Márcia Dias
O CASAMENTO REAL PRÍNCIPE WILLIAM E KATE MIDDLETON
A notícia e o espetáculo
São Paulo, 2011
SUMÁRIO
1 OBJETO DE ANÁLISE .................................................................................................................. 3
2 OBJETIVOS..................................................................................................................................... 4 2.1 Objetivo geral................................................................................................................................... 4 2.2 Objetivos específicos........................................................................................................................ 4
3 LEVANTAMENTO DE CONTEÚDO........................................................................................... 5 3.1 As Organizações Globo e o Casamento Real................................................................................... 5 3.1.1 Rede Globo (canal aberto)............................................................................................................. 5 3.1.2 Globo News (canal fechado) ......................................................................................................... 6 3.1.3 G1 e O Globo (Internet) ................................................................................................................ 7 3.2 Postura dos âncoras e o imediatismo da notícia ............................................................................... 7
4 APLICABILIDADE DA TEORIA E INSERÇÃO NO CONTEXTO ESTUDADO.................. 9 4.1 Hipótese do Agendamento ............................................................................................................... 9 4.2 Análise: Hipótese do Agendamento versus Casamento real .......................................................... 10 4.3 O comportamento das emissoras em relação ao agendamento ...................................................... 11
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 13
ANEXO A – IMAGENS DO CASAMENTO REAL ...................................................................... 14
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1 OBJETO DE ANÁLISE
O objeto de análise neste trabalho é o evento que chamou para si a atenção do mundo inteiro no dia 29 de abril de 2011, o casamento entre o príncipe William e Kate Middleton.
Ao longo de uma semana, voluntária ou involuntariamente, as pessoas, em todos os cantos do mundo foram acometidas por notícias seriadas, documentários, notas, reportagens pela TV, rádio, Internet, jornais e revistas. Ou seja, de forma maçante para uns e interessante para outros, as histórias da família real e cada detalhe sobre a cerimônia foram expostos em rede internacional. numa fronteira entre a notícia e o espetáculo.
Após 30 anos do casamento de Charles e Diana, pais do noivo e herdeiro real, e depois de dias seguidos, recheados com conteúdos reais variados, finalmente, o tão esperado evento mobilizou o planeta naquela manhã de sexta-feira do dia 29, cujas celebrações e solenidades iniciaram às 4 horas da manhã, horário de Brasília, quando os títulos do casal foram anunciados e só terminam às 8 horas da noite, quando com a despedida do casal em partida para a noite de núpcias numa suíte do Palácio de Buckingham.
A comunicação foi global, contou com a imprensa de todos os países; reportagens ao vivo, de todo gênero, foram levadas ao público, que passou horas diante da TV ou outro meio para acompanhar o casamento.
Todas as emissoras concorreram pela atenção do público e, como empresas, uma de suas funções administrativas e financeiras é a obtenção de lucros decorrentes de sua programação, não dispensando a disputa para se sobressaírem à concorrência. Com isso, acabam “usando e abusando” da Hipótese do Agendamento, ao pautarem seus programas, ao tabularem o passo a passo de cada abordagem – o que, como, para quem, por que e quando apresentarão, com qual objetivo ou interesse – interno (obtenção de lucro e ganho na concorrência com a audiência, outros) e externo (público); ao buscarem por furos e aproveitarem a instantaneidade o processo é o mesmo, enaltecendo determinados assuntos, construindo sentidos sobre os discursos e ocorrências da vida real, e assim seguem conduzindo seus negócios.
Pela proporção internacional deste fato que contou com a participação de inúmeras fontes, para efeito da análise proposta neste trabalho, optou-se, pelos seguintes veículos de mídia: a Rede Globo – como amostra de canal aberto, a Globo News, canal fechado, incluindo o G1, no caso da Internet, todos das Organizações Globo, devido à sua acentuada presença jornalística nos lares brasileiros, e pela forma como conduziu a cobertura do casamento real através da suas programações diárias nos canais abertos e fechados, como descrito nos capítulos 2 e 3 deste trabalho, corroborando o contexto.
E, considerando a forma como esse episódio da história da monarquia britânica foi conduzido pela mídia e abraçado pelo mundo, a forma como a mídia construiu a notícia e influenciou o dia a dia das pessoas, a análise aqui proposta se dá sob o enfoque da Agenda-setting.
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2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
O objetivo geral para efeito deste trabalho é fazer um levantamento da cobertura do casamento real.
2.2 Objetivos específicos
Especificamente, o objetivo é verificar a cobertura do casamento real no meio televisivo, de modo a perceber a proporção que o fato tomou ao longo da veiculação da notícia por este meio.
A transmissão televisiva fascina pela imagem dos fatos, levando-a a assumir um patamar de predominância da imagem sobre a fala, aguçando, ainda mais sobre o que pensar e falar a respeito de determinadas pautas, ou sobre determinados agendamentos.
Por isso, a análise neste trabalho apoia-se no trabalho jornalístico desenvolvido pelas Organizações Globo, pela realização de uma cobertura acentuada, com pautas especiais – históricas e variedades – sobre a família real britânica e o casamento do príncipe William e Kate Middleton, em todas as suas programações jornalísticas, nos canais abertos e fechados, inclusive pela Internet – Rede Globo, Globo News e G1.
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3 LEVANTAMENTO DE CONTEÚDO
Em 1981, o mundo assistiu ao casamento do príncipe Charles com Diana. Em 2011, 30 anos depois, mais um casamento de grandes proporções britânicas com projeção midiática internacional acontece entre um príncipe e uma plebeia – William e Kate Middleton –. O enlace ocorrido em 29 de abril de 2011, contou com muitos convidados solenes, formais e inúmeros curiosos, presenciais e virtuais, imprensa e paparazzis do mundo inteiro.
Todos os canais veicularam a notícia, fazendo uso de vários gêneros discursivos e potencializaram suas ferramentas comunicacionais. Várias foram as manchetes e abordagens e intenções, numa concorrência acirrada de modo a garantir audiência. Deste modo, para efeito de “afunilar” o estudo, o grupo tomou como exemplo a veiculação da notícia pela Rede Globo, Globo News e G1 – em suas programações jornalísticas pela TV, em canal aberto e fechado, e também pela Internet.
3.1 As Organizações Globo e o Casamento Real
A programação especial das Organizações Globo envolveu toda sua programação jornalística nos canais abertos e fechados, inclusive pela Internet – Rede Globo, Globo News e G1, contando com a participação de convidados, tais como especialistas em moda, realeza, beleza, comportamento, etiqueta, estilistas, figurinistas e outros profissionais para comentarem o evento real sob a mira de suas áreas de atuação1.
3.1.1 Rede Globo (canal aberto)
A Rede Globo preparou uma cobertura jornalística acentuada. Uma semana especial “recheada” de histórias e curiosidades a respeito da monarquia britânica – o passado se unindo ao presente, desembocando no passo a passo dos preparativos para o casamento real, inclusive o dia do grande evento nupcial.
De 25 a 28 de abril, o Bom Dia Brasil e o Jornal Hoje apresentaram matérias sobre o casamento real – a abordagem focou a estrutura monárquica inglesa, a sua genealogia e a razão dos títulos, bem como a questão da herança da cadeira real. E, como não poderiam deixar de mencionar, foi trazido à baila o casamento de Charles e Diana, da pompa ao fracasso, remetendo à história de seu filho William, sua formação e envolvimento com Kate Middletton, o perfil do casal real em tempos modernos. Essas pautas foram entremeadas às pautas nacionais.
Não apenas estes dois programas, mas também entrou na pauta especial de uma semana do Jornal Nacional, neste os âncoras retomavam o assunto abordado pelos jornais anteriores, e em cada edição novos fatos, se ocorridos, eram acrescentados, mostrando que a Rede Globo estava ligada 24 horas aos preparativos da festa. Estas pautas “reais”, acabavam mostrando como a monarquia britânica, mesmo com muitos contras a esse regime, era algo fascinante, e como todo aquele contexto encantava muitas pessoas ao redor do mundo.
1 REDE GLOBO. Casamento real é tema de especiais na Rede Globo, Globo News e no G1. Informação disponível em: <http://redeglobo.globo.com/novidades/jornalismo/noticia/2011/04/casamento-real-e-tema-de-especiais-na-rede-globo-globo-news-e-no-g1.html>. Acessado em: 5 jun., 2011.
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No último jornal do dia, o Jornal da Globo, mais uma vez retomava-se o assunto, mas de uma forma bem resumida, uma vez que as notícias do dia já foram conhecidas, transmitidas pelos telejornais, pela Internet e outros meios, inclusive impressos.
Em todas as programações frisava-se que a transmissão ao vivo do casamento real estava programada para o dia 29 de abril, no Bom Dia Brasil, que teria início mais cedo. E assim foi, no dia 29 de abril, especialmente, o jornal iniciou sua transmissão mais cedo e transmitiu a cerimônia ao vivo, os âncoras contaram com a participação da consultora de moda Gloria Khalil para comentar os looks dos noivos e dos convidados, além dos correspondentes internacionais.
3.1.2 Globo News (canal fechado)
Não apenas os canais abertos levaram ao público um “intensivão” de notícias. O agendamento se propagou também pelos canais fechados, como os elencados a seguir, das emissoras-foco neste trabalho:
O programa Milênio levou ao ar uma programação voltada aos aspectos históricos da família real britânica, fazendo um contraponto com aqueles que veem e criticam a gestão monárquica como ultrapassada e antidemocrática – são os contrários à monarquia. O programa aproveitou a pauta para entrevistar o cientista político Graham Smith, que é defensor do fim da era monárquica britânica por uma democracia, pelo direito de voto.
A revista eletrônica Arquivo N estruturou sua programação com uma viagem no tempo, trazendo um histórico de todos os casamentos reais e como ele foram jornalisticamente cobertos.
Na véspera do casamento de William e Kate, o telejornal Jornal Globo News que normalmente informa a cada hora as principais notícias no Brasil e no mundo, também foi especial, com duração de duas horas conduziu a programação contando com o especialista em família real Francisco Vieira. Assinantes e internautas puderam interagir com o especialista e apresentadores durante todo o jornal.
Enfim, no dia 29 de abril, a Globo News iniciou a transmissão dos preparativos e a cerimônia do casamento real às 5 horas da manhã, horário de Brasília. Apostos, os correspondentes internacionais captaram todos os destaques do evento, incluindo a participação de brasileiros que estavam na capital inglesa. Na seção Você na Globo News, os telespectadores e internautas puderam colaborar com a cobertura enviando vídeos para o site do canal, depoimentos e comentários, que depois seriam utilizados na programação da revista eletrônica Arquivo N.
A programação intensiva em cima do agendamento não ficou apenas em moda, beleza, política, história e turismo. O evento foi muito bem explorado pelo jornalismo do Conta Corrente, cujo enfoque são as notícias no âmbito da Economia, que exibiu uma série especial sobre a indústria do casamento como um negócio rentável. Informando que nesse segmento, o Brasil movimentou cerca de R$10 bilhões em 2010 e com o casamento real este número tenderia a crescer; por conta do contexto, falou-se sobre o investimento feito no casamento real, apresentando o quanto foi investido no evento e qual seria o faturamento pelo mundo com a venda de brindes com a foto do casal, com os produtos criados a partir dos apelos emocionais, sensacionais, modismo demais interesses pelo mais variados setores de negócios.
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3.1.3 G1 e O Globo (Internet)
No âmbito da Internet pelos sites G1 e O Globo também aderiram à programação especial promovida pelo casamento real.
Na Internet, a programação no site G1 criou uma página especial dedicada ao casamento real com entrevistas, vídeos, e todas as notícias e todos os detalhes sobre os preparativos e curiosidades da cerimônia, aliàs, do antes, do durante e do depois. O G1 também transmitiu ao vivo a cerimônia no dia 29, e os internautas também puderam participar com comentários e compartilhar fotos e vídeos.
O site O Globo também construiu uma página especial2 para a agenda do casamento real, com o perfil dos noivos, histórias reais, gerando mais uma oportunidade para interagir com os internautas.
3.2 Postura dos âncoras e o imediatismo da notícia
Vale registrar os vários comentários publicados na Internet, em várias fontes, exaltando a postura dos âncoras brasileiros diante das notícias em suas transmissões ao vivo, dizendo que todos, até por conta pelo imediatismo, cometeram uma série de erros ou gafes do fluxo contínuo das informações:
’O que será que passa pela cabeça dela nessa momento?’, pergunta Daniela Albuquerque, ao vivo, na Rede TV!. ‘Tô rica!’, responde, sarcástico, Evandro Santo, na única resposta possível a uma questão boba. O diálogo dá uma boa mostra do que foi a cobertura do casamento real na TV brasileira. As imagens não poderiam ser mais belas: câmeras espalhadas por Londres, uma grua que captava imagens aéreas dentro da abadia de Westminster e detalhes mil que não passaram despercebidos. Uma pena que as imagens tenham ficado em segundo plano durante a exibição matrimônio do Príncipe William com Kate Middleton. A ansiedade se mostrou a maior das inimigas dos âncoras brasileiros. Eram 13 canais transmitindo ao mesmo tempo. Todos tentaram mostrar nuances de um evento visto por 2 bilhões de pessoas em todo o mundo. Ainda assim, no afã de chamar ainda mais atenção do que os protagonistas da história, houve quem preferisse falar da luva rasgada do noivo. Houve também quem precisou se dividir nas funções de apresentadora e tradutora, caso de Ana Paula Padrão, que chegou a chamar William de Harry algumas vezes. E houve quem se preocupasse com questões bizantinas. Carlos Nascimento, do SBT, enquanto via a noiva no altar, perguntou: ‘Ela já é princesa neste momento?’. Detalhes técnicos também estiveram na Globo: Renato Machado sabia de cor a raça dos cavalos que puxavam as carruagens. Sinceramente: faz diferença? Cobertura minuto a minuto tem dessas coisas. Mas é preciso saber dosar. Por vezes, tagarelar menos e deixar que as imagens falem por si é necessário. Claro, comentários de moda que classificam o vestido da nova princesa de ‘severo’ ou falam dos quadris largos das convidadas têm seu espaço. Mas, em determinados momentos, na falta do que falar, é melhor não fazê-lo. Afinal, ninguém precisa ouvir dezenas de vezes frases como ‘ela está lindíssima’ ou ‘que chique’, como fez Daniela na Rede TV!, a mesma que disse que era bom ver ‘uma religião tão bem abordada’. O repertório da apresentadora, aliás, era
2 O GLOBO. O casamento do ano. Informação disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/casamento-do-ano/mat/2011/04/28/confira-cronograma-completo-do-casamento-real-924339293.asp>. Acessado em: 5 jun., 2011.
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vasto e criou pérolas como: ‘A rainha é como se fosse uma Hebe Camargo’. Outra comentarista, na mesma emissora, também dedicou uma crítica ao vestido de Kate Middleton: ‘Ela estava de farol aceso’. Difícil de acreditar. Na Band, até mesmo o patriotismo achou seu espaço: ‘Olha a bandeira brasileira lá. Tá enrolada mas é nossa!’. No quesito cobertura de grande eventos, alguns de nossos âncoras ainda têm de comer bastante feijão com arroz. (REVISTANET.COM, 20113; COLUNISTAS, 20114)
3 REVISTA NET.COM. Um grande espetáculo [...]. Informação disponível em: <http://www.revistanet.com.br/ index.php?option=com_content&view=article&id=1040:um-grande-espetaculo-casamento-real-mobiliza-todo-o-mundo-e-cria-momentos-constrangedores-na-tv&catid=1:latest-news&Itemid=89>. Acessado em: 5 jun., 2011. 4 COLUNISTAS. Um grande espetáculo [...]. Informação disponível em: <http://colunistas.ig.com.br/natv /2011/04/29/um-grande-espetaculo-casamento-real-mobiliza-o-mundo-todo-e-cria-momentos-constrangedores-na-tv/?allcomments>. Acessado em: 5 jun., 2011.
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4 APLICABILIDADE DA TEORIA E INSERÇÃO NO CONTEXTO
ESTUDADO
4.1 Hipótese do Agendamento
A Hipótese do Agendamento, ou Agenda-setting, tem relação com os meios de comunicação de massa, mormente com a publicação enfática de assuntos que de modo a influenciar e direcionar a opinião das pessoas, a ponto de certas pautas se tornarem temas centrais de conversas e atitudes da sociedade.
A Agenda-setting tem alguns conceitos básicos, que merecem destaque para melhor entendimento da análise proposta neste trabalho5:
a) Relevância de determinados assuntos, ou seja, a importância que os veículos de comunicação dispensam a certos assuntos.
b) Os assuntos presentes em diferentes veículos, ainda que com enfoques diferenciados, porém estabelecidos numa certa consonância, ou seja, numa similaridade entre as pautas dos vários veículos.
c) O estado de onipresença dos acontecimentos, atravessando fronteiras, se fazendo presente em absolutamente, a ubiquidade de certas pautas.
d) A temporalidade ou transitoriedade do enquadramento entre a notícia dada e a constatação do tema na agenda do receptor, conhecido por frame temporal.
e) O enfoque dado às matérias, a abordagem do tema, conhecido por tematização.
f) A acumulação midiática, ou seja, a importância dada pela mídia a determinados temas, ressaltando esse tema em relação a outros acontecimentos diários, que posteriormente, serão transformados em notícia e, conseqüentemente, em informação.
g) O intervalo de tempo entre a emissão da informação pela mídia (agenda da mídia) e a influência desta sobre o receptor (agenda do receptor) é o time-lag.
h) A hierarquização dos assuntos pelas mídias promovem a centralidade, conferindo relevância, significado e impacto no receptor para uma assimilação do foco. Caso contrário, maior será a dificuldade da agenda da mídia agendar o público.
i) O receptor, seja ele um telespectador, ouvinte ou leitor, valoriza uma determinada notícia. Uma ação que na Agenda-setting se denomina, saliência.
j) E foco, ou focalização, que é o tratamento dado pela mídia a determinados assuntos.
5 SILVA, Manoel Jesus Soares da; CRUZ, Fábio Souza da. O Marketing político e a hipótese de agenda setting. Artigo publicado na Ecos Revista, Pelotas, 3(3): 5-24, dezembro, 1999.
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4.2 Análise: Hipótese do Agendamento versus Casamento real
O casamento real foi intensamente veiculado pela mídia, em todos os veículos de comunicação (televisão, rádio, impresso, eletrônico, redes sociais), fazendo parte do cotidiano das pessoas, em casa, no trabalho, na escola etc., voluntária ou involuntariamente.
Os telespectadores, ouvintes ou leitores passaram a “saber das coisas”, relevantes ou não, o que importava ou não importava naquele momento, por conta de um acentuado gatekeeping midiático. As emissoras em geral, com destaque neste trabalho para as Organizações Globo, através da Rede Globo, Globo News, inclusive o G1, representandoa Internet, selecionaram o que as pessoas “deveriam” saber, em termos de história e imagens6, e na maior parte do tempo, a programação foi lúdica, pelo menos nos canais abertos. Já nos canais fechados, o evento foi coberto com enfoque na prospecção política, econômica, social e cultural, além de cobrir também as variedades envolvidas no contexto.
Todos os procedimentos midiáticos relativos ao casamento real refletem uma pauta de grande repercussão e desdobramentos, que se aplica totalmente à Hipótese do Agendamento, por conter todos os conceitos básicos da citada teoria, como apontado a seguir.
O evento ficou em evidência por dias – sendo objeto de vários desdobramentos e acumulação pelas emissoras, principalmente da emissora foco desta análise, entremeando-se às suas programações diárias, como mencionado no capítulo 3 – ou seja foi uma pauta relevante e onipresente naquele período.
Quanto à tematização, a exploração do assunto e a busca por informações novas, extraídas de antigos e recentes acontecimentos reais, foi um processo intenso, porém o fundo era sempre o mesmo, em todos os canais. A consonância imperou, mesmo que nas entrelinhas cada qual tentasse dar uma nova “cara” para algo repetitivo, recriando o quase impossível de ser recriado a uma certa altura dos acontecimentos. Foi um processo cuja centralidade pareceu ser inesgotável, até a concretização do processo, com o então esperado casamento real.
O público, por sua vez, acompanhou passo a passo dessa história, como se fosse um seriado, um conto, esperando o grande dia. Todos acompanharam especiais sobre várias passagens da história da família real até os preparativos e o casamento do príncipe com a plebeia, como nos contos de fadas, só que numa versão moderna e altamente informatizada, a “La século XXI”, isto é, grande parte da população aderiu ao que se chama saliência na Agenda-setting, pela valorização da notícia.
O assunto circulou de modo que o frame temporal e o time-lag também se concretizaram ao longo do agendamento da mídia lançado ao público, que ao recebê-la, passava por um processo de transitoriedade, uma identificação e um enquadramento; de uma forma ou de outra, a mensagem acabava sendo incorporada às agendas pessoais e sociais do público.
A focalização levada a efeito ao longo dos dias teve seu ápice, o seu clímax, no dia 29 de abril, foi um evento visto por cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, como informado pela mídia.
6 Estão inseridas imagens de alguns momentos do casamento real, no Anexo A deste trabalho
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Mas não parou por aí, porque após o casamento restaram alguns desdobramentos, promovidos pelo agendamento e pelo efeito enciclopédico, ou seja, além da informação, cada detalhe dessa intensa cobertura jornalística foi rapidamente se transformando em produtos variados, ou seja, a notícia se transformou em agenda pessoal, agenda social, seriado de TV, documentário, comentários variados, críticas, elogios, como também em dicas de moda, beleza, decoração, souvernir, ideias variadas para os próximos enlaces e outros aparatos movidos pelos apelos emocionais, sensacionais, modismo demais interesses. Um agendamento com itens bem variados.
4.3 O comportamento das emissoras em relação ao agendamento
Uma vez que as emissoras – como empresas – precisam obter lucros com sua programação e se sobressair à concorrência, acabam “usando e abusando” da Hipótese do Agendamento. Buscam por furos, aproveitam a instantaneidade, enaltecem determinados assuntos e assim conduzem seus negócios.
E assim foi com o objeto deste trabalho, que representou o “assunto do dia” por vários dias e em vários momentos, por várias emissoras, por várias programações e com maior ênfase pela Rede Globo no canal aberto e Globo News no canal fechado, incluindo o G1, como um representante da Internet.
Os programas jornalísticos mencionados no item
Um “intensivão” que se transportou para o agendamento individual das pessoas, direta ou indiretamente. Ou seja, fez parte do dia a dia das pessoas em paralelo aos acontecimentos e, acabado o evento, a notícia esfriou e imediatamente as emissoras voltaram às suas manchetes rotineiras, porém, muitas pessoas continuaram sob os efeitos daquele agendamento, daquela avalanche de informação, de novidades, envoltas num processo espetacularizado e ao mesmo tempo enciclopédico.
Neste caso, também é possível utilizar os ensinamentos de Guy Debord, quando diz que os meios de comunicação de massa são capazes da manifestação superficial mais esmagadora do espetáculo, infiltrando-se como uma simples forma de entretenimento, como uma informação, mas por fim, como visto, acaba tomando grandes proporções na vida das pessoas, causam momentos mágicos, como foi o casamento real – um agendamento que trouxe um espetáculo que originou vários benefícios às emissoras e ilusão ao público7.
7 DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo. PDF. 2003. p.18. Disponível em: <www.geocities.com/ projetoperiferia >. Acessado em 10 jun., 2011.
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CONCLUSÃO
As crianças crescem com a imagem dos contos de fadas, trazendo em seu imaginário a história da moça pobre que encontra o seu amor, que por sua vez, é um príncipe; se enamoram, casam e vivem felizes para sempre. Esta é a narrativa que, nos contos de fadas, ocorre em meio a barreiras refletidas por bruxas, pragas, inveja e outras tantas provações, até o clímax da história, que é o final feliz.
Como todo fato de grandes proporções, o casamento real ganhou uma cobertura mundial, com isso, viu-se que as mídias partiram em busca de lucros por meio da audiência. O público, nessa maratona, acabou sendo afetado com um assunto que ficou em evidência ao extremo.
O evento foi absorvido pelas pessoas principalmente pelo lado lúdico, exatamente como nos contos de fadas. As pessoas foram submetidas a um agendamento específico – o casamento real – ao longo de um período em que ao redor do mundo, pessoas, lugares, negócios etc. estavam passando por várias outras ocorrências, também de grandes proporções, nacionais e internacionais. Porque não ousar dizer que o agendamento do casamento real promoveu certa hipnose e que tudo passou e tudo recomeçou, influenciado o dia a dia das pessoas.
Não que o casamento real não tivesse importância, mas porque outros acontecimentos acabaram sendo relegados, em função de uma super exposição ou super exploração. O Brasil e o mundo tiveram muitas manchetes ao mesmo tempo – novas ou recorrentes: a morte de Osama Bin Laden (será?), a devastação contínua e acentuada da Amazônia; a corrupção (assuntos antigo e cada vez mais fortes no presente); tsunami no Japão com sequelas que perduram até hoje (junho de 2011); o massacre no Rio de Janeiro; entre tantos outros.
Esse movimento todo também indica que a Hipótese de Agendamento pode ser articulada com outras teorias da comunicação – se mescla com o sensacionalismo, com a espetacularização dos fatos, com a manipulação e outras formas de noticiar, estimular, influenciar pessoas, pelo grau de exposição a que foram submetidas.
Depreende-se aqui que, no caso específico da Rede Globo no canal aberto e da Globo News no canal fechado e também o G1, representando a Internet, a intenção era simplesmente lucrar e garantir um lugar na história, sendo a emissora que cobriu o Casamento Real com maior ênfase e maior cobertura.
Enfim, foi um agendamento que como outros trouxe em seu bojo a entropia, o efeito enciclopédico; houve uma articulação com outras teorias do jornalismo; e impôs ao público o que pensar e o que falar por conta da forte atuação midiática como formadora de opinião, como construtora de sentidos e sentimentos, levando muita gente, mesmo sem profundidade para entender o real contexto dos fatos, a incluir em sua agenda pessoal e social a pauta “casamento real”, um fato que, ajudado pela mídia, colocou em prática o imaginário coletivo.
O tema deste trabalho demanda um aprofundamento, portanto não se fecha com essa amostra e conclusão, simples, perto da real dimensão e riqueza de fatos e desdobramentos para uma valiosa exploração científica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGENDA-SETTING. Materiais diversos apresentados ao longo do curso pela profa. Luiza Lusvarghi e anotações. Disciplina – Teoria do Jornalismo. 1º semestre de 2011.
CHAROUX, Ofélia Maria Guazzelli. Metodologia: processo de produção, registro e relato de conhecimento. 2.ed. São Paulo: DVS, 2006.
COLUNISTAS. Um grande espetáculo- Casamento real mobiliza todo o mundo e cria momentos constrangedores na TV Informação disponível em: <http://colunistas.ig.com.br /natv/2011/04/29/um-grande-espetaculo-casamento-real-mobiliza-o-mundo-todo-e-cria-momentos-constrangedores-na-tv/?allcomments>. Acessado em: 5 jun., 2011.
DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo. PDF. 2003. p.18. Disponível em: <www.geocities.com/ projetoperiferia >. Acessado em 10 jun., 2011.
O GLOBO. O casamento do ano. Informação disponível em: <http://oglobo.globo.com/ mundo/casamento-do-ano/mat/2011/04/28/confira-cronograma-completo-do-casamento-real-924339293.asp>. Acessado em: 5 jun., 2011.
REDE GLOBO. Casamento real é tema de especiais na Rede Globo, Globo News e no G1. Informação disponível em: <http://redeglobo.globo.com/novidades/jornalismo/noticia/2011/ 04 /casamento-real-e-tema-de-especiais-na-rede-globo-globo-news-e-no-g1.html> Acessado em: 5 jun., 2011. REVISTA NET.COM. Um grande espetáculo. Casamento real mobiliza todo o mundo e cria momentos constrangedores na TV. Informação disponível em: <http://www.revistanet.com.br /index.php?option=com_content&view=article&id=1040:um-grande-espetaculo-casamento-real-mobiliza-todo-o-mundo-e-cria-momentos-constrangedores-na-tv&catid=1:latest-news&Itemid=89>. Acessado em: 5 jun., 2011.
SILVA, Manoel Jesus Soares da; CRUZ, Fábio Souza da. O Marketing político e a hipótese de agenda setting. Artigo publicado na Ecos Revista, Pelotas, 3(3): 5-24, dezembro, 1999.
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença. 1992.
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ANEXO A – IMAGENS DO CASAMENTO REAL
A TV Globo se prepara para a cobertura do casamento real
O príncipe William e sua noiva, Kate Middleton, em fotografia oficial do noivado (Foto: AP)
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O tão comentado vestido da noiva (Reuters)
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Pratos e canecas comemorativos do noivado de Kate e William (Christopher Furlong/Getty) – retratando os souvenires do evento. Não é uma ideia tão criativa, porém muitas noivas optaram por este “mimo”, como lembranças de casamento, após o enlace real.
O casal real. (Reuters)
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Foto oficial da família real após a cerimônia de Kate e William (29/04/2011) (Reuters)
O tão comentado beijo na sacada, entre William e Kate já casados, e a menina com aparência aborrecida, que também mereceu muitos comentários. (Reuters)
