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1 História da Idade Moderna Apontamentos de: António Guedes E-mail: [email protected] Data: 13-11-2006 Livro: Nota:

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História da Idade Moderna Apontamentos de: António Guedes E-mail: [email protected] Data: 13-11-2006 Livro: Nota:

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PREFÁCIO • A periodização histórica, tal como a entendemos (História da Idade Antiga, História

da Idade Média, Historia da Idade Moderna e História da Idade Contemporânea), tem como base a evolução histórica da Europa e são períodos temporais meramente convencionais;

• Os limiares de cada período são fictícios, podendo variar, consoante a história de cada país europeu;

• As balizas cronológicas iniciais para o período moderno têm oscilado, entre os factos históricos (conquista de Ceuta – 1415; tomada de Constantinopla pelos Turcos – 1453; descoberta da América por Cristóvão Colombo – 1492; viagem de Vasco da Gama à Índia – 1497) ou entre as evoluções estruturais, como a afirmação do Renascimento, ou seja, o Quattrocento italiano. Actualmente a historiografia encara as crises do século XIV como marco estrutural em que termina a Idade Média e surge a Idade Moderna.

• As balizas terminais da modernidade são menos fluídas, sendo geralmente aceite o ano da Revolução Francesa (1789). No entanto, esta data pode ser substituída pelo início do século XIX, como acontece em Portugal ou em Espanha, ou mais tarde, como na Europa central e de leste.

• Convém não esquecer que não há modernidade mas modernidades, que não existe um “homem moderno” mas “homens modernos”, consoante o tempo e os locais.

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CAPÍTULO I O HOMEM DO SÉCULO XVI

• No século XVI, ocorreram mudanças climatéricas, na Europa, que iniciaram uma

“pequena idade glacial”, que se viria a prolongar até meados do século XIX. A dependência do homem em relação ao clima era maior, então, do que hoje.

• A casa era distinta no campo ou na cidade e variava ainda, consoante o estrato social do seu proprietário. Encontra-se o predomínio da madeira sobre a pedra ou o tijolo, na cidade da Europa central e do norte. Na Europa ocidental predominava o tabique, ou seja, a madeira e o adobe. A cobertura era de colmo ou de telha. A janela de vidro surge nas cidades, a partir do século XVI. O ladrilho e o sobrado constituíam o chão das casas mais ricas. O aquecimento com lareira era raro, sendo o mais vulgar o uso de braseira. No mundo asiático, ligava-se o adobe com o bambu. Na cidade, a casa pobre era uma casa térrea, constituída por dois compartimentos: a “casa dianteira” (“cómodo da frente”) e a câmara ou sobrado (“cómodo traseiro”) que podia encontra-se na traseira daquela ou num piso superior. A “casa burguesa” cresce em altura, havendo uma parte térrea, constituída pela loja ou oficina. Nos pisos superiores estava a residência do artesão ou do mercador e, também dos trabalhadores. No campo, a habitação associava pessoas e animais.

• O mobiliário era igualmente sinal de riqueza, concentrando-se num ou dois compartimentos, na grande maioria das habitações. Os sanitários (as “privadas”) eram um luxo. Na sua generalidade, quando existiam, eram colectivas. A iluminação dos interiores era feita com velas de cera ou com azeite. As casas dos mais pobres tinham mobiliário reduzido.

• O vestuário variava com a função e o estrato social.

• A Europa do século XVI permanecia, em grande parte, não habitada pelo homem. A floresta, os baldios, as charnecas dominavam os campos cultivados e permaneciam como fonte de riqueza para o homem: forneciam lenha, caça, frutos silvestres, etc. Os campos permanentemente cultivados eram rotativamente deixados em pousio. Os adubos eram naturais, provindo dos excrementos humanos e animais. Por vezes, os campos cresciam à custa da floresta e dos pântanos.

• O vento e a água eram as grandes forças de energia motriz. Excepcionalmente, o carvão de pedra e a madeira produziam igualmente energia, aplicada ao aquecimento ou à indústria.

• O cavalo e o dromedário eram os animais destinados ao transporte terrestre, enquanto os diversos tipos de barcos faziam a circulação nos rios, mares e oceanos.

• Os regimes alimentares eram os tradicionais, alterados na Europa do período moderno pela divulgação do consumo do arroz, a partir do Mediterrâneo, ou pela introdução na dieta alimentar e consequente vulgarização de produtos do continente americano, como a batata, o milho maiz, o tomate e o peru. O pão, a carne, o peixe, os mariscos, os lacticínios, os vegetais, as gorduras animais (manteiga, banha e óleo de peixe) e vegetais (o azeite) eram comuns na Europa, mesmo entre os pobres. Como bebidas, para além da água, usava-se o vinho, a cerveja, a cidra.

• As doenças que atacavam o homem moderno eram várias: umas provocadas pelas carências alimentares; outras pelas deficientes condições higiénicas; outras de carácter

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infecto-contagioso, geradoras de epidemias, as designadas “pestes”. Como prevenção às epidemias, propunha-se a fuga, o isolamento dos doentes, a quarentena e as queimas de ervas odoríferas, como o alecrim.

• O homem deste período era violento. A agressividade manifestava-se no fanatismo das guerras religiosas, no modo como assistia às condenações como se se tratasse de um espectáculo, no seu comportamento perante a dor física.

• A morte era entendida como uma passagem para uma outra vida e era preparada pelo testamento.

• A família prolongava-se nos filhos. À grande natalidade correspondia também uma grande mortalidade infantil que tenderia a diminuir, ainda no período moderno.

• No campo da sensibilidade, há um primado dos gestos, dos ritos e da palavra sobre os demais sentidos.

• A noção do tempo era relativa e tinha como base o calendário natural: a sucessão dos dias e das noites, as estações dos anos e a sua relação com o calendário agrícola ou o relacionamento com as festividades cristãs. No entanto, no período moderno divulgam-se os relógios que tinham começado a surgir na Europa no século XIV.

• É no século XVI que as línguas europeias se começam a codificar, através das primeiras gramáticas. Para a divulgação do texto escrito contribuiu a imprensa, inventada no século anterior. Os algarismos substituem a numeração romana, assim como o experimentalismo começa a questionar conhecimentos que vêm da Antiguidade.

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CAPÍTULO II O MEIO ECONÓMICO: RECONSTRUÇÃO E EXPANSÃO

• A riqueza de um reino, de um senhorio ou de uma família media-se pelo número de

indivíduos que possuíam.

• A natalidade era limitada pelo número de mulheres, pela sua idade fisiológica e pela duração prolongada do aleitamento. O intervalo inter genésico entre os partos, tidos por uma mulher, era de cerca de dois anos. A mortalidade feminina no parto e no período pós-parto era grande, devido à falta de higiene e à quase ausência de cuidados médicos.

• A mortalidade feminina e masculina eram elevadas, cifrando-se a esperança média de vida à volta dos 40 anos. As fomes e as pestes continuam a ser as grandes destruidoras da população, vitimando idosos e crianças. Apesar disso, os séculos XV e XVI assistiram a um crescimento demográfico que permitiu à Europa conhecer novos arroteamentos de terras e, nomeadamente ao mundo mediterrânico, expandir-se para outros continentes. Estes séculos ficaram conhecidos pela grande movimentação populacional: a mobilidade dos camponeses para novas aldeias e novas terras; a expulsão de judeus e mouros da Península Ibérica. A densidade demográfica rondaria os 30 habitantes por km2, sendo a França e a Península Itálica as regiões mais povoadas e o Norte da Europa o mais fracamente habitado. O século XVI conheceu a duplicação da população de grande parte das cidades europeias.

• A indústria conquistou o campo, ao mesmo tempo que a burguesia investia na aquisição de terras no termo da cidade. Os costumes comunitários persistiam no campo que era o abastecedor da cidade. A diferenciação entre campo e cidade não era tão nítida como hoje, vivendo no mundo urbano trabalhadores rurais do termo, para além de a própria cidade conter, em si, hortas, pomares, almuínhas e, nas ruas, circularem animais domésticos e gado.

• A agricultura mantinha-se como a principal actividade económica e dois anos agrícolas maus tornavam-se numa catástrofe. A fome, provocada pelos maus anos agrícolas, exigia uma rápida importação de cereais de outras regiões. O comércio dos cereais, nomeadamente do trigo, era definido por rotas regionais ou por rotas entre reinos ou continentes diferentes, como aquelas que traziam os cereais do norte de África para a Europa mediterrânica. Os preços dos cereais eram fixados pelas autoridades urbanas ou pelo próprio rei. Apesar da importância dos cereais no tráfego comercial, este era alimentado pelas especiarias, pelos produtos industriais, como os têxteis e outros, pelas madeiras, etc. A floresta era fonte de riqueza e apoio para uma série de pequenas industrias, que iam desde o carvão à madeira.

• Na cidade, uma parte importante do comércio residia na venda dos produtos manufacturados pelos artesãos. Os artesãos de um ofício ou mester reuniam-se numa corporação de mestres e companheiros, a qual regulamentava o ofício e definia o preço dos artefactos produzidos. Os ofícios tal como os artesãos tinham uma hierarquia que se traduzia pela localização no espaço urbano, pelo salário, pelo prestígio social e político dos seus artífices, ou pela permanência, sob seu controlo, de outros ofícios afins.

• Uma das indústrias mais importantes era a têxtil que definiu zonas de produção, como a Flandres, a Inglaterra, Florença ou a Espanha. Esta última era com a Inglaterra uma

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zona produtora de lã. A produção têxtil conhecia uma associação entre factory system e domestic system. O início do período moderno marcou o princípio da produção da seda europeia, nomeadamente nas cidades italianas.

• Neste período surgiu também a indústria hulhífera, na Europa central, levando ao aparecimento do alto-forno a fole, movido por meio de rodas de água, para a produção do ferro fundido. A exploração das minas de cobre e de prata deu origem a uma indústria capitalista, associada a nomes de famílias banqueiras alemãs, como a dos Fugger de Augsburgo. Pela primeira vez, extraiu-se a prata dos outros metais, como o cobre, através da técnica do mercúrio.

• O início da modernidade está ligado ao aparecimento da indústria do livro impresso, graças à invenção da imprensa com caracteres móveis por Guttemberg, em meados de Quatrocentos.

• O mar é a grande via de comunicação e de comércio, sendo as estradas usadas pelos correios ou pelos indivíduos em pequenas comitivas.

• Os mercados situavam-se nos agregados urbanos, espaço, por excelência, das trocas, quer periódicas, como as feiras e os mercados, quer diárias nas tendas e lojas, e eram regulamentadas pelas autoridades municipais ou senhoriais. As feiras eram protegidas pelo senhor da terra e, as mais importantes, pelos soberanos, como as de Medina del Campo, em Espanha, ou as de Genebra e Lyon, em França. Em certas cidades havia a bolsa de mercadorias, como em Anvers (Antuérpia), em 1533.

• A moeda distinguia-se: a moeda circulante (ouro, prata e bolhão ou cobre) e moeda de conta ou moeda padrão. Esta última era, em França, a libra tornesa (de Tours) ou a libra parisiense (de Paris) que circulava, cunhada em escudos ou outras espécies áureas, em pistola e tostões de prata, e em espécies subsidiárias de cobre ou de bolhão (liga de prata e outros metais inferiores em que estes constituíam a maior percentagem).

• A paridade entre o ouro e a prata era fixa e determinada pelo poder emissor, na generalidade o rei, podendo também ser por um senhor que usufruísse do direito de lavrar moeda própria no seu senhorio.

• A circulação das espécies monetárias era universal, ou seja, ultrapassava os limites territoriais do reino ou senhorio que a emitia, pois valia consoante o ouro, prata ou cobre que continha; ou seja, a moeda era instrumento de troca mas era também uma mercadoria. O cambista ou cambiador era o avaliador das espécies nos vários mercados. Na segunda metade do século XV, aumentou a circulação e a reserva de ouro na Europa, devido à drenagem deste metal de África para a Europa, quer, via rotas caravaneiras que de Tombuctu traziam o ouro para os portos do norte de África, quer via Portugal que atingiu as fontes do ouro do Sudão.

• A abundância de ouro levou a uma depreciação deste metal perante a prata e conduziu à exploração de novas minas e novas técnicas para a obtenção de prata, na Hungria e na Áustria. Esta situação só seria alterada com a chegada do ouro, mas sobretudo, da prata americana, a partir de 1530, trazidos pelos espanhóis.

• A partir do século XIII, os mercadores europeus conheceram a letra de câmbio e o “recâmbio”, para substituir a moeda, nos negócios de longa distância. Cédulas, empréstimos e rendas eram outras formas de crédito. Os capitalistas desta época eram mercadores cambistas que emprestavam dinheiro a crédito e que exerciam as funções de bancos de depósito, como os Médicis, os Fugger, os Weltzer.

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• A partir de 1520, a Europa entrou em recessão: os preços subiram, nomeadamente os agrícolas, provocados pela entrada excessiva de metais preciosos não acompanhada pelo aumento do consumo; os rendimentos em espécie tornaram-se um valor-padrão, em detrimento da moeda; o objectivo do lucro imediato levou ao investimento nos negócios e ao recurso ao crédito; este entrou em crise, levando à falência de algumas das grandes casas bancárias; os produtos ultramarinos invadiram a Europa, detendo o rei de Portugal, entre 1504 a 1540, uma parte importante deste comércio, tendo-lhe sucedido a Espanha, a partir de 1550.

• A Europa dividia-se em áreas de influência geográfica e mercantil: o Mediterrâneo; a fachada atlântica; o Báltico e a Europa central. No mundo mediterrânico sobressaíam as cidades italianas, nomeadamente Génova e Veneza; na fachada atlântica, dominavam Lisboa com a Casa da Mina e a Casa da Índia e Sevilha, com a Casa de Contractación; no mundo báltico, temos as cidades hanseáticas com Lubeck e Dantzig; na Europa central, sobressaíam com Augsburgo, Nuremberga que se encontrava na rota de Veneza, Frankfurt e Colónia, eixos para a Flandres e para Leipzig, no Báltico. O desenvolvimento do comércio e dos seus monopólios levou à afirmação dos Estados, que obrigou os soberanos a socorrerem-se do crédito dos banqueiros endividando-se.

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CAPÍTULO III HUMANISMO E RENASCENÇA:

A RENOVAÇÃO DA EUROPA

• A Renascença é uma evolução natural dos finais da Idade Média e não um corte com

esta época da humanidade. O seu limiar inicial remonta ao renascimento urbano dos séculos XII e XIII, para alguns autores. No entanto, convencionou-se relacioná-la com a maturidade do renascimento italiano, nos meados do século XV e inícios do XVI.

• A Renascença, iniciada na Itália, procurava retomar o pensamento e as formas da expressão plástica da Antiguidade greco-romana. A Renascença está directamente relacionada com o Humanismo, movimento que situava o homem no centro das preocupações espirituais e dos estudos e arrasta a uma nova concepção do mundo.

• O aparecimento do livro impresso e a decadência das universidades contribuíram para as mutações intelectuais que caracterizaram o humanismo e a Renascença. O poder da imprensa leva à criação da censura, por parte dos soberanos e da Igreja, a qual é entregue, na generalidade, às universidades. A maior parte dos livros versava temas religiosos (Bíblia e A Imitação de Cristo), seguindo-se as obras de literatura, direito e ciência.

• Divulgou-se o ensino elementar, nas escolas paroquiais, sendo gratuito para os mais carenciados. Versava o ensino da leitura, da escrita e do cálculo. O ensino intermediário desenrolava-se em colégios, onde ensinavam professores laicos e eclesiásticos. Neles também residiam alunos das faculdades das Artes. Outros substituíam as universidades nas cidades onde estas não existiam.

• As universidades mantiveram a sua organização medieval, agrupando mestres, estudantes e agentes diversos. Os estudantes estavam reunidos em “nações”. À sua frente estava o reitor eleito, o conselho da universidade e a assembleia de professores. Os soberanos e a Igreja concediam-lhe privilégios e isenções. As faculdades superiores eram as de Teologia, Direito (canónico e/ou civil) e Medicina a que se acedia depois de frequentar a faculdade das Artes. O ensino universitário tem por base o pensamento escolástico, em crise nesta época, devido à querela dos universais, entre realistas e nominalistas.

• Florença, no tempo dos Médicis, foi a cidade do humanismo, destacando-se o escritor Lourenço Valla, o filósofo neoplatónico Marsílio Ficino, o arquitecto Brabante, o escultor Donatello e os pintores Botticelli e Ghirlandaio.

• Roma sucedia a Florença, cujo humanismo fora interrompido pelo fanatismo de Savonarola. Os papas Alexandre VI, Júlio II e Leão X tornaram-se os grandes papas do Renascimento italiano. Bramante, Miguel Ângelo e Rafael deram o nome à basílica de S. Pedro, no Vaticano. O homem, como criação de Deus, era o centro do universo. Ao Renascimento italiano, corresponde o ideal do homem, definido por Baldassarre Castiglione, o cortesão.

• O Renascimento teve em Veneza características excepcionais, afirmadas pelo pensamento aristotélico e averroísta de Pomponazzi, embora se tivesse tornado o principal centro de arte, após o saque de Roma de 1527.

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• A mobilidade dos universitários e das gentes da Igreja fez irradiar os ideais do humanismo e a estética da Renascença italiana para outros reinos da Europa ocidental e respectivas universidades. Entre esses humanistas, temos Erasmo de Roterdão, o português Damião de Góis, o francês Rabelais, o inglês Tomás More, autor da Utopia, o holandês Dürer, entre outros. Também os humanistas da Europa ocidental estudavam e dominavam o latim, o grego e o hebraico, mas distinguem-se dos italianos pela preocupação com a política e com a religião. Lefebvre d’Etaples e Erasmo renovaram o sentimento religioso, através do misticismo, o primeiro, e do ideal humano da Antiguidade, o segundo.

• Não houve humanismo na Europa mas humanismos que, em alguns locais, afirmaram os nacionalismos e renovaram as línguas nacionais. Humanistas houve que se afirmaram no campo da ciência (astronomia, matemática), da filosofia, da medicina, como Leonardo da Vinci, em Itália, o polaco Copérnico, defensor da teoria heliocêntrica, ou os médicos Ambroise Pare e Vesálio.

• A literatura italiana renovou-se com Ariosto que integrou o romance de cavalaria no espírito do Renascimento, ou com Maquiaval, autor do primeiro tratado político. A arte e a literatura do final do Renascimento integraram um estilo designado por maneirista. No período maneirista renovou-se a música religiosa com Palestrina. Contemporâneo da Renascença artística italiana foi o gótico flamejante na Europa ocidental que deu estilos nacionais, como o manuelino, em Portugal, e o plateresco ou isabelino, em Espanha. Com o incentivo às línguas nacionais, ocorreu a tradução da Bíblia do latim para as línguas faladas, iniciada na Alemanha com Lutero.

• A Renascença atingiu também os países do leste europeu e Constantinopla, onde dominavam os turcos. A Renascença foi um fenómeno europeu que exerceu uma acção mais profunda na Itália e se expandiu por toda a Europa, apoiando-se nas tradições locais, tornando-se num agente de unificação da cultura europeia.

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CAPÍTULO IV A REFORMA

• A Reforma foi uma cisão dentro da cristandade ocidental que teve causas religiosas,

morais, económicas, sociais e políticas e foi, também, uma renovação dentro da Igreja romana, vulgarmente designada por Contra-Reforma, para se distinguir da Reforma protestante.

• Entre as causas religiosas, encontramos: a angústia do homem do final da Idade Média, perante o pecado e a morte; a individualização da religião e o misticismo; os movimentos contestatários de Roma que rejeitavam a tradição católica e afirmavam o primado da Bíblia, como fundamento da fé, aplicavam a metodologia crítica aos textos sagrados e permitiam a livre interpretação destes, independentemente dos conhecimentos teológicos dos fiéis, mas permaneciam submissos à Igreja; a importância do pensamento erasmiano entre os humanistas e os críticos.

• Entre as causas morais, anotamos: a dissolução dos costumes do clero, em toda a sua hierarquia; a indistinção entre o político e o religioso, entre as hierarquias eclesiásticas.

• Entre as causas económicas, sociais e políticas, temos: o crescente desenvolvimento económico da burguesia e do capitalismo comercial; o empobrecimento do mundo rural (camponeses e pequena nobreza terratenente), devido aos maus anos agrícolas e às fomes, gerador das revoltas dos camponeses contra a miséria, na Europa central; a expansão nas diversas camadas sociais do erasmismo; a fragmentação política, em principados e senhorios eclesiásticos, do Sacro Império que não permitia uma centralização forte do poder imperial perante o fisco pontifical, como a colecta das indulgências.

• A Reforma, dita protestante, foi conhecida por vários movimentos: luteranismo, calvinismo, presbterianismo, anabaptistas, anglicanismo, entre outros. Teve como antecedentes os movimentos contestatários do final da Idade Média, como os de Wiclif, na Inglaterra, os de João Huss, conhecidos por hussitas, os taboristas, os valdenses e outros.

• A cisão reformista iniciou-se com Martinho Lutero e teve as seguintes fases:

– 1517 (31/10) afixação em Wittenberg das 95 teses contra Roma e a colecta das indulgências;

– 1519 disputa de Leipzig;

– 1520 publicação das obras de Lutero;

– 1520 (25/12) queima da burla Exsurge domini;

– 1521 assembleia de Worms, onde Lutero recusou retratar-se, foi excomungado, expulso do Império e se refugiou em Wartburgo:

• O pensamento de Lutero radicou-se nos seguintes princípios: a salvação dos homens era mérito de Jesus Cristo; as obras eram inúteis à salvação; o sacerdócio era universal; os sacramentos actuantes na graça de Deus em cada homem eram o baptismo, a comunhão e a confissão ou penitência; a acção da predestinação na salvação de cada cristão.

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• Lutero reclamou: a formação de Igrejas nacionais autónomas, para o que contou com o apoio dos príncipes alemães; a extinção das ordens mendicantes; a extinção do celibato eclesiástico; a comunhão sobre as duas espécies; medidas contra o luxo e a usura.

• O luteranismo organizou-se e ocupou um espaço geográfico na Alemanha: associou-se ao catolicismo contra os camponeses e a pequena nobreza alemã, seguidores do pensamento reformista e social de Munzer, em 1525; os príncipes alemães associaram-se e formaram a liga de Smalkalde, em 1531; a paz de Augsburgo era o reconhecimento, por parte do imperador Carlos V, da existência oficial das Igrejas luteranas nacionais, obrigando os súbditos a seguir a religião do príncipe.

• Aparecem outros movimentos reformistas como os sacramentários de Zwingli, defensores dos seguintes princípios: predestinação; recusa do baptismo e da comunhão como sacramentos.

• Ou os anabaptistas e mennonitas que: submetiam a Igreja ao poder político; reconheciam o primado da conversão pessoal pelo que só admitiam o baptismo de adultos; rejeitavam a autoridade do Estado e a propriedade individual.

• A segunda vaga dos movimentos reformadores atinge a França, a Inglaterra e a Escócia, principalmente. Nesta segunda fase, temos o movimento pregado por Calvino e que atingiu a França (cuja Igreja era nacional, no respeitante à disciplina eclesiástica, desde a Concordata de Bolonha, em 1516), cuja realidade política, social e religiosa era diferente do Império, e outras regiões.

• Os princípios do calvismo são: a revelação encontra-se nas Escrituras (Antigo e Novo Testamentos); a predestinação; a fé é fonte de salvação; o baptismo e a ceia são testemunhos da graça de Deus, mas não fonte de graça divina.

• A cidade de Genebra tornou-se o balão de ensaio da concepção político-religiosa do estado calvinista. O calvinismo estendia-se pela França, fundava as primeiras Igrejas e convocava o primeiro sínodo nacional, em 1559. Nesse mesmo ano, John Knox levava o calvinismo para a Escócia e substituía o catolicismo pelo presbiteranismo. Em 1534, Henrique VIII, por razões políticas, abandonava Roma, tornando-se pelo Acto de Supremacia o chefe supremo da Igreja inglesa.

• A Reforma inglesa (anglicanismo) assentou nos seguintes princípios: o rei era o chefe supremo da Igreja, rejeitando-se o Papa e Roma; extinguiu-se o clero regular, passando os seus bens para a coroa; o rei nomeia os bispos como chefe supremo da Igreja anglicana; o culto aproximou-se do católico, depois de uma afinidade ao calvinismo no respeitante ao dogma.

• Ao mesmo tempo a Igreja católica fazia a sua Reforma, que se caracterizou por: a Contra Reforma; a reforma disciplinar e doutrinal (Concílio de Trento), a renascença católica e a missionação.

• Instrumentos dessa Contra Reforma católica foram o Santo Ofício, as novas ordens religiosas, como a dos jesuítas de Santo Inácio de Loyola. A Companhia de Jesus formava, nos seus Colégios, os seus padres, dentro dos ideários humanista e teológico católicos e, posteriormente, abriu colégios para leigos.

• O Concílio de Trento, iniciado em 1545 e terminado em 1563, definiu o dogma e restaurou a disciplina eclesiástica: o dogma baseia-se na Escritura e na tradição; a interpretação das Escrituras pertence à Igreja; a hierarquia eclesiástica (papa e bispos)

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detém o poder confiado por Cristo a S. Pedro e aos apóstolos; a justificação do homem vem da graça divina e são os sacramentos que lha conferem; as obras e a fé intervêm na salvação de cada cristão; afirmação da presença de Cristo, pela transubstanciação, no pão e no vinho da Eucaristia; os sacerdotes são educados em seminários e os monges em clausura; implementa-se a catequização dos cristãos; precisou-se a legislação canónica sobre o casamento.

• A renascença católica realizou-se com as novas ordens, a sua pregação e o seu ensino: os colégios dos jesuítas dedicaram-se ao ensino masculino e à missionação; as ursulinas investiram no ensino feminino; S. Filipe Néri criou o Oratório, ordem devotada à oração e à actividade apostólica; Sta Teresa de Ávila fundou as carmelitas reformadas e abriu novos caminhos ao misticismo cristão; renovaram-se os estudos teológicos.

• Os espaços geográficos da Reforma protestante encontram-se no centro e norte da Europa, enquanto a Reforma católica se localizou à volta do Mediterrâneo. As duas Reformas antagonizaram-se pois as noções de liberdade e de tolerância religiosas eram, com raras excepções, inexistentes na época. Destes movimentos, o luterano foi o mais retrógrado em relações ao capitalismo.

• Na cultura, permaneceram os métodos humanistas. Na arte, a reforma calvinista foi iconoclasta, enquanto os demais protestantes apenas aceitavam a imagem de Cristo.

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CAPÍTULO V AS SOCIEDADES EUROPEIAS

• A sociedade moderna assentava em princípios diferentes daqueles que hoje regulam as nossas sociedades. A religião estava presente em todos os actos da vida familiar e pública, marcando os princípios que regiam a sociedade. A sociedade defendia as diferenças sociais, prevalecendo a ideia de igualdade perante Deus e a morte. A sociedade era obra de Deus que a criou una e diferente nas suas funções, à semelhança do corpo humano onde cada órgão e membro desempenham funções diversas mas necessárias.

• A sociedade estava dividida em três ordens ou estados: clero, nobreza e povo. Cada estado tinha funções diferentes mas solidárias umas com as outras: o clero rezava; a nobreza defendia e o povo trabalhava. Se o privilégio definia os estados mais poderoso, a riqueza, definida pela posse da terra e/ou pelo dinheiro, marcava os indivíduos dentro de cada estado.

• Numa sociedade de ordens, os grupos sociais encontravam-se hierarquizados segundo a honra, a estima, a dignidade, vinculadas a determinadas funções pelo conjunto dos habitantes. A sociedade de ordens ou de estados não era estanque, havendo uma mobilidade de uma ordem inferior para outra superior, por mérito ou riqueza próprios e pela vontade do rei.

• A hereditariedade era importante porque ela permitia à família sobreviver, na vida e no pós-morte: as gerações eram solidárias entre si. A importância da família encontrava-se não só na transmissão do nome ou de uma terra, mas na aprendizagem de um ofício.

• A segunda metade do século XV e o primeiro quartel do século XVI forma marcados pelo crescimento demográfico e por uma certa mobilidade social. Nas cidades, uma burguesia capitalista afirmava-se nos sectores têxtil e mineiro e investia uma parte do seu capital na aquisição de bens fundiários.

• Sobre os camponeses, aumentava os direitos em espécie e em dinheiro, assim como apareciam novas formas de arrendamento dos campos. A opressão sobre os camponeses, assim como as prédicas igualitárias dos lolardos, taboritas e anabaptistas, alimentaram as revoltas dos camponeses e dos homens dos ofícios contra a miséria, a partir de 1520-1530. Os camponeses permaneceram oprimidos com os direitos banais e os direitos feudais, para além do dízimo à Igreja, enquanto os lavradores trabalhavam em propriedades suas ou arrendadas à nobreza ou ao clero.

• Na cidade, a situação dos mesteirais variava com o ofício e a sua importância na economia. A instrução era apanágio do clero e de um grupo de burgueses que enveredava pela magistratura, os letrados ou legistas. A nobreza caracterizava-se pela posse da terra e pela residência no senhorio ou na corte, com excepção da nobreza italiana que residia nas cidades, embora fosse também terratenente.

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CAPÍTULO VI OS ESTADOS EUROPEUS

• Os estados modernos definiram-se pela afirmação das consciências e das línguas nacionais, das fronteiras territoriais, da realeza perante os senhores feudais, da administração central, pelo desenvolvimento do comércio e pelo incremento da instrução, graças à imprensa.

• Observou-se a decadência do imperador perante o papa e as realezas e da superioridade do papa (poder teocrático) perante os reis. Os papas mantiveram o poder espiritual, o direito de condenar uma heresia ou um rei herético, o direito de apelar às cruzadas e o de árbitros em questões internacionais (ex: o Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e a Espanha, em 1494).

• O poder real era também de origem divina, governando os reis “pela graça de Deus”, sendo ungidos pela Igreja do reino. Os reis rodeavam-se de conselheiros que iam procurar à alta nobreza e clero e aos letrados. Concorriam com o papa na nomeação de bispos e abades, indigitando àquele a nomeação das personalidades por si escolhidas. O rei era o supremo suserano na hierarquia social, devendo subordinar-se aos privilégios, direitos e liberdades dos súbditos, ao direito e ao costume do reino. O rei convocava as cortes, os estados gerais ou o parlamento sempre que necessitava consultar os três corpos do reino ou pedir-lhes ajuda financeira para guerras, casamentos ou outras necessidades.

• Senhores feudais e cidades gozavam de privilégios e direitos consuetudinários, para além de autonomia administrativa nos seus territórios. O absolutismo consistia na ausência de controlo da acção do soberano e não na ausência de limites à autoridade real. O príncipe surgia como árbitro das tensões dos diversos estados ou ordens sociais ou dentro da mesma ordem, como a oposição entre famílias de poderosos e respectivas clientelas.

• O poder real serviu-se, a seu favor, da oposição entre nobres e burgueses pela partilha do poder político, uma vez que era à burguesia nacional ou estrangeira que os soberanos iam buscar os seus banqueiros. A privação com o poder real permitiu a alguns burgueses ascenderem, pelo favor régio, à nobilitação, embora só passadas algumas gerações estes novos nobres se pudessem cruzar com a nobreza de sangue. A integração passava também pela adopção de uma das funções do nobre: a carreira das armas.

• A monarquia francesa: tinha limites geográficos diferentes da actual França; o soberano era um suserano entre suseranos e exercia o poder numa parte do seu território, o domínio real; outros senhores feudais eram soberanos de outros territórios, como o imperador ou o rei de Navarra que, neste caso, estavam numa situação de vassalos do rei de França; outros eram membros da família real, como os Bourbon, os Valois, etc; a Corte era o centro da governação e era itinerante; o rei tinha a coadjuvá-lo na governação o conselho do rei, constituído pelos pares de França e os grandes oficiais da Coroa, membros de direito, para além de outros dignitários convocados pelo soberano; na generalidade, o rei funcionava diariamente com alguns conselheiros apenas, os membros do chamado conselho restrito ou secreto; alguns desses dignitários eram o chanceler, o condestável, o almirante e o grão-mestre; entre os oficiais da administração, destacavam-se os secretários de Estado; nas províncias, os bailios e os senecais tinham funções militares, judiciárias e administrativas, delegando o exercício

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da justiça nos seus lugares-tenentes, magistrados; o exercício era constituído por oficiais permanentes e por uma maioria de mercenários, recrutados em momentos de guerra. A nobreza era por excelência o corpo guerreiro; o aparelho judiciário era constituído pelo Grande Conselho, tribunal que julgava em ultima instância e presidido pelo rei, e pelos parlamentos, tribunais provinciais ou regionais que tinham abaixo de si os tribunais das bailias e dos senescais; a administração fiscal e financeira era gerida pelos tribunais de contas; as finanças ordinárias eram designadas domínios e as extraordinárias designavam-se impostos, os Estados Gerais, convocados pelo soberano, reuniam com os representantes dos três corpos do reino; com Francisco I e Henrique II assistiu-se ao reforço da administração real e à afirmação do nacionalismo.

• A monarquia inglesa: erra territorialmente constituída pela Inglaterra e pelo País de Gales e, por uma pequena parte costeira da Irlanda; a Escócia só virá a ser integrada na monarquia inglesa depois da morte de Maria Stuart, com Isabel de Inglaterra; o rei governava coadjuvado por um conselho privado, constituído pelo chanceler, tesoureiro, guarda do selo privado e por dignitários convocados por ele, para o efeito; à frente de cada condado estava o xerife; em Westminster, tinham sede os três tribunais do reino; a câmara do rei geria as finanças reais; o Parlamento era a sede das três ordens do reino que deviam ser consultadas pelo soberano, no que respeitava ao lançamento dos impostos e à política externa; o rei de Inglaterra tornou-se o chefe da igreja anglicana, pelo Acto de Supremacia.

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CAPÍTULO VII A POLÍTICA ESTRANGEIRA E AS RELAÇÕES ENTRE

OS POVOS

• No período moderno, a política externa assentava, para além das relações entre as famílias dinásticas, nas relações entre os povos.

• O avanço turco para o Ocidente conduziu à conquista de Constantinopla, em 1453, à conquista dos Balcãs e da zona danubiana, e aos primeiro e segundo cercos de Viena, em 1529 e 1532. A conquista da Europa balcânica pelos turcos isolou esta cristandade, reflectindo-se o seu domínio, durante cerca de três séculos. Aliás, o reflexo deste domínio, ainda hoje, permanece nas populações da ex-Jugoslávia.

• O estado russo substituiu o império romano do Oriente, no que respeita à unificação da cristandade ortodoxa e à sua protecção contra os infiéis, consolidação que teve por base o casamento de Ivan III com a princesa bizantina Sofia Paleólogo, sobrinha do último imperador de Constantinopla (Bizâncio). A unificação territorial da Rússia foi efectuada pelo príncipe de Moscovo, Ivan III, que a estendeu para norte, até ao Árctico, e para Oriente, até ao rio Ob. As principais cidades deste novo reino eram Moscovo, tornada o centro religioso da cristandade ortodoxa, Novgorod, a cidade-empório comercial, e Pskov, centro de comércio.

• A Rússia estruturava-se socialmente num sistema feudal, onde os grandes senhores, os boiardos, se uniam ao soberano por laços vitalícios e a quem ele remunerava com a doação de terras. O Conselho dos Boiardos instituiu-se em conselho régio. Os camponeses estavam ligados à terra e aos seus senhores, não os podendo abandonar.

• A outra força que se afirmava a Oriente era a do infiel turco otomano. O poder turco residia no seu exército, constituído pelos spahis, os cavaleiros, e os janízaros, a infantaria, e na sua armada de galeras, movida a remos por cativos cristãos. Os janízaros eram corpo especial, constituído por antigos cristãos, apanhados em crianças e educados no islamismo, que eram forçados ao celibato. Fanáticos, eram as tropas de elite.

• Os tributos em que assentava eram pagos pelas populações não islâmicas do seu território (cristãos e judeus), e pelos tributos dos príncipes vassalos do sultão turco. O sultão era coadjuvado na governação por um grão-vizir e por vizires, que formavam o divã. Paxás governavam as províncias.

• No seu avanço para Ocidente, os Otomanos conquistaram Alepo, Damasco, Jerusalém, Cairo e Alexandria e declaravam-se os protectores das cidades santas de Meca e de Medina. O sultão turco tornou-se protector de Argel, alargando o seu poder até à Mauritânia. No seu avanço no Mediterrâneo europeu, os turcos atacaram Veneza que acabou por negociar com o sultão uma paz e um livre comércio com o Oriente. O sultão tornou-se califa.

• Os espanhóis saíam vitoriosos contra os muçulmanos do norte de África, ao conquistarem Melila e Orão. A diplomacia cristã com o Islão vencia em Veneza e em Roma, onde o papa recebia um embaixador do sultão. No entanto, a guerra tornava-se um dos flagelos da cristandade, que se constituía em nações, que faziam remontar as suas origens, dentro da tradição humanística, aos heróis greco-romanos.

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• Nasceram, nesta época, os primeiros imperialismos, como o francês que se afirmou com a candidatura de Francisco I ao Império, enquanto o império alemão, de origem medieval, se estendia, com os Habsburgos, à Espanha e ao império americano e asiático desta, com Carlos V (Carlos I de Espanha). Igualmente nasceram os imperialismos marítimos dos reinos peninsulares (Portugal e Espanha).

• Entre 1494-1529, ocorreram as guerras de Itália que se identificaram com as tentativas de conquista de estados italianos pelos reis de França e que se estendeu aos suíços e outros reinos, aliados do papa Júlio II, e ao Império. A paz com a França, no tempo do papa Leão X e de Francisco I, levou à Concordata de Bolonha. A paz com os suíços foi assinada em Friburgo e designada por “paz perpétua”, que permitia ao rei de França recrutar mercenários entre eles.

• A guerra que se viria a alastrar à Espanha, ligada ao Império, terminaria com a derrota da França em Pavia e com o Tratado de Madrid, em 1526. Em 1527, os aliados mudavam de campo, tendo Roma e Inglaterra passado para o lado da França contra Carlos V. Os soldados deste invadiram a Itália e entraram em Roma e saquearam-na.

• A paz de Cambrai punha fim ao conflito, deixando a França com a Borgonha e a Espanha mantinha a hegemonia sobre a Itália (1529). Os problemas do imperador com os príncipes luteranos reiniciaram a guerra, pois estes receberam o apoio do rei de França, Henrique II. Em 1555-56, Carlos V divide o Império por Filipe II de Espanha e Fernando II. A este coube os territórios do Império, enquanto aquele ficou com a Espanha e o seu império ultramarino, e os Países Baixos, ao mesmo tempo que casava com a inglesa Maria Tudor, filha de Henrique VIII. Nova guerra de França para reconquistar o norte de Itália, conduziu à sua derrota, pela paz de Careau-Cambrésis, que levou ao abandono do Piemonte e de Sbóia e à manutenção da conquista de Calais.

• A Europa conhecia um novo equilíbrio e novas potências: a Espanha, a França e a Inglaterra. A Oriente mantinha-se o equilíbrio turco que avançara para a Hungria e a dividira, enquanto no Mediterrâneo central o Islão ameaçava a Europa mediterrânica. As guerras de Itália tiveram como consequência a mudança da arte da guerra em terra e no mar. O século XVI viu consolidar-se a diplomacia como uma arte política.

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CAPÍTULO VIII TRANSFORMAÇÕES DO QUADRO ECONÓMICO,

SOCIAL E MENTAL

• A Europa atravessou, de 1530 a 1620, um período de expansão económica, acompanhado de inflação e de alta de preços. A alta de preços atingiu, na primeira fase, até 1575, os preços agrícolas. A alta de preços esteve relacionada com o excesso de moeda em circulação, provocada pela vinda do ouro e da prata americanos para Espanha e Europa.

• Os metais preciosos americanos não ficavam reduzidos à Espanha, onde a fraca economia, apesar do crescimento demográfico, levava à sua expulsão para outras regiões da Europa, como a França, das quais a Espanha era economicamente dependente. Por outro lado, artesãos franceses emigravam para Espanha onde os salários eram mais altos do que em França.

• A França estabeleceu uma nova moeda de conta ou moeda padrão, o franco de prata que valia 1/3 do escudo de ouro. Como moeda subsidiária (de troco), lavrava o bolhão ou bilhão (liga de prata e metais inferiores em que a prata entrava em fraca percentagem). Em 1578, o bolhão foi substituído pelo cobre. Em Espanha, a moeda inflacionada (o bolhão) expulsava as espécies de prata da circulação provocando quebras nos salários e carestia dos géneros, apesar dos tabelamentos, nomeadamente, dos cereais. A Inglaterra conseguiu, em 1561, uma reforma monetária sem prejudicar a economia nacional.

• Desde os finais do século XV, surgiu uma nova teoria e prática económicas: o mercantilismo. O mercantilismo defendia o desenvolvimento das manufacturas e exportação dos seus produtos; incentivo à agricultura; suspeição, quanto à ociosidade e ao luxo que tinha por base importações; as importações não deviam ultrapassar, no seu custo, as exportações. Ortiz, em Espanha, Laffemas, em França e Gresham, na Inglaterra, foram defensores das doutrinas mercantilistas. Na sequência destas teorias, os soberanos defenderam o proteccionismo. Os monopólios régios acompanharam estas teorias: os metais preciosos e a pimenta foram monopólio dos reis de Portugal; as minas e pedreiras, dos reis de França; os reis de Espanha incentivaram a produção de lã castelhana e tinham o monopólio dos metais americanos.

• A Inglaterra protegeu as manufacturas, criando “companhias” em substituição das corporações. A França regulamentou os ofícios e, em Espanha, Carlos V proibia a exportação do linho, do cânhamo, do couro, das peles, das sedas, dos ferros e dos minérios de ferro. Os reis de Inglaterra desenvolveram pouco o proteccionismo, promulgando antes Actos de Navegação que, a partir de 1651, reservarão aos seus navios uma parte do comércio de importação.

• O mercantilismo não teve sucesso em todas as partes onde foi aplicado, nem em todas as medidas que defendia. A economia capitalista comercial continuava limitada pela Igreja que proibia o empréstimo a juro e, por consequência, o adiantamento monetário com juro, o depósito. Preferia-se o recâmbio ou seja, o acordo convencionado entre dois parceiros desde o início da operação. O capitalismo invadiu o campo.

• Perante a decadência dos impérios comerciais peninsulares, novos estados tomavam parte no comércio ultramarino, tendo por base companhias comerciais e a teoria

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mercantilista. Estas companhias especializavam-se numa região geográfica como a Companhia das Índias Orientais e tinham a protecção dos soberanos.

• Novos produtos, para além da pimenta, foram trazidos do Oriente, como as sedas, as porcelanas, os algodões, as madeiras, os tapetes. Os franceses foram os iniciadores deste comércio triangular (Espanha – França – Levante turco), ou seja, prata – tecidos – produtos do Oriente, seguindo-se-lhe os ingleses e os holandeses. Da América, aos metais seguiu-se o açúcar do Brasil e das Antilhas, a partir de 1570.

• A expansão económica foi acompanhada pelo avanço da técnica, como a primeira máquina de tricotar ou a fabricação de meias de seda em tear, ou como o avanço da siderurgia, devido às armas de fogo que levou Nef a falar de uma primeira revolução industrial em Liége, na Suécia e na Inglaterra. A lenha é substituída pelo carvão de hulha. O desenvolvimento económico aconteceu na Inglaterra e na Holanda, e menos na França e no Império, por causa das guerras de religião. Entretanto, o mundo mediterrânico entrava em decadência, apesar de um breve vislumbre económico em Génova, como centro bancário. Amesterdão afirmou-se uma metrópole económica, durante o século XVII e, em 1609, criou a Bolsa de Amesterdão.

• O século XVII revelou-se igualmente um século de crises, marcado por grandes fomes, epidemias e guerras que provocaram grandes mortandades e uma grave quebra demográfica. Os preços sofreram uma descida que se acentuaria a partir da segunda metade da centúria, sem qualquer benefício social. A crise atingiu, primeiro, as regiões do centro europeu que tinham sofrido a expansão do século XVI, excepto a Holanda, e chegou mais tarde às regiões mediterrânicas. A crise teve a sua origem na escassez de metais preciosos, que fugiam da circulação por entesouramento ou para a joalharia, ou por aquisição de produtos de luxo que os levavam para o Oriente. A expulsão da circulação europeia, juntava-se a diminuição da produção dos metais preciosos americanos.

• A recessão económica (fase B de Simiand) marcou a evolução de uma sociedade que continuava a ser marcadamente rural, apesar do desenvolvimento das cidades e dos empreendimentos coloniais. As riquezas fundiárias, com excepção dos Países Baixos. A posse da terra continuava a ser motivo de consideração social e prestígio.

• Nos países marcados pela Reforma, onde os bens da Igreja tinham sido secularizados, os soberanos distribuíram uma parte pela nobreza ou venderam a maioria à burguesia endinheirada e a lavradores ricos. Também nos países católicos, como a França, ocorreu uma mudança nas terras da Igreja que viu um quinto delas ser dado pelos reis, em pagamento de serviços, durante as guerras contra os protestantes ou huguenotes.

• Sob a acção dos novos proprietários, a agricultura passava a ser um investimento para dar lucro. Para além da nova face da agricultura, esta conheceu novos terrenos obtidos pelos arroteamentos de pauis, feitos por técnicos holandeses, em regiões do Potou e da Inglaterra. Tornando-se a alimentação um dos objectivos prioritários, acrescia à produção cerealífera a criação de gado. Os pastos cresceram à custa das terras agrícolas em Inglaterra ou no sul da Itália. O mundo campesino vivia de salários baixos que não acompanhavam a subida dos preços e eram sobrecarregados pelo peso dos impostos reais e das corveias senhoriais. As condições deste grupo social agravaram-se durante o século XVI e, sobretudo, no início do seguinte.

• Na Inglaterra, as práticas comunitárias tendiam a desaparecer e levavam ao aparecimento de um proletariado agrícola que era absorvido pelo desenvolvimento da indústria. Na França, os camponeses perdiam a capacidade de compra, devido ao

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empobrecimento, ao fisco real e às guerras. Na Europa de leste, os camponeses caíam na servidão.

• Cresceu o número de pobres válidos nas cidades, devido à migração para os centros urbanos. Nas cidades, a burguesia detinha o grande comércio e a banca, assim como alguma indústria. Os pequenos lojistas e os artesãos tiveram uma evolução muito diversa, ao sabor dos preços das matérias-primas, da evolução dos salários e dos preços dos objectos fabricados. O esquema familiar manteve-se, sendo o grande número de filhos uma riqueza, quando atingem a idade de aprendizagem do ofício familiar.

• A partir de meados do século XVI, ampliou-se o fosso entre os mestres de um ofício e os companheiros, ou seja, os artesãos especializados, tornando-se difícil a ascensão deste a mestre. A regulamentação dos ofícios, restringindo os ofícios livres, dificultaria a ascensão económica e social dos companheiros ou dos artesãos de tenda aberta. O título de mestre tornou-se mais fácil dentro de uma família de mestres, enquanto os companheiros se reuniam em confrarias com funções de defesa de salários e trabalho, uniões que, por vezes, conduziam a greves. A miséria atingiu este proletariado urbano, constituído por companheiros, assalariados diversos e camponeses migrados para a cidade, cujo recuso era a mendicidade e a caridade, praticada por outros com o fim de atingir a salvação eterna. A média burguesia afirmava-se socialmente pelo exercício de cargos administrativos.

• Os estados sociais evoluíam de uma sociedade de ordens para uma sociedade de classes, onde as diferenças sociais dentro dos mesmos grupos eram significativas. A riqueza traduzia-se no comportamento, na moda, nos adornos, na habitação e na alimentação. Para lutar contra o luxo excessivo e contra a indiferenciação social, os soberanos promulgavam as pragmáticas contra o luxo. A miséria de uns e a riqueza de uma minoria conduziu a revoltas sociais. Mas as tensões sociais também se fizeram sentir entre burgueses e nobres.

• A nobreza pressionada pela ascensão e riqueza da burguesia afirmava-se como uma ordem e defendia o seu status, acentuando comportamentos e mentalidade que assentavam na pureza de sangue, na honra e no desprezo pelo trabalho. Da burguesia saiu uma nova nobreza de gente que ascendeu por mérito à nobilitação, ou seja, a quem os soberanos concederam títulos, ou que os adquiriram por funções junto da corte. Esta nova nobreza tentava imitar a nobreza de sangue, aproximando-se dela por casamento ou pelo ofício das armas. A nova nobreza de letrados tendia a afirmar-se como um quarto estado ou ordem: a nobreza de toga.

• A modificação social de uma sociedade de ordens para uma sociedade de classes foi bem visível na Holanda e na Inglaterra, onde o peso dos negócios obtivera uma consideração semelhante à da terra noutras regiões da Europa. As ordens saíram reforçadas, a nível de mentalidade e de estatuto, com a publicação do Tratado das Ordens de Loyseau, em 1611. O fechamento da nobreza como ordem tornava a mobilidade social mais discreta no século XVII. As convulsões sociais da primeira metade do século XVII assentaram não só em questões religiosas, mas também em questões de natureza politica e social. A luta contra o peso do fisco real acendeu-se contra os agentes colectores de impostos e os representantes do rei, em França. Aqui a revolta era contra o Estado.

• A segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII afirmavam-se pela crise do humanismo e da consciência europeia. As Reformas tinham provocado uma crise de irreligião na consciência do homem deste período. A arte evoluíra do

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classicismo ao maneirismo e deste ao barroco. A sociedade afirmava-se pela violência e pelo medo. De ambos era reflexo a perseguição às feiticeiras, como agentes do demónio, que, na generalidade, acabavam na fogueira.

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CAPÍTULO IX GUERRAS DE RELIGIÃO E CRISE POLÍTICA DO FIM

DO SÉCULO XVI

• A partir de 1560, a Europa dividiu-se em dois campos: católicos e reformados. A tolerância religiosa era praticamente inexistente, estando a religião de um indivíduo ou povo determinada pela religião do rei ou do príncipe. A tolerância apenas se aplicava à nobreza, na França. As guerras de religião alastraram na Europa central, abrangendo a França e os Países Baixos.

• As guerras de religião em França (1562-1598). Uma parte da nobreza francesa aderiu ao protestantismo, arrastando consigo vassalos e camponeses. O protestantismo estendeu-se também às principais cidades de França. Por detrás das facções religiosas, protestante e católica, estavam facções políticas, adversárias dos de Guise. Catarina de Médicis, regente durante a menoridade de Carlos IX, praticou uma política de tolerância, onde procurou reconciliar os adversários políticos. Tendo convocado os Estados Gerais, um dos procuradores do povo reclamou a liberdade religiosa e propôs o confisco dos bens da Igreja, para sanear a economia. Um dos expoentes dessa política foi o Édito de Tolerância de Janeiro de 1562, que outorgava aos protestantes a liberdade de culto fora das cidades. Apesar do édito, os campos extremaram-se: huguenotes, chefiados por António de Bourbon e Conde, e os católicos pelos de Guise. A guerra alastrou. Depois do assassinato de Francisco de Guise, Catarina promulgou o Édito de Pacificação de Amboise, menos favorável aos protestantes que o do ano anterior: o culto reformado mantinha-se onde já existia; os senhores com direito a justiça usufruíam de liberdade de culto tal como os seus vassalos; nos demais casos, o culto protestante ficava restrito aos arrabaldes de uma cidade por bailiado. À tentativa frustrada de rapto do rei por Conde e do massacre dos chefes católicos seguiu-se de novo a guerra. O Édito de Saint Germain (1570) deu aos huguenotes, durante dois anos, quatro praças fortes. O almirante de Coligny tentou, junto de Carlos IX, uma aliança protestante contra a Espanha. A matança de S. Bartolomeu foi ordenada pelo rei de França contra os chefes protestantes. Por fim, Carlos IX e Henrique III, sucedia-lhes o rei de Navarra, Henrique casado com Margarida de Valois e que seguia a fé reformada. Filipe II de Espanha apoiava os de Guise que tinham formado a Liga Católica e queria colocar a filha no trono de França. Isabel de Inglaterra apoiava os protestantes. Henrique IV renegou o protestantismo e prometeu conservar a religião católica. Em 1598, publicou o Édito de Nantes, onde permitiu a liberdade de culto em todos os lugares, com excepção de Paris ou onde a corte estivesse. Reconhecia-se o direito de acesso a todos os ofícios e cargos por parte dos protestantes. A paz de Vervins foi assinada entre a França e a Espanha, mantendo as cláusulas de Cateau-Cambrésis.

• As guerras de religião nos Países Baixos (1566-1609). A oposição religiosa teve consequências de separação política, numa região unida entre si por uma espécie de federação. Os católicos eram apoiados por Filipe II, senhor dos Países Baixos, depois de Carlos V, o qual estava representado no local por Margarida de Parma. Em 1566, a nobreza moderada aliou-se aos calvinistas, contra a política dos representantes do rei de Espanha e senhor dos Países Baixos. Os calvinistas levantaram-se contra a religião católica e atacaram igrejas e mosteiros a que respondeu Filipe II com o envio do duque de Alba e a ocupação do aparelho político, contra os privilégios e liberdades da província. À sublevação religiosa sucedeu a sublevação política contra os espanhóis, a

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partir de 1572. A resistência tinha como cabecilha Guilherme de Orange. A pacificação de Gand concedia a liberdade religiosa às duas províncias calvinistas. D. João de Áustria acabou por aceitar a pacificação de Gand e a partida das tropas espanholas. As províncias católicas rebelaram-se contra a chefia de Guilherme de Orange e constituíram a União de Arras que previa a reconciliação com Filipe II. As províncias do norte, calvinistas, responderam com a União de Utreque. Em 1609, Filipe III reconhecia a independência destas ultimas, designadas as Províncias Unidas. Os Países Baixos católicos foram dados à infanta D. Isabel e a seu marido o arquiduque Alberto. As guerras político-religiosas provocaram a decadência económica da região, com o aparecimento de Antuérpia (Anvers), como centro económico a qual foi substituída por Amesterdão, a norte, nas Províncias Unidas (Holanda). A Igreja empobreceu com o confisco dos seus bens que não lhe foram restituídos, para pagamento da guerra. No plano cultural, a figura mais proeminente foi Montaigne. No plano político, a teorização levava à ideia de contrato entre o povo e o rei e à teoria da monarquia absoluta, desenhada por Jean Bodin, na sua obra A República: o rei era limitado pela lei de Deus e pela lei natural.

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CAPÍTULO X EUROPA MEDITERRÂNEA E EUROPA DO NOROESTE

• Os finais do século XVI assistiram ao crescente poderio da Espanha, no mundo mediterrânico e da Inglaterra, na Europa do noroeste. Filipe II unificou a Península sob a União Ibérica e avançou na direcção do Mediterrâneo, onde combateu os turcos, vencendo-os em Lepanto, e dos Países Baixos, onde lutou contra os calvinistas. Dominou uma parte da Itália: o sul com o reino de Nápoles, a Sardenha e a Sicília, e o norte com o Milanado. O palácio do Escorial foi o símbolo do seu governo.

• Filipe II, com a ascensão ao trono de Portugal, ligou o império português do Oriente, as ilhas atlânticas, o litoral africano e o Brasil ao império espanhol das Américas, mas começou com ele o início da decadência espanhola. Da América espanhola continuam a vir carregamentos de metais preciosos, para Sevilha. A coroa, por via dos asientos, encontrava-se em deficit perante os mercadores genoveses, seus credores. Filipe II declarou a bancarrota em 1557, 1575 e em 1596. Para evitar a carestia proibiu a exportação de cereais. A Espanha manteve-se exportadora de lã em bruto, graças ao apoio que dava aos produtores que constituíam a Mesta, para Itália e importava tecidos italianos e franceses. O artesanato estava nas mãos dos mouriscos.

• A rival de Espanha foi a Inglaterra, com quem a coroa espanhola desenvolveu uma política de casamento: Henrique VIII casou com uma princesa espanhola de quem teve uma filha e sucessora, Maria Tudor, que, por sua vez, casou com Filipe II. A Inglaterra era um reino onde a criação de gado, a produção de lã, a cultura de cereais prevaleciam mas onde o comércio marítimo e as indústrias estavam em desenvolvimento.

• A sucessora de Maria Tudor, católica, foi Isabel, que professava a fé anglicana e se manifestou a adversária mais poderosa de Filipe II, agindo politicamente no continente ao lado dos huguenotes franceses e dos calvinistas holandeses. Contra ela fez este a Armada Invencível, em 1588, que foi derrotada nos mares do Norte. Face ao Parlamento, afirmou-se como um poder absoluto. No seu reinado, consolidou-se o anglicanismo que aceitava o dogma calvinista e conservava a liturgia católica. Uma insurreição católica no norte de Inglaterra foi sufocada, ao mesmo tempo que uma seita protestante, os puritanos, contestavam a pompa e a riqueza da igreja anglicana.

• Economicamente, a Inglaterra era um reino agrícola que arrancou, neste governo, para um império comercial marítimo, graças aos corsários, como Francis Drake, que atacavam os galeões espanhóis e portugueses, ao aumento demográfico e ao desenvolvimento da indústria. O desenvolvimento da indústria acompanhou a utilização do carvão de pedra (a hulha), energia abastecedora dos altos-fornos, enquanto o comércio marítimo lançava os barcos dos mercadores ingleses nas rotas do império português do Oriente. Os ingleses constituíam companhias comerciais que tendiam ao monopólio, tais como a Companhia Moscovita ou a Companhia das Índias Orientais. Esta actuação era incentivada pela política real que proibia as importações de têxteis do continente. No comércio marítimo, a Inglaterra tornou-se rival da Holanda que no século XVII teria em Amesterdão um centro de economia-mundo, na expressão de Braudel.

• O desenvolvimento da indústria têxtil aumentou as “enclosures”, ou seja os campos fechados para a criação de gado lanígero e levou à migração para as cidades de muitos camponeses que viviam na mendicidade ou eram absorvidos pela indústria. Para evitar a

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mendicidade, a Inglaterra promulgava a lei dos pobres de 1601. A Renascença chegava tardiamente a Inglaterra. Desta época é Shakespeare.

• Com a morte de Isabel, sem descendência directa, sucedeu no trono inglês Jaime I da Escócia, o filho de Maria Stuart, rainha católica da Escócia, mandada decapitar na Torre de Londres, por Isabel. A Grã-Bretanha ficava unida num reino único (País de Gales, Inglaterra e Escócia), enquanto a Irlanda, católica, se rebelava contra o domínio inglês. O início do século XVV assistiu à assinatura dos primeiros tratados de paz, após as guerras de religião: (1598) paz entre Henrique IV de França e Filipe II; (1604) paz entre Jaime VI e Filipe III; (1609) paz entre as Províncias Unidas (Holanda) e Filipe III. O domínio da Europa do Noroeste sucedia à Europa mediterrânica de que a Espanha de Filipe II fora a última protagonista.

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CAPÍTULO XI AS MARGENS DA EUROPA OCIDENTAL

• Ivan IV, o terrível, procedeu a reformas na Rússia de que se salientam as seguintes: estabelecimento do primeiro nobiliário de famílias nobres (boiardos), ficando a hierarquia social estabelecida pela ligação destas famílias à família real de Moscovo; os grupos sociais estavam definidos em relação às funções que cada um preenchia junto do czar; a duma dos boiardos (o conselho) e a assembleia nacional sofreram um apagamento durante o reinado de Ivan IV; o seu governo caracterizou-se por uma expansão territorial que levou à dominação dos tártaros da Crimeia e à conquista de Astracã, com a consequente abertura da Rússia aos portos da Ásia; o mundo rural caracterizava-se por uma grande mobilidade, indo as aldeias sendo integradas na administração russa à medida que esta avançava territorialmente.

• A sociedade russa não era uma sociedade feudal: os boiardos mantiveram as suas terras desde que fiéis ao czar; as terras confiscadas aos boiardos revoltosos eram dadas em pagamento de serviços a uma nobreza de funcionários que se tornara hereditária. A Rússia tinha poucas cidades e uma população urbana escassa, quase não existindo uma burguesia. Os artesãos eram na sua maioria estrangeiros e residiam nos arrabaldes de Moscovo. A maior parte da sua população era constituída por camponeses que pagavam os impostos e serviam no exército. Uma parte destes eram agricultores livres, rendeiros de terras, e a maioria era constituída por camponeses ligados à terra, sem a poder abandonar. Cristãos ortodoxos, os russos tinham no clero, nos monges, um grupo social politicamente poderoso, tanto mais que Moscovo se tornara num patriarcado, no tempo do czar Fedor.

• Após um período de revoltas e perturbações sociais, ascendeu ao trono da Rússia Miguel Romanov que iniciara a restauração do estado russo. Com os Romanov, a sociedade hierarquizou-se numa sociedade de ordens, adstritas ao serviço do Estado: o clero, uma nobreza terratenente com funções militares e uma pequena nobreza miserável que se dedicava ao comércio ou ao artesanato ou eram soldados; alguns comerciantes e artesãos ao serviço do czar; e a maioria dos camponeses tornada serva, ligada à terra em que vivia, pela lei de 1646. Territorialmente, a Rússia perdeu o acesso aos portos que a ligavam aos mares, pelo que o grupo de mercadores estrangeiros, sitos em Moscovo, cresceu de importância junto da corte do czar. Os cossacos entravam para a obediência do czar, em meados do século XVII, criando uma aristocracia.

• A Polónia, encravada entre a Rússia e a Europa ocidental, seguia o culto católico. Constituía uma monarquia rural, onde a aristocracia vivia da terra e da caça. As cidades eram habitadas por uma maioria de estrangeiros, alemães ou judeus, que detinham o comércio e o artesanato.

• A partir de finais do século XVI, a Polónia entrava em decadência, apesar de ter agregado o grão-ducado da Lituânia, em 1569, e ter atravessado um curto período de apogeu em que se abriu à cultura ocidental e ao movimento da Renascença. Um dos grandes nomes da história da humanidade é o polaco Copérnico, professor na universidade de Cracóvia. Na fase decadente, a Polónia teve uma família real de origem sueca, com Varsóvia por capital. Consolidaram o cristianismo católico e encabeçaram cruzadas contra os turcos, mas sem sucesso. As invasões da Suécia e da Rússia deixaram a Polónia decadente e territorialmente fragilizada.

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• A Escandinávia tinha contactos com a Europa ocidental através das cidades hanseáticas, nomeadamente Lubeck. Os hanseáticos foram substituídos na Suécia pelos holandeses, que lhe exploram e exportam o ferro e o cobre. A Dinamarca era um reino que desenvolvia a criação de gado e os lacticínios. A Noruega exportava madeiras para a construção naval e peixe. Os reinos nórdicos eram monarquias (electiva a da Dinamarca), em que o soberano era o chefe da religião luterana e a nobreza o grupo social preponderante.

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CAPÍTULO XII INGLATERRA E PROVÍNCIAS UNIDAS ENTRE AS SOCIEDADES DE ORDENS E AS SOCIEDADES DE

CLASSES

Na Inglaterra:

• Jaime I Stuart iniciou a união pessoal da Inglaterra e da Escócia, ao suceder ao trono por morte de Isabel. Jaime I e seu filho Carlos I governaram como reis absolutistas, tal como Isabel, convocando poucas vezes o Parlamento, constituído pela Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. Reuniam o conselho privado.

• A administração local estava entregue aos deputados-tenentes, aos xerifes e aos juízes de paz, nomeados pelo rei entre poderosos que defendiam o interesse do seu grupo social. As finanças reais tinham por base os bens da coroa e os impostos autorizados pelo Parlamento. Em caso de dificuldade financeira preferiam recorrer a empréstimos a convocar o Parlamento. Em 1605, uma conjura católica, a Conspiração da Pólvoras, reuniu o reino à volta do rei.

• No entanto a política externa não lhe foi favorável, ao fazer a paz com a Espanha que rompeu em 1625. Carlos I desenvolveu uma politica externa activa pelo que convocou o Parlamento, em 1628, para solicitar subsídios. Os parlamentares apresentaram-lhe a Petition of Right onde o censuravam por lançar impostos sem autorização do Parlamento e o acusavam de prisões arbitrárias de súbditos seus. Aceitou a petição mas em 1629 voltava a governar sem o Parlamento. A este período, os ingleses chamaram-lhe a “tirania”.

• Restaurou a liturgia católica na igreja anglicana o que provocou uma cisão entre os súbditos, tendo alguns puritanos emigrado para a América do Norte. Também a Escócia foi afectada pela imposição religiosa da estrutura anglicana que foi rejeitada pela Escócia presbiterana. A guerra com a Escócia e a necessidade de dinheiro levou Carlos I a convocar o Parlamento, em 1640.

• Iniciou-se um período de guerras civis no reino que foram acompanhadas pelas revoltas dos irlandeses católicos, no Ulster. O Parlamento impôs a Carlos I a Grande Admoestação, onde lhe impunha a escolha de conselheiros da confiança do Parlamento. Carlos I tentou opor-se-lhes e prender os cabecilhas parlamentares, mas foi obrigado a fugir de Londres que se sublevara. Os ingleses dividiram-se em dois partidos: os Cavaleiros, partidários do rei, e os Cabeças Redondas, partidários do Parlamento. A má preparação militar era nítida em ambos os campos, até à chegada de Olivier Cromwell, à frente do grupo parlamentar. Puritano fanático organizou e disciplinou o exército dos Cabeças Redondas. Carlos I foi derrotado. Fugiu para a Escócia onde viria a ser entregue ao Parlamento de Londres.

• Entretanto novas seitas de cariz social surgiram levando o Parlamento a votar a declaração que dava ao povo a soberania, imediatamente a seguir a Deus. A Câmara dos Comuns passou a exercer o poder supremo da nação. Carlos I foi condenado à morte em 1649.

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• O Parlamento aboliu a realeza e suprimiu a Câmara dos Lordes. Cromwell venceu a Irlanda e a Escócia, derrotando o exército realista de Carlos II, filho de Carlos I. A Holanda de Guilherme de Orange opôs-se à República de Cromwell.

• A economia inglesa, durante os dois Stuarts, continuou a desenvolver-se, quer internamente na indústria, quer a nível de comércio marítimo com as Índias. Nobres e negociantes participavam deste desenvolvimento. Da burguesia ascendeu um novo corpo de nobres rurais que adquiriram os bens secularizados da Igreja, no tempo de Jaime I. A aristocracia terratenente, os landlords, detinha a administração central. Camponeses e proletários urbanos viviam na miséria e eram permeáveis aos descontentamentos sociais e religiosos. O puritanismo alastrou na Inglaterra, durante os Stuart. Com o estabelecimento da República, Cromwell governou através do exército, nomeadamente o Conselho dos generais. Hostilizou a ideia de igualdade política, mas afirmou a ideia de igualdade religiosa no seio do povo de Deus.

• Em 1651, o Parlamento votou o Acto de Navegação, segundo o qual todos os produtos coloniais deviam ser importados em navios ingleses e os produtos europeus em navios ingleses ou de seus países de origem. Dissolveu o Parlamento em 1654 e dividiu as ilhas britânicas em onze circunscrições militares. Em 1657, o Parlamento ofereceu-lhe a coroa que recusou, mas aceitou as insígnias reais e o direito de nomear um sucessor. Em 1654 assinou a paz com os holandeses que reconheceram o Acto de Navegação. Os ingleses atacaram as Antilhas e conquistaram a Jamaica. À sua morte, em 1658, sucedeu-lhe Ricardo Cromwell que abdicava ao fim de seis meses. Em 1660, o Parlamento chamava o rei Carlos II ao poder.

Nas Províncias Unidas:

• Enquanto os Países Baixos espanhóis decaíam, as Províncias Unidas, a norte, cresciam economicamente, ao mesmo tempo que lutavam contra a Espanha. Expandem-se, chegando ao Oriente onde concorreram e suplantaram os portugueses, ocuparam Curaçao e o nordeste brasileiro. Em 1648, derrotavam os espanhóis que lhes reconheciam a independência. Em 1654, os holandeses entregavam o Brasil a Portugal, mas mantinham a Malásia, o Ceilão, o Cabo, Surinã e Curaçao. Expandiam-se para a América do Norte, onde fundavam Nova Amesterdão ou Nova York.

• Os holandeses, com Amesterdão à cabeça, dominaram economicamente o século XVII, fazendo de Amesterdão um centro de economia-mundo, no dizer de Braudel. Para além do comércio marítimo e da pesca, os holandeses tornavam-se um povo agrícola e criador de gado. Criaram a Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais. Amesterdão tinha um banco de câmbio e de depósito, fundado em 1609, que se tornou um banco de crédito. Possuía uma bolsa.

• A Amesterdão afluíram os cristãos novos portugueses e espanhóis que criaram uma activa e rica comunidade judaica. A rivalidade económica e marítima conduziram ao direito internacional marítimo. Grotius defendeu a ideia do maré liberum, contra a tese antiga do maré clausum. As Províncias Unidas tornaram-se uma terra de liberdade política e religiosa, ao mesmo tempo que grandes nomes da cultura apareciam, como o judeu Bento Espinosa. A união da França e da Inglaterra destruíram o poderio económico da Holanda que se viu forçada a entregar Nova Amesterdão aos ingleses. Pelo tratado de Nimégue, em 1678, a Holanda salvaguardou a sua independência territorial encabeçada pela família Orange, mas a hegemonia comercial passou para a Inglaterra.

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CAPÍTULO XIII O DESTINO DAS GRANDES MONARQUIAS: ESPANHA E

FRANÇA

Espanha:

• Viveu no século XVII o chamado “século de ouro”, apesar de nele ter tido origem a decadência da Espanha. A primeira metade do século caracterizou-se por uma quebra demográfica, provocada pelas epidemias, as guerras, como a da Catalunha, pela expulsão dos mouros e pela emigração para outras paragens, nomeadamente a América.

• A economia caracterizou-se pelo crescimento da criação de gado à custa das terras cerealíferas, da diminuição da produção vinícola, de uma indústria têxtil mais marcada pela exportação da lã em bruto do que tecida e por uma indústria de produção da seda e por um comércio que conhecia o seu apogeu nas feiras de Medina del Campo e em Cádis como termo da rota americana.

• A sociedade estava marcada pela preponderância do alto clero e da alta nobreza que se definia pela primogenitura e pela concentração dos morgadios no primogénito; pelos letrados; pelos fidalgos, nobres não primogénitos; pelos burgueses e pelo campesinato onde abundavam os jornaleiros.

• A Espanha era uma monarquia absoluta, onde o poder dos favoritos reais era bastante importante. Os reis governavam com um conselho e convocavam escassamente as cortes dos diferentes estados que constituíam a coroa espanhola. Aumentaram os impostos e a inflação foi galopante.

• A Espanha sofreu uma longa e desgastante guerra com a França: o conde-duque de Olivares, primeiro-ministro de Filipe III, enfrentava o cardeal Richelieu, primeiro-ministro de Luís XIII. Em 1640 eclodiram revoltas separatistas em Portugal, na Catalunha, em Aragão e na Andaluzia. A Catalunha declarou-se súbdita de Luís XII de França até 1652. Portugal tornou-se independente e foi reconhecido como tal em 1668. No tempo de Filipe IV, rebelou-se contra o domínio espanhol a Itália espanhola. Apesar da Inquisição, a cultura e as artes desenvolveram-se dando nomes como Cervantes, na literatura, Velásquez e Greco, na pintura.

França:

• A França viveu entre 1598 e 1661, um período de guerra civil, crises económicas e sociais. Henrique de Navarra abjurou o calvinismo para se tornar rei de França e afirmou-se como um rei católico. Governou como um rei absoluto, sem convocar os Estados Gerais. Alterou a concepção da administração ao leiloar os cargos que se tornavam propriedade de quem mais desse por eles, deu origem a um quarto estado que veria os mais altos titulares nobilitados, originando uma nobreza de toga.

• O Édito de Nantes, que permitia o culto reformado, foi aplicado com muitas dificuldades em todo o reino. A guerra religiosa tinha deixado o reino desgastado economicamente. Os camponeses viviam na miséria e nas cidades crescia a mendicidade. O banditismo proliferava.

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• Henrique IV tomou as seguintes medidas: promulgou o édito sobre os ofícios de 1581; encorajou a agricultura, protegendo os camponeses e reduzindo-lhes os impostos, assim como incentivava a nobreza rural a gerir os seus domínios; secou pântanos; restaurou as vias; incentivou a uma indústria nacional de produtos de luxo de modo a evitar a importação, como a da seda. A criação de uma Companhia das Índias Orientais falhou. Henrique IV teve como conselheiros Sully, que sanearia a moeda, e Laffemas que defendia as teorias mercantilistas.

• As reformas não agradaram e a instabilidade social cresceu, agravada com a insatisfação religiosa. Henrique IV foi assassinado, em 1610, quando se preparava para apoiar os protestantes contra a Espanha, deixando o filho menor, o futuro Luís XIII. Sucedeu-se um período de regência encabeçado pela rainha viúva Maria de Médicis, italiana, que ensaiou a paz com a Espanha, casando Luís XIII com Ana de Áustria. Vários partidos se digladiaram até à subida ao trono do rei que, em 1624, chamaria Richelieu para o Conselho e faria dele ministro.

• Richelieu desenvolveu a política de Henrique IV contra a Espanha, apoiando os Países Baixos e as revoltas que, na Península, procuravam a autonomia da coroa espanhola, como Portugal ou a Catalunha. Aproximando-se da Inglaterra, casando a irmã do rei com Carlos I de Inglaterra. Lutou contra os protestantes franceses, dominando-os e permitindo que o Édito de Nantes pudesse ser executado com moderação. Com mão férrea disciplinou a nobreza francesa, centralizou a administração e controlou a opinião pública. Reestruturou o exército (código Michau) e a marinha. Investiu nas teorias mercantilistas, seguindo o pensamento de Laffemas. Os franceses ensaiaram a sua colonização americana povoando o Quebec. Richelieu aplicou o Concílio de Trento em França. No seu testamento político dissertou sobre as ideias absolutistas, sendo o rei considerado a imagem viva de Deus, prestando apenas perante Este contas dos seus actos de governante.

• As revoltas populares foram constantes perante o aumento sucessivo de impostos, a carestia, as fomes, as epidemias, ao mesmo tempo que as intrigas da corte, instigadas pela rainha, apoiada pela Espanha rebentavam continuamente. Sucedeu-lhe como ministro de França o cardeal Mazarino.

• À morte de Luís XIII e na menoridade do futuro Luís XIV, criou-se um conselho de regência em que tomavam parte, entre outros, Mazarino e a rainha viúva. Ana de Áustria fez o Parlamento anular o testamento de Luís XIII e o conselho de regência, ficando a governar com Mazarino.

• Entre 1648 e 1652, a França mergulhava de novo na guerra civil, agravada por uma crise económica, onde os camponeses, artesãos e pequena burguesia se revoltavam contra os impostos, contra a fome e o desemprego. A Fronda tal como outros movimentos similares manifestou-se contra o poder real e integrou nesta revolta a nobreza togada, os parlamentos. A Fronda exigiu a abolição dos impostos criados a partir de 1635, afastamento dos oficiais colectores dos mesmos, mas mantinha-se leal ao rei e aos parlamentos.

• O não cumprimento do acordado por parte da rainha regente e a fuga de Paris com o rei, a população e o Parlamento de Paris revoltavam-se contra Mazarino. A paz foi feita entre ambos, ao mesmo tempo que a nobreza chefiada por Conde se revoltava. A paz voltaria à França com a maioridade de Luís XIV.

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CAPÍTULO XIV A EUROPA DILACERADA (1609-1661)

• A Reforma, no Império, provocou a secularização de muitos bens da Igreja, permitindo impulsionar a agricultura. O trigo e a madeira das florestas eram trocados por sal e por peixe. Os holandeses participavam deste comércio com as cidades hanseáticas e com as cidades alemãs.

• Politicamente, a Reforma ajudou a independência dos diversos principados, tornando-se o Império um principado federalizador da nação alemã. No acto da eleição, o imperador obrigava-se a aceitar a limitação dos poderes fora do seu território. O Império separava-se religiosamente, tendo-se uns príncipes convertido ao luteranismo, outros ao calvinismo, como o eleitor palatino, e tendo outros permanecido católicos, como os duques da Baviera e os arquiduques da Áustria.

• A cisão religiosa iria provocar no início do século XVII a criação da União Evangélica, protestante, que se aliou à Inglaterra, às Províncias Unidas e à França, contra a Liga Católica, liderada por Maximiliano da Baviera e aliada à Espanha. A Boémia era um reino, governado pelos Habsburgo, mas onde graças à Carta de Majestade, as diversas seitas protestantes viviam em liberdade religiosa. A revolta dos príncipes protestantes da Boémia, contra o imperador conduziu a uma nova guerra religiosa. De facto, ao darem a coroa ao eleitor palatino, chefe da Liga Evangélica, os senhores, nobreza e cidades da Boémia, tornavam o grupo protestante maioritário no colégio dos eleitores, enfraquecendo a causa católica. A Europa dividiu-se nos esforços de guerra e de paz. Para esta última contribuíram a França e a Inglaterra.

• Os católicos, encabeçados pela Baviera, e pelo imperador Fernando II, venceram Frederico V, eleitor do Palatino. Os checos foram duramente tratados, tendo uma parte da sua nobreza perdido os bens a favor dos alemães. A Carta de Majestade foi abolida. A realeza tornava-se hereditária na casa dos Habsburgo e o catolicismo voltava a ser a religião do estado. O Palatinado foi dado ao duque da Baviera que passou a deter a dignidade eleitoral que pertencera a Frederico V, que foi expulso do Império. A Suécia protestante, onde reinava Gustavo Adolfo, entrou na luta, invadindo o império e tornando-se aliada dos príncipes protestantes. Ao lado do Imperador continuava a Espanha. A invasão sueca acabaria na morte do soberano sueco e na paz entre os príncipes alemães e o Imperador que ratificava com eles a dissolução das ligas.

• A Guerra dos Trinta Anos estendeu-se para além do continente europeu e revestiu a luta da Suécia com o Império e a da França contra a Espanha, com poder na Europa central, graças ao apoio que dava ao imperador. Os franceses usaram contra a Espanha não só as armas, mas apoiavam as revoltas autonomistas na Península e em Itália. A guerra terminou pelo Tratado de Vestefália de 1648. Para além da paz entre a França e o Império e entre a França e a Espanha, as Províncias Unidas obtiveram a independência face à Espanha e os cantões suíços separavam-se do Império. A Suécia ficava com poder sobre a Pomerânia ocidental, a cidade de Wismar e os bispados de Bremen e de Verden. Do tratado de Vestefália emergia uma nova ordem imperial, com a autonomia dos diversos estados e com a obtenção por parte dos calvinistas do mesmo estatuto que os católicos e os luteranos.

• A guerra franco-espanhola terminou com o Tratado dos Pirinéus em 1659. A França passava à situação de árbitro dos reinos seus vizinhos. A guerra trouxe as condições

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gerais de miséria, quer nos campos, quer nas cidades, com consequências na diminuição de natalidade, na propagação da fome e das epidemias.

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CAPÍTULO XV O DIFÍCIL NASCIMENTO DA EUROPA CLÁSSICA

• Entre os finais do século XVI e o início do XVII, fixaram-se as ortodoxias católica e reformadas. A Igreja católica reorganizou-se e disciplinou-se. Publicou-se o catecismo romano, o novo breviário e o novo missal. As novas ordens religiosas tiveram uma acção importante na educação católica e humanística e na missionação. Incentivou-se uma formação para os sacerdotes, criando os seminários. A caridade teve uma acção social. Desenvolveu-se uma corrente mística de que Sta. Teresa de Ávila e S. João da Cruz foram exemplos. A mística, o rigorismo e o pessimismo conduziram, em França, ao jansenismo, que teve algumas das suas proposições condenadas por Roma

• O espírito científico despertou. Desenvolveu-se a astronomia, a matemática, a física, a medicina. Nomes como Galileu, Kepler, Harvey, Bacon celebrizaram-se. Na arte desenvolveu-se o Barroco. Na política, afirmou-se o Absolutismo.

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PARTE III O MUNDO EXTRA-EUROPEU NOS SÉCULOS XVI E

XVII

Capitulo XVI O Velho Mundo: Islã e África

1. A subida ao poder de Solimão, o Magnífico, foi marcada por uma série de assaltos nas Balcãs e no Mediterrâneo. Destaque as principais investidas otomanas no Velho Continente entre 1520 e 1587.

Para responder de forma correcta a esta questão deveria referir nomeadamente a

conquista de Belgrado (1521), de Rodes (1522), a vitória turca em Mohács, na

Hungria (1526), o cerco de Viena (1526), o ataque à Itália meridional e Corfu

(1537), a conquista de Buda, na Hungria (1541), o cerco de Malta (1565), a invasão

da Hungria (1566) e a expulsão dos Venezianos de Chipre (1571).

2. Elabore uma ficha sobre o conceito de escravatura.

ESCRAVATURA – Instituição socio-económica em que o senhor possui um direito

total e absoluto de propriedade e de uso sobre outros seres humanos, de que pode

dispor à sua vontade sem restrição alguma. O escravo não tem qualquer direito e só

tem deveres. A origem, as modalidades, a natureza da escravidão, as suas razões

económicas e sociais, variam com as épocas, os lugares, as civilizações. Os escravos

podiam ser recrutados pela guerra, a pirataria, o endividamento absoluto, a venda

das crianças, e transmitiam-se por herança, compra ou descendência. As condições

também podiam ser muito diferentes. Porém, os escravos constituíam bens de uso e

um capital produtivo, objecto passivo de troca e de comércio.

3. Refira-se, sumariamente, ao significado do problema da escravatura para o continente africano.

Comprados a troco de trigo (no litoral saariano), cavalos marroquinos (essenciais

para o prestigio e força militar dos reinos negros), ou ainda, por contas, lenços,

manilhas de latão, panos vermelhos e azuis ou mantas do Alentejo, o tráfico de

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escravos – em que sabemos intervirem poderosos capitalistas nacionais e

estrangeiros, e círculos amplos de mercadores, altos dignatários do Estado e

escalões médios da hierarquia administrativa e, ainda, colectiva ou individualmente,

membros da Igreja – transformou o continente africano num vasto e inesgotável

reservatório de mão-de-obra que foi utilizada nos campos portugueses e nas

colónias ibéricas, das fazendas mexicanas ao Peru e ao Brasil (calcula-se que aqui

terão chegado a uma média de 4000 por ano durante o século XVII) com graves

consequências socio-económicas e culturais para a África.

Capitulo XVII

O Mundo Hindu e o Extremo Oriente 1. Estabeleça uma cronologia das principais companhias criadas pelos europeus para o comércio com as “Índias Orientais”.

As três principais companhias são: a Companhia Inglesa das Índias Orientais (East

India Company),criada em 1600; a Companhia Holandesa das Índias Orientais,

estabelecida pelas Províncias Unidas em 1602 e a Companhia Francesa das Índias

Orientais (Compagnie Française des Indes Orientales), instituída em 1664.

2. Comente a afirmação de André Corvisier, segundo a qual a China, no século XVII, de tornara “uma espécie de sociedade de ordens”.

Deve-se destacar a estratificação e hierarquização que a sociedade chinesa conhece

no século XVII. De assinalar ainda o papel do “talento” na ascensão numa

sociedade de ordens, atendendo a que algumas funções eram designadas por

concurso, sendo a hereditariedade só considerada nas ordens superiores.

3. Justifique porque o regime dos shoguns Tokugawa, do Japão, permanecia feudal ainda no século XVIII.

O regime dos shoguns Tokugawa reproduzia nos séculos XVII e XVIII as dicotomias

sociais de uma sociedade tripartida típicas da sociedade medieval.

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Capitulo XVIII O Novo Mundo

1. Refira-se às consequências demográficas para a população ameríndia da ocupação espanhola.

De destacar que a população ameríndia, apesar dos esforços de Las Casas e outros

no combate pela justiça na conquista da América, diminuiu de forma acentuada

devido à violência dos conquistadores, ao trabalho forçado e às doenças levadas

pelos colonizadores.

2. Refira-se, esquematicamente, aos principais campos de exploração económica das Américas pelos europeus.

Plantações de cana-de-açúcar nas Antilhas e Brasil. Plantações de tabaco na

Virginia. Exploração de jazidas, nomeadamente de metais preciosos, no México

(prata), Colômbia (ouro) e Peru (mercúrio e prata).

3. Analise a importância da mão-de-obra escrava na produção do açúcar no Brasil.

É importante assinalar que já o açúcar da Madeira arranca graças aos escravos

canários e, depois, negros da Guiné. O ciclo do açúcar marcou a primeira e

extraordinária epopeia da fixação do homem branco – e negro – nos trópicos,

originando uma autêntica civilização da cana. A já chamada “civilização do

açúcar” assentou numa tripla aliança: no latifúndio, na monocultura e na

escravidão, em que na base de todo o processo de produção, de toda a organização

do engenho e da lavoura se encontrava o escravo negro.

FIM

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PARTE IV DA EUROPA CLÁSSICA À EUROPA DAS LUZES

Capitulo XIX A França de Luís XIV

1. Estabeleça a pirâmide social do Antigo Regime.

Deveria referir, do topo (Rei) para a base (Povo): o alto clero e o baixo clero, a par,

respectivamente da nobreza de espada e da nobreza de toga; a seguir a burguesia

(homens de leis, comerciantes, etc.), depois os lavradores, os artífices e, finalmente,

os trabalhadores braçais.

2. Analise a importância do desenvolvimento por Colbert das Manufacturas para realizar a sua política mercantilista.

Deveria mostrar que Colbert, para concretizar a sua política mercantilista, para

além de criar manufacturas propriedade do Estado (como os Gobelins, a

Savonnerie, os arsenais militares, como o de Saint-Etienne) favoreceu as

manufacturas privadas concedendo-lhes subsídios, adquirindo acções ou

outorgando-lhes o monopólio de fabrico e venda de certos produtos; também a

isenção de impostos. A sua acção passou ainda pela contratação de reputados

técnicos e artífices estrangeiros (como os Van Robais); tabelou os salários e

aumentou as taxas alfandegárias sobre a importação de produtos estrangeiros

concorrentes e criou uma regulamentação minuciosa e um corpo de inspectores

visando manter a qualidade dos produtos.

3. Refira-se à tradução do mito “Rei-Sol” no palácio de Versalhes.

Deveria revelar a criação de Versalhes (Le Vau e Jules Hardouin-Mansart) como

templo destinado ao culto régio, no qual o espaço do jardim (André Le Nôtre) e a

sua decoração interior (Le Brun) se encontram ordenados segundo o mito de Apolo

– um dos grandes deuses da Grécia, que personificava o Sol.

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4. Identifique, esquematicamente, as condições (materiais, políticas, sociais, culturais e psicológicas) que permitiram a D. João V a importação desta atitude de Luís XIV.

Condições materiais, o ouro do Brasil;

Políticas, o fim das campanhas da Restauração e da Sucessão de Espanha;

Sociais, a dominância absoluta do modelo nobiliárquico;

Culturais, o desenvolvimento do barroco;

Psicológicos, o temperamento orgulhoso e autoritário do rei Magnânimo.

Capitulo XX

As Guerras na Europa de 1661 a 1715 1. Refira-se à importância da obra militar de Sébastien Le Prestre de Vauban (1633-1707).

Engenheiro militar, Marechal de France Directeur General des Fortifications du

Royaume (1703), deve-se-lhe a construção ou reconstrução de mais de trezentas

praças fortes (Lille, por exemplo); desenvolveu a arte do cerco dirigindo com êxito

cinquenta e três ataques a importantes praças (Tournai, Douai, Ypres, Maestricht,

Besançon, Turim, etc.) e renovou a técnica da fortificação, que viria a ficar

conhecida por Sistema de Vauban.

2. Estabeleça uma cronologia dos principais eventos relacionados com a Guerra de Sucessão da Espanha, entre a morte de Carlos II (1700) e os Tratados de Utreque, revelando alguns factos em que Portugal esteve envolvido.

1700 – Morte de Carlos II.

O duque de Anjou, segundo neto de Luís XIV, torna-se Filipe V de Espanha.

1701 – D. Pedro II assina com Luís XIV um tratado de aliança, reconhecendo Filipe

V como rei de Espanha.

Formação da Grande Aliança, em Haia, entre a Inglaterra e a Holanda.

1702 – A Inglaterra declara guerra à França.

1703 – Portugal rompe com a França.

Tratado de aliança defensiva com a Inglaterra e a França.

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Portugal e a Inglaterra assinam o Tratado de Methuen.

1704 – Portugal envolve-se na Guerra de Sucessão de Espanha.

Batalha de Blenheim.

1706 – Grande ofensiva contra Espanha por um exército misto de Portugal,

Inglaterra e Holanda sob comando do Marquês de Minas.

Rendição da Fortaleza de Âlcantara.

1707 – A coligação sofre uma derrota em Espanha, um recuo no Midi da França e

decepções no Reno.

1709 – Batalha de Malplaquet, nos Países Baixos do Sul.

1710 – Filipe V, derrotado na Catalunha, abandona Madrid.

Combate entre tropas espanholas e a guarnição de Castelo de Vide.

1711 – Luís XIV dá a conhecer ao primeiro-ministro inglês, Harley, as condições da

França para pôr fim aos combates.

Assinado em Londres um acordo preliminar que concedia à Inglaterra, não

apenas Gibraltar e um porto na Minorca, mas também a Terra Nova e o

monopólio do comércio dos escravos na América espanhola.

1712 – Em Janeiro começam em Utreque as negociações de paz.

Portugal assina, no Congresso de Utreque, um armistício com a França e a

Espanha.

1713 – Assinatura, no Congresso de Utreque, do Tratado de Paz e Amizade, entre D.

João V e Luís XIV (ratificado em 18/04 e 09/05).

1714 – Reatam-se as relações diplomáticas com a França.

1715 – Tratado de Paz e Amizade entre D. João V e Filipe V de Espanha, assinado

em Utreque, garantido por Jorge I de Inglaterra.

3. André Corvisier refere a assinatura do Tratado de Methuen entre Portugal e a Inglaterra em 1703. Diga como tal tratado se relacionou com a indústria portuguesa.

O Tratado de Methuen pouco terá afectado a indústria portuguesa , defendida pelas

suas características, da concorrência estrangeira. É fácil demonstrar que, tanto

depois como antes do Tratado de Methuen, continuou a existir indústria de lanifícios

em Portugal, com amplo e seguro consumo. A hipótese de que o tratado influenciou

desfavoravelmente a indústria de luxo, embora válida, parece desviar o problema

para um campo secundário. O atraso da nossa indústria manufactureira estaria

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antes correlacionado com a chegada em 1699 – isto é, quatro anos antes do Tratado

– do primeiro ouro brasileiro enviado directamente do Rio.

Capitulo XXI

Monarquia Temperada e Estatismo na Europa de 1660 a 1715 1. Distinga os dois interesses concorrentes que dominavam a sociedade inglesa das últimas décadas do século XVII: landed interest e monneyed interest.

Na sociedade inglesa, os landed interest dizem respeito aos senhores da terra

(landed men), presos a um modo de vida tradicional que se opõem durante várias

décadas – num conflito simultaneamente económico, político e religioso – aos

monneyed interest (dos monneyed men), por vezes nobres ou nobilitados,

negociantes, donos de algumas manufacturas, que aplicam às suas terras os métodos

capitalistas que lhes permitiram ter sucesso noutras actividades económicas.

2. Refira-se às principais posições de John Locke (1632-1704) face ao absolutismo monárquico.

Deve-se destacar a refutação por John Locke da doutrina do direito divino, o

retomar da ideologia do contrato original, a assunção da superioridade do poder

legislativo sobre o poder executivo, bem como a supremacia das leis naturais sobre

as humanas.

Capitulo XXII Os Estudos Europeus de 1715 a 1740

1. Refira-se à dissolução dos costumes em Inglaterra no período de governação de Robert Walpole (1721-1742).

Deve-se destacar o relaxamento dos costumes, a especulação, o enriquecimento

demasiado rápido e o enfraquecimento moral considerável da nação.

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2. Esquematize os grandes marcos que constituíram o célebre Sistema de John Law.

O sistema de Law passou pela criação de um banco privado (1716); a fundação da

Companhia do Ocidente ou do Mississipi (1717); a transformação do banco de Law

em Banco Real (1718); a formação da Companhia das Índias (Compagnie

Perpétuelle des Indes), nascida da absorção pela Companhia do Ocidente das

companhias do Senegal, da China, das Índias Orientais e dos Mares do Sul (1719); e

a fusão do Banco Real com a Companhia das Índias (1720).

3. Refira-se às repercussões do Tratado de Utrecht nas relações entre os principais contendores.

Pela Paz de Utreque, a que se seguiu a Paz de Rastadt, a Inglaterra recebia

Gibraltar e a Minorca e os territórios de Hudson, Terra Nova e Nova Escócia, na

América do Norte. Obtinha ainda o monopólio do comércio dos escravos na

América espanhola. Filipe V ficava com a Espanha e as suas colónias, mas cedia ao

imperador as suas possessões italianas, concretamente Milão, Nápoles e Sardenha.

As Províncias Unidas alcançariam a segurança que procuravam, ao receberem um

direito de guarnição em várias praças-fortes dos Países Baixos espanhóis. A França

conservava em seu poder Estrasburgo e a Alsácia.

4. Refira-se às repercussões do Tratado de Utrecht em relação ao que estipulava face a Portugal.

O Tratado de paz entre a França e Portugal assinado em 11 de Abril de 1713 e

ratificado pelos dois países, respectivamente, em 18 de Abril e 9 de Maio,

estabelecia que de futuro haveria entre os países contratantes perpétua e verdadeira

amizade, troca de prisioneiros, mútua restituição de praças ou fortes conquistados,

recondução das relações comerciais entre os súbditos dos dois países, a França

desistia de quaisquer pretensões à posse das terras chamadas do Cabo Norte

situadas entre os rios Amazonas e Japoc, a Portugal ficavam inteiramente

reconhecidos o direito de domínio e posse das duas margens do Amazonas e o de

livre navegação neste rio. No tratado luso-espanhol, assinado em 6 de Fevereiro de

1715, e ratificado em Espanha a 2 de Março, e em Portugal a 9 do mesmo mês,

estabelecia-se que de futuro haveria perpétua e sólida paz entre os dois países, com

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verdadeira e sincera amizade, esquecer-se-iam as hostilidades passadas, trocar-se-

iam os prisioneiros, restituição mútua de todas as praças e terras conquistadas

durante a guerra, recebendo Portugal imediatamente o castelo de Noudar com o seu

termo, a ínsula de Verdoejo e o território da Colónia do Sacramento.

Capitulo XXIII As Transformações Económicas de 1660 a 1740

1. Comente a afirmação “o comércio das Antilhas ultrapassa então o das Índias Orientais”.

É importante assinalar a atlantização das economias europeias, nomeadamente da

francesa, assinalando o grande crescimento da expansão dos tráfegos americanos

para a França, em especial de São Domingo (Saint- Domingue) e também para

Inglaterra, a partir da Jamaica. Este fenómeno de atlantização das economias

europeias também é válido para Portugal.

2. Resuma como a Inglaterra encarou, do ponto de vista do progresso industrial, o problema dos transportes internos antes da difusão dos caminhos de ferro.

Desde os finais do século XVII e até à generalização dos caminhos de ferro – na

década de 1830 – a Inglaterra desenvolve a navegabilidade dos seus rios e, a partir

de meados do século XVIII, alarga substancialmente a sua rede de canais que num

século, entre 1750 e 1850, passa dos 1850 quilómetros para quase 8000.

3. “ A necessidade coloca a indústria na via das inovações técnicas”. Redija um texto no qual utilize apropriadamente os seguintes conceitos: energia humana, energia hidráulica, energia a vapor.

A seguir à energia humana. Presente, por exemplo, na roda de oleiro. E à energia

animal utilizada nos primórdios do desenvolvimento industrial (por exemplo, na

Real Fábrica de Vidros de Coina, Real Fábrica de Fiação de Tomar ou na Real

Fábrica das Sedas do Rato), o homem recorreu à energia hidráulica –

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primitivamente utilizada em moinhos de roda horizontal e vertical – que vai ser

usada para várias funções industriais: pisões, trituração de minério, fabricação de

papel, fundição, forjas, etc. A energia a vapor teve num primeiro momento o

objectivo de elevar a água dos poços das minas de carvão, como foi o caso da

máquina de Thomas Savery (1650-1717) – o título da brochura onde este descreve a

sua máquina singular: O Amigo do Mineiro (The Miner’s Friend) – ou do

serralheiro Thomas Newcomen (1698) que depois de 15 anos de experiências, aplica

a sua primeira máquina a vapor em 1712 numa mina de carvão perto de Dudley

Castle, Worcestershire.

4. Comente a frase: “O ideal social torna-se o homem de negócio”

Depois de 1740, a fortuna torna-se um ideal e a nobreza um ornamento. Veja-se a

nobreza fundiária inglesa lançar-se na actividade económica formando os monneyed

men.

Capitulo XXIV Civilização e Sociedades Europeias de 1660 a 1740

1. Investigue a origem da palavra “barroco”.

De origem portuguesa, a palavra barroco aparece nos Colóquios dos Simples e

Drogas da Índia, de Garcia de Orta (Goa, 1563), quando o autor refere “huns

barrocos afeiçoados e não rerdondos”.

2. Refira-se, sinteticamente, à questão do “maravilhoso afrontamento”, mas também da reconciliação do barroco e do classicismo em França.

É nítida a existência em França de dois estilos artísticos: o barroco, importado de

Itália e expressão do predomínio do Mediterrâneo nas derradeiras décadas do

século XVI e, por outro, o classicismo, o caminho peculiar que a cultura francesa

procurou seguir no século XVII.

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3. Identifique as principais academias e organizações científicas dos séculos XVII e XVIII.

A Accademia del Cimento, em Florença (1657); a Royal Society, em Londres (1660);

a Académie Royale des Sciences, em Paris (1666); na Alemanha, o Collegium

Naturae Curiosum, em 1651, em Schweinfurt, o Collegium Curiosum Sive

Experimentale, em 1672, em Altdorf; bem como a Academia das Ciências de Berlim

(1710), e as Academias das Ciências de S. Petersburgo (1724), de Estocolmo (1739)

e a Academia Real das Ciências de Lisboa, em 1779.

4. Identifique as principais figuras europeias que se revelaram nos vários domínios da ciência.

René Descartes (1596-1650), Bernard de Fontenelle (1657-1757), Nicolas de

Malebranche (1637-1715), Christian Huyghens (1629-1695), Gottfried Wilhelm

Leibniz (1646-1716), Isaac Newton (1642-1727), Pierre-Louis de Maupertius (1698-

1759), Leonhard Euler (1707-1783), Daniel-Gabriel Fahreneit (1686-1736), René-

Antoine de Reámur (1683-1757), Anders Celsius (1701-1774), Marcello Malpighi

(1627-1694) e Antoine Van Leeuwenhole (1632-1723).

5. Aponte as principais razões da prosperidade holandesa na economia-mundo.

Sobre a actividade económica da Holanda, deveria referir: as sólidas finanças

públicas; a transformação de Amsterdão no centro do sistema financeiro

internacional; uma significativa exportação de capitais; grandes lucros em fretes e

seguros; posse de uma forte moeda, frequentemente sobre-avaliada; também o

significado da actividade do Banco de Amsterdão (Wisselbank), centro europeu de

operações de depósito e de câmbio e, mais tarde, de operações de crédito.

FIM

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PARTE V EM DIRECÇÃO À ÉPOCA CONTEMPORÂNEA

Capitulo XXV

Transformações da Sociedade Europeia: Os Movimentos de Fundo

1. Relacione os dados relativos às taxas de natalidade e de mortalidade, revelando o saldo fisiológico da população inglesa entre 1700 e 1840.

A análise da diferença entre as duas taxas, as quais traduzem o movimento de

nascimentos e dos óbitos, permite-nos concluir por um crescimento demográfico

significativo da população inglesa neste período.

2. A respeito da agricultura inglesa (1771), caracterize, sumariamente, o sistema Norfolk nas suas linhas essenciais.

Deveria referir a experimentação de algumas técnicas revolucionárias, como a

melhoria dos solos arenosos por meio da mistura de margas e argilas; a selecção de

boas sementes e de animais reprodutores; e a adopção de um sistema de

afolhamento quadrienal, baseado na alternância de quatro culturas (nabos, cevada,

forragens e trigo), que permitia dispensar o posio.

3. Exponha, sucintamente, os factores favoráveis à prioridade inglesa na Revolução Industrial.

Para além de várias condições sociais (sociedade empreendedora e inventiva,

mentalidade calvinista, mão-de-obra numerosa) e políticas (parlamentarismo)

favoráveis, a Inglaterra da segunda metade do século XVIII reunia um conjunto de

condições económicas que favoreceram a eclosão da Revolução Industrial:

abundância de capitais; amplo mercado, quer interno quer externo; e uma vasta

rede de comunicações, com destaque para a rede de canais e uma poderosa marinha

mercante.

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4. Tendo em conta a lista dos inventos mais significativos do século XVIII, identifique os ligados ao ramo têxtil da indústria.

Lançadeira volante de tear (John Kay, 1733); cilindro de máquina de fiar (Wyat e

Lewis Paul, 1733), máquina automática de fiar (James Hargreaves, 1767), máquina

de fiar em fino (Crompton, 1784), primeira fiação a vapor (Papplewick, 1785), tear

a vapor (Cartwright, 1785).

5. Procure investigar algo sobre a vida e inventos de Bento de Moura Portugal, concretamente sobre a sua “Máquina de Fogo”.

Bento de Moura Portugal (Moimenta da Beira, 1702) estudou no Colégio dos

Jesuítas de Gouveia e formou-se em Direito (1731). Fidalgo cavaleiro da Casa Real,

interessado nas ciências exactas, D. João V mandou-o ao estrangeiro, tendo visitado

a Hungria e a Inglaterra. Em 1742, segundo a Gazeta de Lisboa, demonstrou perante

a corte portuguesa, na zona de Belém, a sua “Máquina do Fogo”, que as

Philosophical Transactions, da Royal Society, de Londres – Para a qual foi eleito

membro em 1740 – haveriam de divulgar ao mundo científico uma década mais tarde.

Foi autor de inventos e vários planos de melhoramento para o reino, escritos nas

prisões da Junqueira, onde morreria em 1776, na miséria e louco, após seis anos de

clausura. O seu labor foi reconhecido particularmente no estrangeiro, tendo o

cientista alemão Osterrieder escrito que, depois do grande Newton em Inglaterra, só

Bento de Moura em Portugal.

6. Relacione a tentativa de síntese dos conhecimentos humanos feita por Diderot e D’Alembert e os seus inúmeros colaboradores (Voltaire, Buffon, D’Holbach, Quesnay, Rousseau) na Encyclopédie, com o “furor de aprender” que caracteriza o século XVIII.

A Encyclopédie pretendia ser mais do que um dicionário; visava oferecer uma

exposição sobre aquilo que forma a unidade intima da cultura e razão humana;

atrás desse programa dissimula-se o utilitarismo e a fé cega desse século no

progresso e na importância da divulgação dos saberes entre as elites intelectuais.

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Capitulo XXVI Inglaterra e França de 1740 a 1789

1. Tenha em conta a noção de take off. Analise os desfasamentos, desde os alvores do século XVIII, entre a Inglaterra e a França.

Trata-se de mostrar como por volta de 1780 se deram os desfasamentos definitivos

entre a Inglaterra e a França na via da revolução industrial. A uma Inglaterra

urbanizada, industrializada e rica, opõe-se uma França com crises de preços e de

rendimentos. A um enquadramento institucional mais liberal na Inglaterra opõem-se

em França resistências corporativas. O alargamento do mercado quer interno quer

externo inglês é bem diferente da situação francesa. Factores de produção, como a

mão-de-obra e fontes de energia, desenvolvem-se (e conjugam-se) diferentemente em

ambos os países: a França continuará a usar a sua mão-de-obra abundantemente e

as fontes tradicionais de energia; a Inglaterra, essa, ultrapassa o domestic system e

opta pela inovação técnica, pela máquina-ferramenta e por uma energia cujo motor

produzia a sua própria força motriz, transformando-a em força mecânica – a

energia a vapor.

2. Refira-se, sinteticamente, aos mecanismos económicos e financeiros que desencadearam a Revolução Francesa.

Na França, nas vésperas da Revolução, a prosperidade cedeu lugar às dificuldades,

à penúria e ao descontentamento. A crise económica foi fatal para o regime de

Versalhes – ao contrário de outros países – pela inexistência na França de uma

verdadeira banca (um Banco de Estado, concretamente), por uma desconfiança no

papel-moeda (e daí a febre do ouro) e pela ausência de organismos de crédito

indispensáveis para vencer as crises sociais.

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Capitulo XXVII Os Outros Estados Europeus no Tempo do “Despotismo

Esclarecido” 1. Refira-se, sinteticamente, aos três monarcas que, segundo alguns autores, dão uma fisionomia alemã ao despotismo iluminado.

Deveria referir Frederico II, o Grande, rei da Prússia (1712-1786), a czarina

Catarina II (1729-1796) e José II, Imperador da Áustria e Hungria (1741-1790).

2. O despotismo esclarecido do Marquês de Pombal caracterizou-se, no campo económico, pela adopção de medidas proteccionistas ou liberais. Refira-se, no quadro do fomento industrial pombalino e à importância da junta do Comércio.

Instituição criada durante o reinado de D. José, por alvará de 30 de Setembro de

1755, visava facilitar os meios de conservar e aumentar o comércio destes reinos ao

criar, manter e animar as fábricas. Responsável, entre outras funções no campo

industrial, pela concessão de licenças destinadas a novos estabelecimentos fabris –

manufacturas e oficinas – e a propor os privilégios destes, bem como a novos

inventos, também a concessão de subsídios e o contrato por sua iniciativa de alguns

mestres e artífices estrangeiros, viria, assim, a tornar-se no organismo

administrativo básico do chamado fomento industrial pombalino, concretamente a

partir de 1770, quando se dá um primeiro arranque industrial.

Capitulo XXVIII O Mundo e as Relações Internacionais

1. Estabeleça uma cronologia sumária dos principais acontecimentos ligados à formação dos Estados Unidos, entre 1773 e 1789.

1773 (16 de Dezembro) Boston Tea Party.

1774 Primeiro Congresso Continental reunindo em Filadélfia deputados das 13

colónias.

1775 Combate de Lexington.

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1776 (04 de Julho) Proclamação da Independência dos EU.

1777 Capitulação da tropa inglesa em Saratoga.

1778 Aliança franco-americana.

1781 Ratificação dos artigos da Confederação.

Reconhecimento da independência dos EU pela Inglaterra.

1785 Divisão do país em townships.

1787 Votação da Constituição dos EU.

1789 George Washington, 1º presidente dos Estados Unidos.

2. Comente porque se diz que a revolução americana foi o ponto de partida das revoluções liberais.

A Declaração de Independência de 1776, reafirma o princípio dos homens nascidos

iguais; na Constituição, de 1778, e por uma primeira vez, as ideias dos filósofos

conduziram a um texto constitucional em que as ideias dos homens das Luzes de

tornaram realidade. O modelo americano vai projectar-se no pensamento político e

constitucional da França e daí no continente europeu, provocando rebeliões ou

revoluções (Suíça, Alemanha, Itália, Irlanda, Inglaterra e, sobretudo, nos Países-

Baixos).

FIM