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PUB Os casos de violência doméstica re- gistaram uma diminuição em 2013. Dados oficiais, revelados ao HM pelo Gabinete do Coordenador de Segurança, mostram um decréscimo de 13,2% e, consequentemente, uma baixa no número total de vítimas. Juliana Devoy, do centro Bom Pastor, refere que as estatísticas “apenas re- flectem os casos reportados à polícia”. “Há muitos casos que não chegam à esquadra”, diz, assumindo que “é difícil saber qual é a realidade actual”. PÁGINA 6 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Realidade dúbia DEPUTADOS COM O GOVERNO Endividamento de mil milhões parece ajustado APOIO ÀS PME PÁGINA 5 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Dados oficiais mostram baixa de casos. Juliana Devoy não se convence COREIA DO NORTE ONU acusa regime de crimes contra a humanidade PÁGINA 9 ASSOCIAÇÃO “FU HONG” O trabalho em prol dos deficientes que ninguém vê ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 QUARTA-FEIRA 19 DE FEVEREIRO DE 2014 ANO XIII Nº 3033 hojemacau

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Hoje Macau N.º3032 de 19 de Fevereiro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 19 FEV 2014 #3033

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Os casos de violência doméstica re-gistaram uma diminuição em 2013. Dados oficiais, revelados ao HM pelo Gabinete do Coordenador de Segurança, mostram um decréscimo de 13,2% e, consequentemente, uma baixa no número total de vítimas. Juliana Devoy, do centro Bom Pastor,

refere que as estatísticas “apenas re-flectem os casos reportados à polícia”. “Há muitos casos que não chegam à esquadra”, diz, assumindo que “é difícil saber qual é a realidade actual”.

PÁGINA 6

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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Realidade dúbia

DEPUTADOS COM O GOVERNO

Endividamento de mil milhões parece ajustado

APOIO ÀS PME PÁGINA 5

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Dados oficiais mostram baixa de casos. Juliana Devoy não se convence

COREIA DO NORTE ONU acusa regime de crimes contra a humanidade PÁGINA 9

ASSOCIAÇÃO “FU HONG”

O trabalho em prol dos deficientesque ninguém vê

ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 Q UA R TA - F E I R A 1 9 D E F E V E R E I R O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 3 3

hojem

acau

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HOJE

MAC

AU

2 hoje macau quarta-feira 19.2.2014ENTREVISTA

CECÍLIA L [email protected]

Quantas pessoas são beneficia-das pelo vosso serviço?Temos três centros, incluindo o “Hong Ieng”, na habitação social do Fai Chi Kei que o Chefe do Exe-cutivo visitou antes de apresentar as Linhas de Acção Governativa (LAG), a empresa social “Socie-dade Unipessoal Limitada ‘Happy Laundry’” e uma casa de arte cria-tiva. Em cinco espaços distintos, temos cerca de cem funcionários. Em geral, 400 pessoas são benefi-ciadas pelo nosso serviço.

Porque pensaram em criar esta associação?

A Associação de Reabilitação “Fu Hong” nasceu em Macau há dez anos, inspirada num modelo associativo de Hong Kong. E, há dois anos, puseram em operação a primeira empresa social de Macau: uma lavandaria. A directora não nega a possibilidade de se candidatar à segunda fase do plano de apoio do Governo para empregar deficientes e, deste modo, avançar com um outro projecto de negócio. Mas, Jennifer Chau, diz que seria salutar para Macau haver mais candidatos

JENNIFER CHAU, DIRECTORA DA ASSOCIAÇÃO DE REABILITAÇÃO “FU HONG” DE MACAU

“Há espaço para mais participantes neste tipo de negócio”O sector é muito experiente em Hong Kong, onde existem mais de cem empresas sociais ou associações que oferecem serviço social. Mas em Macau, somos a única empresa que, através do Plano de Apoio Financeiro para a Promoção do Emprego das Pessoas com Deficiência pelo Go-verno, desde 2008, oferece emprego a pessoas portadoras de deficiências. O Executivo está a planear criar uma segunda fase de plano de apoio, es-pero que com o nosso sucesso haja mais pessoas com vontade em parti-cipar. Nós ainda estamos a pensar se deveremos entrar na corrida ou não.

Quantas empresas se candi-dataram ao financiamento do Governo?Houve mais dois candidatos. Um dos candidatos acabou por criar uma empresa de apoio ao em-prego através doutro plano, que atribui dinheiro regularmente. O Governo oferece 200 mil patacas por mês para o funcionamento de um supermercado e todos os funcionários são deficientes. O outro candidato saiu do concurso depois de entregar a sua primeira proposta. Somos a única empresa que recebeu a aprovação do Go-verno e recebemos 1,77 milhão de patacas para iniciar o negócio. O financiamento foi único, por isso, temos de aprender como equilibrar as contas e fazer lucro. Como não tínhamos qualquer experiência, no início foi muito duro.

Quando conseguiu equilibrar as contas?Queríamos começar a ter lucro ao fim de três anos. Felizmente, através do nosso esforço, num ano conseguimos obter lucro. A Associação “Fung Hong” de Hong Kong ajuda-nos muito, mas apenas no apoio técnico porque temos uma gestão independente. No início, tivemos de recrutar as pessoas e quase ninguém tinha experiência em trabalhar numa associação sem fins lucrativos. Mas não somos apenas uma asso-ciação, temos actualmente a missão de ensinar aqueles que depois do ensino especial foram recrutados pelo Instituto de Acção Social para virem trabalhar connosco.

Qual a importância do emprego para os deficientes?Na experiência da lavandaria, mais do que terem um local para passar o tempo, eles têm de aprender a sobreviver na sociedade e a inte-grar a comunidade. Não podemos declarar falência de repente porque temos responsabilidade sobre estes

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3 entrevistahoje macau quarta-feira 19.2.2014

A Associação de Rea-bilitação “Fu Hong” de Macau, criada em

2003, tem dez anos de expe-riência no serviço prestado a deficientes, especialmente, a portadores de deficiências mentais e pessoas em reabi-litação psiquiátrica. Segundo a directora da associação, a empresa arrancou numa “fase difícil” - durante a doença SARS, a pneumonia atípica respiratória – e sem grande experiência nesta área.

Jennifer Chau explica que o modelo foi totalmente inspirado na associação se-diada em Hong Kong com o mesmo nome, embora a gestão da associação em Macau seja independente da existente na região vizinha.

A falta de empresas sociais é prejudicial a Macau. Há espaço para mais participantes neste tipo de negócio. No entanto, acho que se deve manter um ambiente comercial justo, ou seja, diferentes iniciativas

JENNIFER CHAU, DIRECTORA DA ASSOCIAÇÃO DE REABILITAÇÃO “FU HONG” DE MACAU

“Há espaço para mais participantes neste tipo de negócio”

empregados. Temos de fazer a nos-sa própria publicidade e promoção de trabalho. Abrimos muitas vezes as páginas amarelas para ligar di-rectamente às empresas a saber se precisam do nosso serviço.

Que tipo de serviços podem ofe-recer às empresas?Por exemplo, aqui na fábrica da associação, fazemos empacotamento de presentes e pequenas prendas de casamento. Também fazemos lem-branças para turistas que visitam o Pavilhão do Panda Gigante, e pomos outros artigos à venda nas lojas locais. Tudo é feito por deficientes mentais. Depois de ter a nossa empresa social, começámos a oferecer o serviço de lavandaria às pequenas e médias empresas (PME’s) porque as grandes lavandarias não recebem o trabalho de sociedades pequenas, como salões de beleza, barbearias e ginásios. Os seus clientes são mais hotéis. Temos actualmente uma carteira de clientes na ordem das 40 a 50 empresas e, às vezes, até ficamos sobrecarregados com trabalho.

Qual a maior dificuldade com que se deparam no funcionamen-to da associação e da empresa?

Não temos um número de trabalha-dores suficiente, apesar de sermos uma associação pequena, mas temos cada vez mais associados. No início tínhamos 50 alunos de ensino especial, agora temos 400 pessoas com diferentes graus de deficiência sob a nossa alçada. Mas nós não somos os únicos com este problema. Quando pensámos em criar o projecto da empresa social, queríamos também ajudar a superar as dificuldades que advêm do rápido desenvolvimento da economia. Por exemplo, as PME’s não têm recursos humanos e preci-sam de certos serviços, como uma lavandaria, para se manterem de portas abertas. Agora, a principal dificuldade é a renda, como outras PME’s também têm.

Vão pedir outro tipo de apoios ao Governo?Queríamos que o Governo pudesse reservar as lojas no rés-do-chão das habitações sociais. Agora, três dos nossos centros usam propriedades do Governo, mas a empresa social e a casa de arte criativa precisam de alugar espaços em prédios indus-triais. Além disso, sugerimos que o Governo desse um financiamento

FU HONG ASSOCIAÇÃO É A ÚNICA EM MACAU A OFERECER EMPREGO A DEFICIENTES NUMA EMPRESA SOCIAL

Realização fora de casaDepois de um primeiro

ano, que serviu para saldar dívidas, a associação fun-dou a primeira empresa social através de finan-ciamento governamental (Plano de Apoio Finan-ceiro para a Promoção do Emprego das Pessoas com Deficiência).

Agora, a associação não oferece apenas oportunida-des recreativas para pessoas portadoras de deficiência, mas emprega este grupo de residentes para que pos-sam dar o seu contributo à sociedade. “Os deficientes não devem ficar em casa a depender dos cuidados de familiares ou em lares sujeitos ao tratamento de assistentes sociais. A maio-

ria deles tem capacidade para trabalhar e o trabalho dá-lhes alegria.”

Jennifer Chau revela que os “alunos” na “fábrica de workshops” não gostam de ser preguiçosos, nem que-rem ter grandes ganhos com o trabalho porque estarem a braços com a produção de produtos, em vez de parados em casa, já lhes traz realização suficiente. “Não é indicado para os deficientes mentais ficarem em casa porque não há estímulos para uma recupe-ração. Estarem ocupados é uma maneira de reabilitação psiquiátrica.”

A existência de uma empresa social também tem o seu valor no seio do desen-

volvimento económico do território, sobretudo, quando se mostra sustentável. “O Governo apenas oferece financiamento no início,

depois temos de sobreviver a partir do nosso trabalho e es-forço. Queríamos sobreviver sem ajuda governamental e podemos operar a empresa.

O mais importante é per-ceber-se o valor deste tipo de iniciativa e, igualmente, o valor dos deficientes na sociedade.” – C.L.

adicional porque quando acabámos de construir a empresa social des-cobrimos que o sistema de energia do edifício industrial não consegue suportar a operação de todas as máquinas, por isso, precisamos de mais 300 mil patacas. Como o IAS explicou que o plano de apoio só oferece um capital inicial, pedimos uma doação social. Porque um financiamento de menos de dois milhões é muito pouco para operar uma empresa.

Porque o centro de arte não pode aproveitar os lugares do Governo?Não é uma área da responsabilidade do IAS, mas acreditamos que fazer produtos artísticos também ajuda

muito na reabilitação das pessoas. Há deficientes ou pacientes psiquiátricos com dificuldade em se exprimir. A pintura e o artesanato ajuda a expres-sarem as suas emoções.

Os deficientes vêm ao centro sem pagar nada?Eles têm de pagar as refeições de almoço e as despesas de transporte entre casa e centro, mas aquilo que fazem já lhes permite ganhar mais do que este custo diário. Além disso, o Governo dá-lhes um subsídio de 20 patacas por dia. Na fábrica, podem ganhar entre 500 e mil patacas por mês. Os empre-gados na lavandaria, por sua vez, podem ganhar um mínimo de 1,500 patacas por mês. O dinheiro para eles não significa muito porque têm pais para os criar e os que não têm familiares vivem nos lares. Contudo, o trabalho permite com que fiquem mais ocupados e os pais podem aproveitar o seu tempo de trabalho, em vez de os acompa-nhar em casa. O salário, se calhar, não lhes ajuda muito na sua vida, mas é um reconhecimento do seu trabalho, o que é muito positivo.

Durante o trabalho há muitos conflitos entre os alunos e em-pregados?Às vezes sim porque eles têm uma inteligência comparativa a crianças de dez anos. Podem lutar um com o outro por causa de um assento,

mas a maioria do tempo convivem bem e ficam tranquilos.

A sua experiência académica ajuda-a a lidar com pessoas com deficiência? Fiz a licenciatura em Gestão Co-mercial e Administração Pública. Trabalhei na Cáritas, mas apenas fazia trabalho administrativo. É a primeira vez que convivo com deficientes, por isso, tirei outro curso de assistente social. Aqui na associação, criei “marcas” para os produtos feitos pelos deficientes para que sejam distinguidos – uma flor de arco-íris e um cartoon com dois pandas.

Então tem esperança na se-gunda fase de plano de apoio financeiro?Esperemos que o nosso sucesso pos-sa incentivar mais empresas a criar os seus negócios. A falta de empre-sas sociais é prejudicial a Macau. Há espaço para mais participantes neste tipo de negócio. No entanto, acho que se deve manter um ambiente comercial justo, ou seja, diferentes iniciativas. O que estamos a fazer também é um serviço social, por isso, esperamos nada mais do que lugares com renda razoável para garantir um negócio rentável.

Que memória recorda nestes anos?Recordo-me da empresa com apenas 50 pessoas, incluindo eu, a lavar as toalhas. Quais as idades dos deficientes que frequentam a vossa asso-ciação?São jovens entre os 20 e os 30 anos. Não são velhos, mas os deficientes parecem sempre mais velhos.

Abrimos muitas vezes as páginas amarelas para ligar directamente às empresas a saber se precisam do nosso serviço

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Entre as mais de uma dezena de intervenções marcadas, os temas vão desde o já discutido sistema de autocarros e dos grandes números de turistas a novas questões relacionadas com a reciclagem, os mercados municipais e a função pública

O ESSENCIAL

hoje macau quarta-feira 19.2.2014POLÍTICA

JOANA [email protected]

O S deputados questio-nam hoje represen-tantes do Governo em mais uma ronda de

interpelações orais na Assembleia Legislativa (AL). Entre as mais de uma dezena de intervenções marcadas, os temas vão desde o já discutido sistema de autocarros e dos grandes números de turistas a novas questões relacionadas com a reciclagem, os mercados muni-cipais e a função pública.

Melinda Chan decidiu falar sobre a questão da reciclagem. A deputada diz-se preocupada com um recente incidente em Ká-Hó, onde um contentor com papel re-ciclado pegou fogo. Melinda quer ouvir uma explicação do Governo sobre a falta de espaços para a reciclagem e sobre o plano que o Executivo diz ter traçado para a recolha de resíduos. A deputada aponta o dedo ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que acusa de não ter ainda adiantado qualquer solução sobre locais para aterros sanitários, que, contudo, já admitiu estarem a escassear no território.

Além de temas que já têm pre-enchido algum tempo no plenário da AL, como é o caso do modelo de autocarros – que Song Pek Kei e Chan Meng Kam decidiram levar novamente ao hemiciclo -, há ainda quem queira saber mais sobre a função pública da RAEM. É o caso de Mak Soi Kun, que questiona o Executivo sobre as reservas de funcionários públi-cos para substituir directores de departamentos. “Afinal quantos funcionários públicos é que temos formados para assumirem cargos de director?”, questiona o depu-tado. Mak Soi Kun dá o exemplo recente do director do Instituto

Revisão de leis, assuntos antigos como os autocarros e temas novos, como a necessidade de mais pontos de reciclagem. Os deputados confrontam hoje representantes do Governo com perguntas às quais querem obter resposta

AL DEPUTADOS TÊM ENCONTRO MARCADO COM REPRESENTANTES DO GOVERNO

Hoje é dia de questionáriode Habitação, que saiu do cargo mas não tem quem o substitua. O Governo assume ter reservas de pessoal, aponta o deputado, mas se o tivesse, não se preocuparia agora em criar um programa especial para formar talentos.

INSISTÊNCIASAu Kam San ainda não desistiu de levar à AL o assunto da Taipa Pe-quena: o deputado da ala democrata aponta o dedo ao Governo, critican-do o facto de este ter concedido o terreno ao mesmo promotor 25 anos depois deste não o ter desenvolvido, ao contrário do que está definido pela Lei de Terras, permitindo ain-da que este modificasse o projecto inicial. No local vão nascer edifícios altos, ao invés das moradias projec-tadas inicialmente, algo que, diz Au Kam San, vai destruir as montanhas da Taipa. O facto da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental

(DSPA) se recusar a apresentar o relatório do impacto ambiental que as obras terão no local faz o deputado suspeitar de conluios. “Se passou, como dizem, porque é que os residentes não podem ter acesso ao relatório? E como é que o Governo admitiu alterações no terreno?”. Também o colega da bancada da Novo Macau, Ng Kuok Cheong, volta a falar num velho assunto: o das habitações públicas e das terras de Macau para residen-tes de Macau. A par dele, também Ella Lei quer saber mais sobre a habitação pública.

O problema dos turistas conti-nua na ordem do dia, pelo menos para Ho Ion Sang. O deputado cri-tica o Governo por não ter medidas para pôr um travão nos turistas e questiona mesmo de forma direc-ta se “a capacidade de Macau já não terá atingido o seu limite”. O deputado quer ainda saber se a quantidade de turistas poderá estar a prejudicar o desenvolvimento da cidade e acusa o Governo de estar a esquivar-se de responder sempre que a pergunta é sobre a carga de turistas que cá entram.

Já Angela Leong vai apro-

veitar o plenário para falar das pensões ilegais e uma eventual revisão da lei que as controla, enquanto Si Ka Lon vai dedicar-se a questionar o Executivo sobre os bairros antigos. A Lei de Reorde-namento dos Bairros Antigos foi retirada pelo Governo em 2012 e, agora, o deputado quer saber em que situação está esse diplo-ma. Si Ka Lon quer ainda saber o que tem feito o Governo para melhorar estes bairros, sendo que está sempre a anunciar medidas. O metro ligeiro, a existência de máquinas de jogo no Hotel Cantão e os direitos das pessoas com deficiências são outros dos temas hoje levados à AL. Este é já o segundo plenário dedicado a ouvir perguntas dos deputados, que já enviaram as questões aos representantes de cada departa-mento durante o mês de Janeiro. A sessão começa às 15 horas.

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5 políticahoje macau quarta-feira 19.2.2014

WWW. IACM.GOV.MO

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Application for Inclusion in the Lists of Approved Consultants/Contractors

Macau International Airport Company Limited (hereafter “CAM”) has established the website for application for inclusion in the lists of approved consultants/contractors.

Any consultants/contractors which wish to apply for inclusion in the new Lists may visit the website ( http://www.macau-airport.com or http://www.camacau.com ) to complete the application online. CAM will evaluate all applications by using the information provided by the applicants in the completed application forms and supporting documents. Subject to confirmation of compliance with the required criteria, applicants that are found acceptable will be registered by CAM. CAM may at its sole discretion use the Lists for the purpose of issuing tender invitations.

All costs associated with any submission in response to this notice and application shall be entirely the responsibility of the applicant. For enquiry on the consultants/contractors prequalification application, please call (+853) 85988871.

ANÚNCIO“Aquisição, pelo IACM, de dois veículos equipados com bombas para limpeza de

esgotos a alta pressão e para sucção de águas residuais ”Concurso Público n° 001/IACM/2014

Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração do IACM, tomada

em sessão de 24 de Janeiro de 2014, se acha aberto concurso público para a “Aquisição, pelo IACM, de dois veículos equipados com bombas para limpeza de esgotos a alta pressão e para sucção de águas residuais”.

O programa de concurso e o caderno de encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais ( IACM ), sito na Avenida de Almeida Ribeiro nº 163, r/c, Macau.

O prazo para a entrega das propostas termina às 17:00 horas do dia 31 de Março de 2014. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IACM e prestar uma caução provisória no valor de MOP96,000.00 (noventa e seis mil patacas). A caução provisória pode ser efectuada na Tesouraria da Divisão de Contabilidade e Assuntos Financeiros do IACM, sita na Avenida de Almeida Ribeiro n° 163, r/c, por depósito em dinheiro, cheque, garantia bancária ou seguro-caução, em nome do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.

O acto público de abertura das propostas realizar-se-á no auditório do Centro de Formação do IACM, sita na Avenida da Praia Grande, n.° 804, Edf. China Plaza 6.° andar, pelas 10:00 horas do dia 1 de Abril de 2014. O IACM realizará a este respeito uma sessão de esclarecimento pelas 10:00 horas do dia 26 de Fevereiro de 2014, no auditório do Centro de Formação do IACM.

Macau, aos 07 de Fevereiro de 2014.

O Presidente do Conselho de Administração, Subst.º

Vong Iao Lek

RITA MARQUES [email protected]

N ÃO há muito para o Go-verno esclarecer junto dos deputados sobre o aumento

de 400 milhões de patacas no fi-nanciamento a Pequenas e Médias Empresas (PME’s). A comissão que estuda a alteração à lei de 2003 sobre a autorização à contracção de dívidas pelo Governo entende que é ajustado um endividamento de mil milhões de patacas. O Executivo terá apenas de responder sobre a

A alteração à lei relativa à autorização para a contracção de dívidas pelo Governo será votada na especialidade em finais de Março, estima Chan Chak Mo. Deputados não vêem dúvidas no diploma, que prevê um aumento no apoio financeiro dado às PME’s de 600 para mil milhões de patacas

APOIO ÀS PME DEPUTADOS NÃO SE OPÕEM A0 ENDIVIDAMENTO DO GOVERNO NO VALOR DE MIL MILHÕES DE PATACAS

Proposta vai a votos em finais de Março

possível necessidade de estender este plano de apoio financeiro. “Cremos que, depois de uma primeira reunião do Governo, a lei poderá subir a plenário para votação na especialidade”, indica Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assem-bleia Legislativa, que estuda a o diploma na especialidade.

Concretamente, prevê-se um aumento do limite máximo do montante do Plano de Garantia de Créditos a PME, de 500 milhões de patacas para 900 milhões,

mantendo-se em cem milhões de patacas o tecto máximo da garantia do Plano de Garantia de Créditos a PME’s destinados a Projectos Es-pecíficos. Segundo últimas infor-mações do porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, do primeiro plano apenas resta um saldo de 70 milhões de patacas, já o segundo só foi utilizado em 10% do valor total, daí o Governo não ter proposto alterações o seu orçamento.

Chan Chak Mo indicou ontem que, em valor acumulado, foram atribuídos 14 mil milhões de pa-tacas nos dois planos de apoio às sociedades. O deputado deu conta de que, por exemplo, o sector de imóveis recebeu mais de 700 milhões de patacas, a indústria transformadora encaixou cerca de 600 milhões e a restauração em torno de 300 milhões de patacas.

As empresas terão sempre de reembolsar estes empréstimos, a não ser que venham a declarar falência, clarificou ainda. As even-tuais dívidas decorrentes destes planos são da responsabilidade do Governo. No entanto, segundo

informações do Executivo, em dez anos, apenas foram registados dois casos em que os empréstimos, na ordem dos 2,6 milhões de patacas, não foram reembolsados.

No mês passado, quando apre-sentada a proposta para votação na

especialidade, o secretário para a Economia e Finanças deu conta de que, entre 2003 e 2013, o Governo aprovou 376 pedidos para o plano de garantia de créditos e outros 60 pedidos para o programa de garantia destinado a projectos es-peciais. Com o aumento do limite da garantia, Francis Tam acredita que o Executivo possa responder a um total de 110 pedidos no prazo de dois anos e meio.

Questionado sobre a possi-bilidade da criação de plano de apoio específico para fazer face ao aumento das rendas, Chan Chak Mo disse que não foi discutido este mecanismo de financiamento

específico. “As dificuldades relacionadas com esses facto-res - a subida das rendas, dos salários, das matérias-primas - é analisada de uma forma global pelo Governo quan-do é prestada uma garantia. Não se prende com um factor específico. Não é por causa do acréscimo das rendas que é lançado um apoio”, explicou o deputado.

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DADOS

6 hoje macau quarta-feira 19.2.2014SOCIEDADE

RITA MARQUES [email protected]

E M 2013, houve 296 casos de violência doméstica. Menos 45 queixas reporta-

das do que no ano anterior. Ou seja, segundo dados en-viados ao HM pelo Gabinete do Coordenador de Seguran-ça, registou-se um decrésci-mo de 13,2%. Em proporção semelhante, desceu também o número total de vítimas. Especificamente, há menos 55 casos (e vítimas) regista-dos que envolvem cônjuges face a 2012. Neste domínio, segundo o organismo, houve

A Associação Industrial Por-tuguesa (AIP) e a Associa-ção para a Promoção do In-

tercâmbio Económico, Comercial e Cultural entre a China e os Países Lusófonos (APCL) assinaram, na passada segunda-feira, dois pro-tocolos para promover as relações comerciais entre os países de língua e expressão portuguesa e a China através de Macau. “Macau é uma plataforma assumida para a ligação da China continental com os países de língua oficial portuguesa. Esse papel é crucial para o sucesso das abordagens a este enorme mercado mundial”, frisou Jorge Pais, vice--presidente da AIC, na assinatura dos acordos em Lisboa.

NÚMERO TOTAL DE CASOS

2012 341

2013 296

CÔNJUGES ENVOLVIDOS

2012 2013

Casos/Vítimas 258 203

Homens 27 17

Mulheres 231 186

MENORES ENVOLVIDOS

2012 2013

Casos 8 8

Vítimas 11 8

Masculino 3 3

Feminino 8 5

MEMBROS DA FAMÍLIA ENVOLVIDOS

2012 2013

Casos 75 85

Vítimas 65 73

Masculino 25 35

Feminino 40 38

Os casos de violência doméstica registaram um decréscimo de 13% em 2013. Do total, destaca-se apenas um aumento de 10 casos que envolvem outros membros da família, que não cônjuges ou menores. Os dados foram apresentados pelo Gabinete de Coordenador de Segurança, mas Juliana Devoy diz que este decréscimo não espelha a realidade actual até porque há “muitos casos não reportados”

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA BAIXA DE 13% NO NÚMERO DE CASOS REGISTADOS EM 2013

Menos vítimas denunciadas

NEGÓCIOS DOIS PROTOCOLOS “JOGAM” COM MACAU PARA AJUDAR EMPRESÁRIOS LUSÓFONOS A ENTRAR CHINA

Plataforma em acçãoNo primeiro protocolo de coo-

peração prevê-se a criação de uma base de dados sobre Macau, no que toca a incentivos fiscais, procedi-mentos para abertura de empresas, de forma a ajudar os empresários portugueses a fazerem negócios com a China através da RAEM. Por outro lado, as duas associações acordaram ainda fazer estudos sobre as cooperações no sectores de transporte, comunicação, edu-cação, saúde, meio ambiente, entre outras áreas.

O segundo destina-se à coope-ração e desenvolvimento econó-mico das empresas do espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Macau, no

âmbito do projecto “Lusofonia Económica – Plataformas da CPLP”.

CHINA IMPORTAMENOS DA LUSOFONIAAs importações feitas aos Países de Língua Portuguesa pela China

foram de 87,4 mil milhões de dó-lares, em 2013. Já as exportações registaram, no mesmo período, um valor de 44 mil milhões de dólares.

Apesar das importações se mostrarem superiores em cerca de 43 mil milhões de dólares, o facto é que a lusofonia faz um balanço

mais negativo nas trocas comer-ciais com a China, isto porque houve um acréscimo nas importa-ções da China apenas na ordem de 0,04% face ao ano anterior.

Já os países de expressão portu-guesa importam mais, com a China a subir as suas exportações em 7,14%. As percentagens reflectem esta reali-dade de forma ainda mais expressiva quando comparado o mês de Novem-bro com Outubro do ano passado.

Segundo dados dos Serviços da Alfândega da China, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa, em 2013, foram de 131,4 mil milhões de dó-lares, registando um crescimento de 2,31%. – R.M.R.

186 vítimas mulheres e 17 vítimas do sexo masculino.

O gabinete de Cheong Seng Chio fez saber que houve, em 2012 e 2013, o mesmo número de casos a envolverem menores. Po-rém, registaram-se mais 3 vítimas em 2012.

É nos casos de violência domésticas que envolvem outros membros da família que se regista um aumento no ano passado. Em 2013, houve mais 10 casos do que no ano anterior, ou seja, um total de 85 casos que correspondem a 73 vítimas (mais 8 do que em 2012). Neste caso, as vítimas de

sexo masculino e feminino equiparam-se em número.

O Governo justifica o facto de um caso não ter cor-respondência em número de vitimas pela impossibilidade de deslindar quem sofreu

agressões. “Nesse caso, são considerados como suspei-tos e não vítimas”, frisa um porta-voz do Gabinete do Coordenador de Segurança. Da mesma forma, explica, um caso pode supor mais do que uma vítima (como acontece com os dados de menores).

O organismo disse tam-bém não poder apresentar os casos de acusações feitas, já que tais dados não são notifi-cados à PSP pelo Ministério Público.

Questionada sobre se os dados reflectem a realidade, Juliana Devoy ressalva que “as estatísticas das autorida-

des policiais apenas reflec-tem os casos reportados à polícia, mas há muitos que não chegam à esquadra”. “O facto de que há menos casos em 2013 do que em 2012 não mostra, de facto, uma tendência de decrésci-mo”, assegura. A directora do Centro Bom Pastor, que lida com vítimas de violên-cia doméstica, reconhece que é “difícil saber qual é a realidade actual”.

A irmã acredita que houve um aumento de casos

no espaço de uma década, embora as flutuações nos dados estatísticos apresen-tados anualmente pela po-lícia não deixem fazer uma análise clara. “Não acredito que as estatísticas reflectem uma clara tendência porque, enquanto há mais casos do que havia há 10 anos, não há indicação que a cada ano au-mentam ou decrescem”, ex-plica Devoy. “As estatísticas também não nos dão conta do grau de agressividade do abuso.”

17vítimas do sexo masculino

foram os números

registados em 2013

186vítimas mulheres

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7 sociedadehoje macau quarta-feira 19.2.2014

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AnúncioConcurso Público

« Prestação de Serviços de Inscrição de Actividades de Férias 2014 organizadaspelo Instituto do Desporto e pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude »

Nos termos previstos no artigo 13.o do Decreto-Lei n.o 63/85/M, de 6 de Julho, e em conformidade com o despacho do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, 13 de Fevereiro de 2014, o Instituto do Desporto vem proceder, em representação do adjudicante, à abertura do concurso público para a “Prestação de Serviços de Inscrição de Actividades de Férias 2014 organizadas pelo Instituto do Desporto e pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude”.

A partir da data da publicação do presente anúncio, os interessados poderão dirigir-se ao balcão de atendimento da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, s/n, Fórum de Macau, Bloco 1, 4.o andar, no horário de expediente, das 9,00 às 13,00 e das 14,30 às 17,30 horas, para consulta do processo do concurso ou para obtenção da cópia do processo, mediante o pagamento da importância de $ 500.00 (quinhentas) patacas ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no Download ficheiro da página electrónica: www.sport.gov.mo.

Os interessados deverão comparecer na sede do Instituto do Desporto até à data limite para tomar conhecimento dos eventuais esclarecimentos adicionais.

O prazo para a apresentação das propostas termina às 12,00 horas do dia 7 de Março de 2014, não sendo admitidas propostas fora do prazo. Os concorrentes devem apresentar a sua proposta dentro do prazo estabelecido, na sede do Instituto do Desporto, no endereço acima referido, acompanhada de uma caução provisória no valor de $129,000.00 (Cento e vinte e nove mil) patacas. Caso o concorrente optar pela garantia bancária, esta deve ser emitida por um estabelecimento bancário legalmente autorizado a exercer actividade na RAEM e à ordem do Fundo de Desenvolvimento Desportivo ou efectuar um depósito em numerário ou em cheque na mesma quantia, na Divisão Administrativa e Financeira na sede do Instituto do Desporto.

O acto público de abertura das propostas do concurso terá lugar no dia 10 de Março de 2014, pelas 10,30 horas, no auditório da sede do Instituto do Desporto, sito na Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, s/n, Fórum de Macau, Bloco 1, 4.o andar.

As propostas são válidas durante 90 dias a contar da data da sua abertura.

Instituto do Desporto, aos 19 de Fevereiro de 2014.

O Presidente, Substituto, José Tavares

A Escola Portuguesa vai manter-se nas actuais instalações, na Avenida do Infante D. Henrique, conforme

notícia avançada ontem pela Rádio Macau. Citando fontes de Lisboa, a rádio assegura que Portugal já decidiu que a Escola Portu-guesa se vai manter nas actuais instalações.

A decisão ainda terá sido comunica-da oficialmente a Macau, mas as fontes contactadas pela Rádio Macau em Lisboa garantem que deve ser assinado em breve um despacho conjunto do ministro dos Negócios Estrangeiros e do ministro da Educação. A decisão deve ser comunicada

ao Governo de Macau antes da visita do Presidente Cavaco Silva à China e a Macau, que acontecerá, em princípio, em Maio. Lisboa terá optado por manter o estabele-cimento de ensino no local onde sempre funcionou, até porque esse parece ser agora o cenário mais consensual em Macau.

Ainda de acordo com a rádio, os novos estatutos da Fundação Escola Portuguesa estão também concluídos e o Estado portu-guês e a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) vão passar a ser os únicos associados da Fundação da Escola Portuguesa de Macau.

Empréstimos a não-residentes descem quase 76%Em Dezembro, os novos empréstimos hipotecários para habitação aprovados pelos bancos de Macau subiram 1,2% face a Novembro, atingindo três mil milhões de patacas. Destes, 99,1% foram concedidos aos residentes locais, anuncia a Autoridade Monetária de Macau. Em termos de montantes aprovados, os novos empréstimos hipotecários para habitação concedidos aos residentes ascenderam 4,2% e aos não-residentes desceram 75,8%. Em termos da variação homóloga, os novos empréstimos mencionados aumentaram 14,5%. No final de Dezembro de 2013, o saldo bruto dos empréstimos hipotecários para habitação atingiu 118,3 mil milhões de patacas, um acréscimo de 22,3% em relação ao Dezembro de 2012.

A ala das mulheres do Estabelecimento Prisional de Macau está neste momento com obras de expansão, mas Raquel Matos diz que as reclusas necessitam de condições diferentes face aos homens. “Espero que não sejam só obras de ampliação”, defende

INVESTIGADORA PORTUGUESA FALA DAS NECESSIDADES ESPECIAIS DAS RECLUSAS

A defesa de uma prisão femininaANDREIA SOFIA [email protected]

R AQUEL Matos, in-vestigadora da Uni-versidade Católica Portuguesa (UCP),

defende que as mulheres que estão presas necessitam sempre de outro tipo de cuidados e infra-estruturas diferentes dos reclusos. Confrontada com as actuais obras de expansão da ala feminina do Estabelecimento Prisional de Macau (EPM), a académica, que realizou teses de mestrado e doutoramento sobre mulheres presas, disse esperar que não sejam ape-nas “obras de ampliação”. “Uma das melhores coisas que aconteceu no sistema prisional em Portugal foi ter chegado a prisões especiais.

As mulheres têm necessida-des especiais, diferentes dos homens, os cuidados de saú-de, por exemplo, são diferen-tes. O tipo de infra-estruturas também são diferentes. Se é uma prisão mista, espero que sejam consideradas as diferentes necessidades dos homens e mulheres. Não sei se há crianças na prisão”, disse ao HM, à margem de um seminário sobre mulheres e criminalização, promovida pela Universidade de São José (USJ).

Foi em Março do ano passado que surgiram as primeiras notícias de que as actuais instalações do EPM estariam sobrelotadas e que já havia reclusas a dormir no chão. Depois de ter sido encontrada uma solução de recurso para o acolhimento

das reclusas, as Obras Públicas acabariam por dar o aval para obras que ainda não têm uma data concreta de conclusão.

MAIS PESSOASVS MAIS RECLUSOSRaquel Matos foi a primeira investigadora portuguesa a debruçar-se sobre a situação das jovens mulheres presas, bem como das estrangei-ras. Ao HM, afirmou não conhecer o caso específico

de Macau, mas alertou para a possibilidade do aumento de reclusos, homens e mu-lheres, não só pelo aumento da população não residente mas também pelo facto do território ser considerado um ponto de passagem para o tráfico de droga. “Não conheço os mercados mas acredito que haja alguma atenção ligada ao tráfico internacional, e que requer uma atenção especial. É

ESCOLA PORTUGUESA FICA ONDE ESTÁ, GARANTE LISBOA

APIM vai sera única associada

preciso lidar com as pessoas que estão presas nestas circunstâncias, que se pro-põem a fazer uma viagem e que de repente ficam presas num contexto que não lhes diz nada. Deve-se arranjar um sistema para garantir que a língua se percebe, que tenham alguns direitos.”

Contudo, Raquel Matos lembra que a questão das mulheres estrangeiras pre-sas, que em Portugal ocupam uma larga percentagem no seio da população presa, não leve a uma atenção especial por parte das autoridades. “Pensando especificamente em Macau, e voltando a um contexto onde há tantas pessoas, eu acredito que haja uma questão que não se coloca tanto. A existirem cidadãos de outros contex-tos, acredito que não haja tanto essa questão de enrai-zamento, o que por um lado facilita.”

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8 hoje macau quarta-feira 19.2.2014CHINA

A balança comercial da China em Janeiro não foi influenciada por dados inflacionados

no lado das exportações, afir-mou o Ministério do Comércio da China.

As exportações chinesas registaram um salto inesperado de 10,6% em Janeiro, na com-paração com o mesmo período do ano anterior. Em Dezembro, a subida tinha sido de 4,3%, na mesma base de comparação.

A média das projecções dos economistas consultados pelo The Wall Street Journal era de um crescimento de 0,1%, o que gerou incertezas sobre a fideli-dade dos números apresentados pelo governo, já que no passa-do ocorreram casos nos quais empresas declararam valores exportados mais elevados para trazer dinheiro especulativo.

As preocupações de que os dados teriam sido distorcidos por declarações falsas de empresas,

na tentativa de lucrar com a arbitragem, são “especulações e sem fundamentos”, afirmou o porta-voz do ministério Shen Danyang, durante uma conferên-cia de imprensa.

“Acreditamos que isto é ape-nas uma especulação que peca por apresentar provas. Não pode-mos excluir casos de arbitragem individuais, mas o crescimento das exportações de Janeiro foi razoável no geral”, disse. O porta-voz destacou que as vendas

de produtos importantes, como automóveis e bens de consumo, registaram um bom desempenho em grandes mercados.

O porta-voz disse que o número foi influenciado pela recuperação económica em países desenvolvidos e pelas políticas do governo para ace-lerar o comércio, e acrescentou ainda que as empresas acele-raram as vendas antes do Ano Novo Lunar, que começou em 31 de Janeiro.

A China criticou o secre-tário de Estado norte--americano, John Kerry,

esta segunda-feira pelo pedido “ingénuo” de mais liberdade na Internet do país e questionou o motivo de uma discussão que este teve em blogues chineses por não ter mencionado o ex-prestador de serviços da Agência de Seguran-ça Nacional dos Estados Unidos (NSA) Edward Snowden.

Durante uma conversa de cer-ca de 40 minutos com bloguistas chineses em Pequim no sábado, Kerry expressou o seu apoio à liberdade online na China, assim como aos direitos humanos em geral.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Hua Chunying disse que as pessoas de fora não têm o direito de fazer julgamentos

e geralmente entendem mal a realidade. “Se a Internet da China não tivesse passado por um enorme desenvolvimento nos últimos anos, então de onde teriam vindo todos estes utilizadores de blogues?”, disse em conferência de imprensa

“Os assuntos da China devem ser decididos pelo povo chinês baseado na sua própria condição nacional. Usar métodos como

este para pressionar a China na direcção que querem, não é ingénuo?”

“Acho que o tópico desta discussão devia ser mais bem aberto, por exemplo, discutin-do o caso Snowden e outras questões como essa”, disse, referindo-se ao ex-prestador de serviços da NSA cujas divulgações de informação embaraçaram Washington.

Pequim denuncia práticasde dumping em importações da UE e EUAO Ministério do Comércio da China denunciou ontem práticas de dumping em importações industriais de percloroetileno a partir da União Europeia e Estados Unidos. Segundo a imprensa chinesa, o Ministério advertiu que as importações de percloroetileno, um derivado do cloro, da União Europeia e dos Estados Unidos provocaram “dano substancial na indústria nacional”. O organismo determinou que as empresas importadoras do produto devem pagar de forma preliminar uma tarifa junto da alfândega chinesa enquanto se aguarda a confirmação de práticas desleais. A China e a União Europeia têm mantido várias contendas comerciais devido às importações europeias de painéis solares, tendo Pequim respondido com uma investigação ao vinho europeu exportado para a China, também por suspeitas de práticas ilegais.

Investimento externocresceu 16,1% em JaneiroO investimento externo directo na China aumentou 16,1% em Janeiro passado, somando cerca de 78.000 milhões de patacas, anunciou ontem o ministério do Comércio chinês. Quase 90% daquele montante – cerca de 69.000 milhões de patacas - veio de um conjunto de dez países e regiões asiáticas, nomeadamente Hong Kong, Taiwan, Japão, Tailândia e Singapura, indicou a mesma fonte. Comparando com Janeiro de 2013, o investimento proveniente daquele grupo de países e regiões aumentou 22,2%, enquanto o da União Europeia caiu 41,25%. O investimento oriundo dos Estados Unidos da América cresceu 34,9%, para cerca de 2.700 milhões de patacas. Os números “ilustram a confiança dos investidores internacionais” na economia chinesa, disse um apresentador da Televisão Central da China.

Homem que queria ser alimento de tigres ficoucom ferimentos ligeirosUm homem na China que tentou servir de alimento a um par de tigres sobreviveu e está a ser tratado a uma depressão, refere esta terça-feira um jornal chinês. De acordo com ao Chengdu Business Daily, Yang Jinhai, 27 anos, subiu a uma árvore e entrou no recinto dos tigres no domingo no jardim zoológico de Chengdu, na província de Sichuan, sudoeste da China. Perante os visitantes espantados, Yang, que está desempregado e segundo um irmão sofre de problemas mentais, acabou por não ser morto pelos tigres. Os funcionários do zoológico utilizaram tranquilizantes para poderem resgatar Yang Jinhai que saiu com ferimentos ligeiros do recinto dos tigres.

EXPORTAÇÕES PEQUIM NEGA ACUSAÇÃO DE DISTORÇÃO

Especulações sem fundamentos

INTERNET PEDIDO DE KERRY DE LIBERDADE TOTAL É INGÉNUO

Tolerância zero para julgamentos de fora

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hoje macau quarta-feira 19.2.2014

O relatório da ONU sobre a Coreia do Norte fala de crimes

concretos: tortura, escrava-tura, violência sexual, discri-minação social e de género, repressão política, perse-guição política, execuções. Todos estão documentados com casos — a mulher que foi obrigada a afogar o filho, a família torturada por ter assistido a uma telenovela estrangeira na televisão, os prisioneiros obrigados a cavar as suas próprias sepulturas e depois mortos com pancadas de martelo no pescoço. “E agora que já sabemos o que se passa, o que vamos fazer?”, perguntou o presidente da comissão independente que conduziu o muito esperado Inquérito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre a Coreia do Nor-te, divulgado nesta segunda--feira. “No fim da II Guerra Mundial, muita gente disse ‘se nós tivéssemos sabido’. (...) Bem, agora a comunidade internacional sabe... a inacção já não se justifica com um ‘nós não sabíamos’”, disse Michael Kirby.

Sabe-se que todos os dias — e desde há muitas décadas — são cometidas “atrocidades indescritíveis” na Coreia do Norte. E se há crimes, há culpados, sublinha muito claramente o relatório disponível no site da ONU. “Estes não são meros crimes de Esta-do; são uma componente essencial de um sistema político que se afastou dos ideais sobre os quais diz ter sido fundado.” Por isso, é recomendado — na verdade a linguagem é muito dura e é quase exigido — às Nações Unidas que “garanta que os responsáveis pelos crimes contra a humanidade” sejam julgados no Tribunal Penal Internacional ou noutro tribunal da ONU.

Volte-se à pergunta de Kirby, que na apresentação do documento, em Genebra, disse que os crimes roçam o “genocídio”: agora que sabemos, o que vamos fazer? Porque, disseram alguns membros de organizações de defesa dos direitos humanos que denunciam sistematica-mente os crimes na Coreia do Norte, ao redigir o rela-tório nestes termos, a ONU colocou-se numa posição de não retorno. “Este documen-to coloca sobre os ombros das Nações Unidas um fardo pesado quanto aos passos que tem de dar a seguir”, comentou à BBC Jared Gen-

Estes não são meros crimes de Estado; são uma componente essencial de um sistema político que se afastou dos ideais sobre os quais diz ter sido fundadoMICHAEL KIRBY Presidente da comissão independenteque conduziu o Inquérito do Conselho de Direitos Humanosdas ONU sobre a Coreia do Norte

COREIA DO NORTE ONU ACUSA LÍDERES DE CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

Julgamento com eles

ser, um advogado de uma ONG de defesa dos direitos humanos. “É a primeira vez que a ONU, enquanto instituição, declara que há crimes contra a humanidade a serem cometidos contra o povo norte-coreano”, disse o advogado.

FOME, DISCRIMINAÇÃO,CAMPOS DE PRISIONEIROSO relatório está dividido em seis partes — pode ser lido no site da Amnistia Interna-cional, onde há também um vídeo com testemunhos de norte-coreanos que conse-guiram fugir do país. Uma dessas partes é sobre a fome, ou as fomes que devastam a Coreia do Norte ciclicamen-te desde 1990.

A falta de alimentos, expli-ca o relatório, tem duas causas, o clima e os erros de gestão de recursos e de más políticas agrícolas de um regime que controla tudo, desde o lugar onde as pessoas vivem até quem pode trabalhar no quê. Centenas de milhares de pes-soas morreram já de fome — o número não é exacto e varia de acordo com as fontes; as vítimas serão entre 200 mil e três milhões.

A fome denuncia outro problema (outro tema), o da discriminação. A falta de alimentos tem sido usada para controlar e punir o povo. Nem todos passam fome, diz o relatório, que foi construído a partir de documentos que a ONU conseguiu reunir, de testemunhos e de outros dados (de satélite, por exem-plo). Na sociedade norte-co-reana há grupos de pessoas consideradas “dispensáveis” e são essas que sofrem e morrem de fome. Durante períodos longos de escas-sez, o Estado “condicionou a distribuição de alimentos através de regras que não são baseadas em considerações humanitárias”. Ou seja, os alimentos não vão, em pri-meiro lugar, para os que mais necessitam deles.

A sociedade norte-co-reana, diz a ONU, está organizada de acordo com uma classificação política do povo criada pelo Estado e que permanece imutável. O destino de cada cidadão está traçado à partida — é a sua classificação enquanto cidadão que determina que trabalho cada um pode de-sempenhar, que educação

pode receber, com quem se pode casar, onde pode viver. A mobilidade social é quase inexistente. E a mobilidade geográfica não existe. Pyon-gyang, por exemplo, que é a capital, é uma cidade onde só entra quem o regime deixa; os cidadãos devem viver nas zonas onde nascem ou onde o Estado determina. Viajar para o estrangeiro,

só fugindo — alguns conse-guem, correndo o risco de as suas famílias pagaram pelo crime. Outros são apanhados e espera-os a escravatura, a tortura ou a morte.

Os seis temas em que o relatório foi dividido estão todos interligados. Pelo que se passa, agora, para os campos de trabalhos que o regime garante que não

existem mas estão documen-tados também com imagens de satélite. No vídeo dos tes-temunhos fala uma mulher que esteve anos num, e falam antigos guardas que relatam cenas horrendas de morte.

As Nações Unidas esti-mam que, actualmente, vi-vam nos campos de trabalho entre 80 mil e 120 mil pesso-as. Vão lá parar por motivos

muito variados e há uma palavra no relatório que ecoa para outras paragens — para a Argentina da ditadura —, os “desaparecidos”. São ci-dadãos que, um dia, deixam de ser vistos e não há quem saiba o que lhes aconteceu; muitos estarão nos campos de trabalhos forçados, onde a vida é descrita como “brutal e desumana”. Há tortu-

ras, execuções arbitrárias, abortos forçados, porque a reprodução é proibida aos prisioneiros, infanticídio. Crê-se que tenham morrido nestes campos “centenas de milhares de pessoas”.

É o momento para definir, de acordo com a ONU, a Coreia do Norte: é um país onde “o Estado tem autoridade sobre toda a informação e controla toda a organização da vida social”. O relatório não usa definições — não fala em ditadura —, mas explica que ali a “doutrinação” começa na infância com o objectivo de criar uma sociedade onde “o culto da personalidade é acei-te” e deve ser “propagado” de forma a “fabricar a obediência ao líder supremo”.

PYONGYANG REJEITA “CATEGORICAMENTE”A Coreia do Norte nasceu de-pois da II Guerra Mundial. A península foi ocupada pelos Estados Unidos e pela União Soviética e dividida em dois países distintos. Ambas as Coreias reivindicam a sobe-rania sobre toda a península e em 1950 as duas partes entraram em guerra — na verdade ainda estão, apenas está em vigor um armistício (não um acordo de paz) assinado em 1953. Na sua história de 60 anos, a Coreia do Norte teve três líderes supremos: Kim Il-sung, o seu filho Kim Jong-il e o seu neto Kim Jong-un.

Uma cópia prévia do relatório foi enviada a Kim Jong-un (que está no poder desde Dezembro de 2011) e o documento foi acompanhado por uma carta. “A Comissão deseja chamar a sua atenção para o facto de ir recomendar às Nações Unidas que refira a situação na República Democrática da Coreia do Norte ao tribunal internacio-nal de forma a que este leve os principais responsáveis perante a justiça, incluindo o senhor que pode ser respon-sabilizado por crimes contra a humanidade”, diz a carta.

O regime, porém, não re-agiu logo. Fê-lo agora, numa mensagem de duas páginas enviada para a agência Reu-ters a partir da representação diplomática que Pyongyang tem em Genebra. Diz a resposta que, na Coreia do Norte, não se passa nada. As acusações são “rejeita-das categoricamente”: “A RDCN torna mais uma vez claro que as ‘violações dos direitos humanos’ mencio-nadas neste documento a que chamam relatório não existem no país.”

9REGIÃO

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10 hoje macau quarta-feira 19.2.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

MORTE EM VIENA • Daniel SilvaRestaurador de arte e espião ocasional, Gabriel Allon é enviado a Viena para desvendar a verdade por trás de um bombardeamento que deixou um velho amigo gravemente ferido. Entretanto é surpreendido por algo que vira o seu mundo do avesso - um rosto perturbadoramente familiar, um rosto que o gela até aos ossos. Na sua busca desesperada por respostas, Allon vai pôr a desco-berto um modelo de maldade que se estende por sessenta anos e milhares de vidas - e no interior dos seus próprios pesadelos...

O OÁSIS ESCONDIDO • Paul SussmanNo ano de 2152 a.C., oitenta sacerdotes do Antigo Egipto usam a capa da noite para irem até ao deserto levando consigo um misterioso objeto envolto num pano. Quatro semanas mais tarde, ao chegarem ao seu destino, cortam em silêncio os pescoços uns dos outros. Quatro mil anos mais tarde, no Egito dos nossos dias, Freya Hannen, alpinista profissional, chega para ir ao funeral da irmã, Alex, uma explora-dora do Sara. Desde o início que Freya desconfia das alegações de que a irmã se terá suicidado e decide investigar as verdadeiras causas da sua morte. Paul Sussman é jornalista e arqueólogo, atividade que o leva a passar vários meses por ano em escavações no Egipto. Autor best-seller de quatro thrillers, é um dos mais conceituados e populares autores do género.

ANDREIA SOFIA SILVA [email protected]

N O dia em que Canal Che-ong Jagerros viu fotogra-fias de escolas da China com falta de condições

para os alunos estudarem, tomou uma decisão: iria ceder parte das suas obras para um leilão. A inicia-tiva ganha um tom especial, uma vez que tratam-se dos quadros que estiveram patentes na 55.ª Bienal de Veneza, onde a artista de Macau, residente na Finlândia, participou pela primeira vez.

O leilão vai realizar-se à margem da exposição da artista, intitulada “Pura afeição”, e que inaugura esta sexta-feira na Fundação Rui Cunha (FRC), em parceria com o Instituto Cultural (IC). “Uma coisa impor-tante é a Canal querer doar os seus quadros que estiveram presentes na Bienal de Veneza. Mas a Canal impôs uma condição, de haver um limite mínimo. Isso significa que vamos receber os envelopes fecha-

A Oliva Creative Factory rece-beu centenas de obras que, cedidas ao município de S.

João da Madeira por coleccionado-res internacionais, permitirão criar o “único museu da Península Ibérica com uma colecção de Arte Bruta e Singular”.

Com inauguração prevista para Maio, a mostra irá apresentar ao público cerca de 250 obras selec-cionadas entre as mais de 800 que António Saint Silvestre e Richard Treger foram adquirindo ao longo das últimas quatro décadas e agora entregam à tutela da autarquia.

O espólio dos dois colecciona-dores radicados em França inclui um núcleo contemporâneo, outro de Arte Singular e um terceiro de Vudu do Haiti, mas Saint Silvestre realça que é Arte Bruta ou Marginal, com as suas obras de doentes psiqui-átricos e criadores fora do “mains-tream”, que “agora está na moda e representa um filão por explorar”. “Este sempre foi um género relati-vamente desconhecido porque as

A artista local, sediada na Finlândia, vai doar os trabalhos que estiveram na Bienal de Veneza para ajudar duas escolas da China. Espera-se ainda um encontro com alunos de escolas locais

EXPOSIÇÃO DA ARTISTA NASCIDA EM MACAU INAUGURADA SEXTA-FEIRA

Quadros de Canal Cheong Jagerros vão a leilão

dos com as ofertas em dinheiro, aqui na fundação”, explicou Tubal Gonçalves, vice-presidente da FRC, em conferência de imprensa.

“Esperamos que a população esteja interessada nestas pinturas. Não vamos cobrar nada por isso e estamos muito contentes por poder

COLECÇÃO DE ARTE BRUTA E SINGULAR DA PENÍNSULA IBÉRICA EM PORTUGAL

Caminho aberto a um campo de investigação inédito

pessoas não o compreendiam, mas, de repente, as revistas intelectuais não falam de outra coisa”, explica o coleccionador, referindo que a Arte Bruta esteve em destaque na Bienal de Veneza de 2013 e será agora motivo de outra grande mostra no MOMA de Nova Iorque. “Como o mercado está esgotado de tanta arte conceptual, as pessoas passaram a dar mais valor a estes autores, que estão fora do sistema, não ligam às convenções e só fazem o que realmente lhes apetece”, acrescenta Saint Silvestre.

“Sem concorrência a sul do rio Loire”, a Oliva reunirá assim num único espaço pinturas, esculturas, instalações e outros formatos assi-nados por “outsiders” de referência como Henry Darger e Giovanni Podestá.

Antes de decidirem fixar a colecção em S. João da Madeira, os proprietários dessas obras ainda consideraram entregá-las a Guima-rães, Portalegre, Loulé ou Castelo Branco, mas dois factores terão

assegurado a opção pelo edifício da antiga metalúrgica. “Fomos totalmente seduzidos pelo [antigo presidente da Câmara] Castro Almeida, que parece ser o único político em Portugal com os pés assentes no chão e a cabeça como deve ser, e ficámos apaixonados por este espaço todo da Oliva, que é simplesmente fantástico”, revela Saint Silvestre.

“Como não temos herdeiros a quem deixar a colecção, achámos que o melhor era entregá-la a um es-paço público como este, onde toda a gente a pode ver”, complementa Richard Treger, realçando que “a Oliva tem um grande potencial de crescimento e isso vai ajudar à divulgação da Arte Bruta, que irá cativar o público à medida que as pessoas forem descobrindo como ela é diferente”.

Para Victor Costa, director do Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory, a entrada no país da Co-leção Treger Saint Silvestre abre caminho, aliás, a “todo um campo de investigação inédito para as universidades portuguesas, que têm agora oportunidade de estudar em S. João da Madeira uma obra que não existe em mais lado nenhum”.

Essa componente de investi-gação académica também deverá ser reforçada pelos intercâmbios que Richard Treger se propõe de-senvolver com museus e galerias de outros países. “Isso dependerá sempre dos recursos financeiros disponíveis, mas a intenção é fazer circular a colecção e também rece-ber cá outras, para termos sempre um museu vivo”, explica.

O presidente da Câmara Mu-nicipal de S. João da Madeira, Ricardo Oliveira Figueiredo, reco-nhece que a conjuntura não é das mais favoráveis ao investimento na cultura, mas adianta que já estão a ser equacionadas soluções que faci-litem essa itinerância. “Vamos criar as condições para que as empresas possam participar neste projecto na condição de mecenas”, disse.

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hoje macau quarta-feira 19.2.2014 eventos 11

M AIS de dez salas de cine-ma abrem diariamente na China e, a esta média, o

país será em breve o maior mercado mundial do sector, mas é em casa que os chineses vêem a maioria dos filmes actuais.

Num raio de cerca de 100 metros em torno do Megabox de Sanlitun, um complexo de oito salas na zona oriental de Pequim, com sessões das 09:30 às 23:30, há quatro lojas de DVD, todos piratas.

Uma cópia do mais recente Woody Allen, “Blue Jasmine”, por exemplo, custa no máximo cerca de 20 patacas, quatro vezes menos do que um bilhete de cinema.

Numa cidade onde o salário mínimo mensal é inferior a cerca de 2200 patacas euros, o cinema não é um divertimento barato.

Mesmo as pipocas - outra área em que as novas salas da China parecem estar em renhida compe-tição com os Estados Unidos da América - são mais caras que um DVD. Mas, aparentemente, os dois negócios não colidem.

Em 2013, as receitas de bilhetei-ra cresceram 27,51%, para cerca de 26.000milhões de patacas, um valor ultrapassado apenas pelos EUA.

No mesmo ano, o número de salas chegou aos 18.195 - mais 5.077 do que em 2012 - e os filmes chineses arrecadaram quase 60% das receitas.

A importação de filmes é mono-pólio de Estado e o Governo protege a produção nacional.

Esta semana, o Megabox de Sanlitun só tinha um título estran-geiro em cartaz: “Frozen”, um filme musical de animação, produzido pela Walt Disney.

Mas nas lojas de DVD em redor podia-se comprar cópias de “12 Years a slave”, “The Wolf of Wall Street”, “American Hustle”, “Her”, “Dallas Buyer Club” e o próprio “Frozen”.

“La Vie d’Adèle”, a história de amor entre duas mulheres, com longas cenas de sexo, que ganhou o festival de Cannes de 2013, es-tava também à venda, com o título em inglês (“Blue is the Warmest Colour”).

Dos nove nomeados este ano para o Óscar do melhor filme, “Gravity” foi o único que passou nos ecrãs chineses. É numa nave

Albergue entrega recolha de fundos para FilipinasO Albergue entrega esta quarta-feira, pelas 14h30, na sede da Cruz Vermelha de Macau, o montante recolhido do concerto de solidariedade organizado no passado dia 14 de Dezembro, com vista a minimizar os danos provocados pelo tufão Haiyan que assolou as Filipinas. Do evento, co-organizado com várias associações locais Filipinas e com a produtora de música DramCast, e que contou ainda com o apoio de várias instituições de Macau, resultou a recolha de 200.061,19 patacas, informa o comunicado de imprensa da organização.

A artista local, sediada na Finlândia, vai doar os trabalhos que estiveram na Bienal de Veneza para ajudar duas escolas da China. Espera-se ainda um encontro com alunos de escolas locais

EXPOSIÇÃO DA ARTISTA NASCIDA EM MACAU INAUGURADA SEXTA-FEIRA

Quadros de Canal Cheong Jagerros vão a leilão

CINEMA VAI DE VENTO EM POPA NA CHINA E OS DVD PIRATAS TAMBÉM

Mais de dez salas abrem por dia

espacial chinesa que a astronauta--cientista da história, interpretada por Sandra Bullock, consegue salvar-se e regressar à terra.

Até há dois anos, a China im-portava apenas vinte filmes por ano e, como com muitos outros realizadores contemporâneos, Woody Allen não costuma fazer parte do lote.

Em 2012, o Governo autorizou a compra de mais 14 filmes, em formato 3D e IMAX.

Por outras razões, alguns filmes chineses premiados no estrangeiro também não chegam às salas do país. “Um toque de Pecado”, de Jia Zhangke, distinguido no Festival de Cannes de 2013 com o prémio para o melhor argumento, continua inédito.

No domingo passado, outro fil-me chinês - “Black Coal, Thin Ice”, de Diao Yinan - ganhou o “Urso de Ouro” do Festival de Berlim e o seu protagonista, Liao Fan, obteve o prémio para melhor actor.

A imprensa oficial enalteceu a distinção, mas ainda não há data para a sua exibição na China e nas redes sociais alguns cinéfilos ma-nifestaram o receio de que o filme de Diao Yinan, uma história poli-cial, seja vetado ou parcialmente cortado pela censura. “Costumava pensar que era uma pena a Admi-nistração Estatal da Rádio, Cinema e Televisão não autorizar a exibi-ção de muitos filmes estrangeiros. Reparo agora que filmes chineses também não são autorizados”, comentou um cibernauta.

participar neste projecto com as escolas da China”, disse ainda.

Para além da exposição e do leilão, as obras de Canal Cheong Jagerros poderão ser vistas e olha-das mais de perto pelos alunos de duas escolas locais, numa iniciativa intitulada “Conversas com Ca-nal”, organizada pelo artista local Dennis Murrell. “Estamos muito orgulhosos com isso, e esperamos que as escolas venham. Queremos tocar os jovens e é importante que as crianças aprendam algo com as experiências da vida de Canal”, disse Tubal Gonçalves.

UMA FORMA DE “HONRAR” OS PAISCanal Cheong Jagerros está fora de Macau há cerca de 25 anos mas tem cá os pais e toda a família. Residente na Finlândia, onde tem o marido e dois filhos pequenos, Canal quis tra-

zer o resultado do seu trabalho para a terra que é sua. “Estar na Bienal de Veneza foi um grande passo para poder mostrar o meu trabalho ao lado de artistas fenomenais. Conheci muitas pessoas interessantes e este trabalho é muito importante. Antes dos quadros virem para cá já tinha tido algumas ofertas, mas eu prefiro trazer os meus trabalhos, doá-los a Macau e dá-los à população de Macau. Isto é também uma forma de honrar os meus pais”, disse Canal aos jornalistas.

Rui Cunha, advogado e fundador da FRC, não deixou de lembrar que esta exposição vai de encontro aos objectivos da entidade, que é “trazer a Macau pessoas que são conheci-das por Macau e pelo mundo, e há muitos casos de pessoas que vivem no estrangeiro e os quais não conhe-cemos”.

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12 hoje macau quarta-feira 19.2.2014

hARTE

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E M menos de um ano, a As-sembleia Legislativa rejeitou dois projectos de lei sobre protecção dos animais, ambos

apresentados por iniciativa do deputa-do José Pereira Coutinho. Da primeira vez, em Abril do ano passado, houve quem tivesse alegado a carga de traba-lhos e a falta de tempo até à realização de eleições, em Setembro, para justi-ficar o voto contra. Outra “argumen-tação” (chamemos-lhe assim, “for the sake of conversation”), chamava a aten-ção para o facto de o Governo estar a preparar semelhante legislação, daí entendendo-se que não havia necessi-dade de os deputados se incomodarem.

Acredita-se que um diploma sobre “a posse e o bem-estar dos animais” esteja em “processo legislativo” desde 2005. Houve quem tivesse afirmado, ainda no ano passado, que tal docu-mento estava pronto e que daria entra-da na Assembleia até ao final de 2013. Não deu. Mesmo assim, esta semana, quando chamados uma vez mais a pronunciarem-se sobre os direitos dos animais, os deputados voltaram a temer que a aprovação do projecto de Cou-tinho (agora com Leong Veng Chai) perturbasse o tal processo legislativo que dura há quase nove anos e que, pe-los vistos, é impassível.

Que a maioria dos deputados não queira oferecer de bandeja uma vitória a Coutinho parece-me normal – no seu calculismo primário, essa atitude quase leva a acreditar que naquele hemiciclo até se fazem jogadas políticas (um po-bre contenta-se com pouco). Que se invoque a iniciativa do Governo no mesmo sentido para anular a actividade de um deputado também me parece ter cabimento – afinal, estamos a falar da Assembleia Legislativa de Macau, cujo presidente reconheceu, recentemente, ser um órgão composto por uma maio-ria de deputados sem conhecimentos jurídicos.

A observação de Ho Iat Seng, cons-ta, não escandalizou ninguém. Quando muito, o presidente pode ser acusado de benevolência para com os seus pares ao ter pecado por escassez na crítica. Pelo menos, assim sugere uma avalia-ção ao que alguns deputados (entre eles, dos mais votados) disseram na sessão plenária da última segunda-feira.

O inefável Mak Soi Kun, por exem-plo, terá lido o art. 4º do projecto de lei, onde está que “(...) considera-se ‘animal’ qualquer animal vertebrado não-humano senciente, ou seja, qual-quer animal que possua uma estrutura

próximo oriente Hugo Pinto

BICHOS

neurofisiológica associada a uma vida mental activa, que lhe permita ter sen-sibilidade física, psicológica e emo-cional relativamente a diferentes estí-mulos, como também lhe permita ter consciência, a um nível mais ou menos profundo, do que lhe acontece, tendo a capacidade subjectiva de experienciar a dor e o sofrimento, tanto física quan-to psicológica e emocionalmente”, e, mesmo assim, confessou: “Não consi-go perceber bem o que se entende por animais. São cães e gatos ou também animais selvagens?”, aludindo, pelo meio, à possibilidade de os micróbios também serem incluídos e a uma dúvi-da – “com esta lei, poderiam os animais fazer amor na rua?”

Já Song Pek Kei, que ostenta uma li-cenciatura em Direito, mostrou-se ata-rantada por não saber o que responder às criancinhas que perguntam aos pais

o que são os animais, se não são uma “coisa”, coisa que os animais são nesta terra e que o projecto de lei chumbado pretendia alterar.

Igualmente mirabolante, igual a si próprio, Zheng Anting criticou o facto de a proposta apresentada não prote-ger os donos dos animais contra even-tuais ofensas. É que, observou este de-putado, “os cães não sabem conversar e têm de ser fechados num sítio, porque podem morder as pessoas”.

No “debate” (chamemos-lhe assim), Mak Soi Kun lembrou ainda Coutinho que, em vez destas questões dos ani-mais, deveria ocupar-se em produzir legislação favorável à protecção das pessoas. Comovente.

Verdadeiramente triste, todavia, é que Macau continue a ser uma terra onde a lei não reconhece nem protege “animais”. Uma selva.

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13 artes, letras e ideiashoje macau quarta-feira 19.2.2014

E M 1912, tal como Eça déca-das antes, Fernando Pessoa escrevia sobre o caso mental português. Entre muitas ca-

racterísticas da nossa mentalidade e dos nossos comportamentos, Pessoa identificava como espécie de patologia a inescapável tendência para não haver em Portugal homens originais. Ausên-cia de escol, eis o que minava, para Pessoa, a nossa realidade. Tal ausência de escol tinha a seguinte consequência: “A ausência de ideias gerais e, portan-to, do espírito crítico e filosófico que provém de as ter.” Ora, num país onde pensar-se pela própria cabeça é coisa estranha e originalidade se confun-de com excentricidade, de que modo a tragédia do Meco se relaciona com estes factos? De modo, quanto a nós, directa e naturalmente. Directamente porque a ausência de escol se faz sentir nos mais diversos domínios da socieda-de portuguesa: da política à economia, das escolas à universidade, da admi-nistração dos bens públicos ao modo como se faz televisão, ou se faz outro qualquer trabalho. Naturalmente, por-que não há nada de mais natural que o “gosto da cobiça e da rudeza” num país onde a cultura parece projecto inviá-vel... Já em outras ocasiões o dissemos: a nossa crise (que é sintoma da crise eu-ropeia) é, sobretudo, de natureza men-tal. Os sintomas da doença não cessam de nos chamar para a realidade urgen-te que temos de enfrentar, antes que Portugal soçobre na mais abjecta das existências. As instituições não estão imunes ao processo de decadência que nos aflige. Da escola pública, ao Siste-ma Nacional de Saúde, dos tribunais, à polícia, o que os portugueses sentem é que, 40 anos depois, Abril foi traído pelas classes dirigentes.

A tragédia do Meco é um dos mais claros sintomas de que Portugal, inde-pendentemente das gerações, está do-ente. No quotidiano vai imperando o ressentimento, a vulgaridade, a inveja, a incoerência, a mentira, a ganância, a superficialidade... tudo num melting pot potencialmente explosivo. Não haverá interesses de classe que possam muito contra um povo que, sucessivamente atraiçoado ao longo da sua história, veja como única saída a violência urbana. Que existe já, indisfarçável. Pois bem: as praxes ilustram, para quem dúvidas ti-ver, o modo como essa violência se está consolidando. O problema, falando de instituições, é que é a universidade, no seu todo, que está em causa e, a jusante, o suposto escol que pudéssemos ter...

António CArlos Cortez IN PÚBLICO

AUSÊNCIA DE ESCOL,

EIS O QUE MINAVA,

PARA PESSOA, A NOSSA

REALIDADE

A DEGOLA DOS INOCENTES

Lendo as declarações dos respon-sáveis pelas associações de estudantes é espantoso como podem continuar defendendo as praxes. Importadas de modelos fascizantes — que Mariano Gago denunciou e bem (“É uma re-gressão inadmissível, uma verdadeira educação para uma sociedade fascista: educar para a banalização da prática da violência física, psicológica, verbal, da humilhação e da violência sexual”, dis-se em entrevista ao Diário de Notícias) —, só podemos compreender que tal seja defensável à luz do provincianis-mo que Eça e Pessoa identificaram em tempos e que redundou na ausência de escol. Defendem os praxistas que não se pode proibir o que — pasme-se! — obrigam outros a fazer! João Santos, atento leitor do nosso sistema de ensi-no, não hesitou em apodar de fascista quem assim pensa e age. Tem a razão do seu lado e convém reler o seu arti-go no Jornal de Letras (Suplemento de Educação) de 5 de Fevereiro.

A tragédia do Meco tem levado a que os pais queiram ver a verdade. Mas a verdade é, no limite, relativamen-te simples, apesar de condicionantes complexas. É o tecido social do país que está armadilhado por décadas de

mau ensino e de más práticas. Estru-turalmente (mentalmente) a liberdade ainda não se aprendeu em Portugal. A Inquisição, o centralismo burocrático, o absolutismo, um liberalismo de ba-rões, como bem sentenciou Garrett nas suas Viagens e um bipartidarismo que, de 1974 até hoje, sedimentou na de-mocracia a ambição política das jotas levam a que se cultive a intriga, a inveja e se patrocine corporativismos vários. As praxes cabem nesta ideologia, sem mais. Veja-se a semelhança entre pra-xistas e juventudes partidárias: entoam cânticos à chegada dos seus líderes, lembrando claques de futebol, furiosa-mente ululantes. Na vida universitária é isso que se entende por “espírito acadé-mico”. A ideologia televisiva, a própria vida colectiva nas dimensões familiar e pessoal — tudo parece minado pelo idiotismo sorridente dos integrados.

Umberto Eco poderia ser de boa lei-tura: quem ousa ser hoje apocalíptico? Quase ninguém: há que ser (e estar) in-tegrado e participar da vida social com o denodo próprio de quem leu o manu-al do bom inquisidor.

Não me espanta — ainda que la-mente a morte destes jovens — a tragé-dia do Meco. Poderia ter sido durante um qualquer cerimonial numa escola secundária. À custa da deseducação a que temos votado os nossos jovens, criou-se em Portugal, como na Euro-pa da austeridade, uma subcultura de entretenimento que tem como conse-quência achar-se que é cultura o boçal, o humor mais rasteiro. No afã de serem populares no seu grupo de amigos, na universidade que frequentam, na esco-la onde estudam; na demanda absurda de darem um sentido à vida no meio do desconcerto em que tudo se trans-formou, as praxes, e outras práticas “integracionistas”, são um convite à morte, moral ou física, pois é a própria energia vital o que esta sociedade nos está roubando. Às ordens “de um ou de uma qualquer idiota a fazer de chefe nazi” — palavras certeiras de Mariano Gago —, como podem estudantes que ingressam no ensino superior vir a ser o escol, a elite que nos falta?

Não creio que possamos desligar as ideias de Pessoa e de Eça deste caso triste, o da praia do Meco. Morreram estudantes. Fosse porque se prepara-vam para um ritual de iniciação nas pra-xes, fosse porque queriam uma melhor integração, fosse por terem sido coa-gidos... Falta-nos, de facto, um escol para que possamos ver o nosso quadro civilizacional em toda a sua extensão. Em Setembro, com cânticos selváticos, com lugares-comuns sobre a defesa de uma suposta tradição académica, os “caloiros” lá descerão a alameda da uni-versidade, lá se arrastarão ou irão raste-jar a vil existência académica e os seus trajes negros. Talvez imitando novas práticas “mais benéficas” (a expressão é de Marcelo Fonseca, presidente da As-sociação Académica de Lisboa), quem sabe se italianas (lembrando os cami-sas castanhas?), ou alemãs (evocan-do a juventude hitleriana?), os nossos alunos do ensino superior provoquem enorme orgulho nos pais. Esses pais que, traídos pelos políticos há décadas e vítimas dum país que sempre voltou as costas à cultura, nem imaginam que o seu filho ou filha são dux. Sejamos claros: fascistas. Carrascos que, tendo sido vítimas, descobrem na praxe a vin-gança perfeita.

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14 hoje macau quarta-feira 19.2.2014h

António GrAçA de Abreu

MARIA IMACULADA CONCEIÇÃO EUSÉBIO

Missa do 30.º dia

A família vem, por este meio, informar que se irá realizar uma missa do 30.º dia do falecimento de Maria Imaculada Conceição Eusébio, amanhã,

dia 20 de Fevereiro, pelas 18h, na Sé Catedral.

A ida para Shenyang, capital da província de Liaoning, come-çou algo complicada na compra do bilhete de comboio, ainda

na cidade de Changchun, num daqueles pequenos postos de venda da “CP” chi-nesa espalhados por muitos dos grandes centros urbanos do Império. Puxei os galões do meu melhor chinês – o man-darim que vou falando, sempre tão redu-zido e tão cheio de erros --, e disse à nada simpática senhora que atendia do outro lado da janelinha: Wo yao mai yizhang dao Shenyang huoche piao 我要买一张到沈阳火车票ou seja, “quero um bilhete sim-ples de comboio para Shenyang.” A mu-lher suspendeu as mãos, revirou os olhos e perguntou-me “Para onde, para onde é que quer ir?” Respondi, seguro, sole-trando e acentuando à portuguesa, carre-gando bem no som do é, repetindo: Tao Shényáng, 到沈阳tao Shényáng! 到沈阳 “Ir para Shenyang, ir para Shenyang”. A fun-cionária dos bilhetes, sem paciência para me aturar, com a fila de chineses a cres-cer atrás de mim, replicou mais ou menos nestes termos: “Não entendo o que está a dizer, você quer ir para um lugar que não existe.” Acendeu-se uma luzinha no meu anquilosado cérebro e, antes de tentar a obtusa escrita dos caracteres (são tantos os que não conheço!), disparei: “Shé-nyáng shi Liaoning shoudu!” 沈阳 是 了宁首都, ou seja, “Shenyang é a capital de Liaoning!” A senhora compreendeu de imediato, abanou a cabeça para a fren-te e disse, “Ah, Shěnyáng沈阳…”, com os tons certos do mandarim, o Shěn des-cendente/ascendente, bem mais ténue e cantado do que o meu Shén de acento forte, à portuguesa que misturado com Yang não significa nada em chinês.

Comprado o bilhete para mais duzen-tos e tal quilómetros no TGV, todo bran-co com uma tira azul, a cheirar a novo e super-rápido, chego a Shenyang e apa-nho um táxi para o hotel descoberto num mapa da cidade tirado da net. Era central e tinha um óptimo nome, Qi Bao Shan七宝山que se pode traduzir por Monte

SHENYANG沈阳A MEGA CIDADE, ESPANTOS E VAZIO

dos Sete Tesouros. Próximo do destino, ainda dentro do táxi, lembrei-me que a denominação não me era completamen-te estranha e logo me recordei de Ba Bao Shan 八宝山, ou seja, o Monte dos Oito Tesouros. Com mais um tesouro do que este hotel, Ba Bao Shan é nada mais nada menos do que um cemitério, o grande cemitério dos mártires e heróis da revolu-ção chinesa, no oeste de Pequim. Ora um hotel quase com nome de cemitério não augura boa estadia. Chego. Uma torre de 18 andares, por dentro o hotel tem decoração e estilo coreano, 600 yuans por noite, 70 euros. Não vou dormir nes-ta pensão alindada com nome de lugar onde se enterram defuntos e excessiva-mente cara. Recorro ao plano B, o guia Lonely Planet. Perto daqui encontra-se o Hotel Liaoning, construído por japone-ses em 1927, numa praça onde pontifica desde 1967 uma grande estátua de Mao Zedong. Que boa surpresa! Estou um ho-tel clássico, todo arte nova, apenas com dois pisos, renovado, um quartinho con-fortável por 210 yuans, 24 euros, a janela voltada para a praça Zhongshan, para a imponente figura do camarada Mao. Acertei na mouche. Dois dias depois, para comprovar os tempo de mudança na China comunista/capitalista, tirei uma fotografia curiosíssima do velho timonei-ro da revolução que almejava transformar o império numa sociedade socialista, e retratei-o com o braço direito bem levan-tado como que saudando do alto da sua estátua um espectacular Lamborghini cor de laranja estacionado em frente do ho-tel. Num corredor vejo penduradas algu-mas fotografias de hóspedes ilustres que um dia aqui se alojaram. Numa delas está Seiji Osawa 小澤 征爾, o grande ma-estro director da Orquestra Sinfónica de Boston e actualmente da Ópera Estatal de

Viena. É singular o facto de Seiji Osawa ter nascido nesta cidade de Shenyang em 1935 (na altura tinha o nome manchu de Mukden), filho de pais japoneses, e aqui ter vivido durante os seus primeiros nove anos. O Hotel Liaoning, construído pe-los japoneses que ocuparam a Manchúria até 1945, deve fazer parte das memórias familiares do excelente maestro nipóni-co.

Shenyang é a maior cidade da Man-chúria, com 6 milhões de habitantes e indústria por todo o lado. De aviões a maquinaria pesada, de automóveis a computadores, tudo se fabrica nestes espaços. É também, por isso, uma das metrópoles mais poluídas da China, com um trânsito infernal capaz de deixar mal disposto qualquer turista que a atravesse de lés a lés. Não foi o meu caso, como adiante veremos.

Com tanta indústria e uma população que não pára de crescer, os homens de negócios de Shenyang têm também ten-tado o comércio com empresários portu-gueses. Em 1997, a Efacec chegou a ins-talar aqui uma fábrica de semi-conduto-res, numa joint venture com a Shenyang Tiantong, inaugurada então com a pre-sença de Jorge Sampaio, o nosso Presi-dente da República em visita de Estado à China. Em 2013 Salvador Caetano inaugurava a sua fábrica de autocarros para aeroportos, não em Shenyang mas na cidade próxima de Dalian, o maior porto da Manchúria, e várias empresas portuguesas da área alimentar têm tenta-do e conseguido exportar para Shenyang e outras cidades da região. Toda a Man-chúria é um vasto mercado mas os negó-cios da China, com a China, devem ser paulatina, rigorosa e pacientemente tra-balhados, tarefa em que os portugueses não costumam ser mestres.

Mas como o mundo dos negócios, o tal da “poeira vermelha”, não é mui-to do meu agrado, o meu interesse por Shenyang centrava-se nos três lugares reconhecidos pela Unesco como Patri-mónio Mundial, desde 2002. Primeiro, o Palácio Imperial construído a partir de 1625 por Nurhaci, o primeiro imperador manchu. Segundo a tumba Dongling, onde jaz o próprio Nurhaci, a uns trin-ta quilómetros de Shenyang. Por fim, na parte norte da cidade, o grande jardim e a Tumba Beiling onde foi enterrado Huang Taiji, oitavo filho de Nurhaci que conti-nuou as conquistas de seu pai e avançou sobre o império Ming, tendo os manchus acabado por conquistar toda a China e estabelecer, fundar uma nova dinastia, a Qing (leia-se Ching) que governou o Im-pério do Meio entre 1644 e 1911.

Afinal quem são os manchus?Antes de Nurhaci (1559-1626), uma

série de tribos não muito numerosas que se guerreavam entre si denominadas jur-chen ou nuzhen女真 -- às vezes incorrec-tamente conhecidas no ocidente como tártaros, ou até mongóis --, habitavam estas vastas e frias regiões. Eram sobre-tudo caçadores, pastores, pescadores, dedicavam-se a uma incipiente agricul-tura, comerciavam peles de animais, ca-valos e ginseng. Os chineses passavam a Muralha e vendiam-lhe sal, arroz, se-mentes, seda, alfaias para a agricultura e numerosos han, os verdadeiros chineses, fixaram-se desde o século XIV nas ter-ras a que hoje chamamos Manchúria. Nurharci unificou todas as tribos jurchen e o seu filho Huang Taiji (1592-1643) re-solveu chamar manchu ao seu povo e aos seus homens de guerra, organizados num poderoso exército que avançou para sul, atravessou facilmente a Muralha com a colaboração do general chinês Wu San-gui, que se passou para o lado manchu. Depois derrubaram facilmente o frágil poder do último imperador Ming.

Shunzhi順治(1638-1661), o primei-ro imperador da nova dinastia Qing, instalou-se em Pequim e deu início ao período de governação manchu que se estendeu por três séculos. Os poderosos manchus -- tal como já tinha acontecido com os mongóis que dominaram e reina-ram no mundo chinês entre 1279 e 1368 --, tão minoritários no imenso Império do Meio, foram rapidamente absorvidos pela superior cultura chinesa, passaram a adoptar usos e costumes dos han e, gradu-almente, até esqueceram a própria língua. Lao She (1899-1966), um dos maiores escritores do século XX chinês, era man-chu mas escreveu sempre nos caracteres padrão do mandarim. Hoje a minoria manchu não é muito diferente da grande maioria chinesa, até porque imensas re-giões da Manchúria, também as cidades de Harbin, Changchun, Jilin, Shenyang e Dalian, foram, sobretudo no século XX, gradualmente habitadas por dezenas de milhões de chineses chegados das super-povoadas províncias de Shandong, He-bei ou Sichuan. Os manchus, que de res-to etnicamente não são muito diferentes

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15 artes, letras e ideiashoje macau quarta-feira 19.2.2014

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ANÚNCIOHM-1ª vez 19-2-14

Processo Sumário de Execução nº (LB1-07-0009-LCT-B) Juízo Laboral

Exequente: Fundo de Segurança Social do Governo da RAEM, com sede na Rua Eduardo Marques, n.ºs 2 a 6, em Macau.Executada: Companhia de Serviços de Segurança e Administração Sanlek, Limitada, nº de Registo Comercial:4066(SO), com sede na Rua do Dr. Pedro José Lobo, n.ºs 34-36, Edifício “Associação Industrial de Macau, 12º andar, em Macau. Faz-se saber que nos autos acima indicados são citados os credores desconhecidos da executada para, no prazo de TRINTA E CINCO DIAS, ou seja, quinze dias que começa a correr depois de finda a dilação de vinte dias, contada da data da segunda e última publicação do anúncio, reclamar, nos termos do art. 758º do Código de Processo Civil, o pagamento dos seus créditos pelo produto das seguintes contas bancárias penhoradas:

Depósito bancário penhorado pertencente àCompanhia de Serviços de Segurança e Administração Sanlek,

LimitadaInstituições de crédito de Macau Moeda Montante

Banco Industrial e Comercial da China (Macau), S.A.

MOP $92,000

Banco Tai Fung, S.A. MOP $92,000

Aos 18 de Dezembro de 2013.

dos han, também por casamentos mistos com chineses e a absorção por uma civi-lização que lhes é superior, quase desapa-receram.

Regressemos a Nurhaci, o unificador das tribos manchus. No início do filme “Indiana Jones e o Templo Perdido”, en-contramos Indiana e o seu jovem amigo chinês a tentar vender em Xangai (as ce-nas foram filmadas em Macau!) um frasco de jade trazido da Turquia que contém as pretensas cinzas de Nurhaci. Os norte--americanos do script do filme conheciam alguma coisa da História da China.

O Palácio Imperial de Shenyang, as-sociado a Nurhaci, é lugar que recomen-do, é de visita obrigatória. Sujeito a al-guns restauros e acrescentos nos séculos XVIII e XIX, recorda o Palácio Imperial de Pequim, mas as construções não têm o esplendor nem a grandiosidade dos depurados espaços onde, na capital, se alojava e governava o Filho do Céu. Em Pequim é tudo mais chinês do que man-chu. Embora afundado nas construções modernas que em redor quase o submer-gem, o Palácio Imperial de Shenyang ainda conserva, tal como algumas ruas antigas do quarteirão onde se localiza, um halo de velha Manchúria e da China clássica e eterna, com construções e pavi-lhões magnificamente decorados, o que terá levado os homens da Unesco, com alguma boa vontade, a declararem-no Património Mundial. Num dos pavilhões existe uma sala dedicada aos usos e cos-tumes do povo manchu. Aí aprendi que para espantar os maus espíritos que an-dam à solta por todo o lado e infernizam a vida dos homens, os manchus usavam um método original e infalível. Iam bus-car uns porcos já crescidos que amarra-vam bem amarrados a umas tantas mesas. Depois ferviam uns litros de aguardente de sorgo e despejavam o líquido bem quente dentro das orelhas dos suínos. A gritaria dos animais era medonha, com uma aguardente com 55% graus de álco-ol, a ferver, a entrar-lhes pelos ouvidos, a rebentar-lhes os tímpanos, a provocar horripilantes guinchos nos pobres bi-chos, exactamente o pretendido pelos

mestres destas singulares cerimónias. Com tamanha gritaria e o estertor dos porcos, acontecia que os mafarricos, os tenebrosos espíritos maus fugiam de es-panto e susto, e deixavam de incomodar os homens.

É tempo de seguir para o túmulo de Nurhaci, também Património Mundial pela Unesco. Apanhei um autocarro pú-blico e no fim de uma linha com quase 30 quilómetros, depois de atravessar com gosto toda a Shenyang, com dezenas de paragens e, como de costume, sempre muita gente a entrar e sair, cheguei a uma floresta verdejante e perfumada, com o túmulo do governante manchu no alto de um colina, escondida por muita da vegetação. Quase ninguém de visita a Dongling, a tumba do leste começada a construir em 1629, concluída em 1651. Que paz e tranquilidade no vasto parque que rodeia a última morada de Nurhaci! Que bonita a Primavera nestes finais de Maio de 2013 por terras da Manchú-ria! Que bom sair das quase asfixiantes e megalómanas metrópoles chinesas e encaminhar meus passos por bosques e caminhos solitários, com pinheiros, flo-res, erva alta! Como esta China podia

ser triunfalmente formosa se, de há uns tantos séculos para cá, por absoluta ne-cessidade de mais terras agrícolas para alimentar uma população sempre cres-cente, e para se aproveitar a madeira, grande parte das florestas do Império não tivessem sido cortadas e destruídas!... Caminho quilómetros. Lá em cima, na tumba redonda, avassaladora de simpli-cidade e harmonia, muito semelhante às treze tumbas dos imperadores Ming nos arredores de Pequim, cumprimento o ve-lho Nurhaci.

De seguida, mais dois autocarros -- outra vez Shenyang de lés a lés --, e es-tou em Beiling, a tumba de Huang Taiji, o filho de Nurhaci, também Património Mundial. É o grande parque da cidade, com um lago, pequenos pavilhões em arquitectura tradicional chinesa, a tum-ba a uns dois quilómetros da entrada sul, bem menos trabalhada e interessante do que a do seu pai Nurhaci. Mas os espaços repletos de gente que por aqui ocupa os seus ócios. São reformados, ou pessoas jovens que deambulam por alamedas, va-randins e jardins bem tratados, com inú-meros canteiros de flores, e jogam cartas, mahjong麻將, weiqi圍棋 (uma espécie

Província de Liaoning辽宁

de xadrez chinês), fazem taijichuang泰姬川, dançam em movimentos e passos absolutamente “old-fashioned”, mas assim ginasticam o corpo e espairecem a alma. Um ou outro pintor, debruçado sobre um cavalete, passa recantos coloridos da pai-sagem para a tela do seu quadro. Outra vez uma imensa sensação de paz, o con-traste entre o alvoroço, a luta permanente nas cidades e a serenidade de parques e jardins. E estou na mesma Manchúria, na mesma China. Regresso já de noite ao meu hotel japonês, ano 1927. Em frente a estátua iluminada de Mao Zedong. Em volta, grupos de crianças e jovens fazem corridas com patins em linha, tal e qual como se patinassem no gelo.

Para jantar tenho uma espécie de pastéis de nata e um pão doce, mais uma embalagem de leite, compras comezi-nhas feitas numa pastelaria no centro de Shenyang. Chego exausto ao fim do dia, as pernas bamboleiam de cansaço. Hoje caminhei solitário aí uns quinze quilóme-tros por alamedas, escadarias, florestas e jardins dos túmulos dos dois primeiros imperadores manchus. Deito-me. De volta ao meu leito vazio, adormeço nos lábios das meninas de Jilin.

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16 LÍNGUA PORTUGUESA hoje macau quarta-feira 19.2.2014

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DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE SOLOS,OBRAS PÚBLICAS E TRANSPORTES

AnúncioFaz-se saber que em relação ao concurso público para a execução da “Ampliação e Remodelação do Edifício do Departamento de Trânsito do CPSP”, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, n° 3, II Série, de 15 de Janeiro de 2014, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2° do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso.Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis para consulta durante o ho-rário de expediente no Departamento de Edificações Públicas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, n°33, 17° andar, Macau.Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, aos 12 de Fevereiro de 2014.O Director dos Serviços, Jaime Roberto Carion

O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, defendeu on-tem que os falantes da

Língua Portuguesa “devem construir a sua interpretação do mundo”, pois constituem “uma grande comunida-de linguística regional”.

O governante falava à Lusa, à margem da sessão de apresenta-ção das comemorações dos Oito Séculos da Língua Portuguesa, à qual presidiu, no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

Na sessão, o secretário de Estado sublinhou a “necessidade de um programa para a Língua Portuguesa”, nomeadamente a criação de platafor-mas de “software” em português e o “exercício enciclopédico da Língua”.

Os oito séculos da Língua Portuguesa vão celebrar-se a par-tir de 5 de Maio próximo, Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e o dia 10 de Junho de 2015, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.

No seu discurso, Barreto Xavier sublinhou a “vitalidade” da Língua Portuguesa e defendeu uma “apro-ximação dos falantes”, e realçou a “importância estratégica da CPLP no contexto global”. “Somos todos nativos da Língua”, enfatizou Bar-reto Xavier.

Referindo-se ao Português, o governante referiu a “riqueza da pluralidade do seu vocabulário”.

A SEXTA MAIS FALADAA “pluralidade” da Língua Portu-guesa, que é a sexta mais falada no mundo, a terceira mais utilizada em redes sociais como o Facebook, e a quarta no Twitter, foi o mais recor-rente no discurso da presidente da Associação Oito Séculos de Língua Portuguesa, Maria José Maya.

N O século XV, com o início dos Descobri-mentos, o português foi a primeira língua da globalização, falada por um milhão de

pessoas que viviam [quase] todas no espaço hoje conhecido por Portugal continental. Actualmente o português é falado por 250 milhões de pessoas e, para além do inglês, é a única língua falada em países dos cinco continentes.

Aproveitar e rentabilizar esta imensa mais valia que pode ser gerada pelo “Potencial Económico da Língua Portuguesa” é o grande objectivo da exposição que o Instituto Camões e uma equipa de investigadores do ISCTE coordenada por Luís Reto [responsável pela

SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA DE PORTUGAL INCITA QUEM FALA PORTUGUÊS

“Construir a sua interpretação do mundo”

A responsável sublinhou o facto de as comemorações “partirem da sociedade civil” e de se irem reali-zar “em rede, em parceria e terem

um cariz policêntrico”. “O valor ético fundamental é o respeito pelo outro”, disse Maria José Maya, que sublinhou “a diversidade de falantes e de geografias” do Português, que “é falado em quatro continentes e se espraia por três oceanos”.

Os 800 anos da Língua Por-tuguesa completam-se em 2014, tendo como documento referencial o testamento do Rei D. Afonso II, datado de 27 de Junho de 1214, ha-vendo outros documentos coevos, disse Maria José Maya.

Entre as iniciativas agendadas, os CTT, um dos parceiros, vão editar uma emissão filatélica comum aos oitos países da CPLP, comemorativa da efeméride. “A criação em breve de um site e a produção de uma ‘news-letter’”, é outra das iniciativas assim como a criação, a partir de hoje, de

uma conta no Twitter e, no dia 5 de Maio, de uma página no Facebook. Está também prevista a criação um portal sobre a Língua.

Um concurso de poesia, do qual resultará a edição e uma antologia poética, será aberto aos oito países de Língua Portuguesa, assim como à Região Administrativa Especial de Macau e às diásporas lusófonas.

A partir de Outubro próximo, e até Maio de 2015, realizar-se-ão ainda “tertúlias poéticas” na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, estão previstas intervenções nas escolas básicas e secundárias, em parceria com a rede de bibliotecas escolares e o plano Ler+, adiantou hoje Maria José Maya.

No castelo de S. Jorge, em Lisboa, serão feitas tertúlias sobre a língua e a literatura.

Uma exposição de joalharia e sedas no Museu Oriente tendo como mote a “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, publicada há 400 anos, é outra iniciativa, assim como a reposição da peça “Fernão, mentes?”, pelo grupo A Barraca.

Realizar-se-á um colóquio in-ternacional sobre o português que demandou as partes do Oriente, na Universidade do Algarve.

Ainda no Algarve, no âmbito do Festival Internacional de Escul-turas em Areia, em Pêra, uma das escultura será dedicada a Fernão Mendes Pinto.

Do plano consta a edição de uma medalha comemorativa pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda e a exposição dos mais antigos do-cumentos redigidos em Português na Torre do Tombo, em Lisboa.

TERCEIRA LÍNGUA EUROPEIA COM MAIS FALANTES “MATERNOS”

Parlamento Europeu abre exposição sobre o Português

elaboração do livro homónimo desta expo-sição], inauguraram ontem em Bruxelas no edifício do Parlamento Europeu.

A mostra patrocinada pelo eurodeputado centrista Diogo Feio, vai patente no 3.º andar do Parlamento Europeu em Bruxelas (no Edi-fício ASP), de 18 a 21 de Fevereiro.

EM 2050, VAMOS SER 350 MILHÕES DE FALANTESEsta exposição é uma oportunidade para “mostrar no meio das instituições comunitá-rias que o português é uma das quatro línguas europeias de expressão mundial”, disse ao Expresso, Mário Filipe, do Instituto Camões.

Esta exposição foi concebida a partir do livro coordenado por Luís Reto [publicado em Dezem-bro de 2012], e vai ter uma “forte componente visual dos cartazes, que permite assim uma mais ampla divulgação deste importante trabalho de pesquisa. Os dados estatísticos mais relevantes são evidenciados com recurso a tabelas, foto-grafias” e outros elementos gráficos, refere o Instituto Camões em comunicado.

De acordo com os dados da equipa do ISC-TE, actualmente existem 254,54 milhões de “falantes nativos” de português, o que equivale às populações dos oito países de língua oficial portuguesa: Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Brasil, Moçam-bique e Timor-Leste. Usam o português como língua materna ou oficial 3,66% da população mundial, o que significa que 3,85% do PIB mundial, é ‘produzido’ em português.

Em 2050, dentro de 35 anos, 350 milhões de pessoas vão usar o português como idioma materno, e tudo indica que continuará a ser a terceira língua europeia mais falada no mundo, depois do inglês e do espanhol.

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17DESPORTOhoje macau quarta-feira 19.2.2014

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ANÚNCIOA Região Administrativa Especial de Macau faz público que, de acordo com o Despacho de 27 de Janeiro de 2014, do Exmo. Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, foi autorizado o procedimento administrativo para adjudicação dos “Serviços de Consultadoria para as Obras de Infra-estruturas do 61.° Grande Prémio de Macau”.

1. Entidade que põe a prestação de serviços a concurso: Comissão do Grande Prémio de Macau.

2. Modalidade do concurso: Concurso público.

3. Local de execução dos serviços: Todas as áreas objecto de execução de obras de infra-estruturas para o 61.° Grande Prémio de Macau, nomeadamente no Circuito da Guia, no Edifício do Grande Prémio e zonas envolventes, no Passeio do Reservatório, nos armazéns da Comissão e zona do Jardim das Artes, junto à curva do hotel Lisboa.

4. Objecto dos serviços: O âmbito dos serviços compreende a consultadoria para a gestão técnica, administrativa e financeira, nas áreas da engenharia civil, electricidade e comunicações, dos projectos e obras necessárias à realização do 61.o Grande Prémio de Macau, bem como, o controlo de qualidade e inspecção das obras.

5. Prazo de execução: Cumprimento das datas constantes no Caderno de Encargos.

6. Prazo de validade das propostas: 90 dias, a contar do acto público do concurso.

7. Caução provisória: MOP150.000,00 (cento e cinquenta mil patacas), prestada, em numerário ou mediante cheque visado, a entregar na Divisão Financeira da Direcção dos Serviços de Turismo, por depósito bancário ou garantia bancária aprovada nos termos legais à ordem da Comissão do Grande Prémio de Macau, devendo ser especificado o fim a que se destina.

8. Caução definitiva: 5% do preço total de adjudicação.

9. Valor dos serviços: Sem preço base.

10. Condições de admissão: Podem concorrer as entidades inscritas na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) na modalidade de prestação de serviços de elaboração de projectos há, pelo menos, 5 anos devendo o coordenador da equipa (engenheiro civil licenciado) deter, pelo menos, 10 anos de inscrição na DSSOPT e os engenheiros de todas as especialidades e/ou arquitectos deter, pelo menos, 5 anos de inscrição na DSSOPT, para a elaboração de projectos e direcção de obras. Serão também aceites entidades prestadoras de serviços de controlo de qualidade para obras públicas, laboratórios oficiais reconhecidos pela RAEM, devendo os elementos constituintes das equipas propostas deter, pelo menos, 10 anos de experiência profissional para o coordenador e, pelo menos, 5 anos para os restantes elementos.

11. Adiamento: Em caso de encerramento dos serviços públicos por motivo de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas será adiado para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora.

12. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Comissão do Grande Prémio de Macau, sita em Macau, na Avenida da Amizade n.º 207, Edifício do Grande Prémio, até às 17.45 horas do dia 14 de Março de 2014.

13. Sessão de esclarecimento: Os interessados podem assistir à sessão de esclarecimento deste concurso público que terá lugar às 10:00 horas, do dia 26 de Fevereiro de 2014, na sede da Comissão do Grande Prémio de Macau.

14. Local, dia e hora do acto público do concurso:

Local: Comissão do Grande Prémio de Macau;

Dia e hora: 17 de Março de 2014, pelas 10:00 horas.

Os concorrentes deverão fazer-se representar no acto público de abertura das propostas para apresentação de eventuais reclamações e/ou esclarecimento de dúvidas acerca da documentação integrante da proposta.

15. Critérios de apreciação das propostas e respectivos factores de ponderação:a) Preço: 60%; b) Meios humanos a afectar à prestação de serviços, 15%:

i. Quantidade de meios humanos a disponibilizar para as prestações dos serviços I e II, 5%;ii. Qualidade dos Currículos Vitae dos meios humanos propostos para afectação às prestações

dos serviços I e II, 10%;c) Plano de realização da prestação dos serviços, com proposta de calendarização e afectação de

meios para os serviços I e II, com base nas cláusulas técnicas do caderno de encargos, 5%:i. Nível de detalhe, descrição, encadeamento e caminho crítico das fases de prestação de

serviços (planeamento, projecto, preparação de concursos por obra, direcção e fiscalização de obras, acompanhamento de emergência e piquete), 3%;

ii. Adequabilidade e coerência com os recursos propostos, 2%;d) Experiência em prestações de serviços semelhantes, 20%:

i. Prestações de serviços de igual tipo (projecto, direcção e fiscalização de obras), de igual ou superior dimensão e responsabilidade, com comprovativo de aceitação pelos Donos de Obras Públicas, 10%;

ii. Currículo de prestações de serviços desta natureza, com comprovativo de aceitação pelos Donos de Obras 10%.

O cálculo está descrito no art.o 11.° do Programa de Concurso.

16. Local, data, horário para a obtenção da cópia e exame do processo do concurso: Local: Comissão do Grande Prémio de MacauData e horário: Dias úteis, a contar da data da publicação do anúncio até ao dia e hora do Acto Público do Concurso;Preço: MOP500,00 (quinhentas patacas).

A Comissão do Grande Prémio de Macau, aos 11 de Fevereiro de 2014.

A Coordenadora, Substituta

Chu Miu Lai

C HAMA-SE Mak-sim Molokoedov, é russo, foi preso no Chile por tráfi-

co de droga e condenado a três anos de prisão. Até que um clube de futebol lhe de-volveu a liberdade, deu-lhe um trabalho, transformou-o num exemplo de superação, elevou-o à categoria de ídolo. O agradecimento surgiu dois anos depois. Molokoedov desapareceu sem sequer se despedir.

A história tem feito correr muita tinta, especialmente na América do Sul. Maksim Molokoedov foi detido em 2010, no aeroporto de San-tiago do Chile, quando fazia a ligação entre o Equador e a Espanha e foram descobertos na sua bagagem seis quilos de cocaína escondidos em livros infantis. Foi condenado a três anos de prisão mas um antigo jogador da selecção chilena Frank Lobos, que dirigia um programa de reinserção social para detidos através do desporto, descobriu o poten-cial do russo, nascido em São Petersburgo e que começou a jogar futebol nas camadas jovens do Zenit, tendo depois evoluído do rival Dynamo e no Pskov.

Nos jogos de futebol entre presos, Molokoedov destacava-se e não tardou para que o Santiago Mor-ning, um clube da divisão secundária do futebol chile-no, se interessasse por Mak-sim. Após cinco meses de observação da sua conduta e a participar em treinos e jogos particulares, sempre acompanhado por um guar-da, Molokoedov mereceu o benefício da dúvida. Passou a só regressar à prisão para dormir.

A história de sucesso de Maksim tornou-o famoso no país e não só. E as coisas continuaram a melhorar para Molokoedov. Depois de dois anos e meio preso, ele tornou-se um homem livre quando recebeu do Ministério da Justiça o decreto que anulava sua expulsão do país. Ele pas-sava a estar autorizado a ficar no Chile. “O Maxim conseguiu duas coisas: um novo futuro e dar a mensa-gem que a reinserção e a reabilitação são possíveis” – disse o ministro da justiça chilena, Juan Ignacio Piña, citado pela imprensa.

O médio russo, assinou em seguida contrato com o clube. Foi o primeiro europeu a fazer um golo no futebol chileno em 22 anos.

Numa entrevista conce-

FUTEBOL CLUBE CHILENO RESGATOU RUSSO DA PRISÃO E ESTE PARTIU SEM DIZER ADEUS

O estranho caso de Maksim Molokoedov

dida o ano passado ao jornal brasileiro Folha de São Paulo, Molokoedov abria o coração. “Aqui sou tão feliz que nem consigo descrever direito. Eu só quero continu-ar trabalhando e melhorando no futebol. Quero pagar a confiança que depositaram em mim.”

A harmonia era total e comovidos pela saudade que o jogador tinha da família, os dirigentes do Santiago Morning paga-ram-lhe uma viagem a São Petersburgo nas férias. Só que Maksim usou apenas o bilhete de ida e… desa-pareceu. Não regressou na data prevista e deixou de dar notícias. As únicas notícias

que os responsáveis do em-blema chileno receberam de Molokoedov foram através de uma entrevista que deu ao jornal “Las Últimas Notícias”. Molokoedov explicava que não poderia voltar porque ia casar-se com o amor da sua vida, mas mandava “abraços” para os colegas de clube e antigos companheiros de prisão.

No site oficial do San-tiago Morning o nome de Maksim Molokoedov ain-da surge como jogador do plantel e a sua foto também, mas as esperanças de que regresse já não existem. E não devem existir pois o futebolista assinou pelos russos do FC Trevis.

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TEMPO CHUVA FRACA MIN 7 MAX 12 HUM 65 -95% • EURO 10 .9 BAHT 0 .2 YUAN 1 .3

João Corvofonte da inveja

Pu YiPOR MIM FALO

Burros todos os dias

Agora o Campo Pequeno é realmente pequeno.

FITNESS E SENSUALIDADE

Chama-se Kyle Estrada e é uma modelo norte-americana. Aos 22 anos, a manequim de origem hispânica, nascida em Miami, abusa dos treinos de fitness para manter o corpo escultural e sensual. A fotografia mostra que o trabalho está a ser bem feito, não acha estimado leitor?

Americana é presa por não devolver filme alugado em 2005• Kayla Finley, de 27 anos, acabou atrás das grades por causa de um filme. Trata-se da comédia romântica “Uma Sogra de Fugir” com Jennifer Lopez e Jane Fonda. A americana alugou em 2005 uma cassete VHS com o filme e desde essa altura não devolveu a cassete. A Dalton Video, videoclube onde Kayla alugou a fita, já nem sequer existe. A polícia só descobriu que a americana estava a “dever” a cassete quando esta procurou uma esquadra de Pickens (Carolina do Sul, EUA) para apresentar uma outra queixa. Azar dos azares. Kayla acabou presa, já que havia uma queixa pendente contra ela. De acordo com o processo, a detida ignorou vários pedidos para devolver o filme, incluindo uma ordem oficial, noticiou a Fox.

Sogra é argumento para os italianos pedirem divórcio• Se um dos cônjuges depender “obsessivamente” dos pais, o marido ou mulher têm argumentação válida para pedir o divórcio, segundo um vigário italiano da Igreja Católica. Paolo Rigon sustenta que essa dependência impede o cônjuge de cumprir o seu papel. “Em muitos casos, é como se se tivesse casado com a sogra”, diz Rigon. A sogra pode, afinal, ser argumento legal para os italianos pedirem o divórcio. Mas esta regra aplica-se também ao sogro. Se o marido ou a mulher dependerem de forma obsessiva dos seus pais, segundo a Igreja Católica, podem anular o casamento.

18 FUTILIDADES hoje macau quarta-feira 19.2.2014

Pensei que nada mais saído da nossa espectacular Assembleia Legislativa me ia surpreender. Enganei-me. O que se passou na segunda-feira no hemiciclo é demasiado chocante para ser verdade. E não digo isto porque sou gato e gostaria de ver os meus direitos protegidos. Não, digo isto porque cada vez mais compreendo a irracionalidade que se passa no nosso hemiciclo. Pensar que estamos nas mãos de pessoas tão estúpidas é demasiado mau para ser verdade e os argumentos que nos são apresentados não passariam de material para comédia de mau gosto. Admito que ando de mau humor com o Pereira Coutinho, mas daí a acusá-lo de estar a “obstruir o trabalho do Governo” e “a abusar do poder legislativo” porque decidiu fazer o seu trabalho de deputado, já é demais. Ouvir o Chan Chak Mo dizer que não cabe aos deputados apresentarem legislações, na semana passada, já foi agonizante. Mas ouvir as bestas a dizerem que o Coutinho anda a abusar porque anda – veja-se bem, o malandro!! – a apresentar muitos projectos de lei… não tenho palavras. Estes senhores que muitos de vocês escolheram para sentar o rabo na AL, devem pensar que o papel de deputado é reprovar tudo o que não seja apresentado pelo Governo. E tudo o que seja apresentado pelo Coutinho – que, veja-se, é o único que realmente apresenta projectos de lei. Ah, e tal, vamos esperar pelo Executivo. Vamos lá, que ele só está há sete anos a tentar apresentar uma proposta de lei que proteja os animais. Estamos a obstruir o papel do Governo! Isso não se faz, Coutinho, seu feio! Penso que já perceberam, caros leitores, que falo da reprovação da lei dos animais. Pronto, agora o Governo já tem mais uma desculpa para demorar mais um ano a apresentar uma lei semelhante: como reprovou este, não se pode apresentar mais projectos de lei sobre o mesmo tema na mesma legislatura. A espectacular argumentação dos idiotas que temos sentados no hemiciclo fez-me vomitar. Ora, eu tenho algumas questões. Será que se capturarmos a Song Pek Kei é uma infracção? Afinal ela pouco parece ter de racional. E nem leu o projecto de lei do colega, se não, não tinha feito as perguntas estúpidas que fez, como se matar uma galinha para comer seria uma infracção. Será que podemos fechar o Zheng Anting? É que ele fala, mas fala mal. E tu, oh Mak Soi Kun, porque não mexes as mãozinhas e tratas tu de apresentar uma lei para ir visitar os velhinhos lá ao continente? O que mais me entristece é que estes deputados não percebem que uma lei de protecção aos animais iria ajudar a protegê-los... Afinal, eles são “burros” todos os dias.

C I N E M ACineteatro

SALA 1ROBOCOP [C]Um filme de: José PadilhaCom: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish14.00, 16.00, 18.00, 21.45

FROM VEGAS TO MACAU [C](FALADO EM CANTONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Wong JingCom: Chow Yun-Fat, Nicholas Tse20.00

SALA 2 WINTER’S TALE [B]Um filme de: Akiva GoldsmanCom: Colin Farrell, Jessica Brown Findlay,

Jennifer Connelly14.30, 16.30, 21.30

THE BOOK THIEF [B]Um filme de: Brian PercivalCom: Sophie Nelisse, Geoffrey Rush,19.00

SALA 3ENDLESS LOVE [B]Um filme de: Shana FesteCom: Alex Pettyfer, Gabriella Wilde14.15, 16.05, 18.00, 21.45

THE LEGO MOVIE [A](FALADO EM CANTONÊS)Um filme de: Phil Lord, Chris Miller19.50

ROBOCOP

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19

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau quarta-feira 19.2.2014 OPINIÃOa outra faceCARLOS MORAIS JOSÉ

BUÑU

EL, L

E CH

IEN

ANDA

LOU

Surrealizar por aí

E certo que nada é impossível em Macau. Por exemplo, só quem aqui não reside há tempo suficiente é que nunca viu porcos a voar ou cavalos às cores. Mas é, de facto, incessante a capacidade que esta cidade e os seus insignes habitantes tem de nos surpre-ender. Diria mesmo não existe

outro lugar, sob a roda do Sol, onde as coisas tenham a veleidade de se nos apresentar tão fora do normal. A coisa não é de hoje: já no século XVI se relatava, num livro cabalístico europeu, a existência de um estranho peixe, habitante destas águas, que em certo período do ano ganhava asas, se transmutava em pássaro, e voava para as altas montanhas da província de Guangdong.

Contudo, a actualidade consegue ser ainda mais surrealista, a merecer o pincel de um Hieronymus Bosch ou a pena de um Boris Vian. Macau só assim realmente conseguiria ser descrita, como uma cidade povoada de monstros e onde nada ou qua-se nada corresponde à função para a qual, normalmente, terá sido criada. É o caso da Assembleia Legislativa, onde pontificam os nossos amáveis deputados, gente ilustre e erudita que genialmente interpreta este carácter surrealista da terra. E não se es-pante o povoléu, nem se revolte a racional gente. Eles, esses génios sem lâmpada, esses mestres do oculto, revelam a cada passo ser os melhores intérpretes da identidade local, dessa fímbria de loucura que por aqui per-passa e se inscreve em filigrana nas acções de uns e nas tiradas de outros.

Repare-se por exemplo que, apesar de se chamar Assembleia Legislativa, ficou esta semana muito claro, nas elucubrações dos parlamentares, vertidas em genial relam-bório, ali se fará tudo menos legislar. É um espaço ideal para passar umas horas, tirar uma soneca, fazer um ou dois negócios: já fazer leis, discuti-las e aprová-las, isso é que não, foge totalmente do âmbito do distinto hemiciclo. Mas chama-se legislativa... ros-nará um leitor menos habituado às especifi-cidades da terra. Pois chama... confirmamos nós... mas isso quer precisamente dizer que ali não se produzem leis.

Na verdade, a Assembleia Legislativa deve ser a indústria mais criativa desta cidade. Certamente aquela em que os seus membros ganham melhor, talvez porque são os que mais surrealizam. E a sua criatividade é tal que, genialmente, a função para a qual foi erguida é agora totalmente modificada, incinerada, destruída. Fazer leis? Olha o disparate! Como se uma Assembleia Legis-lativa tivesse essa função.

É certo que alguns deputados, como

A Assembleia Legislativa deve ser a indústria mais criativa desta cidade. Certamente aquela em que os seus membros ganham melhor, talvez porque são os que mais surrealizam. E a sua criatividade é tal que, genialmente, a função para a qual foi erguida é agora totalmente modificada, incinerada, destruída. Fazer leis? Olha o disparate! Como se uma Assembleia Legislativa tivesse essa função

Pereira Coutinho e o seu colega de bancada, ainda não compreenderam bem o lugar onde se sentam. E talvez por isso sejam os que por ali menos se atascam aos milhões. E, nessa incompreensão profunda, ousam apresentar projectos de lei, como se o seu papel fosse esse. Coutinho interpreta de forma literal, pouco criativa, o motivo pelo qual foi eleito e por isso teve de ser chamado à pedra pelos seus pares que, em torrentes de surrealista verve, rapidamente o afogaram, fazendo-lhe ver que nunca uma Assembleia Legislativa foi, é ou será um lugar para fazer leis.

Já os outros, mesmo os que recentemente foram eleitos directamente, rapidamente compreenderam o espírito do lugar e ade-riram sem peias nem hesitações ao credo surrealista que por ali deve predominar. Imagine-se, por exemplo, como é possível pretender elaborar uma lei sobre os direitos dos animais sem termos em conta as bactérias e os micróbios? Então quer-se atacar os vírus que tanto dinheirinho nos proporcionam a importar medicamentos? E os ratos, senho-res, os ratos? Quer Macau, como qualquer lugar civilizado deste mundo e do outro, possuir uma lei que defenda a bicharada dos excessos dos humanos? Onde iria parar a nossa tão querida especificidade?

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Mutatis mutantis, já só faltava que se aprovasse uma lei que, para além dos ani-mais, cedesse direitos aos homossexuais e aos trabalhadores não-residentes. Ora isso é que ia ser lindo... Não faltava mais nada que esta tríade maldita (animais, homossexuais e trabalhadores não-residentes) tivesse por aqui quaisquer regalias. Mas o mais estranho seria que a Assembleia Legislativa fizesse leis que os considerassem.

Claro que, como um ilustre deputado afirmou, antes da bicharada e da gentalhada, temos de considerar os velhos e os deficien-tes que, na cadeia alimentar, se encontram logo a seguir. No topo estão, é claro, os empresários, os únicos realmente criativos e dignos de todos os apoios que a Assembleia Legislativa lhes conseguir proporcionar.

Está mais que visto o que é bom: o povo que se cale e vote neles outra vez. Sim que a populaça é constituída por indefectíveis de um Breton, de um Tzara ou mesmo de um Marinetti. Obrigado ilustres tribunos por tão bem definirem o que há-de ser esta cidade, por de modo tão inteligente nos mostrarem o caminho, iluminado por vossas mentes brilhantes. Esta semana ficámos, de facto, esclarecidos. Surrealisticamente, é certo, mas esclarecidos.

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hoje macau quarta-feira 19.2.2014

Portugal emitiu cerca de 45 mil vistos a angolanos em 2013Durante o ano passado, os consulados portugueses em Angola emitiram cerca de 45 mil vistos de entrada, um número em muito aproximado daquele registado em 2012. O valor, que corresponde ao número de vistos emitidos pelos consulados portugueses em Luanda e em Benguela, foi anunciado a propósito da Reunião dos Pontos Focais do Protocolo Bilateral sobre Facilitação de Vistos Angola-Portugal, que decorreu na capital angolana, na segunda-feira. Recorde-se que o Protocolo sobre a Facilitação de Vistos (PFV) entre Angola e Portugal foi assinado em Lisboa a 16 de Setembro de 2011, pelo ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chikoti, e pelo então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas. O objectivo deste protocolo passa por facilitar a circulação de cidadãos de Angola e de Portugal, derrubando barreiras ao desenvolvimento das actividades empresariais, bem como académicas, culturais, científicas e tecnológicas e ainda na área da saúde.

TAP Governo pode manter percentagemA alienação da transportadora aérea TAP está a ser estudada, mas o Estado pode continuar no capital da empresa. A revelação foi feita pelo ministro da Economia: “Se o modelo de privatização tiver alguns elementos de flexibilidade, que podem até passar pela presença do Estado português no capital, talvez seja possível ter um maior número de interessados e um modelo com maior tipo de alternativa”. Numa entrevista à Renascença e ao Jornal de Negócios, o governante não explica como será o modelo do negócio, se uma venda directa se uma alienação em bolsa.

Madeira Aeronave bate com a cauda na pista durante aterragemA Aeroportos e Navegação Aérea da Madeira fez saber que um avião da companhia aérea JET2 bateu com a cauda na pista de aterragem no Aeroporto da Madeira. Não se registaram feridos no incidente, ainda que a aeronave tenha sofrido alguns danos. A bordo seguiam 176 passageiros, oriundos de Leeds, em Inglaterra.

Crise Passos insiste em “compromisso político” com PSO primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, voltou a manifestar o interesse em conseguir um entendimento de “médio e longo prazo com os parceiros sociais e principal partido da oposição”. No discurso de abertura da «The Lisbon Summit», uma conferência que decorre terça e quarta-feira em Cascais, com a chancela da revista , o governante renovou também o apelo a um consenso face ao Documento de Estratégia Orçamental, que o Governo deverá apresentar em Bruxelas, até Abril. “Agora é altura de renovar o apelo a um consenso em torno da estratégia orçamental para os próximos anos, com metas concretas para os saldos e para os níveis de despesa primária e corrente», declarou o chefe do Governo, insistindo que o «nosso país precisa dessa estabilidade e dessa previsibilidade”. No mesmo discurso, e perante uma plateia composta por empresários e gestores portugueses e internacionais, Passos Coelho salientou a necessidade de «aliviar a carga fiscal sobre o trabalho e sobre o consumo de modo permanente num prazo tão curto quanto possível» não referindo, contudo, uma data concreta.

Itália Autoridades resgatam embarcação com mais de 120 imigrantesAs autoridades italianas anunciaram o resgate de uma embarcação com mais de 120 imigrantes e dois cadáveres a bordo, a cerca de 270 quilómetros a sudoeste da ilha de Lampedusa. “Um barco com 123 imigrantes, dos quais 16 mulheres, foram resgatados na segunda-feira. Dois cadáveres foram encontrados a bordo. Os imigrantes afirmaram que são da Somália, mas ainda é preciso verificar”, declarou o serviço de imprensa do quartel-general da capitania do porto que coordenou o resgate à AFP. O resgate ocorreu depois de os imigrantes terem lançado um pedido de socorro, na segunda-feira, através de um telefone satélite, dizendo que o motor tinha avariado. Durante os 30 primeiros dias de 2014, 2.156 imigrantes desembarcaram nas costas italianas, ao contrário do mesmo período de 2013, em que foram registadas apenas 217 entradas.

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O S chefes de Governo de Portugal e Espanha, Pe-dro Passos Coelho e Ma-

riano Rajoy, e os ex-governantes italiano e espanhol Mario Monti e Felipe González analisam no final do mês em Madrid o futuro da Europa, segundo informaram os organizadores.

Em debate no encontro, promo-vido pelo Berggruen Institute on Governance (BIG) em parceria com o Governo espanhol, estão segundo

uma nota remetida à Lusa, temas relacionados com o actual ambiente económico europeu.

Especialistas de todo o mun-do, incluindo Pascal Lamy, ex--diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), analisarão questões como o de-semprego jovem, o investimento e o emprego, a mobilidade do tra-balho e as migrações bem como o cenário das próximas eleições europeias.

Presidido pelo ex-presidente italiano Mario Monti, o BIG conta entre os membros com alguns dos principais pensadores e dirigentes políticos europeus, incluindo Gerhard Schroeder, Tony Blair, Felipe Gonzalez, Jacques Delors e Romano Prodi.

Detalhes concretos do progra-ma do encontro de dois dias, que decorre a 27 e 28 de Fevereiro, serão divulgados na próxima semana.

EUROPA PASSOS, RAJOY, MONTI E GONZÁLEZ REÚNEM EM MADRID

O futuro discutido a quatro