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��������1. A cultura: aspectos socioeconômicos, 9

2. Botânica e fenologia, 35

3. Exigências edafoclimáticas e ecofisiologia, 52

4. Preparo do solo e plantio, 70

5. Correção da acidez, adubação e fixação biológica, 89

6. Cultivares, 113

7. Manejo de doenças, 143

8. Manejo de pragas, 171

9. Manejo de plantas daninhas, 204

10. Manejo da irrigação, 224

11. Colheita, 244

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A cultura: aspectos socioeconômicos 9

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�� ������� ��� ��Francisco Rodrigues Freire Filho1, Valdenir Queiroz Ribeiro2

João Elias Lopes Fernandes Rodrigues1 e Paulo Fernando de Melo Jorge Vieira3

����������O feijão-caupi é uma planta de origem africana, que foi

introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses, associado ao tráfico de escravos. Sua introdução ocorreu pelo Estado da Bahia na segunda metade do século XVI (FREIRE FILHO, 1988). Barracloug (1995), reforçando essa afirmação, relata que desde a fundação da Bahia como Capital Administrativa do Brasil, em 1549, havia intenso comércio com o oeste da África, na faixa que ia de Guiné à Angola. Gandavo (2002) menciona que, em 1568, já tinha a indicação da existência de muitos feijões no Brasil. Em 1587, grande variedade de feijões e favas era cultivada na Bahia (SOUZA, 1974). A partir da Bahia, o feijão-caupi disseminou-se pelo país acompanhando a colonização. Dias (2008) relata que, em 1697, já havia cultivo desse feijão no Estado do Piauí. O padre jesuíta, português, João Daniel, que viveu por muitos anos na Amazônia, parte desse tempo no Estado do Pará, no período de 1758 a 1776, escreveu várias crônicas sobre a vida, experiências e riquezas da Amazônia. Em uma dessas crônicas descreve um feijão cultivado na região e afirma “os que mais se usam são os

���������������������������������������� �������������������1 Engenheiro-Agrônomo, D.S. – Embrapa Amazônia Oriental.

E-mail: [email protected]; [email protected] 2 Engenheiro-Agrônomo, M.S. – Embrapa Meio-Norte.

E-mail: [email protected] 3 Engenheiro-Agrônomo, D.S. – Embrapa Meio-Norte.

E-mail: [email protected]

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10 Freire Filho, Ribeiro, Rodrigues e Vieira

fradinhos” (DANIEL, 2004). Sabe-se, porém, que o feijão chamado de

fradinho, tanto em Portugal quanto no Brasil, é o feijão-caupi.

Filgueiras et al. (2009) menciona que as evidências são de que o feijão-

caupi foi introduzido na Amazônia no século XVIII por imigrantes

nordestinos que vieram para a região, a fim de trabalhar na extração do

látex, produção da borracha e, posteriormente, no garimpo. Portanto, o

feijão-caupi faz parte da dieta do brasileiro há vários séculos. Constitui

um alimento proteico e energético, que tem importante papel na

segurança alimentar e nutricional, não só dos nordestinos e nortistas,

mas também de grande parte da população brasileira. Além disso, é um

importante gerador de postos de ocupação econômica e de trabalho

formal, estimulando a economia e suprindo uma cadeia produtivo-

comercial que se estende desde o agricultor familiar ao empresarial,

passando por diversos setores da área do comércio até o consumidor da

zona rural, das pequenas cidades e dos grandes centros urbanos do país.

O feijão-caupi, antes com cultivo restrito, praticamente, às

Regiões Nordeste e Norte, praticado por pequenos e médios produtores,

geralmente de base familiar, com pouco uso de tecnologia, há pelo

menos 10 anos tem seu cultivo em franca expansão para outras regiões

do país. Essa expansão ocorre, principalmente, para as áreas de cerrado

das Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, onde é cultivado

na forma de safrinha por médios e grandes produtores, de base

empresarial, com o uso da mesma tecnologia empregada no cultivo da

soja. Esse tipo de cultivo possibilita uma produção em larga escala, com

alta qualidade e regularidade, aspectos indispensáveis para alimentar a

cadeia comercial do produto. Com isso, o feijão-caupi vem sendo

ofertado em maior quantidade nas Regiões Nordeste e Norte e

alcançando mercados em outras regiões do país, principalmente

Sudeste e Centro-Oeste, e também no exterior.

O feijão-caupi é uma cultura muito importante não só no Brasil,

que é o quarto maior produtor mundial, mas em inúmeros países,

especialmente no continente africano. Nos últimos anos tem tido

grandes avanços no contexto nacional e, principalmente, no

internacional, com o aumento da produção e a ampliação de mercado.

No Brasil, entretanto, há uma carência no que se refere à

disponibilização do conhecimento acumulado sobre a cultura e à

transferência de tecnologia.

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12 Freire Filho, Ribeiro, Rodrigues e Vieira

����������� ����Com a disseminação do feijão-caupi para diferentes regiões do

país e também devido à existência de vários tipos de grãos e de plantas, esta leguminosa recebeu vários nomes populares que, por vezes, confundem as pessoas. Alguns dos nomes mais usados são: feijão-macássa, feijão-macassar e feijão-de-corda, na Região Nordeste; feijão de praia, feijão da colônia e feijão da estrada, na Região Norte; e feijão miúdo, na Região Sul (FREIRE FILHO et al., 1983). Na Região Norte, há ainda um tipo de grão de cor creme, muito pequeno, de grande importância na culinária local, o qual é chamado de Manteiguinha. Em algumas regiões do Estado da Bahia e Norte de Minas Gerais, o feijão-caupi é também denominado feijão-gurutuba e feijão-catador. Há ainda o antigo fradinho, referido por Daniel (2004), cujo grão possui o tegumento branco e com grande halo preto. É muito cultivado e consumido nos Estados de Sergipe, Bahia e Rio de Janeiro. O fradinho é utilizado para o preparo do acarajé, uma comida de origem africana, muito apreciada na Nigéria, onde é chamada de “akara” que se tornou típica do Estado da Bahia, hoje conhecida em todo o Brasil.

��������No Brasil, são cultivadas várias espécies de feijão, contudo o

Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), para fins de regulamentação técnica, considera feijão somente as espécies Phaseolus

vulgaris L., o feijão-comum, e Vigna unguiculata (L.) Walp., o feijão-caupi (BRASIL, 2008). O cultivo do feijão-caupi concentra-se nas Regiões Nordeste, Norte e, desde 2006, expande-se para a Região Centro-Oeste. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), infelizmente, disponibiliza os dados de feijão-comum e feijão-caupi juntos, de modo que não se sabe ao certo o quanto o Brasil produz de feijão-comum e de feijão-caupi. Há estados nas Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste onde são cultivadas as duas espécies, em alguns casos na mesma propriedade. Desse modo, as estimativas da participação do feijão-caupi na área cultivada e na produção desses dois feijões, nos Estados, são feitas a partir de informações obtidas com extensionistas, pesquisadores, produtores de grãos, produtores de sementes, comerciantes e empresas de assistência técnica. Com base nesse percentual e nos dados das duas

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A cultura: aspectos socioeconômicos 13

culturas fornecidos pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA-IBGE) (Levantamento... 2006-2015) foram estimadas a área cultivada, produção e produtividade da cultura.

Nesse estudo, para o cálculo das estimativas da área colhida, produção e produtividade do feijão-caupi, foram utilizados os índices apresentados por Freire Filho et al. (2011), com a atualização dos índices do Estado de Mato Grosso. Nesse Estado, para área, o índice passou de 0,06% de 2005 a 2007 para 0,75% de 2007 a 2014 e para a

produção, nos mesmos períodos, passaram de 0,04% para 0,65%

respectivamente. Avaliando-se as estimativas da área cultivada, produção e produtividade 2005-2009 e 2010-2014, constata-se que há tendência de queda na área cultivada e na produção nas Regiões Norte e Nordeste, mostrada tanto pelos dados de feijão-caupi + feijão-comum quanto pelos dados de feijão-caupi isoladamente. Verifica-se tendência de crescimento da área cultivada e da produção na região Centro-Oeste (Tabela 1.1). Essa tendência de queda se confirma nacionalmente com a diminuição da participação das Regiões Norte e Nordeste na área cultivada e na produção de feijão (feijão-caupi + feijão-comum) do país.

A queda na produção das Regiões Norte e Nordeste decorre de vários fatores, mas se sobressaem três. Um desses fatores são os anos de chuvas escassas na Região Nordeste e partes da Região Norte, que prejudicam as lavouras, comprometendo a produção e a produtividade, a qual, historicamente, é relativamente baixa. Essas dificuldades muito provavelmente levam os produtores a reduzir as áreas de plantio e, consequentemente, a produção. Outro fator é a pressão do feijão-caupi produzido na Região Centro-Oeste, principalmente em Mato Grosso, o qual, em sua maior parte, é dirigido ao mercado das Regiões Norte e Nordeste. Esse feijão-caupi é cultivado em larga escala, portanto, é produzido em quantidade, com boa qualidade e com baixo custo de produção. Tem sido ofertado aos compradores das Regiões Norte e Nordeste com regularidade, a um preço altamente competitivo. Isso reduz o poder de competição do produto local e, consequentemente, dificulta sua colocação no mercado. As Figuras 1.1 e 1.2 mostram que, à medida que ocorrem aumentos na área plantada e na produção na Região Centro-Oeste, há diminuição nas Regiões Norte e Nordeste. Outro fator a ser considerado é o nível de produtividade obtido na Região Centro-Oeste, o qual é superior ao do Brasil e do Nordeste e está se consolidando também como superior ao da Região Norte (Figura 1.3).

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14 Freire Filho, Ribeiro, Rodrigues e Vieira

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16 Freire Filho, Ribeiro, Rodrigues e Vieira

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A cultura: aspectos socioeconômicos 17

Figura 1.1 - Curvas da área cultivada com o feijão-caupi nas Regiões

Norte, Nordeste, Centro-Oeste e no Brasil.

Fonte: LSPA, 2006-2015.

Figura 1.2 - Curvas da produção do feijão-caupi nas Regiões Norte,

Nordeste, Centro-Oeste e no Brasil.

Fonte: LSPA, 2006-2015.

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18 Freire Filho, Ribeiro, Rodrigues e Vieira

Figura 1.3 - Curvas da produtividade do feijão-caupi nas Regiões Norte,

Nordeste, Centro-Oeste e no Brasil.

Fonte: LSPA, 2006-2015.

Essa situação merece uma avaliação mais aprofundada, uma vez

que as evidências são de que o espaço deixado pela falta de oferta de feijão-

caupi em quantidade, com qualidade e com regularidade pelos produtores

das Regiões Norte e Nordeste, está sendo ocupado não só pelo feijão-caupi

procedente do Centro-Oeste mas pelo feijão-comum vindo de outras áreas

do Nordeste e de outras regiões do país. Essa situação tende-se a ampliar,

pois em outras regiões do país são cultivadas, com alta tecnologia, até três

safras de feijão-comum, enquanto nas Regiões Norte e Nordeste é

cultivada apenas uma safra de feijão-caupi, na maioria dos casos, com

tecnologia muito aquém da utilizada na produção do feijão-comum e,

consequentemente, com níveis de produtividade mais baixos.

A cultura do feijão-caupi no Brasil, portanto, passa por um

momento de rearranjo. Enquanto a área e a produção estão decrescendo

nas regiões tradicionais, estas decrescem nas novas regiões produtoras.

Contudo, vale ressaltar que a produção em quantidade, com qualidade e

com regularidade das novas regiões produtoras está possibilitando a

valorização da cultura, a expansão do seu cultivo para outras regiões do

país e a abertura de novos mercados no país e no exterior.

A Food and Agricultural Organization (FAO) apresenta dados

de área cultivada, produção e produtividade de feijão-caupi de 38 países

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A cultura: aspectos socioeconômicos 19

(FAOSTAT, 2015). Na Tabela 1.2 é apresentada a relação dos 15 maiores países produtores de feijão-caupi. Constata-se que a grande produção ocorre no continente africano, sendo Nigéria, Níger e Burkina Faso os maiores produtores. No continente americano, o Brasil é o maior produtor e, no asiático, o Myanmar. Na média do período de 2005 a 2013, embora as produções do Brasil e Burkina Faso sejam muito próximas, o Brasil, que ocupava o terceiro lugar, nos últimos dois passou a conquistar o quarto lugar. No que se refere à produtividade, merecem destaque Uganda e Myanmar, com as maiores entre os 15 países. É importante ressaltar que esses 15 países respondem por 98,83% da área cultivada, 97,66% da produção mundial de feijão-caupi.

Tabela 1.2 - Área, produção e produtividade de feijão-caupi dos 15 maiores países produtores mundiais, média do período de 2005 a 2013�

País Média do período de 2005-2013(1)

Área Produção Produtividade(2)

(ha) (t) (kg/ha) Nigéria 3.645.392 3.027.860 831 Niger 4.597.905 1.172.423 255 Burkina Faso 1.029.567 485.669 472 Brasil (3) 1.282.258 479.011 374 Myanmar 155.936 173.619 1.113 República Unida da Tanzânia 182.772 159.802 874 Camarões 160.855 134.442 836 Mali 257.307 111.889 435 Uganda 71.533 79.909 1.117 Quênia 156.790 78.423 500 Senegal 170.936 66.186 387 República Democrática do Congo 134.435 64.348 479 Moçambique 312.101 62.720 201 Malawi 81.933 41.268 504 Sudão 130.801 33.111 253 Participação dos 15 países 12.370.519 6.170.679 499

Mundo 12.517.380 6.318.540 505

Participação percentual dos 15 países 98,83 97,66 98,82 (1) Faostat (2015), com exceção dos dados referentes ao Brasil.�(2) Média ponderada do período.�(3) LSPA, 2006-2014.�

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70 Mesquita, Pinho e Braga

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Rosilene Oliveira Mesquita1, João Licínio Nunes de Pinho2 e

Marilena de Melo Braga3

Entende-se por preparo do solo o conjunto de operações que afetam diretamente a sua estrutura, bem como proporcionam condições físicas, químicas e biológicas adequadas para o estabelecimento das plantas. Logo, o papel fundamental dessas operações é propiciar condições favoráveis para o desenvolvimento das raízes e, consequentemente, maiores produtividades das culturas.

O solo, quando bem preparado, contribui para obtenção de um bom stand inicial e eliminação ou diminuição da competição provocada pelas plantas daninhas nesse estádio de estabelecimento da cultura.

O feijão-caupi, como a maioria das culturas, não se desenvolve satisfatoriamente em solos mal ou muito maldrenados, devido à

permanência do excesso de água no perfil do solo, que proporciona ambiente anaeróbico. Logo, deve-se dar preferência a solos de textura franco-arenosa a franco-argilosa, bem drenados e de relativa fertilidade natural. Áreas anteriormente cultivadas com a cultura e que apresentem incidência de doenças causadas por fungos do solo devem ser evitadas

e utilizadas com outra cultura (rotação). Deve-se também dar

preferência a terrenos planos ou pouco declivosos, pois o feijão-caupi,

���������������������������������������� �������������������1 Engenheira-Agrônoma, M.S., D.S. e Professora da Universidade Federal do Ceará.

E-mail: [email protected] 2 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Ex-professor da Universidade Federal do Ceará.

E-mail:�[email protected] 3 Engenheira-Agrônoma, M.S. e D.S. e Pesquisadora. Email: [email protected]

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Preparo do solo e plantio 71

como a maioria das culturas anuais, contribui bastante para a erosão do solo (FREIRE FILHO et al., 2011).

�������������������Culturas anuais como o feijão-caupi, principalmente em

monocultivo, deixam o solo desprotegido durante o período que vai desde o seu preparo, passando pela semeadura, até se alcançar o

estabelecimento da cultura, favorecendo a erosão. Os especialistas consideram que a erosão, além de empobrecer o solo, provoca a

poluição dos recursos hídricos pelo arraste dos resíduos dos defensivos agrícolas e outros poluentes (FREIRE FILHO et al., 2005). Portanto, em terrenos de declividade acentuada, devem-se considerar nas operações de preparo do solo os métodos conservacionistas, o que faz parte do que se convencionou chamar de “conservação dos recursos naturais”.

������������������Antes de dar início às operações de preparo do solo,

recomenda-se proceder à análise de sua fertilidade para fins de correção do pH e recomendação da adubação de forma correta e econômica.

Calagem: os solos brasileiros, em sua maioria, apresentam limitações no desenvolvimento dos sistemas de produção da maioria das espécies cultivadas, devido aos efeitos da acidez. A calagem tem como finalidade diminuir a acidez do solo; corrigir a toxidez do Al e Mn; aumentar a disponibilidade dos nutrientes; fornecer Ca e Mg para as plantas; gerar cargas negativas no solo (maior CTCefetiva); aumentar a atividade biológica no solo (beneficiando a fixação biológica de N2) e propiciar melhor desenvolvimento do sistema radicular, aumentando, consequentemente, a absorção de água e nutrientes pelas plantas (SOUSA et al., 2007). Inúmeros resultados de pesquisa têm demonstrado aumento da produtividade do feijão-caupi em solos ácidos após a calagem (ARAÚJO et al., 1984; FERNANDES et al., 2013). Isso se deve aos inúmeros benefícios gerados pela adequada acidez do solo.

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78 Mesquita, Pinho e Braga

construído irão depender do tipo de solo, da declividade do terreno e da

intensidade e duração das chuvas.

O cultivo em curvas de nível consiste em realizar o preparo do

solo, o plantio e as demais operações com máquinas, acompanhando as

curvas de nível. Esta prática é indispensável para o controle da erosão,

em terrenos declivosos, porém sempre deve estar associada a outras

práticas conservacionistas.

����"���Em 2011, foram colhidos no Brasil, aproximadamente, 1,6

milhão de hectares de feijão-caupi, com produção de 822 mil toneladas

e produtividade média de 525 kg ha-1. A maior produção concentra-se

no Nordeste, com 84% da área plantada e 68% da produção nacional

(CONAC, 2013).

Mesmo com a franca expansão da cultura para a região Centro-

Oeste, a produtividade do feijão-caupi ainda é considerada baixa, o que,

segundo Cardoso e Ribeiro (2006), deve-se, principalmente, ao baixo

nível tecnológico empregado nas atividades de produção associado ao

uso de cultivares tradicionais com baixo potencial produtivo. Além

disso, na Região Nordeste do Brasil, o cultivo do feijão-caupi quase

sempre está associado às incertezas da agricultura de sequeiro e ao

sistema de produção de subsistência consorciado com outras culturas

como o milho e a mandioca, embora o seu monocultivo seja crescente,

tanto em condições de sequeiro como irrigado. Outro fator que colabora

para o baixo rendimento dos cultivos de feijão-caupi é o uso inadequado

do número de plantas por unidade de área. Tal aspecto contribui para

que o potencial produtivo do cultivar não se expresse na sua plenitude.

Como parte das boas práticas agronômicas a serem adotadas

pelo produtor, a de plantio em curvas de nível no sistema de semeadura

direta deve ser enfatizado sempre que possível, pois tem-se verificado

que áreas declivosas que usam essa tecnologia possuem menor

escorrimento superficial da água das chuvas, havendo, por

consequência, menor perda do solo.

Apesar de explorado principalmente por pequenos e médios

agricultores, dentro de um modelo agrícola que se caracteriza pelo

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Preparo do solo e plantio 79

emprego de um baixo nível tecnológico, as pesquisas desenvolvidas com o feijão-caupi nos últimos anos geraram tecnologias simples, capazes de não só elevar a produtividade da cultura, como também de garantir certa estabilidade à sua produção, independentemente das condições climáticas. Para se obter sucesso na exploração da cultura do feijão-caupi devem-se levar em consideração alguns fatores, conforme descritos subsequentemente.

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O primeiro item a ser levado em consideração na escolha do cultivar ou de cultivares a serem explorados relaciona-se com o mercado consumidor. Existe um consenso entre os especialistas em feijão-caupi de que na escolha do cultivar deve-se obedecer à exigência dos consumidores, para facilitar a comercialização, aumentando, assim, as possibilidades de lucro. Conforme aqui reportado, a maior dificuldade encontrada pelo programa de melhoramento do feijão-caupi no Brasil tem sido a marcante diferença entre o tamanho e cor das sementes preferidas pelos consumidores e os padrões de tamanho e cor das sementes dos cultivares ou linhagens superiores importados e que são fontes de genes desejáveis para o programa de melhoramento.Segundo Araújo (1988), o tamanho do grão seco preferido pela maioria dos consumidores nordestinos tem cerca de 25 g por 100 sementes. Ainda, os consumidores preferem os grãos com tegumento liso, com uma única cor, uniforme. No entanto, o limite mínimo para o peso dos grãos e a preferência pela cor, no Brasil, variam de acordo com o estado.

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Dependendo do sistema de exploração (monocultivo ou consórcio) devem-se considerar o porte do cultivar, seu hábito de

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80 Mesquita, Pinho e Braga

crescimento e sua comprovada adaptação ao sistema (Figura 4.3)

(FREIRE-FILHO et al., 2005).

Figura 4.3 - Sistemas de exploração do caupi. (A) monocultivo, (B)

consórcio com milho. Foto: João Licínio Nunes de Pinho.

�����"������������"����������������������Devem-se selecionar cultivares de comprovada adaptação às

condições ambientais, de reconhecida estabilidade de rendimento, associada à elevada produtividade.

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Além dos fatores supracitados, indispensáveis na escolha de um

cultivar, é imprescindível que este apresente resistência a certas

doenças e pragas comuns à cultura.

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Com relação ao ciclo de desenvolvimento, Freire-Filho et al. (2005) classificam os cultivares de feijão-caupi em:

a) Superprecoce: maturação em até 60 dias.

b) Precoces: ciclo de 61-70 dias.

c) Médio: ciclo de 71-90 dias.

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Correção da acidez, adubação e fixação biológica 89

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Claudia Miranda Martins1, Suzana Cláudia Silveira Martins2 e

Wardsson Lustrino Borges3

O feijão-caupi (Vigna unguiculata L. Walp.) é uma leguminosa cultivada em quase todo o mundo, em diversas condições de ambiente e em diferentes tipos de solo. Considerada cultura rústica, de ciclo

curto, pode ser cultivada em regiões de climas de altas temperaturas e de baixa disponibilidade hídrica e em solos de baixa fertilidade. De grande importância econômica, tem sido difundida principalmente nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil. A produção nessas duas regiões é desenvolvida por pequenos e médios produtores com adoção de baixo nível tecnológico.

No Brasil, especialmente nas Regiões Norte e Nordeste, o caupi é uma das principais alternativas sociais e econômicas de suprimento alimentar para as populações rurais (FREIRE FILHO et al., 2005), visto que é uma leguminosa com altos valores de proteínas, carboidratos, fibras e vitaminas essenciais ao crescimento do ser humano. Constitui, portanto, uma boa opção para a melhoria da qualidade de vida especialmente da população carente no meio rural. Além do mais, é uma cultura em crescente desenvolvimento, que está ganhando espaço no cenário

�����������������1 Engenheira-Agrônoma, M.S., D.S. e Professora da Universidade Federal do Ceará.

E-mail: [email protected] 2 Bióloga, M.S., D.S. e Professora da Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] 3 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Pesquisador da Embrapa Amapá.

E-mail: [email protected]

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90 Martins, Martins e Borges

nacional em produção de grãos, em especial na Região Centro-Oeste,

onde médio e grandes produtores estão realizando o plantio da cultura. Nacionalmente, a cultura tem apresentado baixa produtividade de grãos, dependendo da safra e do sistema agrícola, variando entre 300 e 900 kg ha-1. Todavia, isso se deve a vários fatores que influenciam diretamente na baixa produtividade do feijão-caupi, como manejo fitossanitário inadequado e controle de plantas daninhas ineficientes, distribuição

irregular das chuvas, uso de cultivares de baixa produtividade, não

inoculação com estirpes eficientes de rizóbio, ausência de práticas de correção da fertilidade dos solos e adoção de espaçamentos e densidade de plantio inadequados.

Em condições de elevada acidez do solo, a disponibilidade de fósforo para as plantas é reduzida, devido ao processo de fixação, por meio de reações de adsorção e precipitação com alumínio e ferro, ocasionando decréscimo na produção (CARVALHO et al., 1995). A principal causa dos solos ácidos deve-se à sua gênese e ao predomínio de elevadas temperaturas e precipitação que lixiviam as bases, deixando elevada concentração de Al3+ e H+ (ESSINGTON, 2005).

Nos últimos anos, foram lançados diversos cultivares de feijão-caupi no Brasil, com recomendações específicas para alguns estados, conforme a adaptação e aceitação do produto pelo mercado. Estes cultivares são importantes componentes de todos os sistemas de produção prevalentes na agricultura familiar. Porém, estudos com o objetivo de propor práticas de manejo, como calagem e adubação adequadas para estes cultivares, não têm sido realizados para todas as condições edafoclimáticas onde o feijão-caupi é cultivado. Dada a inexistência de dados experimentais localmente obtidos, o que se tem adotado para prescrição de calagem e adubação é a análise de solo, conforme Embrapa (1997), seguida de interpretação com base no manual de recomendação de um outro estado e na planilha do feijão-comum, ou recomendação básica na impossibilidade de realização da análise de solo (CAVALCANTE; GÓES, 2011).

No Brasil, a maioria dos solos são ácidos, apresentam os elementos químicos tóxicos Al3+ e H+, possuem baixa capacidade de troca de cátions, baixa saturação por bases, baixa capacidade de retenção de água e baixos teores de Ca2+ e Mg2+, o que influenciam na baixa produtividade das culturas (GAMA et al., 2007), sendo, portanto, um dos fatores a serem corrigidos para a garantia de rendimento

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Correção da acidez, adubação e fixação biológica 91

econômico das culturas. Na Amazônia isso é bem característico, em

virtude do material de origem dos solos e por ser uma região de clima

quente e úmido e com elevada precipitação. Entretanto, as ordens de

solos mais frequentes no Brasil são Argissolos, Latossolos e Neossolos

de baixa fertilidade, caracterizados por baixos valores de pH; altos

teores de Al, baixos teores (Ca2+, Mg2+); e baixa capacidade de troca de

cátions podem ser cultivados mediante as devidas correções de acidez

e, ou, fertilidade (MEDA et al., 2002).

A prática da calagem visa corrigir a acidez do solo e fornecer

nutrientes. A aplicação do calcário eleva o pH do solo para valores entre

5,5 e 6,5, faixa considerada adequada por possibilitar maior

disponibilidade de nutrientes no solo (OLIVEIRA et al., 2001); e reduz

o alumínio tóxico (Al+3) e, simultaneamente, fornece os macronu-

trientes cálcio e magnésio, melhorando consequentemente a fertilidade

do solo e proporcionando maior rendimento à cultura.

De fato, a calagem é considerada prática essencial, que

contribui para a produção agrícola, uma vez que neutraliza e corrige a

acidez, o que a torna um dos meios mais relevantes para incrementar a

produtividade no Brasil. Esta prática influencia diretamente no

desenvolvimento do sistema radicular das plantas e da atividade de

microrganismo no solo, proporcionando melhor absorção de nutrientes.

Além do calcário, podem-se utilizar outros produtos como corretivos,

desde que estes apresentem em sua composição elementos que

favoreçam a correção desses solos ácidos, como óxidos de cálcio e

óxido de magnésio.

Embora o feijão-caupi seja uma cultura tolerante à acidez, a

saturação por Al+3 do complexo de troca e o teor de Al+3 não devem

ultrapassar 20% e 0,3 cmolc dm-3, respectivamente, para bons

rendimentos produtivos. Todavia, a necessidade de calagem e a

quantidade de calcário a ser aplicada variam de acordo com o solo e o

genótipo de interesse (FAGERIA, 2001). A aplicação de quantidades

inferiores à recomendada pode não trazer os benefícios esperados com

a correção do solo, no que se refere ao controle da acidez e à

disponibilização de nutrientes. A aplicação de quantidades superiores

pode favorecer o crescimento de microrganismos indesejáveis para

algumas culturas e ocasionar efeitos físicos prejudiciais à estruturação

do solo, como a dispersão de partículas. Com bastante frequência a

calagem excessiva, por exemplo, elevando o pH do solo para valores

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92 Martins, Martins e Borges

superiores a 7,0 ocasiona mais dano que benefício, pois há perdas na

produtividade, em razão dos efeitos negativos da acidez no

desenvolvimento das plantas (QUAGGIO, 2000).

���������������������������Existem vários métodos para se determinar a necessidade de

calagem e a quantidade de calcário a ser aplicada. Os mais amplamente

adotados são o que se baseam nos teores de Al+3 e Ca+2 + Mg+2 trocáveis

e o baseado na elevação da saturação de bases.

O método baseado nos teores de Al+3 e Ca+2 + Mg+2 trocáveis,

desenvolvido originalmente para o Estado de Minas Gerais e regiões

com bioma Cerrado, visa reduzir os teores de Al+3 e aumenta os teores

de Ca+2 + Mg+2, considerando o teor de argila do solo e a necessidade

(exigência) da cultura, da seguinte forma:

��� � � � �� � � ���� ������em que:

NC: Necessidade de calagem em toneladas por hectare (ton ha-1),

calcário PRNT 100%, profundidade de aplicação 0-20 cm

e superfície de cobertura ou aplicação de 100%.

Y: variável de acordo com o teor de argila – Adotar 1 para solos

com teor de argila < 15%, 2 para solos com teor de argila

entre 15 e 35% e 3 com teor de argila > 35%.

X: variável em função da exigência da cultura – Adotar 2 para

culturas pouco exigentes, como o feijão-caupi, e 3 para

culturas exigentes, como o café.

O método baseado na elevação da saturação de bases,

desenvolvido originalmente para o Estado de São Paulo, mas

atualmente utilizado em vários estados brasileiros, visa elevar a

saturação de bases do solo para valores adequados para a cultura de

interesse econômico, da seguinte forma:

�� � ����� ���������� ;

� � �� ����� ��

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Correção da acidez, adubação e fixação biológica 95

Tabela 5.1 - Efeito da aplicação de diferentes doses de calcário sobre

rendimento de feijão-caupi ao longo de três anos de

cultivo

Dose de

calcário kg ha-1

Produtividade kg ha-1

2012 2013 2014

0 496,25 1.288,39 1.140,75

280 491,25 1.322,32 1.570,75

2.020 502,50 1.306,25 1.230,62

3.760 573,75 1.556,25 1.278,00

5.490 376,25 1.272,32 1.238,12

7.230 443,75 1.270,53 1.101,50

Média anual 480,62 b 1.336,01 a 1.259,95 a

Equação ns ns Y = 1.347,29 -0,027x

R2 23,73

CV (%) 36,54 14,71 14,33 Médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si de acordo com o teste Tukey, a 5% de probabilidade.

Fonte: BORGES et al., 2015.

� !�����Conforme mencionado, a prática da calagem visa corrigir a

acidez do solo, elevando o pH e reduzindo o Al+3 tóxico às culturas e

também fornecer os macronutrientes Ca+2 + Mg+2. Para o completo e

adequado desenvolvimento das culturas além da calagem, é necessária

a correção da fertilidade do solo, em especial dos teores de nitrogênio

(N), fósforo (P) e potássio (K). O nitrogênio, potássio e fósforo,

macronutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das

plantas, são requeridos em maiores quantidades pelas plantas. A

demanda é elevada, porque o N é elemento constituinte de

macromoléculas importantes como os ácidos nucleicos (DNA e RNA),

proteínas e clorofila que é responsável pela captação da energia solar

para que ocorra a fotossíntese. O P é extremamente importante para os

processos energéticos pois é componente de trifosfato de adenosina

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96 Martins, Martins e Borges

(ATP), fosfato de adenosina (ADP) e pirofosfato (PPi) moléculas que armazenam energia nas ligações fosfato. O K, embora não faça parte da

estrutura de macromoléculas celulares, é importante para os processos

que envolvem carregamento e descarregamento de fotoassimilados

(carboidratos) nos vasos condutores. Dessa forma, a deficiência de K

nos cultivos afeta negativamente as relações fonte/dreno na planta e

compromete o transporte de fotoassimilados das folhas para os grãos.

A correção da fertilidade do solo pode ser feita de diversas

maneiras, no entanto a forma mais usual é a aplicação de fontes solúveis

de N, P e K no momento do plantio e, ou, em cobertura. As principais

fontes solúveis utilizadas são as formulações NPK, por exemplo, NPK

4-14-8, NPK 20-10-10, entre outras, e os fertilizantes ureia, sulfato de

amônio, superfosfato simples, superfosfato triplo e cloreto de potássio.

O nitrogênio e o fósforo são os elementos minerais que mais

limitam o desenvolvimento das plantas. A aplicação de fontes de

fósforo tem proporcionado frequentes respostas e sua baixa

disponibilidade no solo afeta negativamente o crescimento das plantas

e sua produção (PASTORINI et al., 2000). O fornecimento em doses

adequadas de fósforo estimula o desenvolvimento do sistema radicular,

logo na fase inicial, proporcionando condições às plantas de obterem os

demais nutrientes (RAIJ, 1991). Entretanto, a aplicação de adubos

fosfatados geralmente está associada a muitas perdas, devido à maioria

dos solos brasileiros serem ácidos, de baixa fertilidade natural, capazes

de reter o fósforo aplicado. Diante disso, é necessário haver maior

quantidade de fósforo do que é exigida pelas culturas, para suprir à

demanda desse nutriente, especialmente em áreas novas e solos pobres

(CARVALHO et al.,1995).

Visando um adequado manejo da correção da fertilidade do

solo, é importante levar em conta dois aspectos: a mobilidade dos íons

no solo e os mecanismos de contato entre as raízes e os íons no solo

(difusão, interceptação radicular e fluxo de massa), considerando os três

nutrientes mais absorvidos pelas plantas, N e K, dada a natureza

química dos íons monovalentes (K+1, NH4+ e NO3

-) de elevadas

solubilidade e mobilidade no solo. Os íons destes elementos geralmente

entram em contato com as raízes pelo fluxo de massa, onde o

movimento da água no solo os transporta até as raízes e, ou, por difusão,

onde eles deslocam no solo por meio da constituição de gradientes

químicos de concentração. O P, pela natureza química dos ânions de

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Correção da acidez, adubação e fixação biológica 97

fosfato (HPO4-2 e H2PO4

-1), é considerado de baixa solubilidade e baixa mobilidade no solo e geralmente entra em contato com as raízes por meio da interceptação radicular. Neste caso, ao crescerem as raízes

interceptam os ânions de P em dada posição no solo. Assim, a

recomendação é de se fazer a adubação com fontes de P no plantio, de

forma localizada, ao lado e abaixo das sementes e com fontes de N e K,

sempre que possível, parceladas, sendo parte no plantio e parte em

cobertura. No caso da cultura do feijão-caupi, em que a maior parte dos

genótipos são de ciclo curto (inferior a 90 dias), as adubações de

cobertura devem ser realizadas até os 30 dias após plantio.

Grande parte do fósforo aplicado via fertilizante fica retida no

solo, representando economicamente um custo significativo. Assim, é

necessário, para se obter alta produtividade, que em estudos

relacionados a solos seja avaliada a capacidade de retenção do fósforo,

a definição de doses mais adequadas para as culturas e que possibilitem

maiores retornos econômicos (FAGERIA, 1990). Dada a fixação do

fósforo na matriz do solo e sua baixa mobilidade, o efeito residual do

fósforo tem sido avaliado por diversos autores sobre o conteúdo de

fósforo, o rendimento de matéria seca e a produção nas culturas

subsequentes (MOREIRA et al., 2002). O aumento da frequência e da

dosagem de aplicação de fósforo tem apresentado resultados

satisfatórios sobre a cultura do feijão-caupi. Dessa forma, o efeito da

aplicação de adubação fosfatada ao solo é imediato, mas pode aumentar

a disponibilidade desse macronutriente com sucessivas aplicações no

decorrer dos anos, aumentado a capacidade produtiva do solo

(AZEVEDO et al., 2004).

A deficiência de fósforo é a principal limitação da fertilidade

do solo para o cultivo do feijão-caupi na região amazônica. Têm sido

constatadas respostas expressivas à adubação fosfatada nos mais

diversos tipos de solo onde o feijão-caupi é cultivado. Borges et al.

(2015) observaram resposta positiva da cultura do feijão-caupi em

condição de campo. Neste estudo, a utilização de 80 kg ha-1 de P

proporcionou aumento de 153, 126 e 41% na produtividade do feijão-

caupi em relação ao tratamento-controle (Tabela 5.2), em três anos de

avaliação, respectivamente.

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98 Martins, Martins e Borges

Tabela 5.2 - Efeito da aplicação de diferentes doses de fósforo sobre rendimento de feijão-caupi ao longo de três anos de cultivo

Dose de P2O5

kg ha-1Produtividade kg ha-1

2012 2013 2014

0 372,92 359,79 694,58

40 558,33 739,47 779,89

80 942,71 812,29 984,47

120 972,92 804,79 977,71

Equação Y=384,06+5,46 x Y=467,92+3,52 x Y=701,07+2,63 x

CV (%) 27,36 25,08 24,42

R2 91,8 71,22 87,98

Fonte: BORGES et al., 2015.

A adubação potássica, com fonte mineral de potássio, é uma das formas que os produtores utilizam para aumentar a disponibilidade de K no solo, visando elevar a produção das culturas como o feijão-caupi em solos de baixa fertilidade. Ao contrário do fósforo, o potássio é um nutriente bastante móvel no solo, e um dos fatores relacionados à baixa disponibilidade do potássio é a ocorrência de chuvas de alta intensidade, ocasionando perdas por lixiviação. Dessa forma, é possível observar essa carência em várias regiões do Brasil, uma vez que a maior parte dos solos do país são altamente intemperizados (KAMINSKI et al., 2007).

Embora o potássio seja um nutriente extraído e exportado pelo feijão-caupi, a ausência de resposta do caupi a diferentes doses de K já foi observada por diversos autores (MELO et al., 1996) e, segundo Melo et al. (2005), raramente se observam respostas significativas à aplicação de potássio. Em razão da maior quantidade de chuvas nas Regiões Norte e Centro-Oeste, comparativamente à Região Nordeste, a perda de potássio por lixiviação pode ser maior nestas regiões, o que explica, em parte, a ausência de resposta das culturas à aplicação de fontes de potássio (VILELA et al., 2004).

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No Brasil já foram lançados 73 cultivares melhorados de feijão-

caupi. Os cultivares lançados nos últimos 15 anos (Tabela 6.1) têm

mostrado potencial médio de produtividade em condições de sequeiro

em torno de 1.000 kg ha-1 na Região Norte, 1.180 kg ha-1 na Região

Nordeste e de 1.350 kg ha-1 na Região Centro-Oeste, com amplitude de

940 kg ha-1 a 1.306 kg ha-1 na Região Norte, 704 kg ha-1 a 2.143 kg ha-

1 na Região Nordeste e de 679 kg ha-1 a 2.665 kg ha-1 na Região Centro-

Oeste. Em cultivo irrigado na Região Nordeste, a média obtida foi em

torno de 1.530 kg ha-1, com amplitude de 1.087 kg ha-1 a 1.895 kg ha-1.

Estes cultivares foram lançados por diferentes programas de

melhoramento genético de instituições públicas, sendo a sua grande

maioria pela Embrapa. A seguir serão apresentados os cultivares que

estão sendo cultivados no Brasil e que se mostram como potenciais para

ocupar as áreas de produção de feijão-caupi neste país.

O cultivar BRS Guariba (Figura 6.2), de ciclo de maturação

precoce (60-65 dias), porte semiereto e grãos do tipo comercial branco-

liso (BRS GUARIBA..., 2004), foi o grande responsável por alavancar

o cultivo do feijão-caupi nos cerrados, especialmente do Centro-Oeste

do Brasil, notadamente no Mato Grosso e Meio-Norte, sendo o primeiro

cultivar de porte semiereto e de ciclo de maturação precoce e uniforme

lançado no mercado, o que permitiu o cultivo de feijão-caupi totalmente

mecanizado. Também foi o primeiro cultivar a ser exportado,

respondendo em 2014 por 85% das exportações de feijão do Brasil para o Oriente Médio, Ásia e Europa (Feijão-caupi..., 2014).

Figura 6.2 - Cultivar de feijão-caupi BRS Guariba de ciclo precoce, porte semiereto e grãos tipo comercial branco-liso.

Fotos: Maurisrael de Moura Rocha (esquerda); Francisco Rodrigues Freire-Filho (central e direita).

O cultivar BRS Novaera (Figura 6.3) apresenta ciclo de

maturação precoce (60-65 dias), porte da planta semiereto e grãos do

tipo comercial branco-rugoso (BRS NOVAERA..., 2008). Este cultivar

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respondeu por 15% das exportações brasileiras de feijão-caupi para o Oriente Médio, Ásia e Europa em 2014 (FEIJÃO-CAUPI..., 2014).

Figura 6.3 - Cultivar de feijão-caupi BRS Novaera de ciclo precoce, porte semiereto e grãos tipo comercial branco-rugoso.

Fotos: Maurisrael de Moura Rocha (esquerda e central); Francisco Rodrigues Freire-Filho (direita).

O cultivar BRS Tumucumaque (Figura 6.4) apresenta ciclo de maturação precoce (60-65 dias); porte semiereto e grãos do tipo comercial branco-liso, com alto teor de ferro e zinco (BRS Tumucumaque..., 2009). Constitui boa opção para o mercado de grãos secos e imaturos (feijão-verde). Nas avaliações realizadas pela Embrapa, o cultivar BRS Tumucumaque mostrou produtividade em condições de sequeiro de 1.100 kg ha-1 na Região Norte, 1.095 kg ha-1

na Região Nordeste, 1.100 kg ha-1 na Região Centro-Oeste e 1.848 kg ha-1 na Região Sudeste. Em ensaios conduzidos por Almeida (2014), em três épocas de semeadura nas condições de cerrado de Uberaba-MG, em condições de sequeiro, este cultivar obteve a melhor produtividade (3.071 kg ha-1) quando semeado em meados de fevereiro.

Figura 6.4 - Cultivar de feijão-caupi BRS Tumucumaque de ciclo de maturação precoce, porte semiereto e grãos do tipo comercial Branco-liso, com alto teor de ferro e zinco.

Fotos: Maurisrael de Moura Rocha.

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O cultivar BRS Itaim (Figura 6.5) apresenta ciclo de maturação precoce (60-65 dias), porte ereto, grão do tipo comercial fradinho, indicado para o mercado interno e externo (BRS ITAIM..., 2009). Esse tipo de grão tem sido usado na elaboração da farinha empregada no preparo do acarajé (iguaria tipicamente baiana e difundida para vários

estados do Brasil). Também é consumido na Região Sudeste do Brasil,

e é considerado o grão mais adequado para exportação (FREIRE

FILHO et al., 2011a). O Brasil tem importado esse tipo de grão do Peru.

Outra opção de cultivar do grupo fradinho é o BRS Carijó, de ciclo

extraprecoce (56 dias) e porte ereto (SANTOS, 2011). Nas avaliações

realizadas pela Embrapa, o cultivar BRS Itaim apresentou

produtividades em condições de sequeiro de 1.500 kg ha-1 na Região

Norte, 1.166 kg ha-1 na Região Nordeste, 2.655 kg ha-1 na Região

Centro-Oeste e 1.500 kg ha-1 na Região Sudeste. Em ensaios

conduzidos por Almeida (2014), em três épocas de semeadura no bioma

cerrado de Uberaba-MG, em condições de sequeiro, esse cultivar

obteve a melhor produtividade (3.439 kg ha-1) quando semeado em

meados de fevereiro.

Figura 6.5 - Cultivar de feijão-caupi BRS Itaim de ciclo de maturação

precoce, porte ereto e grãos do tipo comercial fradinho.

Fotos: Maurisrael de Moura Rocha (esquerda); Francisco Rodrigues Freire-Filho (direita).

O cultivar BRS Aracê (Figura 6.6) apresenta ciclo de maturação

médio-precoce (70-75 dias); porte semiprostrado; grãos do tipo

comercial verde, com alto teor de ferro e zinco (BRS Aracê..., 2009); e

boa opção para o mercado de grãos secos e imaturos (feijão-verde).

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O feijão-caupi é uma cultura de grande variabilidade genética, inclusive para características dos grãos (Figura 6.10). A variabilidade de cor, forma e tamanho do grão resulta em vários nichos de mercado. Dependendo da região e, ou, do estado, há preferência por tipos específicos de grãos. Dessa forma, o tipo de grão é um dos grandes

diferenciais para que um cultivar tenha sucesso, ou seja, o melhorista

deve estar sempre observando as necessidades do mercado, de maneira

que o cultivar desenvolvido atinja grande proporção do mercado.

Figura 6.10 - Variabilidade do feijão-caupi para características

morfoagronômicas do grão.

Foto: Luciana Pereira dos Santos Fernandes.

O tamanho e a cor dos grãos são as características que definem

o preço do produto no mercado, seja ele interno, seja externo. Portanto,

ao longo do processo seletivo devem-se selecionar linhagens que

atendam às necessidades do mercado, visando à obtenção de um novo

cultivar (SILVA; NEVES, 2011).

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A grande diversidade de tipos de grãos faz com que no programa de melhoramento sejam conduzidas várias populações

segregantes direcionadas para obtenção de cultivares com os diferentes tipos que o mercado demanda. Na Figura 6.11 são apresentadas imagens do processo de seleção e avaliação da aparência dos grãos nos experimentos de competição de cultivares de feijão-caupi.

Figura 6.11 - Grãos de uma linhagem pertencente à classe cores, subclasse mulato-liso (a); grãos do cultivar BRS Pajeú, também pertencente à subclasse mulato-liso (b); grãos de uma linhagem pertencente à classe branco, subclasse branco-liso (c); e grãos de uma linhagem pertencente à classe branco, subclasse fradinho (d).

Fotos: José Ângelo Nogueira de Menezes-Júnior.

É importante destacar o maior tamanho de grãos (18,81gramas 100 grãos) de uma linhagem melhorada (Figura 6.11a) em relação ao cultivar BRS Pajeú (18,19 gramas 100 grãos) (Figura 6.11b), indicando que esta linhagem é superior à testemunha recomendada e tem potencial para ser lançada como novo cultivar. A Figura 6.11c mostra os grãos de uma linhagem pertencente à classe branco, subclasse branco-liso e, na Figura 6.11d, grãos de uma linhagem pertencente à classe branco, subclasse fradinho.

O tamanho do grão é de grande importância, tanto para o mercado interno quanto para o externo. No mercado interno, há grande variação quanto ao tamanho dos grãos para cada tipo comercial. O consumo para cada tipo é muito regionalizado, e a preferência por determinado tipo tem influência cultural. Por exemplo, a subclasse comercial Manteiga, a preferência é por grãos com peso inferior a 10 g por 100 grãos, já para as subclasses branco-rugoso e Fradinho, a preferência é por grãos com peso superior a 25 g por 100 grãos (FREIRE-FILHO et al., 2011a).

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Manejo de doenças 143

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A cultura do feijão-caupi [Vigna unguiculata L. (Walp.)] é

afetada no Brasil e em outras partes do mundo por diversos patógenos,

como fungos, bactérias, vírus e nematoides. A ação desses organismos

sobre as plantas leva à morte de tecidos, órgãos e até mesmo da planta

inteira, causando perdas econômicas consideráveis ao agronegócio do

caupi, se medidas adequadas de manejo fitossanitário preventivo não

forem adotadas.

Diferentemente das pragas, que podem ser detectadas através

das posturas antes de ocorrer o prejuízo econômico, as doenças de

plantas, quando presentes numa área de cultivo, já representam perda

de produção parcial ou total. Dessa forma, o conhecimento prévio das

doenças mais importantes da cultura do feijão-caupi e a aplicação de

medidas de manejo preventivamente minimizarão as possíveis perdas

decorrentes do ataque de patógenos.

Informações a respeito dos produtos químicos registrados para o

controle das doenças fúngicas do feijão-caupi no Brasil podem ser obtidas

no sítio <http://www.agricultura.gov.br/servicos-e-sistemas/sistemas/

agrofit>. A seguir, são descritas as doenças mais comuns e as estratégias

de manejo recomendadas para a cultura do feijão-caupi.

���������������������������������������� �������������������1 Engenheiro-Agrônomo, M.S., D.S. e Professor da Universidade Federal do Ceará.

E-mail: [email protected]

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144 Lima

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Agente etiológico: Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. &

Magnus) Briosi & Cavara (sin. Glomerella lindemuthiana Shear)

Esse fungo pertence ao Filo Ascomycota, Família

Glomerellaceae, e produz na sua fase anamórfica acérvulos nos centros das lesões, resultante do crescimento e da esporulação abaixo da

epiderme da planta, seguido de sua ruptura, com liberação de massas

mucilaginosas de cor rósea ou salmão, que são formadas por conídios.

Nos acérvulos são constituídas também setas marrons, septadas, com 4-

9 x 30-100 µm. Em meio de cultura os conídios são formados em

esporodóquios (os acérvulos ocorrem apenas no tecido vegetal). Os

conidióforos são hialinos, medem de 40-60 µm e não são ramificados.

Já os conídios são hialinos, gutulados, cilíndricos, unicelulares e

medem 2,5-5,5 x 11-20 µm. Na fase teleomórfica, o fungo produz

peritécios ostiolados, marrons, obpiriformes a subglobosos,

parcialmente, ou, totalmente imersos no tecido da planta. Possui ascos

unitunicados, cilíndricos a clavados, geralmente contendo oito

ascósporos, e ascósporos unicelulares, hialinos, elípticos, com até

20 µm de comprimento.

Normalmente, os sintomas da doença são induzidos pelo fungo

na fase anamórfica, que pode eventualmente passar para a fase

teleomórfica em lesões velhas ou devido a condições ambientais

adversas como frio intenso ou falta de água, servindo como estruturas

de resistência. Este fungo ataca várias espécies de plantas da família

Fabaceae, em especial espécies de Phaseolus e Vigna, possuindo mais

de 32 raças. O fungo é disseminado por água de chuva e de irrigação

por aspersão. A semente constitui importante veículo de disseminação

do fungo, também transmitindo a doença para a plântula. Temperaturas

de aproximadamente 21 ºC e umidade relativa acima de 91% são

condições ideais para a ocorrência de epidemias de antracnose.

Sintomas: Os sintomas mais evidentes ocorrem nas vagens

como manchas arredondadas, com 1-2 mm de diâmetro, bordos

vermelhos e centro mais claro e deprimido, no qual podem ser formadas

massas róseas de conídios em condições de alta umidade. Em ataque

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Manejo de doenças 145

severo, o fungo atinge as sementes, ocasionando machas pardacentas,

às vezes pouco perceptíveis em sementes de tonalidade escura. Sementes infectadas podem apodrecer antes mesmo da germinação ou

germinar e, em seguida, ocorrer tombamento. Outros órgãos da planta

podem ser atacados como folhas e caules, mas em menor proporção.

Nestes órgãos, são observadas lesões necróticas, escuras e geralmente

rebaixando o tecido. Nas folhas, as lesões ocorrem preferencialmente

nas nervuras (Figura 7.1).

Figura 7.1 - Antracnose em feijão-caupi. Necrose das nervuras dos

folíolos.

Fonte: C. S. Lima.

Manejo: As condições climáticas nos locais onde o feijão-

caupi é cultivado no Nordeste geralmente são desfavoráveis à

ocorrência da antracnose. Porém, com a expansão da cultura para outras

regiões do país com clima favorável, a doença pode se tornar importante

e ser controlada pela utilização de resistência genética. TVu 310, TVu

345, TVu 347, TVu 410 e TVx 3236 são fontes de resistência contra a

doença. Recomendam-se a utilização de sementes sadias, eliminação

de plantas doentes e de restos culturais e rotação de cultura.

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Manejo de pragas 175

táticas de manejo da resistência, que podem ser consultadas na página

do Irac-BR: http://www.irac-br.org.br/.

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Lagarta-rosca: Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae)

Diagnóstico e descrição do agente causal – a presença desta

praga é evidenciada por uma ou mais plantas, de caule ainda tenro

(macio), na linha de plantio ou em uma cova, cortadas rente ao solo, ou

pouco acima. A parte cortada pode estar presente ou não. Em plantas

maiores, a praga pode roer o caule, mas nem sempre esta é

comprometida. Ao se cavar ao redor das plantas cortadas é possível

encontrar a lagarta. Quando esta lagarta é tocada, ela se enrosca, daí o

seu nome vulgar. Já desenvolvida, ela tem na parte frontal da cabeça

uma marca ou linha (sutura adfrontal) bem nítida, em forma de “V”

invertido, com a ponta de “V” praticamente atingindo a parte frontal

superior da cabeça (vértice ou vértex). Apresenta ao longo do corpo

uma linha dorsal acinzentada mais clara e tubérculos (manchas

circulares) pretas em cada um dos segmentos (KING et al., 1998,

ZUCCHI et al., 1993).

Pode ser confundida com a lagarta-do-cartucho-do-milho,

Spodoptera frugiperda, que será descrita com detalhes mais à frente, e

que tem a mesma aparência geral e com comportamento de formar

“rosca” ao serem tocadas. Difere da lagarta-rosca por possuir a linha na

parte frontal da cabeça em forma de “Y” invertido, sendo a “perna”

única do “Y” bem distinta e atinge a parte frontal superior da cabeça. A

lagarta de A. ípsilon, quando completamente desenvolvida, mede cerca

de 45 mm (ZUCCHI et al., 1993), ou seja, bem maior e mais robusta

que S. frugiperda, que tem aproximadamente 35 mm (CRUZ et al.,

1999).

Período crítico do artrópode para com a cultura –

normalmente, o ataque é crítico no período vegetativo, a partir da

emergência das plantas (Figura 8.1).

Bioecologia e comportamento – o período de uma geração

pode variar de 35 a 74 dias A larva é ativa à noite e se esconde durante

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176 Bleicher e Silva

o dia próximo ao local de alimentação. Alimentam-se de folhas

próximas ao solo durante os primeiros estágios (instares) e atuam seccionando as plantas nos três últimos. São favorecidas por condições edafoclimáticas, isoladas ou em conjunto, que aumentam a umidade no solo, como alto teor de matéria orgânica, maior teor de argila e precipitações ou irrigações frequentes (KING; SAUNDERS, 1984).

Avaliação da infestação e nível de ação – a infestação é avaliada com o auxílio de um cano de PVC de dois metros, para delimitar um ponto de amostragem. O número de amostras sugeridas é o mesmo utilizado para o cultivo de soja. Em áreas ou talhões de até nove hectares, seis pontos de amostragens são avaliados. Em talhões de 10 a 29 ha, oito pontos, e em talhões de 30 a 99 ha, 10 pontos (PANIZZI et al., 1977). No processo de amostragem, lança-se o delimitador ao acaso. Em um lado preestabelecido do mesmo, contam-se todas as plantas, sadias, atacadas e as possíveis falhas devido à praga. Em seguida, contam-se somente as atacadas e as falhas mencionadas. Mediante o uso de regra de três simples estima-se a porcentagem de plantas atacadas ou destruídas, em relação ao total, estimando-se assim o dano em percentagem. Especial atenção deve ser dada às áreas de bordadura, em torno de 30 metros, pois podem sofrer influência da vegetação circunvizinha, cultivada ou não.

Para caracterizar a redução na produção considera-se que na fase inicial do cultivo as plantas atacadas não irão produzir. Então pode-se utilizar uma das definições de Nível de Dano Econômico (NDE) que o caracteriza como: “uma densidade populacional cujo dano que irá

causar é igual ao custo do seu controle”. Com base neste conceito pode-se usar a fórmula básica para determinar o nível de dano econômico (NDE), apresentada por Nakano (2011).

NDE = (Ct x 100)/V

em que Ct = custo do tratamento (R$) para um hectare; e V = valor estimado a ser obtido/ hectare (R$), baseado na produtividade esperada de acordo com a tecnologia agronômica empregada.

Neste caso específico, o NDE equivale à porcentagem de dano (%D). Portanto, se o valor obtido na avaliação no campo foi inferior ao conseguido pela fórmula apresentada, não há necessidade de ser realizado o controle. No entanto, se for igual ou superior ao NDE (=%D), será necessário o controle, para evitar perdas econômicas.

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Manejo de pragas 177

Estratégias de controle – não há inseticidas de síntese

registrados para o controle desta praga no feijão-caupi. Sugere-se o uso

do controle alternativo com extrato ou óleo da semente de min

(Azadirachta indica), que contém entre outras substâncias a

Azadiractina, que, além de repelente, tem efeito sobre larvas de

lepidópteros. Recomenda-se também o aumento em 10% de sementes

por ocasião da semeadura, como forma de compensar as plantas

atacadas e mortas por A ípsilon, aumentando-se dessa forma a

população de plantas/ha, mantendo-se assim uma população razoável

de plantas na área e diminuindo-se as perdas na produção.

Broca-do-colo, Lagarta-elasmo – Elasmopalpus lignosellus (Lep.:

Pyralidae)

Diagnóstico e descrição – verifica-se o ataque desta praga pela

observação no campo de plantas murchando que, em seguida, tombam

e secam completamente. Ao serem arrancadas para uma avaliação mais

cuidadosa, observa-se uma galeria no seu interior, no sentido

ascendente. Pode-se ou não encontrar uma lagarta no seu interior, sendo

esta bastante ágil quando molestada, procurando fugir. Esta lagarta

possui na cabeça e no primeiro segmento do corpo uma região pardo-

escuro ou quase preta denominada placa protoráxica. A coloração do

corpo é variável, com predominância do verde azulado. No dorso e nos

lados, transversalmente e mais para a região posterior de cada

segmento, há listras pardo-escuras ou purpúreas (MARICONI, 1963).

Ao se escavar o solo com cuidado pode ser vista uma estrutura cônica,

saindo pouco abaixo da linha do solo, construída com fios de seda, ao

qual se encontram aderidos grânulos de solo (KING; SAUNDERS,

1984).

Período crítico – o ataque e maiores danos são observados no

período vegetativo logo após a emergência das plantas (Figura 8.1).

Bioecologia e comportamento – Harsimran et al. (2014)

indicam um período de dois a três dias para a fase de ovo. O

desenvolvimento larval é de aproximadamente 4,2 dias, 2,9 dias, 1,4

dia, 3,1 dias, 2,9 dias e 8,8 dias para os instares de um a seis,

respectivamente. O período para pupa é de 7 a 13 dias, com longevidade

dos adultos de cerca de 10 dias.