insuficiência cardíaca congestiva
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Objetivo
O objetivo deste trabalho é apresentar aos profissionais da área de
saúde o entendimento complementar sobre a Insuficiência Cardíaca (crônica e
congestiva), a identificação correta, os tipos, suas formas de diagnóstico,
condutas médicas adotadas para o tratamento e controle da doença através
das respostas dos fármacos utilizados.
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Metodologia
Para este trabalho foram adotadas as metodologias de consulta e
revisão bibliográfica resumida em base à um determinado livro de medicina
específico, abordando de forma clara todos os aspectos fisiológicos,
farmacológicos e patológicos da doença, bem como seu tratamento.
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Introdução
Definição - Disfunção miocárdica sintomática que provoca um tipo
característico de resposta hemodinâmica, renal e neurohormonal.
Nenhuma definição sobre insuficiência cardíaca (IC) é inteiramente
satisfatória. A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) se manifesta quando o
volume plasmático aumenta e os líquidos se acumulam nos pulmões, órgãos
abdominais (especialmente no fígado) e tecidos periféricos.
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Fisiologia
No repouso e durante um exercício, a reserva cardíaca, o retorno
venoso e a distribuição do fluxo sanguíneo com aporte de O2 nos tecidos estão
equilibrados por fatores neurohormonais e fatores cardíacos intrínsecos. A pré-
carga, o estado contrátil, a pós-carga, a velocidade de contração, a
disponibilidade de substrato e a extensão da lesão miocárdica determinam a
função do Ventrículo Esquerdo (VE) e as necessidades de O2 do miocárdio.
A pré-carga (grau de distensão telediastólica das fibras) reflete o volume
telediastólico, que está diretamente influenciado pela pressão diastólica e a
composição da parede do miocárdio. Com finalidade clínica, a pressão
telediastólica normalmente esta acima da normal, e é considerada uma medida
razoável da pré-carga em muitas afecções. A dilatação do VE, a hipertrofia e as
mudanças de distensibilidade miocárdica são fatores que a modificam.
O estado contrátil no músculo cardíaco afetado se caracteriza pela força
e velocidade de contração, aspectos que tornam difícil a avaliação de um
coração intacto.
Clinicamente, o estado contrátil se manifesta minimamente como a
fração de ejeção (volume sistólico VE / volume telediastólico).
A pós-carga (força que resiste ao rompimento da fibra miocárdica após
sua estimulação desde o estado de relaxamento) é determinada pela pressão
da cavidade , o volume e a espessura da parede no momento da abertura da
válvula aórtica. Clinicamente, a pós-carga se aproxima à P.A. sistêmica na
abertura da válvula aórtica um pouco depois e representa a tensão sistólica
máxima da parede do miocárdio. A frequência e o ritmo cardíaco influenciam
também na função do coração afetado.
A disponibilidade reduzida de substrato (ex., ácidos graxos e glicose),
sobretudo, e se a disponibilidade de O2 está diminuída, é provável a alteração
do vigor da contração cardíaca e a função miocárdica.
A lesão hística (aguda no IM ou crônica na fibrose por diversas
afecções), altera a função miocárdica local e impõe uma carga adicional ao
miocárdio viável.
O princípio de Frank-Starling estabelece que o grau de tensão
telediastólica da fibra (pré-carga) dentro de limites fisiológicos é proporcional a
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função sistólica da próxima contração ventricular (figura 1). Este mecanismo
atua na IC, pois, como a função ventricular não é normal, a resposta é
insuficiente. Se a curva de Frank-Starling descende, a retenção de líquidos, a
vasoconstrição e uma cascata de respostas neurohormonais dão lugar à
síndrome da ICC. Com o tempo, a remodelação do VE (mudança do formato
ovalado normal) com dilatação e hipertrofia comprometem ainda mais a função
cardíaca, especialmente durante o estresse físico. A dilatação e a hipertrofia do
músculo podem vir acompanhadas de uma maior rigidez diastólica.
Figura 1 – Relação de Frank Starling
A reserva cardíaca - (capacidade não utilizada pelo coração em repouso
para prover a liberação de O2 tecidual) - é um importante componente da
função cardíaca durante o estresse emocional e físico. Seus mecanismos
incluem aumentos da frequência cardíaca, do volume sistólico e diastólico, do
volume do batimento e da extração de O2 dos tecidos. Por exemplo, em adultos
jovens bem treinados em uma atividade de exercício máximo, a frequência
cardíaca pode aumentar desde 55 até 70bpm em estado de repouso até 180
bpm; o débito cardíaco, DC (volume sistólico x frequência cardíaca) pode
aumentar desde seu valor normal em repouso de 6 até 25 l/min, e o consumo
de O2 pode aumentar de 250 a 1.500 ml/min. Em um adulto jovem normal em
repouso, o sangue arterial contém aproximadamente 18 ml O2/dl de sangue e o
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sangue venoso juntamente com da artéria pulmonar aproximadamente 14
ml/dl.
A diferença arteriovenosa de O2 (A – Vo2) é, portanto, 4,0 ± 0,4 ml/dl.
Incluindo o DC máximo durante o exercício é insuficiente para suprir as
necessidades metabólicas dos tecidos. Portanto, estes extraem mais O2 e o
conteúdo de gases no sangue artério-venoso diminui consideravelmente.
A diferença arteriovenosa de O2 também pode aumentar até 12 à 14
ml/dl. O aumento deste índice é devido a um baixo conteúdo venoso de O2,
sendo que é um mecanismo frequente de adaptação na IC.
A curva de dissociação da oxihemoglobina (v. fig.2) altera a
disponibilidade de O2 para os tecidos e pode oferecer outro mecanismo de
reserva na IC. A posição desta curva se expressa frequentemente como P50
(pressão parcial de O2 no sangue com saturação da oxihemoglobina à 50%).
Um aumento da P50 normal (27 ± 2 mm Hg) indica um desvio à direita da curva
de dissociação da oxihemoglobina (diminuição da afinidade da Hb pelo O2).
Para uma Po2 onde se combina menos O2 com a Hb e a saturação é menor a
nível capilar, ocorrerá a liberação de mais O2 e estará disponível para os
tecidos.
O aumento da concentração de íons de hidrogênio (pH reduzido) desvia
a curva à direita (efeito Bohr), como ocorre a concentração aumentada de 2,3-
difosfoglicerato nas hemáceas, o que altera as relações no interior da molécula
de Hb.
Figura 2 - Curva de dissociação da oxihemoglobina
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Classificação e etiologia na Insuficiência Cardíaca
Em muitas formas de enfermidades cardíacas, as manifestações clínicas
de IC podem afetar tanto o ventrículo esquerdo como o direito.
A insuficiência ventricular esquerda (VE) se manifesta tipicamente nas
arteriopatias coronárias, hipertensão e numerosas formas de miocardiopatia e
com os defeitos congênitos (ex. defeito septal ventricular, conduto arterioso
permeável com grandes derivações).
A insuficiência ventricular direita (VD) é manifestada muitas vezes por
uma insuficiência intravenosa anterior (que aumenta a pressão venosa
pulmonar e proporciona uma hipertensão arterial pulmonar) e a insuficiência
tricúspídea. A estenose mitral, a hipertensão pulmonar primitiva, as embolias
pulmonares múltiplas, a estenose da artéria ou da válvula pulmonar e o infarto
do ventrículo direito são também causalidades.
Na policitemia ou hipertransfusão, insuficiência renal aguda com
hiperhidratação e na obstrução de uma ou outra veia cava simulando uma IC,
podem produzir também uma sobrecarga de volume e um aumento da pressão
venosa sistêmica. Nestas afecções, a função miocárdica pode ser normal.
A IC se manifesta por disfunção sistólica ou diastólica, ou ambas. São
mais frequentes as alterações sistólica e diastólica combinadas.
Na disfunção sistólica (principalmente quando ocorre um problema de
disfunção contrátil ventricular), o coração não pode proporcionar aos tecidos o
fluxo ao adequado débito circulatório. Se produz uma ampla série de defeitos
na utilização do subproduto de energia, funções eletrofisiológicas e interação
entre os elementos contráteis, que parecem refletir modulações das alterações
do Ca++ intracelular e da produção de adenosina monofosfato cíclico (cAMP).
A disfunção sistólica possui várias causas; as mais frequentes são as
arteriopatias coronárias, a hipertensão e a miocardiopatia congestiva dilatada.
São inúmeras as causas conhecidas da miocardiopatia dilatada e,
provavelmente, muitas não conhecidas. São identificados como causadores
mais de 20 vírus. As substâncias tóxicas que lesionam o coração são o álcool,
uma série de dissolventes orgânicos, certos quimioterápicos (p. ex.,
doxorrubicina), beta-bloqueadores, bloqueadores de Canais de Cálcio e
antiarrítmicos.
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A função diastólica é justificada por 20 à 40% dos casos de IC.
Geralmente vêm acompanhada de um tempo de relaxamento ventricular
prolongado, determinado durante o alívio isovolumétrico (tempo entre o
fechamento da válvula aórtica e a abertura da válvula mitral quando a pressão
ventricular cai rapidamente). A rigidez ventricular depende diretamente da
pressão diastólica ventricular; esta resistência aumenta com a idade, refletindo,
provavelmente, na perda de miócitos e o aumento do depósito de colágeno
intersticial. Supondo que a disfunção diastólica seja dominante na
miocardiopatia hipertrófica, circunstâncias com relevante hipertrofia ventricular
(p. ex., hipertensão, estenose aórtica avançada) e infiltração amilóidea do
miocárdio.
A insuficiência de débito elevado se associa à IC com um DC
persistentemente alto que, finalmente, produz uma disfunção ventricular. As
afecções relacionadas com o DC elevado são anemia, beribéri, tirotoxicoses,
confusão mental, síndrome de Paget avançada e as fístulas arteriovenosas.
Nos estados de débito elevado pode surgir uma ICC, pois muitas vezes é
reversível ao tratar a causa subjacente. O DC está elevado em diversas formas
de cirroses, pois o começo da congestão é reflexo de mecanismos cardíacos e
hepáticos de retenção de líquidos.
Na insuficiência de VE, o DC diminui e a pressão venosa pulmonar
aumenta. A pressão capilar pulmonar elevada chega a níveis que superam a
pressão oncótica das proteínas do plasma (aproximadamente 24 mm/Hg)
dando lugar a um aumento do líquido nos pulmões, uma diminuição da
complacência dos pulmões e uma dificuldade de obtenção de O2 ao respirar.
A hipertensão e o edema venoso pulmonar resultantes da insuficiência
Intravenosa altera significativamente a mecânica pulmonar e, deste modo, a
relação ventilacão/perfusão. A dispnéia se corresponde com uma pressão
venosa pulmonar elevada e resultando no aumento do trabalho de respirar,
sendo a causa exata é discutível. Quando a pressão hidrostática venosa
pulmonar supera a pressão oncótica das proteínas do plasma, os líquidos se
extravasam nos capilares, o espaço intersticial e nos alvéolos.
Os derrames pleurais se acumulam tipicamente no hemitórax direito e,
mais tarde, se encontram bilaterais. A drenagem linfática está
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consideravelmente aumentada, pois não pode superar o aumento de líquido
nos pulmões.
A combinação da hiperventilação alveolar por aumento da rigidez
pulmonar e diminuição da Po2 é característica da insuficiência VE. Portanto, na
análise dos gases do sangue arterial descobre-se um aumento do pH e uma
diminuição da Po2 (alcalose respiratória) com diminuição da saturação, o que
reflete um aumento da derivação intrapulmonar. Tipicamente, a PaCO2 está
também reduzida. Uma PaCO2 acima da normalidade significa uma
hipoventilação alveolar, possivelmente devida à fraqueza dos músculos
respiratórios, sendo necessário urgentemente um apoio ventilatório.
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Fisiopatologia
Na insuficiência VD desencadeiam-se sintomas congestivos venosos
sistêmicos. Frequentemente na ICC se produz uma disfunção hepática
moderada, secundária a insuficiência VD, com aumentos, geralmente
pequenos, de bilirrubina conjugada e não-conjugada, tempo de protrombina e
enzimas hepáticas (p. ex., fosfatase alcalina, AST, ALT). Muito embora, nos
estados circulatórios gravemente comprometidos com fluxo sanguíneo
esplênico notavelmente reduzido e hipotensão, os aumentos devidos à necrose
central periférica das veias hepáticas podem ser bastante graves como para
fazer pensar em uma hepatite com insuficiência hepática aguda. O
desdobramento diminuído da aldosterona pelo fígado afetado contribui também
para a retenção de líquidos.
Na disfunção sistólica, o fluxo ventricular incompleto da lugar a um
aumento da pré-carga, do volume diastólico e da pressão. A súbita (como é no
IAM) e a progressiva (como na miocardiopatia dilatada) ausente de miócitos
induz a remodelação ventricular que termina em uma maior tensão da parede
acompanhada de apoptose (morte acelerada das células miocárdicas) e
hipertrofia ventricular insuficiente. Mais tarde, a fração de ejeção diminui,
ocasionando uma falha progressiva da bomba cardíaca. A IC sistólica pode
afetar primeiro o VE ou o VD (mais acima), sendo que a falha de um ventrículo
tende a provocar a falha do outro.
Na disfunção diastólica, a resistência aumentada o enchimento do VE
como conseqüência da complicação ventricular diminuída (aumento da rigidez)
ocasionante a um relaxamento ventricular prolongado (estado ativo que segue
à contração) e altera o tipo de enchimento ventricular. A fração de ejeção pode
ser normal ou estar aumentada. Normalmente, aproximadamente 80% do
volume sistólico entra passivamente no ventrículo no começo da diástole,
refletido em uma onda e seguida por uma outra onda menor, vista em
ecocardiografia Doppler da onda do pulso. Em geral, na disfunção VE diastólica
o tipo é inverso, acompanhado de uma maior pressão de enchimento
ventricular e da amplitude à onda menor.
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Contando que a insuficiência seja primitivamente sistólica ou diastólica e
independente de qual o ventrículo está afetado, podem produzir-se várias
respostas hemodinâmicas, renais e neurohormonais.
Respostas hemodinâmicas
Com um DC reduzido, a liberação de O2 nos tecidos se mantém
aumentando A – Vo2.
A determinação de A – Vo2 com amostras de sangue arterial sistêmica e
arterial pulmonar é um sensível índice da função cardíaca e através da
equação de Fick (Vo2 = DC ´ A – Vo2), reflete no DC (inversamente
relacionado) e no consumo de O2 pelo organismo (Vo2 diretamente
relacionado).
O aumento da frequência cardíaca e da contratilidade miocárdica, da
constrição arteriolar nos leitos vasculares selecionados, a vasoconstrição e a
retenção de Na e água compensam nas primeiras fases a redução da função
ventricular. Os efeitos adversos destes esforços compensadores são o
aumento do trabalho cardíaco, a diminuição da perfusão coronária, o aumento
da pré-carga e pós-carga cardíacas, a retenção de líquidos, causadores de
congestão, a perda de miócitos, o aumento de excreção de K e arritmia
cardíaca.
Respostas renais
O mecanismo pelo qual um doente assintomático com disfunção
cardíaca desencadeia uma ICC verdadeira é desconhecido, pois impede a
retenção renal de Sódio e Água, seguido da diminuição da perfusão renal.
Deste modo, a medida que se deteriora a função cardíaca, a perfusão
renal diminui em proporção ao DC diminuído, o Índice de Filtração Glomerular
(IFG) diminui e o fluxo sanguíneo no interior do rim é redistribuído. A fração de
filtração e o Na++ filtrado diminuem, pois a reabsorção tubular aumenta.
Respostas neurohormonais
O aumento da atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona
influi sobre a resposta renal e periférica na IC. A intensa ativação simpática que
acompanha a IC estimula a liberação de renina do aparelho glomerular,
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próximo a alça descendente de Henle no rim. Provavelmente, a tensão arterial
sistólica diminuída, secundária à diminuição da função ventricular, estimula
também a secreção de renina. A estimulação reflexa e adrenérgica do sistema
renina-angiotensina-aldosterona produz uma cascata de efeitos potencialmente
nocivos: Os níveis aumentados de aldosterona estimulam a reabsorção de Na++
no néfron distal, contribuindo para a retenção de líquidos. A renina produzida
pelo rim interage com a angiotensina, produzindo angiotensina I, da qual,
mediante à ECA, se transforma em angiotensina II.
A angiotensina II tem vários efeitos considerados que estimulam a
síndrome da ICC, como a estimulação da liberação de arginina vasopressina
(AVP), que é um hormônio antidiurético (ADH); vasoconstrição; aumento da
secreção de aldosterona; vasoconstrição renal eferente; retenção de Na++ pelo
rim e aumento da liberação de noradrenalina. Acredita-se também que a
angiotensina II participa na hipertrofia vascular e miocárdica, contribuindo
assim para a remodelação do coração e dos vasos periféricos, o que contribui
a IC em diversas patologias miocárdicas e cardíacas.
As concentrações de noradrenalina plasmática estão consideravelmente
aumentadas, refletindo em grande proporção à intensa estimulação nervosa
simpática, porque os níveis plasmáticos de adrenalina não estão aumentados.
As altas concentrações plasmáticas de noradrenalina em pacientes com
ICC se relacionam com um mal prognóstico.
O coração contém numerosos receptores neurohormonais (a1, b1, b2, b3,
adrenérgicos, muscarínicos, endotelina, serotonina, adenosina, angiotensina
II). Em pacientes com IC, os receptores b1 (que constituem cerca de 70% dos
receptores b cardíacos), são em maior número porque que nos outros
receptores adrenérgicos, estão regulados em um nível baixo afetando
potencialmente de forma negativa a função miocárdica. Esta regulagem baixa,
que provavelmente seja uma resposta ao intenso impulso simpático, mostrou-
se presente em pacientes assintomáticos em fases precoces de IC. O
estimulador miocárdico alterado ou as funções receptoras de outros fatores
neurohormonais diversos podem influir negativamente sobre a função miocítica
na IC.
As concentrações séricas de peptídeo natriurético auricular (liberado em
resposta ao maior volume auricular e a carga de pressão) e o peptídeo
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natriurético cerebral (liberado pelo ventrículo em resposta à tensão ventricular)
estão muito aumentados nos pacientes com ICC. Estes peptídeos aumentam a
excreção renal de Na++, pois, nos pacientes com ICC, o efeito é reduzido pela
diminuição da pressão de perfusão renal, a regulação dos receptores de baixa
e, talvez, aumentado por degradação enzimática. O peptídeo natriurético
auricular sérico parece importante para o diagnóstico e prognóstico da ICC e
corresponde bem com a alteração funcional.
Em resposta à diminuição da PA e por efeito dos diversos estímulos
neurohormonais é liberado AVP. O aumento do AVP plasmático diminui a
excreção de água livre pelo rim e pode contribuir para a hiponatremia da IC. Os
níveis de AVP na ICC variam, pois os bloqueadores experimentais da AVP
aumentam a excreção de água e os níveis séricos de Na.
Outras sequelas
A enteropatia de perda de proteínas, caracterizada por uma intensa
hipoalbuminemia, infarto isquêmico intestinal, hemorragia GI aguda e crônica e
mal absorção, pode ser o resultado de uma grave hipertensão venosa crônica.
Em ausência de uma grande oclusão vascular ou irritabilidade crônica e
diminuição da função mental, a gangrena periférica pode ser conseqüência de
una Po2 crônica, muito reduzida, que reflete em uma perfusão cerebral
gravemente reduzida, com hipoxemia.
A caquexia cardíaca (perda de 10% de tecido magro) pode acompanhar
a IC gravemente sintomática. O coração insuficiente produz fator-A de necrose
tumoral, que é uma citosina importante no desenvolvimento do catabolismo e,
possivelmente, da caquexia cardíaca. É característica desta síndrome uma
intensa anorexia. A normalização da função cardíaca pode inverter a caquexia
cardíaca.
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Sinais e sintomas
A IC pode ser predominantemente direita ou esquerda e pode
desenvolver-se de forma gradual ou subitamente (como o edema pulmonar
agudo).
A cianose pode apresentar-se em qualquer forma de IC. Sua causa pode
ser central e pode refletir em uma hipoxemia. Pode estar também presente um
componente periférico devido à estase capilar com aumento de A – Vo2 e a por
consequência, a desaturação de oxihemoglobina venosa. A melhoria da cor do
leito inguinal com uma massagem enérgica indica cianose periférica. A cianose
central não pode modificar-se pelo aumento da perfusão sanguínea local.
Insuficiência VE
A hipertensão venosa pulmonar pode fazer-se evidente com a
taquicardia, fadiga de esforço, dispnéia ao exercício suave e intolerância ao
frio. A dispnéia paroxística noturna e a tosse noturna representam a
redistribuição dos líquidos em excesso no pulmão na posição deitada. As
vezes, a hipertensão venosa pulmonar e o aumento de líquido no pulmão se
manifestam em forma de broncoespasmo e sibilos. A tosse pode ser destacada
e é frequente e mostra expectoração de cor roxa ou marrom pelo sangue e a
presença de células de IC. A hemoptise verdadeira, devida a ruptura de varizes
pulmonares, com perda importante de sangue, é rara, mais pode ocorrer. Os
sinais de insuficiência VE crônica são o choque da ponta difuso e deslocado
lateralmente, um (S3) ventricular audível e galopes auriculares (S4), segundo
tom pulmonar acentuado e estertores inspiratórios basais. É frequente o
derrame pleural direito.
O edema pulmonar agudo é uma manifestação, ameaçadora para o
paciente com insuficiência VE aguda, secundária a aparição súbita de
hipertensão venosa pulmonar. Uma súbita elevação da pressão do
preenchimento VE produz uma rápida deslocamento do líquido do plasma
pelos capilares pulmonares nos espaços intersticiais e alvéolos. O paciente
apresentará dispnéia extrema, cianose profunda, taquipnéia, hiperpnéia,
inquietação e ansiedade, com sensação de sufocamento. São frequentes a
palidez e a diaforese. O pulso pode ser filiforme e a P.A. difícil de obter. As
respirações são dificultosas e os estertores estão amplamente dispersos em
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ambos os campos pulmonares, anterior e posteriormente. Alguns pacientes
apresentam um importante broncoespasmo ou síbilos (asma cardial). Os
esforços respiratórios ruidosos muitas vezes dificultam a ausculta, pois podem
ouvir-se um galope de somação, fusão de S3 e S4. A hipoxemia é grave. A
retenção de Co2 é um sinal tardio, de hipoventilação secundária e requer
atenção imediata.
Insuficiência VD
Os sintomas principais são fadiga, sensação de plenitude no pescoço,
plenitude abdominal com sensibilidade ocasional no quadrante superior direito
(sobre o fígado); edema dos tornozelos e, em fases avançadas, inchaço
abdominal por ascite. Nos pacientes em posição supina é provável o edema
sobre a região sacral. Os sinais incluem evidência de hipertensão venosa
sistêmica, ondas A ou V anormalmente grandes no pulso jugular externo,
fígado aumentado de tamanho e sensível, um sopro de insuficiência tricúspidea
na borda external esquerda, RV S3 e S4 e edema com fóvea nas partes
inferiores do corpo.
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Diagnóstico
Ainda que os sintomas e sinais (p. ex., dispnéia de esforço, ortopnéia,
edemas, taquicardia, roncos pulmonares, um terceiro ruído cardíaco, distensão
venosa jugular) têm uma especificidade diagnóstica de 70 à 90%, na
sensibilidade e na exatidão preditiva são baixas.
Os exames recomendados de laboratório são o hemograma completo,
creatinina hemática, BUN, eletrólitos (p. ex., Mg, Ca), glicose, albumina e
exames de função hepática. Nos pacientes com fibrilação auricular e em
pessoas selecionadas, especialmente anciãs, deverão valorizar-se os
resultados dos exames de função tiróidea. Em pacientes com suspeita de
arteriopatia coronária podem estar indicadas nos exames de esforço com
radioisótopos ou imagens ultra-sônicas ou a angiografia coronária. A biópsia do
endocárdio é de prescrição limitada.
O ECG deve ser realizado em todos os pacientes com IC, embora as
descobertas não são específicas; o ECG ambulatório em geral não é útil.
Diversas alterações (p. ex., da hipertrofia ventricular, IM ou bloqueio de rama)
podem proporcionar indicações etiológicas. O começo recente de uma
fibrilação auricular rápida pode precipitar uma insuficiência aguda VE ou VD.
As contrações ventriculares prematuras frequentes podem ser secundárias e
desaparecer ao tratar da IC.
Em todos os pacientes deve-se realizar uma radiografia de tórax. A
congestão venosa pulmonar e o edema intersticial ou alveolar são
característicos do edema de pulmão. As linhas B de Kerley mostram a
elevação crônica da pressão auricular esquerda e o espessamento crônico dos
divisórias interlobulares pelo edema. O cuidadoso estudo da anatomia
cardíaca, a valorização da alteração de tamanho das cavidades e a busca de
calcificações cardíacas podem revelar importantes indicações etiológicas.
A ecocardiografia pode ajudar a valorizar as dimensões das cavidades, a
função valvular, a fração de ejeção, as alterações da motilidade na parede e a
hipertrofia VE. A ecocardiografia Doppler ou o Doppler colorido é capaz de
descobrir com exatidão o derrame pericárdico, os trombos intracardíacos e os
tumores e ainda reconhece calcificações nas válvulas cardíacas, anel mitral e
parede da aorta. As alterações da motilidade da parede segmentárias o
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localizadas, sugerem com grande força uma arteriopatia coronária subjacente.
Nos estudos com Doppler da entrada venosa, mitral e pulmonar são
úteis com frequência para descobrir e medir a disfunção diastólica VE.
Tratamento
Considerando-se como uma situação mais urgente, é necessário
estabelecer a causa da IF. Os quadros corrigíveis requerem atenção imediata
que, geralmente, começa antes de terminar a avaliação etiológica. Para os
pacientes que precisam de hospitalização, o tratamento inespecífico inicial
consiste em repouso no leito, com os pés pendentes, O2 nasal (muitas vezes a
3 l/min durante 24 à 36 h) e sedação, caso necessário.
Tratamento farmacológico da disfunção sistólica
O tratamento farmacológico da disfunção sistólica exige, principalmente,
diuréticos, inibidores de ECA, digitálicos e beta-bloqueadores; a maioria destes
pacientes se tratam ao menos com uma destas classes farmacológicas.
Os diuréticos (ver tabela 1) podem melhorar a função ventricular,
incluindo os pacientes assintomáticos. São preferíveis os diuréticos de alça; o
mais frequentemente utilizado é a furosemida, i.v. ou v.o. As doses i.v.
(geralmente 20 à 40 mg, aumentados até 320 mg, se necessário) muitas vezes
se empregam inicialmente devido ao seu início rápido e ação máxima em 30
min. Nos casos resistentes, 250 mg de clorotiazida i.v., 0,5 à 2 mg de
bumetamida v.o., 0,5 a 1,0 mg i.v. o metolazona v.o. (as doses variam com a
formulação) podem ter efeito aditivo. A hiperdosagem de diuréticos de alça
podem provocar hipovolemia, hiponatremia, hipomagnesemia e profunda
hipocalemia, de modo que é essencial nos cuidados de enfermagem o controle
dos eletrólitos.
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Tabela 1 – Farmacocinética dos Diuréticos
Os diuréticos podem também provocar insuficiência renal e aumentar a
intensa estimulação simpática, característica da IC. Para evitar os efeitos de
perda de K+ dos diuréticos de alça, pode-se empregar fármacos retentores de
K+, pois a hipercalemia pode complicar seu uso. Em geral, os diuréticos
tiazídicos não costumam ser eficazes nos pacientes com sintomas avançados
de ICC.
A eficácia clínica dos diuréticos depende da restrição nutricional de Na+,
utilizando um processo gradual: eliminar o sal da dieta e evitar os alimentos
muito salgados; eliminar o sal de cozinha e consumir, aproximadamente, 1,2 à
1,8 g/dia de Na+ e, para os pacientes mais graves, consumir <1 g/dia de Na+
por conta de alimentos pobres em Na+. O paciente deve manter um registro do
peso diário para estimular a assistência ambulatória da IC e para evitar as
hospitalizações recorrentes ao descobrir precocemente a evidência de
acumulação de Na+ e água.
Os inibidores de ECA produzem uma vasodilatação periférica, arterial e
venosa, diminuições estáveis da pressão de preenchimento VE em repouso e
ao esforço por vasodilatação, diminuição da resistência vascular sistêmica,
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possível melhoria da função diastólica, provável diminuição da perda de células
miocárdicas e um efeito inotrópico negativo no coração insuficiente.
Vários inibidores de ECA estimulam a sobrevivência na IC e reduzem a
frequência de angina e IM recorrentes nas arteriopatias coronárias. A expansão
de volume e a insuficiência renal reduzem seu beneficio habitual. Os efeitos
adversos são: a diminuição da P.A. (as vezes grave) em quase todos os
pacientes, especialmente nos que apresentam hiponatremia. A vasodilatação
da arteríola glomerular eferente pode provocar uma insuficiência renal
moderada. Pode haver retenção de K devido ao menor efeito aldosterônico,
sobretudo em pacientes que estão recebendo suplementos de K+. De 5 à 20%
dos casos pode aparecer tosse, provavelmente devido à acumulação de
bradiquinina, como consequência do menor desdobramento de metabólitos
inativos.
Ocasionalmente se produz exantema o disgeusia. O edema
angioneurótico é raro, pois pode ser perigoso para a vida.
Os inibidores de ECA se iniciam em pequenas doses, que se aumentam
gradualmente, continuando logo de forma indefinida; as doses devem ser
administradas, avaliando a tolerância da posologia.
As doses usuais são: captopril, 25 à 50 mg/dia; enalapril e lisinopril, 2,5
à 5 mg/dia e quinapril, 10 mg/dia. Embora possa observar um efeito precoce, o
pleno efeito do fármaco não é percebido durante as primeiras 2 à 4 semanas.
As grandes doses tem uma frequência de efeitos adversos similar às baixas,
pois são mais eficazes (nos estudos que demonstram uma melhor sobrevida e
outras vantagens, geralmente é utilizado grandes doses).
As doses de diuréticos administrados ao mesmo tempo freqüentemente
devem ser reduzidas, sobretudo se apresenta uma insuficiência renal induzida
por um inibidor de ECA. A aspirina pode reduzir o efeito dos inibidores de ECA
na IC, possivelmente porque inibe os efeitos das quininas.
O antagonista dos receptores de angiotensina II - losartan, sob doses de
25 à 50 mg/dia mostra efeitos similares aos inibidores de ECA, embora não se
têm publicado provas comparativas. Teoricamente, a tosse não deveria
aparecer porque o losartan não atua sobre as quininas.
As administrações de digitálicos tem muitas ações como um fraco
inotropismo; bloqueio do nódulo auriculoventricular, deixando mais lento o
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ritmo ventricular na fibrilação auricular ou prolongando o tempo PR no ritmo
sinusal; vasoconstrição lenta, e melhoria da perfusão renal.
O fármaco é prescrito amplamente nos Estados Unidos, embora seu
papel segue sendo discutido e sua utilidade na IC, e, referente à ausência de
fibrilação auricular, encontra-se controvérsias.
A digoxina é a preparação de digitálico mais frequentemente prescrita. É
excretada pelo rim, com uma período de eliminação de 36 à 48 h em pacientes
com função renal normal. Os pacientes com função renal reduzida necessitam
doses menores. A biodisponibilidade oral dos comprimidos de digoxina é
aproximadamente de 65 à 75%. A digitoxina, uma alternativa em pacientes com
doença renal conhecida ou suspeitada, sendo eliminada amplamente pela bile
e, portanto, não é influenciada pela função renal anormal.
A digoxina melhora ligeiramente a função VE, e permite a redução da
dose de diurético e diminui a necessidade de hospitalização. A diferença dos
inibidores de ECA, não melhora a tolerância ao esforço. Quando se suspende a
digoxina na IC, aumenta o tempo de hospitalização e dos sintomas, embora o
fármaco não pareça modificar o índice de mortalidade. Portanto, a digoxina é
útil na IC sintomática quando é utilizada com diuréticos e um inibidor de ECA.
É muito eficaz em pacientes com grandes volumes telediastólicos VE e
um terceiro ruído cardíaco.
A digoxina (0,25 à 0,50 mg/dia – dependendo do volume do corpo) em
pacientes com função renal normal conseguirá a plena digitalização
aproximadamente em 1 semana.
Um miligrama do fármaco i.v., administrado à doses de 0,5 mg
inicialmente e logo 0,25 mg às 8 e 16 h (ou 1,25 mg v.o., administrando 0,5 mg
inicialmente e logo 0,25 mg às 8, 16 e 24 h) deverá alcançar níveis suficientes
nos tecidos e no plasma, com ausência de toxicidade. Estas doses vão
seguidas por 0,125 a 0,375 mg/dia, segundo a capacidade corporal do
paciente. Pessoas mais idosas raramente necessitam de doses >0,125 mg/dia.
Os pacientes com função renal diminuída requerem doses menores.
A digoxina (e todos os glucosídeos digitálicos) tem um limiar terapéutico-
tóxico. Aproximadamente em 80% do efeito terapêutico pode ser atingido
concentrações séricas de 1,0 a 1,5 ng/ml, geralmente muito abaixo do nível
tóxico de 2 ng/ml. No tratamento da fibrilação auricular pode-se combinar
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doses moderadamente baixas de digoxina com beta-bloqueadores ou
bloqueadores de Ca (ex., diltiazem), que têm um importante efeito bloqueador
auriculoventricular, para controlar a frequência ventricular em repouso ou
durante o exercício.
A digoxina prolonga a condução no nódulo auriculoventricular. O
bloqueio cardíaco de primeiro grau é frequente, porém não é progressivo,
sendo não necessário ajustar a dose do fármaco. Pode apresentar o fenômeno
de Wenckenbach. Os efeitos tóxicos mais importantes dos digitálicos são as
arritmias, muito perigosas para a vida devido ao bloqueio cardíaco completo ou
a arritmia ventricular. O digitálico aumenta o automatismo das fibras de
Purkinje e pode estimular a re-entrada, produzindo extra-sístoles acopladas,
fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular. A taquicardia ventricular
bidirecional é resultante da toxicidade de digitálicos.
A hipopotasemia e a hipomagnesemia (causadas frequentemente por
diuréticos) potenciam a capacidade da digoxina em provocar arritmia
ventricular maligna ou bloqueio cardíaco. O descobrimento e o tratamento da
depressão eletrolítica são obrigatórios em pacientes que tomam diuréticos e
digoxina, exceto em presença de um bloqueio auriculoventricular, situação esta
em que se deve estar analisando a aplicação de um marcapasso temporário
antes de corrigir a alteração eletrolítica.
Outras manifestações de toxicidade digitálica são as náuseas, vômitos,
anorexia, diarréia, confusão, ambliopia e, raramente, xeroftalmia.
O primeiro passo no tratamento da intoxicação digitálica é interromper o
fármaco. O ECG deve controlar muito intensivamente, e se o K+ sérico estiver
baixo, deve-se administrar 80 UI de cloreto de potássio i.v. em 1 litro de A/D à
5% em velocidade de 6 ml/min. O magnésio sérico baixo é tratado com 1 g de
sulfato de magnésio a cada 6 h durante 4 doses i.m. o i.v. para crianças e
adolescentes e 5 g/h em A/D à 5% durante 3 h (para adultos). A administração
de Fab imune a digoxina (se estiver disponível) , sendo que é considerada
melhor que a administração de outro antiarrítmico. As arritmias ventriculares
são tratadas com lidocaína o fenitoína. O bloqueio cardíaco com ritmo
ventricular lento é tratado muito bem com um marcapasso perivenoso
temporário. Isoproterenol está contra-indicado pela maior tendência a arritmia
ventricular.
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Vários fármacos inotrópicos estão sendo estudados no tratamento da IC,
pois, exceto a digoxina, as prescrições vêm mostrado um aumento da
mortalidade.
Mediante a administração cuidadosa de beta-bloqueadores, alguns
pacientes especialmente com miocardiopatia dilatada idiopática melhoraram
clinicamente e podem apresentar uma diminuição da mortalidade. O tratamento
pode iniciar-se cautelosamente empregando-se 1/4 a 1/10 da dose diária
normal, com um aumento muito gradual até a dose normal, se for bem tolerado,
por várias semanas.
Depois do tratamento inicial da IC com beta-bloquedores, a frequência
cardíaca diminui, o volume sistólico e a pressão de preenchimento não variam
e o consumo miocárdico de O2 descende. Com uma frequência cardíaca mais
lenta, melhora a função diastólica. O preenchimento ventricular retorna a uma
forma mais normal (aumentando na protodiástole) que mostrará menos
restritivo. A melhoria da função cardíaca é mensurada só após de 6 a 12
meses com um aumento da fração de ejeção, um decréscimo da pressão de
preenchimento VE e um aumento do débito cardíaco. Funcionalmente, parece
melhorar a capacidade de esforço.
O carvedilol, um beta-bloqueador não-seletivo de terceira geração, é
também um vasodilatador com bloqueio A e antioxidante. Estudos aleatórios
controlados têm demonstrado uma importante redução da mortalidade por
todas as causas dos episódios cardíacos em pacientes com ICC levemente
sintomática e fração de ejeção de aproximadamente 0,35 psi. A função
ventricular melhora significativamente. Em um paciente que toma doses
estáveis de diuréticos, inibidores de ECA e digoxina, a dose inicial
recomendada de carvedilol é de 3,125 mg 2x ao dia durante 2 semanas, com
cuidadosa prescrição no aumento, dobrando a doses a cada 2 semanas, até o
nível máximo tolerado de 25 mg 2x ao dia para pessoas com peso <85 kg e 50
mg 2x ao dia para aquelas que pesam >85 kg.
Os vasodilatadores melhoram a função ventricular reduzindo a tensão
sistólica da parede ventricular, a impedância aórtica, o tamanho das cavidades
ventriculares e a insuficiência valvular. A consequência é um melhor equilíbrio
entre o aporte e a demanda de O2 no miocárdio. Os pacientes gravemente
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enfermos, com congestão pulmonar grave e função ventricular deteriorada,
podem responder a nitroglicerina ou ao nitroprusiato i.v.
A adição de hidralazina e dinitrato de isosorbida ao tratamento triplo
normal da IC pode melhorar a hemodinâmica e a tolerância ao esforço e
reduzir a mortalidade em pacientes crônicos. A hidralazina se inicia em doses
de 25 mg 4x dia, aumentando à cada 3 dias até um máximo de 300 mg/dia,
embora a maioria dos pacientes com IC crônica não podem tolerar doses >200
mg/dia sem apresentar hipotensão. Dinitrato de isosorbida se administra em
doses de 20 mg, 3 ou 4x ao dia e pode ser aumentada até o máximo de 160
mg/dia. Os pacientes devem fazer controle rigoroso quanto à hipotensão
quando a dose é aumentada. Pode ser necessária a hospitalização. O
benefício pode não ser evidente até depois de várias semanas. Exceto nos
casos muito graves ou crônicos de IC, os vasodilatadores tem sido substituídos
por inibidores de ECA, que são mais fáceis de utilizar e, em geral, se toleram
melhor.
O emprego de bloqueadores de Ca em pacientes com diminuição da
função VE, causadora de IC, não é indicado. Vários bloqueadores de CA têm
mostrado um efeito nocivo (nifedipina, diltiazem) ou falta de evidência de
melhoria clínica ou hemodinâmica (nisoldipina, nicardipina, felodipina).
A amlodipina é bem tolerada na ICC. Reduz significativamente a
mortalidade em pacientes com miocardiopatia dilatada idiopática. A amlodipina
(ou outro bloqueador de canais de Ca vaso-seletivo, de ação prolongada, como
felodipina) pode ser útil em pacientes com miocardiopatia cuja IC é
suficientemente controlada por diuréticos, inibidores de ECA, digitálicos e os
beta-bloqueadores. A amlodipina pode ser também útil no tratamento da angina
com hipertensão acompanhada.
Tratamento farmacológico da disfunção diastólica
Os pacientes com disfunção diastólica não podem tolerar a diminuição
da P. A ou do volume plasmático. Portanto, em geral, os diuréticos, inibidores
de ECA e os vasodilatadores estão contra-indicados. O tratamento da IC na
miocardiopatia hipertrófica com um beta-bloqueador, por exemplo a
disopiramida, tem por objetivo reduzir a contratilidade cardíaca. Assim sendo, a
digoxina está também contra-indicada. O tratamento com êxito da hipertensão
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ou a sustentação valvular na estenose aórtica diminuirão a hipertrofia IV e
reduzirão a rigidez vascular. Em geral, o tratamento da disfunção sistólica
dominante melhorará a disfunção diastólica. O controle dos pacientes com
infiltração ventricular excessiva (p. ex., na amiloidose) segue sendo
insatisfatório. Pode-se promover uma frequência cardíaca mais lenta com a
administração de um beta-bloqueador, prolongando a diástole, possivelmente
melhorando o relaxamento ventricular e permitindo um padrão de enchimento
ventricular mais normalizado.
Tratamento farmacológico da arritmia
A taquicardia sinusal é frequente na IC, pois, em geral, desaparece com
seu tratamento eficaz. Se persistir a taquicardia, deve-se buscar as causas
associadas (p. ex., tireóide hiperativa, êmbolos pulmonares, febre, anemia) e
deverá ser avaliado um tratamento cuidadoso com beta-bloqueadores. A
fibrilação auricular não controlada pode contribuir de forma importante para a
disfunção VE. Alguns pacientes apresentam ritmos ventriculares bem
controlados em repouso que se fazem muito rápidos durante a mais mínima
emoção ou esforço físico. Os tratamentos prudentes com digoxina, beta-
bloqueadores ou bloqueadores de canais de Ca++ (p. ex.diltiazem), isolados ou
combinados, muitas vezes é eficaz. As vezes as doses que controlam a
taquicardia induzem perigos de assistolia. Pode ser necessária a inserção de
um marcapasso com mantimento de grandes doses de fármacos que
bloqueiam a condução auriculoventricular ou a ablação completa ou parcial do
nódulo auriculoventricular. As extra-sístoles ventriculares são frequentes na IC.
Geralmente ignora-se na ausência de uma taquicardia ventricular mantida
porque a maioria desaparece com o tratamento com êxito da IC.
Amiodarona, um vasodilatador, tem efeitos antiarrítmicos e ação
inotrópica negativa direta e é antiisquêmico. Contudo, na IC, a amiodarona em
doses de 200 a 300 mg/dia v.o. melhora a função VE, possivelmente porque
seu efeito vasodilatador supera a sua ação inotrópica negativa. Alguns estudos
indicam uma melhor evolução na miocardiopatia, especialmente na hipertrófica
obstrutiva, ou quando é de origem isquêmica. Paradoxicamente, o tratamento
da arritmia ventricular com outros antiarrítmicos, exceto os beta-bloqueadores
na IC, não tem reduzido a mortalidade.
24
O tratamento da arritmia na IC pode ser difícil porque os antiarrítmicos,
exceto amiodarona e beta-bloqueadores, possuem efeitos pro-arrítmicos
adversos em presença da disfunção VE. Se a fibrilação auricular rápida não
responde ao tratamento com digoxina, deverá secundariamente ser empregado
beta-bloqueadores ou os bloqueadores de canais de Ca++, em um tratamento
com colocação de um marcapasso permanente e na ablação completa ou
parcial do nódulo auriculoventricular.
O tratamento do edema agudo de pulmão inclui a administração de O2
com máscara, em posição 90° se for tolerado, 1 à 5 mg de morfina i.v. uma ou
duas vezes ao dia e 0,5 à 1,0 mg/kg de furosemida i.v. Se a hipoxia é grave
( monitorada por oximetria de pulso) ou a retenção de Co2 é evidente (gases no
sangue arterial) pode ser necessária a intubação traqueal e a ventilação
assistida. Deverá ser realizada uma rápida avaliação da causa da IC pelo
histórico do paciente, exame físico criterioso, o ECG, e, se estiver indicado um
ecocardiograma. O tratamento específico depende da etiologia: um
vasodilatador na hipertensão grave, um antiarrítmico i.v. ou a cardioversão para
a taquicardia supraventricular ou ventricular,um bloqueador de canal de Ca++
i.v., um beta-bloqueador i.v., digoxina i.v. ou cardioversão para reduzir a
frequência ventricular na fibrilação paroxística auricular.
O IM agudo é a causa mais frequente de insuficiência VI aguda. Se for
possível manter a P.A., o tratamento é como indicado acima, adicionando 0,4
mg de nitroglicerina sublingual, repetidas a cada 5 min, seguidos por 10 à 100
mg/min de nitroglicerina i.v. Se estiver indicado pode-se administrar um
fármaco trombolítico. Como a situação dos líquidos antes do começo da IC
aguda seja normal nos pacientes com IM, os diuréticos são menos úteis e
podem precipitar uma hipotensão. Se a P.A. descende ou surge um choque,
pode ser necessários dobutamina i.v. e bomba de balão intra-aórtico
(contrapulsação). Nos pacientes que não melhoram pode-se iniciar uma
angiografia coronária de emergência e sua avaliação para a prática de uma
ACTP ou uma intervenção cirúrgica de derivação.
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Tratamento da IC refratária
Vários fatores podem provocar uma falta de resposta ao tratamento
adequado ou uma perda gradual de resposta eficaz. As causas são o
tratamento "quádruplo-sub-ótimo", a deterioração da função renal, uma
infecção tireóidea oculta, uma anemia, hipotensão provocada pelo tratamento,
o surgimento de uma arritmia (p. ex., fibrilação auricular com resposta
ventricular rápida, taquicardia ventricular intermitente), o consumo de álcool e
os efeitos adversos de fármacos administrados simultaneamente
(especialmente AINE). Se não se encontram causas tratáveis haverá de
pensar em tratamento médico adicional ou remeter o paciente para intervenção
cirúrgica.
Cirurgia
O transplante de coração é o único tratamento que altera potencialmente
a história natural da IC a longo prazo. Atualmente, a sobrevivência entre 1 e 3
anos está aproximadamente entre e 82 e 75%; contudo, a mortalidade
enquanto se espera um doador é de 12 à 15 %. A miocardiopatia dinâmica é
utilizada experimentalmente para incrementar a função VE colocando o
músculo dorsal largo envolvendo o coração e estimulando repetidamente esse
músculo esquelético. Existem muitos casos de resposta na melhoria do estado
funcional em aproximadamente 80% dos pacientes. Outro procedimento
experimental trata-se de aliviar a tensão da parede extirpando tiras
ventriculares e reduzindo o volume VE, pois os dados sobre os resultados são
limitados. Estão sendo valorizados vários aparelhos implantáveis de ajuda
ventricular. A ajuda ventricular com uma fonte externa de energia vem tendo
êxito para manter pacientes selecionados com IC refratária, antes do
transplante cardíaco. Estão sendo valorizados também novos aparelhos em
que a fonte de energia é inserida completamente no corpo, reduzindo assim
uma importante complicação por infecção.
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Cuidados terminais
A morte é inevitável nos pacientes com doença progressiva e que não
são candidatos ao transplante e cujos sintomas graves não podem ser mais
controlados. A assistência deverá ser orientada à apenas controlar o alívio da
dor e o sofrimento.
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Conclusão
Diante de todo o estudo proposto neste trabalho, conclui que a
Insuficiência cardíaca crônica e congestiva são de relevante preocupação para
a comunidade científica, tendo em vista sua complexidade de tratamento, visto
que a problemática não se restringe apenas ao coração como um todo, mas
provoca muitos danos em outros órgãos como pulmões, fígado, órgãos
abdominais e tecidos periféricos , dificultando o tratamento que poderia ser de
forma isolada, tendo muitas vezes que realizar associações de muitos
fármacos, muitas vezes provocando toxicidades diversas, e aumentando o
risco de infecções hospitalares devido ao aumento do tempo de internação.
A pressão arterial elevada, as doenças coronarianas, doenças
vasculares cardíacas, endocardites, arritmias, o hipertireoidismo, anemia,
isquemias, cardiomiopatias, doenças neuromusculares, o uso de toxinas
( álcool, tabaco e drogas) entre outras, são importantes fatores preponderantes
que sobrecarregam o coração já fadigado pelos anos.
Uma qualidade de vida adequada, como a ingesta de alimentos
saudáveis e a prática de exercícios moderados, bem como o controle da
pressão arterial diminuem consideravelmente os riscos de insuficiência
cardíaca futura.
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Bibliografia
Manual de Medicina Interna Merck - editora harcourt , 10ª.ed, 2001
PASSIGLI, Prof. Dr. Alfredo Garcia.- Universidade Complutense de Madrid,
Espanha, Especialista em Cardiologia, colaborador do Manual de Medicina
Merck.
LIZASOAIN, Prof. Dr. Juan Ignácio Hernandez - Professor Titular do
Departamento de Farmacologia da Universidade Complutense de Madrid,
colaborador do Manual de Medicina Merck.
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