herdeiros do destino

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Gerson Machado de Avillez HERDEIROS DO DESTINO®

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A história começa quando convocado pela misteriosa Ordo Christianitas Av Ventus subordinada ao Vaticano, Pedro Mendendez de Avilez se torna o secreto Herdeiro de Seth, quando é lançado com sua família em missão nos ainda misterioso oceano do Atlântico a criar a primeira Colônia onde um dia seria Flórida. Porém, entre estes interesses estaria a de suplantar um segredo que com a descoberta de um junko chinês naufragado em seu litoral poderia mudar o mapa geopolítico do mundo para sempre. Portando tal segredo Pedro escreve uma carta a ser dada por herança a seus descentes até que gerações mais tarde é aberta pelo notável Conde Jorge de Avillez para descobrir que os domínios de Portugal, Espanha e Inglaterra estariam em risco nas Américas numa trama envolvendo chineses e o que teriam o levado até essas terras, a lendária El Dorado. Agora Jorge Avillez, mesmo desacreditado tentará fazer levante para impedir a independência temendo que algo mais vil aconteça.O porque de o conde Jorge Avillez se opôs a independência do Brasil, numa trama internacional de interesses e conspiração onde o segredo da descoberta da América está em jogo numa disputa secreta entre chineses e a mítica el dorado brasileira. A carta secreta de Pedro Menendez Avilez aos seus parentes que conta a farsa do descobrimento, mas que para tentar dominar o mundo alguns optaram a independência a poder ser submetido ao império chinês, inclusive os Estados Unidos. Porém, isso afetaria para sempre o Brasil negativamente.Fiel a Ordem de Cristo e ao Vaticano defendeu interesse dos navegadores jesuítas que temiam ao chineses por não serem convertidos, porém, a linha dele detinha o segredo secular destes por Pedro Avilez.Vindo das Guerras Napoleônicas Jorge Avillez abre a carta misteriosa de gerações a ele herdada e datada para ser aberta naquele tempo falando da mítica Ordem dos Ventos e se vê envolvido numa trama conspiratória de alguns ao se associar com os chineses querem se proclamares donos daquelas terras com a independência levando Jorge a tentar impedi-la em vão. Secretamente parte numa missão ao interior da Amazônia a encontrar a El Dorado onde estaria segredos e conhecimentos dos Setianos que criaram a Ordem dos Ventos a proteger famílias perseguidas e marginalizadas da história.

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Page 1: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez

HERDEIROS DO DESTINO®

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HERDEIROS DO DESTINO®

Gerson Machado de Avillez

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 4

Copyright © Gerson Machado de Avillez 2014

Todos os direitos reservados a Gerson Machado de Avillez

Twitter: www.twitter.com/GersonAvillez

E-mail: [email protected]

Blog: http://filoversismo.blogspot.com

Facebook: www.facebook.com/Filoversismo

Título Original

Herdeiros do Destino

Capa

Gerson Machado de Avillez

Revisão

Gerson Machado de Avillez

Page 5: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 5

PREFÀCIO

“Somente os constantes tocarão o destino”.

Gerson Machado de Avillez – Sombras dos Tempos

ual o percurso do destino a seu alvo objetivo? Não supondo que

como a flecha rompe com intrepidez um percurso reto e

constante ao alvo de modo a concretizar mais de um ponto a

outro do lugar, mas no tempo, seu objetivo. Todavia a água o qual

preenche todas lacunas é delineada não por um objetivo, mas o leito

do rio por onde corre as densas águas a uma direção. Assim é o tempo,

sentido, não interpretado por letras ou palavras a conotações ambíguas

e vagas por sua passividade de interpretações, mas numa poesia

harmônica onipresente ao tempo, mas que mesmo não sendo constante

o que o rompe o será. Deverás compreender o destino dado a alguns a

suceder como tocha a cada geração sob todos ataques e atos sem

consistência ou nada de constante, pois o único modo de romper o que

é líquido é o sólido, o inconstante, o constante como propósito quer

herdado ou concebido por atitudes ante aos anômalos que não se

podem resumir ou definir.

Se em ‘Sombras dos Tempos’ se define o destino pela Caixa,

aqui são os genes, se o constante era o destino, as sombras

representavam seu oposto, assim como os que se levantam pelo

simples fato deste possuir o destino a correr em suas veias e com

exemplar sadismo, injustiça e combate. Sobretudo neste livro ao falar

de destino falo ao romper tempos, cronológicos, oníricos, não lineares,

e assim gêneros. O drama é no presente, a melancolia no passado, mas

o mediúnico sentimento de ver o futuro é dado apenas aos profetas e

escritores da ficção científica numa imersão a introspeção, a mescla

deste cá estão.

A intenção da construção desta cosmovisão particular do autor

sobre sua perspectiva de sua visão do mundo e do universo é enxergar

além do aparente, da realidade resultante de verdades intrínsecas

Q

Page 6: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 6

muitas vezes invisíveis quer como metafísica ou mesmo algo

malévolo entranhado nas vísceras da história a exemplo de uma trama

conspiratória. Como visto nos livros anteriores tais livros então é uma

viagem pela mente do autor como modo em que penso longe de

aberrações distorcivas da moralidade subversiva e onde a concepção

extra mental é deste mal comum que sofri (e sofro) durante anos sem

motivo algum aparente a não ser sentir-me destinado a algo virtuoso e

por isso incomodar os maus. Somado o encaixe histórico forma-se

então um mosaico que somente pode ser compreendido em sua

totalidade moral e afetivamente, pois sua parte mais íntima é a poesia

dos sentimentos.

Fazer um livro é um pedido do subconsicente de se fazer

conhecida sua vida ainda que indiretamente, a mim por uma

incapacidade de se fazer valer uma completa autobiografia. Por isso a

medida que a perseguição discriminatória cresce sobre mim as

sombras e males crescem em meus livros, como a intervenção do mau

em minhas obras, não inspiração. Tem que se ter sensibilidade, a

delicadeza que os maus veem como fraqueza, pois ler um livro é

intuitivamente compreender que a história deste transcende o mesmo

onde personagem e personalidade se misturam. Todavia os mentirosos

em suas desculpas analógicas para desviarem-se da gratidão e da

moral, não procedem, por isso se sucedem, pois, o fato de não terem

empatia com o autor não prova que sou eu a máquina, mas sim estes.

Todavia o mau em tudo vê maldade, se possível mesmo pelos meus

olhos a cada direção parca que meu olhar cruza. Impressionante como

alguns chegaram tal longe com sua encefalia suprida apenas pela força

estupida, estes acreditam ser o que não praticam, pois furtam como a

lesma que vive da concha alheia.

Todavia assim como em meus livros, mais fácil deixar um

pouco de mim por onde passo, do que levar comigo um pouco do

lugar a não ser por fotos ou lembranças.

Não sou escritor no sentido profissional da palavra, mas

porque preciso imprimir em palavras o que sou e o como vejo o

universo. Para mim tão necessário quanto comer, não apresentando a

futilidade do vício, mas a vitalidade do 'porque'. Pois mais que orgia

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 7

de letras é uma condensação reflexiva do meu ser. Assim o espelho é

o acetato e as palavras nele, meu reflexo, e furtar essas palavras é

como tentar tirar-me a alma, coisa do algoz demônio das letras e

entrelinhas que pela ausência de um reflexo no espelho tira o meu

como um vampiro ante o espelho. Empenho-me então a me inspirar

nesse garbo literário e me inebriar mesmo que dando voltas

desnecessárias em verbos vaidosos. Pois o ato de delinear contornos

desse reflexo em verbos e advérbios está mais para ser realmente arte

do que profissão, pois nesta se insere muito mais dos sentimentos que

a vontade de lucrar com eles. Naturalmente que entre a mente e os

sentimentos, o mistério paira sobre os labirintos dos miolos cerebrais

que consiste em encontrar a mim mesmo nas palavras que por ele

traduz e somente com a correta honestidade pode-se alcança-lo, afinal

os sentimentos expressam verdades abstratas cujo algoz, a mentira,

entorpece os sentidos fazendo a lamuria dos fatos por estarem

escondidos. Os plagiadores são pálidos ecos da origem, pois a minha

melhor droga é respirar a criatividade. Se Moisés por 40 anos levou

um povo pelo deserto porque não poderia leva-los por algumas horas

através de meu livro?

Baseado em fatos históricos reais a trama traça linhas entre

pontos de evidências que denotam uma conspiração pela descoberta

das Américas, as conjecturas extraoficiais são fictícias, mas

exemplificativas ao mosaico da história humana até os dias atuais,

entre liberdades poéticas não tem quaisquer vínculos com seitas e

sociedades secretas reais sendo as duas únicas fictícias.

A história começa quando convocado pela misteriosa Ordo

Christianitas Av Ventus subordinada ao Vaticano, Pedro Mendendez

de Avilez se torna o secreto Herdeiro de Seth, quando é lançado com

sua família em missão nos ainda misterioso oceano do Atlântico a

criar a primeira Colônia onde um dia seria Flórida. Porém, entre estes

interesses estaria a de suplantar um segredo que com a descoberta de

um junco chinês naufragado em seu litoral poderia mudar o mapa

geopolítico do mundo para sempre. Portando tal segredo Pedro

escreve uma carta a ser dada por herança a seus descentes até que

gerações mais tarde é aberta pelo notável Conde Jorge de Avillez para

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 8

descobrir que os domínios de Portugal, Espanha e Inglaterra estariam

em risco nas Américas numa trama envolvendo chineses e o que

teriam o levado até essas terras à lendária El Dorado. Então Jorge

Avillez, mesmo desacreditado tentará um levante para impedir a

independência temendo que algo mais vil aconteça.

O Aprendizado dos maus sempre leva ao mesmo, as

repetições de sempre, pois para este o futuro não se diferencia do

passado. São incapazes de contemplar o infinito em sua verdadeira

natureza, singular. Fora do eixo comum de ciclos que nos voltam ao

mesmo lugar. O ponto de vista de quem empurra não é o mesmo do

empurrado, mais fácil é pisar do que ser pisado, são diferentes visões

na realidade daquele que é incapaz de nos encarar em termo de

igualdade. Não são meras figuras de linguagem ante aqueles que não

distinguem metáfora, fábula, analogia e meros trocadilhos. Procuro ser

verdadeiramente responsável e por isso apenas aceitar a moralidade de

meus atos, não dos alheios.

Mas como é possível quem copia se achar melhor que o

copiado? É como dizer que o original depende do reflexo no espelho

para existir, quando é o contrário. Não criei minhas teorias, elas são a

natureza, então abandonem que a Relatividade é de Einstein, o

princípio da incerteza como de Heinsenberg assim como as Leis de

Newtons não são dele, na verdade, existiam antes, mas seus nomes

estão nelas, pois eles a trouxeram ao conhecimento como um pai a

criança ao mundo, assim como Filoversismo comigo. Ainda a quem

não tenha discernimento pode interpretar mal minha obra, porém,

minha responsabilidade é pelo que sou reconhecido, não furtado.

Ser designado é ter a habilidade de manter-se constante ante

as mutações do tempo, ajustar suas velas ao vento. E isso somente

ocorre quando há verdade, porém, as mutações são naturais e não

incluiu suposições sobrenaturais, e entre elas o que alguns chamam

por sorte ou azar, vê-se como sincronismo sem causa aparente, pois no

destino o azar pode se tornar sorte. Não somos nós apenas quem

fazemos o destino, apenas transitamos por sua via, independente de

sua escolha apenas estará moldando o rumo de nosso mundo como

passageiros no mesmo barco. Juntas as escolhas determinam a direção

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 9

de nossa dimensão numa visão muita mais ampla que a de um

universo espacial onde a seta do tempo é apenas a resultante visível

ante variáveis invisíveis a estreita visão do universo. Não por menos

uma consciência global influí nos padrões de nosso mundo, pois o

realizamos ainda que uns tenham mais poderes que outros de influir

nele direta ou indiretamente, e por isso querem submeter a

humanidade para que como um cavalo montem sobre ela e através das

cordas da ignorância manipulem o povo a direção que almejarem, a

mentira e o engano.

Índice

Renascença dos Ventos – pág.10

Opus Ad Tempus – Pág.30

A Estirpe dos Tempos – Pág.50 Chave dos Ventos – Pág.68

Codex Ad Tempus – Pág.93

Porto dos Ventos – Pág.106

O Mestre dos Tempos e os Peregrinos do Destino– Pág.121

Regis ad aqua speculis – Pág.137

A Pergunta mais importante de todas – Pág.154

A Cidade Perdida – pág.168

Mestre do Caos – Pág.191

O Elixir de Kairos – Pág.213

Appendix – Pág.235

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 10

Ato I

Renascença dos Ventos

"O que, então, é o tempo?

Se ninguém me perguntar, eu sei o que é.

Se quiser explicar para alguém me perguntar, não sei mais."

Santo Agostinho

Vento soa e ressoava pela vegetação criando uma dança entre

a flora do lugar num ritmo natural como regido por uma

sinfonia cujo maestro era invisível e onipresente vento, que

como um Deus tocava e movia o que era imóvel. De fato, ao

contemplar do alto aquela imagem o vento fazia parecer aquela

floresta como um mar verde formado por folhas e cujas ondulações

rítmicas ecoavam pelo sopro ao passar pelas pedras como signo mor

da força eólica do qual nenhum dos homens é capaz de controlar

diretamente. Porém, isso pouco importava a não ser a sensação que o

vento me proporcionava ao tocar os pelos de meu braço que pelo tato

aquilo reboava a me proporcionar a singular sensação de estar vivo

com arrepios reconhecidos como a tipificação de um prazer de estar

em quase comunhão com uma criação de Deus.

Naturalmente que não como um pagão, não confundia a

criatura com Criador, mas concebendo os ciclos e estações anuais

compreendia o porque da vida ter vindo como de um sopro dEle, do

qual sem essa qualidade o homem teoricamente não passaria de barro.

Assim era quando caminhava pelas mediações do castelinho, em

Petrópolis, Rio de Janeiro, quando procurava não isolar-me do mundo,

mas das futilidades que vieram junto a civilização, pois na natureza

não havia hipocrisia ou ganância mesmo que acreditasse numa moral

O

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 11

elementar e mesmo presente em seres considerados “menos

evoluídos” que agente, qualidades que psicopatas do qual comumente

cruzava o caminho tinham. Aqueles eram tempos sem nexo para mim,

procurava entender o porque de muitos males acontecerem sem

qualquer causa aparente a me chegar a conclusão pura e simples de

que o mau é a causa primária, o que gera o desiquilíbrio inicial a

justificar nossa trajetória por equilibrar-se e como o caos a justificar o

destino.

Nutria minha fé não baseada em meras superstições ou

crendices como daqueles que me perseguiam injutificavelmente, mas

milagres vívidos e eventualmente recorrentes em minha vida, ainda

que sem se quer compreender quem eu era e porque aquilo passava a

não ser o fato de estar certo e de que ao contrário do mau havia um

propósito especifico. Do céu a manifestar o impossível quer no

firmamento ou por maravilhas indecifráveis por qualquer teorização

científica justificou minha busca pela verdade como porquês, assim

nasceu minha síntese antes debruçada sobre o existente, para depois

emergir como original servindo apenas aos maus para definirem um

pouco melhor o alvo de suas animosidades, a ganância e inveja, aqui

começa essa história do qual uns chamarão por ficção, mas mesmo

que alguns trechos sejam surreais defino uma meta-verdade.

Em algum lugar de Roma

O lugar parecia pacato com construções tradicionais nas mediações do

Vaticano. Porém, ali mesmo que afastado do cargo um homem cuja

importância se desconhecia em sua totalidade era de preservar

documentos secretos do Vaticano que pelo acumulo de anos, décadas,

séculos e milênios certamente eram ricos, ainda que uma pequena

fração deles tenham sido liberadas como de momentos da inquisição

num pedido de perdão da Santa Sé pelas mortes em chamas – muitas

injustificadas. Todavia aquela era apenas a ponta do iceberg. Desde

quando o Vaticano se dá por Vaticano, desde Constantinopla,

guardava em dezenas de bibliotecas livros cerrados da visão do povo

cujos conhecimentos considerados perigosos ou heréticos eram

guardados, poemas, filosofias, feitiçarias, gnoses, e toda sorte de

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 12

coisas das mais absurdas ou triviais faziam do Vaticano um

depositário do conhecimento talvez maior em totalidade do que a

celebre biblioteca de Alexandria. E assim vivia Javier Farina em

tempos áureos, como guardião desses documentos como atualmente

ex-responsável pelos arquivos secretos do Vaticano. O Cardeal de

idade avançada tinha muitos segredos e aquilo com a aposentadoria se

tornou um enfado doloroso de se carregar ainda que um de seus

maiores segredos fosse justificável, não por heresia, mas a fim de

proteger a verdade.

Ao receber a visita de outro amigo cardeal de longa data o

homem adoentado num leito sabia que a malévola morte espreitava,

impiedosa e fria como o vazio do abismo enquanto ele agarrado com

fidelidade ao seu crucifixo compreendia que o Deus que servia

vencera a morte. Todavia não era esse o temor dele, mas sim do que

tinha engasgado em sua garganta de modo que não parasse de pensar

nisto cada dia que viveu. Assim adentrou seu amigo, também de idade

avançada, cujo tempo generoso lhes fez o favor de lhe prestar a

experiência como ancião de muita instrução. Ele adentrou o lugar e

viu o companheiro da Cúria tentando sentar-se a cama para

cumprimenta-lo num sorriso pálido entre um suor frio que escorria de

seu rosto enquanto ele tentava se enxugar tremulo com um lenço e

disse ao amigo.

- Bom ter vindo, tenho boas lembranças contigo monsenhor.

- E eu contigo irmão Javier. Foram muitas as aventuras no

conhecimento.

- E surpreendentes desventuras nos segredos. – Completou

Javier com um sorriso. – Mas talvez a Santa Sé tenha fracassado em

proteger as famílias deste mundo como encarnação do destino no

mesmo, o território de Roma fora impregnado várias vezes pela

mentira e pela arrogância ante a lama da fraude, o diabo se esforçou

com êxito em muitos momentos e nem seus exorcismos o libertou.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 13

Naquele momento o Cardeal amigo de Javier Farina cujo

nome era Gabriel Modenna sorriu de modo esperançoso a irradiar a

paz e disse.

- O diabo sempre toma muitas formas para tentar se apossar da

verdade, muitas vezes se passou pelo próprio Vaticano, mesmo eu fora

enganado, mas a mentira passa.

- Nós contemos os futuros pelas rédeas do destino, Gabriel, e

se quer fomos reconhecidos por isso, sucumbiremos a um mau maior.

- Nas rédeas do tempo não é importante o tamanho, pois no

caos é o menor quem faz as maiores mudanças Javier. – Respondeu

Gabriel. – Davi era o menor que destruir o maior, o tamanho só é

relevante ao espaço.

- Queria revelar o segredo dos 37, como os amigos de Davi a

lhe revelar a verdadeira natureza de seu tempo até os descobridores

atuais, sempre marginalizados. O projeto realizado por Augustin

Milagros é vital a natureza da Ordem, temos que o defendes, temos

rivais nada leais. Impostores sempre são perigosos e matam estes

como prova de sua amoralidade.

- Para o tempo, sempre há seu tempo, mesmo para a verdade e

seus portadores, por Deus serão justificados. Assim diz o Senhor, não

temas, estou contigo! – Completou Gabriel de modo gracioso a seu

irmão. – Os maus o fazem por inveja. A inveja é a virtude dos

incapazes, é uma admiração distorcida. Os que te descartam não

podem se considerar essenciais para o descartado, são o arroto do

inferno.

Naquele momento Javier deitou-se na cama e ficou com a

respiração ofegante, sentia-se mau como se seu corpo estive destituído

de forças e como se o sopro da Deus da vida estivesse lhe deixando.

Assim Gabriel se ergueu e passou ele o lenço em seu rosto procurando

lhe acalentar.

- Até aqui todos cumpriram seu destino, justificaram os sinais

e o destino. Como disse, não temas.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 14

- A Ordem dos Ventos, nunca existiu oficialmente, fora

realmente não mais que um sopro de Deus como a vida em nós, no

entanto, mesmo em ideias, quisera eu ter conhecido meus antecessores

como Pedro Menendez, que o Tempo de Deus lhe preserve suas

memorias e feitos, assim como seu descendente Jorge Avillez e os

demais pelo que fizeram e farão. Impediram que as Américas

desviassem de seu destino.

- Muitos foram, muitos virão, como o Bispo Helder Zanini,

mas suas memórias e atos serão ecoados eternamente por Kairos. A

Ordem dos Ventos está em nossas mentes cujas sementes plantadas

pelo vento germinaram por sentimentos nobres.

Naquele momento Javier se contorceu na cama como quem

agonizando e torceu as mãos quando Gabriel segurou sua mão com

força lhe dizendo palavras de força e começou a rezar em latim ante

ele.

- Barba non facit philosophum, Non deterret sapientem mors.

Temos aqui um dos Caballarius Inexpugnabilis, lhe devolvendo o

sopro do qual sem a vida não é nada. Como último suspiro entregamos

ele a ti, pois agora seu corpo se tornará como o pó da areia de onde

veio.

- Di-digo-go-lhe – falou Javier moribundo interrompendo

Gabriel – antes um epitáfio. – Ele respirou mais uma vez com

dificuldade e seguiu - Chegada a hora do Advento como o vento da

verdade do qual... – Parou ele agonizando a dizer e segui – destruíra

toda mentira que cobre a verdade.

Ao completar essas palavras seus olhos pararam de irradiar o

brilho de vida, mas antes agora contemplando o vazio suas pupilas se

dilataram fazendo Gabriel fechar suas pálpebras com carinho e

enxugando mais uma vez seu rosto suado completou dizendo.

- Amém, meu irmão e amigo. Assim seja.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 15

O homem se abaixou ali e pegou seu crucifixo de sua mão e

cobriu se rosto, e então de joelhos orou a Deus enquanto notava-se um

choro suave descer de seus olhos, juntou as mãos sobre seu corpo e

rezou em silêncio os segredos que aquele homem guardava.

Século XVI, Astúrias, Espanha

O ano era precisamente 1534 e o lugar eram belos campos

verdejantes, não que o lugar fosse importante, mas sim quem por ele

transitava. Curioso como um gato o jovem Pedro Mendendez de

Avilés frequentemente fugia para procurar pedras de valor próximo a

uma jazida de Topázio e outras pedras, ele havia perdido seu pai Juan

Alfonso Sánchez de Avilés a pouco tempo. Pedro, ficava perplexo

com seu lapidar e a maneira como eram confeccionadas joias e

sobretudo quando pelos rios a correnteza das águas a moldava.

Meditava nisso horas como se houve alguma compreensão que lhe

fugisse ao comum e objetivo e procurava analogias para compreender

em comparação a outros eventos que ficassem sem respostas. O jovem

tinha uns 15 anos, mas a perspicácia era de um jovem sagaz de 25

anos. Tinha no amuleto no pai uma espécie ícone da família, uma

pedra de Berílio forjada na forma de uma estrela de oito pontas e do

qual o pai desconhecia onde e quando sua família adquiriu sendo

passada de geração a geração a perder-se de vista no horizonte infinito

do tempo. Porém, o que ele procurava naquele momento era

justamente a pedra de sua família como signo de uma linha até ali

incorruptível e repleta de rebentos produtivos ante a história. O fato é

que um menino vizinho havia a furtado quando estavam em sua

companhia na ausência dos pais.

Apesar de ser duma família abastada por ser nobre de origem,

o garoto era simples como uma pomba a caminhar como quem levado

ao vento deixando seus vinte irmãos e sua mãe María Alonso y

Menéndez Arango e havia fugido de um parente com quem vivia para

ser seu tutor. Assim ele viu o seu coleguinha usurpador adentrar uma

mina no alto de uma colina perto de uma edificação incomum

chamada por Covadonga que era reerguida sobre uma cachoeira.

Antiga e peculiar muitos boatos corriam sobre a atual natureza

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 16

daquele abrigo, como até mesmo de rituais pagãos o quais seus pais

abominavam. Porém, levado pela curiosidade o menino adentrou o

lugar e logo atrás Pedro Menendez ainda que temoroso.

Por estar fechado o menino se equilibrando passou pela

beirada da cachoeira cuja vista era sensacional e segurando-se nas

pedras da edificação conseguiu adentrar o lugar por uma janela aberta

e Pedro fora atrás sem saber do perigo que corria. Passou pela beirada

com receio e se equilibrando quando num movimento em falso

escorregou sendo seguro pelo coleguinha. Pedro segurou-se na janela

e se reequilibrou olhando para baixo enquanto via a intensidade de

águas caírem se remoendo numa nuvem de gotículas lá embaixo,

porém, quando entrava um barulho denunciou que alguém adentrava o

lugar fazendo o menino fugir dali deixando Pedro sozinho. Ele tentou

se esconder ao contemplar uma série de livros e uma mesa ao centro

assim como uma espécie de banheira cheia de água a seu lado, cujo

desenho ao seu fundo era o mesmo desenho da pedra de sua família.

O menino, porém, deixou a pedra dele cair ao chão fazendo-o

ir buscar enquanto ele pulava a outra janela a abrindo. Era tarde, um

homem franzino, mas com aparência muito invocada desembainhou

uma espada sobre ele lhe apontando em seu pescoço fazendo ele se

render. O homem parecia muito contrariado ao saber que alguém

adentrou aquele lugar sem permissão como artimanha infantil dele e

assim o amarrou e o deixou lá amordaçado por longos minutos após

pegar a pedra da mão dele.

Depois de um tempo ouviu as vozes de alguma conversa

discutindo algo sobre a pedra e em seguida entrou um homem esguio

com aparência bastante tranquila naquele lugar e parou diante dele lhe

olhando bem nos olhos e disse.

- Onde achou essa pedra garoto? – falou o homem que a

despeito da serenidade parecia severo.

- Essa pedra é minha, de meu pai. – respondeu Pedro sem

encara-lo nos olhos.

- Mentira! Onde achou essa pedra?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 17

Pedro se calou e não respondeu e assim o homem seguiu.

- Muito bem, qual é seu nome garoto, e como entrou aqui?

- Meu nome é Pedro Menendez de Avilés, filho de Juan

Alfonso Sánchez de Avilés, vim atrás de meu colega que tinha pego a

pedra.

O homem ao seu lado abaixou a espada, riu e em seguida o

esguio que lhe interrogava pegou uma adaga e cortou a corda de seus

pulsos o levando a perguntar.

- Porque você me libertou? - Perguntou Pedro.

- Conhecereis a verdade e ela vos libertará - disse o homem

misterioso.

- Qual verdade? – Indagou Pedro.

- A verdade o qual persegue. A Verdade é sempre dignificante

e edificante, pode doer e machucar, mas também pode curar, a

verdade somente é venenosa ao mentiroso. – Falou ele mostrando a

pedra em sua mão. – Conheço sua linha, ela tem vocações no destino

há muito tempo a investigamos, afinal toda linha o é ante uma linha de

tempo.

- Santo Graal? Descendentes de Cristo? – Perguntou Pedro

ironicamente demonstrando conhecimentos avançados para alguém

como ele.

- Esqueça isso, tal fora criação de alguns para conseguirem

dinheiro e poder, porque os Templários não compreenderam quem

tinham em mãos, nosso criador. Falamos dos Herdeiros do Destino e

seu milenar conhecimento temporal.

- Como vocês saberiam isso? – Indagou ele se erguendo e

esfregando os pulsos ardidos e vermelhos por ficar tanto tempo preso.

– De quem seriam descendentes?

- Não sabemos, apenas observamos os frutos, os sinais

descritos, os perseguidos injustamente e aqueles cujos renovos a

forjaram o Tempo o fazem protegidos pelo desconhecimento de sua

origem e escolhidos. Assim como há muito tempo sua família. – Falou

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 18

o homem sorrindo e mudando completamente o tom do dialogo ainda

que aquele que ainda empunhava a espada parecesse severo. - Passou

por coisas a tempos atrás sem qualquer motivo aparente? Acreditamos

que esteja sendo visado e os ventos do destino nos soprou até nós.

- Quase agora por vocês! – Falou ele rindo – bom realmente

invadi, mas... – Ele então tomou coragem e olhou diretamente nos

olhos do homem e perguntou. - Isso é mais um tipo de seita, alguma

ordem clandestina com a intenção de esconder rituais macabros e

pagãos? – Perguntou Pedro de modo desafiante.

- Não, uma ordem não oficial que protege a verdade de

conhecimentos duma linha muito anterior ao Vaticano, mas sob

aprovação destes. Seu artefato familiar, não sabemos o propósito, mas

não pertence a este tempo. A Ordem dos Ventos é o sopro de Deus

ante o destino, o mesmo que deu vida, não são de algum lugar, mas

estão em todo lugar assim como Deus. E essa pedra é mais um indicio

de que você é um de nós, pois este artefato pertence ao tempo. – O

homem o entregou de volta ao garoto que o pegou fechando a mão.

- Como assim meu objeto pertence ao tempo? Ordem dos

Ventos...

- Pegue este objeto metálico. - Disse o homem entregando

uma vara de metal que ao ser pega por Pedro este notou ser muito

leve.

- Nunca vi um ferro tão leve! - Disse ele.

- Sua pedra parece ter acabamento nesse tipo material,

chamamos de aço e não existe técnica para fazer isso ainda.

Acreditamos que por possuir isso em sua família você seja um

Herdeiro do Destino. – Falou o homem - Se possuírem tal técnica isso

poderia mudar as rotas de comercio e tirar a centralização do poder na

Europa.

- Ou seja, mudar o rumo da história. - Completou Pedro.

- Algo que como Herdeiros do Destino e Cavalheiros

Inexpugnáveis temos obrigação de defender como o Destino em sua

linearidade.

- Vocês poderiam ficar milionários! - Disse Pedro

entusiasmado.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 19

- Podemos mudar o mundo, mas antes apenas direcionamos o

Tempo a seu objetivo natural e linear. Procuramos anomalias e

desvios do destino para corrigir o curso da história, defendemos a

verdade em sua linearidade e origem, para que a seu tempo a verdade

desde tal origem seja revelada, contra poderes malévolos

irreconciliáveis e destruidores.

- Vocês defendem algum tipo de profecia que não sabemos.

Quando isso seria? - Perguntou Pedro.

- Não sabemos quando - disse outro homem entrando na

conversa após olhar para o do lado que havia lhe soltado - Mas

segundo o fundador da Ordem disse que seria com o advento que

rompe o tempo, daqui a muitos séculos.

- Pedro, acreditamos que isso é um sinal na sua família para

herdarem tal destino, segundo o livro 'Tratactus ad Tempus' do criador

da Ordem. Que você faz parte de uma profecia se assim preferir

acreditar. Tampouco seu nome é fruto do acaso.

- Porque vocês estão me contando isso tudo? Afinal de onde

vieram estes herdeiros do destino?

- Não podemos lhe contar toda verdade, ainda, você terá de ser

treinado, a propósito nos pagar pela invasão que diga-se de passagem

é crime. Mas creio que seu destino cruzou o nosso não por acaso. Na

hierarquia do Tempo e do caos o que se chama de sorte serve ao

Destino. – Disse o homem ajeitando seu cabelo liso claro que caia

sobre a testa.

- Não sei se seria uma boa ideia – falou Pedro olhando para os

dois homens quando outro entrou no lugar com a pedra familiar nas

mãos. – Como se chama?

- Meu nome é Joaquim Milagros. – Respondeu ele olhando

para os homens entrando.

Ele parecia nutrir dúvidas, sem falar das dívidas ao invadir os

aposentos, ele seguiu até um engradado de vidro e viu uma caneca

dentro, ele a abriu e a pegou notando que era leve, era um material a

eles desconhecido.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 20

- Não toque nisso! – Falou o companheiro de Joaquim. - Você

é muito curioso jovem Pedro, isso levou Adão a seu pecado original,

assim como você a este lugar. Você quer as mesmas consequências?

- Não, apenas achei curioso como tudo de vocês é mais leve.

Do que é feito essa caneca?

- O fardo é leve e o julgo é suave, mesmo que a verdade

alguns possam tornar em enfado pelo segredo e mentira. – Disse

Joaquim ao jovem – Vamos me dê isto e só volte se estiver preparado

para treinar a ciência da verdade e a filosofia do tempo. E se contar às

coisas que viu aqui, bom, duvido que o faça, mas...

- Como você saberia que não contaria? – Indagou ele.

- O Vento me sussurrou os segredos do tempo! – Disse

Joaquim a Pedro com certa ironia - Você tem muitas perguntas e

poucas atitudes, mas se quiser suas respostas isso terá seu preço, e

dedicação, esforço, e seu silêncio, pois o dia da verdade ainda não é

chegado.

Pedro fora assim praticamente enxotado do lugar pelo capanga

franzino do Joaquim e ele saiu com mais dúvidas que certezas, pois se

quer sabia se deveria ter encontrado aquilo. Passou ele por longos

minutos em silêncio pelos campos verdes sentindo o vento no rosto e

pensando se de fato este poderia contar-lhe algo assim como fez com

aqueles homens, porém, o zunido era um rítmico a ecoar pelas arvores

e plantas. Naquele momento ele viu o seu colega de desventura e

rindo veio falar com ele.

- Te pegaram, não é? Ninguém entra naquele lugar, falam que

eles tem coisas do futuro e até feitiçarias. O que você viu? O que

aconteceu lá? Eles são loucos mesmo, não? – Indagou o menino sobre

Covadonga.

- Não sei ao certo ainda. – Disse ele quando viu um homem de

capuz passar por de trás do menino olhar para ele. Pedro olhou para o

homem e ele levantou um dedo sobre a boca sorrindo levemente e

pedindo-lhe silêncio para o garoto. – Agora tenho que ir, meus pais

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 21

estão me aguardando, demoramos muito, nunca mais pegue meu

amuleto.

Ao chegar no lugar onde estavam hospedados pois seu pai

Juan estavam de viagem nas mediações de Astúrias, no lar de um

amigo seu. Pedro parecia incomumente quieto de modo que mesmo

seus pais se perguntaram o que havia acontecido. Todavia Pedro

afirmou com um “nada” a pergunta de seus pais ainda que em seu

intimo sentiu-se controlado por Joaquim como se soubesse que pelo

que havia dito teria influência por si só para ele ficar quieto. Ao

deitar-se estranhamente não conseguiu adormecer, mas antes inerte em

suas perguntas que lhe martelava como se Pedro realmente fosse uma

pedra, e assim ele mexeu e se remexeu em seu leito onírico alternando

pensamentos despertos e sonhos quando ele concebeu uma imagem

surreal de um homem saindo do meio de uma nevoa densa que não

permitia compreender que lugar era e o que havia. Aquele homem lhe

passava sentimentos de ganância e inveja sem limites e olhou para ele

fincando seus olhos grandes avermelhados.

Viu ele então uma multidão pedindo súplicas, mas sendo

açoitadas incessantemente a mando dele, e ele pegou conhecimentos

da Ordem dos Ventos e se proclamou dono de todos os saberes e

ideias, subvertendo os destinos pelo caos para impor seus próprios

desígnios antinaturais. Naqueles sonhos as palavras eram assopradas

como em seu ouvido a ecoar a verdadeira natureza futura daquilo caso

não fosse impedido. Onde aquelas figuras do sonho, sem rosto ou

identidade, eram como sombras coloridas e torneadas por um vazio

persistente até que gradualmente tomavam formas não menos vazias.

Aquele homem queria estar em todo lugar em que ele estava como um

tumor se espalhando num cérebro apenas a monopolizar e expulsa-lo

como a encarnação da discriminação, se travestia em tudo, até

criações, como um demônio a assombrar-me pelo medo. Do que

amava tomava ou destruía como um parasita de sentimento, incapaz

de ser humano chama de cão! Assim então subitamente ele despertou

com sua mãe, a lhe chamar.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 22

- Já são quase 10 horas Pedro, estava sonhando?

- Não, apenas um pesadelo.

Pedro levantou-se da cama e tomou seu café matutino inerte

ainda mais em seus pensamentos pois suas perguntas era o convite a

retornar a Covadonga, e assim o fez. Caminhou a passos largos até

contemplar ao alto do monte um homem no arado, ele parou para

contempla-lo e com um sorriso perguntou ao jovem.

- Então você é o travesso Pedro?

- Como sabes?

- Joaquim lhe aguarda lá dentro.

O homem largou o arado e levou ele até o lugar deixando a

terra com caminhos para o plantio e então Pedro entrou no lugar

vendo Joaquim diante daquele tipo de banheira lançando pequenas

pedras sobre as águas e contemplando suas ondulações.

- Tive um sonho essa noite. – Disse Pedro.

- Todos têm. – Falou Joaquim sem tirar os olhos das águas. –

Mas o que importa é com o que você sonhou?

- Como você sabia que viria aqui?

- As respostas lhe chamavam Pedro, restava você vir com as

perguntas. Certamente o motivo de seus sonhos. As respostas são o

destino, e eles clamam por seu livre-arbítrio.

Pedro se aproximou e viu que a parte de baixo da banheira

tinha o mesmo desenho da pedra dele. Ele a tirou do bolso e abriu-a

nas mãos contemplando-a, lembrando dos dias que seu pai lhe deu por

herança.

- Porque a rosa dos ventos? – Perguntou ele.

- Rosa dos ventos é um de seus nomes, todavia, sua inspiração

aos homens do espaço é um enigma, mas para nós a conhecermos, é a

mesma que levou a confecção desta pedra. Esse é o símbolo da Ordem

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 23

dos Ventos. São símbolos. Não é como a rosa dos ventos dos relés

navegantes existentes, mas uma que leva a revelar segredos e

conhecimentos do tempo. Não é como a comum rosa dos ventos mas

uma estrela de ventos que indica adventos.

- Como meus sonhos, acredito. – Retrucou Pedro quando

Joaquim então parou de lançar pedras na água e então olhou para ele e

disse.

- As metáforas e símbolos não são a verdade, mas sua

representação, é o abstrato por onde transitam ideias inexpugnáveis e

quando justificável a verdade. A comparação é para tudo que é finito,

pois não se compara finito com infinito, mas somente infinito pode se

comparar com o infinito. O Mérito do autoconhecimento é

incomparável, pois o referencial como à criança é para quem dá os

primeiros passos como tudo que começa. A má metáfora é circundante

a verdade, nunca a toca, pois é mutante, anômala, não constante como

a verdade que sempre será invariavelmente a mesma. E como tudo que

é imperfeito, não toca a perfeição, mas apenas interpretações egoístas

e distorcidas em degeneração da verdade. Jesus disse que não mais

falaria por metáforas, pois chegaria o momento do singular de

compreensão única e incomparável, que somente você há de

compreender, apenas lhe serei por guia a jornada ao eterno.

- As águas distorcem o símbolo. – Retrucou Pedro. –

Sobretudo pelo que sei a rosa dos ventos é para os ventos, não água.

- O leito deste tanque é o mesmo assim como o destino, veja

quando as águas ficam tranquilas podemos enxerga-lo com nitidez, é

na confusão que a mentiras se fazem sobre a verdade.

- Isso é algum tipo de hidromancia?

- Aqui olho para as águas como quem olho para o Tempo,

Pedro. Yeshua, como cajado sobre as ondulações as rompe, como aos

ciclos, eis seu desígnio.

- Dizem que Ele andava sobre as águas.

- Como o Espírito Santo no Gêneses, curioso não? Sei que tem

muitas perguntas, e garanto, eu tenho as respostas.

- Sim, quero saber como você sabe destas coisas todas, quem é

seu Mestre?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 24

- Neste mundo sou o mestre dos 37 cavalheiros

inexpugnáveis, se lhe dissesse que o mesmo conhecimento que sei

levou os três reis magos a Jesus, você acreditaria?

- Sinceramente não posso se quer lhe responder se acredito,

pois atualmente não sei no que acreditar.

- Pois então fique ciente que a muito tempo a fonte o qual

jorra o conhecimento beberam homens que intencionaram subverter o

destino matando ao Cristo.

- Que fonte é essa? – Indagou Pedro.

- O Tempo. Você quer beber desta fonte Pedro? – Perguntou

ele de modo tentador.

Pedro inseguro hesitou virando os olhos para o lado, mas

acenou com a cabeça timidamente, mais orientado pela curiosidade

que pela certeza, como se o medo lhe bloqueasse o caminho ao que

desejava.

- O Destino sopra como o vento ante o tempo que se comporta

como água, Feng Shui como diriam os chineses. Conhecer suas

nuances é necessário para se conhecer o destino, pois a certeza e a fé é

o triunfo sobre a dúvida e o medo, medo que ainda vejo em ti Pedro. –

Disse Joaquim completando o discurso ao jovem, se levantando, e

aquele homem franzino lhe entregando um cajado como de pastor de

ovelhas e tocando as águas, ele tocou o desenho que estava em suas

bases e sorrindo seguiu - Somos os 32 ventos, e como o vento há de

semear ideias, criar ondulações para o destino, a verdade em mentes e

corações para o destino-mor. Somos a sétima onda a varrer o mundo

da mentira. E ao beber a água deste tanque simboliza seu

compromisso com a Ordem dos Ventos como o advento vindouro. A

Ordem dos Ventos é o sopro de Deus ante o destino, não são de algum

lugar, mas estão em todo lugar assim como Deus, assim como o

Tempo. Se antes os setianos colhiam os frutos do solo, hoje plantamos

no tempo e colhemos os frutos do destino.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 25

Joaquim então pegou aquela caneca leve que Pedro havia pego

no dia anterior e colocou-a nas águas e deu para ele beber dizendo.

- Como símbolo, beba da fonte dos tempos e conheça a

verdade que lhe instruirei. A Cristo lhe deram vinagre, a ti dou,

porém, as águas da verdade, para lhe libertar de suas dúvidas. Assim

como fora batizado pelas águas agora serás batizado pelos tempos,

rumo ao alvo que é o destino, a verdade vindoura.

Pedro pegou a caneca cheia de água e olhou para ela pensando

haver algo diferente na mesma, mas a bebeu duma só vez fazendo-a

entornar levemente sobre sua roupa, e Joaquim sorriu quando um

vento entrou pela janela abrindo as cortinas brancas como se fosse

uma resposta a seu ato meramente simbólico.

- Agarre seu destino Pedro, pois é sua herança, o aceitaste

livremente, mas antes dos segredos revelados terá de ler diante de

meus homens este texto e assina-lo – falou ele entregando um

pergaminho que ao desenrolar era um tipo de contrato enquanto o

homem da lavoura adentrou ao lado de outros quatro.

Pedro sentiu-se intimidado diante de tudo aquilo, entregou a

caneca de volta e começou a ler o texto lentamente diante dos homens

que pararam solenemente diante dele a espera de que lesse o que

queria Joaquim e assim o fez.

- Me comprometendo a não mentir sob as alegações de como

seguidor do que é a Verdade assim como é Yeshua e vendo que toda

afirmação é uma jura a verdade, sob pena ser expulso e punido caso

me contradiga, ou aos estatutos renegue neste contrato. Assim afirmo

solenemente diante das sagradas escrituras assim como pelo fundador

da Ordem, Heidrun Adail e sob a lenda de Fo-Hi tendo por

testemunhas meus irmãos e irmãs de jornada a cumprir meus deveres

e não somente usufruir dos direitos a mim cedidos como privilégios de

conhecimentos protegidos do tempo, mas proteger os valores

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 26

transcendes e atemporais do mesmo, a todos que prezam valores e a

família, e exercer meu oficio com compromisso a proteger a linha

familiar tal como a verdade de maneira incorruptível e como aos

irmãos de jornada e de fé, compartilhado dos benefícios e encargos, e

instruindo, exortando e orientando a direção a tomar ante o tempo,

ante o único caminho espiritual, e nunca tirar proveito do poder por

sua sedução me enaltecendo sobre os demais, assim como de posições,

status ou circunstâncias cedidas a meu posto procurando gozar da boa

reputação não por meras palavras, mas atos. Assim como reservo-me a

calar ante os segredos a mim revelados como reservando ao

destinatário do tempo futuro, e nós correspondentes a selar ante os

maus que anseiam subverter a justiça e a verdade a todo custo, me

comprometendo a colher apenas o por mim plantado e desejar apenas

o que sou capaz de produzir. Confiro a minha plena e total

responsabilidade pelos meus atos e até mesmo doar-me ante a causa

mediante a iminência de risco a sua verdade em conhecimento, pois

agora sou um herdeiro do destino.

Pedro mal compreendia que sua vida mudaria por completo,

para melhor, ante conhecimentos sem precedentes comuns, pois nunca

mais veria o mundo com os mesmos olhos, pois veria o mundo através

dos tempos. O jovem assinou o contrato de fidelidade e

confidencialidade com os seus e um dos homens pegou e mostrou a

Joaquim que assentiu e em seguida disse.

- Conte-nos seu sonho, Pedro, e lhe direi o que é. – falou

Joaquim pegando de volta o pergaminho com um sorriso cordial

diante dele enquanto os homens se retiravam em fila silenciosamente.

Assim Pedro o fez, sentindo-se agora mais a vontade como se

fizesse parte de algo realmente relevante, lhe em seu íntimo sabia que

daria sentido em seu viver, pois afinal tudo que significavam eles era a

busca por um sentido que para ele parecia perdido.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 27

Ao revelar confidencialmente o sonho a Joaquim que lhe

ouviu atentamente de braços cruzados esse ao completar apenas viu o

sorriso modesto como de comprovação de algo e disse.

- Veja Pedro, o sonho significa que no futuro criarão

fragmentações e caminhos para ao mesmo lugar levar e a todos

abranger independente do rumo no tempo a tomar. Porém, o caminho

sem verdade leva a ilusão, mas quando carrega-se a verdade ao alvo.

Pois o tempo do lugar é agora, mas ao futuro pertence ao tempo, pois

não é lugar. O tempo não tem tamanho, pois não é espaço, mas ao

espaço toda matéria. Siga-me. – Completou ele indo em direção a uma

porta a abrindo e revelando um interior com mais livros e armaduras

deixando o jovem perplexo e vislumbrado.

- O que vocês estudam aqui? – Perguntou ele.

- A verdadeira natureza do universo. – Respondeu Joaquim

enquanto parecia procurar algo como numa escrivaninha e continuou -

A mentira é como a lama, como uma camada de cotão cobre a verdade

impedindo seu brilho, mas as águas as lavam em suas areias e revelam

a verdade. Assim é a falsa realidade como um véu sobre a verdade. –

Joaquim pegou então um livro em papiro muito antigo e o abriu e

retornou em sua direção - Lutamos contra o deus material que detido

no espaço se detém a matéria onde está tamanho, e a tudo consome e

domina, mas antes clamamos a um Deus transcendente ao material,

sua metafísica o qual o tempo a tudo move.

- Que livro é este? – Perguntou Pedro o pegando nas mãos e

viu o título ‘Tractatus Ad Tempus’ de Heidrun Adail.

Pedro vendo a resposta a própria pergunta em mãos o abriu

lentamente e viu detalhes de épocas períodos futuros com datas

precisas que incluíam horas e localização sobre os pontos de eventos

que transcendiam ao tempo cronológico e ao espaço mundano. Viu no

livro gravuras e detalhados esquemas de latitude e longitude com

termos em latim e português o qual ele tinha instrução parcial com

frases que diziam coisas como ‘efeito de singularidade, evento

categoria 6’ e em seguida vortex natural de fenda temporal em anos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 28

impares assim como direções ante a concepção da rosa dos ventos,

coisas que os maus poderia utilizar para criar transtornos e até mesmo

matar em lugares que se quer Pedro tinha ciência que existia, pois na

verdade nunca haviam sido descobertos oficialmente. Impressionando

com aquele conhecimento ele sentou-se numa cadeira e então virou

para Joaquim e perguntou.

- Como ele tinha conhecimentos tão precisos do futuro? Era

um dos profetas mais importantes e não conhecia!

- A profecia nunca é tão precisa Pedro, pois é quando o

homem do passado vai com sua consciência ao futuro, mas este é

quando o homem vem do futuro vai ao passado. – Respondeu Joaquim

encostando-se na escrivaninha com uma carta nas mãos. - O que

protegemos é a linearidade natural de origem dos eventos, e estes

pontos são as fissuras neles. Somos protetores da verdade não

usurpadores dela, dos que criam, autores, dos que possuem, donos. O

que tenho aqui em mãos é algo que creio ser destinado a você, antes

mesmo de nascer.

- Que carta é tal que seguras? – Perguntou ele.

- Do mesmo autor deste livro. Escrita há muitos séculos atrás.

– Respondeu ele a entregando em mãos.

Pedro quando pegou-a ficou chocado, como por uma milagre

aquele sujeito conhecia seu nome e até quando nasceria mas com

informações aparentemente deliberadamente fragmentada como se

dissesse apenas o que ele deveria ter ciência e assim ele viu-a

atentamente e começou a ler.

Ao futuro de Pedro Menendez de Avilés que nascido em 15 de

fevereiro de 1519 terá papel importante ao rumo do destino no

tempo vindouro, pois a fé é temporal, não se prende ao agora,

mas está no futuro e ela a ti alcança pela providência divina

eternamente pura. O tempo não tem tamanho, pois não é

espaço, mas ao espaço toda matéria o qual advém as medidas de

tamanho, porém, a sua medida será a eternidade do destino.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 29

O que revelar em terras não conhecidas será guardião em suas

viagens o qual encontrará, assim entenderá o que digo, segredos

que rompem os tempos e que se tornam mentiras nas mãos dos

maus, e como toda mentira apenas mata, não liberta. Meu

endereçado é Pedro, destinatário do destino o qual a estirpe

possuí bons rebentos no tempo como a arvore de bons frutos, a

perpetuar o recado da eternidade que é a fé e a verdade. Seus

laços com a história se estreitarão e terás a oportunidade de

escreve-la, mas isso não direi ainda que no futuro seu

descendente, o mesmo não conseguirá pois a mentira será

domínio comum do mundo.

Porém, lhe digo que serás perseguido e envolvido no começo da

trama que a este atingirá, mas qual endereçado do destino não

há de ser perseguido? Em seu combate contra isso derramará

sangue, mas somente após perceberás que sangue derramado

não muda o destino, mas suja as mãos. Porém, digo novamente,

tenha fé pois o que se enrolará como mistério dos tempos será

completo apenas no vindouro, acalente sua alma, esforce sua fé,

segure o estandarte da verdade e com fidelidade ao que lhe

entregar tal carta como instrutor dos tempos.

Ao ler aquilo Pedro ficou na verdade mais repleto de dúvidas do

que certezas, ainda que a dúvida fosse a não compreensão na sua

vontade de compreender.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 30

Ato II

Opus ad Tempus

"Eu devo e irei conhecer a ti, Ser Desconhecido,

Que procuras nas profundezes de minh'alma,

E sopras através da minha vida como uma tempestade,

Inalcançável, e ainda assim meu parente!

Eu devo e irei conhecer a ti, e servir a ti."

Nietzsche - 1864

Algum lugar de Roma, Vaticano

A superfície aparentava ser apenas um prédio histórico comum a

localidade o qual pelo tempo de pé que possuía, o tinha de incontáveis

histórias como testemunha ocular da humanidade que a forjou.

Todavia em seu interior, no subterrâneo havia um laboratório criado,

mantido e pesquisado por Jesuítas com o dinheiro do Vaticano em

associação com o SIV, Serviço de Inteligência do Vaticano

tecnológicas impermeáveis a invasões de criptografia a cifras

quânticas como contra inteligência de agências como NSA. Porém,

mesmo que a aura moderna permeasse aquele lugar os cientistas de

batina remontavam os tempos áureos dos Jesuítas quando pelo

conhecimento praticamente criaram o mundo moderno e o

dominaram, homens de fé, cruzando o rumo da ciência onde

surpreendentemente em sua encruzilhada ambos se encontrariam

como um serviço de ‘ciência santa’ como Augustin Milagros definia o

projeto em que trabalhava chamado Hidrocriptografia, um sistema de

criptografia quântica que utiliza de métodos probabilísticos da função

de onda pela incerteza de Heinsenberg, algo prodigioso e feito sob a

tutela ética dos jesuítas cuja imparcialidade e a metodologia era

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 31

seguida a risca e desenvolvido como modo frio sob a coordenação do

bispo Milagros.

Augustin Milagros, era um homem simples. Tirando sua

batina poderia se passar por qualquer pessoa e mesmo que doutorado

em física quântica em Oxford conseguiu conciliar a batina com a

ciência servindo a SIV com ideias próprias e de muito uso para o

Vaticano depois do chamado Vatileaks. Magro e com cabelo grisalho

e usando uns óculos fino no rosto, carregava consigo um crucifixo e

um terço enquanto monitorava os esforços da Hidrocriptografia criada

originalmente a proteger documentos e conta bancárias virtuais de

possíveis invasões até mesmo da NSA que trabalhava num outro

computador quântico que quebrava todo tipo de senha. Todavia

naqueles dias ficaram eles eufóricos com algo que toparam por acaso

em suas pesquisas.

A Hidrocriptografia era baseada justamente nas flutuações

quânticas e aparentemente aleatórias onde o código aparentemente

parecia oscilar de modo imprevisível a qualquer sistema similar e

tornando possível apenas rompe-lo com uma chave de seta, que

chamavam de ‘Código de destino’. No entanto, padrões imprevisíveis

foram notados uma vez colocada a chave no sistema caótico o que os

deixaram inicialmente perplexos. Porém, o que se seguiu fora uma

concepção que tornou capaz de prever flutuações posteriores a esta

chave como se inicialmente pudesse ver padrões caóticos futuros de

alguns segundos e posteriormente ao ser aplicado de modo mais

preciso minutos criando modelos completos de previsões

probabilistas. O código criado incialmente criptográfico era na

verdade uma chave que levava a uma equação capaz de estabelecer

modelos futuros. Como um tipo de vetor de que indica variáveis com

uma precisão de 98% mediante a observância tornava aquilo uma

máquina sensacional de previsão temporal.

- Não vamos publicar esses resultados agora. – Disse

Milagros. – Vemos implicações disto nas mãos de pessoas amorais e

imorais, pode ser desastroso. Talvez favorece até mesmo o Anticristo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 32

- Recebi ameaças ontem, Milagros. – Disse o jovem negro que

era um padre também cientista.

- O Siv está nos protegendo, temos a graça do Santo Papa e de

Deus. Documente todo progresso, registros e leve o backup daqui,

sabe-se que esses alienados são capazes de qualquer coisa para tirar o

que desejam.

O Jovem chamado por José Maria suava nervoso, ainda que

sob um bom ar condicionado ao pegar o pen drive com os documentos

com registros de todos movimentos assim como de registros

scaneados colocando-o dentro do jaleco branco com um sorriso meio

pálido para Milagros.

- Temos que buscar a fonte senhor Milagros. Se estão me

ameaçando assim imagina, o criador conceitual disto.

- Gabriel Modenna me contatou hoje pela manhã, Javier

faleceu, mas estamos tomando medidas com o SIV no Brasil. Se

estamos certos assim como Gerson, isso pode formular quadros que

compõe toda construção do universo e talvez literalmente ser capaz de

prever o futuro. Modenna crê que isso pode decifrar profecias e em

mãos erradas pode ser um poder imensurável de domínio pra

escravizar, a exemplo do que fazem com esse autor.

- Acho que Gerson Avillez está inatingível, os abismos que

criaram até ele nenhuma ponte é capaz de alcançar.

- Fé, meu prezado, ela faz qualquer ponte ser real.

- Você acha que é a NSA que está por de trás disso? –

Perguntou José Maria. – As relações do Vaticano com algumas

sociedades secretas foram postas abaixo com o Papa Francisco.

- Quando se há ganância e cobiça o tiro pode vir de qualquer

direção, a obstinação amoral destes demonstra o mal que são. – Disse

Modenna – Mas não temas, Deus está contigo, agora vá. Você será

reputado por ter descoberto o padrão previsto por Gerson.

O Jovem saiu do laboratório um pouco atrapalhado indo até a

porta de segurança quando deixou cair seu celular no chão. Ele se

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 33

abaixou, mas nisso o guarda que era da Siv se abaixou primeiro e com

um sorriso lhe devolveu o aparelho perguntando se havia danificado

com o tombo. José Maria negou e tentou esboçar um sorriso de volta,

mas seu olhar fraquejou. A porta se abriu e ele se retirou indo até o

exterior enquanto duas belas jovens passavam sorrindo enquanto

tomavam sorvete.

Um carro parado do outro lado da rua tinha um senhor de

bigode branco conversando com um homem calvo e sorridente ao seu

lado. Aparentemente nada incomum. Ele atravessou até um carro

simples que era o dele e abriu a porta quando ao fim da rua era

possível ver uma das entradas ao Vaticano. O jovem ligou o carro e

deu partida saindo da calçada.

Ligou o rádio e passou por várias estações, mas independente

da música, nada o deixava confortável. Com uma mão colocou o

celular sobre a poltrona do lado e se abaixando, um carro na mão

contrária buzinou. José Maria levantou-se olhando para a rua jogou o

carro de volta para seu lado de mão quando com a outra mão apalpou

o bolso do jaleco sentindo o pen drive dentro dele. Naquele momento

porém, uma senhora atravessou a rua sobre o carro dele, e assustado

apertou o freio jogando o carro para a via oposta quando notou que o

freio de nada adiantou, não havia freio.

Tenso com a situação o jovem quase perdendo o controle do

carro tentou diminuir a marcha sem resultado quando vendo outro

carro vindo na mão contrária, buzinando, este ao colocar perdeu o

controle indo para fora da pista batendo sobre um monte de caixas e

capotou quase atingindo uma barraca de frutas onde estavam duas

meninas e uma senhora.

Poucos segundos depois curiosos brotaram de todos os lados

quando uma moto veio em direção ao carro parado e estacionou. O

homem desceu da moto sem esboçar qualquer afeição no rosto, com

os cabelos encachiados tirou o capacete como se fosse algo comum e

foi até a janela quebrada e nela se debruçou se abaixando. José Maria

estava apagado dentro do carro em meio a cacos de vidro, mas o

homem ao invés de soltar seu sinto de segurança apalpou por todo seu

corpo até que viu o pen drive no teto do carro e o pegou. Em seguida

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 34

pegou um tipo de dardo, e perfurou seu pescoço fazendo o jovem se

remexer dependurado no banco, de ponta cabeça. Aquele motoqueiro

então disse bem baixinho.

- Como Pedro morreu na cruz. – Disse ele esboçando aquele

sorriso sádico na face.

Tendo a mesma calma com que fora até o carro, colocou o pen

drive no bolso enquanto um senhor perguntava se estava tudo

tranquilo com o motorista. Mas o ignorando retornou a moto do

mesmo modo que veio, colocou o capacete e deu partida indo embora

dali deixando os curiosos cercarem o carro quando sirenes se ouvia ao

final da rua se aproximando, José Maria estava morto, eliminado,

quando as ambulâncias lá chegaram encontraram seu corpo sem o

sopro de vida que havia recebido assim como Adão no Éden. Ao ser

levado ao legista nada perceberam a não ser meramente um aparente

infarto provocado pela tensão do acidente, que na realidade teve os

freios adulterados para falhar.

Siv, Serviço de Inteligência do Vaticano, Roma, 2014

Um alarme soou quando homens de fé discutiam os passos a serem

tomados numa investigação sobre as descobertas recentemente feitas

pelo grupo Jesuíta naquele laboratório, aquele era o centro nervoso do

SIV, Serviço de Inteligência do Vaticano. Os agentes da fé haviam

falhado em proteger um dos jesuítas que trabalhavam no Projeto

Hidroneiros como era chamado por Modenna. Diretamente do

telefone Augustin Milagros esbravejava sobre o porque de nada terem

feito ou monitorado o jovem no que indicava algum tipo de

sabotagem.

- Isso é alguma conspiração dos infernos! – Disse Augustin

Milagros – Quero a verdade sobre tudo que aconteceu!

- Senhor, os relatórios oficiais que recebemos agora disseram

que fora um infarto, não podemos explanar na mídia algo sem provas

Page 35: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 35

factuais, incialmente apenas acreditamos que o freio fora sabotado. –

Disse o agente da Siv a Milagros.

- Quero que investigue qualquer seita, agência de inteligência

e sociedade secreta que tenha tomado conhecimento destas

informações, se furtaram o pen drive de dentro do carro, então sabiam

o que faziam! – Retrucou Milagros no telefone. – Modenna e eu

estaremos indo ai tão logo, e tratem de contatar Gerson o quanto antes,

ele tem informações valiosas caso a Chave do Tempo caia nas mãos

malignas dos que isto fizeram.

Chave do Tempo era o termo que Milagros designou para o

vetor-chave como código para conseguir decifrar a hidrocriptograma,

no backup colocado nas mãos confiáveis de José Maria haviam

documentos criptografados, mas facilmente quebráveis com o

computador quântico da NSA, porém, o documento deliberadamente

estava fragmentado em partes onde uma parte do backup ficava no

laboratório, a dita chave, enquanto o código estava com José Maria.

Milagros sabia do quão malignos eram aqueles homens sem

escrúpulos ou valores, seriam capazes até mesmo de fazer guerras para

impedir a justiça e excluir alguém que eles desejassem algo,

extremamente covardes eram arbitrários para servir-se de qualquer

meio a fim de se apropriar de algo, dominar, controlar e agora

comprovadamente aquela conspiração que a tudo isto indicava.

Rio de Janeiro, Brasil.

Entre sete bilhões de pessoas não existem duas pessoas com o mesmo

código genético, a mesma genética, córnea, íris, a não repetição de

algumas coisas surpreendem e assustam tanto quanto a repetição pelo

fato do caos que permeia aparentemente idôneo onde suas relações

físicas advém as demais formas por influência e convergência das

demais leis físicas e determinações pelas leis da termodinâmica, de

modo que é a medida desse caos perante a termodinâmica que move e

transforma, da informação a energia, e da energia a matéria tornando o

inexistente existente como bolhas a submergir a superfície conhecida

de nosso universo. Como pode disto advir qualquer destino?

Page 36: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 36

Mesmo a energia nunca se perde, mas a tudo converte, a

termodinâmica avisa, porém, que ela pode vazar e ser vazada a

exemplo da energia escura, de onde vem? A busca por um moto-

perpetuo parece impossível, mas diante de nossos olhos estamos

diante do maior de todos eles, o universo ainda que sob o caos.

Ao menos conforta o fato de que não somente é o universo

que paira flutuando sobre o abismo que tanto temeu Nietzsche, pois

talvez seja justamente o medo de Deus em seu isolamento perpetuo

levando-o a construir esse palácio do universo como ponte a um

sentido para si mesmo viver, universo este o qual o mal tenta se

esconder saindo de sua casa de origem, o abismo de onde Deus deu

ordem para que todo caos tivesse sentido, destino.

Mas o caos como sombra nos assombra por séculos, invasores

e ingratos com suas embaixadas na física astronômica de buracos

negros da existência, em que não se a troca ou tem retorno

proporcional, pois a maldade representa o acabar do sentido, da fé, o

cessar a única volta que almeja, o do não adianta a falta de decoro dos

facínoras da injustiça e do mau, é uma fragrância do qual a única coisa

de singular é a inhaca que reconheço de longe. Mas em terras de

trópicos dizem que o calor com sua medida de temperatura física

denota variações entrópicas e consequentemente desse caos. Ânimos

acirrados parecem intrigantemente se mesclar favorecendo situações

que de algum modo se relacionem a agressões e violências não por

menos atribuindo tal temperatura ao inferno onde nela a de reinar. A

medida de ordem de um sistema é medido justamente pela entropia

que estabelece vinculo com sua temperatura que extremado aparente a

deliberar numa assimetria de reatividade numa sucessão de eventos

que relacionados podem levar ao que se concebe por sorte ou azar.

São como águas a ferver que pela intensidade do calor borbulham

tornando-se agitadas e assim sua previsão muito mais difícil, nos

restando por aquele ferver, a fé do qual atribui-se o fervor,

curiosamente.

Assim vivia eu, excluso, não exclusivo, recluso, não incluído.

A exclusão e discriminação, é uma cadeia no qual ficamos detidos

pelo dolo alheio. É como a doença da maldade, só se faz sentir os

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 37

sintomas em terceiros, suas vítimas. O calor aflorando como grilhões

do caos a anunciar a sobrevivência do qual restava-me como numa

savana mas não por animais que se atribua apenas sua manutenção,

mas ao sadismo dos que eram incapazes de viver dos próprios ganhos,

sua própria vida. A pista era de terra e havia crianças brincando

quando ao me dirigir a caixa postal, abrindo-a, notei uma

correspondência. Havia dentro dela um desenho peculiar onde anjos e

aparentemente Deus com suas longas barbas brancas assoprava sobre

as nuvens, sobre o texto, com estilo daqueles convites de casórios ou

de 15 anos, comum por estas regiões. Ao ler o curto texto havia o

seguinte.

Ao estimado Gerson Machado de Avillez o qual concebeu com

esforço e mérito próprio ante uma árdua perseguição o que

pesquisou e desenvolveu a próprio punho ante o que lhe

afligiu, sua presença é requerida a tratar de negócios

pertinente as suas referidas descobertas, mediante a

gravidade do caso acreditamos que corra perigo por

impostores e fanáticos que almejam domina-las com todos os

meios possíveis.

Amanhã na Av.Rio Branco, em frente ao edifício central, as

10:25. Dr.Petronio Fonseca.

O.C.A.V.

Ao ler aquilo, mais movido pela curiosidade que pela certeza

devido a situação presente, resolvi, com certa relutância me dirigir ao

local em vista que era de movimento e público de modo que

dificilmente correria perigo. Não obstante dificilmente algum

impostor me enviaria uma carta com adornos e desenhos tão

agradáveis me convidando com peculiar cordialidade a alguma cilada

de abate, pois concebe-se a psicopatas nunca tratar assim suas vítimas

o qual se consideram donos.

No dia seguinte me dirigi ao local designado mediante o

horário, notadamente como quem buscasse respostas existencialistas a

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 38

minha própria busca particular de significados da vida que alguns

tanto obstinadamente tiravam como se este fosse simultaneamente o

sentido da vida deles. As 10:17 passei diante do lugar onde alguns

ambulantes esticavam uma sucessão de programas piratas de

computador para vender, quando notei um homem que destoava dos

demais ao ter um chapéu coco engraçado e vestindo uma camisa

quadriculada como se estivesse “disfarçado” de turista. Parei

aproximadamente a ele e o observei quando ao olhar ao relógio notei

ser 10:27, quando alguém me cutucou.

Ao virar-me, um sorriso radiante e cordial abriu-se diante de

mim como se me conhecesse de longo período e imediatamente me

cumprimentou falando meu nome completo.

- Sou doutor Petrônio Fonseca. Compreendendo a forma como

lhe contatei estimo que não tenha lhe levanto más suspeitas.

- Considerei incomum, no mínimo. – Respondi eu.

- Naturalmente, tendo-se em vista o tanto o quanto padeceu. –

Respondeu Petrônio retirando o chapéu e enxugando o rosto com um

lenço demonstrando uma testa avermelhada pelo calor. – Vou ser

sincero e direito, não sou bom em não ser objetivo. Podemos ir a

algum lugar mais apropriado?

- Pode ser num café que tem lá embaixo, dentro do prédio. –

Respondi eu.

Assim descemos e imediatamente o doutor Petrônio pediu um

café expresso e o mesmo pra mim e quase bufou dado ao calor. Tirou

uma pasta que carregava consigo e colocou-a sobre a mesinha onde

era servido o café. Ele a abriu, e dentro tirou alguns papéis e fotos.

- Trabalho a serviço do Siv, um serviço de inteligência do

Vaticano, venho em nome de Gabriel Modenna, um bispo que vem

desenvolvendo um projeto baseado em suas teorias. Na última

semana, um dos nossos cientistas que trabalhavam num laboratório

Jesuíta fora morto em circunstâncias duvidosas.

- Mas tenho alguma relação ou suspeita nisso? – Indaguei eu.

Page 39: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 39

- De modo algum, na verdade acreditamos que seja o próximo

alvo. – Respondeu ele mostrando uma foto do padre que havia sido

morto, José Maria. – O que recentemente descobrimos parece

confirmar por completo suas hipóteses formuladas e parcialmente

colocadas na internet. O que alguns naturalmente cobiçam e pouco se

importam pra qualquer legalidade ou respeito, pra eles você é menos

do que nada, só importa suas teorias, só. Falo de uma Sociedade

Secreta conhecida por Ordo Ad Innaturas ou como algumas vezes se

vê Ordo Ad Chaos, antiga adversária de nós.

- Isso pelo que sei é apenas uma mensagem relacionada a

alguns ocultistas fanáticos. – Respondi.

- Não apenas, é algum tipo de círculo inserido dentro de várias

Sociedades Secretas e seitas o qual acreditam que o domínio do caos

trás o poder numa ordem própria. – Respondeu Petrônio novamente

enxugando a testa do suor. O que nos leva novamente a você como

ponto em comum entre estes e a Ordem Jesuíta.

- Por quê?

- Recentemente José Maria trabalhava num novo sistema de

criptografia quântica utilizando o principio postulado por você ao ser

associado ao principio da incerteza, o qual chamamos de

Hidrocriptografia. Criado originalmente a proteger nossos mainframes

de invasões como pela NSA que atualmente possuí um computador

capaz de quebrar quaisquer senhas, descobrimos, porém, algo dentro

da aparente aleatório ao utilizar a Chave vetor.

- Os jesuítas veem nisso a oportunidade de retomar o poder de

outrora, o que seus adversários não querem evidentemente. – Concluí

eu quase interrompendo.

- Sem rodeios. Há muito mais nisso do que aparenta prezado.

Sou do Siv, mas participo do que oficialmente nunca existiu, a Ordo

Christianitas Ad Ventus, uma ordem ultra secreta criada há séculos

atrás e que guarda segredos proféticos pertinentes ao tempo que

justamente converge a esta descoberta. – Respondeu ele passando a

mão sobre seus cabelos brancos e se inclinando em minha direção e

então seguiu. - A irmandade dos Ventos procuram o autor, que chama

de “chave dos ventos”, não somos uma máfia, não viemos para matar,

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 40

mas libertar, pois o livre-arbítrio consciente é a verdadeira liberdade.

Nós cuidados para que a humanidade siga seu curso natural e

profético, zelamos pelo destino da humanidade para que algumas

cosias não alterem a ordem natural e divina estipulada como destino.

- Mas como nunca soubemos de vocês?

- Somos pessoas comuns com conhecimentos fantásticos. –

Respondeu ele sorrindo cordialmente - O fato de não se ver os ventos

não significa que ele não existe. O tempo não tem forma, todavia a

confere ao que toca com o alisar de séculos, você pode soca-lo o dia

inteiro e nunca vence-lo. Assim é a informação, ele altera, muda, pode

conduzir a energia e a energia a matéria pelo caos. Estamos todos

dançando ante o perpetuo tempo. Das ínfimas partículas que vibram

ao ritmo inabalável do Tempo, as voltas em torno deste mundo insano

em rotação, e do constante e raro ato heroico da transladação que nos

permite comemorar anos de vida. Quem permanecer mais tempo de pé

dançando a de vencer.

O doutor então tirou de dentro da pasta uma gravura com uma

pintura conhecida por mim, era um descente meu que a muitos anos

havia trazido a família para o Brasil.

- Você conhece este homem. – Disse Petrônio – Conde Jorge

Avillez, governado militar da Cisplatina, porém, mais do que seu

cargo oficial ele defendeu algo que poderia ter mudando o curso do

país e do mundo.

- Ele era a Ordo Christianita Ad Ventus? – Indaguei eu tendo

um aceno positivo de Petrônio.

- Oficialmente ele era da Ordem de Cristo, uma sucessora dos

Templários, todavia aquilo era apenas uma formalidade conferida a

algum de seu posto, pois o conteúdo mesmo era de uma trama que

protegia um segredo muito antigo.

- Mas qual a relação disso com o caso que você estava

citando?

- Algo muito antigo que “profetizou” sobre estas descobertas

atuais e do qual você é, não por acaso, herdeiro comum, e parte da

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 41

própria natureza da Ordem dos Ventos, ou se preferir Advento. Há

todos os tipos de ventos, os que anunciam tempestades são os mais

importantes, algo pertinente ao destino sobre o caos, o que a Ordem

do Caos quer furtar e como impostores apenas aniquilar. Todas

variáveis ante o caos leva a valores constantes como determinantes a

um destino comum o que leva a Ordo Christianita Ad Ventus.

Naquele momento o doutor arrumou a pasta onde se viu uma

folha com o termo ‘Philoversism’ escrito no título, um conceito criado

por mim há alguns anos. Tudo fez sentido naquele momento, sobre a

natureza do que ocorria, todavia quase irreal pelo conhecimento de

minha própria família que ele propunha. Senti-me insaciável na

curiosidade de compreender melhor e ter ciência de até onde era de

algum jeito parte daquilo, como uma peça num mosaico peculiar,

quando ele disse mais uma vez.

- O tempo urge e engole as mentiras de homens vãos, dos

resistentes a verdade. Porém, se nada fizermos devemos aceitar o

resultado que vier. Preciso ter certeza se você está conosco nisso.

Acenei que sim com o rosto ainda que não compreende-se o

que poderia auxiliar eles, quando então o homem tirou de dentro do

blusão uma passagem de avião. Uma viagem para Itália, Roma.

Diretamente para o Vaticano onde me juntaria não somente a

investigação como ao experimento lá realizado a somar ideias sobre as

concepções lá propostas a fim de conseguir resultados antes que estes

dominem tal conhecimento e tragam o caos ao mundo.

Marchal, município da Espanha, século XVI.

Alguns anos haviam transcorrido desde que o jovem Pedro havia

encontrado com aqueles homens de conhecimentos peculiares e

surreais ao conhecimento dele. Havia recém completo 18 anos e no

auge do borbulhar hormonal de garotos do tipo. Repleto de energia e

vigor da idade o jovem Pedro naquele momento, depois de anos de

espera, estava começando por fim seu treinamento junto a Ordem dos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 42

Ventos. Quando Joaquim Milagros se aproximou do jovem

carregando um pergaminho nas mãos e lhe olhando sério sentou-se ao

lado de Pedro, numa pedra redonda tirada de algum rio ou corredeira

no alto da colina onde estava uma edificação similar a de Covadonga e

disse.

- Hoje começaremos o treinamento Pedro, ele será duro, mas

com um propósito específico, torna-lo igualmente duro de ser

quebrado ou partido. – Disse Joaquim abrindo o pergaminho e seguiu

– nada do que faremos será para lhe fazer mal, mas lhe moldar assim

como a pedra o qual nos assentamos fora moldada por milhares de

anos sob a correnteza das águas. As águas a tudo moldam e dão

forma, mas ela não tem forma. O Treinamento corresponde a cada

filão exemplificativo dos conhecimentos do Opus Ad Tempus – disse

ele apontando para o pergaminho – algo muito antigo que sobreviveu

a aniquilação de uma cidade. Mas, antes de tudo, deves compreender a

diferença entre mandar, pedir e ordenar. Somos uma Ordem, Pedro,

mas isso não significa que não respeitemos o livre-arbítrio, antes

zelamos por ele. Lhe mostrarei o caminho, lhe ensinarei a liderar, lhe

darei o conhecimento que ao mundo pode moldar como as águas que

moldaram essa pedra. Porém, terá de provar seu valor a receber uma

tarefa, pois aquele que ostenta conhecimentos sem prática seu

aprendizado é ilusão, como o que se contradiz não é digno de

confiança muito menos de beber da fonte que lhe ofereço, não

ostentamos apenas a fachada de algo oco de valores. Por isso o

primeiro passo do aprendizado não é só pratica-lo, mas respeitar seu

mentor. Sou sua fonte até que um dia você se torne um manancial. –

Joaquim então levantou-se quando um homem negro alto surgiu

carregando uma espécie de mochila cheia de pedras e com esforço

entregou a Pedro e disse. – No caos é fácil empurrar ladeira abaixo,

não há grande esforço nisso, porém, levar ladeira acima pedras exige

esforço e destreza. Derrubar é mais fácil que levantar, estou aqui para

não fazer cair, pois a gravidade a todos empurra, estou aqui para poder

mostrar o erguer.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 43

- Mas isto é muito pesado! – Exclamou Pedro ao pegar a

mochila cheia de pedras.

- Esse é o peso que alguns tornam o fardo do conhecimento da

verdade Pedro, mas somente após levar ao alto você poderá se dizer

apto poder trazer abaixo. Você deve subir o resto da colina, e lá no

alto haverá uma fonte a que beber como recompensa, pois somente

com os malévolos nada se ganha pelo esforço.

Pedro com certa dificuldade, mesmo no vigor físico da

juventude colocou a mochila nas costas ao se levantar quase perdendo

o equilíbrio e fazendo umas caretas e disse.

- Não sei se consigo, está pesado demais, vou cair no chão no

caminho.

- O mal é como a gravidade, ela lhe prende ao chão. Mas os

verdadeiros peregrinos não possuem raízes no chão, mas na fé e no

tempo. Mas persiga o futuro e no máximo alcançará o presente, siga a

verdade e ela te libertará para a eternidade. – Completou ele

apontando para o alto da colina e em seguida cruzando os braços o

aguardando. – Como lhe disse não estou ordenando isso, mas a fonte

está lá encima, somente lá subindo você poderá bebê-la, você terá de

colocar as pedras sobre uma balança para abri-la. Os que não

valorizam o esforço, são os que saqueiam fontes e rapinam

conhecimento.

Pedro fez uma careta de desanimo pela proposta, mas seguiu a

instrução de Joaquim como se fosse um soldado e seguiam andando

com certa dificuldade rumo a colina sob os olhares silenciosos daquele

negro de quase dois metros de altura. Joaquim veio atrás como se

fosse um súdito de Jesus o acompanhando até o calvário e a cada

passo de esforço da subida o jovem quase tropeçava sobre si mesmo e

tão logo o suor começou a escorrer de sua face.

- Jesus padeceu igual a isto, mas ele teve sua recompensa de

Deus, Pedro, ele ressuscitou e venceu toda gravidade, subiu! Com

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 44

Deus não há dificuldade sem porque, é o porque que nos move, e a

pergunta que nos leva a fé. Quando Adão fora expulso do paraíso foi-

lhe ordenado a viver do próprio suor, porque contigo seria diferente?

Os que não suam, rapinam, mas o prémio deles é outro, é o inferno.

Pedro então caiu com as mãos no solo inclinado e com esforço

tentou se levantar em vão. O negro que acompanhava Joaquim foi

para tentar auxilia-lo se erguer, mas fora impedido por Joaquim.

- Sua jornada Joaquim, sua jornada, apenas lhe mostro o

caminho, mas quem cruza é você. – Disse ele e continuou - Você se

torna o que faz, mas vale aquilo que defende, a proporção em que

defende. Lembre-se neste caminho que segues tem de haver verdade,

pois sem verdade apenas há ilusão. – Joaquim então pegou um lenço e

passou no rosto, pois também suava com o calor de um sol intenso e

continuou - Descer é fácil, subir é difícil. Fácil é subir sobre o que

diminui, como lutar sem igualdade, qual bravura há no massacre?

Suba a montanha antes de falar do mais baixo, caminhe milhas antes

de culpar as plantas, somente então beba das águas de meu

conhecimento! Certamente Solomon Pellegrin ficará orgulhoso disto.

Pedro se remexeu grunhindo algo sem sentido se ergueu e ao

olhar pra frente viu que ainda havia quase uma milha de subida. Ao

suar ele parecia ressoar como o sino soa e o vento propaga. O jovem

seguiu ofegante e com o suor descendo em sua vista, dando um passo

por vez como se estivesse reaprendendo a caminhar. Ele se perguntou

quem era tal homem, Solomon Pellegrim.

Longos minutos se passaram e Pedro ficou com uma

coloração avermelhada pelo esforço, agora estava a poucos metros do

objetivo. Pedro parou um pouco e respirou ofegante, ajeitou a mochila

e olhou para Joaquim como se estivesse sendo penalizado por algo

que nunca fez de mal. Sem nada dizer seguiu a diante, cambaleante

pelo cansaço quando finalmente visualizou a fonte. Diante dela parou

e tirou a mochila das costas fazendo-a cair e espalhar as pedras que

nela haviam, eram quartzos e cristais comuns de grande tamanho e

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 45

algumas pedras de granito. Pedro se lançou ao chão vendo que não

saia água da fonte e ofegante respirou sem cessar por longos segundos

quando Joaquim lhe disse.

- Arrancar frutos da arvore para derruba-la é como defecar na

fonte em que bebe, pode-se condenar o autor o qual copia? Somente

os tolos que não conhecem o valor de um trabalho assim o fazem. –

Disse Joaquim se abaixando e colocando as mãos em seu ombro e

disse. – Veja a fonte Joaquim, agora a dê valor pelo esforço que

fizeste, mas coloque as pedras como tributo ao que vai beber para que

possa bebê-la.

- Não vejo... – disse ofegante - onde colocar as pedras na

balança! – Disse Pedro.

Joaquim apontou a seu lado direito uma espécie de prato de

metal sob um material sensível amarrado a uma corrente e então disse.

- O Teimoso é aquele que insiste numa coisa que se sabe ser

mentira ou mal, o persistente no que conhece o sonho que anseia

conquistar com valores e esforço próprio. – Coloque as pedras e

beberás de sua água.

Pedro ergueu se recobrando e colocou as pedras no prato uma

a uma até que ao atingir o peso adequado, o prato desceu puxando a

corda que liberou a fonte. O jovem lançou-se sobre um pequeno

manancial de água que dela jorrou abundante, e meteu seu rosto na

água de qualquer jeito se molhando, abriu a boca e da água se encheu,

se ensopou por completo de água fazendo aquele homem negro rir e

em seguida Joaquim.

- Como a água é boa não? Beba-a como o conhecimento que

lhe passarei, meu preço é o esforço ao contrário dos tolos que tomam a

fonte sem nada pagar e dela cobram a quem descobriu. – Disse

Joaquim colocando a mão em seu ombro e continuou - Não somos

assim, dela criamos, somos a fonte. Mas não se pode reputar por

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 46

Mestre quem age apenas como algoz, pois da Maria não nasceu a

mazela, mas a redenção! Prometo que o esforço feito não será em vão,

como os vãos do qual a obstinação em ganhar esquecesse de estar

certo e de tais valores, redenção não caí do céu, Pedro, é uma

caminhada para o céu. Mas a estes algozes apenas aprendemos o valor

dos justos ante eles, nada mais. Eles são a ladeira, a gravidade seu

rancor, as perguntas as pedras, e a fonte suas respostas, a resolução.

Pedro acenou com a cabeça sinalizando que compreendeu. O

jovem deixou de lado toda aquela aparência o qual escondia o esforço

que iria realizar. Pegou uma espécie de cantil e encheu-o de água e

guardou enquanto Joaquim com um sorriso de felicidade ao ver o

avanço de seu aprendiz sentou-se numa pedra e pediu para ele fazer o

mesmo.

- Na sua jornada, deves identificar o mal. – Disse Joaquim ao

jovem encharcado de água sentando-se ao seu lado ainda ofegante. - O

modo mais eficaz de identificar o mal, é pelo contraditório, não há

cínico justo. Se é ambíguo, vago e duvidoso, não é bom. Mas suas

duvidas sendo justas e sinceras são perguntas, e elas não mentem.

Você bebeu dá agua por suas dúvidas, assim escolheu e lhe

justificarei. Em nada paira maior injustiça se não ser prisioneiro da

crença alheia, mas quando verdade liberta, lhe ofereço a verdade,

Pedro, uma verdade que o mal não pode oferecer pois ele a desfigura,

altera sua fonte.

Joaquim lá permaneceu mais por longos minutos diante do

olhar daquele negro que lhe era guardião quando Joaquim parou e

apontou para ele perguntando.

- Mas este seu amigo nada diz?

- Jopy Iago era servo da crença alheia, a crença na escravidão.

Mas assim como Jesus nos comprou para libertar, o comprei para ser

dono de si mesmo. Quando oferecemos água e conforto a alma

somente os malévolos não são capazes de ser fiéis. Não o julgue pelo

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 47

interior, o verbo está em sua mente a movê-lo em atitudes. Nós

movemos o tempo, e ele se move por nós.

Jopy sorriu para seu mestre de braços cruzados como sendo

um homem realizado. Após alguns minutos os três desceram

novamente desta vez dividindo o peso das pedras. Joaquim seguiu até

o pequeno castelo sob aquele manancial de águas e abriu a porta para

que o jovem Pedro adentrasse. As pedras não haviam criado, mas eles

haviam polido como as águas o fazem ao longo dos tempos. Pedro

tirou a roupa ensopada até secar. Vestiu uma roupa branca como quem

tivesse sido purificado e Joaquim o levou diante de um espelho onde

ficou olhando-o a si próprio e disse.

- O que vê Pedro?

- Eu mesmo.

- Errado, isso é um eco seu. Apenas seu reflexo, aquém

imitação. Quanto a nós acusar de mentir não prova que é verdade,

principalmente contra o factual e provas. O reflexo é uma ressonância

gerada pelo rebater da luz, mas ela pode ser enganosa, você tem que

ver através do espelho para enxergar seu interior. Pois a aparência

pode ser mentira assim como trocar rótulos de um perfume por um

veneno. Terá de enfrentar a si mesmo como diante do espelho, seus

demônios do ego e somente quando vencer a si próprio poderá vencer

o exterior. Não existe vitória ou superação sem ser sobre si próprio,

você não pode ser melhor do que ninguém sem ser melhor que você

mesmo.

Pedro ficou meio sem jeito e olhou para os lados como se

duvidasse do que Joaquim dizia, mas em seguida olhou firme pra

dentro de seus próprios olhos, e assim Joaquim Milagros então seguiu

e disse mais.

- Seu reflexo é fruto da ação do verbo “refletir”. Pode refletir

suas atitudes, um espelho nunca traí, nunca mente, nunca tem falta de

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 48

proporção. Sempre é justo. Assim como Jesus, versos a eternidade dos

ventos, verbo que se fez carne.

Cúria romana, Vaticano, tempos atuais.

Fiquei encantando com a grandiosidade daquele lugar secular. Um

complexo de prédios construídos a muitos séculos o qual a cada viga e

coluna carregava memórias de séculos da igreja Católica. De seus

erros e acertos, de seus conhecimentos. A praça de São Pedro

remontava a vida de um simples pescador que ao lado de um homem

somente no aspecto histórico mudou por completo o mundo forjando a

mais influente religião de todos os tempos, o cristianismo. Todavia

apesar de tudo aquilo algo estava errado demais pelo clima visível até

mesmo a visitantes quando rumores da morte de dois bispos dos

arquivos secreto do Vaticano após algum furtado por algum grupo o

qual doutor Petrônio dizia ser a Ordo ad Chaos, num visível latrocínio

daqueles que desejavam se apropriar dos conhecimentos assim como

do designo históricos, mas ainda sem compreender a relação de seus

descendentes com aquilo.

Fui orientado até a biblioteca do Vaticano onde estava quem

queria nos encontrar o bispo Gabriel Modenna e Augustin Milagros.

Petrônio estava visivelmente tenso com o crime que havia ocorrido lá

no Vaticano sob o nariz do Siv e de sua guarda oficial de soldados

suíços. Adentrei por uma enorme porta aberta por onde alguns turistas

entusiasmados tiravam fotos e alguns mais roçavam os dedos no

crucifixo em sina de fé e respeito a Jesus. Tão logo vi um homem de

batina parado diante de mim quando acenou para Petrônio como quem

lhe aguardasse ansioso e quando a ele chegamos disse após se

identificar e me cumprimentar se apresentando cordialmente.

- Me perdoe o clima atual, desde quando Javier Farina faleceu

as coisas andam tensas por aqui. Temos motivos para crer que até

mesmo sua morte pode ter sido induzida – disse o bispo Modenna

quando Augustin se aproximou igualmente o cumprimentando-os e

prosseguiu Modenna – As peças aqui presentes e as informações ditas

são sigilosas, mas temos motivos pra acreditar que isso é o ponto

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 49

culminante da conspiração de séculos. Não queremos mais mortes por

aqui, Petrônio, por isso pedi para trazer nosso amigo Gerson, creio que

seu conhecimento pode ter a chave não somente para o que

descobrimos, mas para impedir mais crimes como estes.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 50

Ato III

A Estirpe dos Tempos

“Os mais fortes de todos os guerreiros são estes dois: Tempo e

Paciência”

Liev Tolstói

omos orientados biblioteca a dentro pelos dois bispos onde um

grupo de policiais observava um desenho no chão definindo

onde o corpo fora encontrado morto. Um homem estava

abaixado colocando placas com números ao lado de evidências e um

fotografo tirava fotos do que lá ocorria enquanto o detetive

responsável pela investigação anotava tudo num palmtop ao lado de

um outro cardeal e um homem de terno, identificado como da Siv.

- Não fazemos ideia de como esse homem conseguiu entrar

aqui e furtar esses documentos, somente pessoal credenciado. – Disse

o cardeal intrigado.

- Qual era o teor dos documentos, que tipo de conhecimentos

haviam nele?

Naquele momento o cardeal hesitou visivelmente olhando

para o homem do Siv quando fora salvo por Milagros que interrompeu

e disse ao oficial da lei.

- Aqui é território da Santa Sé, o que envolve os documentos

está sob investigação do Siv e não vamos revelar detalhes até que tudo

seja resolvido. Temos que proteger tais conhecimentos que em mão

erradas pode ser dano e colocar em risco as fontes.

- Mas já não pegaram isto? – retrucou o oficial da lei.

F

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 51

- Apenas uma parte. – Disse Milagros – os documentos

furtados são dados pertinentes a natureza de um experimento

científico que realizamos, nós os Jesuítas.

- Não sei o que está acontecendo aqui, Milagros. – Disse o

oficial – Mas deduzo que tenha relação com o aparente acidente de

José Maria, e se estiver relacionado com a renúncia do Papa Bento,

trata-se de uma conspiração e ela está além de seu território, mas em

Roma.

- Infelizmente é tudo que posso informar até o presente

momento. – Disse Milagros ao ver o oficial acenar positivo se

retirando para o alivio do cardeal que virando-se para Milagros disse.

- Não gosto de segredos Milagros, eles sempre são perigosos.

- Meu irmão, tenha paciência, nós vamos conseguir, estamos

perto. – Completou Milagros se retirando e vindo junto eu e Petrônio.

- Conspiração que levou a renúncia do Papa Bento XVI? Qual

a relação disso com a descoberta da Hidrocriptografia? – Indaguei.

- Uma coisa de cada vez Gerson. – Respondeu Modenna com

sotaque italiano ao virar a um monge que guardava a biblioteca e

disse. – Que partes do corpo ele levou de Andreas Santiago?

- Isso é chocante Modenna, não vi nada parecido com isso. –

Respondeu o monge visivelmente atribulado – Ele levou o coração e o

rins e deixou um bilhete aterrador mencionando o órgão como se fosse

personalidades.

- O idiota solene, atribuía a partes da anatomia e órgãos

humanos personalidades de modo quase independente como se um

órgão pudesse ataca-lo em traição ao corpo e mata-lo. – Respondeu

Milagros.

- Mas estes tipos quando meros condutos a vontade alheia,

como fantoches, lançam palavras envenenadas e após o antidoto

mostram o lado bom de si mesmo em contrariedade ao obrigado a ser

dito, todavia, os maus sucedem doses cavalares de veneno apenas

corroído pelo ácido de minhas palavras. – Respondeu Modenna.

- Então você conhece o teor do bilhete? – Indagou o monge. –

Ele fala de que o caos é a ordem que submete a ordem natural, não faz

sentido, pois o caos é parte da ordem natural. Mencionou os órgãos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 52

como se fossem julgadores do Andreas e tivessem lhe condenado

abandonando seu corpo. Isso é doentio.

- A tempestade do caos então se aproxima. – Respondeu

Milagros – Estão aniquilando pontes temos que ter cuidado com o

pontífice. Os documentos ligam ele a alguma coisa?

- Não diretamente, mas o Papa tem ciência de tudo que corre

em sigilo, acho que escavaram coisa grande nisso. – Respondeu o

monge. – Mas esta ossada não é da Cúria.

O Monge que era um homem instruído e conhecedor de

muitos livros, inclusive malditos e jamais publicados zelava por

aquele acervo imensurável de conhecimento que remontava o tempo

dos Jesuítas e da Santa inquisição, naturalmente haviam dados

pertinentes a alguns queimados em fogueiras o qual sofriam

constantes acusações dos adversários da Cúria Romana como falhas

da igreja ainda que de outro lado fanáticos pareciam desejar mais do

mesmo, contra inocentes. Havia um mal infiltrado na Santa Sé. Algo

que eles temiam como parte da Ordo Ad Innaturatus para arruinar as

bases da própria instituição. O termo Ordo ad Innaturatus era

visivelmente algum tipo de corruptela do latim a um Inaturam que

significa aquilo que é contrário a natureza, quer de algo ou do

universo. Obviamente que a relação disto com o caos era de forma

emblematicamente negativa com a conotação de que o invocasse

contra a ordem de equilíbrio comum relacionando-se ao termo "Ordo

Ab Chao". Todavia, como uma instituição prudente mantinha cópias

digitalizadas de cada documento lá presente e não era diferente com os

registros roubados de dentro da biblioteca santa o que os levaram até

os computadores da instituição pesquisar. Modenna sentou-se e pediu

para que eu assim igualmente o fizesse observando o hábil bispo

diante do teclado onde digitou a que surgisse na tela documentos do

século XVI atiçando Milagros em sua curiosidade.

Quando ampliou a tela, uma imagem de um pergaminho cujo

papiro envelhecido pelo tempo mostrava inscrições em espanhol e

relações de período e local em que foram escritos, ao ampliar a tela o

texto mostrava uma tradução em italiano e inglês, mas era

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 53

compreensível pra mim, quando pra minha surpresa vi o nome de um

descendente meu novamente, Pedro Menendez de Aviles.

- Este não fora o primeiro colono da Flórida? Meu

descendente! – Indaguei a Modenna.

- Perfeitamente, agora compreende porque estais neste lugar. –

Respondeu Modenna em tom sereno mesmo ante o clima tenso.

Li parcialmente o documento e vi que mencionava

informações pertinentes a colonização aliada aos jesuítas. Uma

instituição presente na fundação de muitas cidades e até mesmo

países, São Paulo por exemplo. Porém, os dados para minha surpresa

descreviam informações relacionadas aos chineses, conhecimentos em

comum com Pedro o qual aparentemente cruzava duas civilizações

aparentemente opostas, conhecimentos que conforme mostrado por

Galvin Menezes em seu livro indicava que a China havia descoberto

antes as Américas.

- Como assim Pedro Menendez de Aviles tinha ciência disso?

Não fora ocasional as grandes navegações? – Indaguei comigo

mesmo, mas sendo respondido habilmente por Milagros.

- Por de baixo da camada a história existem mais segredos do

que aparenta Gerson. As descobertas das Américas, do “novo mundo”

não fora acidental.

- Isso tem haver com a Ordo Christianitas Ad Ventus? – Segui

com outra pergunta tendo um aceno positivo do homem.

- Vikings que foram para o Canadá no ano 1000, não tenho

evidências, mas acho que tiveram relações com os fenícios. –

Respondeu Petrônio. - O mundo é muito simples de se compreender,

menos alguns idiotas que nele habitam e atrasam.

Todavia não havia quaisquer traços desta Ordem dos Ventos

mencionada pelo próprio, soando como dúvida a ele, e sobretudo não

compreendendo qual a relação disso com o teor das descobertas lá

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 54

realizadas com meu conhecimento, quando ele interrompeu meu

conhecimento introspectivo e disse.

- Você não descobriu o que descobriu por acaso. Você estava

destinado a descobrir o que descobriu, pois é parte do sangue que

corre em suas veias. Nada é por acaso neste mundo, mas naturalmente

que isso não agrada os impostores que o crime aqui cometido fizeram.

- A Ordem do Caos. – Deduzi.

Naquele momento Modenna mudou a tela até um arquivo

similar que também havia sido furtado dali, de um período posterior a

descoberta e colonização das Américas onde Pedro Aviles identificava

um junko chinês naufragado no litoral da Flórida e que teria algo nele

encontrado, algum segredo que apenas mencionou vagamente naquela

carta, assim Milagros continuou o que mencionava.

- Como você percebe, a Ordo ad Chaos é a antagonista

perfeita da Ordem dos Ventos, enquanto uma outorga legitimidade do

que ela mesma criou e descobriu e protege o curso natural da história

como um rio em seu leito, a Ordem do Caos deseja pelo caos que cria

dela furtar o destino.

- Estes homens – disse Petrônio interrompendo – foram

responsáveis por incendiar Roma nos tempos de Nero o qual teorias

de círculos internos dos monges aqui presentes acreditam que Nero

chegou fazer parte. Eles têm o mais extenso histórico nefasto de

pilhagem conhecido. Estavam presentes na biblioteca de Alexandria

não protegendo conhecimentos que nela havia, mas por eles furtados

de uma cidade remota e pouco conhecida.

- Pitah. – Concluiu Mialgros – Uma cidade que apesar dos

poucos documentos atribuídos teria sido fundada por uma estirpe que

não seguiu o propósito de Abraão, mas um designo próprio e que

possuía conhecimentos do futuro e astronômicos.

- Setianos? – Perguntei tendo um aceno positivo de Milagros

como se tivesse ficado feliz em perceber que havia captado a teoria.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 55

- Ao contrário do que se pensa – seguiu Milagros – A Ordo ad

Chaos não terminou, ela se dispersou e se infiltrou nas sociedades

secretas das mais diferentes matizes e temos dicas que nos levam a

crer que até mesmo entre Jesuítas antigos.

- Atualmente acreditamos que eles declinaram eventos que

levaram ao 9/11 nos Estados Unidos, é gente da pesada e eles já tem

ciência de quem é você. – Concluiu Petrônio.

- Mas o que havia na biblioteca de Alexandria que remontava

a cidade de Pitah? – Indaguei.

- Mais do que bens materiais que de lá levaram meu caro. –

Respondeu Milagros em tom sereno. – Mas conhecimento, não temos

ideia ao certo, mas alguns relacionam que fora aniquilado no incêndio

da biblioteca onde um bibliotecário diz ter visto esferas de fogo. Um

conjunto de documentos que contem aspectos do conhecimento do

tempo que levaram a construção da Ordo Christianistas Ad Ventus.

Algo que tem relação com seu conhecimento e teorias que criou e que

convergiram a descoberta das Américas.

Marchal, Espanha, século XVI

A simpática cidade carregava em seu nome mais do que uma

peculiaridade que descendia dos antigos judeus relacionada ao tempo.

Na verdade mencionava-se que este município da província de

Granada era não por acaso autônoma a Andaluzia e possuindo uma

pequena população que até nos tempos atuais não passa de 400

pessoas. Porém, fora de seu tamanho demográfico em sua área de área

7,84 km² havia algumas peculiaridades pertinentes até mesmo a sua

criação com vínculos não conhecidos pela história oficial com os reis

de Leão de Astúrias, donde numa vila veio os primeiros Avilez.

Aqueles homem após a criação secreta da Ordo Christianitas Ad

Ventus por um aparente estranho com conhecimentos que se

encaixavam perfeitamente as memórias ancestrais deles, por ela fora

acolhidos assim como ao jovem Pedro cujo futuro não fazia ideia do

que lhe reservava, como Marchal, termo hebraico que identificava

justamente que estava-se de costas ao futuro a eles ainda não

conhecidos.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 56

- O nome desta cidade não fora criado em vão meu prezado. –

disse o mentor do jovem Pedro com um sorriso na face. – seu nome

deriva-se do hebraico e quer dizer futuro. Na realidade os seus

criadores são seus ancestrais.

- Os reis de Leão? – Perguntou Pedro tendo um aceno positivo

de Joaquim quando um homem com barba branca entrou no recinto e

seguiu Joaquim dizendo – este é Noah Marchal. Não termos ideia do

grau de parentesco que possuí com ele, mas certamente tens

descendentes comuns.

O senhor muito simples e de afável cordialidade apertou a

mão dele com um sorriso receptivo e convidativo a uma boa amizade.

- Sobretudo a verdade relacionada a este munícipio não está

na sua população ou tamanho, mas do que a mando dos Reis de Leão

aqui guardam. – Prosseguiu Joaquim. – Algo que trouxera até aqui, de

tempos remotos passando por dentro de Israel e por fora dele, do qual

o valor levaria homens perversos são capazes de matar para possuir.

Porém, este será seu prémio final quando apenas concluir o

treinamento.

Aquilo frustrou Pedro que teve a curiosidade atiçada por seu

mentor, mas o chamando ao exterior do lugar fora levado no tempo

seguinte até o litoral permanecendo introspectivo e sem compreender

ainda tudo o quanto acontecia com seu treinamento. A carruagem

então parou ao lado de um cavalheiro, o negro Jopy que como fiel

escudeiro os acompanhava protegendo-os, desceram e viram um

pequeno barco de madeira a beira de algumas pedras no mar. Havia

nele um mastro com uma vela que ao entrar Joaquim a estendeu

notando a intensidade do vento que soprava firme sobre eles. Joaquim

pediu para que Pedro viesse a bordo quando seu mentor disse

enquanto subia com certa dificuldade.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 57

- Vejo que não tem muito equilíbrio nas pernas Pedro. Porém,

estamos aqui justamente para disso testificar e lhe treinar – completou

vendo-o colocar os pés nas águas se agitando e continuou olhando

seus pés. - O que provoca maior impacto nas águas são os pés o

caminhar como sucessão de equilíbrios e desequilíbrios é a busca do

rumo, do destino ante o caos.

- Isso tem haver com algum sermão de Jesus caminhando

sobre as águas com seus apóstolos? – Indagou Pedro fazendo Joaquim

sorrir.

- Não é esse o propósito, mas vez a calhar, não acha? –

Respondeu ele pegando um remo e entregando nas mãos dele

enquanto Joaquim empurrou o barco sob o olhar de Jopy de braços

cruzados e continuou. - O universo está em constante mudança, a

mutação é a lei do universo, a verdadeira arte do destino e ter

equilíbrio para alcança-lo. Mas como mencionaste, Jesus isso quis

ensinar quando caminhou sobre as águas, o mesmo a seu xará, o

apostolo Pedro. Ou acha que tudo isso é apenas acaso?

O barco avançou sobre o mar em meio as ondas enquanto

Pedro remava sem ter ideia do que e para que, quando Joaquim

acenou pra ele dizendo pra não mais remar como se aquele ponto

estivesse bom e disse.

- Sinta o vento Pedro, como ele influência as águas e como as

correntezas do mar indicam direções assim como o vento. – Joaquim

então moveu as velas e continuou lhe falando - O tempo é invisível

como o vento, mas pode ver seus efeitos, quem pode contra o tempo?

Alguns o percebem apenas quando fora deste. Mesmo eu que vos

instruo como mestre, dele sou discípulo, não possuo o tempo, não sou

dono do que estudo, mas autor do que crio, isso é humildade.

- Você veio aqui apenas pra me mostrar isso? – Indagou

Pedro.

- Não, quero que você fique de pé com as pernas nos dois

lados sobre o barco, você precisa aprender a arte do equilíbrio ante as

mutações, ante o caos, ser firme como o destino é ante o mesmo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 58

Observe que neste ponto você não vai contar o tempo, mesmo abaixo

sobre você a agua move, e fazer mover esse ponto, esse lugar não

existe, são apenas flutuações pelo tempo levada pelas correntezas dele.

Tome este remo para se equilibrar. – Disse Joaquim lhe dando o remo

nas suas mãos e prosseguiu - O melhor tempo é o não medido, mas

sentido pois a medida que medimos o tempo é pedido para dele ser

escravos, assim os relógios testemunhas de Cronos o senhor da

linearidade o qual todos correm mas ninguém escapa, estão assim o

horário apenas a apontar na realidade a direção para fugir da cadeia do

agora à hora da eternidade.

Pedro subiu ficando de pé sobre o barco que balançou com seu

movimento ante o vento. Pedro então emborcou para trás caindo

sentado com o remo nas mãos enquanto Joaquim o observou calado e

pediu para que se levantasse novamente na posição que havia lhe

indicado. Pedro então se ergueu e cambaleando com o oscilar do barco

ante o vento levantou os remos com a duas mãos e procurou se

equilibrar novamente quando Joaquim disse.

- Não lute contra o vento, mas através do vento, mova as

águas a que por elas seja movido, seja o mediador das reflexões. Veja

através do caos e verá o destino.

Porém, Pedro caiu nas águas junto com o remo fazendo Jopy

lá na margem rir, Joaquim sentiu o gosto salgado da água e o cuspindo

jogou o remo para dentro do barco e puxou com as mãos pra entrar

novamente dentro dele.

- Como disse Jesus a Pedro, tú és um homem de pouca fé. –

Completou Joaquim com um certo tom de ironia. – Ter fé não é

somente confiar e crer, mas também crer em si próprio, se harmonizar

com o vento e o as águas, pois tudo está em perpetuo movimento.

- Talvez deveria dizer neste momento "guia-me mansamente a

águas tranquilas." – Disse Pedro demonstrando conhecimento bíblico.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 59

- Salmos 23.2. – Disse Joaquim – Muito adequado Pedro,

completou ele sorrindo, mas não altera seu treinamento. Mesmo eu

passei pelo mesmo treinamento. Tente novamente e te conto um

segredo sobre o antigo Rei Davi. Lembre-se do que disse Jesus, "Meu

poder se aperfeiçoa em sua fraqueja." Não despreza a fraqueja, mais

se aprende na fraqueza que na força. A virtude é o triunfo e domínio

sobre ela e o medo, não sua ausência, ficar forte significa aprender

com sua própria fraqueza, assim como ter coragem é aprender com o

próprio medo.

Pedro então olhou ao redor, naquele magnifico lugar enquanto

gaivotas rondavam como se flutuassem pelos ventos e fez Pedro

imaginar como justamente elas possuíam tal domínio, na realidade em

comunhão com os ventos elas plainavam sobre eles.

- Mesmo a natureza tem a nos ensinar, mas do que a maldade

a não ser procurar o que é bom. As gaivotas estão em harmonia com

os ventos, possuem tranquilidade, pois tem simbiose, não estão a se

aniquilar mutuamente. Nisso consiste o verdadeiro equilíbrio e

oposições do universo, o que anula é o verdadeiro mal. – Completou

Joaquim ao ver Pedro permanecer por alguns segundos ensopado de

água do mar equilibrado sobre o barco e Joaquim então continuou - O

tempo não marginaliza, compõe a essência da sabedoria mesmo ante

os que estão marginalizados pela idade. Mas é da marginalização que

surgem mundos paralelos e todas divergências, quem marginaliza não

possuí a posição para impor concordância. Mas alguns a tudo tem pela

metade até a sabedoria que a é sem moralidade.

Pedro permaneceu então mais tempo e caiu novamente nas

águas e Joaquim olhou para Jopy nas margens e sorriu para ele e então

disse a Pedro.

- Como uma pedra na água, assim é nosso amado Pedro. Olhe

quantas ondas provocaste em sua superfície? Sim, o que alguns

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 60

provocam quando nos fazem cair. Agressão altera o tempo, toda

violência é por ele sentida a ecoar.

Pedro agora ficou determinado, e subiu novamente no barco

em tom severo como se tivesse por fim aceitado um desafio pessoal

como se tivesse ferido o orgulho dele.

- Humildade sim Pedro, orgulho não. Você não vence o

tempo, apenas com ele faz um acordo.

O Jovem subiu novamente sobre o barco determinado e olhou

pra Jopy como se o riso dele fosse um desafio aceito por Pedro e então

olhou para a vela balançando com o vento e dançou levemente o barco

de um lado a outro quando conseguiu estabilizar. Assim permaneceu

por longos minutos sob o olhar de Joaquim que se inclinou em direção

dele para observa-lo com interesse.

- Isso é o bastante? – Disse o encharcado Pedro pra seu

mentor sob o vento em sua roupa embebida de água o fazendo tremer

levemente de frio.

Joaquim assentiu após mais alguns minutos e o fez descer ao

barco onde remaram de volta a margem quando abraçando a si próprio

Pedro perguntou ao seu mentor.

- O que você iria me contar sobre Davi?

- Sim, claro, não era um herdeiro de sangue, mas ao receber o

propósito fora instruído por 37 amigos, sobre uma filosofia de

ondularidades, das águas ao vento. O mesmo segredo que compartilho

contigo neste treinamento, justamente o que aprendeu hoje. Uma

filosofia das águas que compreendia os tempos ante o livre-arbítrio.

Acreditamos que os amigos dele eram setianos, que dentre os quais

alguns instruíram Salomão.

- Como vocês tem ciência de tudo isso?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 61

- A ideias são fantasmas que capturam e são capturados pelos

tempos, mas a fonte é a mente de um autor, pois tudo tem uma

origem. Não me interessa na agua nada mais que sua fluidez, pois da

sua ondularidade ressoo eternamente pelo tempo, disto me sacio

apenas pela verdade. Não crio água, extraio dela conhecimentos pela

minha reflexão, não crio água, mas faço dela meu suor assim como

tem feito. – Respondeu Joaquim e seguiu falando - Abra as portas da

verdade e feche para os maus e mentirosos, pois deles somente vem

mentiras e injustiça.

O barco então encostou as margens sendo puxado por aquele

cordial e silencioso guardião negro que apesar de abrutalhado em seu

físico inspirava confiança e tranquilidade e então continuou Joaquim

falando.

- É da prisão da omissão que nasce a ilusão cujos muros são a

mesma ignorância dos que nada conhecem! O tolo dança em volta da

verdade como em volta da fogueira, pois a verdade queima o

mentiroso. Pois estes esquecem da verdade e comemoram a mentira a

ditando como verdade o que é apenas crença. Mas até a fé na mentira

é vã, é esperar sentido no abismo de onde vem a ilusão! Temos que

estar de acordo com a verdade e o universo, somos filhos de Deus,

mas crias do universo. Não quero que seja refém de mentiras, mas

guardião das verdades do qual a responsabilidade pode ser grande,

todavia os direitos proporcionais ou não seria justo.

- Verdade, viemos do barro da terra. – Respondeu Pedro

entrando em terra firme.

- E seriamos, porém, apenas isso sem o sopro de Deus. –

Completou Joaquim igualmente saindo do barco e puxando-o ao lado

de Jopy pra margem.

Joaquim limpou as mãos enquanto Jopy amarrava uma corda

do barco a uma estaca fincada no solo e ainda parcialmente na água

ele se moveu de um lado a outro oscilando pelas ondas que batiam em

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 62

suas margens, sobre as pedras enquanto Pedro observava tudo aquilo e

vendo isto Joaquim disse.

- Finalmente então vê o mundo de maneira diferente, não

Pedro? Compreenda, tudo que é constante toca o destino, como a

verdade, mas a mutação antinatural é anômala, apenas a circunda. Se

dizem que a verdade se aproxima de Deus, a mentira leva ao inferno.

Os dois seguiram caminhando pela margem subindo um

declive que saia da beira do mar enquanto Jopy tirou de uma sacola

uma toalha e deu a Pedro para se cobrir do vento sobre sua roupa

molhada e então Joaquim continuou o sermão falando.

- As águas purificam, o que resta é a verdade, pois mesmo que

crie ressonâncias nunca apagará a linearidade. Deus assim levou o mal

com águas purificando-os, 40 dias para um homem, ou 40 anos para

um povo! – Joaquim então lhe abraçou pelo lado como certa

intimidade e prosseguiu. Foco na eternidade o qual lhe será por

herança, somente a quem tenha verdade, pois a ilusão da mentira se

dissipa sem quem a diga! Mas a verdade permanece mesmo soterrada,

mas aos que furtam o conhecimento tiram a chave da ciência e não

entram e não deixam entrar, porque a verdade furtada nunca será

plenamente verdade.

Pedro Menendez Aviles havia completado seu treinamento

com seu mentor Joaquim o qual lhe instruía numa filosofia derivada

de conhecimentos bíblicos, mas apenas como preparação as revelações

que iria receber, instruções segundo o qual eram convenientes apenas

a alguém que se tornava Pedro e do que o destino, segundo Joaquim

reservava a ele, conhecer um novo mundo antes desconhecido do

ocidente, navegar por águas estranhas a sua linhagem e desbravar

terras onde apenas homens selvagens habitariam. Como ele não tinha

ideia de quem vinha tal conhecimento, mas sim de chineses o qual a

filosofia, dizia Joaquim, mesclar elementos que transcendiam a

matéria do espaço em idoneidade temporal.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 63

A água é um dos elementos mais antigos e comuns em nosso

mundo e base para toda forma de vida, porém, olhando mais do que

um mero fluído que qualquer um bebe e se banha, desta hidronomia,

ela pode nos levar a compreensões apenas aos instruídos a

compreender a verdadeira natureza de nosso universo e substancial a

todo ele, o tempo que traduz um conceito hidrológico a uma

cronodinâmica que pode tocar Kairos, o tempo sobre o tempo e

incompreensível aos materialistas circundantes e contraditórios, pois

como se dizia na palavra de Deus 'o Espírito de Deus que se movia

sobre a face das águas'.

A cada onda uma ressonância a vibrar em direções e sentidos

o qual criam composições mediante sua interação. Não se diz da água

que corre no solo, mas o impermeável a quaisquer mãos e que a tudo

atravessa tornando o lugar sua construção e após ruínas. São as águas

que moldam as pedras, assim como o tempo as consome e a todo lugar

pela erosão, o espaço seria apenas um abismo não fosse por ele, o

tempo. O tempo é visível como o vento e se comporta como as águas

num Feng Shui, mas seus resultados são inquestionáveis assim como

de um Criador a sua criatura e ao autor e sua obra.

Mediações do Vaticano, laboratório Jesuíta, Projeto Hidroneiros.

Após as revelações bombásticas sobre meu descendente, e

vislumbrado com as edificações monumentais a memória da

humanidade que era o Vaticano, me dirigi as mediações onde estava o

laboratório praticamente secreto dos Jesuítas. O projeto apesar de ser

coordenado por Gabriel Milagros tinha pares judeus o qual

anteriormente haviam interesses comuns neste desenvolvimento, na

realidade conjunto após um homem atribuir códigos secretos

encontrados na bíblia original em hebraico, que aliado ao Mossad

após uma divergência provocada pelas revelações de Edward

Snowden os levaram a produzir em conjunto tal projeto tendo ainda

por aliados até mesmo alguns ateus que com a revelação tornaram-se

duvidosos sobre a existência de Deus. As implicações eram infinitas

como as probabilidades abertas na concepção das variáveis da

hidrocriptografia, e naturalmente seus adversários o qual tanto

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 64

odiavam cristãos e judeus não deveriam estar nada confortáveis ao

observa-los trabalhando juntos.

A relação dos Jesuítas se estreitou após o Vaticano se tornar

responsável por administrar alguns pontos da cidade Santa que era

convergência comum dos que professavam fé diferentes, dos cristãos

luteranos, católicos ortodoxos e mulçumanos. Quando o carro

estacionou ao lado de um prédio histórico da cidade muito acolhedora

por sinal, um casal de namorados atravessavam a rua de mãos dadas

enquanto os homens da Cúria Romana fechavam o carro em direção

ao prédio.

- Javier Farina, eram um pai espiritual pra esse projeto. – disse

Gabriel Modenna ajeitado a batina - Acreditava ele que o Big Bang

poderia provar a relação quântica com a relatividade se as leis fossem

as mesmas onipresentes ainda que este elo sempre terá uma concepção

de singularidade relacionada com o tempo em suas relações de

flutuações similares ao efeito Casimir e o princípio da incerteza, algo

inerente a própria natureza do caos.

- Não achava que católicos aceitassem a ideia do Big Bang. –

respondi eu ao simpático e sociável bispo.

- Muitos irmãos de fé tem reservas sobre tal hipótese. –

respondeu o Bispo – Porém, crendice é o que se fundamenta na ilusão,

mas se ao menos concebe o melhor e aprimora as dignidades é

respeitável, caso contrário abominável. Não existe razão sem

imparcialidade assim como amor sem afeição, tal concepção pertence

a distorções do ego. Proferimos uma fé, porém, ela não deve ser

contra fatos ainda que o Big Bang seja uma teoria. Mas justamente de

onde o micro, pelo quântico, atinge e faz o macro, pela relatividade.

- Padrões probabilísticos – interrompeu Augustin Milagros

após atravessar a rua acenando para o guarda que lhe abriu a porta do

prédio. - Com oscilações de variáveis indicam a influência do caos

que denotam veracidade aos números imaginários relacionando a

números negativos. Liga-se ao principio da incerteza como se algo

fluísse nestas variáveis para fora de nossa dimensão indicando

dimensões que ressoam fora desta.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 65

- Números imaginários para deduzir os rumos por um tempo

não meramente imaginário, mas prévio, confirmados como pré-

existentes a mundo ressoantes. – completei eu o que o homem de

Deus dizia. – Deduzi isto no Filoversismo.

- Pois então. – seguiu Milagros – Alguns judeus envolvidos no

projeto acreditam que tal código seja capaz de decifrar profecias

bíblicas, similar ao Código da Bíblia, porém, compondo datas e locais

com maior precisão, pois as profecias são bastante parciais.

- Não devemos nos antecipar em precipitar-se sobre

conclusões – respondeu Modenna adentrando por um corredor que

descia ao subsolo do lugar após transitarem por quadros com fotos de

alguns envolvidos no projeto.

O Sistema de ar condicionado era intenso afim de manter o

maquinário que lá era construído a partir dos dados fomentados pela

hidrocripgrafia. Porém preocupados com a exposição ocorrida pelos

incidentes anteriores a segurança havia sido reforçada havendo

guardas disfarçados até mesmo ao redor do prédio, em bares, a

passeio, em apartamentos a observar todo e qualquer tipo de

movimentação e qualquer tipo de adulteração nos veículos dos

funcionários, pois conheciam eles o tipo de canalhas com que

lidavam, tendo agora um apoio logístico do Mossad israelense. Ao

chegar no fim do corredor uma porta de vidro vedada se abriu quando

um guarda cumprimentou os homens e pediu que fizessem o checkup

de identificação padrão a fim de averiguar se eles estava sob tensão ou

estressados a que fizessem algo contrariados a sua vontade e aos

protocolos rígidos de registros do laboratório.

Milagros verificou a pupila de seus olhos dando resultado de

liberação assim como condições de batimentos cardíacos e vasculares

por um tipo de scanner lá instalado. O mesmo sucedeu a Modenna e

depois pra mim, me deixando sem jeito ao me inserir naquele

maquinário que parecia uma ultrassonografia de parede. Mas Milagros

interrompeu o silencioso embaraço falando.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 66

- O Tempo a tempo todo flutua, são como ventos que reagem

ao livre-arbítrio, como ondas onde os sensíveis sentem suas

frequências e decifram suas inefáveis palavras onde ecoam ecos dos

que nunca nasceram a esta dimensão. – Disse ele e seguiu – Ao tempo

todo o principio da incerteza isso indicavam. Mas a observância pela

luz conseguimos driblar com esse procedimento de variáveis.

Exatamente como você previra, Gerson.

Naquele momento, porém, um dos funcionários, um jovem

judeu, se aproximou deles e disse em tom entusiasmado a Milagros.

- As imagens da câmera do acidente de José Maria fora

localizada – disse ele. – as imagens foram liberadas pela investigação

e... pasmem... havia alguém que acompanhava o carro dele, e quando

capotou adentrou pela janela quebrada furtando o pen drive.

- Identificaram o homem? – Perguntou Milagros visivelmente

intrigado.

- Sim. – Respondeu o jovem – mas ele saiu do país. Estamos

ativando a polícia de pra onde foi, Espanha.

- O que ele faria na Espanha? – Indagou Modenna.

- O nome dele é Daniel Motta, brasileiro que ao investigar

tinha relações com grupos neonazistas e antissemitas.

- Um prato cheio pra vocês não? – Interrompi eu ao perceber

que era para minha infelicidade um compatriota comum – Também

sou do Brasil.

- Gerson Machado de Avillez, presumo. – Disse o jovem

judeu com um sorriso. – Suas ideias provocam impacto temos que

reconhecer. Mas não se preocupe quanto ao fato da metodologia, não

somente respeitamos fontes como as protegemos sendo o caso.

- Como bem sabemos, são os impostores que nos oferecem

risco. – Concluiu Modenna. – Com eles “acidentes” acontecem e até

pessoas “se matam”, e não porque meramente tiram o significado de

viver. – Completou com certa ironia.

- Mas descobriram se ele tem relações com a Ordo ad Chaos?

– Perguntei eu.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 67

- Evidências desse tipo são muito difíceis. Mas temos indícios

de que sim. – Completou o jovem e em seguida virando-se pediu para

segui-lo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 68

Ato IV

A Chave dos Ventos

“O homem sábio não se exibe, e por isso ele brilha.

Ele não tenta se fazer conhecido, e por isso é notado.

Ele não se glorifica, e por isso tem mérito.

E porque ele não compete, ninguém no mundo pode competir com

ele."

Tao Te Ching

Jovem judeu era um seguidor do Talmud e adepto de que a

bíblia de fato tinha um código secreto na linguagem original

do hebraico, algo que era controvérsia no meio acadêmico

mas tinha uma parcela significativa de adeptos como ele. Ao entrar

naquele escritório havia um computador numa escrivaninha aberta

com duas telas, uma mostrando composições da bíblia hebraica e dos

documentos que fora furtados da biblioteca do Vaticano. Chamado por

Isaac Godofred, o judeu era um entusiasta da fé judaica e naquele

momento buscava relações do documento furtado com o Código da

Bíblia.

Porém, sobre a escrivaninha estava um livro intitulado

Protocolos dos Sábios de Sião, o que evidentemente me chamou a

atenção por ter uma relação controvérsia com todos ali presentes.

Surgido no final do século XIX, na Rússia, imediatamente atribuíram

o documento aos judeus e maçons por menciona-los diretamente como

parte de alguma conspiração global para dominação. Todavia ainda

que sem autoria conhecida, o infame livro que exaltava práticas nada

ortodoxas a sociedade aberta e livre justificou ser proibido em

inúmeros países, inclusive o Brasil. Vendo que eu observava o livro

ao lado do monitor o jovem sorriu e disse.

O

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 69

- Você pode estar pensando ser doidice um judeu como eu ter

esse livro antissemita nas minhas mãos. Mas apesar de alguns

atribuírem a autoria até mesmo a Jesuítas vejo nisso uma prova a

interferência da Ordo Ad Chaos.

Olhei para o lado a fim de perceber qualquer tipo de reação do

Jesuíta lá presente, mas Milagro limitou-se a cruzar os braços e sorrir,

mas Petrônio que vinha logo atrás após entrar no laboratório disse

entrando no papo.

- Os Jesuítas não eram mais tão influentes no século XIX,

acredito por infiltrações que os levaram a mudar seu curso. Natural,

porém, que eles queriam encobrir algo caso tivesse redigido esse

documento, algo envolvendo o conhecimento da família dele. –

Completou apontando pra mim.

- Acredito que o documento infame fora implantado

deliberadamente pra criar o caos entre sionistas e maçons lançando

uns contra os outros, mas fica evidente caso observarmos melhor que

operava algo sobre estes e suas sinagogas, a ponto de referir-se que

atacariam eles. – Completou Issac. – Algo que os Jesuítas antes de

serem dissolvidos pelo Vaticano tentou proteger deles, da Ordo Ad

Chaos.

- Creio que os jesuítas investigaram algo que pensaram

inicialmente se tratar de uma heresia, mas não era. – Respondeu

doutor Petrônio. – Algo que sucedeu ao Conde Jorge de Avilez.

Ouvindo aquilo fiquei perplexo, o patrono de minha família

no Brasil aparentemente deu sucessão a algo relacionado a Pedro,

perguntei-me. Todavia ainda que perplexo não me entreguei naquela

discussão quando um alarme soou na tela mostrando uma codificação

completa.

- O que está fazendo ai? – Perguntou Milagros a Issac.

- Buscando padrões, buscando padrões. – Respondeu o jovem

virando-se pela tela e seguiu – na verdade relações de eventos comuns

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 70

ao código da bíblia. Digitei alguns nomes como de “Jorge de Avillez”

e “Pedro Menendez de Aviles” assim como “China” e cruzei os dados

enquanto fazia um teste com a hidrocriptografia sob a concepção do

código bíblico do hebraico. Assim este é o resultado.

- Você estava dizendo que associou a hidrocriptografia ao dito

código bíblico? – Indaguei eu ao judeu tendo um aceno positivo

correspondente. – Apenas um alento de minha parte.

- Não temos tempo a perder com pesquisas sem conotação ao

projeto aqui estipulado. Compreendeu ou tenho de ser mais objetivo?

– Disse Milagros mas Isaac sorriu e virando-se para a tela disse.

- Certamente o senhor vai se intrigar com esse resultado.

Ao virar-se para tela sob os protestos de Milagros pela

utilização aparentemente indevida dos recursos ali presentes viu uma

janela que ao abrir apareceram várias marcações na bíblia hebraica

onde surgiu a disposição dos nomes chaves citado, de acordo com ele

o sistema hidrocriptográfico procurava mais do que concessões

proféticas escondidas e possíveis flutuações, mas utilizando-se da

chave determinou a posição de variáveis e o mais importante, a

vetoração de eventos comuns a um alvo-destino e pra sua surpresa um

trecho relacionado ao dilúvio apareceu a associação do nome de Pedro

Menendez Aviles numa diagonal relacionando, segundo Isaac as

navegações de colonização ao “novo mundo”.

- Podem ser meras coincidências. – Disse eu ao ver a imagem

na tela com os algarismos marcados. – Porque vocês não pesquisam

no novo testamento? Talvez no apocalipse.

O Jovem, porém, seguiu na tela associando os demais nomes e

encontrou o meu e o de Jorge relacionados a eventos da pedra de Jacó.

- Não associo, pois, a língua destes livros é grego em boa

parte, mas posso realizar alguns ajustes procurando padrões

linguísticos. Particularmente conceitos que propõe que a língua dos

judeus teria conotações com o DNA me parecem muito intrigantes

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 71

quando relacionados a uma língua angélica. Sem mencionar o peculiar

padrão de Zipf.

A Lei de Zipf fora uma concepção de George Kingsley Zipf

que notou um incomum padrão de repetição nas línguas onde a

primeira palavra mais usada do idioma incide cerca duas vezes mais

que a segunda, numa proporção que se sucede exatamente a terceira,

quarta e demais palavras mais usadas. Aquilo era tão impressionante

que ganhou aplicação até mesmo entre golfinhos e demonstravam um

padrão inconsciente na comunicação não somente humana.

Naturalmente que somada a tais buscas de padrões similarmente no

código da bíblia o argumento de Isaac era e que os padrões similares

eram inseridos inconscientemente pelos profetas e por Moisés na

construção bíblica da Torá, algo relacionado a aparente caótica onde

uma demonstração de proporcionalidade comprovava a busca singular

pelo equilíbrio por simplesmente mais do que energia e matéria, o

universo era criado por informação, e naturalmente toda forma de

comunicação é a interação de informações que adequados ao

Filoversismo traduz-se como ‘O verbo que move’.

Tal teoria realmente era intrigante, formando um mosaico que

dava maior compreensão ao postulado, verbos a ecoar pelo tempo. O

jovem entusiasta do Projeto Hidroneiros acreditava em tal intrigada

relação implícita a padrões síncronos que poderiam até mesmo

irromper o tempo linear como eventos não apenas a um momento

presente, mas do passado ao futuro e vice-versa sem uma relação

aparente. Daquele modo as possiblidades abertas por esta

hidrocriptografia dava margem a mensurar tais possíveis padrões sem

antes relações visíveis a ciência humana.

- Palavras que se interagem, cruzam-se e tem significativas

relações com o que ocorre no universo, não sei se este sobre nós, ou

nós sobre estes, talvez os dois ao mesmo tempo numa interação pelo

livre-arbítrio. – Respondeu Isaac como se estivesse orgulhoso do que

propunha se esparramando na cadeira como completamente relaxado

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 72

num triunfo sobre o dialogo ainda que Milagros continuava sério o

observando.

- Por hora sem maiores teorias conspiratórias e de influências

adormecidas coletivas sob a linguagem de todos seres. – Disse

Milagros a Isaac – Temos que voltar nossas atenções e foco ao estudo

aqui realizado, preciso de um quadro definido sobre o

Hidrocriptograma fornecido e se consegue realizar padrões mais

distantes caoticamente falando. Naturalmente faça backup de

absolutamente tudo, compreendeu? – Finalizou Milagros pedindo para

que os seguisse.

- O senhor tem funcionários muito intrigantes – disse eu –

Realmente levam a sério as propostas por mim criadas. – Concluí. –

Porém gostaria de ter melhor ciência de qual relação de Jorge Avilez

com isso tudo que tem acontecido no Vaticano e esse projeto.

- Vou lhe mostrar alguns documentos, temos motivos para

crer que a ciência que desenvolveu tinha relações com chineses alguns

católicos e um mítico personagem chamado Fo-Hi, suposto autor do I

Ching. – Disse Milagros – isso foge um pouco o foco dos estudos,

porém, Isaac se antecipou em fazer alguns quadros que me

impressionaram o bastante ao prever padrões por este livro.

- Isso porque – disse Petrônio – As concepções do livro não

somente conceberam a linguagem, desta vez binária, dos

computadores como de concepções de variáveis estipuladas pelo

hidrograma criado pela hidrocriptografia. Na astronomia mesmo cita-

se as direções do vento "espacial" algo comum que indica eventos que

fluem não somente a uma direção material e espacial, mas temporal

em convergências. O que teria levado os chineses a descobrirem as

Américas antes do ocidente.

- Sugere que os padrões intrínsecos e não mensuráveis de uma

observância de bifurcações levam não somente a direções espaciais,

mas temporais? Tudo aquilo era um postulado estritamente teórico. –

Respondi eu.

- Porém, não só faz sentido, como parece ser ter indícios de

que isto é um fato.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 73

A Criptografia possuí dois tipos de chaves, as simetrias e

assimétricas, porém, a observação disto pela quântica derivou-se a

condição probabilística entre esses dois tipos. A tecnologia

ultramoderna tributava os antigos autores que com a cifra e

criptografia colaboraram, de Maquiavel, Sun Tzu a Karl von

Clausewitz. Não há consenso sobre sua origem, mas diz-se que teria

surgido em 1900 a.C. quando um egípcio trocou os hieróglifos numa

inscrição, sendo seguido nos séculos seguintes pelos hebreus num

método de substituição levando a escrever deste modo o livro de

Jeremias por meio de substituições monoalfabéticas e monogâmicas.

Uma das mais famosas teria sido a "Codificador de Júlio César"

utilizada pelo Império Romano.

Nos tempos modernos a criação de máquinas de criptografia

se mescla com a origem dos próprios computadores. Um dos

primeiros computadores, Colossus, fora concebido como máquina de

encriptação e o principio binário como combinações e consequente

linguagem.

O problema destas cifras e criptograma era o fato de quem ao

descobrir a chave e código pelo adversário a cifra em questão perdia o

valor levando-a a ser abandonada. Mesmo Leonardo Da Vinci

utilizava-se de cifras e criptografia em seus textos, um exemplo era a

escrita espelhada onde por ser ambidestro escrevia textos ao contrário

apenas compreendidos diante de um espelho ao leigo. O principio da

hidrocriptografia era a isto semelhante. Numa analogia concebe-se

igual concepção de reflexão da cifra, mas ao invés de ser num espelho

estático era pela ondularidade onde sentidos simétricos e assimétricos

poderiam se mesclar e sendo apenas decifrado pela chave, um vetor-

destinatário. A ideia do Vaticano era então criar nesse sistema

quântico de incerteza um padrão onde apenas o usuário acessaria ao

fazer dele próprio a chave tornando necessário literalmente utilizar-se

de suas peculiaridades de identificação única além de ser necessário

possuir o próprio programa utilizando numa máquina quântica

ultramoderna. Ou seja, era virtualmente impossível se quebrar tais

criptografias por trabalhar com tantas variáveis que deixaria quaisquer

máquinas doidas por atribuir neste até mesmo números imaginários,

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 74

vetando a mais moderna criptoanálise conhecida pois ter padrões

ondulares relacionados a caótica entrópica, levando a tantas variáveis

que a mera tentativa de decifração criava mais bifurcações e variáveis.

Não havia Enigma nazista que superasse sua encriptação, pois

certamente deixaria seus criadores, o holandês Kerckhoff e o alemão

Kasiski assustados. Todavia sua chave notoriamente se tornou a chave

para o próprio trabalho da teoria do caos.

O caminho era este, uma ciência perfeita onde ao associar os

princípios do I Ching do código binário agora sobrepostos pela

quântica se multiplicava pelas variáveis da incerteza de modo único se

relacionando e casualmente formando um quadro geral do mosaico do

caos onde tudo se relacionava. Obviamente que os dominadores

cobiçavam isto, e sem qualquer reconhecimento aos seus autores e

desenvolvedores saquear tais conhecimentos, se possível os apagando

da história.

Século XVI, Astúrias, alguns anos após o treinamento

O Jovem Pedro estava estático diante de uma bacia com água. Mais

maduro do que antes ele observava inerte as sutis ondulações

provocadas por uma simples toque o qual esboçava reações de que

ficava perplexo com que via. Pedro então abaixou a cabeça e começou

a murmurar palavras de oração.

Aos 32 ventos será ao dia a verdade, e ele sussurrará a todos.

Que o vento leve as mentiras, e revela a verdade como versos a

eternidade.

No ar há demônios, mas no sopro de Deus a purificação dos ares.

Assim como aos caminhos do puro Yeshua toma as mãos como a

verdade

Sopre a nós o destino que o divino nos acompanhará, e como a onda

no tempo o mal varrerá

Guie-nos a qual direção a tomar e ajustar as velas no mar.

Rumo ao alvo, o destino é a verdade, ante a anulação a ponte a

eternidade,

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 75

do espinho maldito e da morte nos desviem para que nossos frutos não

seja transfigurados no mal.

que todas linhas não sejam cortada como ao tempo, quer de

consanguíneos ou de tempos.

Após recitar aquela prece visivelmente decorada, mas com

entoação emocional, Pedro, já adulto ergueu-se e molhou seu rosto

com a água da bacia, e em sem seguida se olhou no espelho. Naquele

momento adentrou o recinto um senhor que havia conhecido anos

atrás, Noah Marchal que ao lado de Jopy viu-o levantar-se do chão

quando o senhor lhe disse.

- Vejo que aquele jovem amadureceu. O momento de seu

destino se aproxima, jovem Pedro. Verás livros proibidos a esse

tempo.

- Sinto-me preparado em fim. – Disse Pedro ao senhor

enxugando o rosto - Conheço a língua dos ventos e o conhecimento

das águas, e eles me falam palavras de amor e eternidade com toda

verdade.

- Haverão outros querendo isto. – Disse Noah - Cães dos

destinos, são saqueadores e sabotadores que furtam o porque e com

dano tira o significado, anulam e matam, interrompem o destino e

proclamar o vazio do caos como se não possuísse inicio ou fim.

Aquele tipo de malévolos extremamente cínicos e falsos de onde vem

toda injustiça e discriminação. Siga-me.

Pedro adentrou um cômodo daquele quase castelo na cidade

de Marchal que nunca havia entrado antes. A chave da porta estava

dentro de sua manga e era dourada com um sete anotado dentro dela.

A colocou e girou que com um trincado fez a porta se abrir lentamente

revelando um interior escuro mas que se iluminou com uma

lamparina. Jopy que estava a seu lado acenou com a mão para ele

entrar como se fosse intimo anteriormente daquele lugar e então Noah

disse pra ele.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 76

- Mataram Joaquim, Pedro.

- Quando? – Perguntou ele assustado e surpreso mesmo que

não o visse a mais de dois anos.

- Há dois dias, a mensagem me chegou pelo vento. –

Respondeu Noah entrando no cômodo e revelando uma vista

biblioteca, mas que pela súbita informação tirou completamente o

foco dele e Noah continuou – Somos homens marcados pelo mal, pois

somos marcados pelo destino. – Respondeu. – é o que se espera destes

quando o tribunal deles tem a Ganância por juiz, a letra por evidência,

e a Inveja e Acepção por testemunhas. O advogado de defesa é o

Medo, e o de acusação a Desculpa. O veredito disso já se imagina,

pois, o acusado é a Vítima. O mataram, pois queriam tirar um

manuscrito dele, adulterar a verdade e ele a defendeu com a própria

vida. – Naquele momento Noah parecia quase chorar com seus olhos

brilhando e seguiu dizendo - São fundamentalistas, extremistas, e

fanáticos os excessos os unem, a injustiça os qualificam, talvez o

único sincretismo que busquem seja este.

- Mas você agora é sucessor de Joaquim, Pedro. – Disse Jopy.

– Por isso lhe daremos a chave da biblioteca.

Noah virou-se para ele e lhe mostrou a chave que tinha a rosa

dos ventos encravada do outro lado e então Pedro disse ao pega-la.

- Sendo então nós marcados, digo que se a vingança é como

cavar duas covas, uma para mim e outra para meu alvo, resta-me

apenas cavar mais uma para me vingar!

- A Melhor vingança que existe é a verdade. – Disse Noah pra

Pedro – Estou com idade avançada e meu corpo doí, Cronos está me

alcançando. Peço-lhe para que tome conta disto até que siga a jornada

que lhe espera. Mas o mesmo Cronos se encarregará dos sanguinários

que isso lhe fizeram, ou Kairos antes, pois está abreviando os dias

alheios e tiraste o significado de vidas. Quando grande a fúria, perto é

a vitória, dão graças as suas desgraças, pois apenas dão a luz a mazela!

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 77

- Eles desejam tomar tudo isto aqui. – Disse Jopy – Joaquim

me fez um homem afortunado ao me instruir nisso. Adulterarão tudo,

assim como faziam com a história de Jesus.

- Mas o dia que a imitação for original, é o dia que a mentira

passará a existir como verdade, mas chamo isso de ilusão! – Seguiu

Noah lhe entregando a lamparina nas mãos de Pedro que ao pegar

contemplou todo o lugar girando em 360 por todo cômodo enquanto

Noah exausto sentou-se num banco.

- Noé, guardou mais que animas na arca. – Disse ele – E essa

é a arca do conhecimento, Deus o tenha. Mas quero que se lembre.

Pecado é ter um livro e não ler, é como encarcerar ao isolamento o

conhecimento, pior que isso somente os encéfalos da anticultura a

destruí-los em incêndios do saber. Porém, a relés tinta que torneam

delimitando suas letras nas páginas do livro não bastam para definir o

sentido que elas transmitem, pois apenas estarão completas pela mente

do autor. – Noah então colocou as mãos sobre o joelho se inclinando

sobre si próprio e disse. - As letras então passam a ser ínfimas

testemunhas de uma verdade em sua concepção metafísica, que é a

dos sentimentos, algo que os maus limitam-se a simular e copiar, mas

os poetas as expressam como autores do mesmo. Assim lançar versos

ao vento é como semear sementes de ideias que nascem pelo

sentimento a se concretizar por atos, e assim como o verbo se fazer

carne, o transcendental aforismo da pré-existência ante ao eterno

tempo que como sentimento antecede a parca razão cuja tola e

infrutífera tentativa de mensurá-lo apenas o nega como a tudo que não

se compreende. Todavia é o sentimento parte da compreensão, como

nega-lo?

Pedro Avilés pouco tinha a dizer diante daquilo, emocionado

por uma perda e simuntaneamente por um ganho ao conceber aquela

biblioteca onde rolos de pergaminhos se enfileiravam nas prateleiras o

fazendo pegar um, enquanto refletia no que disse Noah. Para alguns o

futuro é o despontar do tempo assim como o passado sua capitulação,

mas conceber que o tempo, efêmero, o tempo todo como num epitáfio

falece e simultaneamente nasce é mera encenação. Pedro Menendez

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 78

de Avilés, teria alguns anos para ler todos aqueles livros até que sua

jornada começasse a justificar do porque de seus últimos anos

aprender latim e hebraico com Noah naquele lugar onde ia em

períodos específicos.

A coleção de livros, muitos dos quais remontavam as

bibliotecas secretas do Vaticano se avolumaram junto a livros únicos

trazidos como herança por Joaquim e mais alguns membros sobre as

filosofias que os uniam e a linha da estirpe que seguiam, isso

tornavam a Ordo Christianitas Ad Ventus quase como um assombro

aos rivais a justificar a perseguição e até mesmo uma relação

conturbada com o Vaticano, não por praticas anticristãs condenadas

pelo cânon como a sodomia, mas por simplesmente chegar a

conclusão de conhecimentos filosóficos e científicos sobre o tempo de

que até mesmo o espaço era dominado pelo diabo enquanto o tempo

de Deus, Kairos, sobrepunha o de Chronos, o linear de acordo com

Efésios.

Tempos atuais, Laboratório Jesuíta

Após discutir por longos minutos informações sobre os possíveis

rumos e aplicações da hidrocriptografia nas mãos da Ordo Ad Chaos,

um telefonema interrompeu a breve reunião com aqueles judeus, ateus

e jesuítas como num quase comitê. O telefone era de um contato da

Espanha onde após receber as informações de investigações sobre para

onde ia Daniel Motta levantou-se indícios claros de que se dirigia a

cidade de Avilés, fundada por Pedro Menendez de Avilés após suas

viagens ao continente do ‘Novo mundo’. A partir daquilo as hipóteses

fervilharam em minha mente sobre o porquê deste homem procurar o

lugar onde um descendente meu a muitos séculos teria se estabelecido,

mas curiosamente Milagros parecia ter conhecimento de algo que

relacionasse justamente aquela carta dele vista na biblioteca do

Vaticano com aquele lugar.

- Na verdade existem hipóteses de que Pedro Menendez

Avilés ao encontrar o junco chinês teria encontrado algo o qual

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 79

guardou em Granada onde existe uma cidade pequena chamada

Marchal. – Disse ele.

- Mas o que seria isto? – Indaguei eu.

- Conhecimentos, não artefatos. – Respondeu Milagros –

Acredito que parte do que o levou até a Flórida, algo que a França

também procurava e estaria no navio chinês.

- Sei que ele matou franceses no período. Mas anteriormente

fora a frota dos chineses liderada por Zheng He que partiram em 1421,

o que se acredita é que Niccolò Da Conti, um veneziano conseguiu de

algum modo o mapa dos chineses o repassando a Frei Mauro, que fez

o célebre mapa-múndi de 1459. Talvez o mapa que levou a descoberta

do novo mundo.

- Então 1492 e Cristóvão Colombo chegando a América é a

mentira oficial. Porém, algo mais, e que tinha relações com Joaquim

Milagros, um descendente meu, e um misterioso padre com relações

conturbadas com o Vaticano.

- Porque?

- Dizem que ele retornou de uma viagem a China com ideias

que divergiam do sacramento. Chegou a ser inquerido, mas nunca

esclarecido, relacionam ele a improvável Ordo Christianitas Ad

Ventus.

Naquele momento Petrônio ainda que não tenha se

identificado como integrante do dito grupo olhou para mim e em

seguida para Milagros como se buscasse consenso em falar algo e

assim o fez.

- Mencionava-se como mais que um tipo de sociedade secreta,

a Ordem dos Ventos era uma espécie de corrente de pensamento com

crenças que apesar de não divergir da doutrina católica tinha

intepretações próprias da bíblia relacionadas aos ventos e águas e que

substancialmente procuravam famílias que teriam surgido em paralelo

a formação de Israel ainda que por ele cruzasse.

- Algum tipo de linhagem nunca conhecida? – Perguntei.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 80

- Sim, mas sem relações com povos árabes, egípcios,

acreditavam ser uma parte da linha sobrevivente do dilúvio que seguiu

um designo divino próprio ao futuro. Filhos de Noé que carregariam

conhecimentos astronômicos e sobre o tempo que os tornavam aptos a

criar profecias, como Enoque. – Respondeu Milagros. – Naturalmente

não tem qualquer relação com descendentes de Cristo.

- Particularmente creio que uma parte destes teriam se dirigido

a China onde se mesclaram. – Disse Petrônio – O conhecimento que

temos coincide perfeitamente com visões do I Ching, assim como

indícios de tradições ligam alguns japoneses aos judeus antes das

grandes navegações. Os indícios podem ter vazado, e as respostas

podem estar na Espanha, para onde tais indícios apontam.

Nostradamus tinha crenças semelhantes.

Formada a opinião com aquela discursão perguntávamos

agora quais as probabilidades de encontrarmos uma peça nesse

quebra-cabeças que igualmente aquele provável assassino de José

Maria o teria feito. Naturalmente Modenna concordou em formar uma

equipe para lá se dirigir junto a Petrônio. A escala europeia até a

Espanha não seria tão exaustiva, mas certamente passaríamos a noite

na viagem patrocinada pelo Vaticano, e assim fizemos.

O Trajeto transcorreu tranquilo e suave enquanto Petrônio me

demonstrava uma personalidade magnética e carismática ao relatar

mais alguns detalhes intrigantes de sua própria história e a relação

com a dita Ordo Christianistas Ad Ventus enquanto os testes seguiam

no laboratório em Roma. O pouso suave do jato as 4:28 após dormir

umas duas horas de sono me fez levantar ainda que a despeito da

preguiça revigorado com as possibilidades não somente turísticas de

visitar uma cidade de um antepassado, mas de descobrir mais sobre

minhas próprias origens. O lugar era belo ainda que padecendo uma

crise econômica severa afetando profundamente seus compatriotas

espanhóis de onde minha família veio.

O Percurso seguinte durou mais algumas horas até a cidade

litorânea de Avilés conhecida pelo seu turismo onde a primeira coisa

que fiz após visualiza-la fora adquirir um souvenir com o nome da

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 81

cidade após passar por policias com o nome estampado nela. Petrônio

fora recebido por uma professora de história e arqueologia que ao me

cumprimentar se apresentando vi uma singela tatuagem de uma rosa

dos ventos sobre sua mão, porém, não comum, mas relacionada ao

estilo chinês. A mulher que apesar de ter seus quarenta e poucos anos,

era muito bonita, com cabelos até o ombro e vestindo-se com um

cachecol em torno do pescoço e botas até quase os joelhos por estar

frio naquele período. Seu nome era Zaira Alonso Arango e com um

sorriso cordial nos orientou até um departamento policial onde ao

entrar vendo um investigador amigo seu disse.

- Temos aqui um legítimo Avillez, mas com dois ‘l’s’ e ‘z’.

Aparentemente tem interesses em comum com meu amigo sobre esse

turista chamado Daniel.

- Ah naturalmente. Não estamos com muitos recursos – disse

o investigador em espanhol – mas colocamos dois policiais para

acompanha-lo. Aparentemente ele está próximo a biblioteca da cidade.

- Algum documento histórico que não conheçamos

relacionado a origem da cidade e Pedro Avilés?

- Sempre há documentos, isso é com Zaira. – Respondeu o

investigador com um sorriso quando ela se virou pra mim e ele

continuou antes que saísse – Espere. Fizemos um dossiê com dados da

Siv sobre ele, acho que podem ter informações que não conhece. Essa

época do ano sempre notamos turistas incomuns a visitar a biblioteca,

mas pelo que me informou o interesse dele é bem específico, mesmo à

origem da cidade.

Após agradecer a cordialidade do policial, Zaira, eu e Petrônio

nós retiramos indo em direção a biblioteca após ela pegar seu carro,

um simpático beetle. Petrônio abriu o dossiê numa pasta viu-se fotos

do jovem que havia se formado em física quântica e história. Porém

com um histórico de agressões a calouros e até mesmo por matar

animais no campus. Não obstante, tinha três passagens na polícia por

porte ilegal de arma e por fumar maconha dentro de uma igreja.

Aquilo intrigou Petrônio, pois com mais dados cruzados soube que ele

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 82

tinha uma investigação o relacionando a crimes antissemitas e

agressões verbais na internet onde num fórum após atacar com todo

tipo de falácia sua vítima, a ameaçou coisas que provocariam aflição

de serem ditas aqui, ou seja, apesar do diploma um idiota.

- Paira à discriminação não somente ver diferenças como

abismo, mas associações semelhantes a tudo que é mau, resumindo

porém, a seus atos. De nada adianta sofisticar a maldade se ela

continua sendo maldade. Nunca há jeito ou adianta, a maldade é um

beco sem saída moral. – Disse Petrônio ao me mostrar o dossiê – Ele é

um candidato em tanto a Ordo Ad Chaos, claro que alguém com

passagem na policia não seria membro oficial, mas certamente faz

trabalhos.

- Alguns gostam de humilhar para se sentirem por cima, numa

necessidade mórbida e egocêntrica de arrogância por ser incapaz de

serem superiores por si só – respondi enquanto via os documentos - os

mesmos que não se teme por sua justiça, mas se tem medo pela

injustiça e covardia. Julgam para se sentirem donos do certo assim

como da verdade, mas julgar com discriminação sempre estará errado,

pois não é possível estar certo fazendo o mal, afinal não se faz justiça,

mas injustiça. Estes não são dignos de moral, por isso são moralistas,

pois zelam não por suas reputações, mas mascaras o qual se escondem

como a um demônio ante a Jesus Cristo.

- Sou ateia – disse Zaira ao encostar o carro no lado oposto da

rua onde ficava a biblioteca – Mas alguns me fazem acreditar que o

diabo existe. Em todas minhas pesquisas percebi histórias

impressionantes da maldade destes, e digo, isso não é natural e

justifica o título Innaturatus. Não há traços que provem que se quer

existiram similarmente a Ordem dos Ventos, mas os sinais por onde

passaram são irrecusáveis, pelo profundo dano provocado.

- São impostores dos mais promíscuos conhecidos, se

associam a qualquer coisa para beneficio próprio, sem qualquer

honestidade intelectual furtam informações, adulteram provas,

falsificam documentos – disse Petrônio pra mim - e seus meios sem

escrúpulos denunciam a que veio, para dominação e monopólio

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 83

absoluto, sendo inconstantes apenas a criar o caos, mudando de ideia e

apenas dançando conforme o vigente, mas dissimuladamente, sendo

amantes da mentira e todas as distorções desta, discriminando e

agindo contra toda natureza conhecida, quer sexual ou de fatores

biológicos. São as criaturas mais ávidas de ganância e cobiça que se

tem conhecimento, diabólicos insaciáveis, são exacerbados no

materialismo ainda que se digam o contrário, somos apenas pelancas

de carne super-sexualizadas para eles a exemplo de uma obsessão com

o coito fora do comum assim como o do ilícito para com suas vítimas

notavelmente sem qualquer senso de proporcionalidade e equilíbrio,

como se a inferiorizarão de suas vítimas e sua completa rapina fosse

uma tradição vital a sua vitória, pra eles como regra única a trazerem

ao qual cruzam seu caminho as tornando nos seres mais infelizes e

azarados do mundo, dando uma profundidade nova ao termo 'coitado'.

Avessos a todo bom costume e valores, na verdade não cogita-se as

suas vítimas permitir a liberdade e uma vida normal e plena, não

cessam até acabar com uma pessoa, tirando sua identidade,

humanidade e dignidade até se tornar um farrapo humano a

perambular com o fiapo aflito de sopro divino que lhe restou. Lamento

profundamente por aqueles marcados por estes seres o qual chama-los

de cão é ofender toda mãe natureza.

- Deus tenha misericórdia de nós caso Daniel Motta seja um

destes, pois mesmo o diabo nos meus pesadelos era mais simpático e

respeitador. – Disse Zaira após parar o carro o desligando - Te

matarem com um tiro na testa é o mais perto que eles podem chegar

de serem bons, pois o mais faria o mais experiente investigador

criminal de homicídios se internar para tratamento psicológico. – Ela

abriu a porta e fez o vento frio entrar e prosseguiu - Sobreviver

considera-se uma obra de arte de puro heroísmo, e estes são poucos,

homens que tenho muito respeito por simplesmente isso.

Após sairmos do carro enquanto introspectivo fiquei com

aquela imagem que me passaram destes homens, imaginava o que

seriam capazes de fazer conosco para conseguir o que queriam de nós,

talvez nos virar do avesso assim como todos valores no mundo e

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 84

defendidos pela igreja. Ao atravessarmos a rua notei com o entrar de

Zaira na biblioteca que ela era muito conhecida por lá. Os

funcionários a cumprimentavam com um sorriso e por vezes

brincando com peculiaridades que somente o relacionamento deles

compreendiam quase como cifrado para mim como visitante. Tendo

intimidade Zaira sentia-se em casa devido o longo tempo que ficava a

pesquisar documentos históricos não só naquela biblioteca, mas em

vários lugares da Europa, normalmente dedicado ao estudo das

origens de famílias espanholas principalmente reais como a dos Reis

de Leão. A mulher apertou os passos após ter a liberação do guarda

que anunciava que havia conseguido um namoro com alguém que ela

apresentou e em seguida entramos por um extenso corredor onde as

estantes estavam cobertas de livros até o teto e com aquelas escadas

presas a elas que se moviam com rodinhas até o ponto desejado.

- Aprendi a dar valor ao tempo, como as lembranças e a fé no

futuro quando o agora se tornou intolerável. – Disse Zaira pra nós

enquanto entrava agora numa cúpula onde haviam pergaminhos e uma

série interminável de papiros e papéis muito envelhecidos pelo tempo

e continuou falando – mas hoje ao menos os tempos tem sido

generosos comigo, seus ventos sopram a meu favor.

- Presumo que muito deve ter aprendido e conhecido neste

paraíso – disse eu concluindo lá dentro de mim que ao ver a tatuagem

dela na mão aquela mulher era parte integrante da Ordem dos Ventos.

- Você é do tamanho de seu conhecimento, sendo insuficiente,

estreito em sua visão. Sendo vasto compreende toda variação e

variedade que cerca o universo a debruçar-se sobre a janela do

multiverso num conhecimento que vendo fora do horizonte universal

compreende uma visão de 360 graus do tempo. – Disse Petrônio pra

mim diante dele na caminhada.

- Porém, pelo visto os segredos dos tempos vazaram aos maus,

agora como amorais irão se proclamar donos e aniquilar os

verdadeiros autores e guardiões. – Disse Zaira - Ventos tempestuosos

de Wotan surgem no horizonte ao sopro dos maus. Mesmo aqui já dei

falta de documentos, espero que não esteja adulterando nada.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 85

- Chegando a esse ponto acho que o tempo dos dominadores

chegará com a tempestade dos séculos, Zaira. – Disse Petrônio –

Obviamente que vejo aniquilação, justos sendo eliminados,

esmagados e apagados. Será impossível ver o futuro de modo nítido

como já acontece com alguns.

- Verdade, amor, memória, tempo, fé, Deus e eternidade, pois

o tempo eterno é memória da verdade apenas atingido pelo amor. São

as palavras que mais amo como lema particular. – Respondeu Zaira

quando parou diante de uma bancada com uma jovem estagiaria com

aparelhos no dentes que imediatamente abriu um vasto e amplo sorriso

pra nós.

- Zaira, quanto tempo. Trouxe seus amigos desta vez? –

Perguntou ela.

- Um do Brasil, descendente de quem fundou tudo isso,

Gerson. – Disse Zaira apontando pra mim me apresentar – e ao meu

lado Petrônio, italiano e padre.

- Nobre termos alguém que carregue o sobrenome da família.

– Disse ela pra mim com um sorriso ao falar em espanhol após ajeitar

o cabelo.

- Na verdade tenho minhas dúvidas. – Disse eu – A parte da

família que venho veio de Portugal para o Brasil com o conde Jorge

Avillez.

- Interessante mencionar isso, pois tem registros de visitas

dele a esta cidade. – Disse ela. – Vi isso agora pouco.

- Bom, na verdade procuramos este jovem aqui. – Disse Zaira

ao mostrar a foto de Daniel para ela.

- Pode parecer mentira, mas é exatamente ele quem solicitou

arquivos de Jorge Avillez e um mapa antigo da cidade. – Respondeu a

jovem virando-se para um caderno onde tudo era anotado. – Bom,

anotei aqui o nome dele...

- Daniel Motta. – Respondeu Zaira.

- Sim, perfeitamente.. aqui. – Respondeu ela. – Fora

exatamente a 47 minutos atrás. Acho que pesquisava algo sobre uma

pedra base colocada no monumento da praça da cidade.

- Isso não conhecia. – Disse Zaira.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 86

- Como não? Admirar você. – Disse ela sorrindo de modo

gracioso – abaixo da estatua do fundador da cidade, Pedro, poucos

tem ciência disto, mas... O que vocês querem com ele? É algum

marginal?

- Na verdade acreditamos que tenha matado um dos amigos de

Petrônio.

- Oh sim, compreendo. Provavelmente ele deve ter feito algo

mais pra virem pessoalmente aqui – respondeu ela – Se quiser pego o

documento que ele acessou.

- Por favor. – Respondeu Zaira.

A Jovem saindo do balcão se dirigiu a uma das prateleiras e

movendo o dedo sobre os papéis parou numa das fileiras puxou um

mote e se dirigiu novamente ao balcão ajeitando o cabelo e o

colocando suavemente sobre ele. Confesso que pego de soslaio fiquei

visivelmente atraído por ela a ponto de Petrônio perceber ao me olhar.

- Tenho que reclamar com a supervisora, pois tenho notado

alguns documentos mexidos. – Disse a jovem quando Zaira agora

pegava o documento nas mãos. - O manuseio será por pouco tempo,

pois vamos digitalizar tudo para ser acessível apenas pelo computador.

- Que tipo de documento você notou mexido? – Perguntou

Zaira.

- Não específico. Apenas fora da ordem anterior, pode ter sido

o novato que entrou na semana passada. – Respondeu ela. – Mas me

diz, o que que esse Daniel fez.

- Furtou um pen drive com informações de um projeto nosso

de um moribundo.

- Meu Deus, esse mundo está perdido mesmo. – Respondeu

ela de modo ingênuo – semana passada disseram que tentaram invadir

a biblioteca e chegaram quebrar uma janela.

- Não fiquei ciente disso. – Respondeu Zaira que antes parecia

compenetrada nos documentos. – Como aconteceu?

- Não sei ao certo. Mas me parece que queriam entrar nesse

setor de documentos históricos.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 87

- E então você nota documentos mexidos. – Disse eu pra ela

sugerindo o óbvio.

- Bom mencionar – disse ela colocando a mão no rosto – Não

havia pensado nisso. Mas tudo está registrado em ordem numérica,

tirar um documento fica o vácuo de sua ausência, fica defasado. Vou

perguntar a supervisora.

Enquanto isso Zaira voltou a mergulhar no documento quando

o desenho mostrava o formado original das primeiras ruas até a praça,

nada incomum. Porém, um detalhe indicava letras sem aparente nexo

espalhadas pelo mapa. Aquilo chamou a atenção dela por não

conseguir compreender qualquer padrão naquilo e então chamou

Petrônio.

- Petrônio, veja isto. – Disse ela fazendo o homem se

aproximar inclinando-se sobre o mapa enquanto eu do outro lado via o

mesmo – veja estas letras, você que participa da pesquisa de

criptografia, lhe diz algo?

- Não sei, teria que analisar. Se as letras estiverem como

pontos a formar algum traço talvez siga alguma ordem específica. –

Respondeu ele. – Podemos tirar uma cópia do documento?

Naquele momento fiquei estático olhando o mapa quando

observei no seu canto uma estrela dos ventos similar a da tatuagem de

Zaira, no estilo chinês. Imediatamente apontei pra eles que ao

observarem fizeram os dois se entre olharem e em seguida apontar

para as letras ‘E’, ‘L’, ‘I’ seguindo na diagonal do mapa e Petrônio

continuou e disse.

- As letras cruzam até o centro da praça onde ela disse que

está a estátua. Veja estas letras ‘X’ e em seguida ‘I’ e por fim do outro

lado ‘R’.

- ‘Xir’? – Indaguei eu. – O que significa?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 88

- Elixir. – Respondeu Zaira. – Pedro tinha um conhecimento

peculiar de cartas náuticas, ele teve em mãos, de acordo alguns a carta

que deu origem ao mapa de Pire Reis.

- Mas tipo um mapa do tesouro a indicar um Elixir como

tesouro? – Perguntei novamente.

Naquele momento, porém, Petrônio acenou para a Zaira e

disse.

- Pode contar.

- Bom. – Disse ela virando-se pra mim – Disseram que Pedro

Menendez teria descoberto um conhecimento no junco que

completava o motivo de parte das viagens dos chineses a América,

algo que ele mencionava numa carta do Vaticano com Elixir de Kairos

que seria uma chave ligada a cidade de Pitah.

- Não fazemos ideia do que seja. – Repercutiu Petrônio –

Apenas temos conjecturas, mas fazem completo sentido sobre um

conhecimento que a Ordem dos Ventos buscava e que os tornava

aptos a ter informações fora do tempo linear.

Porém, naquele momento a jovem estagiaria retornou

assustada até nós e disse.

- Meu Deus, atacaram a praça. – Disse ela assustada pra nós -

Acho que explodiram algo na estátua de Pedro Avilés!

Sem pensar duas vezes eles seguiram imediatamente para a

praça e encontraram um cenário de desolação com a estátua de Pedro

Menendez Avilés caída ao chão repleta de cacos de concreto e um

buraco embaixo de onde visivelmente havia alguém agachado

mexendo em algo.

Pessoas corriam de um lado a outro, muitas cobertas de sague,

quer próprio ou de terceiros que estavam próximos. Sirenes começam

a inundar o lugar, de ambulâncias, bombeiros à policia quando vendo

aquilo Petrônio correu até onde estava o monumento em meio a

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 89

feridos no chão, alguns com membros amputados. O que ele viu fora

aquele jovem das fotos, Daniel Motta que ao se aproximar tirou algo

de dentro de uma caixa e virou-se para ele e tentou correr, mas do

outro lado eu apareci lhe bloqueando a passagem.

- Não sei pra quem você ainda trabalha, mas se esteve

responsável pela morte também da biblioteca e do furto de

documentos vai ter que responder em juízo. – Disse Petrônio de modo

severo quando vários policiais vinham em direção a ele empunhando

armas com alguns apontando aquela direção.

- Nunca serei preso, nunca. E você Gerson era pra estar morto,

não é admissível isso, cão safado, nossa posse! Vamos te virar do lado

avesso, deveria ser apagado da humanidade! – Disse ele como se

estivesse embriagado com bebida estragada.

- Não sou seu cachorro, psicopatas como vocês podem no

máximo ter minhas carnes, não minha mente e sentimentos. –

Respondi, agora visivelmente tenso.

Daniel, porém, tirou algo do bolso e os policiais vendo isto

gritavam para nos deitar no chão por estarmos numa cena do crime,

crime de terrorismo. Lugar onde algum artefato explosivo fora

posicionado a criar o maior estrago possível e fazendo uma série de

eventos em reação em cadeia acontecer.

- Caos, é a ordem, a ordem é o caos! – Gritou Daniel

visivelmente transtornado em meio a fumaça e demais gritos de

pessoas aflitas. – Essa é minha arte – completou ele girando olhando

ao redor da cena do crime.

Porém, mesmo que nos tivéssemos nos deitado mediante o

procedimento padrão, Daniel sorriu de modo sádico e tirando algo do

bolso apontou para os policiais e vários tiros foram efetuados por

acharem ser algum tipo de arma o fazendo cair morto empoçado em

seu sangue. Os policias nos cercaram apontando armas e falando em

espanhol conosco, verificou o pulso de Daniel, que não havia, e em

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 90

seguida perguntou quem éramos quando surgiu Zaira identificando-

nos ao lado do investigador que ela havia encontrado na delegacia

tempos atrás. Os policiais pegaram o que estava dentro da estátua e

levaram como evidências da cena do crime não possibilitando que

fosse visto o que se tratava.

Após a incomoda situação nos levantamos e na delegacia a

primeira coisa que fizeram fora coletar imagens de todas as câmeras

da região e em poucos minutos o que vimos era impressionante.

Primeiro vimos uma sequência em que visivelmente Daniel

estava com mais alguém, um homem meio gordo e de cabelos lisos

lhe dava o artefato explosivo nas mãos enquanto colocava mais outro

num outro canto da praça. Eles tinham algo nas mãos que

aparentemente faziam leituras fazendo-o mudar de posição de acordo

com o que viam no aparelho até que estando no ponto adequado eles

lá deixaram e seguiram juntos para fora do local. Petrônio ao ver o

rosto daquele outro homem ficou perplexo e gelou como se o

conhecesse. Zaira vendo isto virou-se para ele perguntou chamando a

atenção do inspetor que reconheceu pela prisão deles que eram peças

chave naquele atentado como não se via desde 11 de março em Madri,

no país.

- Se você conhece esse homem, preciso que me diga tudo que

conhecer dele. – Disse o investigador após lhe empurrar um prato com

pedaços de bolo pra eles.

- Esse homem é William Sanchez, é aquele tipo de ineptocrata

que trabalha pra uma família de vida fácil, bilionários de grandes

empresas e relações com banqueiros, pedras de tropeço aos pobres.

Dizem que ele ao lado daqueles aniquilaram um autor o qual lhe

desejavam as obras. – Disse Petrônio – Eles tem influência demais, ele

é identificado pelo Siv como o principal líder atual da Ordo ad Chaos

que espalha incidentes e acidentes por onde passam. Isso não dá pra

vocês, é gente do pior nível possível. – Completou ele pálido

levantando-se da cadeira e deixando o policial lá junto com seus

amigos.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 91

O Policial ficou parado diante daquilo e então olhou pra Zaira

como se esperasse que ela dissesse algo, mas ela estava com a cabeça

agachada sobre as mãos acenando em negação. E ao ver o policial

apenas disse.

- Precisamos informar o Papa, o Siv, o Mossad o que puder. A

última vez que investigamos um deles acabou na renuncia do Papa

Bento XVI. – Disse ela.

O Policial então virou-se novamente para a televisão e seguiu

o vídeo na minha frente, e o que vi me surpreendeu como resultado da

colocação dos explosivos no local. A sequência de explosões levaram

um poste cair sobre um banco onde estava uma velhinha, os pertences

dela voaram até um carrinho de bebê que caiu junto com a mãe e em

seguida a arvore por onde havia caído o poste caiu do outro lado

diante de um carro fazendo este se desviar e batendo num outro poste

que caiu enquanto outros carros se engavetaram suscetivelmente,

alguns capotando uns sobre os outros. O investigador então virou-se

para mim assustado e eu fiz uma careta dizendo.

- Nunca vi nada parecido com isso.

O telefone tocou, era o prefeito que por sua vez havia sido

contatado pelo presidente pedindo por medidas urgentes sobre o caso,

como se diz o ditado, a merda desce a ladeira, e naquele lugar com

pressão.

Ao ir lá fora, Zaira, viu Petrônio de braços cruzados olhando

para o céu e então Zaira acendeu o cigarro ao seu lado e pegou o

telefone smartphone e disse enquanto discava algo nele.

- Sobrevivemos por séculos, Petrônio, a Ordo Christianitas Ad

Ventus não vai acabar até o advento acontecer. O porquê nos move à

resposta, a dúvida ante isso nos edifica a fé. Os herdeiros do

inexorável tem que estar preparados, Joaquim não fora morto em vão.

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- Não fale de Joaquim Milagros, as coisas que fizeram com ele é

abominável, são crimes de cães!

- A Ordo Ad Chaos está neste mundo apenas para testar o

destino, por isso são nossos Antagonistas, mas no fim eles apenas

servem ao próprio destino e apenas justificam a fé!

Naquele momento o telefone fora atendido do outro lado da

linha, era um assessor do Papa que perguntou em italiano o que

queriam.

- Ordo ad Chaos com envolvimento no incidente da biblioteca

confirmado. Avisem o Siv e ao Papa, sinto que vem algo grande por

ai. A tempestade perfeita.

Zaira desligou o telefone e olhou para o céu enquanto Petrônio

colocou as mãos no rosto o balançando após ver algumas nuvens

passando. Zaira colocou as mãos no ombro dele para acolhe-lo e

procurar acalma-lo quando o telefone dele tocou, o fazendo pega-lo e

atende-lo.

- Petrônio. Milagros, e Gabriel Modenna, já estão ciente do

ocorrido, e temos mais más noticias, infelizmente, a autopsia de

Javier, indicou que ele fora envenenado! Não somente isto, agora

pouco recebemos a notícia de que houve um massacre dentro de

alguma seita, mataram todos os membros. Tirando o atentado, o que

vocês têm pra nós?

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Ato V

Codex Ad Tempus

"O acaso é o pseudônimo de Deus, quando ele não quer assinar."

Théophile Gautier

Região litorânea da Espanha, 1552

Havia se passado mais alguns anos desde que seu mentor secreto,

Joaquim, fora morto nas mãos de homens tenebrosos. Pedro

Menendéz de Avilés havia se tornado hábil em combates marítimos

servindo o Rei Felipe II, normalmente atuando contra corsários

franceses. Tão logo se tornou notório seu ímpeto e bravura em

batalhas, mas agora estava ao porto aproveitando os ganhos em servir

a coroa espanhola para construir seu próprio navio Patache, um navio

hábil e veloz apesar de pequeno, mas ótimo em manobras evasivas.

Observando seus empregados a construírem sob instruções de uma

planta de engenharia Pedro agora tinha família, havia se casado e tinha

por filho Juan como particular aprendiz do que a muitos anos havia

aprendido com Joaquim Milagros, na Ordem dos Ventos.

O garoto estava sob uma tora de madeira, equilibrando-se com

uma espada enquanto ensaiava movimentos quando seu pai se

aproximou vendo um pedaço de pano branco esvoaçante amarrado em

seu pescoço indicando a direção do vento e lhe disse.

- Não seja Dom Quixote, não lute contra o vento, mas pelo

vento, através dos ventos. – Pedro cruzou os braços e disse mais. –

Não deixe que a raiva o guie. O lema da Ordem dos Ventos é verdade,

amor, memória, tempo, fé, Deus e eternidade, as palavras mais

importantes pra nós. Os que não a praticam certamente são

impostores.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 94

O Jovem então deu mais um movimento e a tira de pano

branco cruzou o caminho da espada com fio afiado e esta a cortou

fazendo-a voar pelo vento.

- A vontade e desejos irresistíveis do destino é porque ele é

atrativo assim como ao verdadeiros sentimentos puros como amor e

afeição.

Naquele momento o jovem perdeu o equilíbrio e caiu da tora

sendo escorado pelo pai, quando atrás dele um homem surgiu falando

seu nome.

- Pedro. – Disse a voz aproximando-se. - decidi vir.

Pedro virou-se e viu o resplandecer do rosto de seu irmão

Bartolomé Menéndez que havia então aceito o convite dele de

participar de sua nova empreitada e navegar por águas turvas caçando

piratas e combatendo invasões. Imediatamente ao ver isto, Pedro abriu

um largo sorriso e fora em sua direção lhe abraçando acaloradamente,

enquanto Juan guardava a espada para igualmente cumprimentar seu

tio.

- Me disseram que adquiriu conhecimentos privilegiados

sobre as navegações. – Disse Bartolomé a seu irmão enquanto o jovem

Juan lhe abraçava.

- Pelo jeito Juan tem falado um pouco de mais. – Respondeu

Pedro olhando para o filho. – Mas nem tudo que é rosa dos ventos,

carrega o conhecimento dos ventos. – Como disse pra Juan, caso lhe

perguntem algo que não queira mentir, responda com uma pergunta,

pois uma pergunta nunca mente. Digo isto, pois os que se contradizem

sempre não são confiáveis, pois mentem ou omitem algo.

- Mas é os rumores, mentem? Estes me falam de que o tempo

em que esteve fora frequentava círculos de homens peculiares do

Vaticano. – Disse Bartolomé com um sorriso cordial a Pedro e seu

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 95

irmão então olhou ao redor e disse a seus empregados ao lado do

navio que era edificado.

- Meus amigos. – Disse Pedro aos trabalhadores inclusive dois

escravos que foram por ele comprados, mas que tinham ótimas

condições de vida. – Vamos comer, hora do descanso.

Os homens suados pelo trabalho diante do sol, pararam e

desceram na embarcação incompleta e seguiram para dentro de uma

espécie de hangar.

- Muitos querem ser seu escravo Pedro. – Disse Bartolomé

sorrindo – a lenda de que é um bom senhor parece percorrer a costa

espanhola assim como sua ferocidade em batalha.

- Eles são humanos, Bartolomé. Um dia não serão mais

vendidos. – Respondeu Pedro colocando a mão em seu ombro quando

chamou alguém de dentre caixas de madeira, era seu amigo e guardião

Jopy, um negro enorme, mas que apesar da aparência rude, era um

cavalheiro gentil.

- A Ordem dos Ventos, não veio para escravizar. Mas libertar,

Bartolomé. – disse Pedro quando Jopy apertou a mão de seu irmão o

cumprimentando. – Se tratamos os nossos como cães, eles agem como

cães. Dê humanidade, e serão como humanos. Lhe digo neste

momento que se quiser participar disto, a instrução da Ordo

Christianitas Ad Ventus, acolhe famílias perseguidas através dos

tempos num estirpe do destino, uma linha de defensores da verdade

contra anomalias, e como verdade, ela liberta, não escraviza.

- Como assim anomalias?

- Traga o Codex Ad Tempus – pediu Pedro a Jopy tendo um

aceno positivo do negro.

O homem trouxe uma espécie de mochila e de dentro dela

tirou um rolo escrito em grego. Pedro o pegou enquanto Juan parou a

seu lado para observar seu pai manuseando aquele pergaminho o

abrindo lentamente diante dele e falou.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 96

- Temos livros secretos do Advento, alguns com

conhecimentos de uma estirpe que seguiu um caminho diferente a de

seu irmão Abraão. Fundaram uma cidade muito antiga, e ao ser

aniquilada rumaram aos quatro cantos da terra com seu conhecimento.

À Todas direções da rosa dos ventos.

- Mas isto fala de algo chinês. – Disse seu irmão Bartolomé

observando o que o rolo falava.

- O novo mundo descoberto, não é novo Bartolomé. Muito

antes de Portugueses tocar essas terras, os chineses lá estiveram, pelo

mesmo conhecimento que levou eu em minha busca. – Respondeu

Pedro. – Tudo o quanto estou realizando aqui é um preparo para nosso

destino, o conhecimento em terras longínquas, além atlântico.

- O Vaticano conhece estas informações. Isso pode mudar

tudo, afirmar que o conhecimento dos portugueses, ingleses e

espanhóis vem de chineses.

- Sim, poucos conhecem, mas muitos o deduzem. Mas

substancialmente não importa o que eles descobriram primeiro, mas

sim o que procuravam. O conhecimento que alguns chineses

compartilham é quase o mesmo da Ordem dos Ventos e não por acaso,

mas porque os sobreviventes do destino, assim realizaram entre os

povos. Você precisa vir comigo até Covadonga.

Bartolomé e seu irmão Pedro seguiram com seu filho Juan

afim de fazerem uma refeição e então seguindo a sugestão de Pedro

seguirem até o mítico lugar chamado Covadonga, nas mediações de

Astúrias. Seguido pelo sempre fiel Jopy que pouco falava os quatro

seguiram até o local que ao ser visualizado por seu irmão Bartolomé

lhe deixou impressionado pela peculiaridade da edificação sobre uma

cachoeira, uma fonte de água pura. Ao chegar um homem o

reconhecendo abriu a porta com um sorriso cordial e cumprimentou

Bartolomé e passou a mão na cabeça de Juan e disse.

- Seu filho foi melhor que você no teste da colina.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 97

- Fiquei ciente disso. – Respondeu Pedro. – Bom ter a

presença de nosso agora Mestre dos Ventos. – Seguiu o homem o qual

era chamado por Hydrocrates.

- A Caixa já escolheu seu novo portador, Hydrocrates? –

Perguntou Pedro olhando para uma Caixa no alto de uma estante.

- Não, ainda espera o tempo dela, somente Kairos isso dirá. –

Respondeu Hydrocrates trancando a porta por dentro e mostrando uma

espécie de banheira com uma estrela dos ventos sob ela.

- O que é isto? – Perguntou Bartolomé a seu irmão. – Algum

tipo de hidromância?

- Me perguntei o mesmo, Bartolomé, mas não. – Respondeu

Pedro. – Não se trata assim de uma mera hidrosofia, mas na verdade

de uma cronosofia o qual se quer Kronos o qual crepitava justamente

nas águas em suas ondulações.

Bartolomé parou diante das águas e observou o filho de Pedro

jogar uma pedra criando ondulações e distorcendo o desenho embaixo.

- Medite no movimento das águas, observe como ela preenche

as lacunas – disse Pedro cruzando os braços - como são suas ondas e

reflexões e como os menores objetos são os que criam as maiores

ondulações. Reflita nas águas e pelas águas e descobrirá que no

universo reativo tudo são perspectivas vibradas de uma única verdade.

Mesmo as pedras lançadas a água refletem ao quicar. As águas podem

mostrar a verdade, mas também podem distorce-las assim como sua

própria imagem nela.

- Quando as águas estão tranquilas fica possível conhecer a

dinâmica das ondas, quando caóticas surgem bolhas. – Disse

Hydrocrates, um homem de olhos azuis pelo qual na verdade havia

ganhado esse nome ao entrar para a estirpe. - Como a água ressoa, o

que aqui é incerteza, é certeza noutro universo.

- O que vemos é compreensão dos movimentos de modo

atemporal, pois mais que uma arte é um modo de ver o universo fora

do aparente, uma filosofia. – Respondeu Pedro. - O finito e o infinito

as vezes podem ser uma ilusão, deriva-se de ciclos modificados do

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 98

finito, de ondulações. Pergunto-lhe se como meu irmão deseja

compartilhar dos conhecimentos que disto revelamos.

Bartolomé, se aproximou do recipiente onde estava a água e

então tocou com as mãos vendo criar ondulações e Hydrocrates disse.

- Com água pode se lavar, mas não se pode lavar a água, a

água não é o tempo, mas o tempo como água, são elas quem

purificam.

- O que vocês tem pra me revelar? – Perguntou Bartolomé

virando-se a estes visivelmente intrigado como se tivesse sido fisgado

como um peixe.

- A verdade, algo que vai expandir sua mente, vai lhe libertar,

a verdadeira natureza da realidade. – Respondeu Pedro com um

sorriso cordial no rosto e seguiu – Algo que os malévolos desejam,

mas que são contrário a tudo que ensinamos. O que possuí o destino,

não age com relações parasitoides, harmoniza, nivela, iguala ao

universo. Quem tem o destino não precisa ser dominador ou tirano,

pois simplesmente fluí seu poder como as águas.

- Sendo necessário fazer força demais, é porque não é uma

roda a girar. – Disse Hydrocrates. - Mas a matemática é filosofar com

números, limitados, mas necessários para conhecer as resultantes que

por desconstrução pode levar a verdade.

- Consegue compreender nosso irmão Hydrocrates, ele é um

Filosofo das águas. – Disse Pedro. - Compreenda os caminhos para a

perfeição, que são reconhecer-se imperfeito, não se contradizer

honrando a própria palavra, praticar o que discursar, ser caridoso.

Os olhos de Bartolomé brilharam como se aquilo fosse o

sentido de sua vida, algo repleto de significado que lhe conferisse o

porque para o por quê, de modo que fora assim instruído após seu

compromisso acertado por contrato aos seus, sua família se ampliou,

cresceu e seus conhecimentos ganharam mais volume com quem

compartilhou, mais um homem o qual a ressoar pelo tempo em coro

uniforme a instruí-los pela honra, mas não em desculpas falhas dos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 99

malévolos que isto cobiçavam e cegos pela ganância. Casos de

anomalias que se levantavam como distorções a toda verdade,

arbitrárias, fenômenos ditos sobrenaturais e seres e pessoas que ao

longo do tempo aniquilavam eram compartilhados com Bartolomé

junto aos manuscritos da biblioteca o qual Pedro se tornará guardião.

Centenas de histórias que levariam a mitos e lendas de vampiros,

lobisomens e todo tipo de criaturas filhas de uma anomalia ainda que

não tão exatamente colocadas pela ficção.

Porém, tão logo Bartolomé se tornou companheiro de

navegações de seu irmão, junto a seu filho onde com seu recém

construído navio tiveram a primeira vitória contra corsários franceses

que atacaram três cargueiros espanhóis na costa de Galiza. Assim suas

batalhas começaram cada vez mais ganhar notoriedades, talvez porque

não estivessem apenas navegando pelas águas marinhas, mas pelo

tempo, rumo ao destino.

Uma batalha em particular se tornou notória ao perseguir dois

Biscayan, fragatas conseguindo hesito pela astúcia de movimentos por

eles realizados naquelas águas, não eram navegadores comuns, eram

alguma coisa mais que levavam eles a se tornarem motivo de

conversas até mesmo entre as cortes reais e transpassando fronteiras

de países, da França a Espanha, decepcionando seus adversários da

Casa do Comércio de Sevilha se tornando cada vez mais influentes até

que em 1554 fora chamado pelo próprio rei Felipe II da Espanha o

designando como Almirante da frota das Índias, lhe outorgando poder

da coroa que lhe permitiria autorizar a construção de fortalezas reais

em portos caribenhos e assim partiram eles a sua primeira jornada

cruzando o Atlântico onde tinham compromisso de defender a fé

cristã. O destino fluía, e com vento era levado a seu alvo, o esforço

natural se tornava o sobrenatural, não como o excesso de força dos

tiranos que por eles cruzavam os caminhos.

Pedro Menendez Avilés, fora paciente a aguardar seu destino

encontra-lo e ele a seu destino, pois concebendo o ser verdadeiro, não

somente não havia mentira, como a tudo respondia, a tudo se

encaixava como as águas em seu percurso no leito, como as gaivotas

que pelos ventos plainavam, e os malévolos o qual apenas pertenciam

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 100

a acusação perplexos ficavam, na verdade, com sua própria cobiça de

não conseguirem os mesmos feitos e conhecimentos, limitando-se a

imitar e buscar castigar o que imitavam, pois eram justamente os

males que combatiam Pedro e seus parentes ao lado de Jopy nas

navegações, aqueles que detinham obstinadamente a verdade em

injustiça.

Cidade de Avilés, Espanha, atualidade

Após Petrônio observar as imagens das câmeras de segurança pública,

ficou estarrecido e teve certeza de que o conhecimento furtado pela

Ordo Ad Chaos estava sendo usado por aqueles boçais que nada

respeitavam a tudo invadiam. Na verdade Zaira ainda aguardava a

permissão das autoridades legais para a liberação do artefato

encontrado na estátua a fim de conseguirem mais uma peça do

mosaico que se formava diante deles e que indicavam uma

conspiração de séculos que levou as grandes navegações e a uma

corrida secreta por algum tipo de conhecimento relacionado ao Novo

Mundo que eles ainda não conheciam.

Porém, intrigados como aqueles homens malévolos em tão

pouco tempo conseguiram uma aplicação prática dos conhecimentos

da hidrocriptografia não somente para proteger dados, mas a fim de

controlar de certo modo o caos numa sucessão de eventos

aparentemente síncronos e ocasionais, levando eles a discutirem entre

si que algo como este poderia lhes conceder o poder a longo prazo de

controlar o rumo da humanidade através do caos prevendo eventos

futuros nos mínimos detalhes, fomentando um significado verdadeiro

por de trás das superstições destes.

O termo derivado do latim superstitio que provinha por sua

vez do superstare, tinha um significado peculiar de estar sobre algo

em paralelo a sobreviver. Talvez por estar relacionado a práticas

selvagens e igualmente caóticas, estes por imperícia sobre si mesmo

necessitassem estar sobre suas vítimas, levando ao fundamento

exacerbado daqueles que somente conseguiam ver algo sobre alguém,

naturalmente relacionados ao fanatismo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 101

Os romanos tinham uma relação mais adequada com seu

termo religio que trazia uma conotação de ‘respeito devido e com a

medida dos deuses’. Os termos assim evoluíram – ou nem tanto – a

medida com que tais praticas se modificaram com o tempo, enquanto

os ditos Herdeiros do Destino, considerava-se sobre o caos, os do caos

consideravam-se sobre suas vítimas como algozes, relacionando a

mistificação destes como se isto lhes conferisse boa sorte relacionada

aos amuletos e talismãs determinado como sorte do latim sors que

significa “parte, porção, o que cabe a cada um”. Que relacionado ao

termo grego télesma significava “rito religioso, talismã”.

Obviamente que tais coisas estavam relacionadas a encantos e

feitiços de religiões pagãs, de modo que numa conotação semelhante o

termo mascote vem do francês mascotte vindo por sua vez de masco

que significa “feiticeira, bruxa” o que se tornou de modo contradizente

ícone tradicional em clubes esportivos e unidades militares.

- Não existe "amuleto da sorte", mas esta é uma relíquia

temporal o qual o destino se faz sobre o caos. – Disse Petrônio –

Naturalmente que explica o porquê da origem de tantas superstições.

Ao menos o termo ‘simpatia’ é o menos tenso deles. – Conclui ele.

- O leito do tempo é o destino. – Disse Zaira – Mas o que eles

desejam é desvia-lo através da mentira, contra toda forma de direito.

- Agora compreendo de onde vem à superstição de quebrar um

espelho serão sete anos de azar. – Disse eu rindo daquilo na intensão

de não contrair mais o clima.

- As superstições são conhecimentos incompletos da verdade,

quando não sua distorção como no movimento das águas. –

Completou Petrônio ignorando minha tentativa de humor. - Não faço

o que herdo, mas herdo o que faço. O livre-arbítrio é nossa assinatura

no Destino a concordar com o contrato de Deus! Mas essa gente só

quer que herdamos a mentira que eles são. Se você não fez algo era

porque esse algo não era pra ser seu, isso é inerente a linearidade do

universo assim como suas leis. Não destrua nada que não seja capaz

de construir.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 102

- Mas é exatamente tudo que estes malévolos obstinados são,

só bebem da fonte em que invadem e a ela condenam. Não são nossos

convidados, mas invadem, por isso o caos, de toda agressão o vem. –

Respondeu Zaira diante da imagem no vídeo que seguia repetindo-se

em loop quando Petrônio parou para observar e disse.

- Indícios de comportamento temporal síncrono de modo

espelhado ocorreram de modo não cíclico de loop, mas como uma

sinfonia frequencial, um caso peculiar demonstra isso, onde eventos

de Lincoln e Kennedy demonstram padrões diamentralmente inversos

em tal sincronismo que sendo temporais, porém transcorrem em

sentido anti-horário contra a aparente linearidade, como se algo do

futuro deste o projetasse como fonte de demais sincronismo a afetar

até mesmo a consciência. – Concluiu Petrônio olhando para a tela.

Tudo segue padrões sobre o caos, mesmo a linguagem.

- Fato histórico, conheço essa teoria amplamente divulgada. –

Respondi eu intrigado. - Abraham Lincoln fora eleito ao Congresso

em 1846 e Kennedy em 1946, ambos nomes tem sete letras e suas

esposas perderam filhos quando viviam na Casa Branca. Ambos fora

baleados numa sexta-feira e seus respectivos sucessores nasceram em

1808 e 1908, ambos com sobrenome Johnson, assim como a secretária

de Lincoln era Kennedy e a de Kennedy, Lincoln. Apesar de ter sido

contestado alguns desses dados, a série de coincidências são realmente

impressionantes como um tipo de sincronismo espelhado.

- Não creio ter sido deliberado. Mas para o caso de hoje pra

isso um sistema de previsão de caos deverá lidar essencialmente com

múltiplas dimensões, pois elas explicam as interações caóticas,

entrópicas e até da energia negra o que poderia com maior refino

torna-se explorável. – Seguiu Zaira demonstrando conhecimentos de

física.

- Posso então afirmar que você aspira a ser uma historiadora

de histórias paralelas? – Perguntou de modo irônico.

- Nunca se sabe. – Respondeu ela tentando esboçar um sorriso

pra descontrair. – Mas nosso compromisso é apenas com o contestado

factualmente, não somos impostores como essa gente. Não queremos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 103

inventar nada arbitrariamente meramente para tirar proveito de algo ou

alguém.

- Tenha sua ambição a medida de seu talento, pois você não

pode produzir fruto maior do que pode carregar, mas os tolos nem o

que podem praticar em sua totalidade cobiçam. – Disse Petrônio

virando-se pra nós - Você é seus frutos, seus frutos são você, pois

você é o que faz, não o que fazem com você. Algo que o Maligno

nesse mundo jamais vai aprender.

No momento em que discutiam sobre as possibilidades do que

acontecia naquele lugar, a policia em Roma estava nas mediações

onde pessoas se reuniam para algum tipo de culto e que foram

massacradas. Não se compreendia o porquê da relação com o que

estava acontecendo na Espanha e Vaticano, mas a comprovada relação

da Ordo Ad Chaos com tudo aquilo fazia sentido com a passagem

bíblica “homens desmaiarão de pavor” o que sentia mesmo Petrônio.

Porém, uma mulher que fazia serviço de prostituta cultual havia

sobrevivido coberta do sangue daqueles que faziam sexo com ela, a

mulher identificou que foram atacados por serem não oposição a eles,

mas rivais, algo envolvendo a Ordo ad Chaos.

Por vários séculos houveram conflitos de crenças, na realidade

pelo motivo verdadeiro que levavam homens perversos atacarem toda

justiça, a cobiça e desejo insaciável por poder sobre as demais. O que

sempre levavam a toda sorte de crimes de guerras e guerras de crimes,

contra os justos que cuidavam pela tranquilidade dos seus. Porém,

naquele momento o delegado conhecendo que nós éramos idôneos e

comprometidos com a verdade, mesmo eu sendo autodidata, resolveu

liberar o artefato pego na cena do crime naquele atentado a fim de

talvez obter algumas respostas a cerca dos objetivos de fazerem aquela

chacina.

O objeto envolto num saco plástico transparente fora aberto

cuidadosamente pelo investigador que tinha luvas nas mãos e tirando

de dentro dele após ver que nós colocamos igualmente luvas de látex,

pois apesar do objeto já ter passado pela pericia a procura de digitais

ou quaisquer coisas que levassem poderia ainda conter algum indicio

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 104

que revelasse as reais intensões dessa gente nefasta e obstinada. Assim

ao pegar o objeto, Petrônio notou haver um papel dentro como se

fosse um recipiente onde guardava algum tipo de carta ou anotação

onde imediatamente Zaira reconheceu ser a letra de Pedro Menendez

que falavam em castelhano ser para proteger as coordenadas de Renne

Sanchez.

- Em tempos remotos esse era o líder secreto da Ordem do

Caos, fora acusado de sodomia pelo Vaticano, no século XVI, apesar

de não haver registros alguns alegavam que era arquinimigo de Pedro

Menendez de Avilés. Acho que isso é uma evidência. – Disse Zaira.

- Por acaso descendente desse tal de William? – Perguntei eu

vendo a correspondência onde indicava um lugar no interior do Brasil.

Zaira concordou que sim movendo o rosto e olhando pra mim,

como se fosse na realidade conflitos entre descendentes, pois enquanto

alguns herdavam algo bom, outros herdavam apenas a servidão aos

que perseguiam. Ao lerem a carta por completo indicava também um

lugar ali na Espanha, uma cidade pequena do interior chamada

Marchal. Não por acaso, Zaira lembrou a evidente relação com a

língua dos judeus em vista que aquilo significava ‘futuro’

demonstrando que eles estavam relacionados a algum tipo de

conhecimento provavelmente sobre o futuro, algo que não somente

levou a tais navegações como a conhecimentos que tanto chineses

como europeus que o possuíam procuravam. Antes de partirem para

Vaticano novamente agora eles tinham mais um percurso a ser levado

em consideração, a dita cidade do interior que aparentemente nada

tinha de valor.

- Creio que Pedro Menendez passou por esta cidade em seu

tempo, mas nunca me ficou claro o porque. – Disse Petrônio. – Acho

que vamos descobrir em fim do que se trata, mas o nome sempre me

pareceu sugestivo e não arbitrário ao acaso, pois no destino isso é

apenas um nome.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 105

- Vamos rumo a mais importante das perguntas. – Disse Zaira

entregando novamente a carta ao perito e continuou. – Vamos antes

que de algum modo eles tenha chegado lá.

Ao nos retirarmos do local, seguimos ao carro de Zaira

quando a noite já havia caído e ao conceber que a cidade era a

algumas horas de distância dali, concebemos que passaríamos boa

parte da noite à madrugada cruzando as estradas da Espanha até nosso

destino iminente a uma cidade considerada insignificante

turisticamente assim como para os próprios espanhóis, mas como

aprendemos naquela investigação a fachada nada importava, a

aparência era apenas ilusão ante o verdadeiro conteúdo procurado, os

menores frascos poderiam conter os melhores perfumes assim como

os piores venenos e se trocassem seus rótulos estaríamos perdidos,

mas as digitais de viajantes muito antigos foram deixados de modo

irrecusável ao verdadeiro conhecedor da verdade que éramos nós.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 106

Ato VI

O Porto dos Ventos

"Vento mistral, perseguidor de nuvens,

Assassino da tristeza, varredor dos céus,

Vento de tempestade furioso, como eu te amo!

E nós dois somos os primeiros frutos

Do mesmo útero, sempre predestinados

Ao mesmo destino?"

Nietzsche - Canção Mistral

1560, Mediações do Caribe

Passou-se muitas águas, e por muitas águas passaram os navegadores

de Pedro Menendez de Avilés a conceber que naquele leito oscilante

que era o mar, o lugar não tinha lugar, mas só o tempo e a orientação

secular das estrelas que Pedro disse ser herdado dos fundadores de

Pitah, o qual no intimo outorgava as primeiras navegações jamais

feitas pelo homem ao redor do mundo, espalhando suas sementes.

Pedro havia se tornado o capitão geral do tesouro espanhol onde num

porto fora com seu irmão Bartolomé encontrar um viajante que

supostamente seria um Guardião do Tempo como chamava-se alguns

dos seus.

O Lugar poderia ser acessível a qualquer pessoa, o lugar

chamado Portos dos Ventos, era uma parada obrigatória aos

navegantes a fim de suprir alimentos, mas quem lá estava de mais

importante era tido como quase nada, um homem que estava a receber

os navegantes fora do comum que ao ouvirem como o vento o som de

um violino, parecia ritmar harmoniosamente com a natureza em

concordância plena ao contrário dos Innaturatus o qual o ritmo era

contra toda ordem natural, onde como algozes os que produziam

sempre tinham que pagar, nunca ganharem pelo que faziam.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 107

Protegido por Jopy que ia na frente a fim de verificar

quaisquer coisas nada dignas de confiança, a noite era avançada sobre

aquele lugar e pela envergadura de seu fiel escudeiro o temor dos que

cruzavam o caminho era reciproco e por isso mesmo encaminhado por

Pedro, pois quem não o conhecia achava-o ser algum perigoso

corsário daqueles que viajam a invadir vilas e saqueá-las matando e

violentando suas vítimas por toda costa das Américas. Pedro utilizava

das aparências àqueles que viam apenas aparências a se enganar.

Jopy parou diante da porta da residência de onde vinha a

música que soprava junto ao vento e então bateu a porta e a música

subitamente cessou. Alguns segundos se silêncio se seguiram até que

a residência feita de pedra, destoando das demais que era de madeira

se abriu lentamente, revelando um rosto de uma senhora com cabelos

crespos amarrados para trás e olhar assustado.

- Quem quer?

- Viemos procurar a guardiã do oeste, Gisela Montana.

Jopy colou suas mãos grandes a calejadas segurando a porta e

fez a senhora arregalar os olhos recuando assustada para dentro e

disse.

- Se veio fazer o que veio fazer, então faça a que veio. - Disse

ela largando o violino assustada com o tamanho do homem por ser

acostumada a ser perseguida de todas as maneiras possíveis.

- Não, espere. – Disse a voz de Pedro surgindo por de trás do

grandalhão Jopy. – Venho pela cora espanhola, e trago a

tranquilidade.

- Você é o lendário Pedro? – Disse ela cerrando a visão e

inclinando a cabeça em sua direção – Os ventos lhe anunciaram a

chegada, bons ventos em meio a tempestade, digo eu. Entrem.

Jopy largou a porta e deixou que aqueles homens entrassem e

depois Jopy que tirou um chapéu que usava sobre a cabeça e colocou

sobre sua barriga ficando de pé inerte olhando pra ela e seus senhores.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 108

- Não esperava que a senhora fosse se assustar com as

aparências. – Disse Pedro olhando para ela referindo-se a seu guardião

Jopy.

- Não, não, claro. – Respondeu ela tirando algo da lareira em

água fervente. – Querem um chá?

Juan após ser apresentado recusou, mas Pedro e Jopy

aceitaram e em seguida seguiram a sugestão dela para que se

sentassem, enquanto ela aparentemente maltrapilha com roupas velhas

tinha sobre a mesa uma bíblia e um crucifixo destoando da aparência

que alguns diriam ser de bruxa.

- Vivemos tempos de apreensão meus prezados, tempestade se

formando no porto dos ventos. – Disse ela e assim seguiu - As vezes

trás pessoas que nesse mundo não existem e pessoas que nesse mundo

existem, desaparecem. Somente navegadores hábeis como vocês

conhecem os rumos a tomar.

- Conheço a lenda do mar de sargaços.

- Quando vier a nevoa siga ao leste, pois o que pode encontrar

não lhe será compreensível. Estou aqui para receber visitantes não

nascidos em nosso mundo. – Disse ela então pegando uma bacia de

água e colocando diante dele pediu para que ele abrisse as mãos e

assim Pedro fez e ela derramou gotas de água sobre sua mão aberta e

disse. – Observe como ela escorre pelo aparente caos aleatório. A cada

direção um destino, qual o certo?

- A senhor diz sobre o que vim a realizar neste mundo?

- Perfeitamente, assim são os frutos do tempo, Destino. O que

se planta no chão, colhe do chão, mas quem planta no tempo colhe-se

na eternidade. Mas nada é sem verdade. – disse ela enquanto Jopy

tomava um gole do chá quente e observava. Ela então derrubou mais

gotas sobre sua mão e continuou a falar. - De todas as coisas no

universo são as pequenas que mais me fascinam, pois não só

enriquece o universo em detalhes, mas que podem proporcionar as

maiores mudanças temporais ante o caos. Sim, no futuro farão homens

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 109

de uma partícula pode criar uma explosão maior que qualquer bomba

existente, assim é no tempo.

- Com a fé a distância é ilusão, quem pode medir o

comprimento da fé, é ela a que tudo cumpre. – Respondeu Pedro

completando o raciocínio.

- Para se encontrar o sentido como destino, tem que se sentir,

ele é intuitivo e mais forte que qualquer razão. – Disse ela lhe olhando

nos olhos enquanto segurava sua mão sendo visível o brilho deles pelo

crepitar do fogo na lareira. - Pedro quer dizer pedra e pedras mesmo

que possam ser moldados pelo tempo, são constantes. Para nós as

pedras representam tudo o quanto é constante, como Jesus é a rocha

ante a inconstância e mutação do tempo, e esta é capaz de criar as

maiores mudanças no tempo, tempo onde o tamanho não é

documento. Mas existem pedras e pedras, algumas preciosas, outras

de tropeço e algumas para a edificação... – disse ela soltando a mão

dele que pegou a xícara e tomou um gole do chá quente que nela havia

e seguiu. - Se conhece a forma de um objeto pela força que se faz nele,

quando se faz força para impedir de rodar, não é quadrado, quando se

faz força para rodar é porque não é redondo. Naturalmente que não se

atribui as qualidades e virtudes de um objeto ao ato externo.

- Compreendo o que a senhora quer me falar. – Repercutiu ele

olhando agora pra palma de sua mão e então ela se levantou e pegou

algo de uma estante, um papiro que aberto sobre a mesa revelou um

mapa muito antigo, em chinês.

- A Ordem dos Ventos contempla o estudo do tempo e do

livre-arbítrio ante o destino no tempo como concepção das escolhas e

opções que levam a estes pontos, e estamos aqui para orientar o

navegante a seu destino, até o porto seguro dos ventos, algo querem

tirar da humanidade, mas nós, inexpugnáveis preservamos e guiamos

os eventos – disse ela deixando o mapa sobre o móvel e acendendo

uma lamparina para enxerga-lo e continuou - a seu destino sem nunca

anular o livre-arbítrio humano que tanto incomoda os maus, viemos

para libertar a humanidade não impor a vontade de alguns sobre todos

apenas apontamos a direção a ser tomada. Mas vou lhe mostrar a que

veio Pedro, como uma pedra preciosa no mosaico do tempo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 110

- O Mapa que levou os chineses ao novo mundo. – Completou

Bartolomé ao levantar-se contemplando o mapa e tendo um sorriso da

senhora revelando um dente de ouro na parte superior de sua boca,

reluzindo diante da luz da fogueira.

- Mais que um mapa – disse ela sorrindo e mostrando

inscrições em português ao contrário. – Mas um guia do tempo, os

portugueses foram os primeiros a tocar, mas viram apenas o espaço

onde chegar. No Litoral, ao norte há um navio chinês naufrago que

você deve encontrar. Nele há informações e informações valem mais

que qualquer lugar, pois são informações do tempo. A Partir desta

carta surgiram as demais cartas náuticas por aqueles que viajaram o

mundo na realidade procurando sua origem.

- Os chineses não queriam apenas colonizar e desbravar o

mundo? – Perguntou Pedro intrigado.

- Não, procuravam a cidade ancestral que surgiu após Pitah,

ao sul daqui. Pois lá eles poderiam encontrar o Elixir do Tempo onde

os tempos convergem. Algo que seu imortal Imperador teria dito aos

seus amigos de confiança.

- Mas então porque tenho que ir ao norte? – Indagou Pedro.

- Pois este mapa é apenas parte do conhecimento onde está a

cidade encrustara no interior de uma terra inabitada por homens

civilizados. – Disse ela enquanto Jopy via os ideogramas chineses por

todo mapa e uma estrela dos ventos estilizada deles. - Porém,

aproxima-se o momento de uma tempestade que cruzará os tempos

alinhando e sincronizando eventos do passado, presente e futuro onde

marchal encontrará temol em eventos comuns, um advento que tanto a

Ordem dos Ventos busca.

- Onde está no navio? – Perguntou ele e então a senhora

apontou onde estava um “X”, onde curiosamente ele haveria de ir em

breve, pois não obstante, não poderia mudar o curso de sua viagem.

Naquele momento então alguém bateu a porta e quando Jopy

levantou-se viu a janela ao lado quebrar-se. Bartolomé pulou do banco

desembainhando a espada assim como Jopy indo a seu lado e Gisela

enrolou o mapa entregando a Pedro, mas repentinamente uma flecha

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 111

atravessa a janela e vara o pescoço da senhora que cai ao chão

agonizando sem conseguir nada falar.

Jopy abre a porta e vai pra fora a procura do algoz e correndo

pelo escuro, aquele homenzarrão encontra um homem que apesar de

franzino demonstra-se bastante veloz e hábil para se esquivar dele.

Jopy porém, o encurrala e o agarra pelo pescoço e grita por Pedro.

Bartolomé chega correndo até aquele beco e vê o homem, que era

conhecido como dos bastidores da corte francesa, Renne Sanchez que

se esgueirava furtivo a aproveitar-se de cada fresta para atacar e tirar

conhecimentos o qual não lhe convinham, pois nem autor ou fiel a

seus preceitos era. O homem porém, ri e começa a falar quando solta-

lhe.

- Você é Pedro Menendez de Avilés, não? – Perguntou ele

como se não tivesse qualquer temor por estar invadindo o que não lhe

era pertence. – Joaquim, se lembra? Eu mesmo o matei, o degolei

como um porco.

Pedro não resistiu e lhe esbofeteou o rosto com força tirando

sangue de seu nariz, quando vários homens surgiram de cima, do

telhado lhe apontando arcos e flechas e então Bartolomé compreendeu

o porque de seu sorriso sarcástico.

- Solte-me ou todos nós aqui morreremos. E Jean Ribault

perseguirá até o fim do mundo os que sobreviverem.

Bartolomé olhou para Pedro e disse concordando que assim

deveriam proceder a fim de não levar a algum tipo de chacina. Renne,

soltou-se e se aprumou em sua roupa de seda colocando um chapéu de

navegador na cabeça e acenando para seus homens no telhado.

- Cruzaremos nossas espadas Pedro, mas não agora, não

agora, lhe virá nossa ira. – Disse ele debochando e saindo em direção

aquele estreito e escuro caminho até sumir nas nevoas.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 112

Pedro e Bartolomé voltaram correndo pra dentro da residência

de pedra e viram que a senhora estava jazida naquele lugar em meio a

seu sangue restando a Pedro procurar tudo que lhe dizia respeito para

proteger as memórias dela e guardar seu trabalho naquele tipo de

posto avançado da Ordem dos Ventos, em memória de Gisela

Montana o qual como bons cristãos tinham o dever de zelar pelo que

ela fez em vida.

Ao encontrar seu filho no porto, Juan estava adormecendo

sobre seu pulso, recostado sobre um caixote quando acordou com

Jopy diante dele manchado de sangue na camisa, o assustando.

- O que houve? O que aconteceu?

- Temos que ir, Juan. – Disse seu pai Pedro – Vamos, entre no

barco e vamos retornar a embarcação, antes que sejamos associados ao

crime que fizeram.

Não questionando seu pai ao ver que haviam motivos

justificáveis para aquilo, fosse o que fosse que tivesse acontecido.

Todos entraram no barco enquanto o negro carregando uma série de

papéis os protegiam das águas que saltavam como ondas com o remar

do barco de madeira. Numa ultima olhada para trás Bartolomé viu no

chão um desenho incrustrado com as direções dos ventos para os

navegantes diante dos olhos de todos, mas decifrável apenas aos justos

e furtado apenas pelos malévolos.

Adentraram a embarcação, e imediatamente aportaram a

encontrar sua frota que não estava muito longe dali. Pedro pediu para

que o marujo lançasse as medidas de nós a bombordo para que

conseguisse ter ideia se estavam navegando e a que velocidade, uma

vez que o termo “lugar” no mar era ambíguo, pois as águas sempre

estão em movimento. Jopy imediatamente tirou a camisa manchada de

sangue e gritou para que seus amigos cooperassem enquanto as velas

eram estiadas ante o vento que soprava indo em direção ao leste.

Pedro viu seu filho Juan, que aprendia velozmente como navegar

orientando os homens no mastro enquanto ele próprio guiava a

embarcação. Pouco tempo se passou e as esparsas luzes da cidade de

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 113

postes iluminados com óleo de baleia ficassem tão tênue que deram

lugar as estrelas como guia mais preciso naquele momento.

Todavia um homem do alto do mastro principal notou algo

surgir no horizonte ao adentrarem o mar aberto poucos minutos após.

Nuvens que vinham em direção a eles numa velocidade incomum

demais para ser uma mera tempestade. Pedro pediu para que seu filho

tomasse a direção do navio o conduzindo a direção correta enquanto ia

ele mesmo verificar. Primeiro Bartolomé confirmou as distâncias e

posições com seus equipamentos habituais como um sextante, e então

Pedro resolveu tirar a espada e ele próprio subir o mastro com uma

luneta a fim de observar o incomum fenômeno atmosférico.

Ao chegar no alto o homem dele parecia legitimamente

assustado com aquilo, ainda que fosse um experimentado marujo de

inúmeras viagens da frota espanhola a serviço da coroa. As nuvens

vinham se espalhando e gradualmente iam tomando o céu a sua frente

quando alguns esparsos raios iluminaram o horizonte e o vento

repentinamente cessou como esperado por ele.

- Senhor. – Disse o marujo – temos que mudar o rumo, ouvir

falar disso no mar do diabo, embarcações ficaram presas por dias

numa calmaria e relataram coisas indescritíveis a qualquer navegador

experimente.

- Negativo, vamos manter o curso. – Insistiu Pedro.

- Mas senhor, o que vimos é que embarcações até mesmo

desapareceram nestas mediações, encontramos uma fragata deserta,

completamente a deriva como se todos tivessem dela saído. –

Retrucou o marujo querendo em seu íntimo até mesmo pular ao mar e

nadar de volta ao litoral.

O Barco seguiu ainda que o vento estivesse tão escasso de

modo que as velas mal se moviam até que eles simplesmente pararam

num silêncio tão estressante que deixaria até mesmo o mais experiente

dos experientes navegadores tenso com a calmaria que sucedia

naquele momento. Pedro desceu o mastro e perguntou se seus homens

estavam alimentados, pois pelo jeito lá permaneceriam por longas

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 114

horas, ou até dias, até que o vento tornasse a soprar tendo apenas

como uma sinfonia o ranger das madeiras do navio. Todos foram

dormir, deixando apenas dois guardiães a vigiar a proa do navio e um

no alto do mastro e tudo seguia tranquilamente entre um ranger e

outro até que um grito despertou Pedro nas primeiras horas do dia

quando os raios solares com grande esforço rompiam parcialmente a

densa nevoa sobre eles que não permitiam conhecer nem a posição ou

velocidade que se moviam pelas correntes marítimas.

Pedro colocou sua blusa de manga comprida de qualquer jeito

e ajeitou se chapéu subindo aos tropeços ao sair de seus aposentos,

fazendo seu filho levantar a cabeça assustado com o levantar de

supetão do pai. Lá fora, Bartolomé visivelmente com sono se

aproximava também saindo de seus aposentos ajeitando o quepe e

olhando para o alto do mastro onde um garoto apontou para uma

direção em meio a nevoa cuja brancura parecia perpetua e medonha.

- Vi algo se mover, era grande como um navio de tesouros. –

Gritou o jovem assustado.

- Chame Jopy. – Disse Bartolomé – Vamos mandar um barco

em direção aquilo.

Bartolomé tonto de sono seguiu para dentro da embarcação

enquanto Pedro pegando uma luneta viu de fato um vulto parar em

meio a nevoa a um quilometro de distância. Assustado com o que

seria, pois não poderia ser qualquer animal como baleia, ele pediu para

que seus homens se levantassem e fossem para seus postos temendo

ser algum tipo de ataque, e assim fez o cadete.

Poucos minutos depois Jopy estava pronto a descer a

embarcação ao mar junto a mais dois homens, pois Jopy era homem

de confiança de Pedro. Ao adentrarem, Juan que agora estava

igualmente intrigado deu-lhe uma luneta para observar o que seria

aquilo parado, pois a forma não se assemelhava a nada conhecido, e

assim fizeram remando em direção a embarcação até eles se

mesclarem as nevoas e águas. Passou-se então longos minutos de

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 115

silêncio e contemplação dos homens no navio enquanto Pedro

revessava a luneta com Juan e Bartolomé.

O barco adentrou a nevoa deixando-os na expectativa até que

viram ao longe o barco se movendo novamente em direção a eles, com

os remos se movendo e gradualmente ganhando forma até que viram

Jopy acenando para eles quando o vulto em meio a nevoa se moveu

subitamente virando-se e desaparecendo de vez em meio ao nevoeiro

denso.

- Podem ser piratas, corsários saqueadores senhor, existem

vários por aqui, o caribe está infestado. Talvez tenham aqueles barcos

a remo. – Sugeriu um marujo.

- Não existe barcos deste porte com remos meu caro. –

Respondeu Pedro olhando pela luneta a expressão de Jopy no barco,

agora remando apressadamente em direção a eles até que ao chegar

tocar no navio lhe jogaram cordas e puxaram os homens pra cima.

Bartolomé e Juan desceram até eles para recebe-los e

perguntar o que aconteceu para estarem tão assustados como estavam,

e então Jopy ofegante e suado por longos minutos remando disse.

- Vi um barco grande, mas como de ferro, e nele os detalhes

estavam com ferrugem, era cinza e tinha canhões apontando para os

céus. – Respondeu o negro que pelo suor sua testa reluzia.

- Loucura! Impossível metal boiar sobre as águas. -

Respondeu Bartolomé - Não vou nem relatar esse delírio alucinado.

- O que está acontecendo? – Perguntou Pedro descendo até

eles.

- Nada Pedro, acho que é um engano, talvez um delírio de

homens exaustos. – Respondeu Bartolomé.

- Mudaram o rumo, acho que não vão nos saquear mais. –

Disse Juan – essas bandas está cheia de gente primitiva como o lodo

de águas apodrecidas.

- Fora real senhor, eu juro! – Insistiu Jopy vendo um de seus

homens concordarem, mas receosos.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 116

Jopy ficou perplexo, pois a imagem que vira não lhe saiu da

cabeça assim como a de seus colegas, porém, por considerarem

absurdo ignoraram eles aquilo como sendo algum tipo de miragem.

Pouco depois as nevoas começaram a dispersar tão velozmente

quando começaram até que o vento começou a soprar novamente

movendo as velas e permitindo Pedro seguir seu percurso como se

nada tivesse ocorrido.

Passou-se o tempo e Pedro e seu irmão e filhos retornaram a

Espanha a serviço da coroa do Rei Felipe II a espera do momento

oportuno para em fim procurar o que desejavam com aquele mapa

deixado por Gisela antes de ser morta por aqueles primitivos algozes.

O ano era 1561 quando rumores começam a pairar inicialmente como

fuxico de que Pedro e seus parentes estariam relacionados ao

contrabando e até pilhagem.

Numa noite enquanto Pedro e Juan preparavam-se para dormir

ouviram algo bater a porta o que fez Pedro ficar perplexo por não

receber visitas aquela hora. Juan se dirigiu a porta e ao abrir notou ser

oficiais da coroa para prender Pedro por contrabando. Juan tenso viu

que as acusações eram vazias e injustificáveis e notavelmente Pedro

sentiu o dedo de alguém malévolo nisso contra todas provas e

evidências, estavam tramando contra ele.

Pedro Menendez de Avilés seguiu a lei estipulada o qual

nenhum dos homens, quer de patente ou de posições estariam imunes

a arbitrariedades de seus dolos ainda que sendo aliado e escudeiro fiel

do rei Felipe II, e assim sucedeu que nos dias seguintes fora inquerido

as cargas, posições e até mesmo os períodos de navegações de toda a

frota o qual ele comandava. Bartolomé tentou intervir a seu favor

conseguindo melhores condições para seu irmão até que ele obteve

uma transferência de seu caso ao tribunal a conceber que não havendo

evidências factuais de contrabando o juiz sendo clemente e imparcial

o libertou.

Ao se retirar do tribunal Pedro vira um homem que de longa

data conhecida Noah Marchal que apesar de não vê-lo a tanto tempo

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 117

olhou para ele com discrição e ao cumprimenta-lo tirou uma envelope

do bolso a entrega-lo e disse.

- Eles estão se infiltrado aqui. Estão conspirando contra o

senhor, querem tirar-lhe tudo que conquistou por mérito próprio, e

mais, o que lhe tem por designo.

- Quem está fazendo isso? – Perguntou Pedro.

- Quem te confrontou no Caribe, o algoz de Joaquim. Siga as

instruções da carta que nos falaremos melhor. – Respondeu Noah.

Pedro adentrou a carruagem onde dentro estava seu filho Juan

e seguiram até sua residência em Astúrias enquanto ele abria a

correspondência e leu com atenção o que ela dizia.

Ventos malignos sopra contra bons ventos da verdade. Nuvens

tenebrosas se formam no horizonte, as águas se agitam. Tema

até mesmo a calmaria, pois no silêncio a conspiração se

anuncia.

O Rei Felipe II ficou alarmado ao receber um relatório do Dr.

Gabriel de Enveja a que nos serve de que tal trama devora as

entranhas francesas rumo a nossa direção. Há sangue e

adulteração em seu caminho, Jean Ribault tem ciência, ainda

que ilícita de nossos conhecimentos e tomou sorrateiramente o

título de "capitão-geral e vice-rei da Nova França", e apressa

em mover navios em direção a Flórida, direto de Dieppe com

soldados e materiais. 500 arcabuzeiros, incontáveis canhões

de bronze. Fica a seu encargo convencer o Rei da urgência de

proteger tais terras alegadamente, pois o que Jean Ribault

deseja são os caminhos não meramente da China, mas para os

conhecimentos chineses. Ele quer catar as pistas deixadas

pelos orientais para chegar ao conhecimento e domina-lo.

Encontre-me as 14:37 em Covadonga, donde a fonte da

verdade que lhe criou jorra.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 118

Ao ler aquilo, concebeu Pedro que não havia qualquer

legitimidade a não ser furtiva nos atos de Jean Ribault assim como de

seu capataz Renne Sanchez, a sorrateiro visavam tomar

conhecimentos que não lhe foram conferidos como impostores

perigosos que alcançaram posições de poder em tempos importantes.

Marchal, interior da Espanha

Horário de trevas quase perpetuas não fossem pelas luzes dos postes

da estrada por onde cortava o carro de Zaira em velocidade alta até o

destino conferido a eles quando finalmente visualizaram as primeiras

edificações daquele antigo e subestimado local, que sobretudo era

relacionado ao tempo por si só. Petrônio havia tombado para o lado

dormindo encostado sobre o vidro fechado da janela quando eu

acordei com o parar súbito do carro no município de Granada. Zaira

encostou por alguns minutos em silêncio a conferir a internet no

celular quando os raios do alvorecer começavam a brotar tímidos no

céu e sendo anunciado pelo canto encantador de pássaros locais.

Petrônio acordou para perceber que estava praticamente babando

sobre seu ombro quando Zaira sorriu a ele anunciou ao ver um homem

sair da residência indicada no papel, deixado debaixo da estátua de

Pedro.

- O lugar certo no tempo certo? – Perguntou ele.

- Tempo certo não sei. – Disse ela guardando o celular no

bolso da jaqueta. – Mas as coodernadas espaciais ao menos batem.

Zaira abriu a porta e viu uma senhora ir até a varanda sentar-

se numa cadeira na mesma residência e os viu saírem do carro.

Petrônio e eu seguimos Zaira ainda que temendo que suspeitassem de

visitas aquele horário. Deixei que ela fosse a frente pois uma mulher

daria menos temor ainda que fossemos estrangeiros para eles, porém,

para minha surpresa a senhor sorriu para gente e acenou com a mão

dizendo bom dia.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 119

- Bom dia, minha senhora – disse Zaira fazendo um sorriso

ensaiado. – Me perdoe incomoda-los tão cedo, mas gostaria de fazer-

lhes algumas perguntas.

- Sem problema. – Respondeu a senhora enquanto o homem

que estava saindo de lá olhou para trás e para eles. – Vos aguardava a

muitos anos pra ser sincera.

Aquilo deixou-nos perplexos, pois a senhora que a despeito da

idade parecia tão austera a falar coisas coincidentes com o que

queríamos.

- Como a senhor se chama? – Disse Zaira chegando a varanda.

- Josefa Solidad Temol. Presumo que vocês encontraram um recado

muito antigo aos pés do bom e velho Pedro. – Completou ela sorrindo

cordialmente.

Zaira virou-se para Petrônio como se inquerisse com o olhar

se ele conhecia aquela mulher de algum lugar, mas fora negado por ele

ao balançar a cabeça. Fomos então nós para dentro do lar da senhora

tão convidativa e nos serviu café e até mesmo um desjejum abençoado

com ovos, leite e bacon. Havia um espelho retangular no lado oposto

da cozinha.

- Vocês têm a mais importante pergunta de todas, mas o que é

a pergunta sem a resposta? – Disse a senhora sentando-se numa

cadeira com um vestido longo. – Certamente se perguntam o que

levou tal cidade aparentemente insignificante ganhar esse nome de

batismo. Mas esta pergunta é apenas a virgula da pergunta central.

- Acho que a senhora lê pensamentos. – Disse Zaira quando a

senhor se inclinou sobre ela e pegou a mão dela e viu a tatuagem e

disse.

– São ventos e há ventos, mas quais ventos são os bons?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 120

Zaira virou-se para Petrônio que apesar do sono agora estava

muito atento ao que a senhora dizia inicialmente em aparente enigmas

e continuou.

- Há o ladrão de respostas e a verdade sempre a espreitar, pois

quando tiram o porque deixam apenas a pergunta. – disse a senhora

pegando um pouco de café e dando um gole - O pior ladrão de

respostas é o que tira o 'porque'. Mas como se diz, se você ver algo

sem permissão assuma as consequências como quem comeu dum fruto

sem lhe ser dado ou permitido.

- A Ordem dos Ventos acertou ao alvo, eu sinto isso do futuro.

Mas também fora vítima de si próprio. De um lado Nostradamus fiel

aos seus preceitos conseguiu intuitivamente extrair seus

conhecimentos parcialmente das águas, mas como o tempo a água

sempre cria flutuações. Mas de outro lado Nietzsche viu nos ventos o

caos, não o destino, como os Inaturam. Mas agora com o que criaram

como tecnologia de tal ciência, tudo se torna mais perigoso.

- O código da Hidrocriptografia. – Concluiu Petrônio – como

a senhora soube disso? A senhora é da Ordo Christianita ad Ventus?

- Nas cidades pequenas os rumores são precisos. – Disse a

senhora rindo. – Ou não. – Completou.

- Podemos decifrar relações indiretas de uma sincronidade e

assim ligar a eles como responsáveis pelo aparente de acidentes e até

mesmo prevê-los.- disse Zaira. – Possibilidades infinitas.

- Mas estes tomem cuidado. Eles vão arrombar as portas para

fechar as portas para você. Como todo mal faz. – Completou Josefa. -

Os milagres precedem Deus, a aflição e medo o diabo. Ninguém é

dono da disciplina que estuda, mas autor do que cria, mas os

impostores se exaltaram sobre tudo isso e contra toda verdade.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 121

Ato VII

O Mestre dos Tempos

e os Peregrinos do Destino

"Um vento ruidoso rompeu os portões; assoviando, gritando e

lamentando, ele lançou um caixão negro diante de mim.

E entre o ruído e assovio e grito, o caixão se abriu e jorrou mil

gargalhadas.

O discípulo que interpretou o sonho disse a Zarathustra:

Você não é o vento com assovio estridente, que abre os portões da

fortaleza da morte?

Você não é o caixão preenchido de vida com malícia alegre e caretas

angelicais?"

Nietzsche

oram alguns longos minutos travados naquele dialogo com a

simpática senhora afeições europeias que tinha em torno de seus

quase 70 anos. Incrivelmente intuitiva ela tinha capacidade de

deduções velozes a cerca de muitas coisas o qual ocorriam no mundo

naquele momento ainda que com suas crenças ela acreditasse ser

capaz de decifrar padrões que indicassem pelo clima as direções que

poderiam tomar os eventos que se seguiam. Naquele momento ela

parou e virou-se diante do espelho e disse.

- Intrigante o nome da cidade criada do presente deles para

Marchal, e de nosso presente para Temol, por isso meu nome. São

espelhos, meus caros. Tudo que faço são deduzir reflexos que os

ventos indicam as direções. Vejo variações para suas escolhas, todavia

as escolhas que tomarem criará variações muito opostas. Fiquem

cientes, pois - disse ela - Liberdade é conhecer a verdade de todas

F

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 122

alternativas vindouras mediante a escolha totalmente consciente do

curso a ser tomado.

- A senhora é como um oráculo dos ventos. – Sugeriu Petrônio

impressionado. – Por acaso és descendente de...

- Noah Marchal. – Concluiu ela sorrindo. – Neto direto do

fundador desta cidade, onde secretamente algumas famílias que

acreditavam ter descendentes comuns a guardaram para o seu futuro,

nosso presente. São descendentes dos sobreviventes de Pitah, pois

saquearam não todos seus conhecimentos, alguns fugiram com seus

segredos. Algo que Pedro, seu descendente – disse ela apontando pra

mim. – Teve acesso. – Por isso vocês aqui vieram.

Os viajantes que atravessaram meia Espanha para lá chegar

como peregrinos ficaram legitimamente intrigados com o que seria

este livro quando a senhora pediu para que os acompanhassem a parte

de trás de sua residência tradicional.

- Se algo que aprendi com o tempo é não confiar nos mais

experientes, pois a experiência pode ensinar, mas também corromper,

Salomão é um deles! – Disse a senhora caminhando lentamente e

passando por frente a um celeiro com bovinos e cavalos e seguiu

falando. – O conhecimento da verdade e a intuição mais valem.

- Quais as famílias que se uniram com uma origem comum? –

Indagou Zaira. – O livro fala sobre elas?

- São várias as famílias, mas a herança comum as unem de um

matriarca comum e sua identidade é serem perseguidos sempre, pois

os tiranos dominadores confundem dominação com destino, mas seus

atos são de escravidão como algozes. Os tolos bebem da água dos

tempos mas apenas contraditoriamente como espaçosos a se afogar da

água do mar, pois na verdade nadam na mentira sem nenhuma verdade

a chegar. Água e areia, vira lama. – Completou ela em seguida abrindo

uma edificação de tijolos de pedra notavelmente muito mais antiga, a

mesma onde Pedro frequentava séculos atrás.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 123

Josefa parou diante da porta após passar por um portão menor

e tirou uma chave do bolso, uma chave dourada com o símbolo da

rosa dos ventos de um lado e um ‘sete’ de outro. A senhora encaixou a

chave na fechadura e então girou lentamente fazendo o barulho de

trincado e assim a porta ficou sem a trava.

- Muito melhor a porta ao pedágio, a porta é a quem tem a

chave, o pedágio a quem tenha dinheiro. Há muito tempo – disse a

senhora acendendo uma luz improvisada dentro da edificação - Um

homem que com o conhecimento da Ordem dos ventos tentou matar

vários familiares dos membros. – Queriam nos fazer afligir. - Mas se

aflição fosse divina, o inferno seria o paraíso, e o masoquismo

doutrina, mas é uma permissão divina ante a provação do homem ou

por sucessão de se ter provado o fruto proibido, é alerta da

degeneração da carne, porém, nada mais se adequa mais ao divino que

o prazer lícito, correto, a cartasse divina em sua inspiração é

prazerosa. Mas isso é fútil como discutir o sexo dos anjos, tolos

conversam tolices como a sexualidade alheia.

Quanto eles entraram no lugar haviam velhas prateleiras que

antes estavam repletas de livros e pergaminhos, mas agora

apodrecidas nada havia a não ser alguns itens esparsos, o que fizeram

eles ficar sem compreender o que ela queria mostrar de fato, porém,

ela moveu um caixote e então tirou uma tapeçaria e viu-se uma

portinhola por de trás da estante e ela olhou para mim e para Petrônio

e pediu para arrastarmos.

Assim fizemos mais movidos pela curiosidade do que por

vontade de fazer esforço aquela hora da manhã, quando Petrônio

perguntou.

- A senhora soube que veríamos hoje?

- O tempo como o clima sempre muda, um ano, uma década,

ou um dia, sempre tive certeza de que viriam para este momento.

Como disse não vejo o futuro, mas o sinto, e sinto o agora, neste

momento. - O melhor tempo não é o medido, mas sentido. Refletimos

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no tempo, pois do agora não podemos conhecer marchal, somente com

a fé projetamos pelo tempo que me reflete o conhecimento.

Ao abrir a pequena porta um cofre guardava algo que ela

moveu os números habilmente até abri-lo e de dentro tirar algo

enrolado num pano de seda. A senhora colocou-o sobre uma caixa

grande que estava no chão e então o desenrolou e entregou nas minhas

mãos dizendo.

- Na hierarquia genética você é o próximo herdeiro natural

desperto.

- Sinto-me honrado, mas... – retruquei eu de modo tímido,

mas ela insistiu.

- Pegue, o tempo é curto. – Colocou ela o livro nas minhas

mãos e disse - Há um olho mal lhe observando, querendo tragar seus

conhecimentos e vomita-lo em contradição. Se resigne de chorar no

solo infértil do mal, pois de suas lágrimas nele nascerá apenas

espinhos, mas a eternidade apenas abrirá as portas para os retos e

sinceros. Temas os que plantam rosas apenas para lhe dar os espinhos,

pois são os mesmos que coroaram a Jesus e não como Rei dos reis.

Abri o livro em minha frente, era como um tipo de diário do

próprio Pedro onde descrevia suas viagens e parte de um livro assim

como uma carta feito num papiro muito antigo onde falavam coisas

incríveis como.

Do mapa que tive em mão vieram as cartas de Pire Reis. Mas

os 32 ventos sussurram-me veladamente segredos inefáveis

que um dia serão ditos abertamente num coral da verdade, dos

nomes marginalizados pelos maus, e seus atos

correspondentes de importância ao mesmo. A ti esta carta, o

filho de minhas sementes que com o tempo fomos separados.

Intrépido e perseguido são suas marcas, rejeitado são seus

convívios e genial sua dedução, justo a nadar nas lamas dos

que alimentam abismos com as carnes dos inocentes em

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 125

tempos servis. Negado e ignorado, tapete, dos perversos, mas

esperança dos retos e justos.

A ti esta carta, pois tens a marca do destino que são tais

traços, ante a anomalia que até mesmo tentou impedir seu

nascimento e fazer pó seu destino, mas sua obra lhe testifica

no tempo em que o que cremos se tornar ciência e dela prática

como nossos objetos, é o tempo que os Malignos vão se

engrandecer e descarta-lo pela mentira e discriminação.

Porém, sua luta é minha batalha, ainda que separados pelo

tempo, Marchal e Temol se encontram e o destino nos dá as

mãos. Vi sua face e sorri diante dela, ainda que Cronos me

alcance e não tenha tocado as terras de sonhos, a ti reservo

esse segredo como ao filho meu que dela zelou séculos antes

de ti.

Como a chave abra o destino e cerre o caos em suas mãos para

que a mazela não triunfe, pois, os homens demônios o

devorarão assim como seus conhecimentos para neles se

exaltar em engano, ultrapassei a sabedoria destes a partir do

momento que me furtaram, assim como anseia tirar nosso

futuro que é o destino. Porém, o destino a ti é fé, para mim é

fato, mas juntos compreenderemos. Amargo estou, mas do

doce provei e do salgado salguei, pois agora completei meu

destino a transmiti-lo a ti.

Pedro Menendez Zuzarte de Avilés, 25 de setembro de 1574

Ao finalizar aquela leitura com Zaira e Petrônio ao meu lado

debruçando-se sobre mim me identifiquei subitamente com tudo o

quanto ele falava como se fosse diretamente endereçada pra mim,

meus olhos se encheram de lágrimas sentindo uma vontade

incontrolável de conhecer aquele homem que mesmo sendo imperfeito

e cometendo equívocos era preciso e audaz na busca por seu destino e

dando o mesmo a vinda ao mundo tão sem significado pelo que

padecia.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 126

- Não viemos para acabar, mas a indicar o começo, orientar,

pois o livre-arbítrio são as bases de todas flutuações e quem pode tira-

lo senão o mal? – Disse Josefa sorrindo pra mim - Não só de pão

viverá o homem, mas de toda palavra que sair da boca de Deus, pois a

do diabo apenas acaba, a ele ambiciona selar a liberdade como a dele

fora selada pela condenação de tirar a verdade ao mentir.

- Muito obrigado pelas palavras, assim sendo me envia

palavras divinas como as de Deus. – Disse eu virando as demais

páginas e notando desenhos e descrições como a de que ele encontrou

aquele lugar deserto após sua viagem as Américas.

- Mantenha os pés sobre o chão do lugar espacial, e a

consciência no tempo. – Disse ela e seguiu – Lembre-se, sabedoria

sem prática é pela metade, sabedoria pela metade é o engano. Quanto

a vocês sei que não lhes respondi todas vossas perguntas, nem a mais

importante delas, porém, deixarei que os ventos lhe tragam tais

respostas. São hábeis e despertos para decifrar o que eles dizem.

Astúrias, Espanha. 28 de agosto de 1561.

Conseguindo uma concessão do rei Felipe, Juan, intrigado com o

mapa em posse do pai resolve partir em navegações as Américas a

procura dos indícios referidos temendo que franceses o encontrassem

antes. Acreditando tratar-se de mais uma expedição de policiamento

da região e identificação de pontos críticos, a corte espanhola

prontamente patrocinou o embarque imediato de Juan Avilés e sua

tripulação a cruzar o oceano Atlântico deixando seu pai a par apenas

dois dias antes do embarque a águas oceânicas. Jean Ribault, por sua

vez armava planos astutos para alcançar o mesmo fim tendo em posse

conhecimentos análogos em semelhança ao deles por infiltrações entre

chineses e até mesmo de alguns membros de algumas das famílias da

Ordem dos Ventos, visivelmente Jean Ribault queria mais do que o

domínio das terras do ‘novo mundo’ mas a busca mítica por algo que

ele particularmente acreditava ser a água da vida que seria o Elixir de

Kairos como “peça chave” em toda concepção alquímica que alguns

dos seus derivavam, porém, por concessões financeiras da corte

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francesa seus planos igualmente estavam limitados as permissões da

realeza por dependência financeira da coroa.

Juan partiu deixando seu pai detido na Espanha até segunda

ordem da realeza quando com os meses se passaram e sem respostas

da viagem do filho, até que uma mensagem inesperada lhe veio com a

notícia de que o navio de Juan teria desaparecido ou naufragado nas

mediações da Flórida. Sem compreender o que poderia fazer naquele

momento, Pedro convocou uma audiência imediata com o Rei Felipe

II e assim o encontrou num dia de céu azul e bons ventos, perfeito

para navegações. Pedro inicialmente pediu permissão a outros

membros da realeza não sempre receptivos e cordiais e assim o

negando.

Pedro passou pela entrada do castelo da realeza sendo

cumprimentado pela guarda real mediante suas altas patentes num

cargo conquistado por méritos de batalha. Com seu uniforme a

demonstrar formalidade, Pedro estava imponente com suas divisas e

medalhas quando um homem pomposo surgiu diante dele e abriu a

porta pedindo-o para entrar num enorme cômodo ornamentado com

pedras nobres e objetos de valor vindos diretamente da Índia e África.

O homem o seguiu anunciando a presença de Pedro e em seguida

agachou-se diante de onde o rei estava sendo barbeado por um homem

de bigode pontudo e num cumprimento exagerado com as mãos e

curvando-se a este o homem que anunciava Pedro retirou-se do recinto

deixando-o lá.

O rei Felipe estava de costas inclinado para trás enquanto do

outro lado havia um menino tocando violino e uma mulher muito

formosa arpa. Havia uma bacia de água e por uns instantes Pedro

olhou-a instintivamente quando o barbeiro colocou suas mãos nela

para limpar o sebo de pelos faciais que retirava do rosto do nobre rei.

Como partidário deste em seu trono, Pedro tinha boa reputação ainda

que visivelmente o incidente de tempos atrás quase o manchasse pelas

acusações de contrabando, mas nada que impedisse uma quase

amizade particular com o rei espanhol que lhe sorriu inclinado virando

os olhos a vê-lo de relance.

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- Quais as novas Pedro. – Disse o rei enquanto o homem

passou mais uma navalhada em sua face. – Infelizmente fiquei ciente

sobre seu filho.

- Sobre isto venho lhe falar nobre rei, ainda que

compreendendo ter entregue a frota do tesouro. – Respondeu Pedro

tirando um quepe da cabeça em respeito a sua alteza e inclinando-se

levemente a ele. – Concebendo ser um homem justo e afamado por

sua imparcialidade ao colocar seus decretos, peço-lhe permissão a

concessão de seguir os interesses da coroa e procurar meu filho e

demais entes queridos.

- Soube que negaram a ti isto, por isso veio até mim. Natural

para um pai assim desejar, e não proponho o oposto, nobres reis

aprendem com a natureza, não a contrariando, é a família, é a natureza

da maioria dos seres, inclusive do homem, caso contrário não

haveriam reis. – Respondeu acenando para que o barbeiro parasse e

ele pegou uma toalha de rosto e enxugou-o. - Mesmo quando caço

coelhos não ataco seus filhotes, é imoral a um homem atingir o futuro

que são os filhos. Mas Jean Ribault, é homem de vida fácil e tem me

incomodado muito, ele nada constrói apenas tira. – Continuou dizendo

ele levantando-se e virando-se diretamente a Pedro após entregar a

toalha ao barbeiro. – Algum impostor ainda que consiga galgar postos

elevados continuará sendo apenas impostor, a consequência disso, a

história fala por si, e mesmo tu sendo de nobre estirpe assim concebe.

Permito-lhe que vá Pedro, mas pegue dois coelhos numa só cajadada

quero que alcance Jean Ribault e impeça ele de colonizar aquelas

terras.

Pedro Menendez inclinou-se em reverência agradecendo a

confiança e bondade recebidas, mas ao dar as costas Felipe falou algo

mais.

- Espere. – Disse Felipe – Rumores rondam minha casa sobre

intrigas que vagueiam pelas sombras e de ventos sussurrantes a

respeito da origem das acusações que lhe vieram. Mesmo os pássaros

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me parecem mais sinceros do que estes ao cantar pela matina. O que é

verdade ou mentira, Pedro?

- Nem tudo se diz, e tudo que se diz nem sempre é verdade. –

Respondeu Pedro.

- Não estais sendo insolente comigo não? – Respondeu Felipe

– Para mim não quero segredos, eles estagnam e matam, considere

isto com um teste de sua fidelidade a coroa, pois muitos reis assim são

derrubados.

- Me perdoe se assim soou insolente, alteza – respondeu Pedro

– Como poderia desafiar a quem o temor precede a justeza? Mas entre

fuxicos mais identificáveis são a mentira, Jean Ribault estais entre

estas vozes, creio ele ter espiões pelas mediações, mas contatei

Gabriel a fim de conseguir conter melhor isto. Os interesses nisto lhe

são óbvios. Conheço quem criou o perdão, mas quem ensinou o

homem apontar o dedo certamente fora o diabo!

- Perfeitamente. – Respondeu Felipe não notando que havia

algo mais por de trás dos interesses e conflitos dos dois navegantes. –

Porém, entre tais fuxicos não me é muito identificável onde começa a

mentira e termina a verdade. Espero no retorno podemos combinar

caçar coelhos.

- Claro alteza. Certamente será um prazer. – Repercutiu Pedro

sorrindo e assim o cumprimentando a se retirar.

Pedro ao sair pelo corretor viu aquele homem cujo oficio era

ser puxa-saco oficial da realeza com sua peruca com cabelos

enrolados e todo emplumado num traje rigorosamente luxuoso. O

homem o cumprimento com a formalidade exageradamente irritante e

seguiu em frente colocando o chapéu na cabeça quando Pedro decidiu

ir até uma fonte o qual Noah Marchal havia passado a alguns dias para

encontra-lo antes de partir ao novo mundo novamente. O homem era

um dos mais antigos lideres da Ordem dos Ventos, chamado por

Solomon Pellegrin, o qual atribuía-se um posto de proteger

conhecimentos relacionados ao tempo onde comumente entre os

membros e as famílias da Ordem era tido por Mestre do Tempo, a

instruí-los e guia-los.

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Ao ir para o exterior uma carruagem aguardava Pedro e

imediatamente ele instruiu o cocheiro com um bilhete a seguir ao

lugar designado por Noah em pessoa e assim o homem fez.

Naturalmente que Pedro tinha conhecimentos muito avançados ao se

tornar portador da biblioteca secreta, de modo que hierarquicamente

se tornou um dos títulos mais elevados dentro da Ordem, algo

conferido a poucos, pois o que isto determinava era estritamente o

conhecimento de algo que somente, segundo estes, poderia ser

revelado na integra no futuro com o advento, quando a Ordem não se

tornaria mais necessária por atingir o alvo que era o destino.

A carruagem seguiu por dentre ruas entre feirantes e

vendedores e escravos, adentrou ruelas e passou por praças até que

chegou no que seria uma vila no interior de Astúrias onde Pedro tinha

ciência de vínculos. Ao adentrar o lugar o cocheiro fora parado por

dois homens de guarda e informou quem carregava lhe entregando o

bilhete e assim estes liberaram. Pedro abriu a janela da carruagem e

viu no centro da vila como uma praça, algo similar a um relógio de sol

e dois garotinhos brincado ao seu lado.

Ao parar ele abriu a porta e desceu indo até o relógio quando o

homem que estava na portaria adentrou uma da casa e levou alguns

segundos até sair com um senhor de barbas brancas caminhando com

vestes cumpridas de seda. O senhor acenou para as criancinhas que se

retiraram adentrando como se soubesse que ele queria ter privacidade

naquele momento.

- O senhor é Solomon Pellegrin? – Perguntou Pedro tirando o

chapéu militar e tendo um aceno positivo dele.

O senhor se aproximou do relógio de sol quando ele já estava

baixo e as horas quase não mais eram vistas e disse a Pedro.

- Sou um dos senhores do tempo, o das intepretações

originais. Fico muito feliz por conhece-lo, esperei por muitos anos até

este momento de vê-lo preparado ao destino. A dadiva do tempo é a

paciência, porém com ela também vem Cronos que me alcançou. Por

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muitos anos fui guia dos ventos a seus rumos, e no suplício do espaço,

o tempo é parte da tortura. Mas só estudo o espaço para compreender

a ação do Tempo sobre ele. – Disse o home sentindo o peso do tempo

sobre si pela idade. - Não terei muitos tempos mais pela frente, meu

Marchal em breve se tornará temol.

- Como posso ajudar o senhor? Fico igualmente honrado em

conhecer quem orientou minha instrução por anos sem conhece-lo. –

Perguntou Pedro sentindo se tratar de um homem a despeito do

conhecimento, estar moribundo.

- O conhecimento que tens em mãos muda as rotas de

comércio do mundo assim como a centralização de poder, ou seja, o

rumo natural a história que antes fora colocada nas mãos dos chineses.

– Respondeu o senhor e então seguiu – porém, engana-se que foram

por si só, eles igualmente receberam instruções e um mapa igualmente

anterior. 10 anos depois um vazamento que teria levado os chineses ao

descobrimento o faz ir numa missão a América, descobre que alguns

deles haviam furtado o conhecimento junto a alguns templários, que

foram para a América em 1300, supostamente em Oak Island, no

Canadá.

- Quem passou os conhecimentos aos chineses? – Perguntou

Pedro intrigado.

- Os mesmos que escreveram muitos dos livros que lera, com

descrições de mapas do futuro.

- Herdeiros do Destino, sobreviventes de Pitah. – Concluiu

ele.

– Apesar de sua cidade ter sido aniquilada e saqueada eles

protegeram o que mais importava, conhecimentos do futuro em

comparação ao movimento dos astros - disse o senhor – histórias que

compreendem todo um espectro de linearidade da humanidade.

- Herdeiros de Seth. – Disse Pedro. – Nunca consegui

acreditar nisso.

- Os sinais testificam suas famílias, protegemos o futuro da

humanidade sobre todas variações. Não somente a ordem natural dos

acontecimentos que só se transtornou em ciência deles, tanto quando

de informações pertinentes a descobertas futuras. – Completou o

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senhor olhando o relógio em suas sombras se tornando tênues com o

entardecer.

- Como a do novo mundo. – Concluiu Pedro tendo um aceno

de Solomon Pellegrin e um sorriso.

- Concebe então compreender de onde viera o mapa dos

chineses. – Continuou a sorrir o senhor.

- Mas isso significa que já houve uma distorção da

linearidade. – Completou Pedro olhando ao lado igualmente vendo

que a sombra estava sobre as 17 horas.

- Mudar o tempo o menor tem o poder, mas mudar o destino é

como mudar o curso de um rio, o destino é a correnteza mais forte do

universo. – Completou o senhor então ajeitando suas vestes com o

vento que veio balançado as plantas e seguiu - O Futuro é um cavalo

feroz dominado apenas pelas rédeas do destino. A Ordo Ad Ventus é

seu cavalheiro.

- Mas como isso desviou o curso? – Indagou Pedro intrigado.

- Porque o Destino não se pode alcançar pela mentira, pois o

destino é o triunfo do constante, ora quem não é constante se contradiz

em atos ou palavras, quem se contradiz testifica a mentira. A mentira

assim é a criadora da ilusão, uma falsa realidade. Isso leva a

bifurcações e transtornos, variáveis, mas que estamos corrigindo. Mas

a anomalia deseja subvertê-lo ao antinatural assim como sua linha, por

inveja, destruir o destino para através do caos impor o seu subvertendo

a humanidade, a esse mal não importa livre-arbítrio, a verdade, a

bíblia, direitos ou leis, invade.

- Nós não lutamos para colonizar o novo mundo?

- Os medíocres lutam pelo lugar, nos lutamos pelo destino. –

Completou Sollomon. - O que é o destino que não um cavalo alado o

qual os ventos seguem e Deus assopra?

- Mas o que queriam os chineses no ‘Novo Mundo’? –

Perguntou Pedro ainda visivelmente intrigado.

- As perguntas sempre são puras. Não podemos conhecer a

resposta, ao menos que perguntemos. O que é segredo? O que

ninguém sabe ou o que todos sabem, mas ninguém diz? Digo eu de

segredos que somente o tempo poderá revelar, a marchal. –

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Respondeu o senhor indo até uma planta e pegando uma flor amarela

com as mãos. – Há um lugar que os chineses buscavam no novo

mundo, mas a chave para isso está no junco naufragado na Flórida,

para isso que você vai lá.

- Alguma cidade perdida?

Solomon Pellegrin observou a flor na sua mão balançar suas

pétalas com o vento e viu uma delas cair ao chão e olhou para Pedro e

disse.

- Quando estiver na Flórida, o sol nascer ao oeste se lembrará

do sopro de vida de Deus presente na ordem ante o caos. Tudo é troca

no universo, num negocio combinado, numa amizade espontânea,

apenas o anômalo não é assim. O universo em sua natureza é muito

social, só a maldade não vê assim. Pois dentre todas as coisas no

universo a morte é exclusivamente a que nada cria a não ser si própria,

morte! Porém, atente a isto como signo da mazela, a intensidade da

correnteza de eventos lineares é como um rio que engole até mesmo as

ressonâncias e variáveis em ondulações como uma ancora do tempo,

mas anulando o livre-arbítrio de quem é por ela tragado, essa é a

tempestade do mal.

- A Tempestade, Josefa me falou algo assim antes de ser

morta. – Concluiu Pedro.

- Sim, disso mesmo que falo. – Respondeu o ancião agora

pegando em sua mão e a observando nos nós dos dedos, mas Pedro

não resistiu a mais uma pergunta.

- O senhor conhece o que vai acontecer daqui para a frente?

- Vejo que ainda mantém a pureza da infância, Pedro. – Disse

o senhor rindo – Muito bom, pois a visão das crianças são sinceras,

porém, você não está preparado a ver o mais de marchal, pois poderá

altera-lo. Aos que estão na frente apenas o básico, mas quando

completar a que veio, receberá seu prémio. Olhe esse relógio Pedro. –

Disse ele – As sombras podem ser más, mas indicam sempre alguma

direção, ao hábil navegador do tempo, concebe-se discernir, a origem

da sombra e pra onde ela vai.

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Uma jovem muito formosa saiu de dentro da residência dele e

atrás uma senhora o chamando e veio então o porteiro e pega-lo pelo

braço o escorando e este virou-se para Pedro e completou.

- Boa jornada Pedro, confie no destino e ele confiará em você.

Muito caminhei pelo tempo e não consigo mais caminhar como um

peregrino do destino, isso cabe a você.

Pedro olhou aquele homem tão nobre ainda que sem ter ideia

de sua história ou genealogia, qual ramo pertencia aquele pedaço do

clã dos tempos. Pedro relutou a retirar-se até ver o senhor entrar no

imóvel e fechar a porta, viu ele então que o relógio não mais marcava

as horas, pois a noite caia, e resolveu ele seguir a carruagem

adentrando nela e pedindo para o cocheiro partir de volta a sua

residência. Pedro ficou introspectivo por toda viagem imaginando em

todas as possibilidades daquela conversa das mais agradáveis que teve

em toda sua vida, um homem com conhecimento ímpares que poderia

ele simplesmente ficar toda uma tarde em sua companhia

confidencializando segredos do tempo que a humanidade não

conhecia. Porém, temia ele que ante a exclusão da mentira sobre todos

os fatos, haveriam os maus de tentar abafa-lo e lhe tirar o mérito

devido contra toda verdade e assim furtar o destino apenas a

transtorna-lo em caos.

Madri, Espanha, tempos atuais

Ao receberem uma ligação da policia de Avilés, Dr.Petrônio e nós

fomos orientados a se dirigir ao laboratório de Madri onde as

melhores condições permitiam a revelação de coisas que não faziam

ideia até então. Durante a viagem eu lia o diário de Pedro Menendez

de Avilés até que entre suas páginas descobri uma carta que

similarmente com traços e características indicava ter sido escrita por

Pedro, endereçada a Jorge de Avillez. Perplexo refleti no como dele

ter dito tal conhecimento de dar detalhes de pessoas que não eram

nascidas em sua época, tanto Jorge quanto eu, indicando ele tivesse

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acesso a algum conhecimento ou meio de tê-lo diretamente do futuro.

Refleti sobre as possibilidades de viagens temporais, todavia me

parecia demasiado forçado ao Ockanismo naquele momento, me

levando a única suposição possível, o Elixir de Kairos, algo que

pudesse levar a ter vislumbres de pontos determinados do tempo e de

seu destino comum em meio aquela intriga de conspirações antigas

pelo domínio não somente das terras das Américas como do

conhecimento que levou a descobri-las.

- A concepção de cartas destinadas ao tempo, não é estrita

dele. – Interrompeu Zaira ao ver lendo mais esta descoberta onde a

carta parece ter sido assinada pelo próprio Jorge como se ele a tivesse

visto com anotações pessoais em português. – Mas as sete cartas do

Apocalipse denotam visivelmente uma inspiração divina temporal do

apostolo João na ilha de Patmos. – Completou ela dirigindo o carro

após o sinal abrir.

- Concebível perceber que dada a idade avançada e a condição

do exilio não permitiria ele entregar tais escritos a destinatários das

referidas igrejas do qual muitas foram visitadas por Paulo. – Petrônio

seguiu o raciocínio de Zaira – João referia-se ao futuro, Marchal, a

condições atribuídas pelos crsitãos como estados espirituais, mas que

uma vez transloucado concebe-se o destino desta. Ou seja, variáveis

do futuro.

- Mas está sugerindo que talvez o apostolo João teve acesso a

um elixir de Kairos? – Perguntei eu intrigado.

- Como poderia afirmar uma coisa destas? – Respondeu

Petrônio sorrindo. – Não estava lá e não existem quais quer provas

factuais. Mas a forma como fora escrita tem destinatários certos. O

que posso afirmar é que há indícios de viagens de gente desta região

nas Américas muito antes da descoberta do Brasil.

- Verdade. Relatos antigos de indígenas indicam o surgimento

de um homem que carregava um livro ou pergaminho o que não era

comum a época e sua descrição confere com a de alguns apóstolos. –

Disse Zaira olhando para frente ao volante. – Ainda que alguns

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atribuam a evangelizadores católicos dos séculos seguintes. O fato é

que não temo ideia de como ele fora parar lá, como ou por que.

- O conhecimento que lidamos me indica cortar a linearidade

do tempo. Ao que chegou parcialmente ao conhecimento da Ordo Ad

Chaos há alguns séculos. – Disse Petrônio pegando o diário de mim e

vendo as páginas. – A corrida por um caminho as Índias fora apenas

uma fachada para 'descobrirem' o novo mundo. Concebe-se aqui a

mais antiga conspiração que tenho conhecimento, talvez algo

semelhante tenha acontecido apenas para crucificar Jesus. Porém,

tenho motivos para crer que pelas mesmas tradições que uniram

judeus por séculos de dispersão, as tradições destes o unem até sua

fonte, Seth, o deus do caos dos egípcios, certamente estava presente na

fundação dessa civilização.

- Mas era um setiano? – Indago eu perplexo.

- Não. – Respondeu Petrônio pegando a carta de Pedro nas

mãos e seguiu – ele teria sido responsável por atacar a cidade que

precedeu o Egito, Pitah. O objetivo evidente de Seth ao contrario dos

setianos era furtar o destino pelo caos por isso atribui-se como deus

das tempestades assim como a seus seguidores que foram

descendentes da Ordo ad Chaos. Ele teria atraído discípulos com os

conhecimentos pilhados de Pitah, o qual atribui-se a tempestade que

os aniquilou e destes adotou o nome querendo ser um Seth legítimo,

mas impostor em vista que os Seth são ao contrário.

- O Tempo os separam e a doutrina os unem. – Disse eu

comigo mesmo olhando pela janela uma bela paisagem de campos. –

Assim como atribui-se quer voluntariamente ou não associações com

o diabo aqueles fazem o que na bíblia é tido que ele faz. – Concluiu

tendo um aceno de positivo dele.

- Similarmente a fé cristã une a um só corpo, assim é a Ordo

ad Inaturatus pelo caos, pilhagem, aniquilação. – Disse Petrônio e

seguiu ao me entregar o diário nas minhas mãos - O caos é o modo de

anular o livre-arbítrio e criar o destino próprio mas anômalo,

antinatural, por ser contradizente. Nunca mudarão sua própria

essência, a interrupção de um destino natural sempre será pelo caos a

provar o que são. Como aquela senhora lhe disse.

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Ato VIII

Regis ad aqua speculis

"Os tristes acham que o vento geme, os alegres acham que ele canta."

Luiz Fernando Verissimo

aquele momento nas mediações do Vaticano, no laboratório

um agente do Siv nota algo incomum ao redor da entrada do

laboratório, apesar de haver uma movimentação comum tão

longo um carro veio quando uma senhora atravessava a rua e algo a

fez soltar um carrinho de bebê que estava guiado. O carro ao tentar

desviar sobe a calçada e bate num poste chamando a atenção dele que

estava sobre o terraço de um prédio vizinho monitorando. O problema

é que o poste caiu ao meio da rua quando um caminhão vinha batendo

nele entrou pela fachada de uma loja lançando-se sobre os fregueses

que lá dentro estava e o caminhão sem controle bate nos demais carros

que derrubam outro poste e um destes capotam diante da entrada do

laboratório, nisso um dos carros explodem e agora dominada pelo

caos, as pessoas corriam de um lado a outro gritando e pedindo por

socorro quando o agente assustado observa a situação caótica sem

prestar a atenção que um homem entra no laboratório com mais dois

homens em meio a fumaça. William Sanchez, porém, fora identificado

por um dos agentes que acompanhava a situação pelas câmeras

solicitando medidas urgentes.

William Sanchez entrou com olhar impassível e os seus

homens sacaram armas e mataram o soldado que protegia a entrada e

em seguida colocou algo no painel de entrada provocando algum tipo

de curto permitindo adentrar, o lugar repleto de cientistas indefesos.

Ao ver isto Gabriel Modenna corre para uma espécie de

quarto do pânico e veda o local ligando para a segurança em legítimo

pânico adequado ao lugar. As luzes se apagam, e um dos soldados de

William Sanchez corta todas as linhas telefônicas e apenas se vê o

N

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piscar de luzes de suas armas de fogo massacrando todos presentes.

Quando cessou William vira-se a um destes que ainda tinha vida

empossado no chão e diz.

- A tradição desde Pitah deve ser mantida a todo custo, minha

luz vem do caos para edificar nossa ordem, aniquilem as pontes,

proíbam os direitos, façamos nossa própria justiça para que não se

defendam. – Disse ele dando um tiro na cabeça dele, e considera-se

afortunado por não ter feito pior.

Os homens agora seguiam os computadores, diretamente no

ponto onde estava tudo armazenado, retira os HD´s e pega backups, e

vê a porta do lugar onde Gabriel Modenna trancado e sorri

sadicamente enquanto os homens se movem para a saída.

***

Fomos até o lugar designado pelas autoridades de Avilés e

quando chegamos recebemos uma notícia de quer algo ainda não

muito claro acontecerá no laboratório. Petrônio assustado com que

poderia ser ligou inúmeras vezes ao laboratório de esforço

internacional sem qualquer resposta e os telefones do Siv estava

ocupados. Um cientista forense se aproximou de nós quando Petrônio

disse a si próprio.

- Ao que fica preso a hora local, jamais conhecerá a hora do

universo, a eternidade, mas nosso é tal destino.

- Quando o agora é perverso, resta-nos nos esconder nas

memórias agradáveis e ter fé no futuro. – Respondeu Zaira tentando

acalma-lo.

- Perdoe-me interrompe-los. – Disse o cientista forense de

óculos e com uma caneta no bolso e um livro nas mãos. – Meu nome é

Madhav Nalapat – disse o homem que era indiano nos

cumprimentando com um sorriso. – Temos investigado com todos

recursos e tivemos algum material liberado pelo Siv e o com o

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alvoroço da mídia temos que ter cuidado com hoax e mentiras. Ao

analisarmos imagens da biblioteca do Vaticano descobrimos que

Andreas Santiago escondia algo em suas mãos quando fora morto.

Vocês têm ideia do que seria?

Petrônio limitou-se a acenar em sinal de negação e sendo

consentido por Zaira. Andreas Santiago tinha o histórico conturbado

de acusações de lavagem de dinheiro do banco do Vaticano e por isso

mesmo tirado de seu cargo ainda que as investigações nada

provassem, mas sobretudo alguns agentes do Siv investigavam seus

passos e não tinha um comportamento muito formal que pelo vídeo

aparentemente tinha liberado a entrada dos homens que o mataram

naquele local.

- Acreditamos que ele talvez tenha descoberto algo e

repassado as informações a quem o matou descartando-o. Dois livros

sumiram lá de dentro, um era Tractatus Ad Tempus, estão furtando

informações e os meios não indicam um bom fim.

- Não há mais Vatileaks. – Retrucou Petrônio – Conhecemos

que adversários do Vaticano querem aniquilar o status do Vaticano e

sua reputação, mas nem casos de lavagem de dinheiro e padres

pedófilos o farão! – Disse Petrônio contrariado pois conhecia os

milhões de fiéis que realmente eram seguidores da sã doutrina cristã.

- Naturalmente senhor. – Respondeu Madhav Nalapat com um

sorriso – No entanto, mesmo que seja uma instituição de Deus, ela é

feita por homens, e homens falham, quer santos ou não. O fato é que

se alguém planeja fazer mais chacinas por ai temos que descobrir para

impedi-los. E o rastro de aniquilação tem se espalhado pela Europa, e

temos motivos que vá ao Brasil.

- Porque? – Indaguei eu.

- De modo extra-oficial, descobrimos um padrão no bilhete de

Pedro que indica que algo que essa gente procura está no Brasil,

algum tipo de Elixir. – Disse Madhav Nalapat guardando o livro

dentro do jaleco.

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- Elixir de Kairos. – Respondi. – Não somente isso, neste

momento recebemos instruções de que o laboratório de vocês fora

invadido, o número de mortos não é confirmado.

Naquele momento Petrônio colocou a mão sobre a testa como

se esperasse pelo que imaginava e Zaira olhou severa ao cientista

forense e perguntou.

- Por a acaso fora precedido por algum “acidente” em frente o

ponto do ataque?

- Sim. Com impressionantes coincidências, um aparente

acidente tem o mesmo padrão de assinatura de sincronidade de

sequências a da praça de Alivés. – Respondeu ele. – Eles querem fazer

cair os justos pelo jeito. Algo que vocês têm ciência e não

conhecemos?

- Realizávamos um projeto de pesquisa quântica quando

descobrimos aparentes padrões por de trás do caos. Desejam utilizar a

hidrocriptografia para sincronizar eventos não somente lineares, mas

dimensionais, e temos motivos para acreditar que o Elixir de Kairos,

seja o que for é peça chave. – Respondeu Petrônio num resumo do que

aconteceu.

- Mas se eles utilizavam seu conhecimento antes significa que

já havia vazamentos. – Concluiu Madhav Nalapa.

- Essa gente é perigosa e capaz de qualquer coisa para tirar o

que interessa a eles e de quem está em seu caminho. – Disse Zaira. –

Temos alguns contatos no Brasil, um autor que teria descoberto e

criado algo e que hoje vive na sarjeta.

- Elijah Muros? – Indagou Petrônio tendo o aceno de

concordância da historiadora.

Após aquele dialogo Zaira e Dr.Petrônio expuseram tudo o

quanto se relacionada ao caso mesclando a série e crimes que estava

se espalhando pela Europa e com indícios de que ia ao Brasil. O livro

Tratactus ad Tempus escrito por um autor de histórias não conhecidas

traria conhecimentos relativos a pontos de fenômenos de singularidade

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e dimensionais onde, segundo Petrônio, que era guardião da obra

indicava tais fissuras no Brasil, em dois pontos em tempos específicos,

na Amazônia e um nas mediações da Serra do Roncador, onde o

lendário Percy Fawcett teria sumido após uma expedição para

encontrar a mítica cidade de El Dorado. Seria de fato este lugar que

defendiam os antigos membros da Ordo Christianistas Ad Ventus? Tal

pergunta somente o tempo poderia responder.

Fomos dali direto ao aeroporto onde pegamos um avião de

Madri ao Brasil a fim de resolver o mistério e seguir as mesmas

indicações fomentadas pelo material encontrado e para minha surpresa

parecia se confirmar ao consultar o diário e perceber que Pedro

Menendez de Avilés se lastimava por não ter alcançado seu objetivo

de atingir um lugar considerado secreto e que por anos os espanhóis e

seus seguidores procuraram durante o período do Tratado de

Tordesilhas. Zaira parecia introspectiva até que interrompeu o silêncio

e disse sobre a sincronidade e as aparentes coincidências

impressionantes.

- Há muitos anos, em 1965 um garoto de quatro anos de idade

estava se afogando quando fora resgatado por uma mulher chamada

Alice Blaise. – Disse ela fechando um panfleto que havia no banco do

avião e continuou – Tempos mais tarde, aproximadamente nove anos

depois o garoto agora crescido resgatou um homem de ser afogado na

praia, justamente o marido dela, de Alice.

- Acho a moral da história bastante explícita. – Respondi pra

ela – O destino segue padrões ante o caos que sempre tem significados

e porque ao contrário do caos total. – Completei tendo um sorriso dela

que concordou balançando o rosto.

- Tudo que está acontecendo tem que haver um porque,

Gerson, mesmo que aparentemente seja a batalha desses contra o

porquê e significados, afinal, os intitulam o caos e a antinaturalidade.

– Disse ela me vendo com o diário de Pedro nas mãos. Imagine se

Alice não tivesse resgatado o garoto naquele dia?

- Estaríamos numa dimensão ressoante diferente. – Concluiu

eu com ironia e sorrindo.

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- Você tem sorte de estar aqui, essa gente maligna não admite

que os que são considerados sua posse tenham nada de bom. Elijah

Muros é a prova disso.

Refleti por alguns minutos sobre aquele homem o qual Zaira

mostrou num notebook que ameaças de aflição vinham aos que

tentavam fazer algo por ele, como se ao protege-lo eles fossem

responsabilizados por alguma tragédia justificando a injustiça, pois se

quer cogitava-se ele ser reconhecido por seu trabalho. Porém, ao nos

levarem ao lugar onde viam os vídeos sentimos e observamos o que

Madhav Nalapa queria nos mostrar naquele momento, liguei o celular

e observei os e-mails quando Zaira disse impressionada me chamando.

- Gerson, olhe isso.

Ao virar meu rosto, o que vi naquele vídeo era uma imagem

de Andreas Santiago encontrando William Sanchez lhe dando alguns

documentos e aparentemente um livro muito antigo que Madhav

afirmava ser o ‘Tratactus Ad Ventus’. O jovem cientista paralisou a

imagem e aproximou congelando-a que com um programa de

amplificação de resolução o título se tornou parcialmente legível, e

após, na sequência, William Sanchez debochou de algo dando as

costas e saindo. Aquilo era prova o bastante para demonstrar que

Andreas Santiago estava comprometido e provavelmente fora

descartado como queima de arquivo no momento daquela invasão.

28 de agosto de 1565, algum lugar do oceano Atlântico.

O balançar das águas se moviam de um lado a outro pelo barco

fazendo com que uma caneca dançasse sobre uma mesa dentro da

embarcação até que fora segura pelo irmão de Pedro, Bartolomé

Menéndez que sentou-se ao lado do irmão que tinha em mãos o

mesmo diário que no futuro eu lia. Pedro estava escrevendo as

ocorrências incomuns do dia após ter avistado o navio de Jean Ribault

a uma semana atrás, mas se esquivando dentro de algum nevoeiro.

Naquele momento, porém, um homem gritou no convéns por Pedro.

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Pedro murmurou algo consigo mesmo, largou a pena e fechou o diário

e olhou para o irmão que disse.

- Hoje é dia da festa de Agostinho de Hipona. Talvez seja

algum presente divino. – Completou tentando manter o bom humor. –

Não se preocupe, Pedro, encontraremos seu filho, vamos relaxe,

vamos curtir.

Ao subir até o convéns os homens pareciam comemorar algo e

não somente a festa de Agostinho de Hipona, mas do avistamento de

terra firme, a costa da Flórida, na América do Norte. Pedro

imediatamente pegou uma luneta nas mãos do jovem cadete que

guiava o navio em sua ausência e contemplou que a costa se

identificava com as cartas náuticas de navegadores no período. Pedro

consentiu a Bartolomé com um sorriso após semanas de navegação

num horizonte infindável de águas, e um jovem marujo pegou uma

garrafa de vinho abriu para comemorar e tão longo começaram e

entoar cânticos felizes no convéns enquanto Jopy sorria abraçando um

dos camaradas de viagem.

- Esse brinde é por Agostinho de Hipona. – Disse Jopy

mostrando o caneco pra Pedro com um sorriso. – Por esse patrão

maravilhoso e honrado, o qual tenho orgulho em servir, mestre Pedro.

Com as horas indo a costa cresceu diante deles e tão logo se

viram alguns animais nas praias acompanhando o navio, e assim

Pedro enviou Jopy que um pouco embriagado seguiu no barco junto

com demais marujos aos gritos de comemoração pelo dia, e por

chegarem enfim ao continente do ‘novo mundo’.

O barco quando encostou nas areias, Jopy pulou nas aguas

puxando o barco e quando tocou o solo pegou areia da praia rindo e

jogando sobre o companheiro que lhe acompanhava.

- Vamos, pare com isso Jopy, não quero ficar cheio de areia,

parece que nunca viu terra firme!

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Tão logo todos desembarcaram e Pedro ordenou a construção

de um assentamento em terras consideradas virgens aos europeus e

nomeou de St.Augustine em homenagem ao dia que lá chegou, como

o primeiro assentamento St. Augustine e se tornar o mais importante

nos séculos seguintes. Os homens trabalharam duro ao lado de Pedro,

cortando arvores para a construção de edificações e uma igreja

humilde onde realizaram a primeira missa em território americano.

Os dias se passaram até que da embarcação de Pedro um

homem veio a dar a noticia de que avistaram o que parecia ser parte da

frota de Jean Ribault alarmando Pedro e levando a crer que teriam ido

ao Fort Caroline. Pedro resolveu sondar antes de qualquer investida e

sobretudo aproveitar o momento de aparente conforto no

assentamento a deixar seus homens e procurar o que tanto ansiava

ainda que não tivera sinal de seu filho Juan.

Ao entrar na embarcação, Pedro estava sendo aguardado por

Jopy usando seus habituais trajes rasgados e de dar medo a quem fosse

de fora pela estatura do afrodescendente. Jopy Iago se inclinou sobre o

patrão o puxando pelo pulso com um sorriso e disse.

- Mestre Pedro, acho o momento oportuno para procurar o

junco chinês. Bons ventos sopram a nosso favor. – Repercutiu ele com

um sorriso.

- Certamente Jopy. – Completou Pedro tirando o chapéu e

com aquela gola esquisita de sua roupa, ele estava suando pelo calor. -

Jean Ribault não pode encontrar isso, se tirar esse conhecimento pode

ser danoso, seja o que for.

- Pode ser a oportunidade do senhor também vingar a morte de

Joaquim. – Respondeu ele e tendo um aceno de positivo.

Seguiram eles com o mínimo necessário de tripulantes pela

costa da Flórida para que o conhecimento do que buscava fosse

exposto aos homens dele em vão. Após longas horas ao lado de

Bartolomé e o sempre fiel Jopy avistam algo em aguas translúcidas

perto de terra firme. Jopy observou que tinha contornos como de um

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 145

navio, porém, muito maior que a embarcação dele e então para ter

uma melhor vista subiu do alto do mastro cortando entre as velas e no

topo olhou para baixo e contemplou um enorme navio de madeira, o

junco chinês.

- Mestre Pedro, é maior que qualquer barco que já vi, mesmo

aquele de ferro.

Pedro intrigado fora a estibordo do navio ao lado de todos os

homens presente e debruçando-se na mureta do navio viram a imagem

difusa do barco em aguas cristalinas, e Bartolomé tirou o chapéu

rindo.

- Talvez tenha algum tesouro, Pedro!

- Nosso tesouro é o conhecimento. – Retrucou Pedro – e com

verdade, por favor! – Completou sorrindo.

Os homens de Pedro mergulharam nas águas e tentaram

alcançar o local do naufrágio, mas não havia folego o bastante. E não

bastando havia águas vivas demais nas mediações o que preocupava

Pedro caso alguns destes fosse picado. Pedro improvisou uma espécie

de saco de ar para ele próprio mergulhar naquelas aguas e conseguir

um pouco mais de tempo em folego e assim fez mergulhando e

nadando até que conseguiu tocar o navio, uma construção maravilhosa

de muitos metros de extensão e largura. Adentrou Pedro pelo convéns

e respirou um pouco do ar no recipiente e seguiu por cima de um

mastro caído e adentrou por uma porta que dava ao que ele acreditava

ser o quarto do capitão. Haviam peixes coloridos de um lado a outro

quando uma agua viva cortou seu caminho tornando naquele momento

a visualização difícil por ser um local fechado.

Pedro novamente respirou mais um pouco e seguiu vendo que

o ar estava no fim. Viu então moveis virados e gaiolas quando notou

haver o que aparentava ser uma espécie de pergaminho denotando que

aquilo lá estava a não muito tempo. Pedro pegou o bloco e notou que

era uma espécie de diário assinado pelo capitão do navio chinês e

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 146

vendo que não tinha mais ar recuou indo até a superfície com o

achado em mãos.

Ao ver aquilo Jopy imediatamente estendeu as mãos o puxado

dentro do barco e Pedro largou o bolsão de ar dentro e disse ainda

ofegante para Jopy.

- Preciso anotar todas as informações disto, quem escreveu,

quando escreveu e o que diz. Aquele tradutor chinês tem que servir.

- Ele está no convés senhor. – Respondeu Jopy sorrindo. –

Levantou suspeitas do almirante lá na Espanha, mas acho que vai

valer. – Completou ele rindo afinal não havia motivos razoáveis para

Pedro levar um tradutor de chinês no navio.

- Ótimo, os demais homens precisam mergulhar mais e

localizar alguns itens de valor e quero registros de tudo encontrado. –

Completou Pedro sentindo-se aliviado de que aquele conhecimento

não estava em mãos erradas, por enquanto.

Ao longo dos dias seguintes Pedro trabalhava ao lado do

tradutor de chinês numa tradução mais próxima o possível dos textos

encontrados, com determinação inquerir todos dados possíveis de

lugares, períodos e nomes dos autores daquele documento que

começava a se fragmentar ainda que fosse um tipo durável de material

sob o mar. Perseverante perante as evidências factuais Pedro tinha

apenas algo que dividia suas atenções no momento, a busca por seu

filho Juan e seus amigos no barco de onde partiram, mas naquele

momento viram eles algo que chamou a atenção do tradutor Miguel

Sobreiro.

- O junco fazia parte de uma frota que aparentemente vinha do

sul, do Brasil. – Disse o homem e então seguiu – Olhe isso, isso aqui

dá as coordenadas de um lugar no interior de onde batizaram como

Brasil. Conhecemos agora que estas terras foram antes descobertas por

chineses.

- Isso é parte de um mapa. – Respondeu Pedro olhando-o e em

seguida tirou uma carta náutica e percebeu que se encaixava com o

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 147

desenho da costa do Brasil, quando alguém interrompeu o foco deles

no trabalho, era Jopy.

- Mestre Pedro. – Disse ele tirando o chapéu na entrada –

Perdoe-nos mas acho que tem algo que deseja tomar conhecimento.

- Diga Jopy, temos que relaxar um pouco mesmo, estamos a

longas horas nisso aqui.

- Receio que não haverá descanso. – Seguiu Jopy olhando para

Miguel e seguiu dizendo – descobrimos que parte do pessoal de Jean

Ribault está no Fort Caroline. Achei que o senhor gostaria de ficar

ciente disso.

- Naturalmente Jopy, bom trabalho. – Disse Pedro que então

virou-se para o tradutor colocando o chapéu e disse. – Acho que

vamos adiar a tradução por alguns dias.

Pedro Avilés sem pensar duas vezes seguiu a formar uma

equipe liderada por seu irmão Bartolomé a fim de ir atrás dos homens

de Jean Ribault, não somente por impedir a colonização deles, mas

atrás de informações de seu filho e quem sabe vingar-se da morte

covarde de Joaquim anos atrás, porém a aguardar reforços, mas apenas

sondar o lugar. Os homens seguiram por longas horas até o percurso

quando dois dias depois avistaram o Fort Caroline. Era dia 14 de

setembro de 1565 e Bartolomé pediu para que seus homens

procurassem pontos estratégicos e saídas do Fort a fim de render quem

de lá saísse, porém foram recebidos com violência por alguns que de

lá saiam.

Jopy companheiro e escudeiro fiel de Pedro e seu irmão

atacou bravamente defendendo Bartolomé, de modo que o combate

em pouco tempo levou a mortes dentre seus homens.

Todavia os homens que Bartolomé mais queriam deter para

interrogatório haviam falecido, menos outro deles. Os navegantes de

Pedro havia recebido a noticia de que seriam hereges perigosos por

práticas violentas com suas vítimas, e mandou Jopy ainda rufando do

feroz combate ir atrás dos homens que escaparam junto a Bartolomé,

quando ele pegou o ferido no chão e perguntou se Jean Ribault estava

com eles.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 148

- Se procuras Juan, não tenho noticias. – Disse o homem

empoçado em seu próprio sangue com ferimentos fatais no corpo –

todavia foram enviados por Ribault para caça-lo como fez com

Joaquim.

- Porque está fazendo isso? O que te fizemos antes? – Indagou

Bartolomé o pegando pela camisa cheia de sangue, mas o homem

virou-se para a areia que por estar molhada de lama a pegou com a

mão e jogo no rosto de Bartolomé.

- Não vê, ele quer que o mate para não dizer nada. – Disse um

dos homens dele.

- Tem razão, talvez deveríamos prolongar essa vida que

limita-se a tirar o significado de tantas mais, seu pagão venerador de

solos e chão! – Disse ele ao limpar sua roupa da lama. – Me diz, os

homens que mataram Joaquim estão com eles? Renne Sanchez.

- Sim, mas vocês nunca o pegarão. – Disse o homem dando

aquele sorriso de deboche ainda que moribundo. – Enquanto aqui

estais estão cercando St. Augustine para aniquilar seus colonos e

pegar o que deve ser nosso.

- Vamos ver quem caça quem. – respondeu Bartolomé e então

enfiou a espada no peito dele o fazendo morrer ali no chão.

Ao limpar a espada ensanguentada num pedaço de trapo

Bartolomé olhou para seu irmão que ficou assustado com a ferocidade

dele e lhe perguntou se não era muito melhor retornarem a St.

Augustine impedir um iminente massacre. Bartolomé estava relutante,

pois queria ir atrás dos homens que escaparam, mas o dever lhe

chamava e fora obrigado da retornar no mesmo pé que vieram. Soube

ele que o chefe daqueles hereges, Jean Ribault estava entre os homens

e que quatro navios de sua frota para lá se dirigia ao assentamento

colonial, porém, uma intensa tempestade se formava no horizonte e

ventos fortes indicavam que haveriam mais mortes.

Assim que chegaram ao lugar notaram eles que os homens já

haviam avistado a pouco os navios de Jean Ribault se aproximarem da

praia fazendo com que a guarnição se dirigisse até o mar a ficarem a

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 149

postos para o combate iminente em meio a um vendaval intenso e com

nuvens cinzas sobre eles. Pedro ainda que determinado a seu propósito

sentiu uma centelha de medo ao ver Jopy observando as nuvens do

convés e temendo algum tipo de encontro com “navios de ferro”,

como ele descrevia. Assim que se aproximaram os navios franceses

preparam seus canhões, mas os ventos eram aliados de Pedro que

seguia intrépido ao alto mar cortando as ondas com destreza de um

experimentado navegador.

As ondas batiam no casco do navio lançando gotículas de

água, mesmo onde estava ele ao lado de seu irmão, orientando a

navegação enquanto os marujos abaixavam as velas devido a

intensidade do vento. Bartolomé ficou temoroso pelas montanhas de

águas que se erguiam quase tocando os ventos e duvidando de que

estivesse a seu favor quando viram ao longe, por luneta, um dos

barcos franceses virar ao mar arrancando gritos de comemoração dos

marujos, e Jopy disse a seu mestre.

- Meu Mestre, é a divina providência, Deus guarda as famílias

dos justos.

- Certamente justifica o título de Mestre dos Ventos –

completou Bartolomé batendo nos ombros de seu irmão ainda que

nada tivesse feito a não ser resistir a ferocidade da natureza quando

outro barco virou diante de seus olhos enquanto Pedro vendo uma

onda se erguer virou o barco para corta-la antes que passasse por eles

de lado.

Mais gritos de comemoração se ouviram sem dispararem

nenhuma bala de canhão e um marujo desceu do alto quando a chuva

torrencial descia sobre eles a anunciar que mais um barco dava a volta

para ir embora dali, nas mediações de Ponce de León.

Porém, Pedro não havia desistido, mas ordenou que seguissem

os demais navios que seguiam agora rumo a onde um dia seria o Cabo

Canaveral e as ondas vibravam fazendo dos mares um amontoado de

agua oscilante onde o feroz navio dele era apenas um corajoso barco a

cortar por entre elas, quando mais um barco não resistiu e virou, sendo

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 150

engolido pelas ondas que todos gritaram vendo que o restante seguia

hesitante ao horizonte até que fora o outro a afundar.

Pedro viu naquilo como um sinal divino não somente por ficar

intacto em meio a tempestade mas por ela ter literalmente engolido

seus algozes e resolveram retornar a terra a fim de concluir o que

haviam feito, enquanto mais homens eram enviados atravessando o

Rio John após caminharem 30 quilômetros ao Forte Caroline, o

batizando por São Mateus após matarem 132 homens, ainda que

alguns escaparam junto a um francês de huguenotes chamado René

Goulaine até um lugar que no futuro se chamaria Jacksonville. A

pedido de Pedro porém, foram poupadas as cerca de 60 crianças e

mulheres e pedindo para dependurar os mortos dando-lhes a

impressão que foram enforcados com os dizeres: "Enforcado, não

como franceses, mas como hereges".

Naquele momento Pedro tinha por objetivo encontrar

sobreviventes dos navios afundados enviando uma patrulha a fim de

capturar os sobreviventes assim que os localizaram e sendo rendidos

por seus homens. Pedro os colocou em fila e caminhou diante deles os

observando até que resolveu pegar um destes de soslaio e o lançou ao

chão.

- Diga-me o que fizeram com meu filho! – Disse ele puxando-

o pela camisa.

- Não sei nada sobre Juan, juro!

- Onde está Renne Sanchez e Jean Ribault?

- Morreram no naufrágio. – Disse uma mulher entre eles

fazendo com que Jopy lhe apontasse a espada temendo algo mais.

Pedro então caminhou olhando-os diretamente nos olhos.

Estava suando de modo abundante mas impassível diante dos rendidos

até que parou diante de um homem que olhava para um moita de mato

e então olho em sua direção e disse.

- Porque deveria ser clemente com vocês, já que não foram

com meu tutor e com suas vítimas?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 151

Ninguém respondeu nada ficando imóveis olhando para frente

transpirando sob o sol e então Pedro virou-se para Jopy e pediu para

olhar na moita apontando com a espada. Jopy foi até lá e remexeu o

matagal com a espada até que algo se moveu fazendo os homens de

Pedro avançar até o lugar capturando outro deles e para sua surpresa

era Renne Sanchez.

Ao ver aquilo Pedro colocou a espada para trás e olhou

fixamente para o homem que vendo-se sem vantagem abaixou a

cabeça visivelmente assustado. Jopy o empurrou caindo de joelhos

diante de Pedro que abaixou-se pegando-o pelo cabelo e disse.

- Espero que se lembre de nosso último encontro após matar

Josefa. – Disse vendo que Jopy também estava visivelmente invocado

com o ato covarde do homem anos atrás. – Pois lembro-me de suas

palavras que disse como teria matado Joaquim. Poderia repeti-las, por

favor?

Pedro levantou o rosto e em seguida pediu para levarem os

demais em fila numa caminhada até St.Augustine após amarra-lhes

cordas e continuou.

- Se existe algo que tenho nojo é de gente covarde como

vocês, agora não é mais macho?

Renne limitou-se a tentar esboçar um sorriso em meio ao

medo que estava por recear lhe sobrevir exatamente o que fazia com

suas vítimas.

- Nós vimos o que vocês acharam na costa. – Disse o homem.

– o navio chinês que procurávamos.

- Para quem mais contou sobre isso? – Indagou Pedro

enquanto Jopy estava de braços cruzados lhe encarando.

- Todos do grupo. – Disse ele rindo – Se me matar aqui, eles

contarão a todos mais sobre o que buscamos e o motivo de toda essa

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 152

corrida pelo “novo mundo”. Você deveria ser nosso cachorrinho, para

abusarmos e depois lhe matar assim como fizemos com Joaquim.

Naquele momento Pedro tirou a espada, mas Jopy virou-se

para ele e disse.

- Senhor ele quer justamente isso, que o mate, teme que seja

torturado pelo senhor assim como ele faz com suas vítimas.

Pedro então o esbofeteou o fazendo cair no chão ao pó

fazendo a poeira do chão levantar-se com sua respiração por estar

seca. Pedro então o puxou pelos pulsos amarrados e o colocou

novamente de joelhos, quando Renne disse.

- No momento em que você me fala Covadonga está sendo

invadida assim como aquele casebre em Marchal, vocês devem ser

inferiorizados por nós e você nada pode fazer para impedir isso.

- Como você teria ideia de tal invasão? – Gritou Pedro.

- Seu destino deverá ser o nosso destino. – Completou ele

rindo – Sua verdade e autorias serão as nossas, e deverão ser apagados

da história assim como da existência.

Aquilo fora demais para Pedro que pegou a espada e o

transpassou ali mesmo vendo Renne definhar com aquele pedaço de

metal fincado no peito, até que Pedro o puxou de volta e o homem

caiu de bruços no chão definhando lentamente com o rosto ao pó.

Jopy olhou pelo caminho por onde foram os rendidos e Pedro

pediu para acompanha-los e completamente tenso com o que

acontecia, temendo estar acontecendo algum massacre naquele

momento na Espanha sem ter como se comunicar com eles, alcançou

os demais e parou-os pedindo para ficar em fila que ao notarem o

semblante transtornado de Pedro temeram muito.

- Quais de vocês são católicos?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 153

Alguns homens levantaram as mãos timidamente assustados e

algumas mulheres, quando um homem resolveu arriscar e disse.

- Sou protestante senhor, mas tenho habilidades uteis.

- Alguém mais? – Perguntou Pedro caminhando entre eles

quando mais homens se confessaram ser protestantes com habilidades

uteis. Pedro então virou-se a estes e disse. – Dentre vocês os quais

praticam sodomia ou sacrifícios humanos serão mortos como pagãos

que são, compreenden?

Então Pedro desembainhou a espada e fincou no busto dos

homens que não assim disseram e pediu para que seus homens

fizessem o mesmo, os matando um a um sob os olhos dos demais que

eram cristãos e então com sangue em seus punhos virou-se para os que

foram poupados e disse.

- Preciso agora que vocês me digam. Quais de vocês viram

nós nos restos de um navio chinês?

Os homens tremeram nas bases e balançaram as cabeças em

negação afirmando com veemência que nenhum deles havia visto nada

parecido ainda que talvez o tivesse, mas vendo que se falasse seriam

mortos nada disseram, e então levaram os demais homens dando o

nome aquele lugar pelo ocorrido de Matanzas onde um dia mais

adiante seria erguido o Fort Matanzas.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 154

Ato IX

A Pergunta mais

importante de todas

"Os acasos são cicatrizes do destino".

A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón - Pág.360

Astúrias, 7 de outubro de 1565

A noite havia caído sob os ruídos os ventos na colina, nas mediações e

Covadonga sob um luar perfeito que irradiava sua suave luz a

eventuais caminhadas noturnas até que assim aconteceu quando uma

sombra tênue emergiu dentro do mato que dançava de um lado a outro

perante o vento que soprava de modo relaxante. Dentre aquela sombra

mais outra surgiu e depois mais outra tomando o percurso por homens

que tinham espadas agora em punho em direção a Covadonga donde

uma cachoeira abaixo fazia descer águas de uma fonte pura e cristalina

quando um homem, um guardião da Ordem dos Ventos assim os

viram se aproximar e apagando a lamparina correu até a edificação

avisar Noah e Hydrocrates que por lá estavam a instruir mais alguns

membros dentre as famílias que participavam com eu histórico de

perseguição.

Da porta se ouviram o bater dos punhos do jovem guardião

chamando a atenção de Noah que levantou-se a ver do que se tratava

largando dois jovens que sentados ao chão liam o começo do Gêneses

bíblico. Noah abriu a porta, porém, não viu nada, mas quando ia

fechar a porta Hydrocrates a segurou ao ver a maçaneta manchada de

sangue. Noah virou-se para trás e assoviou para os garotos a que

pegassem as espadas então pediu para que Hydrocrates entrasse ao

bater a porta e juntasse os manuscritos que pudesse e descesse pela

corda de emergência que tinham na janela que saia sobre a cachoeira,

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 155

e assim o fez quando ouviram novamente baterem na porta, fazendo

os dois jovens gelarem.

- Quem são? – Indagou Noah empunhando uma espada e

pedindo para apagarem as lamparinas, mas tiveram o silêncio como

resposta.

Então repentinamente um estrondo se ouviu na porta, estavam

a forçando com um tronco enquanto vozes falavam baixinho

instruções ao que parecia ser vários homens. Noah colocou um baú

atrás da porta e olhou para trás vendo Hydrocrates saindo pela janela

carregado de pergaminhos e algumas peças, um dos jovens fora lhe

auxiliar.

Mais um estrondo se ouviu e as juntas da porta começaram a

ceder. Depois de alguns segundos mais outro estrondo e os ferrolhos

que ligavam a porta ao caixote começaram a soltar junto com o metal

que prendia a madeira da porta unida. Noah gelou de medo, mas ficou

firme quando observou o vento adentrar pela janela movendo as águas

dentro da banheira que lá havia.

Um jovem parou ao seu lado e apontou a espada quando outro

estrondo seu ouviu fazendo a porta ceder abrindo-se parcialmente.

Silêncio se fez quando um braço adentrou a porta procurando

a tranca dela, mas o jovem enfiou a espada cortando a mão de quem

quer que fosse e algum grito se ouviu.

Alguns segundos mais se passaram e então mais um estrondo

se ouviu e em seguida lançaram algo em chamas lá dentro pegando

fogo na cortina e a porta caiu.

O fogo crepitante rapidamente se alastrou criando uma luz

oscilante que ao adentrar Noah vira a face do homem parcialmente

iluminada como a de um demônio e ao abrir a boca dentes

apodrecidos e um dourado brilhou diante dele com um sorriso

tenebroso de cobiça e ganância e disse ao empurrar a porta permitindo

que os demais homens entrassem.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 156

- Enforquem esses cães e digam que eles estavam roubando

nossos conhecimentos para criar uma guerra. Acabou! - Disse ele -

nunca colherão seus frutos e os farei pagar por eles! Eu quem torno

vosso trabalho em vão. Covadonga vos será por cova!

O jovem atacou tentando proteger seu mestre que era Noah,

mas em vão sendo morto num só golpe e então veio o segundo jovem

e atacou com ferocidade matando mais um destes cortando-lhe o

pescoço e esguichando sangue sobre um texto numa escrivaninha, mas

fora morto em seguida restando a Noah que vendo ser aquilo na

verdade um massacre abaixou a arma quando fora rodeado por eles e

ao invasor disse.

- Como sempre covardes, só são homens assim. – Completou

Noah ofegante de medo ante o massacre iminente quando o chefe dos

invasores disse.

- Ars ad inaturam, ordo ab chaos, nom veritas ad verve!

Cortem as pontes do destino, e lance-os no abismo e os chamemos de

vão!

Os homens, se é que assim poderia se chamar, lhes fincaram

as espadas neles de todas as direções a seu redor deixando Noah

inerte, de pé, até cair lentamente diante do olhar compenetrado

daquele homem diabólico. Mas quando aquele aparente líder de dentes

apodrecidos fora até a janela notou a corda e que um destes havia

fugido dali enquanto o fogo se alastrava consumindo o lugar secreto

deles.

Hydrocrates molhado ao colocar os pés sobre as pedras

recolheu um dos pergaminhos que caiu numa delas e colocou de volta

quando algo caiu sobre as pedras ao seu lado. Era o corpo de Noah,

lançado pelos homens de dentro do lugar, e sem ter se quer a chance

de lamentar correu com todas suas forças para conseguir sobreviver

aquilo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 157

Tempos atuais, Brasil, Rio de Janeiro

Ao desembarcar no aeroporto do Galeão Dr.Petrônio sentiu a

diferença climática do equatorial ao tropical carioca daquele país de

belezas naturais sem fim mas dominado por pessoas que não lhe

correspondem, suando abundamente ao ir até o ônibus com Zaira, ele

tirou um lenço que constantemente enxugava o rosto que agora estava

avermelhado por ser demasiado branco. Zaira que conhecia resolveu

nos acompanhar o lugar onde costumava ficar Elijah Muros e

conhecendo seu trabalho tinha ciência eles de que escrevia sobre

teorias conspiratórias e mistérios relacionados ao Brasil e o mundo,

entre eles o de Akator. Foram até a praça XV onde costumava ficar,

porém, ao perguntar os demais sem tetos que vagavam pela região

disseram que fazia algum tempo que não o via.

Caminhamos por alguns minutos quando o vimos então sair

de dentro de um mergulhão que havia sob a praça e ele nos olhou com

olhar de desconfiança ao nos aproximarmos, o fazendo tirar a mochila

que carregava a colocando no chão e olhando para os lados.

- Você é Elijah Muros? – Perguntou Zaira num português

carregado no sotaque espanhol e tendo apenas um aceno concordando,

mas sem qualquer confiança em nós.

- Conhecemos seu trabalho e gostaríamos de lhes fazer

algumas perguntas, aceita tomar uma refeição? – Perguntou

Dr.Petrônio suado, mas esboçando um sorriso.

Naturalmente que Elijah concordou afinal não era a todo

momento em que alguém lhe estendia a mão para lhe fazer caridade e

com generosidade lhe oferecer algo pois os seus algozes abastados que

isso exigia para si.

Ao levarmos ele um botequim um homem ficou nos

observando enquanto tomava cerveja, mas ainda assim pedido um

prato farto ao jovem entregue as moscas que comeu com vontade

como não deveria fazer a algum tempo, quando então perguntamos.

- O que você conhece sobre Jorge de Avillez e Akator?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 158

- Sim, sim. – Disse Elijah de boca cheia mastigando e deu um

tempo engolindo a comida e seguiu – Tenho motivos para crer que

Jorge Avillez protegia algo nas mediações da Serra do Roncador, ele

fez incursões secretas a este lugar, a última logo após ser expulso por

Dom Pedro com a independência. Não era apenas fiel a Dom Pedro I

ao notar que isso fizeram quando esteve fora.

- Akator? – Perguntei eu abrindo a carteira e mostrando minha

identidade.

- Você é descendente dele então! – Disse Elijah sorrindo pra

mim. – Motivos pessoais o trás até mim? Negócios de família?

- Também. – Respondi

- Bom o que sei é que os espanhóis procuravam secretamente

algo desde o tratado de Tordesilhas. Mas o final da história é

conhecido, pois caso hesito tivesse tido, certamente teríamos ciência,

não se poderia esconder uma descoberta desse quilate.

- Mas porque fizeram isso contigo? – Indaguei eu intrigado.

- Pelo mesmos motivos que fizeram o que fizeram com Conde

Jorge. Porque conhecia coisas que eles não conheciam, e estava perto

de descobrir sua localização, mas alguns homens impediram, as

conspirações lhe projetaram sombras tenebrosas. – Disse Elijah dando

mais uma garfada farta no prato e seguiu mastigando e falando, pois

estava faminto - me isolaram, tiraram todos amigos, família,

impediram ter trabalho, não consegui mais nada, nem mulher, nem

reconhecimento, vivo excluído e marginalizado. Cá estou eu.

- Isso poderia acontecer contigo - disse Petrônio para mim –

visivelmente estão te visando.

- Ouvi falar de suas ideias. – Disse Elijah para mim dando um

sorriso enquanto mastigava. – Mas aqueles homens são aves de rapina

baratas, disseram que eu era um autor menor demais para estragar o

que descobri e criei com meu nome e história.

- Já vi isso antes. – Disse Petrônio em tom de ironia. – Para

quem gosta de acusar fizeram bom trabalho destruindo você. Mas me

diga quer dar um passeio conosco até a serra do Roncador?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 159

Elijah largou o garfo e sorriu amplamente como fiapo de fé na

humanidade, como se o sentido de sua vida fosse simplesmente aquela

sua busca, e acenou com o rosto em sinal positivo.

Ao comer toda a refeição o levamos a um hotel onde ele

tomou um banho e lhe demos roupas limpas o fazendo sentir coceira

pelo corpo dado o tempo que permanecera sem tomar banho. Petrônio

colocou sobre a cama seu material de pesquisa e contou tudo o quando

acontecia do outro lado do planeta envolvendo aquilo tudo. Elijah

ouviu atentamente de modo entusiasmado com as descobertas e

implicações daquele caso incomum, pois até então apenas lendas

vazaram sobre a mítica El Dorado levando Percy Fawcett a

desaparecer naquelas regiões.

- Há uma tribo de descendentes de chineses que protege o

local. Mas se eles foram até lá, então nossos amigos já estão mortos. E

eles se dizem os mocinhos. – Disse Elijah sentando na cama vendo as

fotos.

- Afligir é a cultura do Maligno! – respondi - Os que são

iguais ao que combate, não são inimigos, mas rivais. Massacraram

uma seita nas mediações de Roma com as mesmas assinaturas deles.

- O que lidamos aqui é com conhecimentos tão antigos que se

perdem nas nevoas da história e do tempo. Mas acreditamos que um

dos primeiros vazamentos atingiu templários os fazendo irem as

Américas antes do previsto.

- Conheço essa história, na América do norte. – Disse Elijah –

mas nada encontraram, apenas pastaram em terras selvagens. Os que

retornaram teria espalhado a noticia confirmada de ‘um novo mundo’

que em posse dos mapas chineses levou a onde levou.

- Vazamentos maiores aconteceram com a hidrocriptografia e

a tendência disso é nós vivermos as margens do que nós mesmos

criamos e descobrimos. – Disse Dr.Petrônio.

A noite havia caído após uma tarde intensa de diálogos e

planejamento dos próximos passos a serem dados no Brasil temendo

que aqueles homens já tivessem naquela região com apoio de grupos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 160

da localidade enganados com sua aparência civilizada. Teríamos um

dia cheio até chegar a Mato Grosso e então fomos dormir.

Astúrias, Espanha, 1566

Pedro chegou durante a noite no porto, mas ainda que exausto da

longa jornada seguiu temoroso por notícias da Ordem dos Ventos

notando que nenhum dos membros vieram lhe receber. Partiu a cavalo

até Astúrias a procura de Covadonga deixando para trás até mesmo

Jopy e seu irmão e temendo o que poderia ter acontecido seguiu por

longas horas madrugada a dentro até chegar ao lugar onde havia seus

encontros e documentos.

Pedro desceu do cavalo e subiu a colina sem o mesmo vigor

da juventude quando Joaquim lhe pediu para subir com pedras numa

mochila. Exausto viu do alto o luar e iluminar seu caminho entre a

vegetação rasteira que dançava com o vento a sua volta, mas ao

visualizar Covadonga não viu quaisquer sinais de luzes. Teriam

dormido?

Ofegante pela subida Pedro chegou até a porta e viu que havia

sido derrubada. Olhou e viu o contorno com marcas de incêndio e

adentrou o recinto que com dificuldade pegou uma lamparina caída e

acendeu contemplando o lugar completamente destruído e queimado

por chamas ateadas evidentemente por algum invasor e saqueador.

Artefatos foram tirados, peças quebradas, nem a banheira fora

poupada. Pedro mergulhou em suas memórias lembrando das décadas

passadas quando ele encontrou aquele lugar quando ainda era criança

ao fugir de seu tutor original, porém, naquele momento uma voz se

ouviu.

- Não vai encontrar nada ai.

Ao ouvir aquilo Pedro virou-se desembainhando a espada e

apontando a lamparina a sua direção, era Hydrocrates que surgiu

entrando no lugar.

Page 161: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 161

- Assim que soube que chegou de viagem vim aqui, tinha

certeza de que seria o primeiro lugar a procurar. – Respondeu ele

olhando com cara de decepcionado. – Invadiram aqui, tentaram levar

tudo o quanto construímos, mas não vai encontrar mais nada nem em

Marchal. Os ventos já nos denunciavam que isso iria acontecer.

- Para onde foram? – Indagou Pedro com os olhos brilhando

de quase lágrimas. – Mataram quem?

- Não foram para onde, mas quando Pedro, tudo é uma

questão de Tempo. – Respondeu Hydrocrates colocando a mão sobre

seu ombro – estão seguros, somente isso posso lhe afirmar, quando a

fúria é grande é porque certamente estamos certos. Mas ainda não

acabou. Você é o novo líder da Ordo Christianitas Ad Ventus,

cumpriu seu papel ainda que somente em Marchal seus descendentes

completarão o designado, encontrar o lugar secreto no novo mundo. –

Completou Hydrocrates tirando algo do bolso e lhe dando, era um

frasco.

- O que é isso? – perguntou Pedro.

- A última poção que temos do Elixir de Kairos. – Respondeu

Hydrocrates – Apenas concedemos ao líder em vista que o último

faleceu há alguns meses. – Vem duma fonte rara que lhe aguçará a

visão não com seus olhos, mas a contemplar Marchal, não podemos

nos permitir que as mortes aqui acontecidas tenham sido em vão.

Pedro então se retirou do lugar após cumprimentar mais uma

vez Hydrocrates e com um sorriso entristecido guardou o Elixir dentro

de uma pasta que carregava. Desceu a colina e montou em seu cavalo

e fora até sua casa encontrando seus filhos e mulher dormindo. Porém,

Pedro não conseguia dormir e fora então até sua escrivaninha e

sentou-se diante de papéis e pegou uma pena quando ao tirar o Elixir

do bolso o tomou numa só dose.

Inicialmente Pedro nada sentiu, e então começou a escrever

até que nos minutos seguintes lhe vieram uma tontura seguida por um

rubor o fazendo suar, então Pedro olhou para a janela por onde entrava

um vento frio da madrugada e tonto viu seus sentidos se confundirem

com o agora e o amanhecer vendo seus filhos virem falar com ele.

Page 162: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 162

Pedro relutou em ceder aquele aparente estado de alucinação porém,

um sono lhe tomou o fazendo adormecer ali mesmo.

Uma imagem enevoada por estar se mesclando com uma

nevoa não conseguia se definir quando uma voz lhe gritou dentre ela

falando “segure a corda”. Pedro olhou para baixo e viu que uma corda

vinha descendo até ele, e então ele pegou a ponta dela a esticando e

atravessando aquela nevoa como se fosse uma guia.

Ao caminhar, a medida que avançava via as coisas que tinham

pela frente tomar forma gradual de eventos a pessoas, e assim notou

seus filhos tendo filhos, e desses netos tendo bisnetos, e até que viu

sem conhecer nenhum dos nomes, sua família fugindo da Espanha

após algum perverso rei tomar o poder e ordenar matar toda sua

família, e depois Jorge Avillez navegando em águas rumo ao ponto

em que buscava, o Brasil. Viu todo conflito e sentiu um vento forte

lhe bater no rosto quando o Dom Pedro I lhe mandava retornar a

Portugal. Viu a lamúria de tantos mais que não conseguiram alcançar

seu designo por algo antinatural a este e então viu meu rosto entre a

nevoa desse tempo a medida que avançava cada vez mais nebuloso.

Viu então versões diferentes de mim a ecoar de diferentes formas,

uma na jornada ao Europa, outra vivendo perseguido e marginalizado

e tantas mais onde coisas ainda piores onde homens sádicos,

obstinados e impassíveis me assistiam a distância proibindo todo

direito e me furtando, e tanto mais aconteciam por ter descoberto algo

pertinente a própria natureza do tempo que ele mergulhou. Porém,

num momento Pedro viu as imagens se mesclarem e então Jorge olhar

diretamente para ele assim como eu em meio a uma tormenta.

Tão subitamente quanto Pedro acordou voltou a dormir e

assustado com aquela visão de olhos fechados cuja nitidez era perfeita

olhou-se no espelho intrigado. O que seguiu então é que ele sentiu

muitas coisas e uma vontade incontrolável de escrever, o destino havia

lhe tomado e agora servia ele a este descrever.

Pedro sentou-se na escrivaninha e começou a escrever uma

carta destinada ao homem que viu defendendo o Rei de Portugal e

depois para mim, com traços, ainda que sem ter ideias de nomes sobre

acontecimentos e assim começou.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 163

Do mapa que tive em mão vieram as cartas de Pire Reis. Mas

os 32 ventos sussurram-me veladamente segredos inefáveis que um

dia serão ditos abertamente num coral da verdade, dos nomes

marginalizados pelos maus, e seus atos correspondentes de

importância ao mesmo...

A mesma carta que havia lido séculos mais tarde fora escrita

por ele e quando completou sem ter ideia do destinatário a ser

colocado nela, fechou e colocou um selo como endereçada ao futuro.

Em seguida pegou mais um papel e começou a escreve mais uma carta

e depois mais uma, e assim permanecendo até amanhecer, e quando os

primeiros raios do alvorecer adentravam a janela uma voz se ouviu

atrás dele exatamente como no sonho, era seu filho mais novo vindo

falar com ele.

Pedro sorriu com fé em Marchal como através de Kairos

mesmo conhecendo de linhas más e tiranas que lutavam para tirar o

sentido de suas vidas, lembrando-se do que disse meu amigo “não

foram para onde, mas quando, Pedro, tudo é uma questão de Tempo”.

Pedro nunca mais encontrou seu filho de aventuras deixando

algum vazio dentro de si, ele voltaria a realizar viagens e se tornaria

governador de Cuba, porém, nunca alcançaria o lugar que almejou no

interior do Brasil que era a mítica Akator.

Mato Grosso, Brasil, tempos atuais.

Quando o avião pousou a primeira coisa que Dr.Petrônio fora procurar

as autoridades legais a alerta-los sobre aqueles homens que visavam

saquear e matar. Os oficiais da lei em seu dever inicialmente não

deram crédito, mas ao mostrar as evidências que lá nos levaram em

relação ao ocorrido na Espanha e em Roma, perceberam haver de fato

algo negativo acontecendo.

Fomos orientados as autoridades a que relatasse ao delegado

federal o ocorrido, porém, mediante o tempo curto tínhamos que

seguir ao destino e começar uma expedição na Serra do Roncador.

Lhes fornecemos material e fotos dos meliantes e assim um policial

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 164

reconheceu quando algo soou chamando os policiais a algum

incidente.

O que sucedeu é que algum tipo de engavetamento aconteceu

numa rodovia nas mediações da entrada a trilha para a serra

supracitada. E dado o grau de coincidências nossos anseios foram

confirmados, era trabalho da Ordo Ad Chaos, fazendo seu Ordo Ab

Chaos. Os policiais nos orientaram a ver as imagens quando vimos o

rosto de William Sanchez passando segundos antes do “acidente”.

Vendo que seria uma sabotagem com as visíveis assinaturas os

policiais foram a encalço de Sanchez e lhe detiveram levando para

interrogatório.

O homem era tenebroso e tinha apesar da aparência educada

algo negativo que dele exalava. Sentando numa mesa como se nada

tivesse acontecido, as autoridades contataram o exterior e buscaram

seus antecedentes não havendo nada em sua ficha. Naquele momento

Elijah Muros virou-se para nós e disse ao ver os documentos dele.

- William Sanchez, descendente de Renne Sanchez, adversário

de Pedro Menéndez. Não pode ser coincidência, no destino nada o é. –

disse ele intrigado tendo minha atenção – eles são como o abismo, e o

que faz o abismo se não engolir e nos anular, tornando tudo em vão?

Enquanto existem boas estirpes as más são percebidas igualmente por

seus frutos, quando os tem.

- Lidamos com o sistema perfeito para criar atentados por

reatividade síncrona, ou seja, eles criam "acidentes" sem traços de que

não fora. Um sincronizador de eventos, por meio de uma tecnologia

que prevê padrões caóticos na ondularidade do tempo. – Disse Zaira. –

Ao prevermos tais padrões por acaso com um projeto multinacional

realizando em convênio com o Vaticano.

Na verdade aquele evento entre parentes eram síncronos, sem

ter ciência um do outro, Sanchez seguia o designo negativo de modo

não linear com destinos semelhantes entre ambas famílias.

Naturalmente que não se poderia generalizar, pois de todo rebento

assim como bons membros haveriam, também haveriam as “ovelhas

Page 165: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 165

negras” da família como dizia o ditado comum. Naturalmente que as

autoridades ficaram perplexas porém, abstenho de provas nada

poderiam fazer com o caso.

Fosse o que fosse aquilo levou todo o dia até que percebemos

que tínhamos que seguir, pois naturalmente ele poderia ter sido pego

deliberadamente até que sua equipe seguisse em frente para nos

atrasar. Porém, naquele momento eles receberiam uma ligação

improvável do Vaticano ao constatar que Augustin Milagros havia

desaparecido do laboratório, e nenhum sobrevivente restou para contar

a história, os deixando duvidoso.

- Sendo William Sanchez quem o sequestrou e não pediu

resgate ou algo em troca, tenha certeza, ele está morto. - Disse Zaira

sentando na beira da cama.

Porém, naquele momento algo se ouviu na porta do quarto do

hotel onde estavam batendo na porta. Muros levantou-se e ao lado de

mim fomos até a porta e ao olhar pelo olho mágico ninguém havia, e

em seguida ao abrir sob o olhar atento de dr.Petrônio vimos no chão

uma cabeça de porco ensanguentada dizendo num bilhete “vocês

querem um Milagro?”

***

Não longe dali, em meio a densa floresta, a equipe de William

Sanchez se aproximou de uma clareira quando avistaram uma aldeia

com índios armados de arco e flecha, os Kalapalo cujo nome significa

‘do outro lado’. Anos atrás haviam mentido ao serem descobertos

pelos irmãos Vilas Boas sobre o desaparecimento de Percy Fawcett

nas regiões do alto Xingu, a fim de proteger aquele lugar e

posteriormente expulsaram uma equipe de exploradores da região que

continua inexplorada.

Porém, agora eles enfrentariam pessoas hostis, que de modo

impassível os homens tiraram suas armas as empunhando quando um

índio surgiu atrás deles lhe apontando as flechas e falando em seu

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 166

idioma para se renderem. Quem liderava o grupo vendo que mais dois

índios estavam na copa das arvores pediu para abaixar as armas

apenas por temer serem mortos antes que o matassem aqueles índios

eram os guardiões de Akator conforme a lenda, e onde um homem

com visíveis traços chineses vestindo-se como índio surgiu falando a

língua deles e olhando-os diretamente nos olhos quando tirou um

papel onde estava desenhado um rosto e palavras em chinês.

A aldeia tinha de fato descendentes chineses que lá ficaram

séculos atrás para proteger a dita cidade perdida indicando que

estavam eles próximos, o homem do grupo invasor esboçou um

sorriso de cordialidade, porém, sem sinceridade para tentar lhes

ganhar a confiança ao notar que a imagem do papel não correspondia

a daqueles homens.

Naquele momento outro membro do grupo surgiu dentre a

mata chamando a atenção dos índios viraram-se dando tempo para que

o invasor ordenasse que os matassem e assim dispararam com suas

armas matando-os e fazendo o pessoal da tribo se agitar nervosamente

gritando em seus idiomas e levando as mulheres e crianças a um lugar

seguro quando o homem apontando para a aldeia disse.

- Matem esses insignificantes, são apenas menores em nosso

caminho!

O que seguiu fora uma sucessão de tiros que assustaram os

pássaros das arvores que levantaram voo, tiros que não se ouviram na

civilização a muitos quilômetros dali até que poucos fugiram e os

restantes foram mortos sem chance de defender-se. O homem com

olhar impassível apenas via-se sua face trepidar com os coices da arma

ao dar os tiros e quando o silêncio tomou o lugar por toda vida ter

cessado, caminharam entre os corpos a procurar quaisquer coisas de

valor quando viram dentro de uma oca, uma capacete e o diário muito

antigo com fotos de Percy Fawcett. O homem pegou aquilo e então

virou-se para uma mulher armada como uma semiautomática e disse.

- Queime esse diário e todas evidências, estamos perto.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 167

Naquele momento um índio caído no chão baleado se remexeu

agonizando e virou-se para o homem que se aproximou e ao vê-lo e

colocou sua botina sobre seu tronco. O índio ferido fatalmente apenas

perguntou a ele.

- Por que?

Ao longe ouviu-se um tiro ecoar por toda floresta fazendo-a

em seguida mergulhar novamente no silêncio que a seguia quando o

vento cessou de soprar sobre suas arvores.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 168

Ato X

A Cidade Perdida

"O Destino não faz visitas, é preciso ir atrás dele."

Carlos Ruiz Zafón

Guerras Napoleônicas, Badajoz, Espanha, 25 de janeiro de 1817

No meio do caos provocado por mais uma batalha nas guerras

napoleônicas homens correm bravamente desembainhando suas

espadas e indo com ferocidade ao outro lado das linhas adversários

naquele front. O céu cinzento pela fumaça de explosões e das

primeiras armas de fogo dividiam espaço com corpos caídos ao chão

como baixas de guerra. No comando Jorge Juzarte de Avillez, o

Coronel da coroa portuguesa a defender o estandarte de sua nação

servindo a Brigada do Algarve em conjunto com o exército Britânico

para expulsar os franceses daquela terra de seus ancestrais.

Explosões se ouvem ecoando entre gritos e feridos gemendo

de dor caídos ao chão quando Jorge atravessa o campo ao ver homens

recuando com ferimentos pelo corpo e grita.

- Quem mandou recuarem!? Mandem mais soldados ao front!

– Disse Jorge.

Os subordinados obedeceram seu Tenente-general e assim

fizeram após socorrerem os feridos quando um destes parou diante de

Jorge ensanguentado e disse.

- Estava me escondendo numa trincheira com mortos senhor.

– Disse o soldado ferido.

- Ótimo, então vá a enfermaria, agora não é mais surpresa. –

completou ele colocando sua mão no ombro do soldado e disse – Bom

trabalho soldado.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 169

Jorge de Avillez era Fidalgo Cavaleiro da Casa Real conforme

a carta que o nomeou em 6 de janeiro de 1794. Condecorado inúmeras

vezes por comandar tropas e servir a coroa portuguesa reuniu títulos

como Coudel-mór da Comarca de Portalegre num período

relativamente curto e se tornando promissor carreirista militar com

apenas 32 anos. Ele havia nascido em 28 de março de 1785.

Porém, mesmo com os êxitos nas guerras que seguiam na

Europa por causa de um baixinho imperador francês que apesar de

demasiado feroz era um estrategista nato, as batalhas ainda

arruinavam homens e famílias em seus anos de duração, quando numa

trégua daquele combate Jorge retornou a sua tenda onde sentou-se

após falar com seus generais sobre os próximos passos. Um jovem

mensageiro adentrou o recinto e após cumprimenta-lo disse que

alguém lhe enviara uma carta endereçada a ele.

Jorge agradeceu ao jovem pedindo para quem um tenente lhe

desse água e em seguida abriu o envelope silenciosamente a notar que

o papel do interior era muito mais velho que o exterior. Jorge viu que

a carta não havia em qualquer ponto seu nome, mas embaixo notou

que estava assinada por Pedro Menendez de Avilés, no tempo em que

sua família ainda não tinha fugido da Espanha pelo irmão do rei que

eram partidários ao tomar o trono. O jovem estava se retirando após

beber um pouco do líquido quando Jorge lhe perguntou.

- Quem lhe passou essa carta?

- Não sei o nome senhor. – Disse o jovem. – Apenas me

entregou e pagou uma gorjeta dizendo para entrega-la no front. Era

um homem franzino, moreno e calvo com comprida barba branca.

Parecia afável e simpático, na verdade me cumprimentou com uma

cordialidade peculiar, não resisti a seus encantos.

- Não conheço. – Disse Jorge – Como se vestia?

- Sim, ele estava diferente dos demais, usava uma espécie de

capa branca e atrás tinha uma estrela dos ventos, distinto cavalheiro

diria.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 170

Ao ouvir aquilo Jorge ficou perplexo e dispensando o jovem a

seguir com seu trabalho tirou o chapéu e abriu um pouco a gola do

pescoço para escapar melhor o suor e então resolveu ler a carta que

estava em espanhol.

Ao que ler esta carta e com isto se identificar certamente é

meu herdeiro. Não herdeiro de riquezas materiais ou das

mentiras de impostores e piratas salafraios, mas uma herança

o qual preserva o destino do qual faz parte, o tempo que mais

vale do que terras, não por contenção e sendo contradizente,

mas por verdade o qual o elo consanguíneo nos une. Peço-lhe

porém, de antemão diante do amargo de não ter alcançado

meu alvo que o faça por mim, por nós, pois muito padecemos

por séculos por isto. Perdi um amado filho, e muitos de meus

irmãos de conhecimento e origem, mas não admitamos perder

nosso destino por aqueles que o interrompem como

antinaturais.

Tu que sendo homem de hombridade e varão varonil repousas

sobre a verdade, sabe da mentira e da ignorância e com espada

corrige os perversos, enfrenta batalhas e sobre ela as triunfa,

fidedigno a verdade com o estandarte da coroa portuguesa.

Honra ao sobrenome que carregas ainda que igual perseguição

lhe sobrevirá, quando disto tomar conhecimento, pois os que

são marcados pelo destino também são marcados pelo mal. O

mal a todos que o possuem busca anula e aniquila a todo

valor, pois são os algozes, servos do diabo e da mentira.

Nobre herdeiro cujos títulos da nobreza lhe predizem, não de

Cristovão Colombo que levou as terras do além mar, mas

anterior até mesmo aos que lhe inspiraram, os chineses.

Compreenda o que há nas terras do além atlântico, pois no

meio do pó do solo o tempo guardou riquezas que os mesmos

chineses buscaram, conhecer. Vi o futuro, e vi você, o qual a

estas terras irá conhecer, o Brasil. Procure tal riqueza e veja a

eternidade dentro de seus olhos e poderá me contemplar face a

face.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 171

Adentre o Brasil, e o que seguirá do que conhecer na

imponente pedra diante do mar cuja face lhe perdiz, nela o

conhecimento que lhe conduzirá até a raiz da verdade que não

está fincada no solo, mas no tempo da eternidade. Procure o

Guardião do Sul, pois ele te procurará, honre a verdade e ela

te honrará com a eternidade. Guarde tais palavras em sigilo,

nem entre seus irmãos de combate ou grupo. Você

compreenderá, mais que palavras a verdade que elas diz.

Ao terminar de ler aquilo e ver a assinatura do histórico

homem conhecido por colonizar parte dos Estados Unidos, Jorge ficou

perplexo e introspectivo dobrou a carta como assombrado pelo

conteúdo dela, querendo compreender como um homem poderia falar-

lhe antes mesmo de nascer, quando simplesmente algo irrompeu a

tenda com o esvoaçar do pano quando um homem adentrou tirando o

chapéu e prestando continência a Jorge.

- Jorge Avillez? – Disse o homem em continência.

- Sim. – Respondeu Jorge erguendo o rosto e guardando a

carta numa pasta.

- Venho em nome do príncipe a lhe convocar a Divisão de

Voluntários do Príncipe. – Disse o homem colocando-se em posição

de descanso e seguiu ele – Tenho ordens mediante a organização de

tal divisão se juntar a nós para conquistar Montevidéu.

- Estou em combate meu caro, não vê? Como poderia

abandonar meus homens no front?

- Lhe será dado o posto de Marechal de campo. Organize-se e

deverá partir dentro dois dias.

Jorge não poderia negar, afinal aquilo vinha diretamente do

príncipe da corte a estender o domínio da coroa sobre a América do

Sul e coincidentemente justamente ao ler aquela carta o qual todos

sinais a ele destinava ainda que sem seu nome a indicar o mesmo

rumo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 172

Assim o audaz cavalheiro da Ordem de Cristo que era Jorge

seguiu as instruções de ambas como confirmação de consenso do

destino, agrupou seus homens e passou o encargo do comando a um

colega de divisas e seguiu rumo ao porto após longa viagem até

Barcelona quando depois de horas exausto parou a esticar suas pernas

e tomar e comer algo adentrando num bar quando um homem se

aproximou.

- Senhor Jorge de Avillez? – Disse o homem com cabelos

lisos abaixando um capuz e com um cajado em mãos e um sorriso

cordial no rosto. Ele falava português.

- Digas! – Disse Jorge virando-se sobre o que estava sentando

dentro duma carruagem aberta.

- Percebo que o senhor recebeu a carta do eternificado Pedro.

– Disse ele tendo um aceno positivo de Jorge e agora tendo sua total

atenção. – Pois então, lhe oriento procurar que tal carta lhe passou, ele

está na no local que lhe forneço aqui. – Completou ele entregando-o

um papel com anotações onde indicava um endereço Taberna de

Eliseu e então deu-lhe as costas após lhe prestar reverência e fora

andando entre os homens sentados a beber e comer.

- Espere! Quem são vocês? – Perguntou Jorge fazendo o

homem parar e virar-se para ele.

- Filhos do Tempo, senhor, talvez seus irmãos, pois com o

tempo as linhas se confundem, mas não com tanto tempo para lhe

instruir. O senhor está sendo observado, por isso não lhe abordamos –

disse ele apontando com os olhos para um grupo de chineses que

estavam sobre um caixote. – Siga firme, constante senhor, pois o

destino está no caminho constante.

- Como vocês conseguiram esse documento? – Indagou Jorge

novamente, intrigado.

- O tempo nos revelam coisas pelo vento, e a água os reserva.

Somos herdeiros comuns a ele. – Falou o homem com um sorriso

cordial e então abaixou-se e dando as costas levantando o capuz e

disse. - Procure o guardião do sul, o destino do futuro está nesta

direção e você saberá seu designo e de seus descendentes.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 173

Intrigado com tudo aquilo Jorge tomou uns goles e comeu

algo refletindo sobre as possibilidades que aquilo lhe traria. Pensou na

verdade se tratar de algum negócio da Ordem de Cristo, mas não, era

algo que envolvia sua família e herança naquela terra onde eles

habitaram por longos anos.

Assim levantou-se ele movido pela curiosidade até o lugar que

lhe era emparelhado e poucos minutos de caminhada pela cidade,

seguindo as dicas de habitantes sobre o dito lugar chegou-se ao

destino onde uma placa anuncia Taberna de Eliseu.

Ao entrar Jorge sentiu-se perdido por ser um ambiente

destoado do que lhe era por costume e tão logo compreendeu o nome

da Taberna ao ver um cliente chamando o dono por Eliseu. Jorge

olhou ao redor, sentindo-se peixe fora d’água quando um homem

sentando numa bancada lhe acenou o rosto. Um homem com a mesma

descrição dada pelo mensageiro. Jorge se aproximou firme ainda que

por dentro hesitante, mas tão logo o homem cortou o gelo abrindo um

sorriso amigo a ele.

- Por favor, sente-se. – disse o senhor tomando um gole de

alguma bebida.

Jorge olhou-lhe receoso, mas em seguida olhou para os lados e

resolveu sentar-se diante dele.

- Não é o ambiente adequado as suas divisas, certamente. –

Respondeu o homem – certamente aqui estás motivado pelas

perguntas que lhe sobrevieram, a carta. Porém, por mais intrigante que

lhe pareça, você mesmo é a resposta.

- Como conseguiram aquela carta? Como poderei conceber

que não é de algum impostor? – Retrucou Jorge.

- Naturalmente. – Respondeu o homem – essa é óbvia, não?

Porém, lhe digo que assim como a dúvida é uma pergunta e a fé é a

resposta, o destino é a fechadura e nós as chaves. Quais portas desejas

abrir?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 174

- A do futuro? – Indagou Jorge – Qual sua graça?

- Pode me chamar por Dr.kairos Mahalingam. Mas alguns me

conhecem apenas por guardião do sul, aquele é mítico como o vento

que murmura. – Completou ele tirando uma pasta aparentemente

comum e dentro delas papéis com documentos.

- O homem pede a legitimação por registros e documentos,

mas a burocracia é criação do demônio. Todavia serve-nos como

prova de quem somos ao contrário de impostores, pois a verdade

sempre deixa evidências, evidências que estes desejam apagar ou

cobrir.

Dr.Kairos Mahalingam, como se referia lhe mostrou papéis

sobre a bancada com carimbos e selos oficiais da realeza espanhola e

do período de Pedro onde sua caligrafia era visivelmente a mesma.

Havia também anotações comuns onde ele mencionara livros de uma

certa Ordo Christianista Ad Ventus que a Jorge era estranha.

- Temos alguns documentos e livros que adoraria lhes mostrar,

porém, Jesuítas sobre escritos de livros que não são hereges, mas fora

da compreensão comum. – Disse o homem. – Há outros, porém, lhe

digo, cuidado com estes que cobram preço a quem é o autor, os que se

dizem essenciais a ti mas desejando dispensa-lo e substituí-lo, esses

são o próprio mal o qual lutamos. Pois nada mais servil que aquele o

qual tira o destino.

- O que desejas de mim? – Disse Jorge agora convencido dos

documentos e da autenticidade da carta.

- Somos algo que nunca se viu, mas assim como o vento se

sente que existe. – Disse o Guardião do Sul. - A Renascença e tudo o

quanto, fora nosso toque, o tempo por nós corrido a seu rumo natural,

a descoberta do novo mundo por nós orientada, somos os ventos que

sopraram em suas velas, o leito do rio do tempo. Oh Tempo virginal o

qual a pureza lhe trás! – Disse o homem pegando os papéis e

guardando-os novamente e a taverna agora estava vazia - Somente o

que for purificado nas águas do tempo podem dialogar comigo

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 175

abertamente e são poucos os dignos disto, os mais limitam-se a

bifurcar palavras por línguas peçonhentas.

- Fui eu purificado? – Indagou-se Jorge intrigado.

- Sim, homem de batalhas, suou e padeceu ainda que sob bom

estandarte, como o que nós instruímos a Pedro em seu treinamento. –

Respondeu ele. - Somos um clã dos tempos, por algumas famílias

perseguidas e muitas vezes marginalizadas incluindo os Avillez, sendo

daquele modo um lugar de abrigo para tantas famílias, linhas de

predestinados a feitos revolucionários, o celeiro destes até que a

maldade os tire. Fomos criados por um homem de fora do tempo, o

misterioso Heidrun Adail que reuniu a linha dos tempos,

sobreviventes de Pitah

- Pitah? – Indagou Jorge

- Há muito tempo atrás houve a lenda de uma cidade que fora

apagada da história por pessoas que arbitrariamente julgavam quem

deveria ser lembrado ou não, contra toda linearidade natural e

evidências factuais. – Disse doutor Kairos e seguiu - O nome desta

cidade era Pitah. A escrita determinou o fim da pré-história a história,

porém, de algum modo estes possuíam escritas anteriores, uma língua

que deu origem ao hebraico e continuou a ser usada por eles nos

séculos posteriores para seus escritos não serem decifrados.

O lugar resplandecia em meio a um deserto como um oásis,

vegetação com arbustos e coqueiros típicos do clima da região entre

cortados por um sistema de aquedutos que irrigava o plantio de uma

agricultura autossustentável, tudo vindo de fontes subterrâneas

escavadas com muito afinco por homens que apesar de duros no

trabalho tinham líderes intelectuais que passavam as noites

contemplando as estrelas, e não apenas para poderem determinar as

maravilhas e alinhamentos nos ciclos astronômicos que determinavam

os períodos do ano, mas a de eventos futuros.

Não era uma civilização demasiada grande, todavia os homens

e mulheres que nela habitavam eram justos que colhiam apenas o que

plantavam, tinham frutos apenas próprios, e que se tornaram nômades

desde tempos distantes quando supostamente seguiram um caminho

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 176

diferente a de seus irmãos, filhos de Noé. Na verdade, guardavam

consigo algo que carregaram na Arca, conhecimentos anotados em

pergaminhos antigos que traziam tais conhecimentos herdados de

ninguém menos que Seth, o filho de Adão. Numa cúpula central na

cidade havia guardado o que eles recuperaram após o dilúvio, uma

coluna de onde advinha todo conhecimento astronômico e pai de todas

distorções posteriores de megalíticos e a astronomia, algo tão

importante para eles que eram guardados por homens o qual eram

criados desde a infância especialmente para aquilo, se tornando os

mais cultos da tribo e que com habilidades incomuns, por meio de

interpretações liam o que aquilo lhes falava sobre o futuro.

Não eram exploradores, porém, sendo homens de fé ao

debruçarem-se sobre o futuro armazenavam uma ínfima quantidade de

água o qual considerava ser de Avila, um lugar do Éden a muito

perdido, água esse que teria propriedades da chamada 'água da vida' o

qual poderia permitir ver o tempo de fora do tempo linear, no tempo

de Kairos.

Tudo era prospero entre aquele povo que não se interessava

em expandir seus horizontes explorando outros povos e conhecendo

outras culturas, vivendo apenas entre si sem importunar quaisquer

mais. Porém, assim os escolhidos têm a marca do destino também são

marcados pelo mal e não demorou a quem um dos guardiões da coluna

visse sinais de alguma tempestade a se formar no horizonte, trazendo

homens maus e impassíveis. Um filosofo de quilate imensurável as

virtudes humanas dos setianos e um dos mais hábeis em decifrar a

coluna, ele prevê 'a tormenta' que de modo antinatural viria a aniquila-

los, violentar suas mulheres, matar suas crianças, furtar seus

conhecimentos e derrubar suas edificações de modo que aos

sobreviventes que ficassem seria escravizados, assim viu ele ante

aquela observação ao beber daquela água. O jovem aprendiz de

guardião temporal, como se referia ficou assombrado com as

revelações de seu mestre e tutor e caiu em prantos quando ele lhe

falou.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 177

- O Futuro se move, eu sinto, nossos herdeiros como embriões

no tempo. Não temas, nos espalharemos, mas sobrevivermos, assim

como os futuros hebreus. - Disse o homem com sua veste esvoaçante

ante o vento ao contemplar as dunas nos limites da cidade e continuou

- Preste atenção o que lhe digo, assim como a Noé fora mostrado

construir a arca, guarde os pergaminhos com os conhecimentos do

tempo e selecione homens para cada qual a uma direção cardial. Aos

quatro cantos do mundo.

O jovem obediente a seu tutor vendo como homem de

hombridade e justiça seguiu o que ele disse e selecionou aqueles que

consideravam os melhores homens da tribo, hábeis agricultores e

caçadores e foram instruídos pelo filosofo e guardião do

conhecimento da tribo. E eram 32 os homens que seriam guiados por

mais 5 totalizando 37, cada qual as 32 direções do vento conforme ele

disse, carregando conhecimentos e mostras daquela água muito

incomum.

O dia havia chegado e o povo temoroso se preparava para

invasão, muitos fugindo e outros se escondendo, mas alguns se

preparando para defender seu mestre que lá permaneceu após instruir

a levar a coluna até a beira de um rio e lá enterrar. Diante dele, o

Mestre disse.

- Vá como os ventos vão, que o sopro deles sobre vocês os

carreguem como as sementes das plantas e frutifiquem como todos o

são.

Os homens partiram e numa noite o jovem que lá permaneceu

viu homens surgiram do alto duma duna carregando lâmpadas e com

olhares tenebrosos sobre eles, de cobiça e rancor, como se soubessem

o que procuravam. O mestre disso sabia e assim sentou-se com os

ventos a balançar suas túnicas e de joelhos orou a seu Deus ao vê-los

se aproximar, conhecendo seu fim pois eram homens perversos. E

assim atacaram a cidade massacrando a todos que lá permaneceram, e

queimara suas casas, furtaram seus conhecimentos restantes, e as

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 178

poucas mulheres a possuíram a força e nelas criaram bastardas e os

que não morreram fora escravizado, nem mesmo os homens foram

poupados dos coitos, e levados até uma terra distante. Mas o chefe

destes ao conhecer o Mestre, seu líder, conheceu sua origem e então se

proclamou como Seth, mas que tendo por destino o caos que lançou

sobre aquela cidade aniquilada impiedosamente, pois ele apenas

extirpava os destinos como os intestinos de seus animais, ladrão servil

abreviou a vida deles contra todo natural, nada colheram, mas foram

colhidos a espada. Assim eles prosperaram com seu conhecimento,

fizeram riqueza, tiveram mulheres e ergueram um império.

Mas aos fugitivos padeceram, muitos adentraram a tantas

civilizações, Ásia, europa se espalharam até descobrirem uma terra

isenta de homens perversos, do lado oposto do planeta em terras

selvagens e com a ciência de seu descendente construíram uma arca

navegável e pelo oceano atravessaram e lá construíram Akator.

Ao concluiu aquela história sorriu após olhar para o vazio

como se contemplasse as imagens daquele lugar e tirou de dentro de

suas vestes um diário, o diário de Pedro e deu-lhe nas mãos de Jorge e

disse.

- Onde fores carregue o conhecimento como parte de si

mesmo, pois você é do destino e o destino é de você, vivem em

simbiose. A cada direção, um tempo, um destino, lembre-se destas

palavras como quem lembra das horas. – Respondeu o senhor

simpático de modo cordial – Conhecereis a verdade e ela vos libertará.

Tudo muda com o tempo, as rosas murcham, e as rochas de desenham,

mas as pedras como a verdade permanecem.

- O que devo procurar no Brasil? – Perguntou Jorge que em

pouco tempo de conversa fora cativado por aquele senhor de modo

que confiou nele como por fé.

- A cidade perdida o qual os espanhóis procuravam dentro de

seu tratado de Tordesilhas e conforme o diário, algo que Pedro

procurou, lhe destinando completar sua obra. Siga os rumores, os

boatos lhe indicarão, mas antes visite a Pedra da Gávea onde repousa

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 179

a face de um mestre do tempo, no Rio de Janeiro. Porém, atente a isto,

os maus também têm sua linha, e anseiam destruir a linha dos bons e

usurparem seus desígnios para si em contradição a tudo que a palavra

prega, mas se dizendo parte dela. Eles têm vários nomes ao longo dos

tempos e gostam de se incluir e invadir onde não estão, e nos excluir

do que fazemos e somos parte, assim como do destino. Certamente o

conhecerá, pois bebi da água de Avila, o Elixir de Kairos, a última

poção, pois o mais buscará.

- Quem é este?

- Lendário adversário de Pedro, e assim como tantos outros

pegará a ganância e lhes perseguirá. O Ladrão de destinos, nunca

herdeiro por testamento, registro ou consanguíneo, sem legitimidade

alguma tomará o trono e se firmará como deus, mas não o bastante,

pois o destino ele não escolhe, mas o destino escolhe os seus, e o

tempo os testificará com sinais e obras.

Naquele momento a porta se abriu e entrou um homem

incomum fazendo Doutor Kairos abaixar o rosto na direção de Jorge e

falar.

- O destino lhe aguarda, o tempo o mais lhe responderá, mas

agora vá! Pois agora você está no centro duma conspiração. – Disse o

homem se levantando e então seguiu dizendo – Falarei contigo em

terras tropicais. Lembre-se os que te anulam caso dê certo, são os

mesmos que o chamam de líder caso dê errado para eles.

O homem se retirou caminhando até o balcão e colocou umas

moedas sobre ele pagando a bebida e retirou-se do recinto passando

pelo homem que havia adentrado com olhar tenebroso. Jorge fez o

mesmo, e ergueu-se seguindo a passos largos para retirar-se daquele

lugar insalubre.

Seguiu então ele até sua terra e de lá partiu para o Brasil numa

longa jornada de dias cruzando o atlântico até por fim finalmente

visualizar terras tropicais onde o calor os anunciava a aproximação

por gaivotas e por demais seres amistosos.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 180

Mato Grosso, Brasil, tempos atuais

Caminhava pela floresta quando ao entrar em mata fechada a mais

feroz nuvem de insetos me atacou selvagemente durante todo percurso

na trilha. Com diversas picadas resolvi parar no meio do percurso

tomado pela vegetação a engolir a trilha de modo extenuado pelo calor

intenso na ausência de ventos, quando reparei algo no chão. Abaixo-

me e pego o que aparenta ser um relógio e dentro dele um desenho

cortando os ponteiros da mesma estrela dos ventos que os chineses

utilizavam.

Viro o relógio e atrás noto as inscrições gravada P.F. 1910.

Naquele momento porém, alguém surge por de trás de mim e coloca

as mãos no meu ombro e me assustando viro-me a observar para

minha surpresa ser ninguém menos que Percy Fawcett que com um

bigode engraçado e um capacete de caçador antigo sorriu para mim e

pediu o relógio que estava caído entre a vegetação, quando acordei.

Sentei-me na cama e vi que eram 7:46 da manhã quando notei

que apenas Muros dormia um sono profundo e agradável como poucas

vezes dormira nos últimos anos. Naquele momento ouvi Zaira num

outro cômodo dialogar com alguém ao telefone e parecia reclamar

sobre o infeliz achado na porta daquele quarto de hotel.

- Como não tem ideia de quem jogou aquilo? – Disse ela tensa

ao telefone – Sem digitais, veio do nada? É como crer que existem

frutos sem arvore e livros sem autores! Sei... – disse ela e fez uma

pausa - E ainda por cima liberam o calhorda do William Sanchez?

Essa gente é comprada, não é possível!

Ao finalizar a ligação ela sentou-se numa cadeira e olhou para

Petrônio como se todos seus esforços fossem em vão, talvez fizesse

sentido a alegação de que ante o caos negativo todo livre-arbítrio e

consequentemente o esforço resultante dele, estaria anulando-se,

enquanto William Sanchez aparentemente parecia zombar de nós

tentando completar algo ainda mais malévolo, pois não tínhamos ideia

do que exatamente poderia haver em Akator.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 181

- Li o diário e busco compreender o que Jorge teria encontrado

lá, e não consigo compreender que minha família guardasse tal

segredo. – Disse eu ao nosso amigo Muros.

- Tem que compreender que por de baixo de eventos oficiais

da história existem coisas que na realidade mostro as verdadeiras

causas desses eventos históricos, do descobrimento das Américas a

sua independência havia interesses de poderosos por de trás. –

Respondeu ele esfregando o rosto por estar levantando-se naquele

momento. – A obstinação dessa gente é esconder a verdade.

- Sua família fugiu da Espanha – disse Zaira virando-se para

nós – A versão oficial narra que recebeu esse nome ao serem

recebidos por Rui Peres, como um apelido por serem de Ávila, uma

vila de Astúrias. Foram perseguidos após o Rei Pedro, o Cruel, ter

sido destituído do poder por seu irmão Henrique, por serem

partidários e fidedignos ao poder da coroa legitimado até em tão. Não

existem menções a qualquer Ordem dos Ventos, sendo, porém, alguns

membros associados a Ordem de Calatrava, o qual tinha ligações com

a Ordem dos Templários e Cister, ordem reconhecida pelo Papa em

1164.

- Naquele tempo eram muito comuns ordens militares a

serviço do Vaticano até serem abolidas no século XX – disse Muros

continuando o que Zaira falava – porém, o que atraí isto era

justamente a trama de poder e conspiração que na época deles levaram

a destituição do antigo rei, e naturalmente os jogos de interesses não

eram apenas por relações importantes que os Avillez tinham em

Portugal. Tens as mesmas descendências dos reis de leão que Pedro

tinha e certamente eram descendentes comuns. Alguns poderiam

atribuir isso a prováveis relações do Santo Graal dos reis da Dinastia

Asturo-leonesa ou Pelagiana, de 866 à 1037, pois algumas construções

da época tem relações com o mito, mas não. Antes destes o estudo

genealógico se torna nebuloso de mais para tais afirmações a não ser

uma coisa, alguns conhecimentos e tradições. – Completou Muros

pegando um copo de leite e tomando quando Zaira pegou a deixa e

seguiu.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 182

- Ao meu ver a fuga deles tem relação pelo fato de o Rei

Pedro ser adepto dos conhecimentos desses Avillez que por iniciativa

própria após a fuga resolveram não transmitir a seus filhos por temer a

perseguição, mas concebendo que tornaria ao mesmo. – Completou

ele.

Os nobres fugitivos da então corte do Rei Pedro, se dirigiram

sob instruções a Portugal. A cordialidade com que foram recebidos é

notória ainda que não se veja provas de quem tinham laços tão

estreitos com estes nobres de Portugal o que denota que sua influência

era mais que por dinheiro. Recebidos por D. Álvaro Gonçalves

Pereira, prior do Crato, na época em Portugal, Domingos de Avilez

recebeu suas honras e graças e a atribuição do nome Avillez não teria

sido ao acaso ao relacionar-se com a cidade de Avilés e não por menos

considerados variações de mesmo nome e família. O fato é que tão

logo foram arrumados casórios adequados a estes, de modo que

Fernando de Avillez recebeu a oferta de casório de D. Álvaro

Gonçalves Pereira ao oferecer a mão de sua filha. Porque? Queriam

ter uma herança em comum. Casamentos entre nobres e famílias

influentes na época eram muito comuns para fortalecer laços e

influência por heranças comuns e cruzadas a estas. O que se seguiu

levou a tantos mais Avillez influentes até chegar ao destacado Conde

Jorge de Avillez que acumulou notórios títulos ao longo de sua vida,

se tornando um clã muito influente no período.

- A perseguição vem de gerações então. – Concluo eu.

- Uns membros mais e outros menos, mas não é por acaso. –

Respondeu Zaira – evidente que nesta história alguns aparente

encobertamentos, apenas ligamos os pontos.

- Temos que seguir – disse Petrônio – Fica evidente pra mim

que aquilo que Sanchez fez fora apenas para nos atrasar e desviar as

atenções.

A Conclusão de Doutor Petrônio era óbvia e acertada sobre o

dito, uma vez que não havia quaisquer interesses particulares de

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 183

Sanchez fazer, mas atentados terroristas na região, pois tinha perfeito

entendimento que buscávamos igualmente a mítica cidade.

Rio de Janeiro, Governo Militar da Cisplatina.

Jorge Avillez havia retornado do Uruguai após mais uma campanha de

sucesso onde fora Governador de Montevidéu em 1818. Movido ao

Rio de Janeiro, fora promovido ao cargo de Tenente General após ser

nomeado como Governador das Armas da Corte e Província do Rio de

Janeiro quando ao partir do Rei e da corte em 1821 tumultos ocorriam

motivados por sua partida. Aquele era um dos primeiros sinais da

emancipação onde os contornos se formavam aos céus pelos ventos.

Ainda que atarefado, Jorge de Avillez viu num momento de

descanso a oportunidade de procurar as pistas deixadas até a Pedra da

Gávea onde resolveu realizar uma incursão num fim de semana, em

segredo e apenas com dois homens de confiança.

O Dia era claro, a visibilidade notável não bastando o fato de

que na época não havia a poluição que havia hoje, mas ante um ar

puro e refrescante Jorge como a muito não fazia resolveu se aventurar

numa escalda carregando cordas ao lado de seus amigos Domingos

Peres e Álvaro Nogueira. A caminhada gradualmente se tornou

acentuada e com as arvores bloqueando os ventos, abafado. Não

haviam fontes de água pós certos altura, mas sendo prevenido haviam

cantis de água pelo fato dos irmãos conhecerem a geografia do lugar

assim como suas lendas que o envolviam.

Caminharam eles alguns longos minutos até que viram o que

justificava o mito que lhe cercava, um rosto visivelmente reconhecível

na face praticamente escondida do mar e onde ainda que desgastada

pela vento e ações climáticas como a chuva tornava evidente a estes

que eram provas de uma visita ulterior de povos não europeus aquele

lugar, ainda que alguns afirmassem que justamente eram as ações

climáticas que havia lhe dado aquela forma.

Vislumbrado com aquela paisagem, Jorge bebeu um gole de

água e tirou da pasta o diário de Pedro onde curiosamente vira aquele

desenho sem que ele se quer tenha conhecido aquelas mediações, e

fosse o que fosse ele prosseguiu. Cruzaram eles um trecho íngreme

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 184

onde ao escalar com dificuldade conseguiram após mais alguns

minutos de caminhada chegar ao topo, topo este cuja vista única

poder-se-ia contemplar todo um Rio de Janeiro praticamente sem

cidades, casas e construções.

As instruções diziam de um Rei Fenício que teria precedido o

conhecimento dos chineses, porém, estavam enganados. Jorge

caminhou pelo topo ao lado dos amigos procurando quaisquer

entradas em vão, sem cavernas, mas notaram eles haver cortes

verticais nas pedras em paralelo por todo um lado daquela enorme

Pedra que parecia vigiar as entradas do Rio de Janeiro. Fora naquele

momento que Domingos Peres teve a ideia de amarrar a corda e descer

pela lateral da pedra para contemplar melhor aqueles aparentes talhes

que visivelmente indicavam padrões. Sem muito ânimo por não ter

encontrado o que desejava, Jorge aceitou, uma vez que lá em cima já

estavam e assim seguiram os homens.

Domingos Peres, desceu ao amarrar a corda em sua cintura e

inclinando-se receoso com os dois homens acima viu as marcas na

parede, porém, uma entrada impossível de uma caverna, no alto, e

acessível apenas descendo de corda. Domingos Peres gritou

entusiasmado pedindo para que lhe puxasse de volta ao topo e assim

que subiu relatou o que vira a seus amigos e como Jorge conseguira

tais conhecimentos, sendo negado por ele.

Os Fenícios teriam ido aquelas terras por volta de 600 a.C.

algo que somente nos séculos posteriores descobririam com

evidências concretas sobre os feitos deste povo. Porém, agora

envolvido pelo entusiasmo de seu amigo Jorge resolveu ele mesmo

descer até a posição de tal entrada temendo o que lá poderia haver e

assim o fez, fora descido pelos seus dois amigos por alguns metros

quando temendo a altura contemplou a entrada discreta naquela pedra,

não poderia ser algo natural, pensou ele consigo próprio. Jorge pediu

para segurarem a corda, pois precisava de impulso para adentrar o

conseguindo com êxito ao se agarrar numa pedra que nela havia.

Jorge ao adentrar, suado, pelo esforço notou que apesar da luz

agora não atingir aquele ponto, via-se desenhos na parede. Ele abriu a

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 185

pasta e tirou o diário de Pedro e uma pequena lamparina e acendeu e o

que vira era simplesmente incrível.

Havia um corpo, um esqueleto dentro de trajes com detalhes

em ouro e demonstrando nobreza deste, dentro uma tabuleta com

inscrições que não compreendia, sendo algo como similar ao hebraico.

Jorge abaixou-se e viu desenhos de estrelas relacionadas a datas de

algum calendário e também um mapa onde indicava o desenho do

litoral brasileiro e uma linha que levada até o interior em território que

era do tratado de Tordesilhas tempos atrás, tratado assinado na

povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, número

emblemático provavelmente não por acaso.

Jorge compreendeu que mais do que mero fenício aquele

homem era talvez um descendente de seth, sobrevivente de Pitah que

atravessou os mares carregando o conhecimento que marcado por um

X delimitava uma cidade perdida no meio da floresta Amazônica, nas

mediações de onde seria a Serra do Roncador, a cidade de Akator.

Jorge Avillez com muita dificuldade conseguiu guardar o que

conseguia dentro de sua pasta e então pediu para que seus amigos o

puxassem ao topo novamente e assim o fizeram com igual dificuldade.

Ao chegar ao topo, Jorge, mostrou a eles os artefatos que estavam

presentes na caverna e que temendo que outros ali alcançassem com

os mesmos conhecimentos pediu para que não somente guardassem

segredo sobre o descoberto como os artefatos restantes e dessem um

fim no corpo deixando apenas as inscrições na parede da caverna,

levando que apenas isto fosse descoberto nos anos seguintes.

Assim fizeram tais homens, desta vez Domingos Peres desceu

a incursão da caverna ficando não menos surpreendido que Jorge.

Com duas cordas agora ele amarrou o corpo mumificado e o

suspendeu pelos amigos que estava no topo, não sem ter algumas de

suas partes caindo de altura inominável. Jorge enrolou o corpo do que

aparentava ser algum tipo de rei, num lençol e os três desceram

carregando-o e na base da Pedra o enterraram em segredo. A face do

homem estava relativamente conservada pelas condições da caverna e

umidade preservando aquilo por milênios, mas que seria alvo de

saqueadores.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 186

Naturalmente que Jorge realizou anotações em seu diário

registrando tudo o quanto feito, um diário particular que sempre

estava com ele onde quer que fosse, inclusive da localização do corpo

daquele homem e os indícios de que fosse um sobrevivente da mítica

Pitah, uma cidade com conhecimentos singulares, únicos, fez

novamente seus dois amigos prestar promessa de segredo ante o

revelado por eles sob a promessa de leva-los a quem lhe instruiu sobre

aquilo.

Tudo transcorria tranquilamente quando ao chegar nas

mediações de onde estava morando na ocasião Jorge viu justamente a

quem havia lhe instruído, Dr.Kairos Mahalingam, após despedir-se de

seus amigos. O homem estava ao entardecer na praça XV ao lado de

uma mulher com capuz branco cobrindo a cabeça, mas que não

deixava de revelar os belos contornos dela.

O homem em bons trajes e de parecer vistoso apesar de

aparentar certa idade levantou-se ao vê-lo entre as esparsas arvores

que havia naquele ponto de modo que percebia Jorge ser muito mais

que a mera aparência. Surpreso com a presença inesperada de uma

amizade não menos inesperada pelo modo como o conheceu.

- Vejo que certamente conseguira encontrar a caverna oculta

da Pedra da Gávea, a julgar por seus trajes. – Disse Kairos.

- Como soube? – Indagou Jorge o cumprimentando e em

seguida a bela e formosa jovem.

- Por onde anda o vento, anda meu conhecimento. –

Respondeu ele de modo enigmático. – Há ficções que falam mais

verdades se dizendo mentira do que algumas fantasias que se passam

por verdade.

- Pressuponho que apesar da aparente amizade, se quer sei seu

nome verdadeiro. – Respondeu Jorge intrigado – Mas por favor siga-

me, não lhe farei cruzar o oceano em vão.

Os dois seguiram Jorge até entrar na residência oficial do

Governador naquele tempo e gradualmente com o anoitecer as

primeiras luzes eram acessas nos postes com óleo de baleia enquanto

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algumas carroças transitavam e casais passeiam a beira do mar. Jorge

lavou o rosto e lhe ofereceu água e alimentos e então acendeu uma

lamparina e a colocou sobre um móvel como de seu escritório

particular. Doutor Kairos abriu aos manuscritos encontrados por ele e

sorriu como se seus olhos brilhassem de prazer pelo conhecimento

encontrado e disse.

- Muito bom! A peça que restava no quebra-cabeça, esses

escritos estão numa língua que antecede ao hebraico e aramaico, sendo

sua origem, veja os contornos das letras como se assemelham. –

Completou ele enquanto a jovem de cabelos claros se inclinava sobre

ele na cadeira ao lado observando aquilo quando ele seguiu falando –

Diz algo icônico como o Peregrino do Destino oculto, pelos quatro

cantos fomos, de um ponto viemos, deixamos nosso pai Noé em

caminho próprio por nosso pai Seth, o melhor abaixo de Deus. –

Kairos fez uma pausa e tirou uma lente do bolso se esforçando para

compreender o mais e seguiu – Pelo presente estamos cobertos, mas

pelo futuro revelados, guardo minha herança que é o tesouro, não de

fortunas materiais, mas da fortuna que do tempo a que tudo faz.

Convém ao hábil, justiça, pois dela se faz o destino assim como

tempestade.

Doutor Kairos quase chorou de felicidade com aquilo em suas

mãos como se aguardasse por Jorge como destinado ao papel de

descobri-lo. Abaixou a lente e investigou os demais artefatos com

muito cuidado quando Jorge disse.

- Acho que o senhor me deve algumas respostas mais.

- Mediante o feito, como negar? Como agradecer? -

Respondeu Kairos sorrindo pra ele. – Compreenda meu caro, estamos

num labirinto. Um labirinto é um teste, pode fazer seu visitante perder

a direção, o sentido e o rumo se ele tiver fraca percepção, mas instigar

ao hábil tomar o rumo pela dúvida, com fé. Por isso existe a Ordem

dos Ventos, somos guias do labirinto, do tempo!

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A jovem ao seu lado, que deveria ter uns 20 anos pegou o

manuscrito e o examinou com igual cuidado a de seu aparente Mestre,

quando Jorge perguntou.

- O que há no lugar indicado no mapa?

- O que restou de intacto na única cidade herdeira de Seth até

então. Mas, sobretudo o sul, porque não meramente no espaço, mas

porque nesse espaço é de onde tem uma abertura no tempo ao futuro.

- Como assim? – Perguntou Jorge não se dando por satisfeito.

- Um modo de romper a dimensão em que vive, e a fonte do

que restou das puras águas de Avila.

- Éden? – Indagou ele tendo um aceno positivo com o rosto

quando a jovem interrompeu e disse.

- Veja isto, a parte que não traduziu tem mais informações.

Doutor Kairos pegou o manuscrito e colocando a lente

novamente sobre seu olho cerrou a visão de modo confiante e lendo

balançou o rosto como se tivesse concordando o que a carta revelava

que assim dizia.

Trago somente a quem mereceu encontrar tal carta, por até

aqui chegar, o último testamento do reconhecimento daqueles

que foram apagados da existência pela mentira e perversidade

dos malignos. O conhecimento ao futuro vazar por aqueles o

qual os atos comprovam com os males, os bons justificam a

busca tomar por nós herdeiros de Pitah. No caminho do

destino as vezes se passa pelo vale da sombra e da morte de

onde vem o eco do abismo, pois no percurso há tempos e

locais malignos. Por muitas terras andei, e as muitas águas

atravessei, mas é pelo tempo que triunfarei. Venho então aqui

em minha derradeira viagem deixar isto que o tempo se

encarregue de entrega-lo, siga o mapa e descubra a eternidade,

de onde ondas que ressoam do futuro criando flutuações por

quem a induz a seus destinatários pelo elixir de Kairos, como

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 189

sua última fonte. Proteja-a, guarde-a destes que querem

desejam torcer o destino da direção a Tempestade perfeita.

Ao finalizar aquela leitura Jorge se remexeu em seu acento

como quem tivesse consumido pela curiosidade e anseios do que

poderiam ter eles em mãos quando Doutor Kairos disse.

- Compreende agora que as lendas que os espanhóis

perseguiam não eram meros dizeres indígenas? Quando há consenso

entre as afirmações ainda que de modo variável por ser distorcido pelo

tempo, liga-se os pontos e temos um mosaico.

- O interesse dos espanhóis no tratado de Tordesilhas então

era encontrar a mítica eldorado, que seria onde na verdade os últimos

setianos depositaram seus conhecimentos e protegiam a entrada para

algo do futuro? – Indagou Jorge pegando o manuscrito e ele mesmo

vendo suas inscrições como se duvidasse da leitura.

- Sim. – Respondeu o Guardião do Sul sorrindo – A forma

como eles escrevem era mantida a língua original justamente para que

não lessem. Diga-me então, queres realizar uma excursão ao interior

da Amazônia?

Jorge sentiu-se como uma criança possuído por um

entusiasmo singular e pueril como víeis que motivava ele a descobrir

o mundo a sua volta, porém, muito mais do que aqueles que com

olhos cobiçosos espreitavam e inqueriam com suas mentiras apenas

para saquear e excluir o justo de suas obras pois não faziam igual.

Assim levando apenas poucos segundos ele acenou concordando

quando a jovem abriu um sorriso cordial virando-se para seu mestre.

- O tempo de Kairos se aproximou, por isso então o tempo

linear é curto. – Disse o Guardião do Sul. – Vede isso que tramam

neste momento, pois no silêncio discutem o rumo destas terras, e disso

virá caos e sobre você virá perseguição, pois outros povos, do norte,

desejam dominar a terra e desvendar seus mistérios antes que os

chineses outorguem-se seu dono.

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- A proclamação da independência. – Respondeu Jorge – soam

boatos após a retirada do rei, mas apenas cumpro o que me é

designado.

- Seu designo entre homens não pode suplantar o designo de

Kairos. Enfrente o caos e vá ao destino que lhe é aparelhado, pois

chegará o tempo em que independente da direção a ser tomada levará

ao mesmo pelo caos, estará tudo dominado em todas variáveis,

direções e opções, muitos correrão de um lado a outro e dirão, quem

nos defenderá? Quem é confiável? O que lhe pedirei é que preste

obediência primeiramente sobre Deus e sua palavra, depois as leis do

homem estando de acordo com esta, e a ordem natural o qual a família

se insere, lembrando que todas estas coisas nada são sem verdade e

amor, de sorte que as duas antecedem as primeiras. Digo isto, pois

mesmo eu falharei, mas estas coisas nunca.

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Ato XI

O Mestre do Caos

“Muitos correrão de uma parte para outra ...”

Daniel 12:4

Barra do Garças, Floresta Amazônia, Mato Grosso, tempos atuais.

Muitos se questionavam se de fato o mito de um Santo Graal

realmente existia, na realidade ao longo dos tempos o mito ganhou

inúmeras formas e variações de modo que para uns era derivado de

uma pedra que teria caído do terceiro olho de Lúcifer ao cair neste

mundo, uma pedra alquímica capaz de transmutar metais e ser a chave

para estes magos da época. O fato é que assim como o mito das fadas

ainda que relacionados a entidades várias vezes demoníacas tem

relações com alguns pontos verdadeiros em sua fonte de origem, mas

que fora distorcida pelo boca a boca com o passar dos séculos. A

diferença entre o Graal pedra para um Graal de filhos de Jesus é

grande de modo que até mesmo alguns relacionaram se tratar com

lendas do Rei Arthur e uma fonte que levava a imortalidade, fatos

incomportáveis e que as ordens militares e sociedades secretas da

época se aproveitaram para tomar posições não legitimadas diversas

vezes.

Os Templários chegaram perto e com os conhecimentos

vazados na época viajaram justamente ao novo mundo procura-lo, não

deixaram tesouros como diziam as lendas de sua derrota, pois onde

teriam ido, onde hoje é o Canadá nunca houve quaisquer tesouros,

simplesmente porque eles na verdade nunca o encontraram.

Contempla-se então o mosaico dos distorcidos mitos que isoladamente

pouco sentido faz, mas unidos em suas pontas concebe-se um mosaico

que Flavio Josefo em tempos remotos e posteriores a Jesus fora o mais

perto de se aproximar. Os herdeiros de seth são constantes num tempo

mutável, assim como as pedras de um graal que permanecem imóveis

Page 192: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 192

nas águas, constantes ante um destino, de mesmo modo as pedras

jogadas criam ondas nas águas em seu caminho, como fadas eles

fazem o destino e mudam o mundo por onde transitam, o mosaico

ainda que não comprovado se completa e o circulo se fecha, os

herdeiros do destino fundaram reinados e com povos se miscigenaram,

caminharam entre judeus, instruíram Davi e aprenderam com Jesus

que andava sobre as águas. Mas a água que carregavam assim como a

dos tempos que mudavam não trazia a imortalidade, mas uma visão da

eternidade e não seria isso a imortalidade ultrapassar o tempo linear,

romper os grilhões impostos pelo severo Chronos e ecoar

perpetuamente como um grito de existência ante o caos, as fadas eram

pequenas, mas tinham poder de grandes feitos no tempo, pelo tempo e

através dos tempos.

Porém, assim como positivos e negativos, Deus e o diabo,

perseguidos e algozes, há o destino e o caos tão distintos quando o

bem e o mal, mas que ao exceder o natural aniquilam-se, não

coexistem, isso conheceram os Filhos de Seth, os Herdeiros do

Destino ao encontrar com o caos e o caos a lhe encontrar pela

aniquilação, violência e medo dos que invadiram e saquearam Pitah.

Mas assim como ventos sopram do norte pelas lembranças, ventos

fortes sopram do sul por Marchal a ecoar feitos futuros no passado, e

não somente o passado no futuro.

Tudo aquilo ecoava em minha mente como perguntas latentes,

e que por um denominador comum ressoava todas flutuações duma

função de onda pelo tempo entrecortado pelo destino, e nós erámos a

chave assim como a quem responde as perguntas e dá sentido.

Todavia o tempo urge como dizia o ditado nos forçando a

tomar posições num jogo onde alguns não competiam, apenas

impediam de se competir, pois levantavam-se quanto tudo que era

legitimado e verdadeiro. Por isso partimos rumo as matas como

desbravadores de um tempo não conhecido, onde florestas virginais

como o tempo pueril anunciavam o incógnita de um destino nunca

nefasto, mas como se temer, pois no caminho do destino quando não

se vê se tem fé, e a fé tudo vê.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 193

Porém ao caminhar o pesar da gravidade embotava o tempo

fazendo parecer minutos em horas e horas em dias, abafado pelos

extensos galhos de arvores a luz escapava tênue em raios dispersos

entre folhas e cantos de pássaros que pareciam enunciar nossa

aproximação.

Vi macacos em seu galho num breve momento lembrando-me

do ditado e quase me arrancando um sorriso entre o rosto suado,

enquanto a mochila ao ser movida de minhas costas ao expor o suor a

menor brisa refrescava quando vimos uma fonte de águas cristalinas.

- Os primeiros relatos de índios da região apontavam a

eldorado nas nascentes do rio Amazonas, no Planalto das Guianas,

região entre a Venezuela, a Guiana e o Brasil – disse Zaira ofegante

após molhar o rosto com a água do cantil – área de muitas incursões

dos espanhóis durante os tratados de Tordesilhas indicando que não

somente relatos vazaram, mas conhecimentos talvez relacionados a

Pedro Menéndez de Avilés. O termo Eldorado significa ‘homem

dourado’ ou ‘o dourado’, uns fazendo referência a rica cidade e que

seu imperador costumava se cobrir de ouro em pó ficando com a pele

dourada.

- Mas naturalmente que não era isto. – Conclui eu ainda

ofegante pelo caminhar. - Percy Fawcett, talvez a tenha descoberto

dado os relatos contradizentes dos índios kalapalos.

- Ele seguiu por aqui, por Barra do Garças tendo o último

contato no Alto Xingú em 29 de maio de 1925. Desde então em torno

de 100 exploradores a procura deles faleceram tendo três expedições

desaparecidas. – Disse Zaira encharcada de suor e água e tendo um

guia indígena parado lhes aguardando. Somente os irmãos Vilas Boas

encontraram restos que suspeitaram ser de Fawcett na incursão que

descobriram os índios kalapalos, nada comprovado e as alegações dos

índios não se encaixam com as afirmações posteriores de expulsar

mais exploradores os fazendo prometer que desistiriam de procurar.

Há indícios de que até mesmo nazistas realizaram expedições para

estes lados, eles procuravam algo que acreditavam ser provas de

sobreviventes atlantis.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 194

Talvez os nazistas estivessem procurando certo pelos motivos

errados uma vez que não se tratava de sobreviventes da Atlântida

perdida, mas a Pitah aniquilada, como se percebe os mitos se cruzam e

assim como as ondas nas águas se distorcem.

- O mais intrigante é o conhecimento que levou Percy Fawcett

a realizar mais de uma expedição a região até desaparecer. – Disse

Petrônio sentindo o peso da idade e continuou – Como temos ciência

ele era um agente da MI6 por onde cruza todo tipo de informações e

segredos, sendo coincidência ou não sua relação com o misterioso

grupo de The Seven Circle me parece emblemático aos setianos

mesmo porque nas ondas do mar a sétima é a mais forte, assim como

Platão afirmava a Atlanrtica ser feita de anéis.

- Esse grupo realizava serviços de inteligência – completou

Zaira – Mas era também uma sociedade secreta com preceitos

relacionados a mágica e não muito claros para mim. Não podemos

afirmar se fora deles que veio tal conhecimento.

- Vamos, dentro de duas horas a noite vai cair. – Disse

Petrônio colocando a mochila nas costas e sinalizando para o índio

que tinha apenas a tanga como roupa e penas como chapéu.

Caminhamos por mais uma hora quando então vimos uma

clareira e sinal de fumaça. O índio parou assustado resmungando algo

em seu idioma nativo e então virando-se para nós disse.

- Kalapalos são territoriais, não passar daqui. Mas eles não

vêm, acho que algo aconteceu.

Petrônio parou e tirou um binoculo da mochila e viu que a

aldeia estava praticamente sem movimento a não ser uma cutia que

andava de um lado a outro. Ele moveu o binoculo a direita e naquele

momento então viu o que parecia ser um corpo caído ao chão, quando

abaixando o binoculo virou-se para Muros e disse.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 195

- Você estava certo, se eles passaram por aqui, eles estão

mortos.

- Como assim? – Disse Zaira tirando o binoculo da mão de

Petrônio e olhando ela mesma e ficando estarrecida.

Caminhamos mais alguns metros adentrando a aldeia com o

índio resmungando mais palavras indecifráveis quando perguntei a

Petrônio o que ele falava e apenas limitou-se a dizer.

- Ele falou que o demônio do caos e da tempestade passou por

aqui.

Ao olharmos o local até mesmo as crianças haviam sido

mortas, nem mesmo uma índia grávida fora poupada. Todos caídos ao

chão enquanto uma oca estava toda revirada.

Parei diante dela e então temendo haver ainda algum perigo

tirei a mochila e entrei lentamente com aquela sensação do apertar da

bexiga pela tensão e vi o que parecia ser o pajé morto ao chão e então

me abaixei e vi o relógio que tinha visto no sonho, era um Dumont

assim como o criado por Santos Dumont e com as iniciais P.F.

deixando Petrônio intrigado e disse.

- Quando o caos é natural a aleatoriedade não anula o livre-

arbítrio, mas quando negativo, sem equilíbrio, este o engole como a

mais forte correnteza convergindo eventos a exclusivamente uma

direção ao contrários do livre-arbítrio.

- Sei disso. – Respondi – Vejo por este cenário desolado.

Havia um ponto onde havia restos de algo queimado numa

fogueira de onde vinha a fumaça e ao chegarmos ao lugar mexemos e

vimos que havia restos de um diário escrito em inglês.

- Sem dúvida eles passaram aqui e estão apagando rastros e

evidências factuais. – Disse Zaira – São restos da expedição de

Fawcett.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 196

- Não se pode sair da verdade sem entrar na mentira, é como

abandonar a própria história e memória, a identidade do que somos. –

Conclui eu de modo introspectivo.

Petrônio resolveu pegar seu telefone via satélite e ligar para as

autoridades informando sobre o caso do massacre lá realizado de

modo covarde evidentemente pelos homens de Sanches, eram

fanáticos sem escrúpulos. Após juntarmos os corpos e temendo o cair

da noite resolvemos procurar um lugar para acampar a noite e

procurando dentro do possível relaxar as preocupações que nos

consumiam gradualmente em anseios.

A noite caiu e eu abri o diário de Pedro Avilés a constatar que

por aqueles amigos confiáveis que fiz estávamos ligados não apenas

pelo sangue em nossas veias, mas pelo tempo que nos une, pois de

algum modo as demais famílias se auxiliavam aparentemente sem se

dar conta, quando senti que algo fluía em minha direção como se ao

ler aquele diário o passado estivesse transcorrendo gradualmente

alinhado em paralelo ao meu tempo.

Barra do Garças, Floresta Amazônia, Mato Grosso, Brasil, 1820

Jorge Avillez seguiu as instruções do Guardião do Sul de que fosse em

companhia da misteriosa e bela jovem aprendiz que com ele estava,

pois estando em idade avançada o Guardião do Sul, como se referia

assim como os demais, não tinha disposição física de antes, ainda que

Jorge indagasse quantas histórias aquele homem não deveria possuir e

por quantas aventuras e caminhos não cruzou. Fosse como fosse

seguiram os dois por vários dias ao interior do Brasil onde

anteriormente era território espanhol pelo tratado de Tordesilhas, seus

descendentes. A jovem cujo nome era Stephanie Fonseca não era de

muitas palavras, mas de formosura ímpar, levando Jorge a ficar

encantando com a delicadeza simultânea ao vigor e disposição física

da companheira de viagem. Seus cabelos lisos e castanhos claro

combinavam com os contornos suaves e delicados e um rosto lindo

que irradiava volúpia com o primeiro sinal de sorriso. Para Deus, para

criar o homem precisou apenas se olhar no espelho, mas para criar a

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 197

mulher ele precisou de imaginação, e Stephanie era prova disto, sem

dúvida uma das criações mais bela de um Criador aparentemente

ausente.

Após as longas horas com Jorge tentando buscar assunto sem

muito sucesso, finalmente ele havia quebrado um pouco o gelo ao

fazer algumas brincadeiras relacionadas aos índios locais por onde

transitavam lhe roubando um sorriso tímido, mas sincero. Jorge então

resolveu arrisca fazer-lhe perguntas mais pessoais a jovem.

- Como você participou da Ordem dos Ventos?

- Era muito jovem quando fui pega por Doutor Kairos. – Disse

ela olhando pela janela da carruagem. – Minha família fora

massacrada por piratas e corsários, em Cuba. O Guardião na época

estava num posto avançado no que era chamado de portos dos ventos.

- Sua família possuía algum segredo. – Indagou ele – Ou

riqueza.

- Na realidade eram dissidentes da Espanha, após o Rei

Henrique tomar o poder.

- Intrigante, minha família também! – Concluiu Jorge. – Conte

mais sobre isso, não conheço Fonseca na Espanha.

- Não eram, mudamos o sobrenome temendo a perseguição,

assim como alguns portugueses alteraram seus nomes no Brasil para

Silva. É gente do pior tipo, não admitem qualquer status ou liberdade

aqueles que perseguem. São o caos desse mundo, a Ordo Ad Chaos.

- Na Ordem de Cristo, ouço falar as vezes de boatos de alguns

infiltrados que dizem algo sobre Ordo Ab Chaos. – Respondeu Jorge.

- Certamente, o senhor conhece segredos dos Templários, que

na realidade eram segredos desses descendentes. – Respondeu

Stephanie.

- Herdamos o que o Vaticano nos passou após o fim da Ordem

dos Cavalheiros empobrecidos de Cristo. – Respondeu Jorge agora

olhando para a janela igualmente enquanto via alguns índios

caminharem numa estrada aberta recentemente – Acho intrigante

como algo com voto de pobreza enriqueceu tanto.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 198

- Mestre Kairos ensinou que se contradiz sempre não é

confiável. Acho que ele está certo.

- Lamento por sua família, estou a sua disposição. –

Respondeu Jorge pegando na mão da jovem e a olhando dentro dos

olhos com sinceridade ainda que legitimamente atraído por ela. – O

doutor Kairos, ou seja, qual for seu nome, certamente me parece um

homem muito justo e integro.

Com os dias indo e vindo, passou-se uma semana até que

chegaram a Mato Grosso onde encontraram a dita entrada ao lugar

onde deveriam seguir, e ainda restavam muito tempo de percursos,

talvez uma semana ou duas, agora a pé. Jorge encontrou no local

Álvaro Nogueira que junto a dois índios como guia seguiram mata a

dentro após ser apresentado a formosa Stephanie e seguiram com seus

recursos do período com a dificuldade ante o calor extenuante daquela

floresta que tinha a beleza proporcional a impiedade com que assolava

seus viajantes.

Após dias de muito esforço e cansaço chegaram à eles ao Alto

Xingu onde avistaram uma aldeia indígena que imediatamente os

índios que estavam como guia não quiseram prosseguir por serem

rivais, falando algo em sua língua de modo intraduzível a não ser a

Álvaro que conhecia a língua deles.

- O que eles dizem? – Perguntou Jorge intrigado.

- Falam que são os homens do outro lado. Guardiões da cidade

Akator. – Respondeu o amigo de Álvaro não menos perplexo. –

Kalapalo? – Perguntou ele aos índios.

- Como assim outro lado? – Perguntou Jorge sob o olhar

preocupado de Stephanie que resistiu firme a viagem enquanto Álvaro

perguntava-lhe em sua língua nativa o que seria aquilo.

- São homens de um mundo diferente, não compreendo o que

querem falar com isso, mas não faz sentido. – Respondeu ele

traduzindo o que eles falavam. – Vieram pra cá há muito tempo e

protegem a entrada de um tempo de longe, tempo de um lado

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 199

diferente, a defender os que apagam memórias, comem existências e

sentido.

Ofegante pelo longo percurso, Jorge viu os índios acenando

com as mãos em negação de que não seguiriam e que os aguardariam

caso resolvessem seguir, deixaram eles para trás sob os olharem

atentos dos dois índios com um arco e outro com cajado quando ao

entrar no perímetro veem um índio surgir acenando com a mão para

irem embora enquanto falavam coisas num idioma diferente a dos

índios anteriores.

Jorge levantou a mão e abaixou levemente a cabeça em

respeito aos homens, afinal era território deles quando Álvaro tentou

arriscar palavras no idioma da outra tribo e Jorge tirou da pasta o

mapa que havia encontrado no alto da Pedra da Gávea.

Ao ver aquilo o índio gritou para um outro que saiu de dentro

mata enquanto ele pegava o mapa com as mãos falando aquelas

palavras sem parar e vindo correndo o índio parou ao lado de seu

colega e pegou o mapa e colocou o arco no ombro e então colocou a

mão no ombro de Jorge e olhando nos olhos o puxou pelas mãos o

levando por um caminho dentro a mata até chegar a aldeia com seus

dois amigos os seguindo.

Ao entrar no lugar algumas crianças brincavam com um

macaco prego que estava preso a uma corda e o largaram

imediatamente ao ver as visitas com as crianças os rodeando.

Temendo as intensões dos índios, os que estavam com eles o largaram

e segundos depois apareceram novamente ao lado de um ancião muito

peculiar que se aproximou após fazerem as crianças se retirarem e

pegou o mapa nas mãos e então os encarou e disse em espanhol.

- O que querem no lugar onde o tempo pula? Onde

encontraram mapa?

- Pedra da Gávea, no litoral do Rio. – Respondeu Álvaro em

espanhol.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 200

O ancião então virou-se ao seus índios e levantou o mapa com

as mãos e eles gritaram levantando os arcos nas mãos e as mulheres

começaram a bater os pés. O que parecia ser o cacique então virou-se

de volta para eles e disse.

- Certamente é o escolhido de seu tempo. – Disse o homem

num espanhol arrastado. – Faz água correr ao contrário! Passar por

aqui.

O homem então apontou para um índio jovem que veio

prontamente até o cacique com um arco nas mãos e lhe falou na sua

língua com ele concordando em tudo o quanto dizia. O cacique então

virou-se para Jorge e colocando a mão sobre seu ombro disse.

- Guiar vocês, ele. Até a porta, mas a porta você atravessar. –

Completou ele abaixando a cabeça com respeito aparentemente

inexplicável como se o mapa fosse algum convite ao lugar.

Jorge, Stephanie e Álvaro então seguiram cruzando a aldeia

até ir fora do perímetro acompanhando pelas crianças que gritavam

sem parar ao lado do índio até que vendo-se longe elas retornaram

deixando o caminho agora somente aos quatro aventureiros.

Tempos atuais, Alto Xingu

A medida que os avanços científicos progrediam acelera o

desenvolvimento de modo proporcional a uma aritmética mas que não

acompanha iguais avanços de valores e bons costumes, a história

ocidental é manchada por massacres, pestes e todo tipo de

discriminação dos modos mais variados possíveis, o comportamento

do encontro destes ocidentais com demais povos deu-se diversas vezes

de modo desastroso e aniquilador, até pouco tempo os índios norte-

americanos eram retratados nos filmes de Hollywood como vilões

selvagens e eram caçados como animais danosos, o tempo passou, e

vimos o genocídio do nazismo a Hiroshima e Nagasaki a demonstrar

as tendências do homem de aniquilar o semelhante lhe tirando a

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 201

humanidade que este próprio parece nestes momentos não possuir.

Pilhagens, estupro, medo e pobreza, a ética é a fachada dos poderosos

distante da realidade que destes resulta. Negros, judeus, gays,

deficientes, amarelos, índios, de tempos em tempos a discriminação

alterna seus alvos, mas no fundo é sempre o mesmo, a diferença

daqueles que não aceita direitos iguais. Não é ocasional, mas

ideológico, pois a incidência repetitiva indica intensão, não existe

acidente na intencionalidade, mas como crença na maldade, da

maldade, por isso temos que atravessar rios, ou eles atravessam nós.

A viagem que eles seguiam naquele percurso sinuoso não

mais acompanhava o rio que atravessaram e viram eles ante a seus

pensamentos de introspecção uma montanha que se erguia diante

deles e completamente verde pela cobertura da vegetação e fauna

enquanto animais e pássaros peculiares cantavam na copa das arvores.

- Segundo o mapa está na montanha, a entrada – disse Zaira

com o rosto suado tirando da pasta o mapa – A mítica cidade ‘Z’ de

Percy Fawcett.

- Não existem mapas detalhados de satélite na região? –

Perguntou eu intrigado.

- Tudo coberto pela vegetação, até mesmo pirâmides em

outras partes da Amazônia foram somente recentemente descobertas –

respondeu Zaira guardando o mapa e então seguiu pegando um cantil

– não obstante, no topo da montanha fica a maior parte do tempo

encoberto por nuvens, é como uma muralha climática natural.

Petrônio e Muros olharam ao topo e realmente isso

concordaram, pois, nuvens estavam no alto cobrindo boa parte da

visão, e então colocaram novamente as mochilas nas costas após se

refrescarem um pouco e continuaram a caminhar por alguns minutos

até que toparam com algo inusitado e Petrônio acenou apontando para

o chão mostrando uma aparente estátua quebrada.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 202

- O que é isto? – Indaguei intrigado com o objeto, não tendo

resposta deles vendo Zaira apenas tirar uma máquina fotográfica e

registrar o objeto no chão.

O objeto tinha aparentemente asas, uma estátua com detalhes

dourados, aparentemente ouro. O rosto era humano, e tinha nas mãos

uma espécie de flecha e a outra mão erguida como se estivesse os

cumprimentado, aquilo simbolizava a seta do tempo a quem possuía o

destino nas mãos. Zaira moveu a peça que tinha em torno de meio

metro quando Muros de repente disse.

- Meu Deus! Olhem isso!

Zaira e eu viramos olhando para a direção em que Muros

olhava e vimos uma espécie de muro coberto por vegetação e ao lado

cipós e trepadeiras que desciam cobrindo uma aparente entrada.

Tiramos as mochilas e caminhamos em silêncio ante aquilo quando

vimos objetos como vasos e peças quebradas no chão. Zaira abaixou-

se novamente e notou que haviam inscrições dos chineses nos objetos.

- Os chineses realmente estiveram aqui. – Respondeu ela

pegando a máquina e tirando mais fotos daquele sítio arqueológico. –

Incrível, vejo-me no National Geographic. – Completou ela rindo.

Larguei a mochila no chão lembrando-me da vez em que

encontrei um sítio arqueológico por acaso em Ilha Grande, um

sambaqui primitivo abandonado onde haviam restos de peças e

ossadas. Adentrei por uma espécie de portal tirando as trepadeiras da

frente e vendo um extenso corredor que aparentemente descia

sumindo na escuridão quando tropecei em algo.

Virei-me lentamente e vi que era um corpo, um esqueleto com

roupas tradicionais e muito antigas e então vi que segurava um diário

nas mãos e ao lado uma espada me levando a gritar.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 203

- Encontrei algo! Acho que é algum ocidental - completei

pegando o diário de suas mãos e notando ser espanhol.

Todos adentraram o lugar maravilhados vendo que a entrada

invisível de fora pela vegetação tinha cerca de quatro metros de altura

e uns seis de largura. Zaira como historiadora com pé na arqueologia

abaixou-se e olhou de perto a comprovar que era um espanhol, e para

minha surpresa ao abrir o diário era ninguém menos que Juan

Menéndez de Avilés.

- Seu descendente. – Respondeu Zaira – incrível, então de

algum modo ele após encontrar o mapa resolveu seguir o curso da

cidade perdida sozinho com sua tripulação, por isso Pedro Avilés não

o encontrou.

- Justifica sobretudo os boatos dos espanhóis no tempo do

tratado de Tordesilhas, talvez tenha sido o segundo a descobrir a

localização depois dos chineses. – Respondi eu intrigado com uma

vocação peculiar a arqueologia por descobrir diversas vezes sítios

arqueológicos por acaso.

Todavia nos pertences de Juan havia outros objetos que não

pareciam ser relacionados a ele. Enquanto pegava sua espada com

suas iniciais gravadas J.M.A. vi Zaira revirar uma espécie de sacola

largada a muitos anos ali e haviam objetos e uma arma mais moderna

e um bilhete escrito em inglês.

- Parece que alguns guardaram a entrada e deixaram bilhetes

antes de entrar. – disse Zaira abrindo o bilhete enquanto Doutor

Petrônio suado se inclinava sobre ele.

- Isso é de Percy Fawcett! – Exclamou ele – O único inglês

que teria vindo até aqui, mas onde está seu corpo?

- Talvez ele tenha entrado e não retornado – disse Zaira

olhando ao extenso e frio corredor que não se fazia ideia de onde

levava.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 204

Zaira, porém, tão brevemente começou a ler o bilhete o

traduzindo e ficou impressionada com o que ele relatava, sobre o

encontro deles com os índios Kalapalos que lhe vetaram a entrada,

mas aparentemente ao tentarem dar a volta foram perseguidos e

mortos pelos índios alegadamente por não terem ‘o convite’ ou

‘permissão’ a adentrar a ‘região do tempo’, mas Percy de algum modo

fugiu e conseguiu sobreviver, sendo, porém, sitiado naquele lugar ao

lado de seu irmão. O terceiro visitante, à dita cidade Z então teria

deixado aquele bilhete avisando que mergulharia no que aparentava

ser um complexo subterrâneo que guardava mais que conhecimentos

pertinente ao tempo e eventos de Kairos, mas uma entrada a Marchal,

como referia-se.

Padecemos após longas horas de caminhada, ao labirinto das

matas a sermos proibidos de adentrar o território que não eram dos

Kalapalos, mas aparentemente por eles protegidos. Não são índios

comuns, alguns destes parecem ter mesclas com chineses em traços

mongóis comuns, mas fosse o que fosse ao darmos a volta a aldeia,

fomos percebidos e perseguidos impiedosamente por eles que

afirmavam segundo me parece que os ‘não legitimados poderiam

corromper o conhecimento’. Eles usavam flechas com pontas

douradas a estes casos e mataram nosso amigo, mas consegui fugir

com meu irmão encontrando esse lugar que creio ser a entrada da

cidade Z.

Fomos sitiados pelos índios que agora nos proibiram de

retornar sob pena de sermos mortos, restando-nos apenas adentrar seus

portões e mergulhar no incógnito que nos cerca, por isso deixo este

bilhete como aviso ao virtuoso homem que conseguir encontrar esse

paraíso arqueológico. Mergulhamos nas vísceras de Akator, quem

quiser descobrir o que nele há, mergulhe igualmente, amos meus

familiares e meus amigos, Arthur adoraria ver as histórias que esse

lugar tem.

Ao terminar de ler aquele registro do nobre explorador inglês

com sincero pesar ante o descoberto e que não conseguiria mais

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 205

retornar entregando-se a uma evidente carta não somente de aviso,

mas adeus aos que por ventura conseguisse encontrar, referindo-se ao

autor Arthur Conan que havia inspirado histórias até mesmo de Conan

e tantos mais com suas aventuras.

Zaira virou-se então para mim que lia o diário de Juan com os

olhos brilhando ao ver relatos de alguém que havia adentrado o

complexo e retornando, mas sendo lá vetado igualmente o retorno a

civilização, mas os relatos eram ainda mais perturbadores e

fascinantes do que vira ele lá dentro.

Perdoe-me meu pai querido por esta mudança de rumo, mas

acho que este lugar me chamou como meu destino soasse num

sino da hora oportuna, creio que Deus me perdoará muito,

pois as intensões são puras e sinceras ao contemplar o que viu

meus olhos, mas minha mente ainda dúvida acreditar. O

senhor estava certo, os chineses aqui chegaram, mas não

fundaram esta cidade, e aquele Junco que encontramos na

Flórida havia vindo justamente daqui, carregado de

conhecimentos e da verdade. Audazes navegantes,

desbravadores da verdade, pioneiros de um mundo não

conhecido a mente vã. Penetrei suas vísceras e vi o inefável

com os olhos mortais, pois o que vi era imortal, eterno, temo

ao que aqui adentrarem para vangloria e se exaltar.

Fui até a ‘A Fonte’, aquela o qual podemos conhecer a

imortalidade não pelo corpo, mas pelo tempo, vi o atrás e o a

frente, vi também o lateral, mas como uma seta, segui em

frente a conhecer o futuro da fonte que bebi, o Elixir de

Kairos. Como tolos eram os que distorceram as lendas e se

tornaram em crendices, mas vi de fora da nevoa do tempo

linear o que os perversos veem apenas a própria vontade.

Mergulhe no complexo ao audaz, mas siga a verdade não o

coração ou a cobiça, pois o sentimento puro dá o rumo certo,

um labirinto nos serve para se encontrar, não se perder e em

seu centro o tesouro.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 206

Vi dozes homens a seu entorno, cada qual a uma direção, mas

sobre tudo das horas que do lugar, são rostos singelos e

homens virtuosos que fundaram este lugar, cada quando

apontando a uma direção com sua verdade e sentido. No

centro a fonte que um brilho de cima reluz o que vale mais do

que ouro, o tempo. Sim, vi algo do alto, a uns 10 metros como

um portal cuja porta leva a coisas inefáveis que não ousei

adentrar, os doze anciões pareciam me reprovar ao provar da

água, do Elixir de Kairos.

Temi eles, não somente pelo conhecimento e seu derradeiro

poder, mas por serem homens virtuosos e justos que vi dentro

de mim a mostrar a todas estas direções a comprovar serem

mais que estatuas com detalhes dourados e suas espadas

afiadas nos indicando a direção, as direções.

No centro, dentro da fonte uma coluna vi, como carregada de

um lugar distante e inscrições ulteriores ao hebraico

mostrando mapas dos céus, relacionados a períodos da terra, e

a seu entorno com toda afeição singela de homens com uma

consciência superior que disseram orientar até mesmo povos

hebreus.

Minhas forças se esvaírem, entrego-me a estes homens de

ímpeto puro, não resisto a eles, é magnifico demais! Abaixam

as espadas diante deles meus homens, e juro matar quaisquer

que profanarem o lugar, é como um santuário incorruptível,

somente a quem é São.

Conti minhas lágrimas ao contemplar suas histórias e alguns

de meus homens ao retirarem-se foram mortos pelos índios

que este lugar protegem, e tantos mais ao retornarem

perderam-se em seus corredores, uns voltaram a seu centro e

relataram tabuletas e manuscritos com conhecimentos deste

povo sobrevivente doutra era muito antiga, mas que conhece a

todo futuro a muitas eras além, como se de lá viessem e para

lá retornassem, e Marchal toque Temol, e Temol a Marchal.

A comida cessou a nós, estamos sitiados, mas minha fome de

conhecimento saciada, pois vi uma verdade ulterior a todo

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 207

local, temos água, temos tempo, mas nossos corpos definham,

pois também somos carne, por isso escrevo esta carta, para o

que ao adentrar tenha temor, pois ao que não o fizer

certamente virá o tremor. São dignos, são puros, seu

conhecimento é do infinito, não posso resistir a verdade como

o tolo mentiroso. A minha família digo: compreendo de onde

viemos assim como os demais puros e a para onde vamos

ainda que tentem nos lançar ao abismo.

Finalizo esta carta, pois vi quem vai o encontrar, e seus

sentimentos aflorar como homens não somente da mesma

estirpe, mas do mesmo destino e pureza em sinceridade,

porém, o homem do caos segue a profanar esse templo do

tempo, e aniquilar destinos com a maldição que lhe convém, é

o devorador, o gafanhoto. Guarde isso, meu amado, nos

veremos.

Juan Menéndez de Avilés, 28 de abril de 1572

A finalizar a leitura agacho-me diante do corpo do jovem

Juan, e vejo a pena em suas mãos e um mapa que indicava como

chegar ao centro, ao lado de sua farda. Pego o mapa e silencioso

permaneço diante dele emocionado por encontrar meu próprio passado

naquele lugar como se sentado estivesse me aguardando sorrindo

involuntariamente por não haver mais lábios em seu rosto. O homem

nobre dormia ao sono eterno olhado para entrada como se esperasse

pelo próximo visitante enquanto algum material ao redor estava

mexido indicando que recentemente alguém havia passado naquele

lugar e então vimos que era o momento de seguirmos em frente, rumo

ao destino o qual os demais perder-se-iam não sendo constantes.

Caminhamos após acender uma lanterna e algum lampião

velho que lá havia e permaneci mudo mergulhando inicialmente em

meus pensamentos refletindo sobre aquele virtuoso e nobre homem

que tinha meu passado a relatar enquanto via os corredores cruzarem

entre si, e inúmeras bifurcações o qual ao adentrar algumas vimos

mais alguns cadáveres quase mumificados pela condição do

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 208

complexo, indicando ter levado muitos anos, ou talvez décadas, para

ser finalizado. Haviam vasos, pergaminhos, manuscritos, tabuletas, e

até mesmo o que parecia ser o cemitério deles indicando que um povo

inteiro lá habitou por muitos anos até simplesmente sumirem por

algum motivo não conhecido.

Observamos o mapa enumerando as entradas a fim de não nos

perder quando encontramos um lugar amplo em espaço e o teto

elevado a muitos metros como na entrada, mas ouvimos algo lá no

fundo ao ver luzes crepitantes oscilarem e vozes fúnebres falando

algo.

- Há gente aqui! – Disse Doutor Petrônio. – É a gente do

William Sanchez.

- Perigo, impostores ao oeste! – Disse Muros.

Antes que Zaira fizesse sinal de silêncio alguém surgiu por

trás de nós apontando uma arma e rindo e então emerge das trevas que

sepultavam aquele local o boçal do William Sanchez vindo com uma

espada encontrada ali e disse.

- Ótimo! Vejam se tem alguma coisa de valor e tirem, e a esse

Gerson Avillez lhe digo, vou pisa-lo até se tornar um toco. Traga-os

para cá.

Sentindo enorme medo por ser aquele homem maligno e

diabólico percebemos que iria inventar qualquer desculpa contra os

fatos para excluir e saquear, e certamente nos matar, contra toda

natureza impedir todo fruto de ser colhido diametralmente contrário

aos Herdeiros de Seth. Os homens dele amarraram Zaira e Doutor

Petrônio quando vimos às ditas estátuas que se erguiam diante daquele

enorme centro com uns quatro metros de altura, imponentes com

espadas douradas cada qual apontando uma direção conforme relatava

a carta de Juan.

Os homens dele montavam o mesmo aparelho de sincronidade

de eventos enquanto outros dois cortavam peças de ouro das estátuas e

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 209

quebravam até mesmo alguns vasos para verem o que havia no

interior, aquela abominação fez Zaira se contorcer e certamente

deixaria Juan aflito remexendo seu corpo na entrada da cidade.

A visão ainda que magnifica era embotada por aqueles

diabólicos homens que pegava e mexiam em todos objetos e falavam

de sacrificar eu como oferenda a sabe-se lá o que, definitivamente

eram algum tipo de seita verdadeiramente diabólica e desejavam

contaminar o lugar com a podridão deles.

- Vocês agora conhecerão, o poder do caos. – Disse Williason

Sanchez - Somos impunes, podemos fazer o que quiser, sem regras,

fronteiras ou lei, apenas nossa vontade, a mais perfeita liberdade! Sou

o Mestre do caos e eu ditarei o destino a ser tomado!

- Você é o líder da Ordo Ad Chaos. Pode o caos ditar o

destino? – Concluiu Zaira com expressão de quem tinha desprezo

legitimo por este homem – Maldito decrépito, imoral! Abreviar vidas

é liberar o caos, pois o romper de destino é o abismo do que não tem

direção, por isso não vão durar muito!

- Exatamente! – Disse ele abrindo os braços e depois batendo

no peito – vou beber da fonte dos herdeiros do destino e então eu

mesmo alterarei os tempos, o destino, pois o caos a tudo aniquila,

quem pode resistir a mim, ninguém! Traga Gerson para cá. –

Completou ele a seus homens. – Deve ter sido bom ver seus

descendentes serem mortos, o destino fazem apenas baratas resistentes

ao caos, mas desta vez não!

Alto Xingu, agosto de 1820

Jorge e seus amigos após caminhar longas horas lado a lado aquele

índio Kalapalo, viu se aproximar uma montanha coberta por nuvens

no topo, a mesma montanha o qual havia chegado seus descentes

séculos mais tarde como se fosse naquele mesmo momento.

Impressionado pela cobertura de vegetação naquele lugar tropica,

havia um córrego com água pura brotando de uma nascente quando o

índio os chamou até a entrada cortando a vegetação trepadeira que

crescia tapando. Jorge tirou seu chapéu e contemplou com respeito

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 210

aquele magnifico lugar quando viu ao chão o corpo de Juan dormindo

o sono perpetuo.

Álvaro abaixou-se e pegou o diário e Jorge leu atentamente,

mas sentiu dentro de si que deveria colocar o diário no lugar, pois não

seria o único naquele lugar. Contemplou que havia restos de artefatos

chineses indicando que aqueles homens lá estiveram muito tempo

atrás, antes de Pedro Alvarez Cabral lá descobrir oficialmente. O índio

então parou na entrada e levantou as duas mãos acenando de que

somente os dois portugueses deveriam lá seguir em diante e então os

cumprimentou em respeito e retribuíram Jorge e Álvaro. Os dois

caminharam pelos extensos corredores e depois viram que o complexo

subia ao interior da montanha e uma parte, que ia ao centro descia.

Jorge fez uma copia do mapa de Juan após constatar que era um

navegante a muito desaparecido e seu descendente.

- A El Dorado seria onde os setianos teriam depositado parte

de seu conhecimento – disse Jorge a Álvaro impressionado com o

lugar, o verdadeiro tesouro, pois o tesouro é a verdade – disse

Stephanie. – na verdade Mestre Kairos diz que isto leva as concepções

anteriores de seus herdeiros e origem numa criptohistória assim como

de um pilar pertencente a algo maior

Naquele momento eles viram uma enorme gravura numa

parede entre um cruzamento que dava a corredores em várias direções

como a rosa dos ventos e então notam que na realidade a rosa-dos-

ventos é uma estrela, a sete-estrelo, forjada em ouro num pilar, como

uma referência Plêiades como conhecida e nominada a civilização

ocidental.

Uma série de estrelas a seu entorno mostravam a composição

e confirmação de que a era, e como este era de algum modo a

inspiração daqueles homens, não se tendo ciência do porque.

Stephanie parou diante daquilo e tocou com a ponta dos dedos

lentamente a gravura em ouro e emocionado ficou inerte por longos

segundos até que Jorge lhe chamou.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 211

- Akator é subterrânea, mas relatos dizem haver visões de um

exterior, sobreviventes de Pitah. – Disse ela ajeitando a mochila em

suas costas. – Mestre Kairos adoraria ver isto!

Como pioneiros desbravadores seguiram eles transitando por

corredores e encontrado peças raras e nos mesmos lugares por onde

transitariam meu grupo num futuro, chegaram até ao centro onde

vislumbrados com o esplendor do lugar Jorge simplesmente tirou a

mochila e sentiu vontade legitima de ficar de joelhos diante daquilo ao

ver as 12 estátuas em pontos equivalentes das direções da estrela de

Plêiades, ou sete-estrelo que estava incrustrada no chão e em seu

centro a fonte que não compreendiam eles como não secara, uma

coluna com as inscrições exatamente como viram meus amigos e eu

no futuro. Stephanie sorriu com uma indescritível felicidade como se

todo o significado de uma vida culminasse e convergisse naquele

ponto, os 12 guardiões das direções, assim como o guardião do sul que

era doutor Kairos em correspondência as horas do dia, aos doze meses

do ano e talvez as doze tribos dos judeus.

Jorge se aproximou diante da fonte e se prostrou de joelhos

em respeito ao lugar e ao conhecimento que nele havia que suplantava

a todo espaço e então tocou a fonte e pegando seu cantil a encheu de

água e em seguida levou a seu rosto após sentir o cheiro e virando-se a

Álvaro sorriu e disse.

- Caso eu morra, relate o que aconteceu ao Guardião do sul, as

memórias devem ser guardadas, sejam quais forem assim como nesse

lugar me parece fazer registros de toda história deles.

De fato aquela mais que uma cidade era um monumento

secular, na verdade milenar de um povo que fora aparentemente

apagado da história, algo que relatavam em tabuletas assim como

manuscritos histórias do passado e mesmo do futuro como se a ciência

dele de lá tivesse vindo, de Marchal.

Stephanie Fonseca após contemplar tudo aquilo consegui

identificar muito do que estava escrito e vislumbrada via as histórias

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 212

tanto da viagem até aquele lugar, do povo que ali habitava, e do que os

antecederam a muitos séculos, indo do Éden a Noé, e o que restara da

fonte secreta de Avila.

Todavia ela fora igualmente beber da água e quando Jorge a

tornou em seus lábios, passou o cantil a ela que após olhar para os

dois sorriu e bebeu de modo silencioso o cantil e então sentou-se ali,

no meio do imenso lugar como se aguardasse algo acontecer não

bastando a revelação que por si só havia naquele ponto nunca antes

conhecido da humanidade, e os motivos que os antecederam.

Jorge Avillez então tonteou e teve a sensação de ter visto uma

das estátuas se moverem, quando colocando as mãos sobre o joelho

viu algo como nevoas surgirem e então ecos de homens caminhando

por aquele lugar surgindo diante dele. Homens trabalhando na

construção daquele lugar, esculpindo as tabuletas, erguendo as

estátuas e um ancião com túnicas até os pés os orientando enquanto

alguns mais carregavam objetos, caixas e pedras de um lado a outro na

edificação daquilo tudo, e então Jorge virou-se a outra direção e viu

que as nevoas se acentuaram, era a direção do futuro.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 213

Ato XII

O Elixir de Kairos

"A única força do passado lhe advém do futuro."

Jean-Paul Sartre - O ser e o nada, pág. 580

Região do Alto Xingu, 1646

Uma embarcação espanhola encosta na beira de um rio quando vários

índios correm em direção a eles enquanto puxam a embarcação para a

areia. Um homem distinto dos demais, então dirigisse ao que parecia

ser o líder dos índios, um homem com muitas penas entre o cabelo e

um cocar com dentes e mais penas no pescoço e diz algo em sua

língua intraduzível ao espanhol que defendia as fronteiras do tratado

de Tordesilhas.

Ao terminar de falar o que queria apontando para uma direção

especifica, o espanhol virou-se para seu tradutor e perguntou o que

seria, o que aquele homem falava.

- Ele diz de uma cidade que mergulha na montanha, e que

possuem ouro, conhecimento de ouro. – Disse o homem um pouco

confuso – Não compreendo o que ele quer dizer com conhecimento de

ouro, talvez conhecimento de algum ouro no lugar.

- El Dorado. – Disse o espanhol colocando as mãos na cintura.

– Isso tem que justificar o tratado de Tordesilhas, as lendas que

relatam desde Pedro Menéndez não podem ser mentira! Vamos até lá!

Os homens então pegaram mantimentos quando o cacique

então acenou com a mão em negativo, como se fossem para não irem

até o lugar e falando algo demonstrando muito temor.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 214

- Ele diz que há guardiões, índios agressivos aos que adentram

sem permissão e convite, é terra de deuses do tempo protegida dos

deuses do caos, pois lá guardam o destino. – Disse o homem intrigado.

- Não importa! – Institui o homem – Ouro é ouro! Vamos.

O cacique então afastou-se e ficou a contemplar os espanhóis

arrumarem seus mantimentos e mudo acompanhou eles com os olhos

até adentrar a floresta em direção a montanha coberta no topo quando

uma criança pegou na mão do cacique e ele a chamou a retornar a

aldeia.

Os dias se seguiram até que maltrapilha aqueles homens após

perder dois dos seus retornaram e preferiram manter o caso em sigilo

ante o que lá aconteceu, mas com certeza absoluta eles ficaram

igualmente temorosos a ponto de nunca mais retornarem.

Interior de Akator, algum lugar do Alto Xingu, tempos atuais.

O homem, pervertido como o anticristo, parecia voraz a tragarmos ao

abismo pelo caos, pegou uma das espadas remanescentes de algum

guerreiro daquele povo, que não compreende-se o porque não mais

habitarem o lugar, e colocou-me diante da fonte deitado no chão e

amarrado a aparentemente matar-me como oferenda a Wotan, o deus

germânico das tempestades. Zaira estava em pânico temendo o

homicídio eminente por aquele psicopata que era incapaz de esboçar,

ao menos naquele momento, qualquer sentimentos de clemência para

comigo.

- Evoco a ti, Wotan, e Seth ancestral deus que pelo caos impõe

sua ordem a oferecer a este para que lhe trague o destino. – Disse

William Sanchez esboçando agora com suas bochechas tremulas

algum tipo de sorriso sádico ao ver-me indefeso sem ter a menor

chance de defesa quando um tiro se ouviu ecoando por todo lugar.

Todos viraram e para a surpresa de nosso grupo alguém ao

lado de nada menos que Augustin Milagros num comportamento

imprevisto a alguém de seu cargo ante o Vaticano, mas que a seu

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 215

modo nos surpreendeu. William Sanchez cambaleou caindo de lado

com a espada no chão e olhando pra Milagro como se estivesse

igualmente surpreso disse.

- Traidor!

Ficamos confusos com aquilo, pois não conseguíamos

conceber que Milagros tivesse quaisquer negócios com eles quando ao

se aproximar apontando as armas aos demais, mais alguns homens

adentraram aquela enorme cúpula armados, eram agentes da SIV, e

vieram rendendo os homens de William Sanchez e a tirar as cordas

que nos prendiam.

- Muito tenho de pedir perdão amados. – Disse Milagro –

Estou trabalho junto com o SIV há alguns anos me infiltrando como

traidor dos Jesuítas entre a Ordo ad Chaos.

- Então você não fora sequestrado por William Sanchez? –

Indagou Zaira movendo os punhos agora libertos e tendo um aceno

negativo do homem de ciência e fé.

- Acompanhávamos os vazamentos, e me coloquei como

informante deles, a Ordo ad Innaturatus, queríamos ver até onde

chegariam, e depois do que fizeram no laboratório era hora de agir. –

Completou Milagros vendo William Sanchez com cara de ódio sobre

ele. – Fui com ele, não esperava a invasão, mas concebendo que

Andreas Santiago era o anterior informante tivemos que tomar

algumas medidas urgências.

- Apropriado seu nome. – Disse eu levantando-me aliviado

por não ter sido picotado a espada por aquele sádico psicopata – você

é meu pessoal milagre. – Completei como certa ironia.

- Sem ironias meu caro, isso é gente das mais perigosas. Mas a

descoberta aqui realizada é sem precedentes e certamente ele farão de

tudo para domina-la e cobrir a verdade. – Completou ele enquanto os

agentes agora mandavam os homens de William Sanchez deitar-se no

chão igual a que nos tinha feito. – Procurávamos há muitos séculos

esse lugar, os rumores vararam inicialmente de jesuítas espanhóis

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 216

levando a Pedro Menendez de Avilés e percorreram até os templários

em tempos anteriores. Meio mundo mudou e gente de mais morreu

por isso.

- Mas e agora? – Perguntou doutor Petrônio enquanto Muros

se esticava por ter ficado por longos minutos torto no chão.

- Estamos providenciando uma licença do governo brasileiro a

pesquisar este lugar, temos alguns anos de pesquisas a frente e a

obrigação moral de reescrever alguns livros de história que estavam

errados. – Completou ele sorrindo ao passar com William Sanchez a

seu lado com ele o encarando ainda que ferido com um tiro no ombro.

O funesto homem deu mais algum sorriso malicioso como se

tivesse algo que não esperavam quando um bip soou dentro da cúpula

ou templo central. Milagros e eu olhamos ao objeto de sincronidade de

eventos no chão e notamos que havia um contador que havia zerado

naquele momento, mas aparentemente nada aconteceu.

Um agente do SIV foi até o aparelho e notou que vibrava, mas

não sendo seu idealizador nada compreendeu quando sentiram eles

uma vibração dentro do tempo. Milagros parou e olhando para trás

acenou ao agente que carregava William Sanchez e disse.

- O que fizeste aqui, filho de belial?

- Caos. – Respondeu ele quando uma das colossais estatuas de

um dos anciões veio a baixo em minha direção dando tempo apenas de

correr e jogar-me ao lado caindo dentro da fonte de água.

Zaira olhou ao teto e notou que uma luminescência surgia do

alto crescendo gradualmente até tomar a forma de algum vórtice

tremulando luz por todo lugar anteriormente apenas iluminado por

tochas. William Sanchez ficou inerte com as mãos amarradas para trás

contemplando aquilo não sendo previsto a ele mesmo enquanto eu de

cara no leito da água o qual chamavam de Elixir de Kairos a engoli o

bastante para me engasgar.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 217

- Protejam a Fonte do Tempo – disse Milagros gritando a seus

agentes.

Zaira agarrou-me quando uma estatua a mais caiu sobre a

espada que carregava um dos homens de William Sanchez o fazendo

gritar até ser estraçalhado por ela sobre ele. Sanchez correu até uma

das espadas que haviam letras semelhantes ao hebraico escritos por

toda lamina e atravessou doutor Petrônio pelo estomago fazendo uma

careta covarde.

Os agentes atiraram enquanto o estudioso homem do vaticano

caia no chão com a mão na barriga e eu ao tentar ir a seu socorro uma

súbita tontura me veio fazendo cair ao chão.

A imagem inicialmente ficou embaçada e não conseguia me

focar quando vi um homem em trajes antigos vir em minha direção em

simultâneo a um dos agentes a socorrer Petrônio agonizante.

Tentei me erguer quando vi um homem que conhecia apenas

por pinturas, Jorge de Avillez. Inicialmente não conseguia

compreender aquilo, mas ele estava ao lado de uma jovem muito

formosa e Jorge virou-se para mim e olhou diretamente como se visse.

Caminhei em sua direção, mas cambaleei para lado como um

caranguejo na praia, virei de um lado e vi um dos homens de Sanchez

soltar-se e lutando para pegar a arma de um dos agentes do Siv veio

Zaira colocando as mãos no meu ombro perguntando-me algo, mas

não compreendi, como se minha mente estivesse solta no tempo.

Naquele momento Jorge veio em minha direção quando a jovem

igualmente me vendo ao lado dele apontou para meu lado assustada e

ao me virar vi William Sanchez investindo contra mim com uma

espada.

Me esquivei, mas caí no chão. Sanchez então gritando algo

que não consegui ouvi pulou sobre mim querendo enfiar a espada em

meu pescoço, gritando e escorrendo saliva de seus lábios como sendo

algum tipo de cão danado.

Jorge aproximou-me mais como se quisesse intervir, mas não

conseguia me tocar nem a Sanchez quando um tiro irrompeu de seu

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 218

peito o fazendo cair ao chão, do meu lado. Era um dos agentes de

Milagros.

Zaira me puxou do chão e disse que tínhamos que correr dali,

pois corria risco de desabar, mas olhei ao lado de vi Sanchez

rastejando até a fonte e bebendo de sua água.

***

Jorge intrigado com as visões que estava tendo olhou para

mim quando Álvaro assustado com o comportamento dele e Stephanie

diante do nada naquele templo o puxou perguntando.

- O que está acontecendo Jorge?

- Estou tendo visões. – Respondeu ele – vejo pessoas de outro

tempo, eles têm coisas que brilham e armas de fogo poderosas, o

templo parece estar desabando.

- Nada está acontecendo. – Respondeu Álvaro intrigado.

- Como não, nós interferimos com o que acontecia no que

parece ser o futuro! – Respondeu Stephanie olhando ao nada como se

fosse tudo.

- Loucura! Temos que ir, talvez vocês estejam intoxicados.

Jorge de Avillez pegou sua mochila e encheu mais um cantil

de água e a guardou dentro quando ouviu algo como uma voz vindo

de dentro da direção de onde olhava.

- Venha a frente Jorge. A direção correta você está.

Jorge largou o cantil e olhou como se avançasse os

acontecimentos de onde Sanchez nos atacava quando viu mais adiante,

no mesmo lugar homem com equipamentos ultramodernos

pesquisando todo recinto escorado por vigas e tendo luminárias de

grande porte ao lado de dois fotógrafos com crachás.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 219

- Quem está falando, de onde? – Perguntou Jorge, deixando

Álvaro alarmado.

- Não de onde, mas de quando. Se Marchal está atrás, estou eu

a frente, sou de temol audaz descedente. – disse a voz e quando Jorge

olhou mais focado viu uma nevoa se dissipar e viu Pedro Menendez

de Avilés diante de uma escrivaninha com papéis e uma janela aberta

com uma cortina esvoaçante. – Você consegue alterar os ventos. Eu

sinto ele adentrar pela janela. – Completou ele sorrindo.

- Pedro Avilés? – Indagou Jorge quando notou que Stephanie

igualmente conseguira visualizar a imagem.

- Vejo-os, vejo que conseguiram encontrar Akator. – Disse

Pedro – Uma vida por isso, Jorge, congratulações. Ficou eu aliviado

de agora conhecer o destino de meu filho, ele me viu, eu o amo.

Somos uma família, separados pelo tempo, unidos pelo destino. Se

você virar-se, Marchal deixará de o ser, e Temol lhe estará por de trás,

vire-se e veja mais ao passado, pegue a corda e siga-a.

Jorge assim o fez vendo toda sua linha como se fosse uma

corda que ao ser puxada levou a membros que não conheceu e tantos

mais que nunca ouviu falar. Caminhou ele pelo tempo, sem sair do

lugar, e viu indo mais longe e contemplou os reis de Leão no trono

comentando sobre conhecimentos que tinham e o perigo de serem

descobertos.

Mergulhou mais e viu ainda mais longe quando um homem

estranho chegou as terras de Astúrias falando de coisas maravilhosas

de conhecimentos e ciências que homens nada cultos não conheciam e

por eles fora agraciado e levado ao trono. Jorge insatisfeito mergulhou

mais e puxando a corda viu que encontrava com a de mais alguns que

vagaram por anos como nômades e peregrinos, cruzando entre quase

todos povos como estranhos. Puxou e viu um dos homens encontrar

um estudioso da antiga palestina chamado Flavio Josefo e indo mais

longe chegou a uma cidade que como um oásis reinava no meio do

deserto, Pitah.

Jorge viu todas tais coisas e chorou e ao virar-se ao lado notou

que Stephanie o observava, sem registros, provas ou evidências,

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 220

apenas aquela visão monumental, naquele momento Jorge largou a

corda e toda imagem desapareceu diante de seus olhos vendo-se

mergulhar novamente em nevoas até chegar a seu tempo presente

quando ouviu um grito, era eu naquele mesmo lugar, noutro tempo,

quando a voz de Pedro falou novamente ecoando por aquela quase

dimensão própria.

- Algo do tempo adiante somando ao Elixir de Kairos está

provocando a tormenta de tempos, está a abrir a passagem, pelo caos.

- Que passagem? – Indagou Jorge perplexo.

- Onde vocês está, no futuro onde não está presente. – Disse

Pedro quando viram eles aproximar-se a imagem do vil homem

chamado Sanchez.

***

Assustado com as visões caminhei com dificuldade, mas

agora William Sanchez começava a ter visões e procurava seguir em

minha direção e tropecei confundindo o chão com épocas sobrepostas

como se meu consciente não estivesse suportando toda aquela

informação, quando ouvi.

- Gerson. Tenha foco, tenha fé. São adventos síncronos de

tempestades não-lineares.

- Quem fala? – Me indaguei perplexo.

- Sou eu, Jorge, conheci conhecimentos do futuro, seu

passado. Isso está afetando o que o templo protege, uma abertura ao

futuro.

Como os relatos do Triangulo das Bermudas vimos que aquele

templo não era apenas um tributo a conhecimento dos setianos e de

Pitah aniquilada por pilhadores sodomitas, assim como da fonte do

tempo o elixir de Kairos, mas uma cúpula que preservava ao seu

centro um vórtice, sobre a fonte de água, e que emergia até o cume

Page 221: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 221

daquela montanha e rompia o tempo linear comum engolindo coisas e

pessoas a outro tempo.

Olhei para o alto e notei que o teto parecia se abrir, mas sem

qualquer buraco, apenas uma fenda que esticava o lugar como se o

espaço se torcesse e o tempo se distorcesse. Olhei dentro da abertura

que descia sobre a fonte enquanto Sanchez estendia as mãos do chão

querendo-a tocar com aquele sorriso sádico de pervertido e então

caminhei vendo flashes de várias épocas e agora chineses na cúpula

caminhando ao lado de índios extasiados com o lugar, virei-me e vi

Jorge e vi Pedro noutro lugar, tudo parecia se mesclar e minha mente

quase se fundir, ‘tenho foco, tenha fé’, lembrei-me do que disse Jorge,

não com ouvidos de carne, mas o bastante a seguir o que ele dizia.

Sanchez começou a gritar e levantando-se apoiando sobre a

coluna no centro da fonte tentou tocar o vórtice que se abrir sobre ele

quando ao olhar dentro, agora via homens de roupas douradas e mais

alguns com túnicas brancas até os pés como se fossem anjos, dentre

eles um homem que aparentava ser Percy Fawcett a contemplar aquilo

de modo desconsertado quando os homens se mexeram como se

conhecesse a perversidade daquele tal homem e apontaram pra mim

quando virei ao lado e mais uma estátua não suportava e veio abaixo,

desta vez sobre Sanchez o esmagando sobre a coluna e fonte, voltando

justamente seu desejo que tinha sobre mim, sobre si próprio como se

num jogo de espelho o rebatesse de volta a quem desejou. O vórtice

então subitamente se fechou e toda luz que dele vinha cessou dando-

me tempo apenas de ser agarrado por Milagros e arrastado por um de

seus agentes me tirando de lá a um lugar seguro.

***

Jorge Juzarte de Avillez se recompôs quando a intensidade das

visões diminuíram assim como da jovem Stephanie Fonseca sendo-os

acudidos pelo fiel amigo Álvaro que os guiou até retirar-se daquele

complexo subterrâneo. Jorge tinha dois cantis cheios de água quando

ao verem a luz natural do dia notaram a presença do índio de pé ao

lado da entrada os aguardando com um arco e flecha nas mãos.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 222

Ao nos ver, o simpático índio acenou com as duas mãos em

direção de Jorge, sorrindo e falando algo em seu idioma levando Jorge

a perguntar o que dizia, mas Álvaro não compreendia perfeitamente,

limitando apenas a comentar o seu entendimento parcial daquela

língua semelhante ao guarani.

- Seguiu a linha de sangue, ou algo assim, e conheceu a

eternidade. – Respondeu Álvaro concluindo – Não me faz o menor

sentido.

- Para nós, faz. – Disse Jorge olhando para Stephanie que lhe

deu a mão e sorriram eles seguindo floresta a dentro.

Ao chegarem a aldeia, os índios festejaram como se fosse um

acontecimento único sem terem a menor ciência do que aconteceria

nos anos seguintes com seus netos e bisnetos nas mãos de William

Sanchez e seus degenerados algozes da Ordo Ad Chaos, os

antinaturais. Jorge agora tinha uma visão diferente do mundo, pois

vira o tempo linear de fora dele, vira o tempo de Kairos.

Após se fartarem de um banquete lá ficaram durante a noite

para no dia seguinte, ao raiar dos primeiros raios solares seguirem

rumo a civilização que crescia e aflorava no Brasil, numa longa

jornada de retorno até o Rio de Janeiro onde tinham compromissos

como governador militar da Cisplatina.

Uma semana se passou quando chegamos por fim ao Rio de

Stephanie, fora a procurar seu tutor e pai adotivo, o guardião do sul

que estava num lugar designado por ele até o fim daquele mês. Jorge a

acompanhou agora muito mais intimo da jovem e ao adentrar o recinto

de um senhor de engenho encontraram os aposentos deserto após uma

revolta de escravos, comum na época.

Stephenie preocupada fora até o quarto após ver dois corpos

ao chão e ao abrir a porta vira seu tutor dependurado numa corda

enforcado diante de uma janela.

A jovem correu em sua direção aos prantos abraçando suas

pernas como se agora estivesse órfã novamente, e estava. Jorge

temendo haver mais alguém no lugar desembainhou sua espada e

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 223

olhou ao redor, mas nada vira a não ser um bilhete sobre a cama ao

lado de um móvel revirado com papéis ao chão. Jorge pegou o bilhete

de modo enlutado por aquele inesperado amigo que lhe levou a

conhecimentos tão significativos sobre ele próprio assim como do

futuro.

Morto por auto decreto ao buscar tomar as arestas do destino,

fugaz da idiotice solene ao tentar com bravura vã querer ter

significado e melhor sabedoria sem consentimento, pois somente nós

admitimos a possuir. A sua seguidora e a seu envolvimento com Jorge

e por lutar por liberdades inexistentes a não ser para nós. Perdedores

devem ser mortos, perderam o direito de viver e de ter posses, a

tradição nos une. Que lhes sirva de sinal pois nós a tudo movemos e

não aceitamos cães em nosso caminho.

Jorge sentou-se na cama com os olhos brilhando a conceber

que a luta se arrastaria por longos anos, a demais descendentes

atravessando décadas e séculos a justificar a visão que teve comigo

padecendo por algozes que apenas justificam alguns como escolhidos.

- Filhos de Caim, saquearam todo conhecimento que puderam

e anseiam exterminar todos os demais. – Disse Stephanie enxugando

as lágrimas do rosto pegando a túnica dele com o símbolo da estrela

dos ventos.

- Vamos, Stephanie – disse Jorge tocando em seu ombro – são

tempos perigosos a uma dama como você. Você precisa retornar aos

seus, aos amigos de Kairos.

Jorge retirou-se do lugar ao verem uma carroça virada e um

celeiro saindo fumaça, provavelmente criaram a situação naquele

lugar para se aproveitarem e matar o bom homem de conhecimentos

prodigiosos. No céu, do horizonte formavam-se mais nuvens

carregadas prenunciando tempestades com os boatos de emancipação

e Jorge estava temoroso do que lhe viria. Quando ao entrarem na

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 224

carruagem um chinês se aproximou dele com um sorriso no rosto e o

cumprimentando e disse.

- Vejo que o senhor, o excelentíssimo governador da

Cisplatina tem uma vida dupla. – Completou ele insinuando algo com

aquele tipo de sorriso maldoso na face.

- Quem é você e o que desejas? – Perguntou Jorge não

curtindo nada o tom de sua voz.

- Temos interesses comuns e não sabes. – Disse o homem

tirando um papel do bolso. – Enquanto conversamos aqui, homens

tramam planos do futuro. Há vários grupos tendo interesses

particulares na independência, mas nenhum deles conhece seus

motivos fora a fidelidade ao imperador, apenas desconfiam de que há

algo mais que você tem ciência e eles não. - Disse ele ao futuro Conde

Jorge.

Jorge pegou o bilhete de suas mãos sem qualquer confiança e

o desembrulhou enquanto o chinês permanecia diante dele com o

mesmo sorriso no rosto quando Jorge perguntou.

- O senhor tem algo haver com o que aconteceu aqui?

- Como teria? Li meu I Ching hoje, mas eventos sem aparente

relação ocorrem com simples atos por mim feito. – Respondeu ele

mostrando um dente de ouro na boca.

Ao terminar de abrir o bilhete, Jorge viu um mapa nas suas

mãos, que mostrava disposto um desenho das mediações de onde

viera, Akator e então ele olhou de visão cerrada ao chinês entendendo

o recado pertinente a negócios antigos que eles tinham na região.

- O que você quer com isso? – Indagou Jorge ao chinês.

- Vozes se misturam as sombras, e tramam o futuro da nação,

prezado Jorge, apenas queremos defender o que mais nos importa

nestas terras, mas ao decretarem a independência do pais selarão o

destino do império português decretando seu próprio fim. Não somos

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 225

homens de má fé, mas voluntários a verdade, seja fiel ao imperador

Dom Pedro I como sempre fora e estará no lado certo.

- Como assim? – Indagou Jorge intrigado com o rumo sinistro

daquele papo.

- Dom Pedro II não tem a menor ideia do que está

acontecendo, ele apenas sabe da aparência do que lhe contam. Mas

tem gente perigosa com eles e vão querer lhe fazer maldade.

Amaldiçoadores, pois até a alta cúpula americana tem ciência disso e

deseja ficar livre de Portugal para explorar o Brasil. Ainda não

finalizamos as buscas, mas se eles descobrirem aquilo... – completou o

chinês referindo-se ao mapa. – Sei onde esteve, os mesmos ventos que

sussurram a seu ouvido, sussurram aos nossos. – Disse ele agora

retirando-se ao dar as costas deixando Jorge sem palavras.

- Espere! – Disse Jorge não se dando por satisfeito com o que

ouviu daquele homem o fazendo parar e olhar para trás. – Não sei se

consigo deter a independência.

- Talvez não consiga. – Respondeu ele sorrindo – Mas

preferiria tentar e ter a consciência limpa de que fez o justo. Estamos

diante do começo da grande conspiração global que visa monopolizar

a tudo e acabar com as liberdades individuais. Os poderosos estão se

posicionando para a dominação final de nosso mundo.

- Você é da Ordo Christianitas Ad Ventus? – Indagou Jorge

curioso.

- As oscilações estão aumentando, estão a balançar o barco de

um lado a outro, para uns do passado você é o caneco na escrivaninha,

mas ao futuro o vulto da verdade coberta. – Respondeu ele ignorando

por completo a pergunta como se suas atitudes e jeito respondesse por

si só. – Me perdoe meu sorriso, a ironia é minha luva. – Completou e

então retirou-se o homem que se quer Jorge soube o nome.

A carruagem seguiu e então Jorge levou a jovem a sua

residência oficial e não resistiu aos abraços da jovem enlutada e se

acalentaram num só leito. No dia seguinte ele a levou até o porto de

onde iria a Portugal levando uma carta assinada por ele próprio, que a

protegessem a jovem donzela que lhe fora companhia de valor.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 226

Os dias se passaram, e assim as semanas e meses até que a

situação na penumbra invisível das entrelinhas se tornou insustentável

levando em 5 de julho de 1821 Jorge de Avillez ao príncipe D. Pedro

um ultimado de juramento que levasse a formulação da constituição e

demitisse o conde de Arcos a forjar uma junta governativa, repetindo

o mesmo em outubro daquele ano aceitando o pedido de Jorge de

anunciar publicamente as decisões da Corte que estava no período em

Lisboa, mas voltou atrás por visíveis influências, e em 1822 decidiu

ficar no Brasil forçando Jorge demitir-se como governador de armas

quando notou que tramavam lhe tirar a vida por tropas embrionárias

que no futuro formariam a chamada Policia Militar o levando a se

refugiar na Praia Grande, do outro lado da baia do Guanabara onde

fortificou um famosos lugar histórico até que o próprio príncipe

regente D.Pedro lhe expulsou.

A Vida de Jorge nunca mais fora a mesma ainda que antes

feitos notáveis, visivelmente algo lhe perseguia onde quer que fosse e

após regressar do Brasil em maio de 1822 seguiu sua brilhante carreira

se tornando deputado no mesmo ano e em 1823 tomando a liderança

de um movimento do Infante D. Miguel não conseguindo êxito de um

golpe de estado levando ao regime absolutista do Vilafrancada.

Procurou a jovem Stephanie por meia Portugal em segredo,

mas sem qualquer êxito, procurou aos seus informantes quaisquer

coisas que a ela ligasse, sem resultados, até que acusações lhe vieram

mediante seu conhecimento avançado e fora preso após ser destituído

de seu cargo e títulos, assim como a Pedro séculos atrás e a sua

própria família ao fugir da Espanha perseguidos por seu conhecimento

daqueles que incapazes de alegar condenações indiretas agiam

furtivamente pelas sombras a inquerir culpas e acusações que não

existiam, os mais vis eram impunes cada vez mais a seus atos.

Ficou no castelo de S. Jorge e depois levado a Torre de Belém

até que após ser condenado fora levado ao Castelo de Vide. O tempo

que lá permaneceu escreveu uma carta destinada ao futuro assim como

Pedro Menendez fez para ele, agora fez o mesmo por mim e mais

alguém no futuro que não compreendia quem era.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 227

Correspondências do tempo, quais segredos reservam Kairos

ao oportuno decifrador de suas ondas? Talvez sutilmente

tramando no linear para trás do tempo. Bebi novamente da

dita fonte e ela é inesgotável ao conhecimento, pelo Elixir de

Kairos procuro respostas em vão, mas selo tal carta apenas ao

avante do tempo. Estamos aqui porque não conquistaram

nossas mentes e corações e por isso agora querem conquistar

nossos corpos, mas lhe digo que hoje ainda que morra,

morrerei lutando, pois se os quiserem terão que vir buscar!

Somente me considerarei vencido o dia em que estiver

sepultado, não cogita-se perder para aqueles que apenas

querem nos saquear e matar.

Mas a ti, audaz herdeiro do destino, o qual a perseguição que

lhe aflige é sua sina, sua constância sua marca e seu

conhecimento seus frutos, lhe digo, decretam eles derrotas,

mas junto a certeza de que estão errados. Siga em frente,

jovem audaz, siga. Com fé lute ainda que morra, pois melhor

que morrer massacrado. Na rasteje, não aceite os espinhos

travestidos de pétalas pois desejam é seu crânio como a morte

endeusada.

Jorge Zuzarte de Avillez, 28 de junho de 1825

Jorge não permaneceu muito tempo na prisão, sua carreira era

por demais lustrosa mesmo a seus adversários a espreita e num certo

dia de junho de 1827 ao receber a ordem de sua soltura no período da

regência da Infanta D. Isabel Maria de Bragança fora recebido por um

homem que conheceu anos atrás no Brasil, aquele chinês de parecer

inóspito que lhe surgiu na saída da prisão e com um sorriso lhe

cumprimentou.

- Tranquilidade a ti, Jorge. – Respondeu ele olhando-o nos

olhos.

- Você? – Indagou Jorge – Qual é seu nome? Você é quem

fora responsável por me libertar?

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 228

- Quanta sede tens pela verdade. – Respondeu o chinês. –

Você nos surpreendeu, mas nós estamos apenas corrigindo o curso da

história. – Respondeu ele – Mas tive de vir pessoalmente e ter contigo,

confesso que alguns se tornaram seus fãs. Você será restituído a seus

títulos e posto.

O chinês apertou sua mão e então retirou-se mesclando-se a

multidão, deixando Jorge ali inerte e perplexo pela aparição daquele

homem tão breve quando desaparecera.

Jorge fora restituído a seu cargo conforme predito pelo

misterioso chinês ainda que mais um ataque lhe veio a prender-lhe

novamente em junho de 1828 permanecendo por longos anos até fugir

em percurso contrário a sua família, retornando a Espanha. Por lá

procurou quaisquer traços dos homens que lhe contataram com tais

conhecimentos em vão, mesmo sua mulher fora presa ainda que

posteriormente liberta. Até que D.Pedro com o fim da guerra civil

finalmente se reconciliou o levando a governador militar da Corte e

província da Estremadura, e se tornando tenente general efetivo

ascendendo até ganhar o título de Conde depois do título de Visconde

do Reguengo em 1835 até que morrerá em 15 de fevereiro de 1845 em

Lisboa, sem nunca ter suas demais perguntas respondidas de modo

coerente e desejado a seu ímpeto desbravador, mas quando ao beber

do último gole daquela fonte o qual advinha de Avila e Pison

transmitida a Pitah a procurar mergulhar nos mistérios do tempo como

ao alcoólatra a fugir da realidade do agora, até que ao adormecer

diante duma visão de 1429.

Vaticano, 1429.

Boatos corriam de todos os lados sobre a legitimidade da posse do

Papa Martinho V, na realidade duma trama ulterior levando ao

Antipapa sobre a posse de um mapa que lhes viera da China. Bernard

Garnier, se intitulou Bento XIV como o antipapa de Martinho V, na

realidade conhecendo que um segredo havia levado no século passado

os templários remanescentes a fugirem com o único segredo

verdadeiro que possuíam. Um mapa que levava ao novo mundo, que

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 229

foram as mãos dos chineses e agora retornara levando a uma disputa

entusiástica entre o poder no Vaticano para que os Jesuítas pudessem

por fim conseguir alcançar aquelas terras do além oceano e nelas

fundarem as bases do mundo moderno, de São Paulo a tanto mais.

Bernard Garnier estava em meio a uma intriga nos bastidores

da milenar igreja com seus segredos quer emparedados ou não, mas

protegidos sob pena de morte diversas vezes. O homem desejava

revelar ao mundo o mapa que serviu de combustível a navegadores

por séculos, mas que apontavam mais que a terras, mas a um

conhecimento fincado firme no centro da América Latina onde hoje é

o Brasil. O poder deste conhecimento escorreu pelas mãos assim

como o tempo aos seus perseguidores e cansado viu apenas aquela

trama de séculos lhe anunciar a chegada dos chineses a este território e

a queimar o mapa após recebe-lo de um informante infiltrado entre

navegadores. O papa queria proteger o mapa de mãos vás, mas

conhecia o antipapa que o vazamento aconteceria, pois a água não

poderiam deter, Bernard Garnier era da Ordo Christianitas Ad Ventus,

e viu seus esforços fracassarem ao iniciarem quando já velho as

navegações dos descobrimentos oficiais.

Rio de Janeiro, tempos atuais

Sentei-me diante da Tevê ao ver o anuncio da descoberta que a tanto

vi remoer turbilhões de correntezas conspiratórias e de caos pela Ordo

Ab Chaos da Ordem do Caos. Viu uma reportagem onde Augustin

Milagros surgiu numa coletiva a informar sobre a hidrocriptografia o

qual era pai intelectual e assim falou o homem com vigor de sua

constância.

- O que ele faz não é apenas mensurar dados de previsões

futuras, mas de variáveis levando a concepções alternativas de

realidade por números imaginários, mas que os padrões indicam ser

reais. O desenvolvimento de um computador de hidrocriptografia

quântica é o passo adiante na concepção da informação e da

mensuração de nosso próprio universo do qual acreditamos ser apenas

uma fração do que o é. – completou ele.

Page 230: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 230

Aquilo estava a levar-me a crer que aquilo não era tão

diferente do Elixir de Kairos que alguns buscaram por tanto tempo

como a fonte da vida eterna por simplesmente contemplar o infinito,

mas concebendo que não estava em mãos erradas não temia por minha

vida como aos piratas que mataram a família de Stephanie para pilha-

la, como acontecia sempre esporadicamente como ecos de Pitah, quer

com um ou um povo. Um homem, mas, então, apresentou-se e

começou a falar, era Johansen Menzies.

- A Linearidade do tempo é uma ilusão, ele vem do futuro ao

passado por sincronidades invertidas e naturalmente imensuráveis. –

Completou o homem de cabelos grisalhos a impressa. – Anunciamos

então o inicio de um Projeto do computador de hidrocriptografia

quântica, destinando a explorar exatamente os aspectos do tempo e do

caos de modo multidimensional.

Naquele momento alguém bateu a porta. Era Dr.Petrônio que

pra minha surpresa tinha algo endereçado pra mim.

- Surpreso em ver-me? – Disse ele com um sorriso cordial no

rosto levemente suado pelo calor. – Posso? – Disse pedindo permissão

para entrar e tendo meu consentimento.

O homem tirou uma pasta e então me entregou algo enrolado

em seda que me deixou perplexo. O pegou nas mãos e tirou o suave

tecido que ele envolvia e notei ser um diário do Conde Jorge de

Avillez.

- Não gosto de fazer papel de carteiro, mas encontrei isso

junto aos documentos do fim da Ordem de Cristo o qual ele pertencia

quando procurávamos vestígios do livro que fora furtado. – Disse

Petrônio. – Abra e veja o que tem dentro.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 231

Assim o fim e então contemplei folha a folha escrita a mão

num papiro muito antigo e amarelado pelo tempo como documento

histórico soterrado por toneladas de documentos nas bibliotecas da

Santa Sé, quando por fim encontrei uma carta assinada por ele e o

destinatário uma incógnita do futuro. Comecei a ler e entendi, pela

descrição quem era e com um sorriso amplo respondi a Petrônio como

agradecimento aquilo que limitou-se a responder em seguida.

- Frutos, mais que lugar tem tempo próprios.

- Conseguiram descobrir algo sobre a água daquela fonte? –

Indaguei eu.

- Quer que lhe diga como homem de fé ou da ciência? –

Perguntou Petrônio como resposta.

- Homens de opiniões confiáveis como o senhor tem a livre

escolha de responder como achar melhor. – Respondi – Certamente

não apelar a quaisquer crendices que visem tirar qualificações.

- A luz na medida certa revela, quando demais cega, quando

mal colocada cria sombras, mas nas posições corretas podem

transpassar o tempo, uma luz pura o qual é o conhecimento, não

aflição.

- Disseram que alguém do tempo a frente soprava a seu

tempo, mas quem seria? - Pergunto eu.

- O futuro influencia o passado? Alguém de marchal olhando

para o passado e soprando sobre ele, vendo temol. - Disse Petrônio -

Talvez um descendente. Tal verve parece por vezes ter fontes

'despertas' do futuro a influir em eventos no passado que levam não

somente a você, mas a Jorge, Pedro e talvez muitos mais.

- O senhor tomou a fonte. – Concluiu eu com um sorriso.

- Tão óbvio assim? – Respondeu Petrônio. – Somos todos

navegantes, Gerson, navegantes no tempo, e você ao conseguir de

certo modo corrigiu o rumo ainda que maiores tempestades venham.

Ao retirar-se após tomar um bom café, Petrônio me deixou

com súbitas saudades numa nostalgia que somente o tempo poderia

demonstrar, mas com o cair da noite o sono me veio em meio a um

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turbilhão de perguntas ainda sem respostas, como portas trancadas

sem as chaves.

Acredito na eternidade, pois o universo somente é o que é hoje

pela soma de todo passado ante a linearidade, o universo não poderia

ser relapso quando somos a soma de informações e memórias

transformadas, a linearidade e a entropia de nós testifica, pois, a seta

do tempo por eles rompe ainda que se olharmos para os lados veremos

variações, direções. Mas qual o advento? Olhei a temol e ele olhou

para mim quando adormeci e mergulhei em sonhos incomuns.

Vi-me rodeado de doze homens e estes nobres com suas

barbas longas e brancas se juntaram a mais doze e um vendo-me

sorriu pra mim e disse.

- Veja a corda, puxe-a.

Olhe a baixo e vi uma corda e assim o fiz intrigado com o

porque daquilo, virei então e olhei para o ancião de dias e ele acenou

com o rosto pedindo para seguir em frente onde a corda indicava

como um guia e assim o fiz andando até que tudo se tornou como uma

nevoa. Caminhei e vi os boatos da III Grande Guerra se concretizarem

e tudo ficou ainda mais enevoado como a fumaça das explosões, e um

vento forte me veio, caminhei e senti o medo e o odor de enxofre e o

caos sobre o mundo. Caminhei mais sem nada conseguir ver por ser

demais nebuloso até que ouvi o canto de aves e uma cruzou por mim

batendo as asas e então senti algo puxar a corda.

Intrigado, puxei de volta e segui em frente até que vagamente

a nevoa se dissipou e mais a frente da corda, no final dela, vi um

homem vestindo dourado, a fonte do tempo, de fora da tempestade

perfeita, algo de Marchal a nos comunicar algo e nos orientar ao

destino, direção ao futuro, eles tinham um semblante amistoso e sorriu

cordialmente ao me ver.

Acordo assustado e vejo a minha volta algo como sendo um

dia maravilhoso quando me dou conta como por um encanto que a

Ordo Christianistas Ad Ventus nunca existiu, e resolvo escrever este

livro. Vou escrever uma carta ao futuro, ainda que aqueles não sendo

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humanos me chamem de cão, pois vi e sei que o futuro não faz

acepção.

Caminhei até a porta quando vi uma carta por debaixo da

porta, mais uma carta. Ao abri-la notei ser na verdade um convite.

Não havia texto apenas um título informando de quem era, um tal de

Clube de Pioneiros pelos engenhos que descobrir e criei, talvez

alguém em fim valorize meu talento.

Não dando a menor importância resolvi caminhar imaginando

o que poderia ser aquele sonho, talvez fosse o que fosse apenas

contemplávamos o tempo como sendo presente o que era o passado.

Subi um monte onde um fino gramado movia-se ante o vento e lá

sentei-me por longos minutos a refletir sobre o tempo e tanto o mais,

vi as nuvens se moverem, e imaginei o que mais o tempo guardava a

ser revelado a seu tempo, segredos que apenas Kairos poderia

responder e que certamente aquele ao fim da corda conheceria todos

seus segredos e com justiça certamente julgaria, pois a eternidade não

se faz apagando, mas a tudo guardando e armazenando, tentei olhar ao

passado e contemplar mais uma vez o face de Jorge de Avillez, Pedro

Menéndez e até Mesmo Juan, mas compreendi que mesmo passado,

assim como do futuro nos olhavam, Pedro estaria sentando ao lado de

Jopy perguntando-se a mesma coisa sobre o futuro, quem era o

homem a quem ele escreveu a carta?

Vaticano, Roma

Um homem adentra pelos corredores apressado em direção ao

gabinete do Papa e após cumprimentar a guarda da entradada abre as

portas e entra num lugar onde próximo a uma janela está o Papa

sentando lendo algo. A santidade vira-se ao cardeal e sem nada dizer

pergunta o que desejava.

- Santidade - disse o cardeal se aproximando do Santo Papa -

encontraram Akator, acho que confirma os mistérios dos setianos, o

mistério de Kairos, revelado.

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- Conhece as medidas a serem tomadas. – Respondeu o Papa.

– Certifique-se de que não vão se aproveitar disto e atacar o Vaticano.

- Sim senhor. – Respondeu o homem – Mas um grupo vem

reivindicando algo incomum sobre nosso projeto do computador de

hidrocriptografia. – Seguiu o cardeal.

- O que?

- Um certo grupo chamado Clube dos Pioneiros. – Disse o

homem de Deus ao santo Papa. – Falam que pioneiros de diversas

áreas de todos os tempos participaram ou foram instruídos.

- Verifique até onde vão as verdades.

- Sim senhor. - Completou o homem retirando-se do escritório

do Santo Papa.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 235

Appendix

“A nossa vida é um livro em branco que nós próprios vamos

escrevendo e de que somos os únicos autores”.

Jean-Paul satre

á que ideias e informações não nascem no solo ou vem do futuro

prontas como num surto de informação, eu pesquiso e a partir do

conhecimento existente , meditação - normalmente sobre a

natureza - e de minhas experiências (boas ou más) realizo as minhas

criações originais com honestidade da citação das fontes ao contrário

de alguns. A Ordo Christianistas Ad Ventus concebida por mim como

sociedade do meme para o livro ‘Crônicas Atemporais’ é parte da

teoria do tempo por mim forjada, desenvolvida e descoberta (ver mais

nos apêndices dos demais livros) sob as falhas da teorias existentes

limitadas para não se dizerem incompletas trazendo por sua vez em

minha visão particular uma concepção mais completa física e

filosoficamente como cosmovisão. Sem dúvida a inspiração não foram

ordens maçônicas ou qualquer outro tipo de sociedade secreta ou seita

por ter uma filosofia diametralmente diferente das mesmas, pois é

temporal, o tamanho não importa, por uma “filosofia das águas e dos

ventos” do qual seu comportamento ondulatório me inspirou como em

outros conceitos físicos como do princípio da incerteza de

Heinsenberg, debruçados sobre a bíblia em minha interpretação

particular, tendo muito mais haver com o cristianismo e o catolicismo

que venera em alguns países gaia.

A Ordem dos Ventos, ou Ordem do Advento, tem por objetivo

proteger a verdade temporalmente e valores, e como a linhagem

consequentemente a família. A ordem dos ventos, é a chave ao lado da

linha de seth como constantes do tempo para a teoria do tempo que

não funcionam direito sendo isoladas, mas se completam como a

teoria perfeita do tempo e destino por tantos cobiçada, mas que jamais

se adequarão aos valores em princípios de alguns. O melhor de minhas

J

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 236

teorias é que ao menos me divirto, pois a de alguns é tortura e nada

mais.

A concepção da Ordem do Ventos é como Ordem do Advento,

não um sincretismo religioso, mas a protetora duma verdade que deve

ser revelada a seu tempo, é filosofia da ciência que cruza-se a religião

por ter fins comuns, justamente a verdade, porém, estritamente

ilustrativa a trama. Sobretudo diz algo sobre a jornada pelo esforço o

mesmo que o autor teve ao longo dos anos como perseguido a

condizer com a concepção da mesma e em construir tal obra, algo que

cabe apenas ao maligno tirar o valor. A medida com que lutam para

tirar meu valor provam apenas que não o possuem, mas eu sim. De

nada adianta grandeza sem virtude, pois a virtude determina o valor de

uma grandeza.

Todos apontam a uma direção, mesmo a um guarda de transito

é seu ofício, mas isso não faz dele necessariamente da Ordem dos

Ventos, ou a Ordem dos ventos uma cópia dele. Mas alguns piores que

cego, veem apenas o que anseiam em ver, excepcionam o que creem

fazer semelhanças e assim apontam apenas para o abismo. Porém o

adendo é que a semelhança não faz igualdade, como constata-se na

prática com estes a exemplo do que passo, afinal uma bicicleta não é

uma moto.

A mais magnifica filosofia como cosmovisão do que é o

filoversismo, que mesmo se adequando coincidente a alguns aspectos

filosóficos do tempo chinês, não fora inspiração, mesmo que o autor

mencione o 'sul' como o 'futuro' igualmente a concepção vista de

direção e tempo dos chineses que são cinco, porém, o conceito da

Ordem dos Ventos já havia sido feito antes do autor conhece-la. Não

tem aspirações em gnose ou esoterismo, mas sim numa filosofia

inicialmente platônica, mas dirigida a compreensão temporal

cientificamente. Não leio na cartilha de qualquer seita, ordem ou

sociedade secreta para se determinar alguma inspiração, antes não

gosto de brincar com o que não conheço e ou criei. A ideia

originalmente criada por mim é ímpar, mas encaixa-se perfeitamente

no contexto bíblico e até cientifico.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 237

"Há geada lá fora, há neve cegante,

os caprichos do vento, a feroz tempestade

mas minha infantil, em que a felicidade

se aquece à lareira de luz crepitante.

Tua atenção será presa pelas palavras mágicas.

E não nós de temer as rodadas mais trágicas.

Se enfim a sombra esquiva de um suspiro

profundo tremular ao longo da história,

dos dias de verão pela perdida glória,

pelo feliz fulgor que te alegrou o mundo,

não poderá afetar, com tristeza alada,

A alegria e o frescor deste conto de fadas."

Alice no pais dos espelhos - Lewis Carrol

A ideia da hidrocriptografia surgiu por acaso quando

preocupado com a espionagem que me afligia visse criações - como

esta - que tivesse ao concebe-las. Conhecendo o tipo evasivo dessa

gente, pesquisei sobre o assunto, porém, conhecendo os avanços

tecnológicos capazes de quebrar virtualmente quase todo tipo de cifra

e criptograma, inicialmente desisti ao ver que a NSA desenvolvia uma

máquina quântica exclusivamente para isso, quebrar todo tipo de

senha para exatamente nos espionar. Resolvi então ler um manual de

um curso de detetive (IICC, Bechara) e por acaso topei com o assunto

da criptografia novamente, mas ainda sem uma solução para minha

pergunta.

Analisando então meus próprios conceitos relacionados a

concepção de ondular idade do tempo relacionada ao caos chego a

conclusão de tal conceito ao mescla-lo a incerteza de Heinsenberg, o

que trás conotações e possibilidades prodigiosas, mas igualmente

aterradoras nas mãos dos amorais e imorais.

A criptografia quântica originalmente criada por Stephen

Wiesner em 1970 era descrita como uma habilidade de unir duas

mensagens, mas que pelo princípio da incerteza de Heinsenberg não

se poderia decodificar as duas simultaneamente. O principio

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 238

semelhante é utilizado na hidrocriptografia, porém, não como duas

mensagens, mas de oscilações criando mais variáveis de uma única

informação pela mera influência observava de decifração de modo que

nunca se poderia encontrar a decifração sem uma chave de constante,

ou de destino, neste caso atribuída ao destinatário da informação.

Obviamente não tenho recursos técnicos para desenvolver tal

teoria, à prática - a situação em que vivo de exclusão e marginalidade

não me permite - mas me parece perfeitamente aplicável, restando

para mim lamentar não poder aplica-la em minhas inúmeras ideias que

tenho diante do que pesquiso, o que me leva a guardar muito mais

ideias - quando não as perco - em minha mente.

Conceitos patéticos de cifras permeia minha vida, alguns

atribuídos ao uso por escoteiros onde se coloca valores numéricos

mediante a ordem alfabética das letras, o que me é estressante por não

ter qualquer valor ou significado, rendendo no máximo trocadilhos

infantis ou coisas ainda mais doentias a fim de aterrorizar. Não há

qualquer porque de manter uma coisa desta como comunicação

quando todos a conhecem e assim se comunicam, e principalmente

atribuir valores e significados a isto. Naturalmente que o conceito da

hidrocriptografia demonstra-se como uma metáfora a própria natureza

do Universo e sua chave ao destino, algo constante nele em meio as

flutuações, neste caso os ditos herdeiros do destino o qual destina-se

até conceitos de profecias a comprovar sobretudo, no aspecto

cientifico, que a informação é a verdadeira natureza do universo,

considerando mais primordial que a própria relação de energia e

matéria.

Conhecimento é poder, e é um contrassenso a ideia da

Síndrome de Cassandra de ter ciência de algo e não poder altera-lo,

pois não sei de caso algum de alerta futuro que implicasse justamente

leva-lo a acontecer e sendo diametralmente contrário a hipótese do

livre-arbítrio ante o tempo ressoante ondular. Não obstante, casos de

mothmans (homens mariposa) conforme mostrado no livro ‘Crônicas

do Tempo’ assemelham-se a tais declinações negativas mas

visivelmente ligado a algo negativo justamente.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 239

A principal inspiração é a bíblia, assim a concepção destes

escolhidos serem perseguidos em sua linha é comum a tal mesmo que

a versão de Van Helsing a mesma seja também inspiradora. Sobre a

teoria em si, a semelhança com a Teoria das Cordas é igualmente

coincidente e o fato de adequar-se as demais apenas comprova que

esta é verdadeira.

Sobre os fatos históricos envolvendo principalmente Pedro

Menendez de Avilés não são tão fidedignos por não ter tido acesso a

documento históricos limitando-se a pesquisa virtual de documentos.

Todavia todos feitos históricos destes personagens são verídicos o

mais levantando-se como hipóteses a ideia conspiratória conhecendo

por fortes indícios de que os conhecimentos de navegações dos

chineses de fato, de algum modo, em algum momento, vieram aos

europeus levando estes a "descobrirem" o novo mundo por

conveniência de quem algum outro país tomasse tal dianteira, ficando

evidente isto na corrida feita entre Pedro Menendez Avilés e o francês.

Somente quando o conhecimento de terras do outro lado dos oceanos

vazaram a franceses tendo a dianteira portuguesa é que os demais

países como Inglaterra e Espanha se empenharam em iguais esforços,

ficando evidente ao hábil historiador ante exemplos de mapas como de

Pire-Reis e conforme predito no livro '1421' de Galvin Menizes que

tais viagens fora visivelmente induzidas numa trama internacional o

qual minha família teve importante influência. O exemplo do caso em

que Pedro encontra o junko chinês é completamente verídico ainda

que nunca se tenha dito se ele resgatou algo de lá, quem quiser

pesquisar procure nos apêndices do livro '1421' de Galvin Menizes.

Há muitos anos um amigo meu dos tempos em que trabalhava

na Lona Cultural com Marcos Guimarães, escreveu um livro sobre

uma viagem ao Brasil antes da descoberta oficial. Rodrigo Fernandez,

que nunca mais vi sem quaisquer rastros de contato, fez todo um

trabalho de pesquisa sobre o modo de se escrever no período o que

ficou realmente muito aprazível, porém, apesar de semelhanças não

fora o que me inspirou, mas sim a obra de Galvin Menizes ao

mencionar Pedro Menendez de Avilés que descobriu um junko chinês

no litoral da Flórida. Não obstante, é digno de nota ainda que meu

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 240

livro não trate duma viagem as Américas antes da descoberta oficial,

mas sim duma trama conspiratória que levou a estes eventos. De modo

algum vou fazer pouco caso do trabalho de Rodrigo, não obstante, as

pesquisas realizadas para os detalhes de época, feitos por ele sem

dúvidas ficaram melhor que o meu o qual limitei-me normalmente a

internet ainda que considere meu argumento e demais detalhes muito

melhor. Gostaria muito de contatá-lo e de todo modo mencionar seu

livro nas fontes – que não me recordo, admito.

Notadamente a relação de Akator ou a mítica El Dorado

igualmente é correspondente a realidade, ainda que em fragmentos, de

acordo com '1421', traços dos chineses antes da descoberta oficial

foram encontradas na Amazônia indicando que eles subiram o rio

amazonas levando o autor postular que a dita cidade perdida poderia

ter sido na verdade criada por eles.

Coincidente ou não o tratado de Tordesilhas que dividiu o

Brasil entre a Espanha demonstra que justamente a Espanha ficou com

o lado onde estaria tal cidade. As Conjecturas de que tal cidade tenha

sido fundada por descendentes de setianos é pura especulação assim

da relação de Pitah com estes, mas pelas descrições daqueles que a

teriam encontrado indicam ser algo cujo avanço excede a de quaisquer

povos primitivos da região e explicaria o conhecimento astronômico

de alguns povos do continente em vista que como previsto por Flavio

Josefo, os setianos eram os mais hábeis astrônomos de seu tempo.

Algo diametralmente oposto a uma linha como a dos setianos a todos

bons costumes e valores que visa lhe aniquilar e pilhar, sendo ou não

verídico, parece indicar que sim dado as tradições e modos de alguns

se portar, a exemplo do que fazem com o autor.

A linguística deriva-se como importante estudo dos troncos de

origem de linguagem podendo dar dicas sobre a origem de muitos

povos, a relação da linhagem de faraós como arque inimigos dos

setianos são baseadas na ideia de Pitah, que todavia o autor não

encontrou provas que a confirmasse, permanecendo assim como mera

teoria.

Muitos são chamados, poucos escolhidos. Tal passagem

bíblica determina o significado dos escolhidos de Deus, os designados

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 241

e não somente referindo-se a 140 mil judeus conforme o livro do

apocalipse. A muito pesquisar a vocação messiânica na bíblia e os

posteriores a Jesus o anseio da humanidade por um líder libertador e

revolucionário clama em momentos de caos e opressão.

Filosoficamente a compreensão de destino lhe reputa a qualidade de

um escolhido cuja missão única é aguardada com ansiedade pelos

crentes como signo de fé e esperança humana mediante a um porque e

propósitos normalmente atrelados ao divino a levar e elevar a redimir

e libertar um povo ante o improvável e sempre precedido por sinais e

prodígios como relacionados a uma profecia secular. Poucos povos no

mundo trazem de modo tão forte a imagem messiânica quanto os

judeus o que reflete no cristianismo. Por não terem considerado Jesus

Cristo um libertador de Israel em vista que no período em que surgiu

eram cativos de Roma, uma série de outros auto-entitulados messias

surgiram na palestina nos anos seguintes a Jesus, mas todos eles com

exceções tiveram fins desastrosos a si próprio quanto a seus

seguidores.

A concepção de Jesus como designado messias atribui-se a

ideia de um caminho aberto pela fé o qual atribui-se a autoria e como

seu combustor tornando os seus escolhidos a um fim o que denota

justamente uma concepção de povo escolhido, isto é, os verdadeiros

cristãos. Observa-se sobretudo que o destino não é ausência de caos,

mas triunfo sobre ele, e urge ao tempo de Kairos sua insurgência com

convicção pela fé. A emblemática ideia messiânica que tem seus

reflexos em outros povos detona um sentido estritamente moral da

salvação da integridade dos justos que sendo retos - no caso do

cristianismo - ruma ao alvo que estipula-se o destino. Naturalmente

que destino é o rumo a dado alvo de modo que o fator constante ante

ele e sobre o mundo de inconstâncias o que tem a concepção dos

Herdeiros do Destino, os seth como uma exemplificação de todos

estes. Sinais os justificam e precedem em proporção a sua

importância, são normalmente rejeitados e perseguidos sem motivo ou

por motivos injustificáveis a manifestar dons incomuns a confirmar ao

contrário de seus opostos do qual a exclusiva função é tirar o

significado e propósito destes contra todo 'porque' como escolhidos do

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 242

abismo batizados pela ilusão por serem orientados pela vontade

normalmente apresentando ao contrário da ordem divina algum tipo

de ordem antinatural, anticonstitucional e antibíblica. Diversos traços

como incapacidade de horarem a própria palavra contradizendo-se e

assim demonstrando inconstância do discurso e prática e sendo

impiedosos com seus perseguidos proibindo-lhes direitos básicos.

Pode-se definir o objetivo do Filoversismo como "expor a

essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas

existentes" ainda "oferecer a última palavra acerca das coisas que

existem e ocupar o lugar que autora fora da filosofia." Para isso negar

o ego é substancial para fugir das distorções da vontade que levam a

discriminação e injustiça sempre contraditórias mesmo. Uma

metodologia verdadeiramente filosófica e imparcial onde as metáforas

nunca sirvam para fugir da verdade, mas exemplifica-la ainda que

nunca com perfeição. Assim a concepção do singular nato surge e

veremos que essas figuras de linguagem são pálidos símiles do que

não se copia, quanto mais na verdade das ideias que abstêm o concreto

por ser estritamente imaterial, de modo que o renovo metafísico vise

exceder todo materialismo comum a distorções das cobiças, ganâncias

e consumo.

Porém, o que me agrada no Tempo é ser homogêneo, não há

desigualdades como no espaço, o tempo é generoso somente aos

pacientes, compreende-se assim que não existe tempinho, ou tempão.

Assim os bons na realidade não atrapalham, incomodam. Pertence é a

maldade atrapalhar o que é bom. O autor não se responsabiliza pelo

que é exposto sem a publicação do mesmo, pois crê que toda

discussão indireta não é digna de responsabilidade do mesmo assim

como entendo o silêncio de não atenderem uma porta quando bato,

uma negação de mim ou ao que eu produzo. É a Deus quem agradeço

pelo presente dos dons e capacitação que incorre em mim não em

crendices infrutíferas a não ser da mesmice sob fachada de justiça,

mas apenas aos próprios olhos. A verdadeira teoria ainda que teoria

nunca contradiga a verdade, mas apenas a ela explique como

realidade.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 243

Confunde-se preconceito com preferência, antes o primeiro

com discriminação de acepção julga "por baixo" a cor, idade, sexo,

tamanho e classe social sempre inerentes a conceitos materialistas e

aparentes, nunca correspondentes a realidades do que define o ser pelo

poder de suas atitudes, aqui associações comparativas sempre são para

baixo enquanto o conceito do filoversismo é imaterial, afinal quem

pode medir uma ideia?

Não se pode compreender a razão em detrimento da ausência

de responsabilidade, pois razão sem "porque" é apenas ilusão.

Resumindo a ideia do Filoversismo é elevar a compreensão por uma

consciência que caminhe lado a lado com sentimentos concebendo

uma lógica superior que pode tocar o infinito, que o materialismo e a

visão linear do pensamento ocidental não é capaz.

O discurso de aceitação é inspirado parcialmente no juramento

de Hipócrates, e tanto o mais foram ideais minhas. Naturalmente que a

minha criação por ser tão coerente, de fato chamou atenção (para

minha infelicidade) de homens maus do qual os meios denunciam os

fins a criar um feedback demonstrado nos mesmos livros como

personificação da injustiça, discriminação e fraudes diversas, sob suas

mais variadas formas normalmente mutantes e indefiníveis, mas que

invariavelmente se personifica pela subversão em sua relação não

simbiótica com o que deseja, pessoas que desconhecem até mesmo o

livre-arbítrio. O autor chegou sofrer atentados e constantes ameaças –

normalmente veladas – pela ganância de pessoas que não conhecem o

termo “sociabilizar-se”, subvertem, taxam, aprendem sempre, mas na

prática nunca tocarão a verdade proposta nestes livros.

Todavia, como autor, advém o termo autoridade sobre o

criado ainda que alguns pela arrogância e ingratidão não reconheçam

por pura injustiça que sempre lhe foram naturais ante a ausência de

empatia, mas que tropeçam nas próprias mentiras, a única coisa que

tem por autoria.

Os fatos relatos dos descentes e familiares são verídicos, de

Pedro Menendez Aviles ao Conde Jorge de Avillez dos quais as

participações históricas são de valor inestimáveis ainda que não haja

qualquer evidências destes terem descoberto alguma conspiração

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 244

internacional envolvendo a descoberta das Américas mesmo que

estudos indiquem haver outros descobridores anteriores aos

portugueses e espanhóis por estas terras, dos chineses e a quem diga

dos fenícios do qual relatos realmente indicam haver evidências deles

numa caverna na Pedra da Gávea.

"Tudo neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião.

Há um tempo de nascer e tempo de morrer;

tempo de plantar e tempo de arrancar;

tempo de matar e tempo de curar;

tempo de derrubar e tempo de construir;

Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar:

tempo de chorar e tempo de dançar;

tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;

tempo de abraçar e tempo de afastar;

Há tempo de procurar e tempo de perder;

tempo de economizar e tempo de desperdiçar;

tempo de rasgar e tempo de remendar;

tempo de ficar calado e tempo de falar.

Há tempo de amar e tempo de odiar

tempo de guerra e tempo de paz."

A bíblia Sagrada - Eclesiastes 3 1-8

Vocabulário

Cronodinâmica: conceito que

estipula como fluí o tempo numa

comparação as águas em sua

hidrologia.

Cronosofia: Conhecimento

derivado do tempo e seu modo

fluídico ressoante que pode trazer

informações de tempos não

lineares.

Hidrologia: conceito de lógica

ondular proveniente da

meditação das águas.

Hidrosofia: Conhecimento

derivado das águas por um

mestre da Ordem dos Ventos.

Feng Shui: Termo em chinês

para ‘vento-água’ e aplicado

pelos herdeiros do destino como

meditação do tempo.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 245

Ordo ad Innaturatus: Também

conhecida como Ordo Ad Chaos

é o tipo de seita infiltradora do

qual os preceitos visam agir

contra a natureza para

implementar o caos e dele

dominar. Teriam acabado com

uma cidade da antiguidade

chamada Pitah após uma invasão

e sua população aniquilada e

pilhada tornando-se tradição a

estes absorvendo conhecimentos

pilhados que teriam influenciado

o surgimento do Egito. Toda

maneira de inverter a natureza e

o rumo natural é aplicado, da

sodomia a homicídios. São

extremamente agressivos e

diabólicos.

SIV: Serviço de Inteligência do

Vaticano.

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Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 246

Fontes:

Galvin Menizes - 1421 – O Ano em que a China descobriu o mundo

F. S. de Lacerda Machado, «O Tenente-general Conde de Avilez

(1785-1845)», 2 vols., Gaia, 19313

Wikipedia

Ana María Lorandi, De Quimeras, Rebeliones y Utopias: la gesta del

inca Pedro Bohorque. Lima: Fondo Editorial de la PUC del Peru,

1997.

Jorge Magasich-Airola e Jean-Marc de Beer, América Mágica: quando

a Europa da Renascença pensou estar conquistando o Paraíso. São

Paulo: Paz e Terra, 2000.

Vicente Restrepo, Los chibchas antes de la conquista española,

Bogotá: Imprenta de la luz, 1895 [6]

R. S. Dietz e J. F. McHone, "Laguna Guatavita: Not Meteoritic,

Probably Salt Collapse Crater" [7]

Revista Mundo Estranho – Editor Abril

Gerson Machado de Avillez – 2014

Page 247: Herdeiros Do Destino

Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 247

Agradecimentos

Então defino este livro como um tributo àqueles que se é

possível sociabilizar, do qual espera-se gratidão, respeito como

moedas de troca comum ante a verdade, aos que lutam contra a

discriminação e a desigualdade e toda distorção da verdade inerente a

estes. Aos que preservam, ou procuraram preservar, a família e os

valores comuns a sociedade aberta e livre. A estes meu carinho e

retribuição, coisa que o mau nunca será capaz. É a Deus quem

agradeço pelo presente dos dons e capacitação que incorre em mim

não em crendices infrutíferas a não ser da mesmice sob fachada de

justiça, mas apenas aos próprios olhos.