etnobiologia - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... ·...

20
ETNOBIOLOGIA Autora: Fabiane Borges Rocha-Coelho Sumário I. Etnobiologia? O que é isso? II. Quais os métodos utilizados em Etnobiologia? III. Principais abordagens etnobiológicas IV. Mas, todos esses estudos estão regulamentados? V. Por que a Etnobiologia é um “processo emergente”? VI. Referências

Upload: ngohanh

Post on 30-Nov-2018

241 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

ETNOBIOLOGIA

Autora: Fabiane Borges Rocha-Coelho

Sumário

I. Etnobiologia? O que é isso? II. Quais os métodos utilizados em Etnobiologia? III. Principais abordagens etnobiológicas IV. Mas, todos esses estudos estão regulamentados? V. Por que a Etnobiologia é um “processo emergente”? VI. Referências

Page 2: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

I. Etnobiologia? O que é isso?

Esta é a pergunta que geralmente se ouve quando mencionado este nome

grande e, relativamente, diferente. Apesar de ser uma disciplina nova, a

Etnobiologia já era objeto de estudo de antropólogos1 no início do século

XIX, que ao estudarem os índios das Américas buscavam entender também

suas relações com a natureza. É por isso que uma das definições mais

completas do que vem a ser a termo Etnobiologia vem de um antropólogo

norte-americano chamado Darrell Posey. Em 1945, em um clássico para os

interessados em etnobiologia, o livro Suma Etnológica Brasileira (Figura 1), a

Etnobiologia é definida por Posey como sendo o “estudo do conhecimento e

das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da

biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana,

enfatizando as categorias e conceitos cognitivos2 do grupo em estudo.

De forma mais direta, Martin (2001) diz que o prefixo etno é uma

forma simplificada de dizer “esta é a maneira como os outros vêem o

mundo”, e que, sempre que esse prefixo anteceder ao nome de uma

disciplina acadêmica, quer dizer que os pesquisadores estão em busca da

percepção de uma determinada comunidade frente a um dado aspecto do

conhecimento científico e/ou cultural.

Desse modo, a Etnobiologia surge como uma disciplina que tem por

objetivo estabelecer o contato entre as classificações biológicas

(taxionômicas, morfológicas, biológicas, ecológicas) com as percepções,

conceitos e classificações feitas por comunidades que, na maioria das vezes,

apresentam concepções de vida e mundo diferentes das estabelecidas pelo

saber científico. Como por exemplo (mas sem nenhuma crítica): acreditar

que o mundo foi criado por um ser superior em sete dias ou mesmo que a

Terra é o único planeta povoado do Universo, ou que o nosso céu é

composto por uma série de esferas que abriga os diferentes tipos de pessoas

que já morreram, e tantas outras.

A partir dessas conceituações do que vem a ser a Etnobiologia e seu

objetivo, vê-se que esta é uma disciplina essencialmente interdisciplinar, de

modo que do ponto de vista científico, para se estabelecer o contato com um

Saiba mais Antropólogo é o profissional das Ciências Humanas que realizam estudos acerca do ser humano, e do que lhe é característico.

Figura 1: O clássico Suma Etnológica Brasileira

Saiba mais Cognitivo é relativo ao conhecimento ou ao ato de conhecer e organizar percepções, experiências, informações, formando e desenvolvendo comportamentos e capacidades.

Page 3: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

dado povo e entender suas percepções, é necessário conhecer também

técnicas básicas usadas pelas ciências sociais.

II. Quais os métodos utilizados em Etnobiologia?

A Etnobiologia vai buscar nas ciências sociais parte das técnicas que utiliza

em campo. A começar pela prática do olhar, ouvir e escrever descrita por

Cardoso de Oliveira (2006), práticas estas que devem ser exercitadas durante

o tempo de convívio dos pesquisadores com os sujeitos da pesquisa. De

forma geral, essas três ações que devem ser realizadas em campo dependem,

antes de tudo, de o pesquisador despir-se de pré-conceitos ou mesmo de

conceitos formados a partir de sua cultura com relação ao outro, exercitando

assim a alteridade3. É, então, que surge a valorização do que no primeiro

momento pode parecer estranho.

Os exercícios de olhar, ouvir e escrever devem ser executados nas

mais pequeninas coisas. O pesquisador deve estar atento aos objetos, as suas

formas, posição no espaço e modo como são utilizados. Há que estar de

ouvidos bem atentos para as estórias, causos, lendas e contos que muitas

vezes deixam transparecer os conceitos e concepções do grupo em estudo

acerca de um dado assunto. E, para que essas informações não sejam

perdidas ao vento é necessário, primeiramente, registrá-las em cadernetas ou

diários de campo para, em seguida, organizá-las em forma de texto.

De forma geral, a

abordagem metodológica e

coleta de dados em

Etnobiologia seguem duas

vertentes básicas: a qualitativa

e a quantitativa, as quais serão

discutidas a seguir.

Qualitativa

Na pesquisa qualitativa,

o ambiente é a fonte direta de

dados e o pesquisador é o

instrumento mais confiável de

observação. Para esta

abordagem, a melhor forma de observar e compreender um fenômeno é

dentro do contexto no qual ocorre e do qual faz parte. Desse modo, não são

apenas os resultados ou o produto final que interessam, mas também os

processos que levam a tal. Por exemplo, no estudo realizado por Rocha-

Coelho (2009) com a Comunidade Quilombola Kalunga obteve-se durante

o convívio e também nas entrevistas a informação de que as mulheres da

comunidade costumavam preparar um sabão com as sementes de timbó ou

tinguí. Apesar de terem sido relatadas todas as etapas do processo de

fabricação do sabão, só foi possível compreender a importância e registrar os

sentimentos envolvidos naquele processo quando se presenciou o fato.

Podendo daí chegar a conclusões mais fiéis acerca do envolvimento das

mulheres naquele momento.

Saiba mais Alteridade é o caráter ou qualidade do outro.

Saiba mais A Comunidade

Quilombola

Kalunga do Mimoso está localizada a 140 km de Arraias e a 413 km de Palmas, no Estado do Tocantins, em um local de difícil acesso, na fronteira entre os Estados de Tocantins e Goiás. Para saber sobre a comunidade Kalunga de Goiás acesse o artigo: http://www.assis.unesp.br/cedap/patrimonio_e_memoria/patrimionio_e_memoria_v5.n1/artigos/experiencias_quilombolas.pdf

Page 4: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

Portanto, a pesquisa qualitativa trabalha considerando as percepções

e sentimentos (valores, crenças, hábitos) tendo como material essencial a

palavra.

A pesquisa qualitativa dispõe de vários métodos para coleta de

dados. Um deles é a observação participante, que possibilita ao

pesquisador compreender o modo de vida, as ideias e motivações dos

sujeitos da pesquisa a partir da convivência e do envolvimento do

mesmo com os membros do grupo estudado em suas atividades

diárias. Sendo também o primeiro passo para o estabelecimento de

vínculos que venham a gerar confiança por parte dos informantes com

relação aos pesquisadores, o que, consequentemente, favorece a

obtenção de dados consistentes e fidedignos.

A técnica mais empregada nas abordagens qualitativas é a

entrevista. Esta pode ser classificada em:

1. Entrevista informal – há falta total de controle ou estrutura,

aproximando-se de uma conversa normal, sendo a mais utilizada

durante a observação participante.

2. Entrevista não-estruturada – o pesquisador é tido como o

entrevistador e o informante como entrevistado. É baseada em um

plano geral claro. Ex.: Conte sobre o tempo em que o senhor era

escravo.

3. Entrevista semi-estruturada – baseia-se em um roteiro que

delineará as perguntas a serem feitas. Esses roteiros podem ser

formulados em gabinetes e/ou após a observação participante.

4. Entrevista estruturada – os informantes devem responder a uma

série de estímulos como questionários, listas livres e tarefas que

exigem o ordenamento ou classificação de uma lista de coisas. É mais

utilizada em estudos quantitativos.

Mas, deve-se salientar que as abordagens qualitativas e quantitativas

não se anulam e nem se contrapõem, complementa-se uma a outra. Pois,

torna-se inviável somente contar o número de lágrimas de uma pessoa e não

evidenciar o motivo pelo qual esta pessoa chora. Portanto, os dados

quantitativos devem ser contextualizados com o dia a dia dos entrevistados,

seus relatos e as suas histórias de vida, garantindo assim uma boa

quantificação e descrição dos processos observados.

Quantitativa

As técnicas quantitativas visam mostrar, por meio dos números, os

dados obtidos em campo. Portanto, tentam medir o conhecimento dos

sujeitos da pesquisa. Para isso são utilizados testes estatísticos, índices de

importância relativa, valor de uso e outros. Entretanto, é preciso ter em

mente que mesmo utilizando os mais belos cálculos estatísticos o

pesquisador pode não conseguir quantificar o conhecimento real da

Page 5: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

população em estudo. Isso porque o conhecimento tradicional possui

dimensões teóricas e práticas. Por exemplo: uma pessoa que responde a um

questionário estruturado pode não ser honesta com o que responde à

medida que o que assinala no papel não é o modo como ela realmente faz no

seu dia a dia. Isso acontece porque muitas vezes a pessoa acredita que a

forma com que realiza determinado procedimento é errada, ou mesmo por

acreditar que o pesquisador, seu amigo, gostaria que ele respondesse de

forma x ou y. Além dessa questão, vivenciada em qualquer tipo de pesquisa

quantitativa, há também que se considerar que em questionários

estruturados o informante fica impossibilitado de justificar os “por quês” de

determinada prática, ou seja, a dimensão teórica.

Desse modo, alguns estudiosos em Etnobiologia fizeram uma

classificação, de acordo com o maior ou menor grau de subjetividade das

técnicas usadas na pesquisa quantitativa, dividindo-as em três tipos

principais:

Consenso do informante – baseia-se na concordância entre as

respostas das pessoas, coletadas por meio de entrevistas individuais,

permitindo analisar a importância relativa de cada uso. Quanto maior

o consenso, maior a possibilidade de ser um dado consistente. Por

exemplo: em uma pesquisa realizada com 56 pessoas, 38 afirmaram

que a planta denominada popularmente de pau d’óleo é a mais usada

por aquele grupo de pessoas. Informação significativamente confiável.

Alocação subjetiva – é quando a importância relativa de cada

espécie é assinalada pelo pesquisador, que determina quais plantas

receberão pontuação maior ou menor, conforme a categoria de uso e

com base nas plantas citadas durante as entrevistas. O pesquisador

pode então atribuir valores de 0,5 pontos para as plantas que tem

menor número de indicações e 1,0 para as que têm maiores. Assim, o

valor total de uma planta será dado pelo somatório dos valores que a

planta recebeu para cada um dos usos que possui. Imagine que

naquele mesmo grupo de 56 pessoas o pau d’óleo é indicado no

tratamento de cinco enfermidades, o barbatimão, em quatro; o cega-

machado, em uma; e o angico, em duas.

Totalização de usos – faz-se a quantificação total das categorias de

uso. Por exemplo:

Tabela 1: Quantificação total do número de plantas por categorias

ALIMENTAÇÃO MEDICINAL

CONSTRUÇÃO

CIVIL

TOTAL

PLANTAS* 82 120 97

*Números fictícios

É importante salientar que mesmo conhecendo as técnicas passíveis

de serem usadas em um estudo etnobiológico é necessário que o

pesquisador saiba a que ponto quer chegar com sua pesquisa, que hipóteses

Page 6: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

ele quer testar, que perguntas devem ser respondidas, para assim escolher a

técnica que melhor se aplica ao seu objeto de estudo.

Dentro desta classificação de técnicas quantitativas estão inseridos

índices (fórmulas) que permitem ao pesquisador calcular a importância ou

valor do seu objeto de estudo. No entanto, previamente a aplicação de

questionários, realização de entrevistas e cálculo dos dados, o etnobiólogo,

buscando um auxílio na estatística, deve certificar-se de qual será o número

de sua amostra. Pode-se dizer que a amostra é uma parte do todo. Estando

esta parte representando o todo, é preciso que a mesma seja estatisticamente

significativa, isto é, que a quantidade de pessoas escolhidas para serem

informantes seja o suficiente para representar as pessoas que não foram

escolhidas (Tabela 2). Nesse caso, quanto maior o número da amostra menor

a possibilidade de incorrer em erros.

Tabela 2: Tamanhos de amostras exigidos para vários tamanhos de população, considerando

um intervalo de confiança de 5%. Reproduzido de BERNARD, 1988 apud ALBUQUERQUE

et al., 2008.

Desse modo, as amostras podem ser obtidas por diferentes técnicas, a

depender do tipo de população em estudo e até mesmo da disponibilidade

Tamanho da população Tamanho da amostra

50 44

100 80

150 108

200 132

250 152

300 169

400 196

500 217

800 260

1.000 278

1.500 306

2.000 322

3.000 341

4.000 351

5.000 357

10.000 370

50.000 381

100.000 384

Page 7: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

de recursos financeiros disponíveis para a realização da pesquisa, sendo elas

amostras:

Probabilísticas – os elementos da amostra são escolhidos ao

acaso, ou seja, todos têm a mesma chance de serem escolhidos. Podem

ser feitos sorteios, cada pessoa da população estudada recebe um

número que será sorteado ou não.

Estratificadas – quando se estratifica a população em estudo e,

em seguida, realiza o sorteio dentro das categorias estabelecidas, por

exemplo, sexo, etnia, região e outros.

Por conglomerados – podem ser entendidos por conglomerados

os subconjuntos de uma população em estudo, quarteirões, bairros,

aldeias, agrupamentos. Tendo o conglomerado especificado o

pesquisador pode sortear em qual deles trabalhará e, então, realizar os

procedimentos de amostra estratificada e probabilística.

Por área – faz-se uso de mapas ou fotos aéreas para subdivisão

em unidades menores, realizando-se em seguida um sorteio para

seleção das áreas amostrais. A partir daí o pesquisador pode seguir os

procedimentos de obtenção de amostras por conglomerados.

Acrescenta-se a essas formas de obtenção de amostras um método

conhecido por informante-chave. O informante-chave é uma pessoa,

selecionada entre as demais para colaborar mais ativamente na pesquisa,

tendo sido escolhida com base em critérios anteriormente estabelecidos pelo

pesquisador. Por exemplo: busca-se como informante-chave uma parteira

que tenha no mínimo 50 anos de idade.

Um método utilizado quando o universo de informantes é vasto é a

“bola de neve” (“snow ball”). No emprego dessa técnica há uma seleção

intencional do informante já que a partir do primeiro contato com a

comunidade é reconhecido um especialista que indicará outro, este indicará

outro e assim sucessivamente até envolver todos os especialistas.

Tendo visto todas essas técnicas passíveis de serem utilizadas por

qualquer pessoa que queira estudar as relações existentes entre o homem e a

natureza, espero que você se mantenha animado para resolver as atividades

que proponho a seguir.

Atividade Complementar 1

1. Defina com suas palavras, qual o objeto de estudo da Etnobiologia.

2. Por que a Etnobiologia é uma disciplina que necessita do suporte

de estudos como a antropologia, ecologia, linguística e outras?

3. Imagine que você foi convidado para estudar as relações homem-

natureza de uma comunidade composta por 150 artesãs. Além de

registrar quais elementos da natureza são empregados na confecção

dos artesanatos, você deverá verificar como elas adquiriram o

conhecimento sobre as técnicas de confecção. Que métodos você

utilizará para alcançar o seu objetivo enquanto pesquisador? Descreva

todos os passos da sua pesquisa.

Após a realização desta atividade, esteja pronto para encarar uma

viagem em meio a muitos nomes grandes e diferentes!

Page 8: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

III. Principais abordagens etnobiológicas

Desde que o ser humano surgiu no planeta há alguns milhões de anos,

verifica-se que ele é um ser dependente da natureza assim como os demais

seres vivos. No entanto, como único ser dotado de razão, ele utilizou-se e

utiliza desta para extrair da natureza os recursos necessários para sua

sobrevivência. O detalhe é que o ser humano utiliza-se da natureza de forma

mais elaborada, criando métodos e técnicas para o melhor aproveitamento

dos recursos. Desse modo, criaram-se estratégias de plantio, a arquitetura, os

medicamentos, o vestuário. Em todas essas formas de utilização do recurso

natural, o homem imprime suas crenças e valores culturais que nascem, na

maioria das vezes, de suas cosmologias4.

É justamente a partir das variadas formas de relação que o ser

humano estabelece com o recurso natural e dos diferentes ramos da Biologia

que a Etnobiologia também se ramifica em disciplinas como a Etnobotânica,

Etnofarmacologia, Etnoentomologia, Etno-ornitologia, Etnopedologia,

Etnotaxionomia e outras.

Antes de passar à descrição de alguns dos principais ramos da

Etnobiologia, cabe dizer que esse campo de estudo caminha ao lado

da chamada Etnoecologia. Ciência esta que visa compreender o ser

humano e suas percepções sob o olhar da ecologia. É por esse motivo

que os pesquisadores dessas duas áreas do conhecimento fundaram a

Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia.

Etnobotânica

Este é só o primeiro nome grande! Pode ir se acostumando, em Etnobiologia

é assim. Mas, agora que você já sabe o que significa o prefixo etno, fica mais

fácil entender, é só relacioná-lo com o nome da disciplina que segue.

Entre todas as etnociências, a Etnobotânica é a que apresenta o maior

número de estudos já realizados, sendo que a maior parte deles é na área de

plantas medicinais. No entanto, são muitas as possibilidades de

investigação dentro do campo da botânica e das relações que o homem

estabelece com esse recurso natural, tais como o recurso madeireiro,

alimentício, vestuário, ritualístico, cerimônias e outros.

O primeiro a definir o termo “etnobotânica” foi o botânico americano

Dr. Harshberger, em 1895, e o fez dizendo “é o estudo das plantas usadas

pelos povos aborígenes ou nativos”, embora, assim como a própria

Etnobiologia, a Etnobotânica já vinha sendo desenvolvida muitos anos antes

dessa definição. A partir daí, novas conceituações foram surgindo ao longo

do tempo, conforme as áreas de atuação dos profissionais engajados na

pesquisa. Em meados do século XX, a Etnobotânica passou a ser

compreendida como “o estudo das inter-relações entre os povos primitivos e

as plantas, somando-se um elemento cultural a sua interpretação, devido ao

empenho cada vez maior dos antropólogos”(Albuquerque, 2005 p. 4). Até a

década de 1930, esse termo era utilizado tanto para estudos antropológicos

como etnológicos ou de botânica econômica, mas somente nas últimas

décadas do século XX deu-se início a um estudo sistemático tanto da

etnobotânica como da etnozoologia5.

Saiba mais Cosmologia é a narrativa ou doutrina a respeito dos princípios que governam o mundo, o universo.

Saiba mais Estudos

etnológicos são estudos antropológicos das sociedades indígenas.

Page 9: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

Lá vem história...

Como pioneiro no trabalho da etnobotânica no Brasil temos a

iniciativa de Maurício de Nassau, ainda no período colonial, quando trouxe

ao nordeste brasileiro a missão científica na qual estavam presentes o

botânico Georg Marcgraf e Wilhem Pies, cuja coleção incluía um herbário de

plantas medicinais. A partir do material coletado por Marcgraf foi publicada

a obra intitulada História Natural Brasileira, divulgada no Brasil em 1942.

Além de Marcgraf, podemos citar vários nomes como o de Frei José

Mariano da Conceição Velloso, autor de Flora Fluminensis; Arruda Câmera;

Frei Leandro do Sacramento; Auguste de Saint Hilaire que, entre 1927-1932,

publicou Flora Brasiliae Meridionalis. No Brasil império aparece a figura de

Peckolt que a partir de 1847 publicou mais de 150 trabalhos com análise

química de mais de 6.000 plantas. Em 1888, os Peckolts, pai e filho, publicam

História das Plantas Medicinais e úteis do Brasil.

Já no século XX, as contribuições são ainda mais amplas. Em 1963,

Carl Sauer estudou “As plantas cultivadas da América do Sul Tropical”, em

1966 Lévi-Strauss dedicou-se ao estudo das “Plantas Silvestres da América

do Sul Tropical”. Já na década de 1970, Robert Carneiro dedicou-se ao

estudo do “Uso do solo e classificação da Floresta Amazônica”. Entre as

décadas de 1970-1980, Ghillean Prance realizou pesquisas etnobotânicas em

14 tribos diferentes da Amazônia (Brasil e Peru) e Darrell Posey, além de

suas contribuições na área da etnoentomologia, contribuiu grandemente na

etnobotânica, sendo um de seus aportes o manuscrito “Manejo da floresta

secundária, capoeiras, campos e cerrados pelos índios Kayapós”.

Atualmente, pode-se dizer que os trabalhos em Etnobotânica estão

sendo realizados de Norte a Sul do Brasil, sendo todos esses trabalhos

subsidiados pelos representantes regionais da Sociedade Brasileira de

Etnobiologia e Etnoecologia.

E os métodos?

Por ser o ramo mais estudado da Etnobiologia e com o propósito de

diminuir o uso de técnicas pouco eficientes aperfeiçoando a pesquisa em

etnobotânica no Brasil, os estudiosos da área buscaram ao longo dos anos

reunir e sistematizar os métodos mais pertinentes para essa pesquisa, hoje

encontrados na segunda edição de Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica

(Figura 2).

Figura 2: Livro “Métodos e Técnicas na pesquisa etnobotânica.”

Page 10: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

No entanto, Martin (2001) distingue três principais aspectos que se

relacionam na pesquisa etnobotânica:

1) registro básico do conhecimento botânico tradicional;

2) avaliação quantitativa do uso e manejo dos recursos vegetais;

3) avaliação experimental dos benefícios derivados das plantas, tanto

para a subsistência como para fins medicinais.

Denominando, portanto, os três primeiros elementos,

respectivamente, como: etnobotânica básica, etnobotânica quantitativa e

etnobotânica experimental.

Já Albuquerque e colaboradores (2005) classificam didaticamente as

investigações etnobotânicas em qualitativa, a qual busca esclarecer como

uma determinada cultura compreende o mundo vegetal, como se dá esse

relacionamento e a que nível chega; outros enforques qualitativos buscam o

entendimento das relações mitológicas e simbólicas ou a interpretação de

documentos históricos sobre o uso de vegetais. Por outro lado, as

investigações quantitativas utilizam técnicas e ferramentas matemáticas para

a análise dos dados de uso de plantas, possibilitando comparações e

avaliações do significado das plantas para determinados grupos, podendo

também fornecer dados para o manejo e conservação dos recursos naturais.

Partindo desse entendimento podemos seguir enfocando as principais

técnicas para coleta e análise de dados em Etnobotânica. São elas:

Entrevistas – todas as formas de entrevistas trabalhadas na

pesquisa qualitativa podem ser empregadas nas investigações

etnobotânicas, entretanto, algumas estratégias devem ser utilizadas

para garantir um bom aproveitamento das informações, por exemplo:

Redação das Perguntas (RICHARDSON, 1999 apud ALBUQUERQUE et al., 2008) 1. “Não incluir jamais uma pergunta sem ter uma idéia clara da forma de utilizar a sua informação e quanto contribuirá aos objetivos da pesquisa”. 2. “Utilizar vocabulário preciso para perguntar o que realmente se deseja saber”. 3. “Evitar formular duas perguntas em uma”. 4. “Evitar utilizar termos dos quais os entrevistados possam não dominar ou conhecer”. 5. “As perguntas devem ajustar-se às possibilidades de resposta dos sujeitos”. 6. “É preferível usar itens curtos”. 7. “Evitar perguntas negativas. Geralmente esse tipo de pergunta leva facilmente a erro”. 8. “As perguntas não devem estar direcionadas, nem refletir a posição do pesquisador em relação a determinado assunto. Devem ser objetivamente formuladas de tal forma que o entrevistado não se considere pressionado a dar uma resposta que acredita ser a opinião do pesquisador”. 9. “Por último, o pesquisador deve ter cuidado com a interpretação

que ele faz das respostas dos entrevistados”.

Page 11: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

Além de estar atento à formulação das perguntas, o pesquisador

deve saber que a presença de uma terceira pessoa na entrevista

(algum parente ou visita do entrevistado) pode influenciar nas

repostas dadas, bem como o comportamento do entrevistador e as

formas como são direcionada as perguntas.

Quando se fala em aplicação de questionário ou formulário é

importante que se faça a aplicação do chamado pré-teste ou teste

piloto, que consiste na aplicação teste de questionários ou

formulários com um pequeno grupo de pessoas para garantir sua

clareza e confiabilidade. Assim feito, o pesquisador terá a chance de

corrigir ou reformular perguntas que tenham ficado mal elaboradas.

Importante esclarecer que os questionários são preenchidos pelos

entrevistados, enquanto os formulários são preenchidos por meio de

entrevistas diretas e pessoais, com os dados sendo preenchidos pelo

entrevistador.

Uso de gravadores e vídeo – estes instrumentos podem ser usados

durante as entrevistas direcionadas por meio de formulários ou

roteiros. Esses instrumentos, principalmente o gravador, são

imprescindíveis durante as entrevistas, uma vez que podem registrar

todo o diálogo sem que nenhuma parte fique perdida ou passe

despercebida. Na ausência destes, corre-se o risco de não conseguir

anotar todas as falas do entrevistado ou mesmo de interferir nas

respostas dele, já que teria de ser interrompido para que as respostas

fossem anotadas em sua totalidade.

Apesar de encontrar pessoas que se neguem em ter suas vozes

gravadas, esse medo pode ser facilmente rompido quando o

pesquisador mostra outras vozes que estão “guardadas” dentro do

aparelho. Assim também acontece com a filmagem, sendo que essa

pode ser exibida como atração para o grupo em estudo, o que também

pode contribuir para a manutenção dos laços de simpatia entre o

pesquisador e o sujeito da pesquisa.

Cabe observar que não se deve passar muito tempo do dia da

entrevista para o dia da transcrição das informações. Primeiro porque

esse trabalho demanda muito tempo, 45 minutos de gravação pode

ocupar até oito horas para a transcrição. Segundo porque a memória

pode apagar informações que algumas vezes ficam entendíveis na

gravação. Por isso também a importância do uso de caderneta ou

diário de campo.

Turnê-Guiada – método utilizado para trabalhar em campo,

geralmente necessita-se de um mateiro ou alguns dos principais

informantes. A realização da turnê-guiada, também chamada de

caminhada etnobotânica (“walk-in-the-woods”), consiste em validar os

nomes das plantas citadas durante as entrevistas, pois o nome popular

de uma espécie pode variar não só entre regiões, mas também entre

indivíduos de uma mesma localidade.

Uso de estímulos visuais – são várias as formas que o pesquisador

pode utilizar para angariar informações das pessoas. Uma delas é o

uso de plantas frescas ou secas e prensadas (herborizadas). Outras

Saiba mais Mateiro é o nome dado a pessoa que é conhecedora de uma região e atuam como guias de expedições de campo ou visitas guiadas.

Page 12: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

formas é o uso de fotografias, artefatos confeccionados a partir de

plantas, e até mesmo a planta propriamente dita.

Lista Livre – esta é uma técnica comum para extrair informações

nas ciências sociais. A lista livre visa buscar informações específicas

sobre um domínio cultural da comunidade em estudo. Nesse caso, as

pessoas que participarão do processo são solicitadas a listar, por

exemplo, as plantas de uso madeireiro que conhece. Parte-se do

princípio que os elementos culturalmente mais importantes

aparecerão em muitas listas e em uma ordem de importância

semelhante.

Ordenamento (“ranking”) – a análise de ordenamento pode

derivar diretamente de listas livres trabalhadas pelo pesquisador. Os

informantes são convidados a ordenar as plantas de acordo com sua

preferência. A partir disso, uma matriz é construída, podendo-se

então atribuir um valor a cada espécie (Tabela 3).

“Recall” 24 Horas – consiste em estimular o entrevistado a listar

os itens (plantas, remédios, animais etc.) com os quais entraram

em contato nas últimas 24 horas. Essa técnica é normalmente

utilizada nos estudos que visam levantar informações sobre a

dieta e hábitos alimentares. A importância relativa dos

componentes da alimentação citados pode ser calculada,

adotando-se os mesmos critérios da técnica de ordenamento.

Atualmente, estão disponíveis na internet softwares apropriados para a

análise dos dados coletados durante os trabalhos de campo da pesquisa

etnobotânica. O ANTRHOPAC, utilizado principalmente para gerar dados

na pesquisa antropológica, vem sendo bastante usado por etnobotânicos.

Tabela 3: Exemplo de organização e análise de dados pela técnica de ordenamento. Observe que os números que preenchem a tabela dizem respeito à ordem em que cada uma das plantas foi citada por cada um dos seis informantes. Somam-se os valores obtidos por cada planta, dividindo-se pelo número total de informantes. Reproduzido de Albuquerque et al., 2008.

Código do informante

Planta citada A1 A2 A3 A4 A5 A6 Total Média Ordem

Coco 3 6 3 6 5 1 24 4,00 5

Goiaba 6 1 4 1 4 6 22 3,67 4

Cajá 2 4 6 5 1 3 21 3,50 3

Umbu 5 2 1 4 3 5 20 3,33 2

Manga 4 3 5 2 2 4 20 3,33 2

Abacate 1 5 2 3 6 2 19 3,17 1

Page 13: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

Entretanto, recentemente foi desenvolvido o ETHNOPAC, software

adaptado para armazenar e analisar um grande volume de dados oriundos

de inventários Etnobiológicos e Etnoecológicos.

De forma geral, grande parte dos métodos e técnicas empregados na

obtenção de informações etnobotânicas é utilizada nas demais abordagens

etnobiológicas, variando somente os procedimentos específicos de cada área

de estudo como, por exemplo, a forma de coleta e de identificação do

material natural investigado. O etno-ornitólogo pode utilizar fotos de

pássaros como estímulo visual para que os sujeitos da pesquisa reconheçam

as espécies mais frequentes na região em estudo.

Etnozoologia

O termo etnozoologia surgiu nos Estados Unidos no final do século XIX,

sendo definido por Mason (1899) como “a zoologia da região tal como

narrada pelo selvagem”. Ao investigar as técnicas de caça de alguns povos

indígenas norte-americanos, Mason afirmava que toda a fauna de uma dada

região, direta ou indiretamente, entra na vida e pensamento de um povo.

Por outro lado, para Marques (2002), a Etnozoologia pode ser definida como

o estudo transdisciplinar dos pensamentos e percepções (conhecimentos e

crenças), dos sentimentos (representações afetivas) e dos comportamentos

(atitudes) que intermedeiam as relações entre as populações humanas que os

possuem com as espécies de animais dos ecossistemas que as incluem.

Segundo Santos-Fita e Costa-Neto (2007), na literatura, o termo só

apareceu em 1914 no artigo intitulado “Ethnozoology of the Tewa Indians”, de

Henderson e Harrington. A Etnozoologia não teve o mesmo caminho da

Etnobotânica, cuja posição foi constantemente consolidada – os números

indicam (no que se refere às publicações) uma razão maior que 2:1 a favor da

Etnobotânica.

O processo de formação do campo da Etnobiologia e, por

conseguinte, da Etnozoologia, também foi estudado por Clément (1998).

Para este autor, três fases, denominadas pré-clássica, clássica e pós-clássica,

testemunham tanto as mudanças de atitude quanto o enfoque teórico-

metodológico dos pesquisadores ao longo do tempo.

A fase pré-clássica diz respeito aos primeiros trabalhos e definições

do campo de estudo, quando os pesquisadores (etnólogos e antropólogos)

centravam-se especialmente nos aspectos de ordem econômica das relações

homem/natureza. Desse modo, prevalecia o interesse pelas formas de

utilização dos animais, os nomes populares e seus correspondentes

conforme a academia, sendo, portanto, guiada por uma abordagem

utilitarista dos recursos advindos de animais.

A fase clássica inicia-se na década de 1950, quando as investigações

etnozoológicas começaram a focalizar os estudos nos aspectos cognitivos,

buscando registrar, por meio de análises semânticas, o significado atribuído

por uma dada população às espécies biológicas (reais e/ou imaginárias, tal

como são percebidas e classificadas pelos seres humanos) presentes nos

ecossistemas.

A fase clássica perdurou até a década de 1980, quando então tem

início o período pós-clássico que se caracteriza por uma maior cooperação

entre cientistas e povos tradicionais, em que as pesquisas são direcionadas

Internet O ETHNOPAC pode ser encontrado acessando o link: http://www.ethnopac.com/

Page 14: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

em relação ao manejo participativo dos recursos biológicos, processos de

domesticação de animais, movimento pelos direitos de propriedade

intelectual, repartição de benefícios, leis de acesso aos recursos genéticos e

ao conhecimento tradicional associado, entre outros temas.

Nesse sentido, a Etnozoologia é o ramo da etnobiologia que visa

estudar o conhecimento e os usos dos animais por populações

humanas. No Brasil, os estudos em Etnozoologia ainda são escassos

quando comparados com aqueles voltados à Etnobotânica. Alguns

pesquisadores da área afirmam que a pesquisa etnozoológica no país

ainda é principiante e admite que um dos problemas mais sérios para

o estudo da Etnozoologia em âmbito nacional reside na falta de

informações elementares e descritivas sobre a fauna brasileira, aliada

a uma amostragem bastante deficiente.

Atualmente, os principais estudos voltados para essa área da

Etnobiologia estão ligados ao uso de animais, ou parte deles, no tratamento

de doenças, a Zooterapia. Tendo enfoque considerável a utilização de insetos

na alimentação humana, Entomofagia.

Na verdade, os estudos acerca do uso e conhecimento de animais

fragmentam-se ao passo que se altera o grupo de animais em estudo. Desse

modo, temos:

1) Etnomiriapodologia – estudo das relações existentes entre o

homem e os invertebrados conhecidos como embuás, centopéia,

lacraia.

2) Etnoentomologia – uso de insetos (formiga, vespa, grilo, entre

outros) nas mais diversas atividades.

3) Etnoaracnologia – pesquisas referentes às relações do ser humano

com as aranhas e escorpiões.

4) Etnocarcinologia – busca do conhecimento popular acerca dos

crustáceos (camarão, lagosta, caranguejo e outros).

5) Etnomalacologia – estudo das relações entre o homem e os

moluscos (caracol, lesma, polvo e lula).

6) Etnoictiologia – busca o conhecimento, geralmente, de pescadores

sobre a reprodução, migração, alimentação e defesa dos peixes.

7) Etno-ornitologia – procura registrar o emprego dado as aves e

relacioná-lo com a conservação das espécies.

8) Etnomastozoologia – enfoca as relações existentes entre as

populações e os mamíferos.

9) Paleoetnozoologia – investiga as interações existentes entre

homens e animais a partir dos fósseis deixados nas rochas, pinturas

rupestres, artefatos arqueológicos e outros, sendo o ramo da

Etnozoologia menos estudado6.

Entretanto, conforme argumentado por Santos-Fita e Costa-Neto

(2007), faz-se importante ressaltar que o conhecimento etnozoológico

tradicional é modificável, uma vez que este pode variar conforme o gênero

(homem ou mulher), faixa etária e nível de empatia com o animal. Isso

porque se um animal é visto como sendo feio, nojento e capaz de transmitir

doenças, provavelmente pouco se saberá a seu respeito. Estando os mais

Saiba mais

Os embuás, piolhos de cobra ou gongôlos, são animais herbívoros que fazem parte da classe Diplopoda, do filo Arthropoda.

Internet Para saber mais sobre Etnobiologia e Etnozoologia, acesse os seguintes links: http://www.david-figueiredo.com/visualizar.php?idt=1599554 e http://www.uefs.br/ppbio/cd/portugues/capitulo20.htm

Page 15: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

diversos modos de relação com os animais vinculados com a biologia do

bicho.

Etnofarmacologia

A Etnofarmacologia é mais um ramo da Etnobiologia. Segundo Berlin

(1992), é “uma disciplina voltada ao estudo do complexo conjunto de

relações de plantas e animais com sociedades humanas, presentes ou

passadas”. Para Bruhn e Holmstedt (1982), a Etnofarmacologia pode ser

definida como “a exploração científica interdisciplinar dos agentes

biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo

homem”.

Como estratégia para a investigação de plantas medicinais, a

abordagem etnofarmacológica consiste em combinar informações

adquiridas junto a usuários da flora medicinal com estudos químicos

e farmacológicos. Permitindo a formulação de hipóteses quanto à

atividade farmacológica e à substância ativa responsável pelas ações

terapêuticas.

Pesquisas recentes têm mostrado que a seleção etnofarmacológica de

plantas para as investigações laboratoriais, baseada em alegação feita por

seres humanos de um dado efeito terapêutico, pode ser um valioso atalho

para a descoberta de novos fármacos (Tabela 4). Principalmente porque as

pessoas que dão esse tipo de depoimento fazem o uso da flora medicinal a

um período de tempo significativo, visto que esses conhecimentos,

geralmente, são passados ao longo das gerações. No entanto, assim como

nos demais ramos da Etnobiologia, é fundamental que se conheça os

conceitos do sistema do qual se obtêm as informações, uma vez que

observações não contextualizadas podem ser inúteis. Já que os sistemas

médicos são produtos das culturas específicas havendo, portanto, uma

variação em termos de crenças e práticas médicas.

Tabela 4: Percentagem de acerto com coletas etnofarmacológicas e ao acaso em programas de Pesquisa e Desenvolvimento com espécies vegetais. Reproduzido de Elizabetsky (2005).

Instituição País Programa Coleta

Etnofarmacológica

Acerto

(%)

Coleta

ao

acaso

Acerto

(%)

NCI USA Anticancer Veneno de Flecha

Veneno de peixe

Nematóides

52,2

38,6

29,3

10,4

10,4

10,4

NCI USA Antiviral 15,0 1,6

Antwerp

Univ

Bélgica Antiviral 25,0 5,0

Page 16: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

*in vitro **in vivo

Nesse sentido, cabe ressaltar que ao se realizar pesquisas nesta área é

necessário investigar também quais são as conceituações do grupo em

estudo acerca do que seja saúde e doença. Assim como quais as formas de

preparo dos fitoterápicos (infusão, decocção, maceração, tintura, xarope e

outros); qual a quantidade de planta utilizada para o preparo, tendo o

cuidado de especificar medidas precisas, pois se observa a utilização de

medidas abstratas e variáveis conforme a pessoa que prepara, como os

punhados, pitadas ou “um pouquinho”. Também é importante investigar

qual a posologia, doses em que devem ser ingeridos os fitoterápicos, por

exemplo, uma colher pela manhã em jejum ou meio copo três vezes ao dia

antes das refeições. Do mesmo modo cabe registrar se há mistura de vegetais

no preparo dos remédios.

Com todas essas informações, é possível partir para uma análise

farmacológica precisa. Geralmente, essa área de estudo conta com atuação

de farmacêuticos, visto que são profissionais treinados no campo da

produção e análise de medicamentos.

Atividade Complementar 2

Depois de tanta informação, nada melhor do que exercitar! Com base

no texto lido, responda:

1) Quais as principais abordagens etnobiológicas? Defina com suas

palavras cada uma delas.

2) Se você fosse convidado para realizar um inventário etnobotânico

em uma determinada população, qual das técnicas você escolheria:

lista livre, estímulos visuais ou questionário? Justifique caracterizando

a comunidade imaginária com a qual você trabalharia.

3) Por que a Etnofarmacologia pode ser um atalho para a descoberta

de novos fármacos?

IV. Mas, todos esses estudos estão regulamentados?

Sabe-se que o Brasil é detentor de uma vasta diversidade tanto do ponto de

vista natural, com seus expressivos biomas, quanto do ponto de vista

Shaman USA Antiviral Citomegalovirus

Influenza

8,2

1,6

Herpes 0,013

Shaman USA Diabetes 39,0*

57,0**

UFMG Brasil Malaria 18,0 0,07

Walter

Reed

USA Malaria 70,0

Page 17: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

cultural com os mais de 200 povos indígenas somando-se a eles

comunidades ribeirinhas, caiçaras, jangadeiros, caipiras/sitiantes,

pescadores, praieiros, sertanejos, pantaneiros, quilombolas, babaçueiros e

outros. Segundo Diegues (2001), o número de estudos envolvendo o

etnoconhecimento desses grupos sobre a diversidade vem aumentando

substancialmente a partir da década de 1950, saltando de aproximadamente

21 trabalhos até 1959 para aproximadamente 800 no período de 1960 a 1999.

Tendo por base esse grande quantitativo de estudos, aliado às práticas

ilícitas de comércio ilegal de animais e plantas silvestres, o que o governo

federal na ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento – a ECO 92 – estabeleceu juntamente com os países

participantes a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB).

Entre outros aspectos a CDB7, ratificada pelo Brasil em 1994, buscou

estabelecer regras que equilibrassem a relação bastante desigual entre países

desenvolvidos, detentores de tecnologias e desejosos de novos recursos para

a indústria, e países em desenvolvimento, detentores de biodiversidade, mas

sem recursos tecnológicos para a conservação adequada da biodiversidade.

Essa legislação estabeleceu como principais objetivos a conservação, a

utilização sustentável e a repartição dos benefícios do uso dos recursos

genéticos, bem como reafirmou a soberania dos países sobre os recursos

genéticos existentes em seus territórios e estabeleceu a necessidade dos

países instituírem regras para o acesso a esses recursos.

É aí que surge a Medida Provisória (MP) n. 2.052/20008, que passou a

regulamentar o acesso ao patrimônio genético, bem como a proteção e o

acesso aos conhecimentos tradicionais associados. A MP n. 2.052/2000 foi

reeditada várias vezes até agosto de 2001. No entanto, questões burocráticas

fizeram que em sua última reedição permanecesse como Medida Provisória

n. 2.186-16/2001. Portanto, essa MP trata de usos específicos da

biodiversidade (patrimônio genético) e dos conhecimentos tradicionais

associados. Desse modo, a MP determina as regras para o acesso a esses

conhecimentos quando sua finalidade for a realização de pesquisa científica,

a bioprospecção e o desenvolvimento tecnológico.

Para gerenciar o acesso a esse tipo de conhecimento, foi criado o

Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), presidido pelo

Ministério do Meio Ambiente e composto por representantes de diversos

ministérios, sendo um órgão de caráter deliberativo e normativo criado pela

MP n. 2.186-16/2001. Ressaltando que a MP n. 2.186-16/2001 define

patrimônio genético como:

informação de origem genética, contida em amostras do

todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico,

microbiano ou animal, na forma de moléculas e

substâncias provenientes do metabolismo destes seres

vivos e de extratos obtidos destes organismos vivos ou

mortos, encontrados em condições in situ, inclusive

domesticados, ou mantidos em condições ex situ, desde

que coletados in situ no território nacional, na

plataforma continental ou na zona econômica exclusiva.

Portanto, para realização de estudo junto a populações tradicionais,

deve-se estar atento as proposições da MP mencionada, bem como solicitar

Saiba mais Sobre a CDB na Unidade 1 do eixo BSC, deste módulo.

Internet Acesse a MP °

2.052, de 29 de junho de 2000 pelo link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Antigas/2052.htm e a MP. N°

2.186-16, de 23 de agosto de 2001 pelo link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/2186-16.htm

Internet Obtenha maiores detalhes sobre a solicitação de autorização do CGEN acessando o link: http://www.museu-goeldi.br/institucional/cartilha.pdf

Page 18: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

autorização do CGEN a partir do preenchimento e encaminhamento de

formulário e da documentação listada no site do referido órgão. Observando

que as autorizações de acesso só podem ser solicitadas por pessoa jurídica,

isto é, pela instituição em que o pesquisador está vinculado.

No entanto, antes mesmo de submeter o projeto de pesquisa ao CGEN

é necessário submetê-lo ao Comitê de Ética em Pesquisa de uma instituição,

pois, esse comitê é responsável por avaliar e aprovar, ou não, o projeto antes

que seja realizado em seres humanos. Podendo também sugerir adequações

que assegurem a ilesabilidade dos sujeitos da pesquisa. Outro documento

importante que se deve ter em mãos é o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, no qual os sujeitos da pesquisa devem ser elucidados sobre a

natureza do estudo e a participação de cada um dos atores neste, a fim de

obter o consentimento da comunidade e/ou pessoas envolvidas no estudo.

V. Por que a Etnobiologia é um “processo emergente”?

A Etnobiologia surge como uma disciplina inovadora. Como seus próprios

métodos demonstram, busca trabalhar na interface existente entre as ciências

biológicas e humanas e/ou sociais, rompendo o paradigma das ciências

feitas em gavetas separadas. Separadas, muitas vezes, pela crença na

autossuficiência das áreas específicas da ciência, cada uma acreditando que

explica melhor os fenômenos naturais e sociais.

Mesmo que seja uma disciplina relativamente nova, já são observados

seus benefícios no que tange a valorização do conhecimento tradicional, que

até pouco tempo tinha-se suas práticas de tratamento, cura, rituais e

cerimônias como algo de outro mundo. Embora ainda hoje sejam frequentes

as expressões do tipo “você acredita nisso?”, “ah isso é conversa fiada”, “se

eu fosse você não mexeria com isso, pode dar errado” e outras tantas.

Apesar desses aspectos contra, sempre há aqueles que dão o merecido valor

a esse tipo de conhecimento e a Etnobiologia vem com métodos científicos

para provar sua validade, até porque se não fossem válidos não teriam

permanecido por tanto tempo entre as culturas.

Outro aspecto que deve ser considerado é que os inventários e

levantamentos etnobiológicos podem ser de grande utilidade para a

elaboração de propostas para a conservação de determinadas áreas, bem

como para a elaboração de planos de manejo. Isso porque acredita-se que o

manejo feito por essas comunidades são essenciais para a manutenção dos

ecossistemas nos quais estão inseridas, tendo em vista o tempo de

permanência nesses locais e as formas de manejo aperfeiçoadas ao longo do

tempo.

Deve-se levar em conta também o fato de que muitos estudos nesta

área têm desencadeado uma série de ações que beneficiam as populações em

estudo, como, por exemplo, a publicação de livros que enfatizam aspectos

culturais importantes para determinadas culturas e que assim podem ser

conhecidas por um número maior de pessoas; a elaboração de laudos ou

textos científicos que auxiliem essas populações em situações burocráticas;

organização de cartilhas informativas sobre práticas de plantio, colheita ou

fabricação de fitoterápico, que poderiam trazer mais benefícios para a

população; o próprio produto do estudo, monografias, dissertações e teses,

Page 19: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

como um documento da população estudada; produção de vídeos

documentários que mostrem o dia a dia nas comunidades, e outros. Todas

essas formas de retorno para a comunidade estudada é uma forma não só de

beneficiá-las, mas também de agradecê-las pela oportunidade de realização

do trabalho e de ter a possibilidade de encarar o mundo sobre outro olhar.

Atividade Complementar 3

Para finalizar, mais exercícios...

1) O que você entende por patrimônio genético?

2) Depois de conhecer maiores detalhes acerca das formas de acesso

ao patrimônio genético brasileiro no site indicado anteriormente, faça

sua crítica sobre a questão burocrática do sistema de acesso vigente.

3) Quais formas de retorno você utilizaria para recompensar a

comunidade imaginária que você trabalhou no exercício número dois

da atividade anterior?

4) Faça um pequeno texto discutindo como você entendeu os

principais pontos trabalhados nesta unidade.

VI. Referências

ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. 2. ed. Rio de Janeiro:

Interciência, 2005.

ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P.; CUNHA, L. V. F. C. (Org.).

Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobotânica. 2. ed. Recife: Comunigraf,

2008.

BERNARD, H. R. Research methods in cultural anthropology. USA: SAGE

Publication, 1988.

CARDOSO DE OLIVEIRA, R. O trabalho do antropólogo. 2. ed. Brasília:

Paralelo 15; São Paulo: Unesp, 2006.

CLÉMENT, D. The historical foundations of ethnobiology (1860-1899).

Journal of Ethnobiology, v. 18, n. 2, p. 161-187, 1998.

DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. (Org.). Saberes Tradicionais e

Biodiversidade no Brasil. Brasília: Ministério do meio Ambiente. São Paulo,

USP, 2001. (Biodiversidade 4).

DIEGUES, A. C. Etnoconservação da Natureza: Enfoques Alternativos. In:

DIEGUES, A. C. (Org.) Etnoconservação: novos rumos para a proteção da

natureza nos trópicos. 2. ed. São Paulo: HUCITEC, Nupaub, 2000.

ELISABETSKY, E. Etnofarmacologia. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 55, n.

3, jul./set. 2003.

Page 20: ETNOBIOLOGIA - nead.uesc.brnead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_8-bloco_1/uni_etnobiologia/... · biologia”, estando este diretamente relacionado com a ecologia humana, ... forma

MARQUES, J. G. W. O olhar (des)multiplicado. O papel do interdisciplinar e

do qualitativo na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. In: AMOROZO, M.

C. M.; MINGG, L. C.; SILVA, S. M. P. (Ed.). Métodos de coleta e análise de

dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas.

UNESP/CNPq, Rio Claro, Brasil, p. 31-46, 2002.

MASON, O. T. Aboriginal American zootechny. American Anthropologist,

v. 1, n. 1, p. 45-81, 1899.

MARTIN, G. J. Etnobotánica: manual de métodos. Montevideo: Nordan-

Comunidad, 2001.

MOREIRA, T. C. O acesso ao patrimônio Genético e aos conhecimentos

tradicionais associados e os direitos das comunidades indígenas e locais no

Brasil. In: MING, L. C.; CARVALHO, I.; VASCONCELOS, M. C.;

RADOMSKI, M. I.; COSTA, M. A. G. (Ed.) Direitos de Recursos

Tradicionais: formas de proteção e repartição dos benefícios. Botucatu:

Unesp, 2005.

MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou

Complementaridade? Cadernos Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p.

239-262, jul./set. 1993.

POSEY, D. Introdução – Etnobiologia: teoria e prática. In: RIBEIRO, B. (Ed.)

Suma Etnológica Brasileira. Etnobiologia. Petrópolis: Vozes, 1987. v. 1. p.

15-25.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3. ed. Revista e

ampliada. São Paulo: Atlas S. A., 1999.

ROCHA-COELHO, F. B. O uso das plantas no cotidiano da comunidade

quilombola Kalunga do Mimoso – Tocantins: um estudo Etnobotânico.

Dissertação (Programa de Mestrado em Ciências do Ambiente) PGCiamb,

Universidade Federal do Tocantins, Tocantins, 2009.

SANTOS-FITA, D.; COSTA-NETO, E. M. As interações entre os seres

humanos e os animais: a contribuição da etnozoologia. Revista Biotemas, v.

20, n. 4, dez. 2007.

SILVEIRA, E.; IKUTA, A. R. Y. Resumo Histórico do Desenvolvimento da

Etnobotânica no Brasil. Revista Logos, v. 10, n. 2, p. 25-29, jul./dez. 1998.