como fazer herbário

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ensina como fazer exsicatas com qualidade; como fazer sua coleção botânica

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  • Dneu ntos /SSN 1517-2201

    FL- 06904 Novembro, 2002

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    II

  • Repblica Federativa do Brasil

    Fernando Henrique Cardoso Presidente

    Ministrio da Agricultura. Pecuria e Abastecimento

    Marcus Vinicius Pra tini de Moraes Ministro

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - Embrapa

    Conselho de Administrao

    Mrcio Fortes de Almeida Presidente

    Alberto Duque Portugal Vice-Pre sid ente

    Dietrich Gerhard Quast Jos Honrio Accarini Srgio Fausto Urbano Campos Ribeira/ Membros

    Diretoria Executiva da Embrapa

    Alberto Duque Portugal Diretor-Presidente

    Dante Daniel Giacomelli Scolari Bonifcio Hideyuki Nakasu Jos Roberto Rodrigues Peres Diretores- Executivos

    Embrapa Amaznia Oriental

    Emanuel Adilson de Souza Serro Chefe-Geral

    Jorge Alberto Gazel Yared Miguel Simo Neto Srgio de Mello Alves Chefes Adjuntos

  • Enfpa ISSN 1517-2201 Novembro, 2002 Empresa Brasileira S Psquisa Agroncda Centro da Pesquisa Agroflo,.stat da Amaznia Ofle,,tai Ministdo da Ag,icsltura. Paculda a Abastecimento

    Documentos 143

    Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Regina Clia Viana Martins-da-Silva

    Belm, PA 2002

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Embrapa Amaznia Oriental Trav. Or. Enas Pinheiro, s/n Caixa Postal, 48 CEP: 66095-100 - Belm, PA Fone: (91) 299-4500 Fax: (91) 276-9845 E-mail: [email protected]

    Comit de Publicaes Presidente: Leopoldo Brito Teixeira Secretria-Executiva: Maria de Nazar Magalhes dos Santos Membros: Antnio Pedro da Silva Souza Filho

    Expedito Libirajara Peixoto Galvo Joo Tom de Farias Neto Joaquim Ivanir Comes Jos de Brito Loureno Jnior

    Revisores Tcnicos Joaquim lvanir Comes - Embrapa Amaznia Oriental Silvane Tavares Rodrigues - Embrapa Amaznia Oriental

    Supervisor editorial: Guilherme Leopoldo da Costa Fernandes Revisor de texto: Maria de Nazar Magalhes dos Santos Normalizao bibliogrfica: Rosa Maria Meio Dutra Editorao eletrnica: Euclides Pereira dos Santos Filho Ilustrao do texto: Antnio Elielson

    1' edio 1' impresso (2002): 300 exemplares

    Todos os direitos reservados. A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9610).

    Martins-da-Silva, Regina Clia Viana

    Coleta e identificao de espcimes botnicos / Regina Clia Viana Martins da Silva. - Belm: Embrapa Amaznia Oriental, 2002.

    40p. 21cm. - (Embrapa Amaznia Oriental. Documentos, 143).

    ISSN 1517-2201

    1. Coleta de planta. 2. Taxonomia vegetal. 1. Ttulo, II. Srie.

    CDD 580.75 578.02

    0 Embrapa 2002

  • Autora

    Regina Clia Viana Marfins-da-Silva Biloga, M.Sc. Pesquisadora da Embrapa Amaznia Oriental, Caixa Postal 48, CEP 66 017-970, Belm, PA. E-mail: [email protected]

  • Agradecimento

    Aos pesquisadores Daniela Zappi e Gw Lewis do Royal Botanic Gardens, Kew, Duncan Macqueen, do DFID/Embrapa Amaznia Oriental, Joo Olegrio, Joaquim Ivanir Gomes e Natalino Silva da Embrapa Amaznia Oriental, pela leitura crtica do texto e sugestes apresentadas.

  • Apresentao

    A identificao botnica no se trata de una mera utilizao de nomes latinizados, para designar de forma sofisticada as plantas, mas sim de uma atividade fundamental em qualquer rea da cincia que envolva planta. No h outra possibilidade de gerar dados sobre as plantas, sem lig-los a determinada espcie; dessa forma, a necessidade de uma identificao correta, torna-se altamente relevante, caso contrrio, os dados gerados perdem seu valor

    cientfico.

    Na Amaznia, considerando sua extenso geogrfica e o alto ndice de biodiversidade, a identificao botnica torna-se uma atividade muito complexa, porm extremamente relevante no processo de conhecimento dos componentes vegetais dessa biodiversidade.

    Este trabalho trata-se de um subsdio importante para o processo de identificao botnica, visto que a autora apresenta de forma simples e didtica todo o processo de coleta, preparo e identificao de amostras botnicas, facilitando, dessa forma, a utilizao por colegas que no so da rea. A sugesto para que as amostras coletadas sejam encaminhadas aos principais herbrios regionais para serem identificadas, vista como uma maneira de aumentar o conhecimento inerente flora regional.

    Ernanuci A dilson Souza Serro Chefe Geral da Embrapa Amaznia Oriental

  • Sumrio

    Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos .............. 11 Introduo............................................................................. 11 Taxonomia............................................................................. 15

    Metodologia de coleta de amostras botnicas ............................. 18 Xiloteca................................................................................. 33

    Herbrio................................................................................ 34 Consideraes Finais ............................................................... 38 Referncias Bibliogrficas ........................................................ 38

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos Regina C/ia Viana Martins-da-Silva

    Introduo

    Os inventrios florestais, baseados em nomes vernaculares (populares), provo-cam muita confuso e, s vezes, at mesmo erros irreparveis; essas denomi-naes variam bastante de uma regio para outra e, em muitos casos, dentro de uma mesma regio, dependendo de quem as utiliza. Porm, a nomenclatura cientfica, expressa em linguagem universal, denomina a mesma planta, com um nico nome, em qualquer lugar do planeta; oferecendo, dessa forma, maior segurana para os usurios. Por essa razo, a nomenclatura cientfica permite o dilogo entre cientistas de diferentes pases e regies, promovendo acesso s informaes necessrias para o desenvolvimento de pesquisa em diversas reas do conhecimento.

    No existe uma padronizao entre as nomenclaturas vernacular e cientfica; podendo uma espcie receber diversos nomes vernaculares, bem como vrias espcies podem ser designadas por um nico nome vernacular. Essa problemtica encontra-se muito bem expressa no livro lanado pelo Laboratrio de Produtos Florestais do lbama (Camargos et ai. 1996), o qual compreende uma relao de nomes cientficos e vernaculares, em que se pode observar que, para um mesmo nome vernacular, h uma relao contendo mais de dez nomes cientficos; e que para um mesmo nome cientfico, h uma relao com diversos nomes vernaculares. Sendo, dessa forma, impossvel relacionar um nome vernacular a um cientfico. A obteno da nomenclatura cientfica de uma planta, a partir

  • 12 1 Coleta e ldentificao de Espcimes Botnicos

    apenas de seu nome vernacular, um procedimento duvidoso do ponto de vista cientfico, refletindo o desconhecimento da metodologia cientfica para identifi-cao das espcies, a qual vem sendo utilizada pela comunidade cientfica h cerca de 200 anos. O uso apenas da nomenclatura vernacular seria um retro-cesso cientfico era anterior a Lineu, o qual faleceu em 1775, pois foi esse renomado botnico que props a nomenclatura cientfica binria em detrimento vernacular que era utilizada na sua poca.

    A identificao cientfica correta das espcies fundamental para o desenvolvimento das cincias bsica e aplicada, bem como para garantir a integridade das transaes comerciais de madeiras e demais produtos vegetais retirados da floresta. Anos de trabalho cientfico com uma planta identificada erroneamente podem significar "tempo perdido" e/ou causar graves conseqncias, tanto para a cincia bsica como para a aplicada. Por exemplo, suponha-se que sejam realizados vrios experi-mentos e observaes inerentes ao processo de crescimento, sistema reprodutivo, germinao, produo de mudas, plantio, dentre outros, de uma Leguminosae designada Parkia penda/a (Willdenow) Bentham ex Walpers; e, ao final do trabalho, quando se dispe de uma quantidade de dados bastante significativa, descobre-se que as plantas usadas nos experimentos no eram P. penda/a, mas P. p/atycepha/a Bentham, que uma espcie muito parecida morfologicamente, mas por serem espcies distintas apresentam caractersticas fisiolgicas peculiares, que conseqen-temente, originam dados totalmente diferentes. Caso esse erro de identificao no for descoberto antes da publicao, sero divulgados dados, que por falta de respaldo cientfico na identificao, podero causar conseqncias graves, tanto em nvel cientfico como em nvel financeiro, se esses dados servirem como base para outras pesquisas com P. penda/a ou forem usados por algum que pretenda produzir mudas ou realizar plantio dessa espcie.

    A utilizao apenas da nomenclatura vernacular, durante as transaes comer- ciais de madeira, acarreta conseqncias financeiras graves, a exemplo do "tauari", em que vrias espcies de Lecythidaceae so designadas por esse nome vernacular, no havendo conseqentemente homogeneidade nas caracte-rsticas do produto. Por se tratar de diferentes espcies, as propriedades fsicas e mecnicas, os dados tecnolgicos, a secagem, trabalhabilidade, durabilidade, rendimento na serraria e o uso da madeira so diferentes, pois so peculiares a cada espcie, no fornecendo, portanto, a qualidade esperada do produto como um todo e causando, conseqentemente, a queda do preo durante a comercializao.

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 13 Essa problemtica inerente preciso da identificao cientfica torna-se ainda mais grave quando se refere a plantas medicinais, devendo-se ter certeza absoluta da denominao correta da espcie da qual esto sendo extraidos os princpios ativos e que, conseqentemente, sero indicadas para uso teraputico. Como foi comentado anteriormente, cada espcie apresenta caractersticas peculiares, e por isso que os princpios ativos de cada uma apresentaro diferenas que causam efeitos diversos.

    Para a conservao das espcies, a preciso no processo de identificao altamente relevante, visto que em muitos casos, pode estar havendo explora-o de uma espcie rara ou em via de extino, e que exista uma outra espcie capaz de originar um produto de qualidade similar, a qual poderia ser utilizada em substituio, preservando, dessa maneira, a espcie ameaada.

    Considerando os problemas mencionados anteriormente, Harlow et ai. (1991) afirmaram que os nomes vernaculares no devem ser utilizados em comunica-es cientficas, em razo da ausncia de preciso. Os inventrios realizados com objetivo estritamente econmico, usando apenas a nomenclatura vernacular, apresentam limitaes do ponto de vista cientifico (Pires-O'Brien & O'Brien, 1995).

    A obteno da nomenclatura cientfica requer metodologia especifica que deve ser criteriosamente utilizada, a fim de minimizar erros. A identificao correta das espcies um dos pr-requisitos para o sucesso do manejo da biodiversidade de forma racional, ou seja, propiciando a continuidade das espcies. Para que haja xito na implantao de um plano de manejo de uma floresta, fundamental, entre outras atividades, que se conheam as espcies utilizadas no manejo, a fim de se planejar o seu uso, de forma a garantir a continuidade das mesmas. Segundo Marchiori (1995), nenhum profissional pode manejar uma floresta sem conhecer a identidade das rvores.

    importante lembrar que uma floresta no composta apenas de rvores, mas de arbustos, ervas, lianas, epifitas, parasitas, pteridfitas, brifitas, fungos, bactrias, algas, animais uni e pluricelulares, solo, clima, ar, gua, nutrientes e energia, funcionando harmoniosamente; tornando-se necessrio que se conhe-am os processos que regem o equilbrio entre esses componentes capazes de manter esse ecossistema. No se deve esquecer que uma espcie, independen-temente da sua importncia econmica atual, no pode ser considerada

  • 14 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    isoladamente, pois suas populaes dependem de vrios fatores, como a presena de polinizadores e dispersores, os quais dependem de suas prprias interaes com essa e com outras espcies vegetais.

    O desenvolvimento econmico da Amaznia vem ocorrendo de maneira descontrola-da e mal planejada. Nesse tipo de desenvolvimento, as leis ecolgicas so desrespei-tadas, resultando em um declnio rpido e irreversvel da diversidade vegetal e, conseqentemente, na diminuio das opes de utilizao desses recursos naturais. Para avaliar e melhorar esse modelo de desenvolvimento catico e predatrio, necessria a obteno de maiores informaes sobre a biodiversidade regional.

    A Amaznia, atualmente, ocupa papel de destaque na questo ambiental em nvel internacional, pois possui uma das ltimas reservas de floresta tropical do mundo, abrangendo aproximadamente 6 milhes km 2 , dos quais o Brasil possui 60%, constituindo o maior reservatrio de biodiversidade da terra, com cerca de 21 a 80 mil espcies apenas de Angiospermas (Monteiro & Kaz, 1993-1994). Assim sendo, a Amaznia tornou-se um dos assuntos mais polmicos, em razo das potencialidades que possui, sobretudo, de vegetais para indstria, alimentao, agricultura, medicina e outros fins, podendo ser a base para explorao racional e conseqente desenvolvimento do Pais. Porm, impor-tante observar que o desenvolvimento no deve ser baseado em uma economia predatria, mas em bases cientficas que possam garantir a disponibilidade dos recursos para geraes futuras.

    Tanto na Amaznia como em outras regies tropicais, no h outras possibilida-des de identificar a biodiversidade regional se no for pela comparao com o material existente nas colees cientficas. Isso vlido tanto para a Botnica quanto para a Zoologia. Os prprios especialistas que podem identificar as espcies utilizando os herbrios e as colees zoolgicas, lamentavelmente, so uma categoria em processo de extino. Alm dos investimentos tcnico e financeiro, importante estimular o interesse pela Taxonomia e Sistemtica, nos cursos de graduao, mostrando a importncia dessas reas como cincia fundamental capaz de subsidiar as cincias aplicadas. Atualmente, declara-se de forma enftica e autoritria que o futuro da Amaznia ser solucionado pela utilizao dos recursos genticos, da biodiversidade regional; porm, a maioria das pessoas que faz essas afirmativas no se d conta de que os herbrios amaznicos armazenam um nmero bastante significativo de amostras dos

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 1 5

    recursos genticos vegetais da regio, altamente importante no processo de planejamento de utilizao, capazes de promover a identificao das espcies e fornecer informaes relevantes, como as reas de ocorrncia dessas espcies, suas caractersticas morfolgicas vegetativas e reprodutivas, bem como seus usos. Dessa forma, transformando esses herbrios em patrimnio da humanida-de, uma vez que a floresta amaznica um dos ltimos representantes de floresta tropical mida, onde se abriga o maior ndice de biodiversidade do planeta. Havendo, portanto, necessidade de conservar esses acervos e aument-los de forma a se obter a representatividade da magnitude da flora amaznica. Porm, o nmero insuficiente de recursos humanos, principalmente pesquisadores especializados em taxonomia, o fator limitante para essa situao, fato que dificulta tanto a conservao quanto o crescimento desses acervos, o qual vem preocupando a comunidade cientfica, no s nacional, como internacional.

    Taxonomia

    Pode-se dizer que a disciplina botnica iniciou-se com o estudo das plantas medicinais, pois os primeiros registros sobre plantas esto contidos nos livros dos templos egpcios: "Livro dos Mortos" e "Livro dos Vivos". No primeiro, h descries de plantas e suas aplicaes no embalsamamento de cadveres; no segundo, h descries e usos de plantas no combate a diversas doenas. Os gregos tambm deixaram registradas observaes bern primitivas sobre plantas. medida que o conhecimento sobre as plantas aumentava, houve a necessida-de de organiz-lo (Gemtchinicov, 1976).

    Foi o grego Aristteles (370 a C.) que tentou fazer o primeiro sistema de classificao de plantas, separando-as em rvores, arbustos e ervas. Esse sistema foi utilizado durante a maior parte da idade mdia, podendo-se dizer que esse foi o inicio da sistemtica botnica. Quando os rabes invadiram a Europa por volta do sculo IX a XIII, os europeus, em contato com essa nova cultura, aumentaram seus conhecimentos sobre as plantas e as colees existentes na Europa cresceram bastante, havendo necessidade de ordenar todos esses conhecimentos. Desde essa poca, vrios sistemas foram propos-tos, porm o sueco Karl von Lineu (1707-1 775) foi quem revolucionou a sistemtica, sendo por isso reconhecido como o pai, tanto da sistemtica botnica quanto da zoolgica (Gemtchjnicov, 1976).

  • 16 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Antes de Lineu, cada planta era designada por um conjunto de nomes vernaculares, os quais formavam praticamente urna descrio, em latim, das caractersticas apresentadas, como por exemplo: Nepeta flor/bunda spicatis peduncu/atis (Nepeta com flores dispostas em espiga, verticilada e pedunculada), a primeira palavra do polinmio designava o gnero ou grupo ao qual a planta pertencia. medida que crescia o nmero de espcies conheci-das, evidenciava-se a impraticabilidade desse sistema. Lineu props a nomen- clatura cientfica, utilizando terminologias lgicas e designao binria, tanto para plantas como para animais, a qual utilizada at os dias atuais, e introdu- ziu o conceito de espcie e gnero. A nomenclatura binria, como o prprio nome define, baseada em dois nomes, que devem ser grafados em itlico ou sublinhados, seguidos do autor da espcie ou seja, o botnico que realizou a diagnose da mesma; o primeiro designa o gnero e deve comear com letra maiscula, o segundo escrito em minscula e refere-se ao epteto especfico. Por exemplo, Carapa guianensis Aublet., Carapa a denominao do gnero, o qual foi escolhido por ser utilizado, em tribos da Amrica do Sul, para designar o leo dessa espcie (Barroso, 1991); guianensis o epteto especfico utilizado para caracterizar que so plantas das Guianas; e AubI. a abreviatura do nome do botnico que realizou a diagnose dessa espcie, o qual se chamava Jean Baptiste Christophore Fuse Aublet (Gemtchjnicov, 1976; Fernandes, 1996). importante considerar que a cincia deixou de utilizar a nomenclatura vernacular h cerca de 200 anos em detrimento da nomenclatura cientfica criada por Lineu.

    Segundo Cronquist (1988), a Taxonomia reflete a necessidade que o homem tem de entender o padro de diversidade entre os organismos e de explicar a origem de sua prpria espcie. A Taxonomia ou Sistemtica Vegetal uma rea da Botnica que visa estabelecer uma imagem completa da grande diversidade de organismos, atravs da organizao das plantas em um sistema filogentico, considerando suas caractersticas morfolgicas internas e externas, suas relaes genticas e suas afinidades. Compreende a identificao, a nomencla-tura e a classificao (Lawrence, 1956; Weberling & Schwantes 1986).

    Identificao a determinao de um txon, como idntico ou semelhante a outro j existente, utilizando-se a comparao com material de herbrio devida-mente identificado, as chaves dicotmicas de identificao e a literatura especifica. Durante o processo de identificao, podem ser encontrados txons novos para a cincia, os quais devem ser descritos de acordo com as normas

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 17

    preconizadas pelo Cdigo Internacional de Nomenclatura Botnica - CINB. O conhecimento da morfologia vegetal fundamental para o sucesso da identifi-cao cientfica, porm, modernamente, a Taxonomia vem utilizando no apenas caractersticas morfolgicas para identificar os txons, mas tambm se fundamenta na anatomia, palinotogia, embriologia, citologia, matemtica, qumica analtica ou de produtos secundrios, enzimas e DNA nuclear, mitocondrial ou de cioroplasto (Harlow, et ai., 1991; Subrahmanyam, 1995).

    Nomenclatura relaciona-se com o emprego correto do nome cientfico das plantas regido pelo CINB, o qual corresponde a um conjunto de princpios, regras e recomendaes aprovados e atualizados a cada 4 anos durante os Congressos Internacionais de Botnica.

    Classificao a ordenao das plantas em nveis hierrquicos, de acordo com as caractersticas apresentadas, de modo que cada nvel rena as caractersticas do superior. Por exemplo, as espcies de um determinado gnero devem apresentar as caractersticas desse gnero; os gneros de uma determinada famlia devem apresentar as caractersticas dessa famlia e assim por diante (Fig. 1).

    01

    Fig. 1. Classificao e ordenao das espcies Campa guianensis AubI. e Campa proce,a DC., segundo Cronquist (1968).

  • 18 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos Quando se denomina uma planta j descrita, est ocorrendo determinao ou identificao, enquanto, quando se procura localizar uma planta ainda no conhecida, dentro de um sistema de classificao, est ocorrendo classificao.

    A Taxonomia dinmica, preocupando-se com a segurana do nome cientfico atualizado, o qual pode ser modificado, medida que o conhecimento avana, objetivando uma identificao perfeita das plantas.

    O xito da identificao taxonmica de espcimes botnicos depende, em grande parte, da maneira como as amostras so coletadas, preparadas, transportadas at o local de estudo e das anotaes realizadas no campo. As amostras botni-cas coletadas e tratadas segundo determinadas tcnicas bsicas podero fazer parte do acervo dos herbrios, servindo como documentao cientfica dos trabalhos realizados e como referncia s identificaes taxonmicas. Essas amostras contribuem para maximizar o nmero de plantas catalogadas no Pas, elevando o conhecimento da biodiversidade vegetal brasileira e promovendo, conseqentemente, o uso racional dos recursos florestais.

    Metodologia de coleta de amostras botnicas

    O material utilizado para coleta de amostras botnicas encontra-se discrimado na Tabela 1.

    Procedimentos

    Anotaes - O primeiro passo anotar as informaes a respeito do coletor, ou seja, seu nome e nmero de coleta, a data do procedimento e o nome dos coletores adicionais, quando for o caso.

    A seguir, devem ser registradas informaes inerentes localizao da planta da qual se deseja coletar amostras: usando-se o GPS, anota-se a latitude, a longitude e a altitude. A seguir, os nomes do pas, do estado, do municpio, do distrito e da localidade onde est sendo realizada a coleta; necessrio anotar, tambm, alguns pontos como referncia localizao da planta, os quais facilitem um possvel retorno ao local. Essas anotaes devem ser tomadas de maneira que outra pessoa possa localizar a mesma planta, caso necessite observ-la posteriormente.

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    Eig. 2. Materiais utilizados na coleta de amostras botnicas.

    a) Podo; b) Tesoura de poda; c) Peconha e cinto de segurana; d) Escadas de alumnio e de corda; e) Equipamento de alpinismo; 1) Esporas; g) Alumnio corrugado; h) Prensa; 1) Corda de sisal ou nilon; j) Estufa eltrica; 1) Slica; m) Lupa conta fios.

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 21

    Importantes tambm so as informaes acerca do ambiente, ou seja, tipo de solo e de vegetao predominante.

    Finalmente, devem ser anotadas as caractersticas da planta que no sero observadas aps a desidratao do material, tais como: altura e circunferncia da planta, hbito, forma da rvore, disposio dos ramos, forma do tronco, tipo de base do tronco, aspectos das sapopemas, caractersticas da casca, exsudao, colorao das flores e tamanho, textura e cor dos frutos, tipo de odor, denominao local e uso.

    A altura pode ser expressa com valores aproximados, utilizando a haste do podo, com comprimento conhecido, para auxiliar na mensurao (Fig. 3). A circunferncia deve ser tomada altura do peito, ou seja, a 1,30 m do solo; caso haja sapopema que ultrapasse 1,30 m de altura, fazer a mensurao logo aps a mesma (Fig. 4).

    O hbito das plantas, adaptado de Ferri (1983), Font Quer (1993) e Fernandes (1998), pode ser:

    rvore - vegetal lenhoso com mais de 5 m de altura, apresentando tronco ramificado na parte superior formando a copa (Fig. 5).

    Arbusto - vegetal lenhoso de 3 a 5 m de altura, com um pequeno tronco, apresentando ramificaes desde a base (Fig. 6).

    Subarbusto - vegetal lenhoso de 0,5 a 3 m de altura, com muitas ramifica-es herbceas ao longo de todo o caule ou formando um emaranhado, originando uma touceira (Fig. 7).

    Erva - vegetal erecto, de pequeno porte, contendo pouco tecido lenhoso (Fig. 8).

    Lianas, cips ou trepadeiras - vegetal com sistema caulinar incapaz de se sustentar, necessitando se enrolar em um suporte ou desenvolver rgos de sustentao, como gavinhas, para garantir sua fixao ao suporte (Fig. 9).

    Rastejante - vegetal que se desenvolve paralelamente superfcie do solo, no qual se apia (Fig. 10).

  • 22 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Si. Fig. 3. Mensurao de

    altura.

    Fig. 6. Arbusto.

    Fig. 4. Mensurao

    de circunferncia.

    Fig. 7. Subarbusto.

    Fig. S. rvore.

    Fig. S. Erva.

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    Fig. 9. Liana, cip ou Fig. 10. flastejante.

    trepadeira.

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 23

    importante lembrar que a forma das rvores pode apresentar modificaes de acordo com o ambiente onde se desenvolvem. Segundo Ramalho (1975), as rvores podem ser classificadas em:

    Capitata esfrica - fuste bem definido e copa arredondada (Fig. 11).

    Capitata ovide copa mais desenvolvida na base do que no pice, em forma de ovo (Fig. 12).

    Capitata umbeliforme os ramos formam um guarda-chuva (Fig. 13).

    Capitata corimbifornie - os ramos partem de alturas diferentes e alcanam o mesmo nvel, na poro superior (Eig. 14).

    A fim de simplificar as anotaes, sero consideradas apenas dois tipos de ramificao para as rvores:

    Racemosa - eixo principal bem definido com crescimento bem desenvolvido (Fig. 15).

    Cimosa . eixo principal curto que se divide em dois ou mais ramos (Fig. 16).

    A disposio dos ramos pode ser:

    Verticilada quando saem trs ou mais ramos do mesmo ponto (Fig. 17).

    Oposta dois ramos saindo em posies opostas entre si (Fig. 18).

    Alterna ramos que se dispem alternadamente no caule (Fig. 19).

    Simpodial - eixo principal formado pelo desenvolvimento sucessivo de vrias gemas (Fig. 20).

    0 caule quanto forma pode ser:

    Cilndrico - alongado, reto, aparentando rolo (Fig. 21).

  • 1k.

    /-

    Ir 24 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Fig. 11. Capitata

    cafrica.

    Fig. 12. Capitata

    ovide.

    Fig. 13. Capitata

    umbeliforme.

    li Fig. 14. Capitata

    corimbiforme.

    Fig. 15. Racernosa. Fig. 16. Cimosa.

    1

    1 Fig. 17. Verticidade. Fig. 18. Oposta. Fig. 19. Alterna.

    T Fig. 21. Caule

    cilindrico. Fig. 20. Simpodial.

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 25

    Cnico - base bem mais larga do que o pice, aparentando uni cone (Fig. 22).

    Acanalado - irregular, apresentando projees e reentrncias longitudinais, em forma de canais (Fig. 23).

    e Tortuoso - irregular, sinuoso (Fig. 24).

    Abaulado - irregular, convexo (Fig. 25).

    A base do tronco pode apresentar caractersticas peculiares, como:

    Sapopemas estreitas - projees tabulares mais longas do que largas (Fig. 26).

    Sapopenias largas - projees tabulares mais largas do que longas (Fig. 27).

    Sapopemas equilteras - projees tabulares to largas quanto longas. (Fig. 28)

    Sapopemas em arco - projees curvas, formando arcos (Fig. 29).

    Garras - vrias projees em forma de dedos (Fig. 30).

    Com razes flcreas - vrias razes suspensas acima do solo formando um emaranhado (Fig. 31).

    Com razes suporte - razes que partem do caule em direo ao solo para sustentar a rvore (Fig. 32).

    Base reta - sem projees ou reentrncias (Fig. 33).

    Base dilatada - aumento do dimetro na base (Fig. 34).

    O aspecto das sapopemas tambm importante para o processo de identifica-o, deve ser considerada, principalmente, a caracterstica do lombo (aresta):

    Reto - sem salincias ou depresses (Fig. 35).

    Ondulado - salincias e depresses alternadas sucessivamente (Fig. 36).

  • 26 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Fig. 22. Caule r'nirn

    TJ5 Fig. 23. Caule

    acanalado.

    Fig. 24. Caule

    tortuoso.

    Fig. 28. Sapopema

    equiltera.

    Fig. 25. Caule

    abaulado.

    Fig. 29. Sapopema

    em arco.

    Fig. 26. Sapopema Fig. 27. Sapopema

    estreita, larga.

    jjji Fig. 30. Garras. Eig. 31. Flcreas. Fig. 32. Razes Fig. 33. Base

    suporte. reta.

    II Eig. 34. Base Fig. 35. Lombo Fig. 36. Lombo dilatada reto, ondulado.

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 27

    Cncavo - Com depresses (Fig. 37).

    Convexa - com salincias (Fig. 38).

    A casca pode apresentar-se:

    Lisa - desprovida de qualquer salincia ou depresso (Fig. 39).

    Estriada - com pequenos sulcos, como riscos (Fig. 40).

    Fissurada - com sulcos profundos (Fig. 41).

    Cancerosa - pequenas crateras mais ou menos arredondadas (Fig. 42).

    Com protuberncias - salincias mais ou menos arredondadas, sem apre-sentar aberturas (Fig. 43).

    Com lenticelas - pequenas protuberncias com aberturas (Fig. 44).

    Com espinhos ou acleos - presena de elementos pontiagudos (Fig. 45).

    Pulverulenta - como se estivesse coberta de p, soltando-se como farinha ao atrit-la (Fig. 46).

    Desprendendo-se como papel - soltando-se em pedaos finos como peda-os de papel (Fig. 47).

    Despendendo-se em escamas - soltando-se em pedaos coriceos que se encontram encaixados como escamas de peixe (Fig. 48).

    Desprendendo-se em placas - soltando-se em chapas ou lminas grossas (Fig. 49).

    A colorao da casca um carter muito subjetivo, pois depende da avaliao pessoal do observador, da claridade e da presena de umidade; tornando-se difcil para ser descrita. Apesar desses comentrios, esse carter deve ser considerado.

  • 28 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    1 Fig. 37. Lombo ri9. 38. Lombo Fig. 39. casca Fig. 40. Casca

    cncavo. convexo, lisa, estriada.

    . '4

    Eig. 41. Casca

    fissurada.

    Ii rt 1 wt' 1 H

    Fig. 47. Casca desptndendo-se

    como papel.

    Fig. 42. Casca

    cancerosa.

    1

    1 liii

    t P l

    Fig. 45. Casca com

    espinhos ou acleos

    e

    1!' FIg. 48. Casca desprendendo-se

    em escamas.

    tr.

    Fig. 43. Casca com

    protuberncias.

    1 Fig. 46. Casca

    pulverulenta.

    1 ri9. 49. Casca desprendendo-se

    em placas.

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 29 O termo exudao utiliza-se para designar o processo de eliminao, aps pequena inciso no caule, de lquido mais ou menos fluido ou denso, o qual pode apresentar-se:

    Aquoso - parece gua.

    Resinoso - transparente amarelo ou creme.

    Lactescente - parecendo leite e opaco.

    Cremoso - com consistncia grossa, porm no pegajoso.

    Pegajoso - lembra cola, pegajoso.

    A velocidade com que o exsudado flui tambm deve ser considerada. Ivanchechen (1988) considerou a seguinte classificao da velocidade do fluxo:

    Rpida - emerge em espao de tempo inferior a 30 segundos.

    Mediana - emerge em espao de tempo de 30 segundos a 3 minutos.

    Lenta - emerge em tempo superior a 3 minutos.

    Os odores que exalam das folhas, flores, frutos ou das pequenas incises no caule devem ser considerados, tentando associ-los com odores bem conheci-dos, como: frutas, legumes, medicamentos, produtos qumicos, canela, feijo, cnfora, blsamo, louro, perfume, desagradvel, ftido, etc.

    A colorao das flores e frutos tambm deve ser anotada, pois essa caracters-tica auxilia no processo de identificao e provavelmente ser perdida durante a desidratao. Interessante para observao desse carter seria dispor de uma carta de cores, mas no fundamental.

    A denominao local chamada de nome vernacular, nome vulgar ou nome comum, essa informao deve ser obtida atravs de consulta a mais de um morador do local.

  • 30 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos Como exemplo, para nortear as anotaes de campo, a seguir h o modelo de ficha utilizada no Herbrio lAN (da Ernbrapa Amaznia Oriental) (Fig. 50).

    En1a MIAZONIA ORIENTAL

    1-IERBRIO lAN Ficha de campa pan rvore Farn: NonaeCient: Cc&dor: Co1ores adicionais:

    Nmero: Data:

    Altitude: 1 Latitude: Longitude: Pais 1 Est.: Mun.: Obs. Sobre a localizao da planta:

    Dist,:

    Vegetao: Solo: Altura X tircunfernda: Hbito: Forma cia rvore: Ramificao: O racernosa O dnosa Disposio dos nmcs: Forra do caule: Tipo debase do tronco: Lont o/aresta das npopernas: Tipo decasca: 1 Colorao da casca: Velocidade do exsudado: O rpida (c 30") O mediana (30". 3') O lenta (>3')

    Tipo de exsudao:

    Odor do exsudado ou folhas: 1 Col trao das flores: Ccl trao dos frutos: Fomn dos frutos:

    Tamanho dos frutos 1 Textura dos frutos: Odor dos frutos: Uso: Nome vercaculari Amostra de madeira: O Sim O No Oh s:

    Fig. 50. Ficha de campo para rvore, utilizada no herbrio lAN, da Embrapa Amaznia Oriental.

    Coleta de material botnico - Deve-se coletar um ramo com folhas maduras, que contenha flores e/ou frutos, com cerca de 30 a 40 cm de comprimento.

    Muitas vezes, dependendo da espcie, esse ramo exceder esse tamanho, mas

    no h problema, pois o mesmo pode ser dobrado ou cortado, na hora da prensagem. O importante que o ramo mostre a disposio das folhas e flores.

    No caso de pequenas ervas, essas devem ser coletadas com a raiz. De cada planta, deve-se coletar pelo menos cinco amostras, sendo uma para o Herbrio,

    onde o material ser depositado, uma para o especialista do grupo, outra para um dos grandes Herbrios nacionais e as outras para serem utilizadas no intercmbio cientfico de material botnico que ocorre entre os Herbrios (Instituto, 1984; Bridson, 1998).

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 31

    Caso haia interesse em anlise de DNA, devem ser coletadas uma ou vrias folhas jovens e armazenadas em saco de plstico contendo sflica.

    Preparao do material coletado - Aps a coleta, as amostras devem ser dispostas em folhas de jornal dobradas ao meio, tentando imitar, ao mximo, a disposio da planta na natureza, sempre tendo o cuidado de estender folhas e flores, mostrando a parte dorsal de algumas folhas e a ventral de outras (Fig. 51). Essas folhas de jornal contendo a amostra devem ser intercaladas com as folhas de papelo e de alumnio corrugado (Fig. 52), as quais devem ser dispostas sempre com as canaletas na mesma direo para facilitar a passagem do ar. O material dever ser organizado at formar uma pilha com cerca de dois palmos para, ento, ser colocado na prensa (Fig. 53) e amarrado com corda, que ir comprimir as amostras para que no se enruguem ao desidratar (Fig. 54). Organizado dessa forma, o material est pronto para ser desidratado e esse processo poder ser realizado ao sol ou sob qualquer outra fonte de calor, temperatura de 60 C a 70C. Caso o processo de desidratao no se inicie em cerca de 24 horas aps a coleta, o material dever ser umedecido com lcool 95 CL ou formol a 40% (utilizado na proporo de uma parte de formol para trs de gua) e colocado em sacos de plstico; dessa forma o material ser conservado at cerca de 2 meses para, ento, ser desidratado.

    Coleta de amostras de madeira - As amostras devem ser retiradas do tronco da rvore, a altura de cerca de 1,30 m do solo, de preferncia com casca; no caso de rvores com sapopemas, as amostras devem ser retiradas logo acima dessas formaes. As dimenses so de 5 cm x 5 cm no sentido transversal, e 10cm, no sentido longitudinal. Os dados necessrios so os mesmos descritos anteri-ormente no item anotaes. As amostras de madeira devem ser coletadas acompanhadas das amostras botnicas (Instituto..., 1991; Bridson & Forman, 1998).

    O material botnico e as amostras de madeira coletados na Regio Amaznica, segundo as tcnicas descritas, podem ser encaminhados aos 1-lerbrios e Xilotecas da regio para serem identificados. Esse material, aps avaliao, pode fazer parte do acervo da Xiloteca e do Herbrio, contribuindo dessa forma para o aumento do nmero de plantas catalogadas no Pas.

  • Eig. 54. Presa amarrada.

    Fig. 53. Pilhas de amostras

    colocadas na prensa.

    32 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    * / Fig. 61. Amostra disponrvel em

    \ 1 jornal.

    Fig. 52. Amostra em jornal intercalada com papel e alumnio

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 33

    Ao chegar aos Herbrios e Xilotecas, as amostras de madeira so desidratadas em estufa com circulao de ar forada, analisadas em nveis macro e microscpico, identificadas e registradas no acervo da Xi!oteca. O material botnico tambm desidrata-do em estufa, analisado e identificado. Uma duplicata de cada amostra separada para preparar exsicata, que a denominao utilizada para designar a amostra fixada em cartolina medindo cerca de 29 cm x 42 cm e acompanhada de etiqueta colada, na parte inferior direita da cartolina, contendo as inforrnaces anotadas durante a coleta (Fug. 55). As demais duplicatas so reservadas para intercmbio com demais herbrios. As exsicatas preparadas so registradas no acervo e passam a fazer parte do patrimnio cientfico do Herbrio.

    19g. 55. Exsicata.

    Xiloteca

    As Xilotecas so contituidas por colees de amostras de madeira desidratadas, coletadas, preparadas, armazenadas e catalogadas segundo tcnicas especifi-cas. Essas colees fornecem informaes sobre as espcies madeireiras e so utilizadas para identificar amostras que chegam ao acervo e subsidiam estudos de caractersticas da madeira (Fig. 56).

    A Xiloteca mantm uma estreita ligao com o Herbrio, complementando-o durante o processo de identificao das espcies vegetais. s vezes, torna-se difcil a identificao atravs apenas da anatomia da madeira, necessitando-se de outras informaes que podem ser obtidas nas exsicatas, bem como amostras botnicas estreis apresentam muitas limitaes durante o processo de identifica-o, as quais so complementadas pelas caractersticas anatmicas da madeira.

  • o 34 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Fig. 56. Vista interna da Xiloteca da Embrapa Amaznia Oriental.

    Herbrio a palavra utilizada para designar uma coleo composta por amostras de plantas desidratadas, coletadas, tratadas, preparadas e conservadas segundo tcnicas especficas, as quais so denominadas exsicatas. um verdadeiro banco de informaes sobre a flora de uma regio ou do planeta como um todo, possibilitan-do a anlise comparativa dos espcimes encontrados na natureza. atravs dessa anlise que se pode saber, se uma planta recm-coletada j foi classificada, a que famlia e gnero pertence, se rara ou comum, onde e quando foi coletada, etc. Esses dados so muito importantes para analisar a vegetao de uma determinada regio, mesmo que essa se encontre totalmente destruida, bem como para fornecer informaes sobre o estado de conservao das espcies em determinada rea. Os exemplares desse acervo so utilizados, tambm, no processo de identifi-cao de amostras que chegam ao herbrio (Fig. 57).

    As amostras depositadas nesses acervos comprovam e fundamentam os estudos em sistemtica vegetal. A identificao cientfica o primeiro passo para o acesso s informaes inerentes determinada espcie, propiciando o dilogo entre cientistas das diferentes reas do conhecimento e das diferentes regies do planeta. Os Herbrios so centros de identificao botnica, que, em razo do grande nmero de amostras armazenadas, tornam-se bancos de dados naturais que atendem as seguintes finalidades:

  • Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos 1 35

    Fig. 57. Vista interna do Herbrio-IAN, da Embrapa Amaznia Oriental.

    - fornecer dados taxonomia botnica;

    - subsidiar pesquisas nas reas de botnica, anatomia, ecologia, palinologia,

    recursos genticos, manejo florestal, fitoquimica, etnobotnica, dentre outras;

    - documentar, cronologicamente, a vegetao de uma regio;

    - recompor as informaes sobre a flora original de uma rea atualmente em processo de degradao ou extinta;

    - colaborar nos estudos de co-evoluo de planta-animal;

    - auxiliar nas pesquisas de diversidade e endemismo, indicando reas para conservao;

    - promover o intercmbio de material botnico entre herbrios;

    - colaborar na formao de novos botnicos, atravs de estgios oferecidos a estudantes;

    - subsidiar o estudo das floras e revises de txons;

  • 36 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    - colaborar com os cursos de ps-graduao, emprestando material botnico

    para elaborao de dissertaes e teses;

    - promover o avano cientfico, atravs da utilizao dos exemplares e das

    informaes contidas em seus acervos.

    Segundo o Index Herbariorum (Holmgreen et aL 1990), o Brasil tem cataloga-das, apenas cerca de 3.200.000 amostras desidratadas de plantas, enquanto os Estados Unidos possuem cerca de 60.500.000; a Frana, 20.200.000; e a

    Inglaterra, 15.700.000 amostras. A situao demonstra que o Brasil, apesar de abrigar a maior biodiversidade do Planeta, ainda est muito atrasado na tarefa de conhecer sua flora nativa. Deve-se refletir que para verificar os potenciais da

    biodiversidade vegetal, o primeiro passo conhec-la. Atualmente, sabe-se a utilidade industrial, medicinal e alimentcia de apenas algumas plantas brasilei-ras; se o Pais continuar devastando sua flora, poder estar eliminando um dos

    ltimos recursos econmicos brasileiros, motivo que desperta a inveia dos

    pases desenvolvidos (Tabelas 2 e 3).

    Tabela 2. Maiores herbrios do planeta

    Ano de Nmero de Herbrio Sigla fundao amostras

    Musum Nacional'Histoire Naturelle P 1635 8.877.300

    Royal Botanic Gardens K 1841 6.000.000

    Komarow Botanical lnstitute LE 1823 5.770.000

    Swedish Museum of National Histore Stockholms 5 1739 5.600.000 Fonte: Holmgreen et ai. 19901.

    Tabela 3. Mairores Herbrios do Brasil.

    Ano de Nmero de Herbrio Sigla fundao amostras Museu Nacional do Rio de Janeiro R 1808 375.000 Jardim Botnico do Rio de Janeiro RB 1890 344.812 Instituto de Botnica de So Paulo SP 1917 317.000 Museu Botnico Municipal de curitiba MBM 1965 255.000 Universidade de Braslia uB 1963 208.000 Instituto de Pesquisa da Amaznia INPA 1954 200.000 Embrapa Amaznia Oriental lAN 1945 165.000 Museu Paraense Emilio Goeidi MG 1895 159.778

  • Coleta e ldentificao de Espcimes Botnicos 37

    Em termos de Amaznia, a situao torna-se mais grave, pois, diante da imensa floresta, possui poucos Herbrios com um tota( de cerca de 500 mil exsicatas que correspondem aproximadamente a 20 mil espcies. Considerando-se a estimativa de que a floresta amaznica abriga cerca de 60 mil a 100 mil espcies vegetais; conhece-se, apenas de um tero a um quinto dessa biodiversidade. Como se pode falar em utilizao? De que maneira pode se utilizar o que no se conhece?

    H necessidade premente de serem intensificados os levantamentos floristicos na Amaznia, para que se conheam os recursos disponveis e possam ser planejados projetos de desenvolvimento regional calcados em bases cientficas.

    Os trs maiores Herbrios da Amaznia esto localizados nos Estados do Amazonas (INPA) e Par (lAN e MC) e juntos contam com cerca de 500 mil exemplares.

    O Herbrio INPA parte do Instituto Nacional de Pesquisa da Amaznia/MCT, fundado em 1954, atualmente conta com a maior coleo de plantas desidrata-das da Amaznia, no total de 200 mil exsicatas e uma coleo de tipos nomenclaturais com cerca de 1.200 amostras (Instituto..., 1998).

    o Herbrio lAN est sob a responsabilidade da Embrapa Amaznia Oriental, fundado em 1945 pelos pesquisadores Joo Mura Pires e William Archer, possui um acervo formado por 165 mil amostras de plantas desidratadas; Xiloteca, com 6.500 amostras de madeira; Carpoteca, com 500 frutos secos; Fototeca, com 5 mil fotografias de tipos e uma coleo de Tipos Nomenclaturais com 1 mil exemplares (Embrapa, 2000).

    O Herbrio MC, a partir de 1982, denominado Joo Mura-Pires, em homena-gem a esse grande conhecedor da flora amaznica, pertence ao Museu Paraense Emilio Goeldi/CNPq. Foi fundado em 1895, atualmente conta com uma coleo de cerca de 150 mil exsicatas; Xiloteca, com 7 mil amostras de madeira; Palinoteca, com 7.200 lminas de plen; Histoteca, com 700 lminas histolgicas de rgos vegetativos; Carpoteca, com 2.127 frutos e uma coleo de tipos nomenclaturais, com 2.150 exemplares (Museu..., 1998).

  • 38 1 Coleta e Identificao de Espcimes Botnicos

    Consideraes Finais

    Apenas o conhecimento cientfico pode fornecer bases slidas e seguras para o desenvolvimento da regio amaznica, propiciando a utilizao dos recursos disponveis de forma a garantir sua utilizao por geraes que ainda viro. preciso conhecer os recursos disponveis para depois planeiar de forma racionl sua utilizaco.

    Ao coletar material botnico e amostras de madeira na Regio Amaznica, essas devem ser enviadas aos Herbrios e s Xilotecas regionais para serem identificados e rnaximizar as colees da Amaznia.

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