fabio wanderley
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Ciencia PolíticaTRANSCRIPT
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FABIANO SANTOSCIENTISTA POLTICO
DemOcrAcIA SOcIAl &
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cOAlIzeS gOverNISTAS, AquI e l FOrA &
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indiscutvel que os princpios da legalidade e da
transparncia, como balizadores do comportamento dos
agentes polticos, confundem-se com a prpria noo de
Estado democrtico. indiscutvel, da mesma forma, que
a corrupo poltica aquela que envolve representantes
eleitos seja no Executivo, seja no Legislativo geralmente
se associa, embora difcil precisar em qual medida,
a distores importantes em nossa vida econmica.
Superfaturamento e licitaes dirigidas, em princpio,
aumentam os custos de atividades governamentais e
desviam recursos da economia para o puro e simples
enriquecimento de autoridades mal-intencionadas.
No se pode negar, contudo, que a bandeira da tica na
poltica, do moralismo e da faxina tem servido a propsitos
politicamente antidemocrticos, para dizer o mnimo.
Os iniciados em histria brasileira recente conhecem
muito bem o escopo de movimentos pela depurao dos
costumes polticos, movimentos, em ltima instncia, de
legitimao social de intervenes golpistas. Na Europa
contempornea, os novos partidos de direita crescem
nas urnas e insuflam sua retrica aproveitando-se de
um sentimento difuso de repulsa do cidado comum
quilo que denominado de sistema, o sistema e seus
acumpliciados, a saber, os partidos polticos tradicionais e
seus representantes.
Parece incrvel, mas nunca ocorreu aos analistas do dia
a dia de nossa poltica a hiptese de que a revelao de
casos e mais casos de corrupo envolvendo autoridades
polticas seja efeito do bom funcionamento das instituies
do Estado, e no o seu contrrio. Levantar a hiptese e
discuti-la seriamente no so tarefas ldicas ou mero
exerccio de especulao. O argumento contrrio, segundo
o qual vivemos quadro de decadncia institucional, por
conta de repetidos episdios de roubalheira, dissemina
sentimento de desconforto com a poltica democrtica,
baseada no voto e nas eleies. Dissemina o desnimo
e a apatia. Justifica, ademais, a permanncia do tema da
reforma de nosso presidencialismo de coalizo na agenda
de pontos relevantes a serem tratados pelo Congresso.
Mas se a primeira hiptese for a que melhor retrata a
evoluo da realidade histrica, ento, nada mais distante
das prioridades da vida social brasileira do que reformar
nossas instituies representativas.
O tema do presidencialismo de coalizo aparece como
crucial nesse contexto. O termo, utilizado pela primeira vez
em clssico artigo de Srgio Abranches, designa a juno
do sistema de separao de poderes com a formao de
coalizes para a montagem de ministrios, alm de apoio
no Legislativo s polticas oriundas do Executivo, prtica
comum nos pases nos quais o multipartidarismo a
regra. Ou seja, em ltima instncia, resulta da juno do
sistema presidencial com a representao proporcional.
Nada alm disso. Nada, em suas condies fundamentais,
permite a ilao de que possuiria poderes mgicos,
como se fosse capaz de contaminar com o germe da
corrupo qualquer pessoa que dele faa parte. Em outras
palavras, identificar neste sistema a origem causal de um
suposto processo de decadncia institucional ou da baixa
performance democrtica incorrer em enorme falcia da
induo. O raciocnio falacioso, no caso, seria do seguinte
tipo: 1) casos de corrupo proliferam (premissa 1); 2)
praticamos o presidencialismo de coalizo (premissa 2);
3) o presidencialismo de coalizo causa da proliferao
da corrupo (concluso).
No preciso muita reflexo para se notar o quo tosca
a tese. Muitos argumentariam que o problema no
com o conceito de presidencialismo de coalizo, mas
com sua prtica no Brasil, associada montagem de
acordos polticos baseados na troca de favores. Trocas
que nada mais seriam do que barganhas com benefcios
auferidos unicamente pelos participantes, ademais de
suas clientelas, pouco cabendo ao pblico mais amplo,
a sociedade civil e seus representantes mais dignos.
Deixemos de lado o paroquialismo muitas vezes presente
no argumento, como se troca de favores no existisse
acima da linha do Equador. Olhemos unicamente para o
Brasil.
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53abrilmaiojunho 2013
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A montagem de grandes coalizes de apoio ao governo
no Legislativo e formao dos ministrios tem sido o
cenrio mais frequente. Supostamente, isto tem levado
criao ou sobrevivncia de legendas especializadas na
ocupao de cargos no Executivo, sem maiores vnculos
com interesses e preferncias enraizadas na vida social,
muito menos assentadas em uma agenda bem definida
de polticas pblicas. Deixemos mais uma vez de lado
o risco de paroquialismo que tal viso encerra, como se
partidos clientelistas no existissem nos sistemas polticos
europeus (sejam os nrdicos ou os mediterrneos). O
exemplo paradigmtico desse perfil de legenda seria
o PMDB. Diz-se que a realizao mais profunda da
democracia no Brasil, uma democracia
que transcenda o momento eleitoral e
de negociaes legislativas, esbarraria
na constante presena no governo deste
partido, controlado, em larga medida, por
polticos clientelistas, tradicionais, representantes de velhas
oligarquias estaduais.
Ora, o PMDB chamado para participar de coalizes,
sobretudo, para compor maiorias no Legislativo e viabilizar
vitrias eleitorais. Nada existe no presidencialismo
de coalizo que obrigue o governo a formar maiorias
congressuais ou obter apoio quase consensual junto ao
eleitorado. Em muitos pases europeus, a prtica recorrente
a de governos minoritrios, o gabinete sendo apenas
tolerado, isto , no derrubado, pela maioria oposicionista
no parlamento. Grande parte da histria recente norte-
americana a de governos divididos, nos quais o partido
que controla a presidncia no o mesmo
que controla a maioria nas duas Casas
do Congresso. Qual a condio para
que governos minoritrios funcionem?
Uma condio est sempre presente:
Nada existe No preSIDeNcIAlISmO De cOAlIzO que obrigue o goverNo a formar maiorias coNgressuais ou obter apoio quase coNseNsual juNto ao eleitorado
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a fora institucional do Legislativo. no interior de
rgos deste Poder, especialmente em suas comisses
permanentes, que ocorrem as grandes negociaes em
torno de polticas propostas pelo Executivo. Nelas, nas
comisses, as propostas so discutidas com um mnimo
de publicidade, com a participao de grupos de interesse
e opinies aquilatadas da sociedade organizada. Para o
plenrio, chegam projetos amadurecidos pela discusso
e pelo acordo democrtico, to perfeito quanto permite a
imperfeio do processo deliberativo humano. Mas nunca
pelos corredores opacos da burocracia do Executivo e
privilegiados que a eles tem acesso.
Assim, parece relevante sugerir foco
distinto para o entendimento dos dilemas
da democracia representativa no cenrio
contemporneo. Vejamos o que tem
ocorrido, por exemplo, nas democracias
da Europa. Nas ltimas eleies desse continente,
independentemente da tendncia ideolgica do partido
vitorioso, se liberal ou social-democrata, de esquerda ou de
direita, trouxeram sempre o mesmo veredicto: a oposio
ganha e, por bvio, o governo perde. Na Dinamarca, na
Frana, a esquerda desbancou governos de inclinao
conservadora. Em Portugal, na Espanha, na Grcia e na
Inglaterra o contrrio ocorreu, a saber, partidos de direita
derrotaram governos socialistas, social-democratas ou
trabalhistas, retornando ao poder, em alguns casos, depois
de longo perodo na oposio. Alm disso, na Itlia, aps
a queda do inacreditvel Berlusconi e um governo tcnico
emergencial, a esquerda volta a fazer o
primeiro-ministro, embora em coalizo
com foras da centro-direita.
Qual o grande aprendizado a ser extrado
do cenrio europeu contemporneo?
Na itlia, aps A queDA DO INAcreDITvel BerluScONI e um goverNo tcNico emergeNcial, a esquerda volta a fazer o primeiro-miNistro
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Existem de fato alguns aspectos positivos a serem
ressaltados, aspectos, contudo, incapazes de fazer frente
ao grande drama poltico vivido pelo Velho Continente.
Entre os aspectos positivos, podemos elencar os seguintes:
o fato de estarem os pases enfrentando profunda crise
econmica e seus governos, incapazes de ensejar polticas
de elevao do desempenho de indicadores bsicos,
supostamente aumentam a probabilidade de derrota de
tais governantes e a alternncia de poder. Nada mais
democrtico e racional. de se admirar tambm o fato de
tais mudanas estarem ocorrendo dentro dos marcos do
sistema partidrio vigente. At o momento, no h notcia
de vitria de partidos radicais, propagandistas de paixes
nacionalistas ou xenfobas, com a provvel exceo da
Hungria e o espectro nebuloso de Pepe Grilo na Itlia.
Ademais, onde ocorre realinhamento mais significativo,
como, por exemplo, na Grcia, com a apario da Syriza, a
mudana caminha na direo da rearticulao das foras
de esquerda, politicamente organizadas, com sua clientela
eleitoral por excelncia, vale dizer, dos assalariados,
desempregados e vtimas em geral do funcionamento
do mercado. O velho partido socialista, Pasok, parece a
esta altura fadado marginalizao ou pura e simples
extino.
Por sua vez, na Espanha, em Portugal, na Alemanha e na
Inglaterra, os grandes partidos de esquerda passam por
profunda reavaliao do legado da terceira via. Esta linha
poltica, adotada inicialmente pelos trabalhistas ingleses
sob a liderana de Tony Blair, acabou sendo emulada, logo
em seguida, por vrios partidos de esquerda no continente.
Sua tese fundamental consistia na necessidade de
renovao do discurso e da prtica da social-democracia
clssica, necessidade decorrente das alteraes na
morfologia do capitalismo introduzidas pela globalizao.
Renovao no caso significava a aceitao da premissa
bsica de funcionamento da ordem social propugnada
pelo liberalismo, a saber, que o dinamismo econmico de
um pas decorreria naturalmente da liberdade e segurana
fornecidas pelo governo s empresas e aos investidores,
nacionais e multinacionais, para uma eficiente alocao
de seus recursos e capacidades. Tamanha guinada no
discurso, todavia, no se limitou ao campo da retrica
eleitoral, pois no mbito econmico, sobretudo, polticas
nas dimenses macro e micro seguiram a linha da rigidez
monetria, desregulamentao financeira e alvio das
contas nacionais atravs da reduo dos benefcios do
Welfare.
Difcil dizer se a estratgia da terceira via resultou de uma
genuna alterao de crenas ou do mais desavergonhado
e puro clculo eleitoral, com partidos esquerda
buscando o eleitor de centro, eleitor que cada vez mais
se deslocava para o campo liberal. Provavelmente um
mix das duas motivaes. A verdade que hoje surge
a questo de se saber at que ponto o excesso de
moderao no acabou em capitulao e alienao de
boa parte de seu eleitorado tradicional. A pergunta ainda
mais relevante quando se nota que tanto a unificao
monetria (vlida para os casos de Grcia, Itlia, Espanha
e Portugal) quanto a desregulamentao dos mercados
financeiros vm conduzindo a economia desses pases ao
desastre.
O grande problema poltico atual da Europa, portanto,
e cuja gravidade alternncia nenhuma no poder ser
capaz de equacionar isoladamente, pode ser formulado
da seguinte maneira: a Unio Europeia, dado seu modo
de operar, gera claro vis contrrio vigncia de polticas
de cunho social-democrata no mbito interno dos
pases. Isto porque a unificao monetria foi feita sem
legislao comum de controle dos fluxos financeiros,
sem compensaes aos pases menos competitivos no
comrcio internacional e, sobretudo, sem que tenha sido
criada uma base comum de arrecadao fiscal. Ora, no
se trata exatamente de novidade a noo de que sem
tributo no h governo, e sem governo no h controle
poltico do mercado mas no residiria justamente a o
fundamento da social-democracia?
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A estratgia do recm-eleito presidente da Frana, o
socialista Franois Hollande, agora na boa companhia
de Enrico Letta, na Itlia, , por conseguinte, mais do que
acertada. No h possibilidade de alterao significativa
no status quo das polticas seguidas pelos principais
pases da zona do euro, priorizando o crescimento e o
emprego, sem que haja uma articulao e coordenao
envolvendo vrios governos nacionais. Crucial saber,
neste sentido, o resultado das prximas eleies italianas
e o poder de resistncia dos conservadores na Alemanha
frente presso por mudanas de pases to influentes
como Frana e Itlia. Seja como for, a lio que fica para a
esquerda de que extremo cuidado deve cercar decises
envolvendo o tema da integrao regional. O problema
nacional, assim como a possibilidade de ativismo estatal
no campo econmico, so paradigmas essenciais tanto
para o discurso quanto para as polticas de quem se
define como alternativa aos partidrios do livre mercado.
Abrir mo destes paradigmas pode significar mais do que
simplesmente assistir queda da social-democracia.
Pode significar a impossibilidade de efetiva alternncia
democrtica no poder.
O que se pode apreender deste rpido mergulho no cenrio
europeu, tendo em vista o jogo poltico no Brasil para
2014? Vale a pena separar os elementos mais atinentes
aos enfrentados pelo governo daqueles que dizem respeito
s estratgias possveis para a oposio em um cenrio
de adeso da maioria da populao s polticas pblicas
fundamentais do governo, baseadas na redistribuio da
riqueza.
Para o governo, instrutivo observar, por exemplo, a
tradio escandinava de governos com minoria ou
maiorias mnimas. Neste sentido, curioso perceber
semelhanas entre algumas escolhas feitas pela
presidente Dilma Rousseff e determinados traos
da histria poltica recente na Noruega. Gro Harlem
Brundtland, do PT noruegus, uma das principais
expoentes da esquerda europeia do sculo XX, foi a
primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra
na Noruega, nos anos 1980. Fez isso escolhendo grande
contingente de mulheres para o gabinete. O modelo
regulatrio escolhido para a explorao de petrleo
em guas profundas serviu de inspirao para Dilma
Rousseff, quando ainda era ministra chefe da Casa Civil
de Lula. Contudo, para alm das vrias diferenas que
marcam a sociedade, a geografia e a evoluo histrica
de Brasil e Noruega, existe uma mais especfica que
talvez no fosse to inevitvel: a primeira mulher a
governar o pas nrdico escolheu no montar um governo
majoritrio, pois no quis distorcer a vocao esquerdista
e trabalhista de seu governo e da agenda a ser proposta
para o pas.
provvel que o processo poltico brasileiro recente
esteja na iminncia de experimentar inflexo semelhante,
sobretudo se o atual cenrio de favoritismo da presidente
nas eleies de 2014 se confirmar. Uma mulher,
determinada, lder de uma coalizo de centro-esquerda,
procura conferir mais nitidez conduo de seu governo
dispensando a colaborao de partidos de centro,
ideologicamente pouco definidos, contudo, no Executivo.
Para que isso ocorra, no entanto, duas condies so
necessrias: 1) curar a obsesso de boa parte da elite
poltica brasileira em reformar o presidencialismo de
coalizo; 2) fortalecer regimentalmente as comisses
permanentes do Congresso. O desafio histrico
est posto. Ou a poltica brasileira aprofunda seu
mergulho democrtico, prestigiando suas instituies
representativas, em associao, claro, com os
elementos participativos e deliberativos presentes em
seu cenrio, ou se aposta, em nome da moralidade e do
combate corrupo, numa reforma de efeitos incertos,
decididamente ao reverso daquilo que a cidadania
precisaria para seu fortalecimento.
Do lado da oposio, um caso em tela parece ser
o da Sucia, embora as manifestaes recentes de
insatisfao e frustrao por parte de imigrantes estejam
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57abrilmaiojunho 2013
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exercendo grande presso sobre o sistema poltico em
seu conjunto. No faz muito tempo, o Brasil recebeu a
visita do primeiro-ministro da Sucia, Fredrik Reinfeldt,
lder do Partido Moderado, direita em seu pas, o qual
tem no governo se caracterizado de fato, como o nome
indica, pela moderao tanto em suas aes quanto em
sua retrica. Em vrias entrevistas, Reinfeldt descreveu
os pontos bsicos sob os quais se assenta a estratgia
poltica de sua gesto: aceitar a tradio igualitria que
moldou a evoluo do capitalismo escandinavo, procurando
estimular a competitividade de setores selecionados
da economia atravs de polticas de
inovao e desonerao fiscal. Os
efeitos da adoo de tal estratgia
so significativos e tangveis. Mesmo
em tempos de globalizao, a carga
tributria relativamente alta, assim
como a despesa em itens como educao,
sade, previdncia, habitao, alm de investimentos
na infraestrutura fsica necessria para o dinamismo e
sustentabilidade das indstrias de bens e servios.
Comparar tal caso com o dos Estados Unidos pode ser
ilustrativo, pois bastante diferente tem sido a postura da
oposio de direita ao governo de Barack Obama. Antes
da atual administrao democrata, quando no governo,
dominando a Casa Branca, assim como as duas Casas
legislativas, os republicanos promoveram o mais amplo
e radical programa de reduo da carga tributria jamais
vista na histria do capitalismo. O objetivo
confesso sempre foi o de desmontar o
tmido, para padres do norte europeu,
welfare state norte-americano. Ronald
Reagan j anunciava o inconformismo dos
conservadores com o que chamavam de
excessos de gastos sociais e participao
ou a poltica brasileira aprofuNda Seu mergulhO DemOcrTIcO, prestigiaNdo suas iNstituies represeNtativas, ou se aposta Numa reforma de efeitos iNcertos
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do Estado nas decises econmicas das famlias e dos
indivduos. Contudo, em sua presidncia, os democratas
sempre mantiveram a maioria na Casa dos Representantes
e, durante quase todo o tempo, tambm no Senado,
obstaculizando assim o projeto minimalista dos radicais
direita.
O atual impasse entre republicanos e democratas quanto
elevao do teto de endividamento do governo pode
ser visto ento como resultado de anos de confrontao
poltica e, principalmente, da postura da direita americana
de a qualquer custo solapar as bases de sustentao
do gasto pblico na rea social. Obama pede hoje mais
impostos, sem os quais impossvel manter alguma
chance de reequilibrar as finanas do governo. A oposio
pede aquilo que vem pedindo desde os anos 1980 zerar
o gasto do Estado com os pobres. E agora, Obama? O
que fazer? Aumentar impostos? Os republicanos, maioria
na Cmara, dificilmente concordaro. Cortar gastos
e dramatizar a situao de pobreza e desigualdade
cuja tendncia tem sido apenas a de se agravar a cada
ano? A resposta ser politicamente intolervel para os
democratas.
O problema da oposio de centro-direita no Brasil a
de saber qual paradigma de oposio pretende-se adotar
face ao papel assumido pelo Estado no atual estgio de
desenvolvimento capitalista em nosso pas. Ao contrrio
do diagnstico que muitos intelectuais, polticos e
jornalistas especializados fizeram no calor da hora dos
anos de ouro do neoliberalismo, mais exatamente nas
dcadas de 1980 e 1990, a presena do setor pblico
foi ampliada em alguns casos e sua ausncia foi muito
sentida nas ocasies em que os riscos da competio
tornavam-se maiores. Isto , a clientela eleitoral do
welfare state e em favor de polticas protecionistas nunca
deixou de existir. Proteger as pessoas garantindo amparo
aos que sofrem com o dinamismo de economias muito
expostas ao mercado externo foi o modelo seguido por
vrios pases na virada do sculo XX para o XXI. Talvez o
voto facultativo combinado ao sistema eleitoral para as
eleies legislativas baseadas em maiorias simples em
distritos uninominais, instituies altamente excludentes
em seus efeitos, seja uma boa explicao, mas o fato
que a frmula de enfrentamento dos americanos
aos desafios da globalizao, em especial da direita
americana, foi radicalmente diferente: aprofundar ainda
mais a flexibilidade das instituies que organizam o
mercado de trabalho com o consequente aumento na
capacidade das firmas de se ajustarem a condies
econmicas em constante mutao.
Os ltimos governos no Brasil tm se caracterizado,
isto inegvel, pelo combate aos seculares problemas
da pobreza e da desigualdade. A estratgia, desde
sempre, a mesma e uma s: organizar as instituies
do setor pblico para o atendimento eficiente das
populaes marginalizadas, tendo em vista inseri-las
na vida produtiva com mnimas condies de sucesso.
Programas como o Bolsa Famlia, a priorizao do ensino
tcnico, assim como o recente projeto de erradicao
da misria, caminham na mesma direo, a saber,
investimento pblico em capital humano, reduzindo a
exposio dos indivduos s vicissitudes da economia
capitalista.
O problema do potencial eleitor de oposio no Brasil,
por conseguinte, no saber se os polticos com tal
inclinao sairo ou no do armrio. O problema saber
qual a estratgia poltica que um eventual governo
controlado pela atual oposio conservadora seguir:
far como a direita tem feito na Sucia, aprofundando
os elementos do novo pacto poltico no Brasil, que tem
na pobreza um inimigo a ser combatido com todas as
foras? Ou adotar uma estratgia de confrontao e
desmonte das ainda frgeis instituies do welfare state
brasileiro?
O autor professor do Instituto de Estudos Sociais e Polticos da UERJ (IESP-UERJ).