curso de quenya - a mais bela lingua dos elfos

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Elvish Quenya course - Portuguese (BR)

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  • Curso de QuenyaA mais bela Lngua dos Elfos

  • Helge Kre Fauskanger

    Curso de QuenyaA mais bela Lngua dos Elfos

    TraduoGabriel O. Brum

    Arte & Letra2004

  • A Capa: na capa do livro est constelao de Valacirca, Foice dos Valar,sobre um cu de anoitecer. A Vala Varda, esposa de Manw e Rainha dosValar criou a Valacirca como um smbolo. Em nossos cus, a Valacirca fazparte da constelao de Ursa Maior (no visvel no hemisfrio sul).

    Dados de Catalogao

  • NDICE

    Prefcio Edio Brasileira 11por Fbio Bettega

    Introduo 13

    Lio Um 49Os sons do quenyaPronncia e acentuao

    Lio Dois 72SubstantivosPluralO artigo

    Lio Trs 81Nmero dualVariao de radical

    Lio Quatro 89Nmero dualVariao de radical

    Lio Cinco 101O Verbo: presente e concordncia em nmeroSujeito/objetoA forma superlativa de adjetivos

    Lio Seis 115Pretrito

    Lio Sete 127Futuro e Aoristo

    Lio Oito 139Tempo perfeitoDesinncias pronominais -n(y), -l(y), -s

    Lio Nove 155O infinitivoO verbo de negao

    Particpios ativos

  • Lio Dez 166AdvrbiosAs desinncias pronominais -nt e -tInfinitivos com pronomes oblquosO pretrito de verbos intransitivos em -yaParticpios passivos

    Lio Onze 186O conceito de casosO caso genitivo

    Lio Doze 200O caso possessivo-adjetivoSubstantivos verbais ou abstratos e como elesinteragem com os casos genitivo e possessivo

    Lio Treze 215O caso dativoO gerndioAs desinncias pronominais -lm, -lv e -mmUm pronome indefinido

    Lio Catorze 233Os casos alativo e ablativoEqu e auta: dois verbos peculiaresDesinncias pronominaispossessivas: -nya, -lya, -lva, -lma, -mma

    Lio Quinze 256A desinncia -rya e mais sobre desinnciaspronominais possessivasO caso locativoFrases relativasObscuridades da terceira pessoa

    Lio Dezesseis 276O caso instrumentalVerbos com uma vogal no enfatizada + -taO imperativoA frmula nai

    Lio Dezessete 292Os demonstrativos: sina, tan(y)a, enta e yana.Declinando a ltima palavra declinvel.Substantivos radicais U.Nmeros ordinais em -a.

  • Lio Dezoito 306Pronomes independentesVerbos impessoaisVerbos radicais UOs vrios usos de l

    Lio Dezenove 326Pronomes em expresses imperativasPronomes enfticosPalavras interrogativas: man, mana, manenPosposies

    Lio Vinte 340O obscuro verbo ser.Ma como uma possvel partcula interrogativa.Sa introduzindo clusulas nominais.

    Apndices 353

    Vocabulrio de Quenya 404

    Respostas 402

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    PREFCIO EDIO BRASILEIRApor Fbio Bettega

    No vou tratar do contedo do livro neste prefcio pois a Introduo cobreesse aspecto com perfeio. Vou escrever rapidamente sobre como este livro foi feito ede quem o gestou (sim, foi um nascimento dolorido!) para que coisas que no deveri-am ser esquecidas no se percam. Tambm no pretendo usar uma linguagemimpessoal, pois esse livro, ou melhor, a edio brasileira deste livro toda corao.

    At a atual data eu no tenho conhecimento da existncia de projetosemelhante. Mesmo o The Languages of Tolkiens Middle-earth da Ruth Noelou a futura gramtica do Sindarin a ser lanada por do David Salo em outubro/2004 esto em patamares diferentes. Este um livro feito por fs e para os fs deTolkien e s por isso ele existe, pois no um livro economicamente vivel e noseria nunca lanado por uma grande editora que busca retorno financeiro garantido.

    Acredito falar em nome de todos ao afirmar que no tnhamos umanoo exata do que comeamos h alguns meses atrs, quando eu e o Gabriel (otradutor do curso) decidimos ver no que ia dar pegar o curso de Quenya doFauskanger e fazer uma apostila - nosso plano inicial - a qual acabou virando umlivro com tiragem de 200 exemplares, capa 2 cores e sulfite at chegar nessa edi-o com capa colorida, papel de primeira e 1.000 exemplares. Acho que s tere-mos uma noo exata de tudo que foi feito e dos resultados quando tivermos olivro em mos, impresso, completo, nascido.

    Este pequeno livro fruto do esforo abnegado de um grande grupo depessoas, comeando pelo autor Helge Fauskanger que nos cedeu os direitos depublicao, o tradutor Gabriel Tilion O. Brum que trabalho tambm sem ven-cimentos na traduo, reviso, re-reviso e re-re-reviso do curso, o criador dacapa, Alex Valarcan Lima que sofreu por semanas o ataque das sugestes de umadzia de pessoas e que mesmo assim conseguiu criar uma capa que incorpora oesprito do Curso, o editorador Abraho vatar Tessaro que paciente e diligen-temente trabalhou mais de um ms para concluir o livro, o editor Thiago IspaineTizzot que nem por um momento duvidou da viabilidade do livro e no poupouesforos para que o mesmo sasse com a melhor qualidade grfica possvel.

    E isso. Mesmo que no final de tudo no consigamos vender dezenas deexemplares do Curso de Quenya e os utilizemos como suporte de mesa, peso depapel oui qualquer outra coisa, ter valido a pena, sem dvida. E eu tenho certezaabsoluta que este ser apenas o primeiro de muitos outros livros - mais quatro j estoplanejados - que viro e ajudaro a tornar o Brasil a ser um pouco mais tolkieniano.

  • 13

    INTRODUO

    De todos os idiomas criados pelo fillogo e autor britnico J. R. R. Tolkien(1892-1973), o mais popular sempre foi o quenya. Parece tambm ser o maisdesenvolvido de todos os idiomas inventados por Tolkien. De fato, apenas doisdeles - quenya e sindarin - so to completos que uma pessoa pode, com algumafacilidade, escrever textos substanciais neles sem recorrer a uma massiva invenoprpria. At recentemente, o sindarin era pouco compreendido, e sua complexafonologia pode desanimar novos estudantes (especialmente se eles no possurem trei-namento lingstico). Meu conselho para as pessoas que querem estudar as criaeslingsticas de Tolkien definitivamente seria que elas comeassem com o quenya.Ter o conhecimento desse idioma facilitar estudos posteriores de outras lnguas,incluindo o sindarin, uma vez que o quenya representa apenas um ramo da fam-lia das lnguas lficas: as lnguas lficas no so entidades independentes, mastodas evoluram de uma lngua ancestral comum e, em muitos aspectos, o quenyasitua-se mais prximo do seu original primitivo do que os outros idiomas.

    Na realidade, em oposio a esse contexto imaginrio, Tolkien bem sabiaque tipo de estilo estava almejando e, tendo traado um idioma lfico primiti-vo, ele habilmente desenvolveu mudanas sonoras que produziriam uma lnguacom o sabor desejado: o quenya resultado de seu romance juvenil com o finlan-ds; ele estava, em suas prprias palavras, absolutamente intoxicado pelo som e oestilo deste idioma quando o descobriu (The Letters of J.R.R. Tolkien, pg. 214).Entretanto, deve-se enfatizar que o finlands foi somente uma inspirao; o quenyano de modo algum uma verso deturpada do finlands, e apenas umas poucaspalavras de seu vocabulrio mostram alguma semelhana s palavras finlandesas cor-respondentes. (Ver o debate de Harri Perla em http://www.sci.fi/~alboin/finn_que.htm;o escritor ele prprio um finlands.) Tolkien tambm mencionou o grego e o latimcomo inspiraes; tambm podemos evidentemente adicionar o espanhol lista.

    A histria fictcia ou interna do quenya resumida no meu artigo regu-lar sobre o quenya no website Ardalambion (ver http://www.ardalambion.com.br/quenya.php) e no necessita ser repetida em detalhes aqui. Bem resumidamente,dentro dos mitos de Tolkien, o quenya era o idioma dos elfos que viviam emValinor no extremo oeste; sendo falada no Reino Abenoado, ela era a lngua maisnobre no mundo. Posteriormente, um dos cls de elfos, os Noldor, partiram emexlio Terra-mdia, levando o quenya com eles. Na Terra-mdia, ele logo saiu deuso como uma fala diria, mas entre os Noldor ele foi sempre preservado como

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    um idioma cerimonial, e como tal ele tambm ficou conhecido pelos homensmortais em eras posteriores. Em conseqncia, no Senhor dos Anis temos Frodopronunciando a famosa saudao em quenya elen sla lmenn omentielvo, umaestrela brilha sobre a hora do nosso encontro, quando ele e seus amigos deparam-secom alguns elfos (e os elfos ficam encantados por encontrar um estudioso daLngua Antiga). Se algum estuda o quenya como um modo de imergir-se nafico de Tolkien, realmente pode ser melhor descrever a si prprio como umestudante mortal na Terra-mdia na Terceira Era, por volta do perodo abrangidono Senhor dos Anis. (Descrever-se como um falante nativo de lfico em Valinorna Primeira Era pode ser pretensioso demais.) A forma particular de quenya ensi-nada neste curso - com inteno - precisamente a Exilada tardia ou uma varianteda Terceira Era. Este o tipo de quenya exemplificado no Senhor dos Anis, com oLamento de Galadriel (Namri) como o exemplo mais substancial.

    Numerosos entusiastas produziram um corpo limitado, mas em constantecrescimento, da literatura do quenya, especialmente uma vez que uma quantiasubstancial de vocabulrio finalmente tornou-se disponvel com a publicao doThe Lost Road em 1987, quatorze anos aps a morte de Tolkien. Graas a esse eaos quinze outros livros de material da Terra-mdia que Christopher Tolkien, noperodo de 1977-96, editou a partir dos manuscritos deixados por seu pai, nsagora sabemos muito mais sobre os idiomas de Tolkien do que soubemos durantetoda a vida de seu inventor. Certamente no podemos nos sentar e prontamentetraduzir as obras de Shakespeare para o quenya, mas sabemos alguns milhares depalavras e podemos inferir as linhas gerais da gramtica antevista por Tolkien.Ainda assim voc no pode realmente tornar-se fluente em quenya, no importaquo arduamente voc estude o que est disponvel atualmente. Mas certamentepossvel escrever textos bastante longos em quenya se algum deliberadamenteevitar as infelizes lacunas no nosso conhecimento, e podemos ao menos esperarque algumas dessas lacunas (especialmente com respeito a caractersticas gramati-cais) sejam preenchidas por futuras publicaes. No futuro, ns poderemos sercapazes de desenvolver o quenya em um idioma mais inteiramente utilizvel. Masdevemos obviamente comear por reunir cuidadosamente as informaes fornecidaspelo prprio material de Tolkien, at o ponto em que est disponvel para ns.

    Muitos tm desejado um curso ou tutorial regular, com exerccios e tudoo mais que lhes permita estudar o quenya com alguma facilidade por conta pr-pria. Tal esforo foi feito antes: Basic Quenya, de Nancy Martsch. De modo geral,esse certamente foi um bom trabalho; o fato de o material ter sido publicado logoaps ser escrito revelar agora certas deficincias no pode ser usado contra a auto-ra. Entretanto, muitos gostariam de ter um curso mais atualizado, e eu venho

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    sendo abordado seguidamente por pessoas sugerindo que eu seria a pessoa certa paraescrev-lo. claro que bom quando os outros me chamam de perito na lingsticatolkieniana; na verdade eu diria que difcil ser um perito nessas questes, devido escassez de fontes de material. Entretanto, tenho sido to privilegiado que tenho sidocapaz de passar muito tempo estudando esses assuntos (tendo comeado h mais dedez anos), e vejo isto como meu dever: transmitir quaisquer discernimentos que eupossa ter adquirido. Ento, por fim, sentei-me e comecei a escrever este curso, desti-nado aos iniciantes. Seja como for, este curso no procura imitar um formatolngua-fnico com longos dilogos etc. para ajudar o estudante a adquirir flun-cia bsica em vrias situaes relacionadas vida diria. Tal coisa seria totalmentesem sentido no caso de um idioma-arte como o quenya, que deve ser usado para prosae poesia cuidadosamente preparadas ao invs de uma conversao casual. Estas liesparticularmente tomam a forma de uma srie de ensaios em vrias partes da gra-mtica do quenya, revendo e analisando as evidncias disponveis em uma tenta-tiva de reconstruir as intenes de Tolkien, com alguns exerccios anexados.

    Por que estudar quenya? Obviamente no porque voc est indo a Valinornas frias e precisa ser capaz de comunicar-se com os nativos. Alguns podemquerer estudar esse idioma para de certa forma ficar em melhor harmonia com oesprito da autoria de Tolkien. Ele refere-se a

    ...o que eu penso um fato primordial sobre o meu trabalho, que todo da mesma espcie, e fundamentalmente lingstico em inspirao.[...] Isso no um hobby, no sentido de alguma coisa totalmente dife-rente do meu prprio trabalho, usado como uma vlvula de escape. Ainveno de idiomas a base. As histrias foram feitas especialmentepara fornecerem um mundo para os idiomas, no o contrrio. Para mimum nome vem primeiro e a histria sucede-o. Eu deveria ter preferidoescrever em lfico. Mas, claro, uma obra como O Senhor dos Anis temsido editada e deixada apenas com a quantidade de idioma que eupensei que seria digervel pelos leitores. (Eu agora descubro que muitosteriam gostado de mais.) [...] Isso para mim, de qualquer forma, emgrande parte um ensaio em esttica lingstica, como eu s vezes digos pessoas que me perguntam sobre o que isso tudo. (The Letters ofJ.R.R. Tolkien, pgs. 219-220)

    Em considerao s declaraes to fortes feitas pelo autor, o estudo deseus idiomas no pode ser considerado como um escapismo tolo para adolescentesromnticos. Ele deve ser considerado uma parte crucial da erudio relacionada

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    autoria de Tolkien, ou de fato sua obra em geral. Os idiomas construdos porTolkien so parte da sua produo como fillogo, no necessariamente menossrios do que seus escritos sobre idiomas pr-existentes como o anglo-saxo; repa-re que ele recusou-se a chamar seu trabalho fundamentalmente lingstico de ummero hobby. Alguns podem chamar o quenya e os outros idiomas de obras de arte,mas no importa que palavra usemos para descrev-los, pois no final tudo se reduz aisto: Tolkien no era apenas um lingista descritivo, calmamente explorando econtemplando lnguas pr-existentes - ele tambm era um lingista criativo.

    Obviamente a fluncia em quenya ou sindarin no um pr-requisitopara que voc possa dizer qualquer coisa inteligente sobre as narrativas de Tolkien;mesmo assim est claro que alguns crticos e estudiosos lamentavelmente subesti-maram o papel crucial dos idiomas inventados, julgando a si prprios incapazesde aceitar mesmo declaraes to claras como a citada acima com total seriedade.Para apreciar completamente o escopo e a complexidade da subcriao lingsticade Tolkien, a pessoa tem que estud-la ativamente por si s. Ela certamente deve-ria ser capaz de inspirar interesse para seu prprio proveito. Alguns anos atrs, orenomado estudioso de Tolkien, Tom Shippey, observou que

    ...est claro que os idiomas que Tolkien criou foram criados por, vocssabem, um dos mais completos fillogos de nosso tempo, de modo que devehaver ento algo de interessante neles, e eu tambm penso que neles estderramado muito do seu pensamento e conhecimento profissional. (...)Freqentemente tenho reparado que realmente existem observaes muitovaliosas sobre o que Tolkien pensava sobre a filologia real enterrada nafico. E eu no ficaria de maneira alguma surpreso se houvesse valiosasobservaes enterradas nos idiomas inventados. Ento deve haver, de fato,algo que surja deles. [De uma entrevista realizada durante simpsio Arda emOslo, de 3-5 de abril 1987, publicada no jornal Angerthas, edio 31.]

    Mesmo que algum no acredite que existam novas vises filolgicasesperando serem desenterradas da estrutura dos idiomas de Tolkien, no consigover por que conduzir estudos detalhados desses idiomas deva ser visto comoescapismo, ou na melhor das hipteses algum tipo de passatempo tolo para pesso-as que sejam muito preguiosas para encontrar algo melhor para fazer. Os idiomasconstrudos por Tolkien tm sido comparados msica; seu bigrafo HumphreyCarpenter observa que, se ele tivesse se interessado por msica, ele muito prova-velmente teria desejado compor melodias; ento por que ele no deveria criar umsistema pessoal de palavras que fosse como uma sinfonia particular? Algum pode

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    estudar os idiomas de Tolkien detalhadamente desenvolvidos assim como se podeestudar uma sinfonia musical: uma obra complexa de muitas partes interligadas,tranadas em intricada beleza. Apesar disso, a sinfonia fixa em sua forma, en-quanto um idioma pode ser infinitamente recombinado em textos sempre novosde prosa e poesia, e ainda assim mantm sua natureza e sabor intactos. Uma dasatraes do quenya que podemos compor ns mesmos uma msica lingsticaapenas aplicando as regras de Tolkien, de modo que a comparao de Carpenter muito limitada: Tolkien no apenas criou uma sinfonia, ele inventou uma formainteira de msica, e seria lamentvel se isso morresse com ele.

    Claro, outras pessoas podem querer estudar quenya para aprofundarem-se nafico de Tolkien, sem pretenses de qualquer tipo de erudio: a viso de Tolkien doselfos (Quendi, Eldar) sem dvida a principal realizao da sua autoria, e o quenyaera - pelo menos na opinio um tanto quanto preconceituosa dos Noldor - a principallngua lfica, a mais nobre, e a que mais preservava o carter ancestral da fala lfica(The War of the Jewels pg. 374). Mas possvel tatear em direo elficidade emum sentido mais profundo do que apenas mergulhar-se na fico. Abandonando feliz-mente a j clssica idia de elfos como pequeninas fadas excessivamente bonitas, Tolkien,por outro lado, idealizou a viso dos elfos como algo mais: Eu creio que osQuendi so de fato nessas histrias muito parecidos com os elfos e fadas da Europa; ese eu fosse pressionado a racionalizar, eu diria que eles representam a beleza superior,a vida mais longa e a nobreza - os Filhos Mais Velhos (The Letters of J.R.R.Tolkien, pg. 176). A quintessncia da viso de Tolkien da elficidade est contidaprimeiramente nos idiomas, pois para os Eldar a criao da fala a mais antiga dasartes e a mais amada (The Peoples of Middle-earth pg. 398). De certo modo, oestudo do quenya pode ser uma busca para essa viso de algo belo e nobre alm dacapacidade do nosso eu finito e mortal: os elfos representam, aparentemente, os as-pectos artsticos, estticos, e puramente cientficos do humano elevado a um nvelmais superior do que na verdade visto nos homens (Letters, pg. 176). A busca porum nvel superior transcende toda fico. A viso interior desse nvel Tolkien traduziuparcialmente em imagens, de forma muito mais destacada em narrativas, mas(para ele) ainda mais importante, em palavras e sons de linguagem. No quenya a suaviso de beleza permanece, esperando aqueles capazes de compreender e apreci-la.

    Em seus websites, os lingistas suecos do grupo Mellonath Daeron ten-tam justificar seu estudo dos idiomas de Tolkien:

    Nossa atividade tem sido descrita como o luxo definitivo. Estudamos algoque no existe, apenas de brincadeira. algo ao qual voc pode permitir-sequando possui tudo o mais: comida, abrigo, roupas, amigos, e assim por

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    diante. Os idiomas de Tolkien j so dignos de estudo apenas pelos seus altosvalores estticos. E o conhecimento desses idiomas a chave para uma apreci-ao completa da beleza da subcriao de Tolkien, seu mundo, Arda.

    Concordo sinceramente com as duas ltimas frases, mas no posso con-cordar que o quenya e o sindarin no existem. Obviamente no estamos falandode objetos fsicos, tangveis, mas isso serve para qualquer idioma. Esses no soidiomas fictcios, mas so idiomas to reais quanto o esperanto ou qualquer outroidioma construdo. O prprio Tolkien observou sobre seus idiomas que eles pos-suem uma certa existncia, uma vez que eu os compus com uma certa integrida-de (The Letters of J.R.R. Tolkien, pg. 175).

    Diferente do esperanto, o quenya est fortemente associado a uma hist-ria fictcia interna. (Tolkien uma vez declarou que o esperanto teria sido mais bemsucedido se houvesse mitos para acompanh-lo!) Os mitos associados certamenteenriquecem o quenya e nos ajudam a compreender que tipo de sabor lingsticoTolkien almejava, e o fato de que esse idioma tem um papel a desempenhar nosmais famosos romances de fantasia j escritos obviamente lhe concede mais publi-cidade grtis, a qual o esperanto pode apenas sonhar em ter. Ainda assim deve serenfatizado que o quenya no existe como uma entidade real no nosso prpriomundo e, como mencionado acima, ele possui uma literatura crescente, princi-palmente em verso: os textos existentes atualmente j devem ser centenas de vezesmais abrangentes do que todos os textos em quenya j escritos pelo prprio Tolkien.Ele refinava incessantemente a estrutura e evoluo imaginria de seus idiomasinventados, no entanto escreveu consideravelmente poucos textos substanciais neles.Embora afirmasse que deveria ter escrito em lfico (ver citao acima), ele, naverdade, escreveu mais sobre as lnguas lficas do que nelas propriamente ditas. Oprazer encontra-se na prpria criao, observa Christopher Tolkien (SauronDefeated, pg. 440). Seu pai criou os idiomas apenas porque amava faz-los, noporque ele necessitasse us-los para algum propsito especfico. Para ser preciso,Tolkien escreveu alguns poemas em lfico, mas sua quantidade muito pequenacomparada aos milhares de pginas que ele escreveu sobre a estrutura de seus idiomas.

    Tolkien divertia-se na inveno plena, que era seu privilgio como o cria-dor original. Entretanto, ouso dizer que poucas pessoas so capazes de retirarmuito prazer da mera contemplao passiva da estrutura de um idioma, ou daleitura da gramtica de um idioma inventado como se fosse algum tipo de roman-ce. Imagino que a maioria das pessoas que querem estudar quenya tem algumainteno, embora vaga, de pr este conhecimento em uso para escreverem elasmesmas textos em quenya, ou pelo menos ao ler textos de outras pessoas (no

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    mnimo os do prprio Tolkien). Realmente, aprender qualquer idioma, de qual-quer forma, requer uma participao ativa: mesmo que voc jamais sonhe empublicar qualquer coisa em quenya, mas que particularmente queira avaliar olfico de Tolkien para propsitos puramente acadmicos, voc ainda ter que seesforar atravs de alguns exerccios para inteirar-se da gramtica e do vocabul-rio. Tais exerccios so fornecidos neste curso.

    Meu ponto de vista favorito no estudo dos idiomas de Tolkien provavel-mente este (construdo sobre a analogia musical sugerida por Carpenter): eu diriaque estamos de certa forma na mesma situao em que estaria um genial compositorque fosse inventar uma nova forma de msica, que escreve muito sobre sua estru-tura, mas cria relativamente poucas composies reais - algumas delas sequer publicadasdurante a vida do prprio compositor. Mesmo assim, essas poucas composiesganham um crescente pblico internacional, um pblico que gostaria muito deouvir mais - muito mais - msicas deste tipo. Estando o compositor original mor-to, o que faremos? H apenas um caminho: devemos realizar um estudo meticu-loso tanto das composies publicadas como dos escritos mais tericos para deci-frar e inteirar as regras e princpios para este tipo de msica. Ento podemoscomear a compor ns mesmos, criando melodias inteiramente novas que aindaobedecem estrutura geral desenvolvida pelo inventor original.

    Isso, claro, uma analogia grosseira quando se trata das narrativas deTolkien. Os temas e princpios de Tolkien de contar histrias tm sido adotadospor geraes de novos autores, resultando no gnero da fantasia moderna - embo-ra no fosse muito controverso dizer que pouqussimos autores tm sido capazesde viver com os altos padres estabelecidos pelo mestre. De certa maneira, a qua-lidade dos numerosos textos quenyanos ps-Tolkien varia enormemente. No casode algumas tentativas recentes, escritas quando pouco material de fonte estavadisponvel, agora fcil identificar vrios defeitos e concluses equivocadas doque Tolkien realmente pretendia. Hoje, com muito mais material disponvel, eudiria que possvel escrever textos que Tolkien provavelmente teria reconhecidocomo, no mnimo, um quenya levemente correto (embora eu creia que ler textosem quenya que no fossem de sua prpria autoria seria uma experincia estranhapara ele; seus idiomas inventados eram originalmente algo muito particular).

    Este curso deve ser, de qualquer modo, til, no importando qual possaser o seu ponto de vista sobre esse estudo - seja por quer aprender quenya para mer-gulhar na fico de Tolkien, para melhor apreciar um lado crucial da sua compo-sio, para aprender sobre as intrincadas criaes de um lingista talentoso, acei-tar o desafio intelectual de tentar dominar um sistema sofisticado, continuar umabusca reflexiva pela elficidade, ou simplesmente para aproveitar o quenya esteti-

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    camente. Nenhum desses motivos mutuamente exclusivo, claro. Qualquerque seja seu ponto de vista, espero que voc goste de ter uma parte em fazer aliteratura de quenya crescer e florescer.

    Outra citao de Tolkien pode ser colocada aqui: Nenhum idioma apenas estudado meramente como um auxlio a outros propsitos. Ele realmenteservir melhor a outros propsitos, filolgicos ou histricos, quando for estudadopor amor, por si mesmo (MC: 189).

    A QUESTO DOS DIREITOS AUTORAIS

    Este um assunto ao qual eu tenho que dedicar alguns pargrafos, em-bora isso provavelmente v surpreender qualquer estudante novo e inocente quenunca tenha dado muita ateno a essa questo de forma alguma. Contudo, deba-tes em torno das questes de direitos autorais tm tristemente causado muitorancor entre os estudantes que trabalham no campo da lingstica tolkieniana;tais debates basicamente desmantelaram a lista de discusso TolkLang, levando criao da lista Elfling em seu lugar. Se os herdeiros de Tolkien ou seus advogadosvierem a ler o que se segue, espero que eles no se ofendam. Isto realmente no sobre roubar-lhes algo, mas sobre dirigir a ateno a uma parte muito importanteda obra de Tolkien e ajudar pessoas a aprenderem sobre ela, de forma que elapossa viver, crescer e permanecer como um testemunho duradouro de seus esfor-os, e como um memorial dinmico a ele mesmo. Falando sobre seu pai,Christopher Tolkien em uma entrevista de tv descreveu o quenya como o idiomaque ele buscava, o idioma do seu corao. Os estudantes de quenya simplesmentequerem que essa parte especial do corao de Tolkien continue a viver. Ningumest tentando ganhar qualquer dinheiro ou lucrar de qualquer outra forma comisso. (Se o Tolkien Estate, ou de preferncia a Harper Collins, viessem a quererpublicar este curso em forma de livro, eu ficaria feliz em deix-los faz-lo, e euno esperaria receber quaisquer royalties.)

    Em 1998, e recentemente em 1999, na lista TolkLang, o advogado W.C. Hicklin argumentou vociferantemente que publicar descries gramaticais noautorizadas de um idioma de Tolkien seria uma violao descarada dos direitosautorais do Tolkien Estate, afirmando que qualquer publicao do tipo fariaindubitavelmente o Estate reagir com dinheiro, armas e advogados. (Espera-seque a parte sobre armas de fogo tenha sido uma figura de linguagem.) No possoconcordar com tal interpretao da lei de direitos autorais, especialmente conside-rando que o que sabemos sobre quenya na maior parte aprendemos ao estudar osexemplos que temos - e no lendo gramticas explcitas de Tolkien, que ainda no

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    foram publicadas. No posso imaginar que, ao estudar textos disponveis de quenya,seja ilegal colocarmos nossas concluses em palavras e contar aos outros sobre elas. Seisso o que significa direitos autorais, ento todos os tipos de comentrios e crticasliterrias imediatamente vo por gua abaixo. Enquanto Hicklin dizia informar aposio de Christopher Tolkien (que ele invocava como base), o prprio Tolkien Estateat ento se recusou a apresentar sua opinio sobre essas questes, mesmo quandoconvidado a faz-lo pelo moderador da TolkLang, Julian Bradfield. Pode-se notarque a lei de direitos autorais no a rea na qual o Sr. Hicklin especializado, e pensoque ele espremeu o conceito de personagem at o ponto de declarar que cada palavraindividual nos idiomas inventados deva ser considerada um personagem literriode Tolkien, aparentemente em p de igualdade com personagens como Aragornou Galadriel. Misteriosamente, Hicklin ainda concorda que no h problema emescrever novos textos nos idiomas de Tolkien, embora no mundo de Hicklin issoparea ser a analogia de se escrever novas histrias envolvendo personagens deTolkien (o que, todos concordam, seria uma violao de direitos autorais).

    Os problemas bvios de Hicklin ao elaborar um argumento consistente,assim como as subseqentes investigaes conduzidas por mim e outros, levaram-me concluso de que adquirir os direitos autorais de um idioma como tal seriabastante impossvel. O idioma em si no comparvel a um texto fixo escrito neleou sobre ele; um sistema inteiramente abstrato, e para qualquer coisa desfrutarda proteo autoral, ela deve primeiramente ter uma forma fixa para ser protegi-da. Argumentar que cada estrutura gramatical e vocabulrio do idioma tornamsua forma fixa sem sentido, pois ele um sistema abstrato, no uma forma. Qual-quer texto atual sobre (ou em) um idioma protegido, mas no o idioma em si.Para retornar analogia do nosso genial compositor que inventa uma nova formade msica: seus direitos autorais para suas prprias composies, e para seus escri-tos nessa forma de msica como textos fixos, no podem e no devem ser contesta-dos por ningum. Mas ele ou seus herdeiros no podem bem assegurar que publi-car composies inteiramente novas, ou descries completamente originais dosprincpios deste tipo de msica, violaria de algum modo seus direitos autorais.

    Este curso escrito e publicado (grtis na Internet) por mim como umapessoa privada. O Tolkien Estate no foi convidado a endoss-lo ou mesmocoment-lo; ele de modo algum oficial, e devo assumir total responsabilidadepela qualidade do contedo. No pretendido nenhum desrespeito quando apontoque qualquer endosso pelo Estate no teria muito significado no caminho de umagarantia de qualidade, uma vez que em certos trabalhos anteriores em quenya queforam publicados com explcita permisso do Estate podem ser vistas certas falhase ms interpretaes. H pouca razo para acreditar que os advogados do Estate

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    ou o prprio Christopher Tolkien sejam capazes de julgar a qualidade de umagramtica de quenya (e da mesma forma nenhuma razo para sustentar isso con-tra eles; aprender quenya a partir de fontes primrias um estudo longo e desafi-ador reservado aos especialmente interessados). Em tal situao, espero e acreditoque o Tolkien Estate respeite o direito dos estudiosos de continuar seus estudossem perturbaes, e apresentar os resultados de tais pesquisas - especialmente quandoas publicaes relevantes so inteiramente no-comerciais. Apesar das fortes declara-es feitas por Hicklin e uns poucos outros, no h atualmente evidncia concretaque o Estate ou Christopher Tolkien vejam tais estudos como uma violao de seusdireitos autorais. Se eles vem, deixemos que eles contatem-me e ns conversaremos.

    A interpretao da gramtica do quenya que aqui iniciada baseadaem um estudo das fontes disponveis, principalmente em anlise de textos reais dequenya, e em exegese das relativamente poucas notas explcitas na gramtica queesto atualmente disponveis. Afirmo ser bvio que este primeiramente um tra-balho de anlise e comentrio (apresentado em uma forma didtica), e em termosde direitos autorais, discutir a estrutura do quenya no pode ser muito diferentede discutir (digamos) a estrutura do enredo do Senhor dos Anis: em qualquercaso, est claro que qualquer coisa que eu possa dizer deve ser, no final das contas,baseada nos escritos de Tolkien, mas o estudo resultante ainda no uma obraderivada em termos de lei de direitos autorais. O que estamos fazendo aqui no recontar a fico de Tolkien (apesar de que eu certamente irei referir-me a ela -mas ento por uma perspectiva de um crtico, ou melhor, comentarista, parademonstrar como a fico de Tolkien e a construo de idiomas interligam-se).Primeiramente estaremos estudando um dos idiomas de Tolkien como uma enti-dade natural ao invs de uma entidade fictcia. O fato de que esse idioma foiprimeiramente apresentado ao mundo em um contexto de fico no o torna umidioma fictcio, e o seu uso ou discusso sobre ele no necessariamente umafico derivada. Como j mencionado, o prprio Tolkien observou que seusidiomas como tais possuem uma certa existncia simplesmente porque ele jhavia desenvolvido-os - eles no residem exclusivamente dentro de um contextofictcio (The Letters of J.R.R. Tolkien, pg. 175).

    Muito do vocabulrio do quenya no totalmente original; Tolkienadmitiu com prazer que os vocabulrios dos seus idiomas lficos estavam ine-vitavelmente cheios de... reminiscncias de lnguas pr-existentes (The Peoples ofMiddle-earth pg. 368). Embora freqentemente no to bvio que chegue a serperturbador queles que querem estudar quenya como um idioma altamente ex-tico, permanece o fato de que os entendidos facilmente discernem palavras e radi-cais indo-europeus (e s vezes mesmo semticos) que fundamentam muitas das

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    palavras inventadas de Tolkien. Isso no deve ser visto como algum tipo de faltade imaginao da parte de Tolkien; ele observou que impossvel, na construode idiomas imaginrios a partir de um nmero limitado de sons componentes,evitar tais semelhanas - acrescentando que ele sequer tentou evit-las (Letters, pgs.384-385). Mesmo quando nenhuma inspirao plausvel do mundo real parauma palavra do quenya possa ser citada, permanece o fato de que no h tradiolegal, seja qual for, para permitir uma pessoa cunhar novas palavras para de algu-ma maneira declar-las como sua propriedade pessoal. O prprio Tolkien estavaciente de que no se podem adquirir os direitos autorais de nomes (Letters, pg.349) e, portanto, tambm no se podem adquirir os direitos sobre substantivoscomuns, verbos, adjetivos ou mesmo preposies, para evitar o uso no autoriza-do dos mesmos. Algumas palavras em uso comum hoje, tais como rob, ocorre-ram primeiro em um contexto de fico. Uma pessoa no pode, portanto, afirmarque elas so palavras fictcias, protegidas em igualdade com personagens fictci-os, e no para serem usadas, catalogadas ou explicadas sem a permisso explcitade algum que as tenha cunhado (ou seus herdeiros).

    As investigaes legais, conduzidas aps Hicklin ter feito suas declara-es empoladas, confirmaram que palavras como tais automaticamente entramem domnio pblico no momento em que so cunhadas, e ningum podemonopoliz-las ou reivindicar posse exclusiva delas. Voc pode registrar uma pa-lavra como uma marca registrada, claro, mas isso algo totalmente diferente: aApple Computers no pode impedir qualquer pessoa de usar apple (ma) comouma palavra cotidiana. Tambm irrelevante que o fabricante de algum tipo dejogo de fantasia tenha que remover todas as referncias a balrogs, pois aqui no a palavra em sindarin balrog, mas balrogs como personagens que esto nos direi-tos autorais de Tolkien. O fato de que Tolkien cunhou a palavra alda para rvo-re dificilmente implica que rvores so personagens literrios. No apenas umarvore crescendo na Terra-mdia que pode ser chamada de alda; a palavra funci-onar igualmente bem se eu escrever um poema em quenya sobre uma rvore quecresce do lado de fora da minha casa.

    Concordo, todavia, que o quenya e os outros idiomas desfrutam de algu-ma proteo na sua capacidade como partes do ambiente da Terra-mdia. Se algumfosse escrever novas histrias de fantasia envolvendo elfos falando um idiomachamado quenya, e houvesse exemplos demonstrando que esse fosse de fato oquenya de Tolkien, obviamente este seria o mesmo tipo de plgio como o de qualquerescritor de fantasia que fosse pegar emprestado uma cidade chamada MinasTirith, e que a descrio no livro deixasse claro que essa cidade por acaso foraconstruda em vrios nveis e fosse vigiada por uma torre branca. Mas novamente: este

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    curso certamente no foi pretendido como uma fico derivada. Trata-se de estudar eusar um dos idiomas de Tolkien de um modo amplamente independente do contex-to fictcio como tal - embora, uma vez que eu tambm pretendo apresentar o quenyacomo uma parte da autoria de Tolkien, terei, claro, que mencionar, referir-me ealgumas vezes at mesmo citar as narrativas, assim como apresentar meras tecnica-lidades. No entanto, obviamente falso que os idiomas de Tolkien no possam dequalquer modo ser separados de seu mundo fictcio (como Hicklin pareceu afirmar).Vicente Velasco foi, por exemplo, capaz de escrever um poema em quenya (Ranna)em homenagem Princesa Diana aps sua trgica morte, mas isso no significaque o acidente no qual ela foi morta deva realmente ser um ponto do enredo deum romance de Tolkien. De fato, o prprio Tolkien fez uma traduo em quenya daorao do Pai Nosso, um texto que obviamente pertence a nossa prpria realidade eno poderia ocorrer dentro do ambiente da Terra-mdia.

    Ao discutir questes de direitos autorais, devemos fazer uma distinomuito clara entre o contexto fictcio e o uso real de sistemas e idias descritosdentro dessa fico; o ltimo bastante irrelevante para uma discusso de direitosautorais. Para fins de comparao: concordo totalmente que, qualquer um quefosse escrever novas histrias de fantasia que envolvessem uma raa de pessoaspequenas com ps peludos que vivessem em estruturas subterrneas chamadassmials claramente plagiaria Tolkien e possivelmente violaria seus direitos autorais.Mas no posso imaginar que violo os direitos autorais de algum se cavo um smialno meu jardim - ou se eu fao um transplante de cabelo da minha cabea para meusps. De forma parecida, ningum iria sentir-se livre para escrever histrias defantasia sobre elfos que falassem quenya, mas realmente usar as estruturas lings-ticas inventadas por Tolkien para escrever novos textos que pelos seus contedosnada tm a ver com sua fico no pode ser uma violao de direitos autorais. Osnovos textos em quenya so de direito apenas de seus prprios escritores.

    Felizmente, os herdeiros de Tolkien parecem concordar com isso; ao menoseles nunca tentaram impedir algum de publicar seus poemas em quenya. Se oEstate no tem problemas com isto, s posso supor que seus advogados tambmconcordam que perfeitamente legal para qualquer um escrever gramticas em quenyaou compilar listas de palavras em quenya. De outra forma, seramos deixados com anoo especialmente absurda de um idioma que pode ser usado, mas no ensinadoou descrito de forma erudita. No posso imaginar que o Estate declararia que onmero agora muito grande de textos em quenya que no so escritos por Tolkien eque no tm nenhuma relao com sua fico no pudessem ser sujeitos a estudosgramaticais ou lexicogrficos simplesmente porque eles vieram a ser escritos emquenya. Essa seria uma tentativa de obstruir e vetar certos tipos de erudio relaci-

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    onados a um corpo inteiro de literatura, e no acho que isso pudesse ser sustentado,legal ou mesmo moralmente. Que eu saiba, os herdeiros de Tolkien no discordam.

    Eu no tenho nenhuma inteno, entretanto, de contestar os direitosautorais do Estate para os escritos reais de Tolkien (sobre os idiomas ou no), eembora seja um exerccio interessante reconstruir o lfico original que suposta-mente fundamenta alguns dos poemas ou histrias de Tolkien, ningum deveriapublicar tradues lficas em grande quantidade de textos contnuos de Tolkien.Todos esses textos esto dentro dos direitos autorais do Tolkien Estate at que elesexpirem em 2023 (ou era 2048?), e publicar substanciais tradues ou releiturasaproximadas a partir da requereria a permisso do Estate, no importando oquo excessivamente obscuro seja o idioma-alvo: qualquer traduo ainda deri-vada do prprio Tolkien, e o texto protegido. Nem deveriam escrever histriaslongas localizadas no mundo de Tolkien; esta seria uma violao de direitos auto-rais no importando que idioma voc use. Contudo, fazer tradues de uma quan-tidade limitada de textos de Tolkien pode provavelmente passar como uso legal(mas, por favor, no publique sua prpria traduo em quenya do poema doAnel; j existem muitas verses concorrentes...). Nem h muita razo para acredi-tar que o Estate tomaria qualquer ao contra romances curtos em quenya mesmose eles parecessem estar localizados na Terra-mdia, uma vez que deveria ser bvioque o propsito real demonstrar o uso do quenya, e no escrever novas histriaspara competir com o prprio Tolkien (de qualquer forma, eu no publicaria taisromances de algum modo que pudesse ser concebivelmente visto como uma pu-blicao comercial). Poemas sobre pessoas ou eventos no mundo de Tolkien (comoo Roccalassen ou Cano a owyn de Ales Bican) eu imagino que possam passarcomo um ramo de um comentrio ou de uma sinopse, contanto que no incluamnenhuma fico nova de sua autoria. Mas por favor, no se estenda muito nisso;os herdeiros de Tolkien esto no seu direito pleno quando declaram seus direitosautorais sobre as histrias dele.

    De qualquer modo, nos exerccios criados para este curso deliberadamenteevitei quaisquer referncias a pessoas, lugares ou eventos do mundo fictcio deTolkien (exceto por uma referncia s Duas rvores, pois a palavra em quenyafornece um timo exemplo de nmero dual). Ao invs de referir-se fico deTolkien, na maioria dos casos recorri a um mundo de fantasia ou medieval com-pletamente genrico; no h nada que exclua a possibilidade de que esse seja omundo de Tolkien, mas tambm no h nada concreto para confirm-la. Existemmuitos elfos e anes nesses exerccios, mas embora inevitavelmente usemos pala-vras como Eldar e Naucor para esses povos quando falamos sobre eles em quenya,eles so realmente apenas elfos e anes genricos. Sinta-se livre para imaginar

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    que esses elfos so os Eldar de Tolkien se voc preferir, mas no h nada quedefinitivamente ligue-os a quaisquer mitos especficos.

    Apesar de eu no achar que o Tolkien Estate pudesse legalmente impedirpessoas de fazerem o que bem entendessem com o quenya como um idioma real(separado da fico de Tolkien), encorajo os estudantes a usarem qualquer conheci-mento que possam obter de uma maneira respeitosa. Devemos sentir algum tipo deobrigao moral, ou mesmo gratido, em relao a Tolkien como o criador desseidioma. O quenya como o conhecemos o resultado de dcadas de trabalho compe-netrado e de interminvel refinamento; seu criador pretendia conceder-lhe um sabornobre ou mesmo sagrado, e ele no deve ser usado para propsitos tolos ou inade-quados. (Por favor, no divulgue suas composies em quenya em paredes debanheiros, por exemplo.) H uma antiga entrevista televisiva onde Tolkien diz queno se importaria se pessoas tomassem conhecimento e desfrutassem de seus idiomasinventados, mas ele no gostaria de ver qualquer um deles transformado em algumtipo de dialeto secreto usado para excluir outras pessoas. Esse um desejo quepeo encarecidamente que todos os estudantes respeitem. Como um estudante eusurio do quenya, a pessoa tambm deve estar comprometida com a preservaoda integridade do sistema de Tolkien, tomando grande cuidado para no distorc-lo ou dilu-lo desnecessariamente. Ocasionalmente teremos que cunhar palavras no-vas, mas em tais casos, devem-se evitar invenes arbitrrias e, ao invs disso,trabalhar com os radicais do prprio Tolkien, usando seus mtodos de derivao.

    Tolkien escreveu: Certamente o S[enhor] d[os] A[nis] no me perten-ce. Ele foi produzido e deve agora seguir seu caminho j designado no mundo,embora eu naturalmente tenha um profundo interesse no seu destino, como umpai teria no de um filho. Estou confortado em saber que existem bom amigos paradefend-lo (The Letters of J.R.R. Tolkien, pg. 413-14). Talvez ele estivesse sesentindo do mesmo modo em relao aos idiomas exemplificados no livro do qualele fala: eles foram criados e j trilham seu caminho no mundo, estudados e atusados por muitos - mas agora o quenya e os outros idiomas devem viver suasvidas independentemente de seu pai, pois ele j no est entre ns. Deixemos,ento, os estudantes e usurios serem seus bons amigos e defenderem seus siste-mas, adequando-se viso do homem que passou uma vida inteira desenvolven-do-os. E isso nos traz de volta estrutura do quenya em si.

    COMO O QUENYA?

    Que tipo de idioma esse, estruturalmente falando? Parece que o finlan-ds forneceu uma inspirao considervel no somente para os padres sonoros,

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    mas tambm para a estrutura bsica. Tolkien descreveu o quenya como um idi-oma altamente declinado (The Road Goes Ever On pg. 69). Isto , as palavrasaparecem em muitas formas diferentes dependendo da sua funo precisa emqualquer contexto gramatical determinado. Essas diferentes formas so, na maiorparte, construdas com o emprego de uma gama de desinncias, desinncias com signi-ficados que em portugus seriam freqentemente expressas como palavras separadas.Em conseqncia, uma traduo em portugus de um texto em quenya normalmenteconsistir de mais palavras do que o original em quenya: em Contos Inacabados pg.10, 455, aprendemos que trs palavras de quenya bem podem exigir uma traduoem portugus de sete palavras: Anar caluva tielyanna = o sol brilhar sobre o seucaminho. Alguns podem ver isso como uma evidncia de que o quenya umidioma mais eficiente que o portugus, mas se algum usa uma palavra longa ou vriaspalavras curtas para expressar um certo significado no algo muito crucial. O quenyadeve ser desfrutado por suas prprias qualidades, no por comparao a outros idio-mas. Mas a palavra tielyanna sobre o seu caminho ilustra a principal diferena entreo portugus e o quenya: pequenas palavras independentes como seu ou sobrefreqentemente tornam-se desinncias - nesse exemplo, -lya e -nna, respectivamente.

    O quenya um idioma difcil? Falando sobre o quenya e o sindarin, osdois principais idiomas dos seus mitos, Tolkien escreveu que ambos os idiomasso, certamente, extremamente difceis (Letters: 403). Indubitavelmente existematualmente muitas complexidades inesperadas aguardando-nos na vasta quantida-de de material no publicado. Mas at onde vai (ou no) nosso conhecimentohoje, eu certamente no chamaria o quenya de extremamente difcil. Ele podeser de uma construo complexa e intrincada, mas com certeza menos complica-da que o sindarin, e a compreenso do quenya como o conhecemos no , demodo algum, um feito sobre-humano. Qualquer estudante dedicado deve sercapaz de atingir o domnio bsico do sistema gramatical em relativamente poucotempo: semanas, ou mesmo dias, ao invs de meses. Um conhecimento geralsobre lingstica obviamente seria til em tal estudo, mas dificilmente um pr-requisito; neste curso tentei tornar as explicaes to simples que qualquer ado-lescente razoavelmente perspicaz deve ser capaz de compreender o que se passa.(Levando em considerao que algumas pessoas que querem estudar quenya sobastante jovens, eu pressupus no haver nenhum conhecimento sobre lingstica,e explicarei mesmo os termos lingsticos elementares os estudantes mais versa-dos podem sentir que s vezes o rumo tomado seja o de uma conversa infantil.)

    Deve-se compreender ainda que no com um esperanto bem delineadoque estamos lidando aqui. Tolkien tentou propositalmente tornar seus idiomasnaturais; em conseqncia, h alguns verbos irregulares e similares, mas eu diria que

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    seu nmero bastante manejvel. O quenya provavelmente situa-se a meio caminhoentre um esperanto totalmente regular e um tpico idioma real com sua enormequantidade de complexidades e irregularidades, ainda que talvez mais prximo aoprimeiro. De fato, o quenya provavelmente muito simples para ser inteiramentecrvel como um idioma supostamente no-construdo, pelo menos se o compa-rarmos aos desordenados idiomas dos homens mortais da nossa prpria poca. Masento o quenya tambm no seria realmente no-construdo dentro do escopo dahistria fictcia: ele foi construdo e refinado pelos elfos, e os Eldar conhecem sualngua, no apenas palavra por palavra, mas como um todo (The Peoples of Middle-earth pg. 398). Ento talvez os Eldar, estando muito cientes da estrutura de suafala, tenderiam a criar idiomas com uma gramtica relativamente ordeira. De qual-quer forma, do ponto de vista dos estudantes, difcil lamentar a ausncia de maisformas irregulares para serem memorizadas; logo, se essa simplicidade realmente tornao quenya menos crvel como um idioma natural, Tolkien facilmente perdoado!

    AS FONTES

    Sabemos que Tolkien escreveu literalmente milhares de pginas sobreseus idiomas. Infelizmente - e aqui devo pedir aos novos estudantes que se prepa-rem para seu primeiro grande choque, embora o fato chocante j tenha sido insi-nuado - muito pouco desse material est disponvel para ns. Entretanto, ChristopherTolkien aparentemente tem tentado fazer preparativos para sua publicao. Du-rante a maior parte dos anos noventa, ele enviou fotocpias dos manuscritoslingsticos de seu pai a um grupo de americanos muitas vezes (mas no oficial-mente) mencionados como os Elfconners, aparentemente por causa da sua proe-minncia nas convenes da ELF, a Elvish Linguistic Fellowship (SociedadeLingstica lfica). Porm, o membro mais sincero do grupo parece ter se con-vencido completamente de que o termo Elfconners sempre teve a inteno deser depreciativo, associando-o com conning (engodo). Como apontado pelomoderador da lista TolkLang, Julian Bradfield, possvel que esse membro dogrupo esteja inventando insultos contra si mesmo, mas atualmente politicamen-te correto referir-se a esse grupo simplesmente como a Equipe Editorial, abrevia-do para EE. Seja do que for que os chamarmos, o grupo consiste de ChristopherGilson, Carl F. Hostetter, Patrick Wynne e Arden R. Smith (nos ltimos anos, BillWelden tambm juntou-se a eles). Antes de comearem a receber os manuscritosde Tolkien, essas pessoas publicaram com bastante regularidade os jornaislingsticos tolkienianos Vinyar Tengwar (editado por Hostetter) e ParmaEldalamberon (editado por Gilson), geralmente mantendo um padro elevado.

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    Essa, devemos supor, foi a razo pela qual, primeiramente, Christopher Tolkienquis que eles publicassem os manuscritos lingsticos de seu pai.

    O fato mais infeliz e estranho que, aps comearem a receber os ma-nuscritos de Tolkien para publicao, o ritmo de publicao do grupo caiu desas-trosamente. Eles comearam a receber cpias manuscritas em 1991; uma dcadadepois, eles conseguiram reunir cerca de 200 pginas de material novo para publi-cao (a maior parte do material em listas de palavras pertencentes aos estgiosmais iniciais do trabalho de Tolkien, a muito retirado do cenrio do SdA). Algunsde ns no esto impressionados. O pouco material que apareceu foi belamenteapresentado, mas com o atual ritmo de publicao, o trmino do projeto deve estarmuito longe. Em 1996, Christopher Gilson declarou que, no ano seguinte, seugrupo planejava publicar gramticas bastante abrangentes para os dois principaisidiomas dos mitos de Tolkien. No incio de 2002, eles finalmente publicaram al-gum material relacionado a certos estgios do gnmico, um primitivo ancestralconceitual do idioma que Tolkien posteriormente chamou de sindarin; ainda estamosesperando por uma quantidade de material realmente substancial sobre o quenya. Amaioria dos outros prazos finais que os membros do grupo de Gilson delineou pro-vou-se igualmente sem valor e, desde 1998, eles tm evitado cada vez mais determinarqualquer prazo final. Ainda assim, esperemos que em dez (ou vinte, ou trinta...) anossaibamos mais - mas se a Equipe Editorial capaz de comear uma eficiente publica-o regular do material de Tolkien, eles ainda tm que demonstrar essa habilidade.

    Devemos trabalhar, ento, a partir das fontes j disponveis - fontes quefreqentemente tocam nos idiomas mais ou menos acidentalmente. O aspectolingstico da autoria de Tolkien por sorte permeia suas obras a tal ponto que, sevoc reunir todos os pedaos de informaes dispersas e analis-los a fundo, vocser capaz de compreender muito sobre seus idiomas mesmo sem ter acesso a suasgramticas explcitas. Infelizmente esse mtodo de estudo levar a muitas lacunasno nosso conhecimento, lacunas na maior parte irritantes a pessoas que tentamrealmente usar esses idiomas. Em outros casos, o material to escasso que pode-mos formular no apenas uma, mas muitas teorias sobre como so as regras gra-maticais fundamentais, e no possumos quaisquer outros exemplos que nos per-mitiriam identificar a teoria correta. Apesar disso, sabemos muito sobre o quenya,embora uma certa parte do nosso conhecimento seja mais experimental do quegostaramos. A anlise das fontes tem seu lugar aqui; e devo ao menos explicar asabreviaes usadas neste trabalho.

    As obras narrativas primrias, O Senhor dos Anis (SdA, 1954-55) e OSilmarillion (Silm, 1977) no precisam de introduo. ( claro, tambm h OHobbit, mas esse livro contm pouca informao lingstica, e dificilmente qual-

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    quer coisa sobre o quenya.) A maioria dos nomes lficos de pessoas e lugaresencontrados no SdA (tais como Aragorn, Glorfindel, Galadriel, Minas Tirith) estoem sindarin, mas tambm h muitos exemplos substanciais de quenya. No SdA,encontramos um dos mais longos textos em quenya conhecidos, o poema Namri,prximo ao final do captulo VIII (Adeus a Lrien) no Livro Dois no primeirovolume, A Sociedade do Anel. Tambm conhecido como Lamento de Galadriel,esse o poema iniciado com as palavras Ai! lauri lantar lassi srinen...

    Vrios exemplos curtos de quenya tambm esto espalhados por todo oSdA, como a fala de Frodo na toca de Laracna (Aiya Erendil Elenion Ancalima! elegritou, sem saber o que havia dito), o louvor que os Portadores do Anel recebem noCampo de Cormallen (parte sindarin, parte quenya), a Declarao de Elendil,conforme repetida por Aragorn em sua coroao, e a saudao de Barbrvore a Celeborn eGaladriel. As partes em quenya do Louvor de Cormallen (como irei referir-me a ele),conforme encontrado no volume 3, Livro Seis, captulo IV (O Campo de Cormallen),seguem desse modo: A laita te, laita te! Andave laituvalmet!... Cormacolindor, alaita trienna! (ver Sauron Defeated pg. 47.) Esse trecho traduzido em TheLetters of J.R.R. Tolkien, pg. 308: Louvai-os, louvai-os, por muito tempo iremoslouv-los. - Os portadores do Anel, louvai-os com grande louvor.

    No captulo seguinte (V) temos a Declarao de Elendil, repetida por Aragornna sua coroao: Et Erello Endorenna utlien. Sinome maruvan ar hildinyar tennAmbar-metta. Ela traduzida no texto como do Grande Mar vim para a Terra-mdia. Neste lugar vou morar, e tambm meus herdeiros, at o fim do mundo.

    A Saudao de Barbrvore no captulo seguinte quele (VI) a vanimar,vanimlion nostari, traduzida tanto em Letters pg. 308 ( belos seres, pais debelas crianas) como em Sauron Defeated pg. 73 (belos seres criadores de seresbelos; esta traduo mais literal).

    Material sobre o quenya (embora na maioria apenas palavras isoladas)tambm ocorre nos Apndices do SdA, em particular no Apndice E.

    No Silmarillion, tambm temos algumas frases curtas em quenya. No cap-tulo 20 h alguns gritos de guerra: tlien aur! Aiya Eldali ar Atanatri, utlienaur! O dia chegou! Vejam, povo dos Eldar e pais dos homens, o dia chegou! - Autai lm! A noite est passando! - Aur entuluva! O dia vir novamente!. Prximo ao finaldo captulo 21 h o grito a Trin Turambar turun ambartanen, Trin, mestre dodestino, pelo destino derrotado - mas nos Contos Inacabados pg. 138 indicado queturun deveria ser lido de preferncia turn (evidentemente encurtado a partir de umaforma maior turna, o -a final sendo omitido porque a prxima palavra tambmcomea em a-). O apndice do Silmarillion, Elementos em nomes nos idiomas quenyae sindarin, tambm menciona muitas palavras pertencentes a esses dois idiomas.

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    No caso de outras fontes, uma anlise mais resumida bastar, uma vezque estes livros e jornais (diferente do SdA e Silm!) no apareceram em muitasedies e tradues. Posso ento simplesmente referir-me ao livro e pgina rele-vantes quando usar citaes dos mesmos, e essa referncia com sorte ser precisa osuficiente. Iremos list-los pelas seguintes abreviaes:

    RGEO: The Road Goes Ever On (nossas referncias s pginas so dasegunda edio de 1978, ISBN 0-04-784011-0). A primeira edio foi publicadaem 1968; essa , portanto, uma das nossas poucas fontes fora do SdA que forampublicadas durante a vida de Tolkien, o que confere a ela uma autoridade extra (pois,quando algo era publicado, ele normalmente considerava-o uma parte fixa e imutveldos mitos). Apesar de RGEO ser basicamente um ciclo de canes (poemas deTolkien com msica de Donald Swann), Tolkien incluiu tambm notas bastanteabrangentes em dois poemas lficos que ocorrem no SdA, Namri e o hino sindarinA Elbereth Gilthoniel (RGEO: 66-76). Alm de escrev-los na escrita fanoriana,ele tambm forneceu uma traduo entrelinhas de ambos; isso nos permite saber comcerteza o que significa cada palavra. Ele tambm reorganizou o Namri em umaverso em prosa mais clara, como uma alternativa verso potica no SdA for-necendo-nos uma oportunidade nica para comparar o estilo potico com o prosaicono quenya. Desse modo, irei referir-me algumas vezes ao Namri prosaico.

    CI: Contos Inacabados (1980; Martins Fontes, 1 edio brasileira [2002],ISBN 85-336-1537-X). Uma coleo de materiais publicada postumamente quesuplementa e algumas vezes disseca as histrias do SdA e do Silm, embora,como o ttulo indica, nem todas elas foram terminadas pelo autor. De particularinteresse para os estudantes de lfico o Juramento de Cirion, encontrado em CI: 340:Vanda sina termaruva Elennanro alcar enyalien ar Elendil vorondo voronw. Naitiruvantes i hrar mahalmassen mi Nmen ar i Eru i or ily mahalmar e tennoio. Atraduo (no completamente literal) dada no texto : Este juramento h de per-manecer em memria da glria da Terra da Estrela, e da f de Elendil, o Fiel, aoscuidados daqueles que se assentam sobre os tronos do Oeste e do Um que estacima de todos os tronos para sempre. Tolkien adicionou algumas notas interessantessobre as palavras em quenya (CI: 497), permitindo-nos analisar o Juramento em si.

    Letters: The Letters of J. R. R. Tolkien (1981, ISBN 0-04-440664-9). Edita-do por Humphrey Carpenter, bigrafo de Tolkien, essa coletnea de cartas tambmcontm algumas informaes lingsticas. Os leitores do SdA ocasionalmente escre-viam para Tolkien fazendo perguntas mencionando exemplos de quenya e sindarinencontrados naquela obra, e sendo este o assunto favorito de Tolkien, ele freqentementeescrevia respostas bastante detalhadas. Entre outras coisas, o Letters fornece traduesde alguns exemplos de lfico que no so traduzidos no prprio SdA, ver Aiya

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    Erendil Elenion Ancalima - Salve Erendil, a mais brilhante das estrelas (Letters:385; ns j citamos a traduo do Louvor de Cormallen em Letters: 308).

    MC: The Monsters and the Critics and Other Essays (1983, ISBN 0-04-809019-0). Esse livro contm o ensaio de Tolkien A Secret Vice (Um Vcio Secre-to) (MC: 198-223), no qual ele expe seus pensamentos e teorias sobre a cons-truo de idiomas em geral. Ele tambm inclui alguns poemas lficos, sendo omais notvel o Oilima Markirya ou A ltima Arca, que listado em vriasverses. A verso do Markirya que mais interessante s pessoas que estejamestudando o tipo de quenya exemplificado o SdA encontrada em MC: 221-223(incluindo algumas anotaes valiosas).

    Tendo editado e publicado o Silm, CI e MC a partir dos papis deixadospor seu pai, Christopher Tolkien comeou o que se tornaria um projeto altamenteambicioso. No perodo de 1983-1996, ele publicou uma srie de no menos quedoze volumes, demonstrando como seu pai desenvolveu suas narrativas mundial-mente famosas no decorrer de muitos anos. A srie History of Middle-earth (HoMe)apresenta as muitas camadas de manuscritos, documentando como o Silmarillione o SdA, como os conhecemos, gradualmente vieram a existir, e tambm apresen-tando outros materiais relacionados vasta mitologia de Tolkien. Por convenin-cia, listarei todos os volumes do HoMe por suas abreviaes padro, embora euno v realmente citar cada uma delas:

    LT1: The Book of Lost Tales 1 (1983, ISBN 0-04-823231-5) LT2: The Book of Lost Tales 2 (1984, ISBN 0-04-823338-2) LB: The Lays of Beleriand (1985, ISBN 0-04-440018-7) SM: The Shaping of Middle-earth (1986, ISBN 0-04-440150-7) LR: The Lost Road (1987, ISBN 0-04-440398-4) RS: The Return of the Shadow (1988, ISBN 0-04-440669-X) TI: The Treason of Isengard (1989, ISBN 0-261-10220-6) WR: The War of the Ring (1990, ISBN 0-261-10223-0) SD: Sauron Defeated (1992, ISBN 0-261-10305-9) MR: Morgoths Ring (1993, ISBN 0-261-10300-8) WJ: The War of the Jewels (1994, ISBN 0-395-71041-3) PM: The Peoples of Middle-earth (1996, ISBN 0-216-10337-7)

    Cada um desses livros fornece pistas para a estrutura dos idiomas de Tolkien,embora freqentemente de um modo casual (Christopher Tolkien incluiu relativa-mente pouco dos escritos estritamente lingsticos de seu pai que, sendo altamentetcnicos, seriam de pouco interesse aos leitores em geral). Para as pessoas interessadas

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    nos idiomas de Tolkien como eles aparecem no SdA, os volumes mais importantesda HoMe so LR, WJ e SD, os quais qualquer estudante srio desses idiomas deveter em sua biblioteca particular. O nico texto longo em quenya que ocorre na HoMe,Cano de Friel, encontrado em LR: 72 - mas, principalmente, esses livros reprodu-zem trs importantes documentos de fontes aos quais eu freqentemente irei referir-me simplesmente pelo nome (como fazem a maioria dos estudantes da criaolingstica de Tolkien). Portanto, eles sero brevemente descritos aqui. Estamosfalando do Etimologias e dos ensaios Quendi and Eldar e Lowdhams Report.

    1. O Etimologias (chamado Etim para simplificar) encontrado em LR:347-400. (devo mencionar que existem por a diferentes verses do LR, ento h,infelizmente, mais de uma paginao; minhas referncias de pginas so da edionormalmente usada pelos lingistas tolkienianos.) Indubitavelmente o documentomais desconcertante de toda a srie do HoMe para os leitores casuais, esta a nossamais importante fonte nica de vocabulrio lfico. Contudo, este no um dicion-rio comum. uma lista em ordem alfabtica de cerca de seiscentas bases ou razesprimitivas, as vrias entradas listando palavras reais derivadas destas razes como elasaparecem em idiomas lficos posteriores (s vezes, a real forma oculta e lficaprimitiva tambm mencionada, refletindo rigorosamente a prpria base). Porexemplo, sob a entrada LAK (LR: 348), propriamente definida como veloz, en-contramos esta srie: *alk-wa cisne: Q alqa; T alpa; NA alpha; N alf. A idia deTolkien que a palavra lfica primitiva alk-wa evoluiu para o Q[uenya] alqa, T[elerin]alpa, N[oldorin] A[ntigo] alpha e N[oldorin] alf. O Etimologias foi escrito na segun-da metade dos anos trinta, e a ortografia e conceitos gerais diferem um pouco docenrio do SdA conforme publicado no incio dos anos cinqenta. (Se formos atuali-zar o exemplo recm citado, devemos ler Sindarin no lugar de Noldorin, e o quenyaalqa e o noldorin/sindarin alf devem dessa forma ser escritos alqua e alph, respectiva-mente ambas palavras, assim escritas, so realmente confirmadas em obras posterio-res.) Apesar do fato de que o Etimologias em alguns aspectos reflete um cenriolingstico um tanto desatualizado, uma vez que Tolkien empreendeu revises im-portantes aps ter escrito o Etim, ele ainda uma mina de ouro de informaes (ecomo recm demonstramos, ele pode de certa forma ser atualizado com prazer deacordo com as idias posteriores de Tolkien). De todos os idiomas de Tolkien menci-onados no Etim, o quenya , de qualquer forma, entre as lnguas, o que menos foiafetado significativamente por suas revises subseqentes. (No caso do noldorin, poroutro lado, ele remendaria sua fonologia e evoluo imaginria, e alteraria drastica-mente sua histria interna, para produzir o sindarin como o conhecemos do SdA.)

    2. Quendi and Eldar (s vezes Q&E para simplificar) encontrado emWJ: 360-417. Este ostensivamente um ensaio sobre a Origem e os Significados

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    das palavras lficas referentes aos elfos e suas variedades. Com apndices sobreseus nomes para outros Encarnados. Esse terreno certamente abrangido, masfelizmente (do nosso ponto de vista!) h muitas digresses, apndices e notas quefornecem muita informao extra sobre os idiomas lficos como Tolkien veio aconceb-los no perodo ps-SdA: esse ensaio data de cerca de 1959-60. ChristopherTolkien sentiu que uma seo substancial divergia radicalmente do assunto abor-dado no ensaio, e retirou-a na edio (ver WJ: 359, 396). Por sorte, a seo omi-tida foi posteriormente publicada no jornal Vinyar Tengwar, edio 39. Quandoeu citar o Quendi and Eldar, irei referir-me, ento, algumas vezes ao WJ e outrasao Vinyar Tengwar (VT). Embora a seo que aparea no VT possa ser digressiva,ela , claro, de imenso interesse s pessoas que estudam os idiomas de Tolkien.

    3. Lowdhams Report, ou na ntegra Lowdhams Report on the AdunaicLanguage (Relato de Lowdham sobre o idioma adunaico), pode ser encontradoem SD: 413-440. Como o ttulo indica, esse relato est principalmente preocupa-do com outro idioma alm do quenya: adunaico (nos Apndices do SdA escritoadnaico), o vernculo de Nmenor. Entretanto, um pouco de informao sobreo quenya, que nesse relato referido como avalloniano, tambm pode ser colhi-da - os dois idiomas s vezes sendo comparados ou contrastados. (Lowdham ape-nas um personagem fictcio de Tolkien. Tolkien algumas vezes apresentava at mesmoinformaes muito tcnicas sobre seus idiomas como se estivesse meramente citandoou referindo-se s observaes e pontos de vista de vrias pessoas que viviam dentrodos seus mitos. Entre suas fontes ficcionais favoritas encontramos Fanor, o maior,mas tambm o mais orgulhoso dos Noldor, Rmil, o sbio de Tirion, e Pengolodh,o mestre de tradio de Gondolin: muitos dos personagens de Tolkien parecemcompartilhar o interesse de seu autor em escritas misteriosas e idiomas estranhos.)

    As fontes at agora mencionadas so aquelas publicadas ou editadas peloprprio Tolkien ou por seu filho - exceto pelo Letters, que foi editado por HumphreyCarpenter. Alm disso, existem algumas obras editadas e publicadas por outros.Alguns pedaos muito breves de informaes podem ser extrados do J.R.R. Tolkien- Artist and Illustrator, editado por Wayne Hammond e Christina Scull. Os resul-tados da Equipe Editorial, escassos mas no desprezveis, tambm devem ser men-cionados. O jornal Vinyar Tengwar (VT), editado por Carl F. Hostetter, teve suapoca de ouro no perodo de 1988-93, quando o editor conseguiu manter umacontnua publicao bimestral. Quando Hostetter e os outros membros da EE,no incio dos anos noventa, comearam a receber material original de Tolkien domaior interesse para ser editado e publicado, o ritmo de publicao caiu misteri-osamente para cerca de uma edio por ano, e esta situao continuou durante a

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    segunda metade dos anos noventa e permanece assim na dcada atual. Nem todas daspoucas edies que foram publicadas possuem algum material novo de Tolkien, eaquelas que o tm so geralmente dedicadas a partes muito curtas (que, alm disso, soamostras de material muito primitivo que claramente no compatvel com o SdA).

    Algumas edies, porm, sobressaem-se, e uma delas j foi mencionada:na edio 39, julho de 1998, Hostetter publicou a parte de Quendi and Eldar queChristopher Tolkien deixou de fora de WJ, assim como o ensaio sanwe-kenta (oltimo no estritamente lingstico pelo seu tema, mas Tolkien, entretanto,mencionou algumas palavras em quenya). Alguns materiais teis tambm apare-cem na edio 41, julho de 2000, que preenchem certas lacunas irritantes nonosso vocabulrio (em particular com relao ao verbo poder) e fornecem novase interessantes informaes sobre a formao do tempo presente. Em janeiro de2002, vrias tradues em quenya do Pai Nosso e da Ave Maria foram publicadasna edio 43; Tolkien, o catlico, produziu mais de uma verso lfica desses textos.

    Os outros dois principais resultados da EE no esforo de edio consistem namaior parte de materiais de listas de palavras: o Gnomish Lexicon [Lxico Gnmico](GL) e o Qenya Lexicon [Lxico Qenya] (QL, tambm conhecido como o Qenyaqetsa,abreviado QQ). O GL menciona tambm algumas palavras de qenya (do mesmomodo como o QL menciona algumas palavras gnmicas; os idiomas so freqentementecomparados ou contrastados). Com relao ao qenya como oposto ao quenya(no estilo do SdA), ver abaixo. Esses lxicos foram publicados nas edies 11 e 12do jornal Parma Eldalamberon, em 1995 e 1998, respectivamente. Eles foramoriginalmente escritos durante a Primeira Guerra Mundial, quando a verso maisprimitiva dos mitos de Tolkien comeou a tomar forma: o manuscrito do QL geralmente datado de 1915, e o GL de 1917. Trechos substanciais j foram publi-cados em 1983-84, quando Christopher Tolkien trabalhou pesadamente sobre oslxicos nos apndices de LT1 e de LT2. Prefixado a cada lxico, Parma tambmpublicou alguns materiais relacionados: uma gramtica gnmica nunca terminada,na edio 11, e algumas descries fonolgicas para o qenya, na edio 12.

    Dos exemplos reais de quenya at agora mencionados, irei referir-mecom freqncia ao Namri, Saudao de Barbrvore, Declarao de Elendil, Jura-mento de Cirion, Cano de Friel e Markirya simplesmente pelo ttulo ou nome,nem sempre fornecendo uma referncia ao livro e pgina. Da considerao acima,o estudante saber onde eles so encontrados. Na maioria dos outros casos forne-cerei uma referncia quando citar algo, uma vez que determinado exemplo sergeralmente encontrado em uma das fontes que permitem uma precisa refernciaa livro e pgina (j que no h uma quantidade absurda de diferentes edies com

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    diferentes numeraes de pginas por a). Quando referir-me a entradas emEtimologias (em LR), simplesmente citarei a entrada-chave, que pode ser facil-mente localizada em todas edies (independente das pginas).

    UMA PALAVRA DE ADVERTNCIACOM RELAO S PARTES DO CORPUS

    Disperso nas fontes listadas acima, temos um corpus total de quenyaque equivaleria a aproximadamente 150 pginas se fossem todas reunidas (embo-ra a maior parte dele seja apenas materiais de listas de palavras sem relao; asamostras de texto real so muito mais raras e poderiam provavelmente ser coloca-das em no mais do que duas ou trs pginas). Mas aqui uma palavra de advertn-cia dada: se voc quer aprender o tipo de quenya que encontrou no SdA, nemtodas as amostras encontradas nesse corpus so totalmente confiveis - mesmoque elas sejam com certeza genuinamente de Tolkien. Para evitar o que seria po-tencialmente uma confuso, o estudante deve inteirar-se imediatamente de umfato: o tipo de quenya exemplificado no SdA no apenas o nico tipo de quenya queexiste. Se voc comear a analisar todas as amostras de quenya que possumos nomomento, logo perceber que elas no formam uma massa homognea. A maio-ria das amostras certamente muito se parece, nunca se distanciando demais dasformas de palavras inspiradas no finlands, mas muito do material primitivo (nuncapublicado durante a vida de Tolkien) pode ser mostrado para empregar ou pressu-por palavras, desinncias declinveis e regras gramaticais que diferem do sistemado quenya no estilo do SdA. Certamente, nenhuma amostra completamente dife-rente do quenya no estilo do SdA - mas em materiais que antecedem a metade dosanos trinta, tambm no h qualquer exemplo que seja completamente idntico.

    Tolkien era, por assim dizer, excelente no que diz respeito inveno deidiomas. Fix-los em uma forma ntida e imutvel era uma tarefa quase imposs-vel para ele. Havia sempre novas idias com as quais ele queria trabalhar nas suasestruturas, mesmo se essas idias contradissessem e tornassem obsoleto o que elehavia escrito anteriormente. Podemos ter certeza que o personagem fictcioLowdham fala pelo prprio Tolkien (SD: 240):

    Ao idealizar um idioma, voc livre: livre demais (...) Quando voc estapenas inventando, o prazer ou diverso est no momento da inveno; mascomo voc o mestre, seu capricho lei, e voc pode querer a diversonovamente, renovada. Voc pode sempre procurar defeitos, alterar, refinar ehesitar de acordo com o seu humor lingstico e com suas mudanas de gosto.

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    Com a publicao pstuma de muitos escritos de Tolkien, temos muitasprovas da procura de defeitos, alterao, refinamento e hesitao de sua parte. agora evidente que o quenya apareceu em muitas personificaes e, apesar detodas compartilharem o mesmo estilo geral e provavelmente parecerem uma scoisa para um estudante novo, elas na verdade diferem em muitos detalhes degramtica, vocabulrio e mesmo na fonologia. Uma forte demonstrao das ex-tensas revises de Tolkien dada pelo poema Markirya, que existe em uma versoque data do incio dos anos trinta (MC: 213) e outra que quarenta anos maisnova, datando da ltima dcada de vida de Tolkien (MC: 221-223). Ambas asverses tm (quase) o mesmo significado, mas a verso posterior , no sentidopleno da palavra, uma traduo da anterior, e no uma mera reescrita: apenasumas poucas palavras e desinncias declinveis so comuns a ambos os textos.

    Uma vez que Tolkien usava tipicamente nas fontes pr-SdA a grafia qenyaao invs de quenya (embora a pronncia pretendida seja a mesma), outras pessoase eu freqentemente usamos qenya (de preferncia em citaes) como um nomedas variantes primitivas do quenya que so mais ou menos diferentes da formaque aparece no SdA e em fontes posteriores. A primeira verso do Markirya cha-marei assim de poema em qenya; apenas a verso posterior em quenya como oconhecemos a partir do SdA. Alguns outros poemas reproduzidos em MC (Nieninqee Earendel, pgs. 215-216), assim como um poema alternativo da ltima Arca comsignificado diferente do Markirya clssico (MC: 221), tambm so decididamenteqenya ao invs de quenya. Esses textos com certeza podem ser aproveitados por suasprprias qualidades, mas como material de pesquisa para estudantes que tentam com-preender a estrutura do estilo de quenya do SdA, eles excluem-se mutuamente.

    Como seria de se supor, o idioma geralmente torna-se mais similar suaforma final quanto mais perto chegamos da composio do SdA por Tolkien.Por exemplo, o texto relativamente tardio, Cano de Friel, quase, mas nointeiramente, quenya no estilo do SdA. Entretanto, no se deve ter uma visosimplista disso, acreditando que Tolkien comeou em 1915 com um idioma queera diferente demais do quenya da SdA e que gradualmente evoluiu para oquenya no estilo do SdA, em uma bela e organizada linha evolutiva. A escassez demateriais publicados no permite-nos acompanhar o processo em qualquer deta-lhe, mas j evidente que Tolkien continuou mudando de idia constantemente,no apenas fazendo revises, mas tambm freqentemente desfazendo-as maistarde: de fato alguns de seus materiais mais primitivos, escritos durante PrimeiraGuerra Mundial, do uma grande impresso de serem mais parecidos com o quenyano estilo do SdA do que certos poemas em qenya do incio dos anos trinta.Parece que Tolkien, ao invs de progredir ousadamente em direo ao quenya

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    no estilo do SdA, fez uma srie de desvios no caminho, algumas vezes aventuran-do-se em revises radicais que eventualmente mostravam-se desagradveis e eramrejeitadas. Mesmo assim, em outros casos, certas revises mostraram-se durveis,com Tolkien evidentemente percebendo-as como melhorias genunas - mas o pro-cesso completo era inteiramente imprevisvel, pois em um jogo como esse nopoderia haver critrios objetivos imaginveis para o que se constitui uma melhoria:como Tolkien dizia atravs de Lowdham, Seu capricho lei.

    Algo realmente prximo do quenya no estilo do SdA parece ter feito suaprimeira apario na segunda metade da dcada de trinta, com a criao doEtimologias. Mas no se deve pensar que tudo estava completamente resolvidomesmo aps o SdA ter sido escrito e publicado na primeira metade dos anoscinqenta; Tolkien realmente usou a oportunidade para fazer algumas correes,mesmo com as amostras de quenya publicadas nessa obra, quando a edio revisa-da apareceu em 1966 (e ainda mais reparos certamente estavam sendo feitos nosbastidores). Sete anos mais tarde ele morria, e h pouca razo para acreditar quealguma vez tenha conseguido (ou sequer tentado seriamente) fixar o quenya eseus outros idiomas em uma forma lapidada definitiva, ordenando cada detalhe.Membros da Equipe Editorial indicaram que os manuscritos tardios de Tolkientestemunham uma ltima fase de intensa experimentao mas, aparentemente,jamais surgiu uma verso final ou definida. Essa no era necessariamente umafalha, como a de um compositor que nunca consegue terminar sua grande pe-ra: A mudana incessante, muitas vezes frustrante queles que estudam essesidiomas, era inerente sua arte, observa Christopher Tolkien (SD: 440). Em outrolugar ele comenta que, a respeito do trabalho de seu pai nos idiomas, parece que asimples tentativa de escrever um relato definitivo produzia um descontentamentoimediato e o desejo por novas construes: assim, os mais belos manuscritos eram logotratados com desdm (LR: 342). Enquanto o prazer se situasse na criao em si,Tolkien no poderia escrever um relato definitivo, ou sua diverso estaria terminada.

    Contudo, se comparado intensa experimentao de Tolkien nos vinte anos apartir de 1915, o quenya parece ter entrado em um tipo de fase estvel na segundametade dos anos trinta. No decorrer da dcada seguinte, Tolkien escreveu o SdA, queinclua algumas amostras de quenya como agora apresentava-se (de forma mais not-vel, o Namri). Com a eventual publicao do SdA em 1954-55, essas formas torna-ram-se uma parte fixa dos mitos (apesar das sutis correes de Tolkien na revisode 1966). Publicado o SdA, Tolkien obviamente no poderia revisar seus idiomasto livremente como antes. De acordo com o relatado, existem indicaes nos seusmanuscritos ps-SdA de que ele realmente sentiu-se de certo modo reprimido. Masessa relativa estabilidade seria depois uma boa notcia para as pessoas querendo apren-

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    der ou estudar o quenya, a deciso mais ou menos definitiva de Tolkien de comoesse idioma teria realmente sido nas distantes eras registradas pelas suas narrativas.

    Algumas pessoas (incluindo a mim) referem-se a este como quenya ma-duro. Outras sentem que esse termo indevidamente depreciativo s formas pri-mitivas do quenya ou qenya, uma vez que fica uma noo inevitvel de que elaseram de algum modo imaturas e inferiores. Artstica e subjetivamente falando, creioque a forma final do quenya mais atrativa do que os experimentos iniciais deTolkien, e no pode haver dvida de que esse o tipo de quenya que a maioria dosestudantes ir querer aprender primeiramente - e no as variantes anteriores que oprprio Tolkien rejeitou. Por esse motivo, essa certamente a verso do quenyaque Tolkien gostaria que estudssemos; se dependesse dele, ns jamais teramosvisto quaisquer das outras verses! Ele tomou o maior cuidado para assegurar queseus mitos permanecessem livres de contradies internas, e ele nunca teria reco-nhecido variantes contraditrias do quenya como sendo de alguma maneira igual-mente vlidas. De fato deve-se observar que, j idoso, Tolkien referiu-se a essa formamais inicial de qenya como muito primitiva (PM: 379). Portanto, no temos esco-lha a no ser tratar o material inicial com considervel cuidado, e h pouca razopara acreditar que Tolkien teria ficado muito insultado se outras pessoas dissessem (ourealmente concordassem!) que suas variantes primitivas de qenya no so toatrativas como suas verses posteriores cuidadosamente refinadas do idioma.

    Ainda assim, neste curso optei por falar no de quenya maduro, massim de quenya no estilo do SdA. O ltimo termo deve ser completamente nocontroverso. O idioma que este curso ensina , claro, quenya no estilo do SdA,to bem quanto pode aproximar-se no atual estgio - mas no h nenhum pontoque afirme que as muitas variantes primitivas de qenya nunca existiram. Defato irei referir-me a algumas de suas caractersticas, para dar ao estudante algumaidia de que tipo de variantes ocorrem no material. Com exceo de tais conside-raes acadmicas, o material primitivo algo ao qual poderemos recorrer quandoo material mais prximo composio (e preferencialmente posterior) do SdAseja insuficiente para os nossos propsitos. Em particular, podemos aproveitar omaterial de qenya para itens teis de vocabulrio, em cada caso tendo certeza deque as palavras tiradas do quenya no estilo do SdA ajustam-se a essa lngua (isto ,elas no devem entrar em conflito com palavras posteriores de diferentes signifi-cados, e a forma das prprias palavras deve ajustar-se fonologia e ao sistemaderivativo do idioma como Tolkien eventualmente veio a prever). Afinal, todas asencarnaes do q(u)enya em todo o perodo a partir do qual o idioma foi inven-tado, em 1915, at a morte de Tolkien em 1973, podem bem ser vistas, de certomodo, como variaes interminveis sobre os mesmos temas. portanto, de certa

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    forma, apenas para ajustar isso aos nossos esforos de desenvolver uma formautilizvel de quenya que levamos tudo em considerao. Mas para a abrangenteestrutura gramatical e fonolgica, devemos priorizar a viso de Tolkien como ma-nifestada no SdA e em escritos ps-datados a essa obra: se temos algum respeitopelas intenes de Tolkien, a forma de quenya que tentarmos consolidar deve sercompatvel com o SdA.

    Poucas coisas podem ser fceis ou ntidas neste estranho canto da Lin-guagem. Reconstruir a estrutura do quenya como tentar montar um gigantescoquebra-cabea de peas muito espalhadas. Muitas peas esto simplesmente fal-tando, vastas quantidades de material esto inacessveis a estudiosos (e, para tor-nar as coisas piores, aqueles que se supunha estarem publicando-o, parecem estarmuito mais preocupados em cancel-lo). Alm disso, por causa das freqentesrevises de Tolkien, sequer podemos ter certeza de que todas as peas que tenha-mos encontrado pertenam ao mesmo quebra-cabea. Algumas claramente no seajustam e podem ser ignoradas; muitas outras caem na categoria do duvidvel,e realmente no sabemos o que fazer com elas.

    Neste curso mencionarei algumas das variaes e apresentarei minhassuposies qualificadas (espero) do que devemos aceitar como confivel e o que provavelmente melhor ser ignorado. De fato, devido carncia geral de informa-es gramaticais explcitas da parte de Tolkien, no apresentarei sempre a gramti-ca do quenya com segurana e autoridade mas, sim, voc ir ver-me revisarfreqentemente qualquer evidncia que esteja disponvel e tentar redigir algumasregras que possamos seguir quando montarmos nossas prprias composies emquenya. Mas, de certo modo, isso precisamente o que eu gostaria de fazer, paraassim inteirar os estudantes com o tipo de dedues que o campo da lingsticatolkieniana trata nesse estgio. Com respeito a alguns materiais que publiqueianteriormente, tenho recebido (gentis) reclamaes de que eu meramente listeiminhas concluses sem mostrar em que elas foram baseadas, afirmando de umaforma um tanto dogmtica que isto assim e assim, aceite minha palavra emrelao a isso. Creio que esse estilo era inevitvel em uma apresentao breve,mas aqui irei, em muitos casos, aproveitar-me da oportunidade para voltar s fontesprimrias e realmente demonstrar que tipo de dedues fundamenta cada coisa.

    Precisamente por ser o quenya de Tolkien um tipo de entidade flexvel,fixada em linhas gerais, mas com interminveis variaes contraditrias quandose chega aos detalhes, podemos sentir-nos de certa forma livres para consolidarnosso prprio padro (no o tornando mais difcil do que podemos). Enquantoorganizarmos um sistema utilizvel a partir dos elementos fornecidos por Tolkien,mesmo que no haja modo de aceitarmos todas as variaes conhecidas dentro de

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    um sistema simples e unificado, o idioma resultante ser o quenya real - na medi-da em que tal coisa possa existir.

    CONVENES ORTOGRFICAS

    No decorrer das dcadas, a ortografia de Tolkien para o quenya variou emdeterminados detalhes. Como tratado acima, quase cada aspecto do quenya era dealgum modo varivel mas, diferente da gramtica instvel, as variaes ortogrficasno so muito sucessivas: de qualquer modo, o nosso alfabeto no , teoricamente,a escrita original para o quenya. Tolkien estava simplesmente hesitante sobre o me-lhor modo de converter em nossas prprias letras a suposta escrita lfica original (oTengwar, tambm chamado de escrita fanoriana - uma escrita singularmente belaque Tolkien desenvolveu com o mesmo cuidado afetivo dispensado aos prpriosidiomas). Neste curso, uma ortografia consistente foi imposta ao material, basea-da principalmente na ortografia usada no SdA (digo baseada principalmenteporque a ortografia usada no SdA tambm no completamente consistente, mas bem prxima disso!). A respeito da ortografia usada no SdA, Tolkien escreveu:O idioma arcaico de tradio [isto , o quenya] tido como um tipo de latimlfico e, ao transcrev-lo em uma ortografia muito parecida com a do latim (excetopelo fato de que o y usado apenas como uma consoante, como o y na palavra[inglesa] Yes), a semelhana com o latim aumentou a olhos vistos (Letters: 176).

    Delinearei as convenes ortogrficas usadas neste trabalho. O que sesegue no algo que um estudante novo precise absorver cuidadosamente. Aspessoas que quiserem estudar o quenya devem, porm, estar conscientes das prin-cipais inconsistncias ortogrficas nas fontes primrias. Guiado antes de mais nadapela ortografia que Tolkien usou no SdA, regularizei as seguintes caractersticas:

    Comprimento da vogal indicado por um acento (e nenhum outro smbolo):na sua ortografia do quenya, Tolkien sempre usou algum tipo de smbolo paraindicar as vogais que se pronunciam longas (se voc no sabe o que uma vogal,veja a primeira lio regular). Mas precisamente que smbolo ele usava algo umtanto quanto varivel. Algumas vezes ele usa um mcron, uma linha curta hori-zontal acima da vogal; isso especialmente comum em Etimologias e em certasobras filolgicas. s vezes um circunflexo usado; ex: na palavra flima reser-vado do dicionrio de qenya mais primitivo (LT2: 340/QL: 38). Mas no SdAe na maioria das fontes posteriores, Tolkien usa tipicamente um acento normalpara indicar o comprimento da vogal, e assim faremos aqui: , , , , longos em

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    oposio a a, e, i, o, u curtos. Portanto, se eu alguma vez precisar da palavraflima, irei escrev-la flima. Quando citar formas lficas primitivas, entretanto,usarei circunflexos para sinalizar vogais longas. Nas fontes, porm, os mcronsso geralmente usados: j citamos alk-wa cisne a partir da entrada LAK noEtim., com o mcron acima do a final indicando que a vogal longa.

    C ao invs de K: se voc incomodou-se em procurar a referncia queforneci para a frase Anar caluva tielyanna acima (Contos Inacabados pg. 10),voc pode ter notado que, na fonte, a palavra do meio na verdade escrita kaluva.Em quenya, k e c representam o mesmo som (pronunciado K); Tolkien simples-mente no conseguiu decidir que letra usar. Em fontes pr-SdA, tais como oEtimologias e o primeiro Qenya Lexicon, ele usou principalmente k (embora, emalguns casos, o c tambm aparecesse nessas fontes). Uma vez que a inspiraooriginal para o quenya foi o finlands, e a ortografia finlandesa emprega a letra k,no de se surpreender que Tolkien originalmente tenha preferido essa grafia.Mas evidente, a partir do Letters: 176 citado acima, que ele mais tarde decidiuque no SdA escreveria o quenya o mais parecido possvel com o latim. Guiadopela ortografia do latim, ele comeou a usar a letra c ao invs da k: Decidi serconsistente e escrever os nomes e palavras lficas inteiramente sem o k (Letters:247). Por exemplo, a palavra para metal foi escrita tinko no Etimologias (entra-da TINK) mas, no Apndice E do SdA, a mesma palavra com o mesmo signifi-cado aparece como tinco. Portanto, regularizaremos da em diante k para c. umfato curioso que Tolkien, mesmo nas fontes posteriores ao SdA, em muitos (defato, na maioria dos) casos tenha voltado ao uso do k. Seus escritos so bastanteinconsistentes nesse ponto. Uma palavra para ano dada como Kasar com umk em WJ: 388; mesmo assim, na pgina seguinte, Tolkien troca para c quando citao nome em quenya de Moria: Casarrondo (Caverna dos Anes ou Salo dosAnes). Uma palavra para casa aparece como ka em WJ: 369 (karya suacasa), mas em MR: 250, a mesma palavra escrita com um c na palavra compos-ta cacalina luz da casa (uma expresso lfica para a alma dentro do corpo). Emalgumas notas tardias publicadas em VT41: 10, Tolkien mencionou uma palavra,ruskuite astuto, usando a letra k ao invs da c, mas logo aps ele escreveu umapalavra, calarus cobre polido, usando c no lugar de k. Do Silmarillion publicadopostumamente, lembramos de nomes como Melkor e Tulkas, mas em MR: 362,382 as grafias usadas so Melcor e Tulcas. A palavra em quenya para cavalo escrita rocco em Letters: 282, mas em Letters: 382, temos rokko. Imitar a persis-tente indeciso de Tolkien nesse assunto seria um tanto sem sentido ou mesmoconfuso. Por exemplo, a palavra em quenya para cama dada em LR: 363 como

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  • 43

    kaima, mas no Namri no SdA, a palavra obviamente relacionada, deitam, escrita caita. Manter a ortografia inconsistente como um tipo de reverncia equi-vocada obscureceria a relao entre as palavras; para combinar com caita, a pala-vra para cama deveria evidentemente ser escrita caima. Devo mencionar que haqueles que, ao invs disso, regularizariam o material para k, descartando as grafiasusadas no SdA em favor da ortografia que Tolkien usa em muitas outras fontes.Isso apenas uma questo de gosto e, na questo do C ou K, todos os escritorespodem basicamente fazer suas prprias escolhas, mas eu geralmente irei aderir ortografia do SdA. Afinal de contas, o SdA uma obra particularmente central noque diz respeito ao ambiente no qual Tolkien estabeleceu seus idiomas.

    NOTA: Mas no caso do ttulo do poema Markirya, tendo a manter o k simplesmente porque a palavra markirya ou arcaocorre apenas na primeira verso em qenya do poema. Ela no encontrada na verso posterior em quenya, embora euno saiba