hoje macau 28 mai 2015 #3339

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h AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 28 DE MAIO DE 2015 ANO XIV Nº 3339 hojemacau A guerra dos mundos SINOSKY GOVERNO MANTÉM EM CIMA DA MESA RESCISÃO DE CONTRATO POLÍTICA PÁGINA 4 Há muito que um conjunto de ilhas ricas em recursos naturais tem dado azo a uma troca de acusações entre a China e os seus vizinhos asiáticos, apoiados pelo seu grande aliado: os Estados Unidos. Nas últimas semanas, após a incursão de um avião norte-americano sobre a Ilhas Spratly, as insinuações subiram de tom levando o Global Times a escrever que “a guerra pode ser inevitável”. A tensão entre os dois gigantes mundiais conhece novos limites. MAR DO SUL DA CHINA TENSÃO A SUBIR DE TOM GALAXY A FESTA DA BROADWAY ESTÁ NO COTAI EVENTOS CENTRAIS GRANDE PLANO PÁGINAS 2-3 Viagem ao exílio interior DE CLÁUDIO MAGRIS

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Hoje Macau N.º3339 de 28 de Maio de 2015

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A guerrados mundos

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política PáGina 4

Há muito que um conjunto de ilhas ricas em recursos naturais tem dado azoa uma troca de acusações entre a China e os seus vizinhos asiáticos, apoiadospelo seu grande aliado: os Estados Unidos. Nas últimas semanas, após a incursãode um avião norte-americano sobre a Ilhas Spratly, as insinuações subiramde tom levando o Global Times a escrever que “a guerra pode ser inevitável”.A tensão entre os dois gigantes mundiais conhece novos limites.

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2 hoje macau quinta-feira 28.5.2015grande plano

“a guerra pode ser inevi-tável”, assim avança o editorial do Global Times referindo-se

ao clima de tensão que se está a viver no mar do sul da China. Situadas a nordeste de Taiwan, o conjunto das ilhas, carregadas de recursos naturais, há muito que tem sido motivo de discórdia entre a China e os Estados Unidos da América (EUA) e seus aliados da região, mas pode estar a chegar ao fim, da pior forma.

Nas últimas semanas esta disputa tem ocupado uma grande parte do jornais mundiais. O voo de reconhecimento ao arquipélago Spratly, onde se situam as ilhas em que Pequim está a construir bases militares, levado a cabo pelos EUA, na semana passado, e torna-do público pelos meios de comuni-cação social não foi bem recebido pela China que se mostrou bastante insatisfeita. “Expressamos a nossa forte insatisfação, instamos os EUA a respeitar estritamente o direito internacional e as regras internacionais e que se abstenham de tomar qualquer acção arriscada e provocativa”, alertou Hong Lei, Ministro dos negócios estrangeiros chineses.

IntromIssão levaa reforço mIlItarA acção, considerada como in-tromissão norte-americana, levou a que o Ministério da Defesa da China avançasse com um aumento de reforço militar. “Há muito tempo que o exército dos EUA faz estas

A pisar a linha do risco, China e EUA são os protagonistas de uma possível guerra a curto prazo. Em causa está o Mar do Sul da China, rico em recursos. Numa terra que não é de ninguém mas que todos reivindicam, quem tem armas é rei

Mar do Sul da China “Guerra pode ser inevitável”, diz Global times

uMa quaSe inSuportável tenSãoinvestigações e o exército chinês tem de forma consistente respondido com as medidas necessárias, legais e profissionais. Mas se é assim, porque é que, de repente, nas últimas semanas esta questão se tornou tão mediática? Será que esta notícia foi propositadamente exagerada?”, questionou Yang Yujun, porta-voz do Ministério da Defesa da China.

O discurso e o aviso seguiram--se: “algumas pessoas estão de forma intencional e repetida a exagerar a situação, o objectivo delas é desacreditar o exército chinês a fazer aumentar, intencio-nalmente, as tensões regionais. Não excluímos que sejam, talvez determinados países à procura de desculpas que justifiquem acções que venham a ter no futuro”.

Assim, o Ministério da Defesa da China anunciou, na terça-feira, que irá, de facto, reforçar o poder militar na zona marítima em causa com “mais capacidade defensiva e ofensiva, para as equipas marinhas, força aérea e para a unidade de artilharia”, tal como indica o canal televisivo TDM. A China vai mais longe e acusa os norte-americanos de assumirem postura “irresponsável, perigosa e prejudicial para a paz e a estabilidade regional”. Hong Lei afir-mou ainda que o país “vai continuar a acompanhar de perto a área e tomar as medidas necessárias e adequadas para evitar prejuízos para a segurança das ilhas e recifes da China, bem como quaisquer acidentes marítimos e aéreos”.

De uma importância estratégia exímia o sul do mar da China pode então, como defende o Global Times,

ser o mote para uma guerra aberta entre as potências e seus aliados.

ameaças amerIcanasContudo, não são só este o argu-mento dado para justificar a emi-nência de uma potencial guerra. Também no Vietname tem havido uma onda de protestos contra a China: é que o Governo Central quer proibir a pesca nas águas vietnamitas que incluem o Golfo de Tonquim.

De acordo com o website de notícias norte-americano Breitbart, a China lançou uma proibição de pesca ao país em questão – cujo prazo ter-mina a 1 de Agosto – justificando-se na promoção do “desenvolvimento sustentável da indústria piscatória”. No entanto e segundo o mesmo website, as autoridades vietnamitas estão a sugerir ao sector que ignore a ordem do Governo Central. De acordo com a Thanh Nien News e a agência Reuteurs, activistas ambien-

tais concentraram-se recentemente em Manila em forma de protesto: em cima da mesa está a alegação de que a China está a destruir o ecossistema com a construção progressiva em ilhas feitas pelo Homem localizadas no Mar do Sul da China.

A potencial justificação para o estalar de uma guerra reside no facto de serem vários os países que querem ter controlo sobre os vários arquipélagos ali existentes. “Poderá

não estalar uma guerra amanhã, mas todas as semanas ou de 15 em 15 dias é cada vez mais clara a tendência em direcção a uma”, escreve John Xenakis no Breitbart.

“Como digo há muito tempo, a China tem vindo a construir o seu po-der militar rapidamente há anos com uma variedade de armas e sistemas de mísseis que não tem qualquer outro propósito que não o de peremptoria-mente atingir aviões, bases militares e cidades americanas”, continua o autor a explicar.

O que aqui Xenakis diz estar em causa – para o estalar da guer-ra – são duas questões diferentes. A primeira diz respeito à vontade

A China acusaos norte-americanosde assumirem postura “irresponsável, perigosa e prejudicial para a paz e a estabilidade regional”

3 grande planohoje macau quinta-feira 28.5.2015

Dois faróis chinesesNa passada terça-feira, como reforço da sua estratégia, a China organizou uma cerimónia para lançar dois faróis nas águas do Mar do Sul da China. Os faróis, de 50 metros de altura, vão ser construídos nas ilhas Spratly, local também reclamado pelo Vietname e as Filipinas. O porta-voz do Ministério da Defesa, Yang Yujun, explicou que esta projecto “ajudará a comunidade internacional porque tem como fim ajudar no trabalho de busca e resgate, além da protecção ambiental”. A acção surge assim depois da China anunciar o reforço militar na zona.

Mar do Sul da China “Guerra pode ser inevitável”, diz Global times

uMa quaSe inSuportável tenSão

da China de que os EUA cessem qualquer actividade de vigilância das Ilhas Spratly.

Por outro lado, Xenakis alega que o Departamento de Estado nor-te-americano quer obrigar a China a cessar a adição de mais aterros a várias daquelas ilhas. O mesmo autor cita um discurso proferido pelo Secretário de Estado dos EUA, Anthony Bliken, na semana passa-da, em Jakarta: “Enquanto a China procurar soberania na criação de castelos de areia e redefinição dos limites marítimos, vai desgastar a confiança regional e minar a con-fiança dos investidores”. Bliken vai mais longe e diz mesmo que o comportamento chinês “ameaça abrir novos precedentes”, que pode criar um clima de instabilidade,

tensão e conflito com países de maior dimensão a intimidar ou-tros mais pequenos. O Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês reage, apenas alegando que “este tipo de comentários não são bons para a resolução de tensões e pouco benéficos para a confiança mútua” entre os países.

Uma leitura rápida do artigo de John Xenakis deixa transparecer a sua opinião pouco pró-China. Neste caso, é mesmo referido que a China “tem vindo a anexar regiões do Mar do Sul da China que historicamente sempre pertenceram a outros países”. O autor acusa mesmo esta potência mundial de reforçar o seu arsenal militar em jeito de preparação para um conflito mais sério do que os que até agora tiveram lugar. “As reclamações da China são rejeitadas por quase toda a gente fora do país e a China recusa-se a submetê-las [às ilhas] ao tribunal das Nações Unidas, supostamente por ter conhecimento de que iria perder”, acrescenta mes-mo Xenakis.

No entanto, nada disto parece, de acordo com o mesmo documen-to, fazer com que os EUA cessem as missões de vigilância. As palavras foram do assistente do Secretário de Estado norte-americano, Daniel Russel: “Ninguém no seu juízo per-feito vai tentar impedir a Marinha dos EUA de operar – isso não seria uma boa aposta”.

Os três mOtivOsMichael Auslin, director de Depar-tamento de Estudos Nipónicos, no American Enterprise Institute (AEI) escreve no blogue The Commentator, que há três motivos principais para se entrar num conflito armado. O pri-meiro, afirma, é “por acidente”, expli-cando que a medida norte-americana de enviar futuramente navios para a costa daquele mar poderá conduzir a um conflito armado entre de resposta e contra-resposta entre os dois países, devido à soberania que a China alega ter sobre a zona. O autor explica ainda que a construção das bases aéreas chinesas poderão ser um suporte de vigilância para a potência chinesa.

Premeditação é o segundo motivo defendido pelo autor que alega que Pequim poderá tomar uma posição de ameaça e de demonstração de força para com o Governo norte--americano. “Os líderes chineses

podem decidir que cessar a incursão norte-americana nas águas recen-temente reclamadas tão cedo é a melhor oportunidade para fazer com que Washington considere os riscos demasiados altos”, escreve.

Como terceiro motivo, Auslin prevê um eventual “conflito indi-recto”. “A China até pode consi-derar demasiado arriscado desafiar directamente navios e aviões norte--americanos, mas pode muito bem transmitir a mesma ideia através da intercepção dos mesmos tipos de veí-culos mas de outros países”, remata.

tudO às escuras Conforme escreve o jornal português i, citando a BBC, o canal televisivo teve acesso a um documento de estratégia militar chinês que orde-na à Marinha que se concentre na “protecção de mares abertos”. “O oceano, o espaço, a força nuclear e o ciberespaço são agora as quatro áreas “críticas” para o regime chinês, incluindo-se entre as novas directivas acelerar a criação de uma “ciber-força” que faça frente “às graves ameaças de segurança” que o país

enfrenta na internet, lê-se nos papéis do Conselho de Estado chinês”, cita o jornal.

Recorde-se que a aposta em frota marítima tem sido frequente, e só no ano passado, a China construiu 800 hectares de terra naquela área marítima. No documento, cita a publicação, o Conselho de Estado garante que a China só atacará se for atacada, sem nunca esquecer as “acções de provocação de certos vizinhos e de partes externas que estão a envolver-se nos assuntos do mar do Sul da China”.

Do outro lado do mundo nada parece estar a acontecer. Os EUA festejaram esta terça-feira o Memo-rial Day, dia que são recordadas as vítimas dos conflitos armados. Da boca do presidente Barack Obama ouviu-se “os EUA não estão envol-vidos em nenhuma grande guerra”, pela primeira vez, em 14 anos. As declarações, afirma o jornal i, foram consideradas de hipócritas pelos críticos que consideraram inegável a envolvência dos EUA “por procu-ração” em várias guerras.

Filipa araújo [email protected]

Leonor sá [email protected]

A China só atacará se for atacada,sem nuncaesquecer as “acçõesde provocaçãode certos vizinhos e de partes externasque estãoa envolver-se nos assuntos do mardo Sul da China”

“Ninguém no seu juízo perfeito vai tentar impedir a Marinha dos EUAde operar – issonão seria umaboa aposta”

4 hoje macau quinta-feira 28.5.2015

A s falhas no for-necimento no gás natural por parte da sinosky estão

a levar o Governo a negociar com a concessionária, não estando posta de parte a possibilidade de não renovar contrato com a empresa. Questionado ontem à mar-gem de uma reunião com os deputados, Raimundo do Rosário, secretário para as Obras Públicas e Trans-portes, não quis confirmar a notícia avançada pelo HM, que dá conta de uma futura rescisão e pagamentos à empresa na ordem das 200 milhões de patacas.

“se me pergunta se está terminado o contrato, não está. Não tenho conheci-mento da notícia nem destes números. Mas o que posso dizer é que a empresa tem tido alguns problemas e nós estamos em conversações com a empresa para tentar resolver os problemas.”

SinoSky Rescisão é mesmo possibilidade, diz GoveRno

Gás que demora a chegarRaimundo do Rosário apenas referiu que o Executivo ainda está a negociar com a empresa de fornecimento de gás natural sinosky para a resolução de problemas contratuais. Mas aos deputados foi dito que a rescisão do contrato pode mesmo acontecer, tal como noticiou ontem o HM

Ho Ion sang garantiu que o Executivo tem planos para construir habitação pública na central da CEM, na avenida Venceslau de Moraes, tal como o HM já tinha também avançado. “Os geradores da CEM na Venceslau de Moraes não produzem qualquer electricidade e este ano o Governo disse que vai dialogar com a CEM para reaver o terreno, para ser planeada a construção de habitação pública.”

O presidente da Comissão da AL garantiu ainda que o Executivo está a renegociar um contrato de concessão com uma operadora de autocarros, que deverá incluir a entrada nas estradas de autocarros movidos a gás natural. “Neste momento

há apenas uma empresa a disponibilizar dez autocarros a gás natural. O Governo disse que está a negociar com outra companhia de autocarros e que está prestes a celebrar o contrato. Creio que assim será possível exigir mais

autocarros a gás natural”, disse Ho Ion sang, que explicou que serão ainda criados novos regulamentos para o carregamento de carros nos parques de estacionamento.

ReiteRada conveRsão de teRRenoda ceM eM casas públicas

Mais autocaRRoseléctRicos a caMinho

“Tal como aconteceu com a empresa que está a construir as oficinas do metro ligeiro, a atitude do Governo é entrar primeiro em negociações. Este avançou que, na pior das hipóteses, pode rescindir o contrato ou incorrer numa acção judicial. O Governo tem de salvaguardar a sua credibilidade, porque isto tem a ver com o erário público”Ho ion SanG Presidente da Comissão de acompanhamento para os assuntos de Terras e Concessões Públicas da aL

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políticA

Contudo, aos deputados que compõem a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas da As-sembleia Legislativa (AL)

foi dito que a rescisão está mesmo nos planos, “na pior das hipóteses”, bem como até uma acção judicial.

“Tal como aconteceu com a empresa que está a construir

as oficinas do metro ligeiro, a atitude do Governo é entrar primeiro em negociações. Este avançou que, na pior das hipóteses, pode rescindir o contrato ou incorrer numa

acção judicial. O Governo tem de salvaguardar a sua credibi-lidade, porque isto tem a ver com o erário público”, referiu o deputado Ho Ion sang, que preside à Comissão.

O HM avançou esta quarta-feira que o próprio Chefe do Executivo já terá dado ordens para cessar o acordo com a sinosky, o que poderá custar 200 milhões de patacas aos cofres públi-cos. Mas ontem não foram avançados mais detalhes, numa reunião que serviu precisamente para debater a política energética do território.

Falhas queaFectam todos segundo explicou Ho Ion sang, a sinosky apenas for-neceu gás natural de forma contínua nos dois primeiros anos de contrato, algo que deixou de acontecer. “O contrato foi celebrado e foi fixado um preço. Passaram--se vários anos e não houve um fornecimento contínuo. A atitude do Governo foi tardia e com a tomada de posse do novo secretário o problema não se pode arrastar.”

Essas falhas de forneci-mento têm implicações não só no plano de produção de electricidade a partir do gás natural, da CEM, como no consumo por parte dos cidadãos.

“A CEM tem de ponde-rar quanto ao seu plano de produção de electricidade a partir do gás natural, porque sem o seu forne-cimento, e mesmo com a colocação dos equipamen-tos, surgem problemas. Em relação aos autocarros, temos de ter gás natural e para a população também. Temos de ter a celebração de um contrato a longo prazo, e o Governo tem de acelerar os trabalhos”, referiu Ho Ion sang.

Quanto à instalação dos gasodutos, estes continuam a não estar instalados na península. “Estão colocados 40% ou 50% dos gasodutos, mas na península nenhum está colocado. Os trabalhos estão a ser iniciados, mas o Governo neste momento ainda está a negociar com a empresa”, acrescentou.

andreia sofia [email protected]

5 políticahoje macau quinta-feira 28.5.2015

E x-vogais do antigo Con-selho de Reordenamento dos Bairros antigos consi-deram que ainda há muito

por explicar no que à nova Comis-são para a Renovação Urbana diz respeito. os responsáveis falam de uma ideia de conteúdo vazio e cujo conceito é pouco explicado, além de que, salientam, não há lei sobre isto.

Numa reunião do Conselho de Planeamento Urbanístico que teve lugar esta semana, o secretário para os Transportes e obras Públicas, Raimundo do Rosário, referiu que a Direcção dos serviços de solos, obras Públicas e Transportes (DssoPT) se prepara para elabo-rar o enquadramento jurídico da Comissão de Renovação Urbana. Este está previsto ser concluído na primeira metade deste ano, sendo entregue ao Chefe do Executivo depois. Esta Comissão já tinha sido anunciada anteriormente, devido às criticas dos deputados em rela-ção ao processo de reordenamento dos bairros antigos, que se arrasta há vários anos. ao grupo, cabe decidir sobre as opções a serem tomadas face a este reordenamento.

“Não é ideal que essa comissão contenha uma maioria de representantes do Governo, porque os trabalhos de renovação urbana envolvem muito a população em geral”

Bairros antigos Nova comissão sem coNteúdo Nem lei, dizem ex-vogais

novas ideias, trabalho velhoo ex-presidente do extinto Conselho de Reordenamento dos Bairros antigose um ex-vogal temem que o governo não saiba explicar o conceito da nova Comissão que veio substituir este grupo e falam de falta de conteúdo e de noções. os dois dizem ainda que primeiro deveria ser criada a legislação e que a nova Comissão tem de ter residentes e não apenas representantes do governo

“Se continuar a existir o antigo conceito na nova Comissão, acredito que a reacção da sociedade vai ser negativa. Mas, com que é o que o Governo está a pensar em avançar? O que é que o Executivo quer fazer com a renovação urbana?”Larry so Vogal do Conselho Consultivo para o reordenamentodos Bairros antigos

Contudo, segundo ex-vogais que integravam o Conselho que antes se dedicava a esta causa – e que nada fez até agora - o conteúdo do novo conceito é pouco claro, além de que, dizem, criar esta Co-missão sem que a lei – retirada pelo governo da assembleia Legislativa – esteja pronta não tem sentido.

“Não é ideal que essa comissão contenha uma maioria de repre-sentantes do governo, porque os trabalhos de renovação urbana envolvem muito a população em geral. Espero que a representação

popular de vogais seja mais abran-gente, não só de um sector ou de certas associações tradicionais, que foi o problema surgido no antigo Conselho, mas também membros de associações de jovens”, referiu ao HM.

Larry so diz esperar que a respec-tiva lei possa ser legislada em breve, algo que, para Leong Keng seng, vice-presidente do mesmo Conselho Consultivo cancelado pelo governo, também seria necessário.

Por exPlicarLeong Keng seng admite também que a função da nova Comissão ainda não foi explicada, mas acre-dita que o âmbito da renovação urbana vai ser mais amplo do que o do reordenamento dos bairros antigos, sendo que acredita que os trabalhos feitos e as opiniões coleccionadas no Conselho ante-rior vão criar uma base que pode ser utilizada novamente na nova Comissão.

Quanto a futuros vogais, Leong Keng seng prevê que é muito provável que se mantenham os antigos, mas preferia que fossem vogais com “mais conhecimento técnico e profissional”, de forma a fazer com que os trabalhos andem para a frente.

sobre o Regime Jurídico de Reordenamento de Bairros an-tigos que foi apresentado na aL mas foi retirado em 2013, Leong acredita que vai ser apresentado um novo regime, ainda que com o nome de Renovação Urbana. o ex-presidente salientou que “não espera que demore mais dez anos para se conseguir o novo diploma”, mas que sem dúvida que o que o governo deve fazer primeiro “é a legislação.”

Flora [email protected]

“se continuar a existir o antigo conceito na nova Comissão, acre-dito que a reacção da sociedade vai ser negativa. Mas, com que é o que o governo está a pensar em

avançar? o que é que o Executivo quer fazer com a renovação urba-na? É possível que esta Comissão vá andar pelo caminho do antigo Conselho – não resolveu nada”, atira Larry so, vogal do Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros antigos.

Recorde-se que este Conselho foi cancelado pelo Chefe do Exe-cutivo, Chui sai on, em Março deste ano e, apesar de Larry so referir que “reordenamento dos bairros antigos” e a “renovação urbana” são conceitos diferentes, até ao momento não se viu que o Executivo tenha novas ideias sobre o antigo conceito.

outros receioso também ex-professor de admi-nistração do instituto Politécnico de Macau (iPM) referiu ainda que como a nova Comissão não é “consultiva”, receia que os vogais possam ser mais representantes do governo e menos da popula-ção, o que não é positivo para as eventuais mudanças a ser feitas nos bairros antigos, onde vive precisamente a maior parte dos residentes.

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6 política hoje macau quinta-feira 28.5.2015

O deputado Chan Meng Kam interpelou o Go-verno sobre o facto dos licenciados do curso de

Técnicas Farmacêuticas do Instituto Politécnico de Macau (IPM) não serem reconhecidos como farma-cêuticos, mas apenas como técnicos. O deputado diz que o facto destes licenciados poderem trabalhar como farmacêuticos no interior da China ou terem equivalência no acesso ao doutoramento em farmácia nos Estados Unidos e não em Macau é “injusto”, tendo criticado a política do Executivo, que não promove uma evolução ascendente destes profissionais. Chan Meng Kam

ATFPM vira-se para estudantesde Macau em Taiwan

Farmácia DeputaDo questiona acesso De alunos Do ipM à profissão

Quais são as diferenças? Em 2010, o Governo chegou a criar um curso de Farmácia, mas depois cancelou-o. Contudo, o conteúdo, diz Chan Meng Kam, era semelhante ao curso de Técnicas Farmacêuticas que agora não permite aos seus alunos trabalharem como farmacêuticos, ficando com diferentes hipóteses de carreira de outros do continente

“Por comparação, acredito que o actual curso leccionado pelo IPM não é menos profissional do que o curso para farmacêuticos”chan meng Kam deputado

lembrou ainda que os licenciados em Farmácia das universidades do continente são aceites em Macau na qualidade de farmacêuticos.

A questão já tem vindo a le-vantar problemas e, numa inter-pelação escrita, Chan Meng Kam lembrou declarações do Governo

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O S deputados da 2.ª Co-missão Permanente da Assembleia Legislativa

(AL) voltaram ontem a analisar o Regime do Ensino Superior. Depois das dúvidas focadas no acesso a este tipo de educação e no financiamento, o Executivo garantiu aos deputados que todos terão igual acesso e a mesma oportunidade de receber apoios. “Segundo a explicação do Gover-no, este quer garantir condições de acesso iguais a qualquer pessoa, a todos os indivíduos. Não há qualquer problema, a ideia é que o acesso ao ensino superior não vai ser prejudicado por questões de nacionalidade. Todos terão a mesma oportunidade de aceder ao

ensino superior”, explicou o depu-tado Chan Chak Mo, que preside à Comissão.

Recorde-se que anteriormente, os deputados colocaram dúvi-das sobre a possibilidade da lei abranger também os trabalhadores não-residentes e os seus filhos. Na altura, Chan Chak Mo dizia que era necessário perguntar ao Executivo sobre isto, uma vez que “implicava apoios financeiros e o uso do erário público”.

Na discussão de ontem falou-se de outros assuntos, mas para já, ainda não há qualquer conclusão quanto ao futuro regime de avaliação das universidades públicas e privadas. Quanto à jurisdição sobre institui-ções com ou sem fins lucrativos,

deverá manter-se a que já existe. “Já sabemos que o Governo quer manter o actual regime e sabemos que, tendo em conta esses dois tipos, já há diplomas legais que regulam essas instituições, só falta saber qual é a legislação aplicada”, adiantou o deputado.

Os deputados consideram que vai ser necessário mais tempo do que o esperado para concluir a análise na especialidade desta proposta de lei. “É uma proposta muito complexa e estamos a calcular que vamos ter de gastar mais tempo a analisá-la. O Governo já envidou todos os esforços para falar connosco, está a dar muita importância a esta proposta de lei e está a colaborar muito bem connos-co”, concluiu Chan Chak Mo. A.S.S.

ensino superior governo garante igualdade de acesso

Conhecimento sem fronteiras

sobre o facto do curso se focar apenas no ensino das Técnicas Farmacêuticas, não estando o plano do curso virado para a for-mação de farmacêuticos. Mas o deputado citou ainda um despacho do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de 2010, que

A Associação dos Trabalha-dores da Função Pública

de Macau (ATFPM) realizou um encontro com a chefe da Delegação Económica e Cultural de Taiwan, Nádia Leong Kit Chi, para “trocar impressões sobre a situação dos mais de quatro mil estu-dantes de Macau em Taiwan e qual o apoio que a delegação concede”. Foram ainda tro-cadas ideias “no sentido de utilizar a ATFPM como ponte de ligação com Taiwan”.

Ao HM, José Pereira Coutinho, presidente, ex-plicou que muitos desses estudantes do ensino superior na Ilha Formosa são filhos de funcionários públicos da RAEM. “Temos recebido

vários pedidos de apoio dos estudantes de Macau que estão a estudar em Taiwan. A maior parte dos apoios tem a ver com acidentes de mota, onde se incluem vários casos graves. Estivemos com o gabinete de Macau em Taiwan e associa-ções representativas no senti-do de dar maior apoio a estes estudantes. Foi um pedido do Governo, já que dão grande importância e muitos desses alunos que acabam os seus estudos acabam por ficar lá a trabalhar. A actual estrutura que o Governo da RAEM tem em Taipé é suficiente, mas nós gostaríamos de alertar para os riscos e cuidados necessários para evitar e prevenir aciden-tes.” a.s.s.

criou o curso de licenciatura em Farmácia, revogado um ano de-pois. Chan Meng Kam referiu que a descrição de disciplinas nesse despacho “é quase igual ao plano académico do curso de Técnicas Farmacêuticas da mesma insti-tuição”. “A única diferença entre

os dois cursos é que o curso de técnicas farmacêuticas tem mais disciplinas teóricas, mas ambos exigem um estágio de mil horas no quarto ano do curso. Por compa-ração, acredito que o actual curso leccionado pelo IPM não é menos profissional do que o curso para farmacêuticos”, escreveu.

O deputado pretende saber quais são as principais diferenças entre os dois cursos, exigindo ao Governo que preencha as possíveis lacunas, para que os licenciados em Técnicas Farmacêuticas possam evoluir na carreira.

Chan Meng Kam quer ainda saber se o Executivo vai abrir uma licenciatura em Farmácia, com ligação ao actual curso de Técni-cas Farmacêuticas, uma vez que com a abertura do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas serão necessários 120 farmacêuticos em cinco anos no serviço público.

Flora [email protected]

7SOCIEDADEhoje macau quinta-feira 28.5.2015

Património IC pede que se preservem edifícios históricosO Instituto Cultural (IC) pede aos proprietários de edifícios históricos que façam obras de manutenção e reparação para evitar danificações fruto das más condições atmosféricas e impacto das chuvas. “O IC apela novamente aos proprietários para desencadearem uma protecção pró-activa do património cultural, procederem a trabalhos de reparação e manutenção adequados para evitar possíveis acidentes e cumprirem a responsabilidade de proteger o património cultural de Macau, a fim de assegurar a sua segurança”, refere a entidade em comunicado.

PME Echo Chan na Comissão de Apreciação de financiamento O subdirector dos Serviços de Economia, Tai Kin Ip, vai liderar a Comissão de Apreciação relativa ao Plano de Apoio a PME locais. Echo Chan e o deputado Kou Hoi In são dois dos cinco vogais também seleccionados para integrar a Comissão. Além da nova coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum Macau e do deputado eleito indirectamente, fazem também parte do grupo o actual director-geral do Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau e ex-director dos Serviços para os Assuntos Laborais, Shuen Ka Hung. O despacho publicado ontem em Boletim Oficial mostra que outro dos vogais seleccionados é um dos assessores do Gabinete do Secretário para a Economia e Finanças, U U Sang. As nomeações é válida por um ano e tem efeito a partir de dia 15 deste mês, compreendendo ainda Ieong Chi Kuong e Chan Hio Wan.

Deputado suspeitade ilegalidadesem terreno desocupado

O deputado Ho Ion Sang criticou o Go-verno por “permitir que um terreno

desocupado não tenha sido desenvolvido ou recuperado durante 50 anos”, suspeitando que existe violação do contrato de conces-são por arrendamento. Numa interpelação escrita entregue ao Executivo, Ho Ion Sang lembrou que nesse terreno, situado na zona da Areia Preta, ocorreu uma explosão e incêndios, tendo sido colocados muitos materiais inflamáveis. O deputado lembra que o terreno não só não foi aproveitado como foi feito um pedido para alterar a finalidade do terreno, a fim de ali se cons-truir um terreno industrial.

Ho Ion Sang diz ainda que o período de concessão do terreno acabou em 2013, data em que o concessionário ainda não tinha cumprido o contrato e desenvolvimento do terreno. Contudo, o contrato de arren-damento foi logo renovado, o que leva o deputado a suspeitar que o acto possa ter violado os regulamentos de concessão do terreno. Ho Ion Sang quer ainda saber as razões para o Executivo ter deixado um ter-reno por desenvolver tantos anos, sem que, até ao momento, tenha sido recuperado.

“Embora a Comissão de Inspecção das Instalações de Produtos de Combustíveis não tenha sugerido, na altura, que havia riscos de construir junto a uma bomba de gasolina, o Governo autorizou o pedido. O terreno acabou por ser utilizado para a colocação de materiais inflamáveis, o que causou perigo aos moradores”, escreveu o deputado. F.F.

O Ministério da Saú-de da China está disponível para ajudar o território

no fortalecimento da estrutura de profissionais dos Serviços de Saúde. Este foi, de acordo com Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, o principal assunto a ser discutido com as autoridades do conti-nente na Assembleia Mundial da Saúde, na Suíça.

De acordo com a Rádio Macau, tudo começou com um pedido de ajuda de Tam à China, no sentido de reforçar os recursos humanos na área da Saúde. “A resposta foi mui-to positiva. Foi uma resposta imediata no sentido de prestar apoio ao Governo da RAEM. Acho que é uma notícia muito boa”, referiu o Secretário aos jornalistas ontem, à margem da inauguração do novo Centro de Saúde do Lago, na Taipa.

Portugal continua a ser um dos países preferidos para a contratação exterior de médicos e enfermeiros e Alexis Tam justifica a escolha com o facto de em Macau viverem vários cidadãos daquele país.

“Também iremos, com certeza, recrutar de Portugal médicos especializados porque nós também temos aqui em Macau residentes portugueses, falantes da língua portuguesa, que necessitam também deste serviço”, acrescentou à Rádio Macau.

Os dois Centros de Saúde agora em funcionamento na Taipa vão poder atender cerca de cem mil pessoas. No novo

KuoK Cheong usubstitui Chan Wai sin O actual director do Hospital Conde São Januário e vice-director dos Serviços de Saúde é agora também o presidente da Comissão de Ética para as Ciências da Vida. A nomeação foi anunciada através de despacho publicado em Boletim Oficial. Kuok vem assim substituir Chan Wai Sin, antigo director do hospital acima referido.

“Também iremos, com certeza, recrutar de Portugal médicos especializados porque nós também temos aqui em Macau residentes portugueses, falantes da língua portuguesa, que necessitam também deste serviço”Alexis TAm secretário para os Assuntos sociais e Cultura

sAúde CHInA PrOnTA PArA FOrnECEr PrOFISSIOnAIS MédICOS A MACAU

Ajuda pertinente, certamente

espaço trabalham 80 pessoas, incluindo médicos, enfermeiros e pessoal administrativo. Em-bora alguns dos profissionais agora ali colocados tenham sido recrutados de outros serviços de saúde públicos, o director dos SS, Lei Chin Ion assegura que nenhum dos espaços ficou afectado com as alterações.

Com brevidade, até nunCaOntem de manhã, Tam acres-centou que está ainda prevista a construção de dois novos cen-tros deste género na zona do Tap Seac e da Ilha Verde, embora não tenha sido adiantado um prazo fixo. Sabe-se ainda que o Governo está a ponderar alargar o horário de funcionamento de

dois outros centros de saúde do território. No que diz respeito ao Hospital das Ilhas, o Secretário confirmou que só será apresen-tado um novo plano concreto em Setembro, tendo em conta o facto de apenas em Agosto se ter conhecimento do plano de concepção deste complexo.

“Desde que tenha o primeiro projecto iremos, com certeza,

fazer logo uma apresentação à população de Macau sobre a concepção e sobre a necessidade de recursos humanos (...) mas gostaria de aproveitar os meses que nós temos. Depois de termos a primeira concepção, talvez no mês de Setembro possamos ter informações mais precisas para apresentar”, disse o dirigente ao mesmo canal.

8 sociedade hoje macau quinta-feira 28.5.2015

SAAM Consumo de água aumentou 6,4% O relatório de contas da Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) relativo a 2014, publicado ontem em Boletim Oficial (BO), revela que o aumento de consumo de água no território foi de 6,4%, tendo sido de 83,50 milhões de metros cúbicos. A empresa diz que este foi um “ano cheio de desafios” para a concessionária, já que a SAAM diz ter gasto cem milhões de patacas na ampliação da Estação de Tratamento de Água do Reservatório Principal – Fase III, situada na zona dos NAPE. Tudo para responder à conclusão sucessiva de mais complexos de habitação pública e instalações de turismo e lazer, que vai levar à procura crescente de água. “Preparámo-nos bem e antecipadamente para garantir o seguro abastecimento de água em Macau a curto e médio prazo”, afirma o relatório.

FOI ontem publicado em Boletim Oficial (BO) o relatório de contas da Air Macau,

relativo ao ano de 2014. Apesar de ter fecha-do o ano com lucros de quase 112 milhões de patacas, a empresa de aviação diz que “a actividade comercial da Air Macau sofreu no continente um severo impacto”, graças “à influência da campanha contra a corrupção do Governo da China e do arrefecimento do desenvolvimento da economia chinesa e com a contínua queda das receitas do Jogo”. Além disso, pode ainda ler-se no documento, “a instabilidade social na Tailândia teve também um efeito negativo nos negócios”. Contudo, apesar de admitir ter enfrentado condições desfavoráveis, na opinião dos administra-

dores, a sociedade conseguiu “mais um ano rentável, com o cumprimento efectivo do plano traçado, expansão da frota, controlo efectivo de custos e diligência da nossa equipa de gestão em 2014”, pode ler-se.

O ano passado, a sociedade gestora da Air Macau afirma ter operado “num ambiente comercial intenso e competitivo do mercado de aviação comercial, acrescido do aumento de incertezas quanto à economia global e o arrefecimento económico e a um crescente aumento dos custos que continuamente afecta em termos adversos o conjunto do negócio”. Apesar disso, a empresa diz ter obtido “um crescimento sustentado dos lucros”.

Air Macau Quebra no Jogo e política anti-corrupção afectam empresa

Canais de Televisão Básicos de Macau com perdas de 2,64 milhões

A Canais de Televisão Básicos de Macau teve perdas de mais de dois

milhões de patacas no ano passado. A empresa, constituída pelo Executivo para providenciar o serviço básico de televisão à população, foi criada no ano passado.

De Abril a Dezembro, a Canais Básicos viu acumularem-se perdas no valor de 2,64 milhões de patacas. No mesmo período, as receitas ascenderam apenas a 68.775 patacas.

De acordo com o relatório ontem publi-cado em Boletim Oficial, o plano de trabalho da empresa para o próximo ano tem como principais actividades a elaboração “das especificações de construção de rede, o lançamento dos trabalhos de substituição

de cabos aéreos por cabos em condutas ou em tubos subterrâneos, o arranjo gradual dos cabos aéreos em toda área de Macau e ainda a definição de mecanismos de verificação e teste periódicos dos pontos de acesso e de supervisão das instalações dos equipamen-tos”. Tudo, diz, para fornecer uma fonte de sinais com qualidade para os canais de televisão de acesso livre.

Os projectos de construção e instalação para 2015 terão início após a entrega do subsídio do Governo da RAEM. A socie-dade tem como accionistas o Governo, a Teledifusão de Macau (TDM) e a Direc-ção dos Serviços de Correios, tendo esta composição a duração de dois anos.

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) recebeu mais de sete dezenas de reclamações

face a seguradoras de Macau. De acordo com o relatório anual da entidade, ontem publicado em Bo-letim Oficial, a maioria diz respeito a queixas sobre o seguro de vida, ainda que o comportamento dos agentes esteja também em foco.

No total, em 2014 foram tratadas 79 reclamações contra seguradoras e/ou mediadores de seguros, um aumento de 68% face às queixas de 2013. As reclamações sobre seguros de vida ascendem a 29% do bolo, a mesma percentagem do que as relacionadas com o seguro automóvel, enquanto que a conduta dos agentes de seguros perfez 20% das queixas. Estas três áreas foram assumidas pela AMCM como “as mais relevantes em 2014”, ainda que o organismo não divulgue pormenores sobre as queixas.

Os problemas com as segurado-ras de Macau não são novos, sendo que o assunto já levou deputados da Assembleia Legislativa a interpelar

SeguradoraS AMCM RECEBEu MAIS 68% dE quEIxAS EM 2014

Formoso e não seguroAs seguradoras continuam a gerar reclamações da partedos residentes, sendo que as queixas aumentaram face a 2013.A AMCM assegura que todas são tratadas e resolvidas, depoisda sua intervenção

o Governo sobre melhores medi-das para travar incumprimentos face a mediadores de seguros e seguradoras. Exemplo disso é uma interpelação escrita do deputado Chan Meng Kam, que indicava que “a maioria dos agentes de seguros olha para um lucro imediato, sem se preocupar em agir conforme a lei”.

Dados da AMCM face ao ano passado, indicam que continuavam a operar na RAEM 11 seguradoras do ramo vida e 12 seguradoras dos ramos não-vida, sendo que oito dessas entidades foram constituí-das localmente, enquanto que as restantes 15 eram sucursais de se-guradoras do exterior. Em termos da

actividade de mediação de seguros, em 2014 foram emitidas 955 novas licenças, um crescimento anual de 12,8%. No final desse ano, o total de licenças emitidas era de 8401. No final de 2014, havia 2941 agentes de seguros – destes 2870 agentes eram singulares, 1235 angariadores de seguros e 11 corretores registados na AMCM - perfazendo o grande total de 4187 mediadores de seguros autorizados.

TraTamenTos seguidosA AMCM indica que, graças ao desenvolvimento económico, a in-dústria seguradora local registou um “crescimento assinalável”, sendo que

a produção do sector ascendeu a 8,9 mil milhões de patacas, traduzindo-se numa taxa de crescimento de 29,7%.

Só o seguro de vida gerou pré-mios brutos na ordem dos 6,9 mil milhões de patacas, mais 39% do que em 2013.

Contudo, a maioria das queixas apresentadas – tanto nesta área, como noutras – não foi tratada pela AMCM. Apesar de garantir que “confere grande importância às reclamações recebidas e exige que as seguradoras tomem medidas adequadas para assegurar que as mesmas sejam tratadas e pronta-mente investigadas, com justiça”, o organismo indica que entre as 79 reclamações recebidas em 2014, 78% dos casos foram transferidos para as próprias seguradoras, para investigação.

“Cerca de 68% destas reclama-ções foram concluídas em 30 dias, enquanto 15% foram concluídas depois deste prazo. Cerca de 6% dos casos ficaram pendentes para além de 60 dias e, comparando com 2013, a taxa de conclusão em 2014 aumentou 3% em relação aos casos

4187mediadores de seguros autorizados

na RAEM em 2014

concluídos em 30 dias, enquanto que, para os casos encerrados para além dos 30 dias e para as situações pendentes para além de 60 dias, as taxas foram as mesmas do ano anterior”, conclui a autoridade.

Joana [email protected]

9 sociedadehoje macau quinta-feira 28.5.2015

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E ntre Janeiro e Março deste ano, mais de 71 mil pessoas trabalha-

vam em hotéis, restaurantes e estabelecimentos de comi-das e bebidas do território, sectores onde a contratação de pessoal cresceu 2,6% e 11% comparando com o mesmo período do ano anterior. no que respeita aos valores remuneratórios mé-dios para o sector hoteleiro, os dados dos Serviços de estatística e Censos refe-rem um aumento de 8,4% dos ordenados. No final de Março, os trabalhadores dos hotéis ganhavam cerca de 16400 patacas mensais. Já os funcionários dos res-taurantes auferiam, entre os primeiros três meses de 2015, uma média de 8800 patacas, valor que revela um acréscimo de 4% face ao período homólogo do ano passado.

As creches emprega-vam 1092 pessoas a tem-po inteiro, no primeiro trimestre do ano. trata-se de um aumento de 21,2% face ao ano passado e a remuneração média des-tes trabalhadores estava fixada em 12.360 patacas. O número de funcionários dos serviços de apoio a idosos também subiu, para 641 pessoas. neste caso, o aumento anual é de 3,7%.

Aprender pArA fAzerQuanto à formação, a DSeC informa que no primeiro trimestre des-te ano, 21300 pessoas frequentaram cursos. no entanto, a obrigatoriedade de frequência no ensino superior não era obrigatória para 78,2% das posições oferecidas pelas indústrias

TNR aumENTammais dE 18% O número de trabalhadores não-residentes registados em Macau ultrapassava no final de Abril as 176.777 pessoas, mais 18,47% do que no mesmo mês do ano passado, foi anunciado. De acordo com dados do Gabinete de recursos Humanos, no final de Abril de 2015 estavam registados 115.565 trabalhadores oriundos da China, ou mais 21,67% do que em Abril de 2014, 22.352 oriundos das Filipinas, ou mais 12,17% em termos homólogos, e 13.661 do Vietname, ou mais 7,78%. Os mesmos dados permitem concluir que os 48.551 trabalhadores não residentes afectos ao sector da construção representavam um aumento de 41,5% face ao mesmo mês de 2014, os 18.438 empregues no comércio por grosso e a retalho traduziam um crescimento de 15,34% em termos homólogos e que os 44.187 associados à actividade dos hotéis, restaurantes e similares representavam um aumento de 11,6%.

No final de Março, os trabalhadores dos hotéis ganhavam cerca de 16400 patacas mensais. Já os funcionários dos restaurantes auferiam, entre os primeiros três meses de 2015, uma média de 8800 patacas

EmprEgo mais dE 70 mil Em hotéis E rEstaurantEs

Uma escolha de primeira

transformadoras nem para 68,8% dos lugares vagos nos restaurantes e similares. “Observou-se que 78,2% de postos vagos nas ‘indústrias transformadoras’ e 68,8% de vagas nos ‘restaurantes e similares’ requeriam um nível académico inferior ou equivalente ao ensino secundário geral”, escreve

a DSeC no seu mais re-cente relatório. no que diz respeito ao pagamento dos cursos, a entidade destaca que a maioria dos sectores cobriram cerca de 70% das despesas da formação dos seus funcionários. em contraste, as indústrias transformadoras e as cre-ches foram as que menos contribuíram para a forma-ção dos seus trabalhadores. Os financiamentos ficaram--se pela ordem dos 49,1% e 9%, respectivamente. no total, foram os cursos relacionados com servi-ços e comércio que mais adeptos e alunos tiveram. Já o domínio do inglês era um dos principais critérios para o preenchimento de vagas e de actividades de intermediação financeira, enquanto nos hotéis se requeria um conhecimento fluente de mandarim, em cerca de 81% dos casos.

Leonor Sá [email protected]

10 hoje macau quinta-feira 28.5.2015eventos

À venda na Livraria Portuguesa Rua de S. domingoS 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • [email protected]

eu ConFeSSo • Jaume CabréNa Barcelona franquista, o pequeno Adrià cresce num amplo e sombrio apar-tamento; o pai está determinado a transformá-lo num humanista poliglota, a mãe, num violinista virtuoso. Meio século depois, Adrià recorda a sua vida, indissociável do turbulento percurso de um violino excepcional. Da Inquisi-ção ao nazismo, de Barcelona ao Vaticano, vai-se desvelando a cruel história europeia: uma cadeia de eventos iniciada na Idade Média, com repercussões trágicas até à actualidade.

Tempo de maTaR • John grishamA vida de uma menina negra de dez anos termina às mãos de dois jovens brancos, bêbedos e sem remorsos. A população de Clanton, maioritariamente branca, reage com choque e horror a este crime desumano. Até que o pai da menina pega numa arma e decide fazer justiça com as suas próprias mãos. Durante dez dias, ardem cruzes por toda a cidade de Clanton e o país aguarda, com grande expectativa, o desfecho deste caso, enquanto Jake Brigance, o advogado de defesa, tenta desesperadamente salvar a vida do seu cliente – e depois a sua.

“Temos um compromisso firme em ajudar na diversificação da indústria de entretenimento. Prometemos desenvolver e encorajar o talento local e a cultura local, de forma a suportar a economia”Lui Che Woo Presidente do grupo

O Broadway Macau promete ser o palco para o talento local, mas também o espaço no qual as empresas do território vão poder mostrar o que têm de melhor. Abriu ontem portas o novo complexo da Galaxy e a segunda fase do resort, que oferecem mais lojas, mais eventos e novidades em primeira mão

Jogo Segunda faSe do galaxy e Broadway Macau aBriraM portaS

All you need is partyI NAuGurOu ontem a segunda

fase do Galaxy Macau, bem como a Broadway Macau, o espaço que servirá de palco ao talento local.

Fruto de um investimento de 43 mil milhões de patacas – de entre cem milhões que a empresa se propõe a investir em Macau – os dois comple-xos novos da Galaxy são “parte do maior resort integrado a abrir desde 2012” no território, como sublinhou o presidente do grupo, Lui Che Woo.

“São 1,1 milhões de pés quadrados, o dobro do tamanho [do que era]”, começou por apontar na conferência de

abertura. “Vamos ter mais diversidade, mais experiências, mais exposições e convenções, entretenimento, compras. Este é o novo marco de Macau e pre-tende apoiar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas locais e

ajudar à diversificação da economia e das marcas locais.”

A Broadway Macau vai ser, de acordo com os responsáveis da em-presa, precisamente o espaço dedicado a desenvolver este apoio. “Temos

um compromisso firme em ajudar na diversificação da indústria de entre-tenimento. Prometemos desenvolver e encorajar o talento local e a cultura local, de forma a suportar a economia”, assegurou Lui Che Woo.

O Broadway Macau é composto por uma área dedicada a vendedores ambulantes, bem à moda das ruas do território, que oferecem comida local e lembranças. O espaço é ainda for-mado por ruas interiores, onde está prometido entretenimento ao vivo. Descrito como “um mercado de rua”, o espaço fica localizado no antigo

11 eventoshoje macau quinta-feira 28.5.2015

A galeria da Residência Consu-lar abre hoje as suas portas, pelas 18h00, à mostra da

colecção privada de marionetas de Elisa Vilaça. Com duração até dia 11 de Junho, depois das comemora-ções do Dia de Portugal, a exposição promete ser mais do que um simples momento.

Da exposição fazem parte duas obras da coleccionadora, “feitas nos anos 80”, e um “conjunto de mario-netas produzidas por marionetistas portugueses e que pertencem na maioria a companhias que estão de momento a actuar em Portugal”.

O objectivo desta mostra é claro: pretende “dar uma ideia do que foi a evolução histórica até à modernidade e mostrar como é que o teatro de marionetas evoluiu em Portugal, preservando um historial muito próprio”.

O espaço está organizado por autores ou tipos de bonecos, há uma área dedicada especialmente aos ‘Ro-bertos’, um tipo de marioneta muito conhecido em Portugal por serem de fácil transporte. “Por serem pequenos este bonecos tinham a facilidade de serem transportados por todo o Portu-gal e por isso tornaram-se uma grande tradição no nosso país”, partilha Elisa Vilaça com o HM.

Mas, desengane-se quem espera que esta exposição seja como tantas as outras. Elisa Vilaça, aliada à sua experiência de educadora, marcará

TAbAco O vice-presidente da Galaxy Entertainment disse ainda que a proibição total do tabaco nos casinos “pode não ser a solução ideal” porque pode causar “grandes perdas” na indústria do Jogo, pelo que é preciso “continuar a ouvir mais opiniões”. Francis Liu observou que a operadora investiu milhões nos sistemas de ventilação para se adequar à actual legislação e assegura que fez um inquérito interno que indica que os empregados não se importam de trabalhar com salas de fumo. “Fizemos o que o Governo queria. Mas desde que haja consenso, acredito que as seis operadoras vão chegar a uma solução que satisfaça empregados e turistas”, acrescentou.

MesAs podiAMser MAis,MAs esTábeM AssiMA Galaxy vai passar a dispor de 150 novas mesas de jogo, ainda que tivesse feito o pedido para 400. Francis Liu falava ontem sobre o assunto e não se mostrou muito preocupado, assegurando que a ideia é apostar nos elementos não-jogo. “Se estou feliz com 150 mesas de jogo? As mesas nunca são demais, mas considerando o mercado actual, 150 é aceitável. E o Governo tem as suas expectativas na diversificação do mercado”, disse o vice-presidente. Francis Lui justificou que um maior número de mesas de jogo não significa necessariamente o sucesso da operação ou lucros garantidos e traçou os objectivos da empresa. “Há dez anos, o importante eram as mesas de jogo e as salas VIP, mas hoje o mercado está a mudar e nós temos de mudar para ficarmos mais competitivos. As coisas mudam, os gostos mudam e temos de nos transformar para satisfazer os clientes.” Para Francis Liu ainda é cedo para saber se as receitas dos serviços extra jogo vão atingir o mesmo peso da operação nos casinos. “Se vai chegar a uma relação de 50/50? Vamos ter de esperar para ver.”

AposTAr nA MonTAnhAA Galaxy está também a investir na Ilha da Montanha, com dez mil milhões de yuan, na construção de um centro de lazer e desporto. O anúncio foi feito pelo presidente da empresa, que diz acreditar que este novo espaço vai contribuir para o desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas e gerar benefícios também para Macau.

Jogo Segunda faSe do galaxy e Broadway Macau aBriraM portaS

All you need is party

hotel Grand Waldo, sendo que conta ainda com mais de 40 restaurantes e 20 lojas. A maioria, 60% de acordo com Francis Lui, vice-presidente da empresa, são PME de Macau.

Além de um hotel, o Broadway disponibiliza ainda com um auditório com três mil lugares, onde serão or-ganizados espectáculos e eventos ao vivo. No sábado, Alan Tam estreia-se no “Broadway Theatre”, sendo que nomes como Liza Wang e a banda de rock Michael Learns to Rock 25.

Para este ano, está planeada “a maior festa de rua de Macau no primeiro espaço de entretenimento ao ar livre do território”. Os artistas vão ainda poder usar o palco “Band on The Run”, uma instalação numa carrinha pertencente ao Broadway que vai mudando de localização.

Confiantes em maCauA segunda fase do Galaxy asseme-lha-se em muito ao restante edifício, contando com mais dois hotéis – o JW Marriott e o Ritz-Carlton, este sendo o único Ásia que oferece apenas suites -, que oferecem mais de 1500 quartos. No espaço podem ainda ser encontrados dois spas, uma piscina de ondas e com escorregas de água e mais de 80 restaurantes e bares, que ficam lado a lado com as duas centenas de novas lojas.

Os responsáveis da empresa des-crevem este como “o mais icónico e integrado resort do mundo”, com a “qualidade e diversificação que mais nenhum tem” e asseguram que se coaduna com a estratégia de di-versificação económica que Pequim tem planeado para Macau.

“A Galaxy Entertainment é uma empresa patriótica e estamos alinhados com o objectivo do Governo central no sentido de tornar Macau um centro mun-dial de turismo e lazer”, apontou Lui Che Woo. “Apesar de enfrentar alguns desafios, a nossa confiança no futuro de Macau está forte como sempre.”

Joana [email protected]

MArionetAs elisA VilAçA ApresentA exposição

Um grande amor antigo

presença das 10h00 às 18h00, to-dos os dias, para servir de guia e contar a história de cada marioneta ali presente.

“Uma das características desta exposição é que, mesmo dentro do contexto moderno, vamos encontrar referências a pessoas e a elementos que caracterizam de forma exacta Portugal”, conta. Muitas delas na própria constru-ção, ou seja, nos tipos de materiais utilizados, como a madeira, búzios, raízes, pinhas. “Tudo aquilo que se apanha na natureza”, diz-nos. “Temos também outros bonecos que têm como características as próprias roupas, isto é, a sua forma de estar esculpida pode até ter uma linha moderna, mas depois há uma roupa que o marca e isso é bastante importante para perceber a história. Temos, por isso, marionetas de referência histórica, que é o caso do Inquisidor, que nos remete para o início da história destes bonecos, quando, no contexto mundial reli-gioso, foram proibidas as demons-trações de marionetas, tendo levado até marionetistas a ser queimados vivos em praça pública por se manifestarem de forma proibida”, enumera.

um amor antigo As 50 marionetas expostas são um pequeno levantar do véu da colecção de 600 bonecos de todo o

mundo de Elisa Vilaça. A constru-ção de cada boneco pode demorar meses, dependendo da comple-xidade de cada um, e os preços, apesar de nenhum estar disponível para compra nesta mostra, podem variar muito. “É possível comprar marionetas por 40 ou 50 euros, mas também lhe digo que comprei um por 2500 euros”, partilha.

A paixão por estes bonecos - que na sua maior parte é dedicada aos adultos e não às crianças, como se pensa - nasceu quando Elisa Vila-ça era bem pequena. “Foi desde criança, passei a minha infância entre a praia no norte de Portugal e a aldeia, na zona do Douro, por isso, via muitas vezes os ‘Robertos’ nas praias, achava aquilo fascinante. Por sua vez, quando ia para casa dos meus avós maternos, no inte-rior, a minha avó tinha uma enorme paixão pelos seus netos e, como os tempos não eram fáceis para se comprar bonecos, ela fazia-os ela mesma, com pano ou até barbas de milho. À noite juntávamo-nos à lareira e ela contava histórias com eles”, relembra.

Foi nos anos 80 que Elisa Vilaça decidiu transferir este amor para o campo profissional. “Comecei a utilizar as marionetas como ferra-menta pedagógica, em 1982 vim para Macau e encontrei um grupo de alunos com quem trabalhei. [Eram] chineses. Como não dominava o chinês, voltei a utilizar os bonecos como ferramenta pedagógica, cons-truía para os alunos e trabalhava com eles”, conta.

a porta ÁsiaÉ indiscutível o contributo que o mundo oriental veio trazer para a colecção de Elisa Vilaça. “As viagens proporcionaram-me a pos-sibilidade de entrar no mundo das marionetas dos diferentes países, fui comprando, principalmente aqui na Ásia, depois alargou-se para a Europa. Neste momento o espólio é constituído por 600 marionetas”, relata.

O objectivo, conta, é a médio prazo criar um museu de marionetas em Macau, projecto que ainda não aconteceu devido à dificuldade de encontrar um espaço físico. “Neste momento, o espólio que tenho comporta perfeitamente uma exposição com uma rotatividade de pelo menos três vezes por ano. Os expositores estão feitos, os bonecos estão feitos, está tudo catalogado, há uma série de museus que estão à espera que este [museu] seja constituído para doarem algum espólio que têm, portanto acredito que em breve este sonho estará concretizado”, remata.

filipa araú[email protected]

12 publicidade hoje macau quinta-feira 28.5.2015

13chinahoje macau quinta-feira 28.5.2015

pub

a autobiografia de Li Na, a única te-nista asiática a ga-nhar um torneio

do Grand Slam e símbolo de rebeldia entre a juventude chinesa, vai ser adaptada ao cinema pelo realizador e produtor Peter Chan.

“Li Na é um ícone”, real-çou Peter Chan a uma revista norte-americana da especia-lidade, afirmando: “Tudo aquilo por que ela se bateu é muito atípico do com-portamento convencional chinês e, ao mesmo tempo,

Fundo de 14 mil milhões de euros para financiar metro

Vida da tenista Li na Vai ser adaptada ao cinema

Rebelde com uma causa

típico das pessoas nascidas na década de 1980”.

O filme, em que a pró-pria Li Na trabalhará como “consultora”, começará a ser rodado no Outono e a estreia deverá ocorrer em 2016, adiantou o produtor.

Uma equipa da produtora “We Pictures” esteve a promo-ver o projecto durante a ultima edição do Festival de Interna-cional de Cannes, de 13 a 24 de Maio passado, estimando-se que os custos de produção do filme se situem entre 15 e 20 milhões de dólares.

“Precisamos de ter a oportunidade de cometer erros”Li Na Tenista

O Banco de Construção da China, o gigante imobi-

liário de Xangai Greenland e outros sócios anunciaram a participação num fundo de 100.000 milhões de yuan para financiar a construção de linhas de metro.

Em declarações à agên-cia Xinhua, o presidente da Greenland, Zhang Yulang, destacou que o fundo vai estimular o investimento no sector, até aos 300.000 mi-lhões de yuan.

As autoridades chinesas estimam que o número de cidades com metro na China

aumente das actuais 13 para meia centena até 2020, numa rede que totalizará mais de 6.000 quilómetros. A Green-land, principal promotora do fundo, assegurou que o seu papel será recomendar pro-jectos adequados para intervir.

O fundo é um dos primei-ros exemplos de cooperação financeira entre o sector privado e público da China para grandes projectos, um dos objectivos do plano de reforma económica anun-ciado na semana passada pelo Executivo do primeiro--ministro Li Keqiang.

O Governo chinês, que quer alterar o modelo eco-nómico para fazer face ao desaceleramento da econo-mia nacional, recomendou a adopção de um modelo de desenvolvimento público--privado, após décadas em que os sectores estratégicos do país estiveram nas mãos do Estado.

Peter Chan, 52 anos, nasci-do em Hong Kong e formado em Los Angeles, nos Estados Unidos, já realizou e produziu cerca de 30 filmes.

É um dos mais populares realizadores chineses entre o público de Hong Kong e

da China continental e um admirador de Li Na.

“Ela quebrou regras e desafiou convenções e, con-tra todas as probabilidades, tornou-se uma lenda”, disse Peter Chan, acerca da heroí-na do seu próximo filme.

Segunda a imprensa local, já se sabe que o filme será rodado em chinês e em inglês, mas o realizador ainda não decidiu se recor-rerá a actores profissionais ou a jogadoras de ténis para desempenhar o papel de Li Na.

A avaliar pelos entusiás-ticos comentários difundidos nas redes sociais, esse será uma das maiores dificuldades do projecto.

“Ninguém poderá subs-tituir Li Na”, garantiu um admirador.

O filme é uma adaptação do livro “Li Na: A minha vida”, publicado em 2014, o ano em que a tenista chi-nesa alcançou o 2.º lugar do ranking mundial, outra proeza inédita para uma atleta asiática, depois das sua vitórias em Roland Garros e Austrália, em 2011 e 2014, respectivamente.

Li Na, nascida em 1982 em Wuhan, uma cidade industrial banhada pelo rio Yangtze, no centro da China, retirou-se das competições em Setembro passado e qua-tro meses mais tarde anun-ciou que estava grávida.

EntrE os maiorEsEm 2013, a revista Time incluía-a entre as “100 per-sonalidades mais influentes do mundo”, ao lado do presidente XI Jinping; do arquitecto Wang Shu, o primeiro chinês galardoado com o Pritzker Prize, (o

Nobel da Arquitectura); a Primeira Dama chinesa, Peng Liyuan, e o patrão da multinacional Huawei, Ren Zhengfei.

“Li Na é uma rebelde. Quem mais conseguiria er-guer-se contra o centralizado sistema desportivo, como Li Na fez em 2008, quando re-clamou mais controlo sobre a sua própria carreira”, salientou então a antiga campeã Chris Evert.

Num país em que colec-tivismo, o espírito de “servir o povo” e o socialismo são considerados “os princípios básicos da educação”, a pos-tura “individualista” de Li Na deu rapidamente nas vistas.

“Nos manuais da escola primária, ensinam-nos a ‘servir o povo’ e a ‘amar o país’. Mas só na universi-dade aprendemos que não se deve cuspir para o chão”, conta a tenista na sua auto-biografia.

Aquela observação não é a única susceptível de ofender os líderes mais conservadores do Partido Comunista Chinês.

“Não quero que um filho meu passe pelo sistema de educação chinês. É muito difícil ser criança na China. Há demasiadas pessoas com quem competir e os recursos são limitados”, escreveu Li Na.

“Porque é que os estran-geiros são mais confiantes que os chineses? Porque podem crescer à sua ma-neira”, afirma também a tenista.

Uma das máximas de Li Na, que a atleta aprendeu com um dos seus treinado-res, reivindica precisamente essa liberdade: “Precisamos de ter a oportunidade de cometer erros”

antónio CaeiroLusa

“Tudo aquilo por que ela se bateu é muito atípico do comportamento convencional chinês e, ao mesmotempo, típico das pessoas nascidasna década de 1980”PeTeR ChaN Realizador

14 hoje macau quinta-feira 28.5.2015

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fichas de leitura* Manuel afonso Costa

Viagem ao exílio interior

Claudio Magris nasceu a 10 de Abril de 1939 em Trieste, no seio de uma genuína família da pequena burguesia, pois o seu pai foi corrector de seguros e a sua mãe foi professora primária. Depois de passar pela Universidade de Friburgo, graduou-se em 1962 em Estudos Germânicos na Universidade de Turim. Entre 1970 e 1978 foi professor de Língua e Literatura alemã na Universidade de Turim e actualmente ensina em Trieste, regressando assim à sua origem. Os seus livros têm vindo a contribuir para o conhecimento literário da cultura europeia tendo sido o criador do conceito de Mitteleuropa. Em Julho de 2013, o autor foi distinguido com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural. Cláudio Magris é há vários anos um dos candidatos favoritos ao Prémio Nobel da Literatura. Do conjunto da sua obra destacaria, Um Outro Mar, Danúbio, Às Cegas, A História Não Acabou, E Então Vai Entender, Alfabetos, Microcosmos e as narrativas de viagem Três Orientes.

Magris, Cláudio, Danúbio, D. Quixote, Lisboa, 1992descritores: Literatura Italiana, Romance, Mitteleuropa, História, Geografia, Cosmopolitismo, Desenraizamento, Exílio; trad.de Miguel Serras Pereira; posfácio de Manuel Poppe, 972-20-0996-6, 434 p.:24 cm. Cota: C-4-4-199

O livro Danúbio de Cláudio Magris é uma obra difícil de classificar; mais uma, do enorme espólio da cultura

europeia contemporânea. Tão depressa estamos envolvidos numa querela eru-dita relacionada com a história de um lugar por onde o rio Danúbio passa no seu trajecto desde a Floresta Negra até ao Mar Negro onde desagua em Del-ta, como logo aquilo que nos prende é um excurso filosófico relacionado com a obra de Heidegger, por exemplo, de quem o autor manifestamente não gosta muito. São absolutamente empolgantes no seu texto as considerações que faz sobre o seu repúdio pelo paganismo e pelo enraizamento e o modo como ar-ticula estas questões com a ontologia heideggeriana. A este nível foi um dos textos mais notáveis que li até hoje, singularmente semelhante ao prefácio de Felix Duque à obra O Tempo e o Outro de Lévinas. Onde este filósofo espanhol promove o conceito de Outro-aí como alternativa ao Ser-aí de Heidegger. A crítica do conceito de enraizamento é muito similar em ambos os autores.

Ao ler Danúbio, não fiquei surpreen-dido pelas considerações filosóficas que Cláudio Magris faz; pois conhecendo a sua obra e o cosmopolitismo quase apátrida que se insinua em por exemplo Um Outro Mar e que faz corpo com a sua origem triestina poderia esperar que não pudesse simpatizar com Heidegger e por outro lado que pudesse simpatizar mui-to mais com a filosofia da alteridade de Lévinas, facto que me parece indesmen-tível embora eu não o tenha confirmado. Quando estive em Trieste, instalei-me em Grado, uma espécie de estância balnear do Império Austro-Húngaro e perdi por muito pouco a possibilidade de conversar com o autor que no dia anterior à minha chegada esteve numa livraria de Grado a autografar os seus livros. Esta confidência foi-me feita pelo livreiro quando se aper-cebeu, depois de uma longa conversa, da minha paixão pela literatura de Trieste e em particular por Cláudio Magris. Depois procurei-o ainda na livraria Antiquarios de Trieste, aquela que tem à porta uma estátua do poeta Umberto Saba, até por-que a livraria foi dirigida por Saba antes e depois da Guerra de 39 a 45. Procurei-o ainda no Café San Marco, célebre café das tertúlias literárias que em tempos envol-veram Saba e Italo Svevo entre outros ju-deus ali exilados, para cá da Porta de Sião, como se chamava a Trieste; e ainda James Joyce durante o seu período triestino que

decorreu aproximadamente entre 1904 e 1920; mas ele, foi o que concluí pelas informações recebidas, depois da feira do livro de Grado estaria algures de férias, não se encontrando em Trieste.

Afinal o que é que, no romance Da-núbio, verdadeiramente me surpreendeu? Enfim, o modo como aparecem num texto que eu supunha ser puramente ro-manesco, tantas coisas que eu me habi-tuara a considerar de uma outra ordem. Contudo, a verdade é que Danúbio é, no essencial, um romance, simplesmen-te a trama deste romance me pareceu de uma ordem inesperada para mim, na época em que li o Danúbio pela primeira vez, podendo dizer-se que as persona-gens mais importantes são aqui a geo-grafia, a história, a filosofia e a reflexão cultural. Porém, as primeiras impressões são fatais. Como bem sabemos. E por isso, Danúbio permaneceu sempre para mim, muito bom, mas estranho.

Costuma classificar-se o Danúbio sob a etiqueta de romance de literatura de

viagens, uma vez que através do percur-so do rio somos convidados a viajar pe-los lugares que o rio banha ou atravessa (… e são tantos os lugares, e as línguas, e as histórias, e as tradições, e as cultu-ras, … Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia, Sérvia, Bulgária e Ro-ménia, ou por cidades, Viena, Bratislava, Budapeste, Belgrado; além de que faz fronteira entre estados e recebe afluen-tes e sub afluentes que lhe chegam de outros tantos países como a Suíça, Eslo-vénia, Bósnia- Herzegovina, República Checa, Ucrânia e Moldávia. Se tivermos em conta tudo isso é impressionante a importância histórica, geográfica, eco-nómica e cultural do Danúbio). Há que convir que a ideia é genial, uma vez que o rio pela sua própria história e pela geo-grafia histórica que atravessa oferece a possibilidade de pensar a vários níveis uma boa parte da tradição europeia. No entanto, não considero que o romance ocupe essa prateleira, talvez porque me pareça que a viagem, que o rio nos obri-

ga a fazer, não passa de um pretexto para outras questões e outro tipo de viagens. Magris utiliza o percurso sinuoso do Danúbio como se ele, o rio, fosse uma espécie de fio de Ariadne, no entanto, neste caso, para entrar e não para sair do labirinto. Magris sente-se inapelavel-mente atraído pela vertigem da perda da identidade, pela diáspora, pelo desen-raizamento, pelo exílio interior mesmo. Em todas as suas obras ele promove uma espécie de alienação simbólica da identidade, através de cujo sacrifício o eu possa promover uma individualidade mais rica, mais profunda e mais intensa. Eu compreendo muito bem Magris pois sinto em mim o mesmo tipo de apelo radical. Em muitos romances de Cláu-dio Magris e em particular no Danúbio, a personagem central não tem nome mas isso não significa senão que a “assenza di nome indica uno spogliarsi dell’identità per assumerne una più vera (…) Questo anonimato, per me, ê antitético alla man-canza d’individualità, anzi lo sento come un potenziamento di un’individualità autentica, come un modo di essere og-nuno” ou seja a “ausência de nome indica um despir-se da identidade para assumir uma mais verdadeira (…). Este anoni-mato, para mim, é antitético à falta de individualidade, aliás, vejo-o como uma maneira de potenciar o crescimento de uma individualidade autêntica, como um modo de cada um ser,” (Maria Carla Pa-pini, tradução minha).

Esta posição de Cláudio Magris faz corpo com o sentido mais moderno da Modernidade. O anonimato que se pro-põe, o relativismo das noções de enrai-zamento e de pertença potenciam um homem de tipo novo, verdadeiro arqué-tipo do homem moderno, uma vez que este se encontra tendencialmente fora do «seu» lugar, desenraizado de forma quase constante e afinal em estado de exílio per-manente. E, ainda que se possa discutir o alcance que este distanciamento relativa-mente aos dispositivos de enraizamento possa provocar no plano psicológico das criaturas a verdade é que historicamente produziu figuras notáveis quer como ar-tistas quer como pensadores, figuras que me dispenso de enumerar, tantas foram e tão unanimemente consideradas.

*No quadro da colaboração de Manuel afonso Costa com a Biblioteca Central de Macau-instituto Cultural, que consiste entre outras actividades no levantamento do espólio bibliográfico da biblioteca e na sua divulgação sistemática, temos o prazer de acolher estas “Fichas de leitura” que, todas as quintas-feiras, poderão incentivar quem lê em Português.

15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 28.5.2015

AméliA VieirA

«No lugar onde toda a alma chora,e dos caminhos já liberto, para ti, finalmente chegou a hora.»

A bre assim, o tempo desta curta crónica com o divino Dante no Canto XXVII do “Purgatório”. Mais adiante,

que o tempo avança, o “Nevoeiro” diz--nos, afirma-nos: é a hora!

Que horas são estas de que nos falam os poetas e que tempo é este que contém esta «Hora»? As questões cronológicas são tão indecifráveis que nem mesmo os poetas dão recado delas na “hora” certa de se explicarem, se tal entendermos por hora, o momento, a etapa, a era. Os livros de Horas, as «belas Horas do duque de berry», são relógios e almanaques de um tempo cíclico que se faz e refaz, tão belo, por vezes, que à neve espanta… Mas dado que a nenhuma hora chegamos, destas, que nos insinuam os poetas, e per-manecemos na roda do tempo euclidia-no, eles, que saíram da roda, querem uma – Hora — que ninguém mais vê: dizem que são Purgatórios, Nevoeiros, estados intermédios… demasiado imprecisos para serem o portal do tempo. O tempo, em parte, tal como é, não tem princípio nem fim, sabe-se que Saturno come os filhos e vomitou uma pedra, que Abraão pôs fim ao sacrifício do primogénito e que nem sempre o Pai está virado para salvar o Filho. A geração dos parrícidas só mais tarde haveria de chegar nessa era do Filho. Portanto, a cada era a sua Hora, a cada Hora a sua causa, a cada situação o seu contexto, uma parte do filho foi lega-da à própria vida tendo o pai ficado com a regência da transmissão, sem poder para a moldar.

Ainda no Purgatório de Dante: A ajudar-te, deixa-te andar pelos campos por entre as árvores e a verdura, pois não ouvirás mais os meus conselhos. Conselhos de pai sábio ao seu menino. A tua vontade é livre inteira e pura. Constituo-te senhor do teu destino.

A Hora do Filho liberta da tribo, da ge-nética, do transtorno, do mito, aquele que será agora senhor do seu destino.

Na nossa “Hora” actual será que tudo isto ainda faz sentido? No tem-po da genética, dos humanóides, dos cientificamente modificados, onde meter a primeira organização sociolo-gicamente construída na base da pro-genitura?

TEMPo... TEMPo

«eu não tenho feridas, tenho frio» — inCírculos de Luz – Se o frio con-densasse no tempo, dado que é por si mesma uma medida fria, mas diz a lenda que para aquele que encontra o grande amor o tempo pára, aquele ins-tante da certeza que sai fora do tem-po... o que fez que Lamartine suspiras-se – tempo, tempo, suspende o teu voo – ! O meu tempo ainda nem chegou e nunca ele me parou, evolando-se para uma outra dimensão, mas, tal como estes poetas, procura a Hora, talvez a «Hora Absurda» em que olhando tudo isto ainda me faltará de novo nascer.

«– Nem lei, nem rei, nem paz, nem guerra, tudo é disperso, nada é intei-ro… Ó Portugal hoje és nevoeiro…». Talvez estejamos mortos e não saiba-mos, talvez sejamos aqui os fantasmas, e o tempo nos dilacere à procura de um momento para tal revelação.

Todo o Mundo agora é uma longa necrópole unida por caminhos tão iguais que pensamos estar por vezes nos mes-mos sítios. As amálgamas das fronteiras

e a vacuidade desta frágil Humanidade, diz-me, há muito, que ela morreu, e não sabe, esperando pela Hora, que também não sabe e que os poetas já a têm anun-ciada. Vivemos de vida, morremos de morte, e em nenhuma Hora conseguimos saber exactamente porquê. Há um espa-ço que preside aos desígnios e se quer fazer ouvir, mas, faltam órgãos, aliás, os órgãos estão doentes. Quando retirados, e tal como o princípio da barbatana que deu asas e braços, talvez tenhamos uma via inesperada da nossa concepção, num outro tempo, onde dormitam sem dúvida as Horas, as Parcas e os Fados.

Os feiticeiros são relojoeiros, e, sabem que morrendo, pára a hora. Um relógio é um elemento ainda unido à magia, não está consagrado nas altas instâncias. Todos eles têm uma hora que nos diz, quantos cadáveres Cronos partilhou no banquete. ele ficou com todos e atirou-os um a um a um grande rio do esquecimen-to. Só alguns trabalham ainda fora do pul-so do cadáver anexo, são os que ficaram com a alma do conhecido defunto.

O Tempo é uma praga e não vale a pena tentar contorná-lo. ele é o gran-de Avatar das vestes negras. Mas eu amo-o, pois que também me ensinou a amar e a desligar.

Morremos por saturnismo, pelo chumbo, pelos materiais pesados do qual o tempo se reveste, nós, que have-mos de beber Luz…igual a essa Hora vista por Goethe, a última da sua vida, o instante final: – o quê, bebo a Luz!

«e expirou, entregando a alma.» A Hora Sexta. Uma hora carregada de lá-grimas para lermos nas nossas oblatas quando estivermos tão duros que nem o seu dom venha em nosso socorro. entregar a alma, pois que não retemos nada, ela será a última a deixar-nos. Para onde vai? Que tempo a tem na nossa hora? Não sei exactamente o que quei-ra dizer: “tenha uma hora pequenina” para quando os bebés nascem; devia-se dizer: tenha um grande hora!

Aqui está bom tempo. Mas não há por ora, hora nenhuma.

O tempo foi assim medido com um esquadro e um compasso, para o Demiurgo se sentir num “reino” com consequências previsíveis. A grande fome carrega a memória da vida. Tudo é fome, tudo é, está, sempre na hora de almoçar, de jantar, de beber café, de comer, comer, comer: a hora tarda sempre para a voragem. Quantas ho-ras ganhamos e perdemos nos ritmos naturais? Ninguém sabe. Somos tantas vezes voltados para o mesmo lado, que pensamos começar de novo. Alterações da realidade subjazem ao confronto com a inovação. e num desespero de condenados fazemos muita coisa para acelerar um tempo que nos falta, sem-pre nos faltou, porque vinha inscrito na memória da morte. Queremos fazer algo que não morra. Mas, quem diz do que morre ou não no futuro tão dife-rente do que pensamos vir a ser? Pode não haver futuro no tempo, ele pode rasgar-se, e deixar o que foi numa nu-vem de nada, qual nevoeiro, e passar-se para um outro lado, sem que tivéssemos notado. Há muita coisa nos interstícios dos factos, universos muito elaborados, coabitando, visitante. Só nós continua-mos presos e sem hora, ou mesmo, na hora errada.

estamos gastos como os materiais. A nossa Humanidade rasgar-se-á por aqui para prosseguir de outra maneira.

Quando não tiver já à tua espera, consubstanciar-te-ei, passando por fim o tempo, estás em mim.

Gust

ave

Doré

, Pur

Gató

rio

16 publicidade hoje macau quinta-feira 28.5.2015

17hoje macau quinta-feira 28.5.2015 (F)utilidadestempo muito nublado min 27 max 32 hum 70-95% • euro 8.70 baht 0.23 yuan 1.28

João Corvofonte da inveja

Aconteceu Hoje 28 de maio

nasce thomas Moore• A 28 de Maio de 1779, nasce o poeta irlandês Thomas Moore, um dos artistas mais revolucionários do romantismo inglês. Nascido na cidade de Dublin, na Irlanda, Moore era filho de um merceeiro e nunca deixou de transparecer as suas origens humildes. Tendo estudado no Trinity College, seguiu Direito no Middle Temple, em Londres. Publicou o seu primeiro livro, “The Poetical Works Of Thomas Little”, em 1801. Em 1803 tornou-se notário do Almirantado em Bermuda, onde permaneceu durante um ano, regressando a Inglaterra, não sem ter viajado pelos Estados Unidos e Canadá. Como resultado dessas viagens, apareceu, em 1806, a colectânea “Epistles, Odes And Other Poems”. A opinião pública teria reagido negati-vamente em parte pelo facto de Moore criticar o povo americano. Entretanto, Thomas Moore ganhava popularidade como cançone-tista. Baseadas em modinhas populares, as suas canções sou-beram conquistar o agrado dos nacionalistas irlandeses. Assim, entre 1807 e 1835, iam saindo os dez volumes de “Irish Melodies”. No decénio de 1810, Moore era considerado um escritor tão importante como o próprio Lord Byron ou Sir Walter Scott. Em 1819, Moore foi condenado à pena de prisão por dívidas. O seu subalterno nas Bermudas desfalcou seis mil libras aos cofres do Almirantado e a responsabilidade recaiu sobre Moore. Fugiu de Inglaterra na companhia de Lord John Russell com destino a Itália e só regressou após o pagamento da dívida. Em 1824, foi confiado a Moore o espólio do seu amigo e poeta Lord Byron, entretanto falecido. As memórias de Byron foram queimadas, a sua correspondência expurgada. Em 1835, foi atribuída a Thomas Moore uma pensão literária e, nesse mesmo ano trataria de publicar “The Fudges In England”, uma sátira ligeira consagrada a um padre católico irlandês que se torna evangelista protestante. A 25 de Fevereiro de 1852, Moore veio a falecer em Wiltshire. Considerado ainda hoje como o poeta nacional irlandês tem, por razões desconhecidas, uma estátua erigida por cima do maior urinol público da cidade de Dublin.

O que fazer esta semana

h o j e h á f i l m e

Kat Dennings, Chad michael murray e Rupert friend foram as caras escolhidas para protagonizar “To Write love on her Arms”, uma his-tória verídica e extremamente intensa sobre o descarrilamento da vida de Renee Yohe. A jovem foi cedo diagnosticada com doença bipolar. esta película conta a história de Yohe, mas sem primeiro desvendar o verdadeiro motivo pelo qual a jovem caiu no abismo das drogas e do álcool. Com a ajuda dos seus amigos, consegue não se afundar com-pletamente, mas é a persistência de jamie (michael murray) que dá aso a um incrível movimento de esperança e ajuda por todos aqueles que também já se sentiram à beira da morte. O nome do filme, esse, torna--se perceptível ao longo da obra. “escrever o Amor nos Seus Braços” porque é neles que se pensa estar a delinear o menos mau de todos os futuros. existe até mesmo um website que relata a história na qual o filme foi inspirado. Leonor Sá Machado

“to Write Love on Her ArMS”(nAtHAn FrAnkoWSki, 2012)

C i n e m ACineteatro

Sala 1tomorrowland [b]Filme de: Brad BirdCom: George Clooney, John Walker, Britt Robertson14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Sala 2pitch perfect 2 [b]Filme de: Elizabeth Banks

Com: Anna Kendrick, Skylar Astin, Rebel Wilson, Adam DeVine14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Sala 3tdragon ball z: reSurrection “f” [b]FALADO EM JAPONêSLEGENDADO EM ChINêS E INGLêSFilme de: Tadayoshi Yamamuro14.30, 16.30, 19.30, 21.30

PITCh PERFECT 2

Sexta-feiraTEATRO “TRUST” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAU)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 100 às 350 patacas

TEATRO “DOT” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAU)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 120 às 150 patacas

ExPOSIçãO “DE LORIENT AO ORIENTECIDADES PORTUáRIAS DA ChINA E FRANçANA ROTA MARíTIMA DA SEDA” Museu de Macau (até 30/08) entrada livre

SábadoExPOSIçãO “WhO CARES” (ATé 28/07)Armazém do Boi, 16h00entrada livre

TEATRO “TRUST” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAU)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 100 às 350 patacas

TEATRO “DOT” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAU)Centro Cultural de Macau, 15h00Bilhetes das 120 às 150 patacas

Diariamente ExPOSIçãO DE ARTES VISUAIS DE MACAU (ATé 2/8)PINTURA E CALIGRAFIA ChINESASEdifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00entrada livre

ExPOSIçãO “A ÚLTIMA FRONTEIRA:MISTéRIOS DO OCEANO PROFUNDO” (ATé 31/05)Centro de Ciência de Macau

ExPOSIçãO “VALqUíRIA”, DE JOANA VASCONCELOS (ATé 31 DE OUTUBRO)MGM Macau, Grande Praça entrada livre

?

Estamos mortos a maior parte do tempo que vivemos.

18 opinião hoje macau quinta-feira 28.5.2015

U m ex-ditador fugido à justiça e um senador norte--americano ao mesmo tem-po conselheiro do grupo de assassinos designado Estado Islâmico são as novas aquisições da equipa de conselheiros do chefe da junta ucraniana para as “reformas”. O foragido foi

até elevado à posição de chefe do grupo, provavelmente porque o senador não terá disponibilidade integral devido aos seus múltiplos afazeres, o mais importante dos quais é transformar a Síria em qualquer coisa que se pareça com a Líbia actual.

mikhail Saakashwilli, o antigo ditador da Geórgia, fugido à justiça no seu país e agora refugiado em Kiev, para não ter de enfrentar acusações de alta corrupção e de ataques a tiro contra manifestações democráticas, é um daqueles casos – cada vez mais frequentes sobretudo no Leste da Europa – de não se saber de que terra é, embora seja seguramente norte-americano, tal como a presidente da Croácia, a ministra das Finanças da Ucrânia, por exemplo. A exportação de agentes go-vernamentais começa a consolidar-se como estratégia imperial.

Como existe acordo de extradição entre a Ucrânia e a Geórgia, o governo de Tblissi pediu a Kiev a captura e o envio do trânsfu-ga; mas como a junta ucraniana o que mais preza é a justiça, indeferiu a solicitação, certamente por considerar que o oligarca Poroshenko, a exercer funções de chefe de Estado, deposita muitas esperanças na

A CrEdITEm que não exagero. No Quartel--General da NATO, em Bruxelas, o ambiente é de cortar à faca. Os políticos queixam-se dos militares e os generais estão com vontade de engolir vivos al-guns políticos, com gravata e tudo, sendo Obama e John Kerry os primeiros da fila.

Lá para as bandas de moscovo, caso se saiba deste estado de espírito, e podem crer que se sabe, quem dá gargalhadas sonoras é

Vladimir Putin. A seriedade e o respeito histórico com que assinalou o 70º aniversário da rendição da Alemanha nazi devolveram-lhe trunfos internacionais com uma rapidez que talvez o surpreenda: a mesquinhez, a mistificação da realidade histórica e o culto da própria insanidade que guia-ram os dirigentes norte-americanos e da Europa Ocidental nestes dias funcionaram como tiros nos pés de tal maneira eficazes que Putin e os que com ele estiveram a assinalar o Dia da Vitória nada mais tiveram que fazer do que ser fiéis ao espírito da data.

No Quartel-General da NATO, em Bruxelas, generais e muitos diplomatas não se conformam com as “reviravoltas”

de Obama. “Obrigou-nos a fazer de conta que a Europa Ocidental teria derrotado Hitler mesmo que o Exército Vermelho não tivesse dado cabo da Wermacht, sabendo nós que isso é uma impossibilidade e uma falsificação da História, e logo a seguir manda Kerry pedir a Putin que colabore o mais depressa possível numa solução pacífica para a Ucrânia, como se não tivéssemos andado nos últimos 14 meses a alimentar grupelhos nazis na Ucrânia servindo de iscos para colocarmos a NATO em peso nas fronteiras da Rússia”, afirma um general, off the record, como com-preenderão e num vernáculo que aqui se atenua um pouco. “Isto não é política, isto não é uma estratégia, é uma deriva”.

O que mudou nesse dia da Vitória e que fez Obama mandar o seu secretário de Estado mendigar a Putin que o recebesse? Entre os generais que se cruzam em Bruxelas correm comentários pouco abonatórios para com o presidente dos Estados Unidos, à mistura com dichotes que soam a piadas de caserna.

“Obama acobardou-se com o desfile na Praça Verme-lha”, garante o mesmo general. “E não é apenas porque ao lado de Putin esteve o presidente chinês enquanto à frente deles desfilavam armas que são para levar muito a sério”,

acrescenta. “O facto de aquele desfile ter demonstrado a possibilidade de se juntarem militarmente os países mais extensos e populosos do mundo como são a China, a Índia e a rússia assustou Obama”, disse o general, “fê-lo sentir a urgência de apostar tudo na sua estratégia de pivot asiático”.

Para isso é preciso dar parcialmente o dito por não dito na Ucrânia, envolvendo Putin na estabilização do país – isto é, passando a parceiro ocasional em vez de adversário a abater; e de tirar o mais depressa possível o proveito desejado do acordo com o Irão, a entrar em vigor em 30 de Junho, de modo a que grande parte do esforço militar norte-americano no médio Oriente seja transposto para o Extremo Oriente.

O que provoca o mal-estar nas cúpulas da NATO não é tanto a correcção de rota que Obama e o Pentágono tentam fazer, mas sim a confirmação da advertência que muitos militares europeus fizeram em tempo útil de que o golpe e as medidas tomadas na Ucrânia estavam erradas de uma ponta à outra. Sendo que agora é muito mais difícil corrigir o erro, mesmo que haja vontade disso – o que não está ainda absolutamente garantido. “Soltaram-se os cães selvagens quando teria sido muito mais ajuizado não os ressuscitar”, diz-se em pleno Quartel-General da NATO.

José Goulão In Mundo Cão

Quanto ao senador norte-americano associado às “reformas” ucranianas é o ex-candidato presidencial John McCain, um verdadeiro cruzado globetrotter, também conhecido pelos seus laços íntimos com o terrorismo islâmico, uma espécie de controleiro ao serviço da CIA e do Pentágono e que tem no círculo de contactos o próprio chefe do Estado Islâmico, ou ISIS, ou Daesh

As “reformas” na Ucrânia estão em boas mãos

capacidade “reformadora” do recomendado Saakashwilli.

Um pequeno parêntesis para recordar que o antigo ditador georgiano se distinguiu por mandar atacar a Ossétia do Sul sob adminis-tração russa enquanto decorria a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, acusando depois moscovo de ter ordenado o assalto. Deu-se mal, mas ficou a perceber--se o seu conceito de “tréguas olímpicas”.

Quanto ao senador norte-americano associado às “reformas” ucranianas é o ex--candidato presidencial John mcCain, um verdadeiro cruzado globetrotter, também conhecido pelos seus laços íntimos com o terrorismo islâmico, uma espécie de controleiro ao serviço da CIA e do Pentá-gono e que tem no círculo de contactos o próprio chefe do Estado Islâmico, ou ISIS, ou daesh.

O ambiente dentro da Nato é de cortar à faca

A chancela de McCain ficou inscrita, aliás, nas origens da “nova” Ucrânia, pois esteve ligado ao golpe que levou a junta fascista ao poder, articulando tarefas com a subsecretária de Estado Victoria Nuland e o embaixador norte-americano em Kiev, Geoffrey Pyatt. Para a história ficaram os registos telefónicos nos quais Nuland expli-ca a Pyatt quem são “os nossos homens” a instalar no governo – e eles lá entraram e lá continuam – e o aconselha a (to) “fuck the EU” (União Europeia). Apesar deste elegante tratamento da subsecretária, e que na altura suscitou alguns protestos nas chancelarias, a União Europeia continua a sustentar as manobras da senhora Nuland – um produto Bush-Cheney – e de mcCain para que o regime nazi se consolide em Kiev sob a capa de democracia. manobras essas que incluem agora a reabilitação do foragido Saakashwilli, há muito um agente provocador integrado na estratégia de Wa-shington contra a rússia.

Sobre o espírito das “reformas” a desen-volver pelo clã “reformador” que ampara Proshenko não seriam necessárias muitas explicações, os currículos dos envolvidos e a estratégia da junta nazi de Kiev falam por si. McCain, porém, não deseja que fiquem dúvidas nos espíritos seja de quem for. Assumindo desde logo e em pleno as funções de conselheiro, o senador recomendou a Poroshenko que não respeite os acordos com os representantes do Leste do país por ele assinados em minsk, porque “consolidam os ganhos adquiridos pela agressão russa”. Sem surpresas, com tais “reformadores” a Ucrânia vai de mal a pior.

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19 opiniãohoje macau quinta-feira 28.5.2015

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

T enho um colega e amigo macaense que se orgulha de nunca ter lido um livro em toda a sua vida. orgulha-se sobretudo porque isto nunca foi uma exigência para que se sentisse realizado. nunca leu um livro, ou sequer lhe passou pela cabeça pegar num livro e ler, porque ler “dá sono”, e

além disso os clássicos estão “desactuali-zados”, e “não se enquadram na realidade actual”. Talvez isto faça sentido…no tem-po de Dickens e do Marquês de Sade não existiam telemóveis e internet. Socorre-se ainda de um provérbio chinês que diz que “aprende-se mais viajando do que lendo livros”, ou qualquer coisa assim. Também não interessa porque é um provérbio parvo. Quer dizer que melhor que ler a “Volta ao mundo em 80 dias” de Júlio Verne é…dar a volta ao mundo em 80 dias? e desde quando é que ler é incompatível com viajar? Qualquer turista que se preze leva consigo qualquer coisinha para ler durante as viagens, e mesmo além disso.

o meu colega defende-se com as esta-tísticas, e diz que em Macau é muito fácil encontrar quem nunca tenha lido um livro na vida. Aí ele é bem capaz de ter alguma razão. há livros e há livros, e atendendo que a esmagadora maioria da comunidade chinesa não domina uma língua estrangeira, fica dependente dos livros na sua língua materna. não sei bem o que se passa nas livrarias chinesas, mas tenho a certeza que a maioria deixa de fora as traduções para chinês dos clássicos (que existem), ora porque desconhecem o autor ou porque versam sobre uma realidade ocidental, venha o Diabo e escolha. Para o chinês comum o interior do Brasil que tão bem descreve Jorge Amado em “Gabriela cra-vo e canela” ou a França revolucionária de “Les Misérables”, de Victor hugo são realidades distantes e dizem-lhes muito pouco. Desconfio que se inclinem para no-velas ou romances chineses, onde pouco se aprende, obviamente. o leitor chinês é em geral muito pouco globalizado, é fechado no seu mundo. e para isto nem é preciso inquiri-lo sobre os seus hábitos de leitura. É algo que se percebe facilmente, da sua vivência no dia-a-dia.

Se os hábitos de leitura forem uma he-rança da presença portuguesa, então o caso está muito mal parado. os portugueses são, de um modo geral, uns grunhos que acham que ler é uma “perda de tempo”. Lembro-me quando era jovem nas férias de Verão escutar uns indígenas que ficavam estupefactos com a imagem de turistas alemães e ingleses a ler na praia: “olha pra estes gajos, gastam massa para vir até cá e ficam ali a ler, fosga-se!”.

Adeus, até “logos”bairro do or ienteLeocardo

Ser obrigado a ler e a perceber um livro, é como perder a virgindade. Se for um livro bom que nos cative, é como um amante competente; se for um livro que não gostamos, tentamos outra vez

Pois é, não se andavam a embebedar ou a dar quecas nas camones fêmeas…estavam a ler livros, os palermas. existe ainda em Portugal o preconceito de que quem lê muito “é culto”, ou “intelectual”. nada mais errado. Mesmo uma grande cavalgadura pode gostar de ler, e até entende o que lê. Basta-lhe ter adquirido esse hábito.

Tinha um professor, que ainda hoje con-tacto, que nos obrigava a ler pelo menos um livro por mês e apresentar um resumo. Isto pode parecer uma ideia um bocado fascista (por exemplo, detestei “Viagens na minha terra”, de Garrett), mas resulta. Ser obrigado a ler e a perceber um livro, é como perder a virgindade. Se for um livro bom que nos cative, é como um amante competente; se for um livro que não gostamos, tentamos outra vez. Depois de rompido o hímen literário, que é como quem diz, cultivado o gosto pela leitura, procuram-se livros bons para ler. “os Maias”, por exemplo, leitura obrigatória no 11º ano, li-o de uma assen-tada, num fim-de-semana. Foi como fazer amor com a Dita Von Teese – nunca podia

ser mau. Quem nunca leu um livro porque nunca foi obrigado não entende isto. não sabe o que é bom.

Voltando aos hábitos de leitura regionais, não sei o que se passa no continente chinês, até porque as opções são condicionadas pela existência da censura, mas sei que em Taiwan, por exemplo, existem bons hábitos de leitura. Cada taiwanês com o secundário completo lê em média sete ou oito livros por ano. Isto vale por dizer que por cada taiwanês que nunca leu um livro, existem outros que os devoram. Isto é excelente: por cada néscio deviam existir sempre dois ou três literados. olhando aqui para o lado, em hong Kong, a situação torna-se ainda mais aguda: Macau é um deserto cultural comparado com a ex-colónia vizinha.

Para isso basta comparar as livrarias de Macau com as de Hong Kong para se ficar completamente esclarecido. não é a toa que muitos honconguenses dominam o inglês e orgulham-se disso. Foram obrigados a ler! A aprender! Se os residentes de Macau desprezam os de hong Kong por achar que eles “têm a mania que são espertos”, têm nesse desprezo um fundamento válido, mas fatalista. É que a malta de hong Kong lê mais, e melhor, e por isso tem a cabecinha cheia de coisas úteis, que sempre pode usar quando chega a hora de fazer a diferença. não podemos censurar os nossos vizinhos por se terem dotado de maior elasticidade cerebral. Também tivemos essa oportuni-dade mas desperdiçá-mo-la, porque não quisemos “perder tempo”...a ler.

em Macau a Livraria Portuguesa tem uma oferta fantástica para a dimensão do território e para a sua restrita clientela, mas com o óbice de ser quase toda (toda,

mesmo?) em português. Isto serve a co-munidade lusófona, sem dúvida, mas faz muito pouco pela média global. Por acaso a maioria dos portugueses da metrópole que vivem actualmente em Macau têm não só uma educação superior mas também bons hábitos de leitura, e por isso a Livraria pros-pera. Antes de 1999 tínhamos por aí alguns compatriotas que se limitavam a garimpar a colónia, mesmo os menos qualificados, e felizmente hoje apenas os mais intelec-tualmente apetrechados sobrevivem. não tirem segundas leituras disto, mas as coisas são o que são, e o tempo dos generais que não liam já acabou.

o ideal seria que Macau, para bem da massa cinzenta que existe na cabeça de cada um adquirisse mais hábitos de leitura. Que em vez dos romances chineses ou os manga japoneses os estudantes enfiassem nas malas autores como Mark Twain, Tolstoi, Jean--Paul Sartre, George orwell ou mesmo José Saramago, já com traduções disponíveis em chinês. era saudável que suspirassem com a poesia de Lord Byron, Percy Shelley ou James Joyce – era interessante traduzir Bocage e Pessoa para a língua chinesa, certamente derrubavam muitas barreiras literárias. É triste que conheçam Sherlock holmes dos enlatados hollywoodescos mas não saibam que há mais de cem anos um tal Arthur Conan Doyle criou este herói e que existe uma vasta literatura muito mais excitante que os músculos e a cara bonita de Robert Downey Jr. e sobretudo é importante que leiam. e se não lerem, que pelo menos não se orgulhem disso, como o meu amigo. Assim Macau passava a ser também a cidade do conhecimento, do “logos”, em vez de ser apenas a cidade do “adeus, até logo”.

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cartoonpor Stephff

hoje macau quinta-feira 28.5.2015pu

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FIFA Dirigentesdetidos por suspeitas de corrupçãoAs autoridades suíças detiveram ao início da manhã de ontem seis dirigentes da FIFA num hotel, em Zurique, onde se encontravam reunidos para escolherem o novo presidente do organismo.O pedido partiu da justiça norte-americana que acusa os suspeitos de corrupção, diz o jornal «The New York Times». Não são conhecidos os nomes dos seis dirigentes, mas ao que tudo indica Joseph Blatter não está entre eles. Ao todo deverão ser mais de 14 os suspeitos, que devem agora ser extraditados e julgados nos EUA. Esta detenção resulta de uma investigação que dura há mais de três anos, e segundo o «The New York Times», em causa estão suspeitas de fraude, extorsão e lavagem de dinheiro, em casos de atribuição de campeonatos mundiais, bem como acordos de marketing e direitos de transmissão dos jogos de futebol

Laos Dez crianças morreram afogadasUm grupo de dez estudantes do ensino básico morreu afogado no Laos depois do naufrágio da embarcação onde seguiam para atravessar o rio Nam Ngum, afluente do Mekong, próximo da capital do Vietname, revelou a imprensa local. A embarcação, onde seguiam 39 pessoas, incluindo alunos e um professor, virou-se a meio do rio junto às localidades de Ban Nabong. O acidente aconteceu na terça-feira quando os professores levavam os alunos à localidade de Thakokhai para a realização de exames. O barco, que não possuía suficientes coletes salva-vidas, era de reduzidas dimensões e estava sobrelotado, segundo várias testemunhas que assinalaram ser este o quarto acidente do mesmo género nos últimos três anos.

Macau Pedido fundo de desemprego para trabalhadores do Jogo A deputada e administradora da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Angela Leong, defende, num comunicado enviado à imprensa, que o Governo deveria implementar um “fundo de desemprego para trabalhadores do Jogo”, por forma a “proteger os funcionários do sector que são mais facilmente influenciados por factores externos”. A deputada considera que o sector “é mais facilmente afectado por factores externos e quando são enfrentadas dificuldades, podem ocorrer demissões de trabalhadores, o que pode provocar um choque social”. A empresária diz que, como Macau atravessa uma fase de ajustamento no sector mais importante para a sua economia, esta é a altura ideal para a criação de um mecanismo que proteja os direitos dos funcionários. O fundo de desemprego sugerido por Angela Leong iria focar-se no “apoio financeiro de curto prazo a funcionários desempregados, bem como às suas famílias, por forma a ajudá-los a ultrapassar as dificuldades económicas”.

Parisian Sands China fala em “discrepâncias” no protestoA operadora de Jogo Sands China emitiu um comunicado a comentar as recentes acções de protesto de 200 trabalhadores da construção civil, que afirmam terem sido despedidos do projecto do The Parisian Macao sem justa causa e com pagamentos em atraso. A Sands China afirma que entregou o projecto à empresa de engenharia Hsin Chong Engineering, a qual está a coordenar o projecto “com vários empreiteiros”. A empresa diz ainda “compreender que existe uma discrepância em termos do consenso obtido entre empreiteiros e o grupo de trabalhadores importados, tendo em conta o esquema de saída desses trabalhadores”, mas descarta responsabilidades. “A Sands China compreende que o responsável pela obra e os empreiteiros estão empenhados em encontrar as soluções em linha com as leis laborais em vigor em Macau”, sendo que a operadora “vai assegurar que essas soluções serão implementadas”.

P elo menos 1.150 pessoas morreram nas últimas semanas devido à onda de calor que assolou os

estados de Telangana e Andra Pradexe, no sul da Índia, noticiou ontem a eFe.

“Andra Pradexe é o estado mais afectado e já morreram 884 pessoas, oriundas sobretudo dos distritos de Guntur e de Visakhap-tnam”, disse à agência noticiosa um porta-voz da unidade de gestão de catástrofes da região, Tulsi Rani.

“São 226 as pessoas que mor-reram na região devido à vaga de calor”, disse Sada Bhargavi, porta-voz da unidade de gestão de catástrofes de Telangana, o outro estado também afectado.

Um membro da mesma uni-dade de Telangana, B.R. Meena,

indicou que “a maioria das vítimas mortais, trabalhadores oriundos da população mais pobre, morreram desidratados por se encontrarem na rua nas horas de maior calor”.

As autoridades destes estados têm desenvolvido campanhas de sensibilização à população para difundir boas práticas, como beber muita água e manterem--se em casa nas horas de maior intensidade do calor.

o Governo de Andra Pradexe anunciou ainda compensações de cerca de 1.500 dólares para apoiar as famílias dos mortos.

AcimA dos 40“A vaga de calor que afecta a re-gião advém da confluência entre ar seco, a noroeste, e uma área de pressão atmosférica relativa-mente baixa, a leste”, de acordo com o Centro Meteorológico de Hyderabad, capital de ambos os estados.

os estados de Bengala e odisha também referem que a vaga de calor já causou a morte de pelo menos 36 pessoas, no-ticia um jornal indiano local, FirstPost.

Durante a última semana as temperaturas subiram em todo o território indiano, sobretudo na faixa que atravessa o país de leste a oeste, a qual tem registado valores médios acima dos 40 graus Celsius.

A chegada iminente da época chuvosa (Maio) levará a uma ligeira baixa dos termómetros.

Centenas de pessoas, sobre-tudo pobres, morrem todos os anos na Índia no pico do Verão, enquanto dezenas de milhares sofrem cortes de energia devido às sobrecargas da rede eléctrica.

Índia MAIS dE 1.000 MOrTOS dEVIdO A VAGA dE CALOr

Termómetros a rebentar“A maioria das vítimas mortais, trabalhadores oriundos da população mais pobre, morreram desidratados porse encontraremna rua nas horas de maior calor”