dissertacao andre ramos carrara

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ANDRÉ RAMOS CARRARA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA BPMS PARA A GESTÃO POR PROCESSOS: UMA ANÁLISE CRÍTICA São Paulo 2011

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Implantação de sistemas BPM para gestão por processos.

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  • ANDR RAMOS CARRARA

    IMPLANTAO DE SISTEMA BPMS PARA A GESTO POR PROCESSOS: UMA ANLISE CRTICA

    So Paulo 2011

  • ANDR RAMOS CARRARA

    IMPLANTAO DE SISTEMA BPMS PARA A GESTO POR PROCESSOS: UMA ANLISE CRTICA

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia.

    So Paulo 2011

  • ANDR RAMOS CARRARA

    IMPLANTAO DE SISTEMA BPMS PARA A GESTO POR PROCESSOS: UMA ANLISE CRTICA

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia. rea de Concentrao: Engenharia de Produo

    Orientador: Professor Livre Docente Marcelo Schneck de Paula Pessa

    So Paulo 2011

  • Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, sob responsabilidade nica do autor e com a anuncia de seu orientador. So Paulo, de junho de 2011. Assinatura do autor________________________________ Assinatura do orientador____________________________

    FICHA CATALOGRFICA

    Carrara, Andr Ramos

    Implantao de sistema BPMS para a gesto por processos: uma anlise crtica / A.R. Carrara. -- ed.rev. -- So Paulo, 2011.

    182 p.

    Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia de Produo.

    1.Gesto por processos 2.Tecnologia da informao 3. Con-

    trole de processos 4.Qualidade do processo 5. Administrao de servios I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Produo II.t.

  • AGRADECIMENTOS

    CAPES, pelo apoio financeiro e operacional para o desenvolvimento do trabalho.

    Ao meu orientador e amigo Professor Livre Docente Marcelo Schneck de Paula

    Pessa, pelo apoio, orientao e pacincia, sempre presentes e extremamente teis

    para a elaborao do trabalho.

    Aos professores do Departamento de Engenharia de Produo, responsveis pelas

    disciplinas por mim cursadas, e aos funcionrios da Escola Politcnica relacionados

    a estas.

    Cris, ao Osni, e aos seus funcionrios pelo suporte e excelncia no trabalho por

    estes executados, alm da amizade construda ao longo do tempo.

    Ldia, secretria da ps-graduao e s secretrias da Fundao Carlos Alberto

    Vanzolini.

    Aos orientados de iniciao cientfica que participaram do projeto e muito

    contriburam para a execuo dos estudos de campo.

    A minha famlia, especialmente meus pais, Wilson e Helena, pelo carinho e

    educao, corresponsveis pelas minhas conquistas e com os quais as compartilho.

    A minha irm, Renata, pelo apoio e diverso em momentos de reviso do texto.

    A meus cunhados pelos diversos momentos de descontrao.

    Bruna, pelo apoio, auxlio em diversas revises de texto, amor e companhia. Que

    seja assim em nossa jornada.

  • Seus clientes menos satisfeitos so sua maior fonte de aprendizado.

    (Bill Gates)

  • RESUMO

    Sistemas BPMS surgiram com o objetivo de suportar o modus operandi da gesto

    por processos nas organizaes. Tais sistemas possuem diversas premissas que

    envolvem a grande interao de usurios de negcio na sua implantao e

    operao, amparadas por evolues tecnolgicas que permitem a reduo drstica

    de programao e integrao com sistemas legados, alm do fcil desenvolvimento

    de indicadores e alterao de regras de negcio. Existem poucos estudos que focam

    na implantao de sistemas BPMS e avaliao de tais fatores. Esta dissertao

    buscou atravs da realizao de levantamento bibliogrfico e da conduo de

    pesquisa de campo ampliar o conhecimento acerca do tema. A implantao de um

    sistema BPMS foi realizada atravs da aplicao de uma pesquisa-ao, o que

    permitiu a interao e avaliao do tema frente a pontos considerados pela

    literatura, assim como a descoberta de possveis fatores a serem considerados. Os

    resultados obtidos revelam que as proposies no se confirmaram totalmente, o

    que aponta para um possvel distanciamento entre a teoria e a prtica. Da mesma

    forma aponta uma tendncia da reduo de programao e maior envolvimento de

    usurios de negcio na implantao e operao de tais sistemas.

    Palavras-Chave: BPMS. Gesto por Processos. Implantao de Sistemas. Software.

    Engenharia de Software.

  • ABSTRACT

    BPMS systems have emerged with the goal of supporting the modus operandi of

    business process management in organizations. Such systems have many

    assumptions that involve higher interaction of business in its deployment and

    operation, supported by technological evolutions that allow drastic reduction of

    programming and integration with legacy systems, beyond the easy development of

    indicators and changing business rules. There are few studies that focus on BPMS

    deployment and evaluation of these factors. This dissertation searched through

    bibliography and the conduction of a field research to extend the knowledge about

    the subject. The deployment of a BPMS system was carried out by applying

    research-action method, allowing interaction and evaluation of the theme according

    to points considered by literature, as well as the discovery of potential factors to

    consider. The results obtained reveal that the propositions were not fully confirmed,

    which points to a possible rift between theory and practice. Similarly, it points to a

    trend of programming reduction and greater involvement of business users in

    deployment and operation of such systems.

    Keywords: BPMS. Business Process Management. Systems Implementation.

    Software. Software Engineering.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Previso da expanso mundial de sistemas BPMS em $ bilhes

    (fonte: IDC, 2007). ...................................................................................................21

    Figura 2. Evoluo dos conceitos at o surgimento do BPMS. ...............................25

    Figura 3. Processos de Negcio do ponto de vista sistmico (adaptado de:

    Baldam et al., 2007). ...............................................................................................34

    Figura 4. Viso departamental x viso por processos (adaptado de:

    MALAMUT, 2005). ...................................................................................................38

    Figura 5 - Hierarquia de Processos em uma Organizao (Adaptado de:

    SCHMIDT, 2003). ....................................................................................................42

    Figura 6. Ciclo de BPM (fonte: BALDAM et al, 2007). .............................................47

    Figura 7. Estrutura genrica para implantao de BPM (fonte: CRUZ, 2008). ........48

    Figura 8. Ciclo de vida BPM (fonte: CRUZ, 2008). ..................................................49

    Figura 9. Ciclo PDCA x ciclo BPM (fonte: Oliveira e OLIVEIRA; NETO, 2009). ......49

    Figura 10 - Variveis para construo de indicadores (adaptado de: Greaver,

    1999). ......................................................................................................................55

    Figura 11. Exemplo de processo privado (interno). .................................................61

    Figura 12. Exemplo de processo abstrato (pblico). ...............................................62

    Figura 13. Exemplo de processo colaborativo (global). ...........................................62

    Figura 14. Integrao de Pessoas e Sistemas Atravs de Sistemas BPMS

    (Adaptado de: CHANG, 2006). ................................................................................70

    Figura 15. Corretor de Mensagens Com Adaptadores Centralizados e

    Distribudos (Adaptado de: CHANG, 2006). ............................................................73

    Figura 16. Arquitetura ESB Simplificada (Adaptado de: CHANG, 2006). ................74

    Figura 17. Componentes de um Desenhador de Processos de Negcios

    Centrado em Processos (Adaptado de: CHANG, 2006). ........................................74

    Figura 18. Classificao de solues BPM (adaptado de: CRUZ, 2008). ...............76

    Figura 19. Modelo genrico de software BPMS (Fonte: CRUZ, 2008). ...................76

    Figura 20. Modelo genrico de arquitetura de BPMS (Fonte: Cruz, 2008). .............77

    Figura 21. Tecnologias existentes em um BPMS (Fonte: CRUZ, 2008). ................78

  • Figura 22. Framework de deciso sobre automao de processos (fonte:

    KHAN, 2004). ..........................................................................................................85

    Figura 23. Modelo genrico de implantao BPM (fonte: CRUZ, 2008). .................85

    Figura 24. Mtodo de Implantao de BPMS (fonte: CHANG, 2006). .....................87

    Figura 25. Ciclo de vida de um sistema BPMS (fonte: CRUZ, 2008). .....................88

    Figura 26. Fases da pesquisa ao (adaptado de COUGHLAN e COGHLAN,

    2002). ......................................................................................................................97

    Figura 27. Justificativas da escolha da pesquisa-ao ...........................................98

    Figura 28. Modelo conceitual adotado para a organizao de proposies e

    pontos de anlise ....................................................................................................100

    Figura 29. Modelo de Pesquisa (Macrofluxo). .........................................................101

    Figura 30. Interao entre as equipes no projeto estudado no estudo de caso. .....119

    Figura 31. Macro atividades executadas. ................................................................120

    Figura 32. Organograma da Instituio Escolhida. ..................................................130

    Figura 33. Enquadramento do processo de plugues no framework de deciso

    de automao. .........................................................................................................134

    Figura 34. Enquadramento do processo de ensaio de equipamento

    eletromdico no framework de deciso de automao. ..........................................142

    Figura 35. Exemplo: Processo de Alvar de Funcionamento. .................................171

    Figura 36. Exemplo: Processo principal implantado no sistema BPMS. .................173

    Figura 37. Exemplo: Processo implantado como servio no sistema BPMS. ........174

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Mudanas implantadas pelas empresas no Brasil (continua). .................18

    Tabela 2. Tempos mdios dos processos antes e depois da execuo do

    projeto. ....................................................................................................................123

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Comparao das iniciativas base da gesto por processos. ..................35

    Quadro 2. Caractersticas das organizaes por funes e por processos. ...........39

    Quadro 3. Caractersticas de organizaes centradas x no centradas em

    processos. ...............................................................................................................40

    Quadro 4. Classificao de Processos (continua). ..................................................42

    Quadro 5. Sute de mtodos IDEF. .........................................................................58

    Quadro 6. Padres atrelados a sistemas BPMS (continua). ...................................81

    Quadro 7. Proposies de pesquisa (continua). ......................................................103

    Quadro 8. Padronizao da apresentao dos pontos de anlise. .........................108

    Quadro 9. Pontos de anlise da pesquisa (continua). .............................................109

    Quadro 10. Avaliao do ponto de anlise PA 01 no estudo de caso. ....................115

    Quadro 11. Avaliao do ponto de anlise PA 02 no estudo de caso. ....................116

    Quadro 12. Avaliao do ponto de anlise PA 03 no estudo de caso. ....................116

    Quadro 13. Avaliao do ponto de anlise PA 04 no estudo de caso. ....................117

    Quadro 14. Avaliao do ponto de anlise PA 05 no estudo de caso. ....................118

    Quadro 15. Avaliao do ponto de anlise PA 06 no estudo de caso. ....................120

    Quadro 16. Avaliao do ponto de anlise PA 07 no estudo de caso. ....................121

    Quadro 17. Avaliao do atendimento s proposies ...........................................124

    Quadro 18. Pontos de anlise adicionados para conduo da pesquisa-ao. ......125

    Quadro 19. Aes Propostas para o primeiro ciclo de pesquisa-ao. ...................128

    Quadro 20. Perfis e papis dos atores diretamente envolvidos na implantao. ....131

    Quadro 21. Seleo de sistema BPMS para o projeto (continua). ..........................132

    Quadro 22. Aes Propostas para o segundo ciclo de pesquisa-ao. ..................141

    Quadro 23. Reviso das proposies de pesquisa .................................................149

    Quadro 24. Reviso dos objetivos da pesquisa ......................................................158

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    API Application Program Interface

    APQC American Productivity and Quality Control

    B2B Business to Business

    BAM Business Activity Monitoring

    BPEL Business Process Execution Language

    BPEL4WS Business Process Execution Language for Web Services

    BPM Business Process Management

    BPMI Business Process Management Initiative

    BPMN Business Process Modeling Notation

    BPMS Business Process Management System

    BPR Business Process Reengineering

    CMMI Capability Maturity Model Integration

    CRM Customer Relationship Management

    CSCW Computer-Supported Cooperative Work

    EAI Enterprise Application Integration

    ECM Enterprise Content Management

    EDI Electronic Data Interchange

    EPC Event-Driven Process Chain

    ERP Enterprise Resource Planning

    ESB Enterprise Service Bus

    GED Gerenciamento Eletrnico de Documentos

    ICOM Input, Control, Output, Mechanism

    IDEF Integration DEFinition

    ISO International Organization for Standardization

    NWG Notation Working Group

    O&M Organizao e Mtodos

    OMG Object Management Group

    PCF Process Classification Framework

    PCP Planejamento e Controle de Produo

    PDCA Plan Do Check Act

  • RH Recursos Humanos

    SAAS Software as a Service

    SCM Supply Chain Management

    SOA Services Oriented Architecture

    SIPOC Suppliers, Inputs, Process, Outputs, Customers

    SOAP Simple Object Access Protocol

    SRML Simulation Reference Markup Language

    UML Unified Modeling Language

    UDDI Universal Description, Discovery, and Integration

    WSDL Web Services Description Language

    XML eXtensible Markup Language

    XPDL XML Process Definition Language

    TI Tecnologia da Informao

    TQC Total Quality Control

    TQM Total Quality Management

  • SUMRIO

    CAPTULO 1 O PROBLEMA DE PESQUISA ......................................17

    1.1 INTRODUO ................................................................................................. 17

    1.2 MOTIVAO ................................................................................................... 19

    1.3 ESCOPO DO TRABALHO ............................................................................... 22

    1.4 QUESTO BSICA E OBJETIVOS ................................................................. 22

    1.5 ORGANIZAO DO DOCUMENTO ................................................................ 23

    2. REVISO DA LITERATURA ..............................................................25

    2.1 GESTO POR PROCESSOS ......................................................................... 25

    2.1.1 Primrdios ............................................................................................... 25

    2.1.2 Conceitos ................................................................................................. 31

    2.1.3 Modelos de Implantao e Ciclo de Vida do BPM ................................ 43

    2.1.4 Indicadores .............................................................................................. 53

    2.1.5 Gesto de mudana ................................................................................ 54

    2.2 NOTAES PARA A GESTO POR PROCESSOS ...................................... 57

    2.2.1 UML .......................................................................................................... 57

    2.2.2 IDEF .......................................................................................................... 58

    2.2.3 EPC ........................................................................................................... 59

    2.2.4 BPMN ........................................................................................................ 60

    2.3 SISTEMAS BPMS ............................................................................................ 63

    2.3.1 Finalidade do BPMS ................................................................................ 63

    2.3.2 Definio e Caractersticas do BPMS .................................................... 64

    2.3.3 Origem e Evoluo do BPMS ................................................................. 68

    2.3.4 Tipos de BPMS ........................................................................................ 71

    2.3.5 Composio e Elementos de um BPMS ................................................ 72

    2.3.6 SOA e Integrao de Servios a Processos ......................................... 77

    2.3.7 Padres que envolvem BPMS ................................................................ 81

    2.3.8 Seleo de BPMS .................................................................................... 82

    2.3.9 Modelos de Implantao e Ciclo de Vida para BPMS .......................... 83

    2.4 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................. 89

    3. METODOLOGIA E ESTRUTURAO DA PESQUISA ......................90

  • 3.1 INTRODUO ................................................................................................. 90

    3.2 CARACTERIZAO DA PESQUISA ............................................................... 93

    3.3 REVISO SOBRE OS MTODOS DE PESQUISA ADOTADOS .................... 94

    3.4 MODELO DE PESQUISA ................................................................................ 99

    3.4.1 Fase 1 Posicionamento Terico........................................................ 103

    3.4.2 Fase 2 Estruturao da Pesquisa ..................................................... 107

    3.4.3 Fases subsequentes ............................................................................. 111

    4. APLICAO DA PESQUISA ............................................................ 112

    4.1 ESTUDO DE CASO DE UMA IMPLANTAO ............................................. 112

    4.1.1 Introduo ao estudo de caso ............................................................. 112

    4.1.2 Tempo dedicado ao estudo de caso .................................................... 113

    4.1.3 Descrio dos pontos de anlise do estudo de caso ........................ 114

    4.1.4 Avaliao do caso aps um ano de uso ............................................. 122

    4.1.5 Avaliao do atendimento s proposies ......................................... 124

    4.2 EXECUO DA PESQUISA-AO .............................................................. 125

    4.2.1 Instituio Selecionada ........................................................................ 126

    4.1.2 Tempo dedicado pesquisa-ao ....................................................... 127

    4.2.2 Planejamento das Aes para o Primeiro Ciclo ................................. 128

    4.2.3 Aplicao da Ao A 01: Identificao dos atores do projeto ....... 129

    4.2.4 Aplicao da Ao A 02: Seleo do sistema ................................. 132

    4.2.5 Aplicao da Ao A 03: Seleo do processo ............................... 133

    4.2.6 Aplicao da Ao A 04: Mapeamento do processo ....................... 135

    4.2.7 Aplicao da Ao A 05: Implantao do processo no sistema .... 137

    4.2.8 Aplicao da Ao A 06: Realizao de integraes ...................... 138

    4.2.9 Aplicao da Ao A 07: Validao do prottipo ............................ 140

    4.2.10 Planejamento das Aes para o Segundo Ciclo .............................. 140

    4.2.11 Aplicao da Ao A 08: Seleo do processo ............................. 141

    4.2.12 Aplicao da Ao A 09: Mapeamento e implantao do processo

    no sistema ...................................................................................................... 143

    4.2.13 Aplicao da Ao A 10: Realizao de integraes .................... 144

    4.2.14 Aplicao da Ao A 11: Apresentao do processo ................... 146

    5. DISCUSSO E CONCLUSES ....................................................... 148

    5.1 REVISO DAS PROPOSIES DE PESQUISA .......................................... 148

  • 5.2 LIMITAES DO TRABALHO DE PESQUISA E EXTENSO DOS

    RESULTADOS .................................................................................................... 157

    5.3 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................... 158

    5.4 TRABALHOS FUTUROS ............................................................................... 159

    REFERNCIAS .................................................................................... 161

    APNDICE A EXEMPLO DE PROCESSO DE NEGCIO MAPEADO

    UTILIZANDO A NOTAO BPMN PROCESSO DE ALVAR DE

    FUNCIONAMENTO .............................................................................. 171

    APNDICE B EXEMPLO DE PROCESSO DE NEGCIO

    IMPLANTADO NO SISTEMA BPMS - ENSAIO LABORATORIAL ....... 173

    ANEXO A ELEMENTOS QUE COMPEM A NOTAO DE

    MODELAGEM DE PROCESSOS DE NEGCIO (BPMN) ................... 176

    ANEXO B REGRAS DE USO DA NOTAO DE MODELAGEM DE

    PROCESSOS DE NEGCIO (BPMN) ................................................. 182

  • 17

    CAPTULO 1 O PROBLEMA DE PESQUISA

    Este captulo tem o objetivo de introduzir o tema ou problema de pesquisa abordado

    no trabalho, apresentando as motivaes e justificativas que levaram a realizao do

    mesmo, assim como o escopo do que se pretende apresentar no restante do

    documento.

    A questo bsica de pesquisa e o objetivo geral so apresentados seguidos de

    questes adicionais e objetivos especficos. Por fim apresentada a estrutura

    adotada para este documento.

    1.1 INTRODUO

    O interesse e a adoo da gesto por processos pelas empresas tm crescido nos

    ltimos anos. Parte desse interesse se explica por uma tendncia de orientao das

    empresas, iniciada nos anos 50, a no manter produtos ou servios inalterados por

    muito tempo. Tendncia esta reforada por volta da dcada de 80 (BURLTON,

    2001). Estabelece-se ento um cenrio competitivo e em constante mudana a fim

    de prover produtos e servios diferenciados e que atendam s crescentes

    expectativas dos clientes das organizaes. Em tal cenrio competitivo os casos de

    fuses e aquisies se tornam mais frequentes, onde a matriz tem necessidade em

    garantir governabilidade, alinhamento dos processos das empresas adquiridas, e

    enfim harmonizar todas as empresas em uma organizao nica (BALDAM et al.,

    2007).

    A gesto por processos permite a quebra do paradigma de estruturao funcional de

    uma organizao, onde cada departamento se limita a resolver os desafios e

    problemas empresariais dentro de suas fronteiras, faltando uma viso sistmica da

    empresa. A viso departamental limita a atuao dos departamentos de uma

    organizao e impede que os diversos departamentos trabalhem em conjunto para

    atingir objetivos e metas globais da organizao como um todo. A gesto por

    processos enfatiza a sequencia de atividades que so realizadas, cruzando

  • 18

    departamentos e nveis hierrquicos, at a sada dos servios e/ou bens para

    atender o cliente final (solicitante) ou clientes internos (BIAZZI, 2007). Trata-se,

    portanto, de uma quebra do paradigma da gesto funcional.

    Atualmente um novo patamar da gesto por processos foi estabelecido atravs da

    automao dos processos, o que se tornou possvel graas aos avanos realizados

    na rea de tecnologia da informao. A implantao de solues e ferramentas de

    workflow foram as primeiras a serem desenvolvidas para este fim e, posteriormente,

    ferramentas chamadas BPMS (Business Process Management System) surgiram

    com novas funcionalidades como simulao e monitoramento do processo

    gerenciado, alm do simples acompanhamento da trajetria de um processo.

    O objeto de estudo desta pesquisa a implantao de sistemas BPMS, os quais

    segundo Baldam et al. (2007) alavancam, ou viabilizam, a adoo da gesto por

    processos nas organizaes.

    Os grandes ganhos de desempenho relacionado quebra de paradigmas proposta

    pela reengenharia de processos estavam tambm associados a grandes riscos de

    insucesso dos projetos, o que frustrou os seguidores da reengenharia, tornando

    necessria a busca por uma forma menos abrupta de mudana. O incio do BPM (a

    gesto por processos no seu formato mais atual) ocorreu por volta das dcadas de

    70 e 80 devido constante busca de aperfeioamentos na qualidade de produtos,

    atravs de tcnicas relacionadas ao TQC (BALDAM et al. 2007).

    Monteiro (2004) analisa o cenrio brasileiro e identifica que a partir da dcada de 90

    as empresas aqui instaladas passaram por diversas transformaes que visaram

    melhoria da qualidade e ao aumento de sua competitividade. Segundo o autor, a

    principal causa para a busca por melhorias no pas somente a partir desta poca se

    deve abertura econmica, o que causou uma acirrada competio. O quadro

    abaixo apresenta as mudanas realizadas por empresas brasileiras no perodo aps

    a abertura econmica.

    Tabela 1. Mudanas implantadas pelas empresas no Brasil (continua).

    Mudanas Implantadas Indstria (%) Bancos (%)

    Reduo de nveis hierrquicos 81,69 54,55

    Organizao em unidades de negcios 60,56 54,55

    Programas de qualidade (ISO 9000, TQM) 78,87 27,27

    Implantao de clulas / times de trabalho 52,11 27,27

    Maior poder de deciso dos nveis operacionais 66,20 50,00

  • 19

    Tabela 1 Mudanas implantadas pelas empresas no Brasil (concluso).

    Mudanas Implantadas Indstria (%) Bancos (%)

    Automao / informatizao dos processos 80,28 90,91

    Reengenharia / melhoria de processos 66,20 45,45

    Outros 11,27 18,18

    Fonte: Gazeta Mercantil, 1994 apud Monteiro, 2003.

    As empresas brasileiras a partir de ento comearam a implantar mudanas

    significativas para aumentar sua produtividade principalmente pela eliminao de

    atividades que no agregam valor ao negcio, buscando a melhoria contnua dos

    seus processos (OLIVEIRA, 2006).

    1.2 MOTIVAO

    As organizaes possuem uma dinmica muito grande com relao a mudanas por

    processos de trabalho e estruturas organizacionais. Tal fato cria para a rea de TI

    um problema de fazer com que os sistemas de apoio operao consigam

    acompanhar essas mudanas na velocidade necessria. comum encontrar

    organizaes onde os usurios possuem sistemas paralelos para suprir

    necessidades especficas. Os sistemas BPMS tm como abordagem fazer com que

    o prprio usurio, atravs de uma notao compreensvel ao negcio, represente

    seus processos de trabalho e fluxos de informao. As ferramentas mais modernas

    permitem que tais representaes sejam padronizadas e concisas o suficiente para

    que, a partir dessa representao, seja gerado automaticamente um cdigo que

    implemente os processos. Dessa forma h uma agilidade muito maior no

    acompanhamento das mudanas na organizao, minimizando os problemas

    apresentados. No entanto, comum encontrar nos fornecedores de ferramentas de

    TI a divulgao de que estas solucionam os problemas sem, no entanto, evidenciar

    muitas dificuldades escondidas e no divulgadas. Esse descompasso entre o que

    ocorre na realidade e as reais possibilidades instigaram o desenvolvimento desta

    pesquisa.

    A motivao para este trabalho comeou em 2007, ano em que o autor participou de

    um projeto de melhoria de processos e implantao de um sistema BPMS em uma

  • 20

    Prefeitura. Foi realizado um trabalho de cunho acadmico de maneira a relatar

    melhorias nos processos de atendimento ao cidado em uma praa de atendimento

    de uma prefeitura (CARRARA, 2007). O projeto tcnico teve como resultados os

    mapas de processos sob a notao BPMN e documentos descritivos dos processos

    para implantao de sistema BPMS na referida prefeitura. Tais artefatos foram

    utilizados em conjunto com a equipe da organizao para realizao de

    treinamentos e desenvolvimento dos funcionrios para atuao sob a viso

    sistmica promovida pela gesto por processos.

    Considerando que tais implantaes ainda apresentam muitos problemas, tanto do

    ponto de vista tecnolgico como organizacional e de gesto, existe um interesse

    acadmico sobre esse tema, em especial para a Engenharia de Produo. Esse

    assunto envolve diversas reas como Qualidade, Tecnologia da Informao,

    Operaes e Logstica.

    O fato dos trabalhos terem sido desenvolvidos em instituies pblicas d maior

    relevncia aos mesmos, uma vez que de acordo com Monteiro (2004) a intensidade

    de trabalho em uma administrao pblica para a satisfao de um cliente alta.

    Desse modo a simplificao de processos permite uma execuo de servios

    pblicos com menores custos e maior agilidade, e mais, leva a uma melhora da

    qualidade percebida. Com base em tais argumentos, Monteiro (2004) diz existir uma

    urgncia em melhorar processos da administrao pblica e considera o uso de

    mtodos e sistemas BPMS como uma abordagem importante para superar tais

    desafios.

    Esta pesquisa pretende contribuir para:

    1. Conhecer melhor as motivaes que envolvem a adoo de sistemas BPMS;

    2. Identificar os fatores crticos que envolvem as atividades de implantao de

    sistemas BPMS;

    3. O conhecimento na rea de BPMS e BPM (Business Process Management)

    que tem despertado maior interesse tanto acadmico a partir de meados da

    dcada de 90, como na indstria de software, conforme relatado pelo IDC

    (2007).

    Segundo o IDC (2007) o mercado mundial de sistemas BPMS cresceu 80% em

    2006, atingindo a cifra de U$890 milhes, e prev um crescimento de 44% ao ano,

    nos prximos cinco anos, atingindo a cifra de U$5,5 bilhes em 2011. A Figura 1

    exibe a projeo da expanso.

  • 21

    Figura 1. Previso da expanso mundial de sistemas BPMS em $ bilhes (fonte: IDC, 2007).

    O prprio IDC (2007) cita que ferramentas de BPMS sero as plataformas

    escolhidas para desenvolvimento de aplicaes feitas sob medida, e indica alguns

    fatores responsveis pelo aquecimento deste mercado:

    1. A penetrao de sistemas BPMS ainda pequena e sua adoo por grandes

    corporaes encoraja novos compradores;

    2. Muitas implantaes de BPMS so feitas com escopo reduzido, geralmente

    um nico projeto, possibilitando uma expanso para incluir processos

    adicionais em ferramentas j instaladas;

    3. Os fornecedores de BPMS esto enriquecendo suas ferramentas,

    transformando-as em grandes sutes;

    4. O modelo de software como servio (SaaS Software as a Service) est

    apenas emergindo como um modelo de negcios no mercado e sua

    disseminao ajudar na adoo de sistemas BPMS no midmarket, pequenos

    negcios e arenas de B2B.

    Poucas pesquisas abordam uma anlise crtica das implantaes de sistemas

    BPMS. Existem trabalhos desenvolvidos quanto aos critrios de escolha de sistemas

    BPMS, mas poucos estudos abordam a implantao, seus fatores crticos de

    sucesso, a facilidade ou dificuldade do processo de implantao e como so

    auferidos os resultados e os impactos do uso da ferramenta.

  • 22

    1.3 ESCOPO DO TRABALHO

    A gesto por processos e a implantao de sistemas de informao (software) so

    temas muito abrangentes. Por essa razo, o trabalho limita-se fase de

    levantamento e modelagem de processos de negcio e sua implantao em um

    sistema BPMS.

    O trabalho possui grande foco no estudo da implantao de um sistema BPMS, e

    por essa razo a fase de seleo no ser abordada em profundidade.

    A pesquisa foi desenvolvida utilizando o mtodo estudo de caso, utilizado para o

    levantamento de algumas questes de pesquisa, e o mtodo pesquisa-ao onde foi

    conduzida a implantao de um sistema BPMS, ambos aplicados em instituies

    pblicas de mdio porte.

    1.4 QUESTO BSICA E OBJETIVOS

    O objeto de estudo ser a implantao de sistemas BPMS. Trata-se de um tema

    relativamente novo. Apesar de a reengenharia de processos e a gesto por

    processos serem temas mais antigos, a utilizao de ferramentas de TI para a

    gesto por processos algo relativamente novo, tendo incio com ferramentas de

    workflow. Atualmente a crescente adoo de sistemas BPMS s se tornou vivel

    pelo conjunto de tecnologias emergentes, sob a arquitetura orientada a servios

    (SOA Service Oriented Architecture), permitindo que as mesmas possuam

    caractersticas atraentes a sua adoo. Tal arquitetura permite a manuteno de

    sistemas existentes, que tero seus servios disponibilizados para consumo pelos

    processos implantados no sistema BPMS. Desse modo verifica-se a necessidade

    deste trabalho abordar os dois temas em conjunto: sistemas de informao para o

    suporte gesto por processos, e a gesto por processos propriamente dita.

    A questo bsica de pesquisa ficou definida da seguinte maneira: como realizada

    a implantao de um sistema BPMS?

    A crescente adoo de BPMS nas organizaes como constata a previso do IDC

    (2007), levanta pontos crticos da implantao de tais ferramentas, principalmente no

  • 23

    que concerne dificuldade de desenvolvimento e integrao com sistemas legados,

    uma vez que a fcil integrao com os mesmos e a ausncia de programao

    (elaborao de cdigo) para as adaptaes necessrias fazem parte dos

    argumentos apresentados pelos fornecedores de tais sistemas. O trabalho prope-

    se a analisar como so feitas tais implantaes.

    Tal anlise realizada de acordo com os objetivos delineados para este trabalho,

    listados abaixo:

    Objetivo Geral:

    o Analisar a implantao e o uso de sistema de gesto por processos em

    uma organizao.

    Objetivos Especficos:

    o Avaliar a facilidade de implantao, integrao e alterao de

    processos de negcio em um BPMS;

    o Analisar e avaliar o ciclo de implantao de um sistema BPMS;

    o Analisar e avaliar o envolvimento, papel e influncia dos participantes,

    tanto de negcio como de TI;

    o Avaliar e analisar o papel e comprometimento da alta administrao

    quanto aos motivos para adoo, alinhamento estratgico, apoio e

    recursos alocados.

    1.5 ORGANIZAO DO DOCUMENTO

    Este documento foi organizado da seguinte forma:

    O captulo 1 apresenta uma breve introduo ao tema e a motivao para realizao

    do trabalho de pesquisa, assim como seu escopo.

    O captulo 2 trata da reviso bibliogrfica. Este captulo contempla uma reviso da

    literatura nos seguintes temas: gesto por processos (abordando seus primrdios e

    conceitos com base nos autores mais relevantes); Uma seo dedicada s

    notaes, onde a notao BPMN o cerne da discusso; e sistemas BPMS (com

    apresentao de uma base tecnolgica para demonstrar como novas tecnologias

    atuam facilitando a implantao de sistemas BPMS, assim como os prprios

    sistemas BPMS).

  • 24

    O captulo 3 apresenta os conceitos metodolgicos utilizados neste trabalho,

    estrutura e modelo do mtodo de pesquisa.

    O captulo 4 trata da aplicao da pesquisa e coleta de resultados.

    O captulo 5 apresenta a discusso dos resultados, concluses e trabalhos futuros.

  • 25

    2. REVISO DA LITERATURA

    Neste captulo so apresentados os conceitos e temas pesquisados na literatura. O

    objetivo deste captulo embasar teoricamente o trabalho. O captulo est

    subdividido em trs partes: gesto por processos, notaes e sistemas BPMS.

    2.1 GESTO POR PROCESSOS

    Este sub-captulo apresenta a literatura pesquisada referente gesto por

    processos. So apresentados os primrdios e conceitos anteriores gesto por

    processos, com o intuito de inseri-la em uma linha do tempo. Em seguida so

    apresentados seus conceitos mais relevantes encontrados na literatura. Por fim so

    apresentados os modelos de ciclo de vida da gesto por processos.

    2.1.1 Primrdios

    A gesto por processos tem tomado grande importncia h algum tempo e base

    de muitas ferramentas gerenciais e da qualidade (normas ISO e o modelo CMMI so

    baseados em processos). possvel afirmar que a gesto por processos tomou o

    corpo que possui hoje atravs de sucessivas transformaes, conforme ilustrado na

    Figura 2.

    Figura 2. Evoluo dos conceitos at o surgimento do BPMS.

  • 26

    O interesse e a adoo da gesto por processos pelas empresas tm crescido nos

    ltimos anos. Parte do crescimento de seu interesse e sua adoo pelas

    organizaes se explica por uma tendncia de orientao a no manter produtos ou

    servios inalterados por muito tempo. Esse crescimento teve incio nos anos 50 e a

    tendncia foi reforada por volta da dcada de 80 (BURLTON, 2001), podendo ser

    embasada historicamente.

    A partir da crise do petrleo nos anos 70 e da queda do muro de Berlim, acentuou-se um cenrio de complexidade e instabilidade crescentes. Novos desafios competitivos pediam abordagens que superassem a orientao prescritiva dos modelos gerenciais anteriores e que explicassem e compreendessem o comportamento das variveis organizacionais. A Flexibilidade passou a ser um imperativo para lidar com a realidade contempornea nas organizaes. (VALLE E OLIVEIRA, 2009).

    O que move essa orientao rpida atualizao ou mutao das empresas se

    deve ao aumento da competitividade no mercado, por sua vez gerado pela

    crescente presso exercida pelos clientes (BALDAM et al., 2007). Nadler (1993)

    ressalta ainda outros fatores que contribuem busca de melhorias por parte das

    organizaes:

    Competio acirrada;

    Inovao tecnolgica acirrada;

    Excesso de ofertas em bases mundiais;

    Crescentes expectativas dos clientes.

    Monteiro (2004) analisa o cenrio brasileiro e identifica que a partir da dcada de 90

    as empresas aqui instaladas passaram por diversas transformaes que visaram

    melhoria da qualidade e ao aumento de sua competitividade. Segundo o autor, a

    principal causa para a busca por melhorias no pas somente a partir desta poca se

    deve abertura econmica, o que causou uma acirrada competio.

    As empresas brasileiras a partir de ento comearam a implantar mudanas

    significativas para aumentar sua produtividade, principalmente pela eliminao de

    atividades que no agregam valor, que no so essenciais organizao, e tambm

    pela melhoria contnua dos seus processos (OLIVEIRA, 2006).

    Estabelece-se ento um cenrio competitivo e em constante mudana a fim de

    prover produtos e servios diferenciados e que atendam s crescentes expectativas

    dos clientes das organizaes. Em tal cenrio competitivo os casos de fuses e

    aquisies se tornam mais frequentes. Nesses casos a matriz tem necessidade em

    garantir governabilidade, alinhamento dos processos das empresas adquiridas, e

  • 27

    harmonizar o conglomerado em uma organizao nica, o que suportado pela

    gesto por processos (BALDAM et al., 2007).

    Outra explicao para o interesse na gesto por processos o fato destes, de certa

    forma, armazenarem conhecimento a respeito da conduo (roteiro) dos trabalhos

    de uma organizao, o que seria o conhecimento explcito proposto por Nonaka e

    Toyama (2003) aplicado ao modus operandi da organizao. A gesto por

    processos possibilita ento uma forma eficiente de se ver como o trabalho

    realizado e possibilita a reestruturao deste, atravs de ciclos de melhoria contnua

    de processos, com vistas otimizao e incremento da eficincia e eficcia.

    O consenso na literatura que a gesto por processos, como tratada neste trabalho,

    possui suas razes na teoria sistmica (MONTEIRO, 2004; CHANG, 2006; BALDAM

    et al., 2007). Chang (2006) prope a evoluo a partir dos trabalhos de Adam Smith,

    com a proposta de diviso do trabalho, passando pelos trabalhos de Taylor, Fayol,

    Ford, Weber e nos diversos trabalhos de estudos de tempos e mtodos.

    Baldam et al. (2007) identificam quatro geraes de racionalizao do trabalho:

    1) Administrao cientfica e Teoria clssica da administrao, cujos principais

    autores so Taylor, Ford e Fayol;

    2) Escola de Relaes Humanas, cujo principal autor Elton Mayo. Os autores

    julgam ser esta uma segunda gerao de racionalizao do trabalho,

    complementar primeira;

    3) Modelo japons da qualidade, componente principal de uma gerao de

    racionalizaes embasadas por mtodos de base estatstica;

    4) Nova concepo do trabalho e de sua diviso. Esta nova gerao caracteriza-

    se pela subcontratao, informatizao e reduo do tamanho dos lotes.

    na quarta gerao de racionalizao do trabalho que se insere o tema da gesto

    por processos. A seguir sero apresentados brevemente os conceitos inerentes a

    algumas das geraes de racionalizao do trabalho apontadas.

    Taylor (1990) props quatro princpios da administrao cientfica:

    1) Trocar mtodos de trabalho dos operrios por mtodos baseados em estudos

    cientficos das tarefas;

    2) Cientificamente selecionar, treinar e desenvolver cada empregado, ao invs

    de deix-los treinarem a si mesmos;

    3) Cooperar com os trabalhadores para assegurar que os mtodos

    cientificamente desenvolvidos esto sendo seguidos;

  • 28

    4) Dividir o trabalho igualmente entre gerentes e trabalhadores, para que

    gerentes apliquem princpios da administrao cientfica no planejamento do

    trabalho e os operrios realmente executem as tarefas.

    Percebe-se forte enfoque em tirar do funcionrio a especializao das tarefas e na

    segmentao do trabalho em pequenas partes. Os conceitos apresentados por

    Taylor reforam a ideia de manuteno do conhecimento do modus operandi na

    organizao, mas pode tambm esbarrar em problemas de envolvimento ou

    identificao dos funcionrios.

    Ford aplicou os conceitos de Taylor com sucesso na fabricao do Ford T. Muitas

    crticas surgiram a respeito da falta de identificao do operrio com o produto

    fabricado por ele, e da repetio de tarefas curtas. No entanto, h benefcios da

    aplicao destes princpios, como a no dependncia de especialistas para

    determinadas tarefas, o que permite a continuidade do trabalho na organizao, j

    que h de certa forma, a guarda do conhecimento na organizao.

    Fayol (1989) prope cinco funes primrias de administrao:

    1. Planejamento;

    2. Organizao;

    3. Comando;

    4. Coordenao;

    5. Controle.

    No se pode tratar os princpios de Fayol e Taylor como concorrentes, uma vez que

    Taylor foca nas atividades executadas pelos operrios, e Fayol tem um escopo

    maior, o da organizao. Pode-se dizer que Taylor trata das cinco funes primrias

    de Fayol em um escopo reduzido, a fim de obter produtividade mxima dos

    operrios e dependncia mnima dos mesmos.

    Fayol (1989) tambm props 14 princpios da administrao:

    1. Especializao;

    2. Autoridade;

    3. Disciplina;

    4. Unidade de comando;

    5. Unidade de direo;

    6. Subordinao de interesses individuais;

    7. Remunerao;

    8. Centralizao;

  • 29

    9. Linha de autoridade;

    10. Ordem;

    11. Equidade;

    12. Estabilidade pessoal;

    13. Iniciativa;

    14. Harmonia.

    possvel concluir, desse modo, que os princpios apresentados por Taylor so

    focados nos aspectos produtivos e da otimizao da produo, enquanto os de

    Fayol focam mais em aspectos da organizao e na ordem na produo. O prprio

    escopo mais abrangente de Fayol se traduz pela quantidade maior de princpios

    apresentados em relao Taylor, visto que para este alguns princpios de Fayol

    no eram relevantes ao estudo de tempos e mtodos.

    Weber (1966) ficou conhecido como o pai da burocracia, conceito este que tem

    conotao distorcida atualmente. No entanto, os princpios propostos por Weber

    embasam fortemente a presena atual da gesto por processos. Os sete princpios

    governantes de uma organizao burocrtica, conforme proposto por Weber (1966)

    so:

    1) Negcio oficial conduzido de forma contnua;

    2) Negcio oficial conduzido com estrita concordncia das seguintes regras:

    a. O papel de cada oficial para certos tipos de servio delimitado em

    termos de critrios impessoais;

    b. O oficial tem autoridade necessria para executar suas funes

    designadas;

    c. Os meios de coero a seu dispor so estritamente limitadas e

    condies de seu uso estritamente definidas.

    3) Responsabilidades e autoridades de cada oficial parte de uma hierarquia

    vertical de autoridade, com direitos de superviso;

    4) Oficiais no possuem os recursos necessrios para execuo de seu

    trabalho, mas so responsveis pelos mesmos;

    5) Oficial e negcios e rendas privadas so estritamente separadas;

    6) Escritrios no podem ser apropriados por seus encarregados;

    7) Negcios oficiais so conduzidos por documentos escritos.

    Dessa forma possvel verificar a mutao, ou fuso, dos conceitos at a formao

    do que entendido pela gesto por processos como concebida atualmente.

  • 30

    Mudanas em rotinas de trabalho e transformaes em atividades, formulrios ou

    sistemas de informao so caractersticas da disciplina de organizao e mtodos

    que nas dcadas de 70 e 80 atingiu seu auge nas empresas, atravs dos

    departamentos prprios de Organizaes e Mtodos (O&M). No entanto, tais

    departamentos acabaram por se extinguir nas organizaes (CALDAS, 1999a;

    CALDAS, 1999b).

    Caldas (1999a; 1999b) analisou fatores possveis para a extino da rea de O&M e

    props trs hipteses:

    1) A criao de novos programas abrangentes de mudana (como a

    reengenharia);

    2) A terceirizao de atividades de O&M pelo uso de consultorias externas;

    3) O desenvolvimento da TI, que ou incorpora em software os processos de

    trabalho, ou automatiza grande parte do trabalho, ou, por fim, o aparecimento

    de novas ferramentas para gesto dos processos (BPMS).

    A evoluo passa por abordagens como o Just in time e TQM, na dcada de 80, e

    por fim, iniciativas de Downsizing, Smartsizing e Rightsizing nos incios de 90. Estes

    modelos foram os precursores da reengenharia de processos de negcio, cujo incio

    se deu em 1990 (MONTEIRO, 2004; CHANG, 2006).

    No final da dcada de 90 e incio do sculo XXI, a reengenharia de processos de

    negcio sofre diversas mudanas para surgir a gesto por processos de negcio, ou

    BPM.

    O incio do BPM ocorreu por volta das dcadas de 70 e 80 devido a constante busca

    de aperfeioamentos na qualidade de produtos, atravs de tcnicas relacionadas ao

    TQC (BALDAM et al. 2007).

    Normas de sistemas de gesto da qualidade tambm sofreram influncia da gesto

    por processos. Na primeira verso da ISO 9001, de 1987, existia a obrigatoriedade

    de elaborao de procedimentos, indicadores e demais itens que compem o

    sistema de gesto da qualidade. Entretanto, a verso 2000 foi a primeira a

    incorporar em sua estrutura o conceito de gesto por processos.

    Seguem algumas ferramentas relacionadas viso de processos que comearam a

    ser disseminadas na poca (BALDAM et al., 2007):

    Brainstorming;

    Diagramas de Pareto;

    Envolvimento do trabalhador para resoluo de problemas;

  • 31

    Declarao da misso da qualidade;

    Diagramas de causa e efeito;

    Controle Estatstico de Processos;

    Just in time.

    Chang (2006), em uma anlise do cenrio mais recente, indica a reengenharia de

    processos (BPR) impulsionada pelos sistemas ERP como os geradores dos

    conceitos da gesto por processos (BPM). Apesar de sistemas ERP conseguirem

    suprir os preceitos da reengenharia, estabelecendo novos processos que rompam os

    cenrios de gesto da empresa, os mesmos engessam os processos de forma que a

    mudana, ou ajuste, dos processos de negcio fique muito desgastante para a

    organizao, dada a necessidade de esforos de customizao.

    Atualmente o cenrio tal que a tecnologia existente e as demandas do negcio

    foram a diminuio da lacuna existente entre atores de tecnologia (ou TI) e de

    negcios. Os sistemas BPMS, impulsionando a adoo da gesto por processos,

    so propostos como ferramentas tecnolgicas para suprir tal demanda.

    Burlton (2001) um dos principais autores da nova abordagem que visa a alterao

    de processos de maneira mais gradual, evitando a mudana radical proposta pela

    reengenharia e, consequentemente, mitigando riscos de insucesso devido a

    resistncias ao projeto.

    O conceito chave do BPM (gesto dos processos de negcio), do ponto de vista da

    tecnologia da informao, a convergncia de tecnologias com as teorias da gesto

    por processos. Esta convergncia permite a organizao da empresa por processos

    chave definidos, mensurveis e que atravessam departamentos. (HAMMER,

    CHAMPY, 1995; CHANG, 2006).

    2.1.2 Conceitos

    Sero apresentados, nesta seo, os conceitos de Processo, Gesto por Processos

    e Aspectos Organizacionais relacionados.

  • 32

    2.1.2.1 Processo

    A definio de processo, de forma simples, a transformao, atravs de um

    conjunto de atividades, de entradas em sadas (produtos finais). Esta viso sempre

    foi facilmente demonstrada pela indstria manufatureira. Com a evoluo e

    fortalecimento do setor de servios, o mesmo conceito pode ser utilizado, com seu

    enfoque voltado para o cliente.

    Para Humphrey (2007), um processo um conjunto definido de passos para

    completar uma tarefa. Um processo definido deve ser escrito em detalhes suficientes

    para seu uso consistente e estes, por sua vez, auxiliam no planejamento e execuo

    de um trabalho.

    A norma ISO 9001 (ABNT, 2000) define processo como um conjunto de atividades

    inter-relacionadas ou interativas, que transformam entradas em sadas. J a OMG

    (2009) define um processo como um encadeamento de atividades executadas

    dentro de uma organizao com o objetivo de transformar entradas em sadas.

    Oliveira (2006) considera um processo como um conjunto de aes ordenadas e

    integradas para um fim produtivo especfico, ao final do qual sero gerados produtos

    e ou servios e ou informaes. Esta definio uma transio para aquela de

    processos de negcio, j que comea a tratar servios, e no somente produtos.

    A incluso de fatores relacionados a resultados tambm pode ser vista como uma

    transio da viso de processos para a indstria de servios. Assim, processo pode

    ser definido como um grupo de atividades realizadas em uma sequencia lgica com

    o objetivo de produzir um bem ou servio que tenha valor para um grupo especfico

    de clientes (HAMMER; CHAMPY, 1995). Verifica-se que esta definio incorpora os

    conceitos de valor e cliente.

    Os processos, como definidos com a viso da manufatura, evoluram agregando

    novas caractersticas, e passaram a ser chamados de processos de negcio.

    De uma perspectiva de negcios, um processo pode ser definido como um fluxo de

    atividades coordenadas e padronizadas, executadas por pessoas ou mquinas, e

    que pode atravessar, e muitas vezes o faz, fronteiras funcionais ou departamentais,

    com o intuito de atingir um objetivo de negcio que crie valor para clientes externos

    ou internos (CHANG, 2006).

  • 33

    No entanto, verifica-se que pela definio de Chang (2006) todo processo de

    negcio deve possuir etapas muito bem definidas. A definio de Burlton (2001)

    prefervel ao assumir que as etapas que compem um processo de negcio podem

    ser lgicas ou ilgicas. Entretanto, a vantagem de processos bem padronizados,

    segundo Chang (2006), a possibilidade de mensurao de seus atributos e

    resultados, possibilitando assim o clculo do valor que criam.

    Processos de Negcio possuem cinco elementos bsicos (LIN et al., 2002):

    1) Clientes;

    2) Conjunto de atividades;

    3) Valor criado aos clientes;

    4) Atores (humanos ou mquinas) que executam o conjunto de atividades;

    5) Uma ou mais unidades organizacionais envolvidas e que so responsveis

    por todo o processo.

    Smith e Fingar (2003) definem processo de negcio como o conjunto completo de

    atividades transacionais colaborativas e dinamicamente coordenadas que entregam

    valor para os clientes. Caracterizam tais processos como:

    Complexos e longos (tamanho e/ou durao);

    Dinmicos;

    Distribudos amplamente (executam, geralmente, mltiplas aplicaes em

    plataformas tecnolgicas diversas);

    Automatizveis: quando em busca de velocidade e confiabilidade;

    Dependentes da tecnologia;

    Dependentes de julgamento e apoio da inteligncia humana;

    Difceis de tornarem-se visveis: geralmente no so conscientes nem

    explcitos, necessitam de coordenao.

    A Figura 3 representa o conceito dos processos de negcios do ponto de vista

    sistmico.

    Agregando as caractersticas apresentadas at ento, neste trabalho ser adotado,

    como processo de negcio: um conjunto de atividades, que possui clientes, focadas

    na criao de valor e operadas por atores humanos ou no. So usualmente longos

    e complexos, com etapas que atravessam as unidades organizacionais responsveis

    pelo processo. Alm disso, dependem do julgamento e suporte da inteligncia

  • 34

    humana, mesmo que automatizveis (LIN et al., 2002; BURLTON, 2001, SMITH;

    FINGAR, 2003).

    Figura 3. Processos de Negcio do ponto de vista sistmico (adaptado de: Baldam et al., 2007).

    2.1.2.2 Gesto por Processos

    A gesto por processos pode ser considerada como uma evoluo de diversas

    iniciativas que em busca da qualidade trabalham os processos organizacionais.

    Dessa forma a gesto por processos torna-se uma abordagem gerencial (CHANG,

    2006).

    Algumas iniciativas que embasam a concepo da gesto por processos so TQM

    (gesto total da qualidade), seis sigma e BPR (reengenharia de processos). A

    gesto por processos herda caractersticas de cada, mas possui forte apelo s

    melhorias incrementais e voltadas s pessoas, propostas pelas iniciativas TQM e

    seis sigma. Na verdade, a reengenharia em si possui como forte crtica a melhoria

  • 35

    liderada por sistemas, alm de buscar melhorias radicais, o que impactou

    negativamente diversos projetos que adotaram esta iniciativa (CHANG, 2006).

    O Quadro 1 exibe comparativos entre as iniciativas base da gesto por processos e

    evidencia o alto risco associado s iniciativas da reengenharia. A gesto por

    processo possui risco menos elevado, justamente por adotar um nvel de mudana

    incremental, definir o papel da TI como habilitadora chave, e se focar no

    envolvimento das pessoas para a conduo do trabalho.

    Para Netto (2006), gesto por processos pode ser definida como:

    ... o enfoque sistmico de projetar e melhorar continuamente os processos organizacionais, por pessoas potencializadas e trabalhando em equipe, combinando capacidades tecnolgicas emergentes e sob uma postura filosfica para a qualidade, objetivando a entrega de valor ao cliente.

    A definio dada por Schmidt (2003) para a gesto por processos :

    enfoque administrativo aplicado por uma organizao que busca a otimizao e melhoria da cadeia de processos, desenvolvida para atender necessidades e expectativas das partes interessadas, assegurando o melhor desempenho possvel do sistema integrado a partir da mnima utilizao de recursos e do mximo ndice de acerto.

    Quadro 1. Comparao das iniciativas base da gesto por processos.

    Reengenharia radical

    Reengenharia revisionista

    TQM Seis Sigma

    Nvel de mudana

    Radical Pequenos passos Incremental Incremental

    Escopo Organizao Processos Processos Processo nico

    Foco Comear do zero Redesenho de processo atual

    Redesenho de processo atual

    Melhoria de processo atual

    Participao Top-down Top-down / Bottom-up

    Bottom-up Bottom-up

    Papel da TI Habilitador essencial

    Habilitador primrio

    Habilitador chave

    Habilitador chave

    Outros habilitadores

    Donos de processos

    Donos de processos

    Ferramentas estatsticas

    Ferramentas estatsticas

    Risco Alto Moderado Moderado Moderado

    Objetivo primrio

    Reduo de custos

    Reduo de custos

    Melhoria da qualidade

    Melhoria da qualidade

    Fonte: CHANG, 2006.

    Para Chang (2006) a gesto por processos uma abordagem sistmica e

    estruturada para anlise, melhoria, controle e gesto dos processos com o foco de

    melhorar a qualidade de suas sadas, produtos e servios. Dessa forma, a gesto

  • 36

    por processos pode ser definida como o mtodo pelo qual a organizao executa

    seu programa de qualidade.

    Cruz (2008) apresenta a seguinte definio para a gesto por processos:

    ... conjunto formado por metodologias e tecnologias cujo objetivo possibilitar que processos de negcio integrem, lgica e cronologicamente, clientes, fornecedores, parceiros, influenciadores, funcionrios e todo e qualquer elemento com que eles possam, queiram ou tenham que interagir, dando organizao viso completa e essencialmente integrada do ambiente interno e externo das suas operaes e das atuaes de cada participante em todos os processos de negcio.

    Os objetivos da gesto por processos, segundo Netto (2006) so:

    Aumentar valor do produto ou do servio na percepo do cliente;

    Melhorar a competitividade;

    Atuar segundo a estratgia competitiva mais relevante para a organizao;

    Aumentar a produtividade com eficincia e eficcia;

    Simplificar processos, removendo tarefas que no agregam valor ao cliente.

    Quando da adoo da gesto por processos deve-se considerar o atendimento a

    alguns princpios importantes (NETTO, 2006):

    Organizar processos em funo das sadas e no das tarefas;

    Permitir que o usurio das sadas execute o processo;

    Processar a informao juntamente com sua produo;

    Recursos dispersos geograficamente devem ser tratados como centralizados;

    Atividades paralelas devem ser interligadas, ao invs de apenas integrar os

    resultados destas;

    Obter informao uma nica vez;

    Dar o enfoque sistmico aos processos;

    Criar responsveis pelos processos.

    Apesar de existirem muitos pontos positivos em relao gesto por processos,

    no se pode deixar de citar os pontos negativos e riscos de sua adoo (NETTO,

    2006).

    So pontos negativos:

    Aumento de conflitos internos j que praticamente todas as estruturas por

    processos implicam em estruturas matriciais;

    Maiores esforos de coordenao em organizaes matriciais podem

    acarretar em maiores custos de gerenciamento;

  • 37

    Gestores tentam limitar a necessidade de adotar uma abordagem ampla por

    processos ao:

    o Acreditar que fator custo seja nico critrio competitivo relevante;

    o Reduzir gesto por processos aos mais operacionais;

    o Reduzir a abordagem aos processos chave;

    o Confinar a abordagem a grandes reas para que poucos participantes

    tenham viso do todo.

    Os riscos inerentes adoo so:

    No haver mudana na gesto (apenas a identificao de processos no

    suficiente para melhoria);

    Problemas de integrao;

    Falta de trabalhadores capacitados;

    Aumento da insegurana dos trabalhadores. Portanto devem ocorrer

    alteraes em polticas e prticas de RH, paralelamente adoo de gesto

    por processos;

    Trabalhar em processos que deveriam ser eliminados acarretando em

    desperdcio de esforos e recursos;

    Falta de direcionamento como consequncia da no obteno do apoio da

    alta administrao.

    Neste trabalho ser adotada a definio de Cruz (2008) para a gesto por

    processos:

    ... conjunto formado por metodologias e tecnologias cujo objetivo possibilitar que processos de negcio integrem, lgica e cronologicamente, clientes, fornecedores, parceiros, influenciadores, funcionrios e todo e qualquer elemento com que eles possam, queiram ou tenham que interagir, dando organizao viso completa e essencialmente integrada do ambiente interno e externo das suas operaes e das atuaes de cada participante em todos os processos de negcio.

    2.1.2.3 Aspectos Organizacionais

    Verifica-se que processos de negcio possuem como caracterstica marcante a

    travessia por toda a organizao, promovendo assim uma viso sistmica do

    trabalho. Existe na literatura extensa discusso sobre a estrutura organizacional

  • 38

    adotada, uma vez que a adoo da gesto por processos fora uma transformao

    da estrutura, tornando-se, de certa forma, matricial.

    Hammer e Champy (1995) chegam ao extremo de afirmar que a estrutura funcional

    , na verdade, uma barreira ao aperfeioamento do desempenho dos processos de

    negcio, isso porque os sistemas de informao pertencem s unidades

    organizacionais e no organizao como um todo, o que pode gerar retrabalho.

    Valle e Costa (2009) iniciam esta discusso com a ideia da macro viso

    organizacional atravs da cadeia de valor. A proposta visualizar a organizao

    como uma rede, o que permite diminuir a nitidez dos limites organizacionais e

    aumentar a permeabilidade do conceito de estratgia em toda a organizao. Ou

    seja, a viso atravs da cadeia de valor permite que sejam enfraquecidas as

    barreiras interdepartamentais, possibilitando assim a relao integrada de processos

    que podem levar a organizao a uma posio competitiva superior.

    A visualizao da organizao a partir de seus processos significa focar mais na

    ao (atividade de trabalho) do que na estrutura (VALLE; COSTA, 2009).

    Chang (2006) faz um paralelo entre a organizao estruturada funcionalmente e

    aquela estruturada por processos, e chega concluso de que a soluo ideal a

    adoo da estrutura matricial, formada pela interposio das duas estruturas. O

    Quadro 2 apresenta uma comparao entre as estruturas funcional e por processos.

    A Figura 4 representa graficamente a divergncia entre as vises funcional e por

    processos.

    Pela figura fica clara a afirmao de Baldam et al. (2007) de que a viso por

    processo procura entender o que precisa ser feito e como faz-lo.

    Figura 4. Viso departamental x viso por processos (adaptado de: MALAMUT, 2005).

  • 39

    Quadro 2. Caractersticas das organizaes por funes e por processos.

    Organizao por funes Organizao por

    processos

    Unidade de trabalho Departamento Time

    Principal papel Executivo funcional Dono do processo

    Benefcios Excelncia funcional

    Facilidade no balano de trabalho

    pela similaridade das habilidades

    dos funcionrios

    Clareza no direcionamento de como

    o trabalho deve ser executado

    Alto grau de resposta aos

    requisitos do mercado

    Comunicao e colaborao

    reforadas entre diferentes

    tarefas

    Mensurao de desempenho

    alinhada aos objetivos do

    processo

    Pontos fracos Barreiras comunicao entre

    diferentes funes

    Fraca cooperao entre funes

    afeta o cliente final

    Falta de foco ponta a ponta para

    aperfeioar o desempenho

    organizacional

    Duplicao de expertise

    funcional

    Inconsistncia de

    desempenho funcional entre

    processos

    Maior complexidade

    operacional

    Valor estratgico Suporta a estratgia de liderana

    em custos

    Suporta a estratgia de

    liderana em diferenciao

    Fonte: CHANG, 2006

    Textualmente o Quadro 2 e a Figura 4 podem ser descritas, de acordo com

    Gonalves (2000), da seguinte maneira:

    ... Os processos de negcio esto relacionados com o funcionamento da organizao e geralmente no respeitam os limites estabelecidos pelos organogramas. ... No se trata de uma estrutura matricial, embora existam relaes de dupla subordinao nas organizaes por processos. Muitas vezes, as mesmas pessoas participam de vrios processos simultaneamente. Na prtica, as reas funcionais e suas chefias no desaparecem quando a organizao se estrutura por processos. medida que os process owners (donos do processo) vo assumindo responsabilidade cada vez maior pelo projeto, pela estruturao e pelo funcionamento dos processos essenciais das empresas, os chefes das reas funcionais se focam cada vez mais no treinamento e na capacitao do seu pessoal.

    Fica evidente a no defesa da ideia de mudana radical, de uma estrutura para

    outra. A viso por processos pode sim levar a reestruturaes, mas no extino

  • 40

    da estrutura departamental e hierrquica que estamos habituados. Elas so vistas,

    portanto, como complementares. O que passa a ocorrer uma orientao da

    organizao aos seus processos. Baldam et al. (2007) ainda reforam esta ideia de

    no ruptura ao acreditarem que uma organizao gerida exclusivamente por

    processos no passa de uma ideia utpica e invivel. Valle e Costa (2009) ratificam

    a ideia ao afirmar que a gesto das empresas sempre ser matricial. O Quadro 3

    apresenta algumas das caractersticas de organizaes centradas e no centradas

    em processos, tais caractersticas podem ser interpretadas como a situao em que

    se encontra a organizao.

    Quadro 3. Caractersticas de organizaes centradas x no centradas em processos.

    Organizao centrada em processos Organizao no centrada em processos

    Entende que processos agregam significativo valor para a organizao e facilitam organizao atingir seus objetivos estratgicos.

    No est completamente convencida da contribuio que a viso e estudos de processos podem trazer para a organizao e para a estratgia.

    Incorpora o BPM como parte da prtica gerencial.

    Gerenciamento de processos no foco primrio.

    Envolve o BPM na estratgia. Apoia vrias iniciativas isoladas de BPM.

    Os executivos seniores possuem foco em processos, especialmente o presidente, pois os demais tendem a seguir o lder.

    Entende que processo importante pelos problemas que causa (qualidade, lista de reclamaes, etc.).

    Possui clara viso de seus processos e como se relacionam.

    Pode possuir cadeia de valor bem definida, lista de processos e subprocessos. Talvez at possua alguns processos modelados.

    A estrutura da organizao reflete seus processos.

    A estrutura da organizao reflete seus departamentos.

    Entende que podem surgir tenses entre os processos e departamentos e possui meios de sanar tais situaes.

    Pode tornar uma tenso em frustrao e criar mentalidade de punio.

    Possui um executivo snior destacado para rea de processos e integrao deles dentro da organizao.

    Funcionalidades baseadas em responsabilidade que no cruzam departamentos.

    Recompensas e prmios baseados em metas de processos.

    Recompensas e prmios baseados em metas de departamentos.

    Fonte: Jeston & Nelis, 2006 (adaptao nossa).

  • 41

    Processos devem possuir classificaes e priorizaes quando trabalhados sob a

    tica da gesto por processos. Iniciativas de gesto por processos podem focar

    inicialmente em determinados processos da organizao, seja por sua relevncia ao

    negcio, ou por possuir maior potencial de melhoria. Dessa forma uma empresa

    pode, num instante inicial, focar naqueles processos que tenham maior impacto ao

    cliente final como forma de incorporar a abordagem por processos em sua gesto.

    Schmidt (2003), na Figura 5, prope uma hierarquia de processos dentro da

    organizao, de acordo com a granularidade dos mesmos. Esta classificao

    permite determinar o grau de detalhe que se deseja ter do processo.

    J Scheer (2006) divide os diferentes processos das organizaes em trs

    categorias:

    1) Processos de governana: seriam aqueles localizados no alto nvel, ou seja,

    no nvel estratgico, tais como: conformidades, riscos, planejamento

    estratgico, modelagem de negcios, arquitetura empresarial;

    2) Processos de Gerenciamento (suporte e controle): so os processos

    pertencentes ao nvel ttico, cujas atividades so dirias e comuns de

    gerenciamento da organizao, como: financeiro, controladoria, informao,

    BPM, qualidade, RH, ativos. Para este tipo de processos que esto focadas

    as solues corporativas (ERP);

    3) Processos Operacionais: pertencem ao nvel operacional, so as atividades

    fim, tais como: CRM, logstica, desenvolvimento de produto, PCP,

    suprimentos, estoques.

    ainda possvel qualificar os processos. Oliveira (2009) prope trs qualificaes

    para estes:

    1) Processos primrios: tm relao com o cliente e impactam-no diretamente;

    2) Processos chave: apresentam alto custo para a organizao e alto impacto

    para clientes externos;

    3) Processos crticos: so os processos chave que esto diretamente alinhados

    com a estratgia.

    Koch (2001) classifica processos em quatro tipos:

    1. Ad-Hoc: etapas seguintes no definidas e ocorrem cada vez de um modo

    (exemplo: emergncias em hospitais);

  • 42

    2. Administrativo: repetitivo com etapas com baixo valor (exemplo: reembolso de

    despesas);

    3. Produo: operaes repetitivas com alto valor (exemplo: transaes

    financeiras que exigem controle rigoroso);

    4. Colaborativo: Pouca repetitividade e alto valor (exemplo: projetos em geral).

    Figura 5 - Hierarquia de Processos em uma Organizao (Adaptado de: SCHMIDT, 2003).

    A classificao pode ser compreendida tambm de acordo com as caractersticas

    dos processos, segundo o Quadro 4.

    Quadro 4. Classificao de Processos (continua).

    Caractersticas

    do Processo Exemplo Requisitos

    Intensivo em

    Sistema

    Pedidos

    Processamentos

    automatizados

    Ferramentas de integrao

    Gesto da transao

    Gesto do perfil de parceiros

  • 43

    Quadro 4. Classificao de Processos (concluso).

    Caractersticas

    do Processo Exemplo Requisitos

    Intensivo em

    Pessoas

    Processamento de

    reclamaes

    Employee on-boarding

    Portal com lista de tarefas / fluxos

    Interface Homem-Mquina

    Gesto organizacional

    Gesto de formulrios

    Intensivo em

    Deciso

    Underwriting

    Solicitao de emprstimos

    Engine com regras de negcio

    Intensivo em

    Documento

    Gesto de contratos

    Contas a pagar

    Resoluo de conflitos de

    reclamaes

    Gesto integrada de documentos

    Fonte: Koch, 2001.

    Os processos tambm podem ser classificados por rea e finalidade. Este tipo de

    classificao, ou organizao, permite que as organizaes faam benchmarking

    entre si. Para tanto devem ser utilizados padres de referencia, como o PCF

    (process classification framework) da APQC (American Productivity and Quality

    Control) (OLIVEIRA, 2009).

    Fica evidente, portanto, que a literatura sugere e prope formas de organizar

    processos. Esta organizao permite a priorizao dos processos, passo

    fundamental para obteno de foco em trabalhos de melhorias de processos.

    2.1.3 Modelos de Implantao e Ciclo de Vida do BPM

    A gesto por processos , na verdade, um amadurecimento das diversas iniciativas

    lanadas com o objetivo de alcanar melhorias operacionais nas organizaes. O

    estudo conduzido por Palmer (2007) com 72 empresas que investiram em BPM

    indica resultados financeiros positivos. Todas as empresas obtiveram taxas de

    retorno sobre investimento que excederam os 10%, sendo que a taxa mdia foi 30%.

  • 44

    No continuum da evoluo do BPM Smith e Fingar (2003) afirmam que a habilidade

    da organizao em mudar o processo torna-se mais importante do que aquela para

    cri-lo, visto que a mudana gera condies para que toda a cadeia de valor seja

    monitorada, melhorada e otimizada de maneira contnua. Esta habilidade da

    organizao o que a leva a moldar seus processos para o atendimento a

    demandas internas ou externas e que corroboram para uma melhor eficincia e/ou

    diferenciao.

    No entanto esta habilidade organizacional deve ser suportada com um mtodo. Cruz

    (2008) indica essa necessidade ao sugerir a adoo de qualquer mtodo que seja

    para a conduo de projetos de BPM e BPMS. Tais mtodos so traduzidos em

    modelos de implantao que sero explorados mais a frente neste tpico.

    O uso dos princpios da gesto por processos (BPM) est em linha com os conceitos

    de processos de negcios e ainda arrasta a transparncia de execuo e

    gerenciamento (MONTEIRO, 2004). Sua implantao deve ser conduzida

    disciplinadamente e seguir os princpios a seguir (LEE; DALE, 1998; CHANG, 2006):

    Cobertura: deve compreender todos os princpios do BPM;

    Responsabilidade: A propriedade do processo (a quem pertence) deve ser

    clara e o dono deste deve ser o responsvel pelo monitoramento de seu

    desempenho e melhoria contnua;

    Documentao: documentao de processos deve ser padronizada para dar

    suporte aos participantes;

    Mensurao: indicadores bsicos so custo, qualidade e tempo. A

    mensurao de indicadores permite atuar preventivamente na reduo de

    erros e variaes e no aumento da produtividade;

    Inspeo: o dono do processo deve inspecion-lo para buscar a reduo de

    variaes;

    Melhoria contnua: processos de negcio devem ser melhorados

    continuadamente;

    TI como habilitadora: a tecnologia da informao um habilitador essencial

    para o BPM.

    So exigncias para a transformao organizacional por meio do BPM (SMITH e

    FINGAR, 2003; HARRINGTON, ESSELING e NIMWEGEN, 1997; DAVENPORT,

    1994; CHANG, 2006):

  • 45

    Adotar uma estrutura orientada a processos, mesmo que matricial;

    Alocar donos de processos;

    Obter comprometimento da alta gesto para direcionar o projeto;

    Adotar uma abordagem bottom-up para adquirir pontos de melhoria de

    processos;

    Alocar tecnologia da informao para monitorar, controlar, analisar e melhorar

    processos;

    Trabalhar todos os departamentos colaborativamente;

    Treinar continuamente os funcionrios para manter a melhoria continua dos

    processos;

    Alinhar remunerao a desempenho dos processos;

    Desenvolver meios de colocar os processos concebidos em prtica;

    Adotar mtodo sistemtico e confivel de anlise do impacto do processo de

    negcio e de introduo de inovaes;

    Adotar Modelos de execuo de processos que sejam alinhados estratgia

    organizacional, e que reflitam a complexidade das atividades dirias da

    organizao, facilitando a anlise, transformao e mobilizao de equipes;

    Gerenciar o portflio de processos de negcios voltados sempre para as

    necessidades atuais dos clientes;

    Ter habilidade para responder a alteraes no mercado e para combinar e

    customizar processos.

    Oliveira e Neto (2009) identificam uma convergncia da literatura em apontar o apoio

    da alta administrao e a considerao do BPM como um dos propsitos

    estratgicos, sob pena do comprometimento do sucesso e continuidade da iniciativa.

    Alm disso, Cruz (2008) identifica a dependncia do sucesso de um projeto de BPM

    na abordagem de fazer a organizao conhecer a si mesma por meio dos seus

    processos.

    Baldam (2009) identifica alguns dos modelos de gerenciamento de BPM:

    Modelo de Harrington, Esseling & Nimwegen (1997);

    Modelo de Burlton (2001);

    Modelo de Jost & Scheer (2002);

    Modelo de Smith & Fingar (2003);

    Modelo de Khan (2004);

  • 46

    Modelo de Muehlen & Ho (2005);

    Modelo de Havey (2006);

    Modelo de Schurter (2006);

    Modelo de Kirchmer (2006);

    Modelo de Jeston & Nelis (2006).

    A aplicao da gesto por processos prev dois momentos distintos (informao

    verbal) 1:

    1) Identificao, avaliao e seleo dos processos prioritrios;

    2) Aperfeioamento atravs de gerenciamento e melhoria contnua dos

    processos prioritrios.

    Para Burlton (2001), a renovao de processos deve ser baseada na aquisio de

    informaes, no entendimento destas para com o processo e na concepo de

    modelos inovadores de mudana de processos.

    Burlton (2001) ainda prope um modo de renovao de processos onde primeiro

    necessrio focar nos aspectos chave dos processos, aprendendo sobre os mesmos

    gradativamente, para posteriormente criar algo novo para o processo e revisar o

    trabalho feito para manter um ciclo de renovao.

    Burlton (2001) indica ser comum no incio a equipe chegar a uma proposta

    divergente daquela da organizao, pela falta de detalhes, mas com o tempo refin-

    la, este mtodo gradual essencial para que se chegue a resultados satisfatrios.

    Durante a modelagem de processos comum a descoberta de contradies sobre o

    modo de execuo destes. Tais contradies, chamadas conflitos de interface

    evidenciam a necessidade de se obter um consenso sobre o processo que ser

    implantado (OLIVEIRA e OLIVEIRA; NETO, 2009). Fica evidente, portanto, o papel

    dos atores do processo em tais trabalhos.

    A dependncia das pessoas em tais iniciativas evidenciada no trecho a seguir

    (BALDAM, 2009):

    difcil prever, simplesmente vendo um modelo esquematizado, se ele funcionar perfeitamente ou no. Isso porque as pessoas que o implantam ou o usam podem fazer toda a diferena.

    Baldam et al (2007) propem um ciclo de implantao de BPM composto por quatro

    macro-etapas:

    1 Notas de aula da disciplina Gesto da Qualidade de Produtos e Processos ministrada por Gregrio Bouer, So

    Paulo, 2006.

  • 47

    1) Planejamento do BPM;

    2) Modelagem e otimizao de processos;

    3) Execuo de processos;

    4) Controle e anlise de dados.

    A Figura 6 exibe graficamente o ciclo proposto pelos autores.

    Oliveira (2006) prope um mtodo simples para anlise e modelagem de processos,

    composto pelos seguintes passos:

    Identificar processos chave;

    Definir objetivos e metas a serem alcanados;

    Desenvolver plano de trabalho com objetivos, atividades, resultados de cada

    fase, prazos de entrega, equipe de trabalho;

    Obter aprovao, apoio e recursos da alta direo;

    Fazer anlises crticas periodicamente e dar feedback aos responsveis.

    Figura 6. Ciclo de BPM (fonte: BALDAM et al, 2007).

  • 48

    Em tal mtodo devem ser observados os seguintes pontos:

    No h necessidade de mapear todos os processos, nem todos os nveis de

    processos. Ou seja, deve-se organizar e priorizar os processos para manter

    um foco e obter resultados palpveis;

    Trabalhar um processo por vez.

    Cruz (2008) apresenta, na Figura 7, uma estrutura genrica para nortear o mtodo a

    ser utilizado em uma implantao BPM.

    Figura 7. Estrutura genrica para implantao de BPM (fonte: CRUZ, 2008).

    As quatro primeiras etapas deste mtodo genrico so regidas sob o ciclo de vida

    proposto na Figura 8, para a gesto do projeto como um todo o ciclo PDCA

    proposto.

    Percebe-se na literatura uma tendncia em associar o ciclo PDCA com o ciclo de

    vida da gesto do projeto de implantao, ou mesmo da gesto dos processos.

    Fazem parte da fase de aperfeioamento as seguintes etapas1:

    Atribuio da responsabilidade pelo processo;

    Enquadramento do processo;

    Identificao das necessidades dos clientes e definio dos indicadores de

    desempenho;

    Registro do fluxo do processo;

    Avaliao dos subprocessos;

    1 Notas de aula da disciplina Gesto da Qualidade de Produtos e Processos ministrada por Gregrio Bouer, So

    Paulo, 2006.

    Pessoas que executam papis funcionais

    Analistas de Processo

    Anlise inicial das

    necessidades (ou do

    problema)

    Documentao desenho e anlise do

    processo atual

    (as is)

    Anlise, redesenho,

    modelagem e criao do

    novo processo

    (to be)

    Implantao do

    novo processo

    Gerenciamento

    do Processo

    Ponto de controle

    Ponto de controle

    Ponto de controle

    Ponto de controle

    Tempo varivel Tempo cclico

  • 49

    Seleo dos subprocessos crticos e tipos de melhoria a perseguir;

    Desdobramento dos subprocessos crticos;

    Estabelecimento dos requisitos da qualidade e indicadores de desempenhos

    internos;

    Atuao para alcanar as melhorias;

    Comprovao das melhorias, padronizao e indicao de novas prioridades.

    Figura 8. Ciclo de vida BPM (fonte: CRUZ, 2008).

    Oliveira e Neto (2009) explicitam esta tendncia ao relacionarem o ciclo PDCA com

    o ciclo do processo de mapeamento conforme a Figura 9.

    Figura 9. Ciclo PDCA x ciclo BPM (fonte: Oliveira e OLIVEIRA; NETO, 2009).

    Documentao,

    desenho e anlise do

    processo atual:

    - Entrevistas

    - Reunies

    - Documentao

    Implantao do novo

    processo:

    - Treinamento

    - Implantao

    - Acompanhamento

    - Coleta de dados

    Anlise inicial das

    necessidades (ou do

    problema):

    - Anlise

    - Proposta

    - Palestras

    Anlise, redesenho,

    modelagem e criao

    do novo processo:

    - Entrevistas

    - Reunies

    - Criao

    Entendimento

    Aprendizado

    Documentao

    Melhoria

    Ciclo do Processo de Mapeamento

    Plan Do Check Act

  • 50

    Burlton (2001) define um framework para gesto por processos, organizado em

    fases.

    Contexto de negcios: estabelece um scorecard de medies para monitorar

    indicadores de desempenho de negcios;

    Arquitetura e alinhamento: processos de negcios so mapeados como uma

    arquitetura de processos, na qual ento feita uma referncia cruzada com

    outras arquiteturas mais amplas da organizao para outros ativos como

    infraestrutura, tecnologia e recursos humanos;

    Viso: os stakeholders do processo escolhido so identificados e sua

    necessidade deste processo documentada para definir os critrios de

    avaliao para posteriormente selecionar e desenvolver solues de melhor

    encaixe;

    Entendimento: descoberta de pontos fortes e fracos dos mtodos atuais de

    trabalho;

    Renovao: juntamente com a fase de entendimento so feitas pesquisas em

    outras organizaes que tiveram sucesso com mudanas de processo

    similares s vistas na organizao em questo;

    Desenvolvimento e Implantao: organizao constri ou adquire a

    capacidade reutilizvel necessria para funcionar no novo mundo de

    processos. Direcionamento necessrio relacionado ao processo, incluindo

    regras e procedimentos, criado;

    Melhoria Contnua e Educao: a organizao continua a executar a maioria

    das atividades que fez no projeto de renovao, mas em escala reduzida.

    Avalia regularmente o desempenho utilizando feedback de stakeholder e

    mtricas mais formais que agora fazem parte do scorecard.

    Rotondaro (2006) prope a seleo, anlise e melhoria do processo em trs etapas:

    Etapa 1:

    o Seleo de objetivos estratgicos de referncia (responsveis pelo

    estabelecimento dos resultados desejados para o negcio, como por

    exemplo: melhorar capacitao de RH, reduzir custos);

    o Seleo de fatores chave (variveis crticas de sucesso que permitem

    perseguir e realizar os objetivos estratgicos de referncia, como por

    exemplo: satisfao de clientes, logstica integrada);

  • 51

    o Seleo de processos relacionados aos fatores chave (Pelo uso de

    ferramentas de correlao, como a matriz de fatores-chave versus

    processos);

    o Seleo de processos prioritrios (com base na matriz anterior verifica-

    se o impacto no negcio, a qualidade e o desempenho).

    Etapa 2:

    o Atribuio de responsabilidade pelo processo (o coordenador ou dono

    do processo deve definir o escopo do processo, reas e setores

    envolvidos, principais produtos gerados e principais clientes);

    o Enquadramento do processo (identificar misso do processo e

    indicadores de desempenho);

    o Identificao de necessidades de clientes e definir indicadores de

    desempenho;

    o Registro do fluxo do processo (construo do fluxograma do processo).

    Etapa 3:

    o Mapeamento dos processos (o modelo proposto sugere a utilizao do

    SIPOC, fazendo os passos de determinao do propsito, anlise de

    sadas, dados de clientes, anlise de entradas e fornecedores, passos

    do processo);

    o Entendimento do processo (fluxograma);

    o Melhoria (verificando possibilidade de suprimir, comprimir ou executar

    paralelamente algumas atividades, dependendo da melhoria que se

    busca).

    Hedge (2007) indica que para a criao de uma soluo baseada em processos de

    negcios necessrio primeiro fazer o modelo do processo de negcio, para tanto

    sugere trs fases:

    1) Preparao: definir escopo e cliente do processo e identificar participantes;

    a. Definir o mais abrangente possvel para somente depois detalhar;

    b. Listar previamente os participantes para se ter certeza de quem

    entrevistar.

    2) Modelagem: definir evento de incio e sadas do processo, desenvolver

    diagramas e identificar excees;

    a. Inicialmente ignorar