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15 DE OUTUBRO DE 2013 • ANO XXIII • N.º 264 • MENSAL GRATUITO DIRETORA MARIA EDUARDA ELOY • DIRETORA ADJUNTA DIANA CRAVEIRO JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA acabra DG/AAC conseguiu “reduzir a despesa” e “aumentar a receita”. Ricardo Morgado garante que o contrato que celebrou com a empresa Unicer foi “um grande empurrão financeiro de liquidez”. Pelo caminho, fica ainda por resolver o dinheiro que o InTocha e o OAF devem à AAC, um montante que ultrapassa os 250 mil euros DG quer fiscalização das normas de Ação Social pelo TC “Começo a afastar-me do jazz” Luísa Sobral em discurso direto PÁG. 18 PÁG. 5 PÁG. 4 Apesar de os associados da OAF não terem votado a cedência dos direitos desportivos do Futsal à AAC, a modalidade vai ser cons- tituída como Organismo Autóno- mo até ao final do ano. O presi- dente da pró-secção garante que a AAC não tem, nem vai ter que dispensar verbas para o Futsal. A modalidade sobrevive, agora, Pró-secção resiste com orçamento equilibrado sem intervenção direta da Associação Académica FUTSAL Um quarto na Casa da Esquina é o espaço da ação de Occupy. Tra- gédia e comédia dão as mãos nes- ta peça de realismo social. Teatro de intervenção OCCUPY Direção-Geral reduz dívida de 500 mil euros para metade @ Mais informações em acabra.net PÁG. 7 PÁG. 5 longe da alçada do Organismo Autónomo de Futebol (OAF), com um orçamento controlado e o apoio dos sócios. O Pavilhão Engenheiro Jorge Anjinho per- manece, para já, associado ao Futsal. PÁG. 9 PUBLICIDADE DIANA CRAVEIRO

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Edição nº 264 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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Page 1: Edição 264

15 DE OUTUBRO DE 2013 • ANO XXIII • N.º 264 • MENSAL GRATUITODIRETORA MARIA EDUARDA ELOY • DIRETORA ADJUNTA DIANA CRAVEIRO

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabra

DG/AAC conseguiu “reduzir a despesa” e “aumentar a receita”. Ricardo Morgado garante que o contrato que celebrou com a empresa Unicer foi “um grande empurrão financeiro de liquidez”. Pelo caminho, fica ainda por resolver o dinheiro que o InTocha e o OAF devem à AAC, um montante que ultrapassa os 250 mil euros

DG quer fiscalização das normas de Ação Social pelo TC

“Começo a afastar-me do jazz”

Luísa Sobral em discurso direto

PÁG. 18

PÁG. 5

PÁG. 4

Apesar de os associados da OAF não terem votado a cedência dos direitos desportivos do Futsal à AAC, a modalidade vai ser cons-tituída como Organismo Autóno-

mo até ao final do ano. O presi-dente da pró-secção garante que a AAC não tem, nem vai ter que dispensar verbas para o Futsal. A modalidade sobrevive, agora,

Pró-secção resiste com orçamento equilibrado sem intervenção direta da Associação AcadémicaFUTSAL

Um quarto na Casa da Esquina é o espaço da ação de Occupy. Tra-gédia e comédia dão as mãos nes-ta peça de realismo social.

Teatro de intervençãoOCCUPY

Direção-Geral reduz dívida de 500 mil euros para metade

@Mais informações em acabra.netPÁG. 7

PÁG. 5

longe da alçada do Organismo Autónomo de Futebol (OAF), com um orçamento controlado e o apoio dos sócios. O Pavilhão Engenheiro Jorge Anjinho per-

manece, para já, associado ao Futsal. PÁG. 9

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DIANA CRAVEIRO

Page 2: Edição 264

2 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

DESTAQUEEditorial

1. Apesar do jogo do empurrão, que se arrasta desde maio deste ano entre as direções do Organismo Autónomo de Futebol (OAF) e da As-sociação Académica de Coimbra (AAC), o Futsal vai sobrevivendo. O apoio dos sócios é um dos fatores mais apontados para a continuidade da modalidade, que se viu excluída do OAF, depois da direção do or-ganismo ceder os direitos desportivos à AAC. Independentemente de os direitos terem sido pedidos pela DG ou oferecidos à força pela dire-ção do OAF, o que choca é a facilidade com que interesses económicos se sobrepõem à manutenção de um projeto que dá grande visibilidade à cidade, dentro de modalidades desportivas amadoras. Lamentável é que, em vez de pensar em alternativas para travar o despesismo e assegurar em simultâneo a continuidade do Futsal, os responsáveis do OAF tenham optado pela alternativa mais fácil para economizar e tenham deitado fora o bebé, junto com a água do banho.

2. Lidar com uma dívida de meio milhão de euros e, ainda assim, tentar manter o funcionamento normal de uma instituição não é fá-cil. Compreendem-se as críticas que são dirigidas à DG/AAC quanto ao contrato que foi celebrado com a Unicer, já que o processo podia ter decorrido com mais transparência e com uma maior comunicação entre secções, núcleos e DG. No entanto, a situação em que a AAC se encontra é grave e sufocante. Os valores em dívida são demasiado altos para que uma estrutura consiga funcionar. Ainda assim, numa altura em que o ensino superior sofre cada vez mais ataques, o traba-lho reivindicativo de uma académica não pode ser deixado de parte.

A nível local, a DG/AAC pode procurar apoio junto dos movimentos estudantis para que não deixe de haver atividades apenas porque não há orçamento.

3. Numa nota final, sem festas, de forma despercebida, a Secção de Jornalismo assinalou no dia 3 de outubro, 30 anos. Foi quase por aci-dente que descobrimos a efeméride redonda. Não há documentos ofi-ciais, apenas os fundadores se recordam de como e quando começou. Para que não se esqueça novamente, aqui fica a nota e a auto-crítica de vivermos tão absorvidos com a produção de conteúdos da secção, que nos esquecemos que não somos os primeiros a ocupar este espaço. O nosso muito obrigado aos fundadores da SJ/AAC.

A direção

A situação em que a AAC se encontra é grave e sufocante.“

a angústia do amadorismo

DiretoraMaria Eduarda Eloy

Diretora-AdjuntaDiana Craveiro

Equipa Redatorial Andreia Isabel Gonçalves, Carla Sofia Maia, Daniela Gonçalves, Daniela Proença, Ian Ezerin,João Martins, Joel Saraiva, Luís Grilo, Pedro Martins

IlustraçãoWanda Dias

Publicidade Diana Craveiro - 239828096

Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: [email protected]

Tiragem 4000 exemplares

Paginação António Madureira, Catarina Carvalho, Ian Ezerin, Rafaela Carvalho, Tomás Capa

Colaborou nesta ediçãoCátia Cavaleiro, Eduardo Carvalho, Mariana Ribeiro, Miguel Malato, Teresa Borges

Colaboradores permanentesJoão Gaspar, José Neves, Pedro Martins, Pedro Treno, Rita Leonor Barqueiro, Rui Craveirinha, Samuel Ferreira

FotografiaAndreia Isabel Gonçalves, Beatriz Diogo, Catarina Carvalho, Daniel Eloy, Diana Craveiro, Joel Saraiva, Maria Eduarda Eloy, Rafaela Carvalho

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra

Ficha Técnica

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRADepósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Propriedade Associação Académica de Coimbra

BEATRIZ DIOGO

“A UC fez este regulamento com

os estudantes que conseguiram

construir propostas para

o tornar melhor”

Ricardo Morgado

Page 3: Edição 264

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 3

DESTAQUE

Os estudantes da Univer-sidade de Coimbra (UC) têm um novo Regulamen-

to Pedagógico (RP), publicado a 23 de agosto no Diário da Repú-blica. O documento revoga o re-gulamento que já estava em vigor desde 2008 e apresenta mudan-ças sobretudo ao nível das melho-rias de classificação e regimes de avaliação.

O presidente da Direção Ge-ral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Ricardo Morgado, explica que “a UC fez este regulamento com os estu-dantes, entre núcleos e DG, e conseguiram construir propostas para o tornar melhor”. Para além da participação destes elemen-tos, a vice-reitora da UC, Mada-lena Alarcão, ressalva que houve um período de discussão públi-ca, aberto a todos os estudantes, através de comentários e mensa-gens de correio eletrónico em que as propostas foram “mais pontu-ais e pessoalizadas” mas também objeto de análise e ponderação. Do mesmo modo, o representante dos estudantes no Conselho Ge-ral (CG), Luís Bento Rodrigues, considera que “todas as opiniões foram levadas à letra”, pelo que o documento “acrescenta alguns di-reitos aos estudantes”.

De uma forma geral, o novo re-gulamento tem sido bem aceite por todos os visados. O provedor do estudante, Rogério Leal, con-firma as reações positivas dos alu-nos e considera-o “muito melhor do que o anterior”.

“Para além da disponibiliza-ção na página da UC”, Madalena Alarcão adianta que foi “feita uma notificação aos estudantes sobre o assunto e divulgada, pelo Ucor-reio, uma informação sobre as principais alterações”.

Um dos objetivos da elaboração do novo RPUC, segundo a vice-

-reitora, foi “criar alguma trans-versalidade a todos os estudantes da UC”. Apesar disso, a direção da Faculdade de Economia da UC (FEUC) aprovou um modelo que limita as melhorias e as reinscri-ções a 12 ECTS cada, enquanto que as outras faculdades dispõem de 24 ECTS para uma das modali-dades. A DG e os núcleos de estu-dantes da FEUC estão a contestar essa medida, sem sucesso até ao momento. Ricardo Morgado de-fende que se “o estudante paga a mesma propina, tem o direito de gastar o mesmo tempo a estudar”.

A par disto, Luís Bento Rodri-gues conclui que “a FEUC, como qualquer outra faculdade, terá que rever os seus regulamentos pedagógicos, porque, uma vez que o documento entre em vigor, tem eficácia para todas estas uni-dades orgânicas”.

Melhorias com maiores alteraçõesA vice-reitora da UC garante que a revisão dos regulamentos não teve motivações económicas, mas “pedagógicas”. Segundo Mada-lena Alarcão, a necessidade de “acompanhar as transformações e os ensinamentos que vão ocor-rendo” foi uma das razões que determinou a criação deste regu-lamento, que não se diferencia em função dos ciclos.

Em relação às modificações verificadas, a vice-reitora afirma que uma das principais novida-des é a possibilidade de realizar uma melhoria de classificação “em qualquer unidade curricular, independentemente do ano em que foi feita e da possibilidade de a mesma já ter sido objeto de me-lhoria anterior”.

De acordo com o artigo 17º do RPUC, é ainda possível fazer me-lhoria de classificação de todas as componentes de avaliação, e não

apenas dos exames escritos ou frequências, bem como de unida-des curriculares creditadas e dis-sertações, estágios ou trabalhos de projeto. No entanto, e ao con-trário do que acontecia anterior-mente, para melhorar a classifi-cação numa unidade curricular o estudante tem agora de se inscre-ver de novo nessa unidade no ano letivo em que pretende realizar a melhoria.

Rogério Leal considera que o novo procedimento “é mais lógi-co, do ponto de vista de análise do trabalho que o estudante deve desenvolver”, mas admite poder ser “limitativo em algumas situ-ações”, uma vez que esta inscri-ção tem de respeitar os limites de crédito disponíveis. Neste senti-do, admite ser preferível que as reinscrições tenham um menor peso “para os ECTS totais em que a pessoa se pode inscrever”.

O RPUC passou a vigorar após a sua publicação, mas existem disposições transitórias que “per-mitem que neste ano letivo e no próximo, o regime das seis me-lhorias após conclusão de curso se mantenha em vigor”, conforme explica Luís Bento Rodrigues.

Regimes de avaliaçãomais claros“A definição muito mais clara do que são os regimes” é também, na opinião do provedor do estudante, um dos pontos que melhoraram com este regulamento. A partir de agora, segundo Rogério Leal, “é bem claro que todas as cadei-ras têm de ter uma avaliação, pelo menos em recurso, por exame, exceto em casos devidamente jus-tificados e que o Conselho Peda-gógico reconheça como válidos”. “Mas, antigamente, essa definição não era tão clara”, salienta.

Quando questionado sobre o cumprimento ou não do regula-mento por parte dos professores, Rogério Leal garante que “não têm outro remédio”, visto que o documento “é da universidade” e, por isso, “é para ser seguido”. Por seu lado, Luís Bento Rodrigues diz que “é preciso esperar um tempo para verificar a aplicabili-dade, ou não, destas normas pelos professores”. Apesar disso, ambos concordam que essa verificação vai ter de ser feita pelos próprios estudantes.

O representante dos estudan-tes no CG acrescenta ainda que “a maior parte do trabalho vai ter que ser feita agora, na conscien-cialização dos professores para as normas do RPUC, para os direitos dos estudantes, para os prazos e para as avaliações.”

Até ao fecho da edição, o jornal A Cabra não conseguiu obter res-posta do diretor da FEUC, José Reis.

Melhorias e regimes de avaliação foram as principais alterações do novo regulamento da UC, aprovado em agosto. O documento, que recebeu propostas de estudantes, foi criado numa tentativa de uniformizar as faculdades. A FEUC abriu exceções que DG e núcleos de estudantes estão a contestar. Por Maria Eduarda Eloy, Carla Sofia Maia e João Martins

“A FEUC terá que rever os seus

regulamentos pedagógicos,

porque, uma vez que o documento

entre em vigor, tem eficácia para

todas estas unidades

orgânicas”.

Luís Bento Rodrigues

Novo Regulamento Pedagógico reúne consenso entre estudantes

“ Penso que traz benefícios para os

estudantes relativamente ao regulamento anterior.

Não é necessário gastar dinheiro para fazer

melhorias, gastando-se antes créditos”.

Carolina AlvesEngenharia Biomédica

O QUE PENSAM OSESTUDANTES DO REGULAMENTO PEDAGÓGICO?

Parece-me injusto que tenha menos créditos que noutras faculdades”.

André Gomes Gestão

““Tenho créditos a mais

porque fiz as cadeiras todas do primeiro ano

portanto, eu poderia utilizar esses créditos para

fazer melhorias se estivesse interessada, é uma maneira

de os ocupar”.

Inês VideiraPortuguês

Acho que devem encontrar uma melhor forma, porque ocupar créditos com essas cadeiras, acho que já são demasiado poucos créditos que temos disponíveis para melhorias, mas não acho uma boa solução”..

Carina SoaresCiências da Educação

“ É bom fazer melhorias mas é um

bocado roubar a oportunidade de fazer

outras cadeiras. Depende da situação de cada aluno. No meu caso era capaz de me beneficiar um bocado,

porque tenho algumas cadeiras com 10 que se

calhar até gostava de melhorar”

Pedro MiguelLínguas Modernas

“Acho que pode prejudicar porque como ocupa créditos, implica mais carga horaria”.

Marta MagalhãesMedicina

Page 4: Edição 264

No último ano, as contas da Associação Académi-ca de Coimbra (AAC) têm

sido alvo de muitas críticas. O ce-nário traçado pelo presidente da Direção-Geral (DG) da AAC, Ri-cardo Morgado, quanto ao atual estado financeiro, não é positivo. “Estamos mal. Em primeiro lugar por dívidas que existiam [antes de tomar posse] e porque nestes últi-mos três anos houve uma quebra de receita”, avança. No total, a DG enfrentava, no início do mandato, uma dívida na ordem dos 500 mil euros, que conseguiu, desde o iní-cio deste ano, reduzir para metade, cerca de 250 mil.

Segundo o presidente, o valor da receita foi muito afetado pela di-minuição do lucro da Queima das Fitas (QF), que é depois distribuído pela DG, pelas secções culturais, desportivas, e pelos núcleos. Mor-gado explica que, em 2012, a QF teve apenas um lucro “à volta de 500 mil euros” quando, “há poucos anos, era à volta de um milhão”. Ao mesmo tempo que a receita foi diminuindo em dois anos conse-cutivos, a empresa que detinha a concessão do bar nos jardins da AAC, InTocha, “deixou uma dívida gigante” de mais de 200 mil euros.

Além dos processos em que a AAC é credora, a DG foi adiando pagamentos a fornecedores de “se-gurança, limpeza, entre outros”. Para agravar ainda mais a situação, a Festa das Latas e Imposição de Insígnias 2012 apresentou também prejuízo, algo que a DG “não estava à espera”.

Dívida externa e dívida internaPara contabilizar as dívidas, a DG distingue os valores que estão di-retamente ligados à DG, dos que estão relacionados com as secções. Ou seja, além da “dívida externa”, esclarece o presidente, existe tam-bém uma “dívida interna”, cujo va-lor “anda à volta de 150 mil euros” e onde a maior fatia cabe “ao Conse-lho Desportivo”. Ao mesmo tempo, várias secções da AAC enfrentam dificuldades financeiras. Para per-ceber qual o estado de cada secção, a DG avançou, este verão, com uma auditoria. O processo foi despole-tado por duas penhoras que ocor-reram em junho à Secção de Des-portos Náuticos e à QF, devido a dívidas que pertenciam à Secção de Karaté e à Secção de Basquetebol. Morgado lembra que “a dívida das secções, tal como a da DG, é uma dívida da AAC” pelo que é muito importante “perceber a situação real que existe”. Para ajudar no processo, o presidente avança que está a tentar ter “consultoria finan-ceira profissional” porque são “26 secções desportivas, 16 culturais, 26 núcleos, três conselhos e ainda

a QF, sob o mesmo número de con-tribuinte”.

Como resolver o problema?No início do mandato, em janei-ro, a DG/AAC percebeu que havia a necessidade de “reestruturar a casa”, o que, segundo Morgado, é “um misto entre reduzir despesa e potenciar receita”. A primeira ocor-reu sobretudo “ao nível de serviços, desde a segurança à limpeza, e às avenças com advogados”. Ao mes-mo tempo, a DG optou por “fazer um sacrifício na maior parte das atividades que teve”, fazendo coi-sas que eram “autossustentáveis” ou não realizando, de todo, ativi-dades que se revelassem dispen-diosas. A par com a contenção nos gastos, a DG conseguiu aumentar, nos primeiros meses deste ano, a receita. O principal trunfo passou pela celebração de um contrato com a empresa Unicer que, segun-do o dirigente associativo, “deu um empurrão de liquidez bastante grande”. Apesar de não adiantar

pormenores sobre valores, devido a cláusulas de confidencialidade do acordo, Morgado garante que se trata de um montante “muito ele-vado”. O contrato obriga a que to-das as secções, desportivas e cultu-rais, e todos os núcleos trabalhem com esta empresa, que é uma das principais fornecedoras de marcas de cerveja a nível nacional. Para o presidente da DG, este é um con-trato que traz vantagens para to-das as partes, porque “se todos o potenciarmos ” e “se trabalharmos em conjunto, seja num convívio de estudantes, na queima ou na lata-da, quanto mais conseguirmos po-tenciar o consumo de cerveja, mais nós vamos ganhar”; logo, “mais di-nheiro dá para distribuir por todos para as nossas atividades”.

Falta de consensoApesar de Ricardo Morgado garan-tir que o contrato traz vantagens para todas as partes, essa visão não é partilhada por todos. Segun-do o secretário-geral do Conselho Cultural (CC), Paulo Abrantes, o

acordo apenas “beneficia a DG e as Secções Desportivas” porque, neste caso, o “CC não é abrangido pelos apoios dados à AAC”, “não vê nenhum dinheiro”. Quanto ao processo de elaboração do contrato com a Unicer, Paulo Abrantes é crí-tico porque considera que o CC não fez parte da discussão e que “devia ter havido um concurso público”. “O CC e o Conselho Desportivo têm que estar na discussão e fomos completamente arredados”, conta. A única informação que chegou ao CC, explica, foi quando a DG “teve o cuidado de informar”, através do seu administrador, que “se quisés-semos fazer convívios tinha que ser com a Unicer”.

Da mesma opinião, a presidente do Núcleo de Estudantes de Medi-cina, Daniela Borges, que levou o contrato a discussão no Conselho Inter-Núcleos (CIN), diz não ter fi-cado “satisfeita” com a forma com que o contrato foi feito. Apesar de ter sido debatido em CIN, a estu-dante defende que “nunca ficou claro para os núcleos que iriam ser

condicionados por esse contrato” . Ricardo Morgado rejeita as críti-

cas e garante que “houve um con-curso”, já que reuniu “as duas prin-cipais cervejeiras do país, a Central de Cervejas e a Unicer”, e fez um “convite com as mesmas condi-ções”, tendo a DG decidido “pela melhor proposta”.

Quanto à falta de comunicação, Morgado lembra que “a DG é o órgão responsável por tomar este tipo de decisões”, e que apenas tem que “consultar os conselhos”. O dirigente garante que houve mui-tas “sugestões” dos conselhos que aplicou “no contrato ou que servi-ram de argumentação para a sua escritura”, acrescentando ainda que este foi um tema que esteve em “discussão em Assembleia Magna”.

Apesar da situação em que a AAC se encontra, o presidente faz um balanço muito positivo do seu mandato até agora: “se continuar-mos por este caminho, consegui-mos travar a dívida, e a AAC pode ganhar muito em qualidade no tra-balho que faz”.

A quebra acentuada dos lucros da Queima das Fitas 2013 e as dívidas a fornecedores foram problemas com os quais a DG/AAC teve que lidar

Dívida da AAC reduzida para metadeCATARINA CARVALHO

4 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

ENSINO SUPERIOR

A Direção-Geral da AAC já conseguiu reduzir a sua dívida de cerca de 500 mil euros para metade. Os limites na despesa e a celebração de um contrato com uma cervejeira, a Unicer, estão na origem da redução da dívida. Ricardo Morgado garante estar satisfeito com os resultados atingidos. Por Diana Craveiro

Page 5: Edição 264

AAC já tem três listas candidatas

Diana Craveiro

A Associação Académica de Coimbra (AAC) já conhece três projetos candidatos aos seus ór-gãos gerentes. Apesar de ainda não estarem marcadas, as elei-ções para a Direção-Geral (DG), que devem decorrer no final do mês de novembro, já mobilizam os estudantes.

Um dos candidatos já esteve aos comandos da direção-geral como vice-presidente em 2012, entre outros cargos. Samuel Vilela, dou-torando na Faculdade de Econo-mia da Universidade de Coimbra (FEUC), acredita que a experiên-cia que tem o pode ajudar “porque a estrutura [da AAC] é bastante complexa”. O estudante de 25 anos, ex-presidente do núcleo de Relações Internacionais, avança com a lista “Mais Academia”, con-siderando que a “continuação da reestruturação do funcionamen-to administrativo da AAC” é uma das prioridades para o projeto. Ao mesmo tempo, é necessária uma maior aproximação à academia, um processo que deve funcionar de uma maneira diferente do que tem acontecido. Samuel Vilela considera que a aposta deve pas-sar “pelas saídas profissionais, pela pedagogia e pela ação social”.

Da Faculdade de Direito da UC surge Bruno Matias, ex-presiden-te do núcleo, com o projeto “Tu tens lugar”. O estudante de 22 anos, atual membro do Senado da UC, explica que a candidatura sur-ge para “dinamizar a AAC”, já que é necessária “uma postura mais forte a nível político” e uma “apro-ximação efetiva aos estudantes”. O projeto, que teve apresentação oficial ontem, 14, tenta fazer um equilíbrio entre “estudantes mais jovens, com sangue novo” e estu-dantes “que já passaram por vá-rios órgãos da universidade, das faculdades e da AAC”.

Ainda sem candidato mas já com projeto definido, a platafor-ma ‘Universidade contra a Aus-teridade’ vai também avançar com uma candidatura aos corpos gerentes da AAC. Segundo Igor Constantino, um dos elementos do movimento, a lista vai apostar na “luta pelo ensino superior pú-blico”. Igor Constantino avança ainda que a plataforma vai con-vidar, oficialmente, o movimento “A Alternativa és tu”, para que haja “uma lista unitária à esquer-da”, já que é “trágico haver sem-pre duas listas com o mesmo pro-grama mas com cores partidárias diferentes”.

O atual presidente da DG/AAC, Ricardo Morgado, diz que “ainda não tomou uma decisão” quanto a uma nova candidatura.

DG quer que Constitucional fiscalize normas de Ação Social

Entre julho e setembro, a luta contra as propinas acalmou a nível local e a concertação entre académicas assumiu a linha da frente nas prioridades da DG

Ao efetuar o balanço de um ve-rão de atividade associativa, o pre-sidente da Direção-Geral (DG) da AAC, Ricardo Morgado, questiona se vale a pena continuar a lutar por mais fundos para a Universi-dade de Coimbra (UC), uma vez

que “os estudantes voltaram a sair prejudicados num momento em que a UC tinha que lhes dar uma resposta”, sublinhando que “não era a eles que tinha de se ir buscar mais financiamento”.

Ao longo do verão sucederam-se Encontros Nacionais de Académi-cas (ENAs) e Encontros Nacionais de Dirigentes Associativos (EN-DAs) nos quais a Associação Aca-démica de Coimbra (AAC) teve participação ativa. As resoluções de luta académica por uma ação social de qualidade renovam-se, enquanto que em Coimbra a uni-versidade aumenta a propina, contra a vontade dos dirigentes associativos locais.

A partir deste ano letivo, os es-tudantes da UC passam a pagar 1.065,72 euros de propina. O valor

foi aumentado em 30 euros, por recomendação do Conselho de Reitores das Universidades Portu-guesas (CRUP). Daí a um protesto consertado a nível nacional, foi um pequeno passo. Do ENDA de setembro, saiu a decisão de pro-testar semanalmente, nas chama-das “5as Feiras Negras do Ensino Superior”.

A contestação consiste em inter-venções semanais, à quinta-feira. Passa por publicidade em jornais, reuniões e apresentação de um ca-derno reivindicativo a entidades governamentais e a setores asso-ciados ao Ensino Superior (ES), como a Presidência da República ou o CRUP. Ricardo Morgado ex-plica que o objetivo é obter, neste início de ano letivo, “algumas res-postas a nível da ação social e do

financiamento do ES”. Justifica ainda a falta de um protesto lo-cal contra o aumento da propina, que avançou como possibilidade ao jornal A Cabra em julho, pelo empenho nas atividades reivindi-cativas concertadas entre todas as académicas. “Há muito tempo que não havia um protesto de âmbito nacional, e isso não fecha a que depois haja novos protestos ou que continuem”, declara.

Ao terminar o balanço, garante que “as associações académicas continuam em contacto direto através do ENA” e que, “no fim deste processo, será feita uma nova reunião do movimento as-sociativo, para decidir as futuras ações a desenvolver”.

com Luís Grilo e Daniela Proença

A DG/AAC procura apoio de grupos parlamentares e Provedor de Justiça para chegar ao TC

Luís GriloDaniela Proença

Propinas perdem relevo na contestação da AAC

O presidente da DG/AAC acredita chegar ao Tribunal Constitucional e ajudar os estudantes mais necessitados nos últimos meses do mandato

Todos os anos, cerca de um mi-lhar de estudantes fica sem bolsa de estudo, porque alguém no seu agregado familiar tem dívidas à Segurança Social e às Finanças. O número é dado pelo presiden-te da Direção Geral da Associa-ção Académica de Coimbra (DG/AAC), Ricardo Morgado, que de-fende que “o estudante não tem que ser prejudicado” mesmo que alguém na sua família deva “nem que seja um cêntimo” a estas ins-tituições. O dirigente associati-vo justifica que, uma vez que “a dívida tem titular, não pode ser transmissível”e, acrescenta ainda que a situação é injusta porque “a bolsa é um contrato do estado com os estudantes”, e não com os seus familiares. Ricardo Morgado duvida que a penalização dos es-tudantes nesta situação esteja de acordo com a lei. Nesse sentido, planeia, em conjunto, com outras Académicas, avançar com pedido de fiscalização ao Tribunal Cons-titucional. A proposta partiu da AAC, segundo Ricardo Morgado, e foi apresentada no Encontro Na-cional de Dirigentes Associativos (ENDA), realizado em setembro, no Instituto Superior de Engenha-ria do Porto (ISEP).

O presidente da DG espera ter

matéria jurídica consolidada até ao fim do mês de outubro para reunir com os grupos parlamenta-res, com o objetivo de conseguir a subscrição de 23 deputados neces-sários para a entrega da proposta ao Tribunal Constitucional (TC). Além do apelo na Assembleia da República, as académicas vão também solicitar a intervenção do Provedor de Justiça, José de Faria Costa.

Medidas locaisA nível local, a DG/AAC pondera “avançar por medidas judiciais mais imediatas, nomeadamente a providência cautelar”, segundo Ri-cardo Morgado. O dirigente asso-ciativo adianta que “caso todos os parceiros da AAC indiquem que há a possibilidade para tentar, pelo

menos a nível local, travar esse processo”, vão avançar com a me-dida, para que “que nenhum estu-dante em Coimbra fique excluído de bolsa por esse tipo de dívida”. Alguns elementos do corpo do-cente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC) estão a colaborar com a DG no sentido de construir a matéria ju-rídica, como revela Morgado.

O presidente da DG revela ainda que há situações em que estudan-tes carenciados contactam a AAC a fim de conseguir algum tipo de apoio. Salienta que “é importante que nessas situações os estudantes não tenham vergonha de falar, seja anonimamente ou frontalmente” porque, acredita, que podem ter ajuda para “resolver a situação” através da mediação entre a AAC

e os Serviços de Ação Social da UC.O facto de as condições de aces-

so ao ensino superior terem piora-do, na perspetiva de Ricardo Mor-gado, indica o desinvestimento nas futuras gerações. “Continua--se a olhar para o ensino superior e para os estudantes como algo que não é visto como uma prioridade por parte do estado”, constata o presidente da DG. “Há cada vez mais estudantes que não põem a possibilidade de ir para o ensino superior”, revela. Ricardo Mor-gado acrescenta que esta situação “é muito grave” porque “podemos correr o risco de ter uma geração que vai ser menos preparada do que a anterior e isso nunca acon-teceu na democracia portuguesa”.

com Maria Eduarda Eloy e Ian Ezerin

Maria Eduarda EloyIan Ezerin

RAFAELA CARVALHO

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 5

ENSINO SUPERIOR

Page 6: Edição 264

6 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

CULTURA

Parceria com a Queima das Fitas, menor despesa total e bilhetes gerais a baixo custo garantem sustentabilidade do evento

De 17 a 23 de outubro de 2013, no Parque da Canção, decorre mais uma edição da Festa das Latas. Sete noites, um cartaz assente na quali-dade nacional e bilhetes gerais a preço de saldo caracterizam a pri-meira festa académica deste ano letivo.

Com uma redução na ordem dos 40 por cento, o orçamento para a realização da Festa das Latas im-plicou um corte na despesa total do evento. O resultado negativo de 11 mil euros no ano passado e a cons-tatação de uma quebra na venda de bilhetes gerais, devido às capaci-dades financeiras dos estudantes, foram um alerta para a adoção de medidas que garantam a qualidade e sustentabilidade da Latada.

Segundo o tesoureiro da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Luís Lobo, a solução passou por uma “parceria com a Queima das Fitas”, a nível de infraestruturas e com uma “re-dução de cerca de 40 por cento no valor gasto com as bandas”.

O cartaz resulta, assim, de uma forte aposta na “imensa qualidade dos artistas nacionais”, que o te-soureiro espera que seja bem suce-dida.

Uma das medidas adotadas foi, ainda, a descida do preço do bi-lhete geral. Apesar do aumento do custo das entradas registado com a aproximação da data de início das Noites do Parque, “ainda assim o

preço é mais baixo do que nos anos anteriores”, garante Luís Lobo.

Latada mais solidáriaO grande objetivo da organização, realçou o tesoureiro, é dar a possi-bilidade de todos os estudantes po-derem participar nesta festa acadé-mica. “Nós somos uma associação de estudantes, representamos os estudantes e com esta crise enorme

são cada vez mais os que abando-nam o ensino superior”, afirma. Neste sentido, é apoiado o Fundo Solidário do Estudante. “À seme-lhança do que foi feito na Queima das Fitas do ano passado, foi esti-pulado um donativo em troca de convites, um euro para os pontuais e três euros para os gerais”, expli-ca Luís Lobo. O valor doado pode ser maior, caso os portadores dos

convites o entendam, aquando do levantamento das entradas.

O presidente da DG/AAC, Ricar-do Morgado, destaca a importância de se criar “formas e mecanismos para ajudar os estudantes com mais dificuldades.” Gerido pelo Instituto Justiça e Paz, o Fundo Solidário do Estudante é um desses exemplos, que, todos os anos, apoia dezenas de estudantes em dificuldades da Universidade de Coimbra. É “uma forma simples de angariar dinheiro que ajuda muita gente”, assevera o dirigente associativo. Ricardo Mor-gado desafia, ainda, a promoção de outras atividades do género, lan-çando o mote às diversas secções da AAC.

Apesar dos cortes orçamentais e com os gastos na contratação de bandas, as expectativas da organi-zação, em torno de mais uma edi-ção da Latada, são fortes.

Uma novidade é a disponibiliza-ção de um posto médico avançado durante o cortejo, numa parceria entre a Cruz Vermelha e a Proteção Civil de Coimbra, bem como uma ação de sensibilização promovida pelo projeto des.Liga da Liga Por-tuguesa Contra o Cancro, nos dias 18 e 19 de outubro.

Com origem no século XIX, a pri-meira festa académica dos novos estudantes tem início com a Sere-nata e o seu ponto alto é o cortejo, no dia 22. O bilhete geral das Noi-tes do Parque pode ser adquirido a 30 euros, na AAC ou nas diversas bilheteiras distribuídas pelas facul-dades.

Latada resiste a corte orçamental

Cátia CavaleiroMariana Ribeiro

A Festa das Latas tem, em 2013, um cartaz mais económico, para compensar orçamento menor

CATARINA CARVALHO

CULTURA AAC

7 dE novEmbro

CiClo “20 anos dE CinEma Portu-guês” - a Comédia dE dEus

Mini-Auditório SAlgAdo ZenhA

22h • entrAdA livre

14 dE novEmbro

CiClo “20 anos dE CinEma Portu-guês” - a bruxa dE arrois/balas E bolinhos

Mini-Auditório SAlgAdo ZenhA

22h • entrAdA livre

até 31 dE outubro

insCriçõEs Em Curso dE CinEmalogia Caminhos do CinEma Português

Centro de eStudoS CineMAtográfiCoS

entre 555€ e 795€24 E 26 dE outubro

troCas dE sElos

SeCção filAtéliCA

todo o diA • entrAdA livre

sEgundas E quartas

Ensaios orquEstra tíPiCa E ranCho

SAlA tó nogueirA

19h - 20h30 • entrAdA livre

26 outubro a 10 novEmbro

Curso FotograFia PrEto E branCo

Ateneu de CoiMbrA

16h - 19h

entre 50€ e 100€ SECÇÃO FILATÉLICA

CEC - CENTRO DE ESTUDOS CINEMATOGRÁFICOS

SECÇÃO DE FOTOGRAFIA

7 dE novEmbro

WorkshoP FotograFia by night Com raul botElho

bAr e JArdiM dA AAC

21h30 - 04h00 20€ A 40€

5 a 13 novEmbro

Curso FotograFia digital

SeCção fotogrAfiA

SAlA de forMAção - CAMpo Stª CruZ

17h30 - 20h30

entre 65€ e 100€

RÁDIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA

14 dE novEmbro

WorkshoP FotograFia dikas E trukEs Com PEdro Frias

SAlA de forMAção - CAMpo Stª CruZ

15h - 18h30 20€ A 40€

até 27 dE outubro

Cursos dE inFormação, loCução E téCniCa

inSCriçõeS nA SeCretAriA dA ruC

dAS 10h àS 12h dAS 14h àS 17h

até 18 dE outubro

rECrutamEnto dE voluntários

[email protected]

24 dE outubro

ClubE do livro

“A inSuStentável leveZA do Ser” de MilAn KunderA”

sEsla 21h30

SECÇÃO ESCRITA E LEITURA

CORO MISTO UNIVERSIDADE DE COIMBRA

15 dE outubro

Convívio do Coro misto da univErsidadE dE Coimbra

bAr rS

CÍCLO DE ARTES PLÁSTICAS DE COIMBRA

até 27 dE outubro

“a vanguarda Está Em ti | 55 anos do CírCulo dE artEs PlástiCas dE Coimbra | FragmEntos dE uma ColECção” Centro CulturAl de ÍlhAvo todo o diA - entrAdA livre

SOS ESTUDANTE

SECÇÃO DE FADO

Page 7: Edição 264

A utopia do Bando à ParteMulticulturalidade foi o fio condutor do segundo ciclo do projeto pedagógico d’O Teatrão. Nove jovens de cinco países deram corpo ao Bando à Parte durante o últimos anos

Efim, de 19 anos, natural da Rússia, é o que mora mais longe d’O Teatrão. Cerca de nove quiló-metros separam a Adémia do Ban-do à Parte, mas isso não é um pro-blema. Afinal de contas, afirma, “o que conta é a vontade de ir”. Alguns moram mais perto, outros mais afastados, mas ao fim do dia fica sempre a vontade de voltar. Gostam do grupo, gostam das au-las, gostam de teatro. Ao contrário de todas as atividades extracurri-culares que Carolina, também de 19 anos, experimentou, o teatro é o único onde se conseguiu manter e não desistiu ao fim de poucos meses. Os pais compreendem a sua decisão e não se opõem. Pelo contrário, incentivam a ida ao te-atro.

A cumplicidade é clara entre os nove jovens que formam o segun-do ciclo do projeto Bando à Parte. Brasil, Angola, Ucrânia, Rússia e Portugal: são vivências diferentes que se misturam, e que formam este grupo multicultural. Um gru-po onde o esforço e o trabalho es-tão presentes, mas ao qual se en-contra sempre inerente o prazer de pensar.

“O impacto que a atividade ar-tística tem é algo que não se vê a curto prazo, mas que é impres-cindível para qualquer pessoa”, explica a coordenadora do projeto pedagógico d’O Teatrão, Cláudia Pato. Criada em 2010, a iniciativa “Bando à Parte: Culturas Juvenis,

Arte e Inserção Social” foi conce-bida para “ligar a atividade artís-tica com a questão da cidadania”, uma ideia defendida pela compa-nhia. A formação artística foi dada a jovens entre os 14 e os 20 anos, oriundos de bairros sociais, muni-cipais e da periferia de Coimbra. Depois de uma primeira equipa, entre 2010 e 2011, o segundo gru-po teve início em janeiro de 2012 e terminou com uma apresentação final no início de outubro.

Ao longo dos últimos dois anos, os participantes tiveram uma for-mação específica nas áreas do tea-tro, música e dança. Para além da componente de formação, pude-ram assistir a espetáculos e visitar espaços culturais, exposições e zo-nas históricas.

Uma nova perspetiva da arteA formação artística levou os ele-mentos do projeto a olhar para o teatro de uma forma diferente. “Hoje em dia o teatro está muito desvalorizado: há pouca gente ca-paz de comprar um bilhete”, re-fere Daniela Duarte, de 19 anos. “ Eu própria também não o fazia, mas esta experiência alterou a mi-nha visão”, revela.

O facto de trabalharem com ida-des mais jovens é um aspeto que, para a diretora artística da Oficina Municipal do Teatro (OMT), Isa-bel Craveiro, é estimulante para os formadores. “A arte é utopia, há sempre a ideia de que o mun-do pode ser diferente e que po-demos mudar algo, mas vivemos

num país onde as pessoas estão desiludidas e acham que tal é im-possível”, sublinha. “Eles vão ter as suas vidas e é importante que cresçam com a ideia de que esta utopia é necessária“, acrescenta.

Com a formação sentiram-se ca-pazes de fazer coisas com as quais não sonhavam. Catarina Pratas, de 17 anos, refere que mudou psicologicamente e, ao longo do projeto, começou a “ganhar con-fiança”, a conhecer coisas sobre si própria “que não sabia que exis-tiam”.

O exercício final, HomeSwee-tHome, foi apresentado no início do mês na OMT. Segundo Cláudia Pato, esta é uma iniciativa que “não pretende formar atores, mas dar-lhes a oportunidade de contar

com referências artísticas às quais não teriam acesso de outra manei-ra”, ressalva.

Os jovens participantes mos-tram vontade de continuar no projeto, e alguns decidiram mes-mo estudar teatro, algo que para a diretora artística é muito im-portante, pois prova que “se sen-tem motivados para investir o seu tempo e tentar perceber o mundo de outra maneira”. A direção d’O Teatrão vai fazer um balanço des-tes últimos anos para perceber o que ainda pode ser melhorado. Para Isabel Craveiro, a avaliação já é positiva: “é muito bom quan-do eles dizem que querem fazer algo mais sério, significa que que-rem evoluir, correr outros riscos e ter outros desafios”.

Nove jovens de cinco nacionalidades constituíram o segundo grupo do Bando à Parte, cuja atividade terminou este mês

Teresa Borges

Um protesto em forma de arteFechada num dos quartos da Casa da Esquina, a peça Occupy pretende incitar o público à ação e ao corte com a passividade social

“A cultura é o lugar em que o poder encontra sempre os seus cúmplices”. A frase ouvimo-la em Occupy, o mais recente projeto da Casa da Esquina. Longe de se acomodar ao contexto social do presente, a peça pretende levar os espetadores para fora das suas

zonas de conforto e lutar pela afir-mação dos seus direitos, enquanto cidadãos.

As máscaras dos três atores - a balaclava, o capuz, a cara de Guy Fawkes – são elementos fortes de Occupy, que recordam ao espeta-dor a ligação à atualidade mediáti-ca e o transporta para um cenário de contestação à crise financeira atual. “Uma das questões é esta: quando tu vais ver um espetáculo e dizes ‘muito bem, vamos mu-dar o Mundo mas chegas a casa e sentas-te, tomas o teu chá e vais ver televisão - esta coisa às ve-zes irrita-me”, desabafa, em tom humorístico e, ao mesmo tempo, amargo, o encenador e ator de Oc-cupy, Ricardo Correia. O projeto partiu do festival britânico “The-

atre Uncut”, para o qual foram criados os textos que são interpre-tados na peça. Com ritmos e tons distintos, vários escritores de múl-tiplas nacionalidades retrataram a crise económica internacional. O resultado final reflete-se nos cinco textos selecionados para integrar Occupy.

“São várias peças sobre a crise, mas não são peças cinzentas, são peças com muitas cores e com muitos olhares diferentes de pa-íses tão distantes mas que provo-cam identificação no espetador”, resume Ricardo Correia. Há sátira crua ao capitalismo, drama e ter-rorismo subvertido, entre metá-foras que abundam e que são po-tenciadas pelo próprio espaço de cena: um pequeno quarto na Casa

da Esquina.A atriz Adiana Silva comenta

que as pessoas se sentem “mais in-timidadas” e há um “contacto mais próximo com o público porque não se está num espaço convencional”. Há, mesmo, nalguns momentos mais intensos da peça, uma sen-sação de claustrofobia e de con-fronto. São sensações negativas, que o ator Miguel Lança espera que incitem o público à atividade. “Estamos a viver um momento em que é preciso levar alguns murros no estômago”, afirma.

Até 9 de novembro, Occupy é interpretada todos os dias, pelas 21h30, na Casa da Esquina. Os bi-lhetes variam entre os cinco e os sete euros.

com Diana Craveiro

DANIEL ELOY

DIANA CRAVEIRO

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 7

CULTURA

Maria Eduarda Eloy

Page 8: Edição 264

8 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

DESPORTO

Assinalam-se este mês, 25 anos de Basebol em Coimbra

DESPORTO AAC

27 dE outubro

sC braga vs aCadémiCa

ligA Zon SAgreS

eStádio AXA

3 dE novEmbro

aCadémiCa vs bEnFiCa

ligA Zon SAgreS

eStádio CidAde de CoiMbrA

20 dE outubro

bElEnEnsEs vs aCadémiCa

tAçA de portugAl

eStádio do reStelo

tErças, quintas, sábados E domingos

trEinos dE basEbol

várioS horárioS

CAMpo de Stª CruZ

16 E 17 dE outubro

tornEio dE bilhar “FEsta das latas 2013”

várioS horárioS

eStádio CidAde de CoiMbrA

SECÇÃO DE BASEBOL

ACADÉMICA/OAF - FUTEBOL

SECÇÃO DE XADREZ

6 dE novEmbro

tornEio da sECção dE xadrEz

20h30

edifÍCio AAC

26 dE outubro

CasCais vs aCadémiCa

18h00

pAvilhão guilherMe pinto bASto

19 dE outubro

aCadémiCa vs lEõEs Porto salvo

16h00 pAvilhão engº Jorge AnJinho

PRÓ-SECÇÃO DE FUTSAL

SECÇÃO DE PESCA

20 dE outubro

CamPEonato dE ClubEs

penACovA

SECÇÃO DE BILHAR

16 dE novEmbro

aCadémiCa vs PEnaFiEl

tAçA dA ligA

eStádio CidAde de CoiMbrA

2 dE novEmbro

aCadémiCa vs vila vErdE

16h00

pAvilhão engº Jorge AnJinho

9 dE novEmbro

sC braga vs aCadémiCa

16h00

pAvilhão deSportivo de guAltAr

16 dE novEmbro

aCadémiCa vs bElEnEnsEs

16h00

pAvilhão engº Jorge AnJinho

10 dE novEmbro

Portugal aCadémiCa suPEr 2013

ChoupAlinho

19 dE outubro

aaC vs Cv lisboa - masCulinos

eStádio univerSitário, CoiMbrA

SECÇÃO DE VOLEI

20 dE outubro

nun’alv. gondomar vs aaCFEmininos

gondoMAr

26 dE outubro

C. naC. ginástiCa vs aaCmasCulinos

eStoril

27 dE outubro

aaC vs Cv avEiro - FEmininos

eStádio univerSitário, CoiMbrA

2 dE novEmbro

aaC vs Cv oEiras

masCulinos

eStádio univerSitário, CoiMbrA

3 dE novEmbro

boavista FC vs aaC - FEmininos

porto

Basebol da AAC: à procura de um home runPassados 25 anos da criação da modalidade em Coimbra, a Secção de Basebol volta à atividade e relança o Torneio da Latada

A primeira equipa de basebol de Coimbra formou-se há 25 anos. No dia 24 de outubro de 1988, dois ir-mãos, Sérgio e Bruno Medeiros, na altura estudantes da Escola Secun-dária Infanta Dona Maria, criaram a Black Tigers Team. Com a evolução da modalidade em Coimbra, a equi-pa deu origem à Secção de Basebol da Associação Académica de Coim-bra (SB/AAC).

O presidente da SB/AAC, Sandro Saltão, que aos 18 anos, segundo dados fornecidos pela secção, é a pessoa mais jovem na história da AAC a assumir a presidência de uma secção desportiva, faz um balanço dos tempos mais recentes da secção. “Nos últimos cinco ou seis anos, a Académica estava quase para acabar a secção de basebol”, revela. San-dro Saltão acrescenta que, ao fim de dois anos de luta, conseguiram “um campo não cheio, mas meio cheio” e “abateram todas as dívidas” dei-xadas por direções anteriores. Mas, “mesmo não tendo dívidas, não exis-tem muitos recursos disponíveis”, nem apoios, lamenta. “Quando a secção é bem gerida, o basebol tem

um grande impacto quer na cidade quer no resto do país, mas quando passa a ser mal gerida e o dinheiro é mal usado, qualquer desporto vai abaixo”, acusa o presidente.

O principal objetivo da secção, neste momento, segundo o presi-dente, é “tentar criar uma estrutu-ra de maneira a que o basebol em Coimbra seja sustentável”. De mo-mento, a SB/AAC não está inscrita na Federação Portuguesa de Basebol e Softbol, mas participa em compe-tições amadoras. Outra intenção da direção atual, nas palavras de San-dro Saltão, é “criar um grupo forte, de maneira a que daqui a uns anos a Académica consiga ganhar campe-onatos”.

No presente, existe uma equipa principal mista e núcleos de cap-tação, como o Clube Hospitaleiras Coimbra Basebol (CHC Basebol). Uma das jogadoras da equipa prin-cipal, Joana Neves, explica que no início veio “por curiosidade e porque era mais barato”. Acabou por gostar e ficar. Afirma que, visto de fora, o

basebol pode “parecer um bocado secante e muito parado, mas para quem está dentro é adrenalina cons-tante”.

Também a jogadora do CHC Base-bol, Lucie Esteves, conta como che-gou à secção de basebol. “Cativou--me conhecer as regras e conhecer um novo desporto”, recorda. O mais importante para Lucie Esteves é o “convívio, dá para nos divertirmos em conjunto”.

De momento, a SB/AAC planeia voltar a uma atividade mais regular com a reintrodução do Torneio de Basebol da Latada ainda este ano. A competição consiste no confronto entre duas equipas apenas, porque “um jogo de basebol pode demorar três horas e, às vezes, um torneio com mais equipas pode tornar-se complicado”, comenta Sandro Sal-tão. Este torneio celebra 20 anos dia 14 de novembro, desde a primeira edição.

Até à data de fecho da edição, não foi possível contactar um dos funda-dores da SB/AAC, Sérgio Medeiros.

Maria Eduarda EloyMiguel Malato

MARIA EDUARDA ELOY

MARIA EDUARDA ELOY

Page 9: Edição 264

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 9

DESPORTO

Futsal: um “filho” entre duas casas

A Associação Académica de Coimbra (AAC) pode es-tar em vias de cortar rela-

ções com o Organismo Autónomo de Futebol (OAF), caso as exi-gências da Direção Geral (DG), presidida por Ricardo Morgado, não sejam atendidas. A degra-dação das relações entre as duas entidades tem-se acentuado de forma progressiva ao longo dos anos, mas a cedência de direitos desportivos do Futsal à AAC, em maio passado, foi o ponto que marcou a rutura mais visível.

Ricardo Morgado acusou, a 9 de outubro, em conferência de imprensa, a direção do OAF de “falta de academismo”, não só pela exclusão do Futsal do or-ganismo, mas também por ter transparecido em Assembleia Geral (AG) de sócios do OAF, re-alizada dois dias antes, que os di-reitos desportivos da modalidade tinham sido passados para a AAC a pedido da DG. Ricardo Morga-do exige a retração das palavras do presidente do OAF, José Edu-ardo Simões e demanda, tam-bém, que o Pavilhão Engenheiro Jorge Anjinho seja adjudicado ao Futsal. Como medida adicional, para manter unidas as duas ca-sas, Morgado quer ainda que os lucros da sala do bingo do Estádio Cidade de Coimbra sejam pagos à

AAC, como definido em contrato, mas não concretizado em anos recentes.

Estas exigências estão todas in-terligadas, de alguma forma, com a história do Futsal. Este despor-to começou por ser integrado no OAF, para que o organismo ti-vesse modalidades amadoras que ajudassem a conquistar a gestão da Sala de Bingo de Coimbra. O regulamento do concurso de concessão incluía essa cláusula específica e a AAC cedeu o Fut-sal ao OAF. Como contrapartida, a casa-mãe recebia proveitos da gestão da sala. Contudo, segundo Ricardo Morgado, há anos que a AAC não lucra com o acordo e o valor que a OAF tem em dívida para com a associação aproxima--se agora dos “50 mil euros”.

Futsal mantém orçamento controladoApesar de não estar alheado des-tas questões, o destino do Futsal de Coimbra está já traçado. As únicas questões que ficam por decidir, para já, são o futuro dos direitos desportivos da atual pró--secção, em breve Organismo Au-tónomo (OA) e a utilização do Pa-vilhão Engenheiro Jorge Anjinho, que serve de base ao Futsal.

O presidente da pró-secção, João Almeida, admite que os di-

reitos do Futsal, que por agora são detidos pela AAC, possam voltar para o OAF, caso o pre-tendam. No entanto, adverte que depois de o Futsal se tornar OA, a situação muda: “aí já partirá do Futsal ceder, ou não, os direitos ao OAF”. Para já, e apesar de a pró-secção se manter na agenda da discussão pública, o trabalho da equipa e os treinos mantêm-se sem qualquer percalço aparente.

A DG requer também que o pa-vilhão Jorge Anjinho seja adjudi-cado ao Futsal, para que a práti-ca da modalidade não sofra com a reestruturação da pró-secção. João Almeida mostra-se confian-te em relação a este ponto. “Es-tamos a trabalhar com base num compromisso assumido pelo OAF de nos ceder o pavilhão e as bases necessárias para o funcionamen-to normal da secção de futsal”, explica. O presidente da pró-sec-ção acredita que o presidente do OAF “irá a continuar a cumprir o compromisso que assumiu”, em relação ao funcionamento do Futsal no pavilhão.

João Almeida defende que, ao contrário do que se tem comenta-do, em particular após a AG de 7 de outubro, o Futsal é “um ‘filho’ completamente independente e não necessita de qualquer tipo de apoio financeiro por parte da

AAC”. A personificação surge a propósito das vozes de alguns só-cios que, segundo João Almeida, comentaram que Ricardo Morga-do via no futuro OAF Futsal um filho indesejado para a casa-mãe. O presidente do futuro OA, que se deve constituir como tal até ao final do ano, explica que “o Futsal tem zero euros cedidos pela AAC e é independente”.

Vinca que, em anos anteriores, “não havia receitas que ajudas-sem a manter a estrutura”, que “tinha um custo próximo dos 170 mil euros” e arrecadava 25 mil euros em receitas. O saldo negati-vo foi contrabalançado pelo orça-mento do OAF, que garantiu o fi-nanciamento do Futsal, nos anos que o atual presidente da pró-sec-ção caracteriza como “poço sem fundo” e de gestão “sorvedora de dinheiro”.

No entanto, João Almeida des-taca a rutura da sua direção com o passado. “Neste momento te-mos uma época que está paga e que tem fundos para conseguir sobreviver até ao final da época”, ressalva.

Uma decisão surdaO projeto conta também com o apoio dos novos associados. “Em dois meses, a pró-secção conse-guiu mais de cem sócios”, revela.

João Almeida destaca ainda que grande parte dos novos membros “são também sócios do OAF, que gostam de Futsal e querem que a modalidade continue”.

Um dos fundadores do movi-mento “Académica 100% dos Só-cios”, Nuno Oliveira, afirma que “os sócios estão indignados com a forma como o processo decor-reu da parte da direção do OAF”. E adianta que, na sua opinião, “o espírito que esteve subjacen-te à decisão da última AG foi o de os sócios não quererem pôr em causa o Futsal”. No entanto, complementa, “não se discutiu verdadeiramente se pretendiam que a modalidade permanecesse no OAF ou transitasse para a DG/AAC”. O antigo vice-presidente do OAF, e responsável pelo Fut-sal até maio, Carlos Clemente, salienta, a propósito, que “a di-reção da Académica não cumpriu em seu tempo com os estatutos, conforme foi afirmado e assumi-do pelo departamento jurídico da OAF”, ao negociar com a AAC, sem submeter aos sócios a apro-vação da cedência dos direitos desportivos do Futsal.

Até à data de fecho da edição não foi possível estabelecer con-tacto direto com o presidente da Académica OAF, José Eduardo Simões.

A DG/AAC exige ao OAF a adjudicação do Pavilhão Engenheiro Jorge Anjinho ao Futsal como uma das medidas para evitar corte de relações entre as duas entidades

CATARINA CARVALHO

A direção atual da pró-secção de Futsal rejeita comparações com as antecessoras. O objetivo é sobreviver, pelo menos, até ao final da época com um orçamento controlado. Entretanto, a DG/AAC e o OAF mantêm divergências por resolver. Por enquanto, o Pavilhão Jorge Anjinho continua adjudicado ao Futsal, que tenta manter as rotinas, apesar de ser a razão da discórdia. Por Maria Eduarda Eloy

Page 10: Edição 264

O cenário previsto para a situação florestal portuguesa passa por um crescimento exponencial da monocultura de eucaliptos, devido à implementação de um novo decreto-lei

O decreto-lei 96/2013 prevê a abolição das restrições na arboriza-ção e rearborização do ecossistema nacional. Esta alteração legislativa, publicada a 19 de julho, vai favore-cer a plantação de espécies de rápi-do crescimento e de lucro imediato, das quais se destaca o eucalipto.

A nova legislação permite que, em áreas inferiores a dois hectares não seja necessária qualquer auto-rização formal para plantação. Os proprietários apenas necessitam de contactar os serviços florestais. O presidente da QUERCUS, Nuno Sequeira, adianta que o decreto--lei “pode vir a ter um impacto re-levante, na medida em que a área de eucaliptos em Portugal venha a aumentar”. No entanto, a plantação descontrolada de eucaliptais tem sido associada a um empobreci-mento do solo, isto é, o terreno fica cada vez mais seco e perde nutrien-tes, o que faz com que não tenha a mesma produtividade em culturas posteriores.

Se a tendência da plantação de espécies exóticas, como o eucalip-to, se confirmar, corre-se o risco de degradação do panorama florestal de Portugal, na medida em que as espécies autóctones começam a ser cada vez mais colocadas de lado por parte dos proprietários. O re-presentante da direção nacional da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Pedro Bingre do Amaral, afirma que “neste momento, um privado só planta carvalhos no seu terreno se tiver um especial afeto por eles”, porque “para um carva-lhal ser rentável precisa pelo menos

de 80 anos”.O presidente da QUERCUS aler-

ta que cabe às pessoas e aos pro-prietários não deixar que a nova legislação piore a situação florestal nacional, já que o eucaliptal, “ape-sar de ser uma fonte de rendimento mais imediata tem problemas mui-to maiores a nível da conservação

do solo”. As espécies autóctones tornam-se mais rentáveis a médio e longo prazo, visto que não provo-cam uma degradação tão forte do solo e são menos suscetíveis à pro-pagação de incêndios.

O eucalipto é uma das espécies economicamente mais rentáveis em Portugal, representando 400

milhões de euros por ano, em pasta de papel, como indica o engenhei-ro agrónomo especialista em so-los, Eugénio Sequeira. Contudo, o especialista explica que é possível aumentar ainda a rentabilidade desta espécie sem que seja neces-sário o aumento da área cultivada. “Dos 800 mil hectares existentes,

há entre 200 mil a 300 mil que produzem 15 a 20 metros cúbicos de madeira”, sustenta. “Mas nas pequenas propriedades, mal geri-das, não se obtêm sequer cinco me-tros cúbicos”, adverte o engenheiro agrónomo.

Para além do desaproveitamento da área, existe uma minimização dos lucros, dado que todas as des-pesas relacionadas com a manuten-ção e exploração dos terrenos são as mesmas independentemente do seu tamanho. “A empresa que vai colher o eucaliptal tem que deslo-car as máquinas: o preço da deslo-cação das máquinas e da limpeza é o mesmo tanto para dois hectares como para 400”, explica o especia-lista. “Portanto, o pequeno proprie-tário não tira rendimento, não lim-pa, não gere, e, muitas vezes, nem colhe”, lamenta Eugénio Sequeira.

Deflagração de incên-diosem eucaliptaisO eucalipto é uma espécie propí-cia à propagação de fogos visto que “quando há um incêndio que entra nos eucaliptais, os próprios óleos essenciais que existem nas folhas ajudam a combustão”, explica o co-ordenador para a área das florestas da QUERCUS, Domingos Patacho. Devido aos óleos voláteis presentes nas folhas, o fogo deflagra com faci-lidade, e por isso as folhas, “muitas vezes incandescentes”, e, também, a casca do eucalipto, podem “cau-sar os chamados focos secundá-rios”, ressalva.

O risco existente na formação destes focos pode advir da liberta-ção de tubos da casca dos eucalip-tos, que é uma forma de seleção na-tural para eliminar as trepadeiras na zona onde os eucaliptais são au-tóctones. Os tubos fazem “chami-né” e o fogo que arde no solo con-segue subir rapidamente até à copa das árvores e mais facilmente se propaga a outras árvores. “Quando o fogo está a arder dentro desses tu-bos, a parte de cima do tubo aquece mais, queimando-se mais depres-sa”, esclarece Eugénio Sequeira. “Desta forma, o tubo solta-se da ár-vore e, se está vento, esse tubo vai arder e faz uma projeção de fogo”, conclui.

com Pedro Martins

Menos biodiversidade, mais eucaliptosJOEL SARAIVA

Eduardo CarvalhoJoel Saraiva

O corte do eucalipto para produção de madeira é feito, em média, aos sete anos de idade

10 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

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Page 11: Edição 264

Museu projeta internacionalizaçãoO MNMC comemora o seu primeiro centenário de abertura ao público. A direção viabiliza a projeção internacional e pretende a curto prazo arrancar com a segunda fase de obras.

O Museu Nacional de Machado de Castro (MNMC) festejou os cem anos de abertura ao público. As co-memorações tiveram início em maio de 2011, “e começámos por fazer um conjunto de iniciativas para dentro da instituição, para criar aqui o sen-timento da importância de estarmos neste local”, refere a diretora do MNMC, Ana Alcoforado. Os festejos irão prolongar-se até 11 de dezem-bro deste ano, com uma agenda di-versificada, e terminam com o lan-çamento da publicação “100 Anos, 100 Obras”, que reúne as peças mais emblemáticas do espólio do museu. A responsável explica que esta “é a obra de todos quantos trabalharam aqui durante estes cem anos”.

Criado a 26 de maio de 1911, o MNMC abriu portas na cidade a 11 de Outubro de 1913, e “antes de o primeiro diretor tomar a decisão de instalar aqui [no paço episcopal] o museu, o próprio edifício em poten-cial já era um museu”. A instituição alberga em si um espólio que com-preende um vasto período cronoló-gico – desde o século I até ao século XX - destacando-se essencialmente a coleção de escultura em pedra e as galerias romanas.

Numa altura em que a conjuntu-

ra de crise tem vindo a acentuar o decréscimo de número de visitan-tes nos museus nacionais, o museu “está em contra ciclo”, conta a di-retora do MNMC. Ana Alcoforado garante que se registou um número crescente de visitantes graças à re-cente reabertura depois das obras, que triplicaram o espaço museoló-gico, entre 2004 e 2012. “É muito bom perceber que as pessoas com-preenderam” o motivo do encerra-mento, salienta Ana Alcoforado, e este é justificado pelo feedback po-sitivo que o museu tem recebido. A visitante Ilda Gonçalves comprova--o afirmando que “foi uma boa obra para a cidade. Demorou tempo de-mais, mas valeu a pena”.

Novas atividades de promoçãoA curto e médio prazo, a diretora ambiciona avançar com a segunda fase de obras, que passa pela adap-tação da antiga Igreja de São João de Almedina a um auditório, devido às necessidades do museu. Um dos objetivos da direção é, também, a sua promoção internacional. Ana Alcoforado conta que algumas estra-tégias já estão em curso em parceria com a empresa Turismo de Portugal. No entanto, a diretora alerta para a necessidade de se obter “alguns apoios institucionais e mecenáticos para poder avançar com uma cam-panha de divulgação”, mas lembra que “Coimbra não é uma cidade fá-

cil” a esse nível. Entre as hipóteses possíveis, a representante revela que para a divulgação do museu irá ser realizado um vídeo institucional. A instalação de um núcleo de conser-vação e restauro até ao final deste ano é outra meta. Ana Alcoforado divulgou que a instituição “obteve recentemente uma classificação em que foram atribuídas competências de apoio para a conservação e res-tauro da escultura em pedra a nível nacional”. Neste momento, o apoio é feito através de consultadoria e sensibilização, e posteriormente, “havendo recursos humanos, pas-sará também por intervenções na conservação e restauro das obras”, acrescenta.

Andreia Isabel Gonçalves João Martins

Biblioteca Joanina procura “mecenas” a nível mundial A Biblioteca Joanina é agora um elemento com mais visibilidade a nível mundial com a aprovação da sua candidatura à lista bienal do programa World Monuments Watch

A Universidade de Coimbra (UC) submeteu a candidatura da Biblioteca Joanina à World Mo-numents Fund (WMF) viabilizan-do um reforço de reconhecimen-to mundial deste monumento. A vice-reitora da UC, Clara Almeida Santos, explica que a UC espera encontrar “potenciais mecenas” que estejam interessados em de-fender e proteger o bem. A WMF é a mais importante organização

privada sem fins lucrativos de-dicada à preservação de lugares de herança cultural em todo o mundo. É nesta que está inserido o programa World Monuments Watch que anunciou, no passado dia 8, a inserção da Biblioteca Jo-anina na sua lista bienal e que, se-gundo a vice-reitora da UC, “abre muitas janelas”.

Este programa tem como fim a angariação de fundos para a sua salvaguarda e a estimulação das autoridades locais e da comuni-dade a desempenhar um papel ativo na proteção do património. Através da sua lista de 2014, a World Monuments Watch alerta internacionalmente para os pe-rigos que ameaçam o património mundial.

Infiltrações, humidade e flo-rescência de sal e problemas de gestão das condições climatéricas do interior da Biblioteca Joanina são os problemas apontados pelo

World Monuments Watch. São “questões estruturais, não são resolúveis com pequenas inter-venções”, justifica a vice-reitora. No entanto, a vice-presidente do WMF em Portugal afirma que o edifício está a precisar de imen-sos trabalhos na área da sua con-servação e manutenção, senão os problemas apresentados podem tornar-se “mais graves, colocan-do em risco o próprio patrimó-nio”. Ainda assim, garante que os objetivos da UC “estão muito bem traçados”.

Intervenções futurasA UC projeta agora um traba-lho de limpeza e saneamento dos mais de 50 mil livros que se encontram no edifício e, a mé-dio prazo, uma “intervenção em maior escala”, conta o diretor da Biblioteca Geral, José Augusto Bernardes. Com o aumento da procura turística, Clara Almeida

Santos assegura a continuidade dos intervalos entre as visitas dos grupos de modo a serem repostos os níveis de humidade e tempera-tura.

Apesar de os recursos terem de ser assegurados unicamente pela UC, o diretor da Biblioteca Geral lembra que a “Universidade não pode suportar sozinha os encar-gos que resultam da sua manu-tenção e do seu aproveitamento”. Com o novo corte de verbas que foi anunciado em reunião do Se-nado na passada quarta-feira, 9, “torna-se difícil cumprir com to-das as missões”, relembra Clara Almeida Santos. A manutenção do património tem um custo de dezenas de milhares de euros por ano e a intervenção de fundo, referida por José Augusto Ber-nardes, implicará gastos muito superiores, mas “quietos é que não podemos ficar” lembra a vice--reitora da UC.

Andreia Isabel Gonçalves

Entradas gratuitas no centenário do museu provocam grande afluência no passado fim de semana

ARQUIVO - RAFAELA CARVALHO

ARQUIVO - RAFAELA CARVALHO

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 11

CIDADE

momEntos marCantEs

1911-1913Fundação do Museu no antigo Paço Episcopal e abertura ao público.

1933-1935Início das primeiras

intervenções na área correspondente à igreja

românica e início do desaterro do criptopórtico.

1952-1962As galerias do piso superior do criptopórtico são totalmente desentulhadas e procede-se ao restauro das abóbadas.

Anos 70Abertura do primeiro piso do criptopórtico romano.

Anos 80 Início do processo de aquisição de terrenos adjacentes para a ampliação do museu.

2004Encerramento do museu

para as obras de ampliação.

2012Reabertura total do museu.

CENTENÁRIO DO MUSEU NACIONAL DE MACHADO DE CASTRO

Page 12: Edição 264

Agricultura europeia sofre mudançaAprovação do orçamento da UE precipita reforma da PAC. Setor vitivinícola sofre revisão. Quotas dos laticínios e do açúcar são abolidas

A Política Agrícola Comum (PAC) foi alterada durante o passado mês de Junho, uma década após a última grande mudança. Os três principais órgãos de decisão da União Euro-peia (UE) - o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e o Conselho de Ministros - chegaram a um acor-do sobre o conteúdo, que vai vigorar nos próximos sete anos.

A mais recente reforma foi uma consequência direta da aprovação do Orçamento da UE para o período entre 2014 e 2020. Tal como afirma o porta-voz do Comissário Europeu para a Agricultura e Desenvolvi-mento Rural, Roger Waite, “o mo-mento em que se decidiram quais os Estados-membros que recebem dinheiro, mostrou ser o momento certo para decidir como gastar esse dinheiro”.

Uma das alterações mais notó-rias resultou do envelhecimento dos agentes económicos do setor agríco-la. De acordo com o eurodeputado do Partido Socialista (PS), Luís Ca-poulas Santos, “a idade média dos empresários é elevadíssima”. Num esforço para inverter essa tendên-cia, a comissão estabeleceu como objetivo atrair as gerações mais jo-vens para a agricultura. Um dos me-canismos introduzidos para alcan-çar esse fim foi o pagamento direto. Roger Waite assevera a importância deste mecanismo ao referir o receio sentido pelos jovens, que veem “o investimento no setor como algo demasiado arriscado”. Em Portugal, a concretização deste objetivo tem criado expectativas positivas entre os agentes políticos. “Hoje temos cada vez mais jovens a virarem-se para a terra, muitos deles com for-mação superior”, assegura a eurode-putada do Partido Social Democrata (PSD), Maria do Céu Patrão Neves. A eurodeputada assevera ainda que “a inovação será trazida pelas novas gerações e permitirá que haja uma agricultura mais sustentável”. Con-tudo, a prossecução deste objetivo não pode ser desligada do desen-volvimento rural. Nas palavras da secretária adjunta da Confederação Nacional das Cooperativas Agríco-las (CONFAGRI), Aldina Fernan-des, “as pessoas só se instalam nos meios rurais se dispuserem de um conjunto de infraestruturas que garantam uma vida minimamente digna para elas e para a sua famí-lia”. Com as competências da UE li-mitadas a nível do desenvolvimento rural, a comissão tomou a decisão

de “sumarizar o número de opções e deixar a cargo dos estados-mem-bros o delinear dos programas que considerem adequados”, assevera Waite. A eurodeputada assume uma posição condicente, ao referir que “o espaço rural de um país como Portugal não tem qualquer seme-lhança ao de um país como a Holan-da ou como a Polónia”. Acrescenta que existe o risco de “uma norma idêntica e inflexível, comum a todos os estados-membros, servir melhor a uns e menos bem a outros”.

Reforma no setor vitivinícola gera controvérsiaNem todas as alterações obtiveram reações positivas. A substituição do regime de direitos de plantação do setor vitivinícola, a partir de 2016, gerou bastante controvérsia entre os intervenientes portugueses. Os estados membros passam a ter pos-sibilidade de aumentar a área de plantação de vinhas, o que se reflete nas quantidades da sua produção. De acordo com Roger Waite, o ob-jetivo desta mudança foi “criar a opção de expandir a produção, dan-do resposta à procura crescente no mercado internacional”. Contudo, “o risco da descida de preços em re-sultado do aumento exponencial da produção”, nas palavras de Capou-las Santos, levou à intervenção mo-deradora do Parlamento Europeu.

O acordo final acabou por estabe-lecer o limite “de aumento da área de plantação de vinha entre zero e um por cento”, afirma. “Mesmo um estado-membro como Portugal pode reduzir a zero esse direito de plantação”, acrescenta o eurodepu-tado.

O mesmo receio existe relati-vamente à qualidade do produto. “Sempre se privilegiou a qualidade em relação à quantidade” afirma a eurodeputada do PSD, que acres-centa que “o aumento da produção poderá não ser favorável a Portu-

gal”, posição partilhada com Capou-las Santos e com Aldina Fernandes.

Açúcar e leite com quotas abolidasA abolição de quotas do setor dos la-ticínios representou uma das derro-tas para o Parlamento Europeu. De acordo com Capoulas Santos “infe-lizmente, a proposta da comissão venceu, porque teve o apoio de uma maioria de deputados e de grande parte dos ministros da agricultura presentes no conselho”. O euro-deputado do PS alerta que, com o

aumento da produção resultante do fim do regime de quotas, “os preços tenderão a baixar para as explora-ções que têm mais dificuldades em competir, como é o caso das portu-guesas”. Porém, Capoulas Santos refere a possibilidade de esta subida de preços não se concretizar, graças “à crescente procura de produtos lácteos por países terceiros”.

No setor do açúcar, prevê-se que as quotas sejam abolidas até 2017, data “resultante do compromisso entre a comissão, que propôs que fosse em 2015, e o parlamento, que propôs 2020”, como refere Roger Waite. Ao contrário do que sucedeu no setor do leite, os efeitos da abo-lição das quotas açucareiras preve-em-se favoráveis a Portugal. Maria do Céu Patrão Neves afirma que “uma das principais preocupações, neste momento, é a de garantir que a refinadora portuguesa tenha matéria-prima suficiente para con-tinuar a laborar”, abrindo-se maio-res possibilidades de importação. O final das quotas do açúcar abriu também a hipótese ao regresso, até 2015, ao cultivo da beterraba sacari-na, “cuja produção foi abandonada em 2006”, refere a eurodeputada. “Os antigos produtores de beterraba consideram que têm boas condições para regressar ao cultivo: a fábrica, que entretanto foi desativada, tem todo o interesse em voltar a inves-tir”, acrescenta.

DANIEL ELOY

“Hoje temos cada vez mais jovens a virarem-se para a terra, muitos deles com formação superior”, assegura Maria do Céu Patrão Neves

A nova reforma da Política Agrícola Comum (PAC) resultou numa mudança em diversos domínios. Anteriormente, os subsídios eram atribuídos aos agri-cultores em função das quantidades que produziam. Este sistema criava duas grandes desvantagens: alguns setores eram favorecidos em detrimento de ou-tros, por produzirem maiores quantidades, da mesma forma que os países com vantagens naturais em certos produtos saíam beneficiados em relação aos restantes. Alguns agricultores chegavam a produzir aquilo que garantia subsídio, em vez de produtos que fossem mais necessários ou para os quais tivessem mais aptidão.

Essa situação muda com esta reforma: deixam de existir setores subsidiados por produzirem mais. Os agricultores passam a receber uma ajuda por hectare, podendo produzir aquilo que quiserem. Da mesma forma, ao serem aboli-das as quotas nos setores do açúcar e dos laticínios, chega também ao fim o mecanismo do set-aside, que consistia em pagar aos agricultores para estes abandonaram a produção de determinados produtos.

Outra marca desta reforma, reside nas chamadas “medidas de greening”, com vista a alcançar uma PAC mais ecológica. Para que possam receber os subsídios que pretendem, os agricultores são obrigados a contribuir para a biodiversidade, por exemplo, deixando pequenos espaços que sejam santuá-rios onde os animais se possam reproduzir ou onde a flora espontânea possa florescer.

EM QUE CONSISTE A REFORMA DA PAC?

12 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO

Pedro Martins

Page 13: Edição 264

quE EsPEras tu?RAFAELA BIDARRA*

Em 2010, também n’A Cabra, es-crevi sobre a performance realizada pelo TEUC, organismo autónomo da Associação Académica da Uni-versidade de Coimbra, por ocasião dos 123 anos da AAC.

“Homos Associativus procu-rava levar os espectadores numa viajem pelo tempo, fazê-los recor-dar, mostrar a importância que se dava ao usar um traje em Coimbra, ao peso da praxe e da tradição na nossa cidade noutros tempos - “FRE era assim mas já não é!”. Exaltar a discrepância entre os valores que antes se defendiam, e pelos quais a comunidade universitária, em geral se regia, e o que hoje acon-tece, como se vive hoje a vida uni-versitária. (…) esta performance não pretendeu colocar--se contra nada, mas antes colocar cada um de nós, pertencente à universidade, à academia perante um espelho do nosso próprio modus operandis. (…) a comunidade estudantil de Coimbra, vinha ao edifício da Asso-ciação Académica em busca de for-mação nas mais diversas áreas, e nos corredores podiam ouvir-se as guitarras e fadistas, os ensaios dos grupos e havia uma força de jovens que trabalhavam em conjunto e de-fendiam ideais e ideias que julga-vam ter objectivos maiores. Havia, talvez, uma consciência de que so-mos nós que desenharemos o futuro do nosso país, e como tal a própria academia tinha uma voz revolucio-nária forte e credível no meio polí-tico português.(…) Hoje em dia, o que vejo, é um interesse crescente

nas festas regadas a cerveja, no lu-cro monetário e na diversão por si só, os estudantes conhecem a Asso-ciação Académica pelos bares que nela tem instalados e pelas festas e convívios que lá se realizam. Não posso, perante este cenário, deixar de lamentar esta realidade, quando há uns anos atrás se juntavam pes-soas no jardim a tocar e conviver e hoje temos lá plantado mais uma ramificação do bar e uma televisão gigante, quando é permitido que tal se instale mesmo ao lado da Sala de Estudo, e de salas de organismos e secções.”

Passados três anos é com tristeza que constato que as políticas que ge-rem este edifício (agora pertencente ao Património Mundial da Humani-dade) se mantêm.

No passado dia 7 de Outubro o TEUC estreou a sua mais recente produção em colaboração com o Projecto D – vitral – um espectácu-lo criado por Leonor Barata. Ironi-camente este estreou às escuras, não por capricho ou opção estética mas como forma de protesto. Um pro-testo que procura colocar cada um perante a sua responsabilidade, que procura respostas sérias e que pro-cura ainda que quem de direito se manifeste. Uma forma de denunciar a indiferença a que estão sujeitas as manifestações culturais dos orga-nismos da Associação Académica da Universidade de Coimbra. Esta manifestação ecoou por todo o país, tanto a nível da imprensa como das redes sociais e mesmo assim apenas no dia 10 (cinco dias depois do co-

municado ter sido lançado) houve mais do que uma resposta automá-tica aos inúmeros e-mails enviados para a reitoria da Universidade de Coimbra. Ainda assim, não passou de uma conversa informal, seguida de um telefonema que também não representa um compromisso.

Nos últimos anos o TEUC tem vindo a sofrer profundos cortes nos apoios que lhe são concedidos, tan-to pela parte da UC e entidades a ela agregadas como por parte da Câma-ra Municipal de Coimbra. Esta rea-lidade levará a um estrangulamento tal que, associado às práticas mais apreciadas e largamente fomen-tadas no edifício da AAC, levará à morte do teatro universitário e das manifestações culturais dos outros organismos que aqui exercem as suas actividades.

No ano em que a Universidade de Coimbra foi classificada de Pa-trimónio Mundial da Humanidade pela UNESCO e cito o Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Professor Doutor João Gabriel Sil-va: “mais do que o reconhecimento do valor arquitectónico do comple-xo universitário de Coimbra, esta decisão da UNESCO sublinha o va-lor universal da cultura e da língua portuguesas e reconhece o papel central que Portugal teve na forma-ção do Mundo, tal como hoje o co-nhecemos”.

É ainda mais irónico que se des-cure os valores culturais desta Uni-versidade permitindo a estreia e respectiva temporada às escuras do Teatro dos Estudantes da UC. Não estará também na génese do Teatro

Universitário em Portugal, o valor universal da cultura e da língua por-tuguesas?

Não será necessário voltar a evo-car o papel de resistência cultural que o TEUC – à semelhança de tantos outros organismos autóno-mos – desempenhou no domínio da cultura portuguesa. Muito menos queremos voltar a repetir um elenco vasto e variado de todos aqueles que aprenderam no TEUC os princípios básicos de uma cidadania activa.

Percebo bem as contingências a que todo o país está sujeito. Toda-via, não me conformo com cortes cegos, não justificados e camuflados em redes de autorizações burocráti-cas. Há que chamar as coisas pelos nomes e chamar à responsabilidade quem deve ser chamado. Neste tris-te e lamentável episódio da história do TEUC é a própria Universidade de Coimbra e por acréscimo quem a representa. Paremos de viver na sombra de galardões ganhos com histórias passadas e assumamos de uma vez por todas a responsabilida-de que de facto temos em cumprir a sua missão e valores. Só assim se pode manter o bom nome des-ta universidade e aceitar de forma justa o reconhecimento que lhe tem sido dado. O que fica desta semana intensa é a pergunta de que rumo queremos dar ao país em que vi-vemos e que papel queremos assu-mir na mudança que desejamos ver acontecer.

*Presidente do TEUC, membro da comunidade estudantil e cidadã activa

Esta manifestação ecoou por todo o

país e mesmo assim apenas no dia 10

(cinco dias depois do comunicado ter sido

lançado) houve mais do que uma resposta

automática aos inúmeros e-mails enviados para a

reitoria da UC.

Cartas à dirEtora

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 13

OPINIÃO

DR

Page 14: Edição 264

dE

pedro CoStA

Em Exibição

30 de outubro

CASA dAS CAldeirAS

dE

SeMbène ouSMAne

Em Exibição

30 de outubro

CASA dAS CAldeirAS

AG

EN

DA

“”

No Quarto da Vanda

A destruição das Fontainhas, antigo bairro da Amadora, e o desenrolar de várias figuras den-tro deste: seria perfeitamente ridículo reduzir “No Quarto da Vanda” a esta descrição, porque não só seria redutor como se per-deria toda a brilhante e lúcida complexidade que se encontra em cada plano. Porque o quarto começa com as irmãs Vanda e Zita (o quarto é delas) mas logo se expande para outros espaços e, com estes, vêm todos os outros (o quarto também é deles). A vida no bairro está presente sob a for-ma de rituais: a droga consumida no escuro do interior (“foi a vida que fomos obrigados a viver”, diz Pango), os churrascos feitos na rua, a venda de couve e colheres

de pratas parecem passar indi-ferentes ao barulho e poeira das demolições.

O filme representa uma rup-tura no método de filmagem de Pedro Costa, uma ligação íntima com cada rosto que permite um olhar bem denso sobre o tempo que resta naquele espaço. Os seus trabalhos anteriores foram como que a preparação para esta inti-midade, a construção de uma lin-guagem para depois a esquecer. O realizador recusa a categorização de documentário, que entidades e público estabelecem, porque sabe perfeitamente que a vida é bem mais ficcionada do que aquilo que aparenta ser, e que a discus-são sobre o que é, ou não, “real” é completamente dispensável.

“ ”Faat KinéHá pequenos e inesperados de-

leites cinemáticos que enchem as nossas telas de forma vibrante. O regresso de Ousmane Sembéne em 2001, quase dez anos depois da sua última obra cinematográfica, veio confirmar o seu estatuto de lenda entre os seus pares no cinema da região do Sub-Sahara. Aos 78 anos o escritor e realizador senegalês mantém-se fiel a si mesmo e ao que o celebrizou, apresentando em Faat Kiné mais um fruto pujante de uma árvore já com anéis de experiência.

A forte crítica social marca as películas de Ousmane Sembéne e, desta feita, faz uso de uma estig-matizada empresária e mãe solteira como veículo condutor para a cria-ção de uma teia reveladora e crítica da sociedade patriarcal pós-colonial

da África Ocidental e as suas dinâ-micas socioeconómicas. É através da sua personagem matriz, Kiné, que nos deleitamos com o desen-rolar do cotidiano da classe média de Dakar em todo o seu esplendor cultural, religioso, social, económi-co e supersticioso. Com um ritmo temperado, apanágio já conhecido do realizador, realçam-se as cores vibrantes e soberba captação do fervor da vida de uma sociedade na capital africana Dakar.

Com factores cómicos magis-tralmente encaixados de forma a quebrarem a toada taciturna de di-ferentes aspectos da vida de Kiné, Faat Kiné é um espelho daquilo que Ousmane Sembéne tem para ofere-cer e uma óptima e imperdível adi-ção às Sessões de Carvão.

SESSÕES DO CARVÃO

dE

AbbAS KiAroStAMi

Em Exibição

25 de noveMbro

tAgv

“”

Like Someone in Love

E já não és senão como te sinto CRÍTICA DE RITA LEONOR BARQUEIRO

Para ver como alguém apaixona-do, temos de afastar as teias, limpar os óculos, encarar o possível e enve-redar numa trama subtil, de natu-reza débil e idealista, evitando a re-alidade pela melancolia. As pessoas que amamos são feridas abertas para sempre na carne interior, que ardem ao som de livros e músicas dormen-tes, no desconforto da luz e dos re-flexos, entre planos transparentes e densas paredes. Mesmo quando algo não é o que parece, é tudo o contrário disso, é a verdade seca, posta às aves-sas: não se pode amar mais claro.

Ei-la, uma sophisticated lady (call girl japonesa) e a sua família improvisada, relações mutáveis em espaços confinados, filmados com desprezo pelo ritmo vulgar do tem-po, de sombras sonolentas amar-

radas em cintos de segurança e fios de telefone, concebidas à imagem e semelhança de um inquietante rosto proteico, auto-retrato dela, com um papagaio que lhe serve de ponto.

Kiarostami, nesta sua terceira lon-ga afastada das suas raízes iranianas, tem um modo de fazer perverso e enigmático na forma de poesia, onde o que não se vê é tão ou mais impor-tante do que o que se vê. Chama-nos para jogar às escondidas e quebra--nos o raciocínio num constante efei-to de reconhecimento.

Like Someone In Love inventa--nos, dá-nos o silêncio, um par de asas tortas e voamos sem tédio pela sua gravidade. Tudo acaba num pla-no quebrado, literalmente, pelo ex-cesso, mas sem ditar um fim – que sera, sera. Apesar de tudo.

CINEMA À SEGUNDA

14 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

ARTESFILA K

Um ribombar no desertoCRÍTICA DE SAMUEL FERREIRA

No quarto como no bairroCRÍTICA DE PEDRO TRENO

SESSÕES DO CARVÃO

16 dE outubro

Emitaï (1971)

sEmbènE ousmanE

23 dE outubro

CEddo (1977)

sEmbènE ousmanE

CINEMA À SEGUNDA - TAGV

21 dE outubro

uma Família rEsPEitávEl

massoud bakhshi

28 dE outubro

ouro

thomas arslan

4 dE novEmbro

viagEm a tóquio

yasujiro ozui

11 dE novEmbro

o gosto do saké

yasujiro ozu

FILA K

5 dE novEmbro

thE most bEautiFul WomEn

andy Warrol

12 dE novEmbro

rogEr E Eu (1989)

miChaEl moorE

19 dE novEmbro

no quarto da vanda (2000)

PEdro Costa

26 dE novEmbro

10 on tEn (2004)

abbas kiarostam

Page 15: Edição 264

OUVIR LER

JOGAR

Nesta sua já velha saga, só re-centemente traduzida para português, Bernard Cor-

nwell transporta-nos para uma das épocas mais negras da história.

“Inimigo” tem como pano de fundo a Guerra Civil Americana, contando--nos a terceira parte da odisseia de Nathaniel Starbuck, um soldado vindo de Boston que passa para as fileiras sulistas. Mas desenganem-se aqueles que esperam ver nesta obra o clássico confronto entre os santos fe-derais e os demónios confederados. Cornwell mostra-nos a guerra como ela realmente é: crua, sangrenta e devastadora, sem espaço para heróis virtuosos ou vilões imorais. Famílias dividem-se. Pais e filhos combatem--se no mesmo campo de batalha. Há histórias de traição, de crueldade. De pilhagens e de roubos sob o pretexto de se estar a travar uma guerra.

As palavras do alcoólico coronel Swynyard num diálogo com o pro-tagonista da obra, enquanto este se encontrava injustamente aprisiona-do, demonstravam bem a sensação da maior parte dos soldados: “De certa forma convenci-me que conse-guia passar sem o uísque, desde que pudesse ser um soldado a sério outra vez. Queria redimir-me, está a ver? Um novo país, um novo exército, um novo começo.”

No entanto, a obra de Bernard Cornwell não nos fala apenas do lado

negro da guerra. Há também histó-rias de companheirismo, de solda-dos que dão a vida pelos seus irmãos de armas e que se emocionam como ninguém perante o sofrimento des-tes. Há o elogio de todos aqueles que lutam por aquilo em acreditam, seja qual for o ideal.

No entanto, no melhor pano tam-bém caem nódoas. Embora o mestre da ficcção histórica tenha consegui-do mais uma vez humanizar as per-sonagens da sua obra, não tomando partido por qualquer uma, a forma como a acção decorre sofre de uma morosidade só ultrapassável pelos leitores mais entusiastas. Num es-forço para descrever as batalhas com o maior realismo possível, Cornwell acaba por cair no exagero, criando um enredo com um decurso lento.

Outra ligeira falha está no fac-to de Cornwell ter sofrido o efeito Cold Mountain, mesmo antes de o filme Cold Mountain ter sido realiza-do: numa obra sobre a Guerra Civil Americana, a quantidade de escravos negros entre os personagens é estra-nhamente reduzida.

Mas à parte desses pequenos des-vios, “Inimigo” continua a ser uma obra capaz de proporcionar uma boa leitura, recomendável a todos os amantes de ficção histórica. Tenham apenas paciência quando a história demorar um pouco a avançar.

Baixem as persianas. Fechem as cortinas. Apaguem as luzes. Mer-gulhem na imensa escuridão.

Sam Fisher está de volta para mais um videojogo da saga “Tom Clancy’s: Splin-ter Cell”, em “Blacklist”.

Desta vez Fisher deixa o ambiente de “Conviction”, que envolve mais acção que os restantes títulos, e regressa ao estilo furtivo de “Chaos Theory”.

Percorrendo as sombras, o jogador avança, tentando ao máximo não ser detectado através de movimentos e tác-ticas que irão cortar a respiração. Claro que quem quiser optar por um método “all-out”, em que tudo é um alvo a aba-ter, tem ao dispor o armamento para tal e pode fazê-lo. Mas tem que ter em atenção que certas missões terão que ser feitas sem ser detectado.

O jogo promove discrição, premiando os jogadores que permanecem no escu-ro, sempre que possível, e esses prémios podem ser usados em melhorias no armamento ou nos gadgets que Fisher dispõe em cada uma das missões. Os mecanismos de auxílio, nomeadamente “mark & execute”, permitem a execução de vários inimigos de forma rápida, si-lenciosa e sem esforço. Nota-se, com es-tes mecanismos, uma forma de obrigar o jogador a adoptar uma posição mais agressiva. Mas quem é adepto da máxi-ma discrição encontrará desafios à sua altura.

Uma característica muito cativante em “Blacklist” é o modo “Perfectionist” em que, para além da melhoria na inte-ligência artificial e resistência dos ini-migos, os mecanismos de auxílio não estão disponíveis, obrigando o jogador a adoptar estratégias furtivas de elevada elaboração para evitar baixas e concluir perfeitamente uma missão sem uma única detecção.

Os modos de multijogador são um tanto atraentes em “Blacklist”. O modo cooperativo pode não se mostrar tão cooperativo quanto esperamos, dado que os mapas não foram especialmen-te desenvolvidos para o efeito. Em vez disso, parece mais um modo “dividir e conquistar” mas o que lhe dá destaque são os vários estilos de jogo das pessoas e isso traz diferentes formas de cumprir os objectivos. O outro modo multijoga-dor, “Mercs vs Spies”, é mais atraente. Neste modo, temos duas equipas em jogo: mercenários e espiões. O objecti-vo dos espiões é infiltrar uma base ou um terminal e o papel dos mercenários é impedir que isso aconteça. Este modo traz um ambiente mais empolgante e com desafios muito mais complexos, já que a inteligência humana ocupa o lugar da Inteligência Artificial.

Em suma, “Blacklist” não desilude e proporciona momentos de acção e sus-pense viciantes que vão deixar os joga-dores colados no ecrã até ao fim.

Inimigo”

JOSÉ NEVES

PEDRO MARTINS

Strange Pleasures”

O sonho é uma experiência que se regenera em vários sentidos: para Still Corners,

como para S. Freud, o sonho é um mundo paralelo, onde o sonha-dor vive os desejos que, com tanto empenho, tenta camuflar na gasta narrativa do dia-a-dia. Como num obscuro truque de magia, os dois amigos coloridos reaparecem para nos hipnotizar uma vez mais, num simples piscar de olho de um pop submerso em efeitos retroactivos, de um potencial alucinador sem prazo de validade (we don’t know the time / we only want to feel the light, yeah).

Na verdade, Still Corners não é um duo, mas é como se o fosse – o texano Greg Hughes é o líder do gang, que escreve e compõe os te-mas, dados à luz pela voz de Tessa Murray, inerte personagem lyn-chiana, o foco de todos os frames. Os dois conheceram-se numa plata-forma deserta do metro de Londres, algures numa esquina do mapa da

cidade, um momento que ditou o destino do projecto musical em jeito de história lamechas, photoshopada em todas as entrevistas.

Depois do etéreo Creatures Of An Hour, regressam dois anos de-pois com Strange Pleasures, renovação de um pacto com a Sub Pop, editora de Seattle, concebida nos anos 80 para explorar o pop sub-terrâneo. Numa autobiografia emprestada, tornam a recriar aquele passado esquecido, numa atmosfera cinematográfica, reencarnado por dois miúdos que decidem boicotar o último dia de aulas para irem andar de patins em câmara lenta, num salão sinistro, onde se limitam a trocar olhares. Esses miúdos entretanto desapareceram, tornaram-se desconhecidos, fantasmas do tal mundo paralelo.

Voltamos sempre ao ponto de partida com The Trip, num loop en-joativo, onde a dado momento já nada se distingue, como num inter-rail de mochila às costas, onde já todas as caras nos parecem iguais e só nos resta o instinto de sucumbir a qualquer estranho prazer, dan-çar sozinho num espaço público, onde ninguém nos consegue ver.

Este último disco de Still Corners vai pairando assim nos nossos ouvidos, numa sonoridade assombrada por sintetizadores oldschool, a construir uma intimidade irritante, como se nos tivesse expiado os diários riscados de memórias pirosas da pré-adolescência, sem nun-ca chegar bem a falar de sentimentos, respirando somente na super-ficialidade de um flirt atabalhoado de referências só para fazer boni-to; aqui não se aprende nada – e não poderia ser de outra maneira.

Quase um homem, quase uma mulher

dE

Still CornerS

Editora

Sub pop

2013

RITA LEONOR BARQUEIRO

dE

bErnard CornWEll

Editora

saída dE EmErgênCia

2013

Cornwell mostra-nos a guerra como ela realmente é

PlataForma disPonívEis

pS3, XboX 360, Wi u

Editora

ubiSoft

2013

O Fantasma do 4º Echelon regressa

Artigos disponíveis na:

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

Splinter Cell: Blacklist - PC”“

““

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 15

FEITAS

Page 16: Edição 264

O CANTEIRO SEM FLORES Por António Meio-Esquisito

16 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

SOLTAS

QUE SE ACABEM OS BEN-U-RONPROPOSTA DRAMATÚRGICA SOBRE A LUZ

Espaço vazio com uma pessoa no meio (que é para ser fácil e simples e

bonito). Luzes ligadas e focadas nessa pessoa. A luz desliga-se e a pessoa vai-se embora. Só se ouve uma voz masculina, grave e soturna, do narrador:

NARRADOR: Quis alguém, um dia ou uma noite, que este que vos narra não sabe muito bem se o sol já se tinha posto para ou-tros lados, que a luz de um teatro fosse apagada. Talvez querer não será certo. Quem sabe, essa pes-soa desviou apenas os olhos da coisita que lhe passava à frente (não é de bancos, não interessa, não é Facebook, não interessa) e depois…ups, apagou-se. E há--de ter feito aquela cara de me-nino com o bolo enfiado na boca e a dizer que não o comeu. Ai apagou-se a luz? Há-de ter per-guntado, possivelmente com um ligeiro travo de indignação fingi-da, copiada a tias de outras pa-

ragens. E lá se foi a luz. Que pena, há-de ter dito. Logo esse alguém que era todo das culturas, logo esse alguém que até já leu os russos e os franceses e os alemães, e até um ou outro escritor da América do Sul, que dizem que são bons. Que pena. E lá se foi a luz.

As luzes voltam a ligar-se. Surgem duas pessoas, o géne-ro não importa, sentadas num sofá. Também não interessa detalhar-me em figurinos, por agora, que a minha sensibilida-de para roupas é pouca. Então, estão lá as duas pessoas, e dizem algo do género:

ALGUÉM1: A luz é cara. Ainda por cima com os chineses lá a mandar, a conta não há-de ficar barata. Para quê a luz?

ALGUÉM2: Arranjam umas velinhas, até podem ir buscar aquelas bonitinhas lá de Fátima

e fazerem a coisa mais intimista. Decerto que fica mais intimista com luz, não acha?

ALGUÉM1: Ai, acho com certeza. Dá outro ar, dá calor ao teatro. E o teatro também nem precisa de luz. Como é que se fazia teatro antes da luz? Também se fazia ou não?

ALGUÉM2: Ai fazia-se sim! E do bom. Aí é que era, diziam os meus avós, que viam sempre to-dos os anos, por altura da Páscoa, a ressurreição do menino Jesus interpretada pelos anjinhos lá do seminário. Isso é que era teatro.

ALGUÉM1: O cinema e isso é que precisa de luz. E coisas moder-nas. Ainda por cima eles gostam tanto de Gil Vicente, bem que po-diam fazer com as velinhas.

ALGUÉM2: Concordo. E tam-bém para que é que está lá? Não consegue concessionar o espaço

quando não precisa? Com boa localização, até conseguia uma concessãozinha, ou dava um la-miré de outra graça, uma coisa mais… sei lá, mais la féria, mais superstar, mais Maria de Matos, ou assim umas coisas extrava-gantes tipo Joana Vasconcelos.

ALGUÉM1: Pois, é que se fizes-sem dinheiro, mas nem dinheiro fazem.

ALGUÉM2: Ou cobram a coi-sa mais cara, ou põe assim um branding lá pelo meio tipo Red-bull lá para o meio do nome, até ficava giro.

ALGUÉM1: Mas eles querem é arte. É aquela coisa dos sub-sídios. Sabe, este país é só sub-sídiodependentes. Se não faz dinheiro fecha, para quê estar aberto se não lucra? Se não lucra não interessa.

A luz desliga-se e as duas pes-

soas lá se vão embora do cená-rio. Silêncio.

NARRADOR: Não há luz. A luz incomoda. A luz faz doer os olhos. Estamos tão bem às escu-ras. Que acham? Assim, calados, dormentes, de cabeças tapadas pelo cobertor. Desliguemos a luz. Não só deste teatro, mas de todos. Para ficarmos às escuras, pela noite, enquanto as maiores desgraças se sucedem. Vamos viver sem maçadas, sem pergun-tas. Vamos desligar as luzes dos teatros que é tempo de poupança e o Ben-u-ron está caro.

Nota final: O autor não sabe grande coisa de técnicas e regras de escrita dramatúrgica.

António [email protected]*

*Caso queiram enviar elogios. Se forem críticas, não estou para aí virado.

NÚCLEOS AAC

18 a 23 dE outubro

aCtividadE “2bsaFE”

pArque dA CAnção

17 dE outubro

mEga Convívio da latada 2013

00h59

lAborAtório ChiMiCo

entre 2€ e 2,50€

sEmanalmEntE

Curso dE língua gEstual

depArtAMento de direitoS huMAnoS e pAZ

20€ /MêS

16 outubro

i jam sEssion & tornEio dE suECa

14h30

deeC/fCtuC

NEM/AAC

NEF/AAC

30 dE outubro a6 dE novEmbro

i tornEio dE basquEtEbol misto

eSColA SeCundáriA JoSé fAlCão

2€/pArtiCipAnte

15 dE outubro

Corta-mato solidário

NED/AACNEEEC/AAC 16 dE outubro

tornEio dE boWling

16h00

CrAZy boWling - foruM CoiMbrA

3,5€

NEI/AAC

3 dE novEmbro

iii oPhEn Pharma

eStádio univerSitário

entre 5€ e 10€

26 E 27 dE outubro

jornadas do sns E CarrEiras médiCas

Auditório do Centro de CongreSSoS doS ChuC

10 a 16 dE outubro

E tu tEns lata?

ConCurSo de video

NEPCESS/AAC

16 dE outubro

jantar dE sErEnata da latada

ClAuStroS fpCe

10€

15 dE outubro

PEs 2014

sala dos núClEos

1€

NEG/AAC

29 dE outubro a6 dE novEmbro

tornEio dE FutEbol dE 7

00h00

CAMpo de Stª CruZ

50€/equipA

NEFLUC/AAC

29 dE outubro

dEbatE - “vivEr saudávEl”

18h

Centro CulturAl doM diniS

30 dE outubro a 15 dE novEmbro

Curso dE suturas

bAr dA fMuC

11 a 15 dE novEmbro

blast WEEk

26 dE novEmbro

dEbatE - “a diFErEnça E a saúdE”

18h

Centro CulturAl doM diniS 15 dE outubro

mEsa rEdonda dE douturamEnto

18h

feuC

NES/AAC

Page 17: Edição 264

De acordo com o Artigo 17º, alí-nea 3, da Lei de Imprensa, qualquer publicação deve divulgar, anual-mente, o seu estatuto editorial

1 ACABRA e ACABRA.NET são dois órgãos de comunicação

social académicos cujo objetivo é constituírem-se – numa simbiose capaz de aproveitar o formato e es-tilo diferente que cada um possui – enquanto Jornal Universitário de Coimbra.

2 ACABRA e ACABRA.NET têm como público-alvo a Academia

de Coimbra e é sob este princípio que devem guiar as decisões edito-riais.

3 ACABRA e ACABRA.NET orien-tam o seu conteúdo por critérios

de rigor, criatividade e indepen-dência política, económica, ideoló-gica ou de qualquer outra espécie.

4 ACABRA e ACABRA.NET prati-cam um jornalismo que se quer

universitário no sentido amplo do termo – desprovido de preconcei-tos, criativo, atento, incisivo, críti-co e irreverente.

5 ACABRA e ACABRA.NET prati-cam um jornalismo de qualida-

de, que foge ao sensacionalismo e reconhece como limite a fronteira da vida privada.

6 ACABRA e ACABRA.NET são na sua essência constituídos

por um conteúdo informativo, mas

possuem espaço e abertura para conteúdos não informativos, que se pautem por critérios de qualidade e criatividade.

7 ACABRA e ACABRA.NET inte-gram-se na Secção de Jornalis-

mo da Associação Académica de Coimbra, perante cuja Direção são responsáveis; contudo, as decisões editoriais d’ ACABRA e d’ ACA-BRA.NET não estão subordinadas aos interesses ou a qualquer posi-ção da Secção de Jornalismo, nem

aquele facto interfere com a rela-ção sempre honesta e transparente a que ACABRA e ACABRA.NET se obrigam a ter perante os seus lei-tores.

8 A CABRA é um jornal mensal, cuja periodicidade acompanha

os períodos de atividade letiva.

9 ACABRA.NET é um site infor-mativo, de atualização diária,

cuja atividade acompanha os perí-odos de atividade letiva.

Estatuto Editorial do Jornal Universitário de Coimbra A CABRA e do portal informativo ACABRA.NET

Qualquer publicação deve divulgar, anualmente, o seu estatuto editorial

Princípios e normas de condutaA isenção, imparcialidade e inte-gridade que devem marcar o tra-balho no Jornal Universitário de Coimbra implicam por parte dos seus jornalistas o conhecimento e aceitação de regras de conduta. Assim, o jornalista deve:

1. Recusar cargos e funções incom-patíveis com a sua atividade de jornalista. Neste grupo incluem--se ligações à Direção-Geral da Associação Académica de Coim-bra, à Queima das Fitas e ao poder autárquico, bem como a atividade em gabinetes de imprensa, na área da publicidade e das relações pú-blicas. Este grupo fica impedido, à partida, de escrever na editoria de Ensino Superior dado o conflito de interesses e parcialidade. Quanto ao resto das editorias a restrição anula-se. Deste grupo estão exclu-ídos, por respeito para com o di-reito do estudante de Coimbra de participar na gestão da Universi-dade de Coimbra, os cargos em ór-gãos de gestão das faculdades e da universidade. Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades e agir em conformidade.

---

2. Abdicar do uso de informações obtidas sob a identificação de “jor-nalista do Jornal Universitário de Coimbra” (ou similares) em tra-balhos que não sejam realizados no âmbito do Jornal Universitário de Coimbra. Além disso, o jorna-lista compromete-se ao sigilo das informações obtidas desta forma. Exceções a esta norma poderão ser autorizadas pela Direção do Jornal Universitário de Coimbra. 3. Recorrer apenas a meios legais

para a obtenção da informação, sendo norma a identificação como jornalista do Jornal Universitário de Coimbra. De forma alguma po-dem ser usadas informações ob-tidas através de conversas infor-mais ou outras situações em que o jornalista não se identifica como tal e como estando em exercício de atividade.

---

4. Abdicar de se envolver em atividades ou tomadas de posi-ção públicas que comprometam a imagem de isenção e indepen-dência do Jornal Universitário de Coimbra. Contudo, o Jornal Universitário de Coimbra reco-nhece o direito inalienável do jor-nalista universitário a assumir-se como cidadão. Assim, nunca um jornalista do Jornal Universitá-rio de Coimbra será impedido de se manifestar em Reunião Geral de Alunos ou Assembleia Magna, desde que não esteja nessa altu-ra em exercício da sua atividade jornalística, em cujo caso deverá prescindir do seu direito de ex-pressão e voto. De igual forma, nunca será impedido de participar ativamente em qualquer atividade pública. Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudica-da por outras atividades e agir em conformidade.

---

5. Ter consciência do valor da informação e das suas eventuais consequências, particularmente no meio académico de Coimbra, no qual o Jornal Universitário de Coimbra é produzido e para o qual produz. Neste contexto particular-mente sensível, o jornalista deve

ter especial atenção à proveniência da informação e à eventual parcia-lidade ou interesses da fonte (não descurando o imprescindível pro-cesso de cruzamento de fontes), bem como garantir uma igualdade de representação em caso de in-formações contraditórias ou inte-resses antagónicos, evitando que o Jornal Universitário de Coimbra se torne meio de comunicação de qualquer instituição, grupo ou pessoa. Num meio em que o de-senrolar de acontecimentos pode afetar, direta ou indiretamente, o Jornal Universitário de Coimbra, o jornalista tem também que sa-ber manter o distanciamento ne-cessário para a produção de uma informação rigorosa.

---

6. Garantir a originalidade do seu trabalho. O plágio é proibido. Nes-tes casos, a Direção do Jornal Uni-versitário de Coimbra deverá agir disciplinarmente e o jornal deverá retratar-se publicamente.

---

7. Recusar qualquer tipo de gra-tificação externa pela realização de um trabalho jornalístico. Estão excluídos deste grupo livros, cd’s, bilhetes para cinema, espetácu-los ou outros eventos, bem como qualquer outro material que ve-nha a ser alvo de tratamento crí-tico ou jornalístico; constituem também exceção convites de en-tidades para eventos que tenham um inegável interesse jornalístico (por exemplo, convites da Dire-ção-Geral da Associação Académi-ca de Coimbra para cobertura do Fórum AAC). Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra resolver qualquer questão ambí-gua.

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15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 17

ESTATUTO EDITORIAL

Page 18: Edição 264

18 | a cabra | 15 de outubro de 2013 | Terça-feira

SOLTAS

O FMI está em Portugal e isso já se faz sentir. A degradação da situação

económica, a inflação, os cortes orçamentais e alguma má gestão das verbas da Ação Social dão ori-gem a situações de carência entre os estudantes.

Insatisfeitos com esta situação, os 13 mil alunos da Universidade de Coimbra (UC) partem para a contestação e ocupam as canti-nas. Exigem uma maior qualida-de na alimentação. Querem mais espaço na Associação Académica.

O primeiro-ministro, Mário Soares, vem à UC negociar estas

situações com o reitor Rui Alar-cão. Na agenda, está também a discussão da autonomia univer-sitária e a criação de um emissor académico, para legalizar a Rádio Universidade.

Estamos em 25 de novembro de 1983. Acabou de ser lançada A Cábula, a primeira publicação da recém-criada Secção de Jornalis-mo. O jornal, que custa 20 escu-dos, pretende ilustrar o quotidia-no estudantil.

Apresentada numa data de grande importância para a acade-mia, coincidente com a Tomada da Bastilha, tem conteúdos muito

diversos que vão desde a informa-ção até à sátira.

A Pedrada Encharcada critica com humor, e anonimamente, a vida académica coimbrã e a atu-alidade nacional. “Os portugueses descobrem que têm uma das me-lhores urbanizações de bairros de lata e de construções clandestinas da Europa”, ironiza “apedrada” quando a CEE ainda é uma mira-gem para o país.

Na cidade, “boicotes sistemá-ticos da administração do Teatro Gil Vicente” provocam conflitos com o CITAC. Ao mesmo tempo, o TEUC celebra 45 anos de existên-

cia, “numa fase mais experimen-talista, mesmo de vanguarda”.

Estamos em 2013. A UC conta agora cerca de 23 mil estudan-tes e é Património Mundial da UNESCO. O FMI está novamente em Portugal. A degradação da si-tuação económica, a inflação e os cortes orçamentais dão origem a situações de carência entre os es-tudantes: exige-se uma Ação So-cial mais justa.

Ainda ocupamos cantinas mas

já não temos A Cábula. A Secção de Jornalismo, 30 anos depois, continua a produzir.

30 ANOS DE SECÇÃO DE JORNALISMO REVISITADOSPor Carla Sofia Maia e Maria Eduarda Eloy

REGRESSO AO PASSADO:CÁBULA Nº 0

DE PERFILEntrevista a Luísa Sobral por Andreia Isabel Gonçalves

Acho que nunca pensamos muito quem é que somos, somos e pronto. Eu sou uma pessoa racional, organizada, sei exatamente aquilo que que-ro. Prezo muito a família. Gos-to de estar sozinha, de cozinhar e de idiomas. Sou vegetariana e não bebo álcool.

O gosto pela música provavel-mente surgiu desde que eu esta-va na barriga e o meu pai ouvia música em casa. Eu acho que não conseguia viver sem to-car. Acaba por ser uma paixão, que é o meu trabalho. A música tem uma parte muito grande em quem eu sou, na minha persona-lidade. Foi isso que a música fez, fez-me a mim.

Não há bem a necessidade de “ficar para a história”, acho que é um bocado presunçoso dizer que fiz alguma coisa pela músi-ca.

Sou sarcástica e sou românti-ca, exponho o meu lado român-tico mais nas canções do que na vida, mas ele está lá.

Eu tenho a teoria de que os es-tilos musicais são feitos para or-ganizar a música nas lojas de dis-cos. Para as pessoas do jazz eu sou pop, para as pessoas do pop eu sou jazz. Não que me importe muito. O Tom Waits tem sido uma grande inspira-ção. Agora, se calhar, começo a afastar-me um bocadinho do jazz, durante um bocadinho e a ouvir outras coisas. Tive essa conversa com o meu manager e ele dizia “Oh, Luísa não te esque-ças que és música de jazz”, e eu disse-lhe “não me faças isso”. Eu

não posso pensar enquanto estou a compor, isto não tem que ser nada.

A participação no Ídolos foi esquecida depois, graças a Deus. Ajudou-me a dar valor ao que tenho agora, que é uma coisa mais calma e sólida e aju-dou-me a perceber que eu não sabia quem era musicalmente e que tinha que me encontrar. Eu não gosto mesmo que as pes-soas achem que o sucesso que a minha carreira está a ter tem alguma coisa a ver com o Ídolos, porque não tem minimamente. E acho que esses programas não têm saída nenhuma.

Eu fui fazer o 12º ano aos Es-tados Unidos da América, fiz um intercâmbio. Tirei o curso superior de música em Bos-ton, vivi uns tempos em Nova Iorque e vim para Portugal gra-var o primeiro disco.

Este novo álbum é um boca-dinho mais triste e introspetivo. Tem um lado mais folk. O An-tónio Zambujo é meu amigo, já tínhamos cantado 2 ou 3 vezes esta música juntos. A do Mário Laginha foi uma canção que eu escrevi para o Bernardo Sasse-ti. E o Jamie Cullum foi o mais diferente, eu não gravei com ele, ele gravou lá, e deu uma entre-vista a dizer “a Luísa soube que eu era fã dela e pediu-me para eu gravar”. Este disco vai sair na Europa inteira e se calhar nos EUA logo a seguir, por isso vai ser um passo muito maior.

Viajar, tocar, compor e conhe-cer pessoas diferentes, é isso que eu quero fazer.

“Foi isso que a música fez, fez-me a mim.”

26 anos • Cantora

ANDREIA ISABEL GONÇALVES

Page 19: Edição 264

15 de outubro de 2013 | Terça-feira | a cabra | 19

SOLTAS

CONTRADIÇÕES NUMA ESTRUTURAPor Paulo Vaz

Fundo-me com duas hipo-téticas personagens, uma masculina, outra feminina.

Rasgo roupas de nós três e saí-mos de um corpo único.

Vulto negro de carne, de pé, estático. Como me vejo. A pers-pectiva sobe, estamos num fil-me. Pausa. Olha-se em redor, com a câmara pronta, um quarto mobilado, meio limpo, meio sujo, cama, cadeiras, biblio-grafia inútil. Não há cartas de amor, não há fotografias à vista. Não filmamos. Fotografo um pensamento – A vida é regulada pelas tensões e pelo fascínio de um pelo outro; todos esses fascí-nios entram em tensão, está explicado o mundo – muda-se de plano.

Amiga mente. Porque valorizas tanto o pensa-mento? – O meu corpo quer descanso e tormen-to.

Deitou-se no quarto, metade. Está escuro, tem medo. Observo de-liciosamente o esforço requerido, requerido. Conhecer todos os seus pensamentos une-me. Desenvolvo ideias para me conceber e consumir totalmente. Chloe não se sonhou. Na metade, entre o sono e o desper-tar para as cores, o mo-vimento e as indecisões, Chloe pensou em dar o salto. Não o de Woolf. Um salto sem vontade. Contradiz-te e à contra-dição da vida, mas não te alegres. Deixa cair uma lágrima por todos nós. Verte o cálice do sentimento e derrama-o em frente aos teus, fil-ma-o, dá-o a conhecer.

Chloe continua dei-tada, aproximamo-nos. Chloe abre a boca, bo-ceja. Chloe quer dormir, mas não pode, ainda não, enrola-se como se quisesse conforto. Va-zios perfeitos. Preten-sões. Sonambulismo. Fraco. Calafrios. Rostos. Os sentidos e o vazio, a fórmula de acreditar num possível futuro.

Uma perturbação não é uma deturpação da realidade. É apenas o caminho mais curto da mente, que permite embelezar as vidas, defende ela. Devo acreditar?

Demos as mãos. Alteremos todos os dicionários. O erro e a maldade já não têm o mesmo sig-nificado.

Estamos os três sentados. Chloe, eu e o vulto. Toco em

Chloe, vejo os seus olhos, está muito escuro, ela é pálida e exis-te. Avatares femininos de mim, contraditórios. Avatares confu-sos. Somos manequins um do outro, outro. Trocámos cadernos de vácuo, que continham escritas sanguinárias.

Nós três, como um grupo ale-

górico dos loucos, concluímos em conversa que o hiperbólico é o que já não existe, que caímos mesmo na vida e que estes para-doxos, estes entraves faziam par-te dela. E rimos. Rimos muito. E chorámos também.

Os dois afastam-se, afastam-

-se, em sentidos opostos e demo-vem-me de perseguir, perseguir.

Sinto uma afinidade umbilical assim que os vejo partir. Somos mais que irmãos, partilhámos sangue e um corpo.

Supostamente morreríamos planos, sem extrapolações à vida que nos ensinaram a viver. Con-

tudo, o vício dos corpos é colosso antigo. Não é o corpo que impor-ta, mas o conceito que desenvol-vemos dele.

Agora deixem-me penetrar fisi-camente, mas não mentalmente! Peço-vos. Assim sei que deixo de refletir e ficarei sem saber que

não existem chaves para todas as fechaduras.

Passou-se algum tempo. As vozes deles calaram-se de vez. Desde que partiram em direcções opostas. Tentei confortar a parte que faltava a meu corpo com má-quinas, parafusos, ética, algumas religiões, mas em vão. Era impe-

netrável.Serei eu a subalternidade do

poder atual? Mero condimento da eletrónica? E jurava de joelhos que não tinha perturbações men-tais no histórico clínico.

Muito refletiu sobre o assunto. Decorriam demandas inquietan-

tes em si.

Primeiro, curvado, em plena cidade ru-borizava ao olhar para os carros, para as portas, para as impresso-ras. Apetecia-lhe fundir-se com os motores.

Numa segunda fase, sentia-se intimidado pela velocidade com que esses carros, que minutos antes o faziam sentir-se completo, ad-quiriam nas estradas e com as expressões faciais de pessoas que acabavam de sair do trabalho ou do mercado da rua principal.

Num terceiro mo-mento, Eric acompa-nhava linearmente o próprio pensamento. Traçou um mapa da sua vida, de todos os trau-mas que tivera, de todas as vezes que um assun-to lhe surgia na mente e chorava. Catalogou namoradas e amigos. Revisitou escritos e fil-mes antigos. Recalca-mentos?

Ficaram perguntas por responder, foi o que concluiu. Algo ou alguém com competên-cias linguísticas, que se consegue sorratei-ramente escapar, não percebia a sua proveni-ência…

A objectiva aproxima o olhar do técnico de uma massa que flutua-va à sua frente. Queria catalogar esta nova for-ma de vida, este novo órgão. Depois da morte de Eric, na imprensa do dia seguinte, por todo o mundo se celebrava, se teorizava sobre esta evolução espontânea. “Em nós, no século XXI”, diziam, “serei eu a próxima?”, pergunta-vam.

Os jornais contavam a história. Uma narra-tiva fictícia, conjurada, de um jovem que teve que viver com um ór-gão desconhecido, uma mutação da mente, ago-ra em estudo e análise. Dramatizaram muito, inventavam teorias da conspiração, especula-vam experiências mór-

bidas que teriam sido levadas a cabo em ruas sujas, por grupos ainda mais sujos. Esperemos pelo resultado.*Este espaço é resultado de uma parceria entre a Secção de Escri-ta e Leitura da AAC e o Jornal A Cabra.

facebook.com/aac.sesla

WANDA DIAS

Page 20: Edição 264

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabra.netMais informação disponível em

PUBLIC

IDA

DE

PUBL

ICID

AD

E

10º EXPOSIÇÃO DE ESPANTALHOSPor Catarina Carvalho

@Fotorreportagem em acabra.net