harm - funções secundárias

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1 FUNÇÕES SECUNDÁRIAS Campo Harmônico Diatônico * Construção de acordes sobre cada um dos graus da escala diatônica. * Vocabulário, conjunto de unidades acordais que podem aparecer e efetivar a tonalidade em um acontecimento musical. * Estoque que dispõe os acordes e permite opção de escolha. * Memória que armazena toda uma paleta de sonoridade de acordes disponíveis para o uso. Modo Maior O campo harmônico é estabelecido através da construção de tétrades sobre cada um dos graus de uma escala diatônica maior. IIª Lei Tonal: “Todo acorde diatônico de função secundária está relacionado à função principal vizinha de terça superior ou inferior e pode funcionar como seu substituto”.

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Page 1: Harm - Funções Secundárias

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FUNÇÕES SECUNDÁRIAS

Campo Harmônico Diatônico

* Construção de acordes sobre cada um dos graus da escala diatônica.

* Vocabulário, conjunto de unidades acordais que podem aparecer e efetivar a

tonalidade em um acontecimento musical.

* Estoque que dispõe os acordes e permite opção de escolha.

* Memória que armazena toda uma paleta de sonoridade de acordes disponíveis para o

uso.

Modo Maior

O campo harmônico é estabelecido através da construção de tétrades sobre cada

um dos graus de uma escala diatônica maior.

IIª Lei Tonal:

“Todo acorde diatônico de função secundária está relacionado à função

principal vizinha de terça superior ou inferior e pode funcionar como seu substituto”.

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* Cada acorde de função principal (I7M – IV7M – V7) tem do seu lado dois outros

acordes, a uma distância de terça, que podem substituí-lo desempenhando a mesma

função.

* Grupos Funcionais: Grupo da Tônica, Grupo da Subdominante, Grupo da Dominante.

* Os acordes de função secundária possuem três notas em comum com o acorde de

função principal, o que explica o fato de poderem substituí-lo, desempenhando a mesma

função.

* Acordes de dupla função: acordes que pertencem a dois grupos funcionais (VIm7 e

IIIm7).

Cifragem Funcional

* Acordes de um mesmo grupo funcional são identificados utilizando a primeira letra do

nome do grupo a que pertencem.

T = Grupo da Tônica.

S = Grupo da Subdominante.

D = Grupo da Dominante.

* Os acordes de função secundária são identificados acrescentando a letra principal (T,

S ou D) a letra “r” ou letra “a”.

* A letra “r” identifica os acordes relativos que se encontram uma terça menor abaixo

da função principal (no modo maior).

* A letra “a” identifica os acordes anti-relativos que se encontram uma terça maior

acima da função principal (no modo maior).

* Tanto os acordes relativos quanto os acordes anti-relativos devem ser acordes

perfeitos menores (consonantes), portanto o acorde de VIIm7(b5) não se enquadra nesse

conceito, o que será discutido e estudado mais adiante.

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* A cifragem utilizada pela harmonia funcional possui uma série de símbolos como

pode ser observado na tabela que segue, retirada do livro Harmonia Funcional de

Koellreuter (1986).

* Nesta apostila será utilizada uma forma mais simples de classificação funcional dos

acordes utilizando apenas três sinais (T – S – D) para designar todas as funções

(principais e secundárias). Esta proposta apresentada por Freitas (1995), e aqui adotada

tem, por objetivo separar a organização teórica da harmonia da sua manifestação

concreta.

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Exemplificando: um acorde de V7 no estado fundamental, ou com a terça no

baixo, ou com a quinta no baixo, ou com a sétima no baixo será sempre um acorde de

Dominante sob o ponto de vista da análise. Ou seja, as múltiplas possibilidades de

escrita não alteram o significado funcional do acorde. É a diferença entre “estrutura” e

“escritura”.

Da mesma forma como a palavra adjetivo estoca uma quantidade de adjetivos

possíveis, a função reúne um conjunto de acordes que podem aparecer em uma mesma

situação. Assim sendo, levando-se em conta a classe funcional, um único termo

funcional é suficiente para deixar as coisas totalmente claras em uma análise harmônica.

Classificação Funcional dos Acordes

SUBDOMINANTE:

* Os acordes que pertencem ao Grupo da Subdominante, além do IV7M, são: IIm7 e

VIm7.

* Tomando a cadência perfeita I7M – IV7M – V7, podemos criar outras duas cadências

substituindo o IV7M grau pelo relativo (IIm7) e o anti-relativo (VIm7) e verificar seu

grau de eficiência na função Subdominante.

I7M – IV7M – V7 – I7M C7M – F7M – G7 - C 7M I7M – IIm7 – V7 – I7M C7M – Dm7 – G7 – C7M I7M – VIm7 – V7 – I7M C7M – Am7 – G7 – C7M * O IIm7 funciona mais efetivamente como subdominante isto porque pertence somente

ao grupo funcional da subdominante. O acorde de VIm7, por ser de dupla função

(pertence a mais de um grupo funcional), não funciona tão bem.

* Enquanto alguns autores defendem a utilização do VIm7 como função Subdominante,

mesmo sendo mais fraco do que os IIm7, outros discordam totalmente com sua

utilização nesta função.

* No repertório da música popular brasileira o IIm7, no papel de subdominante é o

acorde mais utilizado (mais até do que o acorde do IV grau). Pode-se afirmar que a

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cadência IIm7 – V7 – I7M é a cadência mais utilizada na MPB. Para fins de análise

harmônica existe um símbolo especial para identificar esta cadência.

IIm7 V7 I7M

* A organização do grupo da subdominante com o IV7M e o IIm7 justifica-se assim:

A) As tétrades IIm7 e IV7M mantêm entre si três notas em comum.

B) Possuem a quarta nota da escala na sua estrutura básica.

Exercícios

1) Estruturar a cadência IIm7 – V7 – I7M em todas as tonalidades.

Tonalidades IIm7 V7 I7M

C Dm7 G7 C7M

G

D

A

E

B

F#

C#

F

Bb

Eb

Ab

Db

Gb

Cb

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2) Tocar, em um instrumento harmônico os encadeamentos abaixo, transpondo-os para

todas as tonalidades.

A) I7M - IIm7 – V7 – I7M

B) I7M - IIm7 – I7M

3) Fazer análise harmônica e melódica.

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Classificação Funcional dos Acordes

DOMINANTE:

* Os acordes que pertencem ao Grupo da Dominante, além do V7, são: IIIm7 e

VIIm7(b5)

* Sob a ótica da função Dominante, que representa conflito, tensão, movimento,

aproximação, é que será feita uma análise dos dois acordes acima. Lembrando que o

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intervalo característico da função Dominante é o trítono, formado pela 3ª maior e pela

7ª menor do acorde V7.

IIIm7

* Alguns autores como Freitas (1995) descartam totalmente a possibilidade de uso do

IIIm7 na função Dominante justamente pela falta do trítono. Além disso, o IIIm7

pertence também ao Grupo da Tônica. Ora, sem dúvida é pouco provável que um

mesmo acorde, em um mesmo campo harmônico possa, ao mesmo tempo, desempenhar

a função de tensão (Dominante) e repouso (Tônica).

* Outros autores como Ribeiro sugerem que, ao utilizar o IIIm7 com a 3ª no baixo,

pode-se reforçar seu caráter dominantal uma vez que esta terça no baixo corresponde à

fundamental do acorde Dominante.

VIIm7(b5)

* Segundo a teoria da harmonia funcional um acorde relativo ou anti-relativo

obrigatoriamente deve ser um acorde perfeito. Dentro desta ótica o acorde VIIm7(b5) fica

excluído do sistema. Segundo a mesma teoria, este acorde pertence à categoria dos acordes

derivados, que são acordes cuja fundamental real está omitida.

* O que confere a uma nota o status de fundamental é a presença implícita ou explicita da

quinta justa (5J). Desta forma a fundamental do acorde de VIIm7(b5) é conhecida como

“fundamental aparente” uma vez que não consegue estabelecer uma base acústica para o

acorde.

* A fundamental dos acordes diminutos, segundo a teoria da harmonia funcional, encontra-

se oculta uma terça maior (3M) abaixo de sua fundamental aparente. Portanto, trata-se nada

mais nada menos do acorde de V7 sem a presença de sua fundamental. Assim, segundo essa

Page 9: Harm - Funções Secundárias

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teoria, o acorde de V7 e o acorde de VIIm7(b5) são considerados o mesmo acorde escrito

sob formas diferentes.

* A organização do grupo da Dominante com o V7 e o VIIm7(b5) justifica-se assim:

A) As tétrades do V7 e VIIm7(b5) graus, mantêm entre si três notas em comum.

B) Possuem a quarta e a sétima nota da escala na sua formação (o trítono).

Exercícios

1) Estruturar os acordes em todas as tonalidades conforme exemplo.

Tonalidades I7M VIIm7(b5) I7M

C C7M Bm7(b5) C7M

G

D

A

E

B

F#

C#

F

Bb

Eb

Ab

Db

Gb

Cb

Page 10: Harm - Funções Secundárias

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2) Tocar, em um instrumento harmônico os encadeamentos abaixo, transpondo-os para

todas as tonalidades.

A) I7M – VIIm7(b5) – I7M

B) I7M – IIm7 – VIIm7(b5) – I7M

Classificação Funcional dos Acordes

TÔNICA:

* Os acordes que pertencem ao Grupo da Tônica, além do I7M, são: IIIm7 e VIm7.

* A única tétrade que provoca uma sensação efetiva de repouso, conclusão, ponto

final... é aquela formada sobre o I Grau.

* As tétrades sobre o IIIm7 e o VIm7, quando precedidas pelo V7, darão uma sensação

de repouso relativo ou passageiro com uma significativa diminuição da tensão

harmônica.

* Cadência Interrompida ou Cadência de Engano

I7M – IIm7 – V7 – VIm7 C7M – Dm7 – G7 – Am7 I7M – IIm7 – V7 – IIIm7 C7M – Dm7 – G7 – Em7 * Toda cadência de engano pressupõe uma continuidade do discurso harmônico já que

nem o VIm7 nem o IIIm7 proporcionam uma sensação definitiva de conclusão. Isto se

explica teoricamente no fato destes acordes “pertencerem” a dois grupos funcionais

distintos fazendo com que seus papéis não tenham a mesma precisão como, por

exemplo, o IIm7 que pertence exclusivamente ao grupo funcional da Subdominante.

* Verifica-se que o VIm7 é um pouco mais resolutivo do que o IIIm7. A justificativa

encontra-se no fato de que o VIm7 é o relativo do I7M o que estabelece uma maior

afinidade. Outra explicação encontra-se nas notas comuns entre os dois graus. São elas:

a fundamental, a terça e a quinta do I7M.

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A) I7M – IV7M – V7 – VIm7 – IIm7 – V7 – I7M D7M – G7M – A7 – Bm7 – Em7 – A7 – D7M B) I7M – IIm7 – V7 – IIIm7 – IV7M – V7 – I7M F7M – Gm7 – C7 – Am7 – Bb7M – C7 – F7M C) I7M – IV7M – V7 – IIIm7 – VIm7 – IIm7 – V7 – I7M Eb7M – Ab7M– Bb7 – Gm7 – Cm7 – Fm7 – Bb7 – Eb7M * A organização do Grupo da Tônica com I7M, VIm7 e o IIIm7 justifica-se assim:

A) As tétrades de I7M, VIm7 e IIIm7 mantêm entre si três notas em comum.

B) Não possuem a quarta nota da escala na sua formação básica.

Exercícios

1) Estruturar a cadência I7M - IIm7 - V7 - VIm7 em todas as tonalidades.

Tonalidades I7M IIm7 V7 VIm7

C C7M Dm7 G7 Am7

G

D

A

E

B

F#

C#

F

Bb

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Eb

Ab

Db

Gb

Cb

2) Estruturar a cadência I7M – IV7M - V7 - IIIm7 em todas as tonalidades.

Tonalidades I7M IV7M V7 IIIm7

C C7M F7M G7 Em7

G

D

A

E

B

F#

C#

F

Bb

Eb

Ab

Db

Gb

Cb

3) Tocar em um instrumento harmônico os encadeamentos abaixo, transpondo-os para

as tonalidades.

A) I7M – IIm7 – V7 – VIm7

B) I7M – IIm7 – V7 – IIIm7

Page 13: Harm - Funções Secundárias

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4) Fazer uma análise harmônica e melódica.

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Acordes de Transição

* Acordes que atuam como intermediários entre uma função e outra, por não possuírem

uma função única.

* Os acordes de dupla função se enquadram nestas condições (IIIm7 – VIm7):

intercalados entre a Tônica e a Subdominante, fazem com que o afastamento se dê de

forma gradativa.

A) I7M – VIm7 – IV7M – V7 – I7M F7M – Dm7 – Bb7M – C7 – F7M B) I7M – IIIm7 – IV7M – V7 – I7M A7M – C#m7 – D7M – E7 – A7M

Exercícios

1) Estruturar o encadeamento I7M - VIm7 – IIm7 – V7 – I7M em todas as tonalidades.

Tonalidades I7M VIm7 IIm7 V7 I7M

C C7M Am7 Dm7 G7 C7M

G

D

A

E

B

F#

C#

F

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Bb

Eb

Ab

Db

Gb

Cb

2) Estruturar o encadeamento I7M - IIIm7 – IV7M – V7 – I7M.

Tonalidades I7M IIIm7 IV7M V7 I7M

C C7M Em7 F7M G7 C7M

G

D

A

E

B

F#

C#

F

Bb

Eb

Ab

Db

Gb

Cb

Page 16: Harm - Funções Secundárias

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3) Fazer análise harmônica e melódica.

Exercícios

1) Fazer análise harmônica e melódica.

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Page 18: Harm - Funções Secundárias

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2) Trechos de corais dos séc. XVI e XVII para análise harmônica e melódica.

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SÍNTESE

Funções Graus Características funcionais Tônica (T) I7M; VIm7; IIIm7 Ausência da quarta nota (nota Fá em

Dó Maior) Subdominante (S) IV7M; IIm7 Presença da quarta nota da escala

(nota Fá em Dó Maior) e ausência da sétima nota da escala (nota Si em Dó

Maior). Dominante (D) V7; VIIm7(b5) Presença da quarta nota da escala

(nota Fá em Dó Maior) e da sétima nota da escala (nota Si em Dó

Maior). (Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas)

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HARMONIZAÇÃO

Seleção do Acorde

* É a ação da escolha de um acorde.

* Opção por um único acorde entre as múltiplas possibilidades.

Principais e Inseparáveis Níveis de Articulação do Sistema Harmônico

A) Combinação das funções: e o nível da cadeia horizontal onde as classes T – S - D

seguem ou precedem uma à outra, estabelecendo seqüências harmônicas. O valor

expressivo de uma função está relacionado com o contraste que estabelece com a outra

função, anterior ou posterior.

Importa: * Beleza da contigüidade.

* Zelo pela vizinhança adjacente.

* Exercícios das relações com o próximo.

B) Seleção de acorde: é o nível que trata da opção por um acorde específico, o que

automaticamente exclui os outros. O valor expressivo do acorde escolhido está

relacionado diretamente com aquilo que o distingue dos acordes ausentes.

Importa: * Diferença na similaridade.

* A variação na semelhança.

* O exercício da desigualdade entre sinônimos. É a escolha de um grau, entre

outros disponíveis para ocupar uma função.

... → T → S → D → T → ... →

Oposição

distintiva

Vertical Nível da seleção de um acorde

Horizontal Nível da combinação de funções

“Progressões Harmônicas”

oposição contrastiva

conjunto de acordes disponíveis no Campo Harmônico Diatônico

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* A lógica do discurso harmônico, calcado na relação entre Tônica, Subdominante e

Dominante, se mantêm a mesma não obstante o conjunto de acordes provenientes do

campo harmônico estabelecido.

* O campo harmônico acrescenta riqueza de sonoridade e de expressão, mas não

acrescenta nenhuma nova função.

* A seleção de um acorde é menos normatizável e totalmente relativo.

* Depende dos propósitos estruturais e formais, de estilo de época, de autor e

principalmente do gosto pessoal.

* Vale ressaltar que o grau de “eficiência” de um acorde depende também da melodia a

ser harmonizada.

Exercícios

1) Harmonizar

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BIBLIOGRAFIA

FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Teoria da Harmonia na Música Popular: uma definição das relações de combinação entre os acordes na harmonia tonal. 1995. 174 f. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Artes, área de concentração: Música, São Paulo, 1995. RIBEIRO, Vicente. Harmonia Aplicada a Música Popular. Curitiba: Conservatório de MPB. KOELLREUTTER, Hans-Joachim. Harmonia Funcional: introdução à teoria das funções harmônicas. 2. ed. São Paulo: Ricordi. 1986.