dzogchen - o estado de autoperfeiÇÃo - chogyal namkhai norbu rinpoche

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7/22/2019 DZOGCHEN - O ESTADO DE AUTOPERFEIÇÃO - Chogyal Namkhai Norbu Rinpoche http://slidepdf.com/reader/full/dzogchen-o-estado-de-autoperfeicao-chogyal-namkhai-norbu-rinpoche 1/40 DZOGCHEN O estado de auto-perfeição Namkhaï Norbu Rinpoche Tradução para o português: Maria Heleosina Ribeiro Pessôa Revisão e tradução das notas: Flávio Capllonch Cardoso Esta tradução foi realizada para um círculo restrito de praticantes de Dzogchen assim sendo pedimos a consideração de não di!ulg"-la# INTRODUÇÃO DO EDITOR UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA DO DZOGCHEN Os ensinamentos do Dzogchen rd!ogs chen"¹, de acordo com o mestre NamkhaÏ Norbu Rinpoche, podem ser úteis para possibilitar qualquer indivíduo a descobrir sua verdadeira condi!o e, ao mesmo tempo, a"udar a aprender a viver sua vida de um modo mais rela#ado$ N%s iremos descobrir nas p&ginas deste livro o signi'icado de (rela#amento) no Dzogchen e como * possível pratic&+lo sem qualquer tipo de renúncia ou submetendo+se a qualquer atividade que possa n!o ser compatível com uma rotina normal de vida$ pesar de, no decorrer da hist%ria do -ibet, o Dzogchen ter sido introduzido e di'undido no país por duas grandes tradi.es / o 0udismo e o #on1, n!o devemos classi'ic&+lo como uma religi!o ou como uma tradi!o 'ilos%'ica, pois ele * um meio de conhecimento completo do estado de ser do indivíduo al*m dos limites de qualquer crena religiosa ou cultura$ 2em nunca ter se tornado uma seita, o Dzogchen se manteve como um ensinamento direto porque, no decorrer dos s*culos, permaneceu como uma pura e aut3ntica transmiss!o, incompatível com as demais estruturas 'ormais das institui.es religiosas$ O 0udismo 'oi o'icialmente introduzido no -ibet durante o reinado de -risong Detsen $hri srong l%e brtsan" 4567+585 D9 apesar de, h& s*culos, ter in'luenciado a cultura da :ndia, ;hina e outros países vizinhos$ O rei -risong Detsen convidou para sua corte mestres budistas e pandits da :ndia e de &ddi'ana, um antigo reino que 'oi identi'icado como sendo localizado no ()at *alle' , ho"e em dia <aquist!o$ &ddi'ana 'oi considerado o lugar de onde se originaram os ensinamentos t+ntricos e 'oi, nos tempos antigos, um país onde "& havia uma cultura budista bem desenvolvida, por isso muitos mestres 'oram para l& receber ensinamentos$ =oi tamb*m em &ddi'ana que o Dzogchen teve origem com o mestre >arab Dor"e %,a-rab r%o r.e"/ muitos s*culos antes da ?ra ;rist!@$ <osteriormente 'oi incorporado A -radi!o 0udista$ Os ensinamentos de >arab Dor"e 'oram considerados (distantes da lei cár0ica de causa e e'eito) e (sem p* nem cabea) por seus primeiros discípulos / 'amosos pandits 0udistas, de vis!o tradicionalista$ <or causa disso, desse momento em diante, a transmiss!o do Dzogchen tornou+se secreta e paralela As doutrinas 0udistas o'iciais$ O 0udismo, em sua 'orma t+ntrica, 'oi introduzido no -ibet principalmente por <admasambhava, um mestre capaz de atos miraculosos, que veio de sua terra natal / &ddi'na, atrav*s de convite do rei -risong Detsen$ ;om o intuito de di'undir os ensinamentos do Dzogchen no -ibet, <admasambhava sugeriu ao Rei que enviasse um tibetano de nome Bairocana para &di'ana$ Bairocana recebeu posteriormente todos os ensinamentos de Dzogchen atingindo o mesmo est&gio do Cestre 2hri 2ingha, discípulo de Can"ushrimitra 6 , que por sua vez 'oi discípulo de >arab Dor"e, e que mais tarde introduziu esses ensinamentos no -ibet, transmitindo+os, por*m, apenas para poucos$ O pandit  Bimalamitra, tamb*m discípulo de 2hri 2ingha, 'oi subseqentemente convidado para a corte do Rei -risong Detsen, onde transmitiu outros ensinamentos do Dzogchen$ ?sse período 'oi de intensa atividade de di'us!o, de tradu!o de te#tos budistas originais e tamb*m de tradu.es para o -ibetano de te#tos Dzogchen, principalmente do idioma de &ddi'ana$ -odos os te#tos traduzidos nesse período contendo tanto ensinamentos t+ntricos como do Dzogchen 'oram depois classi'icados como pertencendo A (ntiga -radi!o) ou 1'ing0apa r1'ing 0a pa9, di'erenciando+se dos Tantras traduzidos na segunda di'us!o dos ensinamentos no s*culo EF G $ Deste modo o Dzogchen 'oi considerado parte da doutrina da ?scola 1'ing0apa do 0udismo -ibetano$ Nessa tradi!o todos os v&rios sistemas de ensinamento s!o subdivididos em nove ;aminhos ou (Beículos) 'ana"2 2!o elesH I$ O secular veículo das divindades e homens -.ig rten lha 0i-i theg pa"/ que inclui todos os tipos de sistemas religiosos n!o+0udistas$ 7$ O veículo dos shrava3as 4ouvintes9 e dos prat'e3abuddhas 4aqueles que aspiram a ilumina!o apenas para si pr%prios$ ?sses compreendem os ensinamentos de #udis0o Hina'ana$ J$ O veículo dos bodhisattvas/ que consiste nos ensinamentos do Maha'ana2 6$ $ri'a Tantra2 G$ 4bhava Tantra2 K$ 5oga Tantra2 ?sses tr3s últimos veículos s!o chamados de (Tantras e#ternos), porque as pr&ticas neles envolvidas s!o baseadas principalmente na puri'ica!o e no preparo individual para receber a sabedoria de seres realizados$ I

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7/22/2019 DZOGCHEN - O ESTADO DE AUTOPERFEIÇÃO - Chogyal Namkhai Norbu Rinpoche

http://slidepdf.com/reader/full/dzogchen-o-estado-de-autoperfeicao-chogyal-namkhai-norbu-rinpoche 1/40

DZOGCHEN

O estado de auto-perfeição 

Namkhaï Norbu Rinpoche 

Tradução para o português: Maria HeleosinaRibeiro Pessôa

Revisão e tradução das notas: Flávio CapllonchCardoso Esta tradução foi realizada para um círculo

restrito de praticantes de Dzogchen assim sendopedimos a consideração de não di!ulg"-la#

INTRODUÇÃO DO EDITOR

UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA DO DZOGCHEN

Os ensinamentos do Dzogchen rd!ogschen"¹, de acordo com o mestre NamkhaÏ

Norbu Rinpoche, podem ser úteis parapossibilitar qualquer indivíduo a descobrirsua verdadeira condi!o e, ao mesmo tempo,a"udar a aprender a viver sua vida de ummodo mais rela#ado$ N%s iremos descobrirnas p&ginas deste livro o signi'icado de(rela#amento) no Dzogchen e como * possívelpratic&+lo sem qualquer tipo de renúncia ousubmetendo+se a qualquer atividade quepossa n!o ser compatível com uma rotinanormal de vida$

pesar de, no decorrer da hist%ria do-ibet, o Dzogchen ter sido introduzido edi'undido no país por duas grandes

tradi.es / o 0udismo e o #on1, n!o devemosclassi'ic&+lo como uma religi!o ou como umatradi!o 'ilos%'ica, pois ele * um meio deconhecimento completo do estado de ser doindivíduo al*m dos limites de qualquercrena religiosa ou cultura$ 2em nunca terse tornado uma seita, o Dzogchen se mantevecomo um ensinamento direto porque, nodecorrer dos s*culos, permaneceu como umapura e aut3ntica transmiss!o, incompatívelcom as demais estruturas 'ormais dasinstitui.es religiosas$

O 0udismo 'oi o'icialmenteintroduzido no -ibet durante o reinado de

-risong Detsen $hri srong l%e brtsan"4567+585 D9 apesar de, h& s*culos, terin'luenciado a cultura da :ndia, ;hina eoutros países vizinhos$ O rei -risongDetsen convidou para sua corte mestresbudistas e pandits da :ndia e de &ddi'ana,um antigo reino que 'oi identi'icado comosendo localizado no ()at *alle' , ho"e emdia <aquist!o$ &ddi'ana  'oi considerado olugar de onde se originaram os ensinamentost+ntricos  e 'oi, nos tempos antigos, umpaís onde "& havia uma cultura budista bemdesenvolvida, por isso muitos mestres 'orampara l& receber ensinamentos$ =oi tamb*m em

&ddi'ana que o Dzogchen teve origem com omestre >arab Dor"e %,a-rab r%o r.e"/muitos s*culos antes da ?ra ;rist!@$<osteriormente 'oi incorporado A -radi!o

0udista$ Os ensinamentos de >arab Dor"e'oram considerados (distantes da leicár0ica de causa e e'eito) e (sem p* nemcabea) por seus primeiros discípulos /'amosos pandits  0udistas, de vis!otradicionalista$ <or causa disso, dessemomento em diante, a transmiss!o doDzogchen tornou+se secreta e paralela Asdoutrinas 0udistas o'iciais$ O 0udismo, em

sua 'orma t+ntrica, 'oi introduzido no-ibet principalmente por <admasambhava, ummestre capaz de atos miraculosos, que veiode sua terra natal / &ddi'na, atrav*s deconvite do rei -risong Detsen$ ;om ointuito de di'undir os ensinamentos doDzogchen no -ibet, <admasambhava sugeriu aoRei que enviasse um tibetano de nomeBairocana para &di'ana$ Bairocana recebeuposteriormente todos os ensinamentos deDzogchen atingindo o mesmo est&gio doCestre 2hri 2ingha, discípulo deCan"ushrimitra6, que por sua vez 'oidiscípulo de >arab Dor"e, e que mais tarde

introduziu esses ensinamentos no -ibet,transmitindo+os, por*m, apenas para poucos$O pandit   Bimalamitra, tamb*m discípulo de2hri 2ingha, 'oi subseqentemente convidadopara a corte do Rei -risong Detsen, ondetransmitiu outros ensinamentos do Dzogchen$?sse período 'oi de intensa atividade dedi'us!o, de tradu!o de te#tos budistasoriginais e tamb*m de tradu.es para o-ibetano de te#tos Dzogchen, principalmentedo idioma de &ddi'ana$ -odos os te#tostraduzidos nesse período contendo tantoensinamentos t+ntricos como do Dzogchen'oram depois classi'icados como pertencendo

A (ntiga -radi!o) ou 1'ing0apa r1'ing 0apa9, di'erenciando+se dos Tantrastraduzidos na segunda di'us!o dosensinamentos no s*culo EFG$ Deste modo oDzogchen 'oi considerado parte da doutrinada ?scola 1'ing0apa  do 0udismo -ibetano$Nessa tradi!o todos os v&rios sistemas deensinamento s!o subdivididos em nove;aminhos ou (Beículos) 'ana"2 2!o elesH

I$ O secular veículo das divindades ehomens -.ig rten lha 0i-i theg pa"/ queinclui todos os tipos de sistemasreligiosos n!o+0udistas$

7$ O veículo dos shrava3as 4ouvintes9 edos prat'e3abuddhas 4aqueles que aspirama ilumina!o apenas para si pr%prios$?sses compreendem os ensinamentos de#udis0o Hina'ana$J$ O veículo dos bodhisattvas/  queconsiste nos ensinamentos do Maha'ana2

6$ $ri'a Tantra2 G$ 4bhava Tantra2K$ 5oga Tantra2 

?sses tr3s últimos veículos s!o chamadosde (Tantras e#ternos), porque as pr&ticas

neles envolvidas s!o baseadasprincipalmente na puri'ica!o e nopreparo individual para receber asabedoria de seres realizados$

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7/22/2019 DZOGCHEN - O ESTADO DE AUTOPERFEIÇÃO - Chogyal Namkhai Norbu Rinpoche

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5$ Maha'oga2L$ 6nu'oga28$ 6ti'oga2

?sses veículos s!o geralmente conhecidoscomo (Tantras internos), por*m, na verdade,apenas os dois primeiros s!o ensinamentost+ntricos, sendo o princípio do Tantra  atrans'orma!o dos constituintes

psico'ísicos do indivíduo na pura dimens!oda realiza!o$ 6ti'oga/ que * sinMnimo deDzogchen, * baseado no caminho de auto+libera!o e no conhecimento e#perimentaldireto do estado primordial$ ?ssassubdivis.es dos Tantras s!o peculiares das?scola 1'ing0apa2

s outras tr3s principais -radi.es do0udismo -ibetano, $ag'udpa b$a- rg'ud pa"/(a3'apa (a s3'a pa"  e ,elugpa d,e lugspa" classi'icam os Tantras mais elevados ou6nuttara Tantra comoH

1. Pitri'oga: Tantras dos <ais$

2. Matri'oga: Tantras das C!es$

3. 6dvit'a'oga: Tantras n!o+duais$

?sses tr3s tipos de 6nuttara7tantras!o baseados no sistema de trans'orma!ogradual, como * praticado no Maha'oga  da-radi!o 1'ing0apa2 O 6nu'oga * um sistemabaseado na trans'orma!o n!o+gradual,somente encontrado nas -radi.es maisantigas / a 1'ing0apa2  Os ensinamentosescritos de Dzogchen s!o divididos em tr3sse.esH as 2*ries da Natureza da Centese0s sde"K, as 2*ries do ?spao <rimordial

3long sde"/  e as 2*ries das Fnstru.es2ecretas 0an ngag sde9$ s primeiras duass*ries 'oram introduzidas no -ibet porBairochana e, a terceira, por Bimalamitra$?sses ensinamentos que 'oram originalmentetransmitidos por <admasambhava e depoisescondidos em v&rios lugares no -ibet s!otamb*m parte da 2*rie das Fnstru.es2ecretas$ ?ste tipo de te#to, conhecidocomo (ter0a) gter 0a"  ou (tesouros)5,comeou a ser descoberto do s*culo EFFF emdiante$ queles te#tos que, por outro lado,'oram transmitidos oralmente da *poca de>arab Dor"e em diante, s!o conhecidos como

(-radi!o Oral) b3a- 0a"2Outra -radi!o dos ensinamentos deDzogchen, di'erenciando+se tanto em suaorigem como na linhagem de seus mestres, *encontrada dentro da religi!o #8n, que see#pandiu a partir de (hang7(hung , um antigoreino na regi!o Oeste do -ibet L$ Dada asitua!o presente das pesquisas, *impossível saber se h& apenas um únicoponto de origem para todos os ensinamentosde Dzogchen$ No decorrer dos s*culos, osensinamentos do Dzogchen t3m sidopraticados por mestres pertencentes a todasas escolas e tradi.es$ Fsso se deve a

verdadeira natureza do Dzogchen quetranscende os limites de escolas ebarreiras criadas por seres humanos$

linhagem * 'ormada por uma linha demestres que vem do pr%prio >arab Dor"e A

;hgal Namkhai Norbu, que atualmenteensina Dzogchen no Oeste$ Nascido em I8JL,perto de Derghe, na regi!o Peste do -ibet,desde sua in'Qncia ele recebeu v&riosensinamentos e inicia.es de mestres dediversas tradi.es, particularmente de doisprimos que 'oram grandes praticantes deDzogchen8$ ;om oito anos de idade, elecomeou sua educa!o escolar, que incluiu

muitos anos de estudos da 'iloso'ia 0udistae de v&rios outros ramos do conhecimento-ibetano$ ?m I8G6, depois de completar seusestudos, ele 'oi convidado para ir A ;hinapara 'azer parte de uma delega!orepresentando os monast*rios 0udistas do-ibet$ P&, ele lecionou -ibetano por doisanos em ;hengdu, na província de 2ichuan,na regi!o Oeste das 'ronteiras da ;hina$Durante esse período ele teve aoportunidade de conhecer onkar Rinpoche,angs d3ar rin po Che"  4I8SJ+I8GK9IS, o'amoso mestre da tradi!o $ag'udpa/ de quemele recebeu muitos ensinamentos$ <or*m, 'oi

em seu retorno ao -ibet que ele conheceu,depois de um sonho premonit%rio, o mestreque lhe abriu os port.es do ensinamento /Rigd!in ;hangchub Dor"e Rig -d!in #'angchub r%o r.e" 4IL7K+I8KI9, um grande mestrede Dzogchen e descobridor de ter0a, queviveu simplesmente como um m*dico devilare"o$ Durante os v&rios meses queNamkhai Norbu Rinpoche 'icou com seumestre, ele recebeu muitos ensinamentosessenciais do Dzogchen mas, acima de tudo,ele recebeu a transmiss!o do verdadeiroestado de conhecimento de Dzogchen, que vaimuito al*m de livros e palavras$ Rigdzin

;hangchub Dor"e continuou a ser umconstante e#emplo e ponto de re'er3nciatanto na vida como para os ensinamentos deNamkhai Norbu Rinpoche$

?m I8GL ;hgal Namkhai Norbu via"ouA :ndia para estudar e para visitar v&rioslocais sagrados$ Fncapaz de poder voltar ao-ibet, por causa das rebeli.es políticasque l& ocorriam, ele 'oi para 2ikkhim, ondemorou por dois anos$ ?m I8KS >iuseppe -ucciconvidou+o para ir A Ft&lia, para a"udarnas pesquisas no Fnstituto para ?studos do?#tremo e C*dio Oriente, em Roma$ partirde I8K6 ele ensinou a língua e a literatura

-ibetana e Cong%lica no Fnstituto Orientalda Tniversidade de N&poles$ Durante osvinte anos seguintes, ;hgal Namkhai Norburealizou pro'undos estudos das origens dacultura -ibetana, com especial aten!o Atradi!o 0on, que * a origem da cultura de(hang7(hung  e, por conseguinte, do -ibet$?le escreveu v&rios livros sobre esteassunto, de e#trema importQncia para osestudantes da hist%ria e da cultura-ibetanas$II

?m I85K ele comeou a transmitirensinamentos Dzogchen primeiramente naFt&lia e depois em outros países$ 2eus

discípulos 'ormam a (;omunidade Dzogchen),cu"o ponto de re'er3ncia na Ft&lia 'icasituado sobre as encostas do Conte miata,perto de rcidosso, em -uscanu, e *chamado Cerigar$ Nos últimos anos ;hgal

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Namkhai Norbu apresentou semin&rios de Uoga-ibetana, medicina e astrologia em v&riaspartes do mundo$ ?m I8LJ ele presidiu aprimeira ;onven!o Fnternacional deCedicina -ibetana, em Beneza e rcidosso$

?ste livro * baseado principalmentenos ensinamentos ministrados por NamkhaiNorbu Rinpoche, em Cerigar, em I8LG e I8LK$Dividi o te#to em duas partes, a primeira

reúne palestras que esclarecem de que setratam os ensinamentos Dzogchen e tamb*me#plicam o que distingue estes ensinamentosde outros caminhos para a realiza!o$ segunda parte, (O ;uco do ?stado de<resena), * um coment&rios sobre os (eis*ersos *a.ra r%o r.e tshig drug", um brevete#to que sintetiza a ess3ncia do Dzogchenem seis linhas, transmitidas em &ddi'anapor 2hri 2ingha para Bairochana$ Nos tr3scapítulos que 'ormam esta segunda parte,Namkhai Norbu Rinpoche revela, de um modosimples e n!o+intelectual, o que queremosdizer quando 'alamos sobre a (pr&tica) do

Dzogchen$Cinha esperana * que estes

ensinamentos contribuam para o despertar dahumanidade atrav*s de um estado deconhecimento verdadeiro e n!o+conceitual,al*m de todo condicionamento$

6driano Cle0ente

NotasH

92 %ei a transliteração eata dos ter0ostibetanos/ e0 itálico entre parênteses/ napri0eira ve! ;ue o ter0o <oi utili!ado24tili!ei acentos diacr=ticos sobre ter0oss+nscritos pouco co0uns2

2. 1os te0pos antigos o ter0o >#8n? <oiutili!ado no Tibet para se re<erir ;ual;uertipo de tradição ritual baseada sobre arecitação de 0antras ou de <@r0ulas 0ágicas/;ue não di<ere0 provavel0ente 0uito dasdiversas <or0as de cha0anis0o espalhadas naAsia Central2 Posterior0ente/ B poca doapareci0ento do 0estre Tonpa (henrab sTon7pa g(hen7rab"/ nascido e0 9DE 6%2 (egundo<ontes #8n/ 0uitas dessas tradiçGes <ora0aper<eiçoadas e ligadas por u0a concepçãoco0u0 na ;ual a eistência co0preendida

co0o u0 processo de interdependência entre aenergia do indiv=duo e as energiaseteriores do0inadas por di<erentes espciesde seres2 gual0ente segundo as <ontes #8n/Tonpa (henrab/ ;ue vinha original0ente do(hang7(hung Tibet do oeste"/ ensinou0edicina e astrono0ia e u0a <or0a inicial de%!ogchen2 1ão senão no per=odoco0preendido entre o oitavo e nono sculos;ue o #8n/ a0eaçado de etinção por causa doau0ento da di<usão do #udis0o/ co0eça arevestir u0a estrutura <ilos@<ica edoutrinal/ in<luenciada pelos princ=pios do#udis0o2 6 partir deste per=odo/ o #8n>torna7se? u0a religião e/ e0 suascaracter=sticas gerais/ não <oi 0aisposs=vel distingui7lo clara0ente das outrasescolas budistas2

3. (egundo os tetos da (rie das nstruçGes(ecretas do %!ogchen/ ,arab %or.e teria

nascido IJK anos ap@s o parinirvana de#udha/ e pois e0 9DL aC2 Por outro lado/segundo o *airo7rg'ud7bu0/ o con.unto dasobras tradu!idas e0 tibetano por *airocana/o nasci0ento de ,arab %or.e teve lugar vinteoito anos ap@s o parinirvana de #udha/ o ;uedaria a data de E9J aC2 Nsta Olti0a datacon<ir0aria a tradição segundo a ;ual ,arab%or.e era <ilho da princesa de &ddi'ana/Praharini/ <ilha do rei ndrabhuti/ ;ue

descobriu Pad0asa0bhava sobre o lago%hana3osa/ oito anos ap@s o parinirvana de#udha2

L2 Nsta tradição <oi <undada sobre a linhage0de 0estres estabelecidos na (rie dasnstruçGes (ecretas do %!ogchen2 Nntretanto/segundo a linhage0 estabelecida na (rie da1ature!a da Mente/ ;ue te0 a vantage0 dacredibilidade hist@rica/ (ri (i0ha viveu be0antes de Man.usri0itra2 Parece pois 0aisra!oável supor ;ue a trans0issão deMan.usri0itra B (ri (i0ha se <e! por 0eio devisGes e de contatos de nature!aetraordinária2

5. %urante a segunda di<usão do #udis0o no

Tibet vários novos Tantras <ora0introdu!idos/ e entre esses/ no te0po dePad0asa0bhava alguns <ora0 retradu!idos2 Foidurante esse per=odo ;ue as outras escolasdo #udis0o tibetano se <or0ara0: os $ag'udpab$a7rg'ud7pa"/ os (a3'apa (a7s3'a7pa"/ eos $ada0pa b$a7gda0s7pa"/ ;ue viera0 e0seguida a ser conhecidos/ ;uando eles sere<or0ara0/ co0o ,elugpa d,e7lugs7pa"2

6. Tradu!i o ter0o se0s 0ente" por >nature!ada 0ente?/ por;ue e0 todos os antigosensina0entos %!ogchen se0s utili!ado co0oabreviação de b'an7chub73'i7se0sbodhicitta"/ a nature!a pri0ordial da0ente2

7.&s ter0as pode0 ser subdivididos e0 duascategorias: sater sa7gter"/ os >Tesouros daTerra?/ ;ue são ob.etos e 0anuscritos ;ue<ora0 encontrados escondidos na terraQ egonter dgongs7gter"/ os >Tesouros do Nstadode Conheci0ento?/ ;ue são tetos 0e0ori!adosna consciência <unda0ental de u0 indiv=duo/;ue pode le0brar7se deles espontanea0ente noestado de conte0plação/ 0es0o nu0erosasencarnaçGes ap@s a 0e0ori!ação original2

8. Chang7(hung hang7hung"/ o lugar ;ue <oi a<onte original da cultura tibetana/ inclu=ade <ato na poca a totalidade do Tibet2 Co0sua capital e0 $h'unlun 1ul3ar $h'ung7lungngul703har"/ perto do Monte $ailash/ Chang7(hung era subdividida e0 três regiGes:interna/ correspondente ao Tibet ocidentalQcentral/ correspondente ao Tibet centralQ eeterior/ incluindo o Tibet oriental e as!onas co0 a <ronteira da China2 Suando ope;ueno reino independente de 5arlung/ aoTibet central/ co0eçou a se epandir e acon;uistar as !onas vi!inhas durante oreinado do rei (ongtsen ,a0po (rong7btsansga07po 7 J97JD 6%2"/ o pr@prio Chang7(hung <oi ta0b0 aneado2 Foi assi0 ;ue oreino inteiro veio a ser cha0ado Tibet#od"2 6 religião de Chang7(hung era o #8n/e seus representantes tinha0 u0a grandein<luência na corte2

9. (eu tio paterno/ rTogs7lda0 &7rg'an

bstan7d!in/ e seu tio 0aterno Ua07db'angsChos73'i dbang7ph'ug2

10. 40 de seus ensina0entos sobre o Maha0udrapode ser encontrado e0 Nnseigne0entes du

J

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5oga Tibetain de ,2C2 Chang H'de7Par3:4niversit' #oo3s/ 9JI2

992 *er a lista de publicaçGes2

PRIMEIRA PARTE

$apítulo %m 

O INDIVÍDUO: CORPO, FALA E MENTE

lgu*m que comea a se interessarpelo ensinamento pode tender a distanciar+se da realidade das coisas materiais, aviver na 'antasia, como se o ensinamento'osse algo completamente dissociado da vidacotidiana$ =reqentemente, no 'undo de tudoisso, e#iste uma atitude de desist3ncia e'uga de seus pr%prios problemas, e a ilus!ode que se pode encontrar alguma coisa quea"udar& miraculosamente a transcend3+los$

Cas o ensinamento baseia+se no princípio denossa condi!o humana$ -emos um corpo'ísico com todos os seus limites$ cadadia temos que comer, trabalhar, descansar,etc$ ?sta * nossa realidade, e n!o podemosignor&+la$

O ensinamento Dzogchen n!o * uma'iloso'ia, uma doutrina religiosa, ou umatradi!o cultural$ ;ompreender a mensagemdo ensinamento signi'ica descobrir suapr%pria condi!o verdadeira, despida detodos os auto+enganos e 'alsi'ica.es que amente cria$ O mesmo signi'icado do termo

tibetano Dzogchen, (>rande <er'ei!o),indica o verdadeiro estado primordial decada indivíduo e n!o se re'ere a umarealidade transcendente$

Cuitos caminhos espirituais t3m comobase o princípio da compai#!o, do bene'ícioaos outros$ Na tradi!o budista Maha'ana/por e#emplo, a compai#!o * um dos pontos'undamentais da pr&tica, associada aoconhecimento da verdadeira natureza dos'enMmenos, ou (vacuidade)$ lgumas vezes,entretanto, a compai#!o torna+se algoconstruído e tempor&rio por n!o entendermos

o verdadeiro princípio dela$ Tma compai#!ogenuína, n!o arti'icial, s% pode surgirap%s termos entendido nossa verdadeiracondi!o$ Observando os nossos limites,nossos condicionamentos, nossos con'litos,etc, tornamo+nos verdadeiramenteconscientes tamb*m do so'rimento dosoutros, e, a nossa pr%pria e#peri3ncia setorna a base ou o modelo para que possamosentender melhor e a"udar os outros A nossavolta$

única 'onte de todos tipos de bene'ícios* estar consciente de nossa pr%pria

condi!o$ Vuando soubermos como nos a"udare como colaborar com n%s mesmos podemosrealmente bene'iciar os outros, e o nossosentimento de compai#!o surgir&

espontaneamente, sem que tenhamosnecessidade de nos atrelarmos as regras decomportamento de qualquer doutrinareligiosa$

O que queremos dizer com, (tomarconsci3ncia de nossa pr%pria condi!o)W2igni'ica observarmo+nos, descobrir quemsomos, quem acreditamos que somos, e qual a

nossa atitude para com os outros e para coma vida$ ?X su'iciente observar os limites,os "ulgamentos, as pai#.es, o orgulho, osciúmes, os apegos e todas as posturas comos quais n%s nos 'echamos ao longo deapenas um dia$ De onde surgem, onde est!oenraizadosW 2ua 'onte * nossa vis!odualística, e nosso condicionamento$ <arasermos capazes de a"udar, tanto a n%smesmos quanto aos outros precisamosultrapassar todos os limites nos quaisestamos enclausurados$ ?sta * a verdadeira'un!o do ensinamento$

Vualquer ensinamento * transmitidoatrav*s da cultura e conhecimento dos sereshumanos$ Cas * importante n!o con'undir umacultura ou uma tradi!o com o ensinamento,cu"a ess3ncia * o conhecimento da naturezado indivíduo$ Vualquer cultura pode ser degrande valor porque * o meio que capacitaas pessoas a receberem a mensagem de umensinamento, mas n!o * o ensinamento em si$-omem o e#emplo do 0udismo$ 0uddha viveu na:ndia, e para transmitir seu conhecimentoele n!o criou uma outra 'orma de cultura,mas usou a cultura do povo indiano de seutempo$ No >6bhidhar0a3osha?/¹ por e#emplo,

encontramos conceitos e no.es, tais como adescri!o de Conte Meru   e os quatrocontinentes, que s!o típicos da culturaantiga da :ndia, e que n!o devem serconsiderados de importQncia 'undamentalpara a compreens!o do ensinamento de0uddha$ <odemos ver um outro e#emplo destetipo na 'orma completamente original que o0udismo adquiriu no -ibet ap%s suaintegra!o com a cultura nativa tibetana$De 'ato, quando Pad0asa0bhava introduziu o*a.ra'ana  no -ibet ele n!o eliminou aspr&ticas rituais usadas na antiga tradi!o#8n, mas soube como us&+las, incorporando+

as As pr&ticas do 0udismo t+ntrico $

2e algu*m n!o souber compreender overdadeiro sentido de um ensinamentoatrav*s de sua pr%pria cultura, podecon'undir entre a 'orma e#terna da tradi!oreligiosa e a ess3ncia de sua mensagem$-omemos o e#emplo de uma pessoa ocidentalinteressada no 0udismo e que vai A :ndia aprocura de um mestre$ P& ele encontra ummestre tibetano tradicional que vive em ummosteiro isolado e que desconhece a culturaocidental$ Vuando se pede a esse mestrepara ensinar, ele seguir& o m*todo que usa

para ensinar aos tibetanos$ Cas a pessoaocidental tem algumas grandes di'iculdadespara ultrapassar, a comear pelo obst&culodo idioma$ -alvez ele receba uma inicia!omuito importante e se"a envolvido por uma

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atmos'era especial, pela (vibra!o)espiritual, mas n!o compreender& seusigni'icado$ traído pela id*ia de ummisticismo e#%tico ele poder& permaneceruns poucos meses no mosteiro, absorvendouns poucos aspectos da cultura e costumesreligiosos tibetanos$ Vuando ele retornarao ocidente estar& convencido de queentendeu o 0udismo e sente+se di'erente

daqueles que o cercam, assumindo posturastípicas de um tibetano$

Cas a verdade * que para um ocidentalpraticar um ensinamento que vem do -ibetn!o h& necessidade de que se tornesemelhante a um tibetano$ o contr&rio, *de 'undamental importQncia que ele saibacomo integrar aquele ensinamento com suapr%pria cultura a 'im de ser capaz detransmiti+lo, em sua 'orma essencial, aoutros ocidentais$ Cas 'reqentemente,quando as pessoas se apro#imam de umensinamento oriental, acreditam que sua

pr%pria cultura n!o tem qualquer valor$?sta * uma atitude muito errada, porquetodas as culturas t3m seu valor,relacionado com o ambiente e ascircunstQncias em que elas surgiram$Nenhuma cultura pode ser tachada de melhordo que a outraY isso depende sim doindivíduo, se ele usu'ruir& maior ou menorvantagem dela em termos de desenvolvimentointerior$ <or esta raz!o * inútiltrans'erir regras e costumes para umambiente cultural di'erente daquele do qualeles surgiram$

Os h&bitos e o ambiente cultural deuma pessoa s!o importantes para que oindivíduo torne+se capaz de compreender umensinamento$ N!o se pode transmitir umestado de compreens!o usando e#emplosdesconhecidos para o ouvinte$ 2e >tsa0pa?com ch& tibetano 'or servido a umocidental, ele provavelmente n!o ter& id*iade como com3+lo$ Tm tibetano, por outrolado, que come tsa0pa  desde criana, n!oter& esse problema, e imediatamentemisturar& a tsa0pa com o ch& e o comer&$ Damesma maneira, se uma pessoa n!o conhece acultura atrav*s da qual o conhecimento *

transmitido, * di'ícil perceber suamensagem essencial$ ?ste * o valor dacultura$ Cas o ensinamento, por*m envolveum estado interior de conhecimento que n!odeve ser con'undido com a cultura, osh&bitos, costumes, sistemas políticos esociais, etc$ Os seres humanos criaramculturas di'erentes em *pocas e lugaresdi'erentes, e algu*m que este"a interessadono ensinamento deve estar consciente distoe saber como trabalhar com as diversasculturas sem, entretanto tornar+secondicionado por suas 'ormas e#ternas$

<or e#emplo, aqueles que "& t3m umacerta 'amiliaridade com a cultura tibetanapoderiam pensar que para praticar Dzogchentenham que se converter ao 0udismo ou ao#8n, porque o Dzogchen se espalhou atrav*s

destas duas tradi.es religiosas$ Fstomostra como * limitada a nossa maneira depensar$ 2e decidirmos seguir um ensinamentoespiritual, estamos convencidos de que *necess&rio para n%s mudar alguma coisa, talcomo nossa maneira de vestir, de comer, dese comportar, etc$ Cas o Dozgchen n!o pedea ningu*m para aderir a alguma doutrinareligiosa ou entrar para uma ordem

mon&stica, nem para aceitar cegamente osensinamentos e se tornar (d!ogchenista)$-odas estas coisas podem, de 'ato, criars*rios obst&culos ao verdadeiroconhecimento$

Na realidade o ser humano est& t!oacostumado a colocar r%tulos em tudo que *incapaz de entender qualquer coisa que n!ose enquadre dentro de seus limites$ Dei#e+me dar um e#emplo pessoal$ ;ada vez que euencontro um tibetano que n!o me conhecebem, recebo a seguinte perguntaH ( queescola voc3 pertenceW)$ No -ibet, ao longo

dos s*culos, surgiram quatro tradi.esbudistas tibetanas principais, e se umtibetano ouve 'alar de um mestre, ele est&convencido de que o mestre devenecessariamente pertencer a uma destastradi.es$ 2e respondo que sou umpraticante de Dzogchen, esta pessoapresumir& que perteno A escola 1'ng0apa,na qual os te#tos Dzogchen 'orampreservados$ lgumas pessoas, por outrolado, como realmente aconteceu, sabendo queescrevi alguns livros sobre #8n  com oob"etivo de reavaliar a cultura nativa do-ibet, dir!o que sou um #onpo $ Cas Dzogchen

n!o * uma escola ou seita, ou sistemareligioso$ Z simplesmente um conhecimentoque os mestres t3m transmitido al*m doslimites da tradi!o de uma seita oulinhagem$ Na linhagem do ensinamentoDzogchen t3m e#istido mestres pertencentesa todas as classes sociais, incluindo'azendeiros, nMmades, nobres, monges, egrandes 'iguras religiosas, de todas astradi.es espirituais e de seitas$ O quinto%alai Va0a/ por e#emplo, enquanto mantinhaper'eitamente as obriga.es de sua elevadaposi!o religiosa e política, 'oi um grandepraticante de Dzogchen$

Tma pessoa que este"a realmenteinteressada no ensinamento tem que entenderseu princípio 'undamental sem que se tornecondicionado pelos limites de uma tradi!o$s organiza.es, institui.es, ehierarquias que e#istem nas v&rias escolas'reqentemente se tornam 'atores que noscondicionam, mas isto * algo di'ícil paran%s notarmos$ O verdadeiro valor dosensinamentos est& al*m de todas asestruturas que as pessoas criaram, e paradescobrir se o ensinamento * realmente umacoisa viva para n%s, precisamos observar em

que medida ele nos libertou doscondicionamentos$ lgumas vezes podemosacreditar que compreendemos o ensinamento,e que sabemos como aplic&+lo, mas napr&tica continuamos condicionados por

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atitudes e princípios doutrin&rios queest!o longe da compreens!o da nossaverdadeira condi!o$

Vuando um mestre ensina Dzogchen,ele esta tentando transmitir oconhecimento$ O ob"etivo do mestre *despertar o indivíduo, abrindo a suaconsci3ncia para o estado primordial$ O

mestre n!o diz (2iga minhas regras eobedea aos meus preceitos[)$ Cas, (braseu olho interior e observe a si mesmo$<are de procurar uma lQmpada e#terna parailumin&+lo, mas acenda sua pr%pria lQmpadainterna$ ssim o ensinamento ir& viver emvoc3, e voc3 no ensinamento)$

O ensinamento precisa tornar+se umconhecimento vivo em todas as atividadescotidianas$ ?sta * a ess3ncia da pr&tica, eao lado disso n!o h& nada em particularpara ser 'eito$ Tm monge, sem abandonarseus votos, pode praticar per'eitamente bem

o Dzogchen$ ssim como um padre cat%lico,um balconista, um oper&rio, etc, sem terque abandonar seu papel na sociedade,porque o Dzogchen n!o modi'ica a pessoa apartir de seu e#terior, mas a acordainternamente$ única coisa que um mestreDzogchen pedir& * que o indivíduo observe asi pr%prio, alcanando a consci3ncianecess&ria para aplicar o ensinamento nocotidiano$

-oda religi!o, todo ensinamentoespiritual, tem seus princípios 'ilos%'icosb&sicos, seu "eito característico de ver as

coisas$ Na 'iloso'ia 0udista, por e#emplo,surgiram di'erentes sistemas e tradi.es,'reqentemente discordando entre si apenassobre sutilezas de interpreta!o dosprincípios 'undamentais$ No -ibet estascontrov*rsias 'ilos%'icas persistem at*ho"e, e os te#tos pol3micos resultantesconstituem agora um corpo inteiro deliteratura$ No Dzogchen nenhuma importQncia* dada As opini.es e convic.es'ilos%'icas$ 'orma de ver no Dzogchen n!oest& baseada no conhecimento intelectual,mas na consci3ncia do indivíduo de suaverdadeira condi!o$

-odo mundo geralmente tem sua pr%pria'orma de pensar e suas pr%prias convic.essobre a vida, mesmo que nem sempre consigamde'ini+las 'iloso'icamente$ -odas asteorias 'ilos%'icas que e#istem 'oramcriadas pelas mentes dualistas equivocadasdos seres humanos$ quilo que ho"e *considerado verdadeiro, amanh! pode serconsiderado 'also$ Nada pode garantir avalidade de uma 'iloso'ia$ <or causa disto,qualquer 'orma intelectual de ver * parciale relativa$ O 'ato * que n!o e#iste verdadea ser buscada ou con'irmada logicamenteY em

lugar disto o que o indivíduo deve 'azer *descobrir o quanto a mente continuamentenos limita numa condi!o de dualismo$

O dualismo * a raiz verdadeira do

so'rimento e de todos os con'litos$ -odosos nossos conceitos e crenas, n!o importaqu!o pro'undos possam parecer, s!o comoredes que nos aprisionam no dualismo$Vuando descobrimos nossos limites temos quetentar ultrapass&+los, desligando+nos dequalquer tipo de convic!o religiosa,política, ou social que possa noscondicionar$ -emos que abandonar tamb*m

conceitos tais como (ilumina!o), (naturezada mente), etc, at* que n!o nossatis'aamos mais com um conhecimentomeramente intelectual, e at* que n!o nosdescuidemos mais de integrar a mente com anossa e#ist3ncia verdadeira$

ssim, * necess&rio comear pelo queconhecemos, pela nossa condi!o humanamaterial$ No ensinamento * e#plicado que oindivíduo * constituído de tr3s aspectosHcorpo, 'ala e mente$ ?stes constituem nossacondi!o relativa, que est& su"eita aotempo e A separa!o do su"eito e do ob"eto$

quela que est& al*m do tempo e dos limitesdo dualismo * chamada (condi!o absoluta),o verdadeiro estado do corpo, 'ala e mente$<ara entrar nesta e#peri3ncia, entretanto,* necess&rio primeiro entender nossae#ist3ncia relativa$

O corpo * algo verdadeiro para n%sY *a 'orma material que nos limita dentro dadimens!o humana$ ?#ternamente ele encontraseu re'le#o na dimens!o material, com aqual est& intimamente ligado$ No Tantra,por e#emplo, 'ala+se de correspond3nciasprecisas entre o corpo humano e o universo,

com base no princípio de que s!o uma únicaenergia$ Vuando pensamos em n%s mesmos, aprimeira coisa que pensamos * em nossocorpo e no nosso ser 'ísico$ Disto surge umsentimento de um eu, o apego, e todos osconceitos de propriedade que decorremdisso, tais como, 0inha casa, 0eu  país, 0euplaneta, etc$

trav*s da dimens!o material do corpopodemos compreender sua energia, ou ('ala),o segundo aspecto do indivíduo$ energian!o * material, visível, ou tangível$ Zalgo mais sutil e di'ícil de entender$ Tm

de seus aspectos perceptíveis * a vibra!o,o som, assim conhecido como ('ala)$ vozest& ligada A respira!o, e a respira!o Aenergia vital do indivíduo$ No 5antra 5oga/os quatro movimentos do corpo e e#ercíciosrespirat%rios t3m como ob"etivo o controledessa energia vital$

rela!o entre 'ala, respira!o, eenergia pode ser melhor demonstrada atrav*sdo modo como os 0antras  'uncionam$ Tm0antra * uma s*rie de sílabas cu"o poderreside no som, atrav*s da pronúnciarepetida delas se pode obter controle de

uma dada 'orma de energia$ energia doindivíduo est& intimamente ligada A energiae#terna, e cada uma pode in'luenciar aoutra$ O conhecimento dos v&rios aspectosda rela!o entre as duas energias * a base

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das tradi.es rituais #8n, as quais at*ho"e t3m sido relativamente descuidadaspelos estudiosos ocidentais$ No #8n, pore#emplo, considera+se que muitos distúrbiose doenas derivam de classes de seres quet3m a capacidade de dominar certas 'ormasde energia$ Vuando a energia de umindivíduo en'raquece, * como dei#ar umaporta aberta As provoca.es de tais classes

de seres$ ssim * dada uma grandeimportQncia A integridade da energia doindivíduo$

<or outro lado, * possívelin'luenciar a energia e#terna, realizandoos assim chamados (milagres)$ ?ste * oresultado do controle da pr%pria energia,atrav*s da qual se obt*m a capacidade dedominar os 'enMmenos e#ternos$

mente * o aspecto mais sutil eoculto da nossa condi!o relativa$ Cas n!o* di'ícil notar sua e#ist3ncia$ -udo o que

se tem a 'azer * observar como surgem ospensamentos e como nos dei#amos capturar noseu 'lu#o$ 2e algu*m pergunta (O que * amenteW) / a resposta poderia ser de que * amente que 'az essa pergunta$ mente * um'lu#o ininterrupto de pensamentos quesurgem e desaparecem$ -em a capacidade para"ulgar, para racionalizar, para imaginar,etc, dentro dos limites do espao e dotempo$ Cas al*m da mente, al*m de nossospensamentos, e#iste algo que chamamos(natureza da mente), a verdadeira condi!oal*m de todos os limites$ 2e estivermosent!o al*m da mente, como podemos chegar ao

entendimento delaW

-omemos o e#emplo do espelho$ Vuandoolhamos num espelho vemos nele as imagensre'letidas dos ob"etos que est!o em 'rentedeleY n!o vemos a natureza do espelho$ Caso que queremos dizer com esta (natureza doespelho)W sua capacidade de re'letir,de'inida como clareza, sua pureza, e sualimpidez, que s!o condi.es indispens&veispara a mani'esta!o do re'le#o$ ?sta(natureza do espelho) n!o * algo visível, ea única maneira pela qual podemoscompreender * atrav*s das imagens

re'letidas$ Do mesmo modo, n%s apenassabemos e temos e#peri3ncia concretadaquilo que * relativo A nossa condi!o decorpo, 'ala e mente$ Cas esta * a pr%priamaneira de entender sua naturezaverdadeira$

Na verdade, 'alando do ponto de vistaabsoluto, n!o e#iste separa!o entre acondi!o relativa e a sua verdadeiranatureza, da mesma maneira que um espelho eas imagens re'letidas nele s!o de 'atoindivisíveis$ ;ontudo, nossa situa!o * talque * como se houv*ssemos saído do espelho

e agora estiv*ssemos olhando para asimagens re'letidas que est!o aparecendonele$ Fnconscientes de nossa pr%prianatureza de claridade, pureza e limpidez,consideramos as imagens re'letidas como

reais, desenvolvendo avers!o ou apego$ssim, em vez destas imagens constituíremum meio para descobrirmos nossa verdadeiranatureza, elas se tornam um 'ator decondicionamento$ ? vivemos distraídos pelascondi.es relativas, atribuindo grandeimportQncia As coisas$

?sta condi!o, que * a situa!o geral

de todos os seres humanos, * chamada(ignorQncia) no ensinamento$ ? mesmo umapessoa que tenha estudado os conceitos maispro'undos quanto (A natureza da mente), masque n!o entende realmente sua condi!orelativa, pode ser de'inida como(ignorante), porque a (natureza da mente)para aquela pessoa permanece umconhecimento intelectual$ ?ntender nossaverdadeira natureza n!o requernecessariamente o uso do processo mental dean&lise e racionaliza!o$ Tma pessoa quetem um conhecimento intelectual da naturezado espelho permanecer& atraída, tal como

qualquer outra pessoa, pelas imagensre'letidas que aparecem e as "ulgar!o comobelas ou 'eias, permitindo a si mesmosserem presos pelo dualismo da mente$

No Dzogchen o termo (conhecimento)signi'ica tornar+se mesmo como o espelho, anatureza do qual n!o pode ser manchadapelas imagens re'letidas nele$ Vuando nosencontramos a n%s mesmos no conhecimento denossa verdadeira condi!o, nada noscondiciona$ -udo o que surge * parte dasqualidades naturais do nosso estadoprimordial$ <or esta raz!o o ponto

'undamental n!o * abandonar ou trans'ormara condi!o relativa, mas compreender suaverdadeira natureza$ <ara este 'im *necess&rio esclarecer+nos de todos ospreconceitos e 'alsi'ica.es quecontinuamente nos aplicamos$

N%s temos um corpo material, que *e#tremamente delicado, e que tem muitasnecessidades que temos que respeitar$ 2eestivermos com 'ome precisamos comer, seestamos cansados precisamos descansar, etc$2e n!o o 'izermos, podemos desenvolverproblemas de saúde s*rios, porque os

limites de nosso corpo s!o muito concretos$No ensinamento, ultrapassar o apego aocorpo * ensinado de uma maneira ampla$ Casisto n!o signi'ica que devemos romperabruptamente todos os limites e negar suasnecessidades$ O primeiro passo paraultrapassar este apego * entender acondi!o do corpo, e assim saber comorespeit&+lo$ Fsto tamb*m * verdade no queconcerne ao 'uncionamento de nossa energia$Vuando algu*m a ignora e tenta debater+secom seus limites naturais, os distúrbiosresultantes podem espalhar+se para ases'eras do corpo ou da mente$ Na medicina

tibetana, por e#emplo, algumas 'ormas deloucura s!o consideradas como causadas pelacircula!o de uma energia vital sutil emlugares diversos daqueles em que usualmente'luiria$

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<roblemas de energia s!o muitos*rios$ Nos tempos modernos atravessamos umperíodo no qual e#iste uma maiordissemina!o de doenas, tal como cQncer,que est!o ligadas a desordens de energia$ medicina o'icial, mesmo tendo identi'icadoos sintomas de tal doena, ignora a causa'undamental, porque n!o compreende as

'un.es da energia$ Na medicina tibetanaestes tipos de distúrbios, quando o cursodo tratamento terap3utico mostraine'ic&cia, s!o curados atrav*s da pr&ticado 0antra, que in'luencia e coordena acondi!o da energia do paciente atrav*s dosom e da respira!o$ <aralelamente, no5antra 5oga  utilizamos posi.es do corpo,m*todos de controle da respira!o, econcentra.es mentais, para restabelecerdesordens de energia$

O ensinamento Dzogchen adverte paraque o indivíduo nunca 'orce a condi!o da

pr%pria energia, mas sempre este"aconsciente de seus limites em todas asv&rias circunstQncias em que ele seencontre$ 2e algumas vezes o indivíduo n!ose sentir bem sentando para praticar, deveevitar se colocar em luta contra elepr%prio$ <ode ser que ha"a algum problemaem nossa energia que n%s desconhecemos$ ?mtais situa.es * importante saber comorela#ar, e como dar espao a si pr%prio, a'im de n!o bloquear o progresso de suapr&tica$ <roblemas de solid!o, depress!o,con'us!o mental, etc, tamb*m 'reqentementederivam de uma condi!o de desequilíbrio de

nossa energia$

mente in'luencia tanto o corpo comoa energia, e ao mesmo tempo depende dacondi!o deles$ lgumas vezes a mente est&totalmente escravizada pela energia e n!oh& nenhuma 'orma de balance&+la sem limparas desordens de energia primeiro$ Z muitoimportante entender a rela!o deinterdepend3ncia entre mente e energia$ ?mtodas as tradi.es budistas, quando seensina a medita!o, e#plica+se que arespira!o precisa ser lenta e pro'unda, a'im de 'avorecer o desenvolvimento de um

estado de calma mental$ <or outro lado, seobservarmos uma pessoa nervosa cu"a mentese encontra num estado agitado, notaremoscertamente que sua respira!o * curta eapressada$ lgumas vezes * impossívelacalmar a mente apenas pela medita!o, e *necess&rio praticar as respira.es emovimentos de 5antra 5oga, a 'im derealinhar a energia$

imagem de uma gaiola * geralmenteusada como e#emplo para representar nossacondi!o relativa$ O indivíduo assemelha+se a um p&ssaro preso e protegido por uma

gaiola$ gaiola * aqui um símbolo de todosos limites de nosso corpo, 'ala e mente$Cas a gaiola no e#emplo n!o * usada paraindicar alguma situa!o horrível para ohomem, mas sim para descrever uma condi!o

normal na qual o ser humano vive$ Oproblema * que n!o estamos conscientes dasitua!o em que realmente nos encontramos,e estamos de 'ato com medo de descobri+la,porque crescemos nessa gaiola desdepequenos$

;onsideremos a maneira como umacriana entra nesses limites$ Durante os

primeiros meses de vida, quando a crianaainda n!o sabe racionalizar ou 'alar, seus'elizes pais embalam+na em seus braos emurmuram palavras doces para ela$ Casquando a criana comea a andar e querertocar todas as coisas eles dizem, (N!otoque nisso[ N!o v& l&[) ?nt!o a crianacresce, e * obrigada a limitar mais e maissua maneira de se e#pressar, de sentar+se Amesa, de comer, etc$ para se tornar ummenino modeloY os pais 'icam orgulhososdisto, mas a verdade * que a pobre coisinhaesta sendo introduzida completamente namaneira deles pensarem, est& aprendendo a

viver na gaiola$ ? ent!o, aos cinco ou seisanos de idade, a criana comea a ir Aescola, com todas as regras e imposi.es$ criana ter& novas di'iculdades a superar,mas ir& gradualmente acostumar+se a estagaiola adicional$ tualmente leva+se muitosanos para completar a gaiola que *indispens&vel para n%s vivermos emsociedade$ ?nt!o h& muitos outros 'atorescondicionantes, tais como id*ias políticas,crenas religiosas, os vínculos da amizade,do trabalho, etc$ Vuando a gaiola est&su'icientemente desenvolvida estamosprontos para viver nela, e nos sentirmos

protegidos$ t* que en'im tornamo+nosindependentesY sabemos onde est& a &gua, ara!o, etc$ ?sta * a condi!o de cadaindivíduo, e n%s temos que descobri+laobservando a n%s mesmos$

Vuando estamos conscientes de nossoslimites h& a possibilidade de ultrapass&+los$ Tm p&ssaro numa gaiola gera seus'ilhotes na gaiola$ Vuando nascem, ospassarinhos t3m asas$ Cesmo se, na gaiola,eles n!o possam voar, o 'ato de que elesnasam com asas mostra que sua naturezaverdadeira * ter contato com o espao

aberto do c*u$ Cas se um passarinho queviveu sempre numa gaiola de repente escapade tr&s das grades, poderia encontrarmuitos perigos, porque n!o sabe o que h& l&'ora$ Tm 'alc!o o devoraria ou um gato ocapturaria$ ssim * necess&rio para opassarinho treinar um pouco a voar numespao limitado, at* quando ele se sintapronto, e possa alar vMo de'initivamente$

Z o mesmo conoscoH mesmo se * di'ícilultrapassarmos todos os nossos limites emum instante, * importante saber que nossoestado verdadeiro est& l&, al*m de todos os

'atores condicionantes, e que n%s realmentetemos a possibilidade de redescobri+lo$

<odemos aprender a voar al*m doslimites de nossa condi!o dualista, at* que

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este"amos prontos para dei#&+la para tr&scompletamente$ <odemos comear tomandoconsci3ncia de nosso corpo, 'ala e mente$?ntender nossa verdadeira naturezasigni'ica entender nossa condi!o relativae saber como reintegr&+la com sua naturezaessencial, como um espelho que re'letequalquer ob"eto que se"a, mani'estando suaclaridade$

Revis!o deste capítuloH Curiela ;ola"acomo C&laga e =l&vio ;$ ;ardoso

Notas:

I$ Tma obra de Basubandhu, um mestreFndiano, sobre a meta'ísica budista$

2. tsa0pa * uma 'arinha de cevada torradamisturada ao ch& tibetano e manteiga$ Z aalimenta!o principal do povo tibetano$

3. O quinto %alai Va0a, #lo7b!ang rg'a70tsho4IKI5+L79, 'oi tamb*m um grande terton4gter7ston9, um descobridor de ter0a, oute#tos ocultos$

4. O 5antra 5oga  4\phrul73hor 9 * o

equivalente budista do Hatha 5oga, doqual ele se distingue pela dinQmica deseus movimentos e pela importQnciaparticular atribuída a respira!o$

$apítulo Dois

OS CAMINHOS DA RENÚNCIA E DA TRANSFORMAÇÃO

-odos os diversos tipos deensinamentos e caminhos espirituais est!o

relacionados As di'erentes capacidades decompreens!o que di'erentes indivíduos t3m$N!o e#iste, de um ponto de vista absoluto,qualquer ensinamento que se"a mais per'eitoou e'icaz do que um outro$ O valor de umensinamento reside t!o somente no despertarinterior que um indivíduo pode alcanaratrav*s dele$ 2e uma pessoa se bene'iciacom um dado ensinamento, para aquela pessoaaquele ensinamento * o caminho supremo,porque ele * adequado A sua natureza ecapacidade$ N!o h& "usti'icativa em tentar"ulg&+lo como mais ou menos elevado emrela!o a outros caminhos para a

realiza!o$

?#istem tr3s caminhos principais oum*todos de ensinarH o caminho da renúncia,o caminho da trans'orma!o, e o caminho daauto+libera!o, baseados, respectivamente,nos ensinamentos dos (utras/ dos Tantras, edo Dzogchen$ ?stes correspondem aos tr3saspectos do corpo, voz, e mente, chamados(os tr3s port.es), porque s!o as tr3smaneiras de penetrar no estado deconhecimento$ O caminho da renúncia est&incluído nos ensinamentos do (utra/ isto *,nos serm.es atribuídos ao pr%prio 0uda

(ha3'a0uni$ base dos ensinamentos do(utra  * a e#plica!o das Vuatro NobresBerdadesH as verdades do so'rimento, dacausa do so'rimento, da cessa!o doso'rimento, e do caminho que leva a essa

cessa!o$ Z relatado que quando 0udaatingiu a ilumina!o e encontrou seusprimeiros discípulos em 2arnath, comeou atransmitir+lhes seu conhecimento 'alandosobre a e#peri3ncia que * a mais concreta ereal para os seresH o so'rimento$ -odos n%sestamos su"eitos a in'initos tipos deso'rimento, em adi!o ao so'rimento naturaldo nascimento, doena, velhice, e morte$

Vual * a causa 'undamental de todo o nossoso'rimentoW pego, dese"o, e as pai#.esYesta * a segunda verdade$ s pai#.es,produzindo car0a/ ligam todos os indivíduosA transmigra!o sem qualquer caminhoaparente de saída$ Cas a terceira verdadea'irma que uma vez descoberta a causa datransmigra!o, * possível elimin&+la,e#tinguindo o car0a do indivíduo$ ;omo issopode ser 'eitoW <ela aplica!o do caminhoda renúncia], a quarta nobre verdade$

O princípio b&sico dessa (renúncia) *que, para conseguir a cessa!o das causas

do so'rimento e da transmigra!o, *necess&rio renunciar ou abster+se dee'etuar a.es que produzam car0a  negativo$Neste ponto * necess&rio ter umacompreens!o adequada do conceito de car0a/porque algumas vezes as pessoas interpretamde 'orma imprecisa ou incompleta$ id*ia'undamental de car0a 4literalmente, (a!o)9* de que ter e'etuado uma dada a!o estaresultar& em e'eitos$ ?sses e'eitos,entretanto, n!o s!o irreversíveis$ O car0an!o * uma lei irrevog&vel que n!o pode seralterada$ <ara um car0a  mani'estar seue'eito s!o necess&rias condi.es propícias,

conhecidas como (causas secund&rias)$

Vuando o car0a  * e#plicado,geralmente se 'ala de dois 'atoresprincipaisH causas pri0árias  e causassecundárias$ <ara produzir uma causapri0ária  que se"a potencialmente capaz delevar a um e'eito, s!o necess&rias tr3scoisasH inten!o, a realiza!o da a!o, eent!o satis'a!o$ causa cár0ica pri0ária,'ormada desse modo, * compar&vel A sementede uma 'lor, cu"o desenvolvimento dependede v&rios 'atores tais como &gua,'ertilizante, o sol, etc$ -odos estes

'atores s!o como causas secundárias  queconstituem todas as di'erentescircunstQncias que encontramos em nossasvidas$ ssim, estando conscientes deles, *possível evitar o 'avorecimento daquelesque podem 'azer com que as causas cár0icaspri0árias  se mani'estem$ <or e#emplo, senuma vida passada eu cometi uma a!o quepossa ter como resultado que eu se"aassassinado nesta vida, esta * a causapri0ária, que pode se mani'estar quando acondição secundária apropriada, tal como seuma briga estiver presente$ Cas, se nomomento da briga, eu tiver a consci3ncia de

que estou criando car0a  negativo e ent!ore'rear a raiva, a outra pessoaprovavelmente se acalmaria, e eu teriaevitado a possibilidade de ser morto$ ?mgeral, todas as causas secundárias  s!o

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re'le#os das causas pri0árias$ ;omo o 0udadisse, >(e você ;uer saber o ;ue você <e!e0 sua vida passada/ observe sua condiçãoatualQ se você ;uer saber ;ual a suacondição <utura/ observe suas açGes nopresente?2

Os meios para realizar o caminho darenúncia s!o atrav*s da observa!o de

regras de procedimento estabelecidas pelo0uda, contidas no *ina'a/ o c%digo da leibudista mon&stica$ Observando os preceitosrelativos ao corpo, voz, e mente, *possível puri'icar o car0a negativo eacumular car0a  positivo$ l*m disso, amanuten!o de um compromisso * uma 'onte dem*rito em si mesma$ <or e#emplo, se algu*mevita roubar, acumula uma virtude duplaHprimeiro, por n!o ter cometido a a!onegativa, e segundo, por manter seu voto$-odo este m*todo est& baseado na limita!odo comportamento do indivíduo,principalmente ao nível do corpo, isto *,

ao nível da dimens!o material$

Nos (utras/ o princípio da elimina!odo car0a  negativo * tamb*m a base dapr&tica de medita!o, cu"o ob"etivo * o deencontrar um estado mental calmo no qual ospensamentos n!o s!o mais capazes deperturbar a pessoa$ <or este meio evita+sea possibilidade de produzir car0a atrav*sda entrega As pai#.es$ realiza!o *considerada alcanada com a e#tin!o do egoindividual ilus%rio, que * a raiz de todosos dese"os e con'litos$ ?stes conceitoss!o, 'alando corretamente, os da tradi!o

Hina'ana  ou Theravada, que * mais 'iel Ase#plica.es dadas nos primeirosensinamentos de 0uda (ha3'a0uni$ OMaha'ana/ por outro lado, est& baseado emconsidera.es mais pro'undas, tais como nacompai#!o universal e na vacuidade de todosos 'enMmenos$ ?m ambas as tradi.es,entretanto, os votos s!o um elemento'undamental para colocar a a!o de renúnciaem a!o$ Vuando algu*m recebe a ordena!omon&stica, os sinais da renúncia do mundolaico s!o colocados em evid3nciaH a pessoausa roupas mon&sticas, recebe um novo nome,e raspa sua cabea$ Cas este princípio da

renúncia n!o * encontrado e#clusivamente natradi!o mon&stica budista$ Z tamb*m oalicerce de todas as tradi.es religiosas ede todas as leis n!o religiosas dasociedade em geral$

O caminho da trans'orma!o *encontrado nos ensinamentos t+ntricos/  osescritos revelados atrav*s dasmani'esta.es puras de seres realizados$<ara compreender o princípio 'undamental dotantris0o   podemos considerar o simbolismode dois ob"etos do ritual t+ntrico H o va.rae o sino , que representam, respectivamente,

(m*todo), a mani'esta!o do estadoprimordial como 'ormaY e (energia), a(ess3ncia) do que est& mani'estado¹$ *a.rasigni'ica (indestrutível), e se re'ere Acondi!o primordial do indivíduo, que est&

al*m do nascimento e da morte$ O sino , querepresenta som, * o símbolo da energia doestado primordial$ 2e olharmos a 'orma dova.ra/ podemos ver que em seu centro estauma pequena es'era, que se liga a duasse.es, uma acima e uma abai#o, com cincoramos cada$ pequena es'era, >thigle?thig le"  em tibetano, simboliza apotencialidade do estado primordial se

mani'estar, tanto como uma vis!o pura ounirvana/ ou como uma vis!o impura ousa0sara$

visão i0pura est& baseada nos cincoagregados1 que constituem o indivíduo, e ascinco pai#.es que s!o suas 'un.es@$ visão pura * a mani'esta!o do aspecto puroou essencial dos cinco agregados e dascinco pai#.es na dimens!o dos cinco 0udasdo (a0bhoga3a'a e suas sabedoriascorrespondentes6$ ?m ambos os casos,entretanto, o princípio da mani'esta!o * omesmoH eles surgem da potencialidade de

nosso estado primordial$ Z por isso que oscinco ramos das duas se.es do va.ra est!oligados A es'era do centro$ (a0sara  enirvana  s!o o aspecto dualístico de umaúnica ess3ncia mani'estado atrav*s deenergia$ ?sta energia em si * de 'atoinsepar&vel da mani'esta!o, simbolizadapela 'orma do cabo do sino do va.ra$

Os Tantras s!o ensinamentos baseadosno conhecimento e aplica!o da energia$ 2uaorigem n!o * para ser encontrada nosensinamentos orais de um mestre, como * ocaso dos (utras  ensinados pelo 0uda, mas

origina+se na mani'esta!o da visão pura deum ser realizado$ Tma mani'esta!o purasurge atrav*s da energia dos elementos noseu aspecto sutil e luminoso, enquantonossa visão cár0ica  est& baseada em seuaspecto grosseiro ou material$ <ara recebereste tipo de transmiss!o, * ent!onecess&rio ter a capacidade de perceber adimens!o sutil da luz$

ess3ncia dos elementos * luz, oucor, mas n!o * uma quest!o de coresmateriais, visíveis para qualquer um$<ercebemos apenas as cores ligadas A vis!o

cár0ica2  Vuando estas s!o reabsorvidas nadimens!o sutil da luz, para n%s * como setivessem desaparecido$ Cas um serrealizado, que puri'icou seu car0a/  ereintegrou a mani'esta!o material nadimens!o pura dos elementos, mani'estaespontaneamente sua sabedoria atrav*s decores e luz$ <ara ter contato com essadimens!o pura o indivíduo precisadesenvolver sua claridade, ao grau maiselevado, e puri'icar os obst&culos do car0ae da ignorQncia$

<ara e#plicar as origens dos Tantras,

podemos tomar o e#emplo de um dos maisconhecidos, o Tantra $alacha3ra, que *considerado como tendo sido transmitidopelo 0uda (ha3'a0uniG$ ?st& claro,entretanto, que ele pode n!o ter sido

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transmitido pelo 0uda no seu aspecto'ísico, porque a divindade $alacha3ra  *representada pela uni!o com sua consorte,uma 'orma conhecida como >5ab75u0?/enquanto o 0uda era representado como ummonge$ Fsto mostra como a transmiss!o de umtantra n!o se d& atrav*s do contato de umanatureza comum, mas atrav*s da dimens!opura da trans'orma!o, capaz de ser

percebida apenas por aqueles indivíduos quet3m uma capacidade su'iciente$

O que queremos dizer com(trans'orma!o)W ?stamos nos re'erindo Apotencialidade de um ser realizadomani'estar in'initas 'ormas no(a0bhoga3a'a/  as quais est!o relacionadasao tipo de seres que ir!o perceber atransmiss!o$ Neste ponto * necess&rio teruma compreens!o clara do que * a dimens!odo (a0bhoga3a'a2 ?m sQnscrito, (a0bhoga3a'asigni'ica (corpo) ou (dimens!o) de ri;ue!a,sendo a ri;ue!a  a potencialidade in'inita

das mani'esta.es de sabedoria$ ?stapotencialidade * compar&vel Aquela de umespelho no centro do universo que re'letetodos os diversos tipos de seres$ smani'esta.es do (a0bhoga3a'a est!o al*m dotempo e al*m dos limites da dimens!omaterial, e seu surgimento n!o depende dae#ist3ncia de inten!o por parte do serrealizado$ Fsto signi'ica que amani'esta!o da divindade $alacha3ra  n!o'oi algo criado pelo 0uda em um dadomomento do tempo hist%rico, mas * algo que"& e#istia, porque a dimens!o do(a0bhoga3a'a est& al*m do tempo$ queles

que receberam sua transmiss!o, atrav*s dapura percep!o de uma mani'esta!o de 0uda,e#plicaram+na em palavras e símbolos, dandoorigem ao $alachacra2

representa!o visual de umamani'esta!o de trans'orma!o * chamado0andala, que * um dos elementos'undamentais da pr&tica do tantra2  O0andala  pode ser e#plicado como uma 'ototirada no momento da mani'esta!o pura dadivindade$ o centro de cada 0andala  seencontra a divindade central, querepresenta a condi!o primordial da

e#ist3ncia, correspondendo ao elemento doespao$ Nos quatro pontos cardeais,representado pelas cores dos outros quatroelementos, haver& o mesmo número dedivindades, simbolizando as 'un.es desabedoria que surgem como as quatro a.esK$

divindade de um 0andala nem sempreter& uma apar3ncia humana, mas algumasvezes ter& uma ou mais cabeas de animal eum número correspondente de braos epernas$ Fsto 'oi interpretado por muitosestudiosos como uma maneira simb%lica derepresentar os princípios do tantra  em

quest!o$ Cas tais considera.es s!o, de'ato, apenas de importQncia relativa eparcial$ verdade disto * que todas asmani'esta.es de divindades surgem dadimens!o (a0bhoga3a'a  e ent!o, como "&

e#plicamos, o (a0bhoga3a'a  * como umespelho, ele re'lete todo tipo de ser queaparece para ele$ ssim, a chamada (rte dotantra  tibetano) pode ser realmente vistacomo um tipo de evid3ncia de que e#istemdi'erentes tipos de seres em todo ouniverso$

-omemos como e#emplo a representa!oiconogr&'ica da da3ini  (inha0u3ha, que tem

uma cabea de le!o num corpo de mulher$ sda3inis s!o, em geral, uma classe de serescom uma apar3ncia 'eminina, que s!omani'esta.es de energia$ (inha0u3ha * uma'orma (a0bhoga3a'a de da3ini$ 2eu nome emsQnscrito quer dizer (com 'ace de le!o),porque sua 'ace * semelhante A de um le!o,em particular ao do mítico le!o das nevesdo -ibet$ <or 'alta de qualquer outra 'ormade dizer com o que ela * parecida, surgiu aconven!o de que esta da3ini tem uma 'acede le!o$ Cas n!o se pode e#cluir apossibilidade de que o que realmente *representado * um tipo de ser que n%s n!o

conhecemos$

Tm outro e#emplo deste tipo de coisa* a divindade irada  5a0anta3a, que *representada como tendo a cabea de bú'alo$?le * considerado como sendo a mani'esta!o(a0bhoga3a'a  do #odhisattva Man.ushri, umamani'esta!o recebida por uma classe deseres chamada >5a0a?/  cu"a característicaparticular est& no 'ato de ter uma cabeasemelhante A de um bú'alo$

mani'esta!o do (a0bhoga3a'a vem detr3s 'atoresH som, luz, e raios$ (o0   * o

primeiro est&gio da mani'esta!o deenergia, que, na dimens!o da mani'esta!o,* percebida como 0antra2  ?ste tipo de0antra/  chamado o (2om Natural do *a.ra)uma vez que ele surge espontaneamente, *usado na pr&tica para integrar avisualiza!o 4do 0andala da divindade9 coma 'un!o de uma de suas pr%prias energias$Vu!  * o segundo est&gio de mani'esta!o, *o aspecto visível da energia, ainda em uma'ase anterior Aquela em que assume qualquer'orma especí'ica$ ? assim, em terceiro,atrav*s de raios  mani'esta todas asin'initas 'ormas e cores do 0andala  da

divindade$ ;ada indivíduo possui apotencialidade destes tr3s aspectos demani'esta!o$

?#iste um ditado t+ntrico   que diz,(plica+se o 'ruto como o caminho), porquea dimens!o do 0andala / uma mani'esta!o derealiza!o ou o 'ruto / se torna o caminhopara a realiza!o do discípulo atrav*s datransmiss!o oral dada por um mestre$ Cuitoste#tos a'irmam que v&rios tantras  'oramoriginalmente transmitidos aos 0ahasiddhasindianos que estavam se dirigindo para opaís de Oddiana e que, ainda no caminho

para l&, receberam a transmiss!o atrav*s devis.es$ Oddiana, que 'oi a 'onte originaltanto dos Tantras como do Dzgchen, e que'oi o país nativo de mestres tais como>arab Dor"e e <admasambhava, * algumas

II

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vezes chamado ( -erra das %a3inis), uma'rase usada para indicar a concentra!o,num lugar especí'ico, destas mani'esta.esde energia do universo$

Os mestres realizados que(importaram) os Tantras  para o mundo apartir de v&rias dimens.es, transmitiram adimens!o pura da trans'orma!o atrav*s de

representa.es do 0andala$ ?sta transmiss!otem lugar toda vez que um mestre con'ere ainicia!o de um tantra a um discípulo$

Durante a inicia!o o mestre descrevea imagem do 0andala a ser visualizada, e emparticular a divindade em que cada um temque se trans'ormar$ ?nt!o, ele pr%priovisualizando a dimens!o da trans'orma!o,con'ere poder para a pr&tica, transmitindoo som natural do 0antra especí'ico para adivindade$ p%s o discípulo ter recebido ainicia!o e ter assim tido sua primeirae#peri3ncia de trans'orma!o na visão pura,

ele agora est& pronto para aplicar istocomo um caminho, atrav*s da visualiza!o eda recita!o do 0antra$ <or estes meios opraticante do Tantra tenta trans'ormar avisão co0u0 i0pura na visão pura do 0andalada divindade$ -odos os tantras  se baseiamno princípio da trans'orma!o, trabalhandocom o conhecimento de como a energia'unciona$ O verdadeiro signi'icado dapalavra tantra / (continua!o) / re'ere+seA natureza da energia do estado primordial,que se mani'esta sem interrup!o$

pr&tica do tantra tem duas 'asesH o

est&gio de desenvolvimento 4bs3'ed ri0 9, ea 'ase de (aper'eioamento) 4rd!ogs ri0 9$ primeira 'ase consiste na visualiza!ogradual do 0andala, comeando com a sílabasemente da divindade principal, e assílabas dos quatro elementos$ Vuando acria!o imagin&ria do 0andala  est&completa, enquanto a pessoa mant*m avisualiza!o de si pr%pria trans'ormada na'orma da divindade central, a pessoa recitao 0antra$ Nesta 'ase a pessoa trabalha emelevado grau com a 'aculdade de imagina!oda mente, tentando desenvolver ao m&#imo acapacidade de visualiza!o$ segunda 'ase,

o est&gio de (aper'eioamento), 'oca navisualiza!o do 0andala interno do cha3ra edo nadi5, e na concentra!o nas sílabas do0antra, que gira sem interrup!o em tornoda sílaba semente$ No 'inal da sess!o depr&tica, os 0andalas  interno e e#ternoest!o integrados na dimens!o do corpo, voz,e mente do praticante$ O resultado 'inal dapr&tica * que a visão pura mani'esta+se semdepender mais da visualiza!o, tornando+separte da claridade natural do indivíduo$ssim, a pessoa consegue o estado total dereintegra!o da visão pura com a visãoi0pura, o Maha0udra, o (grande símbolo) no

qual sa0sara  e nirvana  est!oindissoluvelmente unidos$

O m*todo da pr&tica em trans'orma!ogradual, vai ser encontrado na tradi!o

Maha'oga da ?scola 1'ing0apa e na tradi!odo Tantra  6nuttara  de todas as outrasescolasL$ Cas tamb*m e#iste um m*todot+ntrico   baseado na visualiza!oinstantQnea, n!o gradual encontrado apenasna tradi!o 6nu'oga$ O princípio destem*todo 6nu'oga  * que desde que, no estado primordial de todo indivíduo, o 0andala e a divindade s!o per'eitas desde o início,

elaborar visualiza.es graduais n!o s!onecess&rias$ ssim, tudo o que * necess&rioneste m*todo * a presena imediata dadimens!o do 0andala, mani'estado numinstante$ l*m disso, esta pr&tica est&baseada principalmente no est&gio deaper'eioamento da visualiza!o$ No6nu'oga, o estado de total reintegra!o queresulta de uma pr&tica bem sucedida n!o *chamado Maha0udra/  mas (Dzogchen) Fstomostra que o princípio do auto+aper'eioamento que * a base deste m*todo *o mesmo nos ensinamentos Dzogchen, embora ocaminho atual se"a di'erente$

Vuando algu*m obteve real everdadeiramente a capacidade detrans'orma!o, este algu*m pode ativ&+lanos seus procedimentos di&rios atrav*s datrans'orma!o das pai#.es em poderes$ -r3spai#.es principais s!o consideradas nobudismoH raiva, apego, e obscurecimentomental 4ignorQncia9 chamados os (tr3svenenos) porque s!o a causa detransmigra!o$ No tantris0o   * consideradoque estes tr3s venenos podem sertrans'ormados em poder atrav*s de tr3sm*todos especí'icos de trans'orma!oH

atrav*s da trans'orma!o do pr%prioindivíduo na 'orma irada da divindade paraultrapassar a ira, na 'orma alegre paraultrapassar o apego, e na 'orma calma paraultrapassar o obscurecimento mental8$$-reinando a pr&tica da trans'orma!o comestas 'ormas de divindades, o praticante *capaz de conseguir ultrapassar as pai#.es,trans'ormando+as em seus poderescorrespondentes$

-omemos um e#emplo concreto destetipo de pr&tica$ 2uponha que algu*m setorne irado com uma pessoa e e#perimente

uma 'orte sensa!o de raivaY o que a pessoa'az * tentar, no mesmo instante, visualizara si mesma trans'ormada na 'orma irada dadivindade, na dimens!o pura do(a0bhoga3a'a$ Desta maneira a raiva podeser aumentada ao ponto em que 'aa opr%prio universo tremer, mas desde ent!on!o resta para o praticante qualquerdivis!o dualista da realidade em su"eito eob"eto, a raiva se libera como energiapura, sem qualquer alvo contra o qual serdirecionada$

Nas mesmas circunstQncias um

praticante do caminho da renúncia tentaria(bloquear) a raiva, pensando nasconseq3ncias do car0a negativo$ ssim,podemos 'acilmente compreender a di'erenaentre os v&rios m*todos usados nestas

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pr&ticas$ O praticante do caminho darenúncia, mesmo que (sinta) a raiva surgirdentro dele, tenta a todo custo se livrardela, como que receoso de en'rent&+la$ Numcerto sentido, tal praticante pode sertachado de ignorante da natureza daenergia$ O praticante do tantris0o/entretanto est& consciente de como aenergia 'unciona, e sabe que bloquear a

energia pode causar distúrbios tanto aocorpo como A mente$ ?le n!o p.e 'reios no'lu#o da energia, n!o a reprime, mas usa+acomo um meio de trans'orma!o$ <ara 'azeristo, entretanto, requer uma capacidade depr&tica altamente desenvolvida$

?m termos gerais, estas s!o ascaracterísticas dos caminhos do (utra e doTantra2  No Dzogchen, por outro lado, om*todo de autolibera!o * ensinadodiretamente, um m*todo no qual n!o e#istenada a renunciar ou a trans'ormar$ 2e apessoa n!o tem capacidade su'iciente,

entretanto, esta autolibera!o n!o trar&resultados verdadeiros$ <or esta raz!o, nosensinamentos do Dzogchen * advertido que apessoa deve saber como aplicar qualquertipo de m*todo que se"a mais adequado AscircunstQncias em que a pessoa se encontre,e mais adequado ao nível da capacidade queela tenha, at* que o indivíduo tenhaadquirido conhecimento do estado deautolibera!o$ Fsto * algo de que opraticante deve estar consciente$

Notas:

Do revisorH]$ O caminho de oito passos n!o * s% renúncia

1. No -antrismo, o m*todo 4upa'aQ thabs9 e aenergia 4pra.naQ shes7rab 9 s!oconsiderados os dois princípios'undamentais da e#ist3ncia,correspondentes as energias masculina e'eminina, ou lunar e solar$ O pra.na4conhecimento superior9 * nesse conte#tosinMnimo de (energia)$

2. Os cinco agregados 4s3andas9 s!o umconceito 'undamental da psicologia

budista$ 2!o elesH a 'orma, a sensa!o, apercep!o, as 'orma.es mentais e aconsci3ncia$

J$ s cinco pai#.es s!oH a raiva, o apego, oobscurecimento mental, o orgulho, e ainve"a$ 4?#iste uma se#taH a ganQncia9$

4. Os cinco 0udhas s!o mani'esta.es do(a0bhoga3a'a, da pr%pria condi!o doindivíduo$ s cinco sabedorias s!o as'un.es ligadas aos aspectos dos cincoelementos 'undamentaisH o espao, o ar, a&gua, o 'ogo$

5. O Tantra  de $alacha3ra * considerado umensinamento do 0udha 2akamuni, aos LIanos de idade, na stupa  de Dhanakuta ao

sul da :ndia$K$ s cinco atividades de sabedoria s!oH a

a!o paci'icadora, para a puri'ica!o,corresponde ao elemento &gua, a dire!oeste e a cor brancaY a a!o irada, para

vencer as energias negativas, correspondeao elemento ar, a dire!o norte e a corverdeY a a!o poderosa, para conquistar,corresponde ao elemento 'ogo, a dire!ooeste e a cor vermelhaY a a!o decrescimento, para a prosperidade,corresponde ao elemento terra, a dire!osul e a cor amarela$

7. Os cha3ras, literalmente (rodas), s!o ospontos principais onde se concentram aenergia no corpo humano$ Bisualizamos,cinco, seis, ou sete cha3ras, segundo osdiversos m*todos utilizados nosdi'erentes Tantras$ Os nadis  s!o canaissutis, n!o+materiais, pelos quais aenergia circula em todo o corpo$

8. Os 6nuttara7tantras  s!o classi'icados emTantra Pai quando damos mais importQncia,na pr&tica, a etapa de desenvolvimentoYem Tantra Mãe  quando a etapa deaper'eioamento * mais importante, e em(N!o+Dual) quando os duas 'ases dapr&tica tem igual importQncia$

9. O termo (divindade) * uma tradu!oparcial e imprecisa de >'i7da0?   quesigni'ica literalmente (mente sagrada)$No Tantris0o , a (divindade) * umamani'esta!o da dimens!o pura doindivíduo em si+mesmo e n!o alguma coisae#terior$ 'orma irada da (divindade)representa a natureza dinQmica daenergiaY a 'orma alegre representa asensa!o de prazer e a 'orma pací'icarepresenta o estado da mente calma, sempensamentos$

$apítulo &r's

O CAMINHO DA AUTOLI!ERAÇÃO

Os ensinamentos Dzogchen s!o tamb*mconhecidos como 6ti'oga/  ou ('ogaprimordial)$ palavra 'oga  * usada aquicom o signi'icado que tem equivalente notermo tibetano nal.or   rnal -b'or"/  quesigni'ica (possuindo a condi!o aut3ntica),esta condi!o * o estado primordial de cadaindivíduo$ Tm outro nome para Dzogchen * (oensinamento do estado da mente(a0antabhadra), ou a ilumina!oprimordial¹$ O m*todo praticado no caminhodo Dzogchen * chamado (auto+libera!o)porque se baseia em conhecimento ecompreens!o$ Cas n!o * que ha"a algumacoisa que se deva saberH * mais uma quest!ode penetrar na e#peri3ncia de um estadoal*m da mente racional, o estado decontempla!o$ N!o h&, entretanto nenhummeio de comear a compreender este estado,se o indivíduo n!o tomar a mente como pontode partida$ Fsto porque o caminho da auto+libera!o * dito estar mais ligado ao 'atorda mente do que os caminhos da renúncia eda trans'orma!o$ No Dzogchen, a introdu!o* dada diretamente ao estado inerente doindivíduo, atrav*s de uma e#plica!o dabase primordial da e#ist3ncia que * acondi!o original de todos os seres$

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-anto nos (utras como nos Tantras umdos conceitos 'undamentais discutidos * oda (natureza da  mente), a verdadeiracondi!o da mente, que est& al*m doslimites do intelecto e do tempo$ Oprincípio b&sico aqui * o da vacuidade oushun'ata, a doutrina central do Maha'ana$ Osigni'icado do termo vacuidade  tal comousado no Pra.Wapara0ita1, * a aus3ncia de

substancialidade / ou de natureza pr%pria /de todos os 'enMmenos, que * a verdadeira einerente condi!o de toda a e#ist3ncia@$Vuando se re'ere ao indivíduo, estacondi!o * re'erida como a (natureza damente)$

Nos ensinamentos Dzogchen muitostermos s!o usados para denotar a naturezada mente, incluindo, a (0ase primordial)4'e g!hi9Y a (0ase de tudo) 43un g!hi9Y aess3ncia da #odhichitta  primordial ) 4'eg!hi sn'ing p@ b'ang chub 3'i se0s9, etc$$?sta última denomina!o * encontrada em

muitos te#tos Dzogchen antigos, e ser& útilpara e#plicar seu signi'icado$

No Maha'ana/ bodhichitta  *considerada como signi'icando incumb3ncia,baseado no sentimento de compai#!ouniversal, de trazer todos os seres Ailumina!o$ Dois tipos de bodhichittas  s!ore'eridos em particularH relativa  eabsoluta$ bodhichitta  relativa  consisteno treinamento dos pensamentos do indivíduopara desenvolver a inten!o de bene'iciaros outros e levar a e'eito a.esaltruístas$ bodhichitta absoluta  * o

conhecimento da vacuidade de todos os'enMmenos, e se apro#ima do conceito de(#odhichitta primordial) no Dzogchen$

Vuando traduzida para o tibetano,bodhichitta  torna+se >chang chub se0?4b'ang chub se0s9, um termo constituído detr3s palavras >chang? b'ang"/  quesigni'ica (puri'icado)H >chub?/signi'icando (realizado) 4per'eito9Y e>se0?/  que signi'ica (mente)$ (Cente) emlugar de (natureza da mente)Y (puri'icado),signi'ica que todos os obst&culos enegatividades 'oram puri'icadosY e

(realizado) signi'ica que todos osconhecimentos e qualidades 'oramalcanados$ ssim #odhichitta primordial *o estado do indivíduo, que * verdadeirodesde o início, sem obst&culos, per'eito, einclui como sua potencialidade todas asv&rias mani'esta.es de energia$ Z umacondi!o al*m do tempo, al*m do dualismo,pura e per'eita como a natureza do espelho$2e algu*m ignora isso, entretanto, * porqueela n!o est& mani'estada e * necess&rioremover obst&culos tempor&rios que aobscurecem$ Nos ensinamentos Dzogchen oestado primordial da 0ase n!o * de'inido

apenas como sendo vazio, mas * e#plicadocomo tendo tr3s aspectos oucaracterísticas, chamados os tr3s poderes(primordiais)H essência/ nature!a/ eenergia$

essência  * o vazio, a condi!overdadeira do indivíduo e de todos os'enMmenos$ ?sta 0ase * a condi!o de todosos indivíduos, este"am eles conscientesdisso ou n!o, se est!o iluminados ou emtransmigra!o$ Diz+se ser (pura desde oinício) 3a dag"/  porque, tal como oespao, ela 4a essência9 est& livre detodos os obst&culos, e * a base de todas as

mani'esta.es na e#ist3ncia$

mani'esta!o do estado primordialem todos os aspectos, sua (claridade), poroutro lado * chamada nature!a$ Z dito ser(auto+realizada) 4lhun grub 9, porque elae#iste espontaneamente desde o início, comoo sol que brilha no espao$ Claridade  * aqualidade pura de todos os pensamentos e detodos os 'enMmenos percebidos, n!ocontaminados pelo "ulgamento mental$ <ore#emplo, quando vemos uma 'lor, primeiropercebemos sua imagem sem que a mente entreem "ulgamento, mesmo se essa 'ase de

percep!o dure uma 'ra!o de segundo$?nt!o, numa segunda 'ase, o "ulgamentomental entra em a!o e categoriza apercep!o, pensando, (?sta * uma 'lor, *vermelha, ela tem um per'ume especí'ico,etc$)$ Desenvolvendo a partir daí, apego eavers!o, aceita!o ou re"ei!o ir!o surgir,com a conseqente cria!o de car0a  etransmigra!o$ ;laridade * a 'ase na qual apercep!o * vívida e presente, mas a menteainda n!o entrou em a!o$ Z a mani'esta!oespontQnea do estado do indivíduo$ O mesmo* verdadeiro para os pensamentosH se n!o osseguirmos, e n!o 'ormos apanhados em

"ulgamento mental, eles tamb*m s!o parte denossa claridade natural$

terceira destas sabedoriasprimordiais * energia$ 2ua característica *que ela se mani'esta sem interrup!o6$ e#plica!o da energia no Dzogchen *'undamental para compreender a 0ase$ -odasas dimens.es, tanto pura ou impura,material ou sutil, s!o mani'esta.es de umou outro aspecto da energia$ <ara e#plicarcomo se originam tanto a transmigra!o comoa ilumina!o, s!o descritas tr3s 'ormas emque a energia se mani'esta$ ?stes tr3s

modos de energia s!o chamados (tsel)rtsal"/ (rolpa)   4rol ba9, e (dang)4gdangs9, nomes que n!o podem sertraduzidos nas línguas ocidentais$

<ara entender a mani'esta!o daenergia como tsel, podemos tomar comoe#emplo o que acontece quando uma bola decristal * colocada "unto a uma "anela$ Ocristal * puro e transparente, mas quandoos raios da luz incidem sobre ele, so'remre'ra!o dando origem a luzes coloridas portodo o quarto$ ?stas luzes n!o s!oinerentes ao pr%prio cristal, mas se

mani'estam quando a causa secund&riaapropriada est& presente, neste caso osraios de sol$ bola de cristal simboliza oestado primordial do indivíduo, queconsiste de ess3ncia, natureza e energia$

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Os raios coloridos que se espalham peloquarto s!o um e#emplo da mani'esta!onatural da energia, aparecendo em rela!oao indivíduo como um ob"eto$ No momento damani'esta!o da energia do estadoprimordial, se o indivíduo a reconhece comouma pro"e!o das qualidades originais dopr%prio indivíduo, ele entende a si mesmona dimens!o da visão pura $ 2e ocorrer o

oposto e o indivíduo perceber os raios ecores como e#ternos a si pr%prio, elemani'esta a visão i0pura$ 6ssi0/ a causa dea0bas as visGes/ sa0sara e nirvana/ a0es0a: a 0ani<estação da lu! do estadopri0ordial$

;omo um e#emplo de rolpa, podemosimaginar que em lugar das cores re'letindoe#ternamente ao cristal, desta vez elasre'letem+se em seu interior, n!o aparecendo'ora do cristal, mas dentro de suaspr%prias super'ícies$ Do mesmo modo, aenergia do estado primordial pode

mani'estar+se dentro de sua pr%priadimens!o (sub"etivamente) em rela!o aoindivíduo$ Fsto acontece, por e#emplo, nobardo , o estado intermedi&rio entre morte erenascimento, quando uma centena dedivindades calmas e iradas aparecem$ ?lasn!o s!o e#ternas ao indivíduo, mas s!o asmani'esta.es de suas qualidades naturaise, auto+aper'eioadas$ O aparecimentodestas divindades, entretanto, apenas surgepara aqueles que receberam em vida atransmiss!o de um mestre, e aplicaram om*todo de trans'orma!o especí'ico para asdivindades calmas e iradas$ <ara um

indivíduo comum surgem apenas mani'esta.esde (sons, raios, e luzes), que podem durarapenas por um instante, e quase sempre s!ocausa de alarmeG$ <or esta raz!o, * dadagrande importQncia no tantris0o   aoconhecimento do modo de energia rolpa, que* a base de todos os v&rios m*todos detrans'orma!o$

<ara entender dang  devemos pensar nopr%prio cristal, e em sua 'orma pura etransparente$ 2e colocarmos uma bola decristal no centro de um 0andala colorido ecaminharmos ao redor, o cristal ir& parecer

por algumas vezes assumir as cores dospontos cardeais do 0andala  aos quaissucessivamente chegamos, enquanto ao mesmotempo permanece puro e transparente nelepr%prio$ ?ste * um e#emplo da condi!oinerente da energia em si tal comorealmente *, em qualquer tipo demani'esta!o que se"a$ lgumas vezes em vezdo termo dang  se usa o termo >g'en? rg'an"signi'icando (ornamento), porque no estadode contempla!o todas as mani'esta.es deenergia s!o (percebidas) como ornamentos doestado primordial$

Vuando a introdu!o 'oi dada por ummestre, a ess3ncia, natureza e energia s!ochamadas de (tr3s corpos da base)$ ?lescorrespondem, no caminho, aos tr3s aspectosou características da natureza da menteH o

estado calmo 4gnas pa9, movimento 4g'u ba9e a presena 4rig pa9$

O estado "a#$o * a condi!o da menteem que n!o surge qualquer pensamento$ Tme#emplo disto * o espao que e#iste entre odesaparecimento de um pensamento e osurgimento de um outro, um espao queusualmente * imperceptível$ O $o%&$'(to * a

mani'esta!o dos pensamentos, seminterrup!o$ Tm e#emplo * dado no qual oestado sem pensamentos * dito ser calmocomo um lago, e o surgimento de pensamentosser como o movimento do pei#e no lago$?stes dois 'atores s!o comuns em todos osseres humanos$ P)'s'(*aK, por outro lado,est& como que adormecida em n%s, e *preciso um mestre para acord&+la atrav*s datransmiss!o$ P)'s'(*a  X rigpa Y  * o puro reconhecimento sem "ulgamento, tanto doestado calmo quanto do movimento$ ?stestr3s s!o chamados os (tr3s corpos docaminho)$

No fruto , ou realiza!o, eles semani'estam como %har0a3a'a/ (a0bhoga3a'a/ e1ir0ana3a'a/  as tr3s (dimens.espuri'icadas)$ O Dharmaka*a  corresponde Acondi!o da ess3ncia, a vacuidade de todosos 'enMmenos$ ?ntretanto, a presena aquiest& totalmente acordada$ O estado de%har0a3a'a est& al*m da 'orma ou cor, comoo espao sem limite$ O +ambhogaka*a  * adimens!o auto+realizada da mani'esta!o daenergia$ ?le corresponde A claridadenatural da 0ase, ligada A presena$ ONirmanaka*a  * a dimens!o da mani'esta!o

tanto pura como impura, percebida como umob"eto em rela!o ao pr%prio estado doindivíduo, embora n!o reste qualquer traode dualismo$ <resena est& totalmenteintegrada com a dimens!o e#terna5$

N!o importa quantas an&lises algu*m'aa, ele n!o deve esquecer que est& sere'erindo A sua pr%pria condi!o, aosaspectos do pr%prio corpo, voz, e mente$ 2ealgu*m tenta compreender um ensinamento comesta atitude, qualquer que se"a ae#plica!o que receba ser& signi'icativa, en!o permanecer& como algo abstrato$ ?u melembro quando eu era um menino no -ibet, eu

estudei a 'undo um coment&rio do (utraPra.Wapara0ita, o 6bhisa0a'alan3araL,  etornei+me um perito em e#por seu conteúdo$Cas eu n!o atingi seu verdadeirosigni'icado, porque todas as descri.es queele continha sobre os di'erentes níveis dosbudas  e bodhisattvas  me pareceramtotalmente dissociadas da minha pr%priacondi!o$ Ceu mestre do col*gioprovavelmente notou isto, porque um dia eleme disse, (Vuando voc3 l3 estas descri.esdos budas etc, voc3 deveria entender que elas s!o descri.es de sua pr%priacondi!o)$ -entei colocar esta advert3ncia

em pr&tica, mas achei muito di'ícil$ =oiapenas alguns anos mais tarde, quando tomeiconhecimento do Dzogchen, que entendi osigni'icado das palavras do meu mestre daescola$ ?nt!o, eu reli o te#to, 'oi como se

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eu o estivesse lendo pela primeira vez, eele teve um signi'icado completamente novopara mim$

pr&tica do Dzogchen est& baseada emdois aspectos 'undamentais da natureza doindivíduoH o estado "a#$o, e o $o%&$'(to depensamentos, atrav*s dos quais * necess&riopara o indivíduo encontrar+se integrado no

estado de +)'s'(*a$ ?m algumas tradi.esbudistas * dada muita importQncia Amedita!o a 'im de que o indivíduo seencontre no estado de calma, conhecido como>shine? !hi gnas"/ cu"o ob"etivo * rela#ara mente em uma condi!o sem pensamentos, oun!o perturbada por seus movimentos$ lgumasvezes, entretanto, h& o risco de que oindivíduo adormea em tais estados, e assimbloqueie o progresso da pr&tica$ <or estaraz!o * considerado importante nosensinamentos Dzogchen saber como trabalharcom a energia do pr%prio movimento, que *um aspecto inerente ao indivíduo$

No tantris0o/  tamb*m, a pr&tica sebaseia no trabalho com movimento, mas nestecaso, em um movimento imagin&rio, criadopela mente$ O ob"etivo aqui, entretanto, *n!o encontrar um estado de calma sempensamento$ Cas sim, atrav*s do trabalhocom a imagina!o do indivíduo, criar adimens!o pura do 0andala comeando com oselementos do ar, &gua, 'ogo, etc$ ?staatividade * movimento$ Cas at* que a pessoacompreenda o Maha0udra/  ela n!o pode'acilmente ser bem sucedida em integrar suapr%pria energia com o movimento comum da

dimens!o material$

No Dzogchen, tamb*m, s!o praticadosv&rios m*todos de uso da energia, mas estesn!o est!o baseados na atividade da mente$2eu princípio * a integra!o direta dasmani'esta.es de energia com o estado depresena$ N!o 'az di'erena se aparecediante de n%s a vis!o pura de um 0andala/ou se aparece diante dos nossos olhos avis!o cár0ica  de um quartoH ambos s!oolhados como parte da claridade da pessoa$2e a pessoa se encontra num estado calmo,ou numa mani'esta!o pura de movimento,

estas s!o ambas e#peri3ncias e n!o opr%prio estado de contempla!o$ No estadode +)'s'(*a , que permanece o mesmo para mil e#peri3ncias, o que quer que sur"a libera+se automaticamente$ Fsto * o que signi'ica(auto+libera!o)$

?sta auto+libera!o * e#atamente oque tem que ser aplicado A conduta dapessoa no cotidiano$ -omando o e#emplo dapai#!o da raiva, descrevemos as di'erentesmaneiras pelas quais um praticante docaminho da renúncia ir& reagir$ -amb*mdissemos que a trans'orma!o das pai#.es em

sabedorias, que * o m*todo dos Tantras/requer um nível mais elevado de capacidade,que * o resultado de muitos anos detreinamento$ No conceito da trans'orma!o,entretanto, ainda permanece um senso de

dualismo$ Fsto quer dizer, e#iste por umlado a pai#!o, e do outro sua trans'orma!oem sabedoria$

Cas um praticante de Dzogchen, nomomento de se tornar irado, n!o tenta nembloquear nem trans'ormar a pai#!o, masobserv&+la sem "ulgar$ Deste modo a raivase dissolver& por si mesma, uma vez que 'oi

dei#ada em sua condi!o natural, dei#andoque ela se libere a si pr%pria$

?m geral, quando um pensamento oupai#!o surge, a pessoa pode distinguir duas'ases di'erentes$ Na primeira surge omovimento, de raiva, por e#emplo, e nasegunda a pessoa se dei#a envolver no"ulgamento mental e entra em a!o$ <araaplicar o m*todo da auto+libera!o *importante observar o momento em que amente ainda n!o entrou no "ulgamento$Vuando o indivíduo mant*m o estado de+)'s'(*a, qualquer pensamento ou movimento

pode ser comparado a uma nuvem do tamanhode um ovo, que se torna maior pouco a poucoat* que 'ica t!o grande quanto umamontanha, e 'inalmente, do mesmo modo quesurgiu, se torna menor e menor novamenteat* que desaparece$

O conhecimento do estado de auto+libera!o * a base da pr&tica de Dzogchen$Z dito que (o praticante de Dzogchen meditasem meditar), o que parece ser simplesmenteum "ogo de palavras, mas realmente * averdade$ coisa mais importante * nunca sedistrair, mantendo o estado de +)'s'(*a  em todos os momentos$

^& uma est%ria que conta como ummonge culto 'oi visitar 5unton g5ungston"8, um mestre Dzogchen que viviasimplesmente, cercado por um grande númerode discípulos$ O monge, que tinha estudadodoutrinas budistas por muitos anos, e sesentia um erudito, preso pela inve"apensou, (;omo pode ele, uma pessoa comum,ousar ensinarW ;omo se atreve a pretenderser um mestre se ele nem mesmo veste roupasde mongeW ?u irei con'rontar seuconhecimento com o meu, e humilh&+lo 'rentea seus discípulos, de modo que eles o

dei#ar!o e me seguir!o)$ ;heio de orgulho earrogQncia ele se apro#imou de 5unton eperguntou, (Boc3s praticantes de Dzogchen,voc3s est!o sempre meditandoW) o que5unton respondeu, (O que * meditarW)

(?nt!o), o monge continuou, (voc3sn!o meditam ent!oW) 5unton  respondeu,(Vuando estou distraídoW)

Notas:

1. (a0antabhadra $un7tu7b!ang7po"/  o 0udhaprimordial, * o símbolo do estado de

%har0a3a'a$ ?le * representado nu, semornamentos e de cor azul escuro, para indicara pureza da ?ss3ncia a pro'undeza do vazio$

2. O ciclo dos (utras  conhecidos comoPra.napara0ita, o cume dos ensinamentos do

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Maha'ana, * considerado como uma revela!o de1agar.una, o c*lebre mestre indiano, 'undadordo sistema de 'iloso'ia Madh'a0i3a  ou(;aminho do Ceio)$

3. <ara compreender corretamente o conceitode vazio, * dado nos (utras os e#emplos dos(chi'res de coelho) e dos (chi'res debú'alo)$ Tm chi're de coelho "amais e#istiu,ser& inútil tentar negar sua e#ist3ncia$ 2e,ao contr&rio, negamos a e#ist3ncia do chi'rede bú'alo, negaremos assim diretamente ae#ist3ncia de qualquer coisa que consideramosreal e material$ Do mesmo modo, o vazio n!o *atributo de uma (condi!o abstrata) dascoisas, mas ele * a natureza mesma de suamaterialidade$

4. Thugs7r.e 0a7gags7pa$ ?m numerosastradu.es ocidentais o termo thugs7r.e, noconte#to Dzogchen, tem sido traduzido por(compai#!o)$ 2egundo e#plica!o dada porNamkha_ Norbu Rinpoche, esta * umainterpreta!o imprecisa e parcial do termo$Thugs  signi'ica (estado da mente), e r.esigni'ica (senhor)$ =az re'er3ncia de 'ato Aenergia, que * a mani'esta!o do estado

primordial$ Nos (utras, a compai#!o *considerada como a energia do vazio, e ent!oa chamamos igualmente thugs7r.e$ Cas noDzogchen, a compai#!o * considerada comosendo um dos numerosos aspectos da energia$

5. BerH Namkha_ Norbu Rinpoche 4redator9 >lVibro dei Morti? , Ne`ton ;ompton, Roma /I858You =$ =reemantle ;$ -rungpa, -he Tibetan #oo3o< %ead , 2hambala <ub, 0erkle and Pondon /I85GY eH >$ Oro'ino 4redator9, nsegna0entiTibetani su Morte e Vibera!ione, ?d$Cediterranee, Roma / I8LG, tamb*m publicadoem ingl3sH Tibetain Teachings on %eath andViberation por isdom <ub$, Pondon$

6. Rig7pa  * um dos termos chave nos

ensinamentos Dzogchen$ 2eu signi'icadoliteral * (conhecimento), mas a utiliza!oque 'azemos no Dzogchen e#prime bem mais queisso$ ?le se re'ere ao conhecimento intuitivoe direto da condi!o primordial, mantida comouma presena viva$ Nesse livro, traduzi otermo rig7pa por (estado de presena), e asvezes simplesmente por (presena), ainda quetenha igualmente utilizado esta palavra paratraduzir o termo tibetano dran7pa, que sere'ere mais particularmente A presena damente$

7. O termo 1ir0ana3a'a  indica tamb*m,geralmente, a mani'esta!o de um serrealizado que, a 'im de dar ensinamentos,

assume uma 'orma humana, ou a 'orma de umoutro tipo de ser$ O 0udha 2akamuni,<dmasambhava e >arab Dord"e, por e#emplo, s!oconsiderados mani'esta.es 1ir0ana3a'a$

8. O 6bbisa0a'alan3ara * uma obra de sanga,um importante 'il%so'o indiano da tradi!oCahaana$8$ gUung+ston rdo+rge dpal 4I7L6+IJKG9

$apítulo ,uatro 

A IMPORTNCIA DA TRANSMISSÃO

Os ensinamentos Dzogchen est!ovinculados a uma transmiss!o, que repousa

em um mestre, e que * de importQncia'undamental para o desenvolvimento doconhecimento e da realiza!o dosdiscípulos$ Nos (utras  * ensinado que ailumina!o s% * possível ap%s algumas vidasdedicadas A pr&ticaY nos Tantras por outrolado, * dito que o indivíduo pode alcanara ilumina!o em apenas uma vida, porque osm*todos usados s!o muito mais e'icazes$ No

Dzogchen, entretanto, a realiza!o n!oapenas * considerada como possível em umas% vida, mas tamb*m * abordada a (>rande-rans'er3ncia em um ;orpo de Puz)$ ?starealiza!o em particular, que 'oi e'etuadapor mestres tais como Pad0asa0bhava,*i0ala0itra, e por Tapihritsa¹ da tradi!o#8n/  envolve a trans'er3ncia ou areabsor!o, sem uma morte 'ísica, doselementos do corpo material em ess3ncialuminosa, no curso desta realiza!o o corpo'ísico desaparece da vis!o dos serescomuns$ 2e o indivíduo n!o conseguerealizar este ;orpo de Puz nesta

encarna!o, ele pode consegui+lo ap%s suamorte, tal como aconteceu a muitospraticantes de Dzogchen no -ibet em temposrecentes$ ?sta realiza!o depende n!oapenas dos m*todos especí'icos doDzogchen1, mas tamb*m 'undamentalmente da'un!o da transmiss!o do mestre$

Vuando um mestre Dzogchen ensina, eletransmite o conhecimento atrav*s de tr3stipos de transmiss!oH oral, simb%lica, edireta$ No Dzogchen, os rituais deinicia!o n!o s!o indispens&veis, como os!o no tantris0o2  O signi'icado verdadeiro

da inicia!o * a transmiss!o do estado deconhecimento, e isto pode ser 'eito atrav*sde uma simples e#plana!o$ -udo depende dacapacidade do discípulo compreender$

lguns mestres da tradi!o 1'ing0at3m ensinado que as tr3s transmiss.esre'erem+se As origens dos ensinamentosDzogchen$ ?les dizem que o Dzogchen 'oitransmitido primeiro por (a0antabhadra  4o%ar0a3a'a9 a *a.rasattva@ 4o (a0bhoga3a'a9,e ent!o, a partir dele, 'oi transmitido a>arab Dor"e 4o 1ir0ana3a'a9, atrav*s datransmiss!o simb%lica$ De >arab Dor"e,

atrav*s da transmiss!o oral, ela 'oirecebida pelos seres humanos$ ?stae#plica!o 'az parecer que houve tr3smestres di'erentes que deram tr3s tiposdiversos de ensinamentos$ Cas na verdade astr3s transmiss.es s!o todas insepar&veis domestre, e eles mesmos s!o o (caminho)$ 2e atransmiss!o direta veio do %ar0a3a'a para o(a0bhoga3a'a  ela n!o poderia ser umcaminho, porque o (a0bhoga3a'a  n!o temnecessidade de um caminho$ O indivíduo *,na verdade, 'eito de corpo, 'ala e mente,todos ao mesmo tempo, e assim acontece queos tr3s tipos de transmiss!o s!o usados

pelo mestre para comunicar o estado deconhecimento$

transmissão oral  inclui tantoe#plica.es dadas pelo mestre para conduzir

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o discípulo A compreens!o da natureza doestado primordial, como m*todos de pr&ticapara capacitar o indivíduo a penetrar noconhecimento do estado$

transmissão simblica ocorre tantoatrav*s de ob"etos simb%licos, tal como umespelho ou um pedao de cristal, que s!omostrados aos discípulos pelo mestre a 'imde transmitir o conhecimento do estado

primordial, como atrav*s de est%rias,par&bolas, e enigmas6$

transmissão direta vem atrav*s dauni'ica!o do estado do mestre com o dodiscípulo$ Tm e#emplo de transmiss!o diretapode ser encontrado na est%ria do despertarde Naropa, o 'amoso 0ahasiddha indiano, queera discípulo de -ilopaG$ Naropa era um'amoso p+ndita  4hindu versado nas leis,religi!o e 'iloso'ia da :ndia9, um grande eculto erudito, e abade da Tniversidade de1alanda, um dos mais importantes centros decultura budista na :ndia medieval$ Oconhecimento de 1aropa/  entretanto,

permanecia num nível doutrin&riointelectual, e n!o era um estado vivenciadode conhecimento$

p%s v&rios anos em 1alanda/ seguindoalguns sinais e indica.es de naturezavision&ria, ele renunciou A suaresponsabilidade como abade e partiu embusca de Tilopa, que, de acordo com suasvis.es, seria o mestre capaz de despert&+lo$ p%s uma busca longa e e#austiva,durante a qual ele encontrou Tilopa  emv&rios dis'arces sem reconhec3+lo, 1aropa'inalmente esbarrou com um pescador que

chamava a si mesmo -ilopa$ ?ste últimoestava 'ritando um pei#e numa panela, e comum estalar de dedos trou#e o pei#e de voltaA vida e atirou+o de volta A &gua$ 1aropa'icou muito perturbado por este encontro,mas teve '* em seu mestre e seguiu+o pormuitos anos, servindo+o continuamente$Durante todo este tempo ele n!o recebeuqualquer ensinamento, mas Tilopacontinuamente colocou+o a prova de v&riosatos de desprendimento$ Tm dia, quando omestre e o discípulo estavam numa cavernana montanha, Tilopa pediu a 1aropa  paradescer ao vale para buscar+lhe &gua para

beber$ 1aropa/ apesar do calor escaldante,ap%s despender uma grande quantidade deenergia, escalou de volta com a &gua$ ssimque o viu Tilopa tomou uma sand&lia e bateucom ela na 'ace de 1aropa$ 1aropa caiuatordoado$ Vuando ele recuperou seussentidos ele havia mudado completamenteY oconhecimento despertou nele$ Cas este n!o'oi um milagre de Tilopa$ <or anos 1aropa'ez um contínuo auto+sacri'ício,preparando+se para receber a transmiss!o$

O valor da transmiss!o n!o * apenasintroduzir ao estado de conhecimento, mas

repousa tamb*m na sua 'un!o de trazer oamadurecimento da transmiss!o, at* o pontoque o indivíduo atin"a a realiza!o$ <oresta raz!o a rela!o que liga mestre ediscípulo * muito íntima$ O mestre, no

Dzogchen, n!o * s% como um amigo que a"udae colabora com o discípuloY mas o pr%priomestre * o caminho$ Fsto * porque a pr&ticada contempla!o se desenvolve atrav*s dauni'ica!o do estado do discípulo com o domestre$ O mestre * e#tremamente importante,tamb*m, nos níveis de ensinamento do (utrae do Tantra/ no primeiro porque ele det*mos ensinamentos de 0uda, e no último porque

ele * a 'onte de todas as mani'esta.es detrans'orma!o$

<ara ilustrar este último ponto, h&uma est%ria que conta que quandoPad0asa0bhava  transmitiu a inicia!o de*a.ra3ila'aK  a seus discípulos tibetanos,ele 'ez um 0andala daquela divindadeaparecer em 'rente deles, pedindo+lhes pararender+lhe homenagem$ Os discípulosassustaram+se e prostraram+se diante do0andala/ e#ceto 5eshe Tsog'al$5  2omente elaprestou homenagem a Pad0asa0bhava, porqueela havia compreendido que o mestre * a

raiz 'onte das mani'esta.es$

O mestre * a entrada do port!o doconhecimento para o discípulo, e suatransmiss!o est& sempre presente na vida dopraticante$ Tma pessoa pode receberensinamento de v&rios mestres, sem qualquerlimite, mas usualmente e#iste um mestre emparticular que causa o surgimento doconhecimento em um dado indivíduo, estemestre * conhecido como o (mestre raiz) doindivíduo 4rtsa ba-i bla 0a9$ ?u mesmo,quando estava no -ibet, encontrei muitosmestres que me deram ensinamentos e

inicia.es, mas houve um mestre emparticular, Changchub %or.e #'ang chub rdor.e", que abriu a porta do conhecimentopara mim$

Dois anos antes de eu encontrar estemestre eu tive um sonho$ ?u sonhei queestava num lugar que n!o conhecia commuitas casas em concreto branco, um estilode constru!o raramente encontrado no-ibet, onde as casas s!o usualmenteconstruídas de pedra e de cores di'erentesdo branco$ s casas no meu sonho eramsimilares Aquelas que os chineses tinham

comeado a construir uns poucos anos antesdaquela *poca em algumas &reas do leste do-ibet$ ?u me apro#imei de uma das casas evi que estava escrito acima de sua porta,em letras douradas sobre 'undo azul escuro,o 0antra  de Pad0asa0bhava2 ?u entrei e vium homem idoso, que se parecia com um homemdo campo do -ibet$ ?nquanto eu ainda estavame perguntando se ele seria um mestre, euouvi+o comear a recitar o 0antra  dePad0asa0bhava$ ?nt!o ele disse para mim,(Do outro lado desta montanha, dentro da'ace de pedra, h& uma caverna na quale#istem oito 0andalas naturaisY v& e ve"a+

as[)$ borrecido, ainda sonhando, eucomecei a escalar a montanha, com meu paime seguindo$ Vuando entrei na caverna meupai comeou a recitar alto o sutraPra.Wapara0ita, e eu "untei+me a ele$ N%s

IL

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caminhamos pela caverna olhando suasparedes, mas eu consegui ver apenas algunsdetalhes ornamentais dos oito 0andalas$Neste ponto, ainda recitando o sutra, euacordei$

Cais tarde, em I8GK, a 'ilha de uma'amília nobre da minha regi!o no -ibet'icou gravemente doente, e apesar das

tentativas de v&rios m*dicos de cur&+la,ela n!o obteve nenhuma melhora$ 2eus pais,que haviam ouvido 'alar de um mestre quetamb*m era m*dico com uma reputa!o de sercapaz de curar casos di'íceis, decidiramenviar alguns empregados at* o m*dico parabuscar um rem*dio para a doena de sua'ilha$ p%s dois dias de viagem a cavalo,os empregados alcanaram o local daresid3ncia do mestre, onde 'oram saudados econvidados a descansar$ Cas no dia seguinteo mestre contou+lhes que todos os rem*diosn!o seriam úteis, uma vez que a moaen'erma havia morrido tr3s dias ap%s sua

partida$ Vuando os empregados retornaram,eles relataram tudo o que havia acontecidoe descobriram que de 'ato a moa haviamorrido logo depois que eles haviampartido$

Tm dia, um pouco mais tarde, o pai damoa, que era amigo de minha 'amília,chegou para visitar meu pai, e contou+lhetudo sobre o mestre+m*dico, descrevendo+ocomo um campon3s idoso que vivia em umavila com muitas casas de cimento branco$ ?uestava ouvindo sua est%ria "unto com meupai, e logo lembrei do sonho$ Na mesma

noite eu pedi permiss!o a meu pai para irvisitar o mestre$ p%s dois dias deprepara!o para a viagem eu parti, "untocom meu pai, e quando n%s alcanamos a vilado mestre eu notei que o lugar erae#atamente como eu havia visto em sonho$ Omestre nos deu boas+vindas como se "& nosconhecesse$ ?le era uma pessoa muitosimples, que vivia como m*dico da vila,cercado por uma pequena comunidade dediscípulos que trabalhavam e praticavam"untos harmoniosamente$ s pessoas dovilare"o disseram que quando o mestrechegou l& ele disse ter setenta anos,

daquele momento em diante ele continuousempre a dizer, ano ap%s ano, que tinha amesma idade$ ;alculando o número de anosque haviam passado desde que ele haviachegado A vila, podia+se calcular que na*poca de nossa visita ele estava com IJSanos$

?u permaneci por v&rios meses comesse mestre$ Durante meus dias l& eu tivecerta di'iculdade de a"ustar+me A situa!o,porque eu estava acostumado a mestresimportantes que davam ensinamentos einicia.es no estilo 'ormal, tradicional$

Changchub %or.e, por outro lado, n!oparecia estar me dando quaisquerensinamentos, enquanto na verdade eleestava me ensinando a libertar+me da gaiolaque eu havia construído para mim mesmo$ ?u

tornei+me consciente de que, mesmo ap%stantos anos de estudo, eu ainda n!o haviacompreendido o verdadeiro signi'icado dosensinamentos$ ;ontudo eu n!o me sentiasatis'eito, porque este mestre n!o me davanenhuma inicia!o$ ?ntretanto, quando eulhe pedi para me dar uma inicia!o elereplicou, (Boc3 n!o necessita de um ritualde inicia!o, "& recebeu uma por!o deles

de muitos outros mestres)$ Cas respondi quequeria receber uma dele, e 'inalmente, ap%suma consider&vel insist3ncia de minhaparte, ele concordou$ ?le decidiu me dar ainicia!o de uma centena de divindadescalmas e iradas e, embora n!o 'osse umentendido em 'azer rituais, tinha umdiscípulo que era bom nessas coisas paraa"ud&+lo$ quela inicia!o, que usualmenten!o leva muito tempo para ser dada, tomou+lhe todo um dia$ Changchub %or.e n!o sabiacomo conduzir as v&rias 'ases do ritual, ede 'ato n!o podia sequer ler 'luentemente$^& uma parte em tais rituais onde, para

transmitir a habilita!o atrav*s de0antras/ a pessoa que d& a inicia!o 'azsoar o sino e o da0aru L simultaneamente$ CasChangchub %or.e 'ez primeiro soar o sino, edepois o da0aru , e ent!o recitou o 0antra$?u estava muito surpreso porque eu sabiamuito bem como as v&rias 'ases de taisrituais de inicia!o deveriam serconduzidas$

quela noite, ao 'im da inicia!o,Changchub %or.e  'alou+me e 'ez+mecompreender o real signi'icado dainicia!o$ o 'inal de uma inicia!o os

mestres usualmente mostram ao discípulo ote#to contendo o ritual, e descrevem alinhagem de mestres que a transmitiram$ CasChangchub %or.e  n!o me mostrou um livro$Cas sim, por tr3s horas, sem interrup!o,ele 'alou+me acerca do real signi'icado dosensinamentos Dzogchen$ <arecia quase comose ele estivesse recitando um tantra  deDzogchen8, t!o per'eitas e t!o pro'undaseram as palavras que ele disse$ ?leconcluiu dizendo, (?sta * a transmiss!ocompleta de todas as tr3s s*ries dosensinamentos DzogchenY das s*ries daNatureza da Cente, das s*ries do ?spao

<rimordial, e das s*ries de Fnstru.es2ecretas)$ ;om isto ele realmente derruboutodas as minhas id*ias, e todos os limitesde meu conhecimento intelectual so'reram umcolapso$ Changchub %or.e  tinha aberto umaporta, e me 'ez compreender que osensinamentos vivem no indivíduo$

?le n!o recebeu uma 'orma!o erudita'ormal, e nunca havia estudado$ 2euconhecimento era 'ruto do seu despertarinterno que mudou sua vida$ ?le era tamb*mum descobridor de ter0a, ou >terton?  4gterston9, e eu pr%prio algumas vezes tomei

nota de algumas de suas revela.es$ ?leusualmente passava seus dias sentado em'rente a sua casa, "unto a uma "anelaaberta, recebendo seus pacientes$ ?u mesentava no interior da casa, do outro lado

I8

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da "anela, e, nos intervalos entre umpaciente e outro, ele ditava algo para mime eu tomava nota$ ssim, quando o pr%#imopaciente chegava at* ele, ele interrompiaseu ditado$ Cas quando ele recomeava aditar+me, ap%s o paciente ter partido, elecontinuava a 'rase e#atamente de onde elehavia interrompido, sem mesmo perguntar emque ponto ele havia parado de ditar¹S$

Tm dos principais mestres deChangchub %or.e 'oi Pe0a %undul Pad 0abdud -dul",¹¹ que tamb*m havia sido ummestre muito simples, e que se tornou'amoso ap%s sua morte por ter setrans'ormado em ;orpo de Puz$ Tsualmenteuma pessoa que pratica essa convers!o,quando decide morrer, pede para ser 'echadadentro de um quarto ou tenda por sete dias,?nt!o no oitavo dia, apenas s!o encontradosseus cabelos e unhas, considerados como asimpurezas do corpo$

  est%ria conta que Pe0a %undul,cerca de vinte dias antes de morrer, reuniutodos os seus principais discípulos e deu+lhes todos os ensinamentos e transmiss.esque ele n!o havia dado antes$ Ceu mestre,Changchub %or.e, era um de seus discípulos,e estava l&$ ?nt!o eles praticaram "untos oganapu.aI7 por muitos dias at* que, nod*cimo primeiro dia do calend&rio lunar, umdia considerado especialmente ligado APad0asa0bhava/ Pe0a %undul pediu+lhes paraacompanh&+lo na escalada da montanha aolugar que ele havia escolhido para morrer$Vuando eles chegaram l& a pequena tenda

dele estava armada, o mestre pediu+lhes quea selassem, durante aqueles sete dias,choveu 'orte e muitos arco+íris apareceram$No oitavo dia, quando seus discípulosreabriram a tenda, encontraram apenas suasroupas, ainda na mesma posi!o em que omestre havia sentado quando eles entraramna tenda$ 2eu cinto de tecido, que seguravasuas roupas tibetanas tradicionais nacintura, permanecia ainda amarrado em voltadas roupas como se ainda e#istisse umapessoa dentro delas$ Pe0a %undul  'oi umpraticante muito simples que n!o havia se'i#ado em abadia, mas que havia vagado toda

a sua vida, praticando o Ch8d 4gcod 9 IJ$ ?le'oi o mestre de 6'u $handro 6 'u03ha-gro"I6, um de meus mestres, que passou maisde cinqenta anos de sua vida em retiro noescuro$

?m I868 houve outro e#emplo de umapessoa que trans'ormou+se em ;orpo de Puz$Tm monge do monast*rio (a3'apa/ no qual asregras eram rígidas, envolveu+se numrelacionamento com uma "ovem$ Vuando 'oidescoberto, as pessoas percorrendo omonast*rio bateram nele e o e#pulsaram$-riste e sem lar, este monge 'oi para o

nordeste do -ibet onde ele teve a boa sortede encontrar Tsangpa %rubchen gTsang pagrub chenIG", um mestre Dzogchen que tinhadoze crianas, todas praticantes$ ?lesviviam como nMmades, criando gado$ O monge

permaneceu com eles por quase dois anos,trabalhando e recebendo muitosensinamentos$ ?nt!o decidiu retornar A suapr%pria regi!o, mas ele n!o obtevepermiss!o para viver em sua antiga casa,que era dentro do monast*rio$ ?nt!oconstruiu um pequeno retiro para ele mesmoem um lugar que lhe permitisse pelo menosver o monast*rio$ mulher com quem havia

tido o relacionamento 'oi viver com ele,atuando como sua assistente para seu retiroe tomar conta do seu gado$ ssim viveram"untos por v&rios anos, at* que um dia oe#+monge anunciou que iria morrer em setedias$ =oi aos respons&veis pelo monast*rioe combinou com eles que pelo menos metadede seus pertences deveriam ser dados A suacompanheira ap%s sua morte$ No -ibet quandoum monge morre todos os seus bensgeralmente v!o para o mosteiro$ ssim, ap%ster 'icado satis'eito de resolver estaquest!o, pediu ent!o que o dei#assem s% emseu quarto por uma semana$ o amanhecer do

oitavo dia, muitos monges e dirigentes domonast*rio vieram para tomar parte noevento, embora eles tivessem semprecriticado e menosprezado este homem durantesua vida$ Vuando abriram o quarto, apenassuas unhas e cabelo haviam permanecido$ Tmatumba dourada 'oi construída no monast*riopara abrigar estes restos$

inda mais recentemente, em I8G7, meutioIK testemunhou um outro evento como esse$<erto de onde eu vivi no -ibet, vivia umhomem idoso que ganhava sua vida esculpindo0antras em rochas$ Vuando ele era "ovem ele

primeiramente 'oi al'aiate, a seguirtratador de cavalos de um mestre chamado%odrub Chen r%o grub chen"/I5  de quemprovavelmente recebeu alguns ensinamentos$ntes dele morrer dei#ou todos os seus benspara o monast*rio no qual seu 'ilho eramonge, e anunciou que dentro de uma semanaestaria morto$ -odos estavam estupe'atos,porque ningu*m o considerava como umpraticante$ Cas quando deu suas instru.espara que o 'echassem em uma tenda por setedias, eles compreenderam que ele atingiriaa convers!o em ;orpo de Puz$ No oitavo diamuitas pessoas se apressaram para tomar

parte nos acontecimentos, inclusive alguns'uncion&rios chineses que estavamconvencidos que seriam capazes de mostrarde'initivamente e para todos, como o povotibetano era absurdamente supersticioso$Cas nesse caso, tamb*m, quando a tenda 'oiaberta tudo o que 'oi encontrado dentro'oram as unhas e o cabelo do praticante$

?u me lembro como meu tio, que estavapresente A abertura da tenda, retornou eml&grimas dizendo, (?u o conheci por anos eanos sem perceber que ele era um praticantet!o elevado[) Cas os praticantes Dzogchen

s!o assim, pessoas simples, que, mesmo quen!o e#ternem, possuem conhecimentoverdadeiro$ O ;orpo de Puz * a supremarealiza!o do Dzogchen$ 2ua 'un!o *di'erente duma mani'esta!o do

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(a0bhoga3a'a, porque um ser num ;orpo dePuz pode se comunicar e ativamente a"udaroutros seres$ Z como se o corpo 'ísico, suasubstQncia material 'osse absorvida em suaess3ncia luminosa, continuasse a viver comoum agregado dos elementos em seu aspectosutil$ Cani'esta.es do (a0bhoga3a'a/  poroutro lado, s!o passivas, porque elasdependem dos seres que t3m essa vis!o$

realiza!o n!o * algo que se possaconstruir, e n!o depende das a.es ou does'oro da pessoa$ -ornar+se realizadosigni'ica que indivíduo ultrapassou seusobst&culos tempor&rios, para este 'im atransmiss!o de um mestre * de grande a"uda$No Dzogchen, o caminho para ultrapassarobst&culos pode ser muito r&pido porque,atrav*s da transmiss!o, o indivíduo pode'acilmente desenvolver o estado decontempla!o$ Do nosso ponto de vistalimitado, podemos nos desencora"ar aopensar que para puri'icar o 3ar0a  seriam

necess&rias muitas vidas$ 2e pud*ssemosrealmente ver materialmente nosso 3ar0aacumulado, o bom 3ar0a poderia parecer umapequena rocha, comparado a uma gigantescamontanha de 3ar0a  negativo$ Vuanto tempolevaria para puri'icar tudo aquiloW<areceria talvez que mesmo centenas depr&ticas de puri'ica!o iriam somentediminuir a montanha de 3ar0a  negativoapenas o correspondente A e#tens!o de umdedo$

Cas o 3ar0a  n!o *, de 'ato, umaacumula!o material, e n!o depende do que *e#teriorY ao contr&rio seu poder de nos

condicionar depende dos obst&culos queimpedem nosso conhecimento$ 2e compararmosnosso 3ar0a e a ignorQncia que o cria a umquarto escuro, o conhecimento do estadoprimordial seria como uma lQmpada, que,quando acesa no quarto, de uma s% vez 'az aescurid!o desaparecer, iluminando tudo$ Domesmo modo se um indivíduo tem a presenado estado primordial, ele pode ultrapassartodos os obst&culos num instante$

Tm praticante que apenas comeou atentar encontrar o estado de presena entrea con'us!o de todos os seus pensamentos *

como um cego tentando en'iar uma linhaatrav*s do buraco de uma agulha$ O mestre *como algu*m que en#erga e a"uda aquelapessoa a colocar suas m!os mais pr%#imas deonde elas deveriam estar$ Vuando o cegoconsegue en'iar a agulha, * como se suavis!o voltasse$ Fsto * como o momento emque a pessoa reconhece e entra no estadoprimordial atrav*s da transmiss!o$

O e#emplo do c*u, do sol, e dasnuvens, * dado para e#plicar a condi!o doindivíduo$ O c*u n!o * um espao de'inível,ele n!o tem 'orma ou cor, e ningu*m pode

dizer onde comea ou termina$ Z algouniversal, tal como o estado primordial doindivíduo, o vazio$ #ase, no nível doindivíduo, * como o espao dentro de umvaso de barro, o qual, embora este"a

temporariamente limitado pela 'orma dovaso, n!o * di'erente do espao do lado de'ora, envolvendo o vaso$ ?sta condi!o dovazio que * semelhante a um espao sem nada* chamada essência, e est& al*m de todos osconceitos$ Cas nele e#iste uma contínuaclaridade  que se mani'esta nos pensamentos do indivíduo e nos v&rios aspectos daenergia Y esta claridade * o estado de 

presena, que * como um sol nascendo noc*u$

  luz do sol * a mani'esta!o daclaridade do c*uY e o c*u * a condi!ob&sica necess&ria para a mani'esta!o daluz do sol$ ssim, tamb*m, no c*u podemsurgir dois, tr3s, quatro, ou qualquernúmero de s%isY mas o c*u permanece um c*uindivisível$ 2imilarmente, todo estado depresena do indivíduo * único e distinto,mas a natureza do vazio do indivíduo *universal, e comum a todos os seres$

<or 'im, temos o e#emplo das nuvens,que representam os obst&culos tempor&riosque impedem a mani'esta!o de nosso estadoprimordial$ Vuando as nuvens se tornamdensas, * como se o sol n!o e#istisse, masa verdade * que o sol n!o mudou em nada suaposi!o$ -anto de dia como A noite o solest& sempre l&, mas nem sempre seus raiosiluminam a terra$ Da mesma 'orma, o estadoprimordial de conhecimento est& sempre l&no indivíduo desde o início, se o indivíduotransmigra ou se ilumina, mas se ele n!o semani'esta, * por causa de nossa ignorQncia$Flumina!o, ou nirvana, n!o * nada mais do

que o estado al*m dos obst&culos, da mesma'orma que sempre se v3 o sol de um pico deuma montanha muito alta$ Nirvana n!o * umparaíso ou algum lugar especial de'elicidade, mas * na verdade a condi!oal*m de todos os conceitos dualistas,inclusive aqueles de 'elicidade eso'rimento$

Vuando todos os nossos obst&culos'oram ultrapassados, e nos encontramos numestado de presena total, o poder deilumina!o se mani'esta espontaneamente semlimites, tal como os raios in'initos do

sol$ s nuvens se dissolveram, e o sol'inalmente est& livre para brilhar mais umavez$

Notas:

1. Tapihritsa * um dos mestres mais importantesda linhagem da tradi!o oral do d!ogchen do(hang7shung rd!ogs7pa chenpo !hang7!hungsn'an brg'ud"/  que cont*m de 'ato osensinamentos #8n  mais antigos, embora n!otenham sido redigidos antes do s*c$ BFF D$

2. Os m*todos da pr&tica que conduzem A

realiza!o do corpo de luz s!oprincipalmente, Thod rgal  e 5ang tig , que'iguram na s*rie das instru.es secretas$ Oestado de contempla!o * a base dessaspr&ticas$

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3. *a.rasattva, descrito como sorrindo, de corbranca, com os ornamentos de seda, um va.rae um sino em suas m!os, representa o(a0bhoga3a'a2  pr&tica de *a.rasattva  *particularmente e'icaz para a puri'ica!o$

4. <ara os e#emplos de par&bolas e enigmas nosantigos escritos dzogchen ver N$ NorbuRinpoche, N0aho/ 6 (tud' o< the %run, deu/#8n, capítulos I e 7, Vibrar' o< Tibetan

Zor3s and 6rchives/ 9DD25. -ilopa 48LL+ISK89 e Naropa 4ISIK+IISS9 s!o os

dois primeiros mestres de uma linhagem quecomporta em seguida Carpa e Cilarepa/  e apartir da qual a tradi!o $agiupa  sedesenvolveu$

6. *a.ra $ila'a  * um dos oito ciclos dedivindades t+ntricas  introduzidas no -ibetpor <admasambhava$

7. Ueshe -sogal  5e7shes 0tsho7rg'al"  era acompanheira, e discípula principal de<admasambhava$ 2ua biogra'ia 'oi traduzidapor $eith %o)0an e0 (3'dancer/ Routledge e$egan Paul/ Vondon 9DL$ ?#iste igualmente

uma tradu!o integral de sua biogra'iaHMother o< $no)ledge, Tartang Tul3u/ %har0aPublishing2

8. Tm da0aru * um pequeno tambor de dupla 'aceutilizado nos rituais t+ntricos$

9. Os te#tos dzogchen s!o chamados >Tantras?ainda que eles n!o contenham ensinamentos davia da trans'orma!o, porque e#plicam aNatureza do estado <rimordial do indivíduo,que * um (continuum) Tantra"  damani'esta!o da energia$

IS$ O que ele se re'ere aqui s!o os te#tosrevelados como (-esouros do ?stado de;onhecimento)$

11.1'ag7bla Pad70a bdud7dul 4ILIK+IL579

12. Tm ,anapu.a  * um ritual t+ntrico ,composto de diversas 'ases, cu"o ob"etivo *con'irmar novamente a (promessa) ou votos4sa0a'a9 entre o discípulo e o mestre, etamb*m entre discípulo e discípulo$ ? aindamais, pelo 'ato de consumir alimento ebebida no ,anapu.a, os praticantesdesenvolvem a capacidade de integrar acontempla!o aos prazeres dos sentidos,assim como entrar no estado al*m dodualismo, que * o signi'icado interior dosa0a'a$

13. O Ch8d gcod" * uma pr&tica 'undada sobreo o'erecimento do pr%prio corpo, sob uma

'orma visualizada, As entidades e outrosseres que causam perturba.es e bloqueios, a'im de paci'ic&+los e pagar as dívidascár0icas que possamos ter adquirido para comeles$ O ch8d   * cantado acompanhado de umda0aru   e de um sino$ =undamentado sobre oprincipio do (vazio) ensinado noPra.napara0ita, esta pr&tica 'oidesenvolvida e realizada pela grande mestraMa7gcig lab7sgron 4ISGG+II689$

14. <ara a biogra'ia desta praticantee#traordin&ria, que 'oi considerada uma%a3ini  viva, ver T2 6llione/ Zo0en o<Zisdo0/ Routledge e $egan Paul/ Vondon 9DL2

15. rTang7pa grub7chen  'oi um dos mestres

principais do tio de N$ Norbu Rinpoche,0$'en7brtse Chos73'i dbang7ph'ug  4I8IS+I85J9

16. ?sse tio chamava+se rTogs7ldan &7rg'anbstan7d!in$ 2egundo testemunhas recentes do

-ibet, ele tamb*m realizou o ;orpo de Puz$

17. r%o7grub7chen/ >Uigs70ed bstan7pai n'i70a  4ILKG+I87K9, terceira reencarna!o der%o7grub7chen >Uigs70ed phrin7las od!er?4I56G+IL7I9, discípulo direto do grandemestre (Uigs70ed gling7pa)$

+E.%ND/ 0/R&E 

-O CUCO DO ESTADO DE PRESENÇA.

INTRODUÇÃO

O (;uco do ?stado de <resena) 4rig pa-i 3hu b'ug 9 * um dos te#tos Dzogchentrazido para o -ibet em tempos antigos porBairochana$ O título do te#to 'oi inventadopor Bairochana como um epíteto para os +eis1ersos 1a2ra, que pertencem A categoria dosescritos Dzogchen conhecidos como >lung?

4lung 9$ Vung/  * parte dos ensinamentosoriginalmente transmitidos por >arab Dor"e,cont3m os pontos essenciais de um ou maistantras¹$ Os (eis *ersos *a.ra, assimchamados porque eles e#plicam a condi!oprimordial do indivíduo, resumem a essênciada #ase, ca0inho , e <ruto  do Dzogchen$

est%ria conta que *airochana/ que eratamb*m um grande tradutor, 'oi enviado a&ddi'ana  pelo rei Trisong %etsen  parareceber ensinamentos Dzogchen, que at*aquele momento n!o tinham sido introduzidosno -ibet$ Pad0asa0bhava  "& havia 

transmitido ensinamentos Dzogchen aos seusdiscípulos tibetanos, mas o que ele haviatransmitido eram em sua maioria preceitosvinculados a m*todos de trans'orma!o do6nu'oga $1 

?m &ddi'ana *airochana  encontrou omestre (hri (ingha/ que lhe ensinou tantoos sutras  e os ensinamentos esot*ricosdurante o dia, como Dzogchen durante anoite, por causa da proibi!o sobre osensinamentos Dzogchen imposta pelo rei de&ddi'ana2 *airochana  tamb*m traduziu umas*rie de te#tos com a colabora!o de (hri

(inga, e diz+se que os escreveu com leitede cabra sobre algod!o a 'im de mant3+lossecretos$ Vuando retornou ao seu paíscomeou a transmitir os ensinamentosDzogchen ao rei e a uns poucos escolhidos$

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O te#to dos (eis *ersos *a.ra  'oi naverdade o primeiro te#to que ele introduziuno -ibet, e assim deu o título, & Cuco doNstado de Presença/ u0 (inal de #oa sorte e,l@ria 4b$ra shis pa-i dpal rig pa-i 3hub'ug 9$@

No -ibet o cuco * considerado como umsinal de boa sorte e prosperidade porque

anuncia a chegada da primavera$ Vuando opovo tibetano ouve o canto do cuco sabe queo longo inverno 'rio est& acabando, e anatureza est& despertando novamente$ ssim,o canto do cuco * comparado por *airochanaao despertar da presena do estadoprimordial 4rig pa9 que se tornou possívelcom a introdu!o dos ensinamentos Dzogchenno -ibet$

o longo dos s*culos os ensinamentosDzogchen 'oram alvo algumas vezes decrítica e di'ama!o por parte de algunseruditos tibetanos$ Tma das maneiras pelas

quais algumas pessoas tentaram provar queos te#tos Dzogchen n!o eram aut3nticos 'oisugerido que e#istiam erros de gram&ticasQnscrita nos te#tos de muitos tantrasDzogchen$ O que de 'ato isto mostra * queaqueles que denegriam os ensinamentosDzogchen n!o conheciam a e#ist3ncia dalíngua de &ddi'ana, da qual os tantras'oram traduzidos para o tibetano por*airochana  e outros mestres$ Cas ospraticantes de Dzogchen nunca tiveramnenhum interesse em 'ormar uma seita, ou emde'ender a si mesmos ou entrar emargumenta!o, porque o principal no

Dzogchen * o estado de conhecimento, quen!o tem a ver com o que * e#terior$ ^o"e,entretanto, a autenticidade hist%rica doste#tos Dzogchen pode ser provada, graas acertos te#tos redescobertos entre osmanuscritos de Tun Huang   que s!oconsiderados originais e aut3nticos portodos os eruditos6$

Tm destes manuscritos redescobertoscont*m de 'ato & Cuco do Nstado dePresença, que 'oi encontrado "unto com umcoment&rio sobre ele que 'oi provavelmentetrabalho do pr%prio *airochana$ ?stes

te#tos nos trazem alguns dos mais antigosensinamentos Dzogchen, que re'letem oespírito original da tradi!o oral, emparticular da 2*rie da Natureza da Cente$

Os +eis 1ersos 1a2ra  n!o s!o palavrasvazias$ trav*s do entendimento de suamensagem, uma linha ininterrupta demestres, do tempo de >arab Dor"e em diante,tem mani'estado o conhecimento do estadoprimordial$ Nas tr3s partes de duas linhascada, que 'az um total de seis linhas,podem ser encontrados os princípios da#ase, do Ca0inho  e do Fruto , ao lado de uma

e#plica!o simultQnea da 0aneira de ver/ da0aneira de praticar , e da 0aneira de agirde acordo com os ensinamentos Dzogchen$ #ase n!o * algo abstrato$ Z a nossa pr%priacondi!o quando reconhecemos nosso estado$

Fsto tamb*m * verdade quanto A maneira dever de um praticante Dzogchen, que * umponto de vista insepar&vel do verdadeiroconhecimento em si mesmo$ O Ca0inho   * omeio para desenvolver este conhecimentoatrav*s de v&rios m*todos de pr&tica$ ? oFruto  * a realiza!o de unir o modo de agirde uma pessoa com o estado de presena demodo que a contempla!o e as atividades

di&rias da pessoa 'iquem totalmenteintegradas$ trav*s do entendimento dos(eis *ersos *a.ra podemos ter acesso diretoA ess3ncia do Dzogchen$

=F>TR 4no livro9 / $untu!angpo e$untu!ang0o/ (a0antabhadra e (a0antrabhadri/

representando o estado não[dual2

Notas:

1. subdivis!o dos escritos dzogchen emtantras 4rg'ud 9, lung lung"/  ouliteralmente (cita.es), e instru.essecretas 40an7ngag 9 * aqui evocada$ ?nt!o asduas primeiras dessas tr3s categorias cont*mensinamentos originalmente transmitidos por>arab Dor"e, a terceira cont*m instru.es ee#plica.es que decorrem das e#peri3ncias dediversos mestres$7$ tradi!o conta que 'oi o pr%prio<admasambhava que sugeriu ai rei -risongDetsen de enviar Bairocana A Oddiana$

3. ?#iste um tantra do (;uco) levando essetítulo no r1'ing70ai rg'ud7bu0 , o cQnondas escritura 1'ing0apa$6$ Os documentos encontrados em -un ^uang,que situa+se no -urquest!o ;hin3s, 'oramdescobertos no início desse s*culo por $2tein e <$ <elliot$ >raas A naturezaarenosa do terreno de -un ^uang, que eraent!o um posto avanado do Fmp*rio tibetano,os manuscritos de imenso valor para o estudoda historia e da cultura tibetana 'orampreservados para a posteridade$

$apítulo $inco 

OS SEIS VERSOS VA/RA

+na tshogs rang bzhin mi gn*is k*ang $ha shas n*id du spros dang bral3i bzhin ba zhes mi rtogs k*ang Rnam par snang mdzad kun tu bzang 4in p"s rtsol ba5i nad spangs te 6hun g*is gnas pas bzhag pa *in 

 

/ natureza dos fen7menos 8 não-dual

9as cada um em seu prprio estado est"al8m dos limites da mente#Não h" conceito :ue possa definir a

condição (do :ue 8) 9as a !isão contudo se manifesta; tudo 8

7J

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bom#&udo 2" foi realizado e assim tendoultrapassado a doença do esforço

O indi!íduo encontra-se a si mesmo noestado de

auto-perfeição; isto 8 contemplação#

Outra !ersão<

/ !ariedade dos fen7menos 8 não-dual#E na prpria multiplicidade os fen7menosindi!iduais são despidos de elaboraç=es

conceituais#Não !amos portanto pensar 8 (isto ou

a:uilo)#/s apar'ncias em sua totalidade são todas

boas de um modo >ltimo#/bandonem a atitude doentia :ue se esforça

por agarrar#E permaneçam na espontaneidade dei?andotodas as coisas em seu estado natural#

Ntrato do livro: 6 Viberdade 1atural da Mente

Tradução: Flávio C2 Cardoso 

$apítulo +eis

A !ASE E A MANEIRA DE VER

/ natureza dos fen7menos 8 não-dual

Os primeiros dois versos dos (eis*ersos *a.ra  e#plicam a condi!o da #aseprimordial, e a 0aneira de ver   nosensinamentos Dzogchen, assinalando queembora e#ista aparentemente um númeroin'inito de coisas e 'enMmenos, suanatureza verdadeira * uma e id3ntica$<odemos, por e#emplo, considerar que muitostipos di'erentes de pessoas e#istem, emuitos tipos de países com todos os seustipos di'erentes de montanhas, rios, evegeta!o$ ssim novamente, al*m da nossadimens!o humana, podemos imaginar aindamuitos tipos de seres, cu"os mundos e o queeles cont3m nos s!o desconhecidos$

-odos os seres vivem dentro das v&riasvis.es cár0icas que surgem para eles comoresultados das pai#.es que eles acumularam$Nos (utras, s!o descritos L6$SSS tipos depai#!o, que podem causar o surgimento de umnúmero igual de 'ormas de e#ist3ncia$ 2en!o permitimos nos prender a esses númerosliteralmente, podemos, entretanto ver o queisto signi'ica, assim como e#iste um númeroin'inito de pai#.es, assim tamb*m podee#istir um número igual de e'eitos cár0icosresultantes dessas pai#.es$

Os ensinamentos e#plicam que e#istemtr3s tipos de vis!oH a vis!o cár0ica  oui0pura  dos seres comunsY a vis!o das(e#peri3ncias) que aparecem para ospraticantesY e a vis!o pura  dos seresrealizados$ vis!o cár0ica  * a vis!oilus%ria dos seres em transmigra!o$ Zchamada (ilus%ria) porque, dependendo do

car0a  da pessoa, ela surge de uma causaprecisa$ s seis pai#.es principais s!oconsideradas como as causas 'undamentaisdas seis dimens.es da e#ist3ncia$ Orgulho,inve"a, apego, obscurecimento mental4ignorQncia9, cobia, e raiva, d!o origem,respectivamente, As vis.es cár0icas dosdeuses, semi+deuses, seres humanos,animais, 'antasmas 'am*licos 4preta9, e

seres in'ernais$ ?stas dimens.es n!o s!omundos que possam ser encontrados paraserem localizados em alguma parte douniverso, mas s!o vis.es cár0icas , que se mani'estam de acordo com a preval3ncia deuma ou outra destas pai#.es$

<ara os seres humanos, por e#emplo, osreinos dos in'ernos n!o e#istemY mas seacumularmos car0a  de raiva su'icientedurante nossa vida podemos 'acilmentenascer em nossa pr%#ima vida na vis!ocár0ica do in'erno$ ? o mesmo * verdade seacumularmos as pai#.es que causam

nascimentos como outros tipos de seres$;ada um deles tem uma vis!o cár0icacaracterística, que dura at* que o car0aque a produziu tenha se e#tinguido$ Tmaest%ria usada para dar um e#emplo distoconta que uma vez vieram "untos seis tiposdi'erentes de seres perto de um rio, cadaqual viu o rio de uma maneira di'erente$ Odeus entre os seis viu o rio como umn*ctar, o 'antasma 'am*lico viu+o como lavaem chama, o ser humano como &gua clara, eassim por diante$ ?ste e#emplo * usado parapossibilitar que o indivíduo entenda quen!o e#iste uma vis!o que se"a ob"etivamente

verdadeira e concreta da mesma maneira paratodos os seres$ 2e o'erecermos um copo de&gua a um 'antasma 'am*lico, provavelmenteela queimar& sua garganta$

O que o termo (vis!o da e#peri3ncia)signi'ica * a mani'esta!o dos resultadosda pr&tica$ trav*s da pr&tica demedita!o, por e#emplo, podem surgir ossinais de rela#amento interno dos cincoelementos do indivíduo$ Ou se algu*m est&praticando os m*todos de visualiza!oencontrados no tantris0o , ele pode tere#peri3ncia de vis.es de coisas como

0andalas  ou divindades$ ;omo o indivíduotem um número in'inito de pai#.es e 'un.esde energia, estas podem, no tra"eto, darorigem a um número in'inito dee#peri3ncias$

Vuando, por outro lado, as causas davis!o cár0ica 'oram totalmente puri'icadas,a vis!o do indivíduo n!o desaparece "unto,mas se mani'esta em sua 'orma pura, como adimens!o dos seres realizados$ Notantris0o , por e#emplo, o resultado 'inalda pr&tica * a trans'orma!o das cincopai#.es em cinco sabedorias$ ssim as

pai#.es n!o s!o eliminadas ou aniquiladas,mas sim trans'ormadas de tal maneira queelas podem se mani'estar em seu aspectopuri'icado ou essencial$ ?sta vis!o purados seres realizados n!o est& su"eita aos

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limites do espao e do tempo$

Os tr3s tipos de vis!o que discutimosincluem todas as in'initas possibilidadesde 'ormas de mani'esta!o, mas sua naturezainerente * n!o+dual$ ?sta natureza * a#ase, nossa condi!o 'undamental, que * t!oclara, pura, e límpida como a capacidadeque possibilita ao espelho re'letir$ ? tal

como os re'le#os di'erentes aparecem numespelho de acordo como as causassecund&rias, assim tamb*m a verdadeiracondi!o da e#ist3ncia aparece sobdi'erentes 'ormas, tanto pura como impura,mas sua natureza verdadeira n!o muda$ Z poristo que se diz n!o+dual$

(N!o+dual) *, de 'ato, um termobastante usado no Dzogchen, em lugar dotermo (uni!o)$ <ara entender porque, apessoa necessita estar consciente de que apalavra (uni!o) implica que e#istem duascoisas di'erentes inicialmente para serem

unidas, enquanto (n!o+dual) signi'ica quedesde o início n!o h& qualquer conceito deduas coisas separadas para serem reunidas$?sta * uma maneira de e#plicar a #ase, mascomo podemos entrar no seu verdadeiroentendimentoW O 'ato * que a #ase n!o podeser entendida atrav*s do intelecto$ Cesmose pensarmos que compreendemos osigni'icado da palavra (n!o+dual), estamosna realidade nos iludindo, porque nossasmentes ainda est!o aprisionadas na condi!odualista$

mente *, por natureza, limitada$N!o tem a capacidade de pensar em duas

coisas simultaneamente, e e#iste no nívelrelativo$ Vuando pensamos em tudo comosendo n!o+dual, nossas mentes est!o de 'atoocupadas naquele momento com o conceito$Cas isto n!o * o que designamos por(conhecimento do estado n!o+dual)$ Oentendimento intelectual e o conhecimentoe#perimental direto s!o duas coisasdi'erentes$

No Dzogchen os v&rios m*todos depr&tica servem para 'avorecer odesenvolvimento de e#peri3ncias, que s!o oprincipal meio para desenvolver o estado de

conhecimento de uma pessoa, e paraultrapassar os obst&culos que o bloqueiam$O indivíduo pode ter uma in'inidade detipos de e#peri3ncias ligadas A pr&tica,mas se eles permanecem ao nível do"ulgamento mental n!o levam a pessoa aoencontro do verdadeiro conhecimento, mas setornam obst&culos em si mesmos$ penasquando a pessoa descobre que em todas asdi'erentes e#peri3ncias e#iste o mesmoestado de presena, compreender& o que est&al*m do dualismo$

Vuando praticamos contempla!o, podem

surgir di'erentes e#peri3ncias, mas apresena do estado de contempla!o nuncamuda$ Fsto n!o signi'ica que o indivíduotem que tentar de alguma 'orma suprimir ounegar as e#peri3ncias que possam surgir,

mas apenas que o indivíduo n!o deve tomarerroneamente a e#peri3ncia pelo estado decontempla!o em si$ =ala+se em tr3s tipos'undamentais de e#peri3nciaH ase#peri3ncias de pra!er , de claridade, e deausência de pensa0entos,¹ que correspondemaos tr3s aspectos do indivíduo, corpo , <alae 0ente$

e#peri3ncia de ausência depensa0entos  pode implicar tanto numaverdadeira 'alta de pensamentos, como numestado em que pensamentos, mesmo quesur"am, n!o perturbam o indivíduo$ ?stae#peri3ncia, que podemos tamb*m de'inircomo um estado de (vazio) da mente, * umamani'esta!o natural de rela#amento damente$ e#peri3ncia de claridade  est&ligada A energia do indivíduo, ao aspectoda 'ala, e pode se mani'estar de v&riasmaneiras, atrav*s tanto de sensaçGes  comode visGes$ Tm e#emplo seria a pura apari!odo 0andala de uma divindade$ e#peri3ncia

de pra!er   est& ligada ao nível 'ísico doindivíduo, ao corpo$ Vuando uma pessoapratica medita!o num estado calmo por umlongo tempo, por e#emplo, ela podee#perimentar uma sensa!o de grande prazertal como ao se encontrar no meio de umanuvem no espao vazio$

?stes s!o e#emplos dos in'initostipos de e#peri3ncia que podem mani'estar+se atrav*s da pr&tica$ Dizer que uma pessoaencontrar+se no estado de contempla!osigni'ica que ela esta completamenterela#ada, por*m se a pessoa tornar+seapegada as e#peri3ncias de prazer, ou

condicionada por uma vis!o ou um estado sempensamentos, isto ter& um e'eito oposto aodese"ado$ 'im de rela#ar, o indivíduo n!odeve estar (bloqueado) por uma e#peri3ncia,tomando+a erroneamente pelo estado decontempla!o$ ?ste pode ser um grandeobst&culo A realiza!o$ 2e um praticantepermanecer absorvido por dias e dias numestado de prazer, ou de vacuidade, semmanter a presena da contempla!o, isto *como cair adormecido em uma e#peri3ncia$Fsto acontece quando as e#peri3ncias s!oerroneamente assumidas no lugar doverdadeiro ob"etivo da pessoa$

^& uma grande di'erena entre umasensa!o de prazer e uma de vacuidade, masa natureza inerente de ambas ase#peri3ncias * única e a mesma$ Vuandoestamos em um estado de vacuidade e n!operdemos a consci3ncia, h& uma presença quecontinua durante todo o tempo, uma presençaque * a mesma numa e#peri3ncia de sensa!oagrad&vel$ ?sta presença * única e al*m damente$ Z um estado n!o+dual que * a base detodas as 'ormas in'initas de mani'esta!o,e a 'im de reconect&+la, a transmiss!odireta de um mestre * indispens&vel$

O segundo verso do (eis *ersos *a.raem que se l3H (mas cada um em seu estadoprprio @estado primordial sua ess'nciaAest" al8m dos limites da mente) , signi'ica

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que, mesmo se a natureza da e#ist3ncia *n!o+dual, tudo se mani'esta distintamentecomo a energia do estado primordial$ Overdadeiro estado de cada coisa que semani'esta como um ob"eto est&verdadeiramente al*m de todas as de'ini.ese al*m de todos os conceitos$ ;omparamos,anteriormente neste livro, o aspecto >tsel?da mani'esta!o de nossa energia a uma bola

de cristal, porque o cristal *transparente, e sua natureza * clara, pura,e límpida$ ? "& notamos como, quando umacausa secund&ria dos raios do sol est&presente, in'initos raios de arco+írisespalham+se a partir do cristal$ ?stee#emplo * dado para mostrar como tanto avisão pura  de um ser realizado que semani'esta na 'orma de 0andala e divindades,como a visão i0pura  de indivíduos comunsque est!o limitados pelo dualismo e pelocar0a, mani'esta+se a partir do pr%prioestado 4estado primordial, sua ess3ncia9 doindivíduo da mesma 'orma que os raios se

mani'estam a partir de um cristal quando osol incide nele$ ssim, da mesma maneiraque milhares de 'ormas e cores semani'estam a partir do cristal, umavariedade in'inita de 'enMmenos podemsurgir em rela!o ao nosso pr%prio estadoprimordial$

^& um ditado no Dzogchen que diz,(Ob"etos s%lidos s!o puros desde o início),que signi'ica que a natureza inerente dequalquer tipo de ob"eto aparentementemani'esto * vazia e 'undamentalmente pura$<or e#emplo, mesmo se, olhando com nossa

(vis!o cár0ica  comum), vemos uma tendaamarela, um animal ou outro tipo de ser n!ov3 o mesmo ob"eto da mesma maneira, porqueo animal n!o possui as causas da vis!ocár0ica humana$ ssim n!o e#iste uma vis!os%lida, imut&vel, universal das coisas$-udo o que nos parece como uma dimens!o doob"eto n!o *, de 'ato, realmente algumacoisa totalmente concreta, mas * um aspectode nosso estado primordial aparecendo paran%s$ ssim a natureza verdadeira dosob"etos n!o pode ser de'inida, por isso os(eis *ersos *a.ra  dizem que sua naturezaest& (al8m dos limites da mente) #

Vuando nos encontramos em nossoestado primordial, no centro damani'esta!o de todo o número in'inito de'enMmenos possíveis, ent!o pode ser ditoque estamos verdadeiramente comeando arela#ar$ t* que uma pessoa descubraverdadeiramente este estado, qualquerrela#amento do corpo, 'ala, ou mente, que apessoa consiga, permanece apenasprovisoriamente$ pessoa pode rela#ar seucorpo deitando no ch!o, ou rela#ar suaenergia 'azendo pr&ticas respirat%rias, masestes s!o rela#amentos apenas parciais,

porque para ter seus e'eitos, estese#ercícios precisam ser repetidos todo dia$? ent!o novamente, algumas vezes, quandoestamos muito agitados, mesmo que tentemosrela#ar, n!o conseguimos, porque

permanecemos completamente dependentes detodas as v&rias circunstQncias relacionadasA nossa situa!o$

-odos gostariam idealmente de viveruma vida calma e rela#ada$ Cesmo pessoasque n!o seguem qualquer sistema religiosoem particular, e que talvez dissessem quen!o cr3em absolutamente em nada, gostariam

de viver uma vida calma$ ssim osensinamentos n!o s!o algo de interesseapenas para aqueles que sentem a sipr%prios como (espirituais), mas s!overdadeiramente úteis a todos que gostariamde viver de um modo mais rela#ado, e assimserem capazes de resolver seus problemas dodia a dia mais 'acilmente$

>eralmente temos muitos tipos deproblemas e con'litos, e na verdade opr%prio 0uda assinalou que a verdadeiranatureza do sa0sara  * so'rimento$ 2eobservarmos nossa pr%pria condi!o por um

dia, uma semana, ou um m3s, notaremos quenunca estamos completamente livres doso'rimento$ ? se n!o soubermos comorela#ar, a situa!o * claramente pior,porque n%s a agravamos ainda mais com nossaagita!o$ Vuando estamos agitados mesmo ascoisas mais simples se tornam di'íceis,assim * muito importante aprender arela#ar$ Vuando encontramos um estado al*mde todas as nossas tens.es habituais, tudose rela#a automaticamente$ De 'ato, noverdadeiro estado de contempla!o, n!o h&nada para rela#ar, porque a naturezadaquele estado * em si mesma rela#ada$

O Dzogchen poderia ser de'inido comoum caminho para rela#ar completamente$ Fstopode ser claramente entendido a partir dostermos usados para denotar o estado decontempla!o, tais como, (viva+o "ustamentecomo ele *) 4cog b!hag 9, (rela#e a tens!o)43hregs chod 9, (al*m do es'oro) 4rtsolbral9, e assim por diante$ lguns eruditosclassi'icaram o Dzogchen como um (caminhodireto), comparando+o a ensinamentos como oen, onde esta e#press!o * 'reqentementeusada$ Nos te#tos Dzogchen, entretanto, ase#press.es (caminho direto) e (caminho n!o

gradual) 4cig car 9 nunca s!o usadas, porqueo conceito de (caminho direto) implicanecessariamente que e#ista, de um lado, umlugar a partir do qual o indivíduo comea,e do outro, um lugar para o indivíduochegar$ Cas no Dzogchen e#iste o princípioúnico do estado de conhecimento, e se umapessoa possui este estado, descobre quedesde o início ela "& est& aonde queriachegar$ <or esta raz!o o estado * dito serde (auto+realiza!o) lhun grub" 2

Nos (utras Maha'ana, s!o consideradosdez bhu0i, ou níveis de realiza!o

espiritual do #odhisattva, conduzindogradualmente A ilumina!o total$ ?stesgraus de realiza!o est!o baseados no nívelda puri'ica!o dos obst&culos sutis aoconhecimento realizado pelo praticante$ Cas

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na condi!o n!o+dual n!o e#istem níveis ouest&gios de realiza!o 4sabedoria9Y nesseponto de vista h& apenas um único bhu0i,que * o pr%prio estado de conhecimento$

O estado de conhecimento surge eamadurece atrav*s do rela#amento, mas(rela#amento) n!o signi'ica apenas n!o'azer nada$ lgumas vezes as pessoas

interpretam errMneamente o princípio de(n!o+corrigir) nada do Dzogchen e se dei#amdistrair$ Cas a pr&tica Dzogchen signi'icaque uma pessoa aprende a rela#ar enquantomant*m sua presença  todo o tempo emquaisquer circunstQncias em que seencontre$ ssim, num estado de totalinteireza, a pessoa permanece rela#ada epresente em rela!o a todas as in'initasmani'esta.es de energia que possam surgir$<ara praticar Dzogchen n!o * necess&rioestudar as id*ias de uma tradi!o religiosaou 'ilos%'ica$ Dzogchen pode serper'eitamente bem entendido sem o uso de

uma quantidade de termos e e#press.escomplicados$ <or e#emplo, usamos o nome(Dzogchen) porque ele sinaliza para a total4chen9 per'ei!o 4d!og 9 do estado de umindivíduo, mas n!o haveria qualquerdi'erena se us&ssemos algum outro termo$ Oprincípio verdadeiro *, 'inalmente, atransmiss!o de um estado de conhecimentoque pode abrir e despertar o indivíduo, en!o como o indivíduo de'ine a tradi!oespiritual envolvida$

lgumas pessoas pensam que n!o *indispens&vel que tenham um mestre, e

sentem que, para que se"am capazes depraticar, as instru.es que podem encontrarem um livro se"am su'icientes$ Cas umlivro, assim como n!o * capaz de conter atransmiss!o viva de um ensinamento, tamb*mn!o pode conter e#emplos e e#plica.esadequadas a cada tipo de pessoa$ Tm mestre,colaborando com os discípulos, a"uda+os aencontrar o estado de contempla!o atrav*sda e#peri3ncia do corpo, 'ala, e mente, eensina muitos m*todos para desenvolver oestado de conhecimento$ ;onhecendo acaracterística particular de cadadiscípulo, o mestre pode aconselh&+lo com

m*todos mais adequados para cada um deles$

?stes dois primeiros versos tamb*me#plicam a maneira de ver no Dzogchen,porque a natureza n!o+dual de todos os'enMmenos a que se re'erem n!o * algumacoisa e#terna ao indivíduo, mas * narealidade a verdadeira condi!o de todos osindivíduos$ ssim, se continuarmosprocurando 'ora de n%s mesmos como seremoscapazes de entender o estado primordialW-udo o que percebemos como e#terno atrav*sda rede do dualismo * de 'ato o resultadoda separa!o entre su"eito e ob"eto que n%s

mesmos, com nossas mentes, criamos$ 2!onossas mentes que d!o origem a todos osnossos "ulgamentos, apegos, e car0a, e paraentender a n!o+dualidade 'alada nos (eis*ersos *a.ra precisamos simplesmente estar

conscientes do princípio de que o quepercebemos como nossa vis!o * de 'ato apotencialidade mani'estada de nosso estadoprimordial$

Nas v&rias tradi.es do budismotibetano, o que geralmente signi'ica a(maneira de ver) * a teoria 'ilos%'icaparticular na qual aquela escola em

particular est& baseada$ -odas as escolasde budismo tibetano aceitam os trabalhos de1agar.una, o ponto culminante da 'iloso'iabudista Maha'ana/ como contendo o caminhosupremo do ver, que * conhecido como;aminho do Ceio$ De cordo com este sistema'ilos%'ico * impossível, do ponto de vistada suprema realidade cu"a natureza * aindescritível vacuidade, a'irmar qualquercoisa como sendo absolutamente verdadeira$<or meio deste tipo de in'er3ncia, coml%gica cruel, 1agar.una  ultrapassou todas as vis.es e#tremistas de todas as outrasescolas 'ilos%'icas de sua *poca$

o longo do curso dos s*culosseguintes, entretanto, surgiram entre asescolas tibetanas varia.es nainterpreta!o da 'iloso'ia de 1agar.una quederam origem a in'ind&veis controv*rsiasdoutrin&rias e disputas$ ;ada escola tentoude'ender e sustentar seu pr%prio caminhocaracterístico de ver com base na l%gica ena especula!o$ Cas esta atitude n!o temnada em comum com o caminho n!o+dual dever, que est& al*m da pondera!o e dadiscuss!o$

'iloso'ia budista geralmente est&

baseada no conceito das duas verdades,relativa e absoluta$ última corresponde Acondi!o absoluta, que * vazia e n!o+dual,enquanto a primeira corresponde a tudo quesurge na condi!o relativa da e#ist3ncia$Na pr&tica verdadeira, * considerado quequando algu*m est& num estado de medita!o,sentado com as costas eretas, ent!o essealgu*m est& na condi!o absoluta$ Casquando a sess!o de medita!o do indivíduotermina e recomea suas atividades da vidadi&ria, ent!o ele esta na condi!orelativa$ Z como se o indivíduo tivesseduas pernas, uma da verdade absoluta, e a

outra da verdade relativa, para prosseguirao longo do caminho para realiza!o, que *de'inido como a uni!o das duas verdades$Cas no Dzogchen, desde o início esteconceito de duas verdades n!o e#iste, e oestado n!o+dual * introduzido como oalicerce tanto da maneira de ver como damaneira de praticar$

No Dzogchen a maneira de ver de umapessoa n!o * a mesma de algu*m que olhaatrav*s de um par de %culos$ Cesmo seatrav*s de suas lentes o indivíduo possaser capaz de ver claramente milhares de

'ormas e cores, a dire!o em que ele est&olhando ainda * equivocada$ <or esta raz!oo espelho * usado como um e#emplo, porquese olharmos num espelho vemos a nossapr%pria 'ace, e embora n!o gostemos de como

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ela se apresenta, temos que aceit&+la$ ?ste* o único caminho pelo qual podemosdescobrir algo mais pro'undo, e comearrealmente a entend3+lo$

maneira de ver pode a"udar+nosbastante no desenvolvimento de umentendimento correto da 0ase, contudo ainda* '&cil para nosso conhecimento permanecer

meramente intelectual$ ?ste * um obst&culoque * muito sutil e di'ícil de remover,porque 'reqentemente nem mesmo o notamos$^&, em geral, dois tipos de obst&culos queum praticante pode encontrar, obst&culosdas paiGes, e obst&culos do conheci0ento $Obst&culos das pai#.es, de car0asnegativos, e etc, s!o relativamente '&ceisde descobrir$ Cas obst&culos deconhecimento s!o sutis e podem mesmoobstaculizar seriamente praticantes muitoavanados$ Cesmo se o indivíduo, pore#emplo, tiver ultrapassado seus apegos esuas pai#.es e tiver obtido certo nível de

estabilidade em sua medita!o, na medida emque ele ainda pode ser apanhado em algumaid*ia ou conceito sobre o conhecimento emsi, ele ainda ser& automaticamente desviadodo caminho para a realiza!o$ ssim, amaneira como se entenda a 0ase *e#tremamente importante no Dzogchen$

lgumas pessoas, quando seguem ummestre, acreditam cegamente em tudo o queele diz, sem veri'icar atrav*s dos m*todosda pr&tica$ <or*m, e#istem outros quepensam ent!o que * sempre necess&riodebater e discutir tudo$ Cas a verdade *

que a pessoa n!o resolve realmente nada nempelo questionamento nem pela aceita!opassiva de tudo o que o mestre diz, como seele 'osse um general$ -udo o que precisamos'azer * tentar (saborear) o que o mestreesta comunicando, de modo que possamosverdadeiramente descobrir o estado deconhecimento em n%s mesmos$ Vuando o mestree#plica alguma coisa, n!o esta 'azendo istos% para e#ibir uma id*ia pr%pria, masprover os discípulos com meios paraentender sua pr%pria natureza$

O mestre e#plica, ensina, a"uda, etc,

mas n!o pode realizar o milagre deiluminar, ou trans'ormar a condi!o dealgu*m$ lgumas pessoas est!o convencidasde que e#istem mestres e#traordin&rios ques!o capazes de 'azer uma doa!o deilumina!o para outros, mas ningu*m pode'az3+lo$ O poder do mestre * e#plicar e'azer alguma coisa ser entendida,transmitindo o estado de conhecimento dedi'erentes maneiras$ Vuando o estudante,aplicando as pr&ticas, entra no estado deconhecimento, ent!o pode+se dizer realmenteque o mestre realizou um milagre$ De 'ato opr%prio 0uda disse, (Nu posso 0ostrar7lhe o

ca0inho/ 0as a reali!ação depende de você0es0o )$

=igura / *airochana/ tradutor dos(eis *ersos *a.ra na l=ngua de &ddi'ana

para o tibetano2

lgumas vezes, entretanto, n!o *possível transmitir os ensinamentos porquen!o h& capacidade ou participa!osu'iciente por parte daqueles que queremreceb3+los$ Tns poucos anos atr&s, pore#emplo, eu 'ui A regi!o do Nepal onde viveo povo (herpa$ Cuitos (herpas  vieram ver+

me, uma vez que ouviram 'alar de mim comoreencarna!o de um outro mestre1$ Vuandochegaram A sala onde eu estava meo'ereceram arroz, dinheiro, e a tradicionalecharpe branca usada para dar boas vindasAs pessoas$ Depois, me pediram uma ben!o ese 'oram$ ?les n!o me pediram nenhumensinamento, e isto * típico do que nosre'erimos quando dizemos que algu*m tem umaatitude passiva 'rente aos ensinamentos$

O 0uda disse que a realiza!o dependede n%s mesmos$ ?le estava totalmenteiluminado, onisciente, e cheio de

compai#!o$ ?le n!o era indi'erente aoso'rimento dos outros seres$ ?nt!o, porqueele n!o realizou o milagre da ilumina!o detodos os seres em transmigra!o, se talcoisa 'osse possívelW Cas o 'ato * que n!oera possível mesmo para o 0uda 'azer talcoisa, ent!o n!o * possível para ningu*m'az3+lo$ ssim, precisamos ser ativos emrela!o aos ensinamentos, aplicando+osverdadeiramente As nossas vidas$

<ara entrar e permanecer est&vel noestado de contempla!o, assim como sercapaz de integrar este estado a todas as

nossas atividades di&rias, * necess&riamuita e#peri3ncia de pr&tica, mas n%s n!odeveríamos nos dei#ar 'icar preocupados acerca de todos os m*todos di'erentes, oudei#&+los nos condicionar$ <ode acontecerque, ap%s uma pessoa ter recebido umainicia!o, por e#emplo, 'aa um voto de'azer aquela pr&tica todos os dias$ <odeser que nos primeiros dias a pessoa n!otenha nenhuma di'iculdade em cumprir suapromessa, mas logo depois os con'litospodem comear a surgir, porque ela ter& se'orado, como resultado de sua id*ialimitada, de ver+se obrigada a sentar para

praticar, a 'azer isto todos os dias queras circunstQncias se"am 'avor&veis ou n!o$No Dzogchen esta atitude * consideradades'avor&vel para o progresso da pessoa napr&tica, porque se ela torna+see#ageradamente dependente dos m*todos doensino, a pessoa n!o colhe o bene'ício daess3ncia do estado de rela#amento$

?u tenho no meu guarda+roupa, pore#emplo, muitos tipos de roupa, mas iston!o signi'ica que eu tenha a necessidade decoloc&+las todas no mesmo dia$ <or*m, acada vez, isto * uma quest!o de escolher a

roupa mais adequada As circunstQncias emque me encontre$ Da mesma 'orma,  e#istemmilhares de m*todos nos ensinamentos, masse algu*m entende o princípio dacontempla!o, n!o * importante qual desses

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m*todos ele use$

Os ensinamentos Dzogchen est!obaseados em :uatro pontos, o primeiro   dosquais * que, (est" baseado no significadoreal e não no con!encional) 0  O(signi'icado convencional) a 'orma como oconhecimento * comunicado entrando namentalidade ou nos costumes daqueles que

v!o receb3+lo, 'oi a maneira pela qual 0udaensinou quando ele usou no.es e conceitospertencentes A cultura indiana de seutempo, embora ele estivesse per'eitamenteconsciente da natureza ilus%ria de todos osconceitos$ 2eu discurso tem como seu únicoob"etivo o prop%sito de transmitir o estadoque est& al0 dos conceitos , que * o (verdadeiro signi'icado) re'erido nesteprimeiro ponto$ Diz+se que o Dzogchen est&baseado no verdadeiro signi'icado, porquedesde o início ele ensina ao indivíduo aencontrar a si mesmo em sua condi!onatural 4primordial, sua ess3ncia9 sem a

corrigir nem alter&+la$

O segundo   ponto * que, (ele est"baseado no indi!íduo e não nosensinamentos) 0  No caminho da renúncia, apessoa se torna subordinada ao ensinamento$N!o tendo a capacidade de assumir aresponsabilidade por si mesma, toma adecis!o de observar certas regras,aceitando que n!o vai cometer aquelas a.esque s!o proibidas pelo c%digo mon&stico$Cas o Dzogchen esta baseado no indivíduo,porque no Dzogchen a coisa 'undamental *entender a capacidade do pr%prio indivíduo

e saber como usar aqueles m*todos que s!omais adequados a ele$

O t')"'&)o ponto dizH (ele est" baseadona sabedoria primordial e não na mente) 0 mente * a base do dualismo e de todos osnossos con'litos, enquanto a sabedoriaprimordial * a natureza do estado depresença, o conhecimento que aparece comoresultado da transmiss!o do mestre edesenvolve+se pela pr&tica da contempla!o$

O >ltimo   ponto * que (ele estabaseado no significado e não nas pala!ras) ,

que signi'ica que o indivíduo deveriatentar entender o verdadeiro sentido que omestre comunica, e n!o permaneceraprisionado ao signi'icado literal daspalavras$ Tm termo tal como bodhichitta,por e#emplo, tem di'erentes signi'icadosdependendo se estamos no conte#to dos(utras/ dos Tantras, ou Dzogchen$

O princípio da 0ase n!o * peculiaraos ensinamentos Dzogchen, mas * encontradoem todas as tradi.es budistas$ No níveldos sutras a 0ase signi'ica o conhecimentodas duas verdades, relativa e absoluta, que

corresponde aos conceitos de >0ente?   e>nature!a da 0ente? $ O caminho nos (utras *o duplo acúmulo, de m*rito e de sabedoria,o primeiro dos quais est& ligado A condi!orelativa atrav*s do trabalho com os tr3s

aspectos do indivíduo da seguinte 'ormaHcom o corpo   o indivíduo e#ecuta a.esvirtuosas, com a <ala  recita 0antras  depuri'ica!o, e com a 0ente  cultivapensamentos de compai#!o pelos outros$ sa.es virtuosas t3m o poder de diminuir osobst&culos do indivíduo, criando ascondi.es necess&rias para o caminho deacúmulo de sabedoria$

O acúmulo de sabedoria envolveconhecimento da condi!o absoluta, atrav*sdo conhecimento do estado de contempla!o$?ste * considerado o caminho 'undamentalmesmo nos (utras, e o pr%prio 0udaassinalou que >40a pessoa ;ue per0anece naconte0plação pelo te0po ;ue u0a <or0igaleva para ir da ponta de seu nari! at asua testa acu0ulará 0uito 0ais sabedoria do;ue u0 outro ;ue/ 0es0o a custo de grandesacri<=cio/ <a! o<erendas ao #uda e Bsdivindades durante todo o te0po? $ ;ontudo,nos (utras  * geralmente considerado que,

desde que n!o * '&cil entender e aplicar ocaminho da sabedoria diretamente, oindivíduo deveria de 'ato praticar apuri'ica!o e o acúmulo de m*rito$

Diz+se que quando 0uda tentou pelaprimeira vez comunicar o estado deconhecimento a seus discípulos, uma vez quenenhum deles o entendeu, ele 'alou+lhes,>Nncontrei u0 ca0inho para o estado deconheci0ento ;ue pro<undo e claro/ al0dos conceitos e al0 de todas aseplicaçGes2 Mas ;uando tentei co0unicá7lo/ningu0 o entendeu2 6ssi0 irei de agora e0

diante 0orar so!inho na <loresta/ onde0editarei e0 solidão? $ Fsto mostra como *di'ícil comunicar o caminho da sabedoria, eum te#to Dzogchen escrito em versos@realmente diz, >Para eplicar este estado/0es0o a l=ngua do #uda desa.eitada? $

Notas:

1. ?m tibetanoH bde7ba/ gsal7ba e 0i7rtog7pa$

2. Namka_ Norbu Rinpoche  'oi reconhecidocomo a reencarna!o de 1gog7dbang rna07rg'al4IG86+IKGI9, o 'undador do estado do 0ut!o,

e de 6d!o07brug7pa 4IL67+I8769, um grandemestre dzogchen que 'oi, entre outros, omestre de Changchub %or.e$

3. O te#to ao qual ele 'az re'er3ncia aqui *a spira!o A 0ase, A Bia e ao =ruto 4g!i7la07 bras7buil7s0on7la0 9 contido no$longchen sn'ing thig , o c*lebre ter0arevelado por Uigs70ed gling7pa 4I578+8L9$

$apítulo +ete 

O CAMINHO E A MANEIRA DE PRATICAR

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Não h" nenhum conceito :ue possa definir acondição (do :ue 8) 

9as a !isão contudo se manifesta; tudo 8bom#

Diz+se que a pr&tica do Dzogchen est&(al*m do es'oro), e realmente ningu*mprecisa criar, modi'icar, ou mudar nada,mas apenas encontrar a si mesmo na

verdadeira condi!o de (o que *)$ Cas podeacontecer que uma 'rase, que tem a inten!ode indicar um estado al*m dos conceitos, setorne ela mesma um outro conceito, da mesma'orma que se voc3 perguntar a uma pessoaseu nome e ela responder que n!o t3m nenhumnome, voc3 ir& talvez, incorretamente,cham&+la de (nenhum nome)$

Os pr%#imos dois versos dos (eis *ersos*a.ra e#plicam o signi'icado do caminho e apr&tica do Dzogchen$ e#press!o (o que *)4.i b!hin há9 * largamente usada nos te#tosantigos de Dzogchen, e * sinMnimo de (n!o

corrigido) 40a bcos pa9 e outros termos quedenotam o estado verdadeiro, inalterado,n!o modi'icado e n!o corrigido$ ;orrigir,modi'icar, etc$, s!o 'un.escaracterísticas de nossas mentes duais, eassim quando algu*m encontra+se no estadon!o corrigido signi'ica estar al*m damente$ No Dzogchen isto * verdadeiro apenasno est&gio 'inal da pr&tica, tal como emoutras tradi.es, mas por outro lado, apessoa deve tentar entrar no estado deconhecimento de (o que *) desde o início$

No tantris0o/ a introdu!o A natureza

original da mente * o último est&gio dapr&tica, ap%s os est&gios dedesenvolvimento e de conclus!o$ Cas noDzogchen esta condi!o * introduzidadiretamente, n!o apenas no nível da mente,mas tamb*m nos níveis de voz e corpo,porque, para ser integrado com acontempla!o, todos os aspectos de nossae#ist3ncia precisam estar neste estado n!ocorrigido$

No & ,rande Nspaço de *a.rasattva4r%or.e se0s dpa na0 03ha che9¹, num dosprincipais te#tos da 2*rie da Natureza da

Cente, est& escrito que, >Corrigir acondição do corpo a <i0 de encontrar u0estado de conte0plação não aplicado no%!ogchen2 Controlar a posição do corpo dealgu0 e 0anter as costas eretas não conte0plação/ 0as pode0/ de <ato/ tornare07se obstáculos B conte0plação? $ ;omoresultado de tais a'irma.es algumaspessoas t3m acusado o Dzogchen de negar ovalor da medita!o sentada, ou do controleda respira!o e da postura do corpo, etc$Cas o Dzogchen n!o nega nada, e quando se'ala em dei#ar o corpo (n!o controlado),isto signi'ica simplesmente dei#ar o corpo

permanecer na condi!o aut3ntica, n!ocorrigida, na qual n!o * necess&riomodi'icar ou melhorar nada$ Fsto porque,desde que todas as nossas tentativas decorrigir o corpo v3m da mente racional,

elas s!o todas 'alsas e arti'iciais$

Na 2*rie das Fnstru.es 2ecretas, s!oe#plicadas quatro maneiras de continuar emcontempla!o, conhecidas como as quatromaneiras de >deiar eata0ente co0o está? $ primeira que se re'ere ao corpo, * dita>co0o u0a 0ontanha? $ Fsto se re'ere a que,mesmo que uma montanha possa ser mais alta

ou mais bai#a, ou de di'erentes 'ormas, *alguma coisa que, contudo permanecer&sempre est&vel, e nunca mudar& de posi!o$Da mesma 'orma, ao longo de um mesmo diaassumimos di'erentes posi.es de acordo comas circunstQncias variadas em que nosencontramos, e todas estas posi.es s!oigualmente adequadas A contempla!o, sem anecessidade de alter&+las$ 2e a posi!o emque me encontro * a deitada, no momento emque me encontro no estado de (o que *),ent!o esta * a minha posi!o natural,e#atamente como a posi!o im%vel de umamontanha$ N!o * necess&rio que eu me

levante imediatamente, coloque minhascostas eretas, e cruze minhas pernas$ Omesmo * verdadeiro se eu me encontro emcontempla!o no momento de beber uma #ícarade ca'*$ N!o * necess&rio que eu corra parao meu quarto, 'eche a porta, e sente emmedita!o$ -odos os pontos acima s!o úteisno aprendizado de como integrar acontempla!o A vida di&ria$

'im de algu*m ser capaz derealmente integrar sua pr&tica A vidadi&ria, umas poucas sess.es de medita!osentada por dia n!o s!o su'icientes, porque

vivemos um dia de vinte e quatro horas euma ou duas horas de pr&tica n!o dar& osresultados corretos$ (Fntegrar), por outrolado, signi'ica entender a condi!o de (oque *) em rela!o A pr%pria vida, semcorrigi+la, de modo que cada circunstQnciada vida da pessoa se torna uma ocasi!o depr&tica$

<ode+se, ent!o, perguntar, >40a ve!;ue no %!ogchen ensinado ;ue a pessoa nãodeve corrigir nada/ isto signi<ica ;ue inOtil e<etuar práticas de respiração/visuali!ação/ etc/ ;ue estão real0ente

baseadas e0 corrigir u0a coisa ou outra\?Cas no Dzogchen >não corrigir?   n!osigni'ica nem negar nem combater qualquerm*todo de pr&tica$ <or*m o praticante deveestar aberto e rela#ado em rela!o aosv&rios m*todos, e saber como us&+los, semser condicionado por eles$

lgumas vezes pode ser que uma grandeimportQncia se"a dada a detalhes da posi!odo corpo de uma pessoa, de suas m!os, etc,e A cor e 'orma da divindade a servisualizada, de tal 'orma que o verdadeirosigni'icado daquilo que a pessoa esta

'azendo se"a esquecido$ <osi!o,respira!o, e visualiza!o, trabalhando comos tr3s aspectos de corpo, voz e mente, s!osomente meios para nos capacitarem a entrarno estado rela#ado de contempla!o$ ?#istem

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milhares de m*todos de pr&tica, muitos dosquais podem parecer muito semelhantes entresi, assim se a pessoa apenas olha para oe#terior, mais do que para o signi'icadoessencial, pode 'icar perturbada pordúvidas e contradi.es$ Cas todos essesproblemas e con'litos surgem da mente, que* semelhante a uma pessoa limitada que *a"udada e au#iliada por cinco pessoas ainda

mais limitadasY os cinco sentidos$?ntretanto quando algu*m conheceverdadeiramente o estado de contempla!o,al*m do es'oro, e al*m do "ulgamento,tamb*m ser& capaz de ultrapassar estesproblemas em rela!o aos m*todos depr&tica$

Nos tantras, o m*todo para chegar aoestado n!o corrigido * o da trans'orma!o,atrav*s de visualiza!o da dimens!o pura$-omemos o e#emplo de Heva.ra Tantra$Heva.ra * o nome dado A mani'esta!o purade um ser realizado em particular, tal como

recebida por certo mestre$ Vuando algu*mrecebe transmiss!o de Heva.ra Tantra, apessoa aplica a vis!o da trans'orma!otodos os dias, usando o 0antra de Heva.ra,para integrar a visualiza!o com suapr%pria energia$ ?nt!o, num certo momento,a vis!o de trans'orma!o cessa de dependerda visualiza!o da pessoa e se torna umamani'esta!o da claridade inata da pessoa$-udo se torna reintegrado com aquelaclaridade, na contempla!o do Maha0udra $Vuando a pessoa alcana este estado atrans'orma!o n!o * mais a coisa'undamental$ pessoa pode entender isto

muito bem se ler algumas das poesias dos0ahasiddhas , ou suas biogra'ias$ 

Tm dos mais 'amosos praticantes doHeva.ra Tantra 'oi o 0ahasiddha *irupa$ ?le'oi originalmente um grande erudito, ump+ndita, mas mais tarde se tornou umpraticante do tantra2 <or anos e anos eleaplicou em si mesmo o m*todo detrans'orma!o Heva.ra/  recitando emparticular o 0antra  de %a0e0a b%ag 0d0a"/ a consorte de Heva.ra2 ;onta+se que umdia, enquanto ele estava no estado decontempla!o de total claridade, ele de

repente se levantou e atirou seu 0alaJ, queusualmente mantinha em suas m!os enquantorecitava o 0antra/ no vaso sanit&rio$ ?nt!oquando ele voltou a seu quarto, ele atirouno ch!o a o'erenda de 0andala que ele haviapreparado para a pr&tica e 'oi embora,nunca mais retornando$ *irupa  haviadespertado, mas todos pensaram que elehavia enlouquecido$

lgumas vezes seres realizados, comopessoas loucas, agem de uma 'orma que est&al*m dos limites (normais) de procedimentoconvencionalY mas o 'ato * que somos os

loucos, (enlouquecidos) pelas cinco pai#.ese todos os nossos apegos$ N!o notando isto,podemos chamar de (loucos) a quem n!o ageda maneira que consideramos normal$ <oresta raz!o muitos mestres, tais como %ru3pa

$unl #rug pa 3un legs"/  que teve umestilo de vida que 'oi al*m dos limites,'oram chamados de ('ogis  loucos)$ XloucasabedoriaY

ssim vimos que no tantris0o  , tamb*m, ao 'inal da pr&tica, o indivíduo rompe aconstru!o imagin&ria do processo detrans'orma!o, e alcana um estado de

integra!o com a mani'esta!o pura, al*mdos conceitos$ <ara alcanar este nível,entretanto, s!o necess&rios muitos anos depr&tica em retiro$ Cas Dzogchen, o (caminhoda auto+libera!o), est& baseado noprincípio do conhecimento, e n!o no sentidode 'azer uma decis!o mental uma vez e parasempre de conhecer algo e ent!o nuncamodi'ic&+lo, mas no sentido de descobrirrealmente e verdadeiramente a presença  doestado primordial$

pr&tica do Dzogchen pode comearpela 'i#a!o em um ob"eto, a 'im de acalmar

os pensamentos da pessoa$ ?nt!o ela rela#aa 'i#a!o, dissolvendo a depend3ncia doob"eto, e 'i#a o olhar no espao aberto$?nt!o, quando ela consegue tornar o estadocalmo est&vel, * importante trabalhar com omovimento dos seus pensamentos e energia dapessoa, integrando este movimento com apresena da contempla!o$ Neste ponto apessoa est& pronta para aplicar acontempla!o ao seu cotidiano$ O sistema depr&tica descrito * característico das2*ries da Natureza da Cente, mas isto n!oquer dizer que no Dzogchen o indivíduoprecisa necessariamente comear com 'i#a!o

e medita!o em um estado calmo$ Nas 2*riesde ?spao <rimordial, e nas 2*ries deFnstru.es 2ecretas, por e#emplo, a pessoaentra diretamente na pr&tica dacontempla!o$ <articularmente no primeiro,e#istem instru.es muito precisas de comoencontrar o estado puro de contempla!o$ Noúltimo, por outro lado, as e#plica.esconcernem principalmente a como a pessoacontinua em contempla!o em todas ascircunstQncias$

pr&tica da contempla!o * e#plicadaconcisamente na linha em que se l3, >0as a

visão/ contudo se 0ani<esta: tudo bo0 6? $;ontudo, mesmo se a condi!o de (o que *)n!o pode ser captada com 'irmeza pelamente, a mani'esta!o completa do estadoprimordial, incluindo nossa vis!o cár0ica,e#iste$ -odos os v&rios aspectos de 'ormas,cores, etc$, continuam a surgir seminterrup!o$ Vuando nos encontramos emcontempla!o, isto n!o signi'ica que nossavis!o impura desaparece e a vis!o pura semani'esta em seu lugar$ 2e tivermos umcorpo 'ísico, h& uma causa cár0ica  paraisso, ent!o n!o haveria sentido tentarabandonar ou negar a situa!o em que nos

encontramos$ penas precisamos estarconscientes dela$ 2e tivermos uma vis!o donível material, 'ísico da e#ist3ncia que *a causa de um grande número de problemas,precisamos entender que esta vis!o * apenas

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o aspecto grosseiro das cores, que s!o aess3ncia dos elementos$ &gua, pore#emplo, * a mani'esta!o material da corbranca, a ess3ncia do elemento &gua, que setornou o que * para n%s em sua 'orma desubstQncia material, atrav*s de nosso car0aou ignorQncia$ ?ntretanto, quando'inalmente descobrimos o princípio destamani'esta!o das 'ormas materiais, podemos

reverter o processo, de 'orma a 'azer comque a &gua retorne a seu estado sutil comoess3ncia luminosa$ Os principais meios pararealizar esta revers!o s!o atrav*s dacontempla!o, ocasionando a reintegra!o daenergia da pessoa com a da dimens!omaterial$

(&udo 8 bom) , que * a tradu!o para otibetano do nome (a0antabhadra, o 0udaprimordial, o %har0a3a'a, signi'ica que n!oe#iste nada para modi'icar ou eliminar navis!o de algu*m, que * per'eita como *$Vuando algu*m est& no estado n!o+dual,

mesmo milhares de apari.es n!o podemperturbar sua contempla!o$ Cas (bom) n!oest& aqui com rela!o a algo (positivo),que ent!o est& colocado em oposi!o a algoque * considerado (negativo)$ O que se est&re'erindo * um estado no qual n!o e#istenada negativo para re"eitar e nada positivopara se aceitar$ -odas as mani'esta.esest!o al*m tanto do bem como do mal, e s!ocomo um ornamento para o estado primordialde uma pessoa$

No Dzogchen n!o * necess&riotrans'ormar a vis!o impura em vis!o pura,

trabalhando com a imagina!o da pessoa$-odas as vis.es de algu*m s!o qualidadesinerentes A claridade natural do pr%prioindivíduo$ 2e virmos uma casa 'eita depedra, e tentarmos imagin&+la trans'ormadaem uma dimens!o de luz, estaremos apenasbrincando com nossas mentes, porque a casa* como ela *, mesmo que se"a parte de nossavis!o cár0ica, * verdadeiramente umamani'esta!o de nossa pr%pria claridade$?nt!o por que deveríamos bloque&+la, outrans'orm&+laW <roblemas somente surgemquando entramos em "ulgamento se a casa *bonita ou 'eia, pequena ou grande, etc$

?nt!o, com nossas mentes racionais, * muito'&cil entrar em a!o e produzir car0a2

Machig Vabdron Ma gcig lab sgron"/em seus ensinamentos sobre a pr&tica doCh8d   4gcod 9, e#plicou que e#istem quatro(diabos), ou obst&culos, que impedem ocaminho da realiza!o de algu*m$ O primeiro* chamado (o diabo que bloqueia 4ossentidos9)$ Vuando vemos um ob"eto bonito,se a mente entra em "ulgamento com rela!oa ele, o dese"o surge e a pessoa se tornavítima de suas pr%prias pai#.es$ O que est&no 'undo distoW <rimeiro seus olhos

percebem o ob"eto, sem qualquer conceito debonito ou 'eio$ ?nt!o a mente comea a'uncionar e a percep!o direta dos sentidos* bloqueada$ ?nt!o, o ob"eto percebidotorna+se um obst&culo, ou (diabo)$ Vuando a

percep!o n!o est& bloqueada pelo"ulgamento mental, entretanto, a vis!o seauto+libera, como o n% 'ormado pelo corpode uma serpente que se libera por si mesmo$

2e algo maravilhoso aparece diante den%s, mas n!o o "ulgamos, ent!o elepermanece parte de nossa claridade$ O mesmo* verdadeiro se alguma coisa horrível

aparecer$ ssim por que desenvolvemosdese"o por um e avers!o por outroW;laridade n!o pertence A nossa menteracional, mas A ess3ncia pura do estadoprimordial, que est& al*m tanto do bom comodo mau$ No -ibet, praticantes desenvolvidosdo Ch8d   eram chamados para a"udar quandohavia uma epidemia ou um surto de umadoena contagiosa, porque ao iremcompletamente al*m de qualquer conceito de(bom) e (mau) ou (puro) e (impuro), elesestavam imunes a todos os tipos decont&gio$

Z importante manter a presena nacontempla!o, sem corrigir o corpo, a voz,ou a mente$ pessoa precisa encontrar+senuma condi!o rela#ada, mas os sentidosprecisam estar presentes e alertas, porqueeles s!o as portas para a claridade$ pessoa rela#a sem es'oro nenhum,abandonando toda tens!o com respeito Aposi!o do corpo, respira!o, epensamentos, apenas mantendo uma presenavívida$

Vuando algu*m comea a praticar, podeparecer que a con'us!o de seus pensamentos

est& aumentando, mas isto * na verdadedevido ao rela#amento da mente$ De 'ato,este movimento dos pensamentos sempree#istiuY apenas agora a pessoa est& setornando consciente deles, porque a mente'icou mais clara, da mesma maneira, quandoo mar est& agitado, n!o se pode ver o'undo, mas quando se acalma pode+se ver oque est& l& embai#o$

Vuando nos tornamos conscientes domovimento de nossos pensamentos, precisamosaprender a integr&+los com a presença, semsegui+los ou dei#ar+nos distrair por eles$

O que queremos dizer com (dei#ar+nosdistrair)W 2e ao ver uma pessoaimediatamente crio antipatia por ela, istosigni'ica que me permiti ser apanhado num"ulgamento mentalY isto *, me distrai$ 2emantiver a presença, por outro lado, porque antipatizar com algu*m que ve"oW quelapessoa tamb*m * realmente parte de minhapr%pria claridade$ ?ntendendo realmenteisto, todas as minhas tens.es e con'litosse dissolver!o, e tudo se estabilizar& numestado de completo rela#amento$

?#istem dois de'eitos principais

'reqentemente encontrados na pr&tica, ques!o a sonol3ncia e a agita!o$ lgumasvezes, por e#emplo, quando estamospraticando podemos 'icar sonolentos, ou nosacharmos t!o agitados que nossos

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pensamentos n!o nos d!o paz nem por ummomento, e parece impossível encontrarmosum estado calmo$ ?#istem pr&ticas, que apessoa pode aplicar como antídoto paraesses problemas, mas se soubermos comorela#ar podemos ultrapassar estasdi'iculdades naturalmente sem tal es'oro$

Tma pessoa que est& comeando a

praticar geralmente pre'ere retirar+se paraum lugar ermo, porque ela precisa encontrarum estado de calma e equilíbrio mental$ Casquando algu*m comea a ter verdadeirae#peri3ncia do estado de contempla!o elanecessita integr&+lo As atividades di&riasde caminhar, conversar, comer, etc$ Tmpraticante Dzogchen nunca necessitaa'astar+se da sociedade e retirar+se parameditar no topo de uma montanha$ Fsto *especialmente impr%prio na nossa sociedademoderna, na qual todos t3m que trabalharpara comer e viver normalmente$ 2esoubermos como integrar nossa contempla!o

A nossa vida di&ria, entretanto,mani'estaremos progresso em nossa pr&ticado mesmo modo$

<raticar signi'ica integrar+se com avis!o$ O termo (vis!o) aqui inclui todos osnossos sentidos de percep!o$ 2e estivernuma sala ouvindo uma música agrad&vel, ouem algum lugar onde e#ista um somensurdecedor, tal como numa '&brica, isson!o 'az di'erena, porque tudo * parte davis!o$ 2e sinto o delicado aroma de umarosa, ou o odor de um banheiro, estestamb*m s!o parte da vis!o, e na

contempla!o esta vis!o * percebida como amani'esta!o da energia do estadoprimordial, com nada a ser re"eitado ouaceito$ ssim, a ess3ncia da pr&tica *encontrar a si mesmo num estado de presençarela#ada, integrada com qualquer percep!oque possa surgir$

O conhecimento da contempla!o *transmitido diretamente do mestre aodiscípulo, e, no Dzogchen, * parte datransmiss!o e#plicar e ensinar o verdadeirosigni'icado$ <ara isto, n!o * necess&riopreparar um 0andala ou tocar a cabea do

discípulo com um vasoK$ ?stes s!o elementosde ritual que pertencem A tradi!ot+ntrica$ -amb*m n!o * necess&rio receber ovoto de re'úgio, que * um dos pilares'undamentais do budismo$ <or causa disto,algumas pessoas que receberam a transmiss!odos ensinamentos Dzogchen sentem+sedescon'ort&veis porque n!o tomaram seu votode re'úgio5$ Cas tal atitude mostra que elasignoram o verdadeiro signi'icado dore'úgio, porque mesmo nos sutras  budistas'oi estabelecido que o supremo re'úgio * aess3ncia dos tathagatas, que * o estado deilumina!o primordial$

^o"e em dia, entretanto, o voto dere'úgio tornou+se comum no ocidente$ p%suma cerimMnia ritual de re'úgio, durante aqual uma mecha de cabelo da pessoa *

cortada e ela recebe um nome tibetano, apessoa provavelmente pensar& consigo mesma,(recebi re'úgioY agora sou um budista)$ Casn!o h&, de 'ato, nenhuma necessidade desentir que * um (budista)$ Nossa condi!ode (o que *) * su'iciente apenas como *,assim por que uma pessoa precisa tornar+sealguma coisa di'erente do que ela "& *W

2e tomarmos um voto isto signi'icaque n!o temos capacidade de nos governar$Cas nossa capacidade * relativa AscircunstQncias em que nos encontramos, epode ser melhorada$ ssim a primeira coisaque algu*m deve 'azer * descobrir qual * asua capacidade, e ent!o, de acordo com anecessidade de cada um, tentar aument&+laatrav*s de v&rios m*todos de pr&tica$?#istem, por e#emplo, muitos m*todos depr&tica de puri'ica!o cu"o prop%sito *remover os obst&culos A claridade, e odiscípulo trabalhar& com um ou outro dessesm*todos de puri'ica!o escolhido como o

mais adequado A sua condi!o em particular$O mestre n!o pode decidir pelo discípuloqual pr&tica ser& mais adequada, mas podeapenas dar alguns conselhos e sugest.es aesse respeito, para a"udar o discípulo aver mais claramente dentro de si mesmo, eassim tornar+se mais consciente eautocon'iante$

situa!o no caminho da renúncia *muito di'erente da que acabamos dedescrever, porque o aspecto 'undamentaldesse caminho * de que a pessoa segueregras de conduta que limitam as a.es de

corpo, voz e mente$ s regras de qualquertradi!o religiosa, entretanto, nunca podemser universais, e s!o dependentes dascircunstQncias e do tempo$

Tma regra que ho"e parece v&lida podeamanh!, com o passar do tempo e a mudanados h&bitos das pessoas, tornar+seirrelevante$ s regras de *ina'a, pore#emplo, indubitavelmente surgiram paragovernar aspectos da conduta dos discípulosde 0uda que eram considerados incorretos emrela!o ao ambiente em que viviam$ 2uponha,por e#emplo, que alguns discípulos de 0uda

caminhassem nus, e 'ossem recebidos malpelos habitantes de um vilare"o vizinho$?nt!o 0uda pronunciaria uma regradeclarando que, (Os discípulos de 0uda n!odevem andar nus)$ s 7G7 principais regrasdo *ina'a 'oram todas 'eitas nesse sentido$ssim * obvio que algumas destas regras,que surgiram em rela!o As condi.esclim&ticas da :ndia, seriam inaplic&veisnum país tal como o -ibet, se elas n!o'ossem adaptadas para adequ&+las aosdi'erentes climas e dietas encontrados l&$

No Dzogchen o indivíduo aprende a

tornar+se respons&vel por si mesmo semseguir regras$ Tma pessoa que segue regras* como as pessoas cegas que precisam dealgu*m para gui&+las a 'im de que se"amcapazes de andar$ <or esta raz!o diz+se que

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um praticante Dzogchen precisa abrir seusolhos para descobrir suas condi.es, demodo que ele n!o depender& mais de ningu*mnem de nada$

lgumas pessoas porque n!o est!osatis'eitas com seu relacionamento com omestre, pensam para si mesmas, (O mestre *apenas uma pessoa comum que come espaguete

e bebe vinho tal como eu$ Cas eu queroentrar em contato direto com 0uda ou comPad0asa0bhava)$ No 'undo temos todos essaatitude, porque a causa principal donascimento no reino humano * o orgulho$ Cas*, na realidade, muito di'ícil entrar emcontato com 0uda se n!o reconhecermos o0uda em nosso mestre, de 'ato, o verdadeiro0uda, para o discípulo * seu mestre$

No 6bhisa0a'alan3ara, um coment&riosobre o Pra.napara0itra7sutra/  est&escrito, (Cesmo se os raios do sol 'orem'ortes, eles n!o produzir!o 'ogo se n!o

houver lente para 'oc&+los$ Cesmo semilhares de 0udas estiverem cheios desabedoria, o indivíduo n!o poder& receb3+lae#ceto atrav*s de um mestre)$

No tantra (;uco) est& escrito que, (Oconhecimento da condi!o (do que *) *introduzido pelo mestre atrav*s datransmiss!o, e desenvolvido atrav*s dacontempla!o$ O valor do mestre * como a domineral usado para limpar o ouro)$ No -ibetum mineral * usado para limpar a super'íciedo ouro das substQncias que o cobrem$Vuando este mineral entra em contato com o

ouro sua verdadeira cor reaparece$ Nestee#emplo, o ouro * um símbolo do que *chamado Dzogchen, o estado primordial que *nossa condi!o inerente, auto+aper'eioadadesde o início$ s substQncias que cobrem oouro representam os obst&culos e a con'us!oda condi!o relativa que impede que oconhecimento do estado primordial semani'este$ ? o mineral que limpa o ouro,'azendo com que sua cor verdadeirareaparea, * o poder da transmiss!o domestre que nos capacita a redescobrir nossapr%pria condi!o$ Cesmo se o ouro, quandocoberto com su"eira, parece ser apenas uma

rocha ou um torr!o de terra, sua verdadeiraqualidade *, contudo sempre a mesma eapenas necessita ser redescoberta$

O mestre * insepar&vel do estado deconhecimento, e no Dzogchen uma daspr&ticas 'undamentais para desenvolvimentoda contempla!o *, de 'ato, o ,uru 5oga, oua (Tni!o com o Cestre)$ O prop%sito realdesta pr&tica * manter a transmiss!o domestre viva e sempre presente na vida dodiscípulo$ Tm outro aspecto 'undamental dosensinamentos, que deriva dos tantras/  * osa0a'a, ou (promessa), que * um equivalente

no tantris0o  dos votos nos ensinamentos dossutras$ Vuando algu*m recebe uma inicia!o,por e#emplo, promete e'etuar a pr&tica datrans'orma!o diariamente, recitando o0antra  correspondente pelo menos tr3s ou

sete vezes$ No topo deste compromisso,e#istem muitos outros sa0a'as  relacionadosque precisam ser observados$ Cas noDzogchen o único sa0a'a  envolvido *encontrar+se a si mesmo na condi!o de (oque *), como ele *$ -odo o resto, ou se"a,todos os "ulgamentos e cria.es da mente,todos os nossos limites, etc, s!o 'alsos esup*r'luos$ 2em tornar+se desatento, o

indivíduo tenta encontrar a si mesmo emtodos os momentos no estado rela#ado$

Vuando estamos no estado decontempla!o, mesmo se um milh!o depensamentos surgirem, n!o os seguimos,apenas permanecemos observando tudo o queacontece$ Fsto * o que signi'ica presença$?ncontrar a si mesmo no estado de (o que *)signi'ica manter continuamente a presença$ssim o sa0a'a  do Dzogchen signi'ica n!o se distraír, e apenas isso$ Cas isto n!osigni'ica que se algu*m se torna desatentoquebrou seu sa0a'a$ O que a pessoa tem que

'azer * notar o que aconteceu, e tentarnovamente n!o se distrair$

?#istem duas maneiras de n!o sedistrair$ mais elevada destas * quando acapacidade de contempla!o da pessoa *su'icientemente desenvolvida para que elaconsiga integrar todas as suas a.es com oestado de presença$ ?ste * o ponto 'inal dapr&tica, e * conhecido como a >rande;ontempla!o$ Cas na medida em que a pessoan!o * capaz de atingir este nível, e#isteuma maneira de n!o se distrair que est&mais ligada A mente, na qual a pessoa tem

que manter um mínimo de aten!o$ ?sta n!o *a verdadeira contempla!o, porque e#isteainda alguma quantidade deintencionalidade, de trabalho ativo com amente racional, envolvida$ Cas esteest&gio, contudo * muito útil para nosa"udar a desenvolver o estado de presença$

2e notarmos qualquer inten!osurgindo, * importante rela#&+la, mas sementrar numa atitude de luta com nossadistra!o, que nos traria o e'eito opostoao dese"ado$ ?m nossas vidas di&riasprecisamos relembrar sempre de rela#ar,

porque esta * a chave de tudo para n%s$-omemos um e#emplo concretoH suponhamos queenquanto estamos sentados em uma sala, vemA nossa cabea a id*ia de pegar um ob"etoem outra sala$ ssim que este pensamentosurge, o reconhecemos, e estamosconscientes dele, mas n!o tentamos bloque&+lo, ou dissolve+lo$ 2em nos tornarmosdistraídos, mantendo uma presença rela#ada,levantamos e vamos A outra sala, tentandopermanecer presente em tudo o que 'azemos$?sta * uma pr&tica e#tremamente importante,que n!o requer nem uma posi!o particular econtrole da respira!o, nem qualquer

visualiza!o$ -udo o que a pessoa deve'azer * permanecer presente e rela#ada$

No início pode n!o ser '&cil manter apresença, mas pouco a pouco a pessoa

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consegue integr&+la com os movimentos deseu corpo$ O mesmo se d& com a vozHenquanto conversa, discursa, discute algo,ou canta, a pessoa deve tentar manter suapresença  pelo maior tempo possível$ ?ent!o, no que concerne A mente, * o mesmoHa pessoa deve tentar permanecer presenteenquanto o processo de racionaliza!o, ouimagina!o, "ulgamento, etc, est&

acontecendo$ pessoa pode pensarH (;omoposso integrar o processo de racionaliza!ocom a presença  se * a mente a causa dadistra!oW) Cas a mente * apenas como umre'le#o que surge no espelho$ 2e algu*m sere+introduz na capacidade inerente dere'letir do espelho, o re'le#o n!o vai maispermanecer como algo e#terno ao pr%prio eu,percebido de 'orma dual$ Vuando algu*mencontra seu pr%prio eu na condi!o danatureza do espelho, todo aspecto de seucorpo, voz e mente * uma mani'esta!o dasabedoria do estado de presença $ sabedoria est& al*m da mente, mas quando

dizemos que ela esta (al*m) dela, isto n!osigni'ica que ela n!o tem qualquer rela!ocom ela$ De 'ato a rela!o entre asabedoria inerente do indivíduo e sua menteracional * a mesma entre um espelho e osre'le#os que surgem nele$

Vuando 'alamos de permanecer emcontempla!o, s!o dadas v&rias e#plica.esdas e#peri3ncias com as quais acontempla!o est& ligada$ -odas as v&riase#peri3ncias que surgem nas pr&ticas est!orelacionadas com a condi!o de nossae#ist3ncia atual, que podemos dizer em

geral que t3m dois aspectos oucaracterísticas, o >estado cal0o?   e>0ovi0ento? $ Vuando um pensamento surge e oobservamos para descobrir de onde elesurgiu , onde per0anece, e aonde vai, n!oencontramos qualquer coisa concreta$ Cesmose nossos pensamentos aparentemente parecemrealmente, e#istir, quando os observamos,eles apenas desaparecem sem dei#ar traos$?sta situa!o * a mesma, tamb*m, em rela!oA voz e ao corpo$ 2e algu*m tem uma dor decabea, por e#emplo, e observa onde a dorsurge e aonde ela vai quando desaparece,n!o chega a nenhuma conclus!o real$ ?sta

condi!o de vazio em rela!o ao corpocorresponde ao estado calmo em rela!o Amente$

Cas, mesmo se nossos pensamentosdesaparecem desta maneira eles, contudosurgem novamente sem interrup!o$ Fsto * oque * chamado (movimento), que * o'uncionamento da claridade$ No Dzogchen *necess&rio aprender a trabalhar com este(movimento) e integrar todos os aspectos daenergia da pessoa$ O >estado cal0o?   *apenas uma e#peri3ncia, e n!o acontempla!o em si$ Vuando uma pessoa est&

realmente em contempla!o, no estado depresença  pura, n!o h& ent!o nenhuma di'erena entre o estado cal0o   e o 0ovi0ento $ ?nt!o n!o h& necessidade dapessoa procurar um estado sem pensamentos$

;omo >arab Dor"e disse, >(e surgir Xo0ovi0ento dos pensa0entosY/ este.aconsciente do estado e0 ;ue eles surge02 (eestiver livre dos pensa0entos/ este.aconsciente do estado e0 ;ue está livredeles2 Nntão não há nenhu0a di<erença entreo surgi0ento dos pensa0entos e estar livredeles? $ ssim, quando algu*m praticacontempla!o, n!o h& necessidade de tentar

encontrar um estado calmo e evitarmovimento, mas a pessoa deve apenas mantero mesmo estado de presença  em ambas as e#peri3ncias$

?m todas as tradi.es budistas demedita!o, 'ala+se de duas 'ases demedita!o, no estado de calma ou >shine?/ ena vis!o intuitiva ou >lhagtong?   4lhag0thhong L9$ medita!o (hine trabalhatrazendo um estado de calma mental, em queos pensamentos n!o t3m mais a capacidade deperturbar o praticante$ Vhagtong/ por outrolado, * geralmente considerado como uma

esp*cie de despertar interior daconsci3ncia, mas * interpretado de 'ormadi'erente nos di'erentes sistemas deensinamento$

  Nos (utras  ele * considerado comosendo uma realiza!o ligada ao corpo, Avoz, e A mente, que surge automaticamenteap%s algu*m praticar a medita!o no estadode calma$ No tantris0o , entretanto, ele *considerado como um nível especí'ico derealiza!o da pr&tica de trans'orma!o, quese mani'esta como sinais vinculados aoprana, ao cha3ra, e etc$ <oderia se dizer

que shine corresponde ao vazio, lhagtong  Aclaridade, e a uni!o destes dois ao ponto'inal de chegada da pr&tica do tantra$

Cas no Dzogchen, na 2*rie da Naturezada Cente, Vhagtong  * um nível da integra!odo estado de presena com o movimento$ Ztamb*m chamado de (estado inalter&vel)40i2g2'o2ba9, que n!o pode ser perturbadopor qualquer movimento$ (Covimento) aquiinclui tamb*m a energia do prana  cár0ico ,que usualmente tem in'lu3ncia consider&velna mente$ Neste estado, todos os aspectosdo corpo, 'ala e mente est!o integrados na

contempla!o$ 2e um praticante estivermeditando pr%#imo de uma m&quinabarulhenta, ele n!o precisa procurar umlugar quieto, porque neste est&gio dapr&tica ele est& completamente integradocom qualquer tipo de percep!o$ Opraticante n!o * mais obrigado a permanecerligado ao estado calmo, mas est& conscienteda dimens!o cár0ica do movimento, e n!o o percebe como e#terno a ele$

Vuando s!o e#plicados os níveis deprogresso na contempla!o, as imagens deuma corrente, um rio, e um mar, etc$, s!o

usados como e#emplo do desenvolvimento dacapacidade de integra!o alcanada$ Vuandoum praticante conseguiu estabilidadecompleta na contempla!o, mesmo se n!oestiver ocupado com qualquer pr&tica em

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particular, t!o logo adormece encontra+seno estado da luz natural8, e quando sonharestar& consciente de que sonha$ pr&ticaindividual est& completa, e se viver oumorrer estar& sempre presente tendoalcanado o (a0bhoga3a'a2  Vuando elemorrer, e o (0ardo da ;ondi!o ?ssencial)4dhar0ata9 mani'estar+se, estar& prontonaquele mesmo instante para se integrar na

realiza!o$

Notas:

1. O >rande ?spao de *a.rasattva rdor.ese0s7dpa na0703ha7che"  * um te#to quepertence A categoria de lung  o qual dizemosque 'oi transmitido primeiramente por >arabDor"e quando criana, *poca na qual ele orecitou espontaneamente$

2. Cog7b!ag rna07pa b!hi, as quatromaneiras de (dei#ar sem corrigir)$ 4ri7bocog7b!hag 9, ligado ao corpoY (como o oceano)4rg'a70tsho  cog7b!hag 9, ligado aos olhosY (oestado de presena) 4rig7pa  cog7b!hag 9Y e(da vis!o) 4sang7ba  cog7b!hag 9, que *'undamentado sobre o princípio da integra!oe todas as percep.es sensoriais$

J$ O ros&rio budista de ISL p*rolas$

4. ?sse verso * composto, em tibetano, dosnomes de *airocana  4rna07par snang 0d!ad 9,um dos seis budhas do (a0bhoga3a'a, e(a0antabhadra  4$un7tu b!ang7po 9, o símbolodo %har0a3a'a$

5. Thogs7bcas73'i7bdud $ Os tr3s outrosdemMnios, ou obst&culos, que bloqueiam oprogresso do praticante s!oH (o demMnio quen!o bloqueia) 4thogs70ed 9 com rela!o aospensamentosY (o demMnio do prazer) 4dga7

brod 9, que implica no apego aos resultadosda pr&ticaY e (o demMnio do princípio doego) 4b'ed 9$

6. Fsso se re'ere A Fnicia!o do Baso4bu07dbang 9, cu"o ob"etivo * puri'icar osobst&culos do corpo$

7. O Boto de Re'úgio * o 'undamento dapr&tica budista em todas as tradi.es, querse"am para monges ou laicos$ Os Ob"etos deRe'úgio s!o o 0udha, o ?nsinamento 4%har0a9e a ;omunidade ?spiritual 4(angha9, chamadosas (-r3s %ias)$ No nível t+ntrico ,entretanto, os Ob"etos de Re'úgio s!o oCestre 4,uru 9, a Deidade 4%eva/ 5ida0 9 e a4%a3ini9$

8. ?m 2Qnscrito, (a0atha e *ipas'ana$9. O estado de luminosidade natural od7 

gsal 9 corresponde ao período entre o adormecimento e o aparecimento dos sonhos$Neste período, mesmo que a mente n!o'uncione, o praticante continua na claridadedo estado de presena$

$apítulo Oito 

O FRUTO E O CAMINHO DA AÇÃO

&udo est" 2" realizado 8 por isso ,ue tendo !encido a doença do esforço

Encontramo-nos no estado de auto-perfeição;

Bsso 8 contemplação#

  2e algu*m realmente compreendeuque nossa verdadeira condi!o * o estadoauto+aper'eioado, ent!o h& uma base sobrea qual a pessoa pode se desenvolver$ 2e, noentanto, n!o compreendeu isso, mesmo queestude todos os di'erentes sistemas deensinamento, ela permanecer& num estado de

ignorQncia$ Neste ponto de vista, mesmo umapessoa muito culta ser& consideradaignorante, enquanto uma pessoa sem a menoreduca!o escolar poder& per'eitamente bemter o verdadeiro conhecimento$ ?studo,an&lise, questionamento 'ilos%'ico, etc$,podem ser úteis se a pessoa souber como sebene'iciar deles, mas 'reqentemente eless!o um obst&culo A verdadeira compreens!o$

  -omemos o e#emplo de uma pessoaque passou a se interessar pela 'iloso'iaoriental porque est& insatis'eita com a'iloso'ia ocidental$ ?ssa pessoa poderiaestudar pro'undamente as v&rias correntes

de pensamento oriental e ent!o vir aoencontro da 'iloso'ia budista, tornando+se'ascinada por seus princípios$ ?la passa acrer que 'inalmente encontrou umaalternativa para a sua cultura$ -ornando+semais e mais envolvida, a pessoa ent!o setorna uma seguidora da 'iloso'ia de1agar.una, e est& completamente convencidada validade deste ponto de vista$ Cas o queaconteceu de 'ato * que essa pessoa setornou uma escrava da ideologia de1agar.una, porque ela 'ormou agora umconceito de vacuidade, e n!o tem umconhecimento verdadeiro disto, baseado na

verdadeira e#peri3ncia$ De 'ato, asconvic.es e teorias 'ilos%'icas, mesmo quepaream per'eitas, podem ruir de um diapara outro, porque est!o baseadas em algo'undamentalmente 'also, isto *, na mente$

  O princípio do Dzogchen * evitarcriar qualquer coisa 'alsa, e realmenteentender as raz.es do que est& 'azendo$ N!o* importante de'inir a pessoa comopertencendo a esta ou aquela escola,tradi!o, ou ponto de vista, e n!o 'azqualquer di'erena se ela se considerabudista ou n!o$ 0asicamente, uma pessoasentir+se como seguidora de uma coisa ou

outra * apenas um limite, e o que realmentea pessoa precisa * entender sua pr%priacondi!o e abrir+se, livrando+se de todosestes tipos de barreiras$

  No -ibet, durante o último s*culo,surgiu uma tradi!o a partir dos es'orosde certos mestres que tentaram a libera!ode barreiras ideol%gicas que surgiram entreas v&rias escolas, para 'avorecer umaabertura e troca de id*ias entre asdi'erentes linhagens de ensinamentos$ ?stesmestres, que pertenciam originalmente av&rias escolas, eram todos grandespraticantes de Dzogchen, e mesmo que n!o

tenham de'inido a si mesmos de qualquer'orma, 'oram chamados (n!o sect&rios) 4ris0ed 9 pelos outros$ <ara um praticante deDzogchen, mesmo chamar algu*m de (n!osect&rio) * "ustamente uma outra 'orma de

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tomar uma posi!o em rela!o A posi!o dosoutros, o que * irrelevante, porque averdade * que qualquer de'ini!o deste tipo* uma limita!o desnecess&ria$

  O estado primordial, por e#emplo,* de'inido como sendo constituído das (tr3ssabedorias), essência/ nature!a e energia,mas a e#plica!o * apenas um arti'ícioprovis%rio com ob"etivo de nos a"udar,

prisioneiros que somos de nossos limites,vagando numa contínua transmigra!o, demodo que possamos ter uma id*ia do querealmente acontece$ Cas nenhuma an&lise oude'ini!o consegue realmente abranger oestado primordial, e elas s!o apenas ummeio adequado A nossa condi!o deignorQncia$

  Diz+se da mesma maneira queUa0'ang $h'entse Zangpo Ua0 sb'angs03h'en brtse dbang po" e Ua0gon $ongtrulUa0 0gon 3ong sprul" 'oram os 'undadoresda tradi!o n!o sect&ria que 'alamosanteriormente, embora eles n!o tenham tido

nenhuma inten!o de encerrar+se em umaescola$ Vuando o sol nasce no c*u seusraios inevitavelmente brilham, mas o soln!o disse (Be"am como meus raios brilham[)=oram as pessoas que estavam na escurid!oque de'iniram a situa!o dizendo (Olhem,agora e#iste a luz do sol)$ ssim osmestres desta tradi!o, praticandoDzogchen, agiram de uma maneira que estavaal*m dos limites de uma seita, sem tomaruma posi!o de oposi!o A maneira sect&riade ver as coisas$

  ?#iste um ditado Dzogchen que diz(Não se2am prisioneiros dos limites não

pertençam a uma escola)  , e limites s!o, de 'ato, uma mani'esta!o típica do dualismo,que * a causa de transmigra!o$ Tltrapassarnossos limites signi'ica descobrir averdadeira condi!o do (o que *), e agir detal maneira que nossos conhecimentos ir!overdadeiramente se igualar A realidade denossa e#ist3ncia$ Fsto * e#tremamenteimportante$ id*ia de (n!o sectarismo)'undamentalmente presume uma separa!odualista entre eu e os outros, o que * umabarreira da qual a pessoa tem que se livrara 'im de ser capaz de integrar sua pr&ticacom qualquer circunstQncia em qualquer

situa!o$ N!o e#istem barreiras na condi!overdadeira de (o que *), e nessa condi!otodas as tens.es s!o rela#adas$ <raticarrealmente signi'ica a'rou#ar suas tens.es$=alamos muito sobre ultrapassar o apego,mas qual * a 'onte deleW ?le realmentesurge das tens.es que criamos ap%s termosseparado a realidade na nossa e na dosoutros$ ssim, a única maneira verdadeirade vencer este apego * nos encontrarmos numestado de presença rela#ada$ O 'ato * queum estado aut3ntico de presença *, por suapr%pria natureza, rela#ado$

  Os dois últimos versos dos (eis

*ersos *a.ra  e#plicam o signi'icado do<ruto   e a 0aneira de agir $ No Dzogchen amaneira de agir de algu*m no estado depresença  * o <ruto  , e n!o h& nada al*m para obter$ Vuando a pessoa tem este estado de

conhecimento ela descobre que tudo "&estava realizado desde o início$ O estadoauto+aper'eioado * uma qualidade inerenteda condi!o de (o que *)Y n!o h& nada a seraper'eioado, e o que todos precisam 'azer* ter o verdadeiro conhecimento destacondi!o$

  N!o * necess&rio colocar o corpoem determinada posi!o, ou olhar 'i#o, a

'im de praticar, e a pessoa n!o devecondicionar sua e#ist3ncia a nada, maspermanecer no estado natural$ O es'oro e osenso de obriga!o, que surgem dapreocupa!o e tens!o, s!o mani'esta.estípicas da mente racional, e nestes versoseles s!o comparados a uma doena, que,quando algu*m supera, possibilitaencontrar+se 'inalmente na dimens!o dagenuína consci3ncia do estado de auto+per'ei!o$ Tm estado verdadeiro n!o podeser construído, mas * uma condi!orealmente inerente a todo indivíduo, queest& ligada A condi!o relativa do corpo,

voz e mente$ Vuando a pessoa temconhecimento deste estado, sem es'oro, semestar con'inado a sess.es limitadas depr&tica, nossas presenas rela#adas seintegram com a nossa vida como um todo$ssim, nossa contempla!o se tornacontínua, e quando algu*m alcana esteest&gio as qualidades de auto+per'ei!o,conhecidas como os (tr3s corpos), semani'estam automaticamente, da mesmamaneira que os raios do sol brilham quandoo sol surge no c*u$

  No Dzogchen, a maneira de agir * achave para a pr&tica, n!o porque e#istam

regras 'i#as tal como o que uma pessoa deveou n!o 'azer, mas porque o princípio *daquilo que uma pessoa precisa aprenderpara tornar+se respons&vel por si mesma,trabalhando com a pr%pria consci3ncia$ Casum dos perigos que pode ser en'rentado pelapessoa que n!o compreende corretamente oque signi'ica (n!o corrigir), * que elapossa ir adiante com o que quer queacontea, permanecendo ainda no estado dedistra!o$ Diz+se que Pad0asa0bhava  deuesse aviso a seus discípulosH >Co0 respeitoao estado de conheci0ento/ siga0 a 0aneirade ver e de praticar do %!ogchen2 Mas co0

respeito B 0aneira de agir/ siga0 as regrasdo *ina'a? $ <odemos estar certos de quePad0asa0bhava  certamente n!o disse istoporque ele n!o considerava importante paraa pessoa aprender a ser respons&vel por simesma, mas disse isto por prud3ncia, a 'imde n!o dar origem a mal entendidos$

  1ubchen (ang'e 5eshe g1ubs chensangs rg'as 'e shes"/  um mestre tibetanoque 'oi discípulo de Pad0asa0bhava/ em seutratado chamado Vight <or the N'es o<Meditation 4b(a0 gta0 0ig sgron91, disseH>6lguns 0estres a<ir0a0 ;ue/ 0es0o sendo oprinc=pio do %!ogchen o de não corrigir

nada/ a pessoa não pode alcançar esteestado se0 corrigir2 Nles cha0a0 o ;ue elesensina0 de >%!ogchen?/ 0as <alandopratica0ente o ;ue eles ensina0 são vários0eios de corrigir tudo2 sto u0 erroQ

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co0o atirar u0a <lecha se0 saber ;ual o seualvo? $

Z importante, no Dzogchen, sabere#atamente onde a pessoa est& querendochegar, mas ao mesmo tempo a pessoa n!odeve ignorar sua pr%pria capacidade$ 2e apessoa descobre que sua capacidade n!o *su'iciente para capacit&+la a viver comconsci3ncia, ent!o seria melhor seguir

algumas regras at* que sua consci3nciaeste"a mais desenvolvida$ 2e, por e#emplo,eu gosto de beber, mas eu sei que o &lcool* ruim para mim, ent!o eu possosimplesmente parar de beber$ Cas se, assimque eu ve"o uma garra'a de bebida, eue#perimento um 'orte dese"o de beber que eun!o posso controlar, isto signi'ica que eupreciso de uma regra a seguir para governara situa!o$ Reconhecer isto tamb*m * partede nossa consci3ncia$

Diz+se que o Dzogchen * umensinamento para aqueles com umelevadíssimo nível de capacidade$ ?sta

(elevadíssima capacidade) signi'ica que apessoa tem aquelas qualidades que s!onecess&rias a capacit&+la a entender eaplicar os ensinamentos$ 2e ela n!o temqualquer uma dessas qualidades, pode tentardesenvolv3+la$ 'im de dar resultados, aconsci3ncia precisa estar sempreacompanhada pela presença$ ?star conscientesigni'ica saber as conseq3ncias de suasa.es, mas algumas vezes, mesmo se a pessoasabe que certa a!o ser& pre"udicial,apesar disso segue em 'rente e a 'az,porque n!o est& presente no momento$ 2e elan!o est& presente, n!o 'az di'erena se tem

o conhecimento ou n!o$ Tma pessoa que, nummomento de distra!o, bebe uma #ícara deveneno mesmo que saiba de seus e'eitospre"udiciais, morrer& da mesma 'orma queuma outra que n!o dispunha desseconhecimento$

>eralmente * muito '&cil tornarmo+nosdistraídos atrav*s de nossas pai#.es,nossos estados agitados da mente, nossosapegos, etc$ Duas pessoas que se apai#onam,por e#emplo, no primeiro momento de seuromance quase n!o suportam 'icarema'astadas por um instante$ ?les n!opercebem que se tornaram distraídos e cegos

por sua pai#!o$ p%s umas poucas semanas,uns poucos meses, ou uns poucos anos,entretanto, sua pai#!o comea aen'raquecer, e a se tornar desgastada$ Ocasal n!o sente mais da mesma maneira$lgumas vezes, em tais situa.es, orelacionamento pode ir realmente t!o erradoque as duas pessoas comeam a se odiar atal ponto que chegam A viol3ncia 'ísica$?ste * um e#emplo de como algu*m pode setornar distraído por suas pai#.es$

Tm praticante Dzogchen deve tentartornar+se consciente e compreender averdadeira natureza dos relacionamentos sem

con'undi+los com suas pai#.es$ Orelacionamento entre as pessoas * muitoimportante e, especialmente quando ele dizrespeito a dois praticantes, * essencialque cada um saiba como colaborar com o

outro sem criar problemas e obst&culos$ Znatural para os seres humanos viverem comocasais mais do que renunciar As pai#.es$ 2edois praticantes vivem "untos eles precisamn!o basear seu relacionamento em pai#!ocega, porque isto pode ter conseq3nciase#tremamente negativas$ Cas se o casalcompreende a natureza essencial daspai#.es, ent!o, este casal pode integrar as

pr%prias pai#.es com sua pr&tica$Fsto * o que signi'ica quando no

tantris0o   se 'ala em trans'orma!o daspai#.es em sabedorias$ No Dzogchen, se apessoa sabe entrar e permanecer no estadode (o que *), todas as suas pai#.es,sensa.es, etc, podem tornar+see#peri3ncias que a"udar!o A pessoa adesenvolver seus conhecimentos$ N!o *verdade que o praticante n!o deve terpai#.es, e precisa tornar+se como umarocha$ De 'ato, a verdade * quase oinversoY um praticante precisa estar nocontrole total de todas as mani'esta.es de

sua energia, e, sem estar distraído porelas, precisa integr&+las com acontempla!o$

Os ensinamentos Dzogchen sempreadvertem que a pessoa tente a"udar a simesma, que ela deve dar a m!o a si mesma$Cas como, e#atamenteW pessoa deve tentarestar sempre consciente de sua pr%priacondi!o nas v&rias circunstQncias em quese encontre, e, se estiver muito agitada oucon'usa, deve tentar rela#ar e dar espao asi mesma$ 2e estiver cansada, devedescansar$ N!o h& nenhuma necessidade deseguir regras precisas, mesmo se, como "&

dissemos, elas possam ser úteis algumasvezes$ <recisamos sempre nos lembrar denosso ob"etivo, que * uma maneira de vivernossas vidas com a verdadeira presença  daconsci3ncia$

<recisamos agir com consci3ncia,tamb*m, na nossa rela!o com a sociedade,de modo que o desenvolvimento interior doindivíduo possa realmente evoluir para umaplena maturidade$ Cuitas ideologiaspolíticas encora"am o indivíduo a enga"ar+se numa luta para construir uma sociedademelhor$ Cas o caminho que eles prop.em para'azer isto * atrav*s da derrubada da

sociedade antiga, talvez por meio de umarevolu!o$ Na pr&tica, entretanto, osbene'ícios produzidos por tais meios s!orelativos e provis%rios, e uma verdadeiraequanimidade entre as classes sociais nunca* conseguida$ verdade * que uma sociedademelhor surgir& apenas atrav*s da evolu!odo indivíduo$ Fsto porque a sociedade *'eita de milh.es de indivíduos$ <ara contarum milh!o, a pessoa tem que comear com onúmero um, que signi'ica que a pessoa temque comear com o indivíduo, o único lugarque a pessoa pode realmente comear a mudaralguma coisa$ Fsto n!o signi'ica colocar+se

em primeiro lugar de 'orma egoísta, mas simdesenvolver uma compreens!o da condi!o detoda a humanidade atrav*s da compreens!o denossa pr%pria e#peri3ncia$ ;om estae#peri3ncia como nosso guia, saberemos como

JL

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agir com consci3ncia em qualquercircunstQncia em qualquer tipo desociedade$

<recisamos saber como lidar comnossas situa.es de acordo com ascircunstQncias que podemos encontrar, sempre"ulgar ou 'alsi'icar nada$ ssim, a 'imde aprender como praticar Dzogchen a pessoatem que observar a si mesma$ <ara 'azer

isto, ela deve apenas prestar aten!o poruns poucos minutos A maneira como seuspensamentos, seus "ulgamentos e suas id*iasv3m e v!o, como ondas que surgem edesaparecem$ natureza característica denossas mentes * que cada pensamento podeser uma causa secund&ria para odesenvolvimento de uma a!o$ ssim se, emnossas vidas, 'ormos conscientes epresentes em rela!o a todos os aspectos denossa e#ist3ncia, certamentee#perimentaremos menos problemas$

Z muito mais importante tentar estarpresente e consciente todo o tempo do que

dedicar um período limitado cada dia apr&ticas especí'icas$ prender os detalhesde t*cnicas de medita!o, visualiza!o,etc, * secund&rio$ ?#iste um ditado noDzogchen que diz >6 coisa principal não a 0editação/ 0as o conheci0ento?  $ ?, de 'ato, se a pessoa n!o tem este conhecimento, amedita!o se torna simplesmente uma cria!oda mente, uma constru!o sup*r'lua$ Cas deonde vem o verdadeiro conhecimentoW ?lesurge da consci3ncia de nossa e#ist3ncia nonível relativo, que * a verdadeira basepara a compreens!o da medita!o e danatureza da mente$

?ste termo, (a natureza da mente),pode muito bem ser uma 'rase elegante e'ascinante, mas o problema * que as pessoasn!o sabem realmente o que ela signi'ica$ 2en!o vivermos realmente na natureza da mentee tivermos apenas um conceito mental dela,mesmo que possamos 'alar dela, e pensarsobre ela, tudo isto realmente n!o tem nadaa ver com sua realidade$ 2e estivermos'amintos, por e#emplo, n!o * su'icienteapenas pensar (;omer e n!o comer * a mesmacoisa)Y ou, (N!o h& alimento no nível danatureza mente)$ Z melhor que entendamosnossa situa!o material como ela realmente

*$ natureza da mente * um termo que sere'ere a uma condi!o que est& al*m dae#ist3ncia do corpo, da voz e da mente,cu"o conhecimento pode surgir apenasatrav*s da e#peri3ncia$ ;onhecendo oslimites e características da condi!orelativa a pessoa pode realmente tornar+seconsciente de sua verdadeira natureza$

Tm praticante precisa estar sempreconsciente da importQncia de sua rela!ocom o mestre$ Tm mestre ensina atrav*s detr3s transmiss.es, direta, si0b@lica  eoral$ Cas a transmiss!o oral n!o tem lugarapenas nos momentos em que o mestre est&

'ormalmente sentado numa sala com centenasde pessoas diante dele, a quem ele est&e#plicando v&rios aspectos te%ricos dosensinamentos$ O mestre pode transmitir oestado de conhecimento a qualquer momento,

e qualquer conversa ou conselho que elepossa dar * parte da transmiss!o oral$

2e o mestre encontra o corpo '*tidode um rato morto e mostra ao discípulodizendo (2inta este 'edor[) / esta pode sera maneira que ele escolheu usar paratransmitir conhecimento do estado decontempla!o$ 2entir o 'edor de um ratomorto * uma e#peri3ncia direta, concreta, e

a pessoa em 'ace disso n!o precisa mentirou 'azer um grande es'oro para ter ae#peri3ncia$ 2e, ent!o, atrav*s dessae#peri3ncia o discípulo 'or capaz deentender o estado em que n!o h& nenhumadistin!o entre um odor terrível e o aromade uma rosa, o rato morto 'oi su'icientecomo meio de transmiss!o$ Cas isto * apenasum e#emplo da in'inita variedade desitua.es que o mestre pode usar$ Osensinamentos n!o s!o algo sagrado, que se"aencontrado apenas nos templos e nasescrituras, eles s!o verdadeiramente a realcompreens!o do estado inerente de toda

e#peri3ncia humana$>arab Dor"e, o primeiro mestre

Dzogchen, ap%s ensinar por toda a sua vida,dei#ou para todos os praticantes deDzogchen do 'uturo um pequeno testamento,tr3s versos$ Os versos dizemH

Descubra diretamente seu estado#Não permaneça na d>!ida#.anhe confiança na auto-liberaçãoC#

(Descubra diretamente seu estado)re'ere+se A transmiss!o pelo mestre, que,de v&rias maneiras, introduz e traz o

discípulo A compreens!o da condi!o de (oque *), o estado primordial do indivíduo$?sta * a #ase$

(Não permaneça na d>!ida)  signi'ica quea pessoa precisa ter um conhecimentopreciso deste estado, encontrando o estadoda presena de contempla!o que * um e omesmo em todos os milhares de e#peri3ncias$?ste * o ca0inho $

(.anhe confiança na auto-liberação)este * o <ruto $ Fsto signi'ica que oconhecimento completo e inalter&vel da

auto+libera!o est& totalmente integradocom a vida di&ria da pessoa, e que em todasas circunstQncias ela continua no estado$-odas as centenas e centenas de te#tosoriginais de Dzogchen podem serconsideradas como sendo uma e#plica!odestes tr3s versos de >arab Dorge$ Cas, osensinamentos n!o s!o apenas como um livroou uma tradi!o, eles s!o um estado vivo deconhecimento$

Notas:

1. Fsso 'oi introduzido no -ibet do leste,ligado ao trabalho de dois mestres (Ua07db'angs703hen7brtsei dbang7po?  4IL7S+879 e>Ua070gon $ong7sprul? 4ILIJ+889$

2. ?sse te#to, uma obra de Nub 2ange UesheJ8

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4LJ7+8679, recapitula as características detodas as tradi.es budistas, incluindo oChan/ en e o Tantris0o , em rela!o com osensinamentos Dzogchen$ Z, portanto de umae#trema importQncia para compreender asdi'erentes vis.es e pr&ticas entre oDzogchen e as outras escolas, durante operíodo da primeira di'us!o do budismo no-ibet$

J$ ?m tibetanoH ngo7rang7tu7sprad]thag7gcig7

thog7tu bcad]gdeng7grol7thog7tu7bca$