hoje macau 15 mai 2014 #3089

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PUB PUB Ter para ler Jason Chao e a Associação Arco-Íris vão entregar uma petição no consulado de Portugal para que aqui aconteça o casamento entre pessoas do mesmo género. Mas isso já é possível. Como sempre, nos direitos humanos, Portugal está muito à frente. PÁGINA 4 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB CAVACO SILVA LÍNGUA É VANTAGEM COMPETITIVA VISITA PÁGINA 2 SEI QUE SOU UM CASO ISOLADO DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 15 DE MAIO DE 2014 ANO XIII Nº 3089 MUNDIAL Bento avalia as escolhas de Bento FUTEBOL ÚLTIMA hojemacau DIREITO Gabriel Tong responde a Neto Valente SOCIEDADE PÁGINA 7 HOMOSSEXUAIS PORTUGUESES PODEM CASAR EM MACAU

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Hoje Macau N.º3089 de 15 de Maio de 2014

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Page 1: Hoje Macau 15 MAI 2014 #3089

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Ter para ler

Jason Chao e a Associação Arco-Íris vão entregar uma petição no consulado de Portugal para que aqui aconteça o casamento entre pessoas do mesmo género.

Mas isso já é possível. Como sempre, nos direitos humanos, Portugal está muito à frente. PÁGINA 4

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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CAVACO SILVA

LÍNGUA É VANTAGEM

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SEI QUE SOU UMCASO ISOLADO

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 1 5 D E M A I O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 8 9

MUNDIAL

Bento avalia as escolhas de Bento

FUTEBOL ÚLTIMA

hojemacau

“DIREITOGabriel Tong responde a

Neto Valente SOCIEDADE PÁGINA 7

HOMOSSEXUAIS PORTUGUESES PODEM CASAR EM MACAU

Page 2: Hoje Macau 15 MAI 2014 #3089

2 hoje macau quinta-feira 15.5.2014VISITA

LUSA

O Presidente da R e p ú b l i c a , Cavaco Silva, defendeu em

Xangai que, no contexto da actual globalização, a “língua deve ser valorizada, também ela, enquanto van-tagem competitiva”.

“Assim se compreende, por exemplo, o interesse que a aprendizagem do português suscita na China, dado o elevadíssimo nível de empregabilidade que o conhecimento da língua portuguesa aqui garante”, disse Cavaco Silva no en-cerramento do seminário “Saber Português” promo-vido pelo Instituto Camões na Universidade de Estudos Estrangeiros de Xangai (SISU).

Para Cavaco Silva, as universidades, “cada vez mais, têm-se revelado agentes privilegiados na projecção internacional da língua e da cultura portuguesas” e, “neste contexto, cabe naturalmente realçar a importância da co-operação entre as academias portuguesas e chinesas, nas diversas áreas do saber”.

“A prestigiada Univer-sidade de Estudos Inter-

O Presidente português, Aníbal Cavaco Silva, exortou empresários chi-

neses a investirem em Portugal, apresentando o país como “uma importante porta para a Europa”, “com laços especiais” à África subsariana e ao Brasil.

“Portugal apresenta par-ticulares condições para ser uma localização prioritária nas opções de investimento que se desenham no espaço europeu”, disse Cavaco Silva na abertura de um seminário económico em Xangai com cerca de 250 empre-sários portugueses e chineses. “Tenho muita esperança que os empresários chineses continuem, cada vez, a olhar Portugal como uma excelente oportunidade de investimento e de construção de parcerias”, acrescentou.

O Presidente da República, que iniciou na segunda feira uma visita de uma semana à China, afirmou que “o tecido produtivo português abarca hoje um vasto leque de actividades industriais e de serviços competitivos à escala global”.

CAVACO SILVA DEFENDE QUE LÍNGUA É “VANTAGEM COMPETITIVA”

Falando espalharei por toda a parte

PRESIDENTE EXORTA EMPRESÁRIOS CHINESES A INVESTIR EM PORTUGAL

Um lugar ao sol

nacionais de Xangai tem--se distinguido pelo seu dinamismo na cooperação com diversas universidades portuguesas de excelência, criando extensas e muito profícuas redes de conheci-mento. A aposta num Centro de Estudos de Portugal e a promoção de iniciativas como o colóquio que agora se encerra comprovam o pa-pel que a língua portuguesa aqui detém e o potencial que lhe é reconhecido”.

Para o Presidente da República, a lusofonia “en-quanto activo de Portugal no Mundo, é uma valia estratégica do país” ao pas-so que a língua e a cultura “devem ser encaradas como dois eixos que se reforçam mutuamente”.

“A língua é o veículo de uma cultura; a cultura, na sua riqueza e diversidade, reflecte a densidade da lin-guagem”, sublinhou.

Cavaco Silva recordou ainda que há 500 anos, com os Descobrimentos, o português “tornou-se língua global”, hoje falada por cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo e manifestando-se como

língua dominante no hemis-fério sul do planeta.

O chefe de Estado des-cerrou com o reitor da SISU, Cao Deming, a placa do Cen-tro de Estudos de Portugal, um mecanismo da univer-sidade que pretende ser um catalisador de um maior e mais alargado conhecimento da realidade portuguesa.

Fundada em 1949, o ano da Fundação da República Popular da China, a SISU integra o lote das mais pres-tigiadas universidades do país e tem, desde 1977, um curso de língua portuguesa que já formou mais de 200 estudantes.

Desde hoje, a SISU tem também um acordo com a Universidade Nova de Lis-boa. Em causa, um memo-rando de entendimento que permitirá que os seus alunos, cumprindo dois anos de ensi-no do português em Xangai, frequentem dois anos do curso de gestão na instituição portuguesa, podendo assim obter a dupla certificação, em gestão e língua.

Na cerimónia, o adminis-trador da Fundação Calouste Gulbenkian, Marçal Grilo, apresentou o procjeto “Sa-ber Português”, o ensino à distância para estudantes de língua materna chinesa, o qual estará disponível no primeiro trimestre de 2015, explicou Ana Paula Labori-nho, presidente do Instituto Camões.

mento orçamental e as alterações estruturais da economia foram, na sua vasta maioria, cumpridos e implementados.”

O Presidente português salien-tou que “desde o segundo semestre de 2013 que a economia portuguesa está a crescer” e “o desemprego tem baixado”. “Actualmente, as exportações já representam 40% do PIB, contra cerca de 30% em 2010. O saldo das nossas contas externas foi positivo em 2013, tendência que se consolidará este ano”, disse.

Cavaco Silva referiu também

“estão em curso, entre outras, reformas na área das relações la-borais, da Justiça, do licenciamento e da tributação das empresas”. “Queremos proporcionar a quem investe em Portugal um ambiente empresarial estável e atractivo e estamos a trabalhar nesse sentido”, acrescentou.

INDÚSTRIAS TRADICIONAISO Presidente português destacou nomeadamente as tecnologias de gestão e requalificação ambien-tal, mas também as “indústrias tradicionais”, como calçado, imobiliário, agro-alimentar e vinhos, que “têm sabido rein-ventar-se”.

Cavaco Silva falou também do turismo, salientando que “Portugal é um destino de reconhecida qua-lidade”. O Presidente português referiu que “em Portugal o sol e a luminosidade estão sempre presentes”.

Cavaco Silva está agora em Pequim, onde vai encontrar-se com o homólogo chinês, Xi Jinping, e no fim de semana estará em Macau, última etapa da visita.

“Existe hoje em Portugal toda uma nova geração de empresas com grande capacidade empre-endedora, inovadora e tecnoló-gica. Muitas estão a desenvolver produtos e serviços para novos segmentos de procura no mercado mundial”, disse.

Cavaco Silva descreveu Portu-gal a empresários chineses como um país “à altura dos compromis-sos assumidos” e afirmou que os sinais económicos do último ano “são animadores”. “Os objecti-vos estabelecidos e as medidas previstas no programa de ajusta-

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3 visitahoje macau quinta-feira 15.5.2014

LUSA

O S governos português e chinês vão pas-sar a realizar

reuniões anuais da comissão mista Portugal-Macau, para debater a cooperação em áreas como justiça, turismo, segurança ou ensino do por-tuguês, disse à Lusa fonte oficial do Governo.

A comissão mista entre Portugal e a Região Ad-ministrativa Especial de Macau é um mecanismo de consulta, criada no âmbito do acordo-quadro de coo-peração de 2001, que prevê que as duas partes se reúnam de dois em dois anos.

Fonte oficial do mi-nistério dos Negócios Estrangeiros disse à Lusa que se realizaram, até ago-ra, duas reuniões formais – em Abril de 2011 e em Setembro de 2013 -, além de uma reunião intercalar em Setembro de 2012.

No último encontro, “as partes acordaram o aumento da periodicidade das reu-niões, que deverão passar a ser anuais”, o que será traduzido no protocolo de revisão do acordo-quadro de cooperação, que será as-sinado no próximo sábado em Macau, no âmbito da visita oficial do Presidente da República, Aníbal Cava-co Silva, à China.

Os dois países têm ma-nifestado, nos encontros da

PORTUGAL E CHINA VÃO REALIZAR REUNIÕES ANUAIS PARA APROFUNDAR COOPERAÇÃO

Felizes juntos

GABINETE DO PORTA-VOZ DO GOVERNO14 de Maio de 2014

Esclarecimento ao Jornal Hoje Macau

O Governo está empenhado em garantir que a visita de Sua Exce-lência o Presidente da República Portuguesa espelhe as boas relações de cooperação e amizade que existem entre Macau e Portugal.

A decisão de atribuir agraciamentos a residentes da RAEM é uma decisão de Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, que o Governo respeita integralmente e sobre a qual não fez ou faz qualquer comentário.

Cavaco deseja vitória do Benfica O Presidente português, Cavaco Silva, desejou ontem a vitória do Benfica na final da Liga Europa, que vai decorrer em Turim (Itália), mas admitiu não ser fácil acompanhar a partida. “Penso que todos, ou quase todos os portugueses, estão à espera que o Benfica ganhe. O Benfica fez um trajecto extraordinário para merecer esta vitória”, declarou Cavaco Silva em Xangai, num encontro com jornalistas que acompanham a sua visita de Estado à China. A vitória do Benfica “será uma honra para o desporto nacional”, acentuou. “Dada a minha agenda de amanhã[ quinta-feira], e o jet-lag, que ainda não passou, não será fácil seguir o jogo”, confessou.

MNE Ascensão da China é “grande oportunidade” O chefe da diplomacia portuguesa, Rui Machete, disse ontem que Portugal encara a ascensão da China como “uma grande oportunidade de desenvolvimento” para o mundo e não como uma preocupação. “Todos os países têm, por vezes, algumas tentações que têm que controlar e a China não escapa a essa regra, mas nós vemos sobretudo a China como um país amigo de Portugal e da Europa”, afirmou Rui Machete. “A China também ganha com este intercâmbio”, acrescentou. Segundo também realçou, “o governo e o povo chineses têm mostrado ao longo dos séculos uma grande sapiência”. “Não há razão para pensar que não vai continuar a ser assim”, concluiu.

Relações “são excelentes”O Presidente português, Aníbal Cavaco Silva, considerou “excelentes” as relações políticas luso-chinesas, afirmando que, ao longo de cinco séculos, os contactos entre os dois países foram “sempre marcados por um entendimento construtivo”. “Portugal e China são países com excelentes relações políticas, alicerçadas na amizade, cooperação e respeito mútuo”, disse Cavaco Silva na abertura de um seminário económico em Xangai com cerca de 250 empresários portugueses e chineses. “Ao longo da sua História, Portugal e a China souberam encontrar pontos e estabelecer alianças de benefício mútuo”, disse o Presidente português.

comissão mista, o interesse em reforçar a sua coopera-ção, envolvendo quer o sec-tor público quer o privado.

A língua portuguesa é um dos sectores que mobiliza a cooperação bilateral, tendo em conta o papel de Macau enquanto plataforma de formação e difusão do português, mas os dois países têm também protocolos nos domínios da cultura, educação, justiça, segurança, turismo, am-biente, comércio, desporto, direitos do consumidor e cartografia e cadastro.

Na área económica, Portugal e China explo-raram, na última reunião, “a possibilidade de uma colaboração no domínio das industriais culturais e criativas” e decidiram realizar em Macau uma exposição sobre arquitetura portuguesa contemporânea.

Em setembro de 2013, os dois países assinaram um protocolo na área do ensino não-superior para reforçar a formação de professores na Região Administrativa Especial chinesa.

Na área do ensino su-perior, instituições portu-guesas vão apoiar trabalhos de fomento da garantia da qualidade do ensino supe-rior em Macau.

Por outro lado, o Con-selho de Consumidores de Macau vai estreitar o intercâmbio com a Direc-ção-Geral do Consumidor de Portugal e promover

formação técnica na área da arbitragem de conflitos de consumo.

No sector do turismo, o Instituto de Formação Turística e o Turismo de Portugal concordaram em realizar intercâmbio de estudantes e de docentes, além de promover está-gios profissionais para estudantes.

Na área ambiental, as duas partes pretendem de-senvolver estudos na área do planeamento ambiental e das fontes emissoras de poluição atmosférica e resíduos, enquanto na justiça, haverá intercâmbio de experiências e capacita-ção de recursos humanos, nomeadamente na área da segurança em meio prisional.

Na reunião de 2013, as delegações foram chefiadas pelo director-geral de Polí-tica Externa do ministério e pelo chefe de gabinete do chefe do Executivo da Região Administrativa Es-pecial de Macau.

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hoje macau quinta-feira 15.5.20144 POLÍTICA

ANDREIA SOFIA [email protected]

A Associação Arco-Íris de Macau entrega hoje nas instalações do consu-lado-geral de Portugal

em Macau uma petição dirigida ao

JOANA [email protected]

J ASON Chao e Roy Choi, dois activistas pró-democracia que

integram diversas associa-ções de Macau, vão cortar comunicações com “in-vestigadores” e “alegados jornalistas” da China, para se mostrarem contra a detenção de um editor de Hong Kong e uma jornalista chinesa.

Yiu Man Tin era editor do “Morning Bell Press” e foi acusado de contrabando pelas autoridades chinesas. Gao Yu foi levada em pri-são preventiva no dia 7 de Maio por “revelar segredos de estado”.

Segundo disse Chao ao HM, as recentes notícias dão conta que a restrição à liberdade de expressão imposta pela China está a chegar a Hong Kong e Macau. “Estes aconteci-mentos recentes mostram que a garra do mal das au-

O deputado indirecto à Assembleia Legis-lativa (AL) e primo

do actual Chefe do Executivo considera que a economia local tem dificuldades graves de mão-de-obra. José Chui Sai Peng questiona, na sua interpelação escrita, quais são as políticas de que dispõe este Governo para a resolução do problema.

“Há dias criou-se a Co-missão de Desenvolvimento de Talentos e foram definidas as estratégias de desenvolvi-mento a longo prazo para a formação dos mesmos. No entanto, apenas nos depara-mos com um bonito plano conceptual, pois ainda não temos nenhum projecto em concreto”, escreveu Chui Sai Peng.

O deputado diz que “é necessário saber como é que vamos resolver esta questão e quando é que se irá dar inicio aos trabalhos de formação de talentos, com vista a que os recursos humanos possam

estar em conformidade com o desenvolvimento da diversifi-cação da economia”.

Chui Sai Peng refere-se especificamente ao sector do jogo. “O Governo já calculou quantos talentos, e de que tipo, é que as empresas do jogo e as empresas relacionadas vão precisar na luta a começar brevemente?”

O deputado classifica ain-da como “beco sem saída” a actual situação da contratação de recursos humanos para as Pequenas e Médias Empresas (PME), uma vez que o sector do jogo absorveu grande parte desses recursos.

“Para promover o desen-volvimento e diversificação da economia, (Macau) não pode ter falta de talentos para as diversas áreas, e especialmente talentos bilingues. Contudo, há falta de talentos em Macau, e a maioria dos recursos humanos vai trabalhar para a indústria do turismo, do jogo e outros secto-res relacionados”, considerou José Chui Sai Peng. - A.S.S.

Anthony Lam e Jason Chao entregam hoje uma petição dirigida a Cavaco Silva para que o Estado português estenda a legalização do casamento para pessoas do mesmo sexo aos portugueses residentes em Macau. Mas isso é algo que já está estabelecido e é obviamente possível

ASSOCIAÇÃO ARCO-ÍRIS ENTREGA HOJE PETIÇÃO NO CONSULADO

Uma acção respeitável mas inútilPresidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Tudo para que em Macau seja permitido o casamento homossexual a portugueses aqui residentes, algo que já é legal em Portugal.

“Acreditamos que muitos por-tugueses que estão a viver e traba-lhar em Macau gostariam de ver os seus direitos protegidos”, disse ao HM Anthony Lam, presidente da Associação Arco-Íris.

“Honestamente, considero que a garantia dos direitos dos portugueses que vivem em Por-tugal ou no estrangeiro é uma responsabilidade de Cavaco Silva enquanto Presidente da República. Ele poderá hesitar e poderá olhar ou actuar de forma hesitante a pro-mover esta iniciativa, mas é uma responsabilidade do Presidente”, acrescentou Anthony Lam.

“Segundo as leis de Macau, o casamento não é reconhecido, mas é algo já legalizado em Portugal. Então as pessoas que vivem em Macau com cidadania portuguesa deveriam poder casar e usufruir deste direito”, disse ainda o pre-sidente da Associação Arco-Íris.

Jason Chao, presidente da

Associação Novo Macau (ANM), também se junta a esta iniciativa, não sendo inédita a realização de eventos que visam o reconheci-mento legal de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Em Macau a legalização do

casamento homossexual ainda não foi analisada de forma oficial pelo Governo, mas Anthony Lam consi-dera que o Executivo de Chui Sai On deveria ter Portugal como exemplo.

“Macau tem uma longa história com Portugal e a interacção entre as

CHUI SAI PENG MAIS TALENTOS BILINGUES

O beco sem saídaCHAO E CHOI CORTAM COMUNICAÇÕES COM A CHINA EM APOIO A JORNALISTAS

“A garra do mal está a chegar...”toridades chinesas se está a expandir e a chegar às regiões administrativas es-peciais, apertando o cerco à liberdade de expressão.”

Yiu Man Tin é conhe-cido por publicar livros que estão banidos na Chi-na continental e terá sido, alegadamente, atraído para participar num evento em Shenzhen, vindo de Hong Kong. Foi aí preso. O editor estaria a trabalhar

com um outro autor, o dis-sidente chinês Yu Jie que vive nos Estados Unidos, para lançar “Xi Jinping, Chinese Godfather”.

“Para mostrar como nos opomos fortemente a isto, suspendemos todas as comunicações – incluindo seminários, visitas, uma conversa, um café ou uma refeição – com ‘investiga-dores’ do Governo chinês ou de organizações semi-

duas regiões tem vindo a tornar-se mais próxima desde a transição de soberania. Acreditamos que seria bom para Macau ter Portugal como exemplo e olhar para essa experiência”, disse o presidente da Associação Arco-Íris.

No fim-de-semana em que Aníbal Cavaco Silva chega a Macau para uma visita, a mesma associação vai sair à rua. “Vamos estar em dois lugares diferentes no sábado e domingo. Vamos im-primir mensagens como ‘amamos os LGBT’ ou ‘façam amor, não a guerra’. Queremos apenas promo-ver o direito ao amor”, explicou Anthony Lam ao HM.

Contudo, desde que o casa-mento entre pessoas do mesmo sexo foi legitimado em Portugal que qualquer cidadão português pode dirigir-se ao consulado de Macau e efectuar o seu consór-cio. Assim, o “direito ao amor”, tal como a abolição da pena de morte, são predicados de Portugal, muito à frente de países como a Inglaterra, os Estados Unidos ou a China, claramente atrasados nesta fundamental questão de direitos humanos.

Jason Chao

-governamentais, especial-mente os que não têm tra-balhos académicos, e com alegados jornalistas, quan-do estes não conseguirem provar que trabalham num órgão de comunicação social”, frisa Jason Chao. “Isto, até se conseguir ver uma melhoria na liberdade de expressão na China.”

De acordo com Chao, também Ng Kuok Cheong apoia “pessoalmente” esta iniciativa, mas o deputado não toma parte da acção. O activista explica que é comum que activistas e de-putados pró-democracia serem entrevistados por “investigadores” e “ale-gados jornalistas” sobre actividades a acontecer ou a serem preparadas em termos de activismo.

“Um conselho dado por Ng Kuok Cheong é que se discutam com es-sas pessoas assuntos que já são do conhecimento público”, concluiu Chao. Yiu Man Tin

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hoje macau quinta-feira 15.5.2014 5 política

ANDREIA SOFIA [email protected]

E M mais uma reunião da ter-ceira comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL), encarregue da dis-

cussão da proposta de lei do erro médico, os deputados defenderam

JOANA [email protected]

O S casinos de Ma-cau poderão ter até 1 de Julho para

acabar com a utilização das máquinas POS da Union Pay. Quem o diz é o jornal de Hong Kong South Chi-na Morning Post, que cita fontes ligadas ao jogo, para indicar que a Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) foi quem decidiu impor a data limite.

O jornal avança que, após 1 de Julho – e se os casinos continuarem a utilizar as máquinas – ficará a cargo da polícia tratar do problema. “As operadoras vão ser informadas que terão de parar de usar as máquinas ilegais dos cartões da Union Pay ou então vão ter de sofrer com medidas repressivas das autoridades na transferência ilegal de dinheiro”, escreve o jornal.

O alerta chega depois de um aviso da China, onde o Governo Central indicava que iria tomar medidas con-tra o uso ilegal destes cartões por cidadãos do continente em casinos de Macau.

Isto acontece porque os

Os custos da realização de uma perícia para verificar a origem de um caso de erro médico devem ser pagos pelo responsável, pedem os deputados. Mas o Governo ainda não tomou qualquer decisão

DEPUTADOS APRESENTARAM PROPOSTA NO ÂMBITO DA LEI DO ERRO MÉDICO

Os responsáveis que paguem crise

CASINOS PODERÃO TER ATÉ 1 DE JULHOPARA ACABAR COM USO DAS MÁQUINAS DA UNION PAY

Xi Jinping não brincajogadores da China con-tinental têm um limite de capital que podem trazer para a RAEM – 20 mil yuan consigo e mais 10 mil por dia com cada cartão que tiverem.

Com os cartões da Union Pay, controlados pela China, os jogadores conseguem dinheiro de forma quase inesgotável, através de um esquema simples: transac-ções são efectuadas através de máquinas móveis, as chamadas POS, por vezes também trazidas pelos in-fractores, como “transac-ções domésticas” - compras e jantares, por exemplo.

HM NÃO CONFIRMADe acordo com o jornal de Hong Kong, contudo, a data para acabar com isto não é apenas para os casinos. Também as lojas e restaurantes que ficam nos interiores dos casinos estão na lista. “É sabido que

estas lojas vendem produtos que podem ser facilmente devolvidos por dinheiro”, escreve.

O HM tentou pedir escla-recimentos à AMCM, mas o organismo não respondeu até à hora do fecho desta edição. Uma das questões era relativamente ao prazo indicado pelo jornal.

No entanto, na terça--feira à noite, a autoridade de Macau disse que a Union Pay desde sempre restringiu o uso destes cartões nos ca-sinos. A AMCM assegurou estar atenta às notícias e garantiu que tem medidas. Mas não mencionou muito mais. “A AMCM tomará, como de costume e no âmbi-to das suas atribuições, todas as providências eficazes e necessárias e cumprirá, com rigor, a lei, salvaguardando, assim, a saúde e a segurança do sistema financeiro de Macau”, escreveu.

Uma das medidas é a re-alização de “uma supervisão contínua relativamente às actividades de aquisição de cartões comerciais” e gerir o risco consoante as necessida-des, “em função da evolução e mudanças do mercado”.

Especialistas da área estimam que, em 2013, o valor desviado através do uso ilegal destes cartões tenha ultrapassado os 50 mil milhões de patacas.

A imprensa chinesa local menciona que Ambrose So, director-executivo da Socie-dade de Jogos de Macau, já disse que medidas mais apertadas da China e das autoridades de Macau iriam ter um impacto nas receitas dos casinos.

A China está por trás da imposição de medidas, sendo isto parte de uma luta anti-corrupção prometida pelo presidente Xi Jinping.

De acordo com o South

China, um analista de jogo em Macau assegurou que as proporções a que chegou a utilização ilegal destes car-tões no território “chegou a um ponto que não mais pode-ria ser ignorada pela China”.

Lavagem de dinheiro e

fraude fiscal são outros dos crimes que têm aparecido com a utilização das Union Pay. A polícia de Macau, indica o jornal, já tem feito operações de busca a dinhei-ro ilegal em casinos e em redor deles.

que quem é responsável num caso de erro médico deve custear todas as despesas da perícia, encarregue de verificar esse mesmo erro.

“Sugerimos ao Governo que a taxa deve ser paga pela parte a quem será imputada a responsa-bilidade, segundo o relatório da perícia a ser elaborado”, explicou

o deputado Cheang Chi Keong, presidente da comissão.

Tudo para garantir que há um equilíbrio nos valores das taxas, e que os custos não serão totalmente suportados pelos utentes.

“O valor vai ser fixado em regulamento administrativo, e pedimos à Administração para

ponderar sobre a necessidade de evitar abusos. Isto porque se a taxa for muito elevada ou muito reduzida pode afectar ou agravar os encargos para a parte mais fraca, os utentes. Mas se a taxa for demasiado baixa tam-bém pode haver lugar a abusos, e isso vai agravar o trabalho da

comissão de perícia”, explicou Cheang Chi Keong.

No encontro o Governo não adiantou, contudo, uma opinião do que poderá ficar afixado na lei. “Ainda não tomou uma decisão e só depois de ouvir as opiniões é que vai decidir quanto às respectivas normas”, garantiu o deputado.

FIXAR UM PRAZOPARA O RELATÓRIONa reunião que durou cerca de quatro horas, os deputados debru-çaram-se ainda sobre o prazo para a realização do relatório elaborado pela comissão de perícia, que tanto pode ser pedido pelos utentes como pelos prestadores dos cuidados de saúde.

Segundo Cheang Chi Keong, também aqui houve preocupação quanto aos prazos a cumprir. Segundo a proposta de lei, o relatório da perícia deve ficar concluído num prazo de 90 dias após o pedido, podendo esse prazo ser prolongado.

Contudo, “a comissão entende que há que fixar um prazo para a prorrogação, porque se não houver um prazo para a entrega do relatório não é adequado”.

Apesar dos deputados já te-rem garantido que esta proposta de lei só deverá entrar em vigor em 2016, os trabalhos de análise na especialidade continuam. A próxima reunião acontece dia 27 deste mês.

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6 hoje macau quinta-feira 15.5.2014SOCIEDADE

ANDREIA SOFIA [email protected]

A Universidade de Ma-cau (UM) é a única instituição do ensino superior local a surgir

no U-Multirank, o mais recente ranking de universidades de todo o mundo promovido pela União Europeia (UE). De quase 800 universidades, a UM é analisada tendo em conta o número de publi-cações cientificas, o envolvimento económico com a sociedade ou os programas académicos.

A qualidade dos cursos e do ensino é considerada fraca, sendo que a experiência global de apren-dizagem é tida como sendo abaixo

De quase 800 universidades em todo o mundo, a Universidade de Macau é a única do território a surgir no U-Multirank. O ranking da União Europeia classifica a qualidade de cursos e ensino como sendo fraca, mas destaca a empregabilidade dos licenciados e o alto número de docentes com doutoramento

UNIVERSIDADE DE MACAU É A ÚNICA A SURGIR NO U-MULTIRANK

“Os aspectos negativos serão analisados”

“Com o novo campus vamos ter uma dimensão diferente, com o alargamento do número de alunos e com melhores condições”RUI MARTINS Vice-presidente da UM

da média, bem como a conclusão dos cursos no tempo certo. Quanto à criação de spin-offs (empresas no meio universitário), a UM também é qualificada como sendo fraca.

Os ganhos da UM de fontes privadas ou o número de licen-ciados e mestres a trabalhar na região são elementos classificados com “muito bom”, sendo “bom” a existência de pessoal académico com doutoramento ou orientação internacional em programas de mestrado.

Questionado sobre os resul-tados, Rui Martins, vice-reitor da UM, referiu ao HM que “os aspectos negativos terão de ser analisados”. “Há umas coisas que estão abaixo da média e acima da

média, mas temos de analisar isto com cuidado e tentar ver aquilo em que podemos melhorar”, referiu o vice-reitor.

Rui Martins disse ainda que “a UM está mais ou menos a meio da tabela, em comparação com uni-versidades de Portugal e à frente de qualquer outra universidade fora de Portugal, nomeadamente de países de língua portuguesa. A nossa posição é normal, estamos a evoluir com o tempo”.

ESPERANÇAS NO NOVO CAMPUS Em relação à elevada empre-gabilidade dos licenciados e mestres, Rui Martins frisa que “sempre nos preocupámos em formar profissionais competen-tes e ainda temos muito a fazer para formar locais”, depositando confiança no novo campus na Ilha da Montanha.

“Com o novo campus vamos ter uma dimensão diferente, com o alargamento do número de alunos e com melhores condições”, disse ainda o vice-reitor, falando sobre os docentes com doutoramento. “Fazemos um esforço na qualifi-cação do corpo docente e 90% dos docentes são doutorados.”

Sobre a classificação de “fraco” ao nível das spin-offs, Rui Martins lembrou que a UM “ainda está

numa fase de desenvolvimento”. “Criámos em tempos uma em-presa e esses dados referem-se a um período de três anos, em que não criámos nenhuma empresa. Esperamos no novo campus ter espaço para isso.”

O vice-reitor da UM destacou o facto da UM ter sido a única entidade local a ser tida em conta neste ranking, no qual a univer-sidade decidiu participar para se poder “comparar” com outras instituições de ensino.

“Este ranking é importante para nós, e a própria UE discorda dos rankings comerciais, onde as universidades norte-americanas dominam em 80% e as universi-

dades europeias aparecem muito mal colocadas”, disse Rui Martins.

UM PEDIU RECTIFICAÇÃO DE DADOSEm relação ao ranking das universi-dades, quanto ao número de artigos académicos publicados, a UM surge sem quaisquer dados. Algo que vai ser rectificado junto do grupo de Bru-xelas que elaborou o U-Multirank.

“Enviámos hoje (quarta-feira) a informação a dizer que isto não está correcto e esperamos que possam corrigir. Temos na base de dados Web on Science centenas de publicações, e vejo outras universidades que têm me-nos publicações que nós e aparecem lá”, disse Rui Martins. O vice-reitor referiu ainda o facto dos trabalhos académicos da UM estarem no topo dos que mais downloads registam em vários websites especializados.

No U-Multirank surgem ainda universidades da Ásia, nomeada-mente a Universidade Tsinghua, da China, ou do Japão e Coreia do Sul. A título de exemplo, a Universidade Nacional de Singapura obtém classi-ficados entre o muito bom e a média ao nível de publicações académicas, tal como quatro universidades de Hong Kong (Universidade Chinesa de Hong Kong, Universidade de Hong Kong, Universidade Cidade de Hong Kong e Universidade de Ciências e Tecnologia).

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7 sociedadehoje macau quinta-feira 15.5.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

D EPOIS da Associação de Advogados de Macau (AAM) ter mostrado “preocupação” em rela-

ção à qualidade dos cursos de Direito da Universidade de Macau (UM), especialmente o curso em língua chi-nesa, Gabriel Tong, vice-director da faculdade de Direito, referiu ao HM que “podemos sempre fazer melhor”.

“O sector profissional tem sem-pre legitimidade para se pronunciar sobre a área de formação dos poten-ciais concorrentes para a profissão. Aceitamos com humildade essas opiniões. A faculdade de Direito está sempre a pensar como pode é que os cursos podem funcionar melhor e já várias medidas foram tomadas no passado”, disse Gabriel Tong.

O também deputado nomeado à Assembleia Legislativa (AL) deu como exemplos a realização de ac-ções de formação na língua portugue-sa e os “contactos (dos alunos) com diferentes ramos da área jurídica”.

“Temos os nossos objectivos definidos pela faculdade e esta-mos a acompanhar sempre esses objectivos. Estamos a ouvir o sector profissional e vamos dis-cutir opiniões concretas, se forem coerentes com o nosso plano de ensino”, acrescentou Gabriel Tong.

CANDIDATOS QUE CHUMBAMA AAM chamou ainda a aten-ção para procura, por parte dos

CURSO PARA ENFERMEIROS PRÉ-PROFISSIONAIS NÃO VAI ACABAR

Uma aposta vincada na formação

Gabriel Tong refere que o sector profissional “tem legitimidade” para fazer sugestões e que a Faculdade de Direito nunca deixou de trabalhar para os objectivos. O vice-director diz que há candidaturas aos cursos, mas os resultados nos exames de admissão são fracos

GABRIEL TONG COMENTA CRÍTICAS DE ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS

Resposta valenteresidentes, de licenciaturas em Direito na China, “mais fáceis”, o que cria, na opinião de Jorge Neto Valente e restantes dirigen-tes, uma “concorrência desleal” em relação à UM, com o não aumento de candidatos.

Gabriel Tong referiu ao HM que “a situação de não cresci-mento dos alunos é capaz de ser verdade”. Contudo, “temos sempre muitos candidatos para o nosso curso, mas nem todos eles foram admitidos. Estatisti-camente temos registado a cada ano muitos alunos que querem inscrever-se no curso, mas não têm possibilidade, porque não passam com boas notas no exa-me de admissão”, disse o vice--director da faculdade.

Em relação à procura de cursos no continente, Gabriel Tong refere que tudo depende das escolhas pessoais dos alu-nos. “É verdade que há outras oportunidades, perto de nós, na China, Taiwan, ou até Portugal. Na posição da universidade e faculdade de Direito, acho que é sempre importante manter o rigor e o melhor funcionamen-to do curso. Estamos a fazer o melhor para atrair alunos, mas tudo depende das suas escolhas.”

Jorge Neto Valente referiu ainda que Macau necessita de mais juristas que dominem o Direito de Macau, algo que Gabriel Tong também defende. “Devemos formar juristas que conheçam o Direito de Macau, isso sem dúvida. Mas a UM, como uma instituição de ensino superior, tem também uma área de investigação, dedicando-se (à formação) de juristas e investi-gadores ao nível de mestrado e doutoramento.”

O S Serviços de Saú-de (SS) garantem que não vão aca-

bar com os cursos para enfermeiros finalistas. Em comunicado enviado ontem de madrugada, o organismo assegura que até tem estado a apostar bastante na formação deste pessoal.

“Os SS têm efectua-

do uma aposta séria na formação profissional dos enfermeiros locais e tratado activamente de todos os assuntos ine-rentes à boa persecução dos cursos”, começam por dizer. “É falso que exista alguma intenção de suspender ou acabar com o Curso de iniciação

pré-profissional para os enfermeiros finalistas.”

O organismo vê a si-tuação recente de notícias que dão conta de enfer-meiros que se queixam deste problema como “lamentável” e diz que é preciso perceber as coisas de forma correcta. “Para coordenar as políticas de

desenvolvimento para os próximos dez anos dos SS, elaboradas pelo Governo de acordo com a tendência da necessidade dos serviços em Macau, [dá-se um] impulso para que os enfermeiros fi-nalistas se preparem melhor na pré-carreira. Em particular, na redução

do tempo de intervenção necessário para a entida-de por onde exercem as funções.”

Os SS afirmam ainda que têm organizado os cursos anualmente desde 2011 e que estes até têm merecido “apreço dos par-ticipantes e das entidades médicas”.

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8 sociedade hoje macau quinta-feira 15.5.2014

LEONOR SÁ [email protected]

O balanço sobre a inspecção alea-tória de eleva-dores e outros

equipamentos electrome-cânicos – como escadas e tapetes rolantes – que se tem vindo a realizar há um ano, realizou-se ontem sem gran-des novidades.

A ideia de criar uma le-gislação para que as vistorias sejam obrigatórias continua no ar, mas ainda nada foi feito nesse sentido. Este tem sido um assunto bastante discutido desde há um ano, pois o carácter meramente facultativo da medida permite que alguns proprietários de

prédios em Macau se escusem em requerer a fiscalização dos elevadores, uma vez que esta não é obrigatória.

O chefe do departamento de urbanização da Direc-ção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), Chan Weng Hei, afirmou que “já cerca de 90% dos equipamentos electrome-cânicos foram registados” nas listas da DSSOPT, o que corresponde a um total de 5193 elevadores em Macau. De entre os cerca de 5 mil elevadores fiscalizados, ape-nas dois apresentaram danos graves ou muito graves, tendo já sido reparados.

Até dia 13 deste mês, já 41 empresas de inspecção estavam inscritas e preparadas

para começar a trabalhar nos equipamentos, sendo que 34 já informaram a DSSOPT sobre quais os elevadores que estão sob a sua alçada. A vistoria dos edifícios que aderiram é realizada de acordo com regras ditadas pela DSSOPT.

Mesmo com uma grande adesão a esta iniciativa, nada nem ninguém garante que vá ser criada uma legislação que obrigue os proprietários dos prédios de Macau a fazerem as inspecções. Para já, nada muda.

Chan Weng Hei mencio-nou, ainda, a afixação de um certificado de manutenção nos equipamentos que forem alvo de vistorias aleatórias e periódicas e passem nesta avaliação. Os documentos,

que deverão estar visíveis, servem para mostrar aos residentes que os equipa-mentos estão a funcionar correctamente.

Embora o representante da DSSOPT tenha assegura-do que a implementação das “instruções foi bem recebida pelo sector”, ainda há “acções de formação para organizar” e outros assuntos para resolver antes que a obrigatoriedade das inspecções seja discutida.

A conferência de imprensa que serviu para falar do balan-ço das inspecções realizou-se no prédio de habitação social Mong In, que foi projectado e construído pela DSSOPT no local de um antigo quartel militar, sendo inaugurado em Agosto de 2012.

Imigração ilegalHomem em prisão preventiva Um homem do interior da China está em prisão preventiva por ter trazido para Macau uma imigrante ilegal. Pong, de 40 anos, terá conduzido um barco do continente até Macau, tendo sido interceptado pelos agentes alfandegários perto da ponte de Amizade. Pong confessou ter ajudado a mulher a vir clandestinamente para Macau, a pedido de um homem desconhecido de Zhuhai, que tinha recebido da mulher cinco mil yuan como compensação. O delegado do Procurador considerou haver fortes indícios do crime de ajuda a imigrantes ilegais e aplicou prisão preventiva ao homem, que agora aguarda julgamento no Estabelecimento Prisional de Macau. O caso foi devolvido à polícia para mais investigação.

Quarto caso de dengue Macau registou o quarto caso de febre de dengue do ano, informaram os Serviços de Saúde. A paciente é uma mulher de 28 anos natural da Malásia. Em comunicado, o organismo indica que a jovem apresentou sintomas de febre, calafrios e erupção cutânea nas mãos e nas costas no regresso a Macau da viagem recente que realizou a Bali, na Indonésia, tendo sido assistida no Hospital Kiang Wu, na segunda-feira. O estado de saúde da jovem é “estável”, indicaram os Serviços de Saúde, apontando que se trata de um caso de febre de dengue importado.

Tabaco Mais de 700 acusados por mês Mais de 700 pessoas foram acusadas por mês em Macau por infracções à Lei do Tabaco desde o início do ano, informaram os Serviços de Saúde. Entre 1 de Janeiro e 30 de Abril, foram acusados 2.852 indivíduos, dos quais 2.846 por fumarem em locais proibidos, afirma o comunicado. Nos casinos, onde a lei entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2013, foram alvo de acusação 123 indivíduos nos primeiros quatro meses deste ano, na sequência de 152 inspecções a espaços de jogo. A maior parte dos 2.852 infractores era residente de Macau (1.863 ou 65,5%), enquanto 884 eram turistas (31,1% das multas) e 99 eram trabalhadores não residentes (3,5%). Os cibercafés foram o tipo de estabelecimento onde foi registado maior número de infracções no período em análise (605 casos), representando 21,2% dos locais inspeccionados. Desde a entrada em vigor da nova lei de prevenção e controlo do tabagismo, a 01 de janeiro de 2012, foram inspecionados 510.420 espaços e registadas 19.179 infrações, referem os Serviços de Saúde.

Lançado portal especializado em jogo

SEGURANÇA 90% DOS ELEVADORES DA RAEM JÁ ESTÃO REGISTADOS

Legislação pode esperar

TRÊS jornalistas lançaram ontem um portal especiali-

zado em notícias sobre o jogo na Ásia, mercado onde a indústria está a amadurecer ou a desabro-char e que tem Macau como a sua ‘capital’ mundial. “O ‘site’, que ficou acessível ao público hoje, está centralizado na área do jogo, irá oferecer actualizações diárias sobre o que se passa em Macau, nas Filipinas, em Singapura e noutras jurisdições da Ásia que ou já têm jogo ou estão a preparar-se para ter”, disse Tiago Azevedo, um dos mentores do portal, em língua inglesa. Dos conteúdos do GGRAsia, “produto jornalístico editorialmente independente”,

o primeiro da recém-criada empresa “Team Publicações e Consultoria LDA”, fará ainda parte “tudo o que possa ter um impacto directo ou indirecto na indústria porque obviamente são informações relevantes”, expli-cou o jornalista, realçando que se pretende privilegiar a produção própria, pelo que haverá artigos mais longos, como análises, entrevistas e reportagens. Além das actualizações publicadas no portal, criado por Tiago Azeve-do e Emanuel Graça e com a parceria do também jornalista Michael Grimes, vai ser disponi-bilizada uma ‘newsletter’ diária. A subscrição, no próprio ‘site’, é gratuita.

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9CHINAhoje macau quinta-feira 15.5.2014

P EQUIM manifestou ontem “sérias preocupações” relativamente aos violen-tos protestos anti-China

no Vietname, onde dezenas de fábricas foram incendiadas por manifestantes na sequência da instalação por parte da China de uma plataforma petrolífera em águas disputadas com Hanoi.

A China “insta o Vietname a tomar todos os passos necessários a fim de acabar com estes actos cri-minosos e a punir os seus autores”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Chi-na, Hua Chunying, na conferência de imprensa diária.

“A China manifesta sérias preocupações em relação a este in-cidente”, frisou. As tensões entre a China e o Vietname – dois vizinhos comunistas, mas históricos rivais – agudizaram-se de forma brusca depois de Pequim ter anunciado a instalação de uma plataforma petrolífera em águas territoriais de ilhas disputadas por ambos.

Na semana passada, Pequim moveu uma sonda de perfuração de águas profundas pela primeira vez perto da ilha de Paracel, num gesto contestado por Hanoi e qualificado de “ilegal”. A escalada da tensão levou mesmo a ONU a pedir moderação aos dois países.

Ao longo dos últimos dias, a área em torno do poço de perfura-ção tem sido palco de colisões entre navios chineses e vietnamitas, com

O primeiro-ministro chinês defendeu on-tem que a China “tem

muito caminho a percorrer” para se transformar na primei-ra economia mundial, apesar de as recentes previsões do Banco Mundial indicarem que poderá ultrapassar os Estados Unidos ainda este ano.

Em entrevista ao canal estatal CCTV, Li Keqiang sustentou que a metodologia utilizada para esse cálculo – Produto Interno Bruto (PIB) em paridade do poder de compra – “não é amplamente aceite pela maioria dos países nem tem sido utilizada recen-temente para determinar a dimensão das economias do mundo”.

“Não acredito que essa metodologia seja capaz de reflectir com precisão a diferença na qualidade dos bens e serviços consumidos pelos povos nos países em desenvolvimento e nos países desenvolvidos”, assinalou o chefe do governo, fazendo

Pequim acusa ex-chefe de operações da GlaxoSmithKline

AS autoridades chinesas acusaram o ex-chefe de operações da unidade da GlaxoSmithKline

na China Mark Reilly de ordenar aos funcionários que tivessem práticas de suborno. Membros do Ministério de Segurança Pública da China afir-maram que o britânico pressionou as suas equipas de vendas para subornarem hospitais, médicos e instituições de saúde. Por esses meios, a farma-cêutica sediada em Londres assegurou milhões de yuans em receitas, acusou o ministério.

Um porta-voz da GlaxoSmithKline não estava disponível para comentar o assunto, assim como Reilly. Anteriormente, a empresa britânica aler-tou que alguns de seus funcionários podem ter infringido a lei chinesa e ressaltou que estava a colaborar com as investigações.

Dois outros executivos da empresa, Zhang Guowei e Zhao Hongyan, são suspeitos de su-bornarem pessoas nos departamentos da indústria e do comércio nas cidades de Pequim e Xangai, disse o ministério.

PEQUIM EXPRESSA “SÉRIAS PREOCUPAÇÕES” FACE A VIOLÊNCIA ANTI-CHINA NO VIETNAME

Velhas quezílias, novas batalhas

“LONGO CAMINHO A PERCORRER” ATÉ SER A PRIMEIRA ECONOMIA

Gigante com passos seguros

200 milhões continuam

a viver na pobreza

os dois países a culparem-se mutu-amente pela escalada de violência.

A polémica chegou a terra, com o registo de um surto de protestos anti-China, os quais resvalaram em violentos incidentes com os manifestantes a incendiarem cerca de uma dezena de fábricas chinesas.

Aproximadamente 500 pessoas foram já detidas pelas autoridades vietnamitas pela sua participação nos protestos.

“Foram presas em flagrante delito de pilhagem, roubo e in-cêndio”, disse à agência AFP Le Xuan Truong, da polícia da região de Binh Duong.

A onda de violência surgiu na terça-feira com a manifestação de milhares de vietnamitas que trabalham nas zonas industriais, de capitais estrangeiros, elemento chave da economia do Vietname.

As empresas visadas pertencem ou são administradas por chineses, estando integradas no parque indus-

trial Singapura-Vietname, na provín-cia de Binh Duong, perto da cidade de Ho Chi Minh, a capital económica do Vietname, no sul do país.

A China e o Vietname mantêm uma antiga disputa territorial no Mar do Sul da China por causa da soberania das ilhas Paracel e Spratly, alegadamente ricas em petróleo.

referência a outros indica-dores para avaliar a segunda economia mundial.

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dimensão da economia chinesa superou, em 2013, os nove biliões de dólares

norte-americanos, valor que, segundo apontou, “está ainda seis biliões de dólares abaixo da primeira economia mundial”.

O primeiro-ministro chi-nês frisou que o gigante asiático “tem ainda 200 mi-lhões de pessoas que vivem

na pobreza” e que o PIB ‘per capita’ continua a ser baixo, pelo que há ainda um longo caminho a percorrer”.

Num relatório recente do Banco Mundial, e segundo dados recolhidos até 2011, o PIB da China em paridade do poder de compra correspondia a 87% do norte-americano, um aumento até 15 pontos percentuais face às estimati-vas anteriores.

Assim, tendo em conta o crescimento económico dos últimos quatro anos – que foi de 24% na China e de 7,6% nos Estados Unidos –, o gigante asiático poderia ultrapassar os Estados Unidos no final deste ano, isto em termos do PIB em paridade do poder de compra.

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10 hoje macau quinta-feira 15.5.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

TUDO SÃO HISTÓRIAS DE AMOR • Dulce Maria CardosoUma velha que em clausura depende do que o seu cão fiel lhe recolhe, uma mulher que mata a sua alma gémea, nós que nos tornamos cúmplices num autocarro em noite de temporal, um rio que devolve os ecos de duas crianças a quem aguarda um terrível milagre, uma ilha onde congeminam os faroleiros e suas zelosas esposas, um assassino a salvo na biblioteca, uma menina desaparecida, uma mulher intrigada pelo homem desconhecido. Um destino chamado amor.Nesta inquietante colectânea de contos, Dulce Maria Cardoso revela de novo a sua mestria literária.

MAS É BONITO • Geoff DyerA partir do modo como ouve o jazz de Charles Mingus, Thelonious Monk, Bud Powell, Art Pepper, Chet Baker, entre outros, e a partir de uma série de fotografias de músicos e formações, Geoff Dyer improvisa e ficciona oito variações como se fossem, cada uma delas mas também em conjunto, um romance. Nas palavras de Keith Jarrett, este é o melhor livro de jazz que ele alguma vez leu.

O músico e produtor ale-mão Alex Krüger, mais conhecido no mundo da música como Tigerskin,

vai actuar em Macau, já no próximo sábado, no Golden Bar. Tigerskin é um dos DJ residentes da conhecida discoteca inglesa Ministry of Sound, tendo já sido produtor da banda bri-tânica, Depeche Mode.

A vinda de Krüger a Macau surge no âmbito da sua digressão asiática e é um evento da responsabilidade dos Flipside, um colectivo conhe-cido por organizar festas de música alternativas em Macau.

A partilhar o palco com Tigerskin vão estar a artista Ocean Lam, de

Hong Kong, e DHOO, VJ Liquid Light e Gordon Yu, de Macau.

A música do DJ alemão junta sons electrónicos de deep house e techno com voz, tendo já lançado centenas de êxitos de música de dança durante os últimos 20 anos.

Devlar, que faz parte do grupo Flipside, produz a sua música e anima as noites de Macau e de Hong Kong inspirando-se nos estilos de música deep e techno de São Paulo e Berlim, tendo participado em festas como a Splash Party, no Hard Rock Hotel, ou o conhecido festival de música de Hong Kong, Clockenflap.

Ocean Lam, outra das artistas que vai actuar com Tigerskin, começou

a passar música em 2008 em Hong Kong e é uma das DJ residentes do espaço nocturno Yumla. Já animou noites na Alemanha, Suíça, Filipinas, Malásia e Tailândia, sendo conside-rada uma artista em ascensão.

Gordon Yu iniciou a sua carreira de DJ em 2001, tendo começado por passar música em festas suburbanas, mais tarde tendo sido convidado para colaborar numa das discotecas mais conhecidas de Tóquio, a AgeHa.

Os bilhetes, se comprados com antecedência, custam 120 patacas, aumentando para 150 e 180 patacas, quando adquiridos no dia do evento, antes e depois da meia noite, respec-tivamente.

ESTE ano, o festival Le French May, que é realizado há já duas décadas em

Macau e em Hong Kong, vai ter espectácu-los de música e teatro, mostras de cinema, vinho e gastronomia e, finalmente, expo-sições de fotografia e arte contemporânea espalhadas pelos dois territórios, ainda que a organização tenha preparados mais eventos para a vizinha RAEHK.

Em Macau, grande parte dos even-tos passam-se nas salas de cinema do casino Galaxy, que, durante os dias 30 e 31 de Maio e 1 de Junho, vão exibir filmes franceses como “Here, there”, “Love and bruises”, “Balzac and the little seamstress”, ou “Red Obsession”. Os bilhetes para assistir às películas custam 80 patacas. Nos dias 23, 24 e 25, Julien Cottereau vai apresentar a peça “Imagine toi”, no Teatro Dom Pedro V.

O Le French May compreende a realização de exposições de arte, mos-tras gastronómicas e provas de vinhos, rodagem de filmes relacionadas com França, entre outras actividades que reflictam o panorama francês.

O festival conta com diferentes temas todos os anos e os vinhos de Rho-ne Valley foram a escolha para 2014, sendo que vão ser homenageados na edição deste ano do French GourMay, conjunto de eventos gastronómicos integrados no Le French May. Em Hong Kong, os visitantes poderão comparecer às mais de 10 provas de vinhos marcadas para acontecer ao longo de Maio. A antiga colónia francesa vai, ainda, ter quase duas dezenas de exposições de fotografias e arte contemporânea.

Lu Chen, o grande manipulador volta a Macau

O mágico chinês Lu Chen volta a Macau, com o espectáculo Dazzle Lu Chen, que vai ter lugar

a 21 de Junho, na Cotai Arena, sendo que a venda de bilhetes começou ontem.

Foi aos oito anos de idade que este artista come-çou a interessar-se pela área da magia e dos truques de ilusão e aos 12 anos ganhou o primeiro lugar num campeonato de magia em Taiwan, evento apresentado pelo famoso, David Copperfield.

Lu foi, também, o primeiro mágico chinês a re-ceber, em 2005, o prémio Neil Foster de excelência em manipulação, da escola de magia Chavez. Desde essa altura, o artista tem participado numa série de outros projectos, dando conferências em convenções internacionais de magia e criando truque de ilusão inéditos. Lu já havia actuado na mesma sala de es-Lu já havia actuado na mesma sala de es-pectáculos em 2012.

O preço dos bilhetes para assistir ao espectáculo Dazzle Lu Chen Macao varia entre as 280 e as 1280 patacas, dependendo do lugar escolhido.

Colectânea de ensaios sobre a herança chinesa

“A Herança de Confúcio”, livro lançado em Novembro do ano

passado, é uma colectânea de dez ensaios que versam sobre a China, englobando assuntos como a filosofia clássica chinesa, negócio, economia e política e literatura tradicional do país. Esta obra, que foi organizada e parcialmente escrita por Sun Lam, foi publicada pelo Instituto Confúcio, da Universidade do Minho, instituição académica onde Sun lecciona, simultaneamente chefiando o departamen-to de estudos asiáticos.

A obra é composta por dez ensaios académicos e pretende introduzir o leitor a uma breve história da China. “Qualquer curioso com apetência por conhecer melhor a China poderá usufruir deste livro”, lê-se no prefácio de “A Herança de Confúcio”.

PRODUTOR DOS DEPECHE MODE , DJ TIGERSKIN, SÁBADO NO GOLDEN BAR

Ministro do som

French May Vinhos de Rhone Valleye cinema francês em Macau

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POR NÃO QUERER NEM GOVERNO NEM ESTADOPARA UMA NARRATIVA POLÍTICA DOS 35 ANOS DOS XUTOS

Fernando ramalhoIN ESQUERDA.NET

E NTRE 25 e 29 de Julho de 1983 tinha lugar, no Carvalhal, em Tróia, o festi-val «Dêem uma Oportunidade à Paz», uma iniciativa de grande dimensão

organizada por um movimento unitário que, na altura, intervinha em torno dos problemas da paz, com particular destaque para a luta contra as armas nucleares. Tinha fomentado, por exemplo, cerca de um mês antes, um forte movimento contra a instalação de material nu-clear norte-americano na Base Aérea de Beja. Do cartaz do festival faziam parte uns então relativamente desconhecidos Xutos & Ponta-pés. Quando entraram no palco, depararam-se com um cenário desolador. Explica Kalú: «O público estava muito longe do palco. (…) em vez de porem as pessoas ali à frente, rodearam a zona da mesa de mistura com grade onde só deixaram entrar os jornalistas, que entretanto estavam todos na copofonia atrás do palco, onde era o bar. Aquilo parecia mesmo o de-serto, com as luzes via-se um cabo enorme e preto em cima da areia, a mesa, e o público lá ao fundo a dormir…»i Face àquilo, Zé Pedro, assim que entra no palco, pega no microfone e diz: «A grande diferença que existe entre nós e vocês é que gente já não acredita na Paz!»iiAquela declaração não só teve o con-dão de atrair para a frente do palco, perante a incapacidade da organização do festival para «resolver o problema», a enorme massa hu-mana que se amontoava, a muitos metros de distância, em sacos-cama, como despertou a curiosidade dos jornalistas. Os Xutos conse-guiram mesmo, pela primeira vez, ser capa do semanário Se7e, na semana seguinte, com uma entrevista a Belino Costa. Aí, pode ler-se: «“Fiquei espantado quando o Zé Pedro fez tais afirmações”, conta o Tim. “Ele exprimiu, afinal, o pensamento do grupo. De facto, já não acreditamos em manifestações pacifistas. Para o poder é bem melhor a existência de um Festival da Paz do que uma greve de estiva-dores. Por outro lado, a questão da Paz não se resume ao nuclear. Quando, por exemplo, em França se despedem 9 mil trabalhadores da Renault isso é uma forma de violência e guerra. Em Almada por certo que vai haver problemas quando começarem a despedir gente na Lisna-ve. Não será isso tão agitador quanto a passa-gem de armas nucleares em Portugal? Estamos muito mais preocupados com a violência do dia-a-dia do que com as armas nucleares!”»iii

Vale a pena determo-nos um pouco sobre o Portugal de 1983. Cerca de um mês e meio antes do referido festival, tomara posse o IX Governo Constitucional, o chamado governo do Bloco Central, composto por uma aliança entre o PS de Mário Soares e o PSD de Carlos da Mota Pinto. A situação económica e social era caótica e, em meados de Agosto, o Go-verno assinou uma «carta de intenções» com o FMI, um acordo para o que seria a segunda intervenção em Portugal daquela instituição desde o 25 de Abril. O impacto conjuga-do da débil situação económica e financei-ra e das medidas ultra-austeritárias do FMI foi brutal: inflação à volta dos 30 por cento, congelamento de salários e do investimento público, falências e despedimentos em cata-dupa, dezenas de milhares de trabalhadores com salários em atraso, quebra abrupta do consumo interno, etc. Ficaram na memória

A MUNDIVIDÊNCIA DOS XUTOS SEGUIU SEMPRE MUITO A PAR DO VIVER

QUOTIDIANO DOS SEUS MEMBROS QUE, POR SUA VEZ E COMO SERÁ NATURAL QUE SUCEDA, É INSEPARÁVEL DOS

ALTOS E DOS BAIXOS, DOS SUCESSOS E FRACASSOS, DE UM PERCURSO DE 35 ANOS,

QUE NO CASO DOS XUTOS É TUDO MENOS LINEAR

(Continua na página seguinte)

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14 hoje macau quinta-feira 15.5.2014h

algumas declarações do primeiro-ministro Mário Soares, como «Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos»iv ou a célebre «Os problemas eco-nómicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto»v.

Num tal ambiente, era o conflito, e não a paz, que estava na ordem do dia. A «violência do dia-a-dia» de que falava Tim era o substrato da ressaca pós-revolucionária, com todo o seu cortejo de desilusões e frustrações. No lugar do sonho da «cidade sem muros nem ameias» instalara-se a sensação da ausência de futuro. E os Xutos, ainda longe da condição de «insti-tuição» que atingiriam daí a uns anos, eram ac-tores nesse cenário. É desse período a canção «Futuro» – embora tenha sido editada apenas em 1990, no álbum Gritos Mudos – que, tra-duzindo o ar dos tempos, dizia precisamen-te: «Futuro que era brilhante / Embaciou-se a pouco e pouco / Os passos ficaram lentos / Dando certezas de louco / O desencanto é tão seco / Como a luz que me rodeia / E as coisas que não fiz / Envolvem-me como a teia.»

Em 1983, reduzidos a trio, depois do fra-casso comercial de um álbum e dois singlesvi, os Xutos carregavam o fardo do desencanto. E o desencanto resultava não apenas da circuns-tância de terem sido apanhados no refluxo do chamado «boom do rock português»vii, mas sobretudo porque esse refluxo era uma das componentes de um viver quotidiano cada vez mais castrador e claustrofóbico. A vida era dura, e a música dos Xutos reflectia essa dureza. Mais: os Xutos, eles próprios, eram personagens das suas canções. Em 1983, Tim saltava de emprego em emprego, enquanto tentava terminar a licenciatura em Agrono-mia, Zé Pedro era escriturário e Kalú traba-lhava na pequena empresa corticeira da famí-lia. Este último, mais de 20 anos depois, quan-do perguntado sobre como surgira a canção «Homem do Leme», respondia: «Foi uma das primeiras músicas que o Tim fez para a banda. Não sei bem porque é que ele a escreveu, mas revela os problemas sociais daquela altura. Éramos da classe operária e sentíamos as difi-culdades naturais dos trabalhadores.»viii Man-ter, naquele contexto, uma banda de rock com pretensões de perenidade, recusando concessões estéticas e políticas, pareceria naturalmente uma tarefa impossível. Mas era justamente a determinação de seguir por esse caminho, apesar do desencanto, que consti-tuía a estratégia de intervenção no conflito. Esta história, porém, começa uns anos antes, ainda na segunda metade da década de 1970.

Dantes, o tempo corria lentoCostuma-se localizar o início da história

dos Xutos em 13 de Janeiro de 1979, no céle-bre concerto nos Alunos de Apolo, mas vale a pena recuar uns meses, até ao momento em que Zé Pedro, no meio de um InterRail, as-siste a um festival punk em Mont-de-Marsan, em França, onde viu, entre outros, os The Clash: «Cheguei lá uns dias antes, Mont-de--Marsan era quase uma aldeia e as pessoas trancaram-se em casa com medo. Quando os punks começaram a chegar foi a grande con-fusão, entravam nas poucas lojas que tinham ficado abertas e aviavam-se sem pagar. (…) No terceiro dia do festival foi o Lou Reed. Entrei à borla, foi uma sorte porque os fran-ceses tinham uma segurança com um ar super--organizado que conseguia manter as pessoas cá fora a cinquenta metros das portas, tinham isolado os acessos às portas com grades… e, mal o espectáculo começou, fecharam as por-tas da praça de touros. Aí começou o assalto – cocktails Molotov a voar, bidões de gasolina a arder (…) Quando voltei rapei o cabelo todo, meti um alfinete na boca (…)»ix

Se em Inglaterra o chamado movimento punk explodia como reacção ao establish-ment cultural e político, e na verdade à deca-dência de toda uma civilização que via implo-dir as expectativas de um futuro radioso e de progresso em que assentara o capitalismo dos

«30 anos gloriosos» do pós-guerra, as parti-cularidades da situação portuguesa acrescen-tavam alguma complexidade ao problema. Se havia coincidência na sensação de ausência de futuro, em Portugal essa sensação decorria do impacto no quotidiano do percurso de uma revolução que, apenas quatro anos antes, se construíra justamente a partir de uma promes-sa de futuro. Se é verdade que só com alguma generosidade se pode falar de algo como um movimento punk em Portugal – na verdade, até faria mais sentido dizer Lisboa… – no final dos anos 1970, seria muito apressado concluir que a pequena movida de umas poucas deze-nas de pessoas que formavam bandas, pro-duziam fanzines, trocavam discos, etc., não tinha a capacidade de traduzir um sentimento que se generalizava muito para lá dos seus in-tervenientes. Era um profundo tédio a marca de uma vida quotidiana cuja expectativa mais optimista que era capaz de gerar era a de uma vidinha previsível e vazia, da escola para o trabalho, do trabalho para casa. «Submissão», uma das primeiras canções dos Xutos – ainda que só tenha sido editada mais tarde, no lado B do single «Se Me Amas», de 1989 –, canta-da por Zé Pedro, dizia: «Eu deixei a escola e fui trabalhar / Mas é pior do que andar a estu-dar / São oito horas por dia, é muito a aturar / É tanto tempo que nem dá para pensar».

A tensão entre o risco de uma vida mise-rável e a possibilidade do remedeio do tra-balhinho honesto expressava uma oposição que era recusada à partida, e o que se ques-tionava era precisamente um modo de viver que fazia depender uma eventual felicidade futura do sacrifício castrador do presente. E, também por isso, perdia sentido sequer tentar imaginar o futuro; do que se tratava era, pelo contrário, da negação prática, quotidiana, do tédio do presente, da recusa das meias tintas. Como se cantava em «Quero Mais», lado B do single «Sémen», de 1981, «Eu sei lutar até ao fim / É tudo ou nada». Na sua primeira apa-rição na TV, em Agosto de 1981, no progra-ma da RTP Haja Música, à pergunta «Além da música, em que é que acreditam: têm al-guma ideologia, alguma religião?», Zé Pedro respondia: «Eu, quanto a mim, reajo em cima dos acontecimentos, não é preciso haver nada estabelecido. Um gajo apresentar-se como ele é. Não há padrões»; a que acrescentava Tim: «Não há linha de orientação.»x

Numa curta-metragem de 1987, Um dia destes…xi  – em que os próprios Xutos são protagonistas, com Anamar, Manuel Mozos, entre outros –, Edgar Pêra traça um retrato impressivo de um dia banal na vida da cidade nos tempos da «normalização democrática». Por entre uma sucessão rocambolesca de mal--entendidos acerca do desaparecimento de 250 contos que o paquete de uma loja deve-ria depositar no banco, um grupo de pessoas prepara, para o fim do dia, uma festa com um concerto de uma banda de rock – os Xutos – numa oficina automóvel, aproveitando a circunstância da previsível ausência do pa-trão. As várias personagens vão-se cruzando,

de uma forma ou de outra, ao longo do dia e mobilizando para a noite, acabando todos por se encontrar na festa. Na sequência de uma queixa pelo desaparecimento dos 250 contos, o dono da oficina acaba por aparecer com a polícia, e termina a festa. No subtexto da trama está a claustrofobia do quotidiano, do trabalho para ganhar a vida, e a estratégia de fuga, a supressão do tempo mecânico do dia--a-dia pela quimera voraz do gozo e da festa, com tudo o que isso implicava de conflito e cumplicidades, de polarização e de imprevisi-bilidade. Como afirma Zé Pedro, numa peça do jornal Blitz de 1985, «“Renunciar ao estado de gozo é o pior que pode acontecer” – diz. – “É a tal cena da ganza e da ressaca: há os que optam por não se ganzarem para não terem ressacas e há os outros”»xii. «Dantes, o tempo corria lento, meu / Dantes, matava-se o tempo teu / Mas tudo isso passou / Foi o tempo que me matou», cantava-se em «Dantes», segun-da faixa do álbum 1978-1982.

A história do segundo concerto da vida dos Xutos, que assinalava os 11 anos do Maio de 68xiii, em 5 de Maio de 1979, com os Raios e Coriscos, os Minas & Armadilhas e os Aqui d’El Rock – uma banda punk de marginais do Bairro do Relógio que chegou a editar dois singles, um deles, de 1978, com o significativo título «Há que Violentar o Sistema» –, no Liceu D. Pedro V, fornece uma imagem intensa da produção desse tempo suspenso, sem futuro, o tempo da cumplicidade, do gozo e da festa. Leia-se, por exemplo, o que escrevia Pedro Ferreira, na edição de Maio de 1979 da revista Música & Som, a propósito deste concerto: «Há quem não tome o fenómeno Punk a sério. O recente concerto no Liceu D. Pedro V, em Lisboa, pôs uma vez mais em causa essa atitude. O Punk tem uma vitalidade própria, como prova o apa-recimento de novos (poucos, é pena) grupos do género, como o Raios e Coriscos, o Minas & Armadilhas SARL e o Xutos e Pontapés, que actuaram conjuntamente com o Aqui d’El Rock no Liceu referido. (…) Voltando ao concerto, foi significativo um dos verdadeiros rebeldes ter pedido o microfone para dar um grito; no fundo, o denominador comum daquela malta era o grito de “estamos vivos”. Mas a comunica-ção entre o grupo no estrado e a audiência era unívoca, porque o som nebuloso e esmagador apagava a contestação, o pluralismo, ao mesmo tempo que criava a atmosfera intemporal do milagre: o cigarro que se pede, a cerveja que se bebe, os teus olhos nos meus olhos… milagre afectivo, comunicação outra entre indivíduos flutuando nas nuvens de ruído amigo, milagre musicalmente passivo, milagre na superfície… o Punk à superfície do milagre!»xiv Ainda a pro-pósito desse concerto, relata Zé Pedro: «Esta-vam lá os punks da Amadora, gostaram tanto que não nos largaram porque queriam que fôssemos partir montras com eles para a Av. de Roma.»xv

CERCADOS NA CIDADEHá duas referências bastante recorrentes nas canções dos Xutos, sobretudo até ao terceiro

quarto dos anos 1980: a cidade e o rio. Não é difícil imaginar que é do cenário concreto das suas vivências que se fala, da Zona Oriental de Lisboa, onde crescera e vivia Zé Pedro, a Al-mada, onde vivia Tim. Mas a verdade, porém, é que a cidade e o rio que surgem nas canções dos Xutos não são nunca nomeadosxvi. Se o rio é aqui visto como uma espécie de barreira que se interpõe entre duas margens sem esperança – por exemplo, em «Longa se Torna a Espera» (1984), «E quando eu apanhar finalmente / O barco para a outra margem / Outra que finde a viagem / Onde se espere por mim / Terei, terei mais uma vez a força / Para enfrentar tudo de novo / Como a galinha e o ovo / Num repetir de desgraças», ou em «Desemprego» (1987), «Sentado à beira do mar / Ouvindo as ondas rolar / E uma gaivota no ar / Flecte as asas ao virar / Dá-me um sinal p’ra voltar» –, já a cidade é a abstracção que designa o pal-co do conflito quotidiano – por exemplo, em «Cerco» (1985), «Quando o céu escurecer / E quando o chão reflectir / O colorido da cida-de / Os ratos saem da esquadra / Defendendo a sociedade / E andam para a frente / E andam para trás / E o que magoa também satisfaz / E olham para um lado / E olham para o outro / E vêem-me a mim / Estou cercado / Na cidade», ou em «Esta Cidade» (1987), «A polícia já tem o meu nome / Minha foto está no ficheiro / Porque eu não me rendo / Porque eu não me vendo / Nem por ideais / Nem por dinheiro / E como eu sou e quero ser sempre assim / Um rio que corre sem princípio nem fim / O poder podre dos homens normais / Está a tentar dar cabo de mim».

A cidade abstracta das canções dos Xutos é então o cenário da repressão e do confron-to com o poder, e os rostos desse poder são, em vários casos, como nos dois exemplos re-feridos, explicitamente o Estado e a polícia. Essa identificação clara do «outro lado da luta»xvii  encontrava eco no posicionamento da banda face aos aspectos marcantes da situ-ação política da época. Veja-se, por exemplo, a declaração de Zé Pedro, na abertura de um concerto no Rock Rendez-Vous, a 6 de Julho de 1984: «“Esquadrão da Morte”, e nós lem-bramo-nos das FP-25 quando tocamos.»xviii E seguia a canção: «Por não querer aquilo que me é dado / Por não querer nem governo nem Estado / Por não ter nada e por tudo querer / Esquadrão da morte faz-me correr.» Note-se que, no mês anterior, tinha ocorrido aque-la que ficou conhecida como a «Operação Orion», uma operação policial de grandes dimensões que resultou na detenção de cer-ca de 40 pessoas alegadamente associadas às FP-25.

A VIDA QUE SE JOGA SEM NENHUMA RAZÃOPara todos os efeitos, a mundividência dos Xutos seguiu sempre muito a par do viver quotidiano dos seus membros que, por sua vez e como será natural que suceda, é inse-parável dos altos e dos baixos, dos sucessos e fracassos, de um percurso de 35 anos, que no caso dos Xutos é tudo menos linear. Quan-do, no início de 1987, editam o álbum Circo de Feras, o primeiro para uma editora mul-tinacional e que abriria uma fase de enorme popularidade que duraria, grosso modo, até 1989/90, os tempos da banda de culto, de cer-ta forma marginal, de combate, começavam a ficar para trás e inaugurava-se a era da banda profissional, reconhecida, tomada como uma espécie de porta-voz de uma geração tida como capaz de, com determinação e perse-verança, enfrentar as dificuldades e ser bem--sucedida. Ainda que diferente do tom mais pop e optimista do álbum seguinte, 88, Circo de Feras é uma espécie de álbum de transição em que coexistem canções como «Esta Cida-de» (já referida acima) e outras marcadas pela afirmação da esperança, como «Contentores» («É uma escolha que se faz / O passado foi lá atrás / E nasce de novo o dia / Nesta nave de Noé / Um pouco de fé») ou «Não Sou o

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15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 15.5.2014

Único» («E quando as nuvens partirem / O céu azul ficará / E quando as trevas se abrirem / Vais ver, o sol brilhará»). E, efectivamente, o sol brilhou. Ao longo de 1987, 1988 e gran-de parte de 1989, os Xutos percorrem o país com centenas de espectáculos, das aldeias re-cônditas do Interior aos pavilhões esgotados das grandes cidades. O 7.º Single, que inclui o mega-êxito «Minha Casinha», ultrapassa os 50 mil exemplares vendidos, tornando-se dis-co de platina, tal como sucede com os álbuns 88 e Ao Vivo. Os Xutos apanham finalmen-te o comboio da fama – uma geração inteira, rendida aos seus heróis, a cantar a «Casinha» e a «Maria».

E no entanto, quando nada o faria prever, o «repetir de desgraças» regressa. As vendas de discos desaparecem, os grandes concertos desaparecem, o público desaparece. Entre 1990 e 1995, os Xutos voltam a atravessar o calvário do desencanto. O álbum Gritos Mu-dos, editado em 1990, resulta num enorme flop comercial. O público já não aderia como antes, e os Xutos voltam às salas pequenas, com audiências que raramente ultrapassam as poucas centenas de pessoas. Tal como Circo de Feras, uns anos antes, Gritos Mudos é tam-bém um álbum de transição, mas desta vez ao contrário: enquanto o primeiro antecipava o sucesso, este parecia antecipar o abismo. Além de recuperar canções antigas nunca an-tes editadas como «Futuro» (já referida acima) ou «Gritos Mudos» («Gritos mudos chaman-do a atenção / Para a vida que se joga sem nenhuma razão»), o álbum incluía canções como «Gente de Merda» («Quero sair, mas não sei por onde / Não quero ficar, mas vou ficando / Vou arrastando toda esta angústia / Já não tenho forças») ou «Melga», uma críti-ca às políticas de Fernando Collor de Mello, presidente à época do Brasil, onde o álbum foi gravado («Já farto de ouvir promessas / Pensas que ainda vou nas conversas / De alguém que p’ra mim é uma melga»).

Numa entrevista ao Blitz, em Julho de 1990, as palavras de Tim transpiram um certo ambiente de amargura que a banda vivia, na decorrência quer do problema da queda das vendas e da popularidade quer das tensões internas que isso provocava: «(…) porque depois do trabalho que tivemos com a prepa-ração do disco (…), agora que o disco está publicado, está tudo a bater ao lado… (…) Eu acho que o que faz o culto de uma ban-da é o trabalho dela. Quando isso é massifi-cado, como no nosso caso, transforma-se em objecto de venda. Em certa fase foi isso que aconteceu. (…) Estou perfeitamente à vonta-de, até por não ter sido eu a criar esse culto, mas o público e a Imprensa. Por outro lado, no nosso caso, quero acreditar estarmos numa situação de transição. (…) os princípios nun-ca se devem expor, nunca se devem cristalizar. O que deve ser encarado é que há mudanças, ou para melhor ou para pior. Essas mudanças têm sempre contrapartidas e uma das contra-partidas que se tem é perder-se o culto ou uma certa franja de público.»xix

No Verão de 1990 estreia, no Clube Es-tefânia, a peça de 1978 Inimigosxx, do inglês Nigel Williams, encenada por José Wallers-tein, com banda sonora dos Xutos, com a canção «Tu Aí». Numa escola de uma zona degradada dos subúrbios de Londres, meia dúzia de adolescentes são deixados entregues a si próprios numa sala de aula. Enquanto es-peram a chegada do professor, inventam eles próprios estratégias de ocupação do tempo, acabando por traçar aquilo que, para uma classe média bem-sucedida, seria o retrato da forma como as classes desfavorecidas se viam a elas próprias. Explica o encenador: «Inimi-gos fala de uma sociedade democrática insti-tucionalizada, com classe média desenvolvi-da, com operariado já instalado, é uma peça do “pré-Tatcherismo”, não é? Aliás, eu acho que há um paralelismo entre essa situação e a situação política “cavaquista” que nós vive-

mos presentemente. Inimigos fala da massi-ficação da INSTITUIÇÃO e dos problemas que se colocam às pessoas que vivem – e são a grande maioria – nas franjas das grandes cidades.»xxi De novo o tema da cidade, ago-ra já numa situação diferente, perante novos problemas, que, no caso dos Xutos tinha de novo uma tradução na angústia de um futuro incerto: «Tu aí! / Espero alguém chegar / Que-res assim / Alguém p’ra me orientar / Ficas aí? / Tenho que me aguentar / Até ao fim / Será que me vou salvar?»

Com os dois álbuns seguintes, Dizer Não de Vez e Direito ao Deserto – grava-dos em simultâneo mas editados, respectiva-mente, em 1992 e 1993 –, parece assistir-se a uma espécie de regresso dos Xutos às ori-gens, a uma postura de combate e contesta-ção, de amplificação dos problemas sociais e das lutas necessárias, mas igualmente de afirmação da determinação de, enquanto banda, não ceder à lógica do sucesso e às suas vicissitudes. Numa entrevista à revista Ritual, no início de 1993, afirmam: «É dizer NÃO a uma série de atitudes conformistas e passivas que nos têm estado a habituar a ter, como pessoas. Cada vez mais, as pessoas são iguais umas às outras, os problemas de uns são semelhantes aos dos outros, e anda-se a tentar oferecer às pessoas um ideal de vida que é casa-trabalho-trabalho-casa, e ainda por cima, compras um carro para ficares mais empenhado, teres que trabalhar mais… (…) Ainda nos incomoda essa posição de objec-tos de consumo. (…) Em certa medida, é um regresso às origens (…) Neste disco fizemos o que nos estava a apetecer fazer, o que nos deu na cabeça. (…) Conseguimos abstrair--nos da importância daquilo que estávamos a fazer e da importância que as pessoas lhe poderiam dar. E este tipo de abstracção só o conseguimos fazer até ao Cerco. A partir do Circo de Feras, todos queriam saber o que os Xutos & Pontapés iam fazer e isso começou a pesar de tal maneira que nos demos muito

mal com essa história. (…) já não jogavas pelo prazer… Era só pela receita!»xxii

Os problemas sociais, mas também um certo sentido de luta e solidariedade, regres-sam em força às canções dos Xutos, como em «Dia de S. Receber» («Este dia a dia é duro / É duro de se levar / É de casa p’ró trabalho / E do trabalho p’ró lar // Já não chega o que nos tiram / À hora de pagar / É difícil comer solas estufadas ao jantar / De histórias mal conta-das / Anda meio mundo a viver / Enquanto o outro meio / Fica à espera de receber»), «Ve-lha Canção da Cortiça» («O sobreiro desnu-dado / Enfrenta o sol com a mesma estupidez / Com que um operário cansado / Regressa a casa mais uma vez / E tudo, tudo, se repete / E tudo, tudo, se repete / No ciclo da produção / Acelera-se o consumo / Para dar a sensação / De que esta vida tem rumo / E tudo, tudo, se repete / Seja em nove anos ou num só dia / Só nos velhos se reflecte / O extorquir da mais valia») ou «Direito ao Deserto» («Triste sina / De quem se julga mais fraco / A vossa sina / Ó carneirada mole / Ajudem-se / Ajudem-se / Não tenho medo dos lobos / Nem paciência para o teu pastor / Ovelha negra / Carneiro preto / Eu vou direito ao deserto»).

Evidentemente, os Xutos dos anos 1990 já não são os Xutos da década anterior. Não só toda a envolvente era diferente como o percurso sinuoso da banda até aí determinara problemas de outra natureza. Como é óbvio, estar atento aos problemas sociais, e reflectir essa observação nas canções que se escreve, não é a mesma coisa que ser actor do confli-to quotidiano que esses problemas traduzem. Numa entrevista ao Independente no final de 1993, Zé Pedro explica o que mudou: «O que é que mudou na vida real? Agora somos profis-sionais da música e antigamente não éramos. De facto, agora as preocupações são outras. Sei lá, já não precisamos de andar de táxi.» E Tim acrescenta: «Nunca soubemos nem sabe-mos o que nos pode acontecer. As incertezas existem sempre. Dantes era o dinheiro para o

táxi, agora é saber se temos dinheiro para fa-zer uma série de concertos em França. Coisas desse género.»xxiii

O QUE FOI NÃO VOLTA A SER, MESMO QUE MUITO SE QUEIRAO final de 1995 marca o início de um novo percurso de sucesso que se mantém até hoje, com a edição do álbum Ao Vivo na Antena 3, uma revisitação de canções do já então vasto repertório da banda arranjadas em formato acústico. Uma momentânea inflexão estética revelou-se de grande eficácia do ponto de vis-ta comercial. Mas esta nova fase de sucesso é fundamentalmente diferente da anterior, da do final dos anos 1980. Se nessa altura os Xutos eram vistos como uma espécie de porta-vozes de uma geração, dos seus anseios e expectati-vas, o que agora se iniciava era a elevação dos Xutos à condição de «instituição nacional». A partir daí, não era já apenas uma geração que os via como heróis, mas toda uma nação que os reconhecia como seus símbolos. O processo de «nacionalização» dos Xutos tem um ponto alto na comemoração dos 20 anos da banda, no início de 1999, com a edição de uma fotobiografia e da colectânea XX Anos XX Bandas, um álbum de tributo de 20 bandas e artistas nacionais, mas sobretudo com um concerto num praticamente esgotado Pavilhão Atlântico, a 20 de Março. Dois dias depois, no jornal Público, descreve-se o ambiente, numa peça significativamente intitulada «Uma festa portuguesa»: «Entre o público que quase en-cheu anteontem à noite o Pavilhão Atlântico, viu-se muita gente com a bandeira portuguesa pelos ombros. Afinal, era de uma celebração nacional que se tratava. Não eram apenas os 20 anos de uma banda, mas sim os 20 anos da mais portuguesa das bandas rock. Foi por isso apropriado que o concerto de aniversário dos Xutos & Pontapés tivesse acontecido no Par-que das Nações, em Lisboa – tal como a Expo-98, os Xutos transformaram-se numa glória nacional. Não é que eles sejam uma banda nacionalista, ou que o concerto de sábado fos-se concebido como uma exaltação patriótica. Mas, ao fim de 20 anos, os Xutos tornaram--se numa fonte de orgulho pátrio, alcançando um estatuto único no rock português. Há uma “portugalidade” intrínseca à banda de “Gritos Mudos” (…) Com toda a gente a seu lado e as luzes já acesas, os Xutos terminaram em apo-teose com “A Minha Casinha”, a mais lusitana das canções, cantada em coro pelo público. Depois do final, no caminho para casa, ainda se ouve no metropolitano um grupo de jovens a cantar o hino nacional e a gritar “Portugal, Portugal”. Uma festa portuguesa, portanto.»xxiv

Cinco anos depois, a 10 de Junho de 2004, os Xutos seriam agraciados pelo Presidente da República Jorge Sampaio, em conjunto, entre outros, com a especialista em culinária Maria de Lurdes Modesto, com o grau de comendadores da Ordem de Mérito, que distingue «actos ou serviços meritórios que revelem desinteresse ou abnegação em favor da colectividade, no exercí-cio de quaisquer funções, públicas ou privadas».

A partir daí, pode dizer-se, tudo o resto é história, e é uma história bem conhecida. O que, porventura, estará ainda por reflectir é o que terá sucedido para que uma banda cuja marca era o dissenso e a ruptura se tenha torna-do símbolo de um consenso que, naturalmente, esbate as fronteiras que dividem os conflitos do quotidiano, que torna indistintos os «lados da luta». Não é fácil encontrar alguma indicação nesse sentido nas canções dos Xutos até ao final dos anos 1990 (nem mesmo depois disso…). Talvez uma análise mais aprofundada das con-dições políticas, sociais e culturais do Portugal da segunda metade dos anos 1990 possa for-necer algumas pistas, mas essa reflexão terá de ficar para uma próxima oportunidade.

Será então que podemos afirmar que os Xutos perderam a sua, digamos assim, veia

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16 hoje macau quinta-feira 15.5.2014h

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Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 10 de Abril de 2014, se encontra aberto o Concurso Público para a “Prestação de Serviços de Limpeza das Unidades de Saúde da Área de Cuidados de Saúde Generalizados e do Centro de Prevenção e Controlo da Doença”, cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 14 de Maio de 2014, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.º andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de $71.00 (setenta e uma patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

Os concorrentes deverão comparecer na sala “Auditório” situada no r/c do Edifício da Administração dos Serviços de Saúde junto do C.H.C.S.J. no dia 19 de Maio de 2014 às 9,30 horas para uma reunião de esclarecimentos

ou dúvidas referentes ao presente concurso público seguida duma visita aos locais a que se destinam a respectiva prestação de serviços.

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 12 de Junho de 2014.

O acto público deste concurso terá lugar no dia 13 de Junho de 2014, pelas 10,00 horas, na sala do “Auditório” situada no r/c do Edifício da Administração dos Serviços de Saúde junto ao C.H.C.S.J..

A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de $236.000,00 (duzentas e trinta e seis mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 2 de Maio de 2014.

O Director dos Serviços,Lei Chin Ion

Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 10 de Abril de 2014, se encontra aberto o Concurso Público para a “Prestação de Serviços de Aluguer de Equipamentos para Oxigenoterapia Domiciliária aos Serviços de Saúde”, cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 14 de Maio de 2014, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.º andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de $33.00 (trinta e três patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website dos S.S. (www.ssm.gov.mo).

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral

destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 9 de Junho de 2014.

O acto público deste concurso terá lugar no dia 10 de Junho de 2014, pelas 10,00 horas, na sala do “Auditório” situada junto ao C.H.C.S.J..

A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de $75.280,00 (setenta e cinco mil e duzentas e oitenta patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 2 de Maio de 2014.

O Director dos Serviços,Lei Chin Ion

ANÚNCIOCONCURSO PÚBLICO N.º 8/P/2014

ANÚNCIOCONCURSO PÚBLICO N.º 11/P/2014

contestatária e interventiva? Não necessaria-mente. Aliás, podemos encontrar esse olhar crítico em várias canções dos últimos anos. Veja-se, por exemplo, a canção «Ligações Di-rectas», do último álbum da banda, Puro, so-bre os recentes cortes de energia do Bairro do Lagarteiro, no Porto: «Quanto mais têm mais querem de mim / Como o gasóleo tudo pode subir / Só o teu salário continua a descer / Tu não crês em ligações directas / Olha aqui es-tas feridas abertas / Por onde escorreu o nosso dinheiro / E se derreteu um futuro inteiro / Tu, morrer de fome e de frio primeiro / Aqui no bairro do Lagarteiro.» Ou «Sem Eira nem Bei-ra», do álbum homónimo de 2009: «Senhor engenheiro / Dê-me um pouco de atenção / Há dez anos que estou preso / Há trinta que sou ladrão / Não tenho eira nem beira / Mas ainda consigo ver / Quem anda na roubalheira / E quem me anda a foder.» É, porém, signi-ficativa a polémica que se gerou a propósito desta última canção quando, por razões que

são óbvias pela referência ao «senhor enge-nheiro», foi vista como uma espécie de ma-nifesto contra o primeiro-ministro de então, José Sócrates, intenção de imediato recusada pela banda. Pode ler-se numa peça do jornal

Público: «Interpretar esta faixa, cantada pelo baterista Kalú, como um hino contra as polí-ticas do Governo socialista é “deturpar” a in-tenção do grupo. “Não há aqui alvos a abater”, diz [Zé Pedro], em resposta ao facto de o re-frão começar com a frase Senhor engenheiro, dê-me um pouco de atenção. “Não queremos fazer um ataque político a ninguém. A letra exprime mais um grito de revolta. E é um aler-ta para o estado da Justiça e para uma classe política em geral que, volta e meia, toma ati-tudes que deixam os cidadãos desamparados”, justifica. (…) Zé Pedro, que, diz, até “simpa-tiza” com o primeiro-ministro José Sócrates, aponta ainda que quando Tim, o vocalista, es-creveu o texto para a música de Kalú, tiveram de optar entre “senhor engenheiro” e “senhor doutor”: “Optámos por engenheiro por causa do actual primeiro-ministro, mas nunca quise-mos fazer um ataque político directo.”»xxv

Os Xutos que agora comemoram 35 anos de carreira são, evidentemente, diferentes dos

Xutos que se lembravam das FP-25 quando tocavam «Esquadrão da Morte» ou que sen-tiam «as dificuldades naturais dos trabalhado-res», tal como a realidade em que produzem a sua música mudou profundamente. Goste-se mais ou menos dos Xutos tornados símbolos nacionais, consensuais mesmo quando as suas canções são mais críticas, seria patético tanto qualquer tique saudosista quanto qualquer ju-ízo moralista. Isso só poderia resultar de uma visão que atribui à arte e aos artistas um papel redentor que manifestamente não têm. Os Xutos de 1984 não salvaram a revolução e os Xutos de 2014 não salvarão a nação. O que porventura fará sentido, aproveitando a data redonda, é reflectir sobre a forma como a arte e os artistas se produzem em relação com a realidade quotidiana concreta, bem como, em sentido inverso, intervêm na produção dessa mesma realidade. E para essa reflexão, a his-tória dos Xutos – toda a história dos Xutos – pode fornecer um excelente contributo.

Notasi  Ana Cristina Ferrão, Conta-me Histórias, Lisboa, Assírio & Alvim, 1991, p. 74.ii  Id., ibid.iii  Belino Costa, «Xutos & Pontapés: “Já não acreditamos na Paz!”», Se7e, 3

de Agosto de 1983.iv  Entrevista à RTP, 1 de Junho de 1984.v  Diário de Notícias, 27 de Maio de 1984.vi  Por essa altura, tinham tido já três canções – «Sémen», «Mãe» e «Avé

Maria» – proibidas de passar na Rádio Renascença e com uma «recomen-dação» para que não passassem na RDP.

vii  Nos últimos anos tem sido desmistificada a ideia falsa de que só a partir do final da década de 1970 se editou discos de rock em Portugal. Toda a narrativa do chamado «boom do rock português», promovida ao longo de décadas, sempre assentou nessa premissa. Na verdade, desde o final dos anos 1950, e de forma ininterrupta, que se faz e edita música rock em Portugal. Ver a esse respeito a colectânea de quatro discos Portugue-se Nuggets (Galo de Barcelos Records, 2006-2007), o documentário de Eduardo Morais Meio Metro de Pedra (2011) e o livro de Edgar Raposo e Luís Futre Portugal Eléctrico! Contracultura Rock 1955-1982 (Groovie Records, 2013).

viii  Mary Caiado, «Contem-nos histórias do que ouvimos», Metro, 20 de Julho de 2005.

ix  Ana Cristina Ferrão, Conta-me Histórias, p. 21.x  Reportagem do programa Haja Música, RTP, Agosto de 1981, incluída

no DVD Xutos & Pontapés, Ai a P*** da Minha Vida, Universal Music Portugal, 2006.

xi  O filme está incluído nos «Extras» do DVD Xutos & Pontapés, Ai a P*** da Minha Vida.

xii  Rui Monteiro, «Seis anos ao Xuto e Pontapé», Blitz, 8 de Janeiro de 1985.xiii  O cartaz reproduzia uma imagem de repressão policial em 68.http://4.

bp.blogspot.com/_MsYnJQeQXWw/SAOoo3zPYQI/AAAAAAAAAto/CSuoO4Aj7E....

xiv  Pedro Ferreira, Música & Som, Maio de 1979. Consultado em www.punk.pt/2014/01/15/genese-do-punk-em-portugal-o-local-e-o-global.

xv  Ana Cristina Ferrão, Conta-me Histórias, p. 40.xvi  A primeira canção explicitamente sobre a cidade de Lisboa, «Lisboa, A

Magnífica», surge apenas em 1993, no álbum Direito ao Deserto («O Sol nasce / No sítio do costume / E crescem prédios / Em lugares sem nome / No Bloco C, na Rua H, no 2.º andar / Dizemos adeus / Até ao jantar»). Não se considera aqui as referências de passagem e circunstanciais a Lis-

boa, ou a partes dela, em canções como «P’ra Ti Maria» e «Enquanto a Noite Cai», de 1988, ou «Sirenes», de 1990.

xvii  Ainda a canção «Esta Cidade»: «Quer eu queira / Quer não queira / No meio desta liberdade / Filhos da puta / Sem razão / E sem sentido / No meio da rua / Nua, crua e bruta /Eu luto sempre do outro lado da luta.»

xviii Esta declaração ficou registada em disco na colectânea Ao Vivo no Rock Rendez-Vous em 1984, editada em 1984 pela Dansa do Som, que in-cluía duas canções dos Xutos, «Esquadrão da Morte» e «1.º de Agosto».

xix  Rui Monteiro, «Impasse & Transição», Blitz, 3 de Julho de 1990.xx  O título original da peça era Class Enemies.xxi  Entrevista a José Wallerstein, a 22 de Junho de 1990, incluída em Ana

Cristina Ferrão, Conta-me Histórias, pp. 163-172.xxii  Ricardo Alexandre e Pedro Brinca, «Xutos & Pontapés, dizer não + 1

vez», Ritual, Fevereiro/Março de 1993.xxiii  Sérgio Coimbra, «Putos & Pontapés», suplemento «Vida» de O Indepen-

dente, 19 de Novembro de 1993.xxiv  Pedro Ribeiro, «Uma festa portuguesa», Público, 22 de Março de 1999.xxv  Maria José Oliveira e São José Almeida, «Canção dos Xutos transformada

em manifesto contra Sócrates», Público, 14 de Abril de 2009.

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hoje macau quinta-feira 15.5.2014 (F)UTILIDADES 17

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

João Corvo fonte da inveja

C I N E M ACineteatro

TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 26 MAX 29 HUM 80-95% • EURO 10.9 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE

Diz-me onde vais, eu te direi quem és.

15 DE MAIO

SALA 1GODZILLA [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen14.30, 16.45, 21.30

GODZILLA [3D] [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen19.15

SALA 2 TRANSCENDENCE [C]Um filme de: Wally PfisterCom: Johnny Depp, Morgan Freeman, Rebecca Hall, Paul Bettany14.30, 16.45, 19.15

THE AMAZINGSPIDER-MAN 2 [B]Um filme de: Marc WebbCom: A. Garfield, E. Stone, J. Foxx, D. DeHaan21.30

SALA 3ABERDEEN [C](FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Pang Ho-cheungCom: Louis Koo, Gigi Leung, Eric Tsang, Miriam Yeung14.15, 16.00, 17.45, 19.30

THE ETERNAL ZERO [C](FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Takashi YamazakiCom: Junichi Okada, Haruma Miura, Mao Inoue21.30

GODZILLA

Nasce Humberto Delgado,o ‘General sem Medo’• Hoje é dia de recordar Humberto Delgado, militar português da Força Aérea, um dos grandes opositores do regime de Sa-lazar, que perdeu as eleições num acto eleitoral fraudulento. O ‘General sem Medo’ nasceu a 15 de Maio de 1906. Humberto Delgado é um dos principais rostos da tentativa de derrube do regime de Salazar pela via eleitoral. Foi derrotado nas urnas, por via de um processo eleitoral fraudulento, que permitiu a vitória de Américo Tomás, candidato do regime. Produziu uma afirmação histórica, na campanha eleitoral, a 10 de Maio de 1958. No café ‘Chave de Ouro’, questionado sobre o que faria a Oliveira Salazar se vencesse as eleições, Humberto Delgado exclamou: “Obviamente, demito-o!”. Estas palavras incendiaram as mentes de cidadãos oprimidos pelo regime salazarista, que decidiram aclamar Delgado na campanha. A coragem que revelou perante a repressão policial valeu-lhe a alcunha de ‘General sem Medo’. Perdeu as eleições em virtude de uma tremenda fraude eleitoral levada a cabo pelo regime de Salazar. Em 1959, após a derrota eleitoral, sofreu represálias e foi alvo de ameaças da PIDE, até que pede asilo político na Embaixada do Brasil. Delgado compreende então que por via eleitoral não conseguiria derrubar a ditadura de Salazar, pelo que promove um golpe de estado militar, concretizado em 1962. O objectivo era tomar o quartel de Beja, bem como algumas posições estratégicas em Portugal. No entanto, este golpe também não teve sucesso. Regressa do Brasil para reunir, na fronteira espanhola de Villanueva del Fresno, com opositores do Estado Novo, a 13 de Fevereiro de 1965. Humberto Delgado, surpreendido agentes da PIDE, liderados por Rosa Casaco, é assassinado. Em 1990, Delgado foi nomeado, a título póstumo, Marechal da Força Aérea, sendo que o seu corpo está depositado no Panteão Nacional.

Tortura nos países ricosOxalá os sinais de riqueza e crescimento económico conseguissem andar de braços dados com a garantia dos direitos humanos. Não pude deixar de ficar estupefacto quando ontem li numa notícia que oito em cada dez brasileiros temem ser sujeitos a actos de tortura caso sejam presos. Estamos a falar do Brasil, país dito novo rico e cheio de novas oportunidades. Aquele país cheio de sol que faz parte dos BRIC’S, onde se inclui a nossa China.Os receios da população brasileira surgem num relatório da Aministia Internacional, que também já denunciou casos de maus tratos a empregadas de limpeza indonésias e filipinas em Hong Kong. Mas sem ser no caso Erwiana, ninguém viu nada e poucos falam. É assim na região vizinha, cheia de poder económico e financeiro numa região para onde todos olham. Não falo da China, porque já todos compreenderam a forma como lida com os direitos humanos, à medida que se vai tornando a economia número um do mundo. Voltando aos BRIC’S, depois da polémica da menina violada que faleceu, o número de mulheres violadas não terá certamente diminuído. Há tortura nos países ricos, e cada vez mais. Dá-nos a sensação que nunca deixaram de ser pobres. As economias crescentes deste mundo contemporâneo não podem continuar a ser isso mesmo, e unicamente isso: países ricos cheios de problemas sociais por resolver. Se há dinheiro, apostem em maiores condições sociais. Tenham as melhores escolas e os melhores hospitais do mundo e dêem-nos à população. Contudo, escrevo estas linhas com a ligeira sensação de que estou a ser utópico e demasiado optimista.

Quem é que nunca cantou “And I am feeling good”, seguido de uma explosão de bateria imaginada? Este é o título de um dos maiores êxitos da cantora afro-americana, Nina Simone, que se sagrou como uma das cantoras de blues, soul e jazz mais influentes das décadas de 60 e 70, tendo lançado mais de 45 álbuns em toda a sua carreira. Hoje em dia, Nina Simone continua a ser considerada uma das artistas mais influentes na história da música do século XX, encabeçando a lista de músicos vanguardista da sua época. “I put a spell on you” é uma das músicas mais aplaudidas de Simone e que está integrada neste disco de 1965, de nome homólogo. Este é um álbum para ouvir em qualquer circunstância e lugar. No carro, no trabalho ou em casa. Muitas vezes. E seguidas. - Leonor Sá Machado

I PUT A SPELL ON YOUNINA SIMONE (1965)

U M D I S C O H O J E

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

OPINIÃO

S EMPRE que chove, e tem cho-vido a potes estes dias, lembro--me sempre de canções sobre a chuva, e dou por mim às vezes a escutar ou a cantarolar uma ou outra - conforme o local e o estado de espírito, naturalmen-te. Num dia escuro e de chuva, sem nada para fazer, nada como acrescentar à letargia o som de

“Rain”, de Madonna, ou numa nota ainda mais taciturna, “Prayers for Rain”, dos The Cure. No caso de estar entretido com qual-quer coisa que me deixe bem disposto, ao mesmo tempo que gozo do conforto do lar e a segurança de que não vou precisar de sair, a banda sonora pode ser “It’s Raining Again”, dos Supertramp, “Rainy Day”, dos Coldplay, o ainda o clássico “Have You Ever Seen the Rain”, dos Creedence Clearwater Revival - ou melhor ainda, “Let it Rain”, de Eric Clapton, que é como quem diz, “estou-me nas tintas”.

Na eventualidade de estar na rua e o céu começar a escurecer, e eu “See the Sky About to Rain” (Neil Young), começo logo a pensar em “A Hard Rain’s A-Gonna Fall (Bob Dylan), ou “Here Comes the Rain Again (Eurythmics), e não tarda muito começarão a cair “Buckets of Rain” (outra vez Dylan), e isso deixa-me a pensar “Who’ll Stop the Rain?” (e voltamos aos Creedence Clearwater Revival). Com alguma sorte pode ser que haja “No Rain”

Há pessoas muito altasDe nome ilustrado e sério,Porque o oiro tapa as faltasDa moral e do critério.

António Aleixo,poeta popular português (1899-1949)

D OU as boas vindas ao Presidente da Re-pública do meu país, eleito por sufrágio direto e universal. Mas, confesso-me, «não culpado».

Contudo, quanto ao homem Cavaco Silva, separa-nos

um mar imenso de valores, pelo que nunca iria ao beija-mão. Ele é o presidente legítimo de Portugal, mas não é o meu presidente. E isto não é uma questão partidária, é uma questão de valores, de preocupações sociais e de postura ética diferentes.

No longínquo ano de 1972, mais precisamente no dia 5 de março, de-pois de ter estado a conviver com uma das famílias mais pobres da minha aldeia, escrevi o seguinte:

Na lareira ardem pinhase carunchosos tocos de acácia.A familía está reunida, sem cerimónias.Sobre a mesa uma toalha de linho,broa, azeitonas e uma garrafa de vinho:A ceia dos pobres depois do trabalho.

Nunca pensei que esta realidade, este sofrimento, esta miséria, pairasse de novo sobre as gentes do meu país. Mas é o que acontece, e este homem agora investido de presidente é um dos grandes responsáveis, por ações e por omissões, pelo estado de coisas a que chegámos.

Por isso não irei à Torre, no pró-ximo domingo. Prefiro ir a Coloane respirar ar puro, enquanto ainda há, por lá.

a pal içadaCORREIA MARQUES

Este artigo é escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Separadospelosvalores

bairro do or ienteLEOCARDO

“Nós aqui em Macau, onde ora chove que se farta, ora faz um calor de bradar aos céus, e a regra é andar sempre com a roupa colada ao corpo, só faltava mesmo juntar a tudo isso uma grande dor de corno.”

(Blind Melon), ou que tudo não passe apenas de “Heavy Cloud no Rain” (Sting).

Mas caso se dê a eventualidade de “Rain Fall Down” (Rolling Stones), e eu dê por mim “Standing in the Rain” (Carole King), e for apanhado desprevenido, sem guarda-chuva e longe de casa, acabo por me tornar num “Fool in the Rain” (Led Zeppelin), e dar por mim “Running in the Rain” (New Model Army), dando às pernas um pouco de “Traction in the Rain” (David Crosby), à procura de um abrigo, para que possa ficar “Covered in the Rain” (John Mayer). Mas mesmo que alguma “Rain Must Fall” (Queen), podia ser pior: nos meus piores pesadelos dou por mim “Naked in the Rain” (Red Hot Chili Peppers).

Só não consigo aceitar nem entender é como

alguém consegue comemorar o facto de ser mo-lestado pela chuva, cantando uma alegre “Rain Song” (Led Zeppelin), quando deveria antes estar a entoar um “Rainy Day Blues” (Willie Nelson). Há aquele que celebra “Singing in the Rain”(Gene Kelly) e o outro que cantarola en-quanto “Rain Drops Keep Falling on my Head”( B.J. Thomas), ou ainda o outro que tem a lata de dizer “I Love a Rainy Night”(Eddie Rabitt). Há ainda os indiferentes, que apenas dizem “Let the Rain Fall Down”(Hillary Duff) – para quê reclamar da mijoca da natureza? Para esses “Raiders on the Storm” (The Doors), loucos dos quais só escutamos o seu “Laughter in the Rain” (Nel Sedaka), digo-lhes apenas: “Take Some Rain”(Jackson Browne), porque não acho que “Rain is a Good Thing”(Luke Bryan), e prefiro procurar “Someplace to Come When it Rains” (David Allan Coe).

Mas o pior de todos deve ser o Phil Collins, que no seu “I Wish it Would Rain Down”, onde considera que o melhor remédio para uma relação amorosa com um desfecho infeliz será levar com uma boa molha nos ossos. Nós aqui em Macau, onde ora chove que se farta, ora faz um calor de bradar aos céus, e a regra é andar sempre com a roupa colada ao corpo, só faltava mesmo juntar a tudo isso uma grande dor de corno. Razão mesmo tinha a imortal Ella Fitzgerald: “Into each life some rain must fall; but too much, too much is fallin’ into mine”.

A culpa é do Phil Collins!

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hoje macau quinta-feira 15.5.2014

MARCO [email protected]

P ARTILHA com o se-leccionador nacional o nome, a profissão e o fascínio pela mecânica

do futebol, mas os rasgos comuns não se ficam pelas circunstâncias mais imediatas. Se Paulo Bento fosse seleccionador nacional levaria ao Brasil, quase sem tirar nem pôr, os mesmos jogadores escolhidos pelo homónimo. O antigo treinador do Monte Carlo aprova, apenas com uma peque-na alteração, a lista dos trinta pré-convocados anunciada por Paulo Bento.

O seleccionador português e a Federação Portuguesa de Futebol divulgaram na terça--feira os nomes dos jogadores pré-designados para representar Portugal no Campeonato do Mundo de Futebol. A lista com o nome dos 23 jogadores que vão defender as cores da selec-ção das Quinas na fase final da competição só será conhecida na próxima segunda-feira, mas para Manuel Fernandes, Tiago, Ricardo Carvalho, Adrien Silva e Danny o Brasil é já uma impos-sibilidade. Se a ausência dos três primeiros era já esperada, a não convocação do médio do Spor-ting e do avançado do Zenit de São Petersburgo causou alguma surpresa. Para Paulo Bento, o facto do centrocampista leonino não fazer parte das escolhas do seleccionador português cons-

Futebolista sul-coreano Park Ji-Sung anuncia fim da carreiraO antigo avançado do Manchester United Park Ji-Sung, considerado o futebolista mais famoso da Coreia do Sul, anunciou ontem o fim da sua carreira. Park Ji-Sung, o primeiro sul-coreano a jogar na primeira liga inglesa, fez o anúncio no centro de futebol JS – baptizado com o seu nome –, em Suwon, a cidade onde cresceu. O avançado, de 33 anos, abandonou a selecção da Coreia do Sul em 2011, depois de ter disputado 100 jogos como internacional e participado em três Mundiais (2002, 2006 e 2010). Em 2002, Park Ji Sung foi o autor do golo que afastou Portugal do Mundial, disputado na Coreia do Sul, depois de a equipa lusa ter perdido com os Estados Unidos, por 3-2, e ganhado à Polónia, por 4-0. Nesse Mundial, depois da vitória por 1-0 sobre Portugal, a Coreia do Sul chegou às meias-finais, tendo sido derrotada pela Alemanha. Park Ji-Sung, que começou a sua carreira profissional em 2000 no clube japonês Kyoto Purple Sanga, evidenciou-se no Manchester United, no qual alinhou entre 2005 e 2012, sob o comando de Alex Ferguson. O avançado disputou a sua última partida a 03 de Maio, com a camisola do PSV Eindhoven, clube em que alinhava por empréstimo dos ingleses do Queens Park Rangers.

Scolari constituído arguido em caso de evasão fiscal de sete milhões de eurosLuiz Felipe Scolari foi constituído arguido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) num caso de evasão fiscal de sete milhões de euros, avança a edição online do Expresso. Entretanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou, esta quarta-feira, ter pedido colaboração judicial à Holanda, Reino Unido, Brasil e Estados Unidos no âmbito das investigações fiscais ao seleccionador do Brasil. As diligências foram pedidas ao abrigo da cooperação judiciária internacional aos Estados Unidos, estando o pedido pendente de confirmação. O técnico brasileiro foi constituído arguido num inquérito que investiga alegadas infracções fiscais, entre 2003 e 2008, altura em que ocupava o cargo de seleccionador de Portugal. Em causa, segundo o jornal brasileiro Folha de São Paulo, estará o facto de Scolari não ter declarado sete milhões de euros recebidos durante aquele período. Recorde-se que o treinador já assegurou em comunicado estar inocente: «Eu fiz todas as minhas declarações de renda correctamente. Em todos os países que trabalhei sempre declarei os meus rendimentos. Tenho absoluta convicção da correcção das minhas declarações. Se há algo errado, não é comigo. Que a Justiça apure todos os factos.»

SELECÇÃO ADRIEN SILVA É AUSÊNCIA DE VULTO, DIZ ANTIGO TÉCNICO DO MONTE CARLO

Bento aprova escolhas de Bento

titui mesmo a grande surpresa da pré-convocatória. O antigo treinador do Clube Desportivo Monte Carlo e do Benfica de Macau considera que o nome de Adrien Silva merecia pontificar na lista anteontem anunciada: “Na minha opinião, talvez o Adrien merecesse integrar o leque de pré-convocados em detrimento de João Mário. A jo-garem ambos na mesma posição, Adrien leva vantagem não só pela sua maturidade, qualidade e competência, mas também pelo ritmo competitivo adquirido ao longo da época”, defende Bento.

Para o antigo técnico do Sin-trense e do Atlético do Cacém, mais do que um jogador do pre-sente, João Mário é um jogador do futuro. O médio emprestado pelo Sporting ao Vitória de Setúbal é para Paulo Bento um outsider na

convocatória e deverá ser um dos sete atletas preteridos por Bento, seleccionador nacional: “O João Mário tem um grande talento e é também um jogador competente e se calhar até merecia ter tido uma oportunidade no plantel do Sporting, mas a verdade é que está tapado em Alvalade preci-samente por Adrien e por André Martins. Respeito, no entanto, a opção do seleccionador. Pro-vavelmente terá tido em conta outros factores dos quais não estaremos ao corrente”, sublinha.

Para Paulo Bento, o nome de João Mário poderá ter sido a gran-de surpresa da pré-convocatória, mas o jovem do Vitória de Setúbal dificilmente fará a viagem para o Brasil. O antigo técnico do Monte Carlo entende que a concorrência para o meio-campo da selecção é de peso e coloca o médio no leque dos sete jogadores a descartar. Na companhia de João Mário pode-rão estar, no entende de Paulo Bento, jogadores como Rolando, Antunes ou mesmo Ricardo Qua-resma: “Dos trinta jogadores pré--convocados, na minha opinião há alguns que estão mais sujeitos a não fazerem parte das escolhas do seleccionador. Os candidatos poderão ser Anthony Lopes, Rolando, Antunes, João Mário, Ivan Cavaleiro, Rafa, Vierinha ou Ricardo Quaresma.”, considera o técnico. “A minha principal dúvida é mesmo entre estes dois últimos jogadores. Vieirinha sempre fez parte dos planos do seleccionador, mas desde que regressou ao Futebol Clube do Porto, Quaresma mostrou argu-mentos para ser seleccionado. Pode ser uma boa escolha se es-tiver focado a cem por cento nos trabalhos da selecção”, elabora.

Para o antigo treinador do Monte Carlo e do Benfica de Macau, a selecção portuguesa de futebol que vai disputar, no Brasil,

o Campeonato do Mundo vale so-bretudo pelo colectivo e quaisquer que sejam as escolhas de Paulo Bento para a competição, Portu-gal tem o que é necessário para protagonizar um bom Mundial. O segredo do sucesso por terras de Vera Cruz poderá residir num bom arranque de competição: “Tudo dependerá do primeiro jogo que Portugal se efectuar. Se a selecção conseguir ultrapassar o primeiro adversário, será concerteza uma formação com fortes probabili-dades de discutir algo importante neste mundial. A selecção conta com atletas com grandes experi-ência internacional, que alinham em alguns dos melhores clubes e alguns dos campeonatos mais competitivos da Europa. Em provas como estas, os jogadores querem deixar a sua marca e só seria natural se viesse ao de cima todo o potencial desta geração de futebolistas”, remata o técnico.

Paulo Bento regressou a Por-tugal no início do ano, depois de uma polémica passagem pela Casa do Sport Lisboa e Benfica de Macau. Contratado pelas águias do território para render Bruno Álvares à frente dos destinos da formação encarnada, o antigo técnico do Monte Carlo acabou por ser afastado antes ainda do arranque da edição de 2014 da Liga de Elite, não tendo orientado qualquer encontro oficial. Apesar de não ter sido feliz no regresso ao território, Paulo Bento garante que Macau lhe ficou no coração e não descarta um regresso ao Oriente: “Desejo regressar à Ásia e a Macau logo que possa. Gostaria muito de abraçar um projecto em que me fosse dada a possibilidade de liderar o futebol de um clube ou de uma selecção, efectuando trabalho de fundo sempre com o pressuposto de defender o jogador local, que é algo que faz falta ao futebol de Macau”, admite.

OS 30 PRÉ-CONVOCADOS DE PAULO BENTO

GUARDA-REDES: Anthony Lopes (Lyon), Beto (Sevilha), Eduardo

(Sp. Braga) e Rui Patrício (Sporting);

DEFESAS: André Almeida (Benfica), Antunes (Málaga), Bruno Alves

(Fenerbahçe), Fábio Coentrão (Real Madrid), João Pereira (Valência),

Neto (Zenit), Pepe (Real Madrid), Ricardo Costa (Valência) e Rolando

(Inter);

Médios: André Gomes (Benfica), João Mário (Vitória Setúbal),

João Moutinho (Mónaco), Miguel Veloso (D. Kiev), Raul Meireles

(Fenerbahçe), Rúben Amorim (Benfica) e William Carvalho (Sporting);

AVANÇADOS: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Éder (Sp. Braga), Hélder

Postiga (Lazio), Hugo Almeida (Besiktas), Ivan Cavaleiro (Benfica), Nani

(Manchester United), Rafa (SC Braga), Ricardo Quaresma (FC Porto),

Varela (FC Porto) e Vieirinha (Wolfsburgo).