infornativo 12ª edição

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GRATUITO ANO 1 / MARÇO 2013 / NÚMERO NATIVA A violência contra a mulher já virou uma epidemia. E, quem confirma isso é a ONU (Organização das Nações Unidas) que divulgou recentemente um levantamento da situação, mostrando que 7 em cada 10 mulheres no mundo serão estupradas, ou sofrerão qualquer tipo de violência, em algum momento de suas vidas. “A violência contra a mulher deriva da ideologia machista”, afirma Maria Amélia Teles, fundadora da União de Mulheres de São Paulo. “Apren- demos que os homens têm direito sobre a vida e a morte. Esse é um dos pilares da sociedade e dá origem a todas as outras violências.” Já foi provado que a questão é de ordem cultural, e não natural. Mesmo que alguns neguem as lutas feministas, está claro que ainda vivemos numa sociedade onde o homem manda e a mulher obedece. Casos de estupro coletivo, como visto há pouco tempo na Índia, são tratados como algo bárbaro, mas pouco se discute a respeito do motivo que se leva a cometer um ato de violência desses contra uma mulher. Prefere-se colocar esses e tantos outros casos como acontecimentos isolados, que não têm nada a ver com a cultura do machismo. Mesmo assim, estão havendo mobilizações para a conscientização feminina, como o caso da gaúcha Paula Berlowitz, 34 anos, que idealizou o blog Marchadasvadias.org e o site Cromossomo X, com notícias relacionadas aos direitos das mulheres. “É irônico porque eu sempre fui muito consciente, achava que nunca aconteceria comigo”, disse numa entrevista recente à revista Isto É. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de dezembro de 2011, mais de 26 mil prisões em flagrante e quatro mil prisões preven- tivas já foram feitas a partir da execução da Lei Maria da Penha, que é referência no mundo no combate à violência contra a mulher. São bons números, no entanto, ainda não refletem o nível de consciência que deveria existir. “Em alguns lugares do País, a Defensoria não funciona e o Ministério Público não tem versão atualizada da legislação e dá prioridade à conciliação, não à denúncia. Em outros, as delegacias não funcio- nam e não possuem pessoal qualificado”, afirmou a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora da CPMI da Violência Contra as Mulheres, também em entrevista recente. Portanto, a melhor arma ainda é a informação, e em caso de violência, a denúncia. Afinal, a sociedade já evoluiu bastante em outros termos para continuar com práticas medievais, achando que bater em mulher seja algo normal. A Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha, ganhou este nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em vigor, fazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menos potencial ofensivo. A lei também acabou com as penas pagas em cestas básicas ou multas, além de englo- bar, além da violência física e sexual, também a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio moral. LEI MARIA DA PENHA EM MULHER, NÃO SE BATE. por: Erick Silva

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Jornal Comunitário do Bairro de San Martin, Recife-PE

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Page 1: Infornativo 12ª Edição

GRATUITOANO 1 / MARÇO 2013 / NÚMERO

NATIVA

A violência contra a mulher já virou uma epidemia. E, quem confirma isso é a ONU (Organização das Nações Unidas) que divulgou recentemente um levantamento da situação, mostrando que 7 em cada 10 mulheres no mundo serão estupradas, ou sofrerão qualquer tipo de violência, em algum momento

de suas vidas. “A violência contra a mulher deriva da ideologia machista”, afirma Maria Amélia Teles, fundadora da União de Mulheres de São Paulo. “Apren-demos que os homens têm direito sobre a vida e a morte. Esse é um dos pilares da sociedade e dá origem a todas as outras violências.”

Já foi provado que a questão é de ordem cultural, e não natural. Mesmo que alguns neguem as lutas feministas, está claro que ainda vivemos numa sociedade onde o homem manda e a mulher obedece. Casos de estupro coletivo, como visto há pouco tempo na Índia, são tratados como algo bárbaro, mas pouco se

discute a respeito do motivo que se leva a cometer um ato de violência desses contra uma mulher. Prefere-se colocar esses e tantos outros casos como acontecimentos isolados, que não têm nada a ver com a cultura do machismo.

Mesmo assim, estão havendo mobilizações para a conscientização feminina, como o caso da gaúcha Paula Berlowitz, 34 anos, que idealizou o blog Marchadasvadias.org e o site Cromossomo X, com notícias relacionadas aos direitos das mulheres. “É irônico porque eu sempre fui muito consciente, achava que nunca aconteceria comigo”, disse numa entrevista recente à revista Isto É.

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de dezembro de 2011, mais de 26 mil prisões em flagrante e quatro mil prisões preven-tivas já foram feitas a partir da execução da Lei Maria da Penha, que é referência no mundo no combate à violência contra a mulher. São bons números, no entanto, ainda não refletem o nível de consciência que deveria existir. “Em alguns lugares do País, a Defensoria não funciona e o Ministério Público não tem versão atualizada da legislação e dá prioridade à conciliação, não à denúncia. Em outros, as delegacias não funcio-

nam e não possuem pessoal qualificado”, afirmou a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora da CPMI da Violência Contra as Mulheres, também em entrevista recente.

Portanto, a melhor arma ainda é a informação, e em caso de violência, a denúncia. Afinal, a sociedade já evoluiu bastante em outros termos para continuar com práticas medievais, achando que bater em mulher seja algo normal.

A Lei 11.340/06, conhecida com Lei Maria da Penha, ganhou este nome em homenagem à Maria da Penha Maia Fernandes, que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso. Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em vigor, fazendo com que a violência contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menos potencial ofensivo. A lei também acabou com as penas pagas em cestas básicas ou multas, além de englo-bar, além da violência física e sexual, também a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio moral.

LEI MARIA DA PENHA

EM MULHER, NÃO SE BATE.por: Erick Silva

Page 2: Infornativo 12ª Edição

Na edição de nº 09 do Infornativo, tive-mos uma ótima entrevista com o rapper Tiago “Chapa Preta”. À época, ele falou que estava prestes a lançar seu primei-ro disco “Toda Hora” por uma grava-dora independente. Pois, eis que o dis-co já está à venda nos shows, ao preço de R$ 5,00 cada. Que o “Chapa Pre-ta” continue sua luta, e lembra que faz participação no Show de MVBill, com Cone Crew Diretoria e Dj. Cia. Contato: (81) 8473 2676.

por: Erick Silva | Ilustração: Osvaldo Morais

RAPPER THIAGO“CHAPA PRETA”LANÇA CD.

SANARTE

No Brasil, há uma crescente corrente religiosa, principalmente entre as denominações pentecostais. É comum vermos muitas igrejas sendo construídas em todos os lugares. Em San Mar-

tin, por exemplo, não são raras as ruas que possuem duas, três ou até quatro templos religiosos. E, com esse crescimento, vem junto um assunto que sempre cria polêmica: o chamado comércio da fé, ou simplesmente transformar coisas relacionadas à religião em produto para ser vendido; ganhos espirituais (vida eterna) mediante pagamen-tos de todas as espécies.

“Historicamente, as religiões sempre tiveram a prática de comercia-lizar seus ‘produtos’ junto aos lugares sagrados”, diz Prof. Sergio Sezino Douets Vasconcelos – Doutor em Teologia, professor do ba-charelado em Teologia e do Mestrado em Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco. “O problema é que o mer-cado não possuía o controle das relações humanas e agora detém.”

Em um país onde só 8% da população declaram não seguir uma re-ligião, os templos dos mais variados cultos registraram uma arreca-dação bilionária nos últimos anos. Apenas em 2011, arrecadaram R$ 20,6 bilhões, valor superior ao orçamento de 15 dos 24 ministérios da Esplanada – ou 90% do disponível neste ano para o Bolsa Família. A soma (que inclui igrejas católi-cas, evangélicas e demais) equivale a meta-de do Orçamento da cidade de São Paulo e fica próxima da receita líquida de uma empresa como a TIM.“A igreja não é uma empresa, que vende produtos para adquirir recursos. Vive so-

“A religião foi absorvida pela lógica do consumo. E a lógica do mercado é manipular, o máximo possível, a subje-tividade humana e os seus desejos, para que os bens produzidos pelo mercado

possam ser consumidos.

bretudo da doação espontânea, que decorre da consciência de cris-tão”, afirmou recentemente Dom Raymundo Damasceno, presiden-te da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). O Prof. Sergio Sezino discorda: “O Evangelho, para agradar aos ‘desejos dos clientes’ vai sendo banalizado e as práticas, muitas vezes, discutíveis. Não se deve confundir prática espiritual com práticas psicológicas emocionais.”

É bom lembrar que o crescimento vertiginoso no número de algu-mas igrejas se deve a algumas facilidades. Assim como partidos po-líticos e sindicatos, os templos têm imunidade tributária (não paga-mento de impostos) garantida pela Constituição. As igrejas precisam declarar anualmente a quantidade e a origem dos recursos à Receita (que mantém sob sigilo os dados de cada declarante; por isso não é possível saber números por religião).

A prática religiosa é livre e garantida pela Constituição. No entanto, é preciso que comece a haver bom senso para o grande número de igrejas espalhadas em nossas ruas, para que não haja o monopólio de uma ou outra religião, nem a banalização de suas práticas através

de todo e qualquer produto com sua “marca”. Assim o Prof. Sergio Sezino conclui: “A reli-gião foi absorvida pela lógica do consumo. E a lógica do mercado é manipular, o máximo possível, a subjetividade humana e os seus de-sejos, para que os bens produzidos pelo mer-cado possam ser consumidos. E isso se observa claramente nessas religiosidades ‘light’ e ‘diet’ que estão sendo oferecidas no mercado religio-so atual, com os seus kits devocionais à venda”.

OBSERNAÇÃO