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Crenças e atitudes linguisticas na comunidade rural do Cubatão Jaqueline Cerezoli (PG – UNIOESTE) Resumo: Este artigo relata o andamento da pesquisa denominada Crenças e Atitudes Linguísticas dos falantes da comunidade rural “Cubatão”, localizada no município de Guaratuba-PR. Interessa aos estudos das Crenças e Atitudes Linguísticas de um determinado grupo, conforme (BOTASSINI, 2011) analisar as diferenças e as semelhanças estabelecidas na crença e nas atitudes dos falantes sobre a língua de outrem, isso quando são consideradas variáveis extralinguísticas como sexo, faixa etária e nível de escolaridade. É necessário, segundo a autora, nesse tipo de estudo, identificar os fatores que decorrem da crença linguística que conduzem a atitudes positivas ou negativas em relação à língua e ao grupo do outro. A comparação entre os julgamentos relativos às diferentes línguas e os grupos linguísticos a serem analisados é também foco do estudo. Palavras-chave: Crenças, atitudes linguísticas, comunidade rural. Introdução Segundo Moreno Fernandes (1998, p. 179), a atitude linguística é uma manifestação da atitude social dos indivíduos, diferenciada por centrar-se e referir-se, de forma específica, tanto à língua como ao uso que dela se faz na sociedade, o que resulta em atitudes relacionadas aos diferentes estilos de fala, socioletos, dialetos ou mesmo a línguas diferentes. Para o autor, “a atitude é uma conduta, uma reação ou resposta a um estímulo, isto é, a uma língua, uma situação ou características sociolinguísticas determinadas” (MORENO FERNANDES, 1998, p.179). Portanto, o estudo que se pretende realizar entende que na comunidade pesquisada existem crenças referentes aos dizeres relacionados à uma determinada variante. O interesse se dá principalmente em coletar dados referentes à consciência linguística dos informantes quanto à forma como julgam seu próprio falar em uma realidade dita monolíngue. Para tanto, serão considerados encaminhamentos dados ao Projeto Crenças e Atitudes Linguísticas (CAL), desenvolvido por Aguilera (2008) e Sella (2009). Segundo o que salienta Corbari (2013, p.15), no Estado do Paraná, “graças à colonização por descendentes de imigrantes de diversas etnias e aos contatos estabelecidos nas regiões fronteiriças a países hispano-americanos”, apresenta-se um cenário sociolinguístico complexo. Esse fator favorece “o estudo tanto das línguas em contato quanto das crenças e atitudes relacionadas a essas línguas e a seus usuários”, pois este escopo beneficia “manifestações tanto positivas (prestígio linguístico) quanto negativas (desprestígio

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Crenças e atitudes linguisticas na comunidade rural do Cubatão

Jaqueline Cerezoli (PG – UNIOESTE)

Resumo: Este artigo relata o andamento da pesquisa denominada Crenças e Atitudes

Linguísticas dos falantes da comunidade rural “Cubatão”, localizada no município de

Guaratuba-PR. Interessa aos estudos das Crenças e Atitudes Linguísticas de um determinado

grupo, conforme (BOTASSINI, 2011) analisar as diferenças e as semelhanças estabelecidas na

crença e nas atitudes dos falantes sobre a língua de outrem, isso quando são consideradas

variáveis extralinguísticas como sexo, faixa etária e nível de escolaridade. É necessário,

segundo a autora, nesse tipo de estudo, identificar os fatores que decorrem da crença linguística

que conduzem a atitudes positivas ou negativas em relação à língua e ao grupo do outro. A

comparação entre os julgamentos relativos às diferentes línguas e os grupos linguísticos a

serem analisados é também foco do estudo.

Palavras-chave: Crenças, atitudes linguísticas, comunidade rural.

Introdução

Segundo Moreno Fernandes (1998, p. 179), a atitude linguística é uma manifestação da

atitude social dos indivíduos, diferenciada por centrar-se e referir-se, de forma específica, tanto

à língua como ao uso que dela se faz na sociedade, o que resulta em atitudes relacionadas aos

diferentes estilos de fala, socioletos, dialetos ou mesmo a línguas diferentes. Para o autor, “a

atitude é uma conduta, uma reação ou resposta a um estímulo, isto é, a uma língua, uma situação

ou características sociolinguísticas determinadas” (MORENO FERNANDES, 1998, p.179).

Portanto, o estudo que se pretende realizar entende que na comunidade pesquisada existem

crenças referentes aos dizeres relacionados à uma determinada variante.

O interesse se dá principalmente em coletar dados referentes à consciência linguística

dos informantes quanto à forma como julgam seu próprio falar em uma realidade dita

monolíngue. Para tanto, serão considerados encaminhamentos dados ao Projeto Crenças e

Atitudes Linguísticas (CAL), desenvolvido por Aguilera (2008) e Sella (2009).

Segundo o que salienta Corbari (2013, p.15), no Estado do Paraná, “graças à

colonização por descendentes de imigrantes de diversas etnias e aos contatos estabelecidos nas

regiões fronteiriças a países hispano-americanos”, apresenta-se um cenário sociolinguístico

complexo. Esse fator favorece “o estudo tanto das línguas em contato quanto das crenças e

atitudes relacionadas a essas línguas e a seus usuários”, pois este escopo beneficia

“manifestações tanto positivas (prestígio linguístico) quanto negativas (desprestígio

linguístico) dos informantes frente aos falares locais”.

A comunidade estudada faz parte da Área de proteção Ambiental (APA) da baía de

Guaratuba. A localidade se distancia da área urbana e seu acesso somente é possível via barco,

pela baía ou por uma extensa estrada de chão de mais de 35 km até a cidade mais próxima,

Garuva-SC. De acordo com Ferreira (2010, p.10), o processo colonizatório dessa região se deu

a exemplo de outras comunidades litorâneas brasileiras, que “foi permeado pela mistura racial

de europeus e negros com nativos indígenas originando as chamadas comunidades caiçaras”.

Segundo a autora, “no que se concerne à colonização da costa paranaense, essa miscigenação

ocorreu mais entre as etnias de origem portuguesa com a indígena, sendo esta última de menor

expressividade na construção das manifestações artístico-culturais do litoral paranaense”

(FERREIRA, 2010, p.10). A área que se estende pela APA da baía de Guaratuba é composta

por vários vilarejos, dentre os quais Cubatão, Cubatão abaixo, Cubatão acima, Rasgadinho,

Rasgado, Pai Paulo, Limeira e Ribeirão Grande (FERREIRA, 2010, p.10). Para fins

metodológicos, a região estudada, doravante terá por nomenclatura “Comunidade Cubatão”,

isso porque é assim chamada a região onde se concentram a escola frequentada pelos estudantes

da localidade bem como o posto de saúde e igrejas, tanto católica quanto denominações

evangélicas.

O interesse pelo estudo de tal comunidade se deu devido às características locais, em

que se misturam descendentes de europeus (açorianos, italianos e alemães), negros e indígenas.

A localização, afastada da área urbana, e próxima a dois estados, Paraná e Santa Catarina, cria

um ambiente profícuo para o desenvolvimento de variantes linguísticas, que gera múltiplos

falares e pode ser objeto para uma investigação do campo das crenças e atitudes linguísticas.

Ainda, devido à cultura de subsistência local, e à presença de trabalhadores temporários nos

bananais1 é possível verificar a hipótese de que tal localidade possa ser considerada como

contexto repleto de atitudes linguísticas diferenciadas, em virtude de sua realidade sócio-

histórica e geográfica peculiar.

Nesses termos, Busse e Sella (2012, p.79) destacam que a língua, ao ser tomada como

“como um conjunto estruturado, no qual estão representadas as relações sociais e a organização

dos grupos”, [...] é determinada pelas condições de existência do homem no tempo e no

1 A produção de banana, do palmito pupunha e da palmeira real são a principal atividade agraria desenvolvida no

local. Conforme varia a produção desses produtos, varia também a migração de trabalhadores advindos dos dois

Estados.

espaço”. Destacam ainda que, “quanto à sua composição, organização e uso, a fala é resultado

da relação dinâmica entre os elementos internos e externos da língua”.

Botassini (2009, p.85) destaca que “a forma como se avaliam algumas variedades

linguísticas – positiva ou negativamente – denota atitudes de estigma e de identidade social”.

Para a autora, “a forma como as pessoas se colocam frente a determinadas variedades

linguísticas, as atitudes de rejeição ou de aceitação em relação a elas”, ou ainda “a avaliação

positiva ou negativa, as demonstrações de preconceito ou de admiração, a avaliação do que é

correto ou incorreto, adequado ou inadequado etc. revelam nossas crenças linguísticas”

(BOTASSINI, 2009, p.85).

As afirmações da autora corroboram o pensamento de Labov (2001, p. 63) quando

assinala que, em uma comunidade de fala, apesar de as pessoas compartilharem um conjunto

de normas comuns em relação à linguagem, não falam do mesmo modo. Ao contrário, nas

comunidades de fala, frequentemente encontram-se formas linguísticas em variação.

No caso do “Cubatão”, observa-se uma comunidade heterogênea que tem

experimentado o fenômeno da miscigenação, tanto na questão das variantes advindas dos

vários falares locais, devido a sua colonização, quanto às variações inerentes das comunidades

rurais, que, por si só, enfrentam o estigma de atrasada e é por vezes alvo do desprestígio. Tal

afirmação corrobora o que já foi dito por outros autores tais como López Morales (1993), para

quem, segundo Corbari (2013, p.64):

Os fenômenos linguísticos considerados rurais ou vulgares produzem uma

atitude negativa que leva ao seu rechaço, o que costuma apresentar

consequências na conduta linguística dos falantes de uma comunidade: eles

tendem a usar o que se considera mais aceitável e a não usar o rechaçável,

principalmente nos estilos cuidados, nos quais a consciência linguística

participa mais ativamente.

Nos limites da própria comunidade, percebem-se2 indícios daquilo que pode vir a ser

considerado ações de desprestígio relacionado às pessoas que residem em comunidades mais

afastadas, como a do Rasgadinho e Limeira, por exemplo. Isso pode ocorrer devido ao próprio

prestígio que a variante padrão tem em relação a variante usada nas comunidades rurais. Diante

2 A pesquisadora tem realizado observação participante em um estudo de cunho etnográfico na localidade pois

leciona na escola que se localiza na comunidade desde o início do ano de 2016 e tem frequentado reuniões

comunitárias, festas locais, bem como realizado visitas a alguns moradores a fim de inteirar-se dos costumes e

peculiaridades da região.

deste quadro surgem a indagações voltadas a esse fenômeno: seria possível afirmar que quanto

mais afastada a comunidade, menor seu prestígio linguístico?

A tese baseia-se nos princípios da Sociolinguística Variacionista e nos estudos de

Crenças e Atitudes Linguísticas, e justifica-se devido à importância de se compreender e

detectar, entre outros aspectos, os fatores de mudanças linguísticas, os preconceitos em relação

às variedades e aos seus falantes no que tange ao campo das atitudes linguísticas. Destaca-se,

nesse contexto, o projeto interinstitucional Crenças e Atitudes Linguísticas: um estudo da

relação do português com línguas de contato (AGUILERA, 2009), coordenado pela professora

Vanderci de Andrade Aguilera (Universidade Estadual de Londrina), com a colaboração da

professora Aparecida Feola Sella (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Tal projeto

coletou dados em várias localidades paranaenses fronteiriças e/ou ocupadas por populações

multiétnicas. Esses dados vêm sendo analisados por alunos de Pós-Graduação stricto sensu de

várias instituições de ensino superior do Paraná, dentre elas a Universidade Estadual de

Londrina (UEL), bem como a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), grande

parte deles sob orientação de Aguilera. Citam-se, dentre outros, as pesquisas de nível de

doutorado realizadas por Botassini (2013), Corbari (2013), Busse (2010).

Tais pesquisas foram realizadas tendo como foco localidades do interior do Paraná, seja

na região de Maringá, ou ainda no Oeste e Sudoeste do Paraná. Ressalta-se, porém, que mesmo

que essas tenham sido desenvolvidas cada qual em diferentes regiões do Estado do Paraná, o

caso específico da cidade da comunidade do Cubatão, área também profícua para realização de

tais estudos, ainda não foi investigado.

O estudo referente às Crenças e Atitudes Linguísticas no Brasil e, principalmente no

estado do Paraná é propício pelo contato linguístico e cultural que se estabeleceu entre grupos

étnicos das mais variadas origens em virtude das correntes migratórias e, nas regiões

fronteiriças a outros países, das relações comerciais e de trabalho.

A característica linguística da localidade escolhida justifica a investigação das atitudes

frente à fala local, tipicamente heterogênea, pois convivem nessas comunidades tanto pessoas

advindas de etnias diversas, bem como moradores tanto do estado do Paraná como de Santa

Catarina. Tal situação pode favorecer juízos de valor depreciativos ou ainda de prestígio sobre

o uso da língua, já que, segundo Calvet (2009, p. 65), “existe todo um conjunto de atitudes,

desentendimentos dos falantes para com suas línguas e para com aqueles que as utilizam”.

Assim, tomar conhecimento das causas e condições em que se dão esses fenômenos

seria uma maneira de contribuir tanto para o campo dos estudos linguísticos da área quanto

para desmistificar crenças que perpassam gerações de modo a fortalecer as identidades

linguísticas dos falantes desse local.

Outra justificativa pertinente seria baseada nas afirmações de Gomes e Lose (2007)

quando afirmam que “um projeto válido é aquele que apresenta uma proposta de avanço ao

conhecimento anterior” (GOMES e LOSE, 2007, p. 87). Assim, tomando-se como base o

caminho que já foi percorrido por outros pesquisadores, como Aguilera (2008) e Sella (2009)

e os participantes do projeto CAL, a pesquisa proposta pretende retomar as teorias e os estudos

já realizados e avaliar a coleta de dados na comunidade sob estudo. Assim, a geração de dados

a ser realizada na comunidade do Cubatão busca desvendar aspectos referentes às Crenças e

Atitudes Linguísticas dos falantes dessa área. Opta-se pela comunidade devido as suas

características peculiares.

Abordagens teórico-conceituais

A Psicologia Social foi a primeira a estudar as crenças e atitudes, nos anos 1960.

Contudo, o enfoque atual da disciplina tem raízes também nas contribuições de outras grandes

áreas, tais como a Sociolinguística e a Sociologia da Linguagem. Cada uma dessas áreas

apresenta enfoques diferenciados acerca das crenças e atitudes linguísticas (AGUILERA,

2009). A Psicologia Social, segundo Aguilera (2008) fornece elementos para o estudo dos

papéis exercidos pelos motivos, as crenças e a identidade no comportamento linguístico de

cada indivíduo. Lambert e Lambert (1972) consideram que, para essa disciplina, as atitudes

constituem um complexo fenômeno psicológico que se reveste de grande significado social. A

Sociolinguística, por sua vez, de acordo com Aguilera (2008), pesquisa a diferença entre a

maneira como as pessoas fazem uso da língua, e suas crenças a respeito de seu próprio

comportamento linguístico e o dos demais falantes. A importância da disciplina reside, segundo

a autora, no fato de que as atitudes, além de revelarem múltiplos aspectos para melhor

entendimento de uma comunidade, influenciam de maneira cabal nos processos de variação e

mudança linguística. Elas não só afetam a escolha de uma língua em detrimento de outra, como

também o ensino-aprendizagem de línguas em um determinado contexto linguístico. A

Sociolinguística tem dentre outras a função de pesquisar a diferença entre a maneira como as

pessoas fazem uso da língua. Também analisa quais são as crenças dos falantes a respeito de

seu próprio comportamento linguístico e das pessoas que fazem parte de seu cotidiano. Já a

Sociologia da Linguagem, segundo Fishman, (1972), enfoca temas relacionados ao arranjo

social do comportamento linguístico, o que inclui atitudes explícitas em relação à língua e aos

seus usuários e o uso da língua em si.

Moreno Fernández (1998, p. 179) considera que o objetivo da disciplina seria conhecer

mais profundamente assuntos como a eleição de uma língua em sociedades multilíngues, a

inteligibilidade, o planejamento linguístico e o ensino de línguas. Além disso, segundo o autor,

as atitudes influem decisivamente nos processos de variação e mudança linguísticos que se

produzem nas comunidades de fala.

Segundo Moreno Fernández (2008), os estudos sobre atitudes linguísticas no campo da

sociolinguística foram iniciados somente em 1970, por Rebecca Agueyisi e Joshua Fishman. O

autor argumenta que, em 1970, Agueyisi e Fishman já chamavam a atenção para a importância

que os estudos de atitudes têm no campo da Sociolinguística. O autor (MORENO

FERNÁNDEZ ,1998, p. 179) assinala inclusive que a atitude linguística “é uma manifestação

da atitude social dos indivíduos, diferenciada por centrar-se e referir-se, de forma específica,

tanto à língua como ao uso que dela se faz na sociedade, o que resulta em atitudes relacionadas

aos diferentes estilos de fala, socioletos, dialetos ou mesmo a línguas diferentes” 3. Para o autor,

“a atitude é uma conduta, uma reação ou resposta a um estímulo, isto é, a uma língua, uma

situação ou características sociolinguísticas determinadas”,

Lambert e Lambert (1972, p. 77) definem a atitude como “uma maneira organizada e

coerente de pensar, sentir e reagir em relação a pessoas, grupos, questões sociais ou, mais

genericamente, a qualquer acontecimento ocorrido em nosso meio circundante”. Ainda

segundo esses psicólogos: Seus componentes essenciais são os pensamentos e as crenças, os

sentimentos (ou emoções) e as tendências para reagir. Segundo os autores, uma atitude está

formada quando esses componentes se encontram de tal modo inter-relacionados que os

sentimentos e tendências reativas específicas ficam coerentemente associados com uma

maneira particular de pensar em certas pessoas ou acontecimentos (LAMBERT; LAMBERT,

1972, p. 77-78).

Moreno Fernández (1998, p. 180) considera que uma atitude favorável ou positiva pode

fazer com que uma mudança linguística se cumpra mais rapidamente. Isso resulta, em certos

contextos, na predominância do uso de uma língua em detrimento de outra. Inclusive, pode

3 Todas as traduções do trabalho de Moreno Fernandes (1998) foram feitas pela autora.

determinar que o ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira seja mais eficaz, que certas

variantes linguísticas se confinem aos contextos menos formais e outras predominem nos

estilos cuidadosos. Uma atitude desfavorável ou negativa, segundo o autor, pode levar ao

abandono e ao esquecimento de uma língua ou impedir a difusão de uma variante ou uma

mudança linguística.

Componente cognoscitivo, afetivo e conativo e a consciência Sociolinguísitica

Moreno Fernandes (1998) em consonância com a composição de atitudes propostas por

Lambert e Lambert (1972) aponta que a atitude é constituída por três componentes colocados

no mesmo nível: o cognoscitivo (saber ou crença), o afetivo (sentimento/valoração) e o

conativo (conduta sociolinguística).

Isso significa “que a atitude linguística de um indivíduo é o resultado da soma de suas

crenças, conhecimentos, afetos e tendências a comportar-se de uma forma determinada diante

de uma língua ou de uma situação sociolinguística” (MORENO FERNÁNDEZ, 1998, p.182).

O autor, nesse sentido, aponta para a existência de linhas teóricas que divergem entre si de

acordo com a definição que estabelecem para atitudes linguísticas, a saber: a mentalista e a

comportamentalista4.

No âmbito da Sociolinguística, López Morales (1993) identifica na atitude apenas um

componente: o conativo. Assim, esse autor também separa o conceito de crença do de atitude

e os situa em níveis: as crenças dão lugar a atitudes diferentes; estas, por sua vez, ajudam a

conformar as crenças, juntamente com os elementos cognoscitivos e afetivos, considerando

que as crenças podem estar baseadas em fatos reais ou podem não estar motivadas

empiricamente. Na concepção desse autor, as atitudes são formadas por comportamentos, por

condutas que podem ser positivas, de aceitação, ou negativas, de rechaço, e para ele, não existe

uma atitude “neutra”. Uma atitude que não seja positiva nem negativa se caracterizaria como

ausência de atitude, e não como mais uma classe dela. Assim, no âmbito desta pesquisa, toma-

se como base a visão de López Morales (1993) de que as crenças dos falantes se baseiam

naquilo que julgam como positivo e negativo, e assim, suas atitudes linguísticas irão se

4 Na Seção 2, referente aos procedimentos metodológicos da pesquisa, apresenta-se uma explanação das

abordagens mentalista e comportamentalista, pois tais abordagens é que dão as diretrizes do método a ser usado

na identificação das atitudes.

manifestar de acordo com essa crença.

Aguilera (2008, p. 106) assinala que o componente cognoscitivo tem maior importância

diante dos demais, isso por que “conforma, em larga escala, a consciência sociolinguística, uma

vez que nele intervêm os conhecimentos e prejulgamentos dos falantes: consciência linguística,

crenças, estereótipos, expectativas sociais (prestígio, ascensão), grau de bilinguismo,

características da personalidade, etc”. Aguilera (2008) ao analisar depoimentos sobre crença e

atitudes linguísticas destaca um exemplo em que prevalece o componente cognoscitivo:

Isto fica muito claro na declaração veemente do informante 7 (homem, de

nível superior, na faixa etária dos 50 aos 65 anos) do ponto 006 (Manaus), ao

ser indagado sobre a língua que fala: 1. A língua portuguesa, aliás eu acho

errado isso, devia ser língua brasileira, né. Aliás já tem movimento aí pra ... é

língua brasileira. Por ser um defensor do purismo linguístico de sua

comunidade de fala – ao assegurar que a nossa língua é a brasileira –, invoca

seus conhecimentos sobre as episódicas manifestações nacionalistas,

alertando que já existe um movimento para a

mudança do nome oficial da língua falada no Brasil (AGUILERA, 2009,

p.107).

Já o componente afetivo, conforme Aguilera (2008, p. 106) “está alicerçado em juízos

de valor (estima-ódio) acerca das características da fala: variedade dialetal, acento; da

associação com traços de identidade; etnicidade, lealdade, valor simbólico, orgulho; e do

sentimento de solidariedade com o grupo a que pertence”. Cita-se o exemplo dado pela autora

como forma de ilustrar de que maneira o componente afetivo manifesta-se nas atitudes

linguísticas dos falantes. Ainda citando a fala do mesmo informante Aguilera (2008) destaca o

seguinte:

[...] indagado se na localidade havia grupos que falavam diferente, e se

poderia identificá-los, é taxativo: 2. Não, não, não, ih, não, eu abomino esse

negócio de sotaque... o mineiro adora isso, o paulista fala com aquele... não.

Aqui o amazonense... todos falamos iguais, não

tem esse negócio. Quando a senhora vê alguém hãhãhãhãhã, o cara não é

daqui ou passou uma temporada fora e absorveu aquilo [...]. O componente

cognoscitivo, presente na atitude linguística manifestada no depoimento 1,

cede lugar ao afetivo, reforçando o mito do não sotaque na fala dos naturais

da localidade, que falam igual, portanto sem o abominável sotaque que

caracteriza os brasileiros mineiros e paulistas (AGUILERA, 2008, p.107).

.

Por sua vez, segundo Aguilera (2008, p. 106) “o componente conativo, reflete a

intenção de conduta, o plano de ação sob determinados contextos e circunstâncias. Mostra a

tendência a atuar e a reagir com seus interlocutores em diferentes âmbitos ou domínios: rua,

casa, escola, loja, trabalho”. A autora ilustra como exemplo do componente conativo mais uma

vez aquilo que foi dito pelo informante:

[...]Quando a senhora vê alguém hãhãhãhãhã, o cara não é daqui ou

passou uma temporada fora e absorveu aquilo. Não, nós falamos aqui

télévisão e não têlêvisão, Roráima e não Rorãima, nós falamos... as nossas

palavras são bem explicadas, letra por letra [...] (AGUILERA, 2008, p.107).

Para a Aguilera (2008) o informante:

Acredita ser o Amazonas o único estado em que todos falam bem explicado.

A ênfase dada pela reiteração da negativa mostra o alto grau de rejeição às

outras modalidades de fala e, consequentemente, aos outros grupos de

falantes. Essa postura de rejeição ao que é diferente ou regional leva, com

certeza, à inclusão do componente conativo (AGUILERA, 2008, p.107).

Moreno Fernández (1998, p. 180) discorre sobre a consciência sociolinguística, o que

considera como um dos componentes do processo cognoscitivo, isso tendo em vista que os

indivíduos têm consciência de fatos linguísticos e sociolinguísticos que lhes dizem respeito ou

lhes afetam.

A partir das palavras de Moreno Fernández (1998, p. 181), pressupõe-se que a atitude

é uma conduta, uma reação ou resposta a um estímulo, isto é, a uma língua, uma situação ou

características sociolinguísticas determinadas. Ou seja, ao ouvir um indivíduo falar, já se

identificam a sua origem e sua posição social. Segundo o autor, a consciência linguística é um

fenômeno intimamente ligado à questão da variedade linguística, sobretudo nas comunidades

e nos lugares onde se tem mais de um dialeto. Moreno Fernandes (1998, p. 181) ilustra a

consciência linguística da seguinte forma:

Os falantes sabem que sua comunidade prefere certos usos linguísticos a

outros e portanto, tem a possibilidade de eleger aquilo que consideram mais

adequado as circunstancias e a seus interesses. Essa capacidade de eleição,

derivada da consciência linguística é extraordinariamente decisiva na hora de

produzir e explicar os fenômenos de variação e mudança linguística assim

como a eleição de uma língua em comunidades multilíngues (MORENO

FERNANDES, 1998, p. 181).

De acordo com o autor, o nível de consciência varia, sendo maior entre os indivíduos

de nível socioeconômico mais alto e entre as mulheres em geral. Para Moreno Fernandes

(2009), “os falantes sabem que sua comunidade prefere uns usos linguísticos a outros, que

certos usos são próprios de uns grupos e não de outros e, portanto, têm a possibilidade de eleger

o que consideram mais adequado às circunstâncias e aos seus interesses” (MORENO

FERNÁNDEZ, 1998, p. 182).

A atitude apresenta certa multiplicidade e isso explica bem sua capacidade de

influência sobre diversas situações, por exemplo: a forma como um professor

trata seu aluno; como os profissionais entrevistam os candidatos a um posto

de trabalho; e os empregados de uma empresa tratam seus clientes. Para o

autor, “[...] uma das bases sobre as quais se assenta a atitude linguística é a

consciência sociolinguística: os indivíduos forjam atitudes, quaisquer que

sejam, porque têm consciência de uma série de fatos linguísticos e

sociolinguísticos que referem a eles ou lhes afetam”. (MORENO

FERNÁNDEZ, 1998, p. 181).

Por conseguinte, em relação à atitude, uma das consequências diretas da consciência

sociolinguísticas é a o fato da segurança e insegurança linguística, isto é, a “relação que existe

entre o que um falante considera correto, adequado ou de prestígio e seu próprio uso”

(MORENO FERNANDES, 1998, p. 181).

Fala-se de segurança linguística, segundo Moreno Fernández (1998), quando o que um

falante considera correto e adequado coincide com os usos espontâneos do mesmo falante; por

outro lado, a insegurança linguística surge quando tal coincidência diminui ou desaparece. Esta

capacidade de escolha deriva da consciência linguística, e se torna decisiva para explicar os

fenômenos de variação e mudanças linguísticas, assim como a escolha de uma língua em

comunidades multilíngue. Para melhor compreensão é possível citar o exemplo apresentado

por Aguilera (2008):

[...]Quando a senhora vê alguém hãhãhãhãhã, o cara não é daqui ou

passou uma temporada fora e absorveu aquilo. Não, nós falamos aqui

télévisão e não têlêvisão, Roráima e não Rorãima, nós falamos... as nossas

palavras são bem explicadas, letra por letra [...] (AGUILERA, 2008, p.107).

O fato de o informante defender o sotaque amazonense e usá-lo constantemente,

conforme Aguilera (2008) pode ser um exemplo claro de segurança linguística.

O mesmo informante, durante toda a entrevista, manifestou a segurança linguística de

que trata Moreno Fernández (1998, p. 182), mantendo todas as características fonéticas

tipicamente nortistas, as quais representam para o informante a fala normal, correta, sem

sotaque (AGUILERA, 2008, p.107).

A seguir apresenta-se breve explanação que busca diferenciar os conceitos de crenças e

os conceitos de atitudes linguísticas, isso para que se compreenda melhor as bases sobre as

quais se delimita a presente tese.

1.5.5 Crenças x atitude

López Morales (2004) separa da crença o conceito de a atitude, isso devido ao fato de

que a atitude é dominada pelo traço comportamental. Para ele, as atitudes só podem ser

positivas, de aceitação, ou negativas, de rejeição; uma atitude nunca pode ser neutra. Já as

crenças podem estar integradas por elementos cognitivos ou afetivos.

Moreno Fernandez (1998, p. 187) compartilha da visão de López Morales (2004) e

compreende a atitude como constituída apenas do componente comportamental. Para ambos a

crença é “maior” pois contém não só a atitude, mas também os três componentes que

normalmente são a ela atribuídos: o conhecimento, o sentimento e o comportamento. Acredita-

se que as crenças determinam o comportamento dos indivíduos e assim detêm os valores, os

julgamentos, as opiniões que uma pessoa tem sobre os outros, sobre o mundo e sobre si mesma.

Esses elementos são carregados de informações e de sentimentos que, geralmente, vão produzir

atitudes.

Metodologia da pesquisa para crenças e atitudes linguísticas

Para o desenvolvimento da tese serão considerados a princípio quatro capítulos: 1 - o

capítulo metodológico que descreve os procedimentos utilizados para a realização da pesquisa;

2 - a reflexão sobre da teoria que embasa os estudos das Crenças e atitudes Linguísticas; 3 - a

contextualização da região que será construído a partir de pesquisa documental, bibliográfica

e nos relatos dos sujeitos entrevistados. 4- as análises das entrevistas bem como do material

coletado por meio da pesquisa de campo com vistas em investigar as crenças e atitudes

linguísticas dos falantes da comunidade do Cubatão em relação ao seu falar local.

Como método base para a realização dessa pesquisa, pretende-se recorrer aos princípios

teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista. Segundo Labov (2001, p. 2), trata-se

do “campo que se interessa em abordar questões como determinar a estrutura da linguagem –

suas formas e organização subjacentes – e conhecer o mecanismo e as causas da mudança

linguística”.

Já a classificação proposta por Moreno Fernández (1998) é critério de estudo dos

defensores da interpretação mentalista de atitude. Neste modelo, a atitude é vista como um

elemento que se apresenta entre um estímulo e a reação que um indivíduo manifesta. No

entanto, conforme lembra o autor, mesmo entre aqueles que interpretam a atitude como uma

entidade complexa há discrepâncias na determinação de como se relacionam entre si esses

conceitos, e todos eles com a atitude.

Nas palavras de Moreno Fernández (1998, p. 182), a linha

comportamentalista/behaviorista estabelece que “a atitude é uma conduta, uma reação ou

resposta a um estímulo, isto é, a uma língua, uma situação ou características sociolinguísticas

determinadas”. Dito de outro modo, as atitudes do falante seriam previsíveis dentro das

situações sociais, desta forma, o falante poderia se comportar de acordo com o contexto, a

situação e até mesmo seus interlocutores. De acordo com essa linha, os fatores externos seriam

decisivos para as escolhas linguísticas do falante.

A seu turno, para a perspectiva comportamentalista, as atitudes seriam formadas apenas

pelo componente afetivo, uma vez que poderiam ser medidas e observadas abertamente. De

acordo com Fishbein (1965), as atitudes são formadas por um único componente de natureza

afetiva – fundamentam-se na valoração subjetiva e sentimental que se faz de um objeto – e a

crença é formada por um componente cognoscitivo e um componente de ação ou conduta.

Segundo Moreno Fernandez (1998, p. 187), ainda dentro da perspectiva mentalista,

existem dois métodos de estudo das atitudes linguísticas: os diretos e os indiretos. No método

direto as medições diretas costumam ser praticadas sobre materiais recolhidos por meio de

questionários ou de entrevistas. Os questionários empregados possuem uma estrutura aberta (o

informante emite a resposta que crê ser a mais adequada), uma estrutura fechada (ao informante

são oferecidas possibilidades limitadas de reposta). Esse método incide na aplicação de

entrevistas e/ou questionários abertos que habitualmente trazem perguntas que abordam a

opinião pessoal do entrevistado, dando-lhe maior autonomia para emitir as repostas, pois o

livra da responsabilidade de ter que decidir por “correto” ou “incorreto.

A Psicologia Social fornece o aporte metodológico das pesquisas sobre atitudes

linguísticas principalmente, uma vez que essa área foi precursora na investigação de aspectos

dessa natureza. Conforme Corbari (2012), “costuma-se dividir em duas as abordagens das

atitudes, conforme o conceito que se tem de atitude: a behaviorista ou comportamentalista e a

mentalista”.

Para que se proceda a uma análise das atitudes na perspectiva mentalista, faz-se

necessário recorrer a técnicas indiretas, que são mais complexas, para que essas permitam

desvelar o intangível que é o estado mental. Segundo Corbari (2012, p.87) “muitos trabalhos

sobre atitudes linguísticas se baseiam na perspectiva mentalista e medem essa variável como a

relação entre um estímulo que afeta um sujeito e a resposta valorativa desse sujeito”. O Projeto

Crenças e atitudes linguísticas (CAL), cujas pesquisas já realizadas embasam o presente

estudodo, adotou uma metodologia baseada na teoria mentalista, na perspectiva de que,

conforme Blanco Canales (2004), apesar das desvantagens desta proposta, que exige um

mecanismo que permita mensurar as atitudes, ela é a mais bem aceita graças à sua capacidade

de prever o comportamento verbal e, portanto, converter-se em modelos sistemáticos.

Quando se trata da perspectiva comportamentalista, “a atitude é interpretada como uma

conduta, uma reação ou resposta a um estímulo, isto é, a uma língua, a uma situação ou a

características sociolinguísticas determinadas” (CORBARI, 2012, p. 87); segundo a autora,

essa “é a resposta ou o comportamento de uma pessoa em determinada situação social”. Desse

modo, as atitudes são observadas de maneira direta a partir do comportamento do indivíduo

nas mais variadas situações sociais. Segundo a autora (CORBARI, 2012, p. 87), “as atitudes

podem ser medidas em termos de dados observáveis” e por isso “são variáveis dependentes das

situações-estímulo em que se observam. Os comportamentalistas utilizam como procedimento

de estudo a observação direta das condutas objetivas”.

Segundo Moreno Fernández (1998, p.182), os princípios da linha

comportamentalista estabelecem que as atitudes são interpretadas

como uma “[...] conduta, como uma reação ou resposta a um estímulo,

isto é, a uma língua ou situação ou a características sociolinguísticas

dadas. ”

Já a concepção mentalista, reconhece a atitude como “um estado mental, interno do

indivíduo, uma disposição mental em relação a condições ou fatos sociolinguísticos concretos;

é um estado que media o estímulo recebido por uma pessoa e sua resposta a ele”. Tratando-se

de uma condição da ordem do intelecto, “não é possível medi-la ou observá-la diretamente,

mas apenas deduzi-la a partir de certa informação psicossociológica” (CORBARI, 2012, p. 87).

O Projeto Crenças e Atitudes Linguísticas (CAL): um estudo da relação do português

com línguas de contato (AGUILERA, 2009), cujos estudos dão base para este projeto, adotou

uma metodologia baseada na teoria mentalista, tendo como pressuposto a compreensão de que,

conforme Blanco Canales (2004),, “apesar das evidentes desvantagens da proposta mentalista,

que demanda um mecanismo que permita inferir e medir as atitudes, ela é a mais bem aceita

graças à sua capacidade de prever o comportamento verbal e, portanto, converter-se em

modelos sistemáticos.

Conforme os psicólogos canadenses Lambert e Lambert (1972), já que as atitudes não

são diretamente observáveis, precisam ser inferidas, por meio de cuidadosa observação do

comportamento das pessoas em situações sociais, ou ainda por meio da observação dos padrões

de respostas a questionários que foram especialmente elaborados para refletirem prováveis

modos de pensar, sentir e reagir a ambientes sociais concretos e reais (LAMBERT; LAMBERT,

1972, p. 104-105).

Para que se proceda a uma análise das atitudes na perspectiva mentalista, faz-se

necessário recorrer a técnicas indiretas, que são mais complexas, para que essas permitam

desvelar o intangível que é o estado mental. Segundo Corbari (2012, p.87), “muitos trabalhos

sobre atitudes linguísticas se baseiam na perspectiva mentalista e medem essa variável como a

relação entre um estímulo que afeta um sujeito e a resposta valorativa desse sujeito”.

Assim, para a produção da tese pretende-se fazer o uso também dos métodos quanti-

qualitativos. Segundo Minayo (2002, p.21-22), os procedimentos quantitativos e qualitativos,

ao serem empregados em uma investigação, podem ajudar a corrigir as imperfeições inerentes

a cada método.

Os métodos quantitativos, embora precários em termos de validade interna, são mais

precisos em relação à validade externa, no sentido de que os resultados podem ser

generalizáveis para o conjunto do contexto pesquisado. A pesquisa quantitativa busca

“determinar a força de associação ou correlação entre variáveis, a generalização e a objetivação

dos resultados por meio de uma amostra para fazer inferência a uma população da qual toda

amostra procede”. Ela é “objetiva, confirmatória, inferencial, dedutiva, orientada ao resultado,

generalizável, remete à realidade estática”.

Assim, para análise de dados quantificáveis, o número de participantes e as variáveis

inerentes aos sujeitos, bem como aspectos relacionados ao uso da língua, tem-se como aporte

a pesquisa quantitativa.

Os métodos qualitativos por sua vez, segundo Minayo (2002, p.21-22), são válidos no

ambiente interno, contudo possuem fraquezas já que tendem a trazer certa generalização dos

dados gerados. Desta forma, segundo o autor “a investigação qualitativa trata de identificar a

natureza profunda das realidades, seu sistema de relações, sua estrutura dinâmica” (MINAYO,

2002, p.21-22). Esse autor considera que “a investigação qualitativa é subjetiva, exploratória,

indutiva, descritiva, orientada ao processo, não é generalizável, remete à realidade dinâmica”.

Dessa forma, para a execução de um projeto como o que aqui é proposto, é necessário que se

faça a associação entre esses dois métodos, pois podem complementar-se no âmbito da pesquisa

para que assim se garantam resultados válidos.

Assim, tendo em vista que o objeto de pesquisa que leva em consideração opiniões,

crenças, avaliações e tendências de comportamento, que são advindos das identidades

individuais e sociais não pode ser quantificado, nesse caso, da conta da análise o método da

pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (2002, p. 21-22), “trabalha com um universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço

mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à

operacionalização de variáveis”.

Para a realização da pesquisa, pretende-se selecionar participantes que respondam a um

questionário por meio de uma entrevista, para que assim sejam gerados dados passíveis de

análise das Crenças e Atitudes Linguísticas desses sujeitos em relação à variante utilizada por

eles. Segundo Silva-Corvalán (1989, p.129): “os informantes devem ser selecionados

seguindo-se um método que assegure uma amostra representativa”.

Para a formulação do questionário o projeto tem como base o trabalho de Aguilera

(2008), Bergamaschi (2006), Botassini (2013) e Corbari (2012). Posteriormente, para a análise

dos dados, serão utilizados os métodos citados inerentes à Psicologia Social e a Sociolinguística

Variacionista.

Para a realização da pesquisa de campo, pretende-se realizar a seleção dos sujeitos de

acordo com o que diz Silva-Corvalán (1989, p.129): “os informantes devem ser selecionados

seguindo-se um método que assegure uma amostra representativa”. Para tanto, pretendem-se

gerar dados referentes a partir de informantes que morem a mais tempo na localidade. Desta

forma serão selecionados aqueles que tenham nascido ou que morem lá há mais de cinquenta

anos. Isso por que a colonização da região data de meados de 1800, segundo histórico da cidade

de Guaratuba.5 Tal distinção atende, segundo Fenner (2013, p.53) “às prerrogativas dos estudos

de natureza sociolinguística, que preveem que os informantes residam na localidade por tempo

suficiente para retratar um cenário mais fiel concernente às línguas”.

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