e possivel se tornar uma pessoa mais criativa

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É possível se tornar uma pessoa mais criativa?

A questão que cada vez mais permeia nossos ambientes de trabalho e estudo é tratada neste artigo através de uma série de provocações e reflexões, buscando uma visão mais aprofundada desse tema tão atual.

José Cláudio C. Terra

A pergunta é recorrente: nas salas de aula, em seminários e nas empresas, muitos indagam se é possível tornar uma pessoa mais criativa e o que fazer para acelerar o processo. Percebo mesmo uma certa ansiedade no ar, como se os interlocutores demandassem uma solução pronta, rápida. Algo do gênero: “vamos, diga as três providências fundamentais para ampliar a criatividade de cada um e a da organização como um todo”! A resposta, obviamente, não é tão simples e requer uma reflexão mais profunda e apurada sobre o que vem a ser, de fato, criatividade.

Para alguns, trata-se de uma capacidade associada à concepção de idéias inéditas e que geram valor. Diria que essa concepção está correta, porém embute uma visão parcial. O que dizer, por exemplo, daqueles cuja inventividade está associada à forma de negociar, de se relacionar com outros ou, ainda, de trabalhar com produções visuais?

Mesmo nos dias de hoje, ainda não dispomos de nenhum teste fidedigno para medir quantitativamente – e de forma precisa – a criatividade de uma pessoa. Por se manifestar de diferentes formas e sob inúmeras facetas, a inventividade encontra como única forma de mensuração o reconhecimento dos pares. Explica-se: a medição possível ocorre de forma

qualitativa e tem por base uma régua subjetiva, pois se pauta na percepção daqueles que compartilham os campos de produção humana nos quais determinado indivíduo manifesta sua criatividade. Diante desse fato, como distinguir a capacidade de tornar alguém mais criativo se a avaliação possível é carregada de subjetividade?

Outro aspecto fundamental diz respeito à enorme confusão que se observa nas empresas quanto à diferença entre criatividade e inovação. Essencialmente individual, a primeira é apenas um dos inputs do processo de inovação nas organizações, podendo ser endógena ou exógena. Já a segunda está relacionada com o coletivo organizacional e envolve a mobilização e a articulação de recursos para gerar resultados concretos. Como se vê, embora entrelaçadas, criatividade e inovação têm natureza e princípios bem distintos.

Afinal, é possível tornar as pessoas mais criativas? Sim e não. Comecemos por explicar a resposta negativa. Os adultos trazem consigo características de cognição, talentos e formas de relacionamento com o mundo e com outras pessoas que foram moldados nos primeiros cinco ou seis anos de vida, a partir de determinadas essência e carga genética. Logicamente, ao longo da adolescência e

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da juventude essas características natas e intrínsecas são lapidadas e potencializadas diante das experiências de vida e do processo de aprendizado a que as pessoas são submetidas. Na vida adulta, cada indivíduo acaba por priorizar escolhas, caminhos e experiências que aprofundam um pouco mais o desenvolvimento de seus talentos natos, sendo menos provável que consiga mudar de maneira significativa e essencial o seu potencial de expressão criativa. Ou seja, é muito difícil transformar, por exemplo, um matemático em um designer quando esse talento permaneceu inexplorado ou não encontrou espaço para se manifestar até a idade adulta. Além disso, nesta fase já dispomos de um conjunto de características que determinam, em boa medida, os limites de nossas áreas mais criativas.

Por outro lado, como mencionado anteriormente, é plenamente possível fazer com que uma pessoa se torne mais criativa. Paradoxal? Nem tanto. Sabemos que os principais resultados criativos não advêm de exercícios mentais que prometem aumentar o potencial de criação dos indivíduos de forma isolada, a exemplo de exercícios mentais com CDs ou fórmulas mirabolantes que apregoam sete ou oito lições para aprimorar a criatividade. São soluções ineptas e que devem ser rechaçadas a todo custo.

A criatividade humana se revela a partir de associações e combinações inovadoras de planos, modelos, sentimentos, experiências e fatos. O que realmente funciona é propiciar oportunidades e incentivar os indivíduos a buscar novas experiências, testar hipóteses e, principalmente, a estabelecer novas formas de diálogos, sobretudo, com pessoas de outras formações, tipos de experiências e cultura. Alguns indivíduos altamente criativos já apresentam naturalmente esse padrão de comportamento

curioso, investigativo, voltado à experimentação e à busca persistente de pequenas e grandes nuances, seja em suas áreas de interesse ou em terrenos nem tão familiares, envolvendo outras culturas, tecnologias, idiomas etc. São pessoas que intuitivamente fazem o melhor exercício possível para o cérebro ao investir, de maneira consistente, no aprendizado e no estímulo a diferentes capacidades cognitivas e sensoriais.

Em suma, embora seja impossível modificar algumas características essenciais das pessoas, podemos incentivar comportamentos, estilo de vida e formas de interação com o mundo que permitam o desenvolvimento de novos padrões cognitivos e facultem aos indivíduos oportunidades de geração de insights criativos. O mais importante, no entanto, está no fato de que, no contexto organizacional, o que vale mesmo é a capacidade criativa coletiva.

O grande desafio, não tenho dúvida, está em gerar e enriquecer idéias e insights de maneira contínua, colaborativa e sistemática. Ainda que a criatividade individual seja importante, necessária e altamente desejável, no ambiente corporativo ganha relevância a combinação de múltiplas fontes criativas – o que exige enorme disposição e disciplina para implementar as medidas necessárias, viabilizando a obtenção de resultados efetivos e diferenciados.

O gerenciamento proativo da criatividade é um caminho inexorável para as empresas interessadas em inovar e evoluir. Transformar uma organização em um espaço inovador passa pelo questionamento de conceitos fundamentais sobre o jeito como aprendemos, criamos e geramos valor. Não há outra forma de romper barreiras e enxergar além senão quebrando paradigmas e construindo uma cultura na qual façam parte o risco, a dor e o aprendizado.


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Inovação é trabalho duro e, nesse aspecto, um conceito bem diferente da criatividade. Grandes inovadores não ficam esperando que idéias simplesmente surjam: eles vão ao encontro delas e tratam de materializá-las, certificando-se de que haverá compradores para elas.

A história da inovação está repleta de “Eurekas!”, estalos criativos que, em geral, despontam quando as pessoas estão relaxadas. Haveria alguma contradição entre o trabalho duro e o relaxamento? Não creio. As empresas inovadoras trabalham duro e buscam pessoas dispostas a tanto, mas dão-lhes intervalos e possibilitam que façam pausas, abrindo espaço para o pensamento criativo. O retorno é ainda melhor quando a cadência respeita o ritmo de cada um, criando um campo fértil para fazer brotar idéias realmente novas e inspiradoras.

* * *

Dr. José Cláudio Terra é presidente da TerraForum Consultores. Atua como consultor e palestrante no Canadá, nos Estados Unidos, em Portugal, na França e no Brasil. Também é professor de vários programas e pós-graduação e MBA e autor de vários livros sobre o tema.Seu email é [email protected]


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A EMPRESA

A TerraForum Consultores é uma empresa de consultoria e treinamento em Gestão do Conhecimento (GC) e Tecnologia da Informação. Os clientes da empresa são, em sua maioria, grandes e médias organizações dos setores público, privado e terceiro setor. A empresa atua em todo o Brasil e também no exterior, tendo escritórios em São Paulo, Brasília e Ottawa no Canadá. É dirigida pelo Dr. José Cláudio Terra, pioneiro e maior referência em Gestão do Conhecimento no país. Além disso, conta com uma equipe especializada e internacional de consultores.

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