confederação nacional dos trabalhadores na … · 2010-04-15 · estrutura no local também foram...

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ANO VII | NÚMERO 65 | EDIÇÃO ESPECIAL - JANEIRO 2010 CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG) CONTAG 2 º F e s t i v a l N a c i o n a l d a J u v e n t u d e R u r a l - J u n h o 2 0 1 0 Contag faz balanço das conquistas e projeta desafios para 2010 2009 2º festival da juventude rural CÓDIGO FLORESTAL CAMPANHA ELEITORAL Grito da Terra Brasil 2010 O 10º Congresso e os seminários regionais deram o norte político para a Contag nos próximos quatro anos. Em 2010, a questão ambiental, as políticas de renda,a organização do GTB e do Festival da Juventude e a participação no processo eleitoral destacam-se como prioridades do MSTTR. Luiz Fernandes César Ramos César Ramos

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A N O V I I | N Ú M E R O 6 5 | E d I ç ã O E s p E c I A l - J A N E I R O 2 010

cONfEdER AçãO NAcIONAl dOs TR AbAlhAdOREs NA AgRIculTuR A (cONTAg)

CONTAG

Fe s t i v a l N a c i o n a l

da Juventude Rural - Junho

201

0

Contag faz balanço das conquistas e projeta desafios para 2010

2 0 0 9

2º festival da juventude ruralCÓDIGO FLORESTALCAMPANHA ELEITORAL

Grito da Terra Brasil

2 0 1 0

O 10º Congresso e os seminários regionais deram o norte político para a Contag nos próximos quatro anos. Em 2010, a questão ambiental, as políticas de renda,a organização do GTB e do Festival da Juventude e a participação no processo eleitoral destacam-se como prioridades do MSTTR.

BRASIL

®

Luiz Fernandes

César Ramos César Ramos

2 J o r n a l d a C o n t a g

Secretaria Geral

Jornal da Contag - Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretária de Relações Internacionais Alessandra da Costa Lunas | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Antonio Lucas Filho | Finanças e Administração Manoel José dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto |Secretário Geral David Wylkerson Rodrigues de Souza | Jovens Trabalhadores Rurais Maria Elenice Anastácio | Meio Ambiente Rosicléia dos Santos |Mulheres Trabalhadoras Rurais Carmen Helena Ferreira Foro | Política Agrária Willian Clementino da Silva Matias | Política Agrícola Antoninho Rovaris | Políticas Sociais José Wilson Gonçalves | Terceira Idade Natalino Cassaro | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Assessoria de Comunicação Jacumã - Soluções Criativas em Comunicação Ltda. | Edição Ronaldo de Moura | Reportagem Gil Maranhão, Iara Balduíno, Suzana Campos, Verônica Tozzi | Projeto Gráfico Wagner Ulisses e Fabrício Martins | Diagramação Fabrício Martins | Fotos Capa | Revisão Joira Coelho | Impressão Dupligráfica

expediente

Em ano de congresso, Contag realiza grandes ações

A atuação da Contag em 2009 foi marcada

pelas deliberações do 10º Congresso, pelas

conquistas do Grito da Terra e pelos resul-

tados dos seminários regionais. O saldo organizativo

do movimento sindical dos trabalhadores e trabalha-

doras rurais (MSTTR) passou por essa sequência de

ações políticas da mesma forma que a criação das

condições objetivas para viabilizar essas iniciativas

passou pelo trabalho da Secretaria Geral.

No caso do 10º Congresso Nacional da Contag,

que reuniu cerca de 3,1 mil trabalhadores e traba-

lhadoras rurais de todo o País, coube à secretária

comandada por David Wylkerson a observância do

cumprimento das regras estatutárias e regimentais

por parte dos estados e da Contag.

A convocação do congresso, a organização

da documentação, a recepção das delegações, o

acompanhamento do processo de escolha dos(as)

delegados(as) e, sobretudo, a preparação da infra-

estrutura no local também foram coordenadas pela

Secretaria Geral. “O nosso trabalho às vezes tem

pouca visibilidade, mas é essencial para a orga-

nização de congressos, plenárias e atividades de

massa do MSTTR”, explica o dirigente.

Esse papel foi cumprido à risca durante o

Grito da Terra Brasil 2009. A Secretaria Geral foi

responsável pelo diálogo político e institucional

com os poderes públicos em nível distrital e federal

e pela infraestrutura do evento, em conjunto com a

Secretaria de Finanças e Administração da Contag.

“Apesar de o Grito ter sido realizado logo depois

do congresso, tivemos de montar uma grande es-

trutura para recepcionar um dos maiores Gritos da

nossa história”, lembra David.

NOvAS TAREFAS – Além de fornecer a logística

para a organização das mobilizacões de massa e

de cuidar da preparação das atividades internas,

de forma exclusiva ou em conjunto com outras se-

cretarias, a Secretaria Geral também contribuiu na

organização das oficinas de planejamento estraté-

gico e no processo de construção da Política Na-

cional de Formação da Contag.

A indicação do secretário-geral da Contag para

o Conselho Gestor e a Coordenação Política da

Escola Nacional de Formação da Contag (Enfoc)

foi importante para a secretaria extrapolar as atri-

buições de caráter exclusivamente administrativas

e operacional. “Essa nova tarefa que assumimos foi

importante para aumentar a interação com o pro-

cesso formativo e gerar melhoria no trabalho orga-

nizativo da Secretaria Geral”, avalia David.

As discussões nos seminários regionais orga-

nizados pela Contag entre os meses de agosto e

novembro também sinalizaram a necessidade de

a Secretaria Geral superar os limites das tarefas

burocráticas que o Sistema Contag exige. O novo

papel das Secretarias Gerais da Contag e das Fe-

tags seria assumir a interlocução do debate político

interno do movimento sindical.

A Secretaria Geral da Contag pretende in-

vestir, em 2010, na articulação com os secre-

tários gerais das Fetags. A ideia é convocar

pelo uma reunião do conjunto desses dirigen-

tes em nível nacional. “Não conseguimos reali-

zar uma reunião com os secretários gerais por

causa das grandes ações planejadas, como

congresso, GTB e seminários regionais”, ex-

plica David.

Além da troca de experiências, o encon-

tro deve discutir a intervenção organizada

dos secretários gerais no processo eleito-

ral. “Precisamos sensibilizar nossas bases

para a importância de eleger candidatos(as)

comprometidos(as) com os trabalhadores e as

trabalhadoras rurais para a Câmara dos De-

putados e Assembléias Legislativas”, propõe.

O dirigente considera que essa tarefa é de

fundamental importância para o MSTTR: “O

que está em jogo é a consolidação e o forta-

lecimento de nosso Projeto Alternativo de De-

senvolvimento Rural Sustentável e Solidário

(PADRSS)”.

PlANEJAMENTO – Segundo David, a conclu-

são e o monitoramento do planejamento es-

tratégico é outra questão prioritária neste ano.

“Os seminário regionais já definiram as bases

e as diretrizes principais. A nossa tarefa agora

é conduzir trabalho de sistematização”, conclui

o secretário-geral da Contag.

Fortalecer o projeto político

da Contag

GANhO POlíTiCO – David Wylkerson considera

essa possibilidade como um grande desafio. “A

Secretaria Geral não tem uma atividade política

específica. Portanto, colocar esse papel de interlo-

cução em prática representa um grande desafio”,

constata o dirigente.

No entanto, David reconhece que alguns passos

já estão sendo dados nessa direção, como as tare-

fas assumidas nas reuniões preparatórias de plane-

jamento e na articulação das mobilizações de mas-

sa da Contag. “Acho que o grande ganho político

em 2009 foi a conscientização e o reconhecimento

desse papel da Secretaria Geral da Contag.”

Luiz Fernandes

David Wylkerson defende a disfiliação da Contag à CUT duirante o 10º Congresso

3J o r n a l d a C o n t a g

relaçõeS internacionaiS

Bandeiras do MSTTR ganham projeção no cenário internacional

A Contag participou ativamente, em 2009,

das principais agendas de interesse dos

trabalhadores e trabalhadoras rurais no

mundo, a exemplo das conferências das mudan-

ças climáticas e da soberania e segurança alimen-

tar e nutricional. A atuação da entidade foi mais

uma vez reconhecida pelas organizações filiadas

à Confederação das Organizações de Produtores

Familiares do Mercosul Ampliado (Coprofam), que

elegeram a vice-presidente e secretária de Rela-

ções Internacionais, Alessandra Lunas, para o car-

go de secretária-geral da Coprofam.

Alessandra considera que esse reconheci-

mento é natural: “Somos a maior organização de

trabalhadores da América Latina e nosso país se

destaca como referência na construção de políti-

cas públicas para o meio rural”. A dirigente com-

preende que essa situação coloca a Contag em

posição de grande responsabilidade no âmbito

internacional.

CONFERêNCiA DA FAO – No mês anterior, em no-

vembro, a Contag integrou a delegação brasileira

na Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Se-

gurança Alimentar, em Roma. Um dos temas dis-

cutidos no encontro foi o fortalecimento da agricul-

tura familiar como forma de combate à fome. “Se

queremos acabar com a fome no mundo, é preciso

produzir alimentos e, para produzir alimentos, é

preciso políticas públicas que fortaleçam quem é

capaz de produzi-los”, defende Alessandra.

Apesar dos esforços da Organização das Na-

ções Unidas para a Agricultura e Alimentação

(FAO) e da importância política dada pelas organi-

zações sociais de vários países, a Cúpula de Roma

não teve os resultados esperados. “Em que pesem

a participação dos chefes de Estado de mais de

170 países, os compromissos foram firmados pelos

países pobres, e não pelos que têm maior acúmulo

de riquezas”critica a dirigente.

Contag recebe reconhecimento de organizações externas e tem participação ativa na discussão de temas

globais como fome e meio ambiente

O documento final também não incluiu ações

claras para erradicar a fome mundial até 2015. No

entanto, é preciso destacar que a reforma do Co-

mitê de Segurança Alimentar Mundial das Nações

Unidas (CFS) pode permitir uma maior incidência

da sociedade civil na formulação de políticas glo-

bais de combate à fome e à desnutrição.

MERCOSUl – A Secretaria de Relações Interna-

cionais também se engajou na campanha Merco-

sul Sem Fome, coordenada pela Coprofam, em

parceria com a Action Aid. A campanha foi lançada

no Brasil no início de 2009, em Salvador.

De acordo com Alessandra, o Brasil tem partici-

pação importante na articulação da campanha. “O

Brasil é campeão nas experiências de construção

de políticas públicas para a área alimentar, a exem-

“Temos vários governos de esquerda ou de cen-

tro-esquerda na América do Sul. Portanto, o nosso

grande desafio é explorar essa conjuntura para fir-

mar acordos em torno do fortalecimento da agricul-

tura familiar e da necessidade de firmar acordos so-

ciais e não apenas comerciais”, propõe Alessandra.

Apesar da crise mundial aumentar significativa-

mente a fome no mundo, muitas oportunidades sur-

gem para a agricultura familiar, que é hoje um dos cen-

tros do debate nos principais espaços de construção

plo do Fome Zero, do Programa de Aquisição de

Alimentos (PAA) e mais recentemente do Programa

Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), lembra.

A dirigente destaca, ainda, a intervenção da

Contag nas atividades da Reunião Especializa-

da sobre Agricultura Familiar (Reaf). “Tivemos

conquistas significativas na Reaf em 2009 como,

por exemplo, a aprovação do Fundo da Agricul-

tura Familiar, que vai apoiar a participação da

sociedade civil nas reuniões no âmbito do Mer-

cosul”, comemora.

A Reaf representa atualmente a maior experi-

ência mundial na construção de políticas públicas

para agricultura familiar em espaços oficiais como

o Mercosul. Ela reúne representantes dos governos

e da sociedade civil dos países membros deste

bloco econômico.

MEiO AMBiENTE – Os dirigentes da Contag e das

Fetags participaram, em dezembro de 2009, da 15ª

Conferência das Partes sobre Mudanças Climáti-

cas (COP 15), em Copenhague, Dinamarca.

Apesar da avaliação negativa da Contag, a

COP 15 colocou o Brasil em posição de destaque

em relação ao tema. As discussões preparatórias

para a conferência do clima coincidiu com as ne-

gociações do MSTTR com o governo federal so-

bre o Código Florestal Brasileiro. “Isso demonstra

o grande desafio para a agricultura familiar quanto

ao reconhecimento de seu protagonismo na sus-

tentabilidade ambiental”, afirma Alessandra.

de políticas. “Estamos em campanha para que a ONU

estabeleça 2010 como o ano internacional da agricul-

tura familiar”, acrescenta a dirigente da Contag.

Ela também acredita que, neste ano, os temas

da fome e meio ambiente devem ser, novamente,

os principais pontos da agenda internacional dos

movimentos sociais, dos países e das organiza-

ções mundiais. “É preciso, acima de tudo, discutir

os impactos das mudanças climáticas na produção

de alimentos”, conclui.

Fortalecer a agricultura familiar na agenda internacional

César Ramos

A vice-presidente Alessandra lunas(d) foi eleita secretária-geral da Coprofam, em dezembro de 2009

4 J o r n a l d a C o n t a g

terceira idade

Organização da terceira idade cresce em todo o País

Um dos destaques da luta dos

trabalhadores e trabalhado-

ras rurais no ano passado foi

a criação da Secretaria Nacional de

Terceira Idade. A mudança do orga-

nograma da Contag foi referendada

durante o 10º Congresso Nacional da

entidade, em março do ano passado.

Apesar de 2009 ter sido o ano de

estruturação, a secretaria organizou

duas reuniões do Coletivo Nacional da

Terceira Idade e 13 encontros estadu-

ais de capacitação, que envolveram

cerca de 420 lideranças sindicais. Os

estados que ainda não promoveram

essas atividades serão contempla-

dos neste ano pelo convênio que a

Contag firmou com o Serviço Nacional

de Aprendizagem Rural (Senar).

Essa intensa mobilização mostra

o nível de organização da categoria,

que também pode ser medido pelos

seguintes números: 26 federações já

criaram Coletivos de Terceira Idade e

cerca de 50% dos STTRs já possuem

coordenações, comissão ou secre-

taria de Terceira Idade. Centenas de

sindicatos também estão organizan-

do grupos de idosos nas comunida-

des rurais.

CONqUiSTAS – Embora a organiza-

ção da categoria esteja crescendo

em nível nacional, as negociações

com o governo federal durante o

Grito da Terra 2009 não foram muito

exitosas. Contudo, Natalino lembra

que algumas políticas reivindica-

das pelo movimento sindical dos

trabalhadores e trabalhadoras rurais

(MSTTR) já estão sendo implementadas.

O Plano Técnico de Articulação

de Rede de Promoção dos Direitos

da Pessoa Idosa (Plantar), o Disque

Denúncia, o Fundo Nacional do Idoso

– criado em 20 de janeiro deste ano

por meio da Lei nº 12.213, além das

tarifas especiais de transporte para a

A criação de uma secretaria específica, a

implementação de políticas públicas e o debate

sobre o envelhecimento saudável marcaram

o ano de 2009

Natalino considera positivo o saldo

político-organizativo desde a criação

da secretaria. Porém, o dirigente es-

pera que os avanços sejam maiores

em 2010. A elaboração da pauta de

reivindicações da terceira idade para

o Grito da Terra já começou a ser de-

batida pelo Coletivo Nacional (vide

box abaixo).

O dirigente afirma ainda que o prin-

cipal desafio do MSTTR será garantir

terra ao idoso; além do acesso aos

remédios que o governo federal dis-

tribui nos municípios e nos estados.

Natalino acrescenta que as deman-

das de transporte estão se tornando

realidade, mas ainda não chegaram

a todos os estados. Ele deixa claro

que as expectativas da terceira idade

não param por aí. “Queremos propor-

cionar lazer e vamos trabalhar o pro-

cesso do envelhecimento saudável,

porque os trabalhadores e as traba-

lhadoras não param com a aposenta-

doria”, provoca.

ENDiviDAMENTO – Natalino apon-

ta outro desafio para o Sistema

Contag: o aumento exorbitante de

empréstimos consignados contrata-

dos por aposentados e pensionistas

do Instituto Nacional do Seguro So-

cial (INSS). Segundo reportagem do

Correio Braziliense, o sistema finan-

ceiro liberou empréstimos no valor de

PREPARAçãO PARA O GRiTO DA TERRA BRASil 2010R$ 22,3 bilhões no ano passado. O

montante é 152,3% maior em rela-

ção aos financiamentos concedidos

em 2008, o ano da crise econômica

mundial.

O MSTTR vê com preocupação

o endividamento dos aposentados e

pensionistas e a facilidade com que

esses empréstimos são contratados.

“Os trabalhadores e as trabalhadoras

rurais estão muito endividados e dei-

xam de se alimentar bem e de adquirir

medicamentos essenciais no processo

de envelhecimento”, explica Natalino.

terceira idade, são algumas das con-

quistas do Sistema Contag. “Estamos

trabalhando com o Ministério Público e

as reivindicações que ainda não foram

atendidas serão reapresentadas neste

ano”, garante o dirigente.

As metas que dependem somente

do MSTTR e ainda não foram imple-

mentadas em 2009, como é o caso do

Fundo Nacional de Defesa e Fortale-

cimento da Terceira Idade do MSTTR

(Fundfti), também serão retomadas

neste ano. “O importante é que essas

discussões encontram-se adiantadas

e foram bastante aprofundadas du-

rante os seminários regionais.”

AGENDA POlíTiCA – Além de par-

ticipar ativamente dos seminários re-

gionais, a secretaria se engajou em

todas as outras ações promovidas

pela Contag em 2009. “Nossa meta

agora é envolver cada vez mais as

Regionais e as Fetags na discussão

da agenda política da terceira idade”,

anuncia Natalino.

No entanto, o dirigente da Contag

ressalta que o foco da Secretaria da

Terceira Idade não ficará restrito às

questões específicas da população

idosa do campo. “Vamos trabalhar

com ênfase no processo eleitoral des-

te ano, pois a política partidária tem

importância muito grande para o mo-

vimento sindical. Sem isso não será

possível alcançar as metas“, garante

Natalino. O dirigente acrescenta que

os Coletivos da Terceira Idade devem

estabelecer planos de ação em todos

os estados do País.

PAUTA DE REiviNDiCAçõES

• Criação de política de acesso à terra para as pessoas idosas.

• Maior rigor na fiscalização dos empréstimos consignados.

• Elaboração de plano nacional para o envelhecimento saudável e ativo.

• Garantia de Política Nacional de Saúde.

César Ramos

Natalino Cassaro denuncia as fraudes do crédio consignado

5J o r n a l d a C o n t a g

políticaS SociaiS

Trabalhadores e trabalhadoras ruraisse mobilizam pelos direitos sociais

Em 2009, a luta da Contag,

Fetags e sindicatos de tra-

balhadores e trabalhadoras

rurais (STTRs) foi determinante para

conseguir importantes avanços na

saúde, educação, previdência social

e proteção infanto-juvenil.

Uma das principais conquistas

do MSTTR foi a assinatura do termo

de cooperação com o Ministério da

Previdência Social para cadastrar os

segurados especiais, diminuir a bu-

rocracia na concessão de benefícios

e capacitar lideranças sindicais para

socializar as mudanças ocorridas na

legislação da Previdenciária Rural.

O cadastramento será feito com a

participação dos STTRs. Essa medida

é importante para garantir e agilizar o

acesso aos direitos previdenciários

como auxílio-doença, aposentadoria

por idade e invalidez, pensão por

morte e salário-maternidade.

A Contag também tem estabe-

lecido uma agenda permanente de

negociação com o ministério e a dire-

ção do INSS para solucionar os con-

flitos existentes em torno da interpre-

tação das normas previdenciárias e

da melhoria do atendimento dos(as)

trabalhadores(as) rurais. Contudo, ain-

da são grandes os desafios para tornar

a Previdência Social uma política univer-

sal no campo que contemple a proteção

dos agricultores(as) familiares e, espe-

cialmente, os assalariados(as) rurais.

O secretário de Políticas Sociais da

Contag, José Wilson Gonçalves, consi-

dera que o saldo das negociações com

o governo federal em 2009 foi extrema-

mente positivo e projeta as metas para

este ano. “Nosso desafio, em 2010,

é agilizar o cadastramento dos(as)

segurados(as) especiais e assegurar

às assalariados(as) o pleno acesso aos

benefícios previdenciários.”

EDUCAçãO DO CAMPO – O diri-

gente também considera que hou-

ve, em 2009, avanços na discussão

e elaboração das políticas publicas

para a educação do campo. A Se-

cretaria de Políticas Sociais organi-

zou o 2º Fórum Contag de Educação

do Campo e participou de eventos

importantes, como a Conferência In-

ternacional de Educação de Jovens

e Adultos promovida pelo Unesco e

Ministério da Educação, e o Fórum

Internacional da Sociedade Civil so-

bre Educação.

A Contag contribuiu também com

as discussões sobre o Plano Nacional

de Educação 2011-2020 e mobilizou

o MSTTR para atuar nas mais de 300

conferências municipais e estaduais

preparatórias para a Conferência Na-

cional de Educação (Conae).

José Wilson comenta que a Con-

tag pretende, em 2010, consolidar a

educação do campo como política

pública no Plano Nacional de Edu-

cação e assegurar esse debate na

Conae. A continuidade do processo

de formação de educadores para

atuar na construção de políticas de

educação do campo nos estados,

municípios e nos territórios rurais é

outra meta da secretaria.

PROTEçãO iNFANTO-JUvENil –

Em 2009, a Contag se filiou ao Fórum

Nacional dos Direitos da Criança e

do Adolescente (FNDCA) e foi indi-

cada para a Coordenação Colegia-

da do Fórum Nacional de Prevenção

e Erradicação do Trabalho Infantil

(FNPETI). A entidade também come-

çou a participar do grupo de trabalho

do Ministério da Educação que dis-

cute Educação Integral no Campo e

conseguiu a reinserção no Pacto Um

Mundo para a Criança e o Adolescen-

te do Semiárido.

Além desses avanços, vale desta-

car a aprovação de seis diretrizes re-

lacionadas à proteção infanto-juvenil

no campo durante a VIII Conferência

Nacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente. O dirigente da Contag

avalia que, agora, o principal desafio

é garantir que essas diretrizes sejam

contempladas na elaboração da Po-

lítica Nacional de Proteção e Promo-

ção dos Direitos das Crianças e Ado-

lescentes para os próximos 10 anos.

Segundo José Wilson, a estratégia

da Contag na agenda de proteção

infanto-juvenil será o “aprofundamen-

to do debate no MSTTR focando as

questões relacionadas à educação, à

saúde e ao trabalho educativo”.

CONTAG DEFENDE ACESSO à SAúDE NO CAMPOO governo federal destinou cerca

de R$ 50 bilhões para o Sistema Úni-

co de Saúde (SUS) no ano passado.

Esses recursos foram determinan-

tes para ampliar o acesso dos(as)

trabalhadores(as) rurais a serviços

no âmbito da atenção básica, como

as equipes saúde bucal e da família,

farmácia popular e atendimentos de

emergência.

César Ramos

José Wilson defende políticas públicas concretas durante o II Fórum Contag de Educação do Campo

As políticas de saúde têm contribu-

ído para dinamizar a economia de mi-

lhares de municípios brasileiros. Essa

dinâmica tem exigido da Contag e das

Fetags maior participação nos espaços

de controle social e gestão participativa

por intermédio dos conselhos, confe-

rências, fóruns e comissões de saúde.

“Esses espaços são fundamentais para

as organizações sociais afirmarem o

SUS que queremos e para cobrar dos

gestores públicos a efetivação de uma

política que atenda a todas as neces-

sidades de saúde das populações do

campo e floresta”, afirma José Wilson.

A importância do SUS para o campo

levou a Contag a se engajar na Carava-

na Nacional em Defesa do SUS com o

objetivo de transformá-lo em Patrimônio

da Humanidade. O MSTTR participou,

ainda, da formulação da Política Nacio-

nal de Saúde Integral das Populações

do Campo e Floresta e na construção

da 1ª Conferência Nacional de Saúde

Ambiental. “Conseguimos incluir o tema

saúde ambiental na agenda sindical.

Agora, nosso desafio é estabelecer

um diálogo e convencer os gestores de

saúde para pactuar e implementar essa

política”, finaliza José Wilson.

6 J o r n a l d a C o n t a g

política aGrícola

2009 foi um ano bom para a agricultura familiar

As pautas de política agrícola apresenta-

das e negociadas pela Contag avança-

ram bastante em 2009. As reivindicações

levadas pelos trabalhadores e trabalhadoras ru-

rais ao governo federal durante o Grito da Terra

Brasil 2009 foram atendidas, mesmo que parcial-

mente. Os projetos de interesse da agricultura fa-

miliar também foram incluídos na agenda do Con-

gresso Nacional.

Em abril, os trabalhadores e trabalhadoras ru-

rais que participaram do Grito da Terra em Brasília

comemoraram a liberação de R$ 147 milhões para

o Programa de Assistência Técnica e Extensão Ru-

ral. A liberação desses recursos havia sido bloque-

ada pelo governo no início do ano. Outra conquista

importante foi a inclusão dos contratos de investi-

mento no Seguro da Agricultura Familiar (Seaf) de

preço e de clima. Até então apenas os contratos

para custeio de safra eram cobertos pelo seguro.

No ano passado foi criado também o Programa

de Desenvolvimento Sustentável da Unidade de

Produção Familiar, o Pronaf Sustentável. O progra-

ma visa a orientar e monitorar a implantação dos

financiamentos de agricultores familiares(as) e

assentados(as) da reforma agrária.

AliMENTAçãO ESCOlAR – Ainda durante o

Grito, o Congresso Nacional aprovou a Lei

nº11.947/09, conhecida como Lei da Alimentação Es-

colar. Ela garante que no mínimo 30% dos recursos

repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimen-

to da Educação (FNDE) para a alimentação dos estu-

dantes sejam fornecidos pela agricultura familiar. Isso

representa pelo menos R$ 850 milhões dos recursos.

No fim do ano, outra boa notícia. Em dezem-

bro o Congresso aprovou a Lei que cria a Política

Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

(PNATER). Segundo o secretário de Política Agríco-

la da Contag, Antoninho Rovaris, a medida facilita

o acesso dos(as) produtores(as) aos serviços de

assistência técnica. “É uma lei importante, porque

Criação e fortalecimento de programas voltados para os agricultores e agricultoras familiares aprimoram

as condições de produção de trabalhadores e trabalhadoras rurais no País

vai desburocratizar o serviço de Ater no País”. A Lei

nº12.188/10 foi sancionada pelo presidente Lula no

dia 11 de janeiro de 2010 e será aplicada, na práti-

ca, a partir de março.

Além do fortalecimento dos programas gover-

namentais, a Secretaria de Política Agrícola conse-

guiu avançar na articulação das cooperativas de

agricultores(as) familiares e apoiar no fechamento

de negócios com empresas privadas. Um exemplo

foram os contratos com 19 empresas, entre elas a

Petrobras, para fornecimento de oleaginosas desti-

nadas ao biodiesel. “Buscamos a diversificação, não

apostando unicamente na soja e tivemos uma boa re-

ceptividade. Hoje no Semiarido brasileiro a Petrobras

está com um trabalho muito forte, especialmente com

mamona e girassol, que nos dará melhoria de condi-

ções para o próximo ano”, explica Rovaris.

O dirigente da Contag destaca, ainda, o trabalho

de criação e fortalecimento das cooperativas de cré-

dito. O Sistema Creditag que começou em dois esta-

dos – Espírito Santo e Goiás, atualmente atua em oito

Os dirigentes da Contag e das Fetags começa-

ram a definir na última reunião do Coletivo de Polí-

tica Agrícola da Contag, que ocorreu em novembro

do ano passado, algumas questões de interesse

da agricultura familiar que deverão compor a pauta

do Grito da Terra Brasil 2010.

A criação de uma política de garantia de ren-

da para os pequenos produtores é uma delas. A

ideia é que o governo federal garanta a compra

unidades da federação. A expectativa é aprofundar

parcerias com outros sistemas de cooperativas de

crédito para expandir e fortalecer as cooperativas da

agricultura familiar e economia solidária.

As características peculiares das cooperativas

de crédito – o produto principal é dinheiro deter-

minam que elas sejam regulamentadas e super-

visionadas pelo Banco Central do Brasil. “Esse

processo de controle e a responsabilidade dos

administradores faz em que as cooperativas adqui-

ram gestão profissional”, afirma Rovaris.

hABiTAçãO – O dirigente destaca, ainda, o Progra-

ma Nacional de Habitação Rural (PNHR): “Após mui-

ta luta e mobilizações, finalmente foi criado, em 2009,

um programa especifico de habitação para o meio

rural, com vistas a reduzir as necessidades de mo-

radia, hoje estimadas em 1,7 milhões de unidades”.

Rovaris acrescenta que, internamente, a secre-

taria ganhou reforços, que foram importantes para

dar continuidade aos trabalhos da equipe.

do excedente da produção que esteja compro-

metida com o pagamento de bancos. “É uma

complementação do Programa de Garantia de

Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF)”, es-

clarece Rovaris.

Outra reivindicação é a isenção de imposto

para produtos da agricultura familiar. “O governo

brasileiro tem isentado outros segmentos da so-

ciedade, por considerá-los estratégicos na ques-

tão do desenvolvimento, e nós entendemos que a

agricultura também precisa ter tratamento diferen-

ciado” avalia.

Segundo o dirigente da Contag, é preciso lu-

tar pela isenção de imposto na comercialização de

produtos para o consumo interno. Outra questão

que será negociada com o governo é a proposta

de modificação de alguns pontos da Declaração de

Aptidão ao Pronaf (DAP).

Coletivo discute pauta para o Grito da Terra

César Ramos

O secretário de Política Agrícola, Antoninho Rovaris, reivindica programas de geração de renda

para agricultura familiar durante Seminário Regional Sul, em Florianópolis

7J o r n a l d a C o n t a g

política aGrária

Contag fortalece a luta pela reforma agrária

Ao longo do ano de 2009, o Sistema

Contag promoveu dezenas de ações em

favor da reforma agrária no País, como o

fechamento de BRs em Mato Grosso do Sul e ocu-

pações da Superintendência Regional do Incra no

Distrito Federal e da unidade avançada do órgão

no município de Carlinda (MT). Além disso, o mo-

vimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras

rurais (MSTTR) organizou cerca de 300 acampa-

mentos, que envolveram mais de 25 mil famílias,

e promoveu em torno de 100 ocupações de áreas

improdutivas a partir da mobilização de aproxima-

damente duas mil famílias.

A intervenção da Contag também garantiu ou-

tras conquistas em 2009. As negociações do Grito

da Terra resultaram na liberação de recursos para

a desapropriação de 14 áreas reivindicadas pelo

MSTTR e na publicação de instruções normativas

que definiram critérios para os processos de desa-

propriação de terras.

No entanto, a pressão dos movimentos sociais

não foi suficiente para se contrapor à resistência da

bancada ruralista. “Lamentamos que a reforma agrá-

ria continue fora da agenda política do País e das

prioridades do governo Lula”, protesta o secretário de

Política Agrária da Contag, Willian Clementino.

íNDiCES DE PRODUTiviDADE – A atualização

dos índices de produtividade rural pautou par-

cialmente os esforços da secretaria em 2009. A

Contag debateu essa questão no Fórum Nacional

de Luta pela Reforma Agrária e pela Paz no Cam-

po e cobrou do presidente Lula a publicação da

portaria interministerial. O documento que define

A reforma agrária como estratégia de ampliação da agricultura familiar continua sendo o foco da atuação do movimento sindical e uma política estratégica para o enfrentamento dos problemas centrais do desenvolvimento nacional

critérios para atualização dos índices rural chegou

a ser assinado pelo ministro Guilherme Cassel, do

Desenvolvimento Agrário, mas foi engavetado no

Ministério da Agricultura.

O dirigente garante que um dos eixos do Gri-

to da Terra Brasil 2010 será a discussão sobre a

atualização dos índices de produtividade rural. “O

governo está descumprindo a lei e essa situação

não pode se arrastar indefinidamente. Vamos co-

brar em todas as instâncias o cumprimento da le-

gislação”, promete Willian.

CRéDiTO FUNDiáRiO – A Contag firmou, em

2008, um convênio com a Secretaria de Reordena-

mento Agrário (SRA) do Ministério do Desenvolvi-

mento Agrário para alavancar o Programa Nacional

do Crédito Fundiário (PNCF). O convênio permitiu

que em 2009 fosse realizado um encontro nacional,

seis seminários regionais e 21 encontros estaduais

para discutir o assunto.

Em parceria com outras instituições que com-

põe o Fórum de Luta pela Reforma Agrária, a

Contag também promoveu a retomada da Campa-

nha pelo Limite da Propriedade da Terra no Brasil.

Um evento nacional que envolveu representantes

de todos estados deu a linha para a campanha e

algumas federações colheram assinaturas para

respaldar um projeto de lei de iniciativa popular,

que vai propor limites para o tamanho das proprie-

dades rurais no Brasil.

Essa campanha ganhou o reforço da VI Marcha

da Classe Trabalhadora no final do ano passado. A

mobilização foi organizada pelas centrais sindicais

centrais sindicais para protestar contra a criminali-

Em 2010, a Contag vai continuar o trabalho

para dar maior visibilidade à luta pela reforma

agrária nos estados e municípios. “A reforma

agrária é um dos principais pilares do Projeto

Alternativo de Desenvolvimento Rural Susten-

tável e Solidário (PADRSS). Precisamos mos-

trar para a sociedade brasileira que sua imple-

mentação é primordial, não só para garantir

políticas públicas para o campo como para

produzir alimentos com qualidade para as po-

pulações urbanas e rurais”, enfatiza Willian.

Outra meta traçada pela Secretaria de Po-

lítica Agrária é desenvolver ações integradas

com outras secretarias da Contag, como a de

Jovens, Mulheres, Formação e Organização

Sindical, entre outras. “Essa articulação é es-

tratégica, porque os sujeitos que estão na re-

forma agrária são os mesmos abrangidos por

outras políticas internas do movimento sindi-

cal”, esclarece Willian.

As resoluções dos sete seminários re-

gionais promovidos pela Contag em 2009

também vão pautar as ações do Coletivo de

Política Agrária neste ano. “As demandas

apresentadas por nossa base naquelas dis-

cussões, a organização do Grito da Terra Bra-

sil 2010 e a construção do II Festival Nacional

da Juventude Rural são outras prioridades

daenossa atuação nesse ano”, conclui Willian.

Metas da Secretaria de

Política Agrária

zação dos movimentos sociais e defender a revisão

dos índices de produtividade.

ESPAçOS iNSTiTUCiONAiS – A Contag também

marcou presença nas reuniões do Comitê Nacio-

nal do Fundo de Terras, do Conselho Nacional

de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar

(Condraf) e da Reunião Especializada da Agricultu-

ra Familiar (Reaf).

Esses espaços juntaram representantes dos go-

vernos e da sociedade civil para discutir temas im-

portantes como política agrária, desenvolvimento ru-

ral sustentável e fortalecimento da agricultura familiar

nos países do Mercosul. “Essas parcerias foram fun-

damentais para avançarmos nas relações com outras

entidades que lutam pela reforma agrária, bem como

para fazer um contraponto às tentativas de criminali-

zação dos movimentos sociais”, lembra Willian.

César Ramos

Willian Clementino: lamentamos que a reforma agrária continue fora da agenda política do País

8 J o r n a l d a C o n t a g

aSSalariadoS e aSSalariadaS

Conquistas e desafios para os assalariados e assalariadas rurais

O Termo de Compromisso Nacional para

Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na

Cana de Açúcar foi a principal conquista

dos 4,5 milhões de assalariados e assalariadas rurais

do setor sucroalcooleiro. O documento assinado em

junho do ano passado pelo governo federal, repre-

sentantes dos usineiros,Contag e Feraesp estabelece

parâmetros para a contratação de mão de obra, re-

colocação profissional e implementação de políticas

publicas para os assalariados (as) do setor.

“Trata-se de um acordo histórico que busca

soluções para problemas gerados pela mecani-

zação da colheita, pela ação dos “gatos” na con-

tratação de mão de obra e pelo descumprimento

das cláusulas sociais das convenções coletivas

“explica Antonio Lucas, secretário de Assalaria-

dos e Assalariadas da Contag.

As negociações com o governo federal e em-

presários começaram a partir da pauta de reivindi-

cações apresentada pela Contag durante o Grito

da Terra Brasil 2008. Antonio Lucas participou di-

retamente das discussões e atualmente tem sido

convidado para falar dessa experiência em vários

países da America do Sul e da Europa. “O Termo

de Compromisso ganhou repercussão internacio-

nal em função da nossa capacidade de construir

um consenso tripartite que envolveu trabalhado-

res, empresários e governo”, explica o dirigente.

Outro ganho importante nesse processo foi

colocar o governo para discutir políticas públi-

cas para os assalariados rurais. A criação de um

projeto piloto de intermediação pública da mão

de obra rural também já está em discussão.

TRABAlhO ESCRAvO – A ação do movimento

sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

(MSTTR) também foi decisiva para combater o traba-

lho escravo e situações análogas ao trabalho escra-

vo por meio das denúncias ao Ministério Publico do

Trabalho e da fiscalização do Ministério do Trabalho.

O MSTTR também se mobilizou para aprovar a

chamada “PEC do trabalho escravo”, que tramita

no Congresso Nacional há 18 anos. “Essa prática

só será extinta quando o assunto for realmente

tratado como crime. Não basta punir os respon-

sáveis com multa”, protesta Antonio Lucas.

MAiS AvANçOS – O acesso dos assalariados e

das assalariadas rurais à Previdência Social por

meio da Lei nº 11.718/08, que cria o contrato de

trabalhador rural por pequeno prazo e estabele-

ce normas para a aposentadoria rural, foi outra

conquista da Contag no ano passado. Antonio

Lucas considera que esse passo foi importante

para garantir inclusão social, diminuir a informa-

lidade no campo e eliminar a burocracia na con-

cessão dos direitos previdenciários aos trabalha-

dores contratados por curta duração.

As convenções coletivas cresceram não ape-

nas em número, mas também em qualidade de

negociação. Segundo Antonio Lucas, o amadu-

recimento do movimento sindical e a formação

dos dirigentes têm contribuído para melhorar

esse cenário.

iMPACTOS DA CRiSE – De acordo com estudo

da subseção na Contag do Departamento Inter-

sindical de Estatística e Estudos Socioeconômi-

cos (Dieese), a crise financeira mundial provocou

reflexos negativos de empregabilidade no meio

rural. A oferta de novos postos de trabalho diminui

significativamente e o número de contratações no

primeiro semestre de 2009 foi menor em relação

aos dois anos anteriores. Em contrapartida, Anto-

nio Lucas lembra que o número de empregados

admitidos com carteira assinada aumentou. “Esse

é um ponto muito positivo e mostra o avanço na

melhoria da qualidade de trabalho no campo”, as-

sinala o dirigente da Contag.

Já as negociações com o Ministério do Tra-

balho e Emprego (MTE) durante o Grito da Terra

2009 não foram conclusivas, mas abriram no-

vos canais para discutir políticas públicas de

saúde e segurança dos trabalhadores e das tra-

balhadoras rurais.

Nesse ano, a Secretaria de Assalariados e As-

salariadas vai dar prosseguimento na luta pela

erradicação do trabalho escravo e no trabalho de

assessoramento das Fetags e dos STTRs durante

as campanhas salariais. Também iniciará cursos de

capacitação e atualização de dirigentes sindicais.

A primeira boa noticia de 2010 vem da Região

Nordeste. A Federação dos Trabalhadores na Agri-

cultura do Estado de Sergipe (Fetase) depois de 18

anos fechou uma convenção coletiva com resultados

importantes para a categoria, como o fornecimento de

equipamentos de segurança, a definição de horários

preestabelecidos para aplicação de agrotóxico, pois tal

aplicação não se fará nos horários mais quentes do dia.

O piso salarial de R$525,00, o reconhecimen-

to de direitos da mulher e a fixação do dia 1º de

novembro como data-base também foram algumas

das conquistas dos(as) trabalhadores(as) rurais.

O secretário de Assalariados e Assalariadas

anuncia, ainda, que a Contag vai priorizar neste

ano o monitoramento do Termo de Compromisso no

setor sucroalcooleiro e a extensão desse modelo de

negociação para outras culturas. “O documento já

recebeu a adesão voluntária de 309 usinas de ál-

cool e açúcar de todo o País. O importante agora e

que as empresas cumpram à risca as cláusulas do

acordo”, assinala Antônio Lucas.

Negociações, convenções coletivas e perspectivas para 2010

César Ramos

Antonio lucas (c) fez um balanço da luta da Contag na defesa dos(as) assalariados(as) rurais

na abertura do Seminário Regional Centro-Oeste, em Goiânia

9J o r n a l d a C o n t a g

Meio aMbiente

As discussões sobre meio ambiente foram colocadas na ordem do

dia do movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

(MSTTR) no ano passado. O 10º Congresso da Contag criou uma se-

cretaria para tratar exclusivamente da questão ambiental e o foco principal do

Grito da Terra Brasil 2009 foi a criação de uma legislação ambiental específica

para a agricultura familiar.

As negociações com o Ministério do Meio Ambiente para alterar o Código

Florestal e encaminhar para o Congresso Nacional a proposta que estabelece

a remuneração pela prestação de serviços ambientais começaram em junho

e se estenderam até o fim do ano. “O MSTTR passou, finalmente, a priorizar

a questão ambiental. As negociações com o governo federal avançaram e

conseguimos muitas vitórias no ano passado”, avalia Rosicleia dos Santos,

secretaria de Meio Ambiente da Contag.

Confiram, abaixo, o balanço das ações da Contag na questão ambiental.

Código Florestal ganha destaque na agenda do MSTTR

Segundo a secretária de Meio Ambiente, a alteração do Código Florestal

e a criação de uma legislação ambiental específica para a agricultura fami-

liar são duas questões prioritárias para a Contag. “A pauta do Grito da Terra

Brasil 2010 deverá destacar esses dois pontos nas negociações com o go-

verno federal e com as lideranças políticas no Congresso Nacional”, adianta.

A Secretaria de Meio Ambiente vai acompanhar os trabalhos da Comis-

são Especial da Câmara dos Deputados, que está analisando as propostas

de mudanças no código, e também deve intervir nas discussões para a regu-

larização dos parques nacionais.

A dirigente da Contag antecipa, ainda, que a secretaria deve promover se-

minários regionais sobre educação ambiental, bem como continuar à partici-

pando dos debates sobre as mudanças climáticas. “O movimento sindical do

campo adquiriu uma consciência plena da importância da agenda ambiental

para o futuro da agricultura familiar em nosso país”, conclui Rosicleia.

Metas e desafios para 2010

Congresso da ContagO 10º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

criou a Secretaria de Meio Ambiente e elegeu a jovem Rosicleia dos San-

tos para dirigir a nova secretaria. Os delegados e as delegadas também

aprovaram as propostas de mudanças no Código Florestal e a criação de

uma parceria entre a Contag e o Departamento de Educação Ambiental do

Ministério do Meio Ambiente.

CoP 15

A Contag participou ativamente das reuniões preparatórias paa a Confe-

rência das Partes sobre o Clima, a COP 15. A delegação brasileira incorporou

pela primeira vez uma representação da agricultura familiar numa conferência

internacional para discutir os impactos da questão climática na agricultura.

A comitiva da Contag liderada pela secretária Rosicleia dos Santos fez

uma avaliação negativa da COP 15. “Foram duas semanas de negocia-

ções em que se chegou apenas a um acordo não vinculante e sem o aval

de todos os países”, avalia.

Programa mais ambiente

O governo federal anunciou, em dezembro de 2009, o Programa Mais

Ambiente. A medida prorrogou por três anos o início do processo de regu-

larização das áreas de preservação permanente e de reserva legal, previs-

to para entrar em vigor em dezembro do ano passado.

A Contag reivindicou durante o GTB 2009 o adiamento da vigência do

decreto para os agricultores e agricultoras familiares se adequarem às no-

vas regras. Atendendo às pressões da bancada ruralista, o governo fede-

ral decidiu prorrogar o prazo tanto para a agricultura familiar como para os

grandes proprietários de terra.

eduCação ambientalEm outubro de 2009, a Contag realizou uma oficina nacional de educa-

ção ambiental e agricultura familiar, com a participação das lideranças re-

gionais. No evento foi deliberada a criação de um programa de educação

ambiental. A entidade ainda aguarda proposta do governo para análise.

grito da terra brasil

Os manifestantes defenderam a descriminalização dos(as)

agricultores(as) familiares e a compatibilização entre a produção agrícola

e a preservação do meio ambiente. A pauta de reivindicações destacou

também a alteração do Código Florestal e a criação de uma legislação

específica para a agricultura familiar.

O GTB 2009 construiu uma aliança histórica entre a Contag e as or-

ganizações ambientalistas. O governo concordou com a necessidade de

promover ajustes no Código Florestal e na criação de uma legislação es-

pecífica para a agricultura familiar.

O saldo concreto das discussões foi a publicação de três instruções

normativas, que tratam da recuperação de Áreas de Preservação Perma-

nente (APP), da Reserva Legal (RL) e do plantio de plantas nativas e exóti-

cas para recuperação de APP. As negociações culminaram com o envio de

um projeto de lei do governo ao Congresso que prevê a remuneração pela

prestação de serviços ambientais.

Parques naCionaisA Secretaria de Meio Ambiente trabalhou, ainda, para resolver os con-

flitos que envolvem os parques nacionais, a exemplo do Parque Nacio-

nal da Serra das Confusões, no Piauí. Após uma reunião entre a Contag,

Fetag/PI e o Instituto Chico Mendes, foi agendado um seminário para dis-

cutir mudanças e delimitações da área.

MARçO

SETEMBRO/OUTUBRO

DEzEMBRO

MAiO

AGOSTO

Fani Mamede

A secretária de Meio Ambiente, Rosicléia dos Santos, representou

a Contag na COP 15, em dezembro, na Dinamarca

10 J o r n a l d a C o n t a g

FinançaS e adMiniStração

Manoel dos Santos avalia gestão na Secretaria de Finanças da Contag

A Secretaria de Finanças e Administração

passou a ser comandada, desde abril de

2009, por Manoel dos Santos. O dirigente,

que presidiu a Contag por 11 anos, foi eleito du-

rante o 10º Congresso Nacional dos Trabalhadores

e Trabalhadoras Rurais para dar continuidade à

política de gestão democrática, transparente, au-

tônoma e autossustentavel do movimento sindical

dos trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR)

na área de finanças.

A primeira tarefa do novo secretário de Finanças

e Administração foi criar as condições de logística

para a Contag promover, em maio, o Grito da Ter-

ra Brasil 2009. “O tempo para a preparação dessa

mobilização de massa do MSTTR foi mínimo, mas

conseguimos superar as dificuldades e garantir a

infraestrutura necessária para receber milhares de

lideranças sindicais em Brasília”, avalia Manoel.

A primeira reunião do Coletivo de Finanças tam-

bém foi realizada em maio e discutiu a necessida-

de de o Sistema Contag aprofundar o processo de

capacitação das lideranças sindicais para padroni-

zar a política de financiamento autossustentável do

MSTTR. “O que percebemos é que há uma neces-

sidade de a Contag continuar investindo nessas

discussões de gestão e finanças, para aproximar

ao máximo as propostas, desde a entidade até o

sindicato e do sindicato até a Contag.”

CONSTRUçãO COlETivA – Segundo o dirigente,

ainda existem algumas dificuldades por parte das

direções das Fetags e dos STTRs em cumprir a de-

liberação do 10º Congresso que trata do repasse de

1% das contribuições de balcão arrecadadas pelos

sindicatos para o Sistema Contag. Manoel defende a

aplicação da resolução do congresso, mas faz a se-

guinte ponderação: “Não basta a gente enviar daqui

uma correspondência, enviar e cobrar dos STTRs,

nós precisamos construir algo com envolvimento e

participação das três instâncias do MSTTR.”

Ele considera também que as atividades do Pro-

grama Nacional de Fortalecimento das Entidades

Sindicais (PNFES) podem ser utilizadas para fazer

essa discussão. Um dos objetivos do PNFES é fa-

zer que os(as) dirigentes, conselheiros(as) fiscais

e contadores(as) do Sistema Contag aprimorem a

política de arrecadação e aplicação adequada dos

recursos do movimento sindical rural.

Manoel dos Santos também defendeu nas reu-

niões dos Coletivos de Finanças realizadas em

2009 que as campanhas de sindicalização pas-

sem a ser uma política permanente do Sistema

Contag. O objetivo é conquistar novos sócios e

buscar o retorno de quem já foi filiado e não par-

ticipa. O dirigente acredita que um dos desafios

colocados é combater a cobrança de serviços de

quem não é associado. “Se o sindicato estabelece

a cobrança de um serviço prestado a quem não

é associado, diminui a importância da campanha

de sindicalização. Isso não estimula a participa-

ção dos trabalhadores. É por isso que temos de

combater a cobrança desse serviço pontual e for-

talecer uma política de trazer o trabalhador e a

trabalhadora rural para a vida sindical”.

SEMiNáRiOS REGiONAiS – A Secretaria de Finan-

ças e Administração também teve um papel fun-

damental na organização dos seminários regionais

que discutiu, entre outros temas, o planejamento

estratégico da Contag. “O planejamento é um eixo

orientador, é um porto aonde nós queremos chegar

e que vai direcionar nossa navegação durante todo

o mandato”, avalia Manoel dos Santos.

Ao contrário dos processos anteriores, a discus-

são do planejamento das ações da Contag contou

com a participação das lideranças sindicais de

base nos sete seminários regionais organizados,

em conjunto com as Regionais da Contag e as Fe-

tags. “Essas discussões foram fundamentais para

dar o norte para o MSTTR nos próximos quatro

anos”, afirma.

O Sistema Contag vai aprofundar o debate sobre a unificação da política de financiamento e gestão

do MSTTR durante o seminário programado para os dias 9 a 11 de fevereiro. “A proposta é firmar com-

promissos entre a Contag e as Fetags de como trabalhar as políticas de arrecadação nos estados e mu-

nicípios”, esclarece Manoel dos Santos.

A Secretaria de Finanças e Administração, em conjunto com a Secretaria Geral, também vai apre-

sentar uma proposta de organização da logística do Grito da Terra Brasil 2010 e para o II Festival da

Juventude na primeira reunião do Conselheiro Deliberativo da Contag, programada para o mês de março.

Outra prioridade apontada pelo secretário de Finanças e Administração da Contag é o acompanha-

mento dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional propos-

ta pela bancada ruralista para criminalizar os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. “Temos

de intervir nesse espaço, porque a Câmara dos Deputados e o Senado Federal são dominados por forças

contrárias aos interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais” justifica Manoel.

CAMPANhA ElEiTORAl – O dirigente da Contag defende, ainda, a participação organizada do MSTTR

nas eleições que vão eleger o sucessor do presidente Lula, os novos governadores e os representantes

do povo no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas. “A implementação do

nosso Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS) depende dos re-

sultados desse processo eleitoral. O que estará em jogo serão a consolidação e a ampliação das políticas

públicas que conquistamos nos últimos anos”, conclui o secretário.

Ações prioritárias

César Ramos

Manoel de Serra (em pé) avalia as políticas de territorialidade do governo federal no Seminário

Regional Nordeste em Recife

11J o r n a l d a C o n t a g

MulhereS

Secretaria de Mulheres faz balanço das mobilizações em 2009

Na retrospectiva das ações reali-

zadas ano passado, a Secretaria

de Mulheres da Contag, relembra

como referencial a IV Plenária Nacional das

Mulheres Trabalhadoras Rurais, realizada

em novembro de 2008, Luziânia (GO).

O debate, a atualização e mobilização,

a partir desta plenária, foram fundamentais

para que no 10º. Congresso Nacional de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais fos-

se aprovado a inclusão, no Projeto Alternati-

vo de Desenvolvimento Rural Sustentável e

Solidário (PADRSS) da Contag, a proposta

de desenvolvimento para o campo brasi-

leiro, que incluísse a busca pela igualdade

entre homens e mulheres.

No início de 2009, as trabalhadoras par-

ticiparam da preparação para o congresso.

Contribuíram o conteúdo, debateram as

pautas prioritárias com a base. Houve in-

tensa mobilização nos estados. Por conta

dessa articulação política ampliaram o nú-

mero de delegadas e todas propostas apre-

sentadas por elas foram aprovadas.

ATUAçãO POlíTiCA – Após o congresso

estiveram nas mobilizações, todas elas, in-

clusive no Grito da Terra Brasil (GTB). Ela-

boraram propostas para fortalecer os direitos hu-

manos das mulheres nas negociações do GTB. No

planejamento estratégico, a fim de garantir a trans-

versalidade em gênero, estiveram em permanente

debate. Promoveram ações para construir novos

marcos na defesa dos interesses sindicais. Essa

militância proporcionou mais de 30% das mulheres

nos Seminários Regionais, que atuaram com inter-

venções qualitativas. Contribuíram para atualizar o

PADRSS. Como resultado desta gestão, foi aponta-

do à necessidade de continuidade na valorização

da participação das mulheres em todas as instân-

cias da Contag.

JORNADA DAS MARGARiDAS – O protagonismo

das mulheres nos territórios rurais foi o tema da Jor-

nada das Margaridas, em 2009. Foram feitas refle-

xões sobre as reivindicações das margaridas e as

políticas públicas concretizadas. Entre as

atividades, a Secretaria de Mulheres realizou

o seminário ‘Protagonismo das Mulheres nos

Territórios Rurais’. Temas como PADRSS,

políticas públicas para enfrentamento da vio-

lência, assistência técnica, acesso a terra,

organização produtiva e as formas para em-

poderar as mulheres, nortearam a jornada.

Violência Além do protagonismo das

mulheres no desenvolvimento territorial, a

Secretaria realizou pesquisa sobre ‘Violên-

cia contra as mulheres trabalhadoras ru-

rais nos espaços doméstico, familiar e no

MSTTR’. Com aplicação de questionários,

perguntas computadas em programa espe-

cífico de análise quantitativa, os dados re-

velaram que 55,2% das dirigentes sindicais

já sofreram algum tipo de violência. A pes-

quisa mostra uma realidade que precisa ser

superada: “Os depoimentos das mulheres

que participaram da análise mostram que a

violência é um fato corriqueiro no interior do

movimento sindical”, denuncia Carmen.

AçãO 2010 – Durante todo o ano, a Secre-

taria de Mulheres contribuiu com os prepa-

rativos para a Ação 2010 da Marcha Mun-

dial de Mulheres. A atividade é uma ação

política que reunirá mulheres do campo e da cida-

de. As trabalhadoras rurais reivindicam um mundo

sem violência, com autonomia econômica e o meio

ambiente sustentável para as mulheres do planeta.

Cerca de 700 trabalhadoras da Contag confirma-

ram presença na caminhada. A marcha sairá de

Campinas rumo a São Paulo. Vai do dia 08 até 18

de março. “Seguiremos em marcha até que todas

sejamos livres”, anunciam as trabalhadoras.

MARChA DAS MARGARiDAS – De acordo com Carmen Foro, em 2010 todas

as ações da Secretaria de Mulheres estarão voltadas para planejar a quarta edi-

ção da Marcha das Margaridas prevista para agosto/2011. A definição dos objeti-

vos, construção da pauta, estratégia de organização, divulgação e o lançamento

da marcha são grandes desafios, a serem discutidos e aprovados este ano.

DiA iNTERNACiONAl DA MUlhER – O 08 de março é dia de luta para

as trabalhadoras rurais. Além da participação na Ação 2010, as Comissões

Estaduais irão realizar outras atividades nos estados e municípios para ce-

lebrar a data.

FORMAçãO PARA AS MUlhERES – A Secretaria aponta a realização do

programa de formação política e sindical específico para as mulheres, com

viés feminista, como um grande desafio. O curso será pela Escola de Forma-

ção da Contag (Enfoc).

ElEiçõES 2010 – Ações estratégicas serão feitas para mostrar a importância

das eleições e orientar a participação das lideranças sindicais nas eleições. “A

idéia é que a gente possa fazer as mulheres se envolverem em um debate de

qual é o Brasil que nós queremos e como incidir, democraticamente, para isso

aconteça”, disse Carmen Foro.

Desafios e planejamento para 2010

César Ramos

Carmen: a pesquisa da Contag revela que a violência infeliz-

mente é um fato corriqueiro no movimento sindical do campo

12 J o r n a l d a C o n t a g

ForMação e orGanização Sindical

Contag comemora salto na formação de lideranças sindicais

A Secretaria de Formação e Organização

Sindical, por meio da Escola Nacional

de Formação da Contag (Enfoc), capa-

citou mais de mil lideranças do movimento sin-

dical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

(MSTTR) no ano passado. Foram cinco cursos re-

gionais, organizados em três módulos.

Os cursos de formação política para dirigen-

tes e assessores do MSTTR trataram de questões

relacionadas ao Estado e Sociedade, Concep-

ção e Prática Sindical e Desenvolvimento Rural

Sustentável e Solidário.

O secretário de Formação e Organização Sindi-

cal da Contag, Juraci Moreira, avalia que além do

aspecto quantitativo, o trabalho desenvolvido pela

Enfoc representa um grande salto qualitativo para

o Sistema Contag. “Nossos dirigentes estão valori-

zando e percebendo a importância estratégica da

formação político-sindical para o fortalecimento do

Sistema Contag”, constata Juraci.

As atividades da Enfoc também aprofundaram

os parâmetros da Política Nacional de Formação

(PNF). Segundo Juraci, a Secretaria de Forma-

ção e Organização Sindical conseguiu envolver,

em 2009, um grande número de dirigentes sindi-

A Secretaria de Formação e Organização Sindical também intensificou em 2009 o processo de regularização de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais (STTRs)

cais para aprofundar e socializar os referenciais

teóricos, políticos e ideológicos da PNF. “Essas

discussões são importantes para fortalecer a luta

da classe trabalhadora no campo, dentro de uma

visão de transformação”, esclarece.

SEMiNáRiOS REGiONAiS – O dirigente lembra

também que o tema da formação foi destaque

nos sete seminários regionais promovidos pela

Contag em conjunto com as Fetags. A Secretaria

realizou, em parceria com a subseção do Dieese

na Contag, uma pesquisa para identificar o perfil

dos dirigentes e lideranças do MSTTR presentes

nos seminários. “Ficou claro nesses encontros

que a formação é um anseio e uma reivindicação

de nossas lideranças de base”, afirma Juraci.

Além de participar de forma qualificada dos

seminários regionais, a Secretaria de Formação

e Organização Sindical promoveu, em dezembro

de 2009, o Seminário Nacional de Sistematiza-

ção da Enfoc. O seminário foi mais uma etapa

do processo de sistematização sobre a estraté-

gia formativa e vivências da escola e resultou na

produção de materiais pedagógicos, que serão

lançados no Conselho Deliberativo da Contag.

Regularização dos sindicatosA organização sindical ganhou um novo

impulso em 2009. As negociações com o mi-

nistro Carlos Lupi durante o Grito da Terra

Brasil 2009 abriram um canal de negociação

direta da Contag com a Secretaria de Rela-

ções do Trabalho.

Juraci Moreira considera que essa medida

foi essencial para destravar os processos de

análise de registro sindical e pedido de alte-

ração estatutária que estavam tramitando de

forma lenta no ministério. “A Secretaria de For-

mação e Organização da Contag vai intensifi-

car, em 2010, ações no sentido de ampliar a

personalidade sindical do movimento sindical

para o aumento da concessão do registro e al-

teração estatutária no Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE)”, explica o dirigente.

Os resultados desse trabalho, iniciado em

2009, já começaram a aparecer. “Estamos,

hoje, com percentual muito grande de sindi-

catos regularizados”, comemora o secretário

Juracy Moreira.

Outra meta da secretaria para este ano é

a ação recorrente de regularização dos sindi-

catos de trabalhadores e trabalhadoras rurais

(STTRs) filiados à Contag. “Vamos realizar en-

contros regionais de capacitação sobre o aces-

so ao Cadastro Nacional de Entidades Sindi-

cais (CNES), no primeiro semestre de 2010”

anuncia Juraci. O objetivo dessa atividade é

unificar os procedimentos da Portaria 186, que

trata da questão do registro sindical e do aces-

so ao CNES.

Metas da EnfocO Coletivo Nacional de Formação e Organi-

zação Sindical realizado em dezembro fez uma

avaliação positiva das atividades realizadas

em 2009 e traçou as metas para este ano. Uma

das ações será a realização da terceira turma

de âmbito nacional da Enfoc, prevista para o

segundo semestre, em Brasília.

A secretaria, juntamente com as Fetags,

também vai promover, no período de abril a

outubro, 27 cursos estaduais de multiplicação

criativa. Ainda no primeiro semestre, a Enfoc

vai lançar um curso de formação política espe-

cífica para as trabalhadoras rurais.

O conteúdo do programa deve incluir te-

mas como feminismo e histórico de luta das

mulheres no Brasil e no mundo. Esse curso

será direcionado para as dirigentes da Contag

e das Fetags.

César Ramos

O secretário Juraci Souto destaca importância da formação para o fortalecimento do Sistema

Contag, no Seminário Regional Norte, em Manaus

13J o r n a l d a C o n t a g

Juventude

O campo é lugar de gente jovem

Aformação de novas lideranças juvenis do

campo, a mobilização para aprovação de

projetos que tramitam no Congresso Na-

cional e a insistência pelo acesso às políticas públi-

cas foram os temas que nortearam as ações da Se-

cretaria de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais no ano passado. Todas essas ações foram

defendidas pela Contag para garantir a permanên-

cia dos jovens no campo e, consequentemente, a

sucessão rural.

Essas bandeiras foram reafirmadas na Plenária

Nacional da Juventude e levadas ao 10º Congresso

da Contag, constaram da pauta do Grito da Terra

Brasil e foram aprofundadas nas turmas do Pro-

grama Jovem Saber e nas oficinas temáticas dos

Festivais Estaduais da Juventude. “Essas ações

revelam o poder de mobilização e organização de

sujeitos políticos importantes no desenvolvimento

Contag prioriza o debate sobre a sucessão rural para garantir permanência da juventude no campo e reforça luta pelo acesso dos jovens rurais às políticas públicas

do campo e que vêm fortalecendo o movimento

sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

(MSTTR)”, esclarece Elenice Anastácio, secretária

de Jovens da Contag.

Em 2009, a ocupação de espaços na estrutura

do MSTTR começou com a eleição de 11 jovens

para a direção da Contag, sendo três para a Direto-

ria Executiva (Secretarias de Jovens, Política Agrária

e Meio Ambiente), duas no Conselho Fiscal Efetivo

e seis nas Suplências da entidade. Desse total, oito

são mulheres jovens.

Esse processo se repetiu na eleição das di-

retorias das Fetags de vários estados. As Vice-

Presidências da Fetaes, no Espírito Santo, e da

Fetagro, em Rondônia, foram assumidas por diri-

gentes jovens. “É importante que as federações

e os sindicatos cumpram a cota de juventude”,

lembra a dirigente.

A meta da Secretaria de Jovens é mobilizar 5

mil jovens para participar do 2º Festival Nacional da

Juventude Rural, programado para o período de 7

a 10 de junho, em Brasília. O lema do evento será

Sucessão rural com terra, políticas públicas, meio

ambiente sustentável, trabalho e renda.

O festival vem sendo construído pelos sindicatos,

federações e Contag. “É importante a mobilização

da juventude em todo o País para que possamos

construir um documento, a ser entregue ao governo

JOvEM SABER – A experiência de formação polí-

tico-sindical e de capacitação técnica da juventude

rural implementada por meio do Jovem Saber com-

pletou cinco anos no ano passado. A secretária de

Jovens faz um balanço positivo do programa. “O tra-

balho conjunto com as Coordenações Estaduais está

sendo totalmente exitoso. Nós registramos a partici-

pação de cerca de 30 mil participantes de 800 sin-

dicatos. É importante que outros sindicatos também

participem do programa”, conclama Elenice.

Temas como educação, esporte, cultura, aces-

so ao crédito e outros de interesse da juventude

também foram debatidos nas oficinas dos Festi-

vais Estaduais da Juventude. Esses eventos mo-

bilizaram cerca de 2,5 mil lideranças de seis es-

tados das Regiões Norte e Nordeste, de julho a

dezembro do ano passado. Vários estados estão

fazendo essa mesma discussão em 2010.

PROJETOS – O Congresso Nacional foi outra fren-

te de luta da Secretaria de Jovens da Contag. As li-

deranças que participaram do Grito da Terra Brasil

2009 pressionaram os parlamentares para acelerar

a apreciação de projetos de interesse da juventude

rural, a exemplo do Plano Nacional da Juventude.

A secretária lembra que o projeto é resultado

de duas conferências que a juventude rural ajudou

a construir. Além desse projeto, os parlamentares

estão analisando o Estatuto da Juventude, a Pro-

posta de Emenda Constitucional (PEC) da Juven-

tude, que inclui a expressão jovem como sujeito

de direito na Constituição Federal, e o projeto de

lei complementar que possibilita a compra de ter-

ra entre herdeiros. “A aprovação desses marcos

legais é importante para garantir que os governos

estaduais e municipais também assumam a res-

ponsabilidade com a juventude para que de fato

haja uma política de juventude em nosso país”,

afirma Elenice.

federal, com propostas que melhorem a vida dos jo-

vens no campo”, diz Elenice.

Segundo a secretária, o acesso à terra, a imple-

mentação de políticas publicas e as oportunidades

de trabalho e geração de renda são condições fun-

damentais para a permanência do jovem no cam-

po. A relação entre essa bandeira e a estrutura do

MSTTR será debatida durante o festival. “Vamos dis-

cutir que campo queremos e como fortalecer ainda

mais a organização da juventude rural. Isso é essen-

Prioridade total para o 2º Festival Nacional da Juventude Ruralcial para renovarmos nossos sonhos, nossas lutas e

implementar o Projeto Alternativo de Desenvolvimen-

to Rural Sustentável e Solidário”, propõe a dirigente.

No segundo semestre, uma das prioridades

será a participação da juventude no processo elei-

toral. “Temos de eleger pessoas comprometidas

com o desenvolvimento do campo e também com

as especificidades da juventude. Por isso a impor-

tância do voto consciente nas eleições de 2010”,

conclui Elenice.

César Ramos

Elenice Anastácio anuncia a pauta de reivindicações da juventude rural durante o GTB 2009

14 J o r n a l d a C o n t a g

preSidência

O ano de 2009 foi marcado por grandes ações da Contag: além do Grito da Terra Brasil e

da Jornada das Margaridas, foi realizado o 10° Congresso Nacional dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais e os seminários regionais. Esses eventos foram fundamentais para a

Contag discutir e deliberar sobre sua organização, metas e ações a serem desenvolvidas nessa

gestão. Essas ações também foram importantes para a atualização do Projeto Alternativo de

Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS) e aproximar a direção

da entidade de sua base sindical. Além disso, houve muitas conquistas,

especialmente para os agricultores familiares. Na entrevista a seguir o

presidente da Contag, Alberto Broch, faz uma avaliação do ano e fala

sobre os desafios para 2010.

Lutar para garantir avanços em 2010

A Contag começou o ano de 2009

com a preparação e organização

do 10° Congresso. qual foi o saldo

desse processo?

Foi um dos maiores congressos

da Contag, e dentro desse congres-

so, tivemos a capacidade de cons-

truir uma chapa unitária, mantendo

um processo de unidade da Contag,

e ao mesmo tempo de fortalecimen-

to das duas centrais sindicais – CUT

e CTB – alinhadas com o movimento

sindical dos trabalhadores e trabalha-

doras rurais (MSTTR).

qual foi a importância e os resultados

dos sete seminários regionais promo-

vidos pela Contag e pelas Fetags?

Esses encontros regionais tive-

ram peso muito grande para a or-

ganicidade do movimento sindical,

trazendo a Contag mais próxima dos

sindicatos e das federações. Houve

a participação de quase duas mil li-

deranças sindicais, fizemos um de-

bate profundo sobre a atualização

do nosso projeto político, bem como

dos elementos centrais para o plane-

jamento estratégico da Contag.

E qual foi o balanço do Grito da Ter-

ra Brasil?

Sem dúvida eu destaco que o sal-

do mais positivo nesse processo de

negociação está na área da agricultu-

ra familiar. A negociação de 15 bilhões

de reais para o Plano Safra, a apro-

vação da lei da merenda escolar e o

seguro investimento para a agricultura

familiar, que é uma política nova. Ago-

ra, nem tudo isso evidentemente está

regulamentado, nem tudo está acon-

tecendo lá na ponta. Portanto, temos

enormes barreiras entre as negocia-

ções e a efetiva aplicação das políti-

cas públicas aos seus beneficiários.

A atualização dos índices de produ-

tividade rural também não saíram

do papel.

Sim. E Contag não vai parar de

lutar para que se altere a lei. Atuali-

zar os índices de produtividade nada

mais é do que cumprir a legislação,

que há mais de 30 anos não vem sen-

do cumprida. Portanto, o governo fe-

deral ainda não cumpriu a dívida com

os trabalhadores e trabalhadoras ru-

rais para garantir a democratização

do acesso à terra.

A questão das políticas de terri-

torialidade foi um tema bastante

discutido pela Contag, sobretudo

nos seminários regionais. qual a

importância de intervir nos territó-

rios rurais?

Nós estamos convencidos de que

a política de territorialidade é funda-

mental para a aplicação do nosso

projeto alternativo. Porém, temos tido

duas grandes dificuldades: uma é que

o governo tem implementado uma

política de territorialidade sem maior

articulação com o conjunto do movi-

mento sindical. A outra é a ausência

de prioridade com incidência articula-

da de parte do nosso movimento nes-

ses espaços, no momento certo. Mas

estamos convencidos de que temos

de superar esses problemas, porque

é efetivamente nos territórios que as

pessoas vivem e moram. Portanto en-

tendemos que essa é uma das gran-

des prioridades para 2010.

A Contag também está fortalecen-

do as ações regionais. qual a im-

portância desse investimento?

Estamos convencidos de que

o fortalecimento da estruturas das

Regionais da Contag representa a

consolidação cada vez maior do mo-

vimento sindical, numa gestão des-

centralizada que vem fortalecer a

democracia interrna do MSTTR. Essa

articulação política vai facilitar a hori-

zontalização das ações da Contag e

garantir que nossas conquistas sejam

efetivamente implantadas na ponta.

A relação da Contag com a CNA

foi bastante conflituosa em 2009.

Como o senhor avalia essas con-

tradições?

Nós avaliamos isso com certo grau

de normalidade. Certamente teremos

momentos de muitos conflitos, porque

defendemos projetos diferentes. Nós

temos projeto para esse país, para os

trabalhadores rurais, para a agricultu-

ra familiar e para o desenvolvimento

territorial sustentável. Eles têm outro

projeto. Como eles representam os

patrões e nós, os assalariados rurais,

precisamos sentar com a CNA, dis-

cutir como organizações civilizadas

deste país, mas avançando para que

nosso projeto seja vitorioso.

E quais são os principais desafios

da Contag para 2010?

O primeiro deles é o desafio elei-

toral. Vamos lutar para que este país

continue tendo avanços, e não retro-

cessos. Temos uma grande tarefa de

eleger um governo que dê continui-

dade a este projeto de país. Vamos

eleger nossos representantes a de-

putado estadual e federal, pessoas

orgânicas das nossas federações,

defensores do movimento sindical

junto nas esferas de governo. Ou-

tros pontos desafiadores são: cons-

truir um Grito da Terra vitorioso neste

ano eleitoral e organizar o II Festival

Nacional da Juventude. A questão

ambiental e as mudanças no Códi-

go Florestal também são prioritárias,

porque a partir da nova legislação

teremos toda uma preparação para

atualizar nossas propriedades, nos-

sos assentamentos, e isso exigirá

uma grande mobilização nacional.

Alberto ercílio broch

Wilson D

ias/ABr