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PONTA GROSSA - PARANÁ 2009 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Karin Linete Hornes Luiz Alexandre Gonçalves Cunha LICENCIATURA EM Geografia CONHECIMENTO GEOGRÁFICO 1

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Page 1: Conhecimento geografico i

pONTA gROSSA - pARANÁ2009

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Karin Linete Hornes Luiz Alexandre Gonçalves Cunha

LICENCIATURA Em

GeografiaCONHECIMENTO GEOGRÁFICO 1

Page 2: Conhecimento geografico i

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSANúcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD

Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PRTel.: (42) 3220-3163www.nutead.uepg.br

2009

Todos os direitos reservados ao Ministério da EducaçãoSistema Universidade Aberta do Brasil

Pró-Reitoria de Assuntos AdministrativosAriangelo Hauer Dias - Pró-Reitor

Pró-Reitoria de GraduaçãoGraciete Tozetto Góes - Pró-Reitor

Divisão de Educação a Distância e de Programas EspeciaisMaria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a DistânciaLeide Mara Schmidt - Coordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica

Sistema Universidade Aberta do BrasilHermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora AdjuntaEdu Silvestre de Albuquerque - Coordenador de Curso

Colaborador FinanceiroLuiz Antonio Martins Wosiak

Colaboradora de PlanejamentoSilviane Buss Tupich

CRÉDITOS

João Carlos GomesReitor

Carlos Luciano Sant’ana VargasVice-Reitor

Colaboradores de InformáticaCarlos Alberto Volpi Carmen Silvia Simão CarneiroAdilson de Oliveira Pimenta JúniorJuscelino Izidoro de Oliveira JúniorOsvaldo Reis JúniorKin Henrique KurekThiago Luiz DimbarreThiago Nobuaki Sugahara

Colaboradores em EADDênia Falcão de BittencourtJucimara Roesler

Colaboradores de PublicaçãoDenise Galdino de Oliveira - RevisãoJanete Aparecida Luft - RevisãoEloise Guenther - DiagramaçãoLuan Dione Rein - DiagramaçãoPaulo Henrique de Ramos - Ilustração

Colaboradores OperacionaisEdson Luis MarchinskiJoanice de Jesus Küster de AzevedoJoão Márcio Duran InglêzMaria Clareth SiqueiraMariná Holzmann Ribas

H816c Hornes, Karin Linete Conhecimento geográfico 1/ Karin Linete Hornes e Luiz Alexandre Gonçalves Cunha. Ponta Grossa : Ed.UEPG, 2009.

83p. il.

Licenciatura em Geografia - Educação a distância.

1. Conhecimento Geográfico. 2. Filosofia - ciência moderna. 3. Epistemologia e modernidade. 4. Dualismo Geográfico. I. Cunha, Luiz Alexandre Gonçalves. II T.

CDD : 910.01

Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.

Page 3: Conhecimento geografico i

ApRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Prezado estudante

Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu.

Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB).

O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos.

Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância.

Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância.

A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade a distância.

Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padrão de qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário, destacando-se o trabalho que desenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas.

Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação.

Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação.

Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia.

Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e professores.

Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

EQUIPE DA UAB/UEPG

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Page 5: Conhecimento geografico i

SUmÁRIO

PALAVRAS DOS PROFESSO ■ RES 7

OBJETIVOS E EMENT ■ A 9

DA FILOSOFIA À CIÊNCIA mODERNA 11SEçãO ■ 1- A FILOSOFIA NO PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO 12

SEçãO ■ 2- A CONSTITUIÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO 21

SEçãO ■ 3- FILOSOFIA E CIÊNCIA NO PERÍODO CIENTÍFICO 28

EpISTEmOLOgIA E mODERNIDADE 37SEçãO ■ 1- PARA ENTENDER O DEBATE EPISTEMOLÓGICO DA MODERNIDADE 38

SEçãO ■ 2- A DUALIDADE EPISTEMOLÓGICA DA MODERNIDADE: O PÓLO

RACIONALISTA 43

SEçãO ■ 3- A DUALIDADE EPISTEMOLÓGICA DA MODERNIDADE: O PÓLO ANTI-

RACIONALISTA 49

DUALISmO EpISTEmOLÓgICO E O CONHECImENTO gEOgRÁFICO 55

SEçãO ■ 1- TRADIÇÃO, MODERNIDADE E A FORMAÇÃO DA CIÊNCIA

GEOGRÁFICA 56

SEçãO ■ 2- FILOSOFIA E GEOGRAFIA: KANT, HERDER E O CONHECIMENTO

GEOGRÁFICO MODERNO E CONTEMPORÂNEO 65

SEçãO ■ 3- HERANÇA FILOSÓFICA E CONSOLIDAÇÃO DE UMA NOVA CIÊNCIA:

A GEOGRAFIA 68

PALAVRAS FINAI ■ S 81

REFERÊNCIAS ■ 83

NOTAS SOBRE OS AUTO ■ RES 85

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Page 7: Conhecimento geografico i

pALAVRAS DOS pROFESSORES

Caro (a) Aluno (a)

Seja bem vindo a disciplina de Conhecimento Geográfico I. Esse

livro foi elaborado com o objetivo de lhe apresentar o surgimento e a

evolução do conhecimento científico e do conhecimento geográfico.

Neste momento, você está sendo convidado a fazer uma viagem

pela história da ciência em geral e da Geografia em particular. Esta

viagem inicia-se com estudos introdutórios da filosofia na Grécia antiga,

passa pela Idade Média, prossegue pelo período da modernidade até

atingir o século XIX. Durante este percurso, você está sendo convidado

a entender como o conhecimento geográfico transformou-se num campo

científico moderno e alinhado ao processo que também consolidou as

demais ciências.

Não temos tempo a perder, pois o caminho é longo e difícil,

mas quando chegar ao fim, você estará preparado para aproveitar os

conhecimentos que lhes serão proporcionados no curso que você está

iniciando. Vamos conhecer como será sua viagem?

Na primeira unidade deste livro, você estudará a filosofia que nasceu

na Grécia durante a antiguidade. O objetivo é buscar na filosofia clássica

os elementos que poderão ajudar você entender como essa filosofia

influenciou o conhecimento filosófico europeu durante a Idade Média.

Dessa forma, você poderá conhecer o processo que levou à consolidação

do conhecimento científico a partir das transformações que atingiram o

modelo metafísico de produzir conhecimento.

Na unidade II, você constatará que a ciência moderna foi constituída

num ambiente de muitas controvérsias e discussões. Racionalistas,

empiristas e anti-racionalistas posicionaram-se em pelo menos dois pólos

divergentes, os quais fundamentaram todo o debate epistemológico da

modernidade.

Na Unidade III, você compreenderá a formação do conhecimento

geográfico como um processo que acompanhou a reestruturação da

produção do conhecimento científico em geral. A Geografia consolidou-

Page 8: Conhecimento geografico i

se com a ambição de ser mais uma das ciências formadas a partir do

modelo e rigor do método científico, mas também apresentou tradições

que procuraram contestar esse caminho dominante.

Vamos começar nossa viagem?

Seja bem-vindo e que seus estudos possam ser prazerosos e

produtivos.

Page 9: Conhecimento geografico i

ObjetivOs

Ao longo desta disciplina você será capaz de:

- Identificar o processo de transformação da filosofia que resultou no surgimento e consolidação da ciência moderna;

- Estudar as discussões epistemológicas que forneceram as bases para a constituição da ciência geográfica;

- Apreender a relação entre os fundamentos epistemológicos da

ciência moderna e a consolidação do pensamento geográfico moderno e

contemporâneo.

ementa

Filosofia e ciência no período pré-capitalista; o surgimento da ciência

moderna; o debate epistemológico; os pólos epistemológicos da modernidade;

a formação da ciência geográfica.

OBJETIVOS E EmENTA

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UN

IDA

DE IDa Filosofia à

Ciência moderna

ObjetivOs De aPRenDiZaGem

Entender as diferenças entre o conhecimento de base filosófica e o conhecimento científico;

Identificar a constituição do conhecimento científico como elemento fundamental da modernidade.

ROteiRO De estUDOs

SEçãO 1: A filosofia no período pré-científico

SEçãO 2: A constituição do conhecimento científico

SEçãO 3: Filosofia e ciência no período científico

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12UNIDADE 1

O que você acha de desenvolver mais sua capacidade de compreensão acerca da filosofia? Para tanto é imprescindível a leitura. Por isso, você poderá complementar seus estudos filosóficos lendo o livro “O mundo de Sofia” , de Jostein Gaarder (1995). O livro está disponível virtualmente para downloads no site http://br.geocities.com/mcrost08/index.htm

pARA INÍCIO DE CONVERSA

As bases da civilização ocidental atual podem ser relacionadas

ao conhecimento filosófico que nasceu na Grécia alguns séculos antes

de Cristo. Como a ciência produzida por esta civilização é um dos seus

elementos fundamentais, você precisa entender os aspectos indispensáveis

da filosofia grega que ajudam à compreensão do processo de constituição

e consolidação desta ciência. A Unidade I procura abordar estes aspectos

básicos e marca o início da viagem que você vai realizar a partir daqui.

Você está pronto? Vamos dar a partida?

SEÇÃO 1A FILOSOFIA NO pERÍODO pRÉ-CIENTÍFICO

Você já pensou o que significa filosofar? É comum você ouvir esta

expressão. Mas, afinal, o que é filosofia? Reflita e responda essa pergunta

utilizando apenas os espaços correspondentes às três linhas reservadas

para isto:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Para os gregos, filosofia significa “amor pela sabedoria”. Mas

para você o significado pode ser outro. Lara (1991) exemplifica alguns

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13UNIDADE 1

significados mais comuns que são encontrados para a filosofia. Identifique

qual deles se assemelha mais a sua opinião?

- filosofia é atitude de vida de cada um;

- filosofia é maneira subjetiva de ver a realidade;

- filosofia é conhecimento teórico e abstrato;

- filosofia é conhecimento que não se pode provar;

Filosofia de vida

Você já pode ter escutado alguém falar a respeito de “filosofia de

vida”. Pois é, todos têm filosofias de vida e, como conseqüência, atitudes

de vida diferentes. É comum as pessoas construírem sua “filosofia de

vida” durante a adolescência. Ela é o resultado da sua reflexão, a respeito

de si mesmo, e do mundo. Muitos são os fatores que podem influenciar

na construção da “filosofia de vida” de cada um: a família; religião;

cultura; Estado. Enfim, o meio em que se nasceu, se viveu e se construiu

as relações. Em outras palavras, o contexto geográfico no qual cada um

está inserido. Tudo isto interfere na concepção correspondente a “filosofia

de vida”. Leia o poema de Carlos Drumond de Andrade e reflita sobre a

questão da inquietação humana que o autor apresenta. O homem busca

expandir a sua capacidade de replicar a sua forma de viver, mas não se

preocupa em compreender efetivamente esse modelo de vida, que, de

alguma forma, relaciona-se com o conjunto das “filosofias de vida” que,

reunidas, formam as representações sociais que fornecem os padrões das

diferentes sociedades e comunidades humanas.

O Homem; as viagens

O homem, bicho da Terra tão pequeno chateia-se na Terra lugar de muita miséria e pouca diversão, faz um foguete, uma cápsula, um módulo toca para a Lua desce cauteloso na Lua pisa na Lua planta bandeirola na Lua experimenta a Lua coloniza a Lua civiliza a Lua humaniza a Lua.

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14UNIDADE 1

Lua humanizada: tão igual à Terra. O homem chateia-se na Lua. Vamos para Marte — ordena a suas máquinas. Elas obedecem, o homem desce em Marte pisa em Marte experimenta coloniza civiliza humaniza Marte com engenho e arte.Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte? Claro — diz o engenho sofisticado e dócil. Vamos a Vênus. O homem põe o pé em Vênus, vê o visto — é isto? idem idem idem. O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com injustiça repetir a fossa repetir o inquieto repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias. O espaço todo vira Terra-a-terra. O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever? Não-vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol. Põe o pé e: mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado. Restam outros sistemas fora do solar a colonizar. Ao acabarem todos só resta ao homem (estará equipado?) a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo: pôr o pé no chão do seu coração

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15UNIDADE 1

experimentar colonizar civilizar humanizar o homem descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de con-viver.

FONTE: Carlos Drummond de Andrade. In As Impurezas do Branco José Olympio, 1973

Filosofia

A filosofia não é única. Desde a antiguidade houve embates entres

os conhecimentos do Oriente e do Ocidente. Outras civilizações como a

Chinesa e a Indiana desenvolveram conjuntos amplos de pensamento

reflexivo sobre o homem, a vida e a natureza, que se aproximam do discurso

filosófico estruturado entre os ocidentais. Contudo, no Ocidente dominou a

filosofia que provém dos Gregos.

Você deve estar se perguntando o porquê de se estudar a filosofia

dos gregos. A resposta é simples. A filosofia grega influenciou o rumo

civilizatório ocidental de uma forma decisiva.

Atualmente, com a globalização, é possível conhecer as outras formas

de pensamento e praticá-las em qualquer lugar do planeta. Algumas

formas de filosofia oriental podem estar implícitas nas religiões tidas

como ocidentais, inclusive as cristãs, mas também em “filosofias de vida”,

vistas como bastante originais. Inclusive, o cristianismo possui diversas

influências gregas. A globalização, como processo de integração cultural, é

um processo mais antigo do se imagina. A integração dos povos no período

antigo, proporcionado pelas guerras de conquista e pelo comércio, resultou

em influências recíprocas importantes. Por exemplo, o apóstolo Paulo, um

dos mais importantes formadores das bases teológicas da religião católica,

conheceu a Grécia e se utilizou muito do pensamento grego. Você pode

procurar este relato em Atos, capítulos de 17 a 28 (BIBLIA SAGRADA).

Nestes textos, você poderá ler sobre este encontro cultural.

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16UNIDADE 1

O site http://an.locaweb.com.br/Webindependente/filosofiaoriental/ apresenta diversas religiões e filosofias orientais. Procure conhecer mais a respeito do Budismo, Confucionismo, Taoísmo, Hinduísmo e outros. Atualmente, a chamada Nova Geografia Cultural tem resgatado os estudos sobre as religiões como uma das formas mais importantes de compreender as representações sociais que ajudam a explicar os contextos sociais ou geográficos nos quais se desenvolvem o Homem.

Filósofo

Ser filósofo significa ser um amigo de Sophia, alguém que admira

e busca a sabedoria com todo o fervor. Muitos filósofos consideram a

filosofia um conhecimento teórico e abstrato, ou seja, algo que não pode

ser provado (CLÉMENT, 1997).

O interesse pela filosofia surge com grande intensidade com

as descobertas arqueológicas da civilização Grega no final do século

XIX. A principal questão levantada durante este período é a de como

o conhecimento filosófico passou do mito-poético para a mentalidade

teorizante (PESSANHA, 2000). Mas antes de se iniciar a explicação de

como se deu esta passagem, você está convidado a filosofar.

Então, está pronto? Vamos filosofar?

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17UNIDADE 1

Vamos pensar em algumas questões filosóficas. Por favor, faça suas anotações, respondendo as seguintes questões.

- Quem é você?- De onde surgem as coisas?- Todos os cavalos são iguais? Se não são, por que você chama todos de cavalos?- O que é forma e de onde ela surge?- Do que você é formado? - O que é o mundo?- O que dá origem a vida?- Deus existe?

Não pense que estas perguntas são absurdas e impossíveis de serem

respondidas. Muitos dos filósofos gregos tentaram respondê-las e o fruto

desta discussão acabou gerando as bases do conhecimento filosófico.

As Origens do discurso filosófico

As origens do discurso filosófico ocidental podem ser histórica e

geograficamente localizadas, na Grécia, nos séculos VII e VI a.C. Foram

os gregos que tiveram a preocupação em iniciar um esforço de pensamento

reflexivo e sistematizado a respeito da realidade. Mas, anteriormente, à

formação do discurso filosófico, o que dominava entre os gregos era o

conhecimento ou pensamento mítico (PESSANHA, 2000, p.6).

Neste processo de formação de um pensamento filosófico amplo

e sitemático, outro elemento também foi muito importante. Trata-se das

epopéias, que influenciaram o desenvolvimento da filosofia. Você deve

estar se perguntando o que é uma epopéia?

Epopéia são relatos históricos e fabulosos sobre expedições marítimas

e elementos provenientes do contato com o mundo helênico, que durante

o período apresentava relações com o mundo oriental (PESSANHA,

2000, p.7). Estes relatos proporcionaram o conhecimento e a discussão

sobre as formas de viver e pensar dos orientais. Assim surgiram entre

os séculos X e o VIII alguns poemas, como Ilíada e a Odisséia, de

autoria de Homero (PESSANHA, 2000), os quais informavam a respeito

da organização da polis arcaica e descreviam deuses que possuíam

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características sentimentais e físicas muito semelhantes a dos homens.

Em seus escritos, Homero procurava excluir as formas monstruosas e o

culto às práticas mágicas que eram comuns naquele período. Com os

deuses apresentando características humanas, foi possível praticar uma

racionalização do divino que conduziria a uma religiosidade exterior. Esta

religiosidade exterior foi bastante considerada pela polis aristocrática. E

permaneceu como uma linha fundamental da religião grega, obtendo um

sentido político, que auxiliou na justificação das tradições e instituições

da cidade-Estado (PESSANHA, 2000).

Jônios

Os Jônios são classificados como os primeiros filósofos gregos, os

quais “substituem a narrativa mítica por um novo discurso” (CLÉMENT,

1997, p. 152). Eles são originários da Jônia uma região da costa sudoeste da

Anatólia, hoje correspondente à Turquia. Este novo discurso é o filosófico.

Esses filósofos “renunciaram recorrer aos deuses ou às forças mágicas

para explicar as ações humanas ou a ordem do mundo (CLÉMENT,

1997, p. 312). Nota-se entre os pensadores pré-socráticos mais antigos a

busca por uma explicação ampla e coerente da natureza, dirigida para a

identificação de uma substância primordial, como um princípio natural,

visando explicar de forma material a origem do Universo. O importante

sobre esse momento inicial da filosofia foi bem definido por Clément et

al., quando afirmam que:

“Embora o pensamento pré-socrático não exclua todas as dimensões religiosas, os deuses já não decidem, conforme os seus caprichos, os acontecimentos do mundo (...) O homem deve renunciar a representar a natureza submissa a outra coisa que não sejam as forças naturais, e a maneira como ele representa o divino também pede um rigor maior de pensamento” (CLÉMENT, 1997, p.313).

Nesse momento, surge um discurso filosófico que é relacionado à

busca do conhecimento. Pode-se afirmar que é a partir de então que se

pode entender a filosofia como “um tipo de conhecimento” (LARA, 1991,

p. 12).

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Para alguns filósofos modernos e contemporâneos, o surgimento de

um discurso filosófico, em substituição a um pensamento de base mítica,

foi um marco fundamental na história da civilização.

Filósofos da Escola de Mileto

Segundo Clément (1997), Tales, Anaxímenes e Anaximandro e,

posteriormente, Heráclito de Éfeso e Diógenses fundaram a Escola de

Mileto. Esses filósofos eram conhecidos como pré-socráticos porque

viveram e filosofaram no período anterior à vida de Sócrates - 470-399 a.C.(

CLÉMENT et al., 1977). A seguir, aborda-se um pouco mais a respeito de

cada um deles. Repare que alguns deles contribuíram imensamente com

a Geografia.

Tales

É considerado um dos primeiros filósofos da cultura ocidental e

viveu entre o final do século VII e meados do século VI a.C. Ele identificou

a água como sendo a substância primordial de que tudo se originava.

Foi também grande matemático e astrônomo conhecedor das ciências

mesopotâmicas e egípcias (COLORAMA, 1973).

Anaxímenes

Acreditava que o ar era o início de tudo. Desta forma, o sopro e o ar

abraçam o mundo inteiro (GAARDER,1995).

Anaximandro

É atribuída a Anaximandro a confecção do primeiro mapa-múndi

com a descrição de todo o mundo habitado e conhecido de sua época. Foi

o inventor do relógio do sol pelo qual se poderia verificar a obliqüidade

do zodíaco. Ele achava que o nosso mundo era apenas um dos muitos

que surgem de alguma coisa e se dissolvem nesta alguma coisa que ele

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chamava de infinito (GAARDER,1995).

Heráclito

Heráclito foi um dos filósofos que mais se preocupou com o

movimento, Para ele, nada permanece imóvel e nada permanece em

estado de fixidez e estabilidade, mas tudo se move, tudo se muda, tudo se

transforma, sem cessar e sem exceção. A substância que ele acreditava ser

o princípio fundamental de tudo era o fogo. É o autor de uma das primeiras

frases marcantes da filosofia grega: “tu não podes banhar-te duas vezes

no mesmo rio, porque novas águas correm sobre ti” (GAARDER,1995).

Anaxágoras

Partia do princípio da imutabilidade do ser. Ele acreditava que

as coisas eram compostas de ínfimas partículas de diversos tipos.

A predominância de certo tipo de substância, a exemplo do ferro,

determinaria a natureza das coisas. No princípio, houve o caos estático,

mas uma força externa, o Nous, foi o responsável pelo movimento e

ordem. Dessa forma, as partículas juntam-se e se separam, criando os

corpos visíveis. Esta teoria influenciou grandemente a teoria atômica

(COLORAMA, 1973 p.2246).

1) Elabore um texto, comentando a evolução do conhecimento no período pré-científico. Este texto deve ter no máximo trinta linhas (uma lauda).

2) Você precisará conectar-se à plataforma Moodle para realizar a próxima atividade. Trata-se de um fórum destinado a discutir com seus colegas sobre o que é ciência e geografia.

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SEÇÃO 2A CONSTITUIÇÃO DO CONHECImENTO CIENTÍFICO

Desde os pré-socráticos até o surgimento da ciência moderna, a

filosofia evoluiu como, segundo Lara (1991), “a ciência por excelência”,

porque “todas as outras ciências, de certa maneira, dependiam dela”.

Dessa forma, “a filosofia era, assim, considerada pelos gregos e, depois,

também pelos medievais, como um saber mais profundo, mais radical,

mais completo, que devia dar as respostas mais importantes sobre o

sentido da vida humana e da realidade em geral” (LARA, 1991, p. 18).

Portanto, a filosofia permaneceu como uma espécie de

conhecimento da totalidade, “como a ciência de todas as coisas – da

totalidade – pelas suas causas primeiríssimas, as quais os sentidos não

podem atingir, mas a razão humana sim” (LARA, 1991, p. 14). A partir

do Renascimento, o discurso filosófico é questionado de forma cada vez

mais acentuada. Passa-se a criticar a filosofia como sendo uma forma de

conhecimento meramente especulativo, que não dava conta de explicar

os fenômenos naturais. Segundo Lara (1991, p. 14), os críticos afirmavam

que o discurso filosófico era

fundado em “muita razão, muita lógica, muito sistema bem

organizado. Mas não se observavam e não se controlavam os fatos que se

queria explicar”.

Pensadores e estudiosos desta época, como Descartes e Galileu

inauguraram uma nova proposta para a constituição de outro tipo

de conhecimento, fundado num discurso não-filosófico. Trata-se do

conhecimento científico que inaugurará uma nova era, na qual a ciência

metodicamente construída consolida-se como a grande construtora de um

novo tipo de conhecimento. Com isso, passa-se a reconhecer dois tipos de

conhecimento: “aquele que procura o sentido da totalidade, pesquisando

os princípios primeiros, através do raciocínio – é a filosofia; [ e o outro]

aquele que procura as leis do mundo físico, e que prova suas afirmações,

com o controle dos fatos – é a física” (LARA, 1991, p. 15).

Você pôde estudar como o discurso filosófico dominou a construção

do conhecimento até o período inicial da Idade Média e como, a partir

de então, surgiu um novo conhecimento, que incorporou uma nova

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metodologia, um método científico, chamado também experimental,

fundado em procedimentos padronizados e rigorosamente considerados.

Mas esse já é assunto para a próxima seção.

Positivismo

Todas as questões a respeito da substituição do pensamento mítico

por um discurso filosófico instigou diversos filósofos. Um deles foi

Augusto Comte. Ele nasceu na França em 1798 e morreu em 1857. Criou

uma corrente filosófica denominada Positivismo, que se caracterizou por

duas preocupações fundamentais: científica e política. Comte era, antes

de tudo, “um renovador social” e pretendia “fundar essa renovação em

bases científicas” (CLÉMENT, 1997, p. 63).

Inspirado em Comte, pode-se afirmar que a formação do discurso filosófico teria lançado as bases de uma Fase Metafísica, que se consolidou na Idade Média, e que foi antecedida por uma Fase Teológica ou Mitológica, na antiguidade, quando dominava “a fantasia do povo e os mitos; ela se apresenta como uma fase de maior abstração e menor complexidade” (OLIVEIRA et al., 1990, p. 53). Na Fase Teológica, quase tudo era “explicado abstratamente mediante uma mitologia religiosa” (OLIVEIRA et al., 1990, p. 54).

Conecte-se a plataforma Moodle e consulte o link disposto para você conhecer mais a respeito da vida de Comte.

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Renascimento

Você estudou que a filosofia, como certo tipo de conhecimento, foi

sendo cada vez mais questionada com o advento do Renascimento. A

época renascentista marca a libertação do homem “de um enfoque que

lhe impunha valores como a admiração, a adoração, a obediência, o

respeito e o desapego” (LARA, 1991, p. 28). Paralelamente, inaugurou

um novo tempo, no qual o homem “joga-se, com entusiasmo, a construir

valores novos: individualidade, liberdade, criatividade, participação e

enriquecimento” (LARA, 1991, p. 28). Mas o que é Renascimento?

Renascimento – fenômeno social relacionado a um processo

histórico-geográfico (porque relativo a uma época e continente específico

– Europa) no qual aconteceram transformações marcantes na filosofia, na

ciência, nas artes e nas religiões. O humanismo é sua mais importante

idéia- força, porque o homem é valorizado como ser que se diferencia

de outros seres pela sua qualidade de ser racional, pela importância

que a razão tem nas suas ações, ressaltando o homem como realidade

individual, o que resultou no fortalecimento do individualismo frente à

visão corporativa de sociedade que dominou a Idade Média.

Ciência moderna

Entre os elementos que ajudam a construir esse novo tempo está a

ciência moderna. Mas como se pode definir esse novo discurso científico,

contido na ciência moderna? Você já estudou que esse discurso científico

passou a ser visto como diferente do discurso filosófico. De qualquer

forma, o que está na base da ciência moderna é também o conhecimento.

No entanto, antes de se discutir sobre o novo conhecimento, classificado,

a partir de então, como científico, é preciso diferenciá-lo dos outros tipos

Navegue na internet e pesquise imagens que mostrem os pintores e inventores renascentistas e suas obras. Pesquise sobre a arquitetura e os jardins. Você vai se deparar com os novos padrões estéticos que surgiram na Europa.

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24UNIDADE 1

de conhecimento. Você já verificou a diferença entre o discurso filosófico,

como fundamento da filosofia construtora de conhecimento, mas é preciso

também abordar as diferenças entre os outros tipos de conhecimento.

Neste estudo, precisa-se, pelo menos, que fique muito clara a diferença

entre o conhecimento científico e o conhecimento vulgar (ou senso

comum).

Essa discussão é importante para você que inicia um curso de

licenciatura em Geografia, pois os que concluírem esse curso deverão

ser capazes de dominar teorias e práticas relacionadas ao magistério,

mas deverão, mais ainda, dominar os conhecimentos relacionados a uma

grande ciência: a ciência geográfica, denominada Geografia. Assim,

antes de tudo, precisa-se compreender o que é ciência e conhecimento

científico. A grande questão que permanece é: o que é ciência? É certo

que quando se pensa em ciência algumas palavras surgem na mente

das pessoas, como saber, sabedoria e conhecimento. Seria a ciência um

saber? Ou ela é uma sabedoria? A ciência é conhecimento? Sem dúvida,

todas estas palavras, de alguma forma, relacionam-se ao significado de

ciência. Na atualidade, ciência é definida como conhecimento científico,

fundamentado em métodos rigorosos de análise, que permitam atingir

resultados objetivos na formulação de conhecimentos.

1)Pesquise o significado da palavra ciência. É importante você indicar, ao final do seu texto, a fonte bibliográfica da sua pesquisa.

3) Você acredita que todo conhecimento é científico? É ciência? É possível produzir conhecimento sem se usarem procedimentos metodológicos científicos?

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25UNIDADE 1

Senso comum ou conhecimento vulgar

É muito comum pessoas idosas fazerem alertas sobre as condições do

tempo. Por exemplo, quando fazem referências a uma chuva que está por

cair. Os jovens, normalmente, não acreditam nos mais velhos e teimam em

sair sem uma sombrinha ou um guarda-chuva. Não é raro que os idosos

acertem as previsões que fazem e, realmente, venha a chover. As pessoas

mais velhas formaram, durante suas vidas, algum tipo de conhecimento

sobre o comportamento do tempo meteorológico. Elas são capazes de

fazer previsões atmosféricas relacionadas ao cotidiano delas. Assim, o

saber acumulado pelos idosos é, sem dúvida, conhecimento. Mas será

que esse conhecimento é conhecimento científico? E quando se assiste

à previsão do tempo nos telejornais, recebem-se informações científicas?

Sabe-se, com certeza, que essas informações não foram fornecidas por

nenhuma “vovozinha”. As informações dos telejornais vêm de instituições

de pesquisa que fazem a produção de um conhecimento científico, que

serve a várias ciências. Produzem conhecimento meteorológico, que é

relacionado à Meteorologia, que é uma ciência derivada da Climatologia

que, por sua vez, é uma ciência afim à Geografia.

1)Pesquise a diferença entre tempo e clima. Depois, reserve um tempinho para conversar com seus parentes mais idosos. Faça uma visita ao seu avô ou aquela tia ou tio que você não vê há muito tempo e verifique se eles costumam fazer pequenas previsões de tempo e quais os critérios que eles levaram em conta para prever a ocorrência de chuvas, por exemplo.

Diferença entre o conhecimento vulgar e conhecimento científico

O que diferencia o conhecimento que qualquer pessoa pode criar e

acumular sobre o tempo do conhecimento dos cientistas sobre o mesmo

tema? São dois tipos diferentes de conhecimento. Costuma-se classificá-

los da seguinte forma: ao conhecimento que se acumula através da nossa

observação e experiência cotidiana, denomina-se conhecimento vulgar

(senso comum); ao conhecimento acumulado pelas ciências em geral,

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26UNIDADE 1

denomina-se conhecimento científico.

Assim, é o acúmulo de conhecimento científico sobre um campo

da realidade que resulta em uma ciência. Os conhecimentos científicos

acumulados sobre o fenômeno da vida deram origem à Biologia. Os

conhecimentos científicos acumulados sobre a estrutura física da Terra

deram origem à Geologia. Os conhecimentos científicos sobre o homem

e o espaço ou meio em que vive deram origem à Geografia. E assim é

para uma diversidade significativa de outras ciências.

Mas ainda não se abordou a diferença entre os dois tipos

de conhecimento. Como se produzem o conhecimento vulgar e o

conhecimento científico? Inicialmente, precisam-se conhecer os dois

elementos indispensáveis na produção de qualquer tipo de conhecimento.

Esses elementos são sujeito e objeto.

O sujeito é aquele que quer conhecer e que produz e acumula

conhecimento. Quando se aborda o conhecimento vulgar, o sujeito

é qualquer ser humano. No caso do exemplo relativo à previsão do

tempo, pode ser qualquer pessoa com conhecimento acumulado sobre

o comportamento do tempo meteorológico. Por outro lado, ao se fazer

referência ao conhecimento científico, o sujeito é um cientista.

O objeto é aquilo que se quer conhecer, explicar, entender ou

compreender, e em relação ao qual se acumula conhecimento. No exemplo

relacionado ao conhecimento vulgar, é o tempo meteorológico. Mas o

objeto pode ser também as árvores, as florestas, os animais, os terremotos,

os preços, as doenças, as guerras e os sentimentos. Tudo isso pode ser um

objeto determinado, sobre o qual se pode acumular conhecimento, tanto

vulgar quanto científico.

Para se produzir conhecimento vulgar, o sujeito observa e reflete

sobre um objeto específico, chegando a determinadas conclusões, que

são acumuladas por ele e que lhe dão um conhecimento sobre o objeto

observado. A observação e a reflexão que o sujeito realiza não são

planejadas e não utilizam nada além dos próprios sentidos (visão, olfato,

tato, audição, fala) e sua capacidade de raciocinar.

A produção do conhecimento científico

Para se produzir o conhecimento científico, o sujeito também

observa e reflete sobre um determinado objeto, produzindo conclusões,

que são acumuladas pelos cientistas e por todos que se interessam por

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27UNIDADE 1

esses conhecimentos. Mas o cientista não utiliza apenas seus sentidos e

sua razão. Ele se apóia também em teorias e metodologias. A observação

que ele faz é planejada e sistemática: ele anota dados; fotografa objetos e

fenômenos; faz experiências; analisa materiais; provoca reações químicas.

Além disso, o cientista precisa testar os seus resultados. As suas conclusões

têm que ser comprovadas pelos testes. Só assim o conhecimento pode

ser denominado científico. Dessa forma, o conhecimento científico não

depende só do que é inato ao sujeito, mas se relaciona também com aquilo

que dirigiu as ações e o raciocínio dele. Ao conjunto de tudo que ajudou o

sujeito a atingir um determinado conhecimento, dá-se o nome de método

científico ou de metodologia científica.

Esta charge apresenta as diferenças entre o conhecimento vulgar ou senso comum e o conhecimento científico.

Figura 5: Charge; Conhecimento vulgar e científicoOrganizado por: Eduardo José de Campos Lemos; Karin Linete Hornes

1) Elabore um texto, no qual você deve responder à seguinte questão: o que é ciência? Este texto deve ter no máximo trintas linhas (uma lauda).

2) Conecte-se a plataforma moodle e participe do fórum que está disponível para discutir esta mesma questão. Comente suas experiências com o conhecimento vulgar e científico.

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28UNIDADE 1

SEÇÃO 3FILOSOFIA E CIÊNCIA NO pERÍODO CIENTÍFICO

O conhecimento científico é a base da ciência moderna e o

fundamento dessa ciência é o método científico. Assim, para se

compreender o que se denomina ciência moderna é preciso, antes de

tudo, compreender o método científico. Segundo Lara (1991), foram dois

pensadores que lançaram os alicerces desse método: Francis Bacon e

Galileu Galilei.

Francis Bacon (1561-1626) nasceu em Londres e, além de filósofo, foi

também político. Bacon defendeu o uso do método indutivo na produção

do conhecimento. Devem-se buscar as informações pela experimentação

para que se possa chegar, posteriormente, às generalizações. Trata-se do

método indutivo-dedutivo (MONDIN, 1981). Galileu Galilei (1564-1642)

nasceu em Pisa e foi matemático, físico e astrônomo. Esse cientista (e

não mais filósofo, ao se pensar na acepção clássica do termo) confirmou

que era preciso fazer uma distinção muito nítida entre filosofia, ciência e

religião. Assim, o estudo científico deveria ser livre de quaisquer amarras

filosóficas e/ou teológicas, concluindo que “para a ciência até o método é

diferente, indutivo-dedutivo” (MONDIN, 1981, p. 223.

Método científico

Em termos gerais, estes dois pensadores (Francis Bacon e Galileu

Galilei) defenderam que o método científico, de caráter indutivo-dedutivo,

deveria conter as seguintes etapas (LARA, 1991):

1 – a observação dos fatos;

2 – a formulação de hipóteses explicativas dos fatos;

3 – a verificação experimental das hipóteses.

Procurando expor de forma mais didática essas etapas, Lara (1991)

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29UNIDADE 1

repete o esquema, explicando que o método científico de tipo indutivo-

dedutivo pode ser resumido também da seguinte forma:

- primeiro momento: fatos observados, a serem explicados;

- segundo momento: hipóteses explicativas, logicamente

arquitetadas;

- terceiro momento: comprovação das hipóteses, pelos fatos.

Francis Bacon foi um crítico vigoroso do discurso filosófico

antigo e medieval. Defendeu que os antigos filósofos não observavam

criteriosamente os fatos. Na seqüência, as hipóteses eram mal elaboradas,

até porque a observação anterior já apresentara falhas. Segundo Lara

(1991, p. 44), interpretando o pensamento baconiano, “a lógica aristotélica

estava preocupada com a coerência do pensamento em si. Mas, para se

conhecer a realidade, não basta a coerência das hipóteses. É preciso

verificar bem se essas hipóteses correspondem à realidade”.

Mas, embora a contribuição de Bacon tenha sido muito importante,

Galileu Galilei foi, indubitavelmente, aquele que “traçou o caminho

preciso para a ciência moderna” (LARA, 1991, p. 44). Isso por duas razões

principais:

1 – pela defesa de que a ciência tem como objetivo fundamental a

descoberta de leis gerais que explicam os fenômenos;

2 – as leis explicativas da natureza devem ser expressas em

linguagem matemática.

Essa definição do método científico permite inseri-lo como um dos

elementos fundamentais do empirismo.

Empirismo

O Empirismo refere-se “ao que tem origem na experiência (...)

qualifica qualquer doutrina filosófica que admite que o conhecimento

humano deduz tanto seus princípios quanto seus objetos ou conteúdos,

da experiência” (DUROZOI; ROUSSEL, 1996, p. 149).

Nesse ponto, com base em Lara (1991), apontam-se algumas

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30UNIDADE 1

características centrais do empirismo:

- abandona a transcendência, em favor da imanência dos fatos;

- não repudia a razão, mas a considera de forma relativa e não-

absoluta;

- o conhecimento humano não tem caráter absoluto, porque não é

capaz de atingir a verdade absoluta;

- a verdade prevalecente deve ser sempre questionada, porque não

pode acreditar em verdades absolutas;

- o homem deve abandonar as verdades absolutas, em favor das

verdades em permanente renovação;

- o empirismo desafia o homem a ser o verdadeiro centro do

universo.

Empirismo e racionalismo

O que se tem nessas características é um programa radical de

rompimento com o discurso filosófico clássico e medieval. Assim, é o

empirismo que acentua este rompimento, quando ele é comparado com

o racionalismo, que lhe é contemporâneo. Mas o racionalismo também

promoveu transformações importantes e ajudou a consolidar a ciência

moderna. O empirismo e o racionalismo podem ser vistos dentro de

um mesmo pólo epistemológico. Trata-se do pólo racionalista, o qual

corresponderia a um dos pólos epistemológicos da modernidade.

O outro, que se consolidou na mesma época, é o pólo anti-

racionalista (GOMES, 1996). O pólo anti-racionalista resistiu no

período clássico da ciência moderna às propostas que defendiam a

universalização metodológica (CUNHA, 1997). Mas a consideração

epistemológica desta questão nas suas interações com a Geografia

ficará para a próxima unidade. Por enquanto, você precisa fixar bem as

diferenças entre racionalismo e empirismo, como propostas críticas ao

discurso filosófico no período que se classificou como Idade Moderna.

Isso pela importância destas duas tradições de constituição da ciência

moderna e, destarte, do método científico. De qualquer forma, não se

devem ter o empirismo e o racionalismo correspondendo apenas a

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31UNIDADE 1

diferentes “teorias do conhecimento”, mas também como perspectivas

culturais globais, que buscaram libertar o homem do domínio da teologia

e da escolástica, ao entronizar a razão como um valor humano acima de

qualquer outro (LARA, 1991).

Você já teve a oportunidade de estudar o empirismo. A partir daqui,

deve buscar apreender os aspectos mais importantes do racionalismo

moderno que se abordará na seqüência. Você deve fixar, em primeiro

lugar, que o racionalismo moderno permaneceu como herdeiro da

metafísica clássica, que acreditava nas explicações transcendentes das

realidades empíricas, mantendo a crença em princípios racionais, mas

ainda com certa relação com o pensamento religioso (LARA, 1991).

Mas, neste estudo, interessa abordar o racionalismo como proposta

para se conseguir a produção de um novo conhecimento. Para isso, é

preciso entender o pensamento daquele que é conhecido como o pai do

racionalismo moderno: René Descartes.

Conecte-se à plataforma da disciplina Conhecimento Geográfico I e comece suas leituras sobre René Descartes e Galileu Galilei.

Cartesianismo

O cartesianismo teve sua origem com René Descartes. Vamos

descobrir mais um pouquinho a respeito de sua vida?

René Descartes nasceu na França em 1596 e morreu em Estocolmo,

na Suécia, em 1650, onde fora morar um ano antes a convite da rainha

Cristina. Espírito aventureiro, foi militar e viajou por diversos países,

acabando por se fixar na Holanda, onde se dedicou aos seus estudos

num ambiente mais favorável do que poderia encontrar na maioria dos

países da Europa Ocidental, os quais estavam assolados por pressões

da Igreja Católica contra os desafios lançados aos seus dogmas; o maior

exemplo disso foi a perseguição movida contra Galileu Galilei. Descartes

escreveu um pequeno-grande livro intitulado “Discurso do Método”, no

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qual lançou as bases do racionalismo moderno. A escola de pensamento

criada por ele é o cartesianismo.

O cartesianismo busca o caminho que pode levar o homem a

encontrar a verdade. Para isso, propõe um método chamado intuitivo-

dedutivo, que é fundamentado na busca de idéias claras e distintas. Esse

método teria dois momentos fundamentais:

- primeiro momento: intuir (ver de imediato, sem dificuldades) que

algo é verdadeiro (é o penso);

- segundo momento: tirar conclusões evidentes, a partir de verdades

também evidentes (como, a partir do penso, logo existo).

Outro exemplo que ilustra o pensamento cartesiano é o seguinte:

observando uma árvore um indivíduo notou que ela possuía raiz. Observou

outras 100 e chegou a mesma conclusão. Ele comunicou-se com pessoas

de outros países que também confirmaram a veracidade da afirmativa.

Então, formulou a seguinte idéia: todas as árvores possuem raízes. Caso

exista qualquer árvore no mundo que não possua raiz, esta afirmativa

terá que ser revista.

Razão humana

Para Descartes, uma idéia límpida e distinta é resultado da

capacidade da razão humana. Essa capacidade também pode ser

chamada de intelectualidade que, segundo Cunha (1997, p. 73), é “um

apanágio do homem como um todo e não apenas de filósofos, cientistas,

eruditos, estudiosos, pesquisadores, etc, [assim] a intelectualidade seria

um potencial humano de relacionamento com o que a percepção capta”.

O discurso filosófico antigo e medieval baseava-se na observação

de um mundo objetivo transcendente. Com o cartesianismo, o sujeito é

fortalecido como o Eu (sujeito) que altera as possibilidades de construção

do conhecimento. Nasce “o subjetivismo moderno, em confronto com

o objetivismo grego e medieval. Esse subjetivismo vai marcar todo o

pensamento moderno e vai abrir um espaço para o homem se manifestar

a si mesmo, nem que seja para encontrar os limites da própria grandeza”

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33UNIDADE 1

(LARA, 1991, p.38).

Em resumo, podem-se sistematizar as principais características do

racionalismo moderno (LARA, 1991, p. 33-35):

- é uma perspectiva filosófica, mas também cultural;

- o homem pode atingir, pela razão, a verdade de valor absoluto;

- o homem não está limitado aos conhecimentos dos fatos;

- o homem pode entender a essência das coisas;

- a razão permite ir além dos sentidos;

- a razão permite atingir as condições transcendentais do mundo

empírico;

- as conseqüências dessas possibilidades não são apenas abstratas

e teóricas, mas também éticas e políticas;

- atingir explicações sobre a essência das coisas, para encontrar o

fundamento sólido para a moral e a política;

- a boa ordem política depende do conhecimento dessa realidade

transcendente;

- os fundamentos dessa ordem encontram-se na natureza

transcendente do homem e não mais na revelação divina;

- a desagregação das explicações teológicas requer novas

fundamentações reveladoras do mundo;

- ao contrário do empirismo, que acredita apenas nas explicações

imanentes aos próprios fatos, o racionalismo defende as possibilidades de

uma nova transcendência (explicações para além dos fatos percebidos).

O empirismo e o racionalismo moderno são as duas faces de uma

mesma moeda. Essa moeda é o pólo epistemológico racionalista. Estas duas

tradições deram os fundamentos decisivos do método científico, o qual

demonstrou uma capacidade inegável de avançar de forma admirável no

desvelamento da natureza, permitindo que o domínio desta metodologia

revolucionária, por estudiosos europeus transformasse aquele continente

no berço da ciência moderna. A civilização européia é aquela na qual a

ciência moderna encontrou o campo fértil para o seu desenvolvimento

que é o próprio projeto da modernidade, pela importância que teve o

pensamento científico neste projeto.

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1) Elabore um texto, descrevendo e comentando as etapas fundamentais do método científico. Este texto deve ter no máximo trinta linhas (uma lauda).

2) Como um bom estudante de Geografia, você não deve esquecer que uma das ciências afins mais importantes para a ciência geográfica é a Cartografia. Procure pesquisar a evolução da Cartografia deste a Grécia até a Idade Média.

Você pôde verificar como a filosofia antiga e medieval foi questionada como produtora de conhecimento. Estudou também as transformações operadas no pensamento filosófico que deram origem a outra forma de se produzir conhecimento. Isso levou ao surgimento do conhecimento científico relacionado, num primeiro momento, à revelação das leis de funcionamento do mundo físico. Você comprovou que a proposta foi um sucesso, mas não esteve livre de controvérsias, as quais serão abordadas na próxima unidade.

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IDA

DE IIEpistemologia e

modernidade

ObjetivOs De aPRenDiZaGem

Caracterizar os pólos epistemológicos que surgiram na modernidade;

Compreender as diferenças epistemológicas entre os pólos racionalistas e anti-racionalistas.

ROteiRO De estUDOs

SEçãO 1 – Para entender o debate epistemológico da modernidade

SEçãO 2 – A dualidade epistemológica da modernidade: o pólo racionalista

SEçãO 3 – A dualidade epistemológica da modernidade: o pólo anti-racionalista

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38UNIDADE 2

SEÇÃO 1pARA ENTENDER O DEBATE EpISTEmOLÓgICO DA mODERNIDADE

Você estudou na Unidade I a formação da ciência moderna, como

resultado da ruptura promovida por pensadores modernos em relação à

forma de construção do conhecimento antigo e medieval realizada pelos

filósofos formados pela tradição greco-romana que marca as origens da

civilização européia ou cristã-ocidental.

Você refletiu sobre o contexto no qual se consolidaram fenômenos

que se materializaram no método científico, o qual fundamenta o

conhecimento científico moderno. Este método e a obra que ele permitiu

iniciar tornaram-se um dos elementos fundamentais da modernidade, que

representa o processo histórico-geográfico que define um novo rumo para

a trajetória civilizatória relacionada ao continente europeu, num primeiro

momento, mas que se mundializou a partir dos desdobramentos gerados

pelo mesmo processo, atingindo, a partir da Idade Moderna, todos os

continentes, ampliando o que os geógrafos tradicionais chamavam de

ecúmeno.

Ecúmeno

Você sabe o que é Ecúmeno?

Ecúmeno – Entre os gregos, correspondia ao mundo

habitável, mas passou a indicar as áreas que apresentam

densidades demográficas mais significativas (SMALL, J.;

WITHERICK, M., 1992). O uso do termo predominante no

período recente refere-se às áreas nas quais os povos de origem

européia já haviam promovido uma ocupação efetiva. Para as

áreas habitadas de forma muito esparsa pelas comunidades

originárias ou que permaneciam totalmente desabitadas, usa-

se o termo anecúmeno.

O debate centrado nesta questão territorial deixou de ser importante,

porque é inegável que a trajetória civilizacional que tomou o continente

europeu na época moderna tornou-se inegavelmente mundial.

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39UNIDADE 2

Você deve estar refletindo sobre o título desta seção e, com certeza,

apresenta uma curiosidade para entender corretamente o significado dos

termos epistemológico e modernidade.

A este último você já foi apresentado na Unidade I, pois ao se abordar

a formação da ciência moderna, mostrou-se que ela foi um elemento

importante de um processo maior, que envolveu outros elementos, os

quais, no seu conjunto, passaram a caracterizar uma nova época, chamada,

didaticamente, na História, de Idade Moderna.

Idade Moderna

A Idade Moderna correspondeu ao momento da modernidade. Este

momento foi realizado dentro do continente europeu. Existem vários

elementos que auxiliaram a Europa a iniciar sua modernidade, são

eles: o renascimento, o mercantilismo, o iluminismo, o cientificismo,

o absolutismo e o protestantismo. Estes elementos que se consolidaram

durante a Idade Moderna forneceram as bases da Idade Contemporânea,

que não rompeu com eles, mas os aprofundou em elementos que deles

derivaram como a democracia representativa, que cristalizou o Estado

moderno, como a instituição central do contrato social (o Estado de

Direito), que dirige a vida em sociedade nos países democráticos.

Não há como entender a vida política dos cidadãos dos países atuais sem conhecer aspectos relacionados ao conceito de contrato social. Esse contrato pressupõe que cada cidadão cedeu parte dos seus direitos naturais a uma instância coletiva (o Estado) para que essa instância coordene a vida em sociedade, administrando os conflitos de interesses com o objetivo de se atingir o bem comum. Dois pensadores são referências básicas sobre a questão: o inglês Thomas Hobbes (século XVII) e o francês Jean Jacques Rousseau (século XVIII). Recomenda-se a leitura de um pequeno livro intitulado “O Contrato Social”, escrito por Rousseau, que ajudará você a entender o mundo atual.

Pesquise sobre os fenômenos histórico-geográficos que contribuíram de forma decisiva para definir a época contemporânea e que foram citados anteriormente. Elabore um resumo de no máximo cinco linhas a respeito destes elementos.

Renascimento | Mercantilismo | Iluminismo | Cientificismo | Absolutismo | Protestantismo

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40UNIDADE 2

O Novo e o Velho

De qualquer forma, é inegável o papel preponderante exercido

pelas transformações inauguradas pelo racionalismo e empirismo na

construção do conhecimento científico, que influenciou no novo modo

de vida, pensado da forma mais ampla possível, que uma boa parte dos

povos e nações européias assumiram a partir de meados do milênio

encerrado recentemente. Pode-se ilustrar esta importância, afirmando-se

que “a modernidade fundou uma ‘ciência nova’ [como dizia Bacon], e esta

ciência constitui o espírito daquilo que se denomina de modernidade”

(GOMES, 1996, p. 12).

Para entender o significado contido no termo modernidade, torna-

se importante refletir também sobre um pressuposto que se relaciona com

ele, que é ligar o que é moderno ao que é novo, opondo-se ao atrasado,

ao tradicional, ao velho. Portanto, ao se utilizarem o termo moderno e

modernidade, trabalha-se, naturalmente, com esta oposição entre o novo

e o velho, o moderno e o tradicional. Recorre-se a Gomes, que expõe de

forma muito evidente esta questão:

“Estas duas noções [moderno/tradicional] existem há muito tempo, mas somente a partir da modernidade elas se constituíram em um verdadeiro sistema de valores. Para que se possa falar de um sistema centrado na tradição, é preciso que ao mesmo tempo exista um outro sistema que marque em relação a ele sua oposição, definido por aquilo que não é tradicional, ou seja, o sistema do novo; são, pois, dois sistemas que se opõem, mas que estruturam uma mesma ordem” (GOMES, 1996, p. 29).

O importante é relacionar o termo modernidade a uma determinada

época e lugar específico. Por isso, pode-se relacioná-lo a um processo

histórico-geográfico que é bastante conhecido. Assim, afirma-se que a

modernidade começou no século XVI, na Europa. No século VIII, na

mesma Europa, ela se consolida com a revolução filosófica (iluminismo),

a revolução industrial (o surgimento das fábricas), a revolução francesa e

a revolução americana, formando o que Eric Hobsbawm (um dos maiores

historiadores atuais) chamou de Era das Revoluções. Pode-se, então,

resumir que “o termo ‘modernidade’ designa simultaneamente uma

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41UNIDADE 2

época, uma civilização e uma concepção da humanidade indissociável

da nossa cultura e da nossa filosofia européia” (CLÉMENT et al., 1997,

p. 258).

Epistemologia

Para continuar os seus estudos, você precisa entender também o

termo “epistemológico”. Esse termo deriva da palavra “epistemologia” e

é o significado dela que você precisa compreender. A palavra é de origem

grega e reúne epistèmè, que significa “ciência”, e logos, que corresponde

a “discurso”. Assim, epistemologia significa, etimologicamente, discurso

da ciência.

Mas você já deve ter percebido que o significado de termos em

filosofia e ciências humanas e sociais sempre adquire uma complexidade

que torna tais significados bastante diversos. Não é diferente com o

termo epistemologia. Ele tem vários significados. Nos países anglo-

saxônicos, Epistemologia confunde-se com a própria “teoria do

conhecimento” ou Gnosiologia, como uma análise ou estudo da evolução

da produção do conhecimento pelo homem. Num sentido mais restrito,

utilizado principalmente nas tradições francesas, há dois significados

predominantes: em primeiro lugar, como estudo da ciência moderna em

geral, buscando abordar os métodos, as crises e a evolução do “espírito

científico”; em segundo lugar, o estudo dirigiu-se para uma ciência

específica, referindo-se à epistemologia da Geografia, da História, da

Matemática, etc.

Todos esses sentidos interessam quando se tem como objetivo

fundamental a compreensão das origens e evolução de uma disciplina

científica. É o caso do conhecimento geográfico que é sistematizado na

Geografia.

O debate epistemológico em torno do método científico

O debate epistemológico que se destaca aqui surgiu a partir do

momento que se propôs um novo método para se produzir conhecimento:

o método científico. Percebeu-se de imediato que a aplicação deste método

para abordar os fenômenos físicos e naturais significava um grande avanço.

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42UNIDADE 2

Mas surgiram discussões e debates sobre questões gerais e específicas

relativas à aplicação desse método à produção do conhecimento. É o que

se passou a chamar de “problema epistemológico” (MONDIN, 1981).

Esse problema surgiu, exatamente, “no momento em que a atitude de

confiança otimista e exaltação cega das ciências foi substituída por um

sereno ceticismo e uma crítica aguda nos confrontos do conhecimento

científico” (MONDIN, 1981, p. 29).

Entenda-se ceticismo como um acentuado pessimismo sobre a

nascente metodologia científica. Assim, afirma-se que “o nascimento

e desenvolvimento da filosofia da ciência ou epistemologia deve-

se exatamente à tomada de consciência da problematicidade desse

conhecimento (consciência ainda ausente em Descartes, Newton, Kant,

Comte, Spencer, etc)” (MONDIN, 1981, p.29).

Procure pesquisar a vida e obra

desses filósofos que são citados por Mondin (Descartes,

Newton, Kant, Comte, Spencer).

Eles viveram entre os séculos XVI e

XIX e participaram do debate

epistemológico que marcou essa época. Você pode consultar

enciclopédias e dicionários de

filosofia, inclusive digitais, como a

www.wikipedia.com.br. Na plataforma da disciplina há alguns links relacionados a

estes filósofos.

Racionalistas e Anti-racionalistas

Um primeiro debate importante ocorreu entre os adeptos do método

científico proposto por Descartes e sistematizado e aplicado por Galileu.

Esse pólo, centrado na aceitação do método, divergiu na forma da sua

aplicação e opôs racionalistas e empiristas. Você já teve a oportunidade

de estudar esta controvérsia na Seção 3 da Unidade I deste fascículo.

A discussão que interessa a partir daqui é aquela que vai opor

racionalistas (racionalistas cartesianos e empiristas) e anti-racionalistas.

Os racionalistas defendendo a aplicação do método científico a toda

e qualquer ciência, já que só consideravam como conhecimento

científico aquilo que era proposto a partir da aplicação do método. Os

anti-racionalistas posicionavam-se de uma forma contrária, pois não

concordavam com a proposta de que só há um caminho para se construir

um conhecimento aceitável como científico.

O importante é ter em conta que esta posição de crítica não

é recente, mas surgiu na mesma época e lugar, nos quais acontecia a

aplicação vitoriosa do método nas ciências físicas e naturais. Esse lugar

era a Europa; a época o período que vai do século XVI ao XVIII. Você já

estudou sobre o processo histórico-geográfico que domina este contexto

definido como a modernidade. O debate que opõem racionalistas e anti-

racionalistas é um debate que perpassa este processo e contribui na

sua formação. Por todo aquele período, e até muito recentemente, os

racionalistas apareciam como os grandes vencedores do debate, pois

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tiveram maior exposição e aceitação acadêmica e social. Mas a critica

anti-racionalista esteve sempre lá, acompanhou cada passo da vitória

racionalista (cientificista) mantendo e ampliando as críticas à proposta

de “universalização metodológica” (CUNHA, 1997).

Nas últimas três décadas, a crítica pós-moderna tem nesse passado

anti-racionalista uma referência que lhe retira boa parte de ineditismo.

Então, parte-se da consolidação destes pólos epistemológicos da

modernidade, ao contrário de se assumir que neste contexto só houve o

domínio inconteste do racionalismo (GOMES, 1996). Mas essa dualidade

epistemológica é assunto da próxima seção.

Galileu Galilei não concordava com a teoria do geocentrismo. Ele propôs a teoria do heliocentrismo a partir de observações astronômicas, utilizando uma luneta de criação própria. Após alguns cálculos físico-matemáticos, ele fez tal comprovação. O rigor metodológico das observações possibilitou a criação do método científico, também chamado experimental, fundado em procedimentos padronizados e rigorosamente considerados. (WIKIPÉDIA, 2008)

Elabore um texto, comentando a seguinte afirmativa: “debate epistemológico da modernidade”. Este texto deve ter no máximo trinta linhas (uma lauda).

SEÇÃO 2A DUALIDADE EpISTEmOLÓgICA DA mODERNIDADE:O pÓLO RACIONALISTA

Nesta seção, você estudará o que caracteriza e o que diferencia os

dois pólos epistemológicos da modernidade. Como você já sabe, os dois

pólos são o pólo racionalista e o anti-racionalista. O pólo racionalista

também é conhecido como científico - racionalista. O primeiro centra-se

numa unidade dada pelo método científico. O outro tem a sua unidade

restrita à crítica ao racionalismo, mas não apresenta uma unidade

metodológica.

O pólo epistemológico racionalista consolida-se no século do

Iluminismo, também chamado “Século das Luzes” (século XVIII). Partia-

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se de uma concepção da natureza humana na qual a faculdade da razão,

que é própria apenas dos seres humanos, tinha um lugar privilegiado.

Todos os seres humanos são dotados de razão, conferindo às comunidades

humanas um padrão de comportamento fundado nas atitudes e ações

decididas racionalmente.

O pensamento racional

A avaliação racional, da qual são capazes os seres humanos, dirige

os comportamentos individuais e as trajetórias coletivas. O pensamento

racional funda-se, então, em alguns elementos que o formam, como “uma

lógica coerente, um bom senso generalizado e um pragmatismo da ação”

(GOMES, 1996, p. 30). Dessa forma, “o pensamento é um julgamento

racional lógico sobre a realidade, e a ciência constitui a esfera onde as

regras e os princípios deste julgamento são organizados sistematicamente”

(GOMES, 1996, p.30).

Com essa afirmação, centra-se a reflexão desta seção na questão

efetivamente epistemológica, já que a defesa de uma universalidade da

razão como elemento fundamental da modernidade não teve conseqüência

apenas na discussão filosófica e científica, mas atingiu todo o contexto

social que envolvia a Europa.

Você não deve esquecer que o pólo epistemológico racionalista já foi

abordado neste fascículo, quando se analisou o racionalismo cartesiano e

o empirismo. Procure voltar àquela seção para recordar os aspectos que

foram abordados, porque ajudará você a compreender os pressupostos

fundamentais deste pólo. Esses pressupostos foram destacados por Gomes

(1996) e pode-se resumi-los da seguinte forma:

- a noção de progresso é valorizada;

- há primazia fundamental ao método lógico racional;

- o pensamento científico-racionalista é sempre normativo.

A noção de progresso valorizada

Esses três pressupostos são fundamentais na constituição deste pólo.

Em primeiro lugar, a noção de progresso relaciona-se à crença de que a

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evolução social e do pensamento científico apresenta uma espécie de lei

do movimento histórico num sentido linear no qual as transformações

ocorrem pela substituição do velho pelo novo, do tradicional pelo

moderno. O pensamento racionalista move-se no sentido de buscar as

mudanças que permitam substituir o que vai se tornando superado pelo

que se construiu de novo. A necessidade de superação é dada pelas

situações de crise. A crise indica a necessidade de ruptura, e a noção

de progresso indica que o novo, que surge através das rupturas, tende

a conter uma positividade que justificaria a sua adoção, em detrimento

do velho, do atrasado, do tradicional. O peso dessa noção de progresso

na modernidade é inegável e isso pode ser comprovado, observando-

se que “este raciocínio [relacionado à noção de progresso] está na base

dos grandes sistemas filosóficos e epistemológicos característicos da

modernidade, como, por exemplo, os de Kant, de Hegel, de Marx ou de

Comte” (GOMES, 1996, p.31). Esses filósofos propuseram concepções

evolutivas das sociedades humanas fundadas numa noção linear do

progresso, como um caminho único para toda a humanidade. É o que se

denomina de historicismo.

Faça uma pesquisa em dicionários e enciclopédias impressas ou digitais sobre o termo “historicismo”. Entre os geógrafos, a obra de Soja (1993) faz uma crítica sistematizada da influência do historicismo nas ciências humanas e sociais, que vale a pena você conhecer.

A primazia fundamental ao método lógico-racional

O segundo pressuposto relaciona-se à importância central que se

dá ao método científico. Você já estudou essa questão quando se abordou

a origem e consolidação da ciência moderna. Gomes (1996) resumiu a

questão de forma bastante clara, ao afirmar que: “o método é, assim,

considerado como único meio de oferecer todas as garantias lógicas da

relação entre pensamento e realidade” (GOMES, 1996, p.31). Em outras

palavras, para os defensores do pólo científico-racionalista não há ciência

para além do método. Esse aspecto é que torna o pensamento científico-

racionalista sempre normativo, como indica o terceiro pressuposto.

O caráter normativo do método cientifico

O método tem definido as normas para operar a relação entre o sujeito

e o objeto. Cabe ao homem de ciência conhecer essas normas e aplicá-las

ao objeto previamente delimitado. O que vai dar a garantia científica ao

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conhecimento desta relação produzida é o rigor da aplicação das normas

metodológicas definidas no método. O conhecimento depende, destarte,

antes do método do que de quem o maneja. É assim que o pensamento

científico-racionalista torna-se, antes de tudo, normativo.

A revolução cientificista

O pólo científico-racionalista exerce sua influência decisiva desde

a consolidação da ciência moderna até os dias atuais. É inegável que a

aplicação do método científico ao estudo da natureza provocou uma ruptura

revolucionária nas possibilidades humanas de desvendar os fenômenos

físicos e naturais. Mas a defesa da aplicação deste método para se abordar

todo e qualquer objeto do conhecimento vai disparar um debate intenso,

provocando o surgimento e consolidação de um pólo epistemológico

anti-racionalista. Com isso, contesta-se uma evolução linear na própria

discussão epistemológica. Não é que uma concepção anti-racionalista veio

substituir, a partir de um determinado momento, a concepção racionalista

que teria se tornado imprestável. O que se destaca aqui é que estes pólos

desenvolveram-se simultaneamente, disputando os mesmos espaços

de discussão que estavam disponíveis na Europa, o grande berço da

modernidade. Dessa forma, os dois pólos são filhos da mesma “mãe”: o

pólo racionalista é o “filho mais velho”, mas com uma diferença de idade

mínima em comparação ao pólo anti-racionalista, o “filho mais novo”.

A questão fundamental é que o “filho mais velho” tornou-se o

preferido: o pólo racionalista assume um espaço muito maior nos corações

e nas mentes de muitos filósofos e pensadores. Era compreensível, porque

“o patente êxito da filosofia natural despertaria a atenção dos pensadores.

Eles julgam estar ali o valor perene da investigação. Enquanto os

cientistas estão carregados de problemas com soluções à vista, os filósofos

estão sobrecarregados de problemas sem qualquer solução apontando no

horizonte” (CUNHA, 1997, p.21).

A universalização do método

Pode-se identificar em vários dos grandes filósofos da modernidade,

propostas e tentativas de promover a universalização metodológica. Isso

quer dizer aplicar o método científico a todo e qualquer objeto. Inclusive

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ao homem e suas formas coletivas de consciência: as sociedades e

comunidades em geral. Neste esforço aparecem filósofos e pensadores

como o próprio Descartes, além de Francis Bacon, David Hume e também

o grande Immanuel Kant (CUNHA, 1997).

Essas tentativas tornaram-se cada vez mais efetivas e “os

filósofos que abrem o século XIX desfrutam de condições mais

favoráveis à universalização” (CUNHA, 1997, p.24). Mas as tentativas

de universalização abandonam a pura discussão metodológica, como

a dos racionalistas cartesianos versus empiristas, e incorporaram uma

preocupação com o próprio devir histórico, como uma espécie de “Filosofia

da História”. E a ciência tem um papel importante nisso, porque:

“a Ciência das ciências não é apenas saber, conhecimento válido e verdadeiro, é a maior conquista do Espírito ou da Humanidade, aquilo que corresponde às rédeas da civilização. Foi uma alteração semântico-intelectual deveras significativa, a qual levava do sentido disciplinar-investigatório da cientificidade para um sentido totalizador da síntese da História, ultima e culminante etapa da civilização. Esta alteração não teria sido possível sem a abordagem ampliada do método, promovida pelo positivismo [COMTE] e pela dialética dos idealistas [HEGEL] e dos materialistas alemães [MARX E ENGELS] (CUNHA, 1997, p. 26).

Essas são correntes de pensamento que marcaram o século XIX e

foram substancialmente reforçadas pelo evolucionismo darwiniano.

Procure pesquisar a vida e a obra de Charles Darwin, que foi o cientista inglês que criou a Teoria da Evolução da Vida a partir da Seleção Natural. Esta teoria foi proposta no livro “A Origem das Espécies”, publicado em 1859. Procure pesquisar também sobre a passagem de Darwin pelo Brasil.

Conecte-se à plataforma e leia o conteúdo do link disposto para Charles Darwin. Elabore um resumo a respeito de suas principais idéias e de sua viagem ao Brasil.

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O evolucionismo

O evolucionismo aparece com a chance de algo proposto a partir

do campo científico. É possível esclarecer melhor o papel de cada uma

dessas tradições que tanto influenciaram o século XIX:

“A linha idealista fundada por G. Hegel coloca o Espírito no lugar do sujeito da Teoria do Conhecimento. Karl Marx e Friedrich Engels inverteram e abriram a linha materialista colocando a Vida Social no lugar do Espírito. Na corrente positivista, isto será confirmado quando o sujeito ampliado da função da Metodologia com a Filosofia da História e a Humanidade em todas as linhas ou tendências [positivistas]” (CUNHA, 1997, p. 27).

O importante para os objetivos deste estudo é que essas propostas

terão uma influência ampla e significativa nos rumos que tomou o

conhecimento geográfico a partir do século XIX. A constituição da

Geografia, como uma disciplina científica e acadêmica, algo que remonta

a esse século, aconteceu na esteira das tradições idealistas, materialistas

e positivistas. Você terá oportunidade de estudar melhor estas influências

quando se abordar na próxima unidade uma espécie de herança filosófica

recebida pela Geografia. O que interessa por enquanto é que você

entenda que a força do pólo epistemológico racionalista sobre a definição

dos rumos da ciência moderna foi significativa, até o ponto de ele ser

proposto como o grande guia do próprio processo civilizatório que se

desenvolvia nos esforços marcados pela civilização ocidental. No entanto,

havia resistências que já se colocavam muito antes da aparente vitória

científico-racionalista do século XIX. Essas resistências é que podem

ser reunidas num outro pólo: o anti-racionalista. Resistência é mesmo

a palavra adequada, porque mostra que havia algo a ser combatido, no

caso, as propostas de universalização do método científico.

Elabore um quadro ou outra ilustração, procurando propor uma visualização das principais características do pólo epistemológico racionalista. Este quadro deve ocupar uma única página.

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SEÇÃO 3A DUALIDADE EpISTEmOLÓgICA DA mODERNIDADE: O pÓLO ANTI-RACIONALISTA

Você estudará nesta seção aspectos relacionados ao pólo anti-

racionalista. Ainda no século XVII, o mesmo século no qual Bacon, Galileu e

Descartes publicaram suas grandes obras, um cientista, pensador e filósofo,

lançou um primeiro e grande questionamento sobre a universalização

metodológica (CUNHA, 1997). Trata-se de Blaise Pascal (1623-1662).

Blaise Pascal nasceu em Clémont Ferrand, na França, e muito cedo começou a sua vida de matemático. Publicou ensaios sobre geometria e inventou uma das primeiras máquinas de calcular. Suas preocupações de cientista são ampliadas em direção à compreensão da existência humana e o papel de Deus e da religião nesta existência.

Origens do anti-racionalismo moderno

Para entender este destaque dado à obra de Pascal (1973), você

deve refletir sobre algumas frases recolhidas por Cunha (1997, p. 32) na

principal obra deste pensador:

“- Quando comecei o estudo do homem, vi que essas ciências

abstratas [matemáticas e físicas] não lhe são próprias, e que me desviava

mais da minha condição penetrando-as, do que a outros ignorando-as;”

“- Dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão;”

“- O coração tem suas razões, que a razão não conhece.”

Nesses três pensamentos constam alguns aspectos centrais que podem

ser relacionados ao pólo epistemológico anti-racionalista. Em relação à

primeira afirmação, a questão da insuficiência e a inadaptabilidade do

método científico para compreender o homem e sua vida individual e

social. Sobre o segundo, o questionamento não do método em si mesmo,

mas tentativas de universalizá-lo. E o último, a defesa da necessidade

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de se buscar alternativas à razão para compreender a natureza e a vida

humana. Como Pascal, uma série de outros pensadores, de uma forma ou

de outra, faziam questionamentos parecidos e ajudariam a dar vida própria

ao segundo pólo epistemológico da modernidade: o anti-racionalista.

Proposições fundamentais do pólo anti-racionalista

Inspirado em Gomes (1996), relacionam-se a seguir proposições

fundamentais deste pólo para que você possa refletir sobre elas:

- O pólo anti-racionalista é contemporâneo do racionalista e ambos

se consolidaram no “Século das Luzes” (século XVIII);

- as correntes anti-racionalistas não formam uma unidade, pois são

diversas;

- os anti-racionalistas têm um ponto em comum: o combate à

primazia da razão;

- a razão é um valor absoluto e universal para os racionalistas, mas

os anti-racionalistas consideram que a atribuição de valores às

coisas é sempre relativa e particular a cada período e cultura;

- contra o universalismo do saber racionalista valoriza-se o particular,

pois um fato só adquire significado no interior de um contexto

singular;

- alguns fenômenos não são pasíveis de apreensão por uma pura

abstração conceitual (racionalista) e não permitem que se chegue

às generalizações válidas;

- a ciência deve buscar o sentido das coisas e não apenas as

explicações;

- o racionalismo defende o distanciamento dos objetos, mas,

justamente, com isso, pode-se perder a possibilidade de compreendê-

los;

- o sentimento, a empatia e a identidade podem superar o raciocínio

lógico como instrumentos epistemológicos;

- é preciso desvendar a essência dos fatos, os seus sentidos profundos,

e não apenas explicá-los pelas suas aparências;

- a ênfase fundamental na produção do conhecimento não deve ser

dada ao método, mas sim aos próprios conteúdos dos fenômenos;

- o saber e o conhecimento são funções da sensibilidade da

interpretação e não do método;

- combate à noção de progresso e sua proposta de desvalorização

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da tradição;

- a tradição não é o correspondente a atraso, mas exprime o valor

do particular, do singular, do que é vivo e dinâmico e não como

representando o atraso;

- a subjetividade é um elemento incontornável na aquisição do

conhecimento, porque a objetividade, que pressupõe a separação

entre o sujeito e objeto, não serve à compreensão dos fenômenos

humanos e sociais.

Você percebeu que o conjunto desses argumentos mantém uma

coerência crítica em relação aos pressupostos científico-racionalistas.

Cada um destes argumentos vai subsidiar propostas anti-racionalistas

de diversas origens. Ao conjunto dessas propostas, Gomes destacou a

denominação de contracorrentes, conforme contido nesse texto:

“Filosofia da Natureza, Romantismo, Her-menêutica e Fenomenologia são algumas correntes mais importantes desta oposição (...) estes movimentos não se estruturam em escolas bem definidas. Contudo, na maioria dos casos, pode-se identificar neste conjunto uma certa convergência de pontos de vista advinda de uma mesma oposição ao modelo racionalista clássico” (GOMES, 1996, p. 95).

Você não deve ficar muito preocupado com a referência a mais um

conjunto de concepções de pensamento. O que interessa neste curso é

a influência desta herança filosófica na constituição do conhecimento

geográfico contemporâneo, que remonta ao século XIX, quando todas

estas correntes anti-racionalistas disputavam a consideração dos

cientistas, filósofos e pensadores com as correntes racionalistas. Mas a

influência deste dualismo epistemológico na Geografia é, justamente, o

assunto da próxima unidade.

Após estas primeiras leituras relativas aos dois pólos, tente se posicionar, assumindo um dos pólos, como opção para suas pesquisas. Procure justificar sua opção num texto de no máximo 10 linhas.

Elabore um quadro ou outra ilustração, procurando propor uma visualização das principais características do pólo epistemológico racionalista. Este quadro deve ocupar uma única página.

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Você refletiu sobre o surgimento do método científico, que provocou a consolidação do conhecimento de base científica, mas isso não ocorreu num ambiente intelectual com ausência de debates e discussões. Muito pelo contrário, filósofos, cientistas e pensadores confrontaram-se numa arena intelectual na qual se constituíram pelo menos duas tradições: a dos racionalistas e a dos anti-racionalistas. Você pôde entender como essas discussões influenciaram o surgimento e a consolidação das diversas ciências, inclusive a Geografia. É isso, exatamente, o que será tratado na próxima unidade.

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Dualismo epistemológico e o conhecimento geográfico

ObjetivOs De aPRenDiZaGem

Compreender a influência do debate epistemológico da modernidade na formação da ciência geográfica;

Entender as relações entre correntes filosóficas e a consolidação da Geografia como ciência moderna.

ROteiRO De estUDOs

SEçãO 1 – Tradição, modernidade e a formação da ciência geográfica

SEçãO 2 – Filosofia e Geografia: Kant, Herder e o conhecimento geográfico moderno e contemporâneo

SEçãO 3 – Herança filosófica e consolidação de uma nova ciência: a Geografia

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SEÇÃO 1TRADIÇÃO, mODERNIDADE E A FORmAÇÃO DA CIÊNCIA gEOgRÁFICA

Você estudou questões relacionadas às origens e consolidação

do pensamento científico na modernidade. As referências à Geografia

foram pontuais e pouco freqüentes. Nesta unidade, procura-se relacionar

o arcabouço geral abordado até agora com a questão específica de

constituição de uma ciência geográfica, representando um segmento

científico determinado e com teorias, conceitos e metodologias próprias.

O que interessa é a formação deste campo científico com interesses e

proposições que resultam numa nova Geografia, inserida na modernidade,

transformando-se verdadeiramente numa ciência moderna.

A modernidade e a Geografia

A modernidade que envolve o conhecimento geográfico define-lhe

uma nova forma de produzir este conhecimento, mantendo-se o conteúdo

que remonta à antigüidade. Além disso, a Geografia institucionaliza-

se como ciência, transformando-se em disciplina acadêmica e escolar.

Formam-se associações, institutos e sociedades científicas, as quais têm

o estudo das ciências geográficas como objetivo. Esse processo torna-se

marcante e inexorável a partir do século XIX e tem o continente europeu

como seu berço e ponto de irradiação para todo o mundo.

É essa época e lugar que interessa neste estudo. Certamente, a

Geografia, como saber e conhecimento que sempre interessou ao homem,

não começou neste século, mas é tão antigo quanto o próprio homem

sobre a Terra. Mas o conhecimento geográfico não vai ser abordado

aqui em toda a sua riqueza e detalhes. Inicia-se esta seção, resgatando

apenas as tradições que vêm desde a antigüidade e que deixaram suas

marcas decisivas na própria constituição da Geografia como ciência que

se consolida ao se adaptar ao projeto da modernidade. Essas tradições

remontam às obras de Ptolomeu e Estrabão.

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57UNIDADE 3

Cláudio Ptolomeu nasceu na cidade de Ptololemaida, na Hérnia, que é banhada pelo Rio Nilo, no Egito, no início do século II d.C.. Ptolomeu criou o sistema geocêntrico ou o geocentrismo, que defendia ser a Terra o centro do Universo. Essa teoria foi aceita por 14 séculos, sob a aprovação da Igreja Católica. Além disso, ele “fez uma síntese de todo conhecimento grego e distinguiu Cosmografia de Geografia e Corografia. A primeira, volta-se para o estudo do Universo, a segunda, para o estudo da Terra como um todo e a terceira diz respeito ao estudo de suas partes”(LENCIONI, 1999, p.42). Estrabão nasceu na Amásia, na Ásia Menor. Há controvérsias sobre as datas de nascimento e morte, mas há referências de que ele viveu de 63 a.C. à 25 d.C. Escreveu uma obra intitulada “Geografia” em 17 volumes. Dessa imensa obra, apenas o sétimo volume se perdeu. Ele inicia sua Geografia fazendo uma revisão crítica do conhecimento geográfico acumulado até aquele momento e, na seqüência, aborda a Geografia matemática, mas, nos outros 15 volumes, dedica-se a estudar o ecúmeno e toda a vida humana nele presente, dividindo-o “em regiões, com suas histórias, costumes, economia e instituições” (LENCIONI, 1999, p.45). Além deste capítulo do livro de Lencioni (1999), você poderá encontrar um histórico sobre a evolução do pensamento geográfico da Antigüidade até as Idades Moderna e Contemporânea na obra de Sodré (1978).

Início da Geografia moderna

Ptolomeu e Estrabão foram os pensadores que proporcionaram as

bases para o desenvolvimento do projeto de uma Geografia moderna

independente. Essa relação começou a partir da constatação de que a

Geografia moderna, como todas as outras ciências, não se iniciou com a

modernidade. Você já deve ter lido várias vezes, ao estudar a história das

mais diversas ciências, a seguinte expressão: “o pai de tal ciência...”, e aí

se faz uma referência a um filósofo qualquer da Antigüidade! Em outras

palavras, os pais de todas as ciências viveram na Antigüidade.

O que aconteceu, a partir do advento da formação da ciência

moderna, com os seus métodos e os seus pressupostos epistemológicos

cientifico - racionalistas, foi a adaptação de todos os campos do saber

humano a esses novos pressupostos. Isso provocou a reinvenção destes

diferentes conjuntos de conhecimentos, delimitados como ciências

específicas e modernas. Com a Geografia não foi diferente. Nesse caso, o

rompimento com a ordem medieval, no contexto renascentista, resultou

em dois pontos de partida a partir dos quais a Geografia tomou novos

rumos (GOMES, 1996, p.127):

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58UNIDADE 3

- o surgimento de um novo modelo cosmológico;

- a adoção da Antigüidade Clássica como fonte principal de

inspiração.

O novo sistema cosmológico é o heliocentrismo, que substitui o

geocentrismo de Ptolomeu, que representava o conhecimento do Universo

e que foi considerado praticamente como dogma pela poderosa Igreja

Católica medieval. O criador do heliocentrismo foi Nicolau Copérnico,

que propôs ser o Sol o centro do Universo e a Terra um astro que gira em

torno dele, ao contrário do geocentrismo.

A obra de Ptolomeu é retomada na modernidade e com ela sua

Geografia. O modelo ptolomaico era composto de uma Cosmografia

(Almageste) e de uma Geografia. A Geografia baseava-se em conjuntos de

mapas e estudos sobre a forma e dimensão da Terra, além da análise sobre

a localização de áreas específicas na superfície terrestre. Preocupava-

se em conceber uma ordem aos dados e informações conseguidas. Na

verdade, ele fazia mais Cartografia do que propriamente Geografia

(GOMES, 1996).

O sistema ptolomaico fundamenta-se numa preocupação com a

unidade terrestre e a recusa em produzir o conhecimento através apenas

de descrições de áreas da Terra (Corografia). A Geografia da modernidade

adota o modelo ptolomaico, no qual se destacam alguns procedimentos

(GOMES, 1996, p.129):

- discussão sobre a criação do mundo;

- estudos sobre a forma da Terra;

- análise dos círculos terrestres;

- identificação das zonas climáticas;

- pesquisas sobre a estrutura física da Terra.

A Geografia moderna

Toda esta discussão entre os pólos racionalistas e anti-racionalistas

influenciou a construção do conhecimento geográfico. No mesmo contexto,

o mundo conhecido ampliou-se. A África, as Américas e a Antártida foram

“descobertas”.

Imagine o impacto desta notícia: “o mundo que conhecemos é

muito maior do que pensávamos”. Então, passa a existir uma necessidade

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59UNIDADE 3

de conhecer, descrever, comparar, informar, divulgar e explorar o Novo

Mundo. Contudo, nem todos os exploradores se contentaram apenas

em deixar suas “pegadas”, explorando ao máximo as preciosidades e

especiarias para enriquecer cada vez mais as metrópoles dominantes

num primeiro espasmo colonialista: Portugal, Espanha e Inglaterra.

Camões, em seus poemas, criava inspirado nestas “novas terras” e

na aventura que era navegar em busca destas descobertas. Mas esta visão

idílica dos descobrimentos durou pouco e logo começaram os extermínios,

a escravização e a exploração das riquezas animais, vegetais e minerais

do “Novo Mundo”.

A ciência geográfica foi fundamental neste período. Que ciência

serviria melhor para localizar e levantar os povos existentes, as riquezas,

se não a Geografia? Contudo, esta ciência, em vias de consolidação como

uma ciência moderna, precisava criar os seus instrumentos teóricos e

metodológicos para sistematizar os conhecimentos que acumulava. Foram

criados os seus princípios norteadores, como a extensão, a analogia e a

causalidade. Estes princípios são os responsáveis pela consolidação da

Geografia contemporânea (BARSA, 1977).

Princípios da Geografia contemporânea

Você deve conhecer não apenas os princípios, mas também os

seus criadores. Com isso, você poderá entender melhor a Geografia

tradicional:

O princípio da extensão foi definido por Friedrich Ratzel, e aplicá-lo

deveria ser a primeira preocupação do moderno geógrafo. Este princípio

consistia em localizar os fatos observados, determinando-lhes a área

geográfica e os mapeando convenientemente (BARSA, 1977).

O principio da analogia, também conhecido como princípio da

geografia geral, foi aplicado por Karl Ritter e, depois, largamente utilizado

por Vidal de la Blache e seus discípulos. Sua principal função consistia

em procurar as analogias entre um fato observado em uma determinada

área e outros em áreas diferentes, objetivando formar as Leis da Geografia

Geral.

Por fim, o princípio da causalidade, introduzido por Humboldt. Este

princípio consiste em procurar as causas e estudar as conseqüências dos

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fatos observados (BARSA, 1977).

Apoiado em tais princípios, os geógrafos passaram a propor

outros como o princípio da unidade terrestre, que nega a existência

de fatos geográficos isolados, pois, por mais simples que sejam, há

sempre uma correlação ou dependência de fatores diversos, que se

encadeiam e obedecem a leis gerais; o princípio das relações entre a vida

e o meio geográfico, no qual todas as formas de vida existentes sobre

a Terra (vegetais, animais e o próprio homem) acham-se em constante

dependência do meio natural e cultural (BARSA, 1977).

Por último, o “princípio da atividade, que rejeita o caráter estático

dos fatos geográficos, admitindo seu permanente dinamismo, sua mutação

lenta ou rápida, conforme as circunstâncias, fato que se comprova em

relação às formas de relevo, aos tipos de climas, às paisagens vegetais, à

população, à ocupação do solo ou uso da terra, aos mercados e aos meios

de transporte”. (BARSA, 1977)

Geografia Geral

A sistematização do conhecimento geográfico, já presente na

Antigüidade, foi retomada, como cosmografias ou cosmogonias, mas

incorporando novos dados e informações e cálculos mais precisos

possibilitados por inovações tecnológicas e novas teorias científicas. O

que resulta disso tudo é o reforço do “mesmo modelo conhecido há muito

tempo” e a produção de “uma Imago Mundi moderna” (GOMES, 1996,

p. 129). Assim, “as cosmografias estão, pois, na origem da tradição que

define simultaneamente a escolha temática e confere uma metodologia

geral à geografia” (GOMES, 1996, p.129).

Ora, quando Gomes (1996) refere-se a uma “metodologia geral à

geografia”, o que se tem é a fundamentação metodológica da Geografia

Geral, que ainda hoje é considerada no próprio ensino da Geografia

no ensino básico. Você pode verificar isso ao identificar o conteúdo

Procure pesquisar esta informação em livros didáticos de Geografia dessas séries. Essa abordagem geral da disciplina, que nos livros mais tradicionais, começa com

uma introdução aos conhecimentos astronômicos, passando por noções cartográficas, abordando questões geológicas e de geografia física, até atingir aspectos da geografia

chamada humana, ainda domina a forma de se ensinar geografia.

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As origens da Geografia Regional

A tradição liderada por Estrabão é muito relacionada ao gênero das

“narrativas de viagem”, que cresceu na modernidade com a “descoberta”

pelos europeus de novos continentes e povos. A descoberta do

“desconhecido” relacionada a um mundo de aventuras e epopéias insere-

se no imaginário da população européia e gera este gênero literário, e

também científico, que do início da modernidade chega até o século XIX

(GOMES, 1996, p.130). Por exemplo, o Brasil, também, sempre recebeu

viajantes estrangeiros, que narravam o que viam, e esses relatos tornaram-

se fontes indispensáveis para o conhecimento da história e geografia

brasileiras do período colonial.

Procure fazer uma pesquisa na internet e/ou em enciclopédias sobre os “viajantes estrangeiros no Brasil”. Use essa expressão para iniciar a pesquisa. Como você sabe, faz 200 anos que a família real portuguesa chegou ao Brasil e com ela vieram artistas e cientistas europeus que passaram a estudar e pintar a Geografia brasileira. Dom Pedro II também incentivou estas visitas. Aproveitando esse fato histórico, leia e discuta com seus colegas alguns relatos de viagens, de preferência aqueles relacionados à região na qual você estuda. Um viajante importante para a região sul foi Saint-Hilaire.

Geografia Geral e Geografia Regional

Parece evidente que a tradição legada por Estrabão forneceu o

modelo básico da abordagem regional na Geografia e pode ser considerada

a precursora da chamada Geografia Regional.

Considerando as duas tradições, a de Ptolomeu e a de Estrabão,

pode-se classificar a primeira de matemático-cartográfica, e a segunda de

histórico-descritiva. Na verdade, o uso integrado dessas duas tradições

não foi raro e se pode afirmar que “a geografia moderna se propõe a ser a

união dessas duas tendências” (GOMES, 1999, p.131). Esse mesmo autor

analisou o que significou essa integração para a formação de uma ciência

geográfica moderna:

“É então possível afirmar que existia já nessas

programático da Geografia na 5ª série do ensino fundamental e na 1ª

série do ensino médio.

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Dicotomias da Geografia

O importante neste item é relacionar a consolidação das duas geografias

(Geografia Geral e Regional) e o enriquecimento teórico-conceitual que

foi se operando na Geografia moderna. A Geografia Geral, por exemplo,

sustenta-se num conceito de espaço visto como aquele que pode concretizar

a abordagem científica da unidade terrestre.

A análise do pensamento geográfico, até bem recentemente, não

relacionou esta dualidade na estruturação da ciência geográfica moderna

com a dualidade epistemológica da modernidade, conforme considerada

nas seções anteriores deste fascículo. Veja-se, por exemplo, Christofoletti

(1982, p. 13), que afirma: “o designativo geral não se referia ao conceito da

metodologia científica de procurar generalizações ou leis, mas se baseava no

princípio da unidade terrestre”.

A abordagem que se prioriza neste livro destaca, por outro lado, que

esta dicotomia fundadora da Geografia moderna pode estar relacionada ao

debate científico geral, no qual se destacam também duas propostas possíveis

para operacionalizar o método científico (GOMES, 1996, p. 132):

- método nomotético: 1º) observação de fatos regulares; 2º) buscar

generalizações, utilizando a capacidade de representação racional e

desconsiderando contextos particulares;

tentativas de integração uma maneira de conceber a geografia como uma relação entre a organização geral do mundo e sua imagem, de um lado, e a fisionomia particular de algumas de suas partes, de outro. Esta concepção é talvez a origem da aproximação retida pelos manuais tradicionais de geografia moderna, que fazem figurar em geral uma cosmografia seguida de descrições regionais” (GOMES, 1996, p. 130).

O que se tem é um modelo dual consolidado da ciência geográfica

moderna, no qual se conformam duas geografias: a Geografia Geral e a

Geografia Regional. A integração, embora sempre tenha sido perseguida,

nunca aconteceu de uma forma que se pudessem integrar teorias,

conceitos e metodologias. A integração destas duas geografias sobrevivia

de forma mecanicista e funcional. É assim que ela foi levada ao mundo

acadêmico e aos manuais escolares.

Procure pesquisar nos livros didáticos

com os quais você estudou

ou tem acesso, em quais séries

existem conteúdos de Geografia

Regional. Tente também analisar se

esses conteúdos realmente se

integram aos de Geografia Geral.

Você poderá verificar se, de fato,

tais conteúdos estão bem integrados.

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- método ideográfico: 1º) considerar estudo de casos específicos,

únicos e não-redutíveis; 2º) apreendê-los como casos específicos que são.

Considerando esta relação bastante plausível entre a Geografia

e a ciência em geral, Gomes (1996, p. 132) conclui, afirmando que “a

tradição geográfica anterior ao advento da ciência moderna é também

interpretada entre um saber racionalista, geral e objetivo e um outro que

repousa sobre a descrição do particular”.

Dualidade epistemológica e dualidades geográficas

É possível relacionar a dualidade epistemológica entre racionalistas

e anti-racionalistas a outra dicotomia que aparece na Geografia moderna,

ligada a mais duas outras geografias: a Geografia Física e a Geografia

Humana. Nesse caso, a abordagem científico-racionalista mostra a

Geografia Física como um campo “amigável” de aplicação dos seus

pressupostos. Afinal, os diversos segmentos considerados neste grande

ramo da ciência geográfica reportam-se às “ciências puras”: físicas,

químicas e naturais. Tempo, clima, rochas, solos, relevo, rios, mares,

oceanos e vegetações integram-se, formando aquilo que se chama de

natureza, que é o objeto geral de todas estas ciências que se utilizam

produtivamente do método científico.

Por outro lado, a Geografia Humana tem por interesse o estudo das

sociedades e comunidades humanas, considerando o contexto físico e

cultural que envolve estas sociedades e comunidades.

Geografia Humana

Os estudos de Geografia Humana se depararam, inicialmente,

e quase que exclusivamente, com sociedades agrárias, fortemente

integradas ao seu meio geográfico, o que resultava num padrão muito

diverso de “gêneros de vida” espalhados pelo espaço geográfico dos vários

continentes. A Geografia Humana beneficiava-se por um processo que

vai estar relacionado à evolução de todas as ciências sociais e humanas e

que se pode sintetizar da seguinte forma:

“As chamadas ciências sociais e humanas ensinaram ao mundo relativizar, a ser

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condescendentes com as diferenças; estudando outras sociedades e comunidades, os cientistas sócio-humanos revelaram que havia tanta dignidade nos costumes de outros povos quanto nos dos povos de onde vinham. As diferenças deixaram de ser vistas pelo prisma da superioridade ou inferioridade e passaram a ser vistas como meras opções em função de vários fatores atuantes numa e noutra comunidade” (CUNHA, 1997, p.49).

Não é difícil relacionar essas possibilidades surgidas com as

ciências sócio-humanas às críticas e desconsideração do método

científico para abordar os fenômenos relacionados à vida humana na

Terra. É evidente que o processo guarda uma completa relação com a

consolidação do pólo epistemológico anti-racionalista.

As dicotomias geográficas guardam, então, uma visível relação

com a dualidade epistemológica no campo da discussão filosófica

e científica geral. As “geografias” geral e física encontrando no pólo

científico-racionalista um “porto seguro”, no qual podiam ancorar seus

esquemas explicativos. Ao contrário, as geografias regional e humana

desconfiando do “calado das águas turvas” que as separavam deste “porto

nada seguro”, que não atendia às suas necessidades de compreensão das

relações do homem e das sociedades com o seu meio geográfico, formando

os contextos sociais singulares. Nas geografias humanas e regionais

preocupações subjetivas, valorização das tradições, contextualização

e diversidade metodológica; nas geografias físicas e gerais, unidade

racionalista, unidade metodológica, visão relacionada à noção de

progresso linear e historicista, a busca por generalizações e leis gerais

explicativas. Mas é preciso analisar melhor essas heranças filosóficas e é

exatamente isso que você vai poder fazer na próxima seção.

1) Elabore um texto, relacionando aspectos do conteúdo escolar do ensino básico da Geografia com as tradições geográficas que influenciaram a formação da ciência geográfica. Este texto deve ter no máximo trinta linhas (uma lauda).

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SEÇÃO 2FILOSOFIA E gEOgRAFIA: KANT, HERDER E O CONHECImENTO gEOgRÁFICO mODERNO E CONTEmpORÂNEO

A dualidade epistemológica que você estudou na seção anterior

pode ser relacionada a uma dupla filiação filosófica fundadora. Essa

filiação relaciona-se a dois grandes filósofos: Immanuel Kant (1724-1804)

e Johann Gottfried Herder (1744-1803).

Procure pesquisar sobre esses dois filósofos. Você encontrará muito mais material sobre Kant do que sobre Herder. Kant é considerado um dos maiores filósofos de todos os tempos, enquanto a obra de Herder é muito menos discutida. Mas, recentemente, o pensamento herderiano é resgatado como bastante importante para a compreensão da tradição regionalista na Geografia. No site www.educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2003/11/001.htm, você encontrará uma interessante comparação entre o pensamento de Kant e Herder. Como já existe muito material sobre Kant, neste livro, prioriza-se a obra de Herder.

Johann Gottfried Herder

A relativa desconsideração sobre a contribuição de Herder frente à

de Kant na filosofia e ciência ocidental é explicada por Cunha (1997, p. 34-

35), ao afirmar que “a fama de I. Kant e o obscurecimento de J. von Herder

[ocorreu porque] o pensador das críticas se aliara às exitosas matemáticas

e física contra a incompreendida metafísica, coisa que equivale – diante do

público filosófico e científico – a trocar o duvidoso pelo certo” . Ao contrário,

Herder “foi outro pensador que se contrapôs seriamente à universalização,

2) Pesquise na internet os geógrafos que se destacam na Geografia Física e Humana. Depois, escolha dois de cada área e elabore um pequeno resumo a respeito dos seus trabalhos.

Geografia Física 1ºautor2ºautor

Geografia Humana1ºautor2ºautor

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a tal ponto que teria aberto uma paralela à razão natural e matemática: a

razão histórico-lingüística” (CUNHA, 1997, p. 47).

O esquecimento da obra de Herder também é destacado por Gomes

(1996, p. 143), quando ele afirma que “só podemos nos admirar do

esquecimento relativo do qual este autor é objeto”. O espaço é fundamental

na obra dele e ele propôs uma filosofia da História, na qual a expressão das

culturas nacionais é o elemento mais importante. Para Herder, “a nação se

inscreve em um nível intermediário entre a globalidade dos Estados e a

singularidade do indivíduo, esses dois níveis sendo justamente os níveis de

análise característicos do Século das Luzes” (GOMES, 1996, p. 143). Dessa

forma, “a nação é, antes de tudo, uma comunidade territorial” (GOMES,

1996, p. 144). O autor ainda identifica os três elementos que formam a

nação para Herder, como um todo orgânico:

1 – “as condições do ambiente, [que] estão na base do sistema;

2 – os gêneros de vida, que se desenvolvem no quadro das condições

naturais particulares e segundo certo repertório cultural específico a cada

nação;

3 – a tradição, que é um conjunto de valores e costumes desenvolvidos

ao longo da História [e ao largo da Geografia]; ele é particular a cada

nação” (GOMES, 1996, p.144-145).

Herder e a diversidade regional

Herder defende que a filosofia da História pode ser definida com

uma “teoria do lugar próprio”. Mas ele também propõe uma forma de

integrar essa proposta regionalista a uma realidade global. Ele busca um

sentido maior para a diversidade que foi construída na Terra. Defende que

cada cultura singular possui “uma parte da universalidade, na medida em

que cada cultura contém em si a perspectiva do plano global teleológico”

(GOMES, 1996, p.146).

Para Herder, a compreensão da natureza e da História (e da Geografia

também) deve considerar dois princípios fundamentais (GOMES, 1996, p.

146-147):

1 – desconsiderar os valores auto-centrados, para não acreditar que

uma cultura é superior a outra;

2 – o uso da comparação com “o outro”; comparar as culturas para

destacar as diferenças e compreender melhor cada uma delas.

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Em primeiro lugar, quando ele critica a idéia de que há culturas

superiores umas às outras, ele atinge diretamente o eurocentrismo dominante

no iluminismo. Por tabela, critica também o colonialismo e a lógica do Estado

moderno “que homogeniza todas as nações que dele fazem parte, apagando

assim toda especificidade cultural” (GOMES, 1996, p. 147).

Você está conseguindo perceber alguma relação do pensamento de

Herder com a Geografia que se ensina no ensino básico? As discussões

geopolíticas relativas às fragmentações de “Estados nacionais” criados,

como a ex-URSS e a ex-Iugoslávia, podem ser relacionadas aos argumentos

herderianos expostos ainda no século XVIII?

Em segundo lugar, quando Herder destaca a necessidade de respeitar

a alteridade (o Outro), está antecipando, em muito, a defesa do relativismo

cultural, que é uma das principais bandeiras do pós-modernismo, que vai

influenciar de forma marcante a filosofia e a epistemologia contemporânea,

destarte, a própria evolução recente do conhecimento geográfico, em

especial, a Nova Geografia Cultural que você vai estudar na disciplina

Conhecimento Geográfico II.

A discussão epistemológica contida nas obras de Kant e Herder,

como também de outros filósofos que não foram abordados aqui, forneceu

os elementos metodológicos fundamentais para aqueles estudiosos que

realmente estavam trabalhando sobre o conteúdo da ciência geográfica. É o

caso de Alexandre Von Humboldt e Carl Ritter. São esses dois pesquisadores,

considerados fundadores da Geografia científica, que você vai estudar na

próxima seção.

1) Cite e comente cinco grandes características do pensamento filosófico de Herder. Utilize no máximo 30 linhas (uma lauda).

2) Pesquise sobre a diversidade cultural existente na sua região e também na sua família. Descreva as origens dos seus antepassados ou de outros habitantes da sua comunidade. Tente explicar o motivo das migrações realizadas por estas pessoas. Utilize no máximo 30 linhas (uma lauda).

Procure fazer uma pesquisa sobre a vida e as obras dos geógrafos Humboldt e Carl Ritter. Consulte enciclopédias impressas ou eletrônicas. Esses dois estudiosos foram contemporâneos e morreram no mesmo ano: 1859. Exatamente o ano em que Charles Darwin publicou a “A Origem das Espécies”.

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SEÇÃO 3HERANÇA FILOSÓFICA E CONSOLIDAÇÃO DE UmA NOVA CIÊNCIA: A gEOgRAFIA

Esta seção procura finalizar os seus estudos na disciplina

Conhecimento Geográfico I, relacionando uma importante discussão

epistemológica com a consolidação da Geografia, como uma nova ciência

sustentada pelo que se passou a denominar de conhecimento científico.

Portanto, é preciso identificar quais foram os grandes geógrafos que

inauguraram a abordagem verdadeiramente científica da Geografia.

A maioria dos estudiosos do pensamento geográfico considera que

Humboldt e Ritter merecem esta primazia.

Humboldt e Ritter

Esses dois geógrafos apresentaram estudos que buscavam produzir um

conhecimento verdadeiramente científico. Para tal, procuraram incorporar

metodologias que estavam sendo propostas pelos que defendiam maior

rigor cientifico na produção do conhecimento que se organizava na forma

de disciplinas específicas. Dessa forma, pode-se afirmar:

“Com Humbolt e Ritter, o estudo da superfície da Terra como um todo coerente e harmônico se realizou por meio de múltiplas relações, incluindo as estabelecidas entre os aspectos da natureza e os aspectos humanos. Eles superaram os estudos particulares, despidos de referências a princípios gerais; superaram o conhecimento geográfico restrito à descrição dos lugares, entendido apenas como elaboração de mapas. Num e noutro, a referência básica residiu na busca da unidade e causalidade dos fenômenos. Com ambos, a Geografia caminhou para se constituir em um ramo particular do conhecimento, que procura relacionar o homem à natureza, base da compreensão da realidade (LENCIONI, 1999, p.88).

O que estava em pauta, então, era a transformação do conhecimento

numa ciência moderna que pudesse incorporar o padrão de racionalidade

proposto pelo pólo epistemológico científico-racionalista. Procure refletir

sobre os elementos da proposta humboldtiana que se relacionará a seguir,

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buscando comparar esses elementos com o que você já estudou sobre este

pólo (LENCIONI, 1999, p. 89-90):

Propostas de Humboldt

Humboldt defendia algumas propostas para os estudos geográficos

que deveriam:

- conceber a natureza como unidade viva;

- a Terra é um todo orgânico, e suas partes mantêm conexão entre

elas [como também defende Ritter];

- cria a noção de meio, como produto de relações entre diversos

elementos (clima, solo, relevo, vegetação, o homem);

- defende a pesquisa sobre as relações entre a vida (inclusive o

homem) e os elementos inorgânicos da Terra;

- persegue a construção de uma ciência capaz de analisar essas

relações, sem desconsiderar a unidade da natureza [essa ciência é

a Geografia];

- busca explicar conexões causais entre os fenômenos;

- nessas explicações formula comparações entre fenômenos e os

lugares de suas ocorrências.

Essas propostas são o embrião do conjunto teórico-metodológico que

a Geografia começou a apresentar e que resultou numa sistematização

melhor acabada do que passou a ser mais uma ciência moderna.

Alexander Von Humboldt foi um dos geógrafos mais importantes da Idade Moderna e Contemporânea. O grande Charles Darwin não abria mão de estar sempre acompanhado da principal obra de Humboldt: “Cosmos” (HELFERICH, 2005). Procure ler esta obra, você aprenderá muito com este espécie “Indiana Jones” da Geografia.

Humboldt foi, com toda certeza, um dos grandes geógrafos da Geografia Moderna. Sua contribuição para ciência em geral foi gigantesca. No caso da Geografia, a contribuição foi tão fundamental que ele é visto como um dos seus fundadores. Humboldt e André Bonpland, seu companheiro de viagens e pesquisas, procuraram relacionar aspectos físicos e humanos. Todavia, pouco se conhece deste geógrafo que esteve no Brasil, em 1800, pesquisando a Amazônia. Não é sem razão que Humboldt foi uma das grandes influências de Charles Darwin (HELFERICH, 2005).

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Humboldt e o debate epistemológico

Buscando enfatizar mais alguns aspectos relacionados ao trabalho

de Humboldt, é possível relacioná-lo de forma mais efetiva com o debate

epistemológico que foi destacado nesta disciplina (GOMES, 1999, p.158-

162):

- procurou estabelecer laços analíticos entre os dados conseguidos

pela pesquisa empírica;

- procurou uma síntese dos resultados das análises, buscando a

integração que resultava num sistema geral chamado de “física do

mundo” (Geografia);

- buscou levar ordem e coerência a dados diversos e particulares;

- pretendeu integrar sistematicamente as tradições da Geografia

antiga e narrativas de viagens e cosmografias.

Você deve ter percebido que os fundamentos do trabalho de Humboldt

relacionam-se com muitos pressupostos da proposta científico-racionalista,

muito embora sua grande erudição e sua formação eclética permitissem

que ele incorporasse nas suas análises e sínteses contribuições de filósofos

que foram grandes críticos da universalização metodológica. Entre eles, o

próprio Herder, que não era desconhecido por Humboldt (GOMES, 1996,

p.153). Mas, de qualquer forma, o importante é que Humboldt inaugura

um esforço mais competente e conseqüente de dar ao conhecimento

geográfico o status de ciência moderna. Estava em jogo, a partir de uma

visão racionalista, tirar esse conhecimento de seu estádio pré-científico e

transformá-lo num verdadeiro conhecimento científico. Pode-se afirmar,

Há muitos fatos interessantes que aconteceram nas viagens de Humboldt. Pesquise alguns deles. Por exemplo, o encontro com uma enguia elétrica, a prisão no Brasil e de seu papel como árbitro na discussão de fronteiras entre o Brasil e a Venezuela. Escreva sobre o que mais chamou sua atenção nestes episódios.

Você já parou para imaginar as dificuldades envolvidas em pesquisar a Amazônia naquela época? Naquele tempo não havia GPS e nem outros instrumentos sofisticados de comunicação e localização, e tão pouco uma rede de cidades que pudessem ter sido utilizadas como pontos de abastecimento nas proximidades do rio Amazonas. Além das dificuldades impostas pela natureza, havia problemas políticos e Humboldt foi preso pelos portugueses, que o viram como um espião, deixando-o detido por oito meses.

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caso se permaneça nesse campo racionalista, que Humboldt foi bem

sucedido. Mas isso não foi um trabalho realizado apenas por ele. Carl Ritter

deu uma grande contribuição também.

Carl Ritter

É importante refletir sobre os elementos fundamentais da Geografia

propostos por Ritter, que permitem relacioná-lo à obra de consolidação da

Geografia como ciência moderna e específica (LENCIONI, 1999, p.91):

- valorização da natureza;

- observação dos caminhos e lugares;

- produção do conhecimento dos elementos mais simples aos mais

complexos;

- a Terra vista como um todo orgânico e a região como parte deste

organismo;

- uso do método comparativo na explicação das individualidades

regionais (região);

- relações explicativas sobre a superfície terrestre e a atividade

humana;

- organização da explicação geográfica a partir da consideração de

ordem entre os elementos de explicação (relevo, clima, vegetação,

população e atividades humanas), visando uma síntese final.

É possível também, em relação à Ritter, relacionar as suas

preocupações explicativas com a influência do cientificismo-racionalista.

Mas em Ritter, essa opção ocorreu num padrão bem diferente do que em

Humboldt. Esse se apresentava muito mais despido de qualquer “recaída”

metafísica do que Ritter.

O cientificismo de Ritter

O cientificismo de Ritter é marcado pelo racionalismo à la Descartes.

Na proposta ritteriana há também lugar para Deus, que é o autor da harmonia

presente na natureza cujo desvelamento deve ser o objetivo central do

conhecimento científico. A Geografia é a ciência que permite revelar essa

lei da harmonia geral. Assim, a Geografia, “enquanto domínio responsável

pelo estudo da Terra em seu conjunto e das manifestações fenomenais é a

disciplina capaz de estabelecer a relação lógica entre o todo e suas partes”

(GOMES, 1996, p. 165). A relação entre a obra de Ritter e o cartesianismo

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apóia-se em duas opções principais (GOMES, 1996, p.170):

1 – explicação divina da racionalidade presente na natureza;

2 – a racionalidade é matemática e expressa a lógica da vida.

Assim como o racionalismo cartesiano foi fortemente criticado pelos

empiristas, os trabalhos de Ritter também o foram por aqueles que estavam

inaugurando o domínio epistemológico exercido pelo racionalismo em todo

o século XIX, mas com tentáculos que se estenderam também pelo século

XX: os positivistas (Comte) e os materialistas (Marx). Essas duas correntes

consolidam-se no século XIX e estendem suas influências por todo o século

XX, na Geografia e nas demais ciências. Ambas as correntes criticam a

“metafísica ritteriana” porque a julgam destituída de rigor científico.

Não podia ser de outra forma já que as tradições positivistas (comtianas)

e materialistas (marxistas) têm na produção de um conhecimento sócio-

histórico com rigor científico um dos seus programas fundamentais. Por um

lado, o cientificismo aparece tanto no positivismo como no marxismo. Por

outro lado, o cientificismo positivista não se mantém apenas na aplicação

metodológica e ganha vida própria, e com ele a ciência toma o caráter

de fim último da evolução da própria Humanidade. Para os positivistas,

a ciência moderna levou o homem à “idade científica” e criou o “espírito

científico”. É esse espírito que deve dirigir os rumos civilizatórios: “a esta

idade da ciência (que também é a ‘idade industrial’) deve corresponder uma

política, fundada sobre uma organização racional da sociedade, e também

uma nova religião, sem Deus: a religião da Humanidade” (CLÉMENT et

al., 1997, p. 307).

Ao contrário, no marxismo, o cientificismo manteve-se quase

que exclusivamente no campo metodológico. O que se pretendia com a

aplicação de métodos científicos à pesquisa social era uma explicação

científica que não ficasse apenas nas aparências, mas atingisse a essência

dos fatos sociais. Além disso, o marxismo também almejava chegar às leis

históricas que explicassem a evolução das sociedades humanas.

Você deve saber que o lema escrito na bandeira brasileira (ordem e progresso) refere-se a uma das propostas positivistas. Em outras palavras, o progresso só acontece se houver ordem. Não é difícil perceber que, a partir de determinado momento, os positivistas combateram todas as formas de rebelião social, vistas como elementos de desordem. É por essas e outras que o positivismo acabou se transformando numa proposta conservadora. Procure pesquisar a influência positivista na política imperial e republicana do Brasil.

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73UNIDADE 3

O evolucionismo e a Geografia

Uma terceira corrente que influenciou bastante a geografia científica

foi o evolucionismo. Como você já estudou, a teoria evolucionista

fundamenta-se no trabalho de Charles Darwin que escreveu o livro

“A Origem das Espécies”, em 1859, no mesmo ano em que morreram

Humboldt e Ritter. Nesse livro, Darwin propõe a lei geral de evolução dos

seres vivos na Terra, baseada na seleção natural. Todas as espécies vivas

derivam de outras por uma transformação natural. Com isso, a ciência

refuta a doutrina cristã baseada na Bíblia de que o homem foi uma criação

divina. Para a teoria da evolução o homem derivou de outras espécies

animais dentro de um processo natural de evolução.

Aqui não interessa a discussão em torno da validade ou não desta

teoria. O importante é que esta teoria teve influência fundamental na

forma e no conteúdo de praticamente todas as outras ciências, tanto

as ciências físicas e naturais, quanto as sócio-humanas. A Geografia

não ficou de fora, muito pelo contrário, até porque ela se propunha,

justamente, a ser a ciência a estudar as relações entre o homem e o meio.

Se a seleção natural dependia das adaptações dos seres incorporados à

evolução de cada espécie, não havia como a Geografia que se praticou

no século XVIII, e a que se praticava no século XIX, desconsiderar as

possibilidades desta teoria.

O positivismo e a Geografia

O positivismo influenciará a Geografia a partir do século XIX, por

sua postura de buscar a aplicação do método científico aos objetos de

pesquisa relacionados à vida do homem na Terra.

Isso é válido para o estudo do homem como indivíduo, permitindo

avanços significativos em todas as ciências médicas e psicológicas, mas,

também, nas ciências sociais como a Antropologia Física e a própria

Economia, muito embora, nessas últimas, os “avanços” tenham sido muito

questionados por correntes que viriam a formar a teoria social crítica.

Todas as ciências sociais, inclusive a Geografia, foram influenciadas

pela proposta positivista de que as sociedades humanas deveriam ser

estudadas por uma ciência que Comte denominou de Física Social. Está

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explícito o desejo positivista de universalização metodológica: aplicar ao

estudo dos fenômenos sociais, relacionados à espécie humana, as normas

do método científico. Entre esses fenômenos, os que não pudessem ser

abordados pela aplicação deste método não deveriam ser considerados

objetos científicos e não eram temas a serem pesquisados pelas ciências,

mas sim discutidos, metafisicamente [e aqui havia certo desprezo], pela

Filosofia.

Com isso, a Geografia que foi proposta e que era marcada pelo

positivismo deixou de pesquisar uma série de questões que são próprias

do homem, mas não se manifestam como objetos físicos e matemáticos e,

sim, subjetivamente, como desígnios da mente humana que transparecem

como comportamentos individuais e coletivos e, dessa forma, também

influenciam na vida humana exercida em contextos sociais próprios.

Os temas não tratados pela geografia tradicional passam a ser

abordados pelas geografias contemporâneas que promovem a renovação

dos estudos geográficos nas últimas quatro décadas: a geografia

humanística, a geografia da percepção e a nova geografia cultural.

Você terá a oportunidade de estudar esta transformação na disciplina

Conhecimento Geográfico II.

O marxismo e a Geografia

A influência marxista na geografia tradicional não foi tão

extensa quanto à positivista. Isso aconteceu porque o marxismo usou

o cientificismo-racionalista com o objetivo de revelar as contradições

do sistema capitalista que, para Karl Marx e Friedrich Engels, seriam

inerentes ao próprio sistema. Com isso, a derrocada do capitalismo era

apenas uma questão de tempo e, com o fim do capitalismo, abrir-se-iam

as portas de uma sociedade sem classes, a sociedade comunista, que seria

precedida por uma fase de transição socialista. O socialismo prepararia a

nova sociedade para o comunismo.

O marxismo criticou a exploração do trabalho humano e a

exploração que alguns países moviam sobre outros. Com isso, ele

criticava os fundamentos da sociedade industrial européia, levando as

suas idéias a sofrerem um forte combate dos poderes que dominavam as

universidades. As idéias marxistas influenciaram muitos estudiosos, mas

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A influência marxista na Geografia só se consolidará na década de

1960 através do que ficou conhecido como Geografia Radical ou Crítica.

Essa Geografia tem no marxismo sua principal fonte de inspiração e

ela buscará abordar a produção do espaço geográfico no capitalismo

contemporâneo como resultado da luta de classes. Essas lutas expressam

os interesses contraditórios no sistema balizado pela estrutura do espaço

capitalista, que é construído e reconstruído com o objetivo de manter a

preponderância da classe dominante. A Geografia Radical ou Crítica,

como corrente da ciência geográfica, também será abordada na seqüência,

na disciplina Conhecimento Geográfico II.

O evolucionismo social e a Geografia

O evolucionismo, assim como o positivismo, e ao contrário do

marxismo, exerceu uma influência decisiva na geografia tradicional. Essa

influência aconteceu, na verdade, em todas as ciências sócio-humanas e

derivou da tentativa de transposição de princípios da teoria evolucionista

darwiniana para a abordagem do homem em sociedade. A essa tentativa

se deu o nome de Evolucionismo Social.

O grande mestre desta tradição foi Herbert Spencer, que defendia

eles, durante muitas décadas, não tiveram espaço político para assumirem

diretamente essa influência. Assim, os autores marxistas permaneceram

como estudiosos não aceitos pelo status quo e, até bem recentemente, no

período da Guerra Fria e, em países marcados pelo anticomunismo mais

radical [inclusive o Brasil], quem tivesse coleção de livros de autores

marxistas poderia até ser preso. Vivia-se uma época em que algumas

idéias dividiram os homens em diferentes ideologias de forma bastante

significativa.

Procure pesquisar o que foi a Guerra Fria e como esse processo influenciou a América Latina e o Brasil. Você comprovará que a Guerra Fria foi decisiva na geopolítica que dominou as décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial. Para você tomar conhecimento das críticas marxistas ao capitalismo, procure ler um pequeno livro, mas que teve uma influência imensa na história da humanidade: “O Manifesto Comunista”, de 1848, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels.

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que “o desenvolvimento das sociedades e das instituições seguiu uma

determinada orientação e venceu etapas segundo uma lei que se pode

demonstrar” (CLÉMENT, 1997, p. 139). Também chamado de darwinismo

social, tornou-se uma teoria social que respaldou a “competição

capitalista”, que também promoveria uma “seleção social”, na qual os

indivíduos mais trabalhadores e competentes venceriam esta competição,

enquanto os não dedicados e incompetentes perderiam, justamente, por

lhes faltarem essas qualidades individuais e não porque o sistema em

geral fosse defeituoso.

Ora, esse esquema explicativo servia também para explicar

a “superioridade” de uma nação sobre outras; de um Estado sobre

outros. Portanto, conseguia-se o argumento científico para explicar a

superioridade de alguns países da Europa, e, posteriormente, de outros

continentes [EUA, por exemplo], sobre as demais nações e estados de

todos os continentes. Estavam fornecidos os argumentos científicos

decisivos para o colonialismo e o imperialismo. Além disso, era possível

ver cada Estado como um ser orgânico que precisaria de um espaço vital

para sobreviver.

O conceito de espaço vital foi proposto por um grande geógrafo

chamado Ratzel. Procure pesquisar

a vida e a obra deste estudioso,

procurando identificar as contribuições mais

importantes dadas por ele ao pensamento

geográfico.

O Estado e seu espaço vital

Na falta do espaço vital mínimo, O Estado nacional tinha a

justificativa fundamental, por razões de sobrevivência, para promover

sua expansão à custa de outros estados. Aqui também se aproveitava

de teorias importantes das ciências biológicas que foram adaptadas

para que servissem aos interesses expansionistas de alguns estados.

Uma geopolítica de fundamentos bastante questionáveis derivou dessas

premissas e influenciou políticas de muitos estados nacionais europeus.

O caso clássico é o da Alemanha nazista (SODRÉ, 1978).

Não é por outra razão que algumas tradições geográficas

consolidaram-se fazendo uma espécie de Geografia colonial e “a

utilização da geografia como instrumento de conquista colonial não foi

uma orientação isolada, particular a um país” (SANTOS, 1978, p.14). Essa

orientação era geral e na Geografia ela ganhou corpo num determinismo,

chamado geográfico, e que foi uma das tradições decisivas da geografia

tradicional.

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Determinismo Geográfico

O cientificismo teve no determinismo a porta de entrada definitiva

na Geografia e Santos sintetizou de forma esclarecedora as relações que

se efetivaram nesse processo:

“Um darwinismo mal dirigido orientou numerosos geógrafos para o determinismo, essa mesma orientação estando alimentada pelo ideal positivista. Que o positivismo haja contaminado até mesmo o marxismo nos dá a medida da importância que adquiriu em uma fase tão importante da história científica. (...) uma aliança desse gênero justifica que se dê um lugar exagerado a conceitos originários das ciências naturais, impostos às ciências humanas sob o pretexto de lhes oferecer aquela categoria científica que então elas procuravam a todo custo. O determinismo se nutre dessas duas fontes: o evolucionismo e o positivismo” (SANTOS, 1978, p. 29-30).

Na Geografia houve pelo menos uma reação importante ao

determinismo: o possibilismo de Vidal de La Blache.

Possibilismo Geográfico

Para o possibilismo, o meio não determina os rumos seguidos

pelas comunidades e sociedades humanas, mas, apenas, fornece as

possibilidades que cada uma das sociedades utiliza conforme os seus

níveis tecnológicos e padrões culturais. Assim, o conceito de região

assume importância decisiva nessa tradição (CUNHA, 2000). Mas, de

qualquer forma, o possibilismo também não conseguiu ficar imune às

influências evolucionistas e positivistas. Não é sem razão que Claval

(2004) reúne essas duas tradições naquilo que ele chamou de abordagens

naturalistas, que marcaram a geografia tradicional . Sem dúvida, as

controvérsias que opuseram deterministas e possibilistas marcam a

maturidade científica da ciência geográfica. Indicam que a Geografia,

como ciência independente, havia atingido um estádio metodológico que

a promovia a um rol de ciências sócio-humanas, entre as quais já estavam

a Economia, a História e a Antropologia.

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78UNIDADE 3

1)Elabore um quadro, comparando as três grandes correntes científicas que influenciaram o pensamento geográfico: marxismo, positivismo e evolucionismo. Utilize apenas uma página.

2) Pesquise sobre o debate entre os deterministas alemães e possibilistas franceses. Tente relacionar este debate com o embate travado entre alemães e franceses na Primeira Guerra Mundial. Uma dica: essa guerra foi classifica como tipicamente imperialista pelos marxistas. Descreva os resultados da sua pesquisa em no máximo trinta linhas (uma lauda).

Você estudou na última unidade a consolidação da Geografia como uma ciência moderna. Procurou-se demonstrar que o debate epistemológico que influenciou a formação das outras ciências físicas e humanas também influenciou a ciência geográfica. Assim, buscou-se destacar que a Geografia não é uma ciência sui generis, mas, ao contrário, sempre esteve integrada às discussões filosóficas que marcaram a consolidação das ciências modernas. Por último, você identificou de forma introdutória a relação entre a Geografia e as correntes filosóficas e cientificas que marcaram os últimos séculos.

Ao penetrar nestes debates, você já está avançando sobre uma

discussão relacionada à Geografia contemporânea. Mas isso é um assunto

para ser tratado na disciplina que dará seqüência aos estudos sobre o

pensamento geográfico que você iniciou nesta disciplina.

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81PALAVRAS FINAIS

pALAVRAS FINAIS

Você conseguiu concluir mais uma disciplina do seu curso. Ela vai

ser importante para você acompanhar as próximas matérias do curso,

principalmente a disciplina Conhecimento Geográfico II. Além disso, a

disciplina Conhecimento Geográfico I forneceu a você os fundamentos

intelectuais necessários para a compreensão do contexto filosófico e

científico no qual surgiu a Geografia. O importante é você fazer bom uso

destes conhecimentos adquiridos nas próximas etapas do curso. Parabéns

e permaneça com a mesma motivação e dedicação que você apresentou

até agora.

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83REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

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CLAVAL, P. A revolução pós-funcionalista e as concepções atuais da geografia. In: MENDONÇA, F.; KOZEL, S. Elementos de epistemologia da Geografia contemporânea. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.

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LACOSTE, Yves. A Geografia serve antes de tudo para fazer a guerra. São Paulo: Edusp, 1997.

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WIKIPÉDIA, Enciclopédia. Galileu Galilei. http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei. Disponível para acesso 28 de setembro de 2008.

WIKIPÉDIA, Enciclopédia. Minotauro. http://pt.wikipedia.org/wiki/

Minotauro Disponível para acesso 6 de desembro de 2008.

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85AUTOR

NOTAS SOBRE OS AUTORES

KARIN LINETE HORNES

Sou Professora Colaboradora da Universidade Estadual de Ponta

Grossa-UEPG. Leciono nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em

Geografia com as disciplinas de Introdução à Ciência Geográfica,

Geografia Urbana, Geografia Agrária, Demografia e Prática de Campo.

Sou Graduada em Geografia (bacharelado e licenciatura) pela UEPG,

mestre em Análise Ambiental pela Universidade Estadual de Maringá

(UEM). Sou doutoranda em Geografia, área de Geomorfologia, na

Universidade Federal do Paraná (UFPR).

LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA

Sou Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa-

UEPG. Leciono nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Geografia

e também nos Mestrados em Gestão do Território e Ciências Sociais

Aplicadas da mesma universidade. Sou graduado em Geografia pela

Universidade Estadual do Rio de Janeiro-UERJ (1976-1980). Realizei

o mestrado em História Econômica do Brasil, na Universidade Federal

do Paraná (1984-1987) e o doutorado em Desenvolvimento, Agricultura

e Sociedade, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1999-

2003).