goldschmidt vs goldschmidt, leitura dogmática e genética...

44

Upload: dangphuc

Post on 14-Dec-2018

222 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

1 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

GOLDSCHMIDT

VERSUS

GOLDSCHMIDT

LEITURA DOGMÁTICA E

LEITURA GENÉTICA

Harry Edmar Schulz

Texto elaborado em Outubro de 2012

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

2 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

Prefácio

O presente texto decorre de um exercício

acadêmico feito no contexto de disciplina de Estudo

Dirigido de Filosofia 3, no curso de Filosofia da

Universidade Federal de São Carlos. A sua inclusão na

série de textos do projeto “Humanização como ferramenta

de aumento de interesse nas exatas” decorre da proposta

contida no texto original, de defender uma metodologia de

leitura de sistemas filosóficos. Nesse caso, expõem-se duas

metodologias e discorre-se sobre as mesmas. Esse tipo de

abordagem, que envolve aplicação, é altamente interessante

ao projeto mencionado.

Embora as metodologias sejam dirigidas ao

texto filosófico, a sua possibilidade de aplicação a textos

técnicos das exatas cria um viés interessante, que se

adiciona à análise das estratégias de transmissão de idéias

do autor lido.

Interessantemente, o texto também permite ao

leitor inserir-se no contexto filosófico de “metodologia”,

que difere do contexto científico. Um método, segundo o

autor lido, interroga o texto. A interrogação pode ser feita

com dois objetivos distintos, mas sugere-se não arrolar um

conjunto de normas dogmáticas, o que coloca o leitor como

um intérprete cujo “método” deve ser a descoberta do

método do autor, sem se fixar a normas “arroladas como

normas”, mas a uma norma comportamental ou postural.

O “método” proposto emana do texto como

uma postura de leitura pré-condicionada do leitor.

Ao final do texto original, o autor introduz

conceitos não aventados na leitura do texto como um todo.

Esses conceitos são utilizados para expor um problema não

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

3 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

resolvido e para indicar a sua possível solução. A leitura do

texto original é interessante para localizar esses diferentes

momentos na proposição do autor original.

Para comparações ou comentários, por favor

entrar em contato com o presente autor, através de

[email protected], ou [email protected].

Harry Edmar Schulz

São Carlos, 18 de Outubro de 2012 Projeto: Humanização como ferramenta de

de aumento de interesse nas exatas

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

4 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

Sumário

1 - Introdução:.............................................................(6)

2 - Leitura propriamente dita:....................................(6)

2.1 - Goldschmidt 1:..................................................(6)

2.2 - Goldschmidt 2:..................................................(8)

2.3 - Goldschmidt 3:................................................(10)

2.4 - Goldschmidt 4:................................................(13)

2.5 - Goldschmidt 5:................................................(14)

2.6 - Goldschmidt 6:................................................(15)

2.7 - Goldschmidt 7:................................................(17)

2.8 - Goldschmidt 8:................................................(18)

2.9 - Goldschmidt 9:................................................(20)

2.10 - Goldschmidt 10:...........................................(21)

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

5 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

2.11 - Goldschmidt 11:...........................................(24)

2.12 - Goldschmidt 12:...........................................(24)

2.13 - Goldschmidt 13:...........................................(26)

2.14 - Goldschmidt 14:...........................................(28)

2.15 - Goldschmidt 15:...........................................(30)

2.16 - Goldschmidt 16:...........................................(32)

2.17 - Goldschmidt 17:...........................................(33)

2.18 - Goldschmidt 18:...........................................(34)

2.19 - Goldschmidt 19:...........................................(35)

3 - Resumo e Considerações Finais:.........................(37)

4 - Posfácio:................................................................(41)

5 - Referências Bibliográficas:..................................(42)

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

6 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

Objeto de estudo: Tempo

histórico e tempo lógico na

interpretação dos sistemas

filosóficos.

Autor: Victor Goldschmidt.

1 - Introdução:

A proposta apresentada no contexto disciplinar

do “Estudo Dirigido de Filosofia 3”, no curso de Filosofia

da Universidade Federal de São Carlos, foi de aplicar o

método descrito por Goldschmidt ao texto por ele gerado. A

metodologia adotada no presente texto, no cumprimento

dessa tarefa, foi a leitura de segmentos sucessivos do texto,

efetuando-se tentativamente uma análise conforme a

proposta do próprio autor. Também essa análise foi

segmentada, de acordo com as partes lidas.

Note-se que esta metodologia de leitura está

sendo recorrentemente seguida nos textos que compõem

aqueles elaborados no âmago do projeto “Humanização

como ferramenta de aumento de interesse nas exatas”. No

presente texto, entretanto, não se apresenta o resumo de

cada segmento, feito pelo leitor, à guisa de economia de

espaço.

2 - Leitura propriamente dita:

2.1 - Goldschmidt 1:

Parece que haveria duas maneiras distintas de

interpretar um sistema; ele pode ser interrogado, seja sobre

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

7 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

sua verdade, seja sobre sua origem; pode-se pedir-lhe que

dê razões, ou buscar suas causas. Mas, nos dois casos,

considera-se ele, sobretudo, como um conjunto de teses, de

dogmata. O primeiro método, que se pode chamar

dogmático, aceita, sob ressalva, a pretensão dos dogmas a

serem verdadeiros, e não separa a léxis (A. Lalande) da

crença; o segundo, que se pode chamar genético, considera

os dogmas como efeitos, sintomas, de que o historiador

deverá escrever a etiologia (fatos econômicos e políticos,

constituição fisiológica do autor, suas leituras, sua biografia

intelectual ou espiritual etc.). –

HES1: No primeiro contato com Goldschmidt,

o leitor pode entender que o autor apresenta a possibilidade

de interpretação de “um sistema”, aqui colocado de forma

indefinida (“um”) permitindo inferir que haja mais sistemas

que possam ser analisados e, em adição, permitindo inferir,

ainda que tangencialmente, que esse texto se coloca em um

momento histórico em que essa discussão de abordagens

pudesse ser entendida pelos leitores. Em outras palavras,

em havendo um público alvo (leitores que se interessam por

sistemas), eles teriam um volume de informações que

permitiria entender que há diferentes maneiras de conduzir

uma leitura acerca desses sistemas.

O texto informa que o autor localizou duas

maneiras de leitura, resumidamente identificadas como

interrogações feitas sobre a “verdade (razões, dogmático)”

ou sobre a “origem (causa, genético)”. Em se aplicando

essa divisão ao seu próprio texto, portanto, seria preciso

interrogar o texto quanto a sua verdade ou a sua origem, de

forma que uma ou outra metodologia de leitura pudesse ser

convenientemente seguida.

Considerando o primeiro parágrafo deste HES1,

e considerando que uma causa genética seria as leituras

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

8 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

efetuadas pelo autor de um sistema, pode-se talvez aventar

a possibilidade de que o texto de Goldschmidt tenha sido

escrito porque o autor leu textos explicitando diferentes

sistemas, ou porque leu diferentes sistemas. Com esse

conjunto de informações, então, verificou que a leitura

poderia seguir pelo menos duas diferentes vertentes

(apontadas explicitamente no presente texto) e, com base

nesta observação acerca de suas leituras (geneticamente,

por conseguinte), abordou a própria questão da forma de

conduzir uma leitura. Em sendo o caso, tem-se uma causa

genética para a confecção deste texto.

Por outro lado, o autor pode ter apresentado este

texto na forma de uma tese a ser defendida genericamente,

sem a necessidade de sistemas anteriores, ou sem a

necessidade de um sistema a ser analisado, mas em

considerando que se possa imaginar que algo como um

sistema venha a ser proposto e que se possa efetuar uma

leitura do mesmo buscando a verdade que o autor (desse

“eventual” sistema) procurou desvendar ou demonstrar.

Nesse caso, não importam suas leituras anteriores (mesmo

dos sistemas, tomando conhecimento de sua existência) ou

sua biografia intelectual (o que o teria direcionado para este

questionamento), mas o seu arrazoado em si.

Eventualmente o termo “léxis” corrobore esta visão, se

entendido como termo utilizado pelos lógicos para designar

uma proposição que se enuncia sem que seja afirmada nem

negada a sua verdade, bem como o termo “crença”. Em

sendo este o caso, tem-se uma análise dogmática.

2.2 - Goldschmidt 2:

O primeiro método é eminentemente filosófico:

ele aborda uma doutrina conforme a intenção de seu autor

e, até o fim, conserva, no primeiro plano, o problema da

verdade; em compensação, quando ele termina em crítica e

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

9 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

em refutação, pode-se perguntar se mantém, até o fim, a

exigência da compreensão.

HES 2: O autor coloca o método dogmático

como “eminentemente filosófico”, o que exigiria talvez ter

definido o que seja algo “tão” filosófico, e mesmo o que

seria “menos” filosófico. Caminhando entre os textos de

diferentes autores, permito-me por vezes perguntar o que

seria mesmo este “filosófico” (mas entendo antes como

uma possível limitação pessoal, e não necessariamente dos

textos lidos). Ao informar que este método aborda uma

doutrina conforme a intenção do autor, considerando o

problema da verdade, uma margem para uma dúvida talvez

tenha sido lançada: ao fazermos esse exercício (de nos fixar

na intenção do autor) não devemos nos reportar ao conjunto

de informações disponíveis ao autor quando efetuou seu

estudo? Em outros termos, não devemos nos reportar ao seu

tempo (uma vez que o volume de informações que

dispomos ao longo do tempo sempre nos coloca

“correções” para as “verdades” antes assumidas?).

Utilizando um exemplo que, talvez, não seja feliz, pode-se

lembrar que, em suas meditações, Descartes busca provar a

existência de Deus e a diferença entre a constituição da

alma e do corpo. Suas motivações induziram-no às

reflexões, e essas motivações, salvo melhor juízo, estavam

vinculadas ao seu momento histórico. Em outros termos,

provar suas afirmações podia ser importante no seu

momento histórico. Essas mesmas questões são conduzidas

hoje? O presente momento histórico aponta para a

relevância deste tipo de questionamento? A resposta talvez

seja: “parece que não”. Pode-se talvez aventar que as suas

conclusões, tomadas em si próprias, apenas considerando os

argumentos sem causas, seriam extra-temporais no tocante

ao seu conjunto assumido de restrições (mas isso apenas

poderia ser dito até o momento presente - a temporalidade

continua atuando) e que a sua verdade foi atingida naquele

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

10 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

momento, segundo aquelas restrições assumidas. Mas,

nesse caso, não estamos justamente confirmando que o

questionamento é vinculado a um momento, ou pelo menos,

a um momento do autor? (E, portanto, a leitura estaria

sendo genética?). Sendo assim, pode-se efetuar uma leitura

do texto de Goldschmidt que seja apenas dogmática?

Admitamos que a “verdade” almejada pelo

autor seja atemporal, enquanto respeitadas as restrições

assumidas. Nesse caso, Goldschmidt apresenta seu texto, no

qual crê permitir analisar a leitura de algo que seria um

sistema, que está aqui sendo exemplificado como o seu

próprio texto, e no qual se está também buscando a verdade

almejada pelo autor. Em outras palavras, a presente leitura

seria conduzida desvinculada de qualquer momento

histórico ou causa bibliográfica e intelectual para o texto

lido. O texto “existe” e exprime a busca de uma verdade.

Em efetuando esta leitura, e em entendendo a mensagem de

Goldschmidt, sua “verdade” atemporal teria sido

compreendida. Isto seria a litura dogmática.

Note-se que a busca de uma verdade expressa

no texto é plausível. A “existência” do texto, sem causas

em leituras prévias (por exemplo, porque essas seriam uma

causa genética), é que causa certa estranheza. Ademais, não

parece claro que essa busca de causas poderia prejudicar a

busca da verdade do autor.

2.3 - Goldschmidt 3:

A interpretação genética, sob todas as suas

formas, é ou pode ser um método científico e, por isso,

sempre instrutivo; em compensação, buscando as causas,

ela se arrisca a explicar o sistema além ou por cima da

intenção de seu autor; ela repousa freqüentemente sobre

pressupostos que, diferentemente do que acontece na

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

11 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

interpretação dogmática, não enfrentam a doutrina estudada

para medir-se com ela, mas se estabelecem, de certo modo,

por sobre ela e servem, ao contrário, para medi-la.

HES 3 - Uma curiosa série de afirmações foi

feita: uma interpretação genética é científica. A busca das

causas pode levar a uma explicação distante da intenção do

autor, pode estar baseada em pressupostos e não enfrenta a

doutrina “medindo-se com ela”, mas a “mede”. Pode-se

inferir, salvo melhor juízo, que se sugere que uma

interpretação científica não “atinge” a idéia em debate.

Adicionalmente, um método científico considera

“pressupostos” e não estaria indo ao “embate” com a

doutrina, mas a estaria julgando.

Aqui vale talvez defender a denominada

“posição científica”:

1 – Buscar as causas pode economizar muito

tempo e esforço eventualmente gasto acerca de pretensos

conceitos complexos, cuja causa principal seja histórica e

não filosófica. Não se está dizendo que se admite de

antemão que hajam causas históricas para as teses de um

sistema, mas pode ser que hajam, e, nesse caso, é melhor

conhecê-las do que desconhecê-las. A menos que a

ignorância acerca da realidade na qual se move o autor e o

sistema seja desejada.

2 – Reconhecer que em alguma tese de um texto

há causas externas, temporais, efêmeras, também faz com

que não seja necessário considerar algo como “se esses

contornos fossem de fato válidos, a doutrina seria aplicável

em situações similares” ou coisas do gênero. Assim, não há

necessidade de dispender esforços “medindo-se com uma

doutrina” que está circunscrita a contornos que passam a ser

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

12 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

conhecidos através de um método “científico”. Entretanto,

isto não impede que se efetue o exercício de buscar a

“verdade” do autor circunscrito ao seu universo,

estabelecido pelos contornos que assumiu.

3 – Sobre “medir” a doutrina: parece que emitir

juízos é uma característica do ser pensante. Emitir juízos

exige estabelecer uma base que habilite esse julgamento.

Em que medida uma base científica seria prejudicial à

emissão de um juízo não parece, nesta leitura, estar

aclarado na sequência de proposições do autor. Novamente

fica a ressalva de que eventualmente pode-se estar

desejando a ignorância acerca do meio, o que pelo menos

soa estranho em uma discussão acerca da verdade de um

sistema.

4 – Foi dito que o método científico está

frequentemente baseado em pressupostos. No que tange a

esta leitura, esta afirmação pediria uma justificação (não

fornecida), uma vez que a postura dogmática aceitou a

presença da “crença” para o autor, que, salvo melhor juízo,

também se baseia em pressupostos. Assim, o autor pode ter

suas teses repousadas em crenças, mas o intérprete não

pode adotar um método científico, porque ele estaria

“frequentemente” baseado em pressupostos. Goldschmidt

não exemplifica, nem argumenta em defesa da tese de que a

leitura científica de fato usa de pressupostos. É um

aforismo: “a leitura científica frequentemente se baseia em

pressupostos”. O que leva a essa conclusão? Esta parte do

texto não é convincente.

Note-se que o presente texto (de Goldschmidt),

se escrito a partir do conhecimento de um rol de sistemas

que, analisados segundo uma postura que visa sua

compreensão, leva à proposta classificatória de dois tipos

de análise, também aplicou um método científico.

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

13 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

2.4 - Goldschmidt 4:

Enfim, o método dogmático, examinando um

sistema sobre sua verdade, subtrai-o ao tempo; as

contradições que é levado a constatar no interior de um

sistema ou na anarquia dos sistemas sucessivos, provêm,

precisamente, de que todas as teses de uma doutrina e de

todas as doutrinas pretendem ser conjuntamente

verdadeiras, "ao mesmo tempo".

HES 4: O autor admite, neste parágrafo, que as

contradições internas a um sistema existente, ou no

contexto de um conjunto de sistemas sucessivos, repousam

na sua pretensão de “verdade conjunta”. Isso é admitido

como atemporal, dizendo que a pretensão de verdade é

independente do tempo. Note-se que isto é a descrição de

uma limitação do método dogmático. Não se trata da

descrição de uma qualidade: a busca da verdade. Pelo

contrário, mostra que a não consideração do tempo cria

uma anarquia.

Sobre o presente texto: seria o caso, para

utilizar o método dogmático, de aceitar que a busca da

verdade almejada por Goldschmidt seja o objetivo a

perseguir nessa leitura. Seus argumentos, entretanto, podem

envolver incongruências internas que necessitam ser

aclaradas. Assumindo que possa haver a leitura de “seu

sistema” eventualmente imaginado sem vínculo a uma

realidade externa, esta leitura talvez seja livre de

incongruências. O sistema se “auto-sustentaria”,

independente das influências externas (históricas, etc.).

Mas como o seu texto pretende ser aplicado à

realidade, ou seja, ele propõe uma metodologia para

sistemas já existentes, sistemas que são diferentes entre si e

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

14 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

que povoam a realidade dos pensadores, essa independência

já estaria comprometida.

2.5 - Goldschmidt 5:

O método genético, pelo contrário, põe, com a

causalidade, o tempo; além disso, o recurso ao tempo e a

uma "evolução" permite-lhe, precisamente, explicar e

dissolver essas contradições. – Ora, a história da filosofia,

assim como Husserl o exigira da própria filosofia, deveria,

e ao mesmo tempo, ser "ciência rigorosa" e, entretanto,

permanecer filosófica. M. Guéroult, comentando a obra de

E. Bréhier, lembrou, não faz muito, que "a história da

filosofia é, antes de tudo, filosofia, mas que ela não tem

valor para a filosofia senão permanecendo intransigente

sobre a verdade histórica". – É para a elaboração de um

método, ao mesmo tempo, científico e filosófico, que

quereriam contribuir as notas seguintes.

HES 5 – Goldschmidt apresenta agora uma

vantagem do método genético. Ele dissipa as contradições

ao considerar um tempo e uma evolução. Note-se que as

observações bibliográficas, se fossem entendidas como

parte da biografia intelectual do autor ou de suas leituras,

não poderiam ser consideradas, rigorosamente, na discussão

de um método que pretenderia ser puramente dogmático. A

biografia intelectual e a leitura prévia não poderiam

direcionar este texto, uma vez que se estaria caminhando

em direção à “suspensão dos valores de verdade”, por se

vincular o texto à história do autor ou da sociedade

(admitindo, evidentemente, que apenas a causa externa

estaria sendo aventada na formação de uma tese). Por outro

lado, sem haver uma comprovação do valor de verdade das

palavras emitidas por outros autores, as referências passam

a ser meras “manifestações de opiniões”. O fato de um

excerto de outro texto ter sido mencionado não implica

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

15 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

imediatamente em aceitação de sua mensagem como uma

“verdade” que sustente o presente texto. Em suma, essas

referências, sem verificação de sua verdade, em uma

análise dogmática, não são relevantes. Adicionalmente, o

fato de o autor inserí-las mostra que usa de artifícios

“biograficamente intelectuais” e “de leitura” em sua

argumentação, que, conforme afirmado em Goldschmidt 1,

aponta para uma ferramenta genética.

A proposta do autor, após essas observações

que apontam uma série de incompatibilidades em se utilizar

apenas um método dogmático ou um método genético, é

um método misto – filosófico e científico. Então há um

terceiro método de leitura, que é proposto pelo autor nesta

altura do texto.

Dizer que um método eminentemente filosófico

deve ser ciência, mostra que, ou não há contradição entre

ambos, ou se busca a dissolução de um paradoxo. Nesse

caso, inicialmente os métodos são apresentados como

excludentes, e, introduzindo o tempo no texto de

Goldschmidt, posteriormente são apresentados como não

excludentes (um método ao mesmo tempo científico e

filosófico, nas palavras do autor).

2.6 - Goldschmidt 6:

A filosofia é explicitação e discurso. Ela se

explicita em movimentos sucessivos, no curso dos quais

produz, abandona e ultrapassa teses ligadas umas às outras

numa ordem por razões. A progressão (método) desses

movimentos dá à obra escrita sua estrutura e efetua-se num

tempo lógico. A interpretação consistirá em reapreender,

conforme à intenção do autor, essa ordem por razões, e em

jamais separar as teses dos movimentos que as produziram.

Precisemos esses diferentes pontos.

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

16 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

HES 6 – O autor explicita o que entende por

filosofia: explicitação e discurso. A “ordem das razões” é

apontada como geradora de um movimento que dá estrutura

ao texto, conferindo-lhe, adicionalmente, um tempo lógico.

Isto lembra M. Guéroult, mas este vínculo bibliográfico é

estranho de ser aventado em uma análise dogmática, uma

vez que corresponderia a um vínculo genético (note-se,

mais uma vez, que a biografia intelectual do autor não seria

relevante na análise puramente dogmática, conforme

Goldschmidt 1). Assim, dogmaticamente deve-se

desconsiderar este eventual vínculo e considerar apenas o

movimento de um texto, com sua ordem das razões, como

sendo relevante. Mas sendo conhecedor desses termos em

outros autores, que os definiram, isto implicaria então em

desconsiderar que Goldschmidt transitava entre idéias já

lançadas por outros no meio no qual atuava. A leitura a ser

feita deveria desconsiderar o conhecimento prévio também

do leitor que se debruça sobre este texto, ou seja, o

intérprete deveria desconsiderar o seu próprio trânsito no

tema – do contrário estaria inserindo um desvio genético.

Não parece que o presente texto permita esse tipo de

postura (aplicando Goldschmidt a Goldschmidt), nem a

análise do autor estaria apontando para isto.

Assim, ainda poderia haver a possibilidade de o

método proposto por Goldschmidt não ser aplicável a

Goldschmidt (neste texto ou em parte dele), ou, o que é

mais plausível a partir da proposta de um método misto, ao

mesmo tempo científico e filosófico, de que a análise

dogmática admite ferramentas genéticas. Nesse caso, todo o

cabedal de conhecimentos prévios do autor, bem como o

seu momento histórico para a apresentação de sua tese,

podem ser relevantes na análise de seu texto. Ou seja, não

há contradição no uso de ferramentas genéticas na análise

“dogmática”, ou, melhor, na análise mista. Note-se que

conhecer a realidade na qual se movem autor e sistema não

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

17 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

impede de estudar o movimento interno do sistema, com

suas proposições, argumentos e conclusões. Pelo contrário,

pode deixar claro porque uma determinada tese despontou

como relevante, gerando uma necessidade da análise de seu

conteúdo de verdade no movimento do texto.

2.7 - Goldschmidt 7:

A filosofia é explicitação. Que esta explicitação

proceda de uma "intuição original", que haja, por trás do

que está "desenvolvido e exteriorizado", "um núcleo, uno,

simples, voluntário e livre que lhe (ao historiador) revelará

um sujeito", é coisa que se pode, certamente, conceder. Mas

tendo o filósofo pretendido dar-nos um pensamento

desenvolvido, o ofício do intérprete não pode consistir em

reduzir à força esse desenvolvimento a sua fase

embrionária, nem em sugerir, por imagens, uma

interpretação que o filósofo julgou dever formular em

razões. O primeiro motor de um sistema, que se chame

intuição, sujeito,* pensamento central, não permaneceu na

inação.

HES 7 – Curiosamente o autor coloca o esforço

de um eventual intérprete de uma “intuição original”

explicitada filosoficamente como “reduzir à força esse

desenvolvimento a sua fase embrionária...O primeiro

motor...não permaneceu na inação”. Subentende-se que o

autor critica esta posição de um eventual intérprete e,

evidentemente, também o leitor assim fará. Mas a pergunta

que se pode fazer aqui é se de fato há ou haverá um

intérprete que se esforçará em reduzir à incompreensão ou à

sua origem mais remota aquilo que um autor pretendeu

transmitir. Qual é a vantagem em deturpar uma idéia? Se se

assume que o pensador original agiu com honestidade ao

transmitir suas idéias, não é mais adequado também

assumir que o intérprete está agindo com honestidade nos

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

18 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

seus esforços de interpretação do autor? Não é honesto

verificar a causa da tese, em sendo esta externa,

independente da discussão em torno de seu conteúdo de

verdade?

No texto de Goldschmidt está-se procurando

efetuar uma leitura conforme as suas sugestões. Em

nenhum momento pretende-se gerar uma situação de inação

para seu pensamento. Esta afirmação surge então como

estranha, parecendo antes que Goldschmidt se utiliza de

uma caricatura de um intérprete. Por outro lado, o uso de

imagens é intenso na Filosofia, sendo curiosa a crítica ao

seu uso por um intérprete que seriamente busca transmitir o

entendimento de uma passagem (desde os pré-socráticos,

com suas luzes, passando por Platão, com suas alegorias –

vide caverna, por exemplo – até Sartre – pródigo em

imagens, os filósofos usam de paráfrases sensoriais para

explicar o não-sensível – porque limitar seu uso a um

intérprete?)

2.8 - Goldschmidt 8:

Reduz-se ele a isso, cada vez que se toma um

sistema assim, às avessas; ora, a intuição, tão bem

denominada "original", tendeu, quanto a ela, a explicitar-se.

Além disso, recorre-se a uma causa inteligível que teria isto

de paradoxal, que, permanecendo oculta, como é preciso,

aos olhos do filósofo, se entregaria ao intérprete. É que,

tanto aqui como em outras pesquisas etiológicas, o

intérprete se coloca acima do sistema e, em relação ao

filósofo, ao invés de adotar primeiramente a atitude de

discípulo, faz-se analista, médico, confessor. O sistema,

entretanto, não é escrito para fornecer sintomas e índices

destinados a uma desvalorização radical, em troca de sua

causa produtora oculta, que eles teriam permitido inferir,

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

19 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

mas, inversamente, para mostrar e para fazer compreender

as produções desta causa, qualquer que seja ela.

HES 8 – Salvo melhor juízo, o autor critica a

posição do intérprete que sugere conhecer uma “causa

necessariamente oculta aos olhos do filósofo”. Parece que

mais uma vez o intérprete é colocado caricatamente como

“pretendendo-se superior”, ou algo que caminhe nesse

sentido. Novamente, salvo melhor juízo, o autor defende

uma causa oculta que gera algo que se deve compreender

(causa esta que o intérprete caricaturado erroneamente

pretende inferir). Nesse caso, aplicando essa interpretação

ao próprio texto de Goldschmidt, a causa deste “sistema de

leitura” poderia estar oculta. Todavia, em estando oculta,

como se poderia inferir que se trata de uma proposta de

diferenciação entre as maneiras de ler uma doutrina? É

possível interpretar o seu texto como não possuindo uma

causa aparente? Isto seria um tanto estranho e é-se induzido

a concluir que não. Em outros termos, seu texto tem uma

causa: um sistema, mesmo eventual, mesmo ainda a existir,

necessita de uma leitura.

Nesse caso, talvez se esteja extrapolando a

possibilidade de paralelismo entre um texto aplicativo

(como este de Goldschmidt em sua totalidade) e um

sistema. Eventualmente um sistema possa induzir a esta

interpretação de uma causa oculta, (invisível ou

indescritível? – pergunta nossa), da qual se pode observar a

produção e, adicionalmente compreendê-la (note-se que não

se está defendendo esta postura, mas apenas evidenciando

uma eventual dificuldade de aplicação do texto de

Goldschmidt a ele mesmo).

Uma segunda interpretação talvez seja: o autor

de um sistema pode apresentar a sua ordem de razões

sujeita a uma causa externa, mas não reconhecível por ele

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

20 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

(como deve ser, caso contrário poderia estar suspenso o

valor de verdade de sua tese) por estar imerso na própria

realidade/causa. Usando um exemplo: o peixe não vê a

água porque está imerso nela. Qualquer movimento deste

peixe ocorrerá neste meio, sem que ele vincule

racionalmente ambos. Portanto, a ordem de razões de um

autor pode ter uma estrutura que não toma conhecimento da

causa da tese. Mas não se pode afirmar que o seu

conhecimento por um intérprete posterior venha prejudicar

a própria tese.

Interessantemente, a possibilidade de uma

produção sem causa remeteria (talvez se possa adjetivar

como “naturalmente”) a uma analogia com ensinamentos

religiosos nos quais a causa oculta (invisível ou

indescritível?) das coisas do mundo seriam os deuses, mas

que permitem observar a produção (o próprio mundo) e

entende-lo (a partir dos sistemas religiosos em pauta).

2.9 - Goldschmidt 9:

Ora, as asserções de um sistema não podem ter

por causas, tanto próximas quanto adequadas,¨ senão razões

conhecidas do filósofo e alegadas por ele. É possível, sem

dúvida, colocar, na origem de um sistema, qualquer coisa

como um caráter inteligível; mas, para o intérprete, esse

caráter somente é dado no seu comportamento e nos seus

atos, isto é, nos seus movimentos filosóficos e nas teses que

eles produzem. O que é preciso estudar é essa "estrutura do

comportamento", e referir cada asserção a seu movimento

produtor, o que significa, finalmente, a doutrina ao método.

HES 9 – O autor fala que as razões devem ser

conhecidas pelo filósofo e retoma a idéia de que a estrutura

do comportamento é relevante. Assim, a impressão de

defesa de uma causa necessariamente oculta ao filósofo

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

21 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

poderia ser colocada como contraditória à presente

passagem. Mas ter razões conhecidas não implica em não

ter causa para apresentar as razões, apenas que essas razões

não são vistas com o seu vínculo à causa. Note-se que

Goldschmidt diz que as teses apresentadas são produzidas

nos atos do sistema, sendo o sistema apresentado pelo autor

(que pode ser movido por uma causa não reconhecida). Na

argumentação de Goldschmidt as razões do filósofo estão

independentes da causa e não seria desejável reconhecê-la

como relevante ao sistema em uma análise de um

intérprete. A releitura de ambas as passagens, entretanto,

pode ainda suscitar este caráter eventualmente contraditório

na interpretação possível. Assim, esta característica é

mencionada aqui.

Em seu texto, então, a argumentação de

Goldschmidt conduz à defesa da “estrutura do

comportamento”. A leitura, por conseguinte, tem este

caráter dogmático em meio à sua realidade genética.

(Considera-se aqui a última linha de Goldschmidt 5)

2.10 - Goldschmidt 10:

Doutrina e método, com efeito, não são

elementos separados. O método se encontra em ato nos

próprios movimentos do pensamento filosófico, e a

principal tarefa do intérprete é restituir a unidade

indissolúvel deste pensamento que inventa teses, praticando

um método. Quando um autor consagrou a seu método uma

exposição teórica, é preciso evitar interpretar esta última

como um conjunto de normas dogmáticas, a serem

classificadas ao lado dos dogmas propriamente ditos. Pode-

se generalizar, a esse respeito, o que Descartes diz de seu

próprio método, que "ele consiste mais em prática que em

teoria" (a Mersenne, março de 1637); e quando, a propósito

dos "Ensaios desse método", Descartes precisa "que as

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

22 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

coisas que eles contêm não puderam ser achadas sem ele, e

que se pode conhecer por eles o que ele vale", é preciso

acrescentar que, sem eles, nem mesmo se pode conhecer o

que ele é. Inversamente, tampouco se conhecem as teses, se

abstraídas do método de que resultam.

HES 10 - Afirma-se: Doutrina e método são

indissolúveis e “a principal tarefa do intérprete é restituir a

unidade indissolúvel deste pensamento que inventa teses,

praticando um método”. Nesse caso, aplicando essa idéia ao

presente texto, pode-se dizer que a “doutrina” do autor é a

leitura dogmática e genética (filosófica e científica) de seu

texto e que é este método que deve ser aplicado (ver última

linha de Goldschmidt 5).

Afirma-se: É preciso evitar interpretar a

exposição teórica como um conjunto de normas

dogmáticas, classificadas com os dogmas. Mas porque não

fazer isso? Como entender um método se não se

estabelecem suas regras? Que método é esse que não pode

ser descrito? Cientificamente, classificam-se coisas e

regras. Da leitura do texto, nesta passagem, parece que

filosoficamente isto não é aceitável (salvo melhor juízo).

Verifica-se que novamente o autor utiliza

referências bibliográficas que atestam o seu momento de

leitura, o seu conjunto de informações consideradas

relevantes. Uma pergunta que surge dessas referências é:

poderiam outras informações iniciais levar a outras

conclusões? Não se pode descartar essa possibilidade, e,

nesse caso, o autor se movimenta de acordo com o seu

reservatório de conhecimentos aceitos. Nesse caso, não se

pode dizer que não seja possível efetuar uma análise

desvinculada de causas externas, mas pode-se aventar a

possiblidade de ser uma análise eventualmente fútil, porque

essas causas sempre estarão presentes na própria

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

23 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

argumentação do autor. Em outros termos, o autor é o

vínculo entre o sistema e o momento histórico no qual este

foi apresentado. Sem o autor, naquele momento histórico,

não haveria o sistema tal qual foi apresentado. Note-se que

não aceitar essa afirmação implica em se ter possibilidades

alternativas como: 1) Não haveria qualquer sistema, 2) O

mesmo sistema existiria independentemente do autor.

O primeiro caso não se observa. Têm-se vários

sistemas e provavelmente outros serão propostos. O

segundo caso sugere que a verdade se impõe independente

do autor. Nesse caso, não precisaria ter havido Kant, porque

o sistema que ele criou seria apresentado por outro. O

mesmo se pode falar de Descartes e de todos os filósofos

que geraram sistemas próprios. Parece também que esta

afirmação não se verifica, porque mesmo os que aceitam os

diferentes sistemas os explicam de maneiras diversas (ver

os diferentes comentadores).

Presentemente está-se entendendo que o

conjunto de conhecimentos de Goldschmidt e seu momento

histórico foram relevantes para que o texto por ele

apresentado tenha as características internas observadas.

Assim, observa-se que o movimento de seus argumentos

permite uma leitura dogmática, e que suas inserções

bibliográficas denotam as influências genéticas. Nas

influências genéticas está a causa do movimento do texto,

que é analisado de forma dogmática, mostrando que essas

influências que geram o texto não impedem a sua análise

interna. Eventualmente o intérprete não terá acesso às

causas, ou mesmo o autor não as conhecerá como causas

genéticas, porque para ele trata-se de ordenar razões

segundo a sua intuição original. Por conseguinte, o

intérprete pode também seguir o movimento do texto sem

atingir suas causas.

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

24 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

2.11 - Goldschmidt 11:

A pesquisa, em matéria de filosofia, não

procede somente da verdade, mas faz corpo com ela.

Assim, para compreender uma doutrina, não é suficiente

não separar a léxis da crença, a regra, de sua prática; é

preciso, após o autor, refazer os movimentos concretos,

aplicando as regras e chegando a resultados que, não por

causa de seu conteúdo material, mas em razão desses

movimentos, se pretendem verdadeiros. Ora, esses

movimentos se nos apresentam na obra escrita.

HES 11 – Entende-se que não sendo apenas a

verdade a causa da pesquisa filosófica, o autor esteja

reafirmando a possibilidade de uma leitura mista. O autor

menciona a aplicação de regras ao refazer os movimentos

concretos do texto lido. Mas o que são as regras não está

necessariamente claro. Entende-se que seja a leitura

dogmática/genética proposta no final de Goldschmidt 5.

Não obstante, a valorização dos movimentos aponta para

uma leitura dogmática nesta parte de seu texto.

2.12 - Goldschmidt 12:

Seria ainda separar método e doutrina o achar

na obra um método somente de exposição, e não de

descoberta. Mas, na oposição entre esses dois métodos,

pensada até o fim, ou bem os dois termos acabam por

coincidir, ou então o último destrói-se por si mesmo,

porque sustentar, com E. Le Roy, que "a invenção se

cumpre no nebuloso, no obscuro, no ininteligível, quase no

contraditório", é dizer que ela não é, de modo algum, um

método. E é possível, sem dúvida, na exegese dos sistemas,

dedicar-se à reconstituição de uma tal "invenção", isto é,

abandonar o filosófico pelo psicológico e pelo biográfico, e

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

25 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

as razões pelas causas. Sem dúvida, é preciso também

reconhecer que um autor possui, sob certa forma, idéias,

antes de poder pensar em expô-las. Mas essas idéias não

terão sua forma certa, sua descoberta não estará

propriamente concluída senão com o traço final da obra.

Crendo o contrário, corre-se o risco de ceder à ilusão

retrógrada denunciada por Bergson; admite-se que uma

doutrina preexiste à sua exposição, qual um conjunto de

verdades inteiramente constituídas e indiferentes a seu

modo de explicitação (e não se deve ter o temor de precisar:

à sua expressão verbal). Mas a opinião não se confunde

com a ciência; a tese simplesmente "descoberta", isto é,

entrevista e que flutua livremente diante do espírito, não

estará inventada, de verdade, senão quando for "exposta",

isto é, "encadeada por um raciocínio" (Menão, 98 a). "Este

ensaio", escreve Condillac, "estava acabado, e, entretanto,

eu ainda não conhecia, em toda a sua extensão, o princípio

da ligação das idéias. Isso provinha unicamente de um

fragmento de cerca de duas páginas, que não estava no

lugar onde deveria estar" (Essai sur l’orig. des conn. hum.,

II, II, 4).

HES 12 – O autor repele a possibilidade de não

haver um método. Também repele a possibilidade de haver

idéias concluídas senão com a conclusão de uma obra. O

autor fixa essa conclusão à expressão verbal. Note-se que

não se está falando apenas do pensamento criativo, mas da

gênese do pensamento criativo. Creio que aqui no máximo

se pode opinar sobre tal tema (pelo menos, HES apenas se

admite uma opinião no presente momento). No que tange

ao volume de informações contido no texto e no

reservatório de conhecimentos de HES até o presente

momento, nem este breve comentário, nem Goldschmidt,

possuem base para discursar com propriedade sobre o que

seria a gênese do pensamento criativo. Nesse caso, o ensaio

abandona a sua característica objetiva e transita pelo reino

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

26 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

da opinião. Infere-se, das afirmações feitas, que uma tese

estará inventada apenas após a sua exposição verbal (infere-

se escrita). Entretanto, poderiam haver idéias filosóficas

que se originaram da experimentação física, ou biológica,

ou química, ou política, ou social, enfim, emana do texto a

impressão de ter havido uma abordagem superficial deste

tema, havendo a necessidade de uma discussão mais

profunda caso se queira um argumento mais sólido. Ao

mencionar suas referências bibliográficas, que atestam um

estado precedente à sua análise, Goldschmidt fornece em si

próprio o exemplo de que há uma interdependência entre o

desenvolvimento do raciocínio que aqui apresenta e sua

própria história (intelectual, se assim se quiser exprimir).

Ou seja, pode-se sugerir mais uma vez, nesta altura do

texto, que análise dogmática e genética caminham juntas.

2.13 - Goldschmidt 13:

Os movimentos do pensamento filosófico estão

inscritos na estrutura da obra, nada mais sendo esta

estrutura, inversamente, que as articulações do método em

ato; mais exatamente: é uma mesma estrutura, que se

constrói ao longo da progressão metódica e que, uma vez

terminada, define a arquitetura da obra. Ora, falar de

movimentos e de progressão é, a não ser que fique em

metáforas, supor um tempo, e um tempo estritamente

metodológico ou, guardando para o termo sua etimologia,

um tempo lógico. Em nada se cede, com isso, a um

"psicologismo" qualquer. O tempo necessário para escrever

um livro e para lê-lo é medido, sem dúvida, pelos relógios,

ritmado por eventos de todos os tipos, encurtado ou

alongado por toda espécie de causas; a esse tempo, nem o

autor nem o leitor escapam inteiramente, assim como aos

outros dados (estudados pelos métodos genéticos) que

condicionam a filosofia, mas não a constituem. Porém,

como escreve G. Bachelard, "o pensamento racional se

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

27 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

estabelecerá num tempo de total não-vida, recusando o

vital. Que a vida, por seu lado, se desenvolva e traga suas

necessidades, é, sem dúvida, uma fatalidade corporal. Mas

isso não suprime a possibilidade de retirar-se do tempo

vivido, para encadear pensamentos numa ordem de uma

nova temporalidade". Esta "temporalidade” está contida,

como cristalizada, na estrutura da obra, como o tempo

musical na partitura.

HES 13 – O autor parece estar afirmando que

há um tempo próprio inerente a uma obra humana, relativo

ao seu desenvolvimento, movimento ou estrutura. Salvo

melhor juízo, esse tempo se encontra nas obras derivadas

do pensamento humano: artes e ciências, por exemplo. O

próprio autor menciona a música como um exemplo.

O texto de Goldschmidt possui esse tempo

próprio, esse desenvolvimento/ acompanhamento de seu

raciocínio. Mas isso não implica que a análise desse tempo

seja independente de sua genética. O autor menciona que os

dados genéticos condicionam a Filosofia, mas não a

constituem. Isto também ocorre com as ciências, onde se

reconhece sem preconceitos que o tempo no qual uma

descoberta científica ocorreu condiciona a descoberta e a

sua própria aplicabilidade momentânea. De forma geral, as

ciências “evoluem” e suas “verdades” são vistas como

vinculadas aos contornos então reconhecidos como

relevantes. Posteriormente refutações e correções são

apresentadas, evidenciando-se aquilo que não estava

evidente no momento da criação do modelo. Novos

contornos são colocados para novas aproximações e

modelos, sempre sabendo que também esses serão

refutados e corrigidos futuramente.

A afirmação de que dados genéticos são

condicionantes é relevante. No caso das ciências, o grau de

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

28 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

conhecimento atingido em determinado momento permite

que uma resposta seja atingida, ou uma proposição

diferente seja apresentada. As conclusões de qualquer

desenvolvimento científico são utilizadas de acordo com o

seu universo de aplicação. E são válidas nesse universo.

Assim, as conclusões da mecânica newtoniana continuam a

ser válidas e verdadeiras em nosso dia-a-dia. O

eletromagnetismo é aplicado na sua forma clássica e a ótica

geométrica permite a produção das lentes de nossos óculos,

binóculos, telescópios, enfim, do aparato ao nosso alcance.

Não obstante, em um universo quântico ou relativístico-

quântico, uma mecânica mais geral deve ser usada, o que

não invalida a primeira nem generaliza o uso da segunda. Apenas enfatiza o seu caráter complementar, quando os

contornos são definidos.

Assim, espera-se que os dados genéticos sejam

considerados mesmo na Filosofia, porque permitem

entender as condições de contorno utilizáveis em um

sistema. Isto não implica em condenar sistemas ao

ostracismo devido as suas incoerências, quando vistos à luz

de sistemas pretensamente mais gerais. Seria o mesmo que

abandonar a mecânica Newtoniana e resolver problemas

comuns de engenharia utilizando a mecânica quântico-

relativística. O bom-senso evidentemente impede esta ação.

2.14 - Goldschmidt 14:

Admitir um tempo lógico é bem menos

formular uma teoria, por sua vez, dogmática, que uma regra

de interpretação, de que é preciso, ao menos, assinalar

algumas aplicações. Essa regra, em primeiro lugar,

concerne à própria exegese dos métodos. Refazer, após o

autor, os movimentos de que a estrutura da obra guarda o

traçado, é repor em movimento a estrutura e, desse modo,

situar-se num tempo lógico. Assim, o movimento inicial do

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

29 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

método cartesiano dá às duas primeiras Meditações sua

estrutura; esta estrutura, da maneira mais aparente,

exprime-se no fato que há duas; a razão deste fato é que,

para cumprir esse movimento, é preciso tempo. Descartes

escreve sobre a dúvida universal: "Eu não pude (entretanto)

dispensar-me de dar-lhe uma Meditação inteira; e eu

gostaria que os leitores não empregassem apenas o pouco

de tempo necessário para lê-la, mas alguns meses, ou, ao

menos, algumas semanas, a considerar as coisas de que ela

trata, antes de passar adianta", e, sobre o modo de conhecer

o espírito: " É preciso examiná-lo frequentemente e

considerá-lo longamente… o que me pareceu uma razão

suficientemente justa para não tratar outra matéria, na

segunda Meditação" ( Seg. Resp., com.). Esse tempo, sem

dúvida, varia segundo o leitor; ele dura "alguns meses" ou

"algumas semanas". Mas a estrutura das Meditações é dada

objetivamente, o método que a subtende tem pretensões a

um valor universal, e o tempo onde se desenvolve esse

método é um tempo lógico, apreendido pelo leitor-filósofo,

ainda que esse leitor, se ele se chama Pedro, possa gastar

com isso menos tempo físico que se ele se chama Paulo. O

erro de interpretação, que Descartes censura em Gassendi,

consiste em arrancar a dúvida universal ao movimento

estrutural e ao tempo lógico. No método platônico, o quarto

e o último movimento caracterizam-se não somente por sua

certeza, seu desembaraço, mas, ainda, de uma maneira

correspondente, pelo pouco tempo que ela supõe .

HES 14 - O autor exemplifica erros e propostas

de acertos a partir das primeiras duas meditações de

Descartes, agora associando um tempo lógico ao tempo de

correta compreensão da leitura de Descartes. O autor fala

de semanas ou meses, ou seja, o tempo físico necessário ao

entendimento do movimento do texto, ainda que

informando não ser este tempo relevante. Interessantemente

havia inicialmente a compreensão de que o tempo inerente

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

30 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

ao texto estava vinculado ao próprio movimento do texto,

portanto sendo desnecessária uma menção de uma

correspondência aos dias, semanas ou meses, ainda que

ilustrativa. Colocando Pedro e Paulo com diferentes

características “temporais”, pode-se aventar que

Goldschmidt implicitamente retorna às características

fisiológicas do leitor, ou à sua história intelectual, ou às

suas leituras, que são componentes genéticas. Esta

passagem, se não teve esta intenção, parece reforçar a idéia

de que o texto deve ser lido de forma dogmática. Esta

ressalva é feita no sentido de que se reconhece que pode ser

necessária uma releitura para captar a verdadeira intenção

de Goldschmidt (no sentido de aplicar Goldschmidt a

Goldschmidt).

2.15 - Goldschmidt 15:

Em certas filosofias, o método em ato, não

somente se move num tempo lógico, mas mantém relações,

implícitas ou explícitas, com uma doutrina do tempo em

geral; isto, tentaremos mostra-lo alhures, acontece em

Bergson, aquilo, nos Estóicos. De um modo mais geral,

repor os sistemas num tempo lógico é compreender sua

independência, relativa talvez, mas essencial, em relação

aos outros tempos em que as pesquisas genéticas os

encadeiam. A história dos fatos econômicos e políticos, a

história das ciências, a história das idéias gerais (que são as

de ninguém) fornecem um quadro cômodo, talvez

indispensável, em todo o caso, não-filosófico, para a

exposição das filosofias; eis aí, escreve E. Bréhier, "o

tempo exterior ao sistema" . – A biografia, sob todas as

suas formas, supõe um tempo vivido e, em última instância,

não-filosófico, porque é o autor da biografia, não autor do

sistema, que comanda seu desenrolar-se; mas o sistema,

qualquer que seja seu condicionamento, é uma promoção;

como diz M. Guéroult, a propósito de Fichte: "Bem se pode

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

31 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

(pois) transpor na ordem do especulativo o que se passou na

alma do filósofo"; seguindo-se o caminho inverso, impõe-se

ao sistema uma desqualificação. É bastante notável que seja

Bergson quem tenha afirmado a independência essencial de

uma doutrina em relação ao tempo histórico em que ela

aparece. "Tais ucronias fazem ver o que é essencial num

pensamento filosófico é uma certa estrutura". Pondo em

primeiro plano "a preocupação pela estrutura" que, para

citar ainda E. Bréhier, "domina decididamente a da gênese,

cuja pesquisa tantas decepções causou" , a interpretação

metodológica pode, pelo menos, quanto a seu princípio,

pretender-se "científica"; além disso, do mesmo modo que

as outras exegeses científicas, às quais ela não visa

substituir-se, ela supõe um devir, mas que seja interior ao

sistema, e busca as causas de um doutrina, aquelas pelas

quais o próprio autor a engendra, diante de nós.

HES 15 - O autor menciona referências

bibliográficas que ilustram sua posição. Mas ao dizer que o

que é essencial ao pensamento filosófico é que possua certa

estrutura apenas afirma uma necessidade inerente a

qualquer transmissão de idéias. Há que haver uma estrutura.

Isto não é prerrogativa do pensamento filosófico. O

pensamento científico tem que ter uma estrutura. O

pensamento artístico tem que ter uma estrutura. Seu próprio

texto deve ter uma estrutura. E ele a tem. Na presente

passagem, contradizendo a última linha de Goldschmidt 5,

o autor defende que a análise dogmática é aquela que deve

ser feita. Se isto convence ou não o leitor após buscar

compreender a proposta mista anteriormente colocada,

depende da interação do leitor com seu texto. As

deficiências para a transmissão de idéias podem se localizar

tanto no autor, como no leitor. Eventualmente, deficiências

na estrutura do texto produzem deficiências na sua

interpretação. Goldschmidt quis ou não defender a leitura

mista? Se sim, porque agora valoriza a leitura dogmática?

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

32 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

Se não, porque apresentou a última linha de Goldschmidt

5? Em nenhum momento o autor refutou sua busca por um

método “ao mesmo tempo” científico e filosófico.

2.16 - Goldschmidt 16:

Filosófica, ela o é, na medida em que tenta

compreender um sistema, conforme à intenção de seu autor.

Indo mais além, ela poderia fornecer indicações, ao menos,

para o que concerne ao problema da verdade formal de uma

doutrina. – Que os movimentos filosóficos se cumpram

num tempo próprio, isso significa, essencialmente, que a

filosofia é discurso, que a verdade não lhe é dada em bloco

e de uma só vez, mas sucessivamente e progressivamente,

isto é, em tempos e em níveis diferentes. Se assim é, não

parece, então, que se possa exigir de um sistema, o acordo

simultâneo, resultando de uma conspiração intemporal, de

seus dogmas considerados, unicamente, em seu conteúdo

material. É o mesmo desconhecimento do tempo lógico que

está na raiz destas duas exigências, a nosso ver, ilusórias:

medir a coerência de um sistema pela concordância,

efetuada num presente eterno, dos dogmas que o compõem,

e realizar o esforço filosófico por uma intuição única e

total, estabelecendo-se, também ela, na eternidade.

HES 16 - Salvo melhor juízo, o autor defende

que não há verdade atemporal no movimento interno de um

sistema (anteriormente foi utilizado o momento histórico

nas argumentações, mas FORA do sistema – ou a

temporalidade, como um exemplo de influência genética –

ver HES2, onde isso foi utilizado no comentário). Na

presente argumentação, é dito que se pode estar seguindo

uma “conspiração intemporal” ao propor um acordo

simultâneo de suas conclusões. Entende-se que essa

argumentação se localize “dentro” do sistema, ou seja, as

teses podem ser aceitas ou refutadas no “desenrolar” das

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

33 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

argumentações, mas não precisam ser concomitantemente

verdadeiras.

Após as afirmações de Goldschmidt 16 não se

pode afirmar que essa conclusão possa ser aplicada ao

presente texto, a menos que se possa considerar que a

análise Dogmática e a análise Genética possam coexistir na

argumentação, porém em tempos diferentes no contexto de

“seu sistema”.

2.17 - Goldschmidt 17:

O "pleroma" das filosofias jamais poderá

constituir-se pela concordância intemporal dos dogmas; eis

aí o contra-senso fundamental de toda tentativa de

ecletismo. Para constituí-lo solidamente, seria preciso

unificar os diferentes tempos lógicos, mas sem recorrer ao

tempo histórico (que não pode contê-los), nem a um tempo

universal à maneira hegeliana (que os desregra e esmaga).

Este tempo único englobante, não se pode conceber ele

senão à maneira da idéia kantiana, tentando-se, unicamente,

transpondo uma indicação dada por Bergson, restituir

fragmentos dele que sejam comuns a duas consciências

(filosóficas) "suficientemente aproximadas umas das

outras", para ter "o mesmo ritmo de duração" (Durée e

Simultanéité 2, pág. 58); tais comparações, institui-las-á o

historiador, sem levar, necessariamente, em conta o tempo

histórico, entre pensadores cujo "comportamento" filosófico

ofereça estruturas aparentadas. As pesquisas sobre as

"formas de pensamento", ou "estudos arquitetônicos" vão

nesse sentido.

HES 17 – (pleroma – plenitude, totalidade dos

poderes divinos) O autor menciona uma possibilidade de

unificação dos tempos de diferentes sistemas apenas sob

condições especiais. Para tanto, utiliza uma menção da

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

34 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

“duração” de Bergson, um conceito de difícil aplicação,

ainda mais em se visando uma aplicação metodológica. A

duração possui sentidos como “o intervalo entre duas

apreensões do espaço” e “uma noção de eternidade”.

Entretanto, utilizar um conceito externo ao próprio

desenvolvimento das idéias do presente texto, conferindo a

este conceito a possibilidade de ser um elemento de

unificação dos tempos que estão em discussão, torna o

próprio texto vinculado ao seu ambiente. Goldschmidt cita

Bergson, no que tange à passagem em que a duração é

mencionada. Em outras palavras, as leituras efetuadas por

Goldschmidt tornam-se relevantes na sequência de suas

propostas, não sendo explicadas em seu texto, mas

remetendo o leitor às referências originais. O seu texto,

portanto, remete ao seu entorno, ou á sua biografia

intelectual.

No caso do texto de Goldschmidt, não se trata

de compará-lo a outros textos similares, que possuem

“durações” próprias e, através dessas durações, unificá-los.

Nesse caso, o texto não se aplica à análise de Goldschmidt.

Pode-se, como já foi mencionado, considerar tempos

diferentes dentro do próprio texto, onde a leitura mista é

sugerida, mas havendo momentos em que a leitura

dogmática desponta como defendida.

2.18 - Goldschmidt 18:

O problema da verdade material dos dogmas,

considerado em si mesmo, não está, com isso, resolvido.

Mas, pelo menos, parece que não se pode ele colocar em si

mesmo e separadamente; toda filosofia é uma totalidade,

onde se juntam, indissoluvelmente, as teses e os

movimentos. Esses movimentos, efetuando-se num tempo

lógico, implicam memória e previsão; mesmo se eles se

apresentam como rupturas, são feitos em conhecimento de

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

35 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

causa; são decisões ("batalhas", dizia Descartes); o que, ao

mesmo tempo, mede a coerência de um sistema e seu

acordo com o real, não é o princípio de não contradição,

mas a responsabilidade filosófica.

HES 18 – Há uma assunção de que há aspectos

não resolvidos na discussão efetuada. O princípio da não-

contradição não é indicado como relevante para a “medida”

da coerência de um sistema, mas a “responsabilidade

filosófica” seria relevante. O que seria esta

“responsabilidade filosófica” não foi de fato definido,

ficando sua interpretação ligada à “interpretação que o

leitor fizer do texto apresentado”. Assim, discussões podem

ser geradas em torno deste termo que, de certa forma,

conclui o pensamento do autor sem comprometê-lo com

algo conhecido, mas lançando essa conclusão no

entendimento da “responsabilidade filosófica”.

Acerca da filosofia ser uma totalidade, onde se

juntam teses e movimentos, havendo rupturas “com

conhecimento de causa”, havendo decisões, mostra uma

proposta de fechamento poética, algo dramática. Mas ao

agir assim, coloca ao leitor as rupturas e os movimentos

com um “conhecimento de causa”, precisamente uma causa

anteriormente refutada, ou colocada como não relevante ao

desenvolvimento da ordem das razões do autor de um

sistema. Assim, sem explicitar o que pretende com o

“conhecimento de causa”, Goldschmidt dá um fechamento

paradoxal ao seu texto, remetendo ainda, como já

mencionado, os aspectos não resolvidos para uma

indefinida “responsabilidade filosófica”.

2.19 - Goldschmidt 19:

É o que explica o recurso necessário, da parte

do historiador, à obra assumida. Seja qual for o valor dos

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

36 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

inéditos, eles não são, enquanto concebidos num tempo

unicamente vivido, construídos no tempo lógico, que é o

único a permitir o exercício da responsabilidade filosófica.

Notas preparatórias, onde o pensamento se experimenta e se

lança, sem ainda determinar-se, são léxis sem crença e,

filosoficamente, irresponsáveis; elas não podem prevalecer

contra a obra, para corrigi-la, prolongá-la, ou coroá-la;

muito freqüentemente, não servem senão para governá-la,

e, desse modo, falseá-la. Ora, o historiador não é, em

primeiro lugar, crítico, médico, diretor de consciência; ele é

quem deve aceitar ser dirigido, e isso, consentindo em

colocar-se nesse tempo lógico, de que pertence ao filósofo a

iniciativa.

HES 19 – Uma conclusão específica do último

parágrafo é: “o intérprete deve aceitar ser dirigido”.

A conclusão mais geral do autor parece ser de

que a obra estabelece uma “verdade inerente a ela”. Mesmo

informações incompletas do autor não podem ser usadas,

porque poderão falsear a obra pronta.

Assim, o presente texto deve ser entendido, se

aplicado a ele o método proposto, como contendo uma

verdade em si. Não cabe ao intérprete mais do que ser

dirigido. Nesse sentido, o texto apresenta-se como

propondo um método dogmático e genético (ao mesmo

tempo), mas seguramente defende o uso do método

dogmático em passagens posteriores a esta afirmação. A

leitura feita buscou inicialmente seguir o método misto. Os

movimentos do autor foram seguidos (e comentados). O

ambiente genético foi reconhecido, principalmente no

tocante as suas referências bibliográficas e ao remeter a

metodologia para fora do próprio texto, ao mencionar a

duração de Bergson.

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

37 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

De forma geral, o autor argumenta

exemplificando com os textos que possuía à época. Suas

idéias serão indubitavelmente lidas e, nesse ler, suas

referências serão mencionadas. Nesse contexto de leitura, o

autor teve uma inspiração independente da sua história, ou

motivada pela sua história? O seu texto foi condicionado

pelo momento vivido, mas a sua inspiração teria sido

possível em outro momento? Sua construção (seu

movimento) e sua conclusão seriam as mesmas em outro

tempo? Talvez não, e, nesse caso, parece que a verdade

pode ser talvez melhor aproximada em se considerando a

análise dogmática em conjunto com a análise genética.

Se, por outro lado, o movimento do texto não

depender do autor, de seus conhecimentos aceitos, e puder

ser entendido como detentor de uma busca de verdade que

leva a mesma conclusão, independente de seus caminhos,

então a análise puramente dogmática é possível. Entretanto,

é necessário, antes, mostrar que um sistema independe do

seu autor, que o autor não representa um vínculo entre o

sistema e seu momento histórico e que o sistema se

formaria mesmo na ausência daquele autor.

3 - Resumo e Considerações Finais

O texto comenta que o “movimento do texto” é

o método do autor. A interpretação é reaprender.

Mas, nessa definição de interpretação, esse

reaprender depende do leitor, ou, em outras palavras, cada

leitor reaprenderá a sua maneira, uma vez que cada leitor

possui uma carga própria de conhecimento prévio que

permitirá a apreensão das idéias do autor. Apesar de lançar

a responsabilidade de “reaprender” sobre o leitor,

subordina-se o método do leitor ao método do autor, que,

por sua vez, estando vinculado ao autor, é um método

próprio. A “tarefa” do leitor intérprete passa a ser definida

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

38 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

como a restituição da unidade de um pensamento que

inventa teses praticando um método.

Utilizando outras palavras, o inventar remete

imediatamente à capacidade criativa de cada autor. Essa

capacidade é “pessoal e intransferível”, sendo, portanto,

cada método criativo inerente a cada autor. Assim, então,

parece que o leitor intérprete deve tentar entender o

processo criativo do autor lido (o movimento do autor em

seu texto). Pode-se questionar se isso é um método, uma

vez que se trata de entender um método criativo pessoal a

partir de uma leitura condicionada pelo reservatório de

conhecimento pessoal do leitor. Nesse caso, é a postura do

leitor que deve ser de subordinação.

Valorizar a subordinação também pode induzir

a se entender a proposta como a negação da possibilidade

de interpretação com a emissão de um juízo. Nesse caso, é

uma defesa de uma leitura que acompanhe

incondicionalmente o sistema conforme proposto pelo

autor. Mas essa defesa não precisa ser feita, se aceitamos

que o sistema se aplica no contexto de seus contornos. Ele

já existe segundo esses contornos, defendido pelo seu autor.

Mas é a interpretação considerando causas e a possibilidade

de justificação dos contornos aquela que permite ir além

desses mesmos contornos e, portanto, gera a possibilidade

de evoluir no pensamento de forma global.

Alguns passos do texto são aqui resumidos e,

eventualmente, analisados.

1 – O autor apresenta uma hipótese: há dois

caminhos que podem ser seguidos pelo intérprete de

sistemas: análise dogmática e análise genética.

2 – O autor vincula a análise dogmática a um

tempo lógico e a análise genética ao tempo físico.

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

39 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

3 – O autor explicita características da análise

dogmática, com sua busca da verdade do autor, seu

desvinculo do tempo real, colocando como regra (ao que

parece) o estudo da "estrutura do comportamento" do texto,

seu movimento, sua argumentação.

4 – O autor explicita que a análise genética

retira incongruências derivadas da análise dogmática ao

inserir o tempo e a evolução.

5 – O autor propõe um método ao mesmo

tempo científico e filosófico.

6 – Resumindo radicalmente, parece que a

consequência de uma análise puramente dogmática é que,

dado um autor e os limites que ele impõe a seu sistema, o

valor de verdade de suas conclusões é dado pelo sistema

propriamente dito.

7 – Embora não se possa inferir isso

imediatamente do texto, porque uma análise mais

abrangente é necessária, parece que a análise inserida no

texto do autor, ou no sistema estudado, vinculado aos seus

contornos, torna os sistemas incomparáveis. Não se pode

afirmar isso com a breve leitura efetuada. Assim, a leitura

contínua deste texto e de comentadores deverá permitir

concluir mais adequadamente acerca deste ponto. Em

termos de ciência, entende-se que o momento histórico

condiciona as propostas de um ou outro modelo, podendo

haver correções e apresentações de modelos mais gerais,

daí condicionados pelo momento histórico dessa nova

apresentação. Mas geralmente os modelos científicos são

entendidos como complementares, e não excludentes. A

leitura do texto de Goldschmidt não transmitiu essa idéia de

complementaridade aos sistemas filosóficos. Contudo faz-

se a ressalva aqui de que isso pode ser decorrente do

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

40 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

aspecto pessoal do leitor: a sua biografia intelectual ainda

pode estar necessitando de insumos que permitam atingir

um reservatório de conhecimentos específicos que o

habilitem ao reconhecimento da complementaridade, se

assim de fato está expressa pelo autor.

8 – O texto de Goldschmidt se refere a outros

autores, mostrando que há um conhecimento evolutivo

utilizado na construção de suas idéias, conhecimento este

gerado por outros autores. Nesse sentido, o texto mostra

que uma idéia depende do meio no qual é gerada. Embora o

autor mencione que a genética condiciona a Filosofia, mas

não a constitua, a leitura efetuada pode conduzir à

conclusão de que as análises dogmática e genética seriam

interdependentes ou complementares.

9 – O autor não permite, entretanto, uma

conclusão definitiva como aquela apresentada em 8. Suas

últimas linhas mencionam um “conhecimento de causa”

(anteriormente não considerado relevante) e remetem a uma

“responsabilidade filosófica” indefinida a resolução do

problema da “verdade material dos dogmas”. Tanto a

“responsabilidade filosófica” como a “verdade material”

são expressões apenas usadas em Goldschmidt 18, isto é, no

final do texto. Esta menção tardia, sem vínculo com o texto

propriamente dito, conferem mais “teatralidade” a este

final, de certa forma frustrando o leitor honestamente

interessado na discussão acerca da leitura a ser efetuada em

textos filosóficos.

10 – Repetindo uma conclusão final já expressa

desta forma, tem-se que, se o movimento do texto não

depender do autor, de seus conhecimentos aceitos, e puder

ser entendido como detentor de uma busca de verdade que

leva a mesma conclusão, independente de seus caminhos,

então a análise puramente dogmática é possível. Entretanto,

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

41 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

é necessário, antes, mostrar que um sistema independe do

seu autor, que o autor não representa um vínculo entre o

sistema e seu momento histórico e que o sistema se

formaria mesmo na ausência daquele autor.

Uma análise do sincretismo entre o tempo

histórico e o tempo lógico pode ser eventualmente

elaborada a partir da aplicação da fórmula recorrente: “só se

poderá aplicar Goldschmidt em Goldschmidt em havendo

antes Goldschmidt”.

Finalmente, menciona-se uma análise histórica

(portanto genética) feita acerca de um texto de Nietzsche,

no qual também despontam esforços de entender o

movimento dado pelo autor mencionado às suas idéias.

Entende-se que essa análise pode ilustrar a presente

discussão. Ver Schulz (2011).

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

42 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

4 - Posfácio:

O texto de Goldschmidt é interessante para

leitura no contexto do Projeto Humanização como

ferramenta de interesse de aumento nas exatas, porque visa

discutir formas de leitura de sistemas no contexto

filosófico. Isto conduz o leitor do texto a uma visão crítica

acerca de si mesmo enquanto interagindo com textos

filosóficos. Nesse sentido, o autor da presente análise

também refletiu sobre a leitura essencialmente voltada á

filosofia, que os textos dessa área merecem. Entretanto,

mesmo sabedor de que há comprometimento da

abrangência filosófica que poderia usufruir dos textos lidos,

o objetivo inicial deste projeto deve ser mantido, sob a pena

de dispersão e perda de coerência no esforço empreendido

para adquirir ferramentas de transmissão de idéias

complexas. Nesse sentido, no que tange à transmissão de

sua idéia, Goldschmidt oscila entre uma proposta mista e

uma (aparente) convicção de leitura dogmática. Por

conseguinte, uma melhor clareza acerca daquilo que

pretende com o artigo seria desejável. Também a

conclusão, que remete a novas “teses” (se assim se pode

dizer), ou idéias, quais sejam a da responsabilidade

filosófica e da verdade material dos dogmas, emprestam

uma indefinição na finalização da proposta. De forma geral

a leitura é agradável e coloca a questão de que a análise

genética não é suficiente no estudo de um texto. Isto é

utilizável também para os textos científicos, onde o

momento histórico condiciona, mas não impede o estudo da

teoria proposta em seu universo.

Goldschmidt vs Goldschmidt, Leitura Dogmática e Genética, Harry Edmar Schulz

43 São Carlos, 2012.

Projeto:Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas

5 - Bibliografia:

Goldschmidt, Victor. Tempo histórico e tempo

lógico na interpretação dos sistemas filosóficos: A religião

de Platão. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1963. pp.

139-147. Texto indicado no curso de Filosofia e obtido de

http://www.jcrisostomodesouza.ufba.br/goldsc.html

Schulz, Harry Edmar. Nietzsche e a doutrina do

objetivo da vida, Projeto Humanização como ferramenta de

aumento de interesse nas exatas, 2011, Texto obtido de

http://stoa.usp.br/heschulz/files/3255/18262/Nietzsche+e+a

+doutrina+do+objetivo+da+vida.pdf

Imagem da capa:

O tabuleiro de xadrez apresenta dois peões, peças de igual

peso, representando o embate entre as duas visões

colocadas por Goldschmidt. A dúvida que aparece em cada

peão aponta para a incerteza acerca do método mais

adequado.