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RODRIGO CHAVES RIBEIRO ESTUDO DAS COMPLICAÇÕES DO CATETER TOTALMENTE IMPLANTÁVEL EM ONCOLOGIA PEDIÁTRICA: COMPARAÇÃO ENTRE A PUNÇÃO DA VEIA JUGULAR INTERNA E DA VEIA SUBCLÁVIA NO IMPLANTE DO CATETER. Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo para obtenção de Título de Doutor em Ciências. São Paulo 2008

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RODRIGO CHAVES RIBEIRO

ESTUDO DAS COMPLICAÇÕES DO CATETER TOTALMENTE

IMPLANTÁVEL EM ONCOLOGIA PEDIÁTRICA: COMPARAÇÃO ENT RE

A PUNÇÃO DA VEIA JUGULAR INTERNA E DA VEIA SUBCLÁVI A NO

IMPLANTE DO CATETER .

Tese apresentada à Universidade Federal de

São Paulo para obtenção de Título de Doutor

em Ciências.

São Paulo

2008

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Ribeiro, Rodrigo Chaves

Estudo das complicações do cateter totalmente impla ntável em oncologia pediátrica: comparação entre a punção da via jugular interna e da veia subclávia no implante do cateter . /Rodrigo Chaves Ribeiro. – São Paulo, 2008.

xv, 53 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo. Programa

de Pós-Graduação em Cirurgia e Experimentação. Study of complications in long-term totally implantable catheter for

pediatric oncology patients: comparison of subclavian vein and internal jugular vein puncture.

1. Cateteres de demora. 2. Cateterismo venoso central. 3. Embolia.

4. Cateterismo. 5. Protocolos de quimioterapia combinada antineoplásica..

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iii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

DEPARTAMENTO DE CIRURGIA

Chefe do Departamento: Profa. Dra. Lydia Masako Ferreira

Coordenador do Programa de Pós-Graduação : Prof. Dr. José Luiz Martins

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iv

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIRURGIA E EXPERIMENTAÇÃO

COORDENADOR: Prof. Dr. José Luiz Martins

TESE DE DOUTORADO

AUTOR: Rodrigo Chaves Ribeiro ORIENTADOR: Prof. Dr. Sérgio Tomaz Schettini CO-ORIENTADORA: Profa. Dra. Simone de Campos Vieira Abib TÍTULO: Estudo das complicações do cateter totalmente implantável em oncologia pediátrica: comparação entre a punção da veia jugular interna e da veia subclávia no implante do cateter. BANCA EXAMINADORA: 1- Presidente: Prof. Dr. Sérgio Tomaz Schettini Professor Associado da Disciplina de Cirurgia Pediátrica do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo MEMBROS EFETIVOS: 1- Prof. Dr. Alcides Augusto Salzedas Netto

Cirurgião Pediátrico, Doutor da Disciplina de Cirurgia Pediátrica do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo.

2- Prof. Dr. Antonio Sérgio Petrilli

Professor Associado da Disciplina de Especialidades Pediátricas do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo.

3- Prof. Dr. Antonio Gonçalves de Oliveira Filho

Cirurgião Pediátrico, Doutor do Centro de Investigações Hematológicas Dr. Domingos ª Boldrini da Universidade Estadual de Campinas.

4- Prof. Dr. Uenis Tannuri

Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Pediátrica da Faculdade de Medicina da Unversidade de São Paulo.

MEMBROS SUPLENTES: 1- Prof. Dr. Antonio Paulo Durante

Doutor, Assistente do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

2- Prof. Dr. Maurício Macedo

Diretor do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital Infantil Darcy Vargas.’

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v

DEDICATÓRIA

À minha esposa Ana Lúcia pelo amor, carinho e companheirismo.

A meus pais Joaquim e Helena ,

que iniciaram e incentivaram minha formação.

Aos meus irmãos Ricardo e Ronaldo (In memorian),

pela amizade.

A toda minha família,

e a todos aqueles que contribuíram com minha formação.

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vi

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao Prof. Dr. Sérgio Tomaz Schettini, Professor Associado da Disciplina de

Cirurgia Pediátrica do Departamento de Cirurgia e Orientador do Programa de Pós-

Graduação em Cirurgia e Experimentação da Universidade Federal de São Paulo, pelo

incentivo e orientação, não só neste trabalho, mas também pela formação acadêmica

desde o banco de graduação, pela orientação cirúrgica por toda residência médica e

pelo exemplo de médico integro e preocupado com o paciente. E, além de tudo,

agradeço pela amizade.

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vii

AGRADECIMENTOS

À UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, por me possibilitar estudar e

me graduar em medicina. Também por me possibilitar a formação em cirurgia geral e

cirurgia pediátrica. E, agora, cursar a pós-graduação.

Ao Instituto de Oncologia Pediátrica por ter possibilitado a realização deste

trabalho.

Ao GRAAC (Grupo de Apoio ás Crianças com Câncer ) por conseguir manter

um atendimento de qualidade às crianças com câncer.

A Prof. Dra. Simone de Campos Vieira Abib , Professora Afiliada Modalidade

Ensino da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental do Departamento

de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo, co-orientadora deste trabalho, por

todas as sugestões e conselhos, e, sobretudo pelo carinho e amizade.

Ao Prof. Dr. José Luiz Martins , Professor Titular da Disciplina de Cirurgia

Pediátrica do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo, pelo

incentivo a realização de trabalhos científicos desde a residência médica.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia e Experimentação,

pelo ensinamento em metodologia da pesquisa científica.

Ao Prof. Dr. Hélio Plapler, Professor Adjunto e Chefe da Disciplina de Técnica

Operatória e Cirurgia Experimental do Departamento de Cirurgia da Universidade

Federal de São Paulo e Prof . Dr. Murched Omar Taha , Professor Livre Docente da

Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental do Departamento de Cirurgia

da Universidade Federal de São Paulo, pela orientação de pesquisa de iniciação

científica no período da graduação em medicina.

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viii

Ao Dr. Alexandre Santos Aguiar, pela análise estatística e confecção dos

gráficos.

A Dra. Nasjla Saba Silva , Médica Oncologista do Instituto de Oncologia

Pediátrica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo, pelo

estímulo ao início deste trabalho.

Aos professores e médicos da Disciplina de Cirurgia Pediátrica por contribuir

com minha formação cirúrgica, em especial ao Dr. Renato Frota de Albuquerque

Maranhão.

A Ana Paula Schetini , enfermeira do Centro Cirúrgico do Instituto de Oncologia

Pediátrica do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo, pelo

auxílio durante a condução do estudo.

Aos residentes da Disciplina de Cirurgia pediátrica que participaram nos

procedimentos cirúrgicos: Drs. Martim Marcondes Castiglia, Luciano Onofre, Leonardo

Kawasaki e Camila Fachin.

A Sra. Maria Célia Pereira Leite pela revisão gramatical.

A secretária Valdelice Justiniano Soares , pela amizade e ajuda na formatação

do texto.

A todos os médicos e enfermeiros do IOP-UNIFESP, por contribuir no

atendimento aos pacientes oncológicos.

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ix

SUMÁRIO

Lista de Figuras ..................................................................................................... x

Lista de Tabelas .................................................................................................... xi

Lista de Gráficos ................................................................................................... xii

Lista de Quadros ................................................................................................... xiii

Lista de Abreviaturas e Símbolos .......................................................................... xiv

RESUMO ............................................................................................................... xv

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 3

3. MÉTODOS ........................................................................................................ 4

4. RESULTADOS .................................................................................................. 12

5. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 25

6. CONCLUSÕES ................................................................................................. 38

7. ANEXOS ........................................................................................................... 39

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 42

Abstract

Apêndice

Bibliografia consultada

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x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Cateter de longa permanência totalmente implantável. A:

componentes do cateter. B: CLP implantado ....................................

4

Figura 2. Posicionamento para punção da veia jugular. Visualização da

cabeça esternal e da cabeça clavicular do músculo

esternocleidomastoídeo. (Figura adaptada de Mcgee DC. N Engl J

Med. 2003; 348: 1123) .......................................................................

7

Figura 3. Punção da veia jugular interna com a técnica de Seldinger.

Presença do dilatador e do fio guia ...................................................

8

Figura 4. Introdução do cateter com retirada da bainha ................................... 9

Figura 5. Confecção do reservatório no tecido celular subcutâneo .................. 9

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xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Taxa de sucesso na tentativa de punção .......................................... 13

Tabela 2. Distribuição da idade (meses) nos grupos SCL e J ........................... 16

Tabela 3. Distribuição por sexo nos grupos SCL e J ......................................... 16

Tabela 4. Distribuição do peso (Kg) nos grupos SCL e J .................................. 16

Tabela 5. Número de plaquetas nos grupos SCL e J ........................................ 17

Tabela 6. Número de leucócitos nos grupos SCL e J ........................................ 17

Tabela 7. Lado do implante nos grupos SCL e J ............................................... 17

Tabela 8. Quimioterapia prévia nos grupos SCL e J ......................................... 18

Tabela 9. Cirurgia Ambulatorial nos grupos SCL e J ......................................... 18

Tabela 10. Procedimento único nos grupos SCL e J ........................................... 18

Tabela 11. Complicações tardias ............................. ........................................... 22

Tabela 12. Tempo de seguimento ....................................................................... 23

Tabela 13. Análise dos fatores de risco relacionados à infecção ........................ 24

Tabela 14. Análise dos fatores de risco relacionados à embolia ......................... 24

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xii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Distribuição da idade (meses) por marca de cateter dentro do grupo

subclávia ............................................................................................

19

Gráfico 2. Distribuição do peso (Kg) por marca de cateter dentro do grupo

subclávia ............................................................................................

20

Gráfico 3. Distribuição da idade (meses) por marca de cateter dentro do grupo

jugular ................................................................................................

20

Gráfico 4. Distribuição do peso (Kg) por marca de cateter dentro do grupo

jugular ................................................................................................

21

Gráfico 5. Curva de sobrevida do cateter (meses). Comparação entre os

grupos subclávia e jugular interna .....................................................

25

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xiii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Local de implante final após randomização........................................ 12

Quadro 2. Distribuição dos diagnósticos nos grupos........................................... 15

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xiv

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

cm centímetros

CLP cateter de longa permanência

dl decilitros

DP desvio padrão

EPM Escola Paulista de Medicina

F feminino

g grama

IOP Instituto de Oncologia Pediátrica

J Jugular interna

Kg quilograma

LH: linfoma de Hodgkin

LLA leucemia linfóide aguda

LMA leucemia mielóide aguda

LNH: linfoma não Hodgkin

m metro

M masculino

mg miligrama

ml mililitros

mm3 milímetro cúbico

n número

N não

NBL neuroblastoma

QT quimioterapia

RMS rabdomiossarcoma

S sim

SCL subclávia

SNC sistema nervoso central

TCG tumor de células germinativas

TW tumor de Wilms

UI unidades internacionais

UNIFESP Universidade Federal de São Paulo

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xv

RESUMO

Objetivo: Avaliar, por estudo prospectivo, a incidência de complicações relacionadas

ao implante e uso de cateteres de longa permanência totalmente implantáveis (CLP)

em crianças com câncer, comparando o implante por punção em veia subclávia (SCL)

com o implante por punção em veia jugular interna (J). Método: estudo prospectivo

com randomização da escolha da punção em veia subclávia ou veia jugular interna

para o implante do cateter. Foram considerados como desfechos as complicações que

levaram a retirada ou revisão do cateter. Resultados: 83 implantes foram

randomizados no período de janeiro de 2004 a abril de 2006 e acompanhados até

março de 2008. Dos 83 implantes selecionados 6 foram excluídos, permanecendo 43

pacientes no grupo SCL e 34 no grupo J. Não houve diferença estatística entre os dois

grupos em relação à: distribuição por idade, sexo, número de leucócitos no implante,

número de plaquetas, tipo de internação para cirurgia (ambulatorial ou não), se houve

quimioterapia prévia ao implante e quanto ao tipo de cateter. Na avaliação das

complicações se observou, incidência de infecção de 20% no grupo SCL e 11% no

grupo J (p: 0,44), incidência de embolia de 23% no grupo SCL e 8% no grupo J (p:

0,11), e incidência de complicações total de 51% no grupo SCL e 23% no grupo J (p:

0,02). A média do tempo de permanência do cateter foi de 12,6 meses para o grupo

SCL e 14,8 para o grupo J (p: 0,38). A análise por regressão logística mostrou que o

peso (p: 0,001) é um fator de risco envolvido com a infecção; e o peso (p: 0,020) e a

marca do cateter (p: 0,03) são fatores de risco para embolia. Conclusões : há maior

incidência de complicações tardias no grupo SCL. Os pacientes com menor peso

tiveram risco maior de desenvolver infecção. Pacientes com menor peso e a marca do

cateter são fatores de risco para a ocorrência de embolia do cateter.

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1 INTRODUÇÃO

As crianças com câncer, além dos esquemas de quimioterapia, também fazem

múltiplas infusões de medicações endovenosas e freqüentes coletas de exames. Tais

condições fazem com que esses pacientes cursem com dificuldade de acesso venoso.

O atraso ou mesmo a não administração da droga antineoplásica na velocidade de

infusão desejável constitui outra inconveniência das venóclises periféricas no

tratamento oncológico. Também existe o risco de extravasamento da droga,

determinando graves lesões dos tecidos vizinhos com importantes seqüelas que

podem comprometer a continuidade do tratamento. Desta forma, a utilização de

cateteres de longa permanência vai permitir um acesso venoso seguro e eficaz,

trazendo conforto, e garantia na periodicidade e ritmo de administração das

medicações. Pelas razões acima expostas, no tratamento das crianças oncológicas

tem-se utilizado cateteres de longa permanência (CLP) totalmente implantáveis

também conhecidos por seu nome em inglês de port-a-cath.

O CLP é composto por um cateter, normalmente de silicone, que se conecta a um

reservatório (Figura1). O cateter é posicionado em uma veia central e o reservatório é

mantido em uma loja confeccionada no tecido celular subcutâneo. Quando há

necessidade do acesso venoso, utiliza-se de uma agulha específica (agulha de Huber)

para se puncionar o reservatório, transfixando-se a pele.

No implante destes cateteres, podem ser utilizadas a dissecção ou a punção para

o acesso à veia central. A técnica por punção é a mais difundida, sendo a punção da

veia subclávia a mais utilizada (1,2,3,4,5,6). Alguns aspectos relacionados à técnica de

implante desses cateteres não estão ainda perfeitamente estabelecidos, como o melhor

local para se realizar a punção da veia central e a possível correlação do sítio de

escolha da punção com a maior ou menor ocorrência de complicações.

A análise das complicações com o implante e utilização do CLP tem sido motivo

de diversos estudos, nos quais são demonstradas várias complicações, tais como:

punção arterial acidental com hematoma, pneumotórax, arritmias cardíacas, lesão do

ducto torácico, hemotórax, trombose de vasos subclávios, extrusão do reservatório,

trombose da veia cava inferior, infecção local, dor clavicular crônica, desconexão

resultando em extravasamento, endocardite bacteriana, infecção sistêmica relacionada

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2

ao cateter, obstrução do cateter, por acotovelamento ou pela oclusão progressiva de

sua luz e a embolização do cateter para as câmaras cardíacas direitas (7,8,9,10).

Apesar dessa multiplicidade de possíveis complicações, existem poucos trabalhos

prospectivos sobre o uso de CLP (11,12,13,14,15), e poucos procurando demonstrar a

existência de correlação entre a incidência dessas complicações e a técnica de

implantação do cateter em crianças (16) .

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2 OBJETIVOS

2.1. Geral

Avaliar, por estudo prospectivo, a incidência de complicações relacionadas ao

implante e uso de cateteres de longa permanência totalmente implantáveis em crianças

com câncer.

2.2. Específico

Comparar o risco de complicações entre o grupo com implante por punção da

veia subclávia ao grupo da veia jugular interna.

Avaliar os fatores de risco para as principais complicações.

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3 MÉTODOS

O projeto de pesquisa foi submetido à apreciação e aprovação do Comitê de Ética

em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina

(UNIFESP-EPM) (Anexo 1).

Este é um estudo prospectivo para avaliação das complicações relacionadas ao

implante e utilização de cateteres de longa permanência em crianças com câncer.

Houve a randomização para o implante por punção na veia subclávia ou na veia

jugular. O estudo foi realizado no Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP) da UNIFESP-

EPM.

Figura 1. Cateter de longa permanência totalmente i mplantável. A: componentes do

cateter. B: CLP implantado.

Todos os pacientes que tivessem a possibilidade de implantação do CLP pela

técnica de punção no IOP pela equipe de cirurgia pediátrica no período de janeiro de

2004 a abril de 2006 foram selecionados para o estudo. Foram colhidos dados iniciais,

(Anexo 2), referente ao diagnóstico oncológico, idade, sexo, peso, exames laboratoriais

recentes, se houve quimioterapia prévia, se a cirurgia era única (apenas o implante do

cateter ou múltipla) e tipo de internação (ambulatorial ou não). Os pacientes com peso

superior a 6 Kg foram randomizados para técnica de punção na veia jugular interna ou

na subclávia. Os pacientes com peso inferior a 6 kg tiveram, preferencialmente, o

cateter implantado pela técnica de dissecção venosa e não foram incluídos no estudo.

A randomização (moeda para o alto) foi utilizada para a tentativa inicial de punção

venosa: jugular ou subclávia. No insucesso da tentativa inicial, o cirurgião optaria pela

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5

outra via de punção e, se houvesse insucesso também nesta segunda via, poderia se

optar pelo implante por dissecção. Os pacientes que foram randomizados e não

tiveram o cateter implantado por punção por alguma complicação do procedimento,

foram adicionados para análise das complicações da tentativa da punção

(complicações precoces), mas foram excluídos da avaliação das complicações tardias.

A indicação do implante do CLP se deu pela equipe de oncologia pediátrica. Todos od

procedimentos cirúrgicos foram realizados por um dos três cirurgiões do IOP da

UNIFESP-EPM acompanhado de um residente da Disciplina de Cirurgia Pediátrica da

UNIFESP-EPM.

3.1. Critérios de Inclusão

Foram incluídos no estudo todos os pacientes submetidos ao implante de cateter

totalmente implantável pela técnica de punção no IOP DA UNIFESP-EPM, no período

de janeiro de 2004 a abril de 2006. Os pacientes deveriam ter condições clínicas e

laboratoriais mínimas: hemoglobina sérica maior do que 8 g/dl, plaquetas séricas

maiores do que 50000/mm3, leucócitos séricos maior do que 1500/ dl e coagulograma

normal. Além disso, não poderiam estar em vigência de febre, infecção ou em uso de

antiobioticoterapia.

3.2. Critérios de Exclusão

Foram excluídos os pacientes nas seguintes condições:

- implante do cateter por dissecção;

- implante de outro tipo de cateter, que não o cateter de longa permanência totalmente

implantável.

3.3. Caracterização da amostra

Os pacientes incluídos no estudo foram caracterizados pela idade em meses no

momento do implante do cateter, pelo diagnóstico oncológico, pelos exames prévios ao

implante, se houve ou não quimioterapia prévia, pelo tipo de procedimento: se

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6

procedimento único (apenas o implante do cateter) ou procedimento combinado

(implante do cateter associado a outro procedimento cirúrgico) e pelo tipo de internação

(ambulatorial ou não).

3.4. Randomização

Os pacientes eleitos para o implante de cateter por punção foram randomizados,

após o paciente ter sido anestesiado e posicionado, para a punção da veia subclávia

ou para a punção da veia jugular interna. A veia de escolha pela randomização foi para

a tentativa inicial de punção. Havendo insucesso nesta punção, tentou-se a outra via.

Por exemplo, se a veia de escolha pela randomização tivesse sido a veia subclávia e,

após a tentativa não se conseguisse a punção desta veia, partir-se-ia para punção da

veia jugular interna.

3.5. Técnica Operatória

Os pacientes foram submetidos ao procedimento cirúrgico no centro cirúrgico do

IOP da UNIFESP-EPM sob efeito de anestesia geral e realizando-se

antibioticoprofilaxia com cefalotina 50 mg/Kg na indução anestésica. Os pacientes

permaneceram com rotação cervical para lado oposto ao procedimento, com um

pequeno coxim sob as escápulas, e posição de Trendelemburg. Utilizou-se o

clorexidine para anti-sepsia da pele. A paramentação cirúrgica foi completa (17,18,19).

Uma vez obtida a punção da veia central, a posição foi imediatamente revertida para o

proclive, objetivando-se a diminuição da pressão venosa no local da punção e o

conseqüente risco de hemorragia.

Em portadores de desnutrição importante, com escasso tecido celular

subcutâneo, deu-se a preferência a utilização do CLP neonatal, por possuir um

reservatório de menor volume, visando diminuir a possibilidade de extrusão. O

procedimento foi sempre realizado com auxílio de radioscopia para posicionamento

adequado do cateter e para o diagnóstico das possíveis complicações precoces como

o pneumotórax e o hemotórax.

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7

Foi utilizada a técnica de Seldinger para punção venosa (20). No implante na veia

jugular, a veia foi puncionada junto à borda medial da cabeça clavicular do músculo

esternocleidomatoideo dois cm acima da borda superior da clavícula, em direção ao

mamilo ipsilateral (Figura 2) utilizando-se da agulha de punção conectada a uma

seringa com soro fisiológico a 0,9%(21,22) .

Figura 2. Posicionamento para punção da veia jugula r. Visualização da cabeça

esternal e da cabeça clavicular do músculo esternoc leidomastoídeo.

(Figura adaptada de McGee DC. N Engl J Med. 2003; 3 48: 1123).

Logo após a obtenção de refluxo de sangue, a seringa era desconectada e

introduzido o guia metálico. Neste momento a radioscopia era utilizada para a

confirmação do adequado posicionamento do fio guia no átrio direito. O ponto de

punção era alargado com pequena incisão utilizando-se bisturi com lâmina número 15.

O introdutor foi avançado através do guia metálico, por 4 a 5 cm até que chegasse

dentro da veia (Figura 3). O fio guia em conjunto com o dilatador era retirado,

mantendo-se a bainha. Então, o cateter era rapidamente introduzido na bainha. A

bainha era retirada (técnica de “split-shealth”), e o cateter posicionado na transição da

veia cava com o átrio direito com auxílio da radioscopia (Figura 4). Uma pequena

incisão transversa de mais ou menos 2,5 cm era feita em região peitoral infra-clavicular,

para confecção da loja de tecido celular subcutâneo. O reservatório era fixo com dois

pontos laterais de nylon 4-0 ou 5-0 à aponeurose. O cateter era levado por trajeto

subcutâneo com o auxílio de um “passador”. O cateter era então conectado ao

reservatório o qual era posicionado na loja de subcutânea. A síntese da pele era

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8

realizada em dois planos com fio absorvível (figura 5). Deu-se preferência ao implante

do lado direito do paciente pela maior facilidade em se posicionar o cateter e para

evitar lesões do ducto torácico (23).

Figura 3. Punção da veia jugular interna com a técn ica de

Seldinger. Presença do dilatador e do fio guia.

Quando o implante era realizado na veia subclávia, também se utilizava da técnica

de Seldinger. Como parâmetro da punção, utilizava-se o ponto médio da clavícula. A

punção era realizada na borda inferior da clavícula com direcionamento da agulha para

um ponto imaginário dois centímetros acima da fúrcula esternal. A introdução do fio

guia, do dilatador, da bainha e do cateter se fizeram da mesma forma que a descrita

para a introdução do cateter na veia jugular. A incisão para a loja do reservatório era

feita, ampliando-se lateralmente o ponto onde havia se realizado a punção da veia. Ou

seja, a incisão transversa infra-clavicular passava sobre o ponto onde foi realizada a

punção. O cateter era conectado ao reservatório e a incisão fechada com fio

absorvível. No final do procedimento o cateter era lavado com solução de heparina

100UI/ml e mantido com curativo estéril.

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9

Figura 4. Introdução do cateter com retirada da bai nha.

Figura 5. Confecção do reservatório no tecido celul ar subcutâneo.

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10

3.6. Acompanhamento pós-operatório .

Na data do implante foram anotados os dados do local de implante, das

tentativas realizadas (sem sucesso) e das complicações imediatas como pneumotórax,

hemotórax, tamponamento cardíaco e arritmia.

Após o procedimento, a criança foi seguida no ambulatório de cirurgia pediátrica,

no setor de quimioterapia ambulatorial e no ambulatório de oncologia pediátrica do

Instituto de Oncologia Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo. Todas as

crianças seguiram a rotina padrão de cuidados com cateter do IOP.

No acompanhamento tardio foram considerados como desfechos (endpoints) os

eventos: complicação com necessidade de retirada ou revisão do cateter (embolia,

infecção, extravasamento, trombose, extrusão e fratura) e a retirada por fim de

tratamento. Foi mensurado o tempo de duração do cateter em meses (data do implante

até a data de retirada do cateter ou óbito do paciente). O período de observação do

estudo foi até março de 2008.

3.7. Análise dos Resultados

As complicações do uso do cateter de longa permanência foram divididas em

complicações precoces e complicações tardias.

3.8. Complicações Precoces

As complicações precoces foram definidas como aquelas que ocorreram até uma

semana da data de implante do cateter, e estão relacionadas principalmente ao

procedimento de implante do cateter.

Foram analisados os seguintes dados:

- taxa de sucesso de implante do cateter pela técnica de punção.

- incidência de complicações precoces: pneumotórax, hemotórax, hematoma, e

não-funcionamento do cateter.

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11

3.9. Complicações Tardias

As complicações tardias foram definidas como aquelas que ocorrerem após uma

semana da data de implante do cateter.

Para avaliação das complicações tardias, os pacientes foram divididos em dois grupos:

- grupo da veia subclávia: foram os pacientes que tiveram o cateter implantado por

punção na veia subclávia

- grupo da veia jugular interna: foram os pacientes que tiveram o cateter

implantado por punção na veia jugular interna.

Foi analisada a ocorrência das seguintes complicações: obstrução, extrusão do

cateter ou do reservatório, extravasamento, necessidade de revisão do cateter,

infecção com necessidade de retirada do cateter, desconexão (fratura) e embolia.

3.10. Análise Estatística

Os dados foram analisados com o teste do quiquadrado para as variáveis

dicotômicas, e o teste t de Student, para as demais variáveis, escalares ou não.

Fixou-se o nível de rejeição de hipótese nula em 0,05 ou 5%. Os cálculos foram

realizados com o programa para computadores R, versão 2.7.2 (24).

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4 RESULTADOS

Foram selecionados no estudo 83 tentativas de implante em 78 crianças. Cinco

crianças tiveram um segundo cateter após o primeiro ter sido retirado. Destes 83

implantes, seis (7%) foram excluídos, por insucesso no implante por punção. Destes

seis pacientes, quatro foram implantados por dissecção (1 em veia facial e 3 em veia

jugular interna), um foi implantado na veia femoral por punção e um paciente não teve

o cateter implantado devido à ocorrência de hemotórax e necessidade de drenagem. A

causa do insucesso da punção foi a não progressão do fio guia em cinco pacientes e

formação de hemotórax em um. Houve um caso de pneumotórax, em paciente que

teve tentativa de punção em veia subclávia e veia jugular e que o cateter foi implantado

por dissecção na veia jugular interna.

Das 83 tentativas de implante, 44 foram randomizados para tentativa inicial na

veia subclávia e 39 para veia jugular interna (Quadro 1). Dos 44 pacientes

randomizados para veia subclávia, 37 foram implantados em veia subclávia, cinco em

jugular e dois excluídos.

Dos 39 randomizados para jugular interna, 29 foram implantados em jugular, seis

em subclávia e 4 foram excluídos (Quadro 1).

No mesmo período, de janeiro de 2004 a abril de 2006, foram implantados 23

cateteres por dissecção (devido ao peso), e que não foram selecionados para o estudo.

Neste mesmo período, houve 1178 admissões de casos novos de neoplasia maligna

no IOP.

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13

Quadro 1 - Local de implante final após randomizaçã o

Randomização Final

SCL J Excluídos

SCL

44 37 5 2

J

39 6 29 4

Total

83 43 34 6

SCL: subclávia

J: jugular interna

A taxa de sucesso da tentativa inicial do implante foi de 84% para a punção da veia

subclávia e 74% para a jugular interna (Tabela 1). A taxa de sucesso para a técnica de

punção foi de 92,8%.

Tabela 1 - Taxa de sucesso na tentativa de punção

SCL 84%

J 74%

Teste χχχχ2

p: 0,81

SCL: subclávia

J: jugular interna

Complicação precoce

Das 83 tentativas de implante, houve três complicações: um hemotórax, um

pneumotórax e um hematoma cervical. O paciente com hemotórax necessitou

drenagem pleural, e a criança com hematoma cervical teve tratamento conservador. A

taxa de complicação precoce foi de 3,6%. A taxa de hemo/pneumotórax foi de 2,4%.

Nas duas crianças, as que tiveram hemo e pneumotórax, houve a tentativa de punção

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14

da veia jugular e da veia subclávia, desta forma, não houve a divisão por grupos para

as complicações precoces.

Caracterização dos Grupos

Para análise das complicações tardias foram excluídos os pacientes com implante

por dissecção. Os pacientes foram divididos em dois grupos: subclávia (n=43) e jugular

interna (n=34). Os diagnósticos dos pacientes estão descritos no Quadro 2. Os grupos

foram comparados em relação à idade (Tabela 2), ao sexo (Tabela 3), ao peso (Tabela

4), número de plaquetas (Tabela 5), número de leucócitos (tabela 6), ao lado escolhido

para o procedimento (Tabela 7), se houve quimioterapia prévia (Tabela 8), ao tipo de

cirurgia: ambulatorial ou não (Tabela 9) e tipo de procedimento: único ou cirurgia

múltipla (Tabela 10).

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Quadro 2 - Distribuição dos diagnósticos nos grupos

SCL J

Hematológico

LLA 10 9

LMA 4

Leucemia bifenotípica 1

Anemia de Fanconi 1

Linfoma

LNH 2 3

LH 2

Tumor sólido

TCG 1

NBL 3 7

Tumor hepático 2 1

RMS 5 2

TW 2 3

Sarcoma de Ewing 3

Osteossarcoma 2 1

Carcinoma de rinofaringe 1

Schwanoma 1

Tumor de SNC 6 5

TOTAL 43 34

SCL: subclávia

J: jugular interna

LLA: leucemia linfóide aguda

LMA: leucemia mielóide aguda

LNH: linfoma não Hodgkin

LH: linfoma de Hodgkin

TCG: tumor de células germinativas

NBL: neuroblastoma

RMS: rabdomiossarcoma

TW: tumor de Wilms

SNC: sistema nervoso central

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Tabela 2 - Distribuição da idade (meses) nos grupos SCL e J

Idade em meses

Grupo Média ± D.P. Mediana Mínimo-Máximo

Grupo SCL 72,3±72,3 36,2 5,7-292,7

Grupo J 82,1±72,9 67,1 5,2-250,9

Teste t de Student

p: 0,559

D.P.: desvio padrão

J: jugular interna

SCL: subclávia

Tabela 3 - Distribuição por sexo nos grupos SCL e J

SCL J

n % n %

total

M 25 58,1 22 64,7 47 F 18 41,9 12 35,3 30

total 43 100 34 100,0 77

Teste χχχχ2222 p: 0,593 n: número SCL: subclávia J: jugular interna M: masculino F: feminino

Tabela 4 - Distribuição do peso (Kg) nos grupos SCL e J

Peso (Kg)

Grupo Média ± D.P. Mediana Mínimo-Máximo

Grupo SCL 27,3±21,8 18,5 9,0-98,0 Grupo J 25,2±17,1 19,0 4,0-67,0 Teste t de Student p: 0,666 D.P.: desvio padrão J: jugular SCL: subclávia

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Tabela 6 - Número de leucócitos nos grupos SCL e J Leucócitos (número/mm3)

Grupo Média ± D.P. Mediana Mínimo-Máximo Grupo SCL 6872±4377 6000 1300-18500 Grupo J 6287±3813 5700 1500-18220 Teste t de Student p: 0,550

mm3: milímetro cúbico D.P.: desvio padrão J: jugular SCL: subclávia

Tabela 7 - Lado do implante nos grupos SCL e J

SCL J

n % n % total

D 31 72,1 28 82,4 59 E 12 27,9 6 17,6 18

Total 43 100

34 100,0 77

Teste χχχχ2222 p: 0,432 SCL: subclávia J: jugular n: número D: direito E: esquerdo

Tabela 5 - Número de plaquetas nos grupos SCL e J Plaquetas (número/mm 3)

Grupo Média ± D.P. Mediana Mínimo-Máximo Grupo SCL 268554±212560 226000 23000-10000000 Grupo J 365151±504331 2500000 87000-3000000

Teste t de Student p: 0,348

mm3: milímetro cúbico D.P.: desvio padrão J: jugular interna SCL: subclávia

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Tabela 8 - Quimioterapia prévia nos grupos SCL e J

SCL J

n % n % total

S 37 86,0 31 91,2 68 N 6 14,0 3 8,8 9

total 43 100 34 100,0 77

Teste χχχχ2222 p: 0,673 SCL: subclávia J: jugular n: número S: sim N: não

Tabela 9 - Cirurgia Ambulatorial nos grupos SCL e J

SCL J

n % n %

S 35 81,4 30 88,2 65 N 8 18,6 4 11,8 12 total 43 100 34 100,0 77

Teste χχχχ2222 p: 0,613 SCL: subclávia J: jugular n: número S: sim N: não

Tabela 10 - Procedimento únic o nos grupos SCL e J

SCL J

n % n %

S 34 79,1 25 73,5 59 N 9 20,9 9 26,5 18 Total 43 100 34 100,0 77

Teste χχχχ2222 p: 0,764 SCL: subclávia J: jugular n: número S: sim N: não

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Setenta e sete cateteres foram implantados no período do estudo. Sendo 58 da

marca Arrow® (Arrow International), 10 da marca Life-Port® (Instituto Erasto Gartner,

Brasil), 3 Polysite® (Laboratorie Perouse, França), 3 Lexel® (Titanium-Port-Lexel,

Argentina) e 3 Infuse-A-Port® (HMP, Estados Unidos da América).

A distribuição dos tipos dos cateteres nos grupos subclávia e jugular foi agrupada

em dois grupos: cateteres da marca Arrow e as outras marcas. A distribuição da idade

e peso entre os grupos (marca Arrow e outras marcas) dentro do grupo subclávia, está

ilustrada no Gráfico 1 e Gráfico 2. No grupo jugular, os mesmos parâmetros estão

ilustrados nos Gráficos 3 e 4

Gráfico 1 - Distribuição da idade (meses) por marca de cateter dentro do grupo subclávia.

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Gráfico 2 - Distribuição do peso (Kg) por marca de cateter dentro do grupo subclávia

Gráfico 3 - Distribuição da idade (meses) por marca de cateter dentro do grupo jugular.

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Gráfico 4 - Distribuição do peso (Kg) por marca de cateter dentro do grupo jugular.

Complicações Tardias

Os tipos de complicações tardias estão descritos no Quadro 3. As infecções

foram definidas como aquelas que levaram à retirada do cateter. As embolias foram

diagnosticadas em radiografias de tórax em pacientes assintomáticos, ou por algum

sintoma como dor e edema ao redor do reservatório ou ainda por dificuldade de infusão

da medicação. Em um paciente foi feito o diagnóstico de trombose de veia subclávia

em tomografia de tórax de rotina, este paciente era assintomático e o diagnóstico foi

confirmado com flebografia. Um paciente teve extrusão de parte do reservatório e foi

submetido à revisão do cateter com confecção de retalho local de pele para cobertura

do reservatório. No grupo do implante na veia jugular, houve um caso de fratura do

cateter junto à conexão com o reservatório, sem haver embolia. Neste paciente foi feita

a revisão cirúrgica com troca do reservatório. Ou seja, houve uma revisão por extrusão

reservatório no grupo subclávia e uma revisão por fratura do cateter no grupo jugular.

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Quadro 3 - Descrição das complicações por grupo

Grupo Descrição Número

SCL infecção 9

embolia 10

trombose 1

extrusão 1

Total 21

J infecção 4

embolia 3

fratura 1

Total 8

SCL: subclávia

J: jugular interna

A comparação das complicações entre os grupos está expressa na Tabela 11.

Tabela 11 - Complicações tardias

Grupos

SCL J p

Infecção 20,9% 11,7% 0,447

Embolia 8,8% 0,110

Total de complicações 48,8% 23,5% 0,025*

teste χχχχ2

SCL: subclávia

J: jugular interna

Todos os pacientes que sofreram embolia foram encaminhados para o Serviço de

Hemodinâmica da Disciplina de Cardiologia da UNIFESP no Hospital São Paulo. Houve

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sucesso na retirada de 12 dos 13 fragmentos cateteres. Neste procedimento de

retirada do cateter embolizado, utilizou-se a punção da veia femoral em 11 pacientes e

a punção da veia jugular interna em um paciente com trombose da veia cava inferior.

Um paciente necessitou de exploração cirúrgica da veia subclávia para retirada do

fragmento do cateter.

O tempo de seguimento do cateter com a comparação entre os grupos está

descrita na Tabela 12. O tempo de seguimento foi calculado como o tempo da data do

implante até ao desfecho final (retirada, óbito, revisão ou término do estudo).

A curva de sobrevida do cateter está ilustrada no Gráfico 5, considerou-se como

desfecho final a retirada do cateter, o óbito ou o término do estudo.

Tabela 12 - Tempo de seguimento

Tempo de seguimento em meses

Grupo Média ± D.P. Mediana Mínimo-Máximo

Grupo SCL 12,6±10,2 9,5 1,0-37,5

Grupo J 14,8±11,3 15 0,7-36,9

Total 13,7±10,6 11,3 0,7-37,5

Teste χχχχ2222

p: 0,368

N: número

D.P.: desvio padrão

SCL: subclávia

J: jugular

As principais complicações nos dois grupos foram a infecção e a embolia. Foi feita

a regressão logística com os dados dos dois grupos para identificar os prováveis

fatores de risco envolvidos com a infecção (gráfico 13) e embolia (gráfico 14)

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24

Tabela 13 - Análise dos fatores de risco relacionad os à infecção

Variáveis p

idade 0,052

leucócitos 0,925

peso 0,001*

seguimento 0,089

sítio de implante 0,846

marca do cateter 0,308

Teste t de Student

*o grupo que apresentou infecção tinha peso menor

Tabela 14 - Análise dos fatores de risco relacionad os à embolia

Variáveis p

idade 0,128

leucócitos 0,579

peso 0,020*

seguimento 0,089

sítio de implante 0,200

marca do cateter 0,038**

Teste t de Student

*o grupo que apresentou embolia tinha peso menor

**a comparação foi entre o grupo com cateter Arrow e o grupo com

cateter de outras marcas

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25

Gráfico 5 - Curva de sobrevida do cateter (meses). Comparação entre os grupos

subclávia e jugular interna.

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5 DISCUSSÃO

O acesso venoso é essencial no tratamento das crianças com câncer. Ele é

utilizado para coleta de exames e para infusão de medicação, quimioterápicos e

hemoderivados. No entanto, à medida que o acesso venoso é utilizado, sob o efeito

esclerosante dos quimioterápicos sobre as veias periféricas, ele se torna mais difícil.

Com a utilização das veias periféricas, fica limitado o adequado controle da velocidade

de infusão e mesmo a obediência precisa à quantidade de medicação a ser injetada.

Por essa razão, os cateteres centrais, principalmente os de longa permanência, têm-se

tornado um componente essencial nos programas de quimioterapia, porque trazem

conforto e segurança na efetividade e continuidade do tratamento. Mesmo com estes

benefícios, utilizamos o cateter de longa permanência com alguns critérios. As

indicações que utilizamos são: dificuldade de acesso venoso periférico, crianças com

programação para muitos ciclos de quimioterapia e crianças abaixo de um ano. Esta

estratégia diminui os custos envolvidos com o implante e manutenção do CLP e evita o

procedimento cirúrgico e o risco das complicações em quem vai ter pouco benefício

com a sua utilização (13).

Uma equipe multiprofissional que inclui oncologista pediátrico, cirurgião pediátrico

e enfermeira especializada é necessária para seleção dos pacientes, implante e

manutenção do cateter (4). Além disso, há necessidade de uma estrutura complexa

com: centro cirúrgico equipado com radioscopia; enfermeiras treinadas na punção e

manutenção do cateter; possibilidade de identificação e tratamento das complicações e

a necessidade de seguimento do paciente. Todo este aparato está presente em centros

especializados de oncologia pediátrica.

5.1.Tipos de cateteres

Os cateteres venosos centrais foram descritos inicialmente há mais de quarenta

anos por Dudrick (25). Na década de 70, Broviak e Hickman (26,27) introduziram os

cateteres tunelizados, inicialmente utilizados para nutrição parenteral total,

posteriormente utilizados como acesso venoso para pacientes submetidos à

quimioterapia e também transplante de medula óssea. Belin et al relatam a utilização

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27

de um cateter de Omaya (cateter originalmente utilizado para acessar ventrículos

cerebrais) como acesso venoso de longa permanência, com reservatório em

subcutâneo, ou seja, foi o precursor dos cateteres que conhecemos atualmente (28).

Em1982 foi descrita a utilização do cateter totalmente implantável para

quimioterapia(29), sendo seu emprego amplamente disseminado.

Os cateteres centrais de longa permanência podem ser classificados, então, como

parcialmente ou totalmente implantáveis. O cateter parcialmente implantável tem um

segmento externo e um trajeto no subcutâneo contendo uma bainha de teflon (cuff),

objetivando determinar precocemente a ocorrência de fibrose, com o intuito de

minimizar a incidência de infecção (30). Os principais exemplos desses cateteres são os

cateteres de Broviac e os cateteres de Hickman.

O cateter totalmente implantável ou port-a-cath corresponde a um cateter

conectado a um reservatório, que fica alojado no subcutâneo. O acesso ao cateter se

faz com uma agulha específica (agulha de Huber), por punção transcutânea.

O cateter totalmente implantável possui algumas vantagens sobre o cateter de

longa permanência semi-implantável. Não há componente externo, sendo menos

visível e mais aceito pelo paciente. Não determina restrições às atividades diárias, e

maior facilidade quanto aos cuidados locais (31). Há menor risco de infecção (14,32,

33,34,35), menor risco de trombose (4), menor custo e maior tempo de duração do cateter (36). Por estas razões, o cateter de longa permanência totalmente implantável é muito

utilizado em pacientes oncológicos, tanto em adultos como nas crianças.

Desta maneira, no Instituto de Oncologia Pediátrica da UNIFESP, adotamos a

utilização deste cateter para os pacientes que apresentam dificuldade do acesso

venoso ou com grande potencial de desenvolver esta dificuldade, particularmente nas

crianças com programação de muitos ciclos de quimioterapia.

Com a utilização sistemática do cateter de longa permanência, passamos a

observar algumas complicações já descritas na literatura. Tendo em vista o objetivo de

minimizar a incidência e a gravidade destas complicações, passamos a estudar este

assunto.

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28

5.2. Técnica

Para o implante do cateter totalmente implantável, realizamos inicialmente sua

introdução por punção em uma veia profunda, seguida do implante do reservatório em

uma loja confeccionada no tecido celular subcutâneo. O cateter é então conectado ao

reservatório. Em relação à punção venosa, há preferência para uma veia profunda

tributária do sistema cava superior. Reserva-se o implante em tributárias da veia cava

inferior quando há trombose da veia cava superior (37), síndrome da veia cava ou tumor

em região cervical e clavicular (38).

Em relação à loja no subcutâneo, para os cateteres posicionados nas veias

cervicais ou na veia subclávia, preferimos a região subclavicular. Há autores que

recomendam uma loja subaponeurótica, ou abaixo da musculatura, para os pacientes

com tecido celular subcutâneo muito delgado, devido ao risco de extrusão do

reservatório (4). Nestes casos, utilizamos um reservatório de menor altura o que

minimiza o risco de extrusão do cateter. O reservatório deve ser coberto por pele

íntegra, devendo a incisão estar fora da área de punção do reservatório.

O cateter pode ser implantado pela técnica de punção ou por dissecção da veia (37). Quando se utiliza a técnica de punção, utilizam-se os mesmos princípios da punção

de uma veia profunda. Pode-se utilizar a punção da veia jugular interna, veia subclávia

e também da veia femoral.

Durante o implante, é indispensável à utilização de radioscopia, para

posicionamento adequado da ponta do cateter (39,40). É recomendado que a ponta do

cateter seja posicionada na entrada da veia cava superior no átrio direito (30).

A maioria dos autores utiliza a técnica de punção na veia jugular interna ou

subclávia (4,23,41,42,43). Mesmo para os cateteres de curta permanência a técnica mais

utilizada é a punção da veia jugular ou da veia subclávia (2,20,44). No entanto, alguns

autores têm a preferência da punção da veia subclávia em pacientes adultos (11,33,41,42,45), e também em pacientes pediátricos (1,2).

A punção se faz pela técnica de Seldinger associada à tecnologia de “split-

shealth”. Prefere-se a punção do lado direito, em razão do ângulo mais agudo na sua

junção à veia inominada e a presença do ducto torácico à esquerda (46).

Na técnica de punção, os riscos são aqueles associados à punção de uma veia

profunda, como o pneumotórax e o hemotórax (4). No entanto, existem poucos

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29

trabalhos prospectivos e randomizados comparando as técnicas de punção para

acesso venoso central (44).

Na técnica de punção prefere-se o lado direito (23,46). Araújo et al referem 71% de

preferência pelo lado direito na punção da veia subclávia e 81% na da veia jugular, o

que é similar aos resultados obtidos no nosso estudo (15). Esta preferência se dá pela

maior facilidade em se posicionar o cateter pelo lado direito, devido à anatomia venosa,

e elimina-se a possibilidade de lesão do ducto torácico, que ocorre somente do lado

esquerdo. O lado esquerdo pode ser escolhido quando há suspeita de trombose da

veia jugular interna direita ou algum procedimento cirúrgico prévio na região cervical à

direita (46). Há autores, no entanto, que encontraram menor número de complicações

pela técnica de dissecção. A técnica de implante de cateter por dissecção da veia

cefálica tem baixa incidência de complicações em pacientes adultos (5,10,14,39,47), no

entanto, nem sempre é possível a dissecção desta veia, porque ela pode ser muito

delgada (37). Por isso, é pouco utilizada em crianças. Há descrição, também, de baixa

incidência de complicações imediatas, quando se utiliza a dissecção da veia jugular

externa para implante de cateter de longa permanência em pacientes adultos (49,50,51).

Também há relato de menor taxa de complicações do cateter implantado por

dissecção, quando comparado ao implantado por punção (16,36). Jablon et al também

sugerem que o implante por dissecção evitaria as complicações imediatas relacionadas

à punção (47,52). Em um estudo em pacientes pediátricos, não houve diferença

estatística entre as complicações do implante quando comparada à técnica de punção

da veia jugular interna com a dissecção da jugular externa, no entanto, o procedimento

para implante pela técnica de dissecção teve tempo menor de execução (16).

Apesar desta ampla discussão sobre a melhor técnica de implante do cateter;

dissecção ou punção deve sempre ser lembrado o fato de que a punção poderá ser

repetida muitas vezes e que com a dissecção perde-se definitivamente a veia

dissecada, sendo possível a realização do procedimento uma única vez.

Também em relação à melhor técnica de punção existem poucos trabalhos

abordando este importante aspecto em se tratando de crianças ( 22).

No implante é essencial a utilização da radioscopia para o correto posicionamento

da ponta do cateter e também para o diagnóstico de complicações precoces (4,53,54). A

ponta do cateter deverá estar na entrada do átrio direito o que diminuirá o risco de

trombose (4).

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30

Encontramos na literatura uma indefinição do melhor local de implante do CLP.

Desta forma, desenhamos o presente estudo com a finalidade de se analisar se o local

de implante do CLP tem relação com a incidência de complicações tardias. Foi um

estudo prospectivo e randomizado. Há na literatura escassos trabalhos deste formato,

principalmente na população pediátrica, o que justifica a sua realização. Os dois grupos

dentro do nosso trabalho não tiveram diferença na amostragem. Não houve

significância estatística na comparação dos grupos em relação aos seguintes

parâmetros: distribuição por idade, por sexo, por tempo de seguimento, lado do

procedimento, se houve quimioterapia prévia, tipo de internação (ambulatorial ou não)

e tipo de procedimento (único ou não)

5.3. Complicações

A incidência de complicações, referente ao implante e à utilização de CLP, é de

1,8 a 25% (4,11,33,48,54,55). Definimos como precoces aquelas que ocorrem até uma

semana do implante do cateter. As complicações imediatas ocorrem no momento do

implante como pneumotórax, hemotórax, taquicardia (49) e sangramento mediastinal e

foram compiladas neste estudo como complicações precoces.

5.4. Complicações Precoces

A incidência de pneumotórax encontrada neste estudo (2,4%) está na faixa

relatada na literatura: 1 a 6% (4,8,11,16,33,40,42,47,50,54,55). A incidência de hematoma, que no

nosso estudo foi de 1,2%, foi previamente descritas em 0,8% a 8% dos casos (8,9,16,55).

Araújo et al num estudo não randomizado realizado em adultos, comparando o

implante na veia subclávia e na veia jugular interna, referem maior incidência de

complicações imediatas na punção da veia subclávia (5% no grupo da subclávia e

1,5% no grupo da veia jugular, com p<000,1), com incidência de 1% de pneumotórax

no grupo subclávia e 0,3% no grupo jugular (15). Também refere maior incidência de

complicações tardias no grupo de implante na veia subclávia (15% no grupo da

subclávia e 7% no grupo da jugular, p<0,001). No nosso estudo não foi possível

comparar as incidências de complicações imediatas entre a punção da veia subclávia

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com a punção da veia jugular, já que os pacientes que tiveram pneumotórax ou

hemotórax sofreram tentativas de punção nas duas veias. No entanto, o estudo citado

corrobora com os nossos resultados, nos quais descrevemos maior incidência de

complicações tardias nos implantes na veia subclávia.

Há relato de maior número de pneumotórax quando há punção na veia subclávia (4). No entanto, Ruesch et al em revisão sistemática não encontraram diferença na

incidência de hemotórax ou pneumotórax, entre o implante de cateteres de curta

permanência implantados na veia subclávia ou na jugular, mas relata que a punção

arterial acontece com maior freqüência na punção jugular com um risco relativo de 3%

para punção jugular e de 0,5% para a punção subclávia (44). A punção arterial não foi

utilizada como parâmetro em nosso estudo, já que não a consideramos como uma

complicação a não ser que ocorra alguma repercussão como um importante hematoma

ou hemotórax.

Recentemente, há relatos de séries com a punção guiada por ultrassonografia

com baixíssima incidência de complicações precoces (46).

5.5. Sucesso na punção

Há pouca descrição no sucesso da veia escolhida para o implante do cateter.

Jablon refere 86% de sucesso quando a veia escolhida era a veia cefálica e 94% de

sucesso para o implante por punção da veia subclávia (47). Brothers descreve 0,9% de

insucesso de implante utilizando diversas vias de implante (42). Yip teve 100% de

sucesso de sucesso em 118 cateteres implantados por radiologista intervencionista (46).

A nossa taxa de sucesso para a técnica de punção foi de 93%, o que está semelhante

ao previamente descrito na literatura, sem diferença nos grupos subclávia e jugular.

5.6. Complicações tardias

5.6.1. Extravasamento

O extravasamento é uma complicação que normalmente decorre da ruptura da

membrana de silicone do reservatório (35,42). No entanto, Dillon encontrou 9 casos em

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296 cateteres nos quais o extravasamento ocorreu por perfuração da base do

reservatório pela agulha de punção em reservatório que não era de titânio (6). Houve

também dois casos de extravasamento da junção do cateter ao reservatório. Em nosso

estudo não encontramos nenhum caso de extravasamento por perfuração da base,

porque os cateteres utilizados têm base de titânio o que minimiza este risco.

5.6.2. Infecção

A infecção é uma das complicações mais comuns relacionadas à utilização do

cateter de longa permanência (54). Está descrita como a principal causa de retirada de

cateter. No nosso estudo consideramos somente as infecções que levaram à retirada

do cateter. Ou seja, nas infecções que não melhoraram com tratamento clínico, a

hemocultura se manteve positiva após antiobioticoterapia, ou que eram causadas por

germes multirresistentes ou por fungos. É relatada também maior incidência de

infecções nos pacientes com doença linfoproliferativa em relação aos pacientes com

tumor sólido (54). A incidência varia de 4,8% a 8% (16,54). Yip descreve 4,2% dos

cateteres retirados por infecção, incidência de 0,13 por 1000 cateteres dia (46). Tsai teve

7,9% dos cateteres retirados por infecção em crianças. Biffi et al tiveram que retirar 8

(2,4%) em 333 cateteres implantados com tempo de seguimento de 180 a 732 dias,

por infecção (11) . A taxa de infecção no nosso estudo foi de 16,8%, 20,9% no grupo

subclávia e 10,7% no grupo jugular, esta taxa está mais alta que os trabalhos descritos,

mas na nossa casuística os pacientes são pediátricos, com 40% deles com doença

linfoproliferativa, o que justificaria esta diferença.

5.6.3. Trombose

A incidência de trombose em pacientes adultos varia de 0,3% a 28% (8,11,14,33,42,51,55) e em crianças é de 12% (30). A maioria dos casos de trombose é

assintomática. A incidência de trombose é similar para cateteres implantados em

subclávia ou jugular (30). Yip teve incidência de 1,7%, 0,05 por 1000 cateter / dia, em

cateteres implantados exclusivamente em jugular. Há relatos de maior incidência de

trombose em cateteres nos quais a ponta fica proximal a junção entre a cava superior e

o átrio (30,40). Por isso a importância de se posicionar o cateter com radioscopia.

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Há autores que descrevem a trombose da ponta do cateter. Esta se apresenta

como dificuldade de se aspirar sangue do cateter. Está associada a maior risco de

trombose venosa e menor tempo de duração do cateter (48). Em um estudo

experimental, observou-se que há a formação de um trombo envolvendo o cateter que

progressivamente é substituído por componente de células de músculo liso, colágeno e

célula endotelial (56).

Em nosso estudo houve baixa taxa de trombose (1,2%), provavelmente pelo

adequado posicionamento da ponta do cateter e pela rotina de cuidado do cateter.

5.6.4. Embolia do cateter

A embolia é uma complicação com possibilidade de morbidade grave. O cateter

tem tendência a sofrer embolia para as câmaras cardíacas direitas, podendo atingir a

artéria pulmonar ou seus ramos. O local mais comum de embolização é a artéria

pulmonar (57,58), mas há descrição de diversos locais de migração como veias hepáticas (58,59). O diagnóstico da fratura e embolia do cateter pode ser feito em pacientes

assintomáticos com radiografia de tórax de rotina com visualização de fragmento de

cateter embolizado no interior da silueta cardíaca. Alguns sinais e sintomas podem

indicar esta complicação tais como: dificuldade de infusão; ausência de refluxo de

sangue; extravasamento, dor ou edema ao redor do reservatório durante a

infusão(59,60,61). Também há a descrição de arritmia provocada por cateter embolizado (62). Em alguns pacientes o diagnóstico pode ser feito durante o procedimento de

retirada do cateter, quando se verifica fratura e a falta de um segmento.

Recomendamos o exame clínico por palpação do cateter antes de programar a sua

retirada. Em crianças, costuma ser fácil a palpação para se avaliar se o cateter está

fixo ao reservatório ou não. O diagnóstico da embolia e a localização do fragmento

embolizado podem ser feitos com radiografia simples de tórax, radioscopia,

ecocardiografia ou ultrassonografia com efeito doppler (61). Apesar da maioria dos

casos ser assintomática, há descrições de complicações mais graves como arritmia,

embolismo pulmonar, trombose, sepse e perfuração cardíaca (57). A embolia de

fragmentos de cateter, tanto de curta quanto de longa permanência, é cada vez mais

relatada na literatura. Supomos que este fato seja justificado pela maior utilização ou

também pela maior facilidade de diagnóstico desta complicação (58).

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34

A causa exata da desconexão e posterior embolização não é claramente

justificada na literatura. Aitken e Minton propuseram que o pinçamento do cateter entre

a clavícula e a primeira costela (síndrome de pinch-off) pode ser causa de obstrução ou

ruptura com embolia do cateter(63). Este fenômeno ocorre em alguns cateteres

implantados na veia subclávia. Algumas vezes é possível identificar esta compressão

por radiografia de tórax (pinch-off sign), onde se verifica o estreitamento do cateter.

Quando este sinal está presente se recomenda a retirada do cateter (60,64).

Mirza et al, em revisão da literatura de 120 casos de Pinch-off syndrome, verificou

que a apresentação desses casos se faz por dor ou inchaço no local do reservatório

em 60% dos casos, devido ao extravasamento pela secção do cateter. A maioria dos

casos (80%) tem secção completa do cateter ao diagnóstico, 10% tem obstrução e

10% secção incompleta (64).

Testes mecânicos de resistência feito em cateter embolizado demonstraram a

diminuição da força tênsil do cateter, e a microscopia eletrônica demonstrou fraturas

microscópicas próximas à região da quebra do cateter (65), além da diminuição da

elasticidade do cateter (66). Ou seja, é provável que, com a utilização prolongada do

cateter, este sofra alterações de suas características físicas e fique mais predisposto à

ruptura. Acreditamos que a ruptura pode ser desencadeada pela fricção mecânica do

cateter e também pela pressão hidrostática interna do cateter à medida que há a

infusão das drogas com pressão inadequadamente elevada em cateter com algum grau

de estenose de sua luz. É provável também que as medicações infundidas possam ser

causa de deterioração do material. Outra hipótese seria o stress mecânico pela

movimentação constante do cateter dentro do coração (57).

Liu descreve a maior experiência de embolia de fragmentos de CLP em pacientes

adultos (67). De 20 embolias, 18 fragmentos se encontravam em câmaras cardíacas e

dois na artéria pulmonar. Também encontrou com maior freqüência a ruptura na junção

do cateter ao reservatório (11/20) e atribui somente a um caso a síndrome de Pinch-off

como causa da ruptura e embolia. Nos nossos casos, também observamos que o

principal ponto de quebra do cateter ocorre na junção do cateter com o reservatório. O

cateter de silicone tem tendência a sofrer embolia, quando se rompe, porque é

maleável e leve (67). Acreditamos que, no implante na veia subclávia, quando há a

quebra do cateter, a embolia ocorre mais facilmente em comparação aos implantados

na veia jugular, porque há um trajeto de subcutâneo menor.

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A incidência é pouco descrita, Araújo e colaboradores descrevem a incidência de

0,4% de fratura e embolia nos cateteres implantados em subclávia e 0% nos

implantados na veia jugular(15). Jablon relata 3 embolias em 163 implantados em veia

subclávia e nenhuma embolia em 172 pacientes com cateter implantado por dissecção

na veia cefálica(47). Biffi et al descrevem 5 embolias em 297 pacientes com cateter

implantado em veia subclávia com tempo de seguimento de 180 a 732 dias, destes 3

foram assintomáticos (11). Brothres refere 6,4% em 329 cateteres, sendo 85 % do total

destes cateteres implantados em subclávia (42). Filippou cita 4 casos de embolia em

256 cateteres da marca Arrow implantados, com incidência de 1 fratura para 10000

cateter / dia (66). Chang et al relatam 6 embolias em 598 que foram implantados por

punção e nenhuma embolia em 533 cateteres implantados por dissecção (5). Apesar

destes relatos citados há autores que consideram esta complicação pouco notificada (67).

Em crianças, Dillon descreve quatro embolias em 296 cateteres, não descreve o

local exato do implante, mas foram implantados ou por punção da veia subclávia ou por

dissecção (6). Os fragmentos de cateter alojaram-se três no coração e um para artéria

pulmonar. O diagnóstico se deu por dor a infusão da medicação. Babu teve incidência

de duas embolias em 55 cateteres implantados em crianças, mas não descreve o local

de implante (35).

A embolia de cateter é pouco descrito na literatura, quando este é implantado por

dissecção. Há uma ligadura que fixa o cateter no ponto onde o cateter entra na veia.

Há relato de desconexão do cateter na junção do reservatório, mas sem embolia (9).

Acreditamos que o implante por dissecção pode limitar a embolia, mas não há estudos

sobre este assunto. Ainda preferimos a técnica de punção, porque na dissecção haverá

limitação dos sítios de acesso venoso.

A retirada do fragmento de cateter embolizado é recomendada em razão do

risco de morbidade severa e até fatal (57,61,65,67). A retirada percutânea é segura e

considerado procedimento padrão (57,58,60,61,67), mas há descrição de toracotomia com

atriotomia para retirada do fragmento (64,66). O sucesso da retirada dos fragmentos de

cateter varia de 70 à 100% (57,67). Os cateteres de poliuretano, após longo tempo de

permanência podem ficar aderidos ao vaso. Mirza et al descrevem um caso de

tratamento conservador, porque não se conseguiu retirar o cateter por via percutânea

por aderência do cateter à parede do vaso(64). Wilson et al descrevem este fenômeno

como cateter retido, e por causa do risco mínimo de embolia este autor não preconiza a

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retirada do cateter(68). Ele descreve três retenções de cateter em 200 casos. Esta

conduta não pode ser utilizada para os cateteres de silicone, porque, normalmente,

eles não se tornam aderentes aos vasos.

No nosso estudo encontramos incidência de embolia maior do que a descrita em

trabalhos prévios. A marca do cateter, segundo nossos resultados, parece ser um fator

de risco para embolia. Não encontramos estudos comparando este tipo de

complicação com a marca de cateter utilizada. Houve maior freqüência de embolia no

grupo subclávia em comparação com o grupo jugular, mas esta diferença não teve

significância estatística. Acreditamos que um estudo de maior casuística, poderia

concluir se realmente o cateter implantado em veia subclávia oferece maior risco de

embolia. No grupo jugular houve um caso de fratura de cateter junto ao reservatório

que não sofreu embolia. Acreditamos que o maior trajeto subcutâneo no cateter

implantado na jugular é um fator de proteção para embolia. Há tempo hábil de se fazer

o diagnóstico da fratura antes que o cateter sofra a embolia, como o caso relatado.

Acreditamos que os cateteres pré-conectados podem evitar tanto a fratura quanto a

embolia, porque evitariam a manipulação para conexão do cateter ao reservatório em

meio ao sangue e tecido gorduroso, prevenindo traumas ao cateter. Esta hipótese será

objeto de outro estudo.

5.6.5. Obstrução

Há descrição de obstrução por formação de trombo no interior do cateter. A

incidência descrita na literatura varia entre 7% (35) e 9% (9). Há a possibilidade de

utilização da uroquinase (69), streptoquinase (9) e heparina (9) para dissolução do trombo

no interior do cateter.

Há descrição de obstrução do cateter por depósito de carbonato de cálcio decorrente

de interação entre os quimioterápicos infundidos (70), mas não encontramos este tipo de

complicação na nossa casuística. Também é descrita a obstrução por dobra do cateter,

mas normalmente esta vai se apresentar com dificuldade de infusão, já nas primeiras

tentativas de uso do cateter (4).

Em nosso estudo não tivemos nenhum caso de obstrução que levasse à indicação

de retirada do cateter. Provavelmente a heparinização semanal evitou este tipo de

complicação, assim como a padronização e cuidados da técnica cirúrgica.

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5.6.6. Outras complicações

Há outras complicações descritas tais como a dor clavicular (8), erosão da pele

sobre o reservatório (extrusão) e estenose da veia subclávia.

Del Campo (1991) cita a estenose de subclávia com incidência de 1,4%(12). No

entanto, não descreve o quadro clínico e exame diagnóstico para esta complicação. A

dor em região clavicular à infusão da medicação, isto pode se dever à fissura do cateter

com extravasamento local e tem incidência descrita de 1% (8,60). A incidência de

extrusão é descrita em 1,5% (46). Em nosso estudo houve um caso de erosão (1,2%)

que necessitou revisão cirúrgica, em que se realizou retalho cutâneo local para

cobertura da lesão da pele.

Em nosso estudo não observamos nenhuma caso de ocorrência de dor clavicular

ou estenose de veia subclávia.

5.7. Retirada do cateter

O cateter pode ser retirado por término do tratamento ou por surgimento de

alguma complicação. As complicações que mais levam à retirada do cateter são: a

trombose e a infecção. A retirada por complicação varia de 6 a 22% (2,42,46,55). Há

autores que descrevem especificamente a retirada por

trombose ou infecção com incidência de 12 a 22% (42,55,71). E autores que descrevem

retiradas de cateter somente por infecção com incidência de 2 a 8 % (11,46). Em crianças

a retirada por infecção já foi descrita em 8% dos casos (46).

Wilson et al relatam dificuldade na retirada de 16% de CLP em crianças, com

cateteres de poliuretano, e sugerem que um fator de risco para esta dificuldade seria o

tempo de permanência (68). Esta dificuldade na retirada não é observada em cateteres

de silicone.

No nosso estudo a retirada ocorreu por complicação em 51% dos pacientes no

grupo subclávia e em 23% no grupo jugular.

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5.8. Tempo de Permanência

O tempo de permanência do cateter é variado, sendo principalmente dependente

da programação de quimioterapia. Em nosso serviço optamos por manter o cateter até

o término do tratamento a não ser que houvesse outro motivo para retirada do cateter

(infecção, extrusão, obstrução, etc). Araújo et al. obtiveram uma média de tempo de

permanência do cateter de 363 dias para os cateteres implantados na subclávia e 244

para os implantados na veia jugular (15). Brothers e colaboradores obtiveram uma média

de 257 dias em cateteres implantados em diversos sítios, 80% deles implantados em

subclávia (42). Povoski teve média de 255 dias(14). Poorter teve média de 181 dias em

169 cateteres, sendo 77% implantados por punção(55). Fillipou refere uma média de 165

dias em 256 cateteres implantados da marca Arrow(66). McCready 1991 uma média de

495 dias, acompanhando paciente até retirada do cateter ou óbito (72). Kock teve uma

média de permanência de 284 dias em 1500 cateteres em pacientes adultos(54).

Em crianças, Hengartner relata uma mediana de 738 dias em 155 cateteres em

crianças(2); Wilson obteve média de permanência de 29 meses em 200 cateteres

implantados em crianças com uma idade média de 5,9 anos(68). Becton obteve uma

média de 227 dias(3). Dillon de 425 dias em 296 cateteres inseridos em população

pediátrica, sendo 62% com diagnóstico oncológico (6).

Nesse estudo os CLP tiveram uma média de permanência de 410 dias, dado este

semelhantes aos descritos em população de crianças com câncer.

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6 CONCLUSÕES

6.1. Há maior incidência de complicações tardias nos pacientes que tiveram o

implante de CLP em veia subclávia, quando comparado ao implante em veia jugular

interna.

6.2. Os pacientes com menor peso tiveram risco maior de desenvolver infecção.

6.3. Menor peso do paciente e a marca do cateter são fatores de risco para a

ocorrência de embolia do cateter.

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7 ANEXOS

ANEXO 1

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ANEXO 2

FICHA DE IMPLANTE E SEGUIMENTO DO CATÉTER IDENTICAÇÃO Nome: SEXO: M F RG: Diagn.: DN DA Cateter Marca: Data implante: Local: IOP outro: Técnica implante: D P Randomização: VSCL VJI Não Veia VSCL VJI Vfacial VJE Outro Lado: D E Implante Complicação Não Sim : Ex.: Hb: Leuc.: Plaq: AP: TTPA: Peso: Qt prévia Não Sim Cir. ambulatorial Não Sim RETIRADA Motivo:

Infecção reservatório cateter Germe identificado: tto cateter prévio sim não Fratura sem migração Embolia Obstrução Término tratamento outros:

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8 REFERÊNCIAS

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pediatric patient population. J Pediatr Surg. 1986; 21(8):683-84.

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3. Becton DL, Kletzel M, Golladay ES, Hathaway G, Berry DH. An experience with an

implantable port system in 66 children with cancer. Cancer. 1988; 61: 376-78.

4. Kurul S, Saip P, Aydin T. Totally implantable venous-access ports: local problems

and extravasation injury. Lancet Oncol. 2002; 3: 684-93.

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ABSTRACT

Objetive: to evaluate prospectively the complications related to long term totally

implantable catheters in oncologic children, comparing the venopunction at the

jugular vein to that at the subclavian vein. Method: randomized prospective

study (jugular versus subclvian catheters). The endpoint was complications that

led revision of the catheter or its removal. Results: 83 catheters were implanted

from January 2004 to April 2006 and were followed until March 2008. 6 were

excluded and 43 were at the subclavian vein and 34 at the jugular vein. No

statistical differences were demonstrated concerning age, sex, leucometry,

platlets, type of admission (day-hospital or not), previous chemotherapy and

trade mark. Infection occurred in 20% of the patients with subclavian catheters

and in 11% of the jugular catheters (p: 0,44); catheter embolism occurred in

23% of the subclavian group and in 8% of the jugular group (p:0,11).

Complications occurred in 51% of the subclavian catheters and in 23% of the

jugular ones (p: 0.02). Subclavian catheters were used for 12,6 months X 14.8

for the jugular ones (p: 0.38). The logistic regression showed that weight is a

risk factor for infection (p: 0.001) and both weight and trade mark were risk

factors for embolism. Conclusions: Late complications were more frequent in

the subclavian group. Patients with lower weight had a higher risk for infection

and both weight and trade mark were related to a higher risk of embolism.

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