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ILUSTRAÇÕES Rafael Sica Flavio de Souza

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ILUSTRAÇÕES

Rafael Sica

Flavio de Souza

Como se fala com uma criança? Não é fácil. Você tem que se cuidar para não falar como criança, que soaria falso. Ao mesmo tempo

não pode falar como gente grande, e não ser compreendido. Como fazer?Escrever para criança é ainda mais difícil. É preciso acertar o tom

para que a leitura seja atraente e não espante quem está lendo ou ouvindo. En�m, que não chateie.

O Flavio de Souza acerta o tom. Ele escreve com simplicidade, mas não trata o leitor como um simples. Sua história trata da relação entre crianças e adultos, mais especi�camente entre �lhos, pais e avós, e é uma história que só pode ser chamada de afetuosa. E que, decididamente, não chateia.

É assim que se escreve para crianças. O Flavio descobriu a fórmula.

Luis Fernando Verissimo

9 7 8 8 5 7 2 9 2 4 1 5 3

ISBN 978-85-7292-415-3

9280302000004

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ILUSTRAÇÕES

Rafael Sica

Flavio de Souza

1ª. edição - 2018

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Copyright © Flavio de Souza, 2018Texto de quarta capa © by Luis Fernando Verissimo, 2018

Todos os direitos reservados àEditora Universitária ChampagnatRua Imaculada Conceição, 1155 – Prédio da Administração – 6o andarCampus Curitiba – CEP 80215-901 – Curitiba – PRTel. (0-XX-41) 3271-1701www.editorachampagnat.pucpr.br

EDITOR RESPONSÁVEL Marcelo ManducaREVISORA Aline Silva de Araújo

Flavio de Souza nasceu em 1955 em São Paulo (SP). É diretor de teatro, roteirista, ilustrador, ator e escritor de diversos livros infantis. Foi criador e roteirista das séries para a TV Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum.

Rafael Sica nasceu em 1979 em Pelotas (RS). É ilustrador e quadrinista, e já publicou suas tiras em diversos jornais brasileiros. Ganhou o Troféu HQMix, em 2005, na categoria Novo Talento – Desenhista e, em 2009, na categoria Web Quadrinhos.

Souza, Flavio deO menino de calça curta / Flavio de Souza;Rafael Sica. Curitiba: Champagnat, 2018.

ISBN: 978-85-7292-415-3

1. Literatura infantojuvenil brasileira I. Sica, Rafael. II. Título.

CDD 20. ed. – 028.5

Fundada em 1983, a Editora Universitária Champagnat, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, publica livros em todas as áreas do conhecimento. Tendo como premissa a relevância cientí�ca, literária, artística e cultural, visa atender aos interesses de ensino, pesquisa e extensão da comunidade acadêmica e da sociedade como um todo.

S729m2018

Dados da Catalogação na Publicação Pontifícia Universidade Católica do Paraná Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR Biblioteca Central

Luci Eduarda Wielganczuk – CRB 9/1118

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CONVITE À LEITURA

Olá, leitor.Você já foi pego de calça curta? Sabe o que é ser pego de

calça curta? O menino que narra esta história emocionante e um tanto cômica também não sabia.

Ele costumava passar dias e dias na casa dos avós Joca e Nena. O avô Joca gostava de contar histórias para o neto e de passar o tempo com ele. Até que, um dia, o menino encontra um álbum de fotogra�as bem curiosas da família. Ao investigar com seu avô o histórico de cada foto, pronto, o menino foi pego de calça curta.

É aí que começa uma divertida caça ao tesouro, ao lado do bisavô, em busca de um brinquedo do passado. Nessa jornada, o menino vai descobrir por que antigamente as crianças só podiam usar calça curta. Entre nessa aventura ao lado do menino e descubra com ele!

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Quando eu era menor, �cava bastante na casa dos meus avós, os pais do meu pai. Meu pai e minha mãe

trabalhavam de noite, então minha vó Nena ou meu vô Joca iam me buscar na escola, e eu tomava banho e jantava na casa deles.

Muitas vezes meus pais se atrasavam, ou estavam muito cansados, ou o trânsito estava horrível, ou as três coisas ao mesmo tempo, e eu acabava dormindo lá, no quarto que antes foi do meu pai e do meu tio.

Na casa desses avós eu podia fazer coisas que eu só podia fazer lá. Minha avó deixava eu comer a sobremesa antes porque acreditava quando eu dizia que depois ia comer a comida.

No banheiro tinha banheira, e meu avô brincava comigo de batalha-naval e tempestade de neve, e depois eu podia �car mais dentro da água até �car enrugado. Lá eu podia desenhar com tinta e pincel todo dia. Eu podia fazer tanta coisa!

Naquela casa parecia que o tempo passava mais devagar.

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A vó Nena estava sempre indo ou chegando, entrando ou saindo. Cozinhando ou lavando ou passando. Bordando

ou lendo ou falando com uma amiga ao telefone em pé e andando pela casa, catando coisas e pondo ou tirando do lugar. Ela parecia um brinquedo daqueles que só para quando a corda acaba, e a corda dela durava o dia inteiro.

Quando a novela começava, ela já estava entre o mundo daqui e o mundo dos sonhos e ia sonâmbula pro quarto. Falava boa-noite enquanto escovava os dentes, de olhos fechados. O último beijo tinha cheiro de hortelã.

P or isso tudo eu passava mais tempo com o meu avô. Ele trabalhava em casa, então podia fazer coisas que o meu pai não podia. Ele gostava

de tomar café da manhã na padaria da esquina. Tomar lanche na padaria. E tomar um cafezinho a qualquer hora na padaria. Ele preferia comprar um jornal diferente todo dia, porque gostava de variar. Ele achava que ler sempre o mesmo jornal era como conversar sempre com a mesma pessoa.

O vô Joca me ensinou uma pilha de jogos de baralho. Eu ensinei ele a jogar videogames. Eu instalei pra ele a maioria dos programas no computador e todos os aplicativos no celular, porque o �lho dele, o meu pai, perdia a paciência depois de dois minutos. Não sei por quê, mas parece que neto tem mais paciência com avô, e avô, com neto.

Ele já tinha lido pra mim mil e uma histórias. E contado outras. E até inventou uma em que eu era o herói. Um dia eu vou fazer um desenho animado e meu avô vai ser o herói.

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Nesta história eu sou o herói porque descubro um segredo misterioso que depois eu desvendo, participo de uma

caça ao tesouro e ainda faço um ogro dar risada. Mas não é conto de fada não, eu sou o herói, mas o ogro não é um monstro peludo, feroz e fedido. O ogro é o meu bisavô Alexandre.

Geralmente a gente nasce com oito bisavós, né? São dois pais, quatro avós, quatro bisavôs e quatro bisavós, né? Então, pra �car claro de qual bisavô eu estou falando: o ogro desta história é o pai do pai do meu pai.

Esse bisavô era um resbufaclão. Foi a vó Nena que inventou esse apelido, ela achou que o sogro dela resmungava, bufava e reclamava demais. Tem gente que acha que reclamar e resmungar é a mesma coisa. Mas eu não acho, porque tenho uma tia que reclama muito todo dia de quase tudo e, cada vez que ela faz uma reclamação, o marido, meu tio, resmunga coisas assim: “Por que essa mulher reclama tanto?”, “O que eu �z pra merecer isso?”, “Será que isso nunca vai acabar?”.

Esse apelido começou maior: Resmumbufaclamão. Depois de um tempo acabou virando Resbufaclão, que era um apelido secreto, tá? E o único que ele teve. Ninguém nunca teve coragem de chamar o bisavô Alexandre de Alex, Xandre, Alê. Nem os pais dele pensaram em fazer isso, ele já era enfezado desde pequeno.

Me disseram que enfezado vem de fezes, que é como os médicos chamam o cocô, porque quem vai pouco ao banheiro �ca… enfezado, com bastante fezes dentro, e isso faz a pessoa �car irritada. Mas eu não sei se o intestino do meu bisavô funciona bem ou não…

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A maioria das pessoas chamava esse meu bisavô de seu Gonzaga. Ele estava sempre de cara amarrada e só

fazia o que sempre fazia do jeito que sempre fazia no horário que sempre fazia no mesmo lugar e com as mesmas pessoas ou então ele com ele mesmo. Se não podia ser do jeito dele, o seu Gonzaga cruzava os braços, endurecia o queixo e olhava pra um lugar onde não tinha ninguém, isso quando não dava as costas pros outros ou se afastava.

Não, ele tinha outro apelido sim, também secreto, só meu. Lembra? Eu já até chamei meu bisavô de ogro. Depois ele ganhou outro, mas esse eu vou contar mais pro �m da história, tá?

Me disseram que ele era assim mal-humorado porque tinha pressão alta e por isso tinha dor de cabeça o tempo todo e nunca tomava remédio, e por isso o mundo tinha que aceitar que ele era daquele jeito e pronto. Já me explicaram o que é pressão alta, mas eu não lembro se tem a ver com a pessoa ser pressionada a fazer coisas que ela não quer ou se a pessoa vê coisas que ela não gosta e �ca impressionada… Se bem que aí seria impressão alta, mas é melhor eu deixar isso pra lá e continuar a história.

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