MANUFATURA ENXUTA: UMA
ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES DO
ENEGEP ENTRE OS ANOS DE 2002 E
2011
Lucas Lorenzoni Cazarotto (FISUL )
Ricardo Antonio Reche (FISUL )
Vinicius Triches (FISUL )
Na procura por uma maior competitividade, as empresas cada vez
mais buscam melhorias em seus processos. A Manufatura Enxuta vem
ao encontro deste propósito de maximização dos resultados e melhoria
do desempenho empresarial. Desta forma estee trabalho tem como
objetivo desenvolver um estudo através da análise de artigos
publicados no sítio do ENEGEP, na área da Manufatura Enxuta, no
período de 2002 a 2011, sendo realizada uma análise qualitativa e
quantitativa dos artigos. Como principais resultados temos que dos 61
artigos pesquisados, 78,7% são artigos com enfoque prático (como,
por exemplo, estudos de caso) e 21,3% são teóricos(como revisão de
literatura). Com relação ao enfoque do objetivo dos artigos, cerca de
96,7% atingiram o que foi proposto pelo trabalho e somente 3,3% (que
referem-se a dois artigos) não alcançaram o que foi estabelecido. Isto
demonstra o foco nos objetivos por parte dos pesquisadores e também
a grande aplicabilidade da Manufatura Enxuta, com resultados
satisfatórios para as empresas. Outra análise importante é com
relação à utilização das ferramentas da Manufatura Enxuta, onde é
possível observar que a maioria dos artigos tendem à aplicação do
sistema como um todo, mas também ocorrendo artigos onde é
explorada apenas uma ferramenta, sendo o mapeamento do fluxo de
valor a mais aplicada em âmbito geral.
Palavras-chaves: Manufatura enxuta, ENEGEP, revisão
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1. INTRODUÇÃO
O sistema enxuto de produção surgiu a partir da evolução do sistema Toyota de
produção. Esta denominação, segundo Womack e Jones (1998) originou-se de uma pesquisa
realizada que tinha como objetivo identificar quais empresas aplicavam os conceitos da
Toyota na sua manufatura (LAZZAROTTO, 2010).
Levando-se em conta o cenário de crescimento brasileiro, onde a estabilidade da
economia configura-se em ponto fundamental para uma demanda constante, mantendo
programas de produção nivelados, um dos pilares da ME, o Just in time, ou seja, produzir no
tempo certo e na quantidade certa, ganha força nos mais diversos segmentos.
A ideia que permeia este trabalho é a da busca pelos conceitos e pela aplicabilidade da
Manufatura Enxuta (ME) nos dias atuais, contemplando os aspectos que influenciam na sua
implementação nos diferentes setores da economia, sob um enfoque tanto acadêmico, quando
empresarial. Para atingir este objetivo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, focada na
análise de artigos publicados nos anais do ENEGEP (Encontro Nacional de Engenharia de
Produção) entre os anos de 2002 e 2011.
2. Referencial Teórico
Buscando evidenciar a evolução e a aplicabilidade da Manufatura Enxuta, o presente
referencial teórico abordará os principais conceitos do sistema, bem como as principais
técnicas a serem aplicadas visando sua eficaz implementação.
2.1 Manufatura enxuta
De acordo com Ohno (1997), a Manufatura Enxuta surgiu a partir da necessidade da
redução de custos, sendo focada principalmente na eliminação dos desperdícios e de
elementos desnecessários. Sua implantação começou após a segunda guerra mundial e teve
ampliada sua importância na crise do petróleo de 1973, que gerou uma grande recessão
mundial, provocando um crescimento zero em muitas empresas. Tal fato não foi notado na
Toyota Motor Company, gerando assim uma curiosidade por parte de outros em relação a esse
desempenho.
O pensamento enxuto tem como principal ponto a atribuição de valor para o cliente.
Neste sistema, o fundamental é oferecer ao cliente final um produto específico, atendendo a
necessidade esperada, com um preço adequado e no momento certo. É uma forma de
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melhorar as sequências de ações sem que ocorram interrupções no processo, com a busca do
aprimoramento contínuo (LAZZAROTTO, 2010).
A base da produção enxuta é a absoluta eliminação do desperdício, sendo os seus dois
pilares de sustentação o Just in Time e a autonomação. A filosofia Just in time,
simplificadamente, refere-se ao processo de fluxo, onde as partes necessárias devem alcançar
a linha de montagem no momento em que são necessárias e na quantidade certa (OHNO,
1997). A autonomação, que também é conhecida como a automação com um toque humano,
refere-se a utilização de dispositivos nas máquinas que possam detectar possíveis alterações
nos processos habituais de fabricação e assim interrompam o processo, evitando a produção
de peças defeituosas (OHNO,1997).
2.2 Práticas, técnicas e ferramentas da manufatura enxuta
De acordo com Lazzarotto (2010), a manufatura enxuta possui algumas técnicas e
ferramentas no processo de implantação, que devem ser levadas a efeito em sua totalidade.
Uma delas é a troca rápida de ferramentas. Ohno (1997) relata que esta é essencial para a
obtenção das qualidades necessárias à manutenção da estratégia competitiva da empresa em
relação aos clientes e mercados, principalmente na produção Just In Time e dependem da
redução do lead time (tempo de atravessamento).
O balanceamento da produção, segundo Ohno (1997), depende da combinação das
tarefas individuais de processamento e de montagem, com o objetivo de atingir tempos em
dada estação de trabalho da forma mais aproximada possível. Ritzman e Krajewski (2004)
definiram o balanceamento da produção como a atribuição de trabalhos a estações em uma
linha, de modo a obter o índice de produção desejado com o menor número de estações de
trabalho.
A técnica de nivelamento da produção (Heijunka) refere-se ao modo de planejar a
produção de tal forma que o mix e o volume de produtos sejam constantes ao longo do tempo.
Como exemplo os autores citam a empresa Toyota, onde a programação da produção é
exatamente a mesma para cada dia do mês. A Toyota divide o número total de cada modelo
de automóvel a ser produzido durante o mês pelo número de dias de trabalho do período, para
assim obter o número desse modelo a ser produzido diariamente (FRAZIER; GAITHER,
2002). Porém, a variação da demanda é um grande empecilho, pois raramente os pedidos são
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sempre os mesmos, tanto referentes aos mix quanto às quantidades de peças (LIKER; MÉIER,
2007).
A produção puxada e o fluxo contínuo são condicionantes de sucesso para a ME.
Entende-se por produção puxada os processos que são desencadeados por uma sinalização de
necessidade vinda do cliente. Nestas situações, o sistema de informação perfeito permitirá que
cada estação de fluxo abaixo veja a próxima estação de fluxo acima sobre suas necessidades
imediatas, para assim serem abastecidas rapidamente, em quantidades pequenas, em cada
estação (OHNO, 1997).
Com relação ao mapeamento do fluxo de valor, Ohno (1997) o descreve como uma
ferramenta essencial, pois ajuda a visualizar mais do que simplesmente os processos
individuais, possibilitando enxergar o fluxo e identificar os desperdícios. Segundo Bittar e
Lima (2003), o mapeamento de fluxo de valor deve considerar uma análise do fluxo atual e do
fluxo futuro, pois assim é possível identificar os pontos a serem melhorados no processo. O
mapa do fluxo atual demonstra os desperdícios e possíveis pontos de melhoria dentro do
processo, enquanto o mapeamento futuro deixa explícito como deve ocorrer a implantação da
manufatura enxuta dentro do processo para assim gerar valor para o cliente.
Dentro do mapeamento são utilizadas as caixas de processos, que vão conter
informações como tempo de ciclo, tempo de troca (tempo que demora para trocar a produção
para outro tipo de produto), disponibilidade, tamanho de lote de produção, número de
operadores, tempo de trabalho e a taxa de refugo (CASAGRANDE; CHIOCHETTA , 2007).
Esta análise deve envolver todos, desde a alta administração até os trabalhadores, em
forma de grupos, de modo que todos os envolvidos possam expressar suas idéias para
melhorar o desempenho da organização (CAMPOS; SILVA, 2007).
Segundo Ritzman e Krajewski (2004), o gerenciamento visual, também chamado de
Kanban (que significa em japonês “cartão”), refere-se aos cartões usados no controle do fluxo
de produção em uma fábrica. Na forma mais básica desse sistema, o cartão é fixado em cada
caixa de itens que foram produzidos e corresponde à porcentagem de necessidades diárias de
um determinado item. Quando a caixa com as peças é esvaziada, o cartão é removido e
colocado em um painel e a caixa retorna para a área de armazenagem. O cartão sinaliza a
necessidade de produzir outra caixa, depois desta ter sido reabastecida.
A melhoria contínua (Kaizen) visa a evolução da empresa em toda a sua amplitude.
Conforme Pascal (2008), em termos de tempo a técnica é contínua e incremental (a mudança
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deve ser gradual e constante, com o envolvimento e abordagem de todos no processo). Ainda,
segundo o autor, na Toyota o kaizen ocorre através da atividade do círculo kaizen. São
formadas equipes, que são conduzidas por um gerente, tendo como objetivo fortalecer os
membros através do trabalho em equipe, com pensamentos claros e lógicos, focados na
resolução de problemas.
A flexibilidade da mão-de-obra refere-se à capacidade do colaborador para atuar em
várias funções. Nas palavras de Ritzman e Krajewski (2004), os funcionários podem ser
alocados em estações de trabalho que por algum motivo possam ser gargalos produtivos,
assim melhorando o desempenho do setor, substituir aqueles que se encontram em férias ou
afastados por motivo de doença, e atuar contra o tédio do trabalho repetitivo (RITZMAN;
KRAJEWSKI, 2004).
Outra técnica indispensável à implementação da ME é a manutenção produtiva total
(TPM). Cria-se nos operadores o conceito de que todos são responsáveis pelos equipamentos
e futuro da empresa, assim gerando o conceito de zero em interrupção (PASCAL, 2008). Este
autor relata, ainda, que a TPM é uma ferramenta fundamental para a empresa atingir a
estabilidade produtiva.
Integrar a cadeia de fornecedores, segundo Tubino (2000), exige que ocorra uma
comunicação entre os setores de programação de controle da produção das empresas
envolvidas, em dois níveis: o primeiro nível é o de planejamento, onde o plano mestre da
produção do cliente deve servir de base para a elaboração do plano mestre do fornecedor,
permitindo que este organize a sua estrutura de acordo com a demanda; o outro nível é o de
programação diária, onde a comunicação é realizada pelo sistema Kanban, especificando as
capacidades diárias.
A padronização das operações ajuda a cumprir os objetivos do sistema enxuto, pois
um processo padronizado tem a capacidade de elevar a produção, ao mesmo tempo em que os
estoques se mantêm reduzidos. Destaca-se como exemplo a criação de peças comuns a mais
de um produto e a padronização dos processos, fazendo com que todas as operações se tornem
regras, reduzindo cada vez mais a incidência de defeitos (RITZMAN; KRAJEWSKI, 2004).
A partir dos conceitos de Ghinato (1996), o controle da qualidade zero defeito
(CQZD) refere-se à capacidade de fazer certo da primeira vez, sem a necessidade de repetição
de operações ou defeitos em peças. Para tanto, é fundamental reconhecer que os defeitos são
gerados pelo trabalho e o máximo que a inspeção poderá fazer é descobrir este defeito.
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Finalizando, apresenta-se a técnica da gestão visual, que de acordo com Lazzarotto
(2010), refere-se ao processamento das informações do sistema produtivo, de uma forma que
possa contribuir para as ações de controle, promovendo a melhor comunicação entre
funcionários e informações.
3. Procedimentos metodológicos
Este trabalho realizou um estudo quantitativo e qualitativo, através de uma revisão
bibliográfica de artigos publicados no congresso do ENEGEP, no período compreendido entre
os anos de 2002 a 2011, na área da manufatura enxuta.
De acordo com Richardson (1999), o método quantitativo é caracterizado pela
quantificação na modalidade de coleta de informações e da utilização de técnicas estatísticas.
Este método tem como princípio garantir a precisão dos resultados, evitando distorções.
O método qualitativo não faz uso de ferramentas estatísticas como princípio e também
não enumera categorias, como no quantitativo. Este método refere-se à forma como será
analisado o problema, ou seja, quais os pontos que serão avaliados, como a área de publicação
dos artigos e as técnicas e problemáticas usadas (RICHARDSON, 1999).
4. Resultados e discussão
Através da pesquisa no sitio do ENEGEP foram pesquisados um total de 61 artigos, no
período compreendido entre os anos de 2002 a 20011. Através desta análise, é possível
observar uma maior concentração de publicação entre os anos de 2007 e 2010, salientando
que aproximadamente 68% dos artigos encontram-se neste período de 4 anos. Esta
distribuição é melhor observada na Tabela 1:
Tabela 1 - Classificação dos artigos em relação à distribuição dos anos
Ano Número de artigos
2002 2
2003 2
2004 4
2005 1
2006 6
2007 9
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2008 13
2009 9
2010 11
2011 4
Total 61
Fonte: Construção dos autores (2012)
De acordo com Fernandes e Godinho (2004), os artigos podem ser classificados em
duas grandes classes: práticos e teóricos. Os artigos práticos são pesquisas experimentais,
surveys, estudos de caso e pesquisas-ação. Os artigos teóricos são do tipo teórico-conceituais,
como revisões da literatura.
É possível observar que, dos 61 artigos pesquisados, 78,7% são com enfoque prático
(como, por exemplo, estudos de caso) e 21,3% são teóricos (como revisão de literatura). Estes
dados demonstram que a conceituação da manufatura enxuta já é um tema bem compreendido
e explorado na literatura.
Tabela 2 - Classificação dos artigos em teóricos e práticos
Ano Número de artigos Práticos Teóricos
2002 2 1 1
2003 2 1 1
2004 4 3 1
2005 1 1 0
2006 6 6 0
2007 9 7 2
2008 13 11 2
2009 9 6 3
2010 11 8 3
2011 4 4 0
Total 61 48 13
Fonte: Construção dos autores (2012)
Para a análise dos princípios, práticas, técnicas e ferramentas da manufatura enxuta
tomou-se como base os princípios elencados por Womack e Jones (1998) e as práticas,
técnicas e ferramentas abordadas por Lazzarotto (2010).
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Na Tabela 3 é possível realizar a análise quanto à importância da utilização das
ferramentas enxutas, onde alguns princípios se destacam devido à sua importância e
aplicabilidade quanto ao objetivo proposto no artigo. A maioria dos artigos estudados tem em
sua aplicação a manufatura enxuta considerando-a como um sistema em que, para ter
resultados, é necessária a aplicação de todas as suas técnicas, práticas, princípios e
ferramentas.
Tabela 3 - Princípios, práticas, técnicas e ferramentas da manufatura enxuta
Fatores componentes Número de ocorrências
Princípio do valor 32
Princípio do fluxo de valor 32
Princípio de fluxo 32
Princípio do sistema puxado 32
Princípio da perfeição 32
Troca rápida de ferramenta (Setup) 38
Balanceamento da produção 32
Nivelamento da produção (Heijunka) 32
Produção puxada e fluxo contínuo 34
Mapeamento do fluxo de valor 47
Gerenciamento visual (kanban) 39
Melhoria contínua (kaizen) 40
Flexibilidade da mão-de-obra 32
Manutenção produtiva total 34
Integração da cadeia de fornecedores 32
Operações padronizadas 32
Gestão visual 32
Célula de manufatura 35
JIT 38
Eliminação de desperdício 36
Autonomação 34
Fonte: Construção dos autores (2012)
Por sua vez, há artigos que se detêm na aplicação de uma ferramenta em um
determinado setor da empresa, como o trabalho de França e Souto (2008), que considera a
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aplicação da troca rápida de ferramentas na operação de rotulagem em uma linha de envase de
bebidas.
A ferramenta mais utilizada, conforme os artigos analisados é o mapeamento do fluxo
de valor, com 77% dos artigos citando a sua utilização e importância para a aplicação da ME.
Esta ferramenta é ressaltada por Bittar e Lima (2003), que deixam explícito como deve
ocorrer a implantação da manufatura enxuta dentro do processo, para assim gerar valor para o
cliente.
A melhoria contínua é a segunda ferramenta que teve maior citação nos artigos (65%),
o que demonstra a importância da sua utilização nas empresas. Esta visa a evolução da
empresa em toda a sua amplitude, através de pequenos e contínuos passos (JOHNSTON et al.,
2002).
Outra classificação realizada foi com relação aos artigos práticos, se estão inseridos na
indústria ou no ramo de serviços. Observou-se que grande parte dos artigos, ou seja, 87,5%,
são referentes ao setor industrial e 12,5 % ao setor de serviços.
Tabela 4 - Classificação das empresas analisadas de acordo com o ramo de atuação
Ano Práticos Indústria Serviço
2002 1 1 0
2003 1 1 0
2004 3 3 0
2005 1 0 1
2006 6 5 1
2007 7 6 1
2008 11 11 0
2009 6 6 0
2010 8 8 0
2011 4 3 1
Total 48 44 4
Fonte: Construção dos autores (2012)
Esta grande diferença deve-se ao fato de que a manufatura enxuta surgiu e teve grande
evolução no setor industrial, tendo a sua aplicação em serviços pouco difundida. Acredita-se
que cada vez mais será aplicada, pois considera fatores fundamentais para a evolução de
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qualquer organização, como eliminação de desperdícios, melhoria continua e geração de valor
para o cliente.
Analisaram-se, também, os artigos práticos de acordo com a classificação do número de
funcionários, baseados nos critérios do SEBRAE (2012), conforme abaixo:
Tabela 5 - Classificação das empresas quanto o número dos funcionários
Classificação Número de funcionários
Micro com até 19 empregados
Pequena de 20 a 99 empregados
Média 100 a 499 empregados
Grande mais de 500 empregados
Fonte: SEBRAE (2012)
Nos artigos pesquisados constatou-se um grande número de estudos onde não foi
determinado o número de funcionários da empresa avaliada. Os autores não deixaram claro o
número em específico, dificultando a compreensão sobre a aplicabilidade da ME conforme o
tamanho das empresas. Esta análise está demonstrada na Tabela 6:
Tabela 6 - Classificação das empresas estudadas quanto ao número de funcionários
Classificação Quantidade de empresas
Micro 31
Pequena 30
Média 19
Grande 18
Não foi citado 26
Fonte: Construção do autor (2012)
A porcentagem do total de microempresas corresponde a 25% do total. Já em pequenas
empresas o índice é de 24%. Nas médias, o percentual é de 15% e, em empresas consideradas
grandes, chega-se a 14%. Os artigos que não declaravam o número de empregados
correspondem a 22% do total. Os números demonstram que a aplicabilidade da ME é flexível,
independendo do tamanho da empresa, tendo destaque para as micro e pequenas. Isto se
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revela uma curiosidade, pois a ME vem das grandes corporações, assim demonstrando que é
viável a sua utilização em empresas menores.
Os artigos práticos também foram classificados de acordo com o ramo de atuação,
sendo que foi seguido o ramo mencionado nos próprios trabalhos. Empresas mecânicas,
automobilísticas, aeronáuticas e de eletrodomésticos foram classificadas como sendo do setor
metal-mecânico, devido ao fato de possuírem características em comum.
Tabela 7 - Classificação das empresas quanto ao ramo de atuação
Ramo de atuação Quantidades de empresas
Eletrônico 4
Metal-mecânico 29
Alimentar 3
Médico hospitalar 2
Têxtil 2
Elétrico 13
Plásticos 16
Bebidas 1
Cerâmica 1
Gráfica 2
Química 1
Refratários 1
Não foi citado 3
Fonte: Construção dos autores (2012)
Na Tabela 7 é possível observar que das 78 empresas citadas, cerca de 37% são do ramo
metalomecânico. O ramo de plásticos aparece em segundo plano, onde se constatou aplicação
da ME em 20% dos artigos, seguido pelo ramo elétrico, com 16% dos estudos.
De acordo com Fernandes e Godinho (2004), os artigos podem ser classificados
conforme a sua abrangência, que se refere ao nível da cadeia de suprimentos onde está focado
o trabalho. Estes níveis são assim divididos:
a) Foco no chão de fábrica (CF), onde é analisada a manufatura enxuta no nível da
produção;
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b) Foco em outras áreas (OA), como projeto de produto, custos, recursos humanos
entre outras;
c) Foco na cadeia de suprimentos (CS), referindo-se à utilização da ME relacionada a
clientes e fornecedores.
Este estudo utilizou a classificação citada por Fernandes e Godinho (2004), para trazer
outra análise dos artigos (tanto práticos quanto teóricos), visando demonstrar quais as áreas de
abrangência em que foi mais utilizada a ME, conforme Tabelas 8 e 9.
Tabela 8 - Classificação dos artigos práticos de acordo com a abrangência
Ano Práticos CF AO CS
2002 1 1 0 0
2003 1 1 0 0
2004 3 2 1 0
2005 1 0 0 1
2006 6 6 0 0
2007 7 6 1 0
2008 11 11 0 0
2009 6 6 0 0
2010 8 8 0 0
2011 4 3 1 0
Total 48 44 3 1
Fonte: construção dos autores (2012)
Na Tabela 8 é possível observar que, dos 48 artigos práticos, 44 foram focados no chão
de fábrica (91% do total). Somente 3 artigos mencionam outras aéreas, como o artigo de Lima
e Scuccuglia (2004) que refere-se à aplicação da ME na área administrativa.
Tabela 9 - Classificação dos artigos teóricos de acordo com a abrangência
Ano Teóricos CF AO CS
2002 1 0 1 0
2003 1 1 0 0
2004 1 0 1 0
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2005 0 0 0 0
2006 0 0 0 0
2007 2 1 1 0
2008 2 1 0 1
2009 3 3 0 0
2010 3 0 3 0
2011 0 0 0 0
Total 13 6 6 1
Fonte: construção dos autores (2012)
Na tabela acima observa-se que 46 % dos trabalhos têm foco no chão de fábrica (CF) e
este percentual se repete em outras áreas (OA) da empresa. Já com foco na cadeia de
suprimentos (CS), há ocorrência de somente um artigo (8%). Fica claro que há uma busca
pela aplicação da ME em outras áreas, principalmente em artigos teóricos.
Com relação ao total é possível observar que 81% dos artigos tem foco no chão de
fábrica, 15 % em outras áreas e 4% na cadeia de suprimentos. Supõe-se que esta
predominância na área produtiva deriva do fato de a ME ser originária do ramo industrial,
além da facilidade para encontrar bibliografia e estudos referentes à sua aplicação neste
campo.
Na cadeia de suprimentos a quantidade de artigos encontrada foi pouco significativa.
Donato, Rossi e Spricigo (2008) relatam em seu estudo que o modelo de implementação de
acordos logísticos e manufatura enxuta em toda a cadeia ainda estão em uma fase embrionária
no Brasil, o que surpreende devido à sua importância para o pleno funcionamento da ME.
5. Considerações finais
Este trabalho teve como objetivo principal realizar uma pesquisa na área da manufatura
enxuta em 61 artigos publicados no Encontro Nacional de Engenharia de Produção
(ENEGEP), no período compreendido entre 2002 a 2011. Os objetivos específicos centravam-
se na revisão bibliográfica com relação à manufatura enxuta, descrevendo seus principais
conceitos e técnicas.
Espera-se que, no âmbito gerencial, este trabalho traga uma contribuição da
aplicabilidade da manufatura enxuta nas empresas, devido ao fato de que grande parte dos
artigos (cerca de 78,7%) evidenciam a sua aplicação em empresas.
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No contexto acadêmico, acredita-se que este trabalho possa proporcionar uma
contribuição com relação aos conceitos da manufatura enxuta e, de uma forma simplificada,
possa também gerar uma compreensão inicial do tema. Este trabalho traz consigo a
importância da manufatura enxuta para que os acadêmicos possam, através da análise
realizada, conduzir processos de melhorias no seu ambiente profissional.
Como sugestão para novas pesquisas, podemos deixar o interesse em estudos centrados
nas áreas onde a aplicação da manufatura enxuta não é tão utilizada, com destaque para a área
administrativa, bem como um foco maior na implantação em empresas de serviços,
multiplicando esta filosofia de redução de desperdício e focado na geração de valor para o
cliente.
REFERÊNCIAS
BITTAR, R.C. S.; LIMA, P. C.. Análise do fluxo de valor de uma empresa de autopeças integrante da
cadeia de suprimentos de uma montadora automobilística. In: ENEGEP, 23., 2003, Ouro Preto. Anais...
Ouro Preto, 2003. p. 8.
CASAGRANDE, L. F.; CHIOCHETTA, J. C.. Mapeamento de fluxo de valor aplicado em uma pequena
indústria de alimentos. In: ENEGEP, 27.. 2007, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu, 2007. p. 9.
CAMPOS, T. R.; SILVA, S. L.. Mapeamento do fluxo do produto para projetos de redução de custos. In:
ENEGEP, 27., 2007, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu, 2007. p. 10.
DONATO, F. A. S.; ROSSI, M. A. M.; SPRICIGO, R.. Análise do impacto da utilização de acordos logísticos
na cadeia de suprimentos nos custos de transação com o operador logístico. In: ENEGEP, Rio de Janeiro,
ano 28, p. 8, 2008.
FERNANDES, F.C.F.; GODINHO, M.F. Manufatura Enxuta: uma revisão que classifica e analisa os
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