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Guia Juventude e Comunicação Faça você mesmo!

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Guia Juventude e Comunicação

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Page 1: Guia Juventude e Comunicação

Guia Juventudee Comunicação

Faça você mesmo!

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Fruto do esforço e do acúmulo de ex-periências e lutas de adolescentes e

jovens comunicadores e comunicadoras de todo o Brasil, nasce esta publicação. Buscamos abranger os principais temas da contemporaneidade ligados ao Direito Hu-mano à Comunicação, a partir de um pers-pectiva reflexiva e prática. Desse modo, esperamos colaborar e contribuir com ado-lescentes, jovens, educadores populares, comunicadores populares, mobilizadores comunitários, organizações do terceiro se-tor, movimentos sociais e gestores públicos em suas ações e debates cotidianos.

Que este guia se torne de uso cor-rente nos diversos espaços populares (escolas, movimentos infantojuventis, organizações da sociedade civil, espaços comunitários, entre outros) que perpas-sam a Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores e Comunicadoras (Renajoc), subsidiando metodologica-mente os trabalhos de sujeitos que que-rem transformar a realidade de forma crítica e problematizadora, participativa

Apresentação

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Alessandro MunizFacilitador Nacional da Rede

Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores e Comunicadoras

(Alguém?)Viração Educomunicação

e democráti ca. A Rede existe para isso, para ser um espaço de ação coleti va, de produção de conhecimentos, parti lha de saberes teóricos e práti cos que produzam transformação da realidade por “outro mundo possível” e esta publicação repre-senta esse propósito.

A importância desta publicação se dá na medida em que ela sinteti za e transforma em arti gos acessíveis e pro-postas pedagógicas a riqueza de vivên-cias existente na Renajoc. Dessa maneira, contribuímos com a ampliação e o forta-lecimento dos movimentos e reivindica-ções pela promoção, garanti a e defesa do direito humano à comunicação, resultan-do na democrati zação das comunicações no Brasil e um aprofundamento da cida-dania e da democracia em todos os âmbi-tos políti cos e sociais.

Quando a voz de todo cidadão, e em especial, dos adolescentes e jovens, tem vez e é devidamente valorizada e apoiada pela sociedade, possibilitamos uma am-pliação da compreensão e conquista de todos os direitos humanos. Ao nos expres-sarmos, exigimos mais educação, cultura, lazer, trabalho, internet, tudo o que a po-demos entender como necessário para o bem-viver e para o crescimento humano.

Conectados em rede, nossos conhe-cimentos crescem e podemos fazer cada vez mais! A todos os leitores-parti cipantes deste guia, sejam bem-vindos à Renajoc e caminhemos juntos!

Alessandro Muniz

(Alguém?)

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A Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadoras e Comunicadores (Renajoc) nasceu em 2008, durante a realiza-ção do I Encontro de Adolescentes e Jovens Comunicadores e Comunicadoras, promovido pela ONG Viração Educomunica-ção, em Brasília.

Na sequência do Encontro, o grupo também parti cipou da cobertura colaborati va da 1ª Conferência Nacional de Po-líti cas Públicas de Juventude. Um momento importante para a construção de uma políti ca nacional desti nada aos jovens. Segundo dados da Secretaria Nacional da Juventude, cer-ca de 400 mil pessoas parti ciparam de todo o processo da Conferência. Na etapa nacional foram propostas 70 resoluções, das quais 22 foram eleitas prioritárias.

Os adolescentes e jovens comunicadores que mais tarde criariam a Renajoc contribuíram com o registro desse momento na história das políti cas pú-blicas de juventude, por meio da produção de con-teúdos de comunicação em diferentes linguagens.

Fortalecimento em rede

Ao avaliar a parti cipação dos jovens comunicadores no proces-

so da Conferência, notou-se que ha-

RENAJOC: uma história de participação e mobilização de

adolescentes e jovens em defesa ao direito humano à comunicação

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via um desafi o grande pela frente:

consolidar a pauta da comuni-cação no âmbito das políti cas públicas

de juventude e fortalecer a incidência de jovens na discussão sobre as políti cas de comunicação, ampliando a parti cipação juvenil nos debates sobre o tema.

Um dos indicati vos da fragilidade do tema comunicação nas demandas juve-nis foi o fato de não haver, entre as 22 resoluções prioritárias da Conferência, nenhuma que se referia ao tema. Apesar da centralidade da comunicação na vida contemporânea, da escandalosa concen-tração dos meios e da relação direta dos jovens com a mídia, seja a comercial ou as tantas comunitárias e alternati vas que já existi am na época; no campo da for-mulação políti ca, a comunicação – diante de tantas demandas urgentes da juventu-de brasileira – fi cara em segundo plano.

Foi então que se decidiu criar uma rede com o objeti vo de reunir e mobili-zar adolescentes e jovens pelo direito humano à comunicação e para infl uen-ciar em espaços políti cos e de tomadas de decisão nos temas de juventude e de comunicação.

Algumas realizações

Hoje, com a parti cipação de deze-nas de jovens e organizações sociais, a RENAJOC parti cipa de ações que buscam unir adolescentes e jovens do Brasil para chamar a atenção para o Direito Humano à Comunicação, propondo a experimen-tação da produção de uma comunicação livre e colaborati va e integrando debates locais e nacionais sobre adolescência, ju-ventude e comunicação.

A parti r de 2009, como parte do processo de parti cipação de adolescen-tes e jovens na Conferência Nacional de Comunicação, a Renajoc passou a pro-mover ações em todo o país para reivin-dicar o direito à comunicação e discuti r o cenário das comunicações no país. O “DIA C” – Dia Nacional da Juventude Co-municati va é comemorado em 17 de ou-tubro, dia Nacional pela Democrati zação da Comunicação.

Em 2012, a RENAJOC passou a inte-grar o Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE, em que se dedicou, junto com outras redes, a fortalecer a pauta da co-municação no âmbito das políti cas juve-nis. Além disso, a Rede também compõe a Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Parti cipação Popular (FRENTECOM).

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E desde 2013 a Rede desenvolve, com o apoio do Insti tuto C&A, o projeto Mais Educomunicação, que promove ati vidades extracurriculares voltadas à práti ca comu-nicati va com estudantes em 20 escolas públicas, de diferentes cidades em 14 esta-dos. Assim, busca fortalecer a parti cipação de adolescentes no espaço escolar, promo-ver a leitura críti ca dos meios e fomentar a práti ca da comunicação colaborati va.

Desde sua criação a Rede conta com importantes apoios insti tucionais como o Fundo das Nações Unidas pela Infância (UNICEF), a Fundação Friedrich Ebert, a Fundação Luterana de Diaconia, o Insti tuto C&A, a Viração Educomunica-ção, entre outros.

O que falam da Rede?

“Renajoc é uma rede que deixa você por dentro das informações. Formando e informando os adolescentes e jovens do Brasil e do mundo!” (Claudia Ferraz, 29 anos, São Gabriel da Cachoeira/AM)

“Renajoc signifi ca oportunidade de ajudar a garanti r o direito de jovens do Brasil a mudarem suas realidades a parti r das ferramentas da comunicação”. (Lucia-no Frontelle, 23 anos, Sorocaba/SP)

“Renajoc é um mundo de possibili-dades feito por juventudes e tem possibi-

litado que mais e mais jovens conheçam e exerçam seus direitos à comunicação” (Webert da Cruz, 19 anos, Brasília/DF).

“A Renajoc comunica a juventude, trazendo informação e a parti cipação nos espaços políti cos, mobilizando na luta pelo direito à comunicação” (Luiz Felipe Bessa, 17 anos, Recife/PE).

Como Participar?

A RENAJOC é composta por indiví-duos e organizações que atuam com as temáti cas de juventude, comunicação, educomunicação e direitos humanos de adolescentes e jovens. A gestão da rede é descentralizada e conta com a facilitação de adolescentes e jovens nas cinco regi-ões do Brasil, que juntos propõem deba-tes, ações e projetos a serem dissemina-dos em todo o país.

Para parti cipar, entre em contato com os facilitadores da sua região:

[email protected]@[email protected]@[email protected]

Ou fale com o facilitador nacional:

[email protected]

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Adolescência,Juventude e

Direitos Humanos

Monique Evelle, da Bahia1

Vânia Correia, de São Paulo2

Os termos adolescência e juventude aparecem, em muitos estudos, como sinô-nimos. Em geral, entende-se a adolescên-cia como a fase que antecede a juventude, sendo esta últi ma marcada pelo processo de emancipação. Na legislação brasileira há um momento etário de encontro jurídi-co entre as fases de adolescência e juven-tude. Dos 15 aos 18 anos os cidadãos são protegidos tanto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente quanto pelo Estatuto da Juventude, sendo alvos de políti cas e programas de órgãos disti ntos, responsá-veis por gerir ações voltadas para esses

1 Estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades com ênfase em Políti ca e Gestão da Cultura na Universidade Federal da Bahia e fundadora do Desabafo Social. Em 2013 fi cou entre as 25 negras mais infl uentes da internet no Brasil.2 Jornalista, especialista em Educomunicação: comunicação, mídias e educação, ex-conselheira de juventude, coordenadora de projetos na Ong Viração.

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dois públicos. O Ministério da Saúde tra-balha com a seguinte segmentação, 15 a 18 anos: adolescente-jovem; 18 a 24 anos: jovem-jovem; 24 a 29 anos: jovem adulto.

De acordo com os dados do IBGE, no Brasil vivem 48,85 milhões de adolescen-tes e jovens com idades entre 15 e 29 anos, o que representa 25% da população brasi-leira. Mas afi nal, o que é ser jovem? A pes-quisadora Helena Abramo (1994) defi ne: Refere-se a uma faixa de idade, um perío-do da vida, em que se completa o desen-volvimento fí sico do indivíduo e uma série de mudanças psicológicas e sociais ocorre, quando este abandona a infância para pro-cessar a sua entrada no mundo adulto.

A juventude é marcada pela constru-ção de identi dade, projeto de vida, cons-ti tuição da autonomia e inserção social. Momento em que se convive com a con-tradição entre a dependência da família e da sociedade e a busca pela emancipação.

Na verdade, o melhor é dizer juven-tudes; assim, no plural, para representar a diversidade das experiências juvenis, marcada pelas diferenças de gênero, raça, classe social etc., apesar das singu-laridades próprias dessa fase da vida.

De acordo com o Relatório Trabalho Decente e Juventude3, um quinto dos jovens brasileiros não trabalham, nem estudam. São os chamados “nem-nem”.

3 Relatório Trabalho Decente e Juventude na América Lati na: Políti cas para Ação, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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Entre eles, mais de 70% são mulheres. Muitos desses jovens estão sob o risco de exclusão social, à margem das oportuni-dades de trabalho e educação.

Quando o assunto é violência, os dados também são preocupantes. Ho-micídio é a principal causa de morte da população de jovens. O Mapa da Violên-cia 20144 revelou que a população com idade entre 15 e 29 anos foi víti ma em 53,4% dos casos de homicídios no país. Nessa faixa etária, as taxas saltaram de 19,6 para 57,6, nos últi mos trinta anos.

Para a juventude negra a situação é ainda pior. Um jovem preto ou pardo tem até três vezes mais chances de morrer assassinado do que um branco. Em 2012, do total de jovens mortos, mais de 40 mil eram negros, contra 15 mil brancos.

Uma geração conectada

Ninguém duvida que esta é a geração mais conectada da história. A alta conexão e a relação intensa com aparatos tecnoló-gicos são marcas fundamentais da experi-ência juvenil contemporânea. Segundo a Pesquisa Agenda Brasil5, 80% dos jovens usam computador e/ou internet e quase 90% têm celular. É muita coisa, né? As no-

4 Mapa da Violência 2014: os jovens do brasil, de Julio Jacobo Waiselfi sz. Disponível em: www.juventude.gov.br/juventudeviva.5 Agenda Juventude Brasil: Pesquisa Nacional sobre Perfi l e Opinião dos Jovens Brasileiros, da Secretaria Nacional de Juventude.

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na: mais da metade dos jovens disseram já ter parti cipado ou querer parti cipar de ações políti cas.

Direitos da Juventudee Marcos Legais

A conquista por direitos sempre esteve relacionada às crises e mudanças sociais de acordo com o contexto histó-rico. As revoluções liberais do século XIX ti veram grande importância para o reco-nhecimento dos direitos humanos. Com a Revolução Francesa e logo após com a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, único ordenamen-to jurídico naquela época, começaram as discussões acerca de quem seria bene-fi ciado com os direitos preconizados na Declaração. Após a Segunda Guerra Mun-dial, o mundo passou a discuti r mais o valor da dignidade humana e em 1948 foi promulgado a Declaração Universal dos Direitos do Homem, pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Tratando-se dos direitos humanos juvenis, vale destacar que passaram por períodos de transformações. Desde o Có-digo de Menores em 1927, que sustenta-va uma visão criminalizadora dos adoles-centes, até hoje com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Consti tuição Federal de 1988 e, mais recentemente, com a pro-mulgação do Estatuto da Juventude.

vas tecnologias têm papel estratégico na sociabilização dos jovens e em tarefas do coti diano, como ler notí cias, ouvir músi-cas, enviar e receber mensagens.

Mais da metade desse público se in-forma por meio da internet, atrás apenas da televisão, com 83%. Sendo que a inter-net aparece como o meio principal entre os jovens que vivem na cidade, enquanto televisão ganha entre aqueles que vivem em zonas rurais.

Falando de política

E esta é também uma geração oti -mista. 90% acreditam que é possível mu-dar o mundo pra melhor. E quem pensa que essa galera não gosta de políti ca vai se assustar com os incríveis 83% que di-zem considerar a políti ca algo importan-te. Mas não se trata daquela políti ca tra-dicional, feita nos espaços insti tucionais e pelos parti dos políti cos. A mobilização nas ruas é citada por quase metade dos jovens como melhor forma de intervir na vida políti ca. Depois vêm a “atuação em associações ou coleti vos que se organi-zam por alguma causa”, e outros como a “atuação em conselhos, conferências, audiências públicas ou outros canais de parti cipação desse ti po”.

A parti cipação pela internet tam-bém é bem efi caz de acordo com um ter-ço da população jovem. E olha que baca-

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Os jovens parti ciparam de importantes e decisivos momentos políti cos, os exemplos mais recentes são a luta pela redemocrati za-ção, o Impeachment de Fernando Collor, as Jornadas de Junho.

Foi também com muita mobilização que a juventude trouxe à tona suas demandas e assegurou algumas importantes conquistas no campo dos direitos da população jovem. A mais signifi cati va talvez seja a aprovação do Estatuto da Juventude, em 2013, que defi ne os direitos específi cos dos cida-dãos com idade entre 15 e 29 anos. O documento reafi rma as singularidades dos jovens em relação aos direitos sociais já garanti dos na Consti tuição Federal, como educação e trabalho; e também incorpora novos direitos reivindicados pelos jovens, como a parti cipação e a comunicação.

Linha dotempo:

1998: Criação da Redede Jovens do Nordeste;

2003: Criação da Rede de Juventude pelo Meio

Ambiente e Sustentabilidade;

2005: Criada a Secretaria Nacional de Juventude, o

Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e o Projovem;

2007: Criação da Rede Ecumênica da Juventude;

2008: 1ª ConferênciaNacional de Juventude

Criação da Renajoc;

2010: Aprovação da PEC Juventude

2011: 2ª ConferênciaNacional de Juventude;

2012: Criação do LevantePopular da Juventude;

2013: Jornadas de Junho Aprovação do Estatuto da

Juventude.

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SugestõesCulturais:

Filme “Escritores da Liberdade”. Conta a história de jovens de periferia que desco-brem suas identi dades, superam a descri-minação e percebem que podem transfor-mar sua realidade.

Filme “O Grande Desafio”. Retra-ta um grupo de debate composto por adolescentes e jovens de uma univer-sidade americana exclusiva para ne-gros, em uma época em que o racis-mo e a segregação no país são muito fortes. O filme mostra como eles conseguem, pela força dos seus ar-gumentos, mudar a maneira como a sociedade os enxerga.

Vídeo “A História dos Direitos Humanos”. Disponível em: htt ps://www.youtube.com/watch?v=quQ-QrPC7WME.

Referência

ABRAMO, Helena Wendel. Cenas Juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. 1. ed. São Paulo: Scritt a, 1994.

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Daniela Rueda, de Brasília1

Luiz Felipe Bessa, do Recife2

O ser humano é fundamentalmente comunicati vo. Todo o seu estar no mundo se dá por meio das relações que estabelece com as demais pessoas, os ambientes e as culturas em que está inserido. É se comu-nicando que ele se afi rma enquanto sujeito parti cipante e transformador de sua reali-dade. Por essa razão, a comunicação deve ser entendida como um direito humano.

Para a construção e consolidação de uma democracia parti cipati va, o debate sobre esse direito e a luta por sua garanti a ampla e irrestrita a todas as pessoas é es-sencial. Em 1948 foi consti tuída a Declara-ção Universal dos Direitos Humanos atra-vés das Organizações das Nações Unidas

1 Integra a Renajoc/DF e é militante do movimento de economia solidária, com atuação na Secretaria-Executi va do Fórum Brasileiro de Economia Solidária-FBES.2 Militante orgânico da Renajoc/PB, parti cipante da Região Nordeste.

Direitos Humanos e ademocratização dos Meios de

Comunicação: “a comunicação tratada com a mesma importância dos demais

Direitos Humanos”

– ONU, que em sua essência reconhece os direitos fundamentais para homens e mu-lheres que garantam sua dignidade, sen-do esses preceitos recomendações para a busca e promoção de estratégias no con-junto dos países com vistas à promoção de desenvolvimento social.

Dessa forma, a parti r do arti go III da Declaração que estabelece: �Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à seguran-ça pessoal�, a parti r do que entendemos, a liberdade é um pressuposto de aspiração social, tendo em vista que padrões cultu-rais é que maximizam ou minimizam essas possibilidades. Dessa forma, assim como o alimento, a água e a moradia são elemen-tos essenciais para nossa sobrevivência,

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a comunicação também o é, uma vez que a comunicação traz possibilidades de uma mudança de padrões e com-portamentos.

A parti r do surgimento de tec-nologias como Rádio e TV, houve uma ampliação dos meios de comunicação e informação. Contudo, por serem meios que demandavam máquinas e infraestrutura cara, apenas os grupos com maior poder econômico ti nham e ainda têm acesso a esses meios para expressarem suas opiniões. O que signifi ca que para que a maior parte das pessoas possa se comuni-car por esses meios, é preciso uma políti ca pública que fomente a comu-nicação pública e popular.

O advento da Internet está pos-sibilitando uma ampliação do acesso à produção, transmissão, obtenção e comparti lhamento de informações, tanto em texto como imagem, vídeo e áudio. Esse novo processo reforça a necessidade de que a sociedade ofereça meios para que todos pos-sam se comunicar, tendo seu direi-to garanti do, fortalecendo, desse forma, a cidadania e a democracia.

Outra questão é o tema da liberdade de expressão, que apa-rece no arti go XIX da declaração já citada. Contudo, não devemos confundir liberdade de expres-são com liberdade de imprensa,

pois a segunda acaba se restringindo ao pequeno grupo de proprietários de veí-culos de comunicação, enquanto que a segunda é direito de todo ser humano. No período da Ditadura Militar, até mes-mo os veículos da imprensa foram cen-surados, o que levou muitas pessoas a confundirem as duas liberdades, confu-são incenti vada pelos responsáveis pelo oligopólio3 da comunicação no Brasil.

Na práti ca, o direito à liberdade de expressão não acontece plenamente, já que os grandes meios de comunicação do Brasil estão no controle de poucas fa-mílias. Essa realidade resulta que a plu-ralidade de ideias em torno dos diversos grupos sociais é cerceada. Dessa forma, jovens, mulheres, homoafeti vos, indíge-nas, movimentos sociais (por exemplo, o MST) e muitos outros grupos estão sendo retratados sem a veracidade dos fatos e sem a possibilidade de eles mesmos re-tratarem seus pontos de vista.

A mídia corporati va se coloca como imparcial, porém, tal postura não condiz com a realidade de que, sendo fi nanciada pelos anunciantes, ela está comprometi -da com esses patrocinadores e suas posi-ções políti cas.

Assim, falar de direito à comunica-ção é construir sua democrati zação ao reconhecer que todo cidadão é portador

3 Oligopólio é o poder sobre determinado setor, no caso, os meios de comunicação no Brasil, concentrado nas mãos de poucos grupos.

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do direito à diversidade de vozes, cultu-ras e pontos de vista, acesso e produção de informação, condição esta essencial ao exercício da cidadania. Informar é transmiti r uma mensagem sem necessa-riamente haver um retorno de como foi entendida e uma resposta. Comunicar pressupõe retorno, diálogo, compreen-são, envolvimento e parti cipação. Assim, para falarmos de direito à comunicação é também levantar a bandeira da comu-nicação pública4.

A democrati zação dos meios de co-municação é uma pauta defendida pela Renajoc, assim como por muito outros gru-pos, movimentos e redes. Garanti r o direito à comunicação é fortalecer as emissoras comunitárias, universitárias e públicas de comunicação, incenti var o surgimento de veículos impressos comprometi dos com as causas populares e que consigam ser dis-tribuídos em um país conti nental como o Brasil, esti mular a produção de conteúdos audiovisuais independentes, universalizar o acesso à internet, entre tantas outras ações.

4 Existem diversas compreensões sobre o que é comunicação pública, mas nesta publicação estamos adotando a compreensão de que se trata de veículos fi nanciados por recursos públicos, mas gerenciados pela sociedade civil a parti r da parti cipação popular. Diferencia-se, assim, da comunicação estatal ou governamental, que seriam os meios de comunicação do governo do momento.

Resumindo...

O direito humano à comunicação sig-nifi ca, em resumo, que todo cidadão tem o direito a receber livremente informação por quaisquer meios, bem como o de pro-duzir – individual ou coleti vamente – e difundir informações, tendo acesso aos re-cursos técnicos e materiais necessários ga-ranti dos pela sociedade e poder público.

Para entender como funciona

No Brasil, rádios e TVs abertas ope-ram em regime de concessões públicas. Isso porque o conteúdo que é transmiti -do pelas emissoras trafega pelo ar, no es-pectro eletromagnéti co, que é um bem público e com espaço limitado. Logo, as emissoras precisam de uma autorização do Estado para operar, a exemplo do que acontece no transporte, energia elétrica e em outros serviços públicos.

Ainda na década 1930, o Brasil op-tou por um modelo de prestação de ser-viço de radiodifusão preferencialmente privado, entregando as concessões às empresas e investi ndo prati camente nada em emissoras públicas. A consequência disso, agravada pela falta de regulação do setor, é que se formou no país um siste-ma oligopolizado, controlado por poucos grupos que uti lizam as concessões públi-cas para interesse privado, sem necessa-riamente respeitar o interesse da popu-lação, que deveria reger a prestação de qualquer serviço público.

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Um projeto de lei popular por uma mídia democrática

O Código Brasileiro de Telecomu-nicações (CBT), lei que regulamenta o setor das comunicações, data de 27 de agosto de 1962. Com mais de cinquen-ta anos, a lei é desatualizada, pois não considera o atual cenário tecnológico, além não regulamentar os arti gos da consti tuição federal que garantem o di-reito à comunicação.

Por isso, enti dades da sociedade civil e do movimento social construíram o Projeto de Iniciati va Popular por uma Mídia Democráti ca para regulamentar os arti gos da Consti tuição que tratam da comunicação. O projeto precisa re-colher 1 milhão e trezentas mil assina-turas para ser apresentado e debati do no Congresso Nacional. Saiba como contribuir com esse processo em www.paraexpressaraliberdade.org.br

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SugestõesCulturais:

Vídeo “Levante Sua Voz”. Sobre Direito Humano à Comunicação. Disponí-vel em: htt ps://www.youtube.com/wat-ch?v=KgCX2ONf6BU

Vídeo “Cordel do Marco Regula-tório”. Sobre a importância de uma regula-mentação que democrati ze as comunica-ções no Brasil. Disponível em: htt ps://www.youtube.com/watch?v=NWs1B8goHL8

Vídeo “Comunicação em ou-tras palavras”. Sobre democrati zação da comunicação pública. Disponível em: ht-tps://www.youtube.com/watch?v=Nrnj-GAeMPHI

Música “Se liga aí”, de Gabriel, o Pensador

Música “Caixa Preta”, da banda Curumim

Site da campanha Para Expressar a Liberdade, pela lei da mídia democráti ca: www.paraexpressaraliberdade.org.br

Site do Coleti vo Brasil de Comu-nicação Social: www.intervozes.org.br

Site do Fórum Nacional pela De-mocrati zação das Comunicações: www.fndc.org.br

Site sobre Direito Humano à Co-municação: htt p://www.direitoacomuni-cacao.org.br

Site da pesquisa “Os Donos da Mídia”, que analisa os grandes grupos proprietários de meios de comunicação no Brasil: htt p://www.donosdamidia.com.br/

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