e início dos 60, e atualmente repre-sentam uma importante área de pesquisa.

Quando comentávamos do contexto para as mudanças disci-plinares ocorridas nos anos 50 e 60, esta categoria analíticasurgiu a partir do então crescente interesse em ambienteshistóricos e vernaculares. As "escolas do bom desenho"buscavam enfatizar a percepção visual do ambiente enquantoexperiência estética e emocional (GOSLlNG 1976, WHIS-TLER & REED 1977, GOSLlNG & MAITLAND 1985) Destaca-vam-se como ..... teorias de desenho pictóricas, que propu-nham a complexidade ..... contrapondo-se às .... teorias dedesenho clássicas que propunham a clareza como qualidade-síntese ..... (KOHLSDORF 1985: 50).

Nesta categoria, os trabalhos mais importantes para nossaproposta de metodologia de Desenho Urbano classificam-seno que se convencionou chamar de teoria/métodos de "paisa-gem urbana" (townscape). Parece que o aparecimento daexpressão "townscape" deu-se por primeira vez num antigodicionário inglês de 1880 e o seu uso no sentido atual porThomas Sharp, em seu livro "Oxford Replanned", de 1948,em que tentava inventar um nome para a arte de melhora-mento das cidades (WHISTLER & REED 1977).

No início dos anos 50, DE WOLFE (1963) e CULLEN (1961)já haviam publicado nas revistas especializadas inglesas sobre"townscape" como um enfoque radical contra o MovimentoModerno, pois ele enfatizava a idiossincrasia e a variedadedas formas. Os livros destes autores foram marcos funda-mentais na aceitação da teoria da paisagem urbana para aná-lise e projetos, principalmente em áreas historicamente sensí-veis. A obra de CULLEN, por seu forte caráter pragmático,

.;;:;.<.;(..";..

Figura 69 - Tratamentos diferenciados da paisagem urbanageram percepções, sentimentos eposturas diferenciados, comoexemplifica Gordon CULLEN

Page 88: Introdução ao desenho urbano

tem sido muito utilizada na prática britânica oficial até hoje,principalmente na preservação histórica, inspirando inúmerosplanos de conservação urbana e guias de desenho.

LEN 1961). O objetivo é a exploração do drama e dos efeitosemocionais, sentidos a partir de nossa experiência visual dosconjuntos edificados, algo que a solução meramente "cien-tífica" é incapaz. Baseado em uma análise intuitiva e artísticada paisagem urbana, CULLEN apresenta-nos três maneiraspelas quais o meio ambiente pode gerar respostas emocio-nais:

Embora CULLEN seja criticado por sua exagerada preocu-pação pelos aspectos visuais do ambiente, teve diversas dasqualidades que defende em seu "townscape" posteriormen-te comprovadas por estudos mais "científicos" de percepção(fig. 69). Para ele, uma edificação isolada é uma obra dearquitetura, mas um grupo delas já conforma uma outra artediferente de arquitetura, uma arte de relacionamento (CUL-

Ótica: Considera as reações a partir de nossas experiênciasmeramente visuais e estéticas dos percursos, conjuntos, es-paços, edificações, detalhes etc. Aqui CULLEN introduz o

''-~H~;

Ã.

Figura 70 - Percepção do percurso como série de quadros visuais sucessivos: a intensidade de alterações nos quadroscorrespondem a maiores apelos e interesse do pedestre; Arco do reles e Beco do Comércio, Praça XV, Rio

Page 89: Introdução ao desenho urbano

importante conceito de "visão serial," que é a maneira comopercebemos visualmente um ambiente na realidade, poisconsidera nossos deslocamentos (fig. 70). Ele mostra, porexemplo, como nosso percurso por uma rua retilínea e comarquitetura repetitiva é uma experiência muito menos ricae excitante do que o percurso de uma rua sinuosa e comdiversos apelos visuais. Sob este prisma, o conceito de "pito-resco" seria resultante da organização de formas onde asucessão de diferentes planos visuais de um percurso sofres-sem fortes rupturas em distãncias relativamente pequenas,enquanto o "monumental" seria a disposição de quadrosvisuais relativamente idênticos num percurso longo e que,por isto, torna-se monótono. Nesta categoria enumera váriastemáticas que influenciam nossa experiência visual, como:deflexão (desvio angular da visada). incidente (atrai o olhar).estreitamentos (converge o olhar). antecipação (desperta cu-riosidade) e outros (fig. 71).

Lugar: Possui um sentido topológico e tem a haver coma nossa posição em relação a um conjunto de elementosque conformam nosso ambiente mais imediato. Percebe-semais fortemente a dicotomia aqui-ali, dentro-fora, no sentidoque" o relacionar-se a si próprio com o que nos rodeiaé um hábito instintivo do corpo humano, não é possível ignorareste sentido posicional ..." (CULLEN 1961: 10). São muitofortes, e empiricamente verificáveis, as sensações de perten-cer, de proteção, de territorialidade, de domínio. Algumasdas temáticas nesta categoria analisadas pelo autor são, porexemplo: possessão, ponto focal, recintos (definição de sub-categorias de espaços). vista, aqui/ali, interno/externo, espaçodefinidor etc. (fig. 72)

Conteúdo: Refere-se a conjuntos de significados percebidosdurante nossas experiências dos espaços através de elemen-tos tais como cor, escala, textura, estilo, caráter e unidade.A composição e o relacionamento de insumos visuais numagrande variedade de mensagens provocam uma riqueza designificados e sugestões de comportamentos que empolgao usuário. CULLEN define como temáticas a serem analisadasnesta categoria: intimidade, multiplicidade de usos, escala,confusão, complexidade, antropomorfia etc.

CULLEN também desenvolveu um interessante sistema denotação gráfica para poder mapear e sistematizar as análisesda paisagem urbana. Este sistema constitui-se de símbolosgráficos que representam conceitos ou as categorias a estu-dar, e devem possibilitar também a notação do movimento(CULLEN 1964, 1968; GOSLlNG & MAITLAND 1985) A apli-

cação da metodologia "townscape" pode ser exemplificadapor nossa proposta para revitalização em Fells Point. Balti-more, que, como mencionamos, é comentada no Anexo 2.

Figura 71 (a, b) - Atração visual e antecipação pelo desvio deplanos visuais ilustradas por CULLEN (a) e um exemplo emOuro Preto (b)

Page 90: Introdução ao desenho urbano

Por outro lado, a "gestalt", importante corrente de pensa-mento originada na Alemanha, no campo da percepção visualem psicologia, veio influenciar bastante nossa área de estu-dos. Proliferando-se com alguns arquitetos oriundos da Bau-haus, ela definiu uma linha que entende a configuração espa-cial através de suas componentes psicológicas (PRAK 1977,KOHLSDORF 1985, GOSLlNG & MAITLAND 1985). A teoriada "gestalt" entende que a forma só tem sentido a partir

~" ~Figura 72 - Sentimentos topológicos na paisagem urbana, comoos gerados pela dicotomia fora/dentro, não-pertenço/pertenço;entrada para o pátio de Christ Church College, em Oxford

da identificação de grupos/elementos com fatores de coesãoidentificáveis, o que nos permitiria a percepção selecionada;a forma seria a criação do inteligível sobre o perceptível (BAIL-LY 1979). A partir desta base conceitual a "gestalt" fixaalgumas leis que regem a nossa percepção visual. comoa "lei da continuidade" que diz que temos uma tendênciade organizar perceptualmente uma figura, dando-lhe continui-dade de direção e mantendo a redundância sem introduzirnovas informações (fig. 73).

Um dos seus atuais seguidores, TRIEB (1986), observa quea análise da imagem urbana configura a base mais importanteao desenvolvimento do conceito de desenho urbano parauma cidade. Seus estudos mostram que nesta imagem trêsconceitos são básicos: a idéia futura da estrutura da arquite-tura urbana, os elementos desta arquitetura urbana e os prin-cípios de desenho. Os elementos de arquitetura mais impor-tantes seriam, para TRIEB, os padrões determinados pelapaisagem viária, a silhueta da massa edificada, e a tipologiaedilícia. Uma imagem urbana vital seria, então, facilitada pelacontinuidade do desenho urbano e alterações na arquitetura.

Segundo KOHLSDORF (1975: 9), que tem desenvolvido im-portantes trabalhos nesta linha na Universidade de Brasília,"a psicologia gestaltica tem contribuído à nossa área de atua-ção através ... do processo de formação de classes dentrodo fenômeno da percepção ... chamadas também de forma-ções invariáveis" (fig 73) Portanto. a percepção das configu-rações urbanas também estaria sujeita a certas leis de confor-mação, como de proximidade. de semelhança. de coesão,de pregnância. e outras, que condicionariam conceitos "ges-talticos" estáticos e dinâmicos (envolvimento. alargamento,acentuação, emolduramento etc.), dependentes da sequên-cia de movimento, como subsídios para o projeto (KOHLS-DORF 1975, 1979, 1984) (fig. 74). A pesquisadora tem utiliza-do esta metodologia para o estudo do Plano Piloto e identifi-cações de seus elementos físico-espaciais caracterizadorescom vistas à preservação ambiental (KOHLSDORF 1985,1986).

Nos EUA. esta linha de pensamento influenciou alguns profis-sionais, principalmente aqueles filiados ao MIT, comoLYNCH, APPLEYARD e THIEL, através de um professor oriun-do da Bauhaus, Gyorgy KEPES, que adotava o estudo da"gestalt" e da utilização da fotografia como técnica ampliadade análise e projeto, principalmente no que diz respeito àpercepção do movimento (GOSLlNG & MAITLAND 1985)Também foram estudados sistemas de notação de seqüên-cias urbanas inspiradas em cinema que ajudaram a incluirmos

Page 91: Introdução ao desenho urbano

-. ~Figura 73 - A lei da continuidade da "gestalt" e a tend{}ncia de visualmente percebermos um trif1ngulo apenas por tr{}sf1ngulos e de um rettlngulo apenas pelos cantos

~ ~ .•... - ....,. ~ -----

o movimento e o tempo como fatores preponderantes napercepção do espaço e da forma (LYNCH, APPLEYARD &MEYER 1964)

Outros trabalhos norte-americanos foram fundamentais parase afirmar a necessidade de um meio ambiente construido,levando-se em conta suas qualidades visuais e estéticas.SPREIREGEN (1965), por exemplo, tratava da organizaçãoterritorial como uma questão basicamente estética de tradi-ção artística, encarando o Desenho Urbano como uma ques-tão de projeto visual, como "arquitetura das cidades". Estelivro, embora carregado de pré-eonceitos e julgamentos devalores estéticos do que é "bom" ou "ruim", foi providencialna recuperação de um maior cuidado com as qualidades físi-co-espaciais no planejamento. Como também foi o de BA-CON (1967). já mencionado, que via a importância das estru-turas urbanas tratadas como sistemas visuais e de movi-mentos inter-relacionados, temática mais recentemente de-senvolvida também por TRANCIK (1986).

Já outros estudos da época apontavam para a importânciade um ambiente visualmente mais rico e com níveis variadosde complexidade e atratividade, valorizando a produção mais"espontânea". Destes destacamos o artigo de RAPOPORT& KANTOR (1967). onde analisavam os efeitos da comple-xidade e da ambiguidade no contexto urbano, como rotasalternativas, percursos com diversos apelos ou mensagenscom Significados ambíguos (fig. 75). Também foi importanteo de LOZANO (1974), onde defendia que nossa necessidadepara "inputs" visuais urbanos complexos é uma combinaçãode orientação e variedade de formas, a níveis controláveispela mente.

Neste ponto, fazemos breve comentário sobre o desenvol-vimento da semiótica ou semiologia nos anos 60, que muito

.--:_=::.-;;:.~-= ._._,,,..... ..~-

b•• dlM 'ffl

InvasOes(Alto da Boa Vista) Acampamentos (Metropolltanal Vernaculo\Planalllnal

Figura 74 - A "gestalt" como teoria de base para identificaçãode tipologia dos diferentes assentamentos prevalentes noDistrito Federal: linhas de coroamento e pontuações dasdiferentes silhuetas; um estudo de Maria Elaine KDHLSDDRF

Figura 75 - A área da Piazza deI Campo, Siena, Itália, ilustraambiente urbano coerente e de estrutura legível, embora comfortes efeitos de complexidade visual

Page 92: Introdução ao desenho urbano

Figura 76 - A arquitetura como fen6meno de comunicação e sistema de signos: possfvelleitura do significado da imagemda catedral de 8rasflia {arquiteto Oscar NIEMEYERj

influenciou nosso entendimento sobre os processos de co-municação visual. Os anos 60 e 70 foram férteis para ostrabalhos que consideravam todos os fenômenos de comuni-cação, inclusive a Arquitetura e o Urbanismo, como sistemasde signos ou símbolos e, portanto, passíveis de diferentesleituras pelo observador (fig. 76). Alguns elementos arquite-tônicos assumiriam o papel de significantes mínimos, ou seja,apenas com eles e com sua inter-relação a edificação já alcan-çaria uma determinada composição de significados e umamensagem.

Duas correntes se formaram, de inspiração diferenciada. A quese baseava no filósofo americano Charles Sanders PEIRCE(1931) considerava a semiótica como a ciência lógica do estudodos signos. A outra enveredou pela linguística estrutural dofrancês Ferdinand de SAUSSURE e de LEVIS-STRAUSS. Este,por exemplo, mostrou a importância do inter-relacionamentoentre os sistemas espacial e simbólico dos índios bororo, ecomo sua catequizaçâo foi possível graças à retirada das comu-nidades para assentamentos com traçados reticulares, sema menor relação com o sistema cultural, de comportamentoe de segurança psicológica dos indígenas *.

* In LEVY-STRAUSS, Claude (1955). "Tristes Trópicos", Edições70, Lisboa, 1979.

Outros autores produziram importantes estudos semiológi-cos que incidem diretamente em nossa área de conheci-mento, como ECO (1968). JENCKS & BAIRD (1969) e CHOAY(1965). Também Roland BARTHES (1970) escreveria sobreo relacionamento entre a semiologia e o urbanismo e relem-brava Victor HUGO, que entendia a cidade como um livroaberto, sendo os edifícios suas palavras e a combinação entreeles os conjuntos de significados urbanos; BARTHES mos-trava a importância de compreendermos quais os elementossignificantes básicos da cidade e sua semântica compositiva.Alguns arquitetos atuantes seguiram esta linha de estudos,como VENTU RI (1966, et aI. 1972) e MOORE, explorandoos sistemas simbólicos da arquitetura e desenvolvendo umalinguagem inusitada, depois aproveitada pelo "pós-moder-nismo", como já comentamos na primeira parte deste traba-lho. Sobre a discussâo da semiologia da arquitetura no Brasilveja-se, por exemplo, COELHO NETTO (1979). FERRARA(1988) e TRINTA (1983)Resumindo, a "Análise Visual" busca, através de uma com-preensão das mensagens, dos relacionamentos percebidosentre elementos componentes de um conjunto e das emo-çôes que nos transmitem, a lógica condicionadora das quali-dades estéticas urbanas. É uma categoria de análise subje-tiva, no sentido que depende basicamente da capacidadede observação e interpretação do pesquisador, consequen-temente permeada por seus próprios sistemas de valores.

Page 93: Introdução ao desenho urbano

Esta categoria de análise se desenvolveu a partir de conceitose métodos da psicologia e possui algumas fontes inspiradorasbásicas a teoria da Gestalt e as de GIBSON (1950) e PIAGET(1963). A partir de pesquisas no campo da percepção domeio ambiente dentro destas orientações, durante os anos60, atualmente aceita-se" ... a percepção como instrumentomediador importante entre o homem e o meio ambienteurbano e a reformular-se o enfoque até então em prática:as qualidades e as necessidades não são mais consideradasabsolutamente concensuais, mas variáveis entre grupos, cul-turas e épocas" (KOHLSDORF 1985 51).

Resumidamente podemos afirmar que o Homem se comu-nica através de um processo cognitivo, que é a construçãodo sentido em nossas mentes. Este processo possui fasesdistintas: percepção (campo sensorial), seleção (campo damemória, e atribuição de significados (campo do raciocínio),num curso que leva a dois fins precisos, ou seja, ação ememorização (BAILLY 1979, OLIVEIRA 1983) (fig. 77). A per-cepção é. acima de tudo, um processo seletivo, pois nóssó percebemos aquilo que nossos objetivos mentais nos pre-param para perceber (fig. 78). Além disto, é reconhecida-mente um processo visual primordialmente visual, pois den-tre todos os nossos sentidos é a visão o mais prevalente.

Portanto, o estudo da percepção ambiental interessa-nos en-quanto compreensão das unidades selecionadas para compora experiência visual. Para o Desenho Urbano, os objetivosprincipais destes estudos se tornam claros: a identificaçãode imagens públicas e da memória coletiva. A partir do estudodo que os usuários percebem, como e com que intensidadepode-se montar diretrizes para a organização físico-ambiental.Alguns chamam isto de identificação de "pistas" ambientaispara o projeto (SAMUELS 1988, BENTLEY et aI. 1985). Acompreensão da linguagem é determinante na percepçãoda realidade (fig 79)

Nossa preferência em termos de utilização para o DesenhoUrbano fica, entretanto, com a chamada corrente Piaget poisexpandiu-se com mais propriedade e não é limitadora nosentido que não se baseia em processo analítico exclusiva-mente dependente do pesquisador. Esta característica, em-bora tenha sua fundamentação teórica e de experimentosprincipalmente em condições de laboratório, faz com quea "gestalt" urbana se aproxime mais, em sua essência, dosenfoques que classificamos dentro da categoria anterior, de"Análise Visual".

filTI'-O~$E.NjoF,iAi$ fATO"é" CUlTVR~i,

7oc.iAi, _CI\MYO E.COfJOl1icO,VIWAL AçÃo

I~ m ~LO 5iMFllficAllO~-7 ~m ~O~~L

ObJE.To ~ , 'I.."AI7A~E.M 'v ) ~ AÇÃD

/ /I~Óse k' <l'~c

~ MEMÓP.,iA 'TFigura 77 - Interpretação esquemática do processo depercepção/cogn~ãofresposffi

A linha Piaget se mostra mais fértil para nossos propósitospois permite a análise da percepção ambiental sob o pontode vista do seu usuário. Para o nosso campo de atuação,os trabalhos de percepção ambiental mais frutíferos têm ado-tado esta teoria e seus procedimentos metodológicos. É ocaso, por exemplo, de LYNCH (1960), GOODEY (1971), AP-PLEYARD (1976) e BAILLY (1979) No entender de PIAGET,o ser humano teria uma habilidade inata para a percepçãoe faz grande parte do seu aprendizado em suas atividades,imerso no mundo e formando as suas regras perceptivas;daí a importância do processo de aprendizado para uma crian-ça (DONNELLY 1980) Nosso conhecimento é cumulativoe forma-se através de nossa experiência cotidiana.

Sem dúvida, a linha de pesquisa mais influente nesta linhasurgiu de Kevin LYNCH (1960), ele próprio um discípulo daescola "gestalt" de KEPES, no MIT. No entanto, expandiusuas fronteiras e analisou a imagem mental que os habitantes

Page 94: Introdução ao desenho urbano

li

Figura 79 - Identificações de elementos das linguagens locaispara formação de um repertório para projeto

tinham de sua cidade. Foi a primeira vez que alguém seperguntou qual seria o significado da cidade para seus usuá-rios, identificando suas qualidades e elementos estrutura-dores. LYNCH utilizou-se de procedimento metodológico dapsicologia e aplicou questionários a um número de habitantesde Jersey City, Boston eLos Angeles. Afirmava que "nadaé experimentado por si próprio, mas sempre em relação aseu entorno, às sequências de eventos que levam a isto,à memória de experiências passadas" (LYNCH 1960: 1). Suateoria gira em torno de três qualidades urbanas, como concei-tos de referência: legibilidade, estrutura e identidade, imagea-bilidade.

Legibilidade: Uma das mais importantes qualidades visuaispara LYNCH (1960: 2) que a define como " .. a facilidadecom que as partes podem ser reconhecidas e organizadasem um padrão coerente". Diz, ainda, que "uma boa imagemambiental dá a seu possuidor um importante senso de segu-rança emocional" criando " ... uma relação harmoniosa entreele e o mundo exterior" (LYNCH 1960: 4). Ele não consideralegibilidade de maneira simplista pois chama atenção paraa necessidade da riqueza de detalhes e significado, reconhe-cendo, no entanto, o perigo da confusão visual de uma quanti-dade muito elevada de apelos, interferindo na sua coerência.

Identidade. Estrutura e Significado: Uma imagem ambien-tal pode ser vista contendo três componentes: identidade,estrutura e significado. A identificação de uma área, suá dife-renciação de outra, sua personalidade e individualidade sãochamadas por LYNCH de "identidade". Quanto à estrutura,é uma categoria que todas as imagens compostas devemter, para coerência do todo e relações internas definidas.O observador deve, finalmente, ser capaz de captar signifi-cado nesta imagem ambiental, seja ele prático ou emocional.

Imageabilidade: Foi definida por LYNCH (1960: 9) comosendo "aquela qualidade de um objeto físico que lhe dá umaalta probabilidade de evocar uma forte imagem em qualquerobservador". Pode-se mencionar um paralelo com a quali-dade "gestaltica" de "pregnância", ou seja, a capacidadede uma imagem ser forte o suficiente para "saltar fora" eimpor-se na percepção e na memória do observador. Umacidade de alta imageabilidade seria distinta, de caráter fortee sua permanência no tempo não alteraria a imagem básicaque o observador possui. Cabe alertar o leitor que algunsautores nacionais têm-se utilizado do termo "imaginabilida-de", mas preferimos "imageabilidade" por tratar de pregnân-cia de imagens, e não de capacidade de imaginação.

Em seu trabalho, LYNCH concentrou-se em estudar a idéiada Imageabilidade e que formas urbanas geram fortes ima-gens mentais, para que pudesse vir a sugerir alguns princípiosde Desenho Urbano (LYNCH 1960: 14). Para tanto aplicouuma metodologia de pesquisa através de questionários eentrevistas nas três citadas cidades norte-americanas. Algu-mas características desta metodologia nos sâo particularmen-te interessantes. Primeiro, não se tratava de tentativa de

. quantificar dados exaustivamente para provar sua "validadeestatista", mas de concentrar-se na qualidade e na riquezadas respostas. Segundo, aplicava perguntas abertas, evocavareconhecimentos com base em fotos e solicitava que o entre-vistado desenhasse "mapas mentais" ou descrevesse per-cursos específicos (fig. 80). Com isto, objetivava identificaras imagens coletivas das cidades e as de suas partes/ele-mentos mais significantes.

Cruzando as informações em mapas compostos, as imagenspúblicas que põde obter identificavam claramente alguns ele-.mentos urbanos que se destacavam em seu papel para aImageabilidade, gerando coerência às estruturas dos mapas,identidade às partes e legibilidade geral e parcial (fig. 81).Estes elementos possuem um elevado potencial de aplicabi-lidade para o Desenho Urbano e há muito tornaram-se compo-nentes do jargão profissional e acadêmico (LYNCH 1960)(fig. 82) são eles:

Page 95: Introdução ao desenho urbano

Percursos (paths): Os canais ao longo dos quais o obser-vador normalmente se movimenta; constituem-se, como jácomentamos. nos elementos mais importantes e que com-põem mais fortemente a estrutura da cidade na mente dosobservadores; ao longo dos percursos estão arranjados osoutros elementos.

Limites (edges): Elementos lineares não utilizados comopercursos e que geralmente demarcam o limite de uma áreaou de uma zona conhecida para o observador; são impor-tantes pois quase sempre representam uma interrupção decontinuidade da imagem urbana.

Setores (districts): Áreas da cidade de certa extensão eque o observador identifica "de dentro" como possuindouma identidade própria. ou "de fora" se realmente puderemser vistos de longe; normalmente possuem "limites" preci-sos e são interligados por "percursos".

Nós (nades): Locais estratégicos da cidade onde o obser-vador pode entrar e que possuem forte função como "foci",destacando-se da estrutura; locais de concentração de ativi-dade ou convergência física do tecido urbano; podem serlocais centrais dos Setores.

~ / J.{ :' / / J. I /' / // / / / /' .t2 v.F;

~--I. / .~ ~ ~ ,,~ ---;.- /" - --=';',~ \.- ~ """

~~ ~ €- ,~~~ \'-~~~ ~-~/,~" ~/ f~IA ~ IIRúlJ"-':>- - ~/-( ~

Figura 80 - Mapa mental da Urca, Rio de Janeiro, por morador e pescador (22 anos), onde aparecem com destaque elementosde maior significação em sua percepção da imagem do bairro e sua importãncia relativa (igreja com volume, prédios comfachadas e letreiros, prédios "sem cara", largura das vias etc.)

Page 96: Introdução ao desenho urbano

- iDDIII o •• x:x

€f)Figura 81 - Um dos mapas compostos da "forma visual" deLos Angeles, obtido por Kevin L YNCH ao cruzar os mapasmentais de seus entrevistados, destacando os cinco elementosurbanos mais importantes na coerência desta imagem coletiva

-~~~~~ ~~"-~~-""'~&/,\6,-1'So) '~~

N07 ~ ~ 'il ~l>i)í~iTO) <>~. E!> Efu ?:\\~ iEil't

~ QQ"'~<"~ ,,~,. . ~ "" ni! f-------~Cjl 1'f-"(UI','1O'1

7~r--Figura 82 - Esquemas representativos dos cinco elementos maisimportantes na estruturação da imagem da cidade, segundoLYNCH

Marcos (Iandmarks): Um outro tipo de referencial mas esteé externo e se destaca na paisagem; são geralmente umobjeto físico; podem estar distantes e constituírem uma refe-rência constante ao usuário, ou podem estar mais integradosà estrutura destacando-se do conjunto por sua forte Imagea-bilidade.

Como é fácil de concluir, estes elementos são facilmentetransponíveís numa linguagem para projeto e são ínúmeros

os que têm aplicado esta metodologia obtendo uma estruturaurbana que busca forte imageabilidade: orientação, estrutura,identidade, significado, legibilidade.

Uma das aplicações mais interessantes, principalmente porseu porte, destes métodos de análise deu-se na elaboraçãodo plano para Ciudad Guayana, Venezuela, uma nova cidadeindustrial construída em uma área onde já existiam diferentesassentamentos, no i'nício dos anos 60. Em termos concei-tuais, os objetivos da equipe encarregada dos estudos dedesenho urbano, coordenada por APPLEYARD (1976). par-tiam do princípio que o pluralismo social e a acessibilidadeurbana são dependentes da comunicação. Portanto, o meioambiente seria visto como uma "arena para comunicaçãona cidade" e os planejadores buscaram que a sua intervençãoresultasse bem estruturada topologicamente. Como emLYNCH (1961). neste caso foram empregados três instru-mentos básicos de coleta de informações de percepção: ma-pa mental. entrevistas livres e mapas de percursos.

Em Ciudad Guayana diversos importantes resultados no cam-po da percepção ambiental foram obtidos, ficando tambéma descoberto os profundos conflitos de valores e imagensperceptivas entre os planejadores e a população local (assimcomo entre os seus subgrupos) que, inclusive, empregavamdiferentes nomes para o mesmo assentamento. Compro-vou-se, por exemplo, que 80% das pessoas que se utilizavamde ônibus produziam mapas mentais pouco coerentes, comesquemas sequenciais fragmentados e elementos espaciaisdispersos; ao contrário, os usuários de automóveis geravammapas muito mais coerentes e contínuos. Evidentemente,o nível sócio-cultural influenciou estes resultados mas eletambém se repetiu para os motoristas e passageiros de táxi,comprovando que os trajetos fragmentados de ônibus e osobjetivos específicos de seus passageiros geram, até certoponto, diferentes imagens mentais. De qualquer maneira,em concordãncia com outros autores, o estudo identificouduas categorias principais para os mapas mentais: os quese utilizam preponderantemente de elementos "sequen-ciais" (ruas, por exemplo) e os que se utilizam de elementos"espaciais" (edificações e marcos). com forte preponderânciado primeiro tipo, com 57% do total dos respondentes.

o método de LYNCH possui, evidentemente, alguns pontosfracos como, por exemplo, a dificuldade para sua aplicaçãoa universos estatisticamente representativos, sua entrevistater uma longa duração (uma hora e meia em média). os dadosde difícil análise e quantificação, e a dificuldade de se obteros desenhos de "mapas mentais" de certos grupos sociais.

Page 97: Introdução ao desenho urbano

e etários. Diversos trabalhos já levantaram estas críticas ealguns expandiram seus limites (LANG et ai. 1974, AP-PLEYARD 1976, WHITE 1977, BAILLY 1979, CANTER 1979)

Não há dúvidas, entretanto, que LYNCH nos trouxe uma ini-gualável contribuição que ainda vai influenciar os estudose projetos sobre a percepção da cidade por muitos anos.Há estudos que buscaram dar maior embasamento metodo-lógico aos procedimentos oriundos dos trabalhos de LYNCH,enriquecendo em muito os achados e comprovando a amplaaplicabilidade desta categoria analítica (WHYTE 1977, ZEISEL1981). No Brasil existem exemplos, cada vez mais comuns,de trabalhos que seguiram esta linha de pesquisa, como osde OLIVEIRA (1978, 1983). BLEY (1982). BAUZER (1983)e MACHADO (1988). assim como alguns dos apresentadosnos dois seminários de Desenho Urbano em Brasília (TURKIE-NICZ 1984, TURKIENICZ & MALTA 1985). Nós próprios esta-mos finalizando pesquisa sobre a percepção espacial quevários grupos diferentes possuem da Área Portuária do Riode Janeiro, com vistas a identificar imagens coletivas quepossam nortear diretrizes de Desenho Urbano em um pro-cesso de revitalização (DEL RIO 1990).

Existem, ainda, os trabalhos que exploram os conceitos de"preferências ambientais" e de "satisfação", ou seja, quaisas imagens e razões que levam os observadores a preferireste ou aquele lugar, esta ou aquela casa, ou quais os atribu-tos do ambiente que o destaca como especial (SANOFF 1974,GOODEY 1974, APPLEYARD 1980)

É ilustrativo mencionar um artigo de RAPOPORT (1967) emque analisava a baixa satisfação com os empregados da com-panhia CBS que trabalhavam no famoso edifício-sede de Novalorque, projeto de SAARINEN, nos melhores moldes do Movi-mento Moderno. O arquiteto tinha "controle total" do am-biente e os funcionários não podiam adaptar nem personificarnada, até o tipo dos cinzeiros era predeterminado. Portanto,os conceitos e processos metodológicos da linha de pesquisadas preferências desenvolvem-se a partir da psicologia dapercepção e assumem particular importãncia pois os siste-mas de valores dos usuários, como comprovam diversosoutros estudos (ver Capítulo 1, figo 28) não são, absoluta-mente, iguais aos dos arquitetos que irão definir os ambientesonde irão morar e trabalhar.

Finalmente, gostaríamos de lembrar um campo de análiseclassificado como "geografia da percepção" e que tem sidodesenvolvido basicamente por geógrafos que estudam o con-ceito e o sentido do "lugar" e de nossas relações perceptivas

e afetivas com eles. Fazem uma distinção clara entre "espa-ço" e "lugar", sendo este carregado de significados afetivose simbólicos. O espaço transforma-se em lugar na medidaem que adquire definição, significado e uma determinadacarga emocional para o observador; quando podemos enten-dê-Io e coordená-Io através dos sentidos, conhecimento esensações, ele se torna lugar (TUAN 1974). Assim comoo citado NORBERG-SCHULZ para a Arquitetura, a "geografiada percepção" tenta a compreensão do "genius loci" e danossa produção de sentidos sobre ele.

Nesta linha, o importante Yi-fu TUAN desenvolve toda umateoria a partir do conceito da "topofilia", que ele define comosendo nosso elo efetivo com o lugar, abordado através daspercepções, atitudes e valores: um "conceito difuso masconcreto como experiência pessoal" (TUAN 1974: 5). NoBrasil os trabalhos de TUAN (1974, 1977) possuem boa pene-tração e têm inspirado importantes pesquisas como a deMACHADO (1988). que estudou a Serra do Mar Paulista comopaisagem valorizada, enquanto um conjunto de manifesta-ções "topofílicas". Também tratando a questão ambientalcomo manifestação sensível e sempre presente, WAL TERdesenvolve argumentação a partir da verdade crua que "aspreocupações com a lógica do espaço tendem a suprimira sensação de espaço ... nossas linguagens técnicas ... nãoexpressam a unidade e a coerência desta experiência holís-tica" (WAL TER 1988: 2). A Geografia da Percepção podenos trazer interessantes contribuições sobre os processosperceptivos e, principalmente, nos de alocação de signifi-cados e medição de atitudes e valores.

Vimos, portanto, que os estudos de percepção possibilitam-nos dese_nvolver uma " ... compreensão sistemática e cientí-fica da visão de dentro para fora, para complementar o enfo-que científico mais tradicional e externo" (WHYTE 1977: 11).A importância disto reside no fato que a população buscaperceber lugares familiares em seu ambiente construído queestejam carregados de memórias significativas e que possamgerar-Ihes estabilidade psíquica e social.

Os norte-americanos têm classificado a psicologia do meioambiente e os estudos do comportamento ambiental dentrode uma denominação única: "pe;;quisa ou desenho ambien-tal", estudos de "homem-meio ambiente", ou simplesmente"comportamento ambiental". Para o iniciante, sem dúvida,haverá confusão sobre o que deveria ser classificado dentrode que área.

Page 98: Introdução ao desenho urbano

Figura 83 - O ambiente influencia nosso comportamento e geraesquemas territoriais nos usuários (conscientes einconscientes),' a intensidade e a forma do uso são proporcionaisà qualidade do espaço e seus elementos. Praça no Centro deCopenhage

Entretanto, os trabalhos de psicologia mais tradicionais tra-çam uma verdadeira linha divisória entre o enfoque "compor-tamentalista" (behaviorista) e o "piagetiano". Como disse-mos, os que seguem a segunda linha de pensamento admi-tem uma formação de memória através dos processos cogni-tivos e da experiência ambiental; assim, cada nova situaçãoem que nos vemos seria mentalmente relacionada com ou-tras de nosso passado, informando para as atitudes e asações a tomar. Já os trabalhos "comportamentalistas", larga-mente inspirados por SKINNER (1953), defendem que a rea-ção do ser humano é reflexo puro da situação que ele seencontra, buscando relações causa-efeito mais diretas noscomportamentos ambientais.

Mas, para simplificar, acreditamos que o mesmo raciocínioexpressado na introdução deste capítulo pode ser aplicadoagora. Ou seja, em se tratando de Desenho Urbano, nenhumateoria particular, suas categorias de análise e seus procedi·mentos metodológicos podem ser considerados perfeita-mente transponíveis de outra área de conhecimento e aplicá-veis para a organização físico-ambiental. Interessa-nos, justa-mente, a flexibilidade de nossas categorias de análise e suacomplementaridade para a organização físico-ambiental dourbano.

Portanto, acredito que os estudos de comportamento podemnos ajudar a compreender a cidade e a complementar nosso

procedimento metodológico geral para o Desenho Urbano.Sua única limitação, como veremos a seguir, reside no fatoque seus estudos e experiências são normalmente desen-volvidos para espaços relativamente limitados (edificação,rua, quarteirão ou praça); sua aplicação a nível de áreas urba-nas ainda está por vir, além dos clássicos estudos sobrepreferências residenciais e deslocamentos. É o caso de artigode STEINITZ (1968) em que estudava a intensidade das rela-ções de congruência entre forma e atividades na determi-nação dos significados à escala da cidade. Entretanto, talvezpor isto mesmo revela-se categoria de análise complementarà Percepção do Meio Ambiente pois, como vimos, as aplica-ções desta se prestam mais para áreas urbanas extensas.

Partimos da hipótese que, de alguma forma, com algumaintensidade, nosso comportamento e nossas ações são in-fluenciados pelo ambiente físico-espacial que nos cerca (fig.83). Pode-se dizer que o ambiente sugere, facilita, inibe oudefine comportamentos, ou seja, que ele age como catali-sador (positivo ou negativo). Socialmente, por exemplo, cons-tatamos a importância de conceitos comporta mentais comoos de espaço "sociopetal" (que congrega, direciona a umlugar central) e "sociofugal" (que desagrega) em relação àsintereções sociais (LANG 1987). Evidentemente, o ambienteconstruído não pode atuar nas extremidades da escala decomportamento, ou seja, ele não poderá jamais determinarque tomemos ou não determinada ação se isto não estiverem nossas metas mentais.

Esta categoria analítica de atuação sobre o espaço pareceter começado a impor-se no início dos anos 60, a partir detrabalhos críticos sobre os efeitos do Modernismo nos am-bientes urbanos, que vimos anteriormente e que destruíamsistemas sociais e culturais de grande coerência interna ecomportamentos específicos (JACOBS 1961, KELLER 1968).Veio a popularizar-se na Arquitetura a partir de estudos naPsicologia Social, como trabalhos sobre "STRESS", a territo-rialidade do indivíduo e de grupos segundo os vários cenáriosde ação e sobre a definição do espaço pessoal segundo asvárias situações sociais (HALL 1966, SOMMER 1969 e 1983)(fig. 84). O estudo do comportamento foi ainda popularizadocom o clássico de NEWMAN (1972) sobre espaços e violênciaurbana, e com ajuda de uma coletânea organizada por GUT-MAN (1972), com textos de alguns dos mais famosos arqui-tetos e pesquisadores do assunto, como HALL e ALEXAN-DER, que já desenvolvia os conceitos de sua teoria "Iingua~gem de padrões". Nos últimos dez anos este campo deestudos tem crescido muito, particularmente nos EUA, ena abertura deste capítulo já destacávamos a importância

Page 99: Introdução ao desenho urbano

Figura 84 - Definição dos espaços pessoais e de grupo segundoas diferentes culturas e situações contextuais; parcial darodoviária Novo Rio em sábado de grande movimento

do recente lIVro de LANG (1987). que faz um excelente apa-nhado geral e desenvolve a noção de uma teoria de arquite-tura baseada em estudos comportamentais

A aplicabilidade desta categoria de análise pode ser ilustradacom o conhecido plano de circulação viária nas áreas residen-ciais de São Francisco, coordenado por APPLEYARD nos anos70 A pesquisa desenvolvida mostrava importantes achadossobre a percepção do espaço da rua e do lar, a territorialidadedos moradores e seu comportamento sob a influência dotráfego veicular, por exemplo, chegando a propor uma sériede medidas corretivas para promoção de "ruas de vivência"(Iivable streets), seu conceito básico desenvolvido em livrohomônimo (APPLEYARD 1981) (figs, 85 e 86) O estudo dasnecessidades e comportamentos ambientais verificáveis nasruas foram também determinantes para a Implantação doimportante princípio de "woonerf" na Holanda: ruas residen-ciais onde, embora os pedestres sejam sagrados e tenhamprioridade convivem com o tráfego local que tem sua veloci-dade controlada através de legislação limitadora de velocidadee dos próprios elementos construtivos, mobiliário e paisa-gismo (fig 87)

Outro pesquisador Importante, o dinamarquês Jan GEHL(1980, 1989). há anos vem estudando os usos dos espaçospúblicos e seus trabalhos foram vitais para a aprovação eimplantação de uma estratégia de pedestrianização progres-siva do centro de Copenhage, iniciada em 1962 Como GEHL

sugere, a necessidade de vida pública nas cidades aumentaa cada dia, não só com a evolução política do Homem, mascom o perfil da vida moderna, períodos cada vez menorese mais flexíveis de trabalho, famílias menores, aumento daexpectativa de vida e aposentadorias mais precoces, No casode Copenhage, apesar das críticas iniciais de que num paísescandinavo a vida urbana não se daria nunca nas ruas, arede de vias pedestrianizadas triplicou entre 1968 e 1986,e os levantamentos mostraram que o total de pessoas utili-zando estes espaços também triplicou no mesmo período.GEHL (1989) verificou que os tipos de atividades que flores-

íl\A.fE.GO u...;'E.

2000 Vi.iÜILO}/I>i~

200 'Jt.i(."'LO~ ~OM PiQ;UIi

mÁfEc.o MODtltAllO

8000 'Ji.íOJLO'l/l:>i'"

550 ~tiC.ULOS- ~o~"PiQlll

lltÁ.H40 1'[5,\,110

*'000 'Jf""ULDS/Dj",

4Qoo lJC.tC.l.lLO) Mau. fiQvl

Figura 85 - Os territórios que os entrevistados reconheciam comoseu "lar" são inversamente proporcionais à intensidade detráfego das ruas onde moram; estudo de Donald APPLEYARD,em São Francisco

Page 100: Introdução ao desenho urbano

/Ib'/

Figura 86 - Propostas de APPLEYARD para minorar o impactodo tráfego nas ruas residenciais, aumentando suas qualidadesambientais e seus espaços de vivt§ncia

ceram foram os eventos de pequena escala, gerados porpessoas vindas de toda a cidade e que têm algo que dizer,que mostrar, que trocar ou vender; "uma a cada dez pessoasem espaços públicos num dia de verão normal estava direta-mente envolvida em alguma atividade direcionada a seusconcidadãos, muitas das outras pessoas e atividades estavamem seu entorno ou direcionadas a estas novas atividadesurbanas" (GEHL 1989: 15). Ele ainda conclui que os achadosda pesquisa provam " .. a co-relação espetacular entre asqualidades físicas de um espaço público e seu volume ecaráter de vida".

Portanto, estudar o comportamento ambiental conforma ainvestigação sistemática das inter-relações entre o ambientee o comportamento humano e suas implicações para o projeto(MOORE 1979, LANG 1987) Segundo MOORE (1977 63)"as questões básicas a serem respondidas são: como aspessoas se relacionam com o meio ambiente construído,quais são suas necessidades, e como aplicar tais respostasno processo de projeto 7". O projeto correto deve respondera três grupos básicos de satisfação do usuário: visual, funcio-nal e comportamental. LERUP (1972). por exemplo, defendeque a congruência entre o comportamento e o ambienteconstruído é um instrumento de medição da qualidade am-biental (fig. 88).

Por outro lado, como concluiu um estudo sobre os espaçospúblicos de Nova lorque, embora acredite-se que as crianças

Figura 87 - Fotos de uma rua em Amsterdam antes e depoisda implantação de um "woonerf", áreas residenciais comprioridade para os pedestres

brincam na rua porque não têm local apropriado, a verdadeé que muitas crianças gostam mesmo é de brincar na rua(WHYTE 1980: 10). Os seus elementos e seu arranjo espacialsugerem usos e comportamentos extremamente diferencia-dos e apenas sua análise sistematizada nos fará começara compreender suas qualidades enquanto locais para o com-portamento social. Neste sentido, nunca é demais frisar aimportância dos estudos de comportamento para o DesenhoUrbano pois, sem usuários, o espaço público é de poucosignificado e importância, ao contrário do que entendia aArquitetura Modernista.

Page 101: Introdução ao desenho urbano

No sentido das interações sociais, PFEIFFER (1980: 35) lembraque" .., tem-se dado pouca atenção à criação consciente deespaço público para a administração da interação social .., ".Além dos sistemas de comunicação não-verbal e de padrõessociais dé comportamento, o "contexto" da interação socialseria, segundo este autor, definido pelos arranjos físico, sociale interacional Em consonãncia com outros autores, PFEIFFERafirma que o quadro arquitetõnico dos espaços públicos acabasendo sempre apropriado em espaços intermediários ou zonasque se prestam a diferentes ocorrências; apenas seus limitesnão são sempre estabelecidos por elementos arquitetõnicosfacilmente visíveis. Os grupos de usuários sempre se utilizamde subespaços conforme suas motivações e as característicasdestes subespaços (vide figo 84).

Ainda no mesmo trabalho, PFEIFFER descreve um caso inte-ressante de estudo comportamental. Na Alemanha, a autori-dade ferroviária vinha registrando muitos usuários queixan·do-se de que as estações de trem "estavam cheias de estran-geiros", o que diminuía seu nível de satisfação com os servi-ços. Na realidade, o que ocorria era uma diferença comporta-mental levando a uma percepção distorcida da questão: osestrangeiros concentravam-se em grupos em locais estraté-gicos junto às passagens! esperando amigos ou apenas orien-tando·se, enquanto que os alemães seguiam diretamenteàs plataformas de embarque; os estrangeiros representavamapenas 7 a 12% do total de usuários mas seu comportamentoe a estrutura espacial interna das estações geravam percep·ção distorcida e equivocada (fig. 89).

Na verdade, os métodos de análise do comportamento po-dem ser subdivididos em observação direta ou indireta: osque registram o comportamento na hora das próprias ocorrên-cias e aqueles que o fazem depois, identificando pistas dasocorrências (WHYTE 1977). Para a observação direta, algunsprocedimentos sistematizados se fazem necessários e ZEI-SEL (1981) nos fornece valiosa colaboração, que resumimosa seguir. Com razão, ele nos lembra que observar o comporta-mento ambiental parece algo tão óbvio que pode levar facil-mente a distorções e pobreza de dados caso certos cuidadose procedimentos metodológicos não sejam seguidos. Basica-mente, temos três temáticas instrumentais a considerar paraa definição de nossos estudos, a saber:

- a posição do observador (pesquisador) em relação ao ob-servado: de fora em segredo, de fora mas reconhecido, parti-cipante marginal (apenas eventualmente). participante totalno acontecimento;

- ~""'(jll1i111, - Í\ÍlllllO

~ -:= =-~~--= ~1.~IlJ\1 /= -=. -=- ~ Il;,iíri( rlU~~~ C{-=- - =- ,- l~l~, _...::: 1[l1,,[lU~t,

"-- ~lIljjl1MI.,. ~"IIt1IUUUUIlIW ~ '-~. ,.' . . b

Figura 88 (a, b) - Medindo a qualidade f[sica do ambiente urbano:as dificuldades de duas idosas tentando subir os altos degrausde uma estreita calçada em Guadalajara, México (a); a ameaçado projeto do "orelhão" para o deslocamento de um cego quesó localiza a barreira vertical tarde demais (b)

Page 102: Introdução ao desenho urbano

~~7tr~7~~r~l' l' l' /f'

Figura 89 - A apropriação do ambiente segundo subespaçosde usos especfficos e mais controláveis. Diagramas dos estudosde PFEIFFER em uma estação ferroviária alemã e os dois tiposde subespaços apropriados pelos usuários locais (a) e pelosestrangeiros (b)

- os instrumentos de registro: notações. checklists pré-codificados, mapas, fotografias, filmes e vídeos;

- o que observar: a quem (atores). fazendo o que (ato).com quem (outros participantes significativos). quais as rela-ções entre eles (visuais, auditivas, simbólicas etc.). o contextoe seu arranjo físico.

Também podemos adiantar algumas categorias de análisedo comportamento para o Desenho Urbano. Uma unidadeútil que sugerimos adotar é a chamada "ambiente comporta-mental" (behavior setting) que BAKER (in MOORE 197970) e LANG (1987) nos permitem descrever como sendouma unidade básica de análise de interações de comporta-mento ambiental e que possuam as seguintes características:

- aspectos temporais da ocorrência (hora, dia, estação, rit-mo, periodicidade, duração etc.)

Compreender quais são os "ambientes comportamentais"de um espaço urbano, como são apropriados, quais os com-portamentos com que se relacionam e qual sua periodicidadesão temáticas básicas. O importante deste conceito é queestes ambientes pressupõem a repetição dos comportamen-tos: certos arranjos tendem a fazer com que diferentes atoresse comportem da mesma forma.

Nada melhor do que descrever alguns exemplos para fixarestas considerações. O primeiro é o da praça central de Milão,onde se localizam a Catedral e a entrada principal da famosagaleria Vittorio Emmanuelle; também pudemos registrar inte-ressantes eventos comporta mentais através de um dos mé-todos mais usuais para tanto, fotos em série (time-Iapse pho-tography). Era um domingo ensolarado de inverno e a praçaestava sendo intensamente utilizada. Havia dois percursosmais intensos de uso, um oriundo da Galeria, outro das late-rais da Catedral. oriundos de um mercado de rua e de pontosde transporte coletivo. Os usuários demonstravam: fuga daprojeção de sombra de um prédio alto, arranjos informaisinconscientemente obedecendo aos padrões geométricos docalçamento, arranjos semiformais adotando os padrões como"palcos" para espetáculos de rua, grupos e indivíduos senta-dos em alguns locais dos poucos degraus que definem oespaço de entrada da Catedral etc. (fig.90).

Figura 90 - Respostas ambientais segundo características doselementos construtivos e as intenções dos usuários; respostasàs vezes inconscientes a detalhes como o mosaico dapavimentação. Note-se também como se evita a sombra nestedomingo de início de inverno; praça da Catedral de Milão, comsaída da galeria Vitório Emanuel

Este tipo de reflexo comportamental no espaço não se limitaa países de clima frio, ele pode ser notado em outros contex-tos. No Rio de Janeiro, por exemplo, desde a antiga AvenidaAtlântica repete-se o equívoco de permitir prédios altos nafaixa litorânea, cuja sombra projetada na faixa de areia dapraia impõe limitações de uso e desconforto aos banhistas(fig. 91).

Page 103: Introdução ao desenho urbano

aFigura 91 (a, b, c) - O impacto negativo da projeção de sombrastambém se faz sentir no Rio, onde não se aprendeu a liçãona orla de Copacabana antes do aterro (a) para evitar o queocorre agora no Leblon (b, sombra de hotel) e em São Conrado(c), afugentando os banhistas logo antes do meio-dia em umsábado de julho

A adaptação do espaço e de elementos construtivos para deter-minar "ambientes comportamentais" temporários é outro inte-ressante objeto de pesquisa. Fato, aliás, bastante comum emnossos países de Terceiro Mundo. No Rio pudemos registrarmotoristas de táxi utilizando-se de um encaixe adaptado à saiade um poste de luz que apoiava um tabuleiro para seu jogode dominá ou cartas; esta ocorrência se repetia quase todosos dias na hora do almoço numa esquina do bairro do JardimBotânico No Alfama, em Lisboa, pudemos registrar a adaptaçãodo ambiente para a feira protegendo as barracas e compradorescom plásticos, não do Sol. pois são transparentes, mas daroupa escorrendo nos varais (fig. 92).

No c.entro da cidade do México registramos a ocorrênciade um interessante "ambiente comportamental", na calçada

em frente da Catedral Metropolitana, em plena área central.Seu longo muro gradeado oferecia apoio para que, duranteo horário comercial, inúmeros biscatéliros (artesãos, pedrei-ros, bombeiros, eletricistas, carregadores, engraxates etc.)oferecessem seus serviços aos transeuntes, an;'mciando-osatravés de suas ferramentas ao chão e um pequeno letreiroindicativo (fig. 93). Numa calçada intensamente frequentada,definia-se um "palco de ação" e um "ambiente comporta-mental" específico, que viabilizavam a fácil encomenda dosserviços aos biscateiros.

Podemos, então, finalizar sugerindo algumas temáticas paraa investigação comportamental do espaço para o DesenhoUrbano Estas investigações podem ser instrumentalizadas

Page 104: Introdução ao desenho urbano

através da observação sistematizada, fotografias (sequenciaisou não) ou filmes, entrevistas, questionários, mapeamentose diagramas de uso, estudo de costumes, entre outros (fig.94). As temáticas de investigação podem ser classificadasem quatro grupos principais:

Figura 92 (a, b) - No Alfama, Lisboa, utilização de plásticostransparentes como proteção da roupa escorrendo nos varais.No Rio, adaptação de poste com pequeno tabuleiro improvisadopara o carteado aos motoristas de táxi na hora do almoço.Desenhos a partir de slides

Figura 93 - Um "palco de ação": a apropriação de toda a muradafrontal da Catedral da Cidade do México por autónomos ebiscateiros à espera de fregueses e transeuntes

Page 105: Introdução ao desenho urbano

~ 1EI'.L"Jl.~"~l>OT~1>o>

~ l",\~(.,iyp,,;>~ >"l'>·~Jl.E')

1>< l~T'1'MA.·O) 1>l

1>ir-t~"'-o

, '?l-\}JC, ií'~L

~Cl.,\O/oúi",,>Figura 94 - Mapa dos percursos principais adotados pelostranseuntes, numa tarde de sexta-feira, na praça de São MiguelPaulista, São Paulo; estudo do autor com S. MACIEL e- R. LANAnovembro, 1985

Figura 95 (a, b, c, d) - Temáticas para estudo comportamental:as dificuldades de um trajeto revelado em "sequ{}nciascomportamentais" seguindo uma transeunte no Leblon (aI,"palcos de ação", como uso das calçadas como integração dasesferas privada/pública no Morro do Pinto, Rio (b), deatividades especificas como "atravessar a rua" (c) ou causadas·pelos ambulantes (d), ambas no centro do Méier

*.<.,,,,;~. ".,-...~~,'1ft:

Page 106: Introdução ao desenho urbano

- "sequências comportamentais": série de comportamen-tos pelo mesmo usuário ou grupo de usuários durante umdeterminado percurso ou evento (fig. 95 a);

- "palcos de açao": contexto em que se dá o comporta-mento, e "ambientes comportamentais", condições físico-espaciais específicas do comportamento (fig. 95 b);

- "atividades específicas": investigaçao de onde/como ocor-rem usos ou ações específicos, em percursos ou num espaçodeterminado, como atravessar a rua, formar fila, conversar,vendas em ambulantes etc. (fig. 95 c, d);

- "territórios": distâncias e espaços delimitados como espaçosde "defesa" ou com sua privacidade controlada por um indivf-duo" ou um grupo, e os usos envolvidos neles (fig. 96).

É importante fazer notar que a partir das preocupações sobrea satisfaçao da populaçao com seus ambientes residenciaise de trabalho, principalmente quanto à sua adaptaçao simbó-lica (RAPOPORT 1967) e aos comportamentos sociais deter-minados culturalmente (DONNELLY 1980 a, GEHL 1980 ae b) surgiu um campo de estudo bastante especializado nosEUA, que também se impôs na atuaçao profissional. Deri-vando destes estudos mas já se impondo como campo depesquisa específico, a "avaliaçao pós-ocupaçao" (post-DC-

cupancy evaluation) oferece-nos metodologlas para um pro-cedimento analítico científico do desempenho das edifica-ções, estudando-os a partir de três temáticas principais: com-portamental, técnico e funcional (RABINOWITZ 1979, SOM-MER 1983, PREISER, RABINOWITZ & WHITE 1987, DELRIO 1989 b) Com isto objetiva-se, através do estudo deobras construídas e ocupadas, informar o processo de projetode novas edificações semelhantes Por isto tem sido vistacomo primordial para a encomenda de novos ediffcios públi-cos nos EUA. como escolas e hospitais.

No Brasil já começam a se desenvolver, embora tardiamente,este tipo de investigaçao e destacam-se as pesquisas desen-volvidas pela FAU da Universidade de São Paulo, como asdos professores Ualfrido Dei CARLO e Geraldo SERRA Esteúltimo tem, inclusive, estudado sob esta ótica algumas áreasurbanas que receberam Projetos CURA do B N H. Não é de-mais afirmar a importância da APO no Brasil, país de escassosrecursos e graves diferenças sócio-culturais, para não se in-correr em equívocos já cometidos em ambientes construidosjá em uso e apropriados pela população. Recentemente foipromovido um seminário nacional sobre o assunto pela FAU/USP onde se apresentaram trabalhos de cunho conceitual,de aplicação em prédios escolares, em conjuntos habitacio-nais e alguns outros casos (SERRA & ORNSTEIN org 1989)

Entretanto, os estudos sobre o comportamento ambientalainda deverão se impor no Brasil. mesmo nos currículos aca-dêmicos das escolas de arquitetura, onde seria de primordialimportância na formação de teorias de arquitetura. São pou-cos os exemplos, como o trabalho de NISHIKAWA (1986)sobre as relações entre o uso dos espaços de ruas eminente-mente residenciais e a sua conformação física. A maioriadas pesquisas parece derivar da área de antropologia social,como o pioneiro estudo comparativo sobre apropriação ehierarquias espaciais no bairro carioca do Catumbi e no con-junto Selva de Pedra (SANTOS & VOGEL 1981) ou, ainda,o trabalho sobre as contradições entre as imagens discursivasde Brasília e as formas de vida da população (MACHADO& MAGALHÃES 1985)

Os estudos comporta mentais conformam pesquisa profícuaem outros países, principalmente no campo da Arquitetura,como vimos. Seu potencial para informar sobre a dimensãourbana, através dos espaços imediatos aos conjuntos edifica-dos e às praças ou ruas é enorme e, conforme afirma GEHL(1980: 31), "a vida no interior das edificações e entre asedificações parece ser muito mais essencial e mais relevantedo que os próprios espaços e edificações".

Page 107: Introdução ao desenho urbano

____ ,:1$; lI/I! _"." •.••"••_",_"" e ~~~~_.".,."'.'~."'.".~ ..>". 11//'", ~~:"iWii:'~,:., .•.,,~""".~JMlIfN r_,,,.w_~_~~ .....~,,,,jfFigura 96 . Estudo de PFEIFFER sobre o interior de estação com uso de fotografia sequencial: definição de subespaços onde serepetem padrões comportamentais inconscientes (junto à saída das escadas rolantes p.e.) e conscientes (junto ao pilar)

Page 108: Introdução ao desenho urbano

Capítulo 6Implementando o desenho urbano

o Desenho Urbano, como já frisamos, faz parte do processode Planejamento da cidade e, como tal. deve estar embutidoem seu corpo regulador. Ele deve vir sob a forma de políticas,planos, projetos e programas.

'Como afirma SHIRVANI (1985. 144/145), as políticas de Dese-nho Urbano conformam um quadro para a ação, definindoobjetivos, meios de implementação e programas de investi-mentos. O plano, por sua vez, apresenta uma visão físico-am-biental para desenvolvimento integrado das políticas e deveser mais orientado para um processo do que para um produtoformal, pois ignoraria o dinamismo do contexto urbano, quenão admite formas permanentes (LYNCH 1981, SHIRVANI1985) Já os projetos de Desenho Urbano podem ser orienta-dos para uma área ou território específíco, como é o casodos PEUs já comentado, ou ainda para uma temática espe-cífica como "áreas livres", "sinalização", "arborização e mobi-liário" ou, ainda, temas ainda mais particulares como "rela-ções nova edificação com contexto existente", "localizaçãode entradas/saídas de garagens" etc. Finalmente, os progra-mas são entendidos como o conjunto de ações intersetoriaisnecessárias para a implementação das políticas, planos eprojetos.

No sentido do tratamento do Desenho Urbano por temáticasespecíficas, que pode vir a ser um modo prático para facilitara implementação setorial dos programas, SHIRVANI (1985)propõe uma categorização interessante, na qual nos basea-mos a fim de sugerir algumas categorias para atuação; elastambém dão margem para definição de critérios de qua/i-dade setoriais.

aI Uso do Solo: trata basicamente de tipos de funções eintensidade de utilização do solo e das edificações; buscauma variedade e mistura de funções compatíveis entre sie a mais intensa utilização possível 24 horas por dia, comdensidades compatíveis, a fim de gerar uma área urbanacom a maior vitalidade possível, postura totalmente diversadaquela preconizada pelo Movimento Moderno.

bl Configuração Espacial: vai mais além do previsto nostradicionais "zoneamentos", que além do uso das edificaçõesapenas consideram gabaritos, afastamentos e áreas máximasde construção; compreende também cones de visibilidade,relacionamentos entre volumes edificados e topografia, rela-cionamentos entre o novo e o conjunto edificado existente,compatibilidades tipológicas, continuidade e inserção na mor-fologia etc.

cl Circulação Viária e Estacionamento: a circulação viáriaé um dos elementos mais poderosos para a estruturaçãoda imagem urbana (LYNCH1960, APPLEYARD 1981, SHIR-VAN I 1985. 26) e, portanto, não pode ser tratada apenascomo um sistema de movimento; um dos fatores básicosna democratização da cidade uma vez definidora da acessibi-lidade (LYNCH 1981); a circulação viária, o transporte públicoe o estacionamento devem ser entendidos como vitais paraa animação e a sobrevivência social e econômica de umaárea, em soluções conciliadoras.

dI Espaços Livres: desempenham importantes funções nourbano como, por exemplo, social (encontros), cultural (even-tos), funcional (circulação) ou higiênica (mental ou física);tão importante como o espaço construido na estruturação

Page 109: Introdução ao desenho urbano

urbana devendo, portanto, ser tratado como espaço positivo;sua importância não é tanto em termos de quantidade masde suas relações ao contexto urbano e às atividades sociaisàs suas margens (ALEXANDER 1977) e àquelas que, porsua existência e características, são facilitadas (LERUP 1972).

e) Percursos de Pedestres: conformam um sistema de con-veniência tanto quanto um suporte à vitalidade dos espaçosurbanos (SHIHVANI 1985: 31); integram um forte sistemainterdependente com as atividades sociais e econômicas nonível térreo das edificações; devem ser tratados em conjuntocom o sistema de circulação viária e transportes públicose reforçados pelo projeto dos espaços livres e atividadesde apoio.

f) Atividades de Apoio: conformam os sistemas de ativida-des que dão conteúdo, coerência e vitalidade aos espaçosurbanos; sua interdependênciaé crucial (LERU P 1972, GEH L1980, LYN CH 1976); devem se organizar a partir da alocação

.de fortes nós de atividades (como no conceito de lojas "ânco-ra" em shopping-{;enters) e integrar um sistema complemen-tar e coerente com o de movimento de pedestres e veículos;devem incluir atividades temporárias e outras possibilidadesde animação urbana.

g) Mobiliário Urbano: considerado aqui como o sistemaconformado pelos elementos complementares ao funciona-mento da cidade, geralmente entendidos como temporáriose, erradamente, encarados como de menor importância; osistema inclui sinalização, elementos complementares aosespaços abertos (bancos, telefones públicos etc.). arboriza-ção, iluminação pública etc.; devem ser de fácil compreensão,cômodos ao uso, integrados ao contexto urbano (cultural efisicamente). congruentes com os sistemas de comporta-mento social e não descuidar das necessidades físico-ergono-métricas dos usuários.

Assim, vemos que o Desenho Urbano busca, sobretudo, umtratamento da cidade que seja coerente para o usuário, naintegração dos elementos conformadores da dimensão físico-ambiental. A qualidade final do urbano, seja no tratamentode suas partes (calçadas, lotes, quarteirões, por exemplo).seja no tratamento de seu todo (interligações entre bairros,caráter çJa cidade, crescimento e expansão, por exemplo)em muito depende do inter-relacionamento entre as catego-rias acima descritas e a conformação de cada uma delas.

Resta comentarmos alguns instrumentos úteis de implemen-tação dos planos e projetos de Desenho Urbano. O instru-

mento usual do Planejamento Urbano é o zoneamento, adota-do largamente por grande número de cidades, independentede sua escala. Também no Rio de Janeiro onde é comple-mentado pelos projetos de alinhamento (PAs) e os de lotea-mento (PAts). como veremos no Anexo 3, com grandes pos-sibilidades de conformarem um único instrumento integrado,o Projeto de Estruturação Urbana (PEU).

Os zoneamentos, como dissemos, são os mais popularesinstrumentos para o controle do desenvolvimento urbano eprovavelmente continuarão sendo. Na sua essência, dizemrespeito aos tipos de usos permitidos, sua organização porzonas e sua distribuição espacial; muitas vezes eles tambémincluem alguns parâmetros máximos de utilização do solo,como gabaritos, afastamentos e coeficientes de aproveita-mento. Estes são, evidentemente, parâmetros de DesenhoUrbano e devem ser visto como tal pois são vitais para ageração da qualidade físico-ambiental urbana.

Entretanto, são raros os casos em que se atinge mais doque um vestígio de organização físico-ambiental coerente,pelas dificuldades inerentes nestes instrumentos generalis-tas e pouco flexíveis, de tradição estática e mais própriosao funcionamento da cidade como um todo racional. Exce-ções podem ser encontradas e, sem dúvida, deveriam sera regra, como os modelos desenvolvídos pelo Instituto deAdministração Municipal (IBAM) para cidades em Roraimae seu modelo proposto de Anteprojeto de Lei de Urbanismoe Edificação (SANTOS 1988).

Na verdade, o Desenho Urbano é e pode ser expresso porestes instrumentos e, evidentemente, suas políticas e planosdevem sempre se expressar neles. Mas suas característicase amplitude exigem outros instrumentos de implementação,como demostram experiências em outros países. A práticada regulamentação urbanística no Brasil, em especial no Riode Janeiro, ainda não prevê instrumentação diferenciada, ex-ceto em poucas exceções, que possam refletir as intençõesde Desenho Urbano, sejam flexíveis refletindo o processode desenvolvimento físico-ambiental e abertos para umamaior negociação entre o Poder Público, a comunidade eos empresários.

A seguir, comentaremos brevemente alguns destes instru-mentos alternativos, uns já discutidos e até experimentadosno Brasil, mas todos relativamente bem-sucedidos ou ampla-mente utilizados em outros contextos (KRAFTA 1986). Evi-dentemente todos possuem prós e contras, não são indiscri-minada mente aplicáveis e nem sempre podem ser trans-

Page 110: Introdução ao desenho urbano

postos diretamente à nossa realidade. Sua discussão, no en-tanto, ajudará em nossa busca por métodos mais dinâmicose efetivos para implementação do Desenho Urbano. Deve-seconsiderar que todos os instrumentos a seguir apresentadosgeralmente conformam Distritos Especiais na cidade, ondesão válidas as suas regras em território definido; eles podem,entretanto, dependendo do caso, ser aplicáveis à área urbanacomo um todo.

-~Figura 97 - Uma das ilustrações para as diretrizes de projetono plano de desenho urbano de São Francisco, 1970, mostrandouma escala de transição entre um prédio novo e um conjuntode residências preservadas

;~.!!.•'.' '~';.'f1:';:_=.'.~~==~ij;.'.~:;')~'..L.',. <~\",.;'"-'. -11; 'u - I • ~.:' .,~';~1f-.-!,~' I-~ I •. ', -- .' \ .' : . .,J!

:"\l~"'I;!:.\I't "s- • -.,'GÉ-;:;~!I~:;;":;.;,;:?.:~;.,---.'r/_

Figura 98 - Modelo de disposição para área residencial comodiretriz para os empreendimentos imobiliários do guia dedesenho de Essex, Inglaterra, 1973

Popularizadas a partir de experiências bem-sucedidas em quecompõem os chamados "Guias de Desenho Urbano". Elasespecificam o escopo das formas, os conceitos de projeto,o vocabulário físico-arquitetõnico e outros fatores básicospara o desenvolvimento de uma determinada área. Comocoloca BARNETT (1982). devemos desenhar a cidade semprojetar edifícios. Existe enorme dificuldade de se legislarou regulamentar o "bom desenho" e é impossível exigir dosempreendedores que reproduzam protótipos específicos,portanto, as diretrizes buscam encorajar o melhor e tentamevitar o pior (FORMA sd) (fig. 97)

"Como as regras não podem cobrir todos os aspectos deuma edificação, o organizador das diretnzes deve deCidir so-bre quais são os temas mais importantes, perguntando-se,na verdade, qual é o interesse do público em uma ediflcaçãoe quais são os elementos essenciais de arqUitetura que afe-tam este Interesse" (BARNETT 1987 115).

Evidentemente, esta afirmativa aplica-se também a elemen-tos e espaços urbanos Ainda no mesmo trabalho, BARNETTsugere as áreas básicas de desenvolvimento urbano que maisnecessitam de Guias de Desenho: empreendimentos urba-nos de larga escala, intervenções na cidade existente, compa-tlbilização de fachadas, empreendimentos de larga escalanos subúrbios/periferias e processos de revisão de projetos,

A primeira experiência bem-sucedida com Guias de Desenhoque se tem notícia foi no condado de Essex, na Inglaterra,onde no começo dos anos 70 publicou-se um trabalho queobjetivava regulamentar a qualidade dos novos espaços eloteamentos residenclais (fig. 98) Na Grã-Bretanha, desdeentão, as experiências se sucedem e estão até incentivadasa escala nacional através, por exemplo, de publicações que"aconselham" como a "Introduction to Housing Layout", doDepartment of Architecture and Civic Design of the GreaterLondon Council (1978). Este trabalho trata dos temas organi-zação espacial, vias de acesso, estacionamento e movimentode pedestres, sugerindo soluções de projeto Nos EUA estetipo de instrumento de implantação também é muito popular,a partir da experiência bem-sucedida de São Francisco e hojeé adotada em diversas outras metrópoles (JACOBS 1980,BARNETT 1982, SHIRVANI1985)

É claro que a elaboração de diretrizes de desenho pressupõea adoção de uma base conceitual e um critério de qualidade,subjetivo pois nem sempre se baseia em fatos mensuráveis,

Page 111: Introdução ao desenho urbano

mas objetivo na busca de compatibilizações e inter-relaçõesclaras. Afinal, como afirmou LYNCH (1981: 1) "decisões so-bre política urbana, alocação de recursos, para onde deslo-car-se ou como construir algo devem se utilizar de normassobre o bom e o ruim" ... "sem alguma consciência do queseja melhor, qualquer ação é perversa".

Parece que existe um certo consenso sobre o que as diretri-zes devem comportar claramente: objetivos, procedimentos,elementos do desenho, significados, relações entre si e como contexto, exemplos (FORMA sd, LYNCH 1981, SHIRVANI1985). Como comenta SHIRVANI (1985: 148). as diretrizes

historic proportions

~IMARY =Jl~_~~_DCORNER VARIATION TYPICAl

de desenho para uma área não implicam necessariamenteem controles mais restritivos, mas devem viabilizar um qua-dro projetual e podem até sugerir formas alternativas paraum mesmo terreno ou edificação.

Importante é também lembrar que as diretrizes de desenhopodem ser de dois tipos, prescritivas e de desempenho, ou"performance" (SCOTT 1969, LYNCH 1981, SHIRVANI1985). As prescritivas estabelecem limites dentro dos quaisos projetos devem ser amoldados, como as ATEs ou gabaritosmáximos. Por isto possuem um caráter bastante restritivoe acabam por gerar projetos sempre nos limites máximos

compatible proportions

~

PRIMARY ~1~~@j~~~!j~l~~~@f~@~~~@f~I~~~~I11J~ff:j~II~~~j!j~:~j~~j~III~~jI~rI~I~~~II~~!III:Ijj;:r::LIJ CIIJ co=J r::tJ=J CIOFigura 99 - Diretrizes de projeto para áreas históricas sugerem as proporções compatíveis com as históricas como orientaçãopara as novas edificações

Page 112: Introdução ao desenho urbano

de lucratividade. As diretrizes de performance são mais flexí-veís, já que adotam critérios de desempenho para todos oslocais mas não exigem formas específicas apropriadas. Estastêm sido preferidas na grande maioria dos guias e diretrizesde Desenho Urbano pois possuem abertura suficiente paradiversas soluções de projeto que atendam ao performancerequerido para cada caso.

Entretanto, não há consenso sobre se as diretrizes devemser mandatórias ou apenas sugestivas. Neste último caso,geralmente elas servem para orientar um empreendimentoe estão relacionadas com a existência de um processo deanálise de projetos por um comitê especial, que pode possuirforça legal ou apenas caráter consultivo. Este comitê é nor-malmente formado por representantes do Poder Público, dacomunidade, dos empresários e da Universidade, pode vetarum projeto ou sugerir modificações seguindo as diretrizespublicadas. Nas experiências amerieana e inglesa, o solici-tante, mesmo que as diretrizes não sejam obrigatórias, costu-ma obedecê-Ias mesmo se apenas para não atrasar a aprova-ção de seu projeto Neste processo existe espaço legal ereal para negociações entre as partes.

Em nossa própria experiência de trabalho junto à Prefeiturade Baltimore, EUA, desenvolvemos diretrizes de DesenhoUrbano para uma área sensível do bairro de Fells Point. co-mentadas no Anexo 2. O conjunto de diretrizes foi transfor-mado em adendo à legislação do bairro, aprovado pela câma-ra, e em 1988 a área já se encontrava recebendo um empreen-dimento misto. O empreendedor estava recuperando as edifi-cações indicadas para novos usos e promovia novas edifica-ções mistas bem integradas ao conjunto e ao entorno. Asdiretrizes provaram ser suficientemente flexíveis e de boaqualidade para promover um bom resultado final tanto emtermos físico-espaciais quanto à exiquibilidade econõmica.Elas previam margem para negociação entre as partes.

Também poderia-se dizer que o projeto original do plano pilotode Brasília se tratava de um antecessor de guia de desenho,embora alguns de seus conceitos fossem equivocados e te-nham sido rigidamente aplicados. No Rio de Janeiro existeimportante experiência de aplicação de Guia de Desenhono controle do desenvolvimento da área do Corredor Cultural,comentada no Anexo 3. Ótimos resultados têm sido alcança-dos, tanto em termos de inter-relação entre escritório técnico,comunidade e empresários, quanto em relação aos resulta-dos práticos.

As inúmeras experiências internacionais existentes tambémdemonstram que as áreas de preservação, definidas como

Distritos Históricos, na maioria das vezes possuem um con-junto regulador de diretrizes d d senho especiais (fig. 99).Os resultados alcançados n st s experiências, aliados aosdo Corredor Cultural. nos permitem concluir a grande viabili-dade e aplicabilidade dos Guias de Desenho para o controledo desenvolvimento em áreas urbanas historicamente sen-síveis.

Os "pacotes" (briefs) apenas diferem dos Guias de Desenhopor sua maior especificidade e rigidez, pois são aplicadosa áreas de menores dimensões, não raramente a terrenosdeterminados. São documentos em que a autoridade localespecifica qual o escopo das formas construídas, suas rela-ções internas e externas, e·seu tratamento arquitetõnico glo-bal. O objetivo é "garantir a maximização do potencial deDesenho Urbano de um terreno enquanto se controla a arqui-tetura o menos possível" (JOH NSON-MARSHALL 1978 1)

Novamente, as experiências mais significativas de aplicaçãodeste instrumento são as norte-americanas e as britânicas.Devido ao seu caráter de orientação. que pode vir a ser bastan-te restritivo, os "pacotes" são largamente aplicados paracontextos em que a nova edificação precisa atingir a melhorintegração possível com os elementos do entorno. Entre-tanto. sua aplicabilidade não se esgota aí pois também sãoextremamente úteis na determinação de condições especiaisde edifícação. como localização de entradas sociais e saídasde serviço, acessos para veículos, localização de pátios decarga e descarga. localização de marquises, tipo e localizaçãode atividades no térreo. elementos construtivos, acessos pú-blicos e visuais através do terreno. amenidades públicas etc.(fig. 100)

Normalmente um "pacote" de Desenho Urbano possuirá di-retrizes dentro das seguintes temáticas principais: volume-tria, relacionamentos estético e visual com o entorno, relacio-namento funcional com o entorno. acessibilidades e silhue-tas. A definição de conceitos, critério e diretrizes de projetoé sempre acompanhada por ilustrações explicativas e/ouexemplos de possibilidades para o desenvolvimento.

Este instrumento também pode ser aplicado em um processode planejamento que contemple a atuação de um Comitêou Conselho de Desenho. principalmente se este for espe-cífico para áreas particularmente sensíveis, como entornosde bens tombados. Na verdade ele poderia ser complemen-

Page 113: Introdução ao desenho urbano

tado por diretrizes complementares, financeiras e imobiliárias,funcionando assim quase que como um edital de concor-rência pública

A experiência no Rio de Janeiro demonstra que, em termoslegais, este instrumento é viável (ver mais detalhe no estudodo Anexo 3) Esta constatação deu-se a partir de episódiosde restrição de uso e ocupação de terrenos em Botafogoe na Penha. Alguns casos se colocam como especialmentepropensos a receber este controle do desenvolvimento: ter-renos conflltuosos onde a comunidade quer ver determinadosresultados, novas construções em áreas densamente ocupa-das, orla marítima e de lagoas, Centro, entornos de benstombados e áreas de interesse cultural, como o CorredorCultural.

Este interessante instrumento de implementação é muitocomum nos EUA onde foi implantado pela primeira vez em1961, na cidade de Nova lorque, instituindo um adicionalde até 20% de área construída além do que permitia o zonea-mento em certas zonas da cidade, desde que o empreen-dimento tivesse uma plaza para uso público (HALPERN 1978,BARNETT 1982) Basicamente, o zoneamento de incentivosprescreve uma negociação entre o empreendedor e o PoderP0blico que permite exceder os limites estabelecidos pelaregulamentação urbanística em troca de algum tipo de ameni-dade pública

Evidentemente, este processo só pode existir quando o Po-der Público exerce efetivo controle sobre o uso e a ocupaçãodo solo. Para tanto, a regulamentação urbanística deve preveresta flexibilidade em certas áreas da cidade, ou em casosespeciais. Outra das condições básicas é a existência deum mercado imobiliário dinãmico o suficiente, onde a deman-da de áreas seja tal que o empreendedor queira superar oslimites que a regulamentação normal preestabelece. Comoafirmado por SHIRVANI (1985: 171) "se os Incentivos dispo-níveis ... não forem suficientemente atrativos para o empreen-dedor não há sentido nem mesmo em oferecê-Ios".

As regras e o território onde este "Jogo" pode acontecerdevem ser muito bem determinados do ponto de vista legale claramente divulgados, a fim de evitar decisões meramente"fisiológicas". É claro que há uma grande diversidade deelementos de desenho que podem vir a ser considerados"amenidades públicas", transformando-se em objeto da ne-

gociação. Destes, os mais comuns são: espaço ou plazapública, servidões, proteção de visadas através da área, mar-quises, alargamento de calçadas, estacionamento público,determinados usos públicos (culturais ou sociais). arborizaçãoe outros (flg. 101). As características destes elementos eexigências podem, inclusive, ser também definidas pela Pre-feitura

Do outro lado da negociação, o do empresariado, as vanta-gens mais evidentes a perseguir são quase sempre relativasao aumento da área construída, tanto em termos de ocupaçãohorizontal ou vertical, quanto àqueles relativos a outras exi-gências, como total de vagas na garagem e itens de caráterconstrutivo-arquitetõnico. Mas seja qual o caso, a lucrativi-dade do empresário aumentará de forma inequívoca.

Um outro tipo de aplicação deste conceito de incentivos sãoos chamados Distritos Especiais, zonas onde se buscam re-sultados específicos em uma área preestabelecida. O caso

Page 114: Introdução ao desenho urbano

Figura 101 (a, b) - O zoneamento de incentivos permiteconcessões especiais como aumento de área construída (a) emtroca de alguma amenidade pública em áreas de grande pressãoimobiliária, como as arcadas no edifício-sede da A TT, Novalorque, projeto de Philip JOHNSON 1978/82

de Nova lorque pode ser novamente citado como exemplopois considera-se que foi a primeira cidade a aplicar esteinstrumento, em 1967 (HALPERN 1978, BARNETI 1982).Foi o caso do famoso Distrito de Teatros, uma resposta àinvasão da área de Times Square, tradicional localização desalas de espetáculo em Manhattan, por modernos edifíciosde escritórios. Através de um dispositivo de zoneamento,o empreendimento imobiliário localizado naquela área teriapermissão de ultrapassar determinados índices de constru-ção se o novo projeto incluísse uma sala de espetáculospara o público. Esta idéia, não o conceito de incentivos, foiaplicada em Curitiba, onde as novas construções comerciaisem área central deveriam prever salas de cinema; procedi-mento que não chegou a obter resultados totalmente satisfa-tórios pela incompatibilidade de seus objetivos com o mer-

a cado e a demanda local.

Tanto para a aplicação de instrumentos como o Zoneamentode Incentivos quanto os Distritos Especiais é fundamentalum profundo estudo sobre os custos reais, necessidades,tendências de desenvolvimento e demandas reais dos servi-ços que se pretende oferecer, sob pena de terminar porgerar-se elementos inúteis para a comunidade ou inviáveispara o empreendedor. Não basta conseguir-se a construçãode teatros, por exemplo, eles precisam vir a suprir uma de-manda reprimida, acontecendo social e economicamente.

Trata-se de um instrumento de controle do desenvolvimentobastante inovativo, pois baseia-se na idéia de separar o direitode construir do terreno onde fisicamente este empreendi-mento se daria. Ou seja, o empresário que construir menosdo que o permitido pela regulamentação urbanística em umterreno, passa a ter o direito de transferir esta diferença paraempreendimento em outro local (fig. 102). A experiência pio-neira deste instrumento foi em Chicago, onde o plano diretorde 1973 buscava salvar prédios históricos (COSTONIS 1974).

Mas a expressão que nos parece mais apropriada para utilizar-mos é a inglesa, que chama este instrumento de "transfe-rência de direitos de construção" (transfer developmentrights). Entretanto, parece que se popularizou a expressão"solo criado", que embasa um conceito até mais amplo,discutido a partir de estudos e seminários desenvolvidos emSão Paulo, em 1975, pelo Centro de Estudos e Pesquisasde Administração Municipal (CEPAM). O conceito de "solocriado" baseia-se na "criação de áreas adicionais de pisoutilizável não apoiadas diretamente sobre o solo" (MOREIRA

Page 115: Introdução ao desenho urbano

et ai. 1975) O solo criado seria, portanto, a geração demais de uma utilização do terreno, seja através de andaressuperiores ou subterrâneos. O conceito pressupõe a desvin-culação do "direito de construir" do "direito de propriedade",uma fundamentação Jurídica Que permite o proprietário exer-cer o direito básico de utilização plena do terreno mas limitao excedente à função social do solo.

Desta maneira, se o Poder Público se interessa por limitaro direito de construir relativo a um lote ou uma área, o proprie-tário, embora obrigado a preservar a edificação, poderá ven-der os direitos de construir relativos ao excedente entre oQue existe e o Que prescreve o coeficiente de aproveitamentopara a zona. Daí, existiriam duas possibilidades: um outroempreendimento poderia comprar diretamente estes direitospara exceder os coeficientes ditados pelo zoneamento deseu lote, ou o Poder Público agiria como um "banco de terras"e revenderia estes direitos a outro interessado. O excedentepoderia ser vendido por completo ou em partes.

A importância e o potencial deste instrumento são óbviospara o Desenho Urbano. Entretanto, se por um lado elepermite uma agilização da capacidade de intervenção do Po-der Público, pelo outro pode gerar um total descontrole dosresultados físico-€spacials do desenvolvimento urbano. Poristo, alguns defendem a necessidade da definição cuidadosade "áreas de recepção" destes excedentes, vendidos demaneira a haver uma certa previsão dos resultados finaisdos conjuntos edificados. Outros sugerem que as áreas derecepção sejam vinculadas a áreas com maiores capacidadesde adensamento, como margens de rotas de transporte públi-co ou zonas de expansão.

Como acontece com os instrumentos Que comentamos ante-riormente, existem duas condicionantes básicas e determi-nantes do sucesso da instituição do solo criado em umaárea ou em toda a cidade. Primeiro, uma regulamentaçãourbanística rígida e um processo de planejamento urbanofortes Que viabilizem ao Poder Público a sua aplicação. Emsegundo lugar, um mercado imobiliário dinâmico tanto nasáreas de controle Quanto nas de recepção. Aliás, talvez estasúltimas sejam fator determinante, uma vez Que o empresárionão investiria em excedentes se as áreas de recepção nãogarantissem seu lucro (SHIRVANI1985)

O conceito pode ser aplicado para lotes ou edificações jáexistentes, mas a experiência demonstra Que é em áreasjá urbanizadas e com grandes pressões imobiliárias onde sua

Figura 102 - Aplicação esquemática de regulamentos de solocriado: os direitos aéreos da edificação a se preservar sãovendidos a outros empreendimentos que excedem os limitesda legislação em áreas equivalentes ao adquirido

implantação é mais viável. A transferência de direitos de cons-truir tem sido utilizada como instrumento de compensaçãopara proprietários de imóveis tombados ou em áreas histó-ricas. Este foi o instrumento Que viabilizou o já citado projetoSouth Street Seaport, em Nova 10rQue (vide figo 41). Lá foipermitido a um consórcio de bancos adquirir os direitos deconstruir dos imóveis protegidos para só colocá-Ios à vendano mercado em momento apropriadG, sendo o seu entornoimediato à área específica de destinação destes excedentes(HALPERN 1978)

A Prefeitura de São Paulo, em 1988, resolveu aplicar estesconceitos para viabilizar a ocupação de terrenos de favelase outros de interesse para o desenvolvimento. Chamado de"operações interligadas", o processo consistiria basicamenteem ampliar as possibilidades determinadas pelo zoneamentoem troca da construção de uma Quantidade de casas popu-lares proporcional ao investimento e em área determinadapela Prefeitura.

Page 116: Introdução ao desenho urbano

Estes tipos de incentivos dão ao Poder Público capacidadepar implementação de políticas, planos, projetos e progra-m d Desenho Urbano, impondo um mínimo de restrições

O processo de desenvolvimento urbano e ao funcionamentod leis de mercado. Entendemos este grupo de instrumen-tos de implementação subdividido da seguinte forma: incen-tivos para que os empreendedores "façam" alguma coisae aqueles para que "deixem" de fazer alguma coisa.

Os conceitos baseiam-se em três premissas básicas. Primei-ro, a constatação da dificuldade política de implantação demecanismos coercitivos ao desenvolvimento urbano. Em se-guida, a realidade das grandes cidades com sua base finan-ceira cada vez mais deteriorada e limitada. Em terceiro eúltimo lugar, a ideologia de intervenção no mercado imobiliáriocom mecanismos compensatórios.

Os impostos de propriedade e as taxas públicas sempre fo-ram importantes instrumentos não só de geração de rendamunicipal mas de controle do crescimento urbano. Se bemutilizadas, integradas ao plano diretor básico urbano e aoszoneamentos, as taxações diferenciadas podem inibir ou in-centivar o desenvolvimento e suas características, tanto emsua forma quanto em sua direção. O imposto territorial pro-gressivo, por exemplo, possui potencial muito grande nestesentido mas ainda é muito pouco aplicado nas cidades brasi-leiras.

O instrumento mais comum utilizado para incentivar a adoçãode medidas reguladoras do uso e ocupacão do solo, e paracompensar os proprietários de seus possíveis reflexos nega-tivos na lucratividade potencial do imóvel, é o incentivo fiscalde dedução de impostos e taxas municipais. Experiênciasde preservação de imóveis, como a do Corredor Cultural,devem grande parte do seu sucesso a isenções fiscais conce-didas pela Prefeitura. Assim, para empreendimentos que obe-deçam ao constante em Guias de Desenho, por exemplo,atribui-se uma determinada isenção.

Outra forma de incentivar implementação de regulamentosou projetos urbanos é a isenção total de impostos por umdeterminado período de tempo, durante o qual o investimentodo empreendedor ainda não teria retorno. Esta isenção podeser estabelecida por um determinado período de anos ouser relacionada à lucratividade real do empreendimento. Istoé comum para áreas em processo de revitalização urbana,

onde o Poder Público precisa garantir a atração inicial dosempresários e gerar um novo dinamismo econômico e socialintegrado auto-sustentado.

O poder público poderia, também, desenvolver projetos deobras públicas em conjunto com o empresariado, que seriacompensado de seu investimento obtendo isenção de impos-tos e a cessão de uso da edificação/empreendimento portempo determinado. Nos EUA é comum as prefeituras atua-rem como verdadeiros empreendedores para implementaçãode um plano atraindo empresários com a oferta de "pacotes"de desenvolvimento: para a implantação de seus planos elapode oferecer a terra abaixo do custo, isenção de impostose uma série de facilidades ao empresário. No Anexo 2 vemosque este foi o caso em Baltimore quando, no processo derevitalização de sua área central. a cidade precisou de novoshotéis.

Neste sentido, a experiência de preservação de imóveis histó-ricos nos EUA também é exemplar, pois o governo federal,através de uma lei de isenção fiscal do fim dos anos 70,passou a conceder deduções no imposto de renda de até25% do valor total investido na recuperação do imóvel. Alémdisto, no cálculo dos impostos também levava-se em conside-ração o artifício da "desvalorização acelerada" (accelerateddepretiation) que considerava os imóveis preservados, porserem antigos, como passíveis de uma deterioração maisrápida do que os novos, por isto fazendo juz a pagar proporcio-nalmente menos impostos. Infelizmente, a segunda adminis-tração Reagan conseguiu impôr grandes limitações a estetipo de incentivo federal.

Finalmente, vale comentar dois outros instrumentos fiscais:a contribuição de melhoria e a apropriação da mais-valia, quetambém são intimamente responsáveis por resultantes liga-dos ao Desenho Urbano. A contribuição de melhoria visacaptar recursos extras em uma área que receberá uma melho-ria pública. Há muito ela é assunto para debates no Brasil,onde é aplicada em várias cidades, mas seus opositores argu-mentam que ela é uma forma disfarçada de bitributação.Se, por um lado, parece justo que, se alguns moradoresvão tirar proveitos diretos de uma melhoria, sejam obrigadosa pagar por isto, por outro está a dificuldade de se determinarquem exatamente se beneficiará, como e com que intensi-dade. Além disto, acredito que este conceito implica em ou-tro, exatamente o seu inverso, ou seja, a compensação mone-tária por parte da Prefeitura por desvalorizações reais causa-das por obras que ela faz (como novos viadutos em frentea áreas residenciais) ou deixa de fazer (como em áreas urbani-

Page 117: Introdução ao desenho urbano

zadas mas sujeitas a inundações constantes por mau desem-penho da infra-estrutura instalada).

A apropriação da mais-valia também não é novidade mas,sem dúvida, é de difícil controle. Em teoria, o Poder Públicose beneficiaria da valorização de imóveis afetados pela divul-gação da implantação de uma melhoria pública, um parquepor exemplo, e aumentaria seus impostos proporcionalmentea esta valorização, reinvestindo a diferença na própria constru-ção da melhoria (BARNETT 1982). Neste caso, a dificuldadetambém estaria nas formas e critérios de determinação dalucratividade potencial e em seu controle.

Outro tipo de experiência interessante também aconteceuem Baltimore, para implementação de parte do plano pararevitalização da área portuária e central (DEL RIO 1985). Ali,o uso habitacional era um dos ingredientes mais importantese havia um conjunto significativo de casas de dois e trêspavimentos com grande valor histórico mas em deterioraçãoe abandonadas. A Prefeitura lançou um programa de recupe-ração da área e vendeu as casas pela quantia simbólica deum dólar, contanto que o comprador atendesse a três condi-ções: não tivesse outro imóvel na cidade, se comprometessea recuperar a casa até um padrão mínimo estabelecido emseis meses e não poderia revendê-Ia em menos de doisanos. A Prefeitura também colocou à disposição um programade financiamento de materiais de construção a preço de cus-to. O programa, chamado de "urban homesteading", inovavauma solução efetiva para implementação de objetivos explí-citos de Desenho Urbano e foi de grande e rápido sucesso.

Enfim, o que podemos afirmar é que a prática do Planeja-mento e do Desenho Urbano necessita cada vez mais deinstrumentos fiscais e financeiros engenhosos para imple-mentação de suas propostas. O desenvolvimento de práticasconsistentes de colaboração entre os setores público e priva-do, a exemplo das cidades européias e norte-americanas,éindubitavelmente um caminho fértil.

Page 118: Introdução ao desenho urbano

Vimos como surgiu a necessidade de um novo campo disci-plinar que possa lidar com a complexidade do urbano e suaqualidade físico-ambiental, utilizando-se de diversas dimen-sões de análise. Os argumentos desenvolvidos serviram paraidentificar claramente o campo disciplinar do Desenho Urba-no, seu processo de desenvolvimento e um enfoque metodo- .lógico multidisciplinar possível. É claro, não é o único, emborase pretenda suficientemente abrangente para garantir bonsresultados analíticos e projetuais.

Claro está que, como afirmamos anteriormente, o DesenhoUrbano é PROCESSO e, ele mesmo, faz parte de um pro-cesso maior, o do Planejamento. Por sua meta principal sera promoção de qualidade físico-ambiental da cidade e dosespaços como fontes de prazer e liberdade, o Desenho Urba-no não pode deixar de ser, como aliás todas as atitudeshumanas, uma manifestação po/ftica. Por isto, todo o pro-cesso de Desenho Urbano prevê, em diversos momentose sob diversas maneiras, a participação comunitária. A "con-formação de espaços para o uso social" traz necessariamenteum compromisso ideológico pois lida com imagens futurasda sociedade (SAMPAIO 1986: 40). A forma é uma expressãopolítica.

O Desenho Urbano define-se pela criação do domínio público,que compreende o espaço público, um "constructo" físicoe formal, assim por suas instituições públicas, um "cons-tructo" político e econômico (GUSEVICH 1986). Portanto,uma de nossas responsabilidades fundamentais é a cons-ciência de nosso papel social. Por isto, lembramos novamenteLYNCH (1981) quando afirma que qualquer ação sem umanoção do bom e do mau é nociva. Para conformar esta noção

Capítulo 7Agora, um caminho aberto

e atingi-Ia como projeto social estão os processos participa-tivos.

Se entendermos metaforicamente a cidade como "um Jogode cartas", a clareza dos papéis que cada ator social assumee seu respeito pelas regras são condições fundamentais paraque haja jogo (SANTOS 1986, 1988). E neste jogo, o nossopapel é definido por nossa capacidade/especialidade profis-sional e, sendo o nosso um jogo democrático, pressupõetambém a divulgação de nosso trabalho e das regras destejogo no que diz respeito à promoção de qualidade físico-am-biental. A metáfora do "jogo de cartas" serve para demonstrarque só com regras bem definidas e respeitadas é possívelque o projeto social da cidade que todos queremos possasequer chegar a ser perseguido.

Dito isto, enfatizando a dimensão política do Desenho Urbano,podemos compreender ainda melhor a sua necessidade paraa cidade brasileira. Como resultado do nosso despreparo co-mo profissionais e cidadãos, fruto, de um lado, do distorcidodesenvolvimento da Arquitetura e do Urbanismo e, de outro,de um' longo período de autoritarismo, nossas cidades ofere-cem um ambiente pobre e, muitas vezes. nocivo à vida. Fatoconstatável mais intensamente nas grandes metrópoles, co-mo Rio. São Paulo e Belo Horizonte

A implantação do Desenho Urbano no Brasil deve buscarduas áreas básicas e fundamentais. Primeiro, dentro da estru-tura administrativa governamental. principalmente ao nívelmunicipal onde ele se faz sentir mais intensamente. Sendoo uso e a ocupação do solo urbano um preceito municipalporque afeta diretamente a vida do cidadão, a prática do

Page 119: Introdução ao desenho urbano

Desenho Urbano deve ser instituída nos processos de Plane-jamento. Isto não quer dizer que outros níveis de governonão o mereçam, ao contrário, a preocupação pela qualidadefísico-ambiental deve se expressar em esferas institucionaismaiores que o território municipal através de planos e consti-tuições. Afinal, trata-se de um projeto social.

A segunda área fundamental para a implementação do Dese-nho Urbano é a acadêmica. Em outras ocasiões já defende-mos a sua implantação nos cursos de graduação em Arquite-tura, onde se expressa com maior intensidade a educaçãodo cidadão para lidar com a dimensão físico-ambiental dascidades. Ele deve aparecer com intensidade no ensino degraduação onde seu campo disciplinar multidisciplinar deveencontrar expressão; através de novas cadeiras, do ensinoem atelier e embutido mais intensamente nas preocupaçõesde diversas cadeiras existentes.

Também acreditamos que o Desenho Urbano deva se expres-sar no ensino de pós~raduação. Na área de Arquitetura elepoderia tomar duas formas: como programa específico, ge-rando uma titulação, ou como área de concentração dentrode uma titulação existente. Neste caso, impõe-se a reformu-lação dos cursos de Urbanismo e de Planejamento Urbanoexistentes e a inclusão de cadeiras que possam conformaro Desenho Urbano como área de concentração específica.

Claro está que tanto a qualidade do ensino do Desenho Urba-no quanto a de sua prática profissional pressupõem as condi-ções discutidas ao longo deste trabalho. Este campo disci-plinar exige certas pré-eondições fundamentais que acredi-tamos terem sido exaustivamente debatidas até aqui. Duasquestões, no entanto, precisam ficar claras: a qualidade físico-ambiental deve ser tratada como processo e suas dimensõesde análise e atuação devem ser multidisciplinares.

Finalmente, podemos identificar algumas temáticas principaisque conformam perfeitamente o leque de preocupações doDesenho Urbano e poderiam destacar-se como grandes obje-tivos físico-ambientais. Embora nesta identificação façamosnovamente uso de referências ao caso do Rio de Janeiro,estas temáticas podem e devem ser contempladas na gestãopública de qualquer cidade brasileira.

o processo de desenvolvimento pode, facilmente, compro-meter a imagem das cidades já constante no repertório cole-

tlVO, na sua identidade e no imaginário da população. Típicoexemplo são as imagens e símbolos do Rio explorados peloturismo e que identificam a cidade em todo o mundo, a"cidade maravilhosa". O poder público nunca assumiu juntoà população um verdadeiro "projeto de imagem" urbana,integrado e expresso nos regulamentos urbanísticos. Comoé que nós queremos que seja a cara, ou caras, do Rio7 Quaissão os elementos que garantem estas imagens e como prote-gê-Ios 7 A presença e as características do ambiente natural,por exemplo, que sempre conformaram imagens básicas ca-riocas (praias, montanhas, florestas, lagoas etc.) estão cadavez mais ameaçadas pelo ambiente construído (fig. 103).

Figura 103 - O Cristo Redentor, legibilidade e simbolismo:elemento constante nas imagens coletivas do Rio de Janeiro,um marco cuja presença na paisagem deve ser respeitada; ruaPires de Almeida, Cosme Velho

Page 120: Introdução ao desenho urbano

Figura 104 -Identificação e proteção de visuais como as queconformam áreas como a lagoa Rodrigo de Freitas, onde aregulamentação edilícia era totalmente alheia ao sítio e ao perfildos morros

~Figura 105 - A cidade como somatória de suas partes:fortalecimento de identidades locais: Vila Santa Genoveva, 1916,em São Crístóvão, çom suas 74 casas, pracinha e igreja

Uma das características mais fortes de nossa qualidade devida, em particular a do Rio, é o jogo urbano dos cheiose vazios, da percepção dos espaços abertos e das vistas.e panoramas. Isto também vem sido ameaçado pelo modocom que a cidade cresce e se configura, principalmente porincompetência dos regulamentos urbanísticos. Esta qualida-de visual expressa-se tanto em termos de vistas panorâmicase turísticas quanto de corredores visuais no próprio tecidourbano (para a praia, lagoas ou edificações de importânciaetc.). facilitando até a conformaçâo da "imagem da cidade"(fig 104)

A níveis sócio-{;ultural e de conforto psicológico, o Homemnecessita se identificar com um território e um grupo socialimediatos à sua residência Toda cidade deve ser um conjuntoperceptível de partes conformando um todo coerente. Cadaparte, cada bairro, cada comunidade, com sua identidadeprópria, sua história e suas características O Rio, pelo seusítio natural e especificidades evolutivas, ainda possui bastan-te disto como uma de suas características mais marcantes.É algo para se fortalecer e promover, como se encontra nasvilas cariocas, por exemplo (fig. 105)

Apesar de todo desenvolvimento tecnológico, o relaciona-mento de nossas cidades com o meio ambiente é muitomais problemático que no passado, seja a nível de poluiçãoou das próprias técnicas construtivas. No Rio, independen-temente de um "projeto de imagem" para a cidade, queinclui necessariamente a natureza carioca, o tipo de desenvol-vimento praticado está em direto confronto com a natureza.Diariamente praticam-se agressões, muitas conscientemen-te, contra o sistema ecológico, a boa climatizaçâo, a corretadrenagem e o bom relacionamento com o sítio. Estas agres-sões por vezes geram risco de vida, no caso da ocupaçâode encostas, ou mesmo acabam por produzir resultados vi-suais agressivos de gosto duvidável (fig. 106).

Esta questão é, em grande parte, como vimos, reflexo dopróprio desenvolvimento da arquitetura brasileira que só re-centemente desperta para a importância do contexto cons-

Page 121: Introdução ao desenho urbano

truído na conformação do novo objeto a inserir. Ainda é co-mum a promoção de arquiteturas independentes do conjuntopreexistente, cada novo prédio tentando ser um novo e sensa-cional objeto de arte, o que resulta em desrespeito à nossahistória e em intensos conflitos tipológico, cultural e, às vezes,até mesmo funcional (fig. 107)

Tema que implica no respeito às lógicas sócio-espaciais pree-xistentes em uma determinada morfologia. Aqui se ultrapassaas relações históricas simples para lidar-se com os modosde vida das comunidades e seu rebatimento no urbano. De-senvolvimento compatível com continuidade é a qualidadenorteadora. O desrespeito morfológico verifica-se repetida-mente em nossas cidades; novas inserções, como shopping-centers, conjuntos habitacionais ou condomínios fechadosnão se integram ao tecido existente, à sua volumetria e tipolo-gia, desrespeitando itens como coerência urbanística, acessi-bilidades, linhas e pólos de crescimento (fig. 108)

No fundo esta temática é dependente da educação social,tanto da população quanto de seus dirigentes; reporta-sedesde o nível de comportamento ao de detalhamento domobiliário urbano. Nas cidades brasileiras, particularmenteno Rio e nas grandes metrópoles, o espaço público é tratadocomo terra de ninguém: os moradores não o reconhecemcomo de "sua propriedade" e o maltratam, a Prefeitura nãoo compreende como prioritário e não lhe dá a mínima atenção.Carros estacionados nas calçadas; trailers e quiosques aloca-dos sem o menor critério ou cuidados ergonométricos; publi-cidade, telefones públicos e barreiras físicas alocados ao belprazer das concessionárias É preciso maior atenção onde,afinal. os contatos sociais acontecem: valorização, manuten-ção, mobiliário integrado e bem projetado, planejamento deatividades temporárias etc. (fig. 109).

Outra herança do modernismo e do desenvolvimento de nos-sa arquitetura é a crença na monofuncionalidade que aindase pretende em muitas áreas urbanas brasileiras. A Barrada Tijuca é um exemplo típico plano elitista com que o poderpúblico promove condomínios residenciais e um paradigmade cidade norte-americana onde tudo é feito de carro. Soba égide da segurança, estas estruturas são verdadeiros gue-

Figura 106 - Absurdos nas relações com o sitio naturalcomprometem até a qualidade visual do conjunto: casas em"paliteiros" de pilares, fechados com paredes cegas, e retiradade "fatias" do morro para "encaixar" a arquitetura na Joatinga,área de alta renda no Rio

Figura 107 - Arquiteturas conflitantes e pouca atenção para aimportãncia do seu inter-relacionamento e do conjuntoresultante sobre a esfera pública; Largo da Carioca, Rio

tos sociais onde as pessoas só esbarram com os seus iguais,tanto em seu "bairrinho" quanto em suas compras no shop-pingo A variedade é qualidade a ser promovida tanto atravésdos usos formais das edificações e espaços quanto nos tem-porários e expressões espontâneas. Uma cidade só se tornasocialmente forte com uma rica mistura social e de usos(fig. 110)

Page 122: Introdução ao desenho urbano

Figura 108 - Conflitos morfológicos impedem a inserção denovos empreendimentos no contexto e implicam problemasculturais, sociais e psicológicos incontornáveis; conjuntoCapitão Teixeira, CEHAB, Realengo, Rio, 1974

I -----Figura 109 - O espaço público como "terra de ninguém"; nemo poder público se interessa em promover qualidade ou fazerrespeitar: as novas bombas de combustível deste posto foramcolocadas no alinhamento, obrigando os pedestres a andaremna rua Jardim Botânico, Rio

Figura 110 - Homogeneidade espacial e social do paradigmamodernista institucionalizada por elitismos e pela síndrome dasegurança; a Barra da Tijuca e seus condomínios, verdadeiros"guetos" sociais, longe de uma verdadeira urbanidade

o leitor atento com certeza percebeu que todas as temáticasacima podem ser resumidas em uma só, a imagem da cida-de. Imagem é símbolo, identidade, caráter, personalidade,possibilidades. Disto há muito já havia se apercebido o genialKevin LYNCH em sua busca pela boa forma urbana (LYNCH1981). Para isto necessitamos de um projeto físico-ambientalcoletivo e que só será alcançado através de um empenhocoletivo.

Encerramos com a certeza de havermos apontado novoscaminhos, férteis, em direção a este projeto e na busca poruma maior qualidade para nossas cidades. Esta é a premissabásica do Desenho Urbano,. que vai se expressar em todosos aspectos físico-ambientais vivenciados em nosso cotidia-no de cidadão. Assim foi que tentamos identificar e debaterconceitos e metodologias, consolidando um campo discipli-nar e de domínio profissional. Acreditamos, como SANTOS(1988: 15), que é aí que está a "verdadeira tarefa acadêmica".

E, como parodiávamos na abertura deste trabalho, apesardas muitas visões diferentes que nós, cidadãos, temos dourbano, o sentimento de urbanidade e civilidade por trás dodesignerdeve sempre apoiar-se "na esperança de que nos-sa potencialidade criativa transforme a vida urbana e seuespaço em fontes de prazer e liberdade".

Page 123: Introdução ao desenho urbano
Page 124: Introdução ao desenho urbano

Anexo 1Urbanização, estruturação e crescimento de favela:

Desenho urbano na favela da Maré - RJ*

Apresentamos a seguir, bastante resumido, trabalho acadê-mico de nossa autoria, realizado em 1981, que teve por obje-tivo formular uma proposta físico-espacial de desenho urba-no, alternativa aquela formalizada em 1980 pelo Banco Nacio-nal da Habitação para a Favela da Maré, Rio de Janeiro. Em-bora com todas as limitações típicas de um exercício acadê-mico, achamos interessante comentar esta experiência poisilustra algumas questões abordadas em capítulos anteriores,principalmente no que diz respeito ao enfoque metodológico;a questão da habitação de baixa renda também constitui anti-ga preocupação nossa (p.e DEL RIO & PAYNE, 1983) Nestetrabalho, buscávamos um processo que viabilizasse formasde urbanização, estruturação e crescimento mais participa-tivas e respeitosas com a comunidade existente e seu patri-mônio sócio-cultural. Esta temática revela-se importante poisa Maré reflete as condições de vida de grande parcela dapopulação urbana brasileira e, como tal, deve participar dapraxis técnica, social e política do designer.

Para tanto, interessáva-nos estudar as características do as-sentamento de forma a compreender seu desenvolvimento,suas razões, vantagens e desvantagens para os moradores.O estudo morfológico, como o definimos no Capítulo 5.1,revelava-se ideal para tanto pois permite-nos compreendero estado físico-espacial atual como produto de uma evoluçãoe em relação às características sociais das comunidades.Ao mesmo tempo, como objetivávamos uma proposta dedesenho alternativo ao oficial, este tipo de estudo conformariauma base concreta para definir, em conjunto com as necessi-dades programáticas locais, padrões de desenho a se adotare decisões projetuais, como a definição da malha viária oua tipologia de novos quarteirões. Adotamos, também, comograndes diretrizes para a proposta final aquelas indicadas por

LYNCH (1981) para atingir uma "boa forma urbana", ou seja,a de melhor resposta possível às necessidades de seus usuá-rios (vide Capítulo 4)

Constataremos, com o desenvolver destes comentários, aviabilidade de enfoques de desenho urbano para áreas favela-das mais condizentes com as condições sócio-eulturais dapopulação alvo e melhor integrados ao contexto existente.É evidente que o sistema habitacional não evitou a repetiçãode uma série de equívocos projetuais sintomáticos.

No entanto, admitimos que os programas do tipo PROMO-RAR, que incorporava um certo nível de participação dosmutuários, pelo menos ao nível da consolidação da unidade,e limitava as prestações a um percentual do salário mínimo,em oposição aos rígidos programas de conjuntos habitacio-nais vigentes até então, significaram uma melhora relativanas respostas institucionais, em direção ao que poderia serinterpretado como respostas mais satisfatórias à realidade.O BNH estava respondendo, na verdade, com um certo atra-so, característico de sua burocracia paquidérmica, aos câm-bios de políticas habitacionais das próprias agências interna-cionais, como o Banco Mundial (WARD 1982), e das atitudessendo gradativamente assumidas pelos governos locais, co-mo o do Rio de Janeiro, em prol da urbanização de favelas,como expresso na política setorial municipal carioca de 1979.

* Texto originado em "Against the Tide: Upgrading and Expan-ding a Favela" (volumes 1 e 2). dissertação de Mestrado, JointCentre for Urban Design, Oxford Polytechnic, 1981. Agradeço aoamigo David Gertner, coordenador do levantamento cadastral dafavela da Maré pela FUNDREM, por seu inestimável apoio à realiza-ção de meu trabalho original.

Page 125: Introdução ao desenho urbano

A área conhecida por Maré, localizada às margens da Baíade Guanabara entre os acessos à Cidade Universitária e àIlha do Governador, consiste da "conurbação" de seis assen-tamentos então classificados como favelas (fig. 1.1). Apresen-tando diferentes estados de consolidação e infra-estruturainstalada cada um possuía (e ainda possui) característicasespecíficas que permitem um forte senso de identidade asuas comunidades (figs. 1.1 e 12). Como uma das maioresfavelas do Rio, sua população totalizava aproximadamente66 mil moradores em uma área total com cerca de 81 hectares(tabela 1.1). Um número significativo de habitações, estimadopor nós em cerca de 1.200, geralmente as mais recenteseram sobre palafitas e sujeitas às ações da maré (daí o nomedo conjunto favelado). Havia se verificado a existência deaproximadamente 12 mil unidades residenciais na Maré, abri-gando 17.067 famílias, das quais mais de 98% participaramdiretamente das entrevistas cadastrais (1).

Em 1979 o Ministério do Interior resolveu amparar um ambi-cioso projeto de recuperação ambiental para uma grande áreaàs margens da Baía de Guanabara, abrangendo os Municípiosdo Rio e de Caxias. O chamado Projeto-RIO incluía em seuterritório diversas favelas, como o conjunto da Maré, conse-quentemente definindo-as necessitadas de intervenção. Oentão Ministro do Interior, Mário Andreazza, em uma decisãopopulista que pudesse apoiar suas pretensões à presidênciada República, decidiu que as comunidades faveladas não se-riam removidas, os projetos habitacionais incorporariam aparticipação dos moradores e os mutuários não pagariamprestações superiores a 10% do salário mínimo. Para istoo BNH alteraria radicalmente sua política, iniciando atuaçãoem primeira linha e como agente promotor, ou seja, encarre-gado do financiamento direto e da consecução dos programase projetos

Ao mesmo tempo decidiu-se, ao contrário da opinião de inú-meros ambientalistas, promover o aterro hidráulico de umaenorme área já bastante comprometida com os processosde assoreamento, cujas causas principais evidentes erama ação do Homem e a poluição da baía. A área total de inter-

(1) Os dados utilizados foram os censitários (1970) e aqueles obtidospela FUNDREM (Fundação para o Desenvolvimento da Região Me-tropolitana do Rio de Janeiro). órgão estadual então indicado paracoordenar os trabalhos do chamado Projeto-Rio em 1979, antesdo BNH assumir por completo os trabalhos.

P'.o..ItQUf,.NO'lA.. i-'OL"NbA.

PARqlJl MA,I'l[

Figura 1.1 - Planta de localização do conjunto Maré, assinalandoa área a ser aterrada; estado em 1979

venção do projeto Maré incluía cerca de 130 hectares deaterro, uma escala que, evidentemente, representou imensoscustos ao BNH, que não poderia repassá-Ios aos mutuáriospois isto significaria uma prestação muito acima de sua capa-cidade de pagamento. Apesar de não ser nosso objetivo de-senvolver esta questão, é necessário apontar que estes fato-res, ao moldar a ação do BNH no caso Maré, representaramfardo significativo na falência institucional do sistema e,princi-palmente, que esta experiência serviu para demonstrar odespreparo do órgão para atuação em primeira linha e comoagente promotor (2).

Page 126: Introdução ao desenho urbano

A Maré situacse a apenas uns 10 km do centro da cidade,ao longo da Av. Brasil, bem servida de transportes coletivose inserida em área infra-estruturada. Já àquela época existiao projeto de via expressa paralela à Av. Brasil (linha vermelha).marginando a Baía, e que recentemente vem recebendo aten-ção do governo estadual para opções de sua implantaçãoa curto prazo. As partes mais consolidadas da Maré já seencontravam perfeitamente integradas ao entorno, quaseque exclusivamente ocupado pelo setor de comércio e servi-ços de médio porte, pequenas unidades fabris, e um grandequartel do exército. A população encontrava aí, com relativafacilidade, assim como na cidade universitária e no centroda cidade, a maioria de seus meios de sobrevivência. Entre-tanto, como era de se esperar, as condições de saúde doassentamento favelado eram das piores pois, embora 70%das habitações recebessem água encanada, a ausência deesgotamento sanitário e drenagem agravava-se com a faltade coleta de lixo, a poluição da baía, e o acúmulo dos dejetos,impactos ainda mais negativos pela ação da maré sob aspalafitas (fig. 1.3). Aí as condições de moradia eram extrema-mente precárias, ao contrário de alguns dos assentamentos,como o do Timbau, cuja comunidade havia instalado o seupróprio sistema de col.eta de esgotos e distribuição de água(figs. 1.4 e 1.5). Pode-se imaginar as condições de insalubri-dade da vida sobre as palafitas, principalmente para as crian-ças; afogamentos e ataques de ratos eram comuns.

Registros apontam que a ocupação da área pode haver seiniciado nos anos 30, no Morro do Timbau, a partir de uma"permissão" do quartel de exército adjacente. No início dosanos 60 foram construídos na região alguns centros de tria-

(2)Alguns autores analisamcom propriedade,atrajetória das políticashabitacionaisbrasileirase as causasda falênciado Sistema da Habita-ção que culminou na extinção do BNH. Ver, por exemplo: BOLAFFI.Gabriel, "A Casadas Ilusões Perdidas: Aspectos Sócio-Econômicosdo Plano Nacional de Habitação", Cadernos CEBRAP n~27, Brasi·liense, São Paulo, 1977; VALLADARES,Lícia, "Passa-se uma Casa:Análise do Programade Remoções de Favelasdo R.J.",Zahar, Rio,1978; AZEVEDO,Sérgio e ANDRADE, Luis G., "Habitação e Poder:da Fundação da Casa Popular ao BNH", Zahar, Rio, 1982; MELO,Marcus, "Políticas Públicas e Habitação Popular: Continuidade eRuptura, 1979/1988", in Revista RUA n~2, Faculdadede Arquiteturada U.F.Ba, Salvador, julho, 1989. Embora já precise ser atualizada,a única resenhaabrangente publicadasobre a produção de pesquisahabitacional no Brasil encontra-se em VALLADARES, líGia (org.),"Repensando a Habitação no Brasil", Coleção Debates Urbanosn~ 3, Zahar, Rio, 1982.

Page 127: Introdução ao desenho urbano

gem, como Nova Holanda e Parque Rubens Vaz, habitaçõestemporárias de madeira e em fila para as famílias removidasde favelas da Zona Sul (vide na figo 12 as filas de habitaçõesmais regulares) Estas habitações tornaram-se permanentese ao seu tecido Incorporou-se o desenvolvimento de áreasfaveladas, principalmente ao longo da margem da baía. Aúnica ameaça séria que sofreram foi com a remoção da favelade Inhaúma, localizada à base do Morro do Timbau, paraa construção de melhor acesso à Ilha do Fundão, em meadosdos anos 70. Logo toda a área estaria totalmente ocupadae "conurbada", com cerca de 45% das habitações em alvena-ria. A densidade bruta variava desde os 378 habitantes/hec-tare no Timbau, até o extremo dos 1600 habitantes/hectareno subassentamento conhecido por Maré; evidentemente,com a maioria das edificações de um ou dois pavimentos,e áreas livres de uso coletivo, exceto pelos acessos, eramquase que inexistentes (vide tabela 1.1).

Tabela 1,1. Características populacionais dosassentamentos no conjunto MARÉ, 1980

áreapopulação

densidade unidadesnome

(ha) (hab/ha) habitacionais

Timbau 148,88 5640 378,78 1.118

Baixa doSapateiro 99,56 14.188 1.424,50 2.698

Maré 96.48 16129 1671,40 3.143

Nova Holanda 241,10 10.448 433,35 2.026

Rubens Vaz 58,48 6.273 1.072,31 999

Parque União 169,48 13.132 774.75 1.777

Total 81,39 65.810 808.48 11.761

Page 128: Introdução ao desenho urbano

De uma maneira geral, o comércio interno à Maré era bastantedinâmico e diversificado (com até mesmo chiqueiros sobrepalafitas), totalizando mais de um mil estabelecimentos co-merciais. No centro do assentamento e principal penetraçãodesde a Av. Brasil, a rua Teixeira Ribeiro concentrava umdinâmico setor comercial e agitadas feiras semanais; umde seus supermercados especializa-se em produtos nordes-tinos, recebendo pelo menos um caminhão semanalmente I

Figura 1.4 - A ocupação sobre palafitas no Parque Maré em1980; o próximo estágio de consolidação seria o aterro dosacessos com entulho

Uma favela já consolidada como o conjunto Maré reproduz,em menor escala, a lógica típica de uma verdadeira cidade,com seu dinamismo interno, valorização de solo, mercadoimobiliário etc. O seu processo de crescimento é, portanto,a demonstração mais evidente de fatores físico-espaciais co-mo reflexos de condicionamentos sócio-econômicos. O mer-cado local, por exemplo, oferecia oportunidades aos recém-chegados apenas nas áreas palafitadas, distantes das áreas

Figura 1.5 - Avançado estágio de consolidação no Morro doTimbau, onde os moradores instalaram sistemas de distribuiçãode água e coleta de esgotos. Trecho com vistas para o conjuntofavelado e o Hospital Universitário em 1980

Page 129: Introdução ao desenho urbano

mais "nobres" a menos que se dispusessem a pagar paratanto, sob controle dos "empresários" e grupos de poderlocais. Os assentamentos de Parque União e do Morro doTimbau (fig. 1.6) tornaram-se os locais mais valorizados emelhor consolidados, este último desfrutando de bela vistada baía; isto pode ser verificado cruzando-se os dados dastabelas 1.1 e 1.2. Estimávamos a demanda imediata localem cerca de 3.200 unidades habitacionais, calculadas toman-do por base apenas o número de famílias excedentes aototal de unidades existentes e o total sobre palafitas.

11 - Estratégia para Intervenção:Urbanização e Crescimento

Como vimos, as condições reinantes na área da Maré inclu-sive o contexto institucional, combinava vantagens e d~svan-tagens mas, sem dúvida, proporcionava um quadro incenti-vador ao desenvolvimento informal, a ser reconhecido e in-centivado pelas estratégias de intervenção. Estas, resumidasem suas linhas gerais a seguir, deveriam se refletir tantonas áreas faveladas existentes, para sua melhoria geral, quan-to nas novas a serem urbanizadas. Como à época deste estu-do este aterro já estivesse em andamento optamos por assu-ml-Io como dado irreversível a receber o novo desenvolvi-mento.

O quadro geral de escassez de recursos de nosso país indicaque a ação institucional deve se ater a guiar o setor privado,promovendo apenas os meios facilitadores do desenvolvi-mento urbano por ele não servidos e aqueles que dependemde um quadro de garantias socializadas (TURNER 1976, PAY-NE 1977). O poder público deveria ser o promotor conscientede elementos-ehave. "catalistas" do desenvolvimento, co~omalha viária ou escolas. A autonomia local de desenvolvi-mento deve ser alca'nçada com certas garantias governa-mentais no sentido da consecução dos objetivos e priorida-des, estabelecidos junto com a população e seus represen-tantes. Por este motivo entendíamos que os programas habi-taclonals oferecidos pelo BNH deveriam ser os mais variadospossíveis, .inclusive a nível de promoção de moradias paraaluguel, atingindo todas as faixas de renda, e, principalmente,a nível do financiamento dos materiais de construção.

De uma maneira geral, a nível de financiamento, todos osnossos programas e projetos propostos tomavam por basea menor utilização possível de recursos sem retorno, a capaci-dade de pagamento da população-alvo, e o melhor aproveita-mento de sistemas de geração de subsídios cruzados inter-

nos à área Partindo do princípio da implantação de um pro-cesso de administração local de relativa autonomia, estessistemas viabilizariam o reinvestimento local da mais-valiaobtida com a valorização progressiva gerada pela implantaçãodo ProJeto; por exemplo, um estoque de lotes estratégicospoderiam ser posteriormente vendidos por preços de merca-do, atraindo faixas mais elevadas, compondo misturas sociais':0 conjunto e gerando recursos para obras necessárias (3).E evidente que um sistema deste tipo pede monitoraçãofirme das associações locais e técnicos responsáveis peloproJeto, no caso o BNH, assim como o próprio acesso àterra e o mercado imobiliário local, principalmente o de alu-guéis, tentando-se evitar ao máximo que as ações urbaniza-doras do projeto gerem valorizações drásticas e não previstas,que acabariam por expulsar os inquilinos mais carentes.

Outra estratégia seria que as ações institucionais não interfe-ririam no comércio informal, promovendo apenas atividadesdo circuito formal da economia que fossem complementaresàs existentes informais, como cooperativas e até agências

(3) Em relação a esta questão, WARD faz uma interessante propostaque permite aos próprios moradores tirar proveito da lógica de merca-do: recebendo um "lote duplo", o mutuário poderia eventualmenteocupar sua metade extra ou, após determinado período de tempo,vendê-Ia no mercado, tirando proveito de uma valorização que elemesmo ajudou a fazer e saldando suas dívidas com o financiamento.Veja WARD, Peter," Financing Land Acquisition for Self-Built Hou-sing Schemes", in "Third World Planning Review" vol. 3 n? 1, Liver-pool: fevereiro de 1981.

Page 130: Introdução ao desenho urbano

bancárias. Evidentemente, isto não deveria inibir o incentivoa atividades formais, fora dos limites do assentamento, capa-zes de gerar novos empregos, como faixas para o uso indus-trial não-poluente junto à Av. Brasil e ao acesso à ilha univer-sitária

A estratégia habitacional propriamente dita promoveria pro-gramas aos moradores locais com custos de financiamentoproporcionais à sua capacidade de endividamento. Na faixade renda familiar de .três a cinco salários mínimos mensais,por exemplo, uma quantia de 25 a 50% do SM.já era destinadaa gastos com habitação; este deveria ser, portanto, o máximodesembolso mensal para as prestações de um dos programashabitacionais a serem oferecidos. Este raciocínio, evidente-mente, seria respeitado em relação ao desembolso possíveldas várias faixas de renda. De uma maneira geral, os dadoscadastrais mostraram que as habitações em piores condições(de construção e de espaço) e com mais de uma famíliamoradora, correspondiam a menores tempos de fixação, fa-mílias necessitadas de maior apoio.

Os novos padrões urbanísticos e habitacionais a serem pro-movidos deveriam, também, reproduzir os padrões sócio-cul-turais básicos existentes nas comunidades locais, incenti-vando a apropriação total de novos valores e elementos. Osnovos padrões físico-espaciais, por exemplo, deveriam incen-tivar a integração com as morfologias existentes e o entorno,o setor informal da economia, o fácil acesso a todas as partesdo assentamento, a formação de subespaços para as peque-nas redes sociais e a consolidação progressiva. Quanto aosistema de propriedade a ser incentivado, o geralmente indi-cado tanto para áreas já consolidadas quanto para a nova

Tabela 1.2 - Faixas de renda declarada do cabeça defamília expressa em Salários Mínimos (sM), 1980

nome até 0,5 SM 0,5/1 SM 1/2 SM 2/5 SM +5SM

Timbau 168 202 545 436 47

Baixa do Sapateiro 318 582 1599 828 48

Maré 385 629 2.243 892 42

Nova Holanda 381 480 1.015 423 20

Rubens Vaz 135 218 774 480 29

Parque União 178 384 1.645 1.460 185

Total 1.565 2495 7.821 4.519 371

% 9.3 14.9 46.6 26.9 2.2Obs.: 46 moradores sem resposta. O Salãrio Mínimo vigente em junho de1980 era de Cr$ 4.149.60. equivalente a US$ 58,73 (fonte:FUNDREM 1981).

urbanização seria o de condomínio; no primeiro caso pelafacilidade de adaptá-Io às situações reais encontradas (físicase sociais), no segundo por seu potencial socializante e limita-dor de individualidades exacerbadas.

De uma maneira geral, as estratégias e seus programas eprojetos deveriam não apenas responder aos anseios e reivin-dicações das comunidades, coletados pelo BNH e respon-didos por nossa proposta, como também incorporar em seusprocessos de decisão e implementação a participação dosmoradores e de suas associações (tabela 1.3). De uma certaforma, o Programa PROMORAR incentivou esta participaçãoem níveis então inéditos em iniciativa habitacional desta esca-la e natureza, como possibilidade de escolha de tipo da unida-de habitacional conforme necessidades familiares e capaci-dade de pagamento.

Programas e projetos habitacionais, por sua vez, tambémdeveriam prever diversos níveis de participação dos mutuá-rios. Isto, como repetidamente observado em experiênciasparticipativas em todo o mundo, aumentaria o grau de satisfa-ção dos moradores, permitiria uma adaptação contínua daunidade às necessidades da família e às suas possibilidadesfinanceiras (4). Da mesma maneira, para o sucesso de umaimplantação contínua e satisfatória dos objetivos da interven-ção era vital a definição de um processo decisório com partici-pação das comunidades atingidas, cujos atores seriam imbuí-dos de diferentes níveis de poder e responsabilidades (tabela1.3). Uma garantia técnica disto seria fornecida pela implan-tação de escritórios técnicos locais, com representantes doBNH e da Prefeitura, em cada assentamento prestando as-sessoria às associações e aos moradores na construção econsolidação de suas unidades e administração de seu assen-tamento.

Através do estudo físico-espacial do conjunto favelado, maisuma vez atendo-nos principalmente aos dados cadastraisexistentes, interessáva-nos identificar os valores e as lógicas

(4) Já existem diversos registros de experiências bem-sucedidasna formalização institucional e participação na produção habitacionalde baixa renda. Para o caso brasileiro veja-se, por exemplo: BLANK,Gilda;'Brás de Pina: Experiência de Urbanizalção de Favela", in VAL-LADARES, Lícia (org.), "Habitação em Questão", Zahar, Rio, 1979;REINACH, Henrique "Projeto Vila Nova Cachoeirinha: ConstruçãoHabitacional por Ajuda Mútua", in Revista Espaço e Debates n? 14,São Paulo, 1985.

Page 131: Introdução ao desenho urbano

Tabela 1.3 - Síntese esquemática de processo departicipação no conjunto MARÉ

atores decisões diretas responsabilidades

CODEFAM participação no plano controle programa deConselho de Defesa geral. implantação ser- mato construção. rece-das Favelas da Maré viços. plano aplicação ber prestações. controle

de recursos das agên- do desenvolvimentoclas setonals

Associações de projetos de construção, controle dos serviços.Moradores de cada administração de serviços controle do desenvolvi-favela sociais e de educação. mento. manutenção es-

aceitação novos morado- paçosres

Conselhos de assuntos afetam direta- manutenção dos espaçosMoradores mente o grupo. aceitação semipúblicos e pontos de(por quarteirão) novos moradores serviços

Moradores tipo de lote. de unidade e prõpria unidade e manu-localização. construção ou tenção da calçada emexpansão. opções de frenteinvestimentos na unidade

de formação dos padrões típicos e elementos urbanísticosestruturais. Isto quer dizer, como vimos anteriormente quan-do comentávamos a teoria e metodologias de análise da mor-fologia urbana (Capítulo 51), estabelecer uma base projetualsócio-<:ulturalmente segura e mais contextualmente satisfa-tória. Na falta de todos os dados necessários sobre a evoluçãodos assentamentos, concluímos parte de nossa análise porobservação (inclusive "in loco") ou baseados em fontes indi-retas e entrevistas. Os dados assim obtidos foram posterior-mente cruzados com as necessidades programáticas da po-pulação existente e a projetada (em relação ao total de salasde aula necessário, por exemplo) para as decisões finais denossa simulação de projeto.

Nossa análise se concentrou nas categorias tipologla da formaconstruída, tipologia da forma não-<:onstruída, crescimentodo assentamento e articulação dos elementos. A seguir trare-mos as observações mais significativas de cada que, porvezes, serviram para comprovar conhecimento empírico, e,por outras demonstraram claramente a interdependência decategorias. Devido a limitações de espaço, as plantas analí-ticas que utilizaremos referem-se apenas a trechos limitadosda área analisada

Nesta categoria analisamos quatro temas básicos: tipologiae crescimento das edificações, propriedades de associaçãodos elementos, e hierarquia dos elementos estruturais. Fo-

Page 132: Introdução ao desenho urbano

a ,_, __

Figura 1.8 (a, b, c) - Registros do crescimento. Uma plataforma em palafíta para receber unidade residencíal, na Baixa doSapateiro (a), e construção incremental no Timbau (b, c): um segundo andar seguido de uma estrutura para sua ampliaçãocomo nova unidade até sua ocupação total .

ram cruzados dados relativos a usos das edificações, mate-riais empregados e sua altura, sendo os dois últimos reconhe-cidos como indicadores do grau de consolidação das unidades(fig. 1.7). Alguns dos achados mais interessantes podem sermencionados:-os usos comerciais tendiam a ocorrer (mas não exclusiva-mente) segundo a hierarquia de circulação pública; espaçosabertos não pareciam necessariamente atrair usos comer-

.ciais, mas sim as descontinuidades e deflexões (esquinasetc.) das vias;

- o surgimento/localização de u o comunitários parece de-pender apenas da proximidad doutro m Ihantes e dadisponibilidade de área;

- os padrões de consolidação, de maneira gr I, oin id mcom a concentração de usos comerciais ao lon O d vidiretamente relacionados à sua continuidade (p n lraç o).à segurança de permanência, e ao tempo de fixação no 10 I;

Page 133: Introdução ao desenho urbano

- a unidade de crescimento dos assentamentos pode serconsiderada como sendo a própria unidade habitacional. se-gundo as linhas de crescimento identificadas e o processode ocupação espacial;

- a alta densidade é gerada por duas razões básicas. alémdos evidentes valores diferenciais do solo dificuldade deapropriar área muito maior que a unidade em si nas áreasde pala fita e economia e facilidades proporcionadas com aassociação direta parede/parede;

- o crescimento nas áreas de palafitas. em geral. segue as"linhas de crescimento" das vias em áreas firmes e a associa-ção entre as unidades se dá primeiramente lado a lado parasó então acontecer nos "fundos" das unidades. gerando aestrutura básica dos "quarteirões" (fig. 1.8);

- os "quarteirões" podem ser classificados em dois tipos:quadrangulares e alongados. Os primeiros geralmente pos-suem maior complexidade. densidade elevada e acessos se-mipúblicos internos. Os quarteirões também foram classifi-cados em três categorias: pequena (média de 15 a 24 unida-des e 837 m2). média (25 a 50. 1717 m2) e grande (51 a93.3.595 m2) (fig. 19);

- o tempo de moradia faz aparecer tipologias habitacionaisque se assemelham em área apropriada. materiais empre-gados e número de andares. sugerindo processos seme-lhantes de consolidação;

- usos comerciais e usos comunitários podem ser conside-rados como estruturais por seu papel de organizadores dotecido e de geradores de encontros sociais. estas duas fun-ções intimamente dependentes;

- a primazia estrutural das vias e seu papel na vida públicaé principalmente função de seu grau de continuidade no teci-do e acessibilidade a usos intensos (fig. 110)

Esta terminologia adotada é normal em estudos "morfoló-gicos". denota uma oposição intencional à análise da tipologiada forma construída e inclui todos os espaços externos àsedificações. ou seja, os que conformam os espaços livres.públicos ou privados. Assim, nesta categoria analisamos osistema viário, os nós de atividades, os espaços abertos eáreas livres, as barreiras ao crescirrento. As observaçõesmais interessantes foram:

- as vias de penetração (interligando a malha externa às fave-las) e as de integração (interligando as várias favelas) alcan-çam uma hierarquia superior, atraindo portanto os elementosprimários, atividades e maiores investimentos econômicos.As vias de penetração. principalmente, atuam como "linhasde crescimento";

- a listagem de reivindicações dos moradores mostrava anecessidade de um padrão de sistema viário com maiores

Page 134: Introdução ao desenho urbano

continuidades, principalmente incentivando a penetração ea integração dos assentamentos (moradores do ParqueUnião, por exemplo, solicitavam ponte sobre o canal queimpedia sua integração total) (fig. 110);

- as Associações aceitavam a demolição de determinadascasas para dar continuidade à malha viária em locais estraté-gicos, mas não para alargamento das vias;

- a pavimentação atua como agente básico de consolidação,um catalisador que incentiva os investimentos e concentra-ção de atividades;

- com a consolidação, os moradores tendem a produzir umtecido mais regular e semelhante às áreas urbanas ditas "for-mais";

- a concentração de atividades segue um padrão linear enenhum nó expressivo foi identificado; quando duas viasimportantes se encontram foi notada uma concentraçãomaior delas. Isto pàde ter sido gerado pelo processo de evolu-ção e adensamento; duas únicas exceções significativas fo-ram notadas: praça do Parque União junto à Av. Brasil eárea tomada por parques de diversão ao pé do Morro doTimbau, junto a uma via de penetração/integração (fig. 1.10);

- pelo padrão de utilização do solo,são de uso quase exclusivo para circulaç

- os espaços livres existentes de uso coletivo possuem boaacessibilidade do exterior, mas baixa pelo interior do conjuntofavelado;

- as barreiras físicas ao crescimento, externas ao conjunto,são evidentes. acesso à Ilha do Governador, malha formale Av. Brasil, acesso à Ilha Universitária e Baía de Guanabara.Estas duas últimas, como vimos, são ultrapassadas pelo pro-cesso de evolução tradicional da área com as palafitas eos aterros gradativos dos moradores, facilitados pelo pro-cesso de associação das unidades, lado a lado;

- as barreiras físicas internas ao conjunto são: o canal noextremo Norte, que impossibilita a integração direta, os pró-prios padrões de crescimento do assentamento com suaalta densidade e vielas longas, estreitas e sem saída. O Morrodo Timbau, outrora uma barreira, Jáfoi ultrapassado pelo pró-prio desenvolvimento, sua malha totalmente integrada ondepermitem as curvas de nível.

Figura 7.9 - Planta figura-fundo de trecho do Parque Maré evidenciando a tipologia de quarteirões e a relação público(preto) privado (branco)

Page 135: Introdução ao desenho urbano

Esta categoria já se mostrou bastante evidenciada com aanálise de alguns dos assuntos anteriormente comentados.Agora, os temas analisados foram: tipo e processo de cresci-mento e geradores e limites. De uma maneira geral, pelaprópria análise visual no local, é patente o processo de cresci-mento linear, de penetração da Av. Brasil em direção à Baía.

- o crescimento é do tipo contínuo, onde cada unidade decrescimento (ou conjunto delas) associa-se diretamente comas existentes, seguindo os mesmos padrões. Embora nocaso das áreas dos antigos conjuntos de triagem pode-sepensar que as palafitas representam uma descontinuidadeno padrão, as linhas de crescimento determinadas pelas viassão respeitadas, há continuidade nos processos de utilizaçãodo solo, a densidade é praticamente a mesma e não há dife-renças sócio-econômicas;

- o processo de crescimento das áreas em palafitas deu-seprimeiramente ao longo da margem para, logo após, continuarlinear mas a partir das vias como linhas de força em direçãoà água; em seguida, quando a via de acesso palafitada eramuito longa, iniciava-se um processo de ocupação dos fundosdas unidades da primeira linha, adensando a área e fazendoo máximo uso dos precários acessos, que então já estariamsendo gradativamente aterrados com entulho pelos morado-res. Devido a sua importância e fragilidade, os moradoresprocedem a este aterro antes que àqueles sob suas própriascasas. Este é um processo comum, na Maré, de formaçãode um dos tipos de "quarteirão" encontrados, talvez o maislegitimamente característico (fig. 1.11);

- em contraponto às linhas de crescimento identificadas, nãoparecia existir nenhum pólo de maior expressão. O processode crescimento apresenta-se como do tipo contínuo e linear;

- verifica-se que as áreas mais formais, como os conjuntosde triagem, inibem o crescimento, que ocorreu de maneiramais intensa junto às áreas ocupadas mais "espontanea-mente" (Baixa do Sapateiro e Maré), como se nota compa-rados os tecidos;

- as vias de penetração parecem gerar maior incidência dequarteirões da categoria "alongados", direcionados no seusentido maior para a Baía (sentido de crescimento);

- a continuidade do tecido é gerada principalmente pela doprocesso de ocupação e suas características sócio-econô-micas mas também pela contiguidade física e condicionantesespaciais.

NO~~ ~::

:.; ! ~)..: .. : ':"'.-':.'"::"';". . ,':",'1), "b~\l-~:""':'

Figura 1.10 - A primazia estrutural das vias de penetração eintegração existentes e os nós de atividades

fRoc.t'1'7o L1NC ••.."7EiiUE- PA:l>R.ÓE.7i E.)(.i7TUJTE.) t

o~iGoU\ E,XPAN'JÃO CoAJ~OL.IDAc;.R>Figura 1.11 - O processo de crescimento e a formação de um! "quarteirão" a partir da ocupação sobre palafitas e de aterros sucessivos

Page 136: Introdução ao desenho urbano

Nesta categoria analisamos os tipos e intensidades de ínter-relacionamento entre os elementos estruturantes principais,segundo os temas: dimensões pública e privada, elementosprimários e o assentamento, relações entre os assentamen-tos;

- a dimensão privada resume-se quase que exclusivamenteà própria unidade, principalmente nas áreas mais novas ondeo acesso ao solo já se encontrava bastante limitado pelaconsolidação das áreas mais antigas. Nestas áreas, assimcomo onde as vias palafitadas já receberam aterro, os acessossão apropriados como uma extensão do uso doméstico; áreasque se tornam semiprivadas;

- a dimensão pública estava quase que totalmente reduzidaa elementos funcionais de sistema de circulação;

- a separação entre o domínio público e o privado é tão abruptaque a vida coletiva e os contatos sociais reduziram-se àsnecessidades de sobrevivência da comunidade (fig. 1.12);

- a maior importância da dimensão privada é seu papel deapoio à própria função residencial direta, ou seja, expansõesda unidade para acolher familiares ou para gerar renda extracom aluguéis;

- os determinantes físico-espaciais principais da articulaçãoexistente entre o público e o privado estão na tabela 1.4;

- os assentamentos do conjunto favelado apresentam nítidascaracterísticas físico-ambientais e sócio-econômicas que osdiferenciam, existindo inclusive alguns limites claros a seusterritórios, como a própria descontinuidade morfológica, co-mo no caso do Timbau, Parque Nova Holanda e Parque União;a única exceção encontra-se entre Baixa do Sapateiro e Maré(fig. 1.1);

- todos os assentamentos são facilmente acessados desdeo exterior mas a comunicação interna é difícil pelas peculia-ridades do tecido, denso e descontínuo;

- os elementos físico-espaciais de maior influência na caracte-rização do tecido, da identidade dos assentamentos e nadeterminação de ordens morfológicas superiores são: vias,grupos de edificações (formação de quarteirões). edificaçõese espaços livres.

Como observamos anteriormente, em nosso trabalho fize-mos uma avaliação do projeto de urbanização existente con-tratado à ENGEVIX pelo BNH, principalmente em termos de

Tabela 1,4 - Maiores determinantes físico-espaciais dasdimensões pública e privada

dimensãodeterminantes

nfvel do indivfduo nfvel da comunidade

acesso à unidade acesso veicular eestacionamento

pública estacionamentopenetraçào

lazer para criançasserviços/i nfra -estrutu ra

expansões da unidade concordância entrevizinhos e grupo de

privada quarto/unidade extra força sobre território

espaço para varal respeito a vizinhosimediatos

Page 137: Introdução ao desenho urbano

suas características morfológicas e processo de implantação,à luz de nossa análise e das dimensões de performanceurbana de LYNCH (1981), destacadas no Capítulo 4 (vitali-dade, senso, congruência, acesso, controle, eficiência e justi-ça). Lembramos que o respeito a estas dimensões de perfor-mance objetiva " ... valorizar a continuidade de uma culturae a sobrevivência de sua gente, aumenta o senso de conexãono espaço e no tempo, permite ou incentiva o crescimentodo indivíduo: desenvolvimento dentro da continuidade ... "(LYNCH 1981: 116)

As críticas verificam-se tanto a nível do processo, como porexemplo pelo projeto geral de urbanização ter sido feito antesmesmo do término do levantamento sócio-econômico, quan-to a nível da organização físico-ambiental, como em relaçãoà localização dos equipamentos públicos que não seguia umpadrão coerente segundo os lugares mais significativos paraas comunidades mas distribuição rígida e tecnocrática. Entre-tanto, não nos interessará desenvolver aqui esta questão;é suficiente apontar que as incongruências específicas doprojeto oficial resultaram basicamente do processo de traba-lho do próprio Banco e seus objetivos políticos que, semdúvida, não deixava espaços para procedimentos analíticose projetuais mais consequentes.

Já comentamos que, em nosso estudo, as decisões sobreas diretrizes e padrões físico-espaciais para o desenho parti-ram das observações viabilizadas pelas análises anterioresconjugadas pelas necessidades programáticas da populaçãoda Maré. O projeto resultaria, portanto, de uma inter-relaçãoentre os padrões físicos existentes, os elementos estruturaise os requerimentos programáticos, como ilustra a figo 1.13.

PADRÕE.? F("ICO~

r ----Q-----lI II II II II II I

lLI:J'fIE.NTO'> I A f<.EQUEf\IJ'fIE.NTOS

E.'!TP,UTup,p.b Q--------V 1'I'DGMM.t\TICOS

L - - - -1- - DiME.N'7~E-? DE. PEf'..FO~J'fII\NCE.

o DE.'7EN.\-lOFigura 1.13 - Esquema do processo de identificação das diretrizesde desenho

Os requerimentos programáticos incluíam definições a partirda listagem de reivindicações oficialmente assumida pela fir-ma consultora e o BNH, assim como cálculos de necessi-dades verificadas a partir do quadro de carências existenterevelado pelo levantamento cadastral e à luz de índices deatendimento considerados ideais adaptados para o contextoestudado (5). A localização e características dos equipamen-tos sociais estariam respondendo também às diretrizes epadrões físico-espaciais concluídos para a urbanização do con-junto favelado existente e das novas áreas aterradas. As esco-las-{;reche, por exemplo, deveriam ser em número total deseis, uma para cada comunidade favelada da Maré, aten-dendo a um máximo de crianças estimado em 684, no ParqueMaré, e um mínimo de 176, no Timbau; sua localização deve-ria, sempre que possível, estar integrada fisicamente a outrosequipamentos de centralidade desejada, como as sedes dasassociações de moradores.

Finalmente, para definir uma simulação de projeto físico-es-pacial para a Maré, as diretrizes e padrões de desenho queconcluímos foram organizados tematicamente segundo oselementos definidos na análise como estruturadores: edifica-ções e lotes, circulação e vias, quarteirões e setores, espaçosabertos e barreiras. Algumas destas diretrizes e padrões sãocomentados a seguir:

A tipologia de lotes e de unidades residenciais a ser oferecidadeveria contemplar a maior variedade possível de modelos,possibilitando amplas escolhas dos moradores tanto em ter-mos formais quanto de financiamento. Ou seja, as tipologiasbaseando-se nos perfis de demanda, capacidades de paga-mento, processos construtivos, ótima utilização do solo, cená-rios desejados de desenvolvimento e no sistema de geraçãode subsídios cruzados. O mesmo aconteceria para os siste-mas de infra-estrutura a serem implantados, relacionados

(5) Em se tratando de exercício acadêmico em que nos era impos-sível a ida a campo, consideramos a lista oficial de reivindicaçõescomo dado real. Os índices urbanísticostambém são aqueles indica-dos pela literatura especializada,tais como: FERRARI,Celson, "Cur-so de Planejamento Municipal Integrado", Editora Pioneira,São Pau-lo, 1977; TURNER, Allan, "Planning and Development Standards",in TURNER,A. (org.), "Cíties of the Poor", Croom Helm, Londres:1980; DAVIDSON, Forbes & PAYNE,Geoffrey (org.), Urban ProjectsManual: A Guide to Preparing Upgrading and New DevelopmentProjects Accessible to Low-Income Groups", Liverpool UniversityPress, Liverpool, 1983.

Page 138: Introdução ao desenho urbano

diretamente com o nível dos serviços para cada fase de de-senvolvimento segundo a organização territorial do sistemade geração de subsídios cruzados. Ou seja, lotes e tiposde unidades de melhor padrão, nas melhores localizaçõese com infra-estrutura completa: facilitando a implementação,maximizando as potencialidades de valorização do solo e pos-sibilitando a geração de maiores lucros no mercado futuropara reaplicação no próprio assentamento (subsídios internoscruzados).

Evidentemente, uma definição de tipologias deste tipo gerariamatrizes sofisticadas, cuja análise deveria ser desenvolvida atravésdo uso de computador. Isto, entretanto, estava fora de nossaspossibilidades e saía do escopo do exercício a que nos propúnha-mos. Adotamos, então, uma malha de 1,50 x 1,50 m, para originaras mais diversas opções de lotes possíveis, atendendo racional-mente à melhor utilizaçãodo solo e racionalizaçãoda infra-estruturae da circulação. Neste sentido, chegamos a 12 tipos de lotesque seriam oferecidos com diferentes níveis de infra-estruturaàs diferentes faixas de renda (tabela 1.5). Esta tipologia de lotestambém possibilitou a oferta de áreas maiores dotadas de estrutu-ras-suporte em vias de maior circulação, encorajando usos comer-ciais, de serviços e residenciais em apartamentos, e participandodo sistema de subsídios cruzados (fig. 1.14). Entretanto, o remem-bramento de lotes permitido não deveria exceder uma área de1.500 m2, a fim de não exceder a escala de desenvolvimentolocal.

VERTIGAL 5TROCTUF\E:ST~I~ Tttt D1YI-S10N ,6MONb UK\TS

Figura 1.14 - Estrutura-suporte composta de módulos para comércio, serviços (térreo) e apartamentos

I

L""LCONY AGCE%STRE.SSII1& UMI1YMDC-OfY\r-'\UNALU6t"'.

Tabela 1.5 . Algumas possibilidades de atendimento dademanda

tipologia de lotes para os programas (m' )

1 6 x 9 = 54 7: 12x12=144

2: 6x 10.5 = 63 8: 12 x 15 = 180

3: 6x12=72 9: 10.5 x 30 = 315

4:6x15=90 10: 12 x 30 = 360

5: 75 x 12 = 90 11. 15 x 27 = 405

6: 7.5x 15 = 112,5 12 15 x 30 = 450

faixa renda % da tipo do tiposdeclarada do população programa docabeça (5M) moradora habitacional lote

O a 1 21 lote urbano 1/2

1 a 2 46 lote urbano 3/7

2a5 32 lote urbano 2/3/4/5

embrião 1/2

casa 3/4/5/6

apartamentoembrião 911 0111/12

+ 5 1 casa 5/6/8

apartamento 8/9/10/11/12

Page 139: Introdução ao desenho urbano

Uma série de diretrizes e padrões foi sugerida para as edifica-ções, com detalhes que ultrapassam o escopo deste artigo.Por exemplo: localização de gabaritos máximos permitidos, não-limitação das taxas de ocupação, afastamentos de 1,50 m ape-nas no andar térreo de edificações na vias principais para arcadaou marquises, vias arteriais incentivando usos comerciais ede serviços, e outros.

Estes elementos são essenciais não apenas por definir aacessibilidade e os sistemas de infra-estrutura, mas tambémpor serem os componentes mais fortes na orientação dentrodo assentamento e na cognição de sua imagem, como com-provam os estudos teóricos comentados no Capítulo 5 e,especificamente, a análise anterior do conjunto da Maré. Nes-te sentido é que a implantação de uma nova estrutura viáriadeveria promover uma clara hierarquia (largura, pavimenta-ção, mobiliário, usos marginais etc.) respeitando a malha exis-tente e os elementos estruturais significativos. Esta tipologiaviária também teria de minimizar os custos de sua implan-tação e conservação. Para as novas áreas, consideramos umatipologia de vias e suas respectivas larguras totais (incluindocalçadas) para pedestres (3,00 ml. ruas de acesso (6,00 ml.coletoras (9,00 m), arteriais (15,00 m) e marginal (apenasao longo da margem da baía, 25,00 m).

Alguns requisitos eram específicos do conjunto favelado daMaré, reforçando seus padrões sócio-eulturais e a identidadedo(s) assentamento(sl. assim como os tipos diferenciados deprogramas habitacionais e o sistema de geração de subsídioscruzados. Neste sentido, visava-se primeiramente reforçar asvias de penetração e integração identificadas, gerando boa aces-sibilidade a todas as atividades e setores do conjunto. Segundo,promover a integração do conjunto mas facilitar a identidadedos seis diferentes assentamentos e das novas áreas a seremconstruídas. Terceiro, possibilitar a implantação de diferentesníveis de provisão de infra-estrutura e sua implementação pro-gressiva. A concepção resultante propunha redes superpostasconstituindo três subsistemas básicos (fig. 1.15).

Os quarteirões são elementos estruturais extremamente im-portantes, como vimos em nossas considerações sobre mor-fologia (Capítulo 4) e constatamos em nossa análise anteriorda Maré. Portanto, a proposta tipológica para as novas áreasde aterro deve contar com um largo escopo de determi-

nantes, atingindo-se resultados satisfatórios em diversos ní-veis, desde sócio-culturais a programáticos e econõmicos,e possibilitando a implantação das duas tipologias anteriores(lotes e edificações, circulação e vias). Assim é que as diretri-zes para concepção tipológica de quarteirões seriam:

f ~z ~I\RTÜ,i"~f--... _COLnDJ\,"~

'\,jl,tbi.1. -- "U~So" •• _ - - - - fU>t5f1lf.S

~ -- loE.llE)

Figura 1.15 - Esquema das diretrizes para a composição da malhaviária

LOCÁLi<~ç:ÃoPRéftRUJcil\L I».S

~ f.STRuru~".,>UPORTt

i/J"TAL/lÇAOPJ<o«J\,lS>jV~ 1lf.

iJJ,RAt>TRvTURb,-NO MioLO ]X)QUAi'JlóiRII-o

LOTL"VALDR, 2.

Figura 1.16 - Esquema setorial de composiçãoquarteirões/sistema viário, redes de infra-estrutura e valores

Page 140: Introdução ao desenho urbano

- respeitar a tipologia de quarteirões existente (média de área,de edificações e de densidade) e seus padrões;

- prever organização físico-€spacial e número de famílias resi-dentes de forma a facilitar/incentivar os processos participa-tivos, os encontros e a interação social;

- maximizar a utilização do solo e da infra-€strutura, possibi-litando a implantação dos três subsistemas de circulação/redes;

- possibilitar a implantação da tipologia habitacional e seusprogramas, inclusive do sistema de subsídios cruzados;

- viabilizar uma implantação progressiva de níveis mais elevados de redes de infra-estrutura pelos próprios moradores.

Para o perfeito desenvolvimento de cenários possíveis a partirdestas diretrizes, novamente deveríamos fazer uso do compu-tador para interpretar as combinações, a partir dos padrõessatisfatórios baseados nos existentes, entre tipologia de lotes,de programas habitacionais, de circulação e de infra-€strutura.Chegamos, no entanto, a desenvolver empiricamente quatrotipos básicos de quarteirão e três variações, baseados nos doispadrões médios identificados no assentamento existente, oquadrangular e o alongado. A tipologia que segue o 'padrãoquadrangular inclui um acesso de pedestres a seu interior, possi-bilitando maiores densidades e a distribuição de tipos de lotesde menor nível de infra-€strutura e valores diferenciados; afigura 1.16 mostra um dos tipos desenvolvidos

As altas densidades do conjunto existente e as característicasda utilização do solo que serão promovidas nas novas áreasfazem com que os espaços abertos sejam elementos vitaistanto física (elementos estruturadores fortes) quanto social-mente (concentração de interações). Pelas mesmas razõeseles deveriam promover os usos de seu entorno e respondera múltiplas utilizações. Neste sentido, servindo a diferentesrequisitos programáticos, como "áreas livres" e "escolas pri-márias"; neste caso as praças serviriam também como áreasde atividades das escolas. Outras diretrizes importantes sãorelativas à sua acessibilidade e localização, inter-relação como sistema de circulação, e promoção de identidades locais.

As barreiras físicas que identificamos em nossa análise con-formam elementos estruturadores básicos na Maré. As bar-

reiras externas agem na verdade como limil r. siI,malha formal e baía) e podem ser tratadc fi i P rtconferir maior identidade ao conjunto fav I do individuA-lidades dos seis assentamentos. As barreiras inl rn pod mser ultrapassadas com relativa facilidade, como om nl'lmanteriormente, e servem para o reforço das identid d dif-renciadas dos assentamentos. Além disto, ambos os tipode barreiras prestam-se à implantação de uma rede d sp-ços abertos de usos múltiplos.

v -Comentários Finais sobre oCenário Físico-Espacial

Nos capítulos anteriores vimos como é amplamente aceitaa concepção de assentamentos cuja estrutura possua umaclara organização no seu todo, de fácil imageabilidade, masque ainda assim mantenham níveis satisfatórios de identi-dade, variedade e complexidade em suas partes componen-

~Figura 1.17 - Perspectiva de um dos padrões de quarteirãodesenvolvidos; tipo quadrangular com acesso de pedestre apátio interno

Page 141: Introdução ao desenho urbano

teso A análise das características do conjunto da Maré ratificouesta importância e uma das diretrizes básicas gerais parauma intervenção de desenho urbano é, sem dúvida, reforçara coerência e a imagem do todo, enquanto promove a identi-dade das seis favelas, fazendo também com que as novasáreas urbanizadas se integrem ao desenvolvimento existente.

Os desenhos das figuras 1.17 a 1.19 representam um dospossíveis cenários de desenvolvimento alcançados atravésda implantação das diretrizes e padrões propostos. Comodissemos no início deste trabalho trata-se. apenas. de umexercício para testar as possibilidades do enfoque da "morfo-logia urbana", suas concepções teóricas e metodologia, parao desenvolvimento de possibilidades mais respeitosas docontexto existente, principalmente em suas dimensões físi-

mll<l"t\11.D ~Irt\ H'''' 'ulUlll (OU~~ll""'\

.<.<l"""'-lT....,.~~U':>: Ir." •• ,"Wllt."<"!O<J'IW<\

[3~"'1't

I .•••••.•..,l)\.oOCt.

I •••. ,T ll."U. )<~_

~ ::,,~~,.L«'lW'OOt.

cc~,,~to ~ •• ....,~ UJolo:.

, ••"'. \.,''''''''' • .,.,.,.,' •• 00-.1\ •••.•.•••)

~

""""L'''''''~O!'''-t.b ••••• , 00 """ ••.•• -,o.J,.OL

PIII~t liI4.~M.::~01~~\''''''....1

b ,,-ooJMI'Q'.--.•..........••. ,

P-.lJl\ TE.i~E.ip.", fÜBE.ip.o

Figura 1.18 - Esquema geral da estruturação do conjunto

1::\\ ', ." \\ \

Page 142: Introdução ao desenho urbano

co-€spacial e sócio-cultural, atendendo aos objetivos de per-formance de LYNCH (1981) e sem descuidar das necessi-dades programáticas. A seguir, alguns comentários sobreo cenário desenvolvido.

- utilização da via Marginal (linha paralela à Av. Brasil) comolimite assumido do assentamento e viabilizador de áreas re-creativas;

- reforço das principais vias de penetração e integração, atra-vés da circulação viária, concentração de usos comerciais,nós de atividades e localização de espaç0S abertos com finsvariados;

- aproveitamento dos dois canais existentes como elementosestruturais primários, reforçados por vias arteriais e localiza-ção de equipamentos públicos e áreas de lazer;

rI' /,/i. ' / rW""'Tio~i;"~ +,1.oAD_T'frf:.J.jr! /~,,,M "~,,

Figura 1.20 - Perspectiva de cenário ffsico-espacial da Praça Central, proposta para o fim da Rua Teixeira Ribeiro na áreade aterro: um lugar central do conjunto Maré celebrando a simbiose com aBafa

"'"TO" pp.,OPO";f.D "lU

LJ/JI'. iJlTH c.IT'ta .•vTE.I'., SKETCH

@

Page 143: Introdução ao desenho urbano

- iocalização dos elementos estruturadores primários, a níveldo conjunto Maré como finalização da principal via de penetra-ção, Av. Teixeira Ribeiro. Ali as estruturas conformariam umespaço simbólico que pudesse ser altamente significativopara o conjunto, representando a simbiose com a baía quemarcou a evolução do assentamento (fig. 1.20)

- a continuidade morfológica e de intensidade de desenvol-vimento entre as novas áreas e as existentes é garantidapela tipologia e padrões de quarteirões sugeridos;

- os equipamentos determinados pelas necessidades progra-máticas foram localizados, sempre que possível, em conjuntoe como viabilizadores de "lugares centrais" para cada assen-tamento;

- a concentração de usos não-residenciais, a tipologia viáriae de circulação pública reforçam a identidade dos assenta-mentos, respeitando seus limites.

- a área central do conjunto, hoje inexistente, aconteceriaa partir da nova Praça Central comentada acima e estariaconformada por volumes a serem detalhados, possivelmenteestruturas-suporte, respeitando-se: um arco celebrando aconfluência com a principal penetração desde a Av. Brasil,edificações interligadas com gabarito máximo de quatro pavi-mentos, pilotis obrigatório para continuidade visual e físicae ocupação informal/periódica por feiras. Neste conjunto esta-riam localizados as agências de serviços públicos, barlcos,centro comunitário com cinema, coreto, cooperativa de arte-sanato, sede da associação do conjunto Maré, escritóriostécnicos da Prefeitura, BNH etc. O modelo espacial destapraça é referência à tipologia presente em nossa cultura (p.e.Praça XV, Rio; Praça do Comércio, Lisboa);

- todas as atividades públicas sociais e educativas foram locali-zadas em cada assentamento de forma a compartir os espa-ços abertos com usos de lazer normais da comunidade;

- o pólo marcado à direita da via de integração, Av. Principal,reforça a estrutura geral do assentamento; sua implantaçãocomo Igreja matriz representa apenas uma possibilidade gera-da como resposta à listagem de reivindicações das comu-nidades;

- a pequena tábnca semi-abandonada, junto ao canal deParque União, teria suas atividades transferidas para terrenoindustrial próximo ao acesso da ilha universitária e suas insta-lações seriam recicladas como pólo central daquele assenta-mento, possibilitando a continuidade da via de integraçãocentral com a construção de uma ponte.

- o sistema de geração de subsídios cruzados é facilitadopela tipologia de quarteirões e ordenação das redes de circula-ção/infra-Bstrutura; é também viável através da reserva delotes estratégicos para alienação futura e dos dois pequenosdistritos industriais propostos;

- as áreas definidas programaticamente para os equipamen-tos públicos e comunitários são sempre realizadas em edifica-ções de vários pisos (máximo três) e compartilham áreaslivres a fim de obter a maior intensidade possível de usodo solo;

- as tipologias de quarteirão, lotes e vias permitem a máximautilização do solo, atingindo densidades semelhantes à favela-da. Embora sem podermos garantir a precisão de cálculo,partindo de um aterro estimado em 30,2 hectares junto aoconjunto Maré (vide figo 1.1). pelo menos 51% da área aterra-da seriam ocupados residencialmente, perfazendo quase 152mil m2; os outros 49% seriam ocupados pelos elementosestruturadores primários, vias, concessão de solo (distritoindustrial) etc.;

- os quarteirões compostos com casas sobre palafitas, ouseja, ao longo do tecido conector novo/existente, apresentamestrutura interna intermediária. A princípio, as áreas marginaissofreriam aterros que respeitassem a possibilidade de manu-tenção, em um primeiro momento, das estruturas existentes;

- supondo-se que as novas áreas fossem ocupadas apenascom uma residência em cada lote e tampouco considerandoa possibilidade de implantação de estruturas-suporte comapartamentos junto às principais vias, chegamos ao totalestimado de cerca de 1.750 novas unidades habitacionais;

- todas as necessidades programáticas foram respondidasem nosso cenário como, por exemplo, os requerimentosde creche pela demanda existente resultaram em um totalde 6.500 m2 construídos distribuídos pelos seis assentamen-tos.

Page 144: Introdução ao desenho urbano

Embora estudos e considerações de vários outros aspectosdevessem colaborar para a definição de uma intervençãoreal, como estudos profundos de comportamento e percep-ção ambienta!. por exemplo, acreditamos que comprovamosa aplicabilidade da análise morfológica para programas e proje-tos habitacionais em áreas faveladas ou novos conjuntos;em última instância, esta metodologia "per se" já gera resulta-dos físico-espaciais bem mais satisfatórios que os tradicio-nalmente adotados.

Page 145: Introdução ao desenho urbano
Page 146: Introdução ao desenho urbano

Anexo 2Desenho urbano e revitalização no bairro de Fells Point,

Baltimore, EUA*

o bairro histórico de Fells Point compõe uma "área de renova-ção" da cidade de Baltimore, estado de Maryland, costa lestedos EUA. O Departamento de Habitação e DesenvolvimentoComunitário (HCD; nível de Secretaria) da Prefeitura era oórgão responsável pelo planejamento e controle destas áreasdeclaradas de."renovação urbana", com plano regulador apro-vado pelo legislativo local. Por sua importância para o desen-volvimento da cidade, em especial de suas áreas mais cen-trais, estes planos e os territórios que abrangem, recebematenção especial daquele Executivo.

Em 1984, um trecho significativo de Fells Point. marginalao rio, encontrava-se ameaçado por intenções de desenvol-vimento de grupo empresarial, para o qual fomos delegadoscom a responsabilidade de compor estudos e proposta dedesenho urbano (1). A HCD contava àquela época apenascom "planners" em seus quadros, que geralmente não pos-suem embasamento físico-espacial para tarefa deste tipo (2).São os resultados desta experiência que colocamos em dis-cussão a seguir, principalmente à luz da implantação dasdiretrizes propostas e aprovadas pelo executivo e legislativolocal.

(1) Este trabalho foi desenvolvido durante o segundo semestre de1984,quando atuávamoscomo "visiting urbandesigner" no Departa-mento de Habitação e Desenvolvimento Comunitário·da Prefeiturade Baltimore, Maryland, através de bolsa de treinamento do progra-ma Companheiros das Américas.

(2) O termo, como vimos no Capítulo 2, refere-se geralmente agraduados em cursos universitáriosde "Planejamento" ou "EstudosUrbanos", de caráter generalista e de quatro anos de duração.

Desenvolvimento Urbano em Baltimore (3)Como sétima cidade norte-americana, Baltimore possui cercade 800 mil habitantes em seus limites urbanos e aproxima-damente dois milhões em sua área metropolitana de influên-cia direta. Fica a menos de uma hora de carro da capitaldo país, Washington, ao fundo da imensa baía de Chesa-peake, junto ao rio Potomac, na costa leste. Durante mUitotempo, a sua localização e o seu porto garantiram-lhe umasituação privilegiada na economia regional e nacional. atéque, suplantada pelo porto de Nova lorque, pelo novo perfilda economia após a II Grande Guerra e pelos novos estilosde vida suburbanos, Baltimore viu-se em grave declínio nosanos 50 (4). Evidentemente, o estado de suas áreas centraisrefletiam isto, com inúmeros armazéns e edificações subutili-zados ou abandonados, um porto ultrapassado, e uma cres-cente marginalização e empobrecimento de sua população.

(3) Paramaiores detalhes, ver DEL RIO 1985a.

(4) Baltimore é classificada como "cidade independente", ou seja,ela é toda urbana e não pode estender os seus limites territoriais.O êxodo da classe média e de importantes agentes econômicos,como os shopping-centers, para os subúrbios representam grandeesvaziamento tributário, pois localizam-se nos condados vizinhos.Diga:se, aliás, como complemento, que o planejamento regionalou metropolitano nos EUA é praticamente inexistente.

* Versãode "Making a Placeby the Waterfront: Fells Point, Baltimo-re", a ser publicado em URBAN DESIGN AND PRESERVATIONOUARTERLY, American Institute of Planners, Chicago; originadoem texto apresentado no 11 SEDUR e publicado in TURKIENICZ,B. & MALTA, M. (1986 org.). Agradecemos os comentários do arqui-teto Franz Vidor, ex-diretor da Division of Planning, Housing andCommunity Development, Baltimore. Registramos também a me-mória do saudoso amigo Carl Ruskin.

Page 147: Introdução ao desenho urbano

Em meados dos anos 50, um grupo de empresários locaisresolveu unir-se para enfrentar a decadência econômica efísica vigente, principalmente nas áreas centrais, promovendoum plano diretor junto à famosa firma consultora de DavidWallace. Este plano seria oferecido e encampado pela Prefei-tura, e nele incluía-se um primeiro e famoso projeto de renova-ção para a área central de negócios. Sob o nome de CharlesCenter, o projeto englobava uns 13 hectares e seu empreen-dimento, hoje, pode ser considerado um completo sucesso.No início de sua implantação, começo dos anos 60, ele obteveresultados imediatos e foi causador de importante "efeitodemonstração", como queriam os planejadores, espraiandoas possibilidades de sucesso deste tipo de revitalização eco-nômica para o resto da cidade. Entre os diversos fatoresessenciais para o sucesso, pode-se destacar o interesse dogrupo empresarial local, o espírito empresarial da Prefeitura,a conjunção de esforços entre o setor público e privado,e a qualidade do programa e do projeto de renovação. Neste,as garantias ficaram com a qualidade do desempenho doconjunto de novos edifícios, a mistura de usos, as plazaspúblicas centrais aos quarteirões criados, a preservação ereciclagem de cinco prédios históricos, tudo isto aliado àboa arquitetura. Ao "marketing" do programa de renovação,a nível nacional, a Prefeitura promoveu um concurso parao primeiro prédio a ser construído em Charles Center, ganhopor Mies Van der Rohe em 1961.

o sucesso deste plano, comprovando a possibilidade da dina-mização da economia local através da recuperação estruturalda área central, abriu caminho para uma série de outros pro-gramas e projetos de renovação e revitalização de carátergeral em Baltimore. Ainda em meados dos anos 60, a Prefei-tura iniciou o programa de renovação da Área Portuária interior(inner harbor), experiência exemplar em todo o mundo (videfigs 45 e 21).

Resultado de um planejamento bem integrado a longo prazo,estes programas seguem até hoje, seus processos abertosa novos "inputs" e somados a outros mais diversificadosem toda a cidade. A implementação da revitalização da cidadee de seu centro permitiu que Baltimore transformasse a suaimagem de decadente e feia; atualmente oferece alta quali-dade físico-espacial, um forte setor de comércio e serviços,e uma animada e atrativa mistura de usos recreativos, tornan-do-a um atrativo turístico regional e nacional. Em Inner Harbor,por exemplo, um conjunto de empreendimentos e atividadesvariadas garante que esta área renovada atraia uma totalidadeestimada de usuários superior à Disneylandia (vide figs. 45e 46). Uma multidão de visitantes ou trabalhadores da área

central flui diariamente aos dois pavilhões de restaurantes,comida e lojas (Harborplace), à torre World Trade Center (pro-jeto de I.M.PEI), ao Museu de Ciências e Planetário, ao centrode Convenções, aos novos hotéis, ao Aquário Nacional depremiadíssima arquitetura (com suas mais de oito mil espé-cies), às marinas públicas com barcos particulares e de pas-seio, aos jardins públicos e às inúmeras atividades de anima-ção (5)

Além de tudo isto, considere-se o bem-sucedido esforço deatrair novos moradores e empreendimentos habitacionais,principalmente de classe média e jovens profissionais. Ficou

(5) Sobre isto veja-se DEL RIO, V. (1986),"Riqueza Perceptiva naArquitetura: O Aquário Nacional de Baltimore", in Revista MODULOn? 91, Rio.

Page 148: Introdução ao desenho urbano

nacionalmente famoso o pioneiro programa de "urban ho-mesteading", aplicado pela primeira vez numa área junto aoInner Harbor, e que inspira programas similares até hoje.Consistia basicamente em oferecer casas deterioradas noestado (resultantes da ameaça de um grande projeto viárioestadual suspensol. para famílias que não tivessem outroimóvel na cidade, pelo preço simbólico de um dólar. Exigia-seapenas que os novos moradores recuperassem suas casasa um nível mínimo predeterminado num período de seis me-ses e que se comprometessem em não revender em doisanos, evitando a especulação exacerbada. A Prefeitura, alémde definir diretrizes de desenho para as fachadas voltadaspara os espaços públicos, oferecia um programa de financia-mento de materiais de construção. A área foi rapidamenterevitalizada e até uma antiga igreja abandonada, recicladaem apartamentos.

o enfoque integrado, a visão a longo prazo, os excelentesprofissionais envolvidos em todo o processo e a decisivacolaboração do setor privado geraram resultados e efeitos-De-

0'_ J4K~Figura 2.2 - A localização do bairro de Fells Point em relaçãoao centro e ao Inner Harbor

monstração contagiantes e de longo alcance (6). Baltimorejá foi recebedora de diversos prêmios nacionais pela quali-dade de seus empreendimentos urbanísticos e arquitetôni-coso Esta qualidade de desenho, aliada a uma visão não-Des-trutiva quanto à recuperação econômica e social urbana foramimportantes fatores no sucesso dos programas de revitali-zação das áreas centrais de Baltimore. A grande maioria estásatisfeita com os resultados: a Prefeitura com a atividadeeconômica e os novos impostos, o setor empresarial comos seus gordos lucros, a população com o patrimônio ambien-tal recuperado e os novos atrativos, e os visitantes com asdiversas atrações recreacionais. As outras cidades norte-ame-ricanas também, pelo exemplo muito bem-sucedido, umaesperança para fórmulas semelhantes de recuperação das"inner cities".

De todo este processo, um dos resultados mais importantesdeu-se no bairro de Fells Point, situado próximo ao InnerHarbor, ao longo do braço do Rio Patapsco (fig. 2.2). Osreflexos desta onda de revitalização, traduzidos principalmen-te na valorização do solo, tornaram necessária uma atuaçãode maior controle urbanístico para que o desenvolvimentoa se fazer sentir no bairro não fosse destrutivo com o seupatrimônio arquitetônico e ambienta!.

Assim como Baltimore, o bairro possui longa história comoimportante área portuária, por seus armazéns, antigos esta-leiros e fácil acesso à baía. Fundado como uma vila em 1763,Fells Point foi poupado do grande incêndio de Baltimore em1904e dos primeiros programas de renovação do Inner Har-bor. Ainda permanece como dos remanescentes exemplosde tecido e tipologias edilícias portuÁrias da cidade. Sua popu-lação residente é de origem diversa, com grandes gruposoriundos das imigrações da Itália, Grécia e Polônia do iníciodo século.

Os modernos imperativos para operação portuária, comoáreas de retaguarda para movimentação de carga e maiorescalados para atracação, fizeram com que seus "piers" e ve-lhas instalações viessem a ser ultrapassados. Atualmente,a infra-estrutura portuária apenas comporta a operação debarcos rebocadores, pequenos reparos e serviços menores.

(6) Neste processo teve importância especial o dinâmico PrefeitoWilliam D. Schaefer que, em 1984, iniciava o seu quarto mandatoconsecutivo, reeleito por maioria absoluta.

Page 149: Introdução ao desenho urbano

o setor industrial e de depósitos já foi bastante represen-tativo, em sua maioria instalações de médio e pequeno porte,exceto uma grande fábrica de produtos químicos, Allied Che-micals, já em declínio de operações e fadada a (etirar-sepela proximidade com o centro. Este local, inclusive, por si-tuar-se entre nossa área de intervenção e o Inner Harbor,é de grande interesse para o desenvolvimento (fig. 2.3). Estaspequenas indústrias e serviços mesclam-se com os usosresidenciais e grande variedade de pequeno comércio, con-centrado ao longo da Broadway, atraindo compradores dacidade por seu caráter multi-racial, oriundo dos imigrantese marinheiros. Algumas das antigas fábricas de enlatadosjá estavam sendo recicladas como condomínios residenciais,refletindo a demanda gerada por jovens profissionais e estu-dantes, num movimento de retorno às áreas centrais e rever-tendo o processo típico dos anos 60 e 70. Os inúmerosbares e restaurantes étnicos e o ambiente portuário típicoe histórico já vinham atraindo um bom número de visitantes,principalmente à noite e nos fins de semana. Fells Pointatrai por sua forte identidade, mescla de usos e rico patrimô-nio arquitetônico.

Em 1969 o bairro teve parte de seu território declarado DistritoHistórico nacional (fig. 2.3), o que na realidade significou muito

//

// / ACf.~?O1>( eAN:.O~

/ t.. P.é.'êOC.~DO~E.."7/

//

I,(

Figura 2.3 - Area central do bairro de Fells Point, sua área de"waterfront" e a área de intervenção

pouco no contexto institucional norte-americano, pois a decla-ração de interesse histórico não significa proteção contrademolição com recursos particulares. Além disto, não havialegislação normativa de âmbito local. Porém, como DistritoHistórico, a captação de financiamentos para recuperaçãode imóveis iria se tornar mais fácil, os proprietários tirandoproveito de incentivos tributários federais específicos parapreservação do patrimônio arquitetônico (7). Entretanto, osurto de desenvolvimento só viria ocorrer após afastada defi-nitivamente a construção de anéis rodoviários estaduais, queameaçavam diretamente uma grande faixa do bairro juntoao rio. Após sucessivas pressões das comunidades locaisaliadas à Prefeitura conseguiu-se que o governo estadualdesistisse das operações, sendo agora estudada a construçãode um túnel variante.

Logo após a Prefeitura contratou uma firma de consultoriapara estudo urbanístico de Fells Point, objetivando um planodiretor de desenvolvimento e regulamentos mais específicos,como o zoneamento e o guia de desenho urbano e de novasedificações (8). Apesar de entregue em março de 1977, pou-cas propostas do Plano SAUER foram efetivadas além dareurbanização do eixo principal de acesso ao bairro (Broad-way) e da renovação de dois pequenos mercados públicosali localizados. Àquela época já se previa um significativoincremento populacional para o bairro, baseado em demandasproJetadas para a cidade, totalizando 195.500 novas residên-cias na região para o período 76/85. Segundo estes estudos,em Fells Point deveria dar-se ênfase à reciclagem de suasestruturas e ao "infilling" (construir nos espaços intersticiaislivres existentes), com uso misto e de lazer, podendo totalizarcerca de 700 unidades residenciais até 1986. Concluiu-setambém na tendência do aumento dos empregos em serviços(white collar) e do comércio varejista.

Em outubro de 1975, ainda durante a elaboração do PlanoSAUER, a legislatura local aprovou um Plano de RenovaçãoUrbana para Fells Point, o que, em Baltimore, significa ummaior destaque do executivo ao controle do desenvolvimentoda área em questão, e sua priorização em programas setoriais.Originalmente aprovado como temporário, este Plano persis-

(7) Como vimos sobre as possibilidades de implementação do dese-nho urbano, as empresas que investem na recuperação de imóvelconsiderado de interesse histórico poderiam obter até 25% do valorinvestido como dedução do imposto de renda devido.

(8) Contratado por concorrência pública à firma Louis Sauer Archi-tects, da Filadélfia.

Page 150: Introdução ao desenho urbano

tiu; ele objetivava resultados a partir de uma colaboraçãoefetiva entre o poder público, empresários e comunidade,para manutenção da identidade do bairro, fortalecer o seucaráter histórico, dinamizar sua economia através da promo-ção de usos diversificados. A legislação então aprovada che-gava a detalhes edilícios como a identificação dos quatroprincipais períodos arquitetônicos locais e a recomendaçãode tipos de fachada para cada. Ela deixava, entretanto, algu-mas falhas por falta de melhor detalhamento, caso da faixamarginal ao rio, do maior interesse para o caráter local epara o prosseguimento do desenvolvimento de "waterfront"suscitado pelo Inner Harbor.

Em 1984, a aquisição de grandes áreas em Fells Point porum mesmo empresário, principalmente uma que englobavavários quarteirões e edificações históricas junto ao rio, susci-tava receios' quanto ao destino a ser-Ihes conferido, umavez todas elas situarem-se vantajosamente em relação à ex-pansão do desenvolvimento do Inner Harbor e do centrode negócios (figs. 2.3 e 2.4). Ignorava-se quais as intençõesdo empresário e, como dissemos acima, a legislação localdeixava algumas questões mal resolvidas na área ribeirinha,como não limitar gabarito para usos não-residenciais. Tam-pouco a legislação norte-americana, ao contrário da brasileira,prevê algo equivalente às faixas de marinha e à garantia doacesso público a praias, ou seja, o proprietário, na inexistênciade normas locais, poderia impedir totalmente o acesso físicoou visual do público às margens do rio.

Dois planejadores da Prefeitura já haviam feito um estudosobre a área mas a sua formação profissional impedia umavisão correta de desenho urbano ou uma maior consciênciados reflexos físico-espaciais acarretados pela legislação e no-vos projetos (9). O empresário já havia demolido todas asedificações por ele entendidas como "sem interesse históri-co", aumentando a inquietude sobre o destino das remanes-centes e do resto de sua propriedade, já cercada. Apenassabíamos que para a área ribeirinha ele intencionava empreen-dimento misto, com forte destinação recreativa e marinasparticulares. As edificações remanescentes, embora de gran-de significado histórico local, não estavam protegidas da de-molição e a população, diluída em várias entidades represen-

(9)Técnicos Amy Glorioso (planejadorado Departamento de Habita-çãoe Desenvolvimento Comunitário)e David Carrol(planejadorespe-cializado em desenvolvimento maritimo, Departamento de Planeja-mento).

tativas, mostrava-se bastante apreensiva com Ode tamanha intervenção.

Nosso trabalho foi definido, então, no sentido de des nv Iv( I

estudo e proposta de desenho urbano para a área rib irinhameaçada, de maneira que pudesse gerar diretrizes a s r meventualmente incorporadas à legislação existente ou mmo substituí-Ia naquele trecho. O "status" institucional dFells Point como área de renovação urbana e a urgência daquestão justificava um tratamento prioritário. O nosso estudopretendia constituir uma primeira abordagem da questão:um cenário de desenvolvimento para servir de base à discus-são entre o poder público, o empresário e a comunidade,as três principais partes interessadas no "jogo urbano" (10).

Portanto, pretendia-se atender aos três grupos de objetivosbásicos a seguir:

- implantar ligações físicas com a área renovada do InnerHarbor;

- implementar acessos e usos pC!':Jlicosao longo de todaa margem;

- maximizar as oportunidades econômicas e a arrecadaçãode impostos;

(10) Em recente trabalho SANTOS (1988) desenvolve a noção dacidade democrática comparando seu processo de desenvolvimentoa um jogo de cartas, de regras conhecidas pelos parceiros, queseria exatamente o aqui delineado.

Page 151: Introdução ao desenho urbano

- manutenção dos usos diversificados atuais sem conflitoscom o residencial;

- manutenção do caráter físico-ambiental, a escala e atipologia;

- manter uma boa imagem junto à clientela e comunidadelocal;

Embora muitas das exigências ou conceitos de projeto queviessem a ser feitos de imediato ao empresário pudessemnão ter amparo legal, por tradição a Prefeitura atuava emnegociações e acordos legais com empreendedores em bus-ca de melhores resultados para a cidade (vide Capítulo 6),No primeiro caso, ela poderia "dificultar a vida" do empreen-dimento, através da demora dos processos ou dos serviços,ou até colocar o empresário na lista negra de futuras concor-rências ou projetos. No segundo, acordos legais especifi-cariam as partes que cada um ficaria comprometido a fazer,em periodos de tempo também determinados. Entretanto,como foi comprovado com o desenrolar dos acontecimentos,acreditávamos que se a nossa proposta tivesse alguma quali-dade ela estaria na tentativa de resolver o "triângulo" daspartes interessadas, concedendo-Ihes o básico de seus inte-resses conciliáveis.

Exemplificamos o dinamismo do mercado imobiliário em FellsPoint, citando alguns dos empreendimentos residenciais emedificações recicladas. Devido às vantagens tributárias men-

cionadas, a reciclagem de velhos prédios no bairro estavacomeçando a acontecer quando do início de nosso trabalho,em 1984. Por exemplo, um prédio decõ (1870-1920). queservia como fábrica de enlatados, já estava sendo recicladopara abrigar 119 apartamentos, num investimento de aproxi-madamente seis milhões de dólares (Baltimore Sun, 23/9/84).Dois velhos prédios na esquina da Broadway com Thames,em frente à nossa área de intervenção, também já estavamsendo convertidos em um pequeno hotel. Atualmente, umdos empreendimentos deste tipo mais impressionantes éo Hendersons Wharf, localizado uns dois quarteirões maisa leste de nossa área na mesma margem do rio: um antigoprédio (1880) de seis andares que servia de depósitos foi

. reciclado para uso residencial, hotel e restaurante, eq,uipado

~1:Figura 2.4 - Foto aérea da área de intervenção, seus pters eas edificações a serem preservadas

Page 152: Introdução ao desenho urbano

com diversas marinas. No lançamento deste empreendimen-to de 21 milhões de dólares, os apartamentos estavam sendovendidos até por 700 mil dólares, um custo bem alto parao mercado da cidade (in Baltimore Magazine, agosto, 1988).

A área objeto de nossos estudos estendia-se ao longo detrês quarteirões e, por suas características e do tecido dobairro, foi tratada em quatro subáreas. As maiores determi-nantes do trabalho. evidentemente, seriam as edificaçõeshistóricas remanescentes e prestavam-se á preservação ereciclagem de uso, assim como o potencial para implantaçãode um sistema de espaços públicos. Em nosso trabalho,

~A,'f,A."iTo A\"AR€.AJTE.y,,'il .•.. o \"E.DE,>TRi

1 ?- - - - - - -,-fr, 1j Rt.,ibi..~(,iN..

1l('7i"[)t./JLiAt...

E.">t:,,,;TQp..iO<, /VA'RtJO

"+I"'M.E ..~ ~T.

Figura 2.5 {a, b, c} - Vista para a área de intervenção desdea esquina com a Broadway {a}, projeto do cenário dedesenvolvimento com a inserção das novas edificações {b}, eo estudo volumétrico do conjunto resultante {c: em cinza asedificações preservadas; note-se o recuo do último andarresguardando o gabarito aparente visto da rua}

utilizamos principalmente do estudo da morfologia e da paisa-gem (townscape) como características locais, como os per-cursos e corredores visuais dos pedestres, para obter simula-ções dos empreendimentos possíveis na área (tipologia,usos, volumetrias e estudos de plantas-baixa) (11).

Algumas das edificações em nossa proposta seriam destina-das ao uso residencial com comercial no térreo, principal-mente composto por bares e restaurantes. sempre cuidandoem promover a maior animação possível ao nível dos espaçoslivres e públicos, garantindo o seu sucesso (vide Capítulo5.4). Este foi o objetivo, por exemplo, das lojas no perímetroe o mercado público interno ao térreo do conjunto propostopara "infill" junto à Broadway (fig. 2.5). A morfologia geradaseria a definidora dos espaços livres pre/istos. em sua fluidez.como continuidade dos espaços construidos e não comoentidades independentes ou meros "jardins". As novas edifi-

(11) Vide Capítulo 5. Premissas teóricas principais em ROSSI 1966.CULLEN 1961 e LYNCH 1981.

Page 153: Introdução ao desenho urbano

cações e "infills" também deveriam seguir este conceitode tecido urbano, ao mesmo tempo em que respeitavamo caráter, a escala e as tipologias edilícias do bairro. Nisto,não haveria tentativa consciente de recriar uma "arquiteturavernacular", mas a busca de maior integração possível entreo novo e o existente (fig. 2.6).

Outro forte determinante em nossa proposta foi a neces-sidade de se consolidar os acessos públicos existentes e

fi '~;''''''' _ bFigura 2.6 (a, b, c) - Antigo armazém Jackson's Wart; construIdoem meados do século XIX (a) e um possivel cenário de suareciclagem para o uso comercial (b) com novos anexos evolumetria que garantem vistas desde os percursos de acessoprincipais à histórica Sugar House (reciclagem proposta emrestaurante) e à água (c)

promover novos, a area ribeirinha, aos piers e às marinas.Os acessos públicos de interligação da área ao Inner Harborforam priorizados, principalmente aquele ao longo do rio, as-sim como a proteção e promoção de corredores visuais àágua desde as ruas de acesso. Como o elemento "água"e as atividades a ele relacionadas eram tão importantes parao sucesso da intervenção, assim como para a manutençãodo próprio caráter do bairro, especial atenção foi concentradaem sua presença constante e utilização. Somava-se a istoo desejo de promover mais áreas livres de uso coletivo nacidade (fig 27)

As atividades relacionadas ao rio ainda seriam geradoras degrande dinamismo local, como nos tempos antigos, teriamagora outra natureza principal: o lazer. A concentração dasatividades aquáticas não-recreativas continuaria a acontecerna base do eixo da Broadway, onde estão o atual pie r dapolícia (pequenas avarias e apreensões) e o municipal, utiliza-do como centro de atracação de rebocadores e local de seusescritórios, cujo terraço é ocupado por centro comunitárioe quadra de esportes (ver extremidade superior da figo 2.4).A Prefeitura protegeria a manutenção destes serviços, garantindoa sua continuidade, vital para o próprio caráter de Fells Point.como vimos. Por isto, determinou-se um limite demarcatório paraa construção das marinas dos empreendimentos privados, garan-tindo fácil acesso das embarcações de serviço (12).

(12) Estudo desenvolvido por David Carrol, do Departamento dePlanejamento da Prefeitura.

Page 154: Introdução ao desenho urbano

Figura 2.7 (a, b) - Desde o City Pier, visões do conjunto e dedetalhe do cenário proposto para o desenvolvimento da subáreajunto à Broadway (vide figo 2.5); em cinza as edificaçõespreservadas (a) e no detalhe (b) um dos acessos ao mercadoproposto para a área central do térreo da nova edificação (àdireita, grupo de casas existente)

Um levantamento preliminar do potencial edificável e o exis-tente passível de reciclagem, em nossa proposta, demons·trou a viabilidade do empreendimento em termos de áreabruta negociável no mercado, num total de 71.347 m2 (fig.2.8). A estimativa quanto ao total de vagas de estaciona-mento, necessário ao empreendimento a partir deste cenáriode desenvolvimento e segundo a legislação geral da cidade,foi de 600 vagas. Decidiu-se não prever este número totalna própria área. mas complementada com um pequeno pré-dio-garagem. em propriedade do próprio empresário, a ape-nas meio quarteirão da área. considerando que a situação

novo reciclactoSubárea 1 e 2 33.738 16.600Subárea 3 233 11.829 12.062Subárea 4 3.971 4.976 8.947Total 37.942 33.405 71.347

Figura 2.8 - Tabela de áreas construldas no cenário proposto(,-n2}

buscada pelo conjunto proposto não considerava o sacrifíciode áreas livres como estacionamento e que o desconfortocausado aos usuários seria o mínimo possível.

Esta proposta de desenho urbano e sua implantação podeser agora melhor avaliada, já que se passou um período signifi-cativo de tempo desde a sua concepção e que trechos estãosendo efetivamente construídos. Acreditamos que o "paco-te" de desenho urbano que propusemos provou ser de quali-dade suficiente para as partes envolvidas no processo. Elepossuía evidentes vantagens em termos políticos, sócio-eul-turais e de desenvolvimento no sentido de fortalecer o bairrode Fells Point.

Dois meses após o seu começo. quando ainda tínhamosos esboços iniciais, obtivemos a aprovação final de sua con-cepção do Secretário do Departamento de Habitação e De-senvolvimento Comunitário que, como dissemos anterior-mente, é o órgão da Prefeitura administrador de todas asáreas de renovação de Baltimore. Logo depois a propostatambém foi aprovada pelo Prefeito. com a apresentação deuma grande maquete da área de projeto mostrando o exis-tente e as volumetrias máximas projetadas e demais urbaniza-ções. Na apresentação da proposta e da maquete para discus-são. em seção pública. ela também obteve sucesso total,uma vez que respondia aos anseios dos grupos comunitários(fig.2.9)

Os conceitos e as propostas ganharam apoio e peso suficien-tes a ponto de serem enviados à Cãmara Municipal, em formade adendos, à legislação vigente em Fells Point (Plano deRenovação Urbana) em julho de 1985. tendo sido aprovadose incorporados ao Plano em 1986. Este processo foi. na verda-

Page 155: Introdução ao desenho urbano

de, facilitado por problemas financeiros internos à empresainicialmente interessada no empreendimento. Desde então,as propriedades foram vendidas para uma "joint-venture"entre a Constellation Properties Inc. e a Historical Developersof Pennsv1vania Inc, que iniciaram empreendimento noBrowns Warf respeitando as novas diretrizes traçadas.

o empreendimento implantado construiu menos do que asdiretrizes e os "envelopes construtivos" que projetamos per-mitiriam; implantou-se, inclusive, um novo acesso para pe-destres através do volume construído (fig. 2.10). Comportarestaurantes do tipo "de calçada", lojas e escritórios nosandares superiores, o que deverá gerar bastante animaçãoem seus espaços públicos. Os resultados arquitetônicos fo-ram bem aceitos pela Prefeitura e público em geral. tantoem termos de revitalização e reciclagem dos antigos prédios,quanto em respeito à tipologia arquitetõnica local e ao entornoda área (fig. 2.11). Seu custo total foi de US$ 11,5 milhõese tem sido muito bem-sucedido desde a inauguração, emsetembro de 1988.

Infelizmente, o pequeno prédio decõ da ferrovia Comail, cons-tante como de preservação em nossa proposta original, nãofoi considerado de suficiente interesse histórico, e, não incluí-do nas diretrizes aprovadas, foi demolido. Em fins de 1988também ocorriam negociações entre a Prefeitura e o grupoempreendedor, que se encontrava resistente à reciclagemdo velho e masslvo prédio da Bond Street. constante emnossa proposta como para uso residencial e comercial (tér-reo). Alegavam duas razões para isto: os espaços intercolunase entre janelas eram muito estreitos, impossibilitando lavoutresidencial, e que não se poderia mais obter incentivos tributá-rios federais para seu aproveitamento como patrimõnio histó-rico-arquitetõnico. Os empreendedores solicitavam permis-são para demoli-Ia e construir uma nova edificação no lugar,com apenas 2/3 da altura do prédio existente e menos mas-siva, desde que pudessem obter consentimento para ultra-passar o permitido na mesma proporção, em terreno de suapropriedade em outro local.

Outro ponto de negociação era o propósito dos empreen-dedores de construir acessos de veículos em partes das áreasde "waterfront" previstas como espaços livres, aumentandoa linha de "cais" de 4,30 para 6,00 metros, em média. Esteitem dificilmente será aprovado até mesmo por ter reflexosbem mais complexos, envolvendo a própria navegabilidadee ecologia dos espaços fluviais. Os resultados deste processoainda estão por definir-se.

Figura 2.9 - Vista da maquete com o cenário de desenvolvimento,em cinza-escuro as edificações a serem preservadas: os piersrecuperados para uso público e os volumes das novasedificações respeitando os corredores visuais

Figura 2. 10 - O empreendimento implantado na área respeitouas diretrizes traça das e os regulamentos aprovados, tendo atéadotado novos elementos (por exemplo, novo acesso à linhade pier) e construido menos do que poderia

Outros itens relativos à implementação das propostas parao "waterfront" de Fells Point estão bem adiantados. O pie rda Broadwav Street. que era ocupado por uma pequena esta-ção de polícia marítima, foi recuperado e reurbanizado comoespaço público pela Prefeitura. A Thames Street também

Page 156: Introdução ao desenho urbano

Figura 2. 11 (a, b, c) - Vistas do empreendimento em 1988 ea integração do novo com as edificações antigas, recuperadase destinadas a novos usos; compare (a) com a figo 2.5 e (b)com a figo 2.7

foi totalmente recuperada em sua pavimentação e calçadasao longo de toda a área de nosso projeto. Em breve. a unidadeindustrial química da Allied Chemical, que se tornou um usoindustrial muito pesado para o local. será fechada e a suaárea receberá novo empreendimento. o que virá a permitira implementação do sistema de espaços públicos conectandoo Inner Harbor a Felis Point ao longo do rio. Finalmente,a área de projeto em Fells Point deverá receber em breveum sistema de marinas públicas para atracação de barcooparticulares com "parquímetros" e por temporada.

Deste estudo podemos tirar algumas conclusões sobre aefetividade de um enfoque de desenho urbano pragmáticoem lidar com o gerenciamento físico-ambiental de uma áreaexposta a consideráveis pressões para desenvolvimento. Osconceitos de desenho adotados em nossa proposta eramsimples e diretos sem. no entanto. subestimar sólida teoriae análises conceituais. principalmente do contexto político.Neste sentido. o estudo da morfologia da área e as análisesvisuais tipo "townscape" foram importantes. principalmentepor possibilitar a análise da manifestação concreta dos objeti-vos dos três grupos de interesse envolvidos. Particularmenteúteis foram os cenários de desenvolvimento e a simulação(inclusive a maquete) das possibilidades construtivas. comestudos de organização interna dos prédios. em obediênciaàs diretrizes traçadas.

Esta questão é crucial pois tanto políticos quanto adminis-tradores urbanos. ou mesmo o processo de planejamentousualmente existente na maioria das cidades, raramente en-tendem o meio ambiente construído como resultante de umprocesso dinâmico de apropriação de seus usuários. A esferaonde ocorrem as percepções e manifestam-se os valores,assim como as experiências cotidianas dos usuários. sãoconstantemente negligenciadas como fatores determinantesno desenho da dimensão pública urbana.

Também deveríamos salientar a importância de processosde planejamento e desenho urbano que contemplem médiose longos prazos de implementação. bem como a colaboraçãoconstante entre os setores público e privado, ambas atitudesjá tradicionais em Baltimore como pudemos comprovar. Oambiente urbano não pode ser palco exclusivo nem dos proje-tos grandiosos do poder público, nem dos projetos ganan-ciosos das forças de mercado. Ele deve se constituir de resul-tados de "acordos" ambientais publicamente expostos. de-batidos e aceitos: viabilidade econômica para os empresáriose os melhores resultados para as comunidades e público

Page 157: Introdução ao desenho urbano

usuário. Em um regime de representação democrática e eco-nomia capitalista. projetos que conciliam os objetivos dostrês setores básicos de interesse (comunidade. empresários.governo) potencialmente sempre serão ambientes urbanosde boa qualidade. Tentativas de extremo controle pelo poderpúblico ou a suposição de que a participação comunitáriapor si só irá gerar sempre bons resultados para o desenvol-vimento são. no mínimo. ingênuas e podem gerar resultadostão ruins como os produzidos pela especulação imobiliária.

Page 158: Introdução ao desenho urbano

Anexo 3Os projetos de estruturação urbana no processo de

planejamento: experiências recentes no RJ*

Não se pode negar que, de uma forma ou de outra, as grandesmetrópoles brasileiras possuem processos de planejamento.Eles estão, evidentemente, expostos a uma diversidade deconflitos intrínsecos e extrínsecos ao processo, de naturezasdiversas, desde a sistemática carência de recursos finan-ceiros e humanos, até a (cada vez mais sempre presente)influência eleitoreira nas decisões tomadas. De todo modo,os processos existem e estão institucionalizados, com equi-pes de profissionais bastante atuantes sempre que convo-cados. Esta afirmação é verdadeira para a cidade do Rio deJaneiro, cujas práticas de planejamento permeiam os diver-sos períodos políticos e se manifestam ao longo do tempo.

Neste sentido é que cabe situarmos concretamente, a partirde um caso específico de prática do Planejamento e do Dese-nho Urbano, o raciocínio que justifica este próprio livro. Alémde que a discussão desta experiência institucional nos permi-tirá fazer algumas considerações quanto: a dimensão espe-cífica de atuação do processo de desenho urbano. as metodo-logias possíveis de atuação e os procedimentos para imple-mentação.

A cidade do Rio de Janeiro apresenta uma estrutura urbanae um ambiente construído que espelham de maneira claraas diversas ações do Capital imobiliário; talvez mais clara-mente que outras cidades brasileiras por seu porte, suascondições geomorfológicas e a concentração de interessesao longo da sua história. Também são de fácil leitura osresultados das ações do Poder Municipal em tentativas decorreção de disfuncionalidades ou em apoio a interesses polí-

ticos e imobiliários. Nas últimas três décadas nosso sistemaeconômico-social não se preocupou apenas com racionali-zação dos usos do solo e maximização dos investimentosno urbano mas, inconsequentemente, tratou de transformara ocupação do solo urbano numa verdadeira forma de expan-são do Capital (OLIVEIRA 1979: 16).

Os planos urbanísticos existentes para o Rio demonstramisto. desde as famosas intervenções do Prefeito Pereira Pas-sos no início do século. passando pelo plano Doxiadis, atéo Plano Urbanístico Básico (PUB-Rio) de 1977 (BENCHIMOL1985, REZENDE 1982). Observa-se em todos eles. principal-mente em sua implantação. o privilégio aos interesses docapital e às ações setoriais.

Entretanto. ainda em período de "milagre econômico" e gran-de expansão do Capital imobiliário, com atuações altamenteespeculativas no desenvolvimento do solo urbano e com in-tervenções tecnocráticas setoriais (principalmente a enge-nharia de transporte), o PUB-Rio foi importante tentativa dese resgatar o planejamento global da cidade e retomar aatenção da dimensão físico-ambiental. Foi de certa formabem-sucedido pois. mesmo sem ter força de lei, gerou algunsinstrumentos e programas de atuação, servindo sempre co-mo referência para os técnicos da Prefeitura no seu cotidiano.

'Versão revista e ampliada de "Os Projetos de Estruturação Urbanano Processo de Planejamento", trabalho em co-autoria com LiliaVarella dos Santos e Lúcia Helena fontes. apresentado no 11Semi-nário de Desenho Urbano no Brasil. Brasília. setembro. 1986, e publi-cado na Revista Projeto n? 96, São Paulo, fevereiro, 1987.

Page 159: Introdução ao desenho urbano

Desde o começo do século, tendo sido instituído pelo PrefeitoPereira Passos, talvez o mais importante instrumento de regu-lação urbanística seja o Projeto Aprovado de Alinhamento,comumente chamado de PA. Estes, como se sabe, são insti-tuídos pelo Executivo Municipal e fixam projetos viários, re-cuos, gabaritos e outras condições especiais de edificação;são normalmente determinados por ruas. De importânciatambém são os Projetos Aprovados de Loteamento (PAU.

Na cidade existem milhares de PAs, para praticamente todasas ruas dos bairros mais importantes que, não raramente,possuem vários deles ao longo de sua extensão, ou até mes-mo, variando de lado a lado. Eles eram instituídos ou alteradospela antiga Secretaria Municipal de Obras de forma bastantecasuística, respondendo a interesses políticos, econômicosou até técnicos específicos, mas não a um planejamentoracional do uso do solo. Quando muito perseguiam uma lógicaligada à circulação viária. Mesmo assim, possuem elevadaimportância na organização física e funcional da cidade poisse impõem ao zoneamento que, teoricamente, era resultadode um trabalho maior da Secretaria Municipal de Planeja-mento.

Os regulamentos urbanísticos no Rio, até bem pouco tempo,eram ditados através de "decretos-leis" do Executivo, figuracontraditória inédita de legislação, após a Câmara Municipalter aprovado lei abrindo mão de sua própria prerrogativa deregulamentar o uso e a ocupação do solo. Assim, o Prefeitoe sua equipe "legislavam" sobre estas matérias sem qualquerparticipação da população, na verdade respondendo a interes-ses particulares políticos ou imobiliários. A partir daí come-çaram a surgir grandes problemáticas quanto à organizaçãoda cidade.

Em 1976 aprovou-se o famoso Decreto 322, um novo zonea-mento urbano, que passou a permitir em toda a cidade umgabarito de cinco pavimentos, para edificações encostadasnas divisas, e de 18 pavimentos para as afastadas. Apóseste decreto instituiu-se também a figura do embasamento(constituído de pavimentos de acesso, garagem e uso co-mum) que poderia ter área construída igual à do terreno,ou seja, 100% de ocupação do solo. Como a Área Totalde Edificação (ATE) das construções afastadas das divisastampouco é sujeita a controle, exceto quando fixado peloPA, estas novas condições implantadas fomentaram remem-bramentos dos lotes originais, incentivaram o adensamentoe privilegiaram o grande empresário: quanto maior a gleba,maior a possibilidade de construção e maior a margem delucro.

Um outro grande problema resultante deste Decreto era queo zoneamento tratava indistintamente de todas áreas da cida-de, ou seja, fomentava a mesma tipologia edilícia por todoo território, a despeito das morfologias e especificidades lo-cais. O Rio passou a ser objeto de uma homogeneizaçãofísico-€spacial sem precedentes (fig. 3.1). Qualidades urbanasindiscutíveis e tradicionais, como a variedade de formas eespaços, as relações entre o espaço público e o privado,e a identidade dos subcompartimentos (bairros ou "lugares")cederam lugar à repetição das mesmas fórmulas tecnocrá·ticas que possibilitavam a maior intensidade possível de áreaconstruída, seguindo a mesma tipologia monótona por todaa cidade.

Em termos de desenvolvimento, ainda em pleno "milagreeconômico", estas possibilidades, em conjunto com as ativi-dades especulativas fomentadas pelo sistema financeiro, faci-litaram um brusco aumento das atividades da construçãocivil. Dados da Prefeitura mostram que em Vila Isabel. porexemplo, bairro tradicional que foi objeto de investimentosdo Capital imobiliário para receber a classe média vinda desubúrbios ou a própria expansão tijucana, sofreu um aumentode quase 500% no número de "habite-se" concedidos emum período de apenas dois anos após a promulgação doDecreto 322.

O Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro,aprovado por decreto em outubro de 1977. coroou intenso

Page 160: Introdução ao desenho urbano

esforço de caracterização do Município e estabeleceu diretri-zes básicas para o desenvolvimento urbano. Era um planotentativamente integrado que plantava raízes para o melhorcontrole urbanístico e resultados ambientais. A cidade foidividida em seis Áreas de Planejamento (APs), que engloba-vam as tradicionais Regiões Administrativas e levavam emconsideração uma série de critérios físicos, sociais e econô-micos para a sua determinação, chamados compartimenta-dores. A idéia geradora era, inclusive, de partir para a divisãodo território em seis subprefeituras, descentralizando a admi-nistração municipal.

o PUB-Rio também definiu diretrizes para a elaboração poste-rior das políticas setoriais e criou um importante instrumentode Planejamento e Desenho Urbano, os Projetos de Estrutu-ração Urbana (PEUs). Estes, inicialmente, eram previstos paraáreas de centros e subcentros funcionais, áreas remanes-centes à execução de grandes obras públicas, como o Metrô,áreas de renovação, grandes vazios urbanos e áreas de expan-são periférica. Os PEUs tratariam de "definição de traçadosviários, padrões de uso do solo e planos de massa", sendoem sua intenção inicial o que se aproximaria de um planode Desenho Urbano.

Na trilha dos movimentos sociais urbanos e da necessidadede aumento da participação comunitária, junto ao encerra-mento de um trabalho de delimitação dos bairros, passou-sea tentar os PEUs por bairros, levando o Planejamento aonível da unidade urbana com identidades social e morfológicamais próximas à realidade do cotidiano das comunidades.Esta divisão, entretanto, não se mostrou prática nem viáveltecnicamente e, em 1983, estabeleceu-se 55 Unidades Espa-ciais de Planejamento (UEPs).

Menores que as APs mas englobando conjuntos de bairrosmais ou menos homogêneos entre si, definidos por comparti-mentadores ambientais, as UEPs viabilizariam a atuação deplanejamento da Prefeitura através de unidades técnicas embairros com analogias urbanísticas. A longo prazo previa-seque cada parte diferenciada da cidade tivesse o seu PEU,um plano com legislação urbanística específica, simplificadae de fácil consulta, consolidando os regulamentos de usoe ocupação do solo em substituição aos inúmeros decretos,PAs e PALs. Os PEUs poderiam, inclusive, segundo o ideali-zado na época, ser obtidos em edições baratas nas bancasde jornais locais para rápido acesso e pleno conhecimentoda população. O processo participativo estaria, assim, exce-dendo a elaboração do plano e permeando a sua implantação.

Na primeira administração Marcello Alencar, 1982/1986, aPrefeitura desenvolveu um projeto de Lei de Desenvolvimen-to Urbano que se encontra moribundo na Câmara Municipal.De enorme importância para definição dos objetivos de de-senvolvimento da cidade e até para fixação do próprio pro-cesso de planejamento, definindo, por exemplo, as formase os momentos para a participação comunitária, esta novalei deveria substituir a original de 1967, oriunda do antigoEstado da Guanabara, que não mais responde nem às neces-sidades de desenvolvimento e crescimento dinâmico da cida-de nem às exigências de uma democracia participativa navida urbana.

Mesmo sem ainda ter tido sucesso em sua aprovação, aPrefeitura vem desenvolvendo um trabalho com vistas aomacrozoneamento da cidade, a fim de definir diretrizes deocupação, densidades desejáveis, capacidades de infra-es-trutura, ocupação progressiva, e outras linhas gerais parao harmonioso desenvolvimento do território e sua população.A partir do macrozoneamento, os PEUs seriam elaboradose implantados para as UEPs ou bairros e áreas específicas.Destacamos a importância deste processo de planejamentoque viabilizaria uma definição de uma lógica de desenvol-vimento integrado da cidade, não mais tratando-a como umtodo homogêneo, mas reconhecendo suas compartimenta-ções e características locais. Fica evidente o importante papelque deve ser assumido pela Secretaria Municipal de Desen-volvimento Urbano (SMDU), herdeira das responsabilidadese ações para o planejamento urbano.

Como vimos, o conceito dos PEUs originou-se com umaconcepção ampla, em que objetivava um enfoque integradodo desenvolvimento físico-ambiental de uma área urbana dedimensões facilmente perceptíveis pelos cidadãos. Por diver-sas razões, entretanto, este enfoque amplo e integrado ja-mais foi conseguido e tem-se atuado, na prática, apenas emrevisões da legislação urbanística existente para as UEPsou bairros em questão: gabaritos, usos e ocupação do solo.Às vezes consegue-se também uma ação relativamente inte-grada com a circulação viária.

Vários motivos concorrem para esta situação. Em primeirolugar, a dificuldade de trabalho integrado entre os diversosórgãos e Secretarias de uma metrópole, às vezes com interes-ses políticos e prioridades até mesmo conflitantes. Segundo,a urgência de se rever a legislação urbanística face aos resulta-

Page 161: Introdução ao desenho urbano

dos de pressões dos diversos grupos de interesse, empre-sários ou moradores, e ameaças específicas de súbitas trans-formações. Terceiro, a limitada equipe de trabalho da Prefei-tura enfrenta a necessidade de se concentrar nos conflitosmais urgentes gerados por regulamentação urbanística falhae sob sua direta responsabilidade. Em 1979 deixou-se, inclu-sive, de utilizar-se da denominação PEU na implantação dosdecretos relativos aos trabalhos, por tratarem apenas de revi-sões do zoneamento existente.

Nos últimos anos, com a formação da Secretaria Municipalde Desenvolvimento Urbano (SMDU) em 1986, incorporandodiversos departamentos de várias Secretarias, sua equipebusca resgataro conceito amplo original dos PEUs. Já tem-seobtido, neste sentido, colaboração direta de órgãos de outrasSecretarias, a exemplo da Diretoria de Patrimônio Culturale Artístico da Secretaria Municipal de Cultura, e de órgãosde outras esferas políticas, como o Metrô. Espera-se queisso se torne uma praxe e que os trabalhos fiquem cadavez mais integrados obtendo, ao menos, recomendações in-tegradas em todas as áreas do desenvolvimento urbano forada responsabilidade direta da SM DU, ultrapassando o níveldos envolvimentos apenas por conhecimentos pessoais esimpatias. O resgate da concepção original dos PEUs, enfo-cando de forma integrada a qualidade físico-ambiental doespaço urbano, e a implementação deste processo de Plane-jamento significa a institucionalização consciente do DesenhoUrbano na administração municipal.

Logo após a publicação do PUB-Rio, ainda em 1977, elabo-rou-se e aprovou-se o primeiro PEU, para o bairro da Urca.O trabalho foi originado a partir de processo para alteraçãode ponto final de õnibus, das pressões imobiliárias que obairro vinha sofrendo depois da aprovação do citado Decreto322 e das manifestações da comunidade local. Embora jáexistisse uma portaria da Secretaria do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional (SPHAN) protegendo algumas áreas daUrca pela localização do Pão de Açúcar, o bairro tinha suascaracterísticas morfológicas, sua tipologia edilícia tradicionale sua identidade ameaçadas, particularmente por constru-ções em altura e fora dos padrões volumétricos locais (fig.3.2).

O PEU priorizou, então, a limitação dos gabaritos e impediuexcessivo adensamento, mesmo porque a Urca possui sériosproblemas de acessibilidade pelas condições de seu tecidourbano característico. Houve constante apoio da Associaçãode Moradores local que, inclusive e previsivelmente, possuíagrande número de associados militares. Infelizmente, a solu-

ção acabou por gerar problemas de outra ordem, típicos deintervenções urbanísticas deste caráter em um sistema capi-talista como o nosso, ou seja, uma excessiva valorizaçãodos imóveis da Urca, percebida pelo mercado como cadavez mais "exclusiva". Entretanto, a tradição de permanênciados antigos moradores ainda se manifesta e a área possuibaixa taxa de transformações sociais.

O segundo PEU realizado foi para a Ilha do Governador que,embora tivesse seus gabaritos controlados pelo Departamen-to de Aviação Civil da Aeronáutica, pelos cones de aproxi-mação dos diversos campos de pouso no Galeão, apresen-tava graves conflitos nos PAs e PALs, de uso do solo ede edificação devido às condições topográficas locais.

Em 1979, a partir de reivindicações da Associação de Mora-dores de Botafogo, da proximidade do fim do decreto decongelamento da faixa ao longo da linha do Metrô e dosresultados da intensa especulação imobiliária e adensamentodo bairro, elaborou-se mais um PEU, desta vez encomendadoao Instituto Municipal de Planejamento (IPLAN-Rio). Botafogosofria intensos processos de transformação firmando-se co-mo lugar de passagem e importante subcentro funcional dacidade. Isto se refletia nos corredores viários, na chegadade grandes firmas e escritórios comerciais, e no adensamentoda ocupação mais interior por edifícios residenciais para clas-se média (fig. 3.4).

Terminou-se por aprovar, já como lei ordinária municipal, enão como decreto, o regulamento de uso e ocupação dosolo para Botafogo, não mais tratado por PEU, mas como

Page 162: Introdução ao desenho urbano

simples revisão da regulamentação existente. A lei aprovadamostra-se diferente da proposta encaminhada, refletindo osdiversos grupos de interesse manifestando-se junto aos políti-cos locais. Foi, entretanto, conquistada uma situação parao desenvolvimento local significativamente superior à ante-rior, pois as condições de edificações e o uso do solo foramrevisados rua por rua. Curiosamente, logo em seguida, comoresposta às· pressões da população local aprovou-se um de-creto municipal de caráter bastante singular e original: deter-minou-se o uso para o lazer e as condições de ocupaçãode dois terrenos específicos visando a proteção das carênciaslocais e os interesses da comunidade organizada (a esquinadas ruas Voluntários da Pátria e Conde de Irajá, propriedadedo IAPS, e o antigo terreno do Botafogo, da Cia. Vale doRio Doce).

Um tradicional bairro carioca de encosta, Santa Teresa, tambémfoi motivo de controle urbanístico por lei municipal, identi-ficado como Área de Proteção Ambiental (APA) e tendo seuuso do solo e condições de ocupação definidos rua a rua.Destas definições têm resultado edificações mais adaptadasàs características volumétricas e topográficas locais, ao con-trário do que preconizava o Decreto 322 que regia o desenvol-vimento do bé)irro (fig. 35).

Nesta mesma linha, em 1984, as Associações de Moradoresde Santo Cristo, Saúde e Gamboa (cuja aliança tornou-seconhecida pela sigla SAGASL tradicionais bairros de encostajunto à Área Portuária, reivindicaram e conquistaram a prote-

ção através da instituição de uma APA por lei municipal,regulamentada através de decreto (Fontes, Coelho, Reis eNeves 1986). Em muito ajudou a atuação dos serviços depatrimônio histórico nacional e municipal, que já haviam pro-cedido ao tombamento do Morro de Santo Antônio (fig. 3.6).Talvez esta tenha sido a intervenção de preservação ambien-tal em área histórica mais importante no Rio de Janeiro, alémdo famoso Corredor Cultural, que trataremos adiante.

o trabalho nestes bairros denominou-se Projeto SAGAS, sen-do iniciado a partir de reivindicações para permanência dapopulação local. ameaçada progressivamente pela expansãodas funções centrais e valorização imobiliária. Já existia decre-to limitando o remembramento de lotes e o gabarito na área,entretanto, não havia sido prevista a expulsão dos moradoresoriginais pelas transformações de uso oriundas da proximi-dade da zona central, para usos comerciais, serviços e indús-trias de pequeno porte, como gráficas e oficinas. Em 1984logrou-se um decreto de tombamento temporário por umano, a fim de "congelar" o desenvolvimento na área do SA-GAS até o encerramento do projeto e definição das propostasde regulamentação. A promulgação da lei, em novembro de1985, veio proteger a população residente de expulsão porsúbitas valorizações do solo, limitando gabaritos, remembra-mentos e usos. Evidentemente, pelas condições sociais ede localização, não existe aqui a mesma ameaça de "valori-zação branca" encontrada na Urca.

Embora o trabalho tenha conseguido a revogação de todosos PAs que ameaçavam com intensas renovações e traçadosviários projetados totalmente alheios ao caráter daqueles bair-ros, até hoje não se conseguiu que sofressem um reestudointegral pela equipe de transportes do executivo. A legislaçãoatual já foi incorporada pela própria população e suas Associa-

Page 163: Introdução ao desenho urbano

-

;~p~k~~-~~- _-../, ~ ~~c--'-- p_-.~.=~~~~~~~:~~Figura 3.6 - Rua do Jogo da 80la e fortaleza do Morro daConceição, área tombada pelo património

çães, que agem como fiscais "ad-hoc" para sua plena implan-tação. A equipe da Prefeitura responsável pelo trabalho solici-tava, inclusive, a implantação de um escritório técnico localpara assistência constante, a exemplo do que existe no Corre-dor Cultural.

de revisão de sua legislação urbanística. Este antigo bairroaristocrático e residencial, ao longo dos anos, havia se trans-formado, em grande parte, em zona industrial e comercial,e suas residências sofriam um intenso processo de desvalo-rização. O início do trabalho obteve pouca participação dosmoradores, através de sua Associação, descrentes com oPoder Público; logo, porém, começaram a confiar na equipeda Prefeitura e a participar intensamente. A Associação, inclu-sive, com o decorrer do trabalho ganhou organização inter(1ae maior legitimação local. Os moradores entenderam a im-portância de um zoneamento ao perceberem que nos confli-tos ambientais existentes, de que tanto se queixavam, ouso residencial é que era "tolerado", sendo o industrial perfei-tamente "adequado" pela regulamentação em vigor. Nestetrabalho obteve-se boa integração com as equipes do Metrô,em relação ao sistema viário, e da Fundação Estadual deEngenharia do Meio Ambiente (FEEMA), quanto à poluiçãoambiental. O projeto tratou de recuperar o caráter residencialde algumas áreas de São Cristóvão, relembrando a sua heran-ça de bairro imperial, e de minorar os conflitos com os usosindustrial e de serviços (principalmente armazéns).

Finalmente cabe menção a dois PEUs em áreas de bastantesensitividade, embora por motivos diferentes, o Méier e aPenha. Ambos foram iniciados já dentro da nova adminis-tração municipal e da então recém-eriada Secretaria de De-senvolvimento Urbano, em 1986. O PEU para o Méier, cujaUnidade Espacial de Planejamento engloba o bairro de mes-

Page 164: Introdução ao desenho urbano

mo nome além dos de Lins do Vasconcelos, Todos os Santose Cachambi. O Méier é um bairro da Zona Norte extrema-mente dinãmico, relativamente bem equipado, mas que apre-senta graves conflitos em sua área central causados pelaorganização da circulação, da trama viária e da intensa utiliza-ção do solo.

As condições de edificação eram alheias às característicaslocais e a uma lógica de desenvolvimento global para o bairro,a infra-estrutura se encontrava precária, e existiam intensaspressões imobiliárias para transformações de uso. A áreacentral do Méier, onde os problemas se concentravam, éconsiderada o sexto Subcentro Funcional do Rio. Em termosde Desenho urbano, sua problemática se caracteriza basica-mente por servir de passagem quase obrigatória do fluxoveicular na direção Zona Norte-Centro, pelos conflitos decor-rentes de seu dinamismo econômico (viários, espaciais, cultu-rais e socíais), pela incompatibilidade entre tipologia edilíciae trama urbana, e pela enfraquecida identidade local.

CENTROI 'UNCIONA"(-)I·~.•••.Ii

Infelizmente, pelo desinteresse da Associação local, o traba-lho, não considerado prioritário, foi interrompido logo apósseu início, ainda durante a fase de levantamento de informa-ções. Tratava-se de desenvolver um novo procedimento nes-ta fase, com a participação do autor, aplicando metodologiasde análise de percepção ambiental como tentativa de identi-ficar elementos ambientais estruturadores e as imagens cole-tivas da população; comentaremos este procedimento meto-dológico mais adiante.

Os estudos para a Penha foram iniciados a partir de umaativa Associação de bairro que reivindicava maior proteçãopara sua única área verde de porte para o lazer, a limitaçãoda poluição causada pelo Cortume Carioca, e a proteção davisibilidade da famosa Igreja da Penha. A equipe tratou deuma revisão total do zoneamento e dos PAs do bairro. Osresultados foram muito bem-sucedidos, alcançando ótimoíndice de participação da comunidade local: a grande áreaverde já se encontrava protegida por decreto específico delimitação de uso e intensidade de ocupação, que foi incorpo-rado à nova legislação proposta, a distribuição dos usos noterritório foi revista, a atuação da FEEMA conseguida parao caso do Cortume, e, finalmente, a visibilidade da Igrejada Penha garantida através da limitação dos gabaritos máxi-mos em seu entorno.

Recentemente, durante a administração Saturnino Braga(1986/88), a SMDU priorizou sua atuação no sentido da recu-peração físico-Bspacial da área central Para tanto, propunha-se como objetivos básicos a reestruturação dos vazios e avalorização dos eixos principais, através de projetos especí-ficos, coordenação de órgãos setoriais e revisões da legisla-ção; as áreas prioritárias foram entendidas como as da CidadeNova, Esplanada de Santo Antonio e Praça XV (FERREIRAF. et aI. 1988). Embora estas propostas não tenham sidoconsideradas como PEUs, indubitavelmente visavam recu-perar algo da antiga lógica morfológica da cidade e da impor-tãncia de tratar-se as composições arquitetônicas enquantoverdadeiros conjuntos urbanos, o tratamento da questão comprocedimentos meramente arquitetônicos gerou uma exces-

Page 165: Introdução ao desenho urbano

siva atenção à dimensão físico-espacial, fazendo com quenem sempre se optasse pela melhor solução em termosde realidade sócio-econõmica, vivência cotidiana da popula-ção, circulação ou funcionalidades.

Por sua elevada importância no contexto carioca e nacional,comentamos em destaque o Projeto Corredor Cultural, em-bora remetamos às publicações existentes para maiores deta-

DARu. DE PRESERYAÇÁO I\MDIENTAl

~~~ O:;:SO:B:=~uç40J•••. YlNlOAS 0Uf AECf8ERÀO TRATAMENTO

AMBlf.NTAl E5f'f.CtAL

~ 'Figura 3. 11 (a, b) - Mapa dos eixos de estruturação do centroe o novo plano de ocupação para a Cidade Nova, 1987

Ihes (Carvalho 1983, IPLAN-Rio/Rio-Arte 1985, Pinheiro 1985).. O Corredor Cultural trata-se de "um projeto cultural com

efeitos urbanísticos e de um projeto de planejamento urbanocom objetivos culturais ... (onde) se integram técnicas dedesenho urbano, de preservação do patrimõnio cultural ede participação comunitária" (Carvalho 1983: 23).

Idéia originada ainda em 1979, a partir de trabalho do urbanistaAugusto Ivan Pinheiro, inspirava-se nos modelos de cidadeseuropéias almejando um programa amplo de preservaçãodo patrimônio construido e cultural do centro do Rio. Nãose limitava a meramente propor o tombamento de edificaçõesisoladas por seu valor arquitetõnico, mas entendia o valordo conjunto urbanístico em sua ambiência total. Aí está anovidade do enfoque desta intervenção pois, como a própriapublicação oficial da Prefeitura coloca, entende-se que "oresgate de referências sociais, culturais e arquitetõnicas éo ponto de partida de um processo de renovação que respeitea memória da cidade" (IPLAN-Rio/Rio-Arte 1985).

A princípio pensado como delimitado a um setor contínuono centro, a proposta do Corredor Cultural ampliou-se paracomportar quatro subáreas, diferenciadas tanto em suas ca-racterísticas urbanísticas quanto no tratamento de sua regula-

Page 166: Introdução ao desenho urbano

mentação: Praça XV, Lapa-Cinelândia, Largo de São Francisco(inclusive Rua da Carioca) e a área do SAARA (Sociedadede Amigos da Rua da Alfândega) (fig 3.12). O projeto ficoulogo em evidência devido a sua inquestionável importânciae ao enfrentamento dos grandes interesses econômicos emjogo: os antigos e pequenos comerciantes, mesmo os pou-cos moradores das áreas, viam-se sendo expulsos gradativa-mente pela valorização dos imóveis e pelo potencial de desen-volvimento dos terrenos em grandes edifícios e lojas de de-partamento, por exemplo. As pequenas atividades econô-micas, a multiplicidade e variedade de usos, característicasdo centro da cidade, com seu amálgama sócio-cultural. ten-diam a desaparecer junto com o patrimônio construído.

As reivindicaçôes das comunidade li adas à preservaçãoda área, como a atuante SARCA (So .I( dade Amigos da Ruada Carioca), respaldaram o Poder Muni ipal suficientementepara que, em 1983. a Prefeitura pass se à regulamentaçãodo projeto. inicialmente através de de reto. posteriormenteinstituído em lei ordinária. A lei que instituiu a área do Corredorcomo Zona Especial foi promulgada em janeiro de 1984. tendoseus limites sofrido expansão em 1988 para englobar o entor-no do atual restaurante Albamar. remanescente do antigomercado da Praça Quinze.

Destacam-se aqui alguns pontos importantes para o processode implantação e os significativos resultados obtidos. Primei-

,: ~1'M\ h MMtl€ EX\~ll:l\rt, ,,I

I

I

i ir-'~~'CON'\~txJ~CVL1U~~l/~IOAi>,1f_,JVl\\O ~989f~cw,1l> ?<1M AIJI/i'f..íMO NO QI.EDiO t\'2'O,~V~ !\k1U>, A\~""j()~-hto.". Db ~ruoul4o - O',(ACA ;?,09)EH!'\l:l: ~1101~

Figura 3_ 13 - Possibilidade de fachada para acréscimo frontal de edificação na Rua Buenos Aires, restabelecendo oalinhamento original da-rua; escritório técnico do Corredor Cultural -

Page 167: Introdução ao desenho urbano

f1itos de uso do solo e outros gerados pela regulamentaçãoexistente, limitações da equipe disponível e problemas oriun-dos à própria máquina administrativa, com excessiva buro-cracia entre seus inúmeros órgãos com diferentes orienta-ções e prioridades.

Quanto aos PEUs propriamente ditos, destacamos a impor-tância da retomada de seu conceito original amplo e a adoçãode territórios percebidos pela população como homogêneose relacionados entre si, às vezes não-compatíveis com o con·ceito das UEPs. O tratamento destes projetos como de Dese·nho Urbano faz necessária a participação integrada de diver-sos órgãos afins à problemática a ser tratada, comprome-tendo-se a implementar suas partes nas diretrizes e interven-ções definidas. Em relação a esta participação, a experiênciatem mostrado a facilidade e os bons resultados obtidos nostrabalhos em conjunto com certos órgãos, como os de Patri-mônio Histórico, talvez pela dificuldade que eles tenham emsua própria atuação individual.

Por outro lado, é junto aos órgãos responsáveis pela enge-nharia viária e de transportes que mais se tem falhado nestaintegração, talvez pela pouca claridade que sempre caracte-rizou este setor no Rio de Janeiro, com conflitos expressosaté na atuação das diferentes esferas de poder. Talvez coma recente criação da Secretaria Municipal de Transportes,em 1987, e a possível passagem de responsabilidades doDETRAN, consiga-se uma melhor definição para esta questãoespecífica.

Estas considerações não anulam a necessidade de se desen-volver um plano geral de Desenho Urbano para a cidadedo Rio de Janeiro, a ser incorporado no Plano de Desenvol-vimento Urbano Municipal. Este plano deve contemplar osobjetivos e conceitos gerais de Desenho Urbano a seremperseguidos e as imagens gerais e características físico-am-bientais que o contexto urbano deve almejar, definindo uma"cara", uma personalidade e uma riqueza de visualidade esignificados para as partes e para o todo da Cidade.

O tempo envolvido nos procedimentos relativos a um PEU,desde a sua elaboração até a implementação, de suas propostas,é de grande importância e não deve estar limitado segundoos critérios usuais. Como frisamos, cada PEU e sua unidadeespacial possui características e individualidades específicasque vão determinar procedimentos e tempos diferenciados.Isto deve incluir tanto o espaço para a necessária vivência decada realidade, quanto flexibilidade para diferentes modos de

participacão comunitária e possíveis oportunidades de amplia-ção de projetos durante sua própria implantação. Não se deveesquecer, porém, que o Desenho Urbano, por tratar de quali-dade físico-ambiental, possui tempos de implementação decurto-médio prazo, geralmente inferiores aos assumidos peloPlanejamento Urbano, e que a população espera ver resultadoscoerentes e concretos em pouco tempo.

Certas ações, entretanto, se destacam neste processo. Pri-meiro, para a feitura dos PEUs, impõe-se a revisão inicialde todos os PAs e PALs, em uma proposta global de Desenhopara todo o território de projeto. Em segundo lugar, verifica-mos ser vital que, se como primeira medida, se "congele"por decreto municipal o desenvolvimento da área do PEU,medida por tempo determinado para evitar que se inicie umbrusco processo especulativo e corrida de aprovação de proje-tos com os interesses imobiliários adiantando-se à ação doPoder Municipal.

A terceira ação destacada é a possibilidade de se decretar"zoneamentos pontuais", condições de uso e edificação paraterrenos específicos, dando oportunidade de ações emergen-ciais, garantindo os interesses da comunidade durante a ela-boração do PEU até a aprovação de uma regulamentaçãoglobal para o bairro. Este tipo de processo viabilizaria, inclu-sive, a prática da negociação entre o Poder Público, a comuni-dade local e os empresários interessados, em torno a "paco-tes" de projetos urbanos, como é comum em outros países.

A questão da capacidade de trabalho do Poder Público, frenteàs inúmeras áreas necessitadas de PEUs e às limitadas equi-pes disponíveis em seus quadros, poderia ser superada deforma descentralizadora e amoldando-se em um processopolítico mais democrático. A elaboração destes trabalhos po-deria ser repassada a escritórios liberais, através de concursospúblicos, em que talvez uma das exigências do edital fossea de a equipe possuir alguma ligação vivencial com a áreade projeto (poderiam participar escritórios ali localizados oucujos sócios ali residissem etc.) ou que montassem escritó-rios locais abertos ao público para o desenvolvimento dotrabalho. Estes escritórios contratados deveriam ter partici-pação multidisciplinar e seriam supervisionados pela equipemunicipal tendo, assim, potencial de maior dinamismo e"neutralidade".

Quanto à questão da participação comunitária, observamosas dificuldades de sua implementação, principalmente na mo-bilização da população para problemas decorridos de uso do

Page 168: Introdução ao desenho urbano

solo e de legislação urbanística, temáticas ainda não eviden-tes ao cidadão normal. Também surge aí a evidência de umnecessário trabalho constante de divulgação de nosso papele dos processos de desenvolvimento e administração da cida-de, possibilidades e limitações; os segredos da máquina ad-ministrativa, a democratização da informação e a definiçãodas responsabilidades.

Destacamos a importância do desenvolvimento de métodosde análise que possam identificar percepções, expectativas

Figura 3.16 - Apesar das dificuldades, identificar necessidadesdos grupos sem expressão política mas com muito significadona dimensão sócio-cultural de determinadas áreas, como é ocaso destes sobrados na Lapa, Rio

e valores da população, a fim de complementar o procparticipativo formal, a exemplo do questionário cit do p ro PEU do Méier. Por outro lado, como importantes ag ntda vida política urbana, em pleno, desenvolvimento, as Assoei·ções de Bairro podem e devem se aproveitar destas oportuni-dades para sua própria legitimação e fortalecimento interno.

As leis e regulamentações do desenvolvimento urbano nãodevem, entretanto, apenas insistirem na obrigatoriedade doPoder Público em obter a "participação comunitária", citandoa expressão como só o fato dela existir no corpo das normaslegais fosse a resposta. O Poder Público deve esclarecere regulamentar quais os processos participativos, definir opapel da éomunidade nos processos decisórios, estabelecerórgãos mistos e lidar com temas complexos como a questãodos níveis de representatividade, de poder e de responsa-bilidade nas diversas etapas da administração pública e imple-mentação dos planos, projetos e programas.

Finalmente, devemos levantar a questão da forma final queum PEU deveria tomar para ser implantado. A proposta origi-nal e a prática normal da Prefeitura até há pouco tempovinham sendo a de instituí-Ios por decreto do Executivo, tantopor ser a tradição de regulamentar o uso do solo na cidadequanto por sua praticidade. É evidente que ao permanecerexclusivamente nas mãos do executivo os projetos ficammais facilmente expostos a pressões econômicas e políticas,como era comum não há muito tempo no Rio de Janeiro.Nos últimos anos, com a ampliação das práticas democrá-ticas, estas iniciativas Játêm sido apresentadas como proje-to-lei à Câmara Municipal; algumas, como vimos, com bonsresultados, outras com alterações substanciais e pouco técni-cas por parte dos vereadores.

Entretanto, é evidente qu.e a Câmara Municipal é o fórumdos representantes mais direto da população e, como tal,tem o direito e o dever de atuar no controle do desenvol-vimento urbano, resguardados pela Constituição. De que for-ma e em que níveis são questões ainda não-definidas; talveznunca exista um modelo, pois cada cidade possui as suasespecificidades e os seus momentos políticos.

O que se deve tratar de instituir no Rio de Janeiro, para tanto,é uma lei maior, de caráter amplo, como uma Lei de Desenvol-vimento Urbano, amparando uma Lei de Macro-Zoneamento,que definiriam os grandes objetivos do desenvolvimento dacidade e as linhas gerais para sua implementação e funciona-mento da cidade. Atualmente (1989), o Plano Diretor da cidade

Page 169: Introdução ao desenho urbano

encontra-se em desenvolvimento na Prefeitura e espera-se queele venha a contemplar todas estas questões, viabilizando oseu detalhamento consequente. Continua a prevalecer a idéiade que os PEUs sejam instituídos através de decretos, emtoda extensão do território. Mas cabe indagar se estes nãodeveriam também ser objeto de leis municipais? Entretanto,como cada instrumento possui suas vantagens e desvantagens,talvez o ideal seja um processo misto em que num primeiromomento haja um decreto "congelando" a área, depois a apro-vação de uma lei simples de diretrizes locais gerais seguidade um decreto detalhado do PEU.

Page 170: Introdução ao desenho urbano

ABRAMS, Charles (1964) "Man's Struggle for Shelter inan Urbanizing World", M IT Press, Cambridge, MA.

ALEXANDER, Christopher (1965) "A City is not a Tree", inArchitectural Forum, abril/maio, Nova lorque.

ALEXANDER, Christopher et aI. (1977) "A Timeless Wayof Building", Oxford University Press, Oxford.

ALEXANDER, Christopher et aI. (1977) "A Pattern Langua-ge", Oxford University Press, Oxford.

- . (1987) "A New Theory of Urban Design", Oxford Uni-versity Press, Oxford.

ANDERSON, Stanford (1978) "Calles: Problemas de Estruc-tura y DiselÍo", Gustavo Gilli, Barcelona, 1981.

APPLEYARD, Donald (1976) "Planning a Pluralist City: Con-f1icting Realities in Ciudad Guayana", MIT Press,Cambridge, MA.

(org. 1979) "The Conservation of European Cities",MIT Press, Cambridge, MA.

(1980) "Why Buildings are Known: A Predictive Toolfor Architects and Planners" in BROADBENT, G.; BUNT,R. & LLORENS, T. (org. 1980); "Meaning and Beha-viour in the Built Environment", John Wiley, Londres.

- . (1981) "Livable Streets", University of California Press,Berkeley.

BibliografiaObservação: A data indicada entre parênteses refere-seao ano original de publicação do trabalho, enquanto o anoda edição consultada, se for o caso, aparece ao fim da citação.

APPLEYARD, Donald & JACOBS, Allan (1982) "Toward anUrban Design Manifesto", Working Paper n?384, Insti-tute of Urban and Regional Development. University ofCalifornia, Berkeley.

APPLEYARD, D.; LYNCH, K. & MYER, J. (1964) "The Viewfrom the Road", MIT Press, Cambridge, MA.

ARAUJO, Anete (1988) "Camillo Sitte: Um Precursor dosEstudos de Percepção Espacial7" in RUA ano 1 n? O,Revista de Arquitetura e Urbanismo, FAU/UniversidadeFederal da Bahia, Salvador, junho.

ATKINSON, Simon (1979) "Urban Design Education in Bri-tain", in GOODEY, B. (org. 1979).

AYMON INO, Carlo (1975) "EI Significado de Ia Ciudad",Blume Ediciones, Madri, 1981.

- . (1988) "Piazze d'ltalia: Progettare gli Spazi Aperti",Electa, Milão.

AYMONINO, Carlo et aI. (1970) "La Citta di Padova: Saggiodi Analisi Urbana", Officina Edizioni, Roma.

BACHELARD, Gaston (1958) "A Poética do Espaço", Eldora-do, Rio, sd.

BACON, Edmund (1967) "Design of Cities", Thames & Hud-son, Londres, 2~ed., 1974.

Page 171: Introdução ao desenho urbano

BAILLY, Antoine (1975) "l'Organization Urbaine: Theorieset Modeles", Centres de Recherche d'Urbanisme, Paris,

BAILLY, Antoine (1978) "la Percepcion dei Espacio Urba-no", Coleção Nuevo Urbanismo n~29, Instituto de Estu-dios de Administracion Local. Madri.

BARNETT, Jonathan (1982) "An Introduction to Urban De-sign" Harper & Row, Nova lorque.

(1987) "In the Public Interest: Design Guidelines" inArchitectural Record, Chicago, julho.

BARTHES, Roland (1970) "Semiologie et Urbanism in l'Ar-chitecture d' Aujoud Hui n~ 153, dec/1970/jan 1971 .

BATCHELOR, Peter & LEWIS, David (org. 1985) "Urban De-sign in Action", Student Publication Vol 29, School ofDeslgn, North Carolina State University.

BAUZER, Riva (1983) "Crescer Numa Cidade Grande: Per.cepções de um Grupo de Adolescentes Moradoresdo Rio de Janeiro", Nova Fronteira, Rio.

BAZANT, Jan (1983) "Manual de Critérios de Disefio Urba-no", Editorial Trillas, Mexico, DF.

BECKMAN, Norman (1964) "The Planner as a Bureaucrat"In FALUDI, A. (org. 1973).

BENCHIMOL, Jaime (1985) "A Modernização do Rio de Janei-ro" in BRENNA, G. (1985) "O Rio de Janeiro de PereiraPassos", Editora Index/PUC, Rio.

BENEVOLO, Leonardo (1985) "O Último Capítulo da Arqui-tetura Moderna", Martins Fontes, Lisboa.

BENTLEY, lan (1979) "The Urban Designer as SociallyConscious Developer", in GOODEY, B. (org. 1979 a).

BENTLEY, lan et ai. (1985) "Responsive Environments: AManual for Designers", Architectural Press, Londres.

BERNFELD, D, MAYERL, M. & MAYERL, R. (1980) "Archi·tecture et Urbanisme Participatifs: Experíences Fran-caises dans le Contexte Europeen", Fichier de Ia Parti-cipation n~3, CIEDART, Veneza.

BICCA, Briane et aI. (1986) "A Preservação do Espaço deBrasília: Diretrizes para a sua Área de Interesse Espe-cial", in TURKIENICZ & MALTA, 1986.

BIRKHOLZ, Lauro (1967)"0 Estudo do Planejamento Terri-torial", tese de cátedra, Faculdade de Arquitetura e Urba-nismo, Universidade de São Paulo.

BLAKE, Peter (1974) "Form Follows Fiasco: Why ModernArchitecture Hasn't Worked Out", Little Brown, Bos-tono

BLAY, Lineu (1982) "Percepção do Espaço Urbano: O Cen.tro de Curitiba", disstrtação de Mestrado, Instituto deGeociêncióls e Ciências Exatas, Universidade de Rio Cla-ro,

BONTA, Juan Pablo (1977) "Sistemas de Significación enArquitectura", Gustavo Gilli, Barcelona.

BRASILEIRO, Ana Maria (1981) "Políticas Sociais para ÁreasUrbanas Possibilidades" in DIN IZ, E, (org. 1981) "Polí-ticas Públicas para Áreas Urbanas: Dilemas e Alter·nativas", Zahar, Rio,

BROADBENT, Geoffrey (1980) "Architects and Their Sym-bois" , in Built Environment vol. n~ 1, London.

CAMINOS, Horacio & GGETHERT, Reinhard (1978) "Urbani·zation Primer", ~T Press, Cambridge, MA.

CANEDO, Maria Elisa& BIENENSTEIN, Regina (1984) "Pro-jeto Favela do Gato" in TURKIENICZ B. ,1984,

CANTE R, David (1977) "The Psychology of Place", Architec-tural Press, Londres.

CANTER, David & STRINGER, Peter (1975) "EnvironmentalInteraction", Surrey University Press, Londres.

CARDOSO, Adauto Lucio (1989) "Construindo a Utopia: Lu-cio Costa e o Pensamento Urbanístico no Brasil", InRevista Espaço & Debates n~27, São Paulo.

CA~ALHO, Maria Luisa (1983) "O Corredor Cultural" in Re-vista Móduto n~77, Rio.

Page 172: Introdução ao desenho urbano

CASTELLS, Manuel (1972) "la Question Urbaine", Mas-pero, Paris.

CASTEX, J. DEPAULE, J. & PANERAI, P. (1977) "FormesUrbaines: de 1'lIot a Ia Barre", Dunod, Paris.

CASTEX, Jean & PANERAI, Philippe (1970) "Notes sur IaStructure de l'Espace Urbaine", in l'Architecture d'Au·jourd'Hui n~ 153, Paris, dez/1970/jan/1971.

CAULI, Mihai (1982) "Reflexões sobre Planejamento e Dese-nho Urbano", in DEL RIO, V (1982)

CERDA, Idelfonso (1867) "Teoria General de Ia Urbaniza·cion": Editions du Seul, Paris, 1979.

CERVELATTI, Pier & SCANNAVINI, Roberto (1973) "Bolonia:Politica y Metodologia de Ia Restauración de CentrosHistoricos, Gustavo Gilli, Barcelona, 1976.

CHIAVARI, Maria Pace (1987) "Bolonha Anos 70: Uma Cidadeem Questão" in Arquitetura Revista n~5, FAU/UFRJ.

CHOAY, Françoise (1965) "EI Urbanismo: Utopias y Reali-dades", Editorial Lumen, Barcelona, 2~ed. 1976 .

. (1969) "The Modem City: Planning in the 19 th Centu-ry", Braziller, Nova lorque.

CITY OF SAN FRANCISCO/Dept. City Planning (sd.) "UrbanDesign: An Element o, the Master Plan o, the Cityand County o, San Francisco", mimeografado.

COELHO NETTO, J. Teixeira (1979) "A Construção do Sen-tido na Arquitetura", Perspectiva, São Paulo.

CONDE L. P, NOGUEIRA M., ALMADA M. & SOUZA E(1985) "Protomodernismo em Copacabana, uma Arqui-tetura que não está nos livros", in Arquitetura Revistavol. 3 n~3. FAU/UFRJ.

COSTONIS, John (1974) "Space Adrift: Saving Urban land-marks Through the Chicago Plan", University of IllinoisPress, Chicago.

CULLEN, Gordon (1961) "EI Paisage Urbano: Tratado deEstética Urbanística", Blume-Labor, Barcelona, 1974.

CURTIS, Ana Rosa B. & VELASQUES, lara F. (1986) "A P r·cepção Ambiental no Desenho Urbano" in TURKI NICZ& MALTA (org. 1986).

CUTLER, Lawrence & CUTLER, Sherry (1983) "RecyclingCities for People: TheUrban Design Process", VanNostrand-Reinhold, Nova larque.

DAVIDOFF, Paul (1965) "Advocacy and Pluralism in Planning"in Journal of the American Institute of Planners, Chi-cago, novembro, 1965.

DAVIDOFF, Paul & REINER, Thomas (1973) "A Choice Theoryin Planning" in FALUDI, A. (org. 1973).

DAVIDSON, Forbes & PAYNE, Geoffrey (1983) "Urban Pro-jects Manual: A Guide to Preparing Upgading andNew Development Projects Accessible to low Inco·me Groups", Liverpool Planning Manual 1, OverseasDevelopment Administration/Liverpool University Press,Liverpool.

DE ARCE, Rodrigo P. (1978) "Urban Transtormations & TheArchitecture of Additions" in Architectural Design vol.48, Londres.

DE WOLFE, Ivor (1963) "The Italian landscape", Architec-tural Press, Londres.

DEL RIO, Vicente (1981) "Against the Tide: Upgradingand Expanding a Favela" (Vols. I & 11), dissertação deMestrado, Joint Centre for Urban Design, Oxford Poly-technic, Oxford.

_. (org. 1982) "Desenho Urbano", Publicação n~9, NEPPAINPD, FAU/UFRJ.,

(1982 b) "Desenho Urbano Conceitos e Enfoques" inDEL RIO, V. (1982, org.).

(1982 c) "Habitação Pelo Povo: Uma Reação à CompletaFalência da Política Habitacional", resenha bibliográficain Revista Projeto n~45, São Paulo.

(1983) "Considerações sobre Produção de Habitaçõe Autonomia Local", in Revista Projeto n~56, São Paulo.

Page 173: Introdução ao desenho urbano

(1985 a) "Um Caso de Revitalização Urbana: Balti·more, EUA", relatório de pesquisa, programa de douto-ramento, FAU/USP.

(1985 b) "Urbanismo e Desenho Urbano: Para um Debatede Definições", anais do XII Congresso Brasileiro deArquitetos (Belo Horizonte). Revista Módulo Especial,Rio.

(1986) "Desenho Urbano para o Bairro de Fells Point.Baltimore, EUA" in TURKIENICZ & MALTA (org. 1986)

(1987) "Conceitos de Desenho Urbano", resenha biblio-gráfica do livro de GOSLlNG, D. & MAITLAND, B. (1984),in Revista Espaço e Debates n?21, São Paulo.

(1989 a) "0 Desenho Urbano no Processo de Planeja.mento: Origens, Definições e Metodologias", teseapresentada para concurso público de Professor Titular,FAU/UFRJ.

(1989 b) "Avaliação Pós-Ocupação", resenha bibliográ-fica, Revista Espaço & Debates n?26, Núcleo de EstudosRegionais e Urbanos, São Paulo.

(1990) "O Estudo da Cognlção Ambiental como Geradorade Dirétrizes para a Revitalização Urbana. O caso daÁrea Portuária do Rio de Janeiro", tese de doutoramento(em realização) FAUlUSP.

(sd.) (org) "Projetando Cidades: A Prática do DesenhoUrbano", coletânea inédita de textos originais.

DEL RIO, Vicente e PAYNE, Geoffrey (1983) "Desenho Urba-no para Melhoria e Crescimento de Um AssentamentoIlegal: Um Estudo em Caso de Desenvolvimento Infor-mal em Ancara, Turquia", In Revista Espaço & Debatesn° 9, São Paulo

DEL RIO V, SANTOS L. & FONTES, L. H. (1986) "Os Projetosde Estruturação Urbana no Processo de Planejamento",trabalho apresentado no II SEDUR, in Revista Projeton?96, São Paulo.

DONNELL Y, Dennis (1980) "Are We Satisfied wit HousingSatisfaction 7" in Built Environment. vol. 6 n?1, London,novembro.

DONNELL Y, Dennis (1980 b) "The Child in the Environment"in Built Environment", vol. 6 n? 1, Londres, novembro.

ECO, Humberto (1968) "A Estrutura Ausente", Coleção Es-tudos, Perspectiva, São Paulo, 3~ed., 1976.

EPSTEIN, David (1973) "Brasilia: Plan and Reality", Univer-sity Of California Press, Los Angeles.

FALUDI. Andreas (1973 org.) "A Reader in Planning lheo·ry", Pergamon Press, Oxford.

(1973) "What is Planning Theory", in FALUDI. A. (1973org.).

FAREBEE, Ann (1981 org.) "Education for Urban Design",anais do Seminário de Educadores em Desenho Urbano(maio 1981, Porto Rico). Institute for Urban Design, Novalorque.

FEFERMAN, Milton (1976) "Brasilia, lhe New Capital ofBrazil: lhe Dialetics of Economic and Social Use ofSpace in a New City", dissertação de Mestrado, MIT,Cambridge, MA.

FERRARA, Lucrecia D'Alessio (1988) "Ver a Cidade", Nobel,São Paulo.

FERREIRA F., MAGALHÃES S. e TOULOIS C (1988) "Centrodo Rio: Propostas da Secretaria Municipal de Desenvol-vimento Urbano", in Arquitetura Revista vol. 6, n? 6,FAU/UFRJ.

FONTES, L.; COELHO, M.; REIS, A & NEVES, M. (1986)"Preservação e Desenvolvimento: As Duas Faces deuma Moeda Urbana", in Revista do Patrimônio Histó·rico e Artístico Nacional n?21, Fundação Pró-Memória,SPHAN.

FORMA (s.d., c.1986) "Preparing Urban Design Guideli·nes", do FORMA, Newport Beach CA

FRAMPTON, Kenneth (1981) "Modern Architecture: A Cri·tical History", Thames & Hudson, Londres.

Page 174: Introdução ao desenho urbano

FRANCIS, Mark (1979) "Towards a Participatory Urban De-sign", in GOODEY, B. (org. 1979)

(1983) "Desenho Comunitário", in Revista Espaço eDebates ano VI vol. 3 n? 19, São Paulo, 1986.

FRANCIS M., CASHDAN L. & PAXSON, L. (1984) "Com-munity Open Spaces: Greening NeighborhoodsThrough Community Action and Land Conserva-tion", Island Press, Washington, De.

FUSCO, Renato de (1967) "Arquitectura como Mass-Me-dium: Notas para una Semiologia Arquitetonica",Anagrama, Barcelona, 1970.

GANS, Herbert (1968) "People and Plans", Basic Books,Nova lorque.

GASTAL, Alfredo (1984) "Desenho Urbano X Identidade Cul-tural", in TURKIEN-ICZ, B. (1984 org.).

GEBAUER, Maria Adriana (1980) "Making Cities: Towardsa Definition of a Unit of Growth", fotocopiado, disser-tação de Mestrado, Joint Centre for Urban Design, Ox-ford Polytechnic

GEH L, Jan (1980 a) "Life Between Buidings: Using PublicSpace", Van Nostrand-Reinhold, Nova lorque, 1987.

(1980 b) "The Residential Street Environment", in BuiltEnvironment vol. 6 n? 1, Londres.

(1989) "A Changing Street Life in a Changing Society",in PLACES vol. 6 n? 1, The Design History Foundation,Nova lorque.

GIBSON, James (1950) "La Percepcion dei Mundo Visual",Infinito, Buenos Aires, 1974.

GOODEY, Brian (1979 org.) "Five Papers on Urban Design",mimeografado, Joint Centre for Urban Design, OxfordPolytechnic, Oxford.

(1979) "Towards a Debate on Urban Design" in GOODEY,B. (1979 org.).

(1981) "Towards a Participatory Culture in the BuiltEnvironment", Conselho de Europa, Estrasburgo.

(1982 org.) "Research for Urban Design", mimeogra-fado, relatório de seminário patrocinado pelo SocialSciences Research Council (SSRC), Joint Centre for Ur-ban Design, Oxford Polytechnic.

(1985) "Participação, Percepção e Desenho Urbano"(org. V. dei Rio), Coleção Módulo-Universidade n? 1,Editora Avenir/Módulo, Rio.

GOODEY, B. & GOLD, J (1986) "Geografia do Comporta-mento e da Percepção", Publicação Especial n?3, De-partamento de Geografia, Instituto de Geociências,UFMG, Belo Horizonte.

(1987) "Environmental Perception: the Relationship withUrban Design", in Progress in Human Geography" vol.11 n? 1, Edward Amold, London, março.

GOODMAN, Robert (1971) "Despues de 105 UrbanistasQue?", Blume, Madri, 1977

GOSLlNG, David (1976) "Desenho Urbano", apostila mi-meografada, Curso de Mestrado em Planejamento Urba-no, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidadede Brasília.

GOSLlNG, David & MAITLAND, Barry (1984) "Urbanism",edição especial da Architectural Design Profile, ADPublications, Londres.

GOSLlNG, David & MAITLAND, Barry (1984 b) "Conceptsof Urban Design", Academy Editions/St. Martin'sPress, Londres.

GRAVES, Michael (org. 1979) "Roma Interrotta", Architec-tural Design Profile n?20, Londres.

GUSEVICH, Miriam (1986) "Meaning and Means in UrbanDesign: A Case Study in American Urbanism, South LaSalle St., Chicago" in Journal of Architectural Educa-tion, vol. 39 n?3, Washington.

GUTMAN, Robert (1972 org.) "People and Buildings", BasicBooks, Nova lorque.

Page 175: Introdução ao desenho urbano

HABRAKEN, N. (1962) "Soportes: Una Alternativa parael Alojamiento de Masa", Alberto Corazon, Madri,1975.

(1987) "The Control of Complexity, in Places vol. 4n~2, MIT Press, Cambridge, MA.

HALL, Edward (1966) "The Hidden Dimension", Doubleday,Nova lorque.

HALPERN, Kenneth (1978) "Downtown USA: Urban De·sign in Nine American Cities", Whitney Library of De-sign, Nova lorque

HARMS, Hans (1982) "Historical Perspectlves on the Practiceand Purpose of Self Help Housing", in WARD, P (org.1982)

HILLlER, Bill & HANSON, Juliet (1984) "The Social Logicof Space", Cambridge Univ. Press, Cambridge.

HOLLANDA, Frederico de (1975) "O Centro Urbano de Brasí-lia", In Monografias do Distrito Federal, mimeografadoDAU, Universidade de Brasilia.

IPLAN-Rio/Rio Arte (1985) "Como Recuperar, Construir ouPreservar o seu Imóvel no Corredor Cultural", Prefei-tura da Cidade do Rio de Janeiro.

JACOBS, Jane (1961) "The Death and Life of Great Ame-rican Cities", Pelican Books, Middlesex: 1974.

JENCKS, Charles (1973) "Modern Movements in Architec-ture", Penguin, Middlesex.

(1977) "The Language of Post-Modern Architecture",Academy Editions, Londres.

JENCKS, Charles & BAIRD, George (1969) "Meaning in Ar·chitecture", George Braziller, Nova lorque.

JOHNSON-MARSHALL, Percy (1966) "Renovacion de Ciu-dades", Instituto de Estudios de Administracion Local,Madri, 1979.

JOH NSON-MARSHALL, Percy and Associates (1978) "De-sign Briefing in Towns", mimeografado, relatório parao Departamento Escocês de Desenvolvimento, grupode estudos: D. Mackie & A. Methuen, Edinburgo.

KELLER, Suzanne (1968) "The Urban Neighborhood: A So-ciological Perspective", Random House, Nova lorque.

KOHLSDORF, Maria E. (1975) "Gestalt Urbana: Conside-rações Sobre os Espaços do Plano Piloto de Brasília",Monografias sobre o Distrito Federal, DAU/UnB, outu-bro.

(1979) "A Apreensão do Espaço Urbano: sobre aspossibilidades e limitações das técnicas de análisevisual, no caso de Barra das Garças", dissertação deMestrado, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Univer-sidade de Brasilia.

(1984) "Manual de Técnicas de Apreensão do EspaçoUrbano", mimeografado, DAU/UnB, setembro.

(1985) "Breve Histórico do Urbano como Campo Disci-plinar", in FARRET, Ricardo (1985 org:) - "O Espaçoda Cidade", Projeto Editora, São Paulo.

-' (1985 b) "As Imagens de Brasília", in PAVIANI, A. (org1985)

(1986) "Brasília a Nova Capital Revisitada", in DEL RIO(sd)

KRAFTA, Romulo (1986) "Desenho Urbano e Regulamen-tação Urbanística", in "TURKIENICZ & MALTA", 1986.

KRIER, Leon (1978) "The Blind Spot", in" Architectural De-sign" vol. 48 n~4, Londres.

KRIER, Rob (1975) "Urban Space", Academy editions, Lon-dres, 1979.

KRUGER, Mario & TURKIENICZ, Benamy (1986) "Mediçãoda Continuidade Espacial", in TURKIENICZ & MALTA(org. 1986)

LANG, Jon (1987) "Creating Architectural Theory: The Ro-le of the Behavioral Sciences in Environmental De-sign", Van Nostrand Reinhold, Nova lorque.

Page 176: Introdução ao desenho urbano

(1989) "Teaching Urban Design: The Penn Experience",mimeografado, trabalho apresentado no Encontro Nacio-nal sobre Ensino de Projeto Arquitetônico, UFRG, PortoAlegre, 10 a 13/10/89

LANG J, BURNETIE C, MOLESKI W. & VACON D. (org.1974) "Designing for Human Behavior: Architectureand the Behavioral Sciences", Mc Graw Hill/Dowden-Hutchinson-Ross, Stroudburg, PA.

LEE, Terence (1976) "Psicologia e Meio Ambiente", Zahar,Rio, 1977.

LERUP, Lars (1972) "Environmental and Behavioral Con-gruence as a Measure of Goodness in Public Space:the Case of Stockholm", in Ekistics n~ 204, Atenas,novembro.

LOBO, Durval (1964) "Parecer Aprovado pelo ConselhoFederal Relativo ao Exercício da Profissão de Urba-nista", mimeografado.

LOZANO, Eduardo (1974) "Visual Needs in the Urban Environ-ment", in Town Planning Review, vol. 45 n~4, outubro.

LUCAIN, Pierre (1981) "Art Urbain, Urban Design ou Urbani-té?", in Revista L'Architecture d'Aujourd'Hui n~ 217,Paris.

LYNCH, Kevin (1960) "The Image of the City", MIT Press,Cambridge (Massachusetts).

(1962) "Site Planning", MIT Press, Cambridge, MA,2~ed,1971.

(1972) "What Time is This Place", MIT Press, Cam-bridge, MA.

(1976) "Managing the Sense of a Region", MIT Press,Cambridge, MA.

-' (1979) "Teaching City Design", in GOODEY, B. (1979)org.)

(1981) "A Theory of Good City Form", MIT Press,Cambridge (Massachusetts).

MACEDO, Silvio S. (1986) "Os Espaços Livres de Edificaçãoe o Desenho da Paisagem Urbana", in TURKIENICZ& MALTA 1986.

MACHADO, Lia & MAGALHÃES, Themis (1985) "Imagensdo Espaço, Imagens da Vida", in Paviani, A.(org. 1985).

MACHADO, Lucy M.CP. (1988) "A Serra do Mar Paulista:Um Estudo de Paisagem Valorizada", tese de Douto-ramento, .Instituto de Geociências e Ciências Exatas,UnESP, Rio Claro

McLOUGHLlN, J. Brian (1969) "Planificacion Urban y Re-gional: Un Enfoque de Sistemas", Coleção Nuevo Ur-banismo n~ 4, Instituto de Estudios de AdministracionLocal, Madri, 2~ed., 1971.

MANGIN, W & TURNER, J (1968) "Barriada Movement",in Progressive Architecture n~5, maio.

MARICATIO, Erminia (org. 1979) "A Produção da Casa eda Cidade no Brasil Industrial", Paz e Terra, Rio.

MARTIN, Leslie & MARCH, Lionel (org. 1972) "Urban Spaceand Structures", Cambridge University Press, Londres.

MERLlN, Pierre (org. 1988) "Morphologie Urbaine et Par-cellaire", seminário de Arc-et-Senans (28 e29/10/1985), Presses Universitaires de Vincennes,Saint Denis.

MOORE, Gary (1979) "Estudos de Comportamento Ambien-tal", in SNYDER, J & CATANESE, A (org.) "Introduçãoà Arquitetura", Campus, Rio, 1984.

MOREIRA, A.; AMBROSIS, C; NOGUEIRA FILHO, D. & NET-TO, D. (1975) "O Solo Criado", Série Uso do Solo vol.4, Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Mu-nicipal (CEPAMl. São Paulo.

MORRIS, A. E. J. (1974) "The History of Urban Form",George Goodwin, 2~edição, Londres, 1979.

MOUDON, Anne Vernez (1986) "Built for Change: Neigh-borhood Architecture in San Francisco", MIT Press,Cambridge, MA.

Page 177: Introdução ao desenho urbano

MUNFORD, Lewis (1961) "The City in History: Its Origins,Its Transformations and Its Prospects", Harcourt/Bra-ce/Jovanovich Inc., Nova lorque.

NEWMAN, Oscar (1972) "Defensible Space: People andDesign in the Violent City", Macmillan, Nova lorque.

NISHIKAWA, Ayako (1986) "O Espaço da Rua Articuladoao Entorno Habitacional",in TURKIENICZ & MALTA,1986.

NORBERG-SCHULZ, Christian (1971) "Existence, Spaceand Architecture", Studio Vista, Londres.

(1965) "Intentions in Architecture", MIT Press, Cam-bridge, MA, 1981.

(1979) "Genius Loci: Towards a Phenomenology ofArchitecture", Academy Editions, Londres, 1980.

OLIVEIRA, Francisco (1979) "Prefácio" in MARICATTO, E.(org.1979).

OLIVEIRA. Livia de (1983) "A Percepção da Qualidade Am-biental", in A Ação do Homem e a Qualidade Ambien-tal, AGEO e Câmara Municipal de Rio Claro, São Paulo.

PANERAI, P; DEPAULE, J.; DEMORGON, M. & VEYRAN-CHE, M. (1980) "Elements d'Analyse Urbaines", Archi-ves d'Architecture Moderne, Bruxelas.

PAVIANI, Aldo (arg. 1985) "Brasília, Ideologia e Ri'lalidade:Espaço Urbano em Questão", Projeto, São Paulo.

PAYNE, Geoffrey (1976) "Urban Housing in the ThirdWorld", John Wiley, Londres.

-. (org. 1984) "Low Income Housing in the DevelopingWorld: The Role of Sites and Services and Settle-ment Upgrading". John Wiley & Sons, Londres.

PEATTIE, Lisa (1972) "The View From the Barrio", Univer-sity of M ichigan Press, Ann Arbar.

PFEIFFER, Toni H. (1980) "Behaviar and Interaction in BuiltSpace", in Built Environment vol. 6 n? 1, Londres, no-vembro.

PERIN, Constance (1970) "With Man in Mind", MIT Press,Cambridge, MA.

PERLMAN, Janice (1976) "O Mito da Marginalidade: Fave-las e Política no Rio de Janeiro", Paz e Terra, Rio,1977.

PIAGET, Jean et aI. (1963) "Traité de Psychologie Experi-mentale: La Perception", Presses Universitaires deFrances, Paris.

PINHEIRO, Augusto Ivan de F. (1985) "Corredor Cultural,Um Projeto de Preservação para o Centro do Rio deJaneiro", in TURKIENICZ & MALTA (org. 1985).

PORPHYRIOS, Demetri (org. 1984) "Leon Krier: Houses,Palaces, Cities". Architectural Design Profile, AD Edi-tions, Londres.

PORTOGH ESI, Paolo (1985) "Depois da Arquitetura Mo-derna", Martins Fontes, Lisboa.

PRAK, Niels (1977) "The Visual Perception of the BuiltEnvironment", Delft University Press.

PREISER, W, RABINOWITZ, H. & WHITE, E. (1987) "PostOccupancy Evaluation", Van Nostrand-Reinhold, Novalorque.

PRESSMAN, J. & WILDAVSKY, A. (1973) "Implementation:How great Expectations in Washington are Dashedin Oakland", UnoCalifornia Press, Berkeley, 2~ed., 1979.

PRINZ, Dieter (1980) "Planificación y Configuración Urba-na", Gustavo Gilli, Barcelona, 1983.

RABINOWITZ, Harvey (1969) "Avaliação Pós-Ocupação", inSNYDER, J. & CATANESE, A. (org.) "Introdução à Ar-quitetura", Campus, Rio.

RAPOPORT, Amos (1967) "Whose Meaning in Architectu-re7", in Interbuild/Arena, Londres, outubro.

(1969) "House, Form and Culture", Prentice Hall, Engle-wood Clifs, NJ.

(1977) "Human Aspects of Urban Form", PergamonPress, Oxford.

Page 178: Introdução ao desenho urbano

-. (1983) "The Meaning of the Built Environment: A Non-verbal Communication Approach", Sage, BeverlyHills.

RAPOPORT, Amos & KANTOR, Robert (1967) "Complexityand Ambiguity , in Environmental Design", in AmericanInstitute of Planners Journal, vol. 33 n~4, julho.

REINACH, Henrique (1985) "Projeto Vila Nova Cachoeirinha:Construção Habitacional por Ajuda Mútua", in RevistaEspaço & Debates n~ 14, São Paulo.

RELPH, Edward (1976) "Place and Placelessness", Pion,Londres.

REZENDE, Vera (1982) "Planejamento Urbano e Ideologia:Quatro Planos para a Cidade do Rio de Janeiro",Civilização Brasileira, Rio.

RODRIGUES, Ferdinando (1986) "Desenho Urbano: Cabe-ça, Campo e Prancheta", Projeto, São Paulo.

ROSETI, Claudio (1985) "11Progetto de lia Piazza", GangemiEditore, Roma.

ROSSI, Aldo (1966) "The Architecture of the City", Opposi-tions Books, MIT Press, Cambridge, MA, 1982.

ROWE, Colin & KOETTER, Fred (1978) "Collage City". MITPress, Cambridge, MA.

RUDOWSKI, Bernard (1964) "Arquitectura sin Arquitec-tos", Editorial Universitária, Buenos Aires, 2~ed., 1976.

SAMPAIO, Antonio H. (1986) "Desenho Urbano: IndagaçõesCríticas", in TURKIENICZ & MALTA, 1986.

SAMUELS, Ivor (c.1986) "Urban Morphology in DevelopedCountries", mimeografado, Joint Centre for Urban De-sign, Oxford Polytechnic.

(1987) "O Desenho Urbano e a Questão da Qualidadedas Cidades", apostila organizada de palestra, DAU/Uni-versidade Estadual de Londrina.

SANOFF, Henri (1974) "Measuring Attributes in the VisualEnvironment". in LANG, J. et aI. (org. 1974).

SANTOS, Carlos N. F. (coord. 1981) "Quando a Rua ViraCasa", Projeto Editora/FINEP/IBAM, Rio, 1985.

SANTOS, Carlos N. F. (1981) "Movimentos Urbanos doRio de Janeiro", Zahar Editares, Rio.

-' (1986) "A Cidade Como Se Fosse Um Jogo de Cartas",in TURKIENICZ & MALTA, 1986.

-' (1988) "A Cidade Como Um Jogo de Cartas", Editorada Universidade Federal Fluminense/PROJETO Editora,Niterói/São Paulo.

SAUNDERS, Peter (1979) "Urban Politics: A SociologicalInterpretation", Penguin, Middlesex.

SCHUMACHER, E. F. (1973)"Small is Beautiful: Economicsas if People Mattered", Harper and Row, Nova lorque,1975.

SCOTT, Mel (1969) "American City Planning Since 1890",University of California Press, Berkeley, 1971.

SENNETT, Richard (1970) "The Uses of Disorder: PersonalIdentity and City Life", Alfred Knoff, Nova lorque.

SERRA, Geraldo e ORNSTEIN, Silvia (1989) "Avaliação Pós-Uso", Anais do seminário realizado pela FAU/USP.

SHERMAYEFF, S. & ALEXANDER, C (1963) "Communityand Privacy", Doubleday, Nova lorque.

SHIRVANI. Hamid (1985) "The Urban Design Process", VanNostrand Reinhold, Nova larque.

SILVA, Nelson S. & REGO, Maria Elizabeth P. (1986) "UsinaHidroelétrica Itá: Relocação da Sede Municipal de ItálProjeto Urbano e Arquitetõnico", in TURKIENICZ B. &MALTA M., 1986.

SILVEIRA, lone & VASCONCELOS, Virginia (1984) "Repen-sando o Urbanismo", in TURKIENICZ, B. (org. 1984).

SIMMIE, James (1974) "Citizens in Conflict: The Sociologyof Town Planning", Hutchingson, Londres.

Page 179: Introdução ao desenho urbano

SITIE, Camilo (1889) "Construccion de Ciudades SegunPrincipios Artísticos", in COLLlNS, G. & COLLlNS, C."Camilo Sitte y el Nacimiento dei Urbanismo Moder-no", Gustavo Gilli, Barcelona, 1980.

SKINNER, B. F (1953) "Ciência e Comportamento Huma-no", Martins Fontes, São Paulo, 7~edição, 1989.

SOMMER, Robert (1969) "Espaço Pessoal: As Bases Com-portamentais de Projetos e Planejamentos", ColeçãoCiências do Comportamento, Editora Pedagógica Univer-sitária/Editora da USP, São Paulo, 1973.

(1983) "Social Design: Creating Buildings with Peoplein Mind", Prentice Hall, Englewood C1iffs, NJ

SPREIREGEN, Paul (1965) "Compendio de ArquitecturaUrbana", Gustavo Gilli, Barcelona, 1973.

STEIWTZ, Carl (1968) "Meaning and the Congruence of UrbanForm and Activity", in American Institute of PlannersJournal, Chicago, julho.

TANGHE, J; VLAEMINCK, S & BERGOEF, J. (1984) "LivingCities: A Case for Urbanism and Guidelines for Reur-banization", Pergamon Press, Oxford.

TENNENBAUM, Robert (1986) "The Art and Business of Ur-ban Design: Market Center in Baltimore", in DEL RIO(sd).

TRANCIK, Roger (1986) "Finding Lost Space: Theories ofUrban Design", Van Nostrand-Reinhold, Nova lorque.

TRIEB, Michael (1986) "Urban Design Practice: from Hanses-tadt Lubeck to the Black Forrest Village", in DEL RIO(sd).

TRINTA, Aluisio R. (1983) "Arquitetura da Semiótica e Semió-tica da Arquitetura", in Arquitetura Revista n~ 1, FAU/UFRJ. .

TUAN, Yi-Fu (1974) "Topofilia: Um Estudo da Percepção.Atitudes e Valores do Meio Ambiente", Difel, SãoPaulo, 1980.

- . (1977) "Space and Place: The Perspective of Expe-rience", Edwards Arnold, Londres. .

TURKIENICZ, Benamy (org. 1984) "Desenho Urbano", Anaisdo I Seminário de Desenho Urbano no Brasil, CadernosBrasileiros de Arquitetura vols. 12/13/14, Projeto, SãoPaulo.

(1984) "A Forma da Cidade: Agenda para um Debate",in TURKIENICZ, B. (org. 1984).

TURKIENICZ, B. & MALTA, M. (org. 1986) "Desenho Urba-no", Anais do II SEDU R, Editora Pini, São Paulo.

TURKIENICZ, Benamy et ai. (1986) "As Dimensões Morfoló-gicas do Processo de Urbanização: Uma Possível (e ne-cessária) Metodologia de Pesquisa", in TURKIENICZ, B.& MALTA, M. (org. 1985).

TURNER, John (1976) "Housing by People: Towards Auto-nomy in Building Environments", Marion Boyars, Lon-dres.

(1982) "Issues in Self-Help and Self-Managed Housing",in WARD, P. (org. 1982).

TURNER, J. & FICHTER, R. (org. 1972) "Freedom to Build:Dweller Control of the Housing Process", MacMillan,Nova lorque.

UNWIN, Raymond (1909) "La Practica dei Urbanismo: UnaIntroducion ai Arte de Projectar Ciudades y Barrios",Gustavo Gilli, Barcelona, 1984.

VALLADARES, Lícia do P. (1978) "Passa-se uma Casa: Aná-lise do Programa de Remoção de Favelas do Rio deJaneiro", Zahar, Rio, 2~ed., 1980.

(org. 1979) "Habitação em Questão", Zahar Editores,Rio.

VENTURI, Robert (1966) "Complexity and Ambiguity inArchitecture", The Museum of Modern Art, Nova lor-que.

VENTURI, R.; IZENOUR, S. & SCOTI-BROWN, D. (1972)"Learning from Las Vegas", MIT Press, Cambridge,MA.

Page 180: Introdução ao desenho urbano

WAL TER, Eugene V. (1988) "Placeways: A Theory of theHuman Environment", The University of North CarolinaPress, Chapel Hill Ne.

WARD, Peter (org. 1982) "Self Help Housing: A Critique",Mansell, Londres.

WHISTLER, William & REED, David (1977) "Townscape asa Philosophy of Urban Design", mimeografado, Fa-culty of Architecture and Town Planning, Oxford Polv-technic, junho.

WHITE, William H. (1980)"The Social Life of Small UrbanSpaces", The Conservation FoundatlOn, Washington De.

WHITEHAND, John W. (1977) "The Basis for an Historico-Geographical Theory of Urban Form", in Transactionsof the Institute of British: Geographers", vol. 2 n?3, Londres.

- (1987) "The Changing Faces of Cities: A Study of Deve-lopment Cycles and Urban Form", Blackwell, Oxford.

WHYTE, Anne (1977) "Guidelines for Field Work in Envi-ronmental Perception", MAB Technical Notes n~ 5,UNESCO, Paris.

WILHEIM, Jorge (1982) "Projeto São Paulo: Propostas pa-ra a Melhoria da Vida Urbana", Paz e Terra, Rio.

(1976) "O Substantivo e o Adjetivo", Coleção Debates,Editora Perspectiva, São Paulo.

WOLFE, Myer & SHINN, R. D. (1970) "Urban Design Withinthe Comprehensive Planning Process", relatório mi-meografado, University of Seattle WA.

WOLFE, Tom (1981) "From Bauhaus to Our House", Wa-shington Square Press, Nova lorque.

YAMAKI, Humberto & NARUMI, Kunihiro (1985) "EstruturaEspacial de Cidades Novas no Brasil, in Arquitetura Re·vista n?2, FAU/UFRJ.

YAMAKI H., CORDEIRO FILHO B. & KLOUMBERG A. (1986)"Redesenho do Antigo Pátio Ferroviário de Londrina",in TURKIENICZ B. & MALTA M" 1986.

ZEISEL, John (1981) "Inquiry by Design: Tool for Environ.ment-Behavior Research", Cambridge UniversityPress, Cambridge.

Page 181: Introdução ao desenho urbano
Page 182: Introdução ao desenho urbano

Bibliografia comentada

Os títulos comentados a seguir compõem o que entendemosser uma bibliografia básica no campo disciplinar do DesenhoUrbano. Evidentemente, somos limitados pelos trabalhos queconhecemos e que já tivemos acesso; entretanto, nossa jálonga atuação na área nos faz acreditar termos coberto naBibliografia a grande maioria dos títulos importantes exis-tentes.

Nesta Bibliografia Comentada, tratamos de indicar os títulosque julgamos mais importantes, principalmente para o inician-te, traçando breves comentários sobre seu conteúdo e suaaplicabilidade. Sempre que possível, nos referimos àqueleseditados no Brasil ou a edições de mais fácil acesso ao públicoleitor, principalmente em castelhano.

Para facilitar ao leitor, adotamos a seguinte legenda indicativados campos temáticos abordados pelos títulos:

ALEXANDER, Christopher et aI., "Un lenguage de Patro-nes", Editorial Gustavo Gilli, Barcelona,1980.

A "linguagem de padrões" permitiria aoprojeto ser gerado através da "maneiraintemporal de construir", ou seja, repro-duzindo qualidades reconhecidamenteexistentes na arquitetura vernacular enos assentamentos tradicionais. Para is-to são discutidos 253 padrões (dimen-sões ou metas) de desenho, engloban-do temas que vão desde o planejamentoregional até detalhes de ornamentaçãoe iluminação da edificação. Este é omais importante de uma série iniciadacom título sobre a definição teórica de"uma maneira intemporal de construir";outros trazem três aplicações da teoriae, o mais recente, mostra sua aplicaçãoa nívei de desenho urbano em uma pro-posta para área de São Francisco.

APPLEYARD, Donald, "Planning a Pluralist City: Conflic-ting Realities in Ciudad Guayana",MIT Press, Cambridge MA 1976.

Leitura básica para os interessados naaplicação das teorias e métodos de Ke-vin LYNCH para o estudo da percepçãoespacial. O autor coordenou extensotrabalho nesta área para o planejamento

Page 183: Introdução ao desenho urbano

de Ciudad Guayana, uma cidade novaindustrial na Venezuela que seria cons-truída a partir de assentamentos já exis-tentes. A partir de profundos estudosde campo com entrevistas, mapas men-tais e de percursos ficaram evidentesdiversos conflitos de imagens, valorese expectativas entre os grupos popula-cionais existentes, os novos habitantes(operários e técnicos) e os próprios pla-nejadores.

ARCE, Rodrigo Perez de, "Urban Transformations: The Archi-tecture of Additions", in ArchitecturalDesign Vol. 48 n~4, Londres, 1978.

Artigo que chama atenção para a impor-tância do estudo das estruturas mais per-manentes na evolução das cidades e quesão apropriadas de diversas formas pelapopulação e pelo tecido urbano. O autorincorpora a preocupação pela dimensãotemporal e aí encontra embasamento pa-ra propor a adaptação de estruturas mo-dernistas que conflitam com morfologiase modos de vida preexistentes, atravésde intervenções "aditivas" (Chandigard,Unité d'Habitation etc.). Neste caso talvezo problema do leitor seja o acesso à re-vista.

AYMONINO, Carlo, "O Significado das Cidades", ColeçãoDimensões n~ 15, Editorial Presença,Lisboa, 1984.

Junto com o de ROSSI, este é títulobásico no estudo da morfologia urbana.Após notas de dez anos de aulas naUniversidade de Veneza, o autor obje-tiva mostrar que é a partir de uma sériede análises específicas capazes de defi-nir as transformações urbanas atravésdo tempo como testemunhas físicas decondicionamentos sociais e econômi-cos, que se vai conseguir compreendero verdadeiro significado das cidades epromover uma atuação urbanísticaconscienciosa. A hierarquia dos elemen-tos e suas inter-relações morfológicas

são aqui vistas como essenciais; a arqui-tetura é vista, antes de tudo, como umfenômeno urbano.

BACON, Edmund, "Design of Cities", Thames and Hudson,Londres, 1974.

Um amplo estudo sobre o desenvolvi-mento histórico das cidades, a partir deseu entendimento como um "indicadorsem piedade do estágio de uma civiliza-ção". O autor acredita que uma melhorcompreensão das interações resultan-tes da multiplicidade de decisões doshabitantes pode nos dar uma consciên-cia maior de como criar cidades mais"nobres". Isto se daria se a arquiteturaassumisse que seus "ingredientes" bá-sicos são a massa e o espaço e se aarticulação da cidade se der com basenos sistemas de movimentos. O textoé acompanhado de inúmeras e belasilustrações e inclui um capítulo sobreBrasília, que o autor classifica como "ogrande esforço" (uma visita a Brasília,posterior à primeira edição, fez com queo autor mudasse radicalmente sua opi-nião a ponto de alterar totalmente o tex-to e admiti-Io incluindo, também, a pri-meira versão).

BAILLY, Antoine, "La Percepcion dei Espacio Urbano", Co-leção Nuevo Urbanismo n~29, Institutode Estudios de Administracion Local,Madri, 1978.

Trata conceitos e métodos de estudo dapercepção ambiental na investigação ur-banística. Como originou-se na tese dedoutoramento do autor para a Sorbonne,é trabalho academicamente bastanteabrangente neste campo temático. Aabordagem é essencialmente geográficae parte de uma ampla discussão do esta-do-da-arte e de definições conceituais so-bre as diferentes teorias de percepçãoe os diferentes processos de formação

Page 184: Introdução ao desenho urbano

de imagens mentais. O autor faz umaútil discussão sobre as técnicas existen-tes para o estudo da percepção do meiourbano, bem como uma breve discussãosobre o enfoque comportamentalista (be-haviorista) na análise urbana.

BARNETI, Jonathan, "An Introduction to Urban Design",Harper and Row, Nova lorque, 1982.

Este é um dos livros mais conceituadosem nossa área nos EUA, principalmentepor sua forma de tratamento da questãoda exequibilidade do Desenho Urbano,tanto em termos institucionais quantodo poder privado. O autor foi o respon-sável pela instituição de um processode Desenho Urbano na cidade de Novalorque, tendo a seu favor, portanto, prá-tica bastante acirrada. Nos mostra comodesenhar cidades sem desenhar seusedifícios em um contexto de planeja-mento capitalista onde regulamentosdevem possuir um dinamismo todo es-pecial em busca de objetivos sociais eeconômicos.

CANTER. David & STRINGER, Peter (org.). "Interaccion Am-biental", Coleção Nuevo Urbanismo n~26, Instituto de Estudios de Adminis-tracion Local. Madri, 1978.

Os organizadores e autores são psicólo-gos ambientalistas mais reconhecidosda Grã-Bretanha e o livro é uma introdu-ção bastante abrangente ao tema, poiscobre campos arquitetônicos propria-mente ditos, como iluminação e con-forto térmico, e urbanos, tanto em ter-mos de percepção espacial quanto emcomportamento dos usuários. Interes-sante como discussão dos conceitosaplicáveis e de métodos de estudo.

CASTEX J., DEPAULE J. & PANERAI, P., "Formas Urbanas:de Ia Manzana ai Bloque", GustavoGilli, Barcelona, 1986.

Segundo os autores, sua preocupaçãoprincipal é a "dimensão física da cidade... esta lógica dos espaços que é contidana expressão tecido urbano e onde olote constitui um elemento determinan-te". A organização espacial é semprevista como determinada/determinantedas relações sociais. Para isto os auto-res concentraram-se no período do ur-banismo já com o sentido moderno dotermo, partindo de uma avaliação dasmodificações de Paris sob o BarãoHaussmann, passando pela análise dascidades-jardim inglesas da virada do sé-culo, pelas extensões de Amsterdam deBerlage, por Frankfurt de Ernst May epela crítica aos paradigmas e práticasde Le Corbusier.

CULLEN, Gordon, "A Paisagem Urbana", Edições 70, Lis-boa, 1983.

O mais importante título sobre a análisevisual da cidade, tendo servido de basepara inúmeros planos, projetos e regula-mentações urbanísticas na Grã-Breta-nha, país que adotou as teorias e técni-cas de CULLEN quase que "oficialmen-te". Ele trata de mostrar a "arte" dapaisagem urbana, esteticamente com-preendida a partir de sentimentos e im-pressões no observador, numa percep-ção entendida como uma sucessão dequadros visuais. Qualidades físico-espa-ciais como variedade, incidência de lu-minosidade, desvio de ângulos visuaisetc. são destacadas.

FRAMPTON, Kenneth,"História Critica de Ia ArquitecturaModerna", Gustavo Gilli, 1987.

Um dos títulos recentes mais interes-santes sobre a evolução da arquitetura

Page 185: Introdução ao desenho urbano

moderna e seu estado atual. O autorparte da análise do progresso culturale tecnológico do período entre meadosdo século XVIII até o começo da II Guer-ra, para situar o desenvolvimento da ar-quitetura moderna. Depois, cada capí-tulo traz uma análise crítica de diversosarquitetos e grupos representantes de"correntes", terminando nas tendên-cias mais atuais. Como todo trabalhohistórico-analítico, não consegue esca-par de ser tendencioso a partir dos pró-prios valores do autor, mas apresentaimportantes conclusões sobre o quechama "vulgarização da arquitetura eseu progressivo isolamento da socieda-de", ao invés de colocar-se como uma"redefinição crítica porém criativa dasqualidades concretas do ambiente cons-truído" .

GEHL, Jan, "Life Between Buildings: Using Public Space",Van Nostrand Reinhold, Nova lorque,1987.

Analisando o comportamento dos usuá-rios dos espaços urbanos públicos, estetítulo representa importante apanhadodas pesquisas deste autor dinamarquêscujas publicações até há pouco sofriamda falta de tradução para língua maisacessível. Parte formando base concei-tual sobre a vida nos espaços geradosentre as edificações e suas qualidadessociais, passa pela identificação de re-quisitos para o planejamento, e desen-volve todo um estudo temático da utili-zação dos espaços públicos e seus efei-tos sobre o comportamento dos usuá-rios, como integrar/dispersar, abrir/fe-char, andar, sentar, conversar etc.

GOODEY, Brian, "Participação, Percepção e Desenho Ur-bano", (org V. dei Rio), Coleção MÓ-DULO/Universidade n~1, Revista Módu-lo/Editora Avenir, Rio, 1985.

Organizado a partir das palestras deGOODEY realizadas no Brasil, este título

é, na verdade, apenas introdutório a nos-so campo disciplinar, abordando concei-tos e teorias principais. Sua importânciavem de sua abrangência, simplicidadede leitura e por sua publicação ter sidoem época oportuna. .

GOODEY, Brian & GOLD, John, "Geografia do Comporta-mento e da Percepção", Publicaçãoespecial n?3, Departamento de Geogra-fia, Inst. Geociências, UFMG, Belo Hori-zonte, 1986.

(f, g) Apostila onde os autores descrevem odesenvolvimento da área da geografiaque trata do comportamento e da per-cepção espaciais. Há muito os geógra-fos preocupam-se pelo uso do espaço,objeto primeiro de sua disciplina, e háuns dez anos têm-se interessado nestecampo de pesquisas. O departamentode Geografia da UFMG tem-se interes-sado em promover o desenvolvimentodestes estudos no Brasil, juntamentecom o da Universidade de São Paulo,campus de Rio Claro.

GOSLlNG, David, "Desenho Urbano", apostila mimeogra-fada, Mestrado em Planejamento Urba-no, Instituto de Arquitetura e Urbanis-mo, UnB, 1976.

(a, c, f, e) Estas notas de aulas ministradas porGOSLlNG, quando professor em Brasí-lia, já abordavam importantes temas emnossa área de estudos, principalmenterelativos à análise visual do espaço urba-no. A publicação é de difícil acesso epossui limitação natural imposta por sergerada a partir de notas de aulas e pornão possuir ilustrações.

GOSLlNG, David & MAITLAND, Barry, "Concepts of UrbanDesign", Academy Editions/St. MartinsPress, Londres, 1984.

Importante título abordando as origensda disciplina, conceitos básicos e áreas

Page 186: Introdução ao desenho urbano

temáticas de atuaçao. Os autores apon-tam o que seriam problemas de dese-nho urbano embora pareçam limitá-Iosa áreas geográficas específicas da cida-de. O texto possui inúmeras referênciasa exemplos internacionais e é fartamen-te ilustrado. As conclusões defendempremissas para o desenho urbano comoparticipação comunitária, respeito aopassado e adaptabilidade ao contextoambiental, em busca de atuação "mini-malista" para estruturação urbanística,flexível e coerente.

HALL, Edward, "A Dimensão Oculta", Livraria FranciscoAlves Editora, Rio, 1977.

Título básico da ciência do comporta-mento humano, abordando antropologiae psicologia. O autor mostra a impor-tância da cultura na determinação dospadrões e formas de comunicação e,consequentemente, na percepção es-pacial e no nosso comportamento so-cial. Inicia-nos em conceitos como deterritorialidade e na "proxemia", estudodas diversas distâncias adotadas pelohomem nas diferentes situações so-ciais, desde a íntima até a pública, enas implicações que possuem para ocomportamento e a vida urbana.

HOLLANDA, Frederico de, "O Centro Urbano de Brasília",mimeografado, Departamento de Arqui-tetura e Urbanismo, Universidade deBrasília, 1975.

Uma das primeiras análises teóricas so-bre o centro da Capital enquanto produ-to físico-espacial e suas implicações so-ciais. Buscando referências teóricas noscentros de cidades não-projetadas, on-de se expressam as mais altas formasde convívio, de trocas e de produçãosimbólica, o autor comenta como a ri-queza ambiental tem sido substituídapelo simplismo modernista. O centro deBrasília é objeto de análise e algumashipóteses para sua reestruturação são

colocadas, como promoção de anima-ção urbana através da concentração eda variedade de funções e atividades,ocupação dos espaços intersticiais en-tre edificações e incorporação da funçãoresidencial.

HOLLANDA, Frederico de, "A Morfologia Interna da Capi-tal", in PAVIANI, Aldo (org.) 1985.

O autor parte da premissa que a arquite-tura e o urbanismo não determinam anossa vontade, mas é inegável que osprocessos sociais não são indiferentesàs morfologias e características dos lo-cais onde acontecem. Diversas partesdo Plano Piloto de Brasília são ~nalisa-das sob esta ótica, tomando por basea teoria e os métodos de HANSON &HILLlER (1979). Constata-se como seusdeterminantes físicos encorajam ape-nas as práticas sociais uniformes e uní-vocas, sem a complexidade e variedadeque caracterizam historicamente asáreas urbanas, e a privatização dos acon-tecimentos sociais.

JACOBS, Jane, "The Deat and Life of Great AmericanCities: The Failure of Town Pla-nning", Pelican, Middlesex, 1974.

Se tivéssemos de escolher um títuloque representasse "onde tudo come-çou", sem dúvida optaríamos por estelivro publicado pela primeira vez em1961. Trata-se de uma crítica feroz àideologia do planejamento nos moldesmodernistas e em suas práticas e resul-tados. Exaltando a vida e as qualidadesde lugares como Greenwich Village, emNova lorque, a autora defende basica-mente os aspectos da vida comunitária,como segurança e contatos sociais nasáreas públicas, necessidade de diversi-dade e concentração de usos, implica-ções sociais no tamanho dos quartei-rões e na densidade. Ela também mos-tra as razões para o declínio dos centrosurbanos e algumas condições importan-

Page 187: Introdução ao desenho urbano

tes para sua regeneração. Foi o primeirotexto consistente e de grande penetra-ção a afirmar que os planejadores esta-vam errados e incutiam seus própriosvalores asséticos e moralistas.

JENCKS, Charles & BAIRD, George (org.), "EI Significadoen Arquitectura", Blume Ediciones,Madri, 1975.

Importante coletãnea sobre a arquite-tura e o meio ambiente enquanto fenô-meno de comunicação, um dos títulosbásicos de semiologia aplicada. Diver-sos autores colaboram para a qualidadedo livro, com destaque para CharlesJencks, Geoffrey Broadbent e ChristianNorberg-Schulz (semiologia e arquitetu-ra). Françoise Choay (semiologia e urba-nismo). Aldo Van Eyck (tempo, lugar esignificado) e Nathan Silver (arquiteturacomo sistemas de pessoas).

KOHLSDORF, Maria Elaine "Manual de Técnicas deApreensão do Espaço Urbano", mi-meografado, Departamento de Arquite-tura e Urbanismo, UnB, 1984.

(a, e, f) Apostila de curso que aborda importan-te temática, resultado de anos de pes-quisa pioneira pela autora, docente daUnB. Partindo de um referencial teóricoque define o processo de percepção ecognição da mente humana, a apreen-são do espaço urbano verifica-se comoprocesso consciente de referencial ima-gético. São identificados três níveis bá-sicos para esta apreensão (da percep-ção, da imagem e dos dados objetivos)e para investigá-Ios são discutidas astécnicas de análise sensorial, visual etipológica.

KOHLSDORF, Maria Elaine, "Breve Histórico do Urbano co-mo Campo Disciplinar", in FARRET, Ri-cardo (org.). "O Espaço da Cidade:Contribuição à Análise Urbana", Pro-jeto, São Paulo, 1985.

Abrangente análise teórica sobre o de-senvolvimento do urbano enquantocampo de preocupaçôes das diferentesdisciplinas. Atenção especial é dada àevolução e caracterização das análisesvisual e de percepção ambienta!. A auto-ra mostra como, em relação aos aspec-tos que dizem respeito à qualidade am-biental, ainda é frágil a pesquisa urbanano Brasil pois limitamo-nos à práticasem verdadeiro embasamento científi-co e ainda concentramo-nos no espacialunicamente como subproduto do social.

KOHLSDORF, Maria Elaine, "As Imagens de Brasília" in,PAVIANI, Aldo 1985

A partir da constatação de que hoje Bra-sília "configura-se como um tecido des-contínuo e heterogêneo, composto pornúcleos morfologicamente distintos e fi-sicamente distantes", ainda que inter-relacionados como partes do mesmo to-do, a autora identifica e analisa estasdiferentes tipologias urbanísticas. Atra-vés de um embasamento de análise vi-sual, principalmente fundamentando-sena psicologia "gestaltica", verifica efei-tos imagéticos, como silhuetas, coroa-mentos, linhas de força, tipos de ma-lhas, relaçôes espaços abertos/fecha-dos, entre outros conceitos, para classi-ficar a existência de quatro tipos especí-ficos de assentamentos no Distrito Fe-deral, cada um com sua lógica interna:plano piloto, cidades satélites, acampa-mentos, invasôes e vernáculo.

Page 188: Introdução ao desenho urbano

KRIER, Rob, "EI Espacio Urbano", Gustavo Gilli, Barcelona,1981.

De autoria de um dos arquitetos maisfamosos do pós-modernismo e do con-textualismo nas práticas urbanísticas,este livro se tornou uma fonte de refe-rência para os seguidores de suasidéias. Basicamente, KRIER segue umapostura essencialmente estética nacomposição urbana, a exemplo de Ca-millo SITTE, buscando a manutençãodas lógicas físico-espaciais tradicionaisda cidade européia. Parte da identifica-ção de uma tipologia de elementos ar-quitetônicos e urbanos e de uma amplacrítica aos modelos modernistas, parachegar a propostas para reestruturaçãode áreas do centro de Stuttgart comoexemplos da aplicação de suas idéias.

LANG, Jon, "Creating Architectural Theory: The Role ofthe Behavioral Sciences in Environ-mental Design", Van Nostrand Rei-nhold, Nova lorque, 1987.

Partindo do princípio que a base do co-nhecimento para a ação de projeto pre-cisa ser melhorada substancialmente, oautor defende a construção de teoriasda arquitetura mais consistentes e ba-seadas nas ciências do comportamento.Este título faz parte da nova geraçãode pesquisas norte-americanas que si-tua a arquitetura no campo abrangentedo "desenho ambiental". A compreen-são de fenômenos e processos usuáriosembasam-se principalmente no estudodo comportamentalismo e da percep-ção, que são detalhada mente revistos.

LEE, Terence, "Psicologia e Meio Ambiente", Curso Básicode Psicologia, Zahar Editores, Rio, 1977.

Um dos pioneiros trabalhos sobre a psi-cologia do meio ambiente como enfo-que abrangente de análise e atuação emdesigno O autor desenvolve base con-

ceitual e analisa os diversos modos co-mo o ambiente construído influencianossas percepções, atitudes e compor-tamentos. São abordados importantesconceitos como territorialidade, espaçopessoal e privacidade, comentados di-versos métodos de medição de fenô-menos e de pesquisa, bem como estu-dos sobre residências, escolas, hospi-tais e áreas urbanas.

LYNCH, Kevin (1960). "A Imagem da Cidade", Martins Fon-tes, São Paulo, 1985.

Este é o título mais influente da aplica-ção dos estudos da percepção ambien-tal para o desenho da cidade. LYNCHforma sua base teórica defendendo asqualidades que fundamentam a forma-ção de uma imagem mental clara nosusuários: estrutura e identidade, legibili-dade e imageabilidade. Estudando Bos-ton, Jersey City eLos Angeles, a partirde entrevistas e questionários (com ob-tenção dos famosos mapas mentais deáreas e percursos). o autor identificoucinco elementos básicos na conforma-ção destas imagens mentais: percur-sos, nós, limites, distritos e marcos. Sãotraçados comentários sobre a utilizaçãodeste método e da aplicação dos acha-dos para o projeto.

LYNCH, Kevin, "Managing the Sense of a Region", MITPress, Cambridge (MA). 1976.

Este é um pequeno livro com vastosrebatimentos, propondo um amplo pro-grama de atividades para o planejamen-to e o gerenciamento territorial (regiãoe cidade) principalmente no que diz res-peito a suas qualidades sensoriais.LYNCH apresenta um minucioso glos-sário de técnicas de investigação queabordam desde a forma espacial, atéo comportamento espacial e as ima-gens; apóia-se em evidências expostaspor estudos descritos que abordam o

Page 189: Introdução ao desenho urbano

nível do sentimento, do comportamen-to, da formação de imagens, de prefe-rências e valores, do ambiente natural,e da comunicação e processos educa-tivos. O autor encerra apresentandoexemplos hipotéticos de estudos regio-nais para a qualidade sensorial.

LYNCH, Kevin, "La Buena Forma Urbana", Gustavo Gilli,Barcelona, 1985.

Obra máxima de LYNCH que nela buscaa promoção da boa forma urbana e nosmostra como são inadequados os trêsmodelos normativos de cidade existen-tes (cidade como modelo do cosmos,como máquina e como organismo vivo).As teorias normativas determinam co-mo a forma deve ser, enquanto o autordefende não modelos específicos masdimensões de performance da forma:características dependentes primordial-mente de suas qualidades espaciais eque são mensuráveis a partir de seu usopelos diferentes grupos de cidadãos.Ele identifica cinco dimensões inter-re-lacionadas (vitalidade, senso, congruên-cia, acesso e controle) e dois meta-cri-térios (eficiência e justiça). O livro termi-na com alguns exemplos de aplicaçõesda teoria e apêndices sobre a evoluçãode modelos urbanos.

MOORE, Gary, "Estudos de Comportamento Ambiental",in SNYDER J. & CATANESE A. (org.),"Introdução à Arquitetura", EditoraCampus, Rio, 1984.

(f, g) Neste livro, o leitor precisa antes demais nada precaver-se quanto à péssi-ma tradução que, por vezes, consegueaté distorcer a mensagem dos autores(para quem puder indico mesmo a edi-ção original norte-americana). Entretan-to, o artigo indicado de MOORE é talvezo texto mais acessível e simples sobreestudos de percepção e comportamen-to e seu rebatimento para o projeto. Há

de se atentar que nos EUA ambos tiposde estudo são geralmente classificadosem "comportamento ambiental" (envi-ronment-behavior),

MUNFORD, Lewis, "A Cidade na História", Editora Itatiaia,Belo Horizonte.

Originalmente publicada em 1961, estaé obra fundamental de um dos maiorespensadores urbanistas de nossos tem-pos, que nela analisa a evolução das ci-dades e o desenvolvimento do Homem.O autor defende que a natureza históricada cidade deve ser compreendida sequisermos estabelecer uma nova basepara a vida urbana. Segundo o pensa-mento humanístico de MUNFORD, asociedade humana teria chegado a umestágio crucial em que terá de se decidirentre o desenvolvimento de sua própriahumanidade ou render-se às forças qua-se automáticas de seu alter ego desu-manizado, o "homem pós-histórico",Para embasarmos esta opção ele pro-põe uma análise histórica da cidade edas relações que o Homem mantevecom ela, desde a pré-história e a forma-ção dos primeiros assentamentos, atéa megalópolis.

NORBERG-SCHULZ, Christian, "Genius Loci: Towards aPhenomenology of Architecture",Academy Editions, Londres, 1980.

Prosseguindo em suas investigações so-bre as implicações psíquicas da arquite-tura e do urbanismo, iniciadas em títulosfamosos anteriores como "Intentions inArchitecture" (1963) e "Existence, Spaceand Architecture" (1971), este cerebrado"filósofo" do espaço acredita que se omeio ambiente influencia os seres huma-nos, o propósito da arquitetura transcen-de sua definição funciona lista. Para elenão existem tipos diferentes de arquite-tura, mas apenas diferentes situaçõesque pedem diferentes soluções para sa-

Page 190: Introdução ao desenho urbano

tisfazer às necessidades físicas e psíqui-cas do Homem. Baseia-se em conceitoscomo "espaço existencial", onde sobres-saem as funções psíquicas básicas de"orientação" e "identidade", e no pensa-mento de HEIDEGGER, para mostrar quea arquitetura deve visualizar e materializaro "genius loci", ou o espírito do lugar.Suas considerações fenomenológicasnos levam a um passeio histórico e geo-gráfico d"ls arquiteturas do mundo.

PANERAI P., DEPAULE J, DEMORGON M. & VEYRANCHEM., "Elements d'Analise Urbaine",Archive d'Architecture Moderne, Bruxe-Ias, 1980.

Representa bem a corrente francesa deestudos morfológicos da cidade, ondeos autores procuram estudar a formaurbana identificando sua organização,os elementos de composição, demons-trando sua lógica e descrevendo a suaestrutura formal. "A análise urbana per-mite ... definir o lugar teórico do proje-to". Os capítulos abordam os temas docrescimento urbano, perfil fundiário, ti-pologias edilícias, paisagem, prática so-cial e estruturas urbanas, finalizandocom a proposição teórica em busca deuma "arquitetura urbana".

PAVIANI, Aldo (org.), "Brasília, Ideologia e Realidade/Es-paço Urbano em Questão", ProjetoEditores, São Paulo, 1985.

Para os arquitetos talvez esta seja a maisinteressante coleção de ensaios analíti-cos sobre nossa Capital já publicada. Di-versos níveis e tendências teóricas foramutilizados na análise deste objeto comume de como ele vem respondendo às diver-sas necessidades impostas desde suainauguração, como as políticas, as funcio-nais-metropolitanas, residenciais e deapropriação coletiva ou individual. O cam-

po específico do desenho urbano é con-templado principalmente nos excelentestextos de HOLLANDA e KOHLSDORF,já comentados, e de MACHADO e MA-GALHÃES, onde se adota uma perspec-tiva antropológica para se discutir as leitu-ras que as diferentes classes fazem daCapital. a sua representação e seu modode vida.

PRINZ, Dieter, "Projetos Urbanos", (vol. 1), " ConfiguraçãoUrbana", (vol. 21. Ed. Presença, Lisboa,1984.

O estudo de manuais deve sempre levarem conta a sua falta de embasamentoconceitual expresso e que suas indica-ções de parâmetros não são generali-záveis para todos os contextos; apre-sentamos este título aqui por sua organi-zação temática constituir bom enfoquede processo de planejamento físico-ter-ritorial, detalhando cada uma das fases.Em sua parte mais voltada para o dese-nho urbano o seu enfoque é extrema-mente visual e paisagístico mas, aindaassim, útil como recomendações e pro-cedimentos para o estudante.

REZENDE, Vera, "Planejamento Urbano e Ideologia: Qua-tro Planos para a cidade do Rio deJaneiro", Civilização Brasileira, Rio,1982.

Através de uma análise da evolução daspráticas urbanísticas principais no Riode Janeiro, a autora nos fornece umaboa compreensão do estado atual dacidade. Os planos Agache e Doxiadis,o Plano Urbanístico Básico e o PlanoIntegrado de Transportes do Metrô sãoinvestigados quanto a seus papéis delegitimação de ideologias e reproduçãodas relações de produção. A análise te-mática que a autora apresenta nos per-mite, também, verificar como a dimen-

Page 191: Introdução ao desenho urbano

são físico-espacial da cidade foi perden-do a importância institucional e tornou-se subproduto inconsciente da dinâmicaurbana.

ROSSI, Aldo, "A Arquitetura da Cidade", Edições Cosmos,Lisboa, 1977.

Um dos expoentes da arquitetura neo-racionalista italiana, urbanisticamenteROSSI é um dos definidores da correntepós-moderna "contextualista". Publica-do originalmente na Itália em 1966, asseguidas novas edições revisadas (tam-bém em espanhol. inglês, alemão e fran-cês) atestam a importãncia deste livro.No prefácio da edição americana, PeterEisenman compara ROSSI a Vitruvio,Serlio e Palladio, atestando a tradiçãoitaliana de análise da cidade e da arquite-tura através do seu desenho cuidadoso.O livro parte de uma crítica ao urbanis-mo modernista e propõe o estudo dacidade entendida como fenômeno ar-quitetônico, dependente acima de tudode sua própria história. Ele lida com con-ceitos de permanência e continuidade,tipologias, relações e memória coletiva.A edição portuguesa é de difícil acesso;existe a espanhola, editada pela Gus-tavo Gilli (coleção Punto y Linea)

SANTOS, Carlos Nelson F. dos (coord.). "Quando a RuaVira Casa", Projeto Editora/lBAM, SãoPaulo, 1985.

"A Cidade como Um Jogo de Cartas",Editora da Universidade Federal Flumi-nense/Projeto Editora, Niterói/São Pau-lo, 1988.

Precocemente falecido, nosso maiorpensador sobre a cidade nos legou inú-meros textos e coordenou diversos tra-balhos importantíssimos para nossocampo disciplinar, dos quais destaca-mos estes dois títulos. Nos últimos anos

ele defendia a necessidade dos arqui-tetos "voltarem às pranchetas", de lidarcom o objeto próprio da natureza de suaformação, a organização física das cida-des. No primeiro, pesquisa de 1981 doIBAM coordenada pelo autor, é aborda-do, com bases teóricas e metodológicasna antropologia, o tema do inter-relacio-namento das esferas pública e privada,da relatividade destes conceitos, daapropriação social dos espaços e emseus valores diferenciados. Isto é feitoatravés da análise do Catumbi, tradicio-nal bairro carioca vítima de renovaçãourbana, e da Selva de Pedra, área desen-volvida no Leblon segundo moldes mo-dernistas.

No segundo título Carlos Nelson nosapresenta um texto polêmico que, aomesmo tempo, se fundamenta e pro-põe uma "praxis" transformadora. Co-mo aponta o professor Maurício Abreu(UFRJ) na apresentação deste livro, seuautor nunca se amolda plenamente aesquemas teóricos rígidos e dogmáti-coso O espaço urbano é colocado como"Iocus" de expressão das forças políti-cas: a cidade, portanto, devendo ser de-senvolvida como um jogo de cartas, on-de os participantes conhecem e obede-cem às regras. Após breve análise dodesenvolvimento da cidade possível noBrasil, o autor se baseia na experiênciade coordenador do estudo para seis ci-dades novas em Roraima para traçarconsiderações e diretrizes de projeto elocalização dê diversos elementos e sis-temas urbanos, tendo o tecido em for-ma de grelha como princípio ordenador.

SENNET, Richard, "A Queda do Homem Público: as Tira-nias da Intimidade", Companhia dasLetras, 1988.

Originalmente publicado em 1974, vemem boa hora esta edição brasileira doautor de "The Uses of Disorder: Per-

Page 192: Introdução ao desenho urbano

sonal Identity and City life", (AlfredKnopf, N.Y., 1970) onde analisa a pro-funda crise psicossocial e política quevivemos. Se, no primeiro título, o autorapontava que o excesso de ordemameaçava nossa sociedade urbana, nes-te livro ele amplia seu raciocínio paraanalisar a falência do Homem público.Traça, por exemplo, um paralelo entrea crise do Império Romano e os diasde hoje: em ambos os casos o equilíbrioentre a vida pública e a privada teria seperdido; hoje a vida pública é apenasquestão de obrigação formal e a vidaprivada o novo foco de nossas energiasemocionais.

SOMMER, Robert, "Espaço Social", Coleção Ciências doComportamento, Editora Pedagógica eCientífica/Editora da Universidade deSão Paulo, 1973.

(g) Junto com HALL, o autor é consideradoum dos expoentes do enfoque compor-tamentalista da psicologia ambienta!.Este trabalho pioneiro mostrou que apesquisa comportamental é essencialpara a programação arquitetõnica e ur-banística. Ou seja, compreendermos ossignificados dos arranjos espaciais esuas inter-relações com os processosde apropriação espacial pelos indivíduose grupos. Os psicólogos "behavio-ristas" ou "comportamentalistas" co-mo SOMMER, que por muito tempo seconcentraram em técnicas de experi-mentação em laboratório, expandiramseus níveis de estudo e desenvolveramconceitos e métodos úteis aplicáveis aoestudo dos ambientes construídos:neste livro é analisada a organização in-terna de hospital psiquiátrico, escola,bar e dormitório de estudantes.

TUAN, Yi-Fu, "Topofilia: Um Estudo da Percepção, Atitu-des e Valores do Meio Ambiente",Difusão Editorial, São Paulo, 1980.

Tomando um enfoque geográfico, esteé um interessante estudo sobre o eloafetivo que nos une a um lugar, definidopelo autor como "topofilia". Este con-ceito parte principalmente de um senti-mento vivencial, predeterminado pelacultura e experiências pessoais, a partirdas percepções, atitudes e valores quetemos dos lugares. O autor diz que, em-bora todos os nossos sentidos se refor-cem um ao outro na percepção de umlugar, é o visual que prevalece e é paraele que se volta a atenção do estudoda Topofilia. O autor dá seguimento àsua preocupação no título "Espaço eLugar", também pela mesma editora.

TURKIENICZ, Benamy (org.). "Desenho Urbano (Volumes1,11 e 111", Anais do I SEDUR, CadernosBrasileiros de Arquitetura 12 a 14, Proje-to Editores, São Paulo, 1984.

TURKIENICZ, B. & MALTA, M. (org.l. "Desenho Urbano",Anais do II SEDUR, Editora Pini, SãoPaulo, 1986.

(a, b, c, d, e, f, g, h) Entre as publicações na área do DesenhoUrbano no Brasil, sem dúvida destacam-se os anais dos dois seminários promo-vidos pelo Departamento de Arquiteturae Urbanismo da UnB, sob tutela principalde Benamy Turkienicz. Por duas vezesjuntaram-se os responsáveis e interessa-dos pelas experiências no setor, em dis-cussões e publicações que, no mínimo,servem de iniciação obrigatória ao pano-rama nacional do tema.

Os ensaios contidos nos dois anais sãonumerosos, portanto, não comentare-mos todos. Destacaríamos no primeirotítulo os de TURKIENICZ, HOLLANDA,SANTOS, KOHLSDORF & BICCA, BAR-BOSA & VIANNA, KRAFTA & AGUIAR,

Page 193: Introdução ao desenho urbano

OLIVEIRA. CARVALHO. PEREIRA. CA-NEDO & BIENENSTEIN e GASTAL. Po-de-se dizer que os trabalhos mostramduas preocupações principais: relacio-nar os processos sociais com a produ-ção e apropriação das formas urbanas.e recuperar o papel do arquiteto na com-preensão das lógicas espaciais e na es-truturação da cidade.

teto e as caracferísticas da pesquisa so-cial aplicada. Na segunda. são discuti-dos métodos e instrumentos de pes-quisa ambiental. como a observação sis-tematizada de aspectos físicos e docomportamento ambiental. a confecçãode questionários e entrevistas. O autorexpõe as possibilidades e limitações decada método e instrumento.

Do segundo título. organizado tematica-mente. destacamos os ensaios teóricosde COMAS. KRAFTA. SANTOS e SAM-PAIO; os que analisam a forma ou aimagem urbana de MACEDO. CURTISet aI. e NISHIKAWA; aqueles que lidamcom a preservação/revitalização deáreas centrais. PINHEIRO. ANDRÉS eBICCA et ai. os relativos a assentamen-tos espontãneos de MAGALHÃES eVASCONCELOS et aI.; e aqueles quediscutem experiências de cidades eáreas novas de SILVA et aI.. ZIMBRESet aI. e DEL RIO. Neste seminário. alémda confirmação das duas preocupaçõesprincipais que destacamos no I SEDUR.observou-se um crescimento da preo-cupação pela preservação e revitaliza-ção urbana. refletido em diversas impor-tantes experiências brasileiras.

ZEISEL. John "Inquiry by Design: Tools for Environment-Behavior Research". Cambridge Uni-versity Press. Cambridge. 1984.

Este é um dos mais completos títulospara o iniciante nos estudos das rela-ções Homem/meio ambiente como em-basamento para as decisões de projeto.O autor define como meio ambiente osatributos (físicos. administrativos e so-ciais) dos lugares onde as pessoas vi-vem. trabalham e se divertem. O livroestá dividido em duas partes: na primei-ra. o autor discute conceitualmente asrelações entre pesquisa e projeto. ospossíveis campos de colaboração entreo estudo ambiental e o trabalho do arqui-

Page 194: Introdução ao desenho urbano

Créditos das ilustrações

1 -in GOODMAN 1971; cortesia Elaine MARKSON L1TERARYAGENCY

5 - in scon 1969; cortesia Planning Department. CITY OFCINCINNATI

6 - in catálogo da exposição Affonso E. REIDY, SolarGrandjean de Montigny/Editora INDEX, Rio, 1985; arquivoSolar Grandjean de Montigny/PUC-Rio

10 - in BLAKE, Peter "Gods Own Junkyard" Holt. Reinhart& Wilson, Nova lorque, 1974

13 - in GOSLlNG & MAITLAND 1984; cortesia DavidGOSLlNG

15 - in GOSLlNG & MAITLAND 1984; cortesia DavidGOSLlNG

16 - in L'Architecture D'Aujourd'hui n~217, Paris, 1984;cortesia GROUPE EXPANSION

20 - in PROCESS n~3, Toquio, 1977; cortesia Chad Floyd,Center Brook Architects

21 - in GOSLlNG & MAITLAND 1984; cortesia de DavidGOSLlNG

Page 195: Introdução ao desenho urbano

27 - lato Kevin Cole, in BLAKE 1974; cortesia THE BOSTONHERALD

28 - baseado em ilustração de RABINOWITZ, Harvey"Avaliação Pós-úcupação" in SNYDER J. & CATANESEA. (org.), "Introdução à Arquitetura",Editora CAMPUS, Rio, 1984

31 - in MARTIN L. "The Grid as Generator" in MARTIN &MARCH 1972, pág. 21; cortesia do autor

36 - in CITY of SAN FRANCISCO s.d.; cortesia Dept. 01 CityPlanning, City and County 01 San Francisco

39 - de folheto turístico; cortesia SOUTH STREET SEAPORTMUSEUM

40 - cortesia PENNSYLVANIA AVENUE DEVELOPMENTCORPORATION

46 a/b - in TRAN CIK 1986; cortesia VANNOSTRAND-REINHOLD

60 - in STERN Robert "Modern Classicism" RIZZOLl, Novalorque, 1988; cortesia de RIZZOLl International

Page 196: Introdução ao desenho urbano

64 - in GOSLlNG & MAITLAND 1984; cortesia de DavidGOSLlNG

79 - in BENTLEY et ai. 1985; cortesia ButterworthArch itectu re

85 - in APPLEYARD 1981; cortesia UNIVERSITY OFCALlFORNIA PRESS

91 a - foto arquivo Manchete; cortersia João FortesEngenharia

92 a/b - ilustrações de Jorge B. AZEVEDO a partir de fotosdo autor

95 d - ilustração de Jorge B. AZEVEDO a partir de foto doautor

97 - in City of San Francisco s.d.; cortesia Dept. of CityPlanning, City and County of San Francisco

99 - in CUTLER & CUTLER 1983; cortesia VANNOSTRAND-REINHOLD

Page 197: Introdução ao desenho urbano

Anexo 1 - todas as fotos e ilustrações são do autor, combases cadastrais e aerofotogramétricas da FUNDREM, 1981,exceto figura 1.3 (Foto cortesia de Sidney Waissman)

Anexo 2 - todas as fotos e ilustrações são do autor, exceto2.1 e 2.4 cortesia do Dept. of Planning, City of Baltimore

3.1 - desenho de Jorge B. AZEVEDO com base em FONTES,COELHO, REIS & NEVES 1986

3.15 - mapa elaborado por entrevistado em trabalho decampo, 1986

314 e 3.16 - fotos de Zeca UNHARES; cortesia RioArte/Escritório Corredor Cultural

Page 198: Introdução ao desenho urbano
Page 199: Introdução ao desenho urbano
Page 200: Introdução ao desenho urbano

,

·•• ''', '·I.·'.··.!I.::, Y",••

...,..~.i~~,/ I f. i. I

, ,\--o Autor:• Nascido no Rio de Janeiro em 1955,arquiteto (FAU/UFRJ 1978), especializadoem Planejamento Urbano (UERJ 1979) eMestre em Desenho Urbano (OxfordPolytechnic 1981); doutor emEstruturas Ambientais Urbanas (FAU/USPL

• Trabalhou na Fundação para oDesenvolvimento da Região Metropolitanano Rio de Janeiro, na Secretaria Municipalde Desenvolvimento Urbano e noDepartment of Housing and CommunityDevelopment, Baltimore, EUA (programaPartners of the AmericasL

• Dedica-se ao ensino e à pesquisa desde1979. Foi Senior International Fellow daJohns Hopkins University, Baltimore,Professor visitante na University ofSheffield, e atua como Professor visitantedo curso de especialização em PercepçãoAmbiental 'e Espaço Urbano,Departamento de Geografia da UFMG.Foi Professor visitante e conferencista emdiversas outras instituições no Brasil eexterior.

• Recebeu o Prêmio "Olga Verjovski",XXVIII Premiação Anual do IAB-Rio, 1990.

• Atualmente é Professor adjunto daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, epresta consultoria em Desenho Urbano.

Page 201: Introdução ao desenho urbano

o-cQ.)

ECU'ã)cCUc...Q.)

"'O

ofJlfJlQ.)

Uo•...c...ococCU..o•...:Jo..ccQ.)fJlQ.)

ooCU .9Oa:

lCU -(,)00>:J"O

"'O~O c•••• O>_ U

C '-->

Este trabalho trata do Desenho Urbano, suas origens, definições, teorias e metodologias básicas,papel e possibilidades no processo de planejamento.Seu campo disciplinar é abordado, aqui, através de teorias e metodologias organizadas nas categoriasde morfologia urbana, análise visual, percepção e comportamento ambienta!.

o Desenho Urbano, organização trsico-ambiental das cidades, é importante e atual temática no Brasil,face à situação de verdadeiro caos ambiental da maioria de nossas metrópoles e ao momento deredefinições acadêmicas e profissionais por que passam nossas universidades.

" ... um livro altamente significativo. Vicente dei Rio é um dos teóricos urbanos de ponta no Brasile sua pesquisa em desenho urbano começou a cobrir o abismo entre o planejamento urbano e oprojeto de arquitetura ...( )... é apenas através de tão profundas investigações que estratégias racionaisde ocupação territorial podem ser propostas de uma maneira lógica." (da apresentação, David Gosling,diretor do Centro para Desenho Urbano, Universidade de Cincinnati, EUA).