citologia leite caprino

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FLVIO BRACALE BRANDESPIM

Caractersticas fisico-qumicas e celulares na secreo lctea de caprinos da raa Saanen durante o processo de secagem da glndula mamria

So Paulo 2007

FLVIO BRACALE BRANDESPIM

Caractersticas fisico-qumicas e celulares na secreo lctea de caprinos da raa Saanen durante o processo de secagem da glndula mamria

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Clnica Veterinria da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Medicina Veterinria

Departamento: Clnica Mdica rea de concentrao: Clnica Veterinria Orientador: Prof. Dr. Eduardo Harry Birgel Junior

So Paulo 2007

Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.

FOLHA DE AVALIAO

Nome: BRANDESPIM, Flvio Bracale Ttulo: Caractersticas fisico-qumicas e celulares na secreo lctea de caprinos da raa Saanen durante o processo de secagem da glndula mamria

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Clnica Veterinria da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Medicina Veterinria

Data: ____/____/____

Banca Examinadora

Prof. Dr.

________________________

Instituio: ____________________ Julgamento: ____________________

Assinatura: ________________________

Prof. Dr.

________________________

Instituio: ____________________ Julgamento: ____________________

Assinatura: ________________________

Prof. Dr.

________________________

Instituio: ____________________ Julgamento: ____________________

Assinatura: ________________________

Dedico esta dissertao minha querida Ana Paula, uma pessoa que entrou em minha vida para mud-la para sempre, para me mostrar a beleza de estar vivo.

AGRADECIMENTOS Aos meus pais, que sempre sero meus dolos, por terem lutado todos esses anos para dar as melhores oportunidades para mim e meus irmos e por nunca deixarem faltar o que mais importante: amor. Ana Paula, minha eterna companheira, por ter estado do meu lado nessas aventuras todas que vivenciamos at aqui. Sua presena ao meu lado trouxe um brilho para minha vida que jamais terei como retribuir. toda minha famlia: irmos, tios, avs e primos. Ao meu Tio Artur Vicente (in memoriam) por ter sido uma pessoa maravilhosa, um exemplo a ser seguido e por ter me ensinado a dirigir l em Perube. Ao Andr e Nury, amigos inseparveis que fizeram companhia por essas aventuras no mundo da veterinria! Sem eles no teria metade da graa! Nunca esquecerei daquela semana de julho, cuidando das cabras no hospital. Jamais esquecerei vocs! Dona Geny Isabel, Seu Laercio, Dona Ruth e Seu Ulderigo, toda famlia da Ana Paula, que sempre me recebeu com muito carinho l em Santos. A todos os ces que j fizeram parte da minha famlia, verdadeiros amigos que jamais esquecerei. Ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Harry Birgel Junior, pelos ensinamentos passados nesses anos todos. Ao Prof. Fernando Jos Benesi por toda a ajuda prestada, muito alm de qualquer obrigao, durante a residncia e todo perodo que passei na faculdade. Profa. Dra. Lilian Gregory por tantas conversas divertidas e pelo incentivo durante a graduao.

Profa. Dra. Alice Della Libera por ser um exemplo a ser seguido, pelos ensinamentos da veterinria e pelas excelentes conversas. Profa. Dra. Solange Gennari e ao Prof. Dr. Rodrigo Soares por terem ministrado a melhor disciplina que freqentei durante o curso de ps-graduao. Ao Prof. Dr. Idrcio Sinhorini por ter me mostrado a beleza da fotografia durante sua disciplina da ps-graduao. Cludia do Laboratrio de Imunologia do Departamento de Clnica Mdica, cuja ajuda foi fundamental para a concluso dos exames microbiolgicos. todos os funcionrios da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da USP pela ajuda nas aulas e pela agradvel convivncia nesses anos. Aos funcionrios do Hospital de Bovinos e Pequenos Ruminantes (Maria, Elias, Luisinho, Francisco e Edson), que tanto me ajudaram no ano da residncia. Aos funcionrios da biblioteca, que sempre trabalharam com muita eficincia e me trataram muito bem. Carmem pela ajuda com o material de laboratrio. todos os professores da veterinria, cursinho e escola, que to prontamente me ajudaram nesses anos todos, sempre prontos para ensinar algo mais. Aos meus colegas de ps-graduao: Raquel, Fernanda, Fabio, Tio Chico, Daniela, Humberto e Sandra. Aos meus amigos de longa data, Luciano, Martin e Mrio, protagonistas de histrias da infncia e adolescncia.

Ao Rodrigo Norberto. Um grande amigo, uma pessoa cheia de energia e inesquecvel, Graziela (in memorian), uma pessoa cheia de luz e alegria, que nunca ser esquecida. s amigas da 69: Juliana Nogueira e Mariana Abe. Aos amigos da 70, estagirios da minha residncia. A todos os meus colegas da 65 Turma da FMVZ, pessoas inesquecveis que faro parte da minha vida para sempre, principalmente os amigos da turma A. Jamais esquecerei de tudo que vivenciamos nos cinco anos que estudamos juntos, das aulas, dos passeios, de toda nossa histria, que ainda est sendo escrita. Ao Campus de Pirassununga, protagonista de alguns dos momentos mais felizes e inesquecveis da minha vida. cidade de Santos, um lugar paradisaco em que a vida tem mais brilho e energia. Meu futuro lar. CAPES, pela bolsa de mestrado concedida.

Viver a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. (Oscar Wilde)

RESUMO BRANDESPIM, F. B. Caractersticas fisico-qumicas e celulares na secreo lctea de caprinos da raa Saanen durante o processo de secagem da glndula Mamria. [Physico-chemical and cellular characteristics on milk secretion of Saanen goats during the mammary gland drying off]. 2007. 157 f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007. Para avaliar a influncia do processo de secagem da glndula mamria sobre as caractersticas fsico-qumicas e celulares da secreo lctea foram avaliadas 216 amostras provenientes de 27 glndulas mamrias de 15 cabras da raa Saanen consideradas sadias, sendo que essas mamas foram separadas de acordo com o resultado do exame microbiolgico da secreo lctea, caracterizando dois grupos: com e sem isolamento bacteriano, composto por 17 e 10 mamas, respectivamente. A partir do dia da interrupo da ordenha e em mais sete momentos (1, 3, 5, 7, 10, 15 e 30 dias aps o incio da secagem) foi feita a inspeo e a palpao das glndulas mamrias e posterior avaliao do aspecto da secreo lctea. Imediatamente aps o exame clnico foram colhidas amostras de leite para a realizao do exame microbiolgico e das determinaes das caractersticas fsicoqumicas e celulares (pH, eletrocondutividade, cloreto, lactose, protenas, gordura, slidos totais, ndice cloreto/lactose, California Mastitis Test (CMT) e contagem de clulas somticas). As glndulas mamrias apresentaram sua maior distenso no terceiro dia aps a interrupo da ordenha, mesmo perodo em que foi possvel observar o aparecimento de edema na base dos tetos e em toda a glndula, desaparecendo aps o quinto dia, quando teve incio a involuo do bere e a freqncia de mamas distendidas comeou a declinar, sendo que ao final do processo 37,04% das mamas observadas eram classificadas como no distendidas. A secreo lctea inicial com aspecto de leite foi substituda a princpio por uma de colorao creme clara e mais tardiamente por uma de aspecto aquoso, sendo que ao final do processo as duas ltimas eram mais observadas que a com aspecto de leite. Apenas o pH, a eletrocondutividade, os teores de cloretos, lactose, protenas e ndice cloreto/lactose sofreram uma significativa influncia do processo de secagem, sendo que os valores do pH, eletrocondutividade, cloretos, protenas e ndice cloreto/lactose aumentaram e os valores de lactose declinaram. O CMT tambm sofreu uma influncia do processo de secagem, mais especificamente as respostas

traos e duas cruzes. Estas, de maneira geral, aumentaram no decorrer da secagem, sendo que no ltimo momento de colheita ocorreu uma queda na freqncia da resposta traos e a freqncia da resposta duas cruzes teve uma pequena diminuio no meio do processo. Ainda foi observado que, apesar de existirem diferenas estatsticas significativas entre valores das caractersticas fsicoqumicas e celulares das amostras de secreo lctea com e sem isolamento bacteriano, as diferenas so isoladas e limitadas a algumas caractersticas estudadas, impossibilitando afirmar que o processo de secagem dos dois grupos difere de maneira significativa.

Palavras-chave: Caprinos. Secagem (processo). Glndula mamria de animal. Secreo lctea caprina. Fsico-qumicas (caractersticas). Clulas somticas

ABSTRACT BRANDESPIM, F. B. Physico-chemical and cellular characteristics on milk secretion of Saanen goats during the mammary gland drying off. [Caractersticas fisico-qumicas e celulares na secreo lctea de caprinos da raa Saanen durante o processo de secagem da glndula mamria]. 2007. 157f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007. To evaluate the influence of the mammary gland drying off on the physiochemical and cellular characteristics in the milk secretion they were appraised 216 coming samples of 27 mammary glands of 15 Saanen goats considered healthy, those mammas were separate in agreement with the result of the microbiological test of the milky secretion characterizing two groups: one with 17 mammas without bacterial isolation and other with 10 mammas that presented positive bacterial isolation. Starting from the day of the interruption of the milking and in more seven moments (1, 3, 5, 7, 10, 15 and 30 days after the beginning of the drying off) it was made the inspection and palpation of the mammary glands with subsequent evaluation of the aspect of the milky secretion. Immediately after the exam they were picked samples of milk for the accomplishment of the microbiological test and of the determinations of the physiochemical and cellular characteristics (pH, electrical conductance, chloride, lactose, proteins, fat, total solids, chloride/lactose ratio, California Mastitis Test (CMT) and somatic cell count). The mammary glands presented its largest distention in the third day after the milking interruption, same period in that was possible to observe the edema emergence in the teats base and in the whole gland, that disappeared after the fifth day, when involution of the udder begins and the frequency of distended mammas began to refuse, and at the end of the process 37,04% of the observed mammas they were classified as no distended. The initial milky secretion with aspect of milk was substituted at first for one of coloration cream clear and, so late, for one of aqueous aspect, and in the end of the process those two last they were more observed that the secretion with aspect of milk. Just the pH, electrical conductance, chloride, lactose, proteins and chloride/lactose ratio suffered a significant influence of the drying off, and the values of the pH, electrical conductance, chloride, proteins and chloride/lactose ratio increased and the lactose values refused. CMT also suffered an influence of the drying off, more specifically the answers "lines" and "two crosses." These, in a general way, increased in elapsing of the drying off, and in the last

moment studied it happened a fall in the frequency of the answer "lines" and the frequency of the answer "two crosses" had a small decrease in the middle of the process. It was still observed that in spite of significant statistical differences exist among values of the physiochemical and cellular characteristics of the samples of milky secretion with isolation and without bacterial isolation, the differences are punctual and limited to some studied characteristics, disabling to affirm that the process of drying of the two groups differs in a significant way.

Key-words: Goats. Drying off (process). Physico-chemical (characteristics). Animal mammary gland. . Somatic cells.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1.1 Rebanho de caprinos do mundo, divididos por pases FAO 2005........................................................................................................... 34

Quadro 1.2 Rebanho de caprinos, com aptido leiteira do mundo divididos por pases FAO 2005......................................................................... 34 Quadro 1.3 Toneladas de leite caprino produzido no ano de 2005 divididos por pases................................................................................................ 35 Quadro 3.1 Interpretao do exame de plenitude e distenso da glndula mamria (Fonte: modificado de EWBANK, 1963)............................. 69 Quadro 3.2 Interpretao do exame de plenitude e distenso dos tetos............ 69 Quadro 3.3 Interpretao do exame de edema da glndula mamria................. 69 Quadro 3.4 Interpretao do exame de fundo escuro para avaliar o aspecto da secreo lctea.................................................................................. 70 Quadro 3.5 Interpretao do California Mastitis Test (CMT) para caprinos (SCHALM; CARROLL; JAIN, 1971)................................................... 73

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Grupo de alvolos da glndula mamria de uma cabra (Fonte: STABENFELDT; DAVIDSON, 2004)................................................. 40 Figura 2.2 Descrio do bere de uma cabra, com os tecidos alveolares, a cisterna glandular e seus grandes ductos, cisterna da teta, e o canal da teta. (Fonte: STABENFELDT; DAVIDSON, 2004).............. 41

LISTA DE GRFICOS

Grfico 4.1 Influncia do processo de secagem da glndula mamria na ocorrncia dos diferentes graus de plenitude e distenso da mama de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................... 76 Grfico 4.2 Influncia do processo de secagem da glndula mamria na ocorrncia dos diferentes graus de plenitude e distenso do teto de cabras da raa Saanen So Paulo 2007.............................. 79 Grfico 4.3 Influncia do processo de secagem da glndula mamria na ocorrncia dos diferentes graus de edema de bere de cabras da raa Saanen So Paulo 2007.................................................... 82 Grfico 4.4 Influncia do processo de secagem da glndula mamria na ocorrncia dos diferentes aspectos da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007............................................... 85 Grfico 4.5 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nos valores mdios de pH da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................................................ 87 Grfico 4.6 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nos valores mdios de eletrocondutividade da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................... 89 Grfico 4.7 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamrianos valores mdios dos teores de cloretos da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007........................................... 91

Grfico 4.8 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndulamamria nos valores mdios dos teores de lactose da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007.................

93

Grfico 4.9 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nos valores mdios do ndice cloreto/lactose da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007. 95 Grfico 4.10 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nos valores medos de gordura da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................................ 97 Grfico 4.11 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nos valores mdios de protena da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................................ 99 Grfico 4.12 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nos valores mdios de slidos totais da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................ 101 Grfico 4.13 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria no nmero mdio de clulas somticas da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007............... 103 Grfico 4.14 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano durante o processo de secagem nos valores do pH da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................ 107

Grfico 4.15 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano durante o processo de secagem nos valores da eletrocondutividade da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007......................................................... 109 Grfico 4.16 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano durante o processo de secagem nos teores de cloreto da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007. 111 Grfico 4.17 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano durante o processo de secagem nos teores de lactose da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007 Grfico 4.18 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano durante o processo de secagem no ndice cloreto/lactose da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007. 115 Grfico 4.19 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano durante o processo de secagem no teor de gordura da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007. 118 Grfico 4.20 Avaliao da influncia da condio de sade da glndula mamria durante o processo de secagem no teor de protena da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007.............................................................................................. 120 Grfico 4.21 Avaliao da influncia da condio de sade da glndula mamria durante o processo de secagem no teor de slidos totais da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................................................................................ 122 113

Grfico 4.22 Avaliao da influncia da condio de sade da glndula mamria durante o processo de secagem no nmero de clulas somticas da secreo lctea de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................................................................................ 124 Grfico 4.23 Ocorrncia dos resultados do California Mastitis Test (CMT) da secreo lctea de cabras da raa Saanen sem isolamento bacteriano durante o processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007....................................................... 126 Grfico 4.24 Ocorrncia dos resultados do California Mastitis Test (CMT) da secreo lctea de cabras da raa Saanen com isolamento bacteriano durante o processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007....................................................... 127

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Constituio

dos

grupos

experimentais

para

avaliar

as

caractersticas fsico-qumicas e celulares na secreo lctea de cabras da raa Saanen durante o processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007........................................... 66 Tabela 4.1 Resultados obtidos na avaliao do grau de plenitude e distenso da mama, por palpao, durante a evoluo do processo de secagem da glndula mamria de cabras da raa Saanen - So Paulo 2007.................................................................................... 77 Tabela 4.2 Resultados obtidos na avaliao do grau de distenso dos tetos, por palpao, durante a evoluo do processo de secagem da glndula mamria de cabras da raa Saanen So Paulo 2007 80 Tabela 4.3 Resultados obtidos na avaliao do grau de edema da mama durante a evoluo do processo de secagem da glndula mamria de cabras da raa Saanen - So Paulo 2007............... 83 Tabela 4.4 Resultados obtidos na avaliao do aspecto da secreo lctea presente na mama, durante a evoluo do processo de secagem da glndula mamria de cabras da raa Saanen So Paulo 2007................................................................................................. 86 Tabela 4.5 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao, dos valores de pH da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 88

Tabela 4.6 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao, dos valores de eletrocondutividade da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007................................................................................... 90 Tabela 4.7 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao, dos teores de cloretos da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria - So Paulo 2007... 92 Tabela 4.8 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao, dos teores de lactose da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 94 Tabela 4.9 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao dos valores do ndice cloreto/lactose da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.................................................................................... 96 Tabela 4.10 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao dos valores de gordura na secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 98 Tabela 4.11 Mdia, desvio padro, mediana, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao dos valores de protena da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 100

Tabela 4.12 Mdia, desvio padro, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao dos teores de slidos totais da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. Tabela 4.13 Mdia, desvio padro, coeficiente de variao (CV) e amplitude de variao do nmero de clulas somticas da secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007. 104 Tabela 4.14 Freqncia dos graus de intensidade da reao do California Mastitis Test (CMT) na secreo lctea de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007....................... 106 Tabela 4.15 Valores de pH (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007................................................................................... 108 Tabela 4.16 Valores de eletrocondutividade (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.......................................................... 110 Tabela 4.17 Valores de cloretos (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudos a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 112 102

Tabela 4.18 Valores de lactose (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudos a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 114 Tabela 4.19 Valores do ndice cloretos/lactose (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem isolamento e com isolamento de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria - So Paulo 2007............................................ 116 Tabela 4.20 Valores de gordura (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007................................................................................... 118 Tabela 4.21 Valores de protena (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007.. 120 Tabela 4.22 Valores de slidos totais (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem isolamento e com isolamento de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007................................................................................... 123 Tabela 4.23 Valores do nmero de clulas somticas (expressos pela mdia desvio padro e mediana) na secreo lctea de mamas sem e com isolamento de cabras da raa Saanen, distribudos segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007................................................................................... 125

Tabela 4.24 Freqncias das reaes classificadas como negativas do California Mastitis Test - CMT na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudas segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007........................................... 128 Tabela 4.25 Freqncias das reaes, classificadas como meia e uma cruz, do California Mastitis Test - CMT na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudas segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007........................................... 129 Tabela 4.26 Freqncias das reaes, classificadas como duas e trs cruzes, do California Mastitis Test - CMT na secreo lctea de mamas sem e com isolamento bacteriano de cabras da raa Saanen, distribudas segundo a evoluo do processo de secagem da glndula mamria So Paulo 2007........................................... 130

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

cap. ClCCS CMT CV DNA EST f. FIL FMVZ g% g/dl g/l g/Kg GLM H+ IGF IgG K+ Kw LDL m mg/l l m ml mm

captulo cloro contagem de clulas somticas California Mastitis Test coeficiente de variao cido desoxirribonucleico extrato seco total folhas feedback inhibitor of lactation Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia gramas por cento grama por decilitro grama por litro gramas por quilograma general linear models on hidrognio fator de crescimento semelhante insulina imunoglobulina da classe G on potssio produto inico da gua lipoprotena de baixa densidade metro miligrama por litro microlitro micrmetro mililitro milmetros

cls/ml clulas por mililitro

IGFBP protena

S/cm microSiemens por centmetro mS/cm miliSiemens por centmetro mMol/l milimol por litro N nmero

Na+ nm OHp. pat. pH RNA ST USP v.

on sdio nammetro hidroxila pgina parte potencial hidrogeninico cido ribonucleico slidos totais Universidade de So Paulo volume

LISTA DE SMBOLOS % K C

porcentagem micro kapa beta alfa grau minuto segundo grau Celsius marca registrada normal igual multiplicao asterisco nvel de significncia maior menor ou igual mais ou menos

N = x * p >

SUMRIO 33 39

1 2 2.1 2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4 2.4.5 2.4.6 2.4.7 2.5 3

INTRODUO........................................................................................... REVISO DE LITERATURA.....................................................................

Anatomia da glndula mamria de cabras................................................. 39 Importncia do perodo Seco..................................................................... Fisiologia da glndula mamria durante o perodo seco........................... Involuo ativa........................................................................................ 42 43 46

Involuo constante................................................................................. 48 Lactognese ou Colostrognese............................................................ 49 Caractersticas fsico-qumicas da secreo lctea................................... Concentrao hidrogeninica (pH)....................................................... 50 50

Eletrocondutividade................................................................................. 52 Cloretos..................................................................................................... 53 Lactose...................................................................................................... 54 Slidos totais............................................................................................ 55 Protena..................................................................................................... Gordura..................................................................................................... 56 57

Caractersticas celulares da secreo lctea............................................. 60 MATERIAIS E MTODO........................................................................... 65

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.5.1 3.6 3.6.1 3.6.2 3.6.3 3.6.4

Consideraes gerais................................................................................ Grupos experimentais................................................................................ Manejo dos animais................................................................................... Colheitas.................................................................................................... Exame dos animais....................................................................................

65 65 67 67 68

Avaliao da glndula mamria e da secreo lctea.......................... 68 Determinaes realizadas nas amostras de leite...................................... Determinao da concentrao hidrogeninica (pH)........................... Determinao dos valores de eletrocondutividade no leite............ Determinao dos valores de cloretos no leite............................... Determinao dos valores de gordura, lactose, protena e slidos totais.......................................................................................................... 71 72 72 73 74 74 70 70 70 71

3.6.5 3.6.6 3.6.7 3.6.8 3.7 4 4.1

Determinao do ndice cloretos/lactose.............................................. Prova de Schalm e Noorlander California Mastitis Test (CMT)........ Contagem eletrnica do nmero de clulas somticas....................... Exame microbiolgico............................................................................ Anlise Estatstica......................................................................................

RESULTADOS........................................................................................... 75 Avaliao do exame clnico da glndula mamria de cabras da raa Saanen, durante a evoluo do processo de secagem da mama............. 75

4.1.1

Avaliao da influncia do processo de secagem na plenitude e 75

distenso da glndula mamria............................................................. 4.1.2 Avaliao da influncia do processo de secagem na plenitude e distenso dos tetos.................................................................................. 4.1.3 Avaliao da influncia do processo de secagem no edema de glndula mamria..................................................................................... 4.1.4 Avaliao da influncia do processo de secagem na ocorrncia de ejeo espontnea de secreo lctea.................................................. 4.1.5 Avaliao da influncia do processo de secagem no aspecto da secreo lctea........................................................................................ 4.2 Avaliao da influncia do processo de secagem da glndula mamria nas caractersticas fsico-qumicas e celulares da secreo lctea de cabras da raa Saanen.............................................................................. 4.2.1 Avaliao da influncia do processo de secagem nos valores de pH da secreo lctea...................................................................... 4.2.2 Avaliao da influncia do processo de secagem nos valores de eletrocondutividade da secreo lctea................................................ 4.2.3 Avaliao da influncia do processo de secagem nos teores de cloretos da secreo lctea.................................................................... 4.2.4 Avaliao da influncia do processo de secagem nos teores de lactose da secreo lctea..................................................................... 4.2.5 Avaliao da influncia do processo de secagem no ndice cloreto/lactose da secreo lctea......................................................... 4.2.6 Avaliao da influncia do processo de secagem no teor de gordura da secreo lctea............................................................. 4.2.7 Avaliao da influncia do processo de secagem no teor de 97 95 93 91 89 87 86 85 83 82 80 78

protena da secreo lctea.................................................................... 4.2.8 Avaliao da influncia do processo de secagem no teor de slidos totais da secreo lctea......................................................... 4.2.9 Avaliao da influncia do processo de secagem no nmero de clulas somticas da secreo lctea................................................. 4.2.10 Avaliao da influncia do processo de secagem no resultado do California Mastitis Test da secreo lctea.......................................... 4.3 Avaliao da influncia da presena de isolamento bacteriano, durante o processo de secagem, nas caractersticas fsico-qumicas e celulares da secreo lctea de cabras da raa Saanen.......................................... 4.3.1 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no pH da secreo lctea........................................................................................ 4.3.2 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano na 109 108 108 104 101 100

eletrocondutividade da secreo lctea................................................ 4.3.3 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no teor de cloretos da secreo lctea.................................................................... 4.3.4 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no teor de lactose da secreo lctea...................................................................... 4.3.5 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no ndice cloretos/lactose da secreo lctea...................................................... 4.3.6 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no teor de gordura da secreo lctea..................................................................... 4.3.7 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no teor de protena da secreo lctea.................................................................... 4.3.8 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no teor de

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slidos totais da secreo lctea....................................................... 4.3.9 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no nmero de clulas somticas da secreo lctea................................................... 4.3.10 Avaliao da influncia do isolamento bacteriano no resultado do California Mastitis Test da secreo lctea........................................... 5 5.1 DISCUSSO.............................................................................................. Caractersticas fsico-qumicas da secreo lctea de cabras durante o processo de secagem................................................................................ 5.2 5.3 Exame Clnico da Glndula Mamria durante o Processo de Secagem... Influncia da presena de isolamento bacteriano nas caractersticas fsico-qumicas e celulares da secreo lctea de cabras durante o processo de secagem................................................................................ 6 CONCLUSES.......................................................................................... 146 142 132 138 126 132 124

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................... 149

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1 INTRODUO

A cabra foi um dos primeiros animais a ser domesticado pelo homem com o intuito de produzir alimento. Esta domesticao teve incio h dez mil anos, nas montanhas Zagros, localizadas ao oeste do que hoje o Ir (ZEDER; HESSER, 2000). A cabra domstica a Capra hircus que descende, provavelmente, da Capra aegragus da Prsia e sia menor, Capra falconeri do Himalaia e Capra prisca da bacia do Mediterrneo (RIBEIRO, 1997). No Brasil a criao de caprinos teve incio entre os sculos XVI e XVIII com a introduo de uma centena de animais no padronizados, ou seja, sem raa definida. Somente no sculo XIX as raas modernas comearam a aparecer no Pas, com a chegada de cerca de mil animais da raa Alpina, mil da raa Saanen e suas variedades, quinhentos animais Toggenbourg, quinhentos animais da AngloNubiana, duas centenas de Angors e uma centena da raa Murciana. Alguns poucos animais das raas Boer, Cachemire, Dwarf e outras foram trazidos tambm (MACHADO, 1996). O rebanho caprino no ano de 2006 foi estimado em 11.460.735 animais (ANUALPEC, 2006). Deste total, 92,78% esto na regio Nordeste, 2,38% no Sudeste, 1,46% no Norte, 2,27% no Sul e 1,11% no Centro-Oeste. Segundo dados da FAO (2005), o Brasil possua o dcimo quinto maior rebanho caprino do mundo no ano de 2005, com dez milhes e setecentos mil animais (Quadro 1.1) sendo que quatro milhes e meio destes animais so de aptido leiteira (Quadro 1.2), correspondendo a 42,05% do rebanho nacional e colocando o Pas como o oitavo maior rebanho de caprinos leiteiros do mundo.

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Colocao 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 15

Pas China ndia Paquisto Sudo Bangladesh Nigria Repblica Islmica do Ir Qunia Indonsia Somlia Brasil

Nmero de cabeas 195.758.954 120.000.000 56.700.000 42.000.000 36.900.000 28.000.000 26.500.000 13.882.600 13.182.100 12.700.000 10.700.000

Quadro 1.1 Rebanho de caprinos do mundo, divididos por pases FAO 2005

Colocao 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pas ndia Sudo Bangladesh Repblica Islmica do Ir Paquisto Somlia Indonsia Brasil Mali Grcia

Nmero de cabeas 23.800.000 20.000.000 17.700.000 12.700.000 7.700.000 6.580.000 5.500.000 4.500.000 3.976.500 3.800.000

Quadro 1.2 Rebanho de caprinos, com aptido leiteira do mundo divididos por pases FAO 2005

Segundo dados do ANUALPEC (2006), pode-se observar uma tendncia de crescimento do rebanho caprino, que vem aumentando desde o ano de 2003, sendo que entre 2005 e 2006 o aumento foi de 6,32%.

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Apesar da grande maioria dos caprinos concentrarem-se na regio Nordeste, estimativas mostram que a regio Sudeste responsvel por 54,3% da produo de leite caprino processada por laticnios, que gira em torno de 7.920.000 litros de leite por ano (COSTA, [200_?]). Isso se deve principalmente a uma cadeia produtiva organizada e utilizao de animais de raas leiteiras especializadas, tais como Saanen, Alpina e Toggenbourg criados em manejo intensivo (BORGES, 2003). O Nordeste, por sua vez, possui grande maioria de animais sem raa definida. Segundo estimativas da FAO (2005) observadas no quadro 1.3, a produo de leite caprino no Brasil durante o ano de 2005 foi de 135.000.000 quilos, apenas a dcima oitava do mundo e 1,08% do total produzido, mostrando a grande diferena entre leite produzido e leite processado. Corroborando essas informaes, Nogueira e De Mello (2005) informaram que no sudoeste paulista 79% do leite produzido comercializado de maneira informal, 12% da produo destinada a intermedirios e apenas 9% tm como destino a indstria de laticnios.Colocao 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 18 Pas ndia Bangladesh Sudo Paquisto Frana Grcia Espanha Somlia Repblica Islmica do Ir Ucrnia Brasil Toneladas de leite caprino/ano 2.700.000 1.416.000 1.295.000 675.000 587.000 495.000 482.903 393.500 365.000 266.455 135.000

Quadro 1.3 Toneladas de leite caprino produzido no ano de 2005 divididos por pases. (Fonte: FAO 2005)

Ao observarmos o destino do leite de cabra no mercado, podemos detectar uma diviso desigual, com 93% para o mercado de leite fludo, 4% para o leite em p e 3% para queijos, doces e iogurtes (COSTA, [200_?]). Entretanto, Cordeiro (2006) atentou para o surgimento de novos mercados para o leite caprino no Brasil, crescendo cada vez mais sua utilizao na fabricao de sorvetes, cosmticos e, em

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especial, de iogurte, que apresenta grande aceitao, baixo custo de produo e sem necessidade de equipamentos sofisticados, sendo de fcil preparao. Pode-se destacar trs principais mercados para o leite caprino: consumo caseiro; derivados de leite, que apresenta grande aumento da demanda, principalmente em pases desenvolvidos e por fim pessoas que apresentam alergia ao leite bovino ou distrbios gastrointestinais (HAENLEIN, 2004). Cerca de 2,5% de crianas com at 3 anos de idade podem apresentar alergia ao leite bovino (BUSINCO; BELLANTI, 1993). Na Itlia (LOTHE et al.1, 1982 apud HAENLEIN, 2004, p.157) foi encontrado um ndice de 3% em crianas at 2 anos com alergia ao leite bovino, sendo que a substituio do leite bovino pelo caprino resolveu 30% a 40% dos casos. Haenlein (2004) relatou que estudos franceses encontraram resultados positivos em 93% dos casos de alergia ao leite bovino tratados com leite caprino. Dentre as qualidades do leite caprino ainda podemos citar como vantagens para crianas que consomem leite de cabra em substituio ao leite bovino um maior ganho de peso e altura, maior mineralizao do esqueleto e maior concentrao de vitamina A, clcio, tiamina, riboflavina, niacina e hemoglobina no sangue (MACK2, 1952 apud HAENLEIN, 2004, p.157). Em um estudo, Alferez e colaboradores (2001) concluiram que o consumo de leite caprino reduz os nveis de colesterol e da frao de lipoprotena de baixa densidade (LDL) devido grande presena de cadeias mdias de triglicerdeos em sua composio (36% no leite caprino contra 21% no bovino). Haenlein (2004) relatou que a atual produo de leite caprino no mundo muito baixa, podendo ainda aumentar consideravelmente. Segundo este autor, de fundamental importncia o estabelecimento de valores de referncia especficos para o leite de cabra. No Brasil, a legislao deixa a desejar quanto a esse ponto e, apesar da existncia de uma lei especfica que regulamenta a produo de leite caprino (BRASIL, 2000), ainda falta uma regulamentao abrangente tal qual a Instruo Normativa N51 utilizada para bovinos.1

LOTHE, L.; LINDBERG, T.; JACOBSON, I. Cows milk formula as a cause for infantile colic. Pediatrics, v. 70, p. 710, 1982.2

MACK, P.B. A preliminary nutrition study of the value of goats milk in the diet of children. Mena, Arkansas, USA: Yearbook. American Goat Society Publishers, , 1952. p. 106132.

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Dans (200_?) alertou para a necessidade de esforos conjuntos de todos os elos da cadeia produtiva da caprino-ovinocultura para que este setor alcance a devida importncia econmica no cenrio nacional, reforando a necessidade do aumento da escala de produo, constncia e padronizao do leite fornecido, incentivo ao consumo de derivados e pesquisas voltadas para novas tecnologia de produo. Atualmente, a CAPRILAT j paga bnus pela qualidade do leite de cabras de produtores que apresentarem baixa contagem de clulas somticas e altos teores de slidos totais, pagando mais pelo fornecimento de leite no perodo da entressafra e pela rastreabilidade do produto. Na atual conjuntura da caprinocultura, de fundamental importncia que se realizem mais estudos sobre leite caprino para o estabelecimento de padres de qualidade para essa espcie, dando aporte a criadores e laticnios, com informaes tcnicas para melhoramento da indstria lctea, possibilitando o reconhecimento de leite de maior qualidade e melhor remunerao do produtor, fortalecendo o setor. Apesar da existncia de pesquisas sobre o perodo de lactao dos caprinos (GUIMARES et al., 1989; BARROS e LEITO, 1992; LIMA JUNIOR et al., 1994; PRATA et al., 1998; ANDRADE et al., 2001; FERNANDES; TONIN et al., 2002; ARCURI et al.; GOMES, 2004), a reviso de literatura demonstra que as alteraes da composio fsico-qumica e celular da secreo lctea no perodo de secagem da espcie caprina no foram objeto de estudo, sendo as recomendaes de tratamento e preveno das mamites dos caprinos nesse perodo realizadas sem que se conhea as caractersticas da involuo da mama durante a supresso da ordenha. Levando-se em conta que a grande maioria de caprinocultores de leite costuma utilizar um perodo de secagem em seus animais, de fundamental importncia a realizao de um maior nmero de pesquisas acerca do assunto a fim de fundamentar o conhecimento necessrio para que o veterinrio possa garantir ao produtor uma assistncia eficaz e que o leite fornecido seja de qualidade e quantidade suficiente para satisfazer a indstria lctea e o consumidor final. A presente pesquisa teve a finalidade de estudar o processo de secagem de fmeas da raa Saanen, avaliando, conforme o delineamento experimental proposto,

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a involuo da glndula mamria por meio da inspeo e da palpao das mamas e dos tetos e tambm o exame da secreo lctea durante todo o processo. Foram avaliados o aspecto e as caractersticas fsico-qumicas, celulares e microbiolgicas da secreo lctea durante a evoluo do processo de secagem, sendo os seguintes parmetros determinados: potencial hidrogeninico (pH), eletrocondutividade, cloretos, lactose, clculo do ndice cloreto/lactose, slidos totais, protena, nmero de clulas somticas e reaes do California Mastits Test (CMT).

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2 REVISO DE LITERATURA

A reviso de literatura contm informaes sobre a anatomia e fisiologia da glndula mamria e caractersticas fsico-qumicas e celulares da secreo lctea, e com isso, contribuir para a compreenso do trabalho.

2.1 Anatomia da glndula mamria de cabras

O bere uma glndula que se origina da invaginao de brotos ectodrmicos para o interior do mesoderma subjacente, que na cabra fica localizado na regio inguinal junto parede ventral do abdmen, porm sem qualquer comunicao com a cavidade abdominal, exceto pelo canal inguinal por onde os vasos sanguneos, linfticos e a inervao entram e saem do bere. (HAENLEIN; CACCESE, 1992). O bere caprino constitudo por duas metades com uma glndula cada, sendo cada metade drenada por um nico teto. O formato dos tetos varia bastante, podendo ser pequenos e curtos ou grandes e afunilados. A glndula mamria, semelhana das glndulas sebceas e sudorparas, uma glndula cutnea, classificada histologicamente como tubuloalveolar composta (PARK; JACOBSON, 1996). A sustentao de cada metade do bere feita por um aparato suspensrio em forma de bolsa formado por duas lamelas, uma medial e outra lateral. O ligamento suspensrio medial formado por fortes feixes de tecido elstico inseridos no arco plvico. Esses ligamentos so particularmente importantes durante o pico de lactao para evitar a formao de beres pendulares (HAENLEIN; CACCESE, 1992). A lmina lateral est localizada lateralmente veia pudica externa lateral, prxima ao anel inguinal superficial, e d suporte parte lateral do bere, formando septos colagenosos profundos na glndula. A artria pudica externa, originada da artria ilaca externa, a nica fonte de sangue para o bere dos caprinos. O sistema venoso mais evidente que o arterial e pode ser visualizado no bere ou na parede abdominal. O sangue drenado da

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glndula mamria pela veia pudica externa ou pela veia subcutnea abdominal (mamria) que se forma na primeira lactao pela anastomose das veias epigstricas superficiais cranial e caudal. As clulas secretoras so formadas por clulas epiteliais diferenciadas que revestem estruturas cncavas denominadas alvolos, cada um com dimetro que varia entre 0,01 e 0,03mm (HAENLEIN; CACCESE, 1992). Os alvolos so considerados as estruturas fundamentais da secreo de leite da glndula mamria (Figura 2.1). Os alvolos possuem uma forma de sustentao especial em forma de rede invertida, permitindo que a secreo lctea flua cisterna da glndula. Esta funciona como ponto de acumulao dos ductos principais, os quais se ramificam repetidamente at os alvolos, verdadeiro tecido secretor do leite caprino.

Figura 2.1 - Grupo de alvolos da glndula mamria de uma cabra (Fonte: STABENFELDT; DAVIDSON, 2004)

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Apesar da existncia da cisterna (Figura 2.2), que nada mais que um reservatrio de leite durante o perodo compreendido entre mamadas ou ordenhas dirias, a maior quantidade de secreo fica acumulada nos alvolos. Cada alvolo envolvido por clulas mioepiteliais que so responsveis pela descida do leite ao se contrairem e expulsarem a secreo lctea dos alvolos. (STABENFELDT; DAVIDSON, 2004).

Figura 2.2 - Descrio do bere de uma cabra, com os tecidos alveolares, a cisterna glandular e seus grandes ductos, cisterna da teta, e o canal da teta. (Fonte: STABENFELDT; DAVIDSON, 2004)

O canal do teto possui uma estrutura em sua extremidade que, quando fechada, evita qualquer comunicao entre o meio externo e o interior da glndula. Esta estrutura, popularmente chamada de esfncter, composta por tecido fibroso e elstico e no realmente um esfncter por definio, j que no possui um msculo de esfncter verdadeiro (HAENLEIN; CACCESE, 1992). Outro mecanismo de defesa da glndula contra microorganismos a roseta de Fuerstenberg, uma estrutura constituda de diversos desdobramentos recobertos por membranas mucosas, cada

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uma com dobraduras secundrias, que sob presso do leite da cisterna se fecha e evita a sada de leite e a entrada de microorganismos (HAENLEIN; CACCESE, 1992).

2.2 Importncia do Perodo Seco As principais vantagens com relao adoo de um perodo seco ao final da lactao esto diretamente ligadas sade da glndula mamria, produtividade e sade do animal, em geral, na lactao seguinte (DINGWELL et al., 2003). O perodo seco proporciona um descanso glndula mamria a fim de promover uma renovao das clulas secretrias de leite (CAPUCO et al., 1997). O tecido danificado ou as clulas senescentes so substitudos para que a glndula se prepare para uma nova lactao. Em bovinos j sabido da grande importncia desse perodo seco, sendo que a supresso desta fase de descanso da mama leva a uma reduo da produo leiteira na lactao seguinte (SWANSON, 1965). Em caprinos esse assunto ainda motivo de controvrsia, pois Fowler (1991) concluiu que a ausncia do perodo seco no resulta em diminuio da produo de secreo lctea na lactao subseqente. Entretanto, em pesquisa mais recente realizada por Salama (2005), verificou-se que cabras que no tiveram perodo seco apresentaram uma reduo de 16% na produo de leite e que cabras com 27 e 56 dias de perodo seco produziram, respectivamente, 15% e 4% mais leite na lactao subseqente. Ainda sobre as alteraes da secreo lctea relacionadas ao perodo seco, Salama (2005) relatou que cabras sem perodo seco tiveram filhotes com menor peso ao nascer e colostro com menor quantidade de IgG, slidos totais e protenas quando comparadas s cabras submetidas a um perodo seco. Segundo Capuco, Akers e Smith (1997), uma menor produo observada em vacas que no foram submetidas secagem da glndula mamria se deu em razo da menor produo de clulas secretrias no perodo seco, sendo que em estudos realizados por esse autor foi encontrada uma maior proliferao de clulas epiteliais mamrias em vacas com 60 dias de perodo seco quando comparadas a vacas sem perodo seco.

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2.3 Fisiologia da glndula mamria durante o perodo seco

A lactao tem incio logo aps o parto e alcana seu pico aps dois meses e meio em cabras plurparas e aps um ms e meio nas primparas (GARCS et al., 2004). O perodo de lactao em caprinos pode variar de 127 (JAITNER et al., 2006) a 316 dias (MACEDO et al., 2001). Aps o pico de lactao, a produo de leite diminui at que cesse por completo. Paralelamente ocorre um processo de regresso do tecido mamrio at o perodo de secagem, quando esse processo se acentua e uma intensa apoptose das clulas epiteliais mamrias e a reabsoro do leite presente na glndula ocorrem. Com isso se inicia uma substituio do tecido secretor por tecido conjuntivo, que passa a representar grande parte do tecido existente na glndula mamria durante o perodo seco (FRANDSON; WILKE; FAILS, 2005). Acredita-se que o Fator de Crescimento Semelhante Insulina-Tipo I (IGF-I) tenha um importante papel na sobrevivncia das clulas epiteliais mamrias. A ativao da IGF-I nos tecidos modulada pela produo local de protenas de ligao IGF, uma famlia de protenas que pode inibir ou intensificar a atividade da IGF. Durante o incio da involuo da glndula mamria de roedores e sunos, a protena de ligao de Fator de Crescimento Semelhante Insulina-Tipo 5 (IGFBP5) produzida pelo tecido mamrio tem relao com a inibio da sobrevivncia das clulas mediada por IGF, podendo ser este um dos mecanismos para incrementar a apoptose das clulas mamrias no perodo de secagem (HURLEY; FORD, 2003). O perodo seco tem incio cerca de 30 a 45 dias antes do parto e de fundamental importncia para a perfeita recuperao da glndula mamria para a prxima lactao. Boutinaud et al. (2003) relataram que, ao diminuir a freqncia de ordenha das cabras, os alvolos sofreram uma reduo de dimetro relacionada diminuio do nmero de clulas secretrias dos alvolos. O subseqente acmulo de leite na cisterna levou abertura das junes celulares e a um aumento da permeabilidade vascular. Tambm foi observado que a inflamao que ocorre numa das mamas pode acometer a mama contralateral aps trs dias. Ainda com relao ao nmero de ordenhas realizadas, Wilde (1987) constatou que glndulas que sofreram trs ordenhas dirias continham, ao final da lactao, maior

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nmero de clulas epiteliais do que mamas contralaterais ordenhadas duas vezes ao dia, mostrando que o nmero de clulas da glndula mamria sofre um controle local da freqncia da retirada do leite. Em conjunto com as mudanas estruturais da glndula mamria no perodo seco ocorrem diversas mudanas na secreo lctea. Mesmo durante a lactao, quando ocorre um acmulo da secreo lctea na glndula mamria, a taxa de secreo diminui e ocorrem mudanas na composio do leite (TURNER3, 1953 apud FLEET; PEAKER, 1978 p.491). Fleet e Peaker (1978) relataram que na cabra ocorre uma reduo de 57% na produo da secreo lctea logo no segundo dia aps a interrupo da ordenha e que no terceiro dia aps a interrupo a quantidade de leite secretado corresponde a apenas 22% do volume ordenhado antes da interrupo da ordenha. Esta reduo da produo de secreo lctea acompanhada de uma queda do aporte de oxignio, glicose e acetato para a glndula mamria, sendo que no terceiro dia aps a interrupo da ordenha pode ser observada uma reduo de 74% no aporte de glicose, 64% de acetato e 59% no consumo de oxignio. A partir do quarto dia sem ordenha, a reabsoro de leite se inicia e a taxa de secreo considerada nula. Ainda segundo Fleet e Peaker (1978), as mudanas nas caractersticas fsicoqumicas do leite s aparecem a partir do terceiro ou quarto dia, com um aumento do pH, da concentrao de protenas e de ons de sdio e cloro associados a uma diminuio dos teores de potssio, lactose e citrato, nesse mesmo perodo o volume do bere atinge o grau mximo de distenso. O bere retorna ao volume normal, equivalente ao volume da glndula vazia ps-ordenha, aps 30 dias sem ser ordenhado. Com base em seu estudo, Fleet e Peaker (1978) apontaram a distenso do bere aps a interrupo da ordenha como principal fator responsvel pela diminuio da secreo lctea. Segundo Henderson e Peaker (1983), a distenso fsica por si s no a responsvel pela inibio da secreo lctea nos caprinos, pois a infuso de soluo isosmtica de dissacardeo na cisterna da glndula mamria no determinou qualquer alterao na quantidade de leite produzido pela mama. Todavia, nessa mesma pesquisa, os autores observaram que a presena de leite na cisterna da1

TURNER, H. G. Dependence of residual milk in the udder of the cow upon total yield: its bearing upon supposed inhibition of secretion. Australian Journal of Agricultural Research, v. 4, p. 118-126, 1953.

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mama determinava diminuio da produo de leite. Baseados nessas observaes, os autores levantaram a hiptese de que o controle realizado por algum componente presente na secreo que tem sua ao desencadeada ou potencializada pela distenso da glndula mamria. Pesquisas realizadas por Wilde (1995) evidenciaram a presena de uma protena no soro lcteo de caprinos, denominada pelo autor de Feedback Inhibitor of Lactation (FIL), que teria a capacidade de reduzir a produo de secreo lctea, pois a introduo desta protena (FIL) na glndula mamria de uma cabra em lactao reduziria a produo de leite. Segundo Linzel e Peaker (1971), durante o perodo seco de cabras no gravdicas os ductos mamrios tornam-se permeveis lactose e ons, ao contrrio do que ocorre no perodo de lactao, quando os ductos so impermeveis passagem desses componentes do leite. Em seus estudos sobre secagem da glndula mamria em bovinos, Smith e Todhunter (1982) decidiram dividir o perodo seco em trs fases: involuo ativa, involuo constante e lactognese/colostrognese. Estudos dessa natureza ainda no foram realizados em caprinos, sendo que desta maneira sero detalhados os achados na espcie bovina. Recentemente, Birgel (2006) realizou estudo em vacas Holandesas com a finalidade de analisar as caractersticas fsico-qumicas e celulares do leite desses animais, assim como as alteraes sofridas pela glndula mamria aps a interrupo da ordenha e no decorrer do perodo seco. A pesquisadora observou que os valores de pH sofreram aumento abrupto do primeiro para o terceiro dia da secagem (6,76 para 7,08), seguido de aumento gradual, sendo que entre o dcimo e o quadragsimo quinto dias de secagem os valores tenderam e a se estabilizar. Os valores de eletrocondutividade do leite nas amostras colhidas entre a ltima ordenha e o terceiro dia de secagem aumentaram de 5,63mS/cm para 8,02mS/cm, respectivamente, e entre o terceiro e o dcimo dias de secagem foram observadas flutuaes nos valores mdios, que voltaram a aumentar aps o dcimo quinto dia. J os teores de cloretos sofreram um aumento abrupto, passando de 132,3331,51 para 242,2051,07mg/dl entre a ltima ordenha e o terceiro dia do processo de secagem, sofrendo variao somente a partir do dcimo quinto dia do incio do processo de secagem, quando estes voltaram a apresentar um leve aumento.

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Com ralao lactose, Birgel (2006) observou que entre a ltima ordenha e o quinto dia houve uma grande queda nos valores, de 4,23g/dl para 1,73g/dl, sendo que entre o quinto e o trigsimo dias os valores continuaram caindo, mas de forma gradual. J em relao quantidade de slidos totais durante o perodo seco de bovinos, foi observado pela autora que entre o primeiro e o stimo dias de secagem houve um aumento gradual dos valores (de 10,73g/dl para 16,35g/dl), sendo que no perodo compreendido entre o stimo e o dcimo dias houve estabilizao para ento ocorrer uma queda at o trigsimo dia (10,81g/dl). Houve aumento gradual nos teores de protena total em amostras colhidas entre o primeiro e o dcimo quinto dias (de 4,22g/dl para 8,95g/dl), sendo que aps o dcimo quinto dia os valores sofreram flutuaes sem que qualquer tendncia pudesse ser detectada. Houve uma significativa influncia do processo de secagem nos valores de gordura do leite. A partir do primeiro dia de secagem, que apresentou o valor mnimo dessa varivel (2,02g/dl), houve um gradual aumento at o stimo dia (7,97g/dl), quando ento houve uma estabilizao dos valores mdios at o dcimo dia, ocorrendo nova queda at o trigsimo dia (3,24g/dl). Tambm houve uma significativa influncia no nmero de clulas somticas do leite. Em amostras colhidas entre a ltima ordenha e o stimo dia de secagem houve um aumento abrupto de 649.450cls/ml para 4.898.850cls/ml, ocorrendo uma estabilizao at o dcimo quinto dia e um novo aumento at o trigsimo dia (6.486.900cls/ml).

2.3.1 Involuo Ativa

Segundo Hurley (2003), durante o processo de secagem da glndula mamria de bovinos ocorre, entre 3 e 7 dias aps a interrupo da ordenha, uma reduo substancial no volume de leite obtido da glndula mamria, sendo que o volume continua a diminuir durante as quatro semanas subseqentes. Com relao composio da secreo lctea, ocorre uma diminuio da concentrao de protenas, gordura e lactose durante as duas primeiras semanas de secagem, enquanto que a concentrao de fatores de proteo como lactoferrina e leuccitos aumenta durante o incio da involuo.

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Ainda sobre o processo de involuo da glndula mamria de bovinos, Hurley (2003) relata que alteraes histolgicas e ultraestruturais j ocorrem a partir de quarenta e oito horas aps a interrupo da ordenha, com formao de grandes vacolos de estase nas clulas epiteliais em decorrncia do acmulo de gordura nas clulas. Os vacolos persistem at a segunda semana de secagem e desaparecem completamente na quarta semana. O volume da luz alveolar diminui durante a involuo, enquanto que a rea de estroma aumenta. Em conformidade com esse experimento, Quarrie, Addey e Wilde (1996) relataram que aps vinte quatro horas de interrupo da retirada do leite da glndula mamria de camundongos j era possvel observar uma grande distenso dos alvolos. Porm, aps quarenta oito horas do incio da estase lctea, j havia sinais de diminuio da distenso, mas com sinais de desorganizao do epitlio secretor decorrentes da apoptose. Fowler (1991) relatou que o volume do parnquima do bere de cabras que pararam de ser ordenhadas passou de pouco mais de 0,616 litros por glndula para pouco menos que 0,365 litros por glndula em duas semanas, mostrando uma reduo de 44,44%. Um dos primeiros eventos que pode ser observado nessa fase de involuo ativa o aparecimento de lisossomos nas clulas epiteliais secretoras. Esses lisossomos so responsveis pela autofagocitose dos constituintes celulares durante a regresso mamria, enquanto que a heterofagocitose ser realizada por macrfagos que migraro para a mama durante a involuo ativa (SMITH; TODHUNTER, 1982). As protenas da secreo originrias do soro sanguneo esto normalmente presentes no soro lcteo, com a concentrao variando pouco nos primeiros dias da involuo. Entretanto, aps sete dias possvel observar um grande aumento da concentrao dessas protenas, refletindo, provavelmente, um aumento da permeabilidade da barreira das clulas secretrias passagem das protenas sricas. Porm, o aumento de protenas no chega aos nveis alcanados em processos inflamatrios, indicando que deva existir algum tipo de controle por parte da glndula mamria sobre a permeabilidade das junes celulares. Outra protena que tem grande aumento em sua concentrao a lactoferrina, que est ligada defesa da glndula mamria, pois um constituinte normal dos polimoformonucleados e possui grande capacidade de ligao ao ferro, competindo com as bactrias (SMITH; TODHUNTER, 1982).

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Em pesquisa realizada por Birgel (2006) com a finalidade de avaliar a influncia do processo de secagem na glndula mamria em fmeas bovinas da raa Holandesa foi constatado que a distenso da glndula aumentou consideravelmente nas primeiras vinte quatro horas aps a interrupo da ordenha, sendo que a freqncia de mamas distendidas (com contedo no bere e certa dificuldade de pregueamento da pele) passou de 2,7% no dia da ltima ordenha para 22,3% no primeiro dia de secagem. At o terceiro dia 20,5% das mamas ainda estavam distendidas. Porm, a partir desse momento, o processo de reabsoro j pde ser observado com maior clareza, sendo que no dcimo dia havia 2,3% de mamas distendidas e nenhuma aos trinta dias de secagem. Com relao distenso dos tetos, logo no dia da interrupo da ordenha havia 25% de tetos distendidos (com flutuao no seu interior, paredes tensas e brilhantes, preservando ainda as pregas de pele) e, aps vinte quatro horas, 9,15% dos tetos estavam extremamente distendidos (luzidios, com paredes tensas e lisas). No terceiro dia, 63,6% dos tetos estavam distendidos e a partir do stimo dia o percentual de tetos distendidos comeou a diminuir. Complementando as informaes do exame clnico do bere durante a secagem, Birgel (2006) relatou que no foi observado qualquer grau de edema na mama durante o perodo e que durante os trs primeiros dias esta caracterstica foi observada em 29,5% dos tetos, diminuindo a freqncia ao longo da secagem e cessando completamente no quadragsimo quinto dia.

2.3.2 Involuo constante

A existncia ou no de um perodo de involuo constante est diretamente relacionada com a durao do perodo seco. Em criaes que tendem a diminuir o perodo seco, a glndula pode ficar um perodo muito curto nesse estado de involuo total, sendo que muitas vezes a mama poder passar do estado de involuo ativa diretamente para a lactognese (SMITH; TODHUNTER, 1982). Durante essa fase de involuo constante, a quantidade de fludo presente na glndula fica extremamente reduzida e os principais constituintes do leite ficam limitados a uma concentrao mnima. As concentraes de imunoglobulinas e

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lactoferrina permanecem elevadas, porm menores que na involuo ativa. A freqncia de novas infeces nesse perodo extremamente baixa devido provavelmente grande concentrao de fatores antibacterianos e ao tampo de queratina presente na abertura do esfncter do teto, que evita a entrada de patgenos (SMITH; TODHUNTER, 1982).

2.3.3 Lactognese ou Colostrognese

Em contraste com a primeira fase, esse perodo caracterizado por um processo de reconstruo da glndula mamria, transformao mediada por hormnios. A principal funo da glndula mamria durante essa fase acumular colostro, secreo que possui grande concentrao de IgGs. Os constituintes principais do leite comeam a se acumular na secreo aproximadamente duas semanas antes do parto, com considervel aumento das concentraes de gordura, casena e lactose cerca de cinco dias antes do parto. A quantidade de fludo se acumula lentamente durante as duas semanas que antecedem o parto, com um considervel aumento cerca de 1 a 3 dias antes do nascimento, sendo que este acmulo est diretamente relacionado com o aumento de citrato na secreo. Neste perodo de duas semanas pr-parto tambm possvel observar a reduo dos nveis de lactoferrina. A concentrao mxima de imunoglobulinas ocorre cerca de 5 a 10 dias antes do parto e tende a cair com o aumento de fludo acumulado na mama (SMITH; TODHUNTER, 1982). Fleet et al. (1975) dividiram a colostrognese de caprinos em duas etapas: um primeiro estgio caracterizado pelo incio da produo de secreo lctea e um segundo caracterizado pela produo abundante de secreo, ocorrendo um pouco antes do parto. No final do perodo seco de fmeas da espcie caprina, a fase preparatria do parto caracterizada por uma distenso da mama e dos tetos, em decorrncia do acmulo de secreo lctea para formao do colostro. Segundo Prina (2007), em animais da raa Saanen at cerca de quatro dias antes do parto a glndula mamria se encontra no distendida ou moderadamente distendida, sendo possvel ainda

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preguear a pele. Sete dos dezoito animais observados apresentavam uma mama no distendida e os onze restantes apresentavam mamas moderadamente distendidas. A partir do quarto dia a proporo de animais com distenso moderada se elevou gradativamente at um dia e meio antes do parto, quanto j totalizavam dezesseis dos dezoito animais. A partir de vinte quatro horas antes do parto, dois dos dezoito animais tiveram a mama classificadas como distendida, ou seja, havia dificuldade de preguear a pele. Doze horas antes do parto o nmero de animais com mama distendida havia passado para seis e um animal j apresentava a mama extremamente distendida. No momento do parto, a metade dos animais apresentava mamas distendidas e dois animais possuiam mamas extremamente distendidas, mostrando que a maior parte da produo de colostro ocorreu cerca de trinta e seis horas antes do parto (em fase de elaborao) 2.

2.4 Caractersticas fsico-qumicas da secreo lctea

2.4.1 Concentrao hidrogeninica (pH)

Em 1909, Sren P. T. Srensen estabeleceu o pH, ou seja, o logaritmo negativo da concentrao de ons hidrognio como mtodo para expressar a acidez de uma soluo aquosa. Os valores de pH variam entre 0 e 14, sendo que a 25C o pH 7 considerado neutro, valores menores que 7 so prprios de solues cidas e maiores que 7 de solues bsicas. Os cidos so substncias que produzem, em soluo aquosa, ons hidrognio (H+) e, analogamente, bases produzem ons hidroxila (OH-). Os estudos da dissoluo de sais na gua e de seus componentes inicos resultaram na determinao do produto inico da gua (Kw=[H+][OH-]) por Friedrich Kohlrausch e Adolf Heydweiller, o que seria fundamental para a formulao do conceito de pH anos mais tarde (GAMA; AFONSO, 2007).2

PRINA, A. P. M. A fase preparatria do parto de cabras da raa Saanen. Manifestaes clnicas indicadoras da pario iminente e avaliao do perfil hormonal. 2007. 141 f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria) Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007.

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Segundo Birgel (2004), a secreo lctea apresenta uma reao anftera, ou seja, pode se comportar como cido ou base. Normalmente, a secreo lctea de caprinos levemente cida (PARK et al., 2006). Os principais fatores que determinam a acidez do leite so os grupos cidos das protenas, os citratos e os fosfatos livres (SCHALM; CARROLL; JAIN, 1971). Um fator que pode alterar essa acidez natural do leite seria a fermentao da lactose por bactrias mesfilas, acarretando uma acidificao do leite pela produo do cido ltico (BARROS; LEITO, 1992). Essa acidificao por bactrias um forte indicativo da falta de higiene ou conservao inadequada do leite, sendo estes fatores importantes que podem ocasionar perdas significativas na produo de leite caprino de qualidade para a indstria de leite e derivados. Durante o processo inflamatrio diversas mudanas ocorrem no tecido mamrio, desencadeando uma alterao na permeabilidade capilar e permitindo que ons bicarbonato passem para a secreo lctea, alcalinizando a secreo de glndulas mamrias com mamite, sendo que as variaes do pH sero proporcionais aos danos sofridos pelas estruturas celulares e vasculares do tecido mamrio (SCHALM; CARROLL; JAIN, 1971). Segundo Birgel (2004), a ao alcalinizante do bicarbonato na secreo pode at sobrepor a ao de bactrias lactolticas que causam a diminuio de pH. J foram realizados diversos trabalhos em relao aos valores de pH da secreo lctea de caprinos durante a lactao. Fernandes (2002) encontrou valores mdios de 6,58 do leite de animais da raa Saanen. Em pesquisa envolvendo diversos rebanhos caprinos, com maioria da raa Saanen, Prata et al. (1998) encontraram um valor mdio de 6,648. Em outras pesquisas envolvendo caprinos da raa Saanen, Torii et al. (2004) observaram valores mdios de pH para a secreo lctea em torno de 6,49, Chornobai3 (1998 apud TORII et al., 2004 p. 905) encontrou valores de pH no leite in natura em torno de 6,7 e Nunes (2002) encontrou um valor mdio de pH de 6,62. Morgan et al. (2003) analisou amostras de secreo lctea provenientes de diversos rebanhos caprinos de pases do mediterrneo e encontrou valores de pH entre 6,12 e 6,89.3

Chornobai, C. A. M. Avaliao fsico-qumica de leite in natura de cabras cruza Saanen, ao longo do perodo de lactao. 1998. 100 f. Dissertao (Mestrado), Universidade Estadual de Maring Maring. 1998.

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2.4.2 Eletrocondutividade

Eletrocondutividade a medida da resistncia de um material em particular a uma corrente eltrica, sendo que a resistncia eltrica de uma soluo eletroltica definida pela resistncia de um centmetro cbico da soluo. A condutibilidade medida em Siemens e calculada dividindo-se amperagem pela voltagem. A eletrocondutividade do leite determinada pela concentrao de nions e ctions, sendo que os mais importantes so o sdio (Na+), o potssio (K+) e o cloreto (Cl-). As clulas secretrias da glndula mamria utilizam transporte ativo para deslocar o sdio para o fludo extracelular e potssio para dentro das clulas, que so transportados passivamente das clulas secretrias para o leite. A relao Na:K de 3:1 no fludo extracelular e no sangue e de 1:3 no fludo intracelular e no leite. Os ductos mamrios parecem ser impermeveis a ons e a lactose, mantendo a concentrao de cloreto maior no sangue e no fludo extracelular do que no leite (NIELEN et al., 1992). Segundo Nielen et al. (1992), durante o processo inflamatrio as clulas secretoras sofrem danos e os ons de sdio e cloro do lquido extracelular extravasam para o lmen alveolar, enquanto que os ons de potssio vo para a secreo lctea, aumentando a eletrocondutividade sem que a presso osmtica seja alterada. Outro fator que pode alterar a eletrocondutividade da secreo lctea a porcentagem de gordura do leite, devido a sua caracterstica de no condutora eltrica e da barreira ao movimento dos ons que os glbulos de gordura representam (FERNANDO; RINDSIG; SPAHR, 1982). A literatura rara em relao aos valores de eletrocondutividade da secreo lctea de caprinos. Entretanto, Sharma e Roy (1977) estudaram a influncia da temperatura na eletrocondutividade do leite caprino e encontraram uma mdia de 6,979mS/cm a 30C. Fernandes (2002) encontrou valores de 6,55mS/cm durante a lactao para a raa Saanen e Park (1991), num estudo com caprinos da raa Alpina e Nubiana, encontrou valores mdios de eletrocondutividade da mistura da secreo lctea em torno de 6.948S/cm (6,948mS/cm).

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2.4.3 Cloretos

Nos processos inflamatrios que acometem a glndula mamria possvel constatar um aumento do aporte sanguneo que irriga o rgo que, associado ao aumento da permeabilidade dos capilares e destruio das junes celulares e bombas de transporte ativo de ons, acarreta um aumento da concentrao de cloretos na secreo lctea (AMARAL; NADER FILHO; LEW, 1988). Diversos trabalhos nacionais j foram realizados para estudar a concentrao de cloretos na secreo lctea de caprinos, assim como suas possveis alteraes. Tonin e Nader Filho (2002) relataram um aumento de cloretos no leite de caprinos da raa Saanen em diferentes estgios de lactao, encontrando valores entre 0,175g/100ml (175mg/dl) e 0,217g/100ml (217mg/dl). Em animais ordenhados duas vezes ao dia foi observado um aumento do teor mdio de cloretos do inicio para o meio da lactao 0,175g/100ml (175mg/dl) pela manh e 0,183g/100ml (183mg/dl) pela tarde e 0,211g/100ml (211mg/dl) pela manh e 0,217g/100ml (217mg/dl) pela tarde, respectivamente sendo que animais ordenhados uma vez ao dia apresentaram aumento do teor de cloretos de 0,179g/100ml (179mg/dl) no incio da lactao para 0,201g/100ml (201mg/dl) no final da lactao. Com relao raa Saanen, Fernandes (2002) encontrou valores de 46,62mmol/dl (146,8mg/dl). J Barros e Leito (1992), em cabras das raas Parda Alpina, Saanen e Toggenburg e cabras mestias, encontraram um teor mdio de cloretos de 0,20% (200mg/dl) para Saanen sadias e 0,19% (190mg/dl) para o leite misturado dos quatro tipos de cabras, enquanto que as cabras mestias (Parda Alpina e Saanen) registram 0,24% (240mg/dl) quando estavam sadias e valores mdios significativamente maiores de 0,34% (340mg/dl) de cloretos aps serem inoculadas com Staphyloccocus aureus. Akinsoyinu e Akinnyele (1979), ao estudarem cabras Ans do Oeste Africano entre a segunda e dcima nona semana de lactao, encontraram um valor mdio de cloretos de 2,46g/l (246mg/dl). Prata et al. (1998) encontraram uma mdia de teores de cloreto de 0,172g% (172mg/dl) quando estudaram rebanhos caprinos de diversas raas em lactao. Upadhyaya e Rao (1993) estudou cabras de aptido leiteira da raa Ganjam entre 2 e 4 anos de idade e encontrou valores mdios de cloretos que variaram entre

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0,103% (103mg/dl) e 0,137% (137mg/dl). As amostras foram separadas pelos resultados do CMT: negativo, traos, uma cruz, duas cruzes, e trs cruzes e foram, respectivamente, 0,103% (103mg/dl), 0,103% (103mg/dl), 0,120% (120mg/dl), 0,129% (129mg/dl) e 0,137% (137mg/dl).

2.4.4 Lactose

A lactose, composto de glicose e galactose, o principal carboidrato do leite e sua sntese ocorre nas clulas secretrias de leite. encontrada quase que exclusivamente na glndula mamria e no leite, sendo que durante a lactao pequenas concentraes podem ser observadas no plasma sangneo. Este carboidrato tem fundamental importncia no equilbrio hidrosttico do leite, pois responsvel por aproximadamente 50% da presso osmtica total da secreo lctea, causando um fluxo de gua das clulas e do tecido intersticial para o leite. Durante a lactao o leite isosmtico ao sangue. Segundo Fernandes (2002), a concentrao de lactose tende a diminuir na ocorrncia de certas infeces da mama devido ao consumo pelas bactrias fermentadoras de lactose, sendo este um bom parmetro para verificar a sade da glndula mamria. Muitos estudos j foram conduzidos com a finalidade de determinar a concentrao de lactose na secreo lctea caprina. Fernandes (2002) encontrou valores mdios de 4,30g/dl para a raa Saanen. Prata et al. (1998) encontraram uma mdia de 4,35% (4,35g/dl) de lactose na secreo lctea de rebanhos predominantemente Saanen com diferentes manejos e dietas. Torii et al. (2004) estudou diferentes tipos de volumosos na alimentao de cabras Saanen e encontrou um valor mdio de lactose na secreo lctea de 4,28% (4,28g/dl). Ainda com relao aos estudos realizados com cabras da raa Saanen, Gomes (2004) encontrou um valor mdio de 4,33g/dl durante uma lactao de oito meses. Os valores mdios apresentaram uma queda durante o perodo estudado, chegando ao seu valor mnimo no stimo ms (4,22g/dl) e mximo no primeiro ms (4,67g/dl).

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Leitner, Merin e Silanikove (2004), ao estudarem a secreo lctea de cabras israelenses, detectaram uma diferena significante entre os valores de lactose da secreo lctea sem isolamento bacteriano 47,0g/l (4,7 g/dl) e com isolamento bacteriano 41,7g/l (4,17g/dl). Morgan et al. (2003) analisaram amostras de secreo lctea provenientes de diversos rebanhos caprinos de pases do mediterrneo e encontraram valores de lactose entre 32,9g/kg (3,29g/dl) e 48,0g/kg (4,8 g/dl). Upadhyaya e Rao (1993) estudaram cabras de aptido leiteira da raa Ganjam entre 2 e 4 anos de idade e encontraram valores mdios de lactose que variaram entre 3,98% (3,98g/dl) e 4,73% (4,73g/dl). As amostras foram separadas pelos resultados do CMT, negativo, traos, uma cruz, duas cruzes, e trs cruzes e foram, respectivamente, 4,73% (4,73g/dl), 4,52% (4,52g/dl), 4,23% (4,23g/dl), 3,99% (3,99g/dl) e 3,98% (3,98g/dl).

2.4.5 Slidos Totais

Como slidos totais (ST) ou extrato seco total (EST) entende-se a frao do leite formada pelas protenas, lipdeos, carboidratos, minerais e vitaminas. A quantidade de slidos totais est diretamente relacionada como rendimento da produo de derivados do leite como o queijo, por exemplo. Sabe-se que a diminuio de 0,5% de slidos totais pode significar perda de at cinco toneladas de leite em p para cada milho de litros de leite processados (FONSECA; SANTOS, 2000). Muitos estudos foram realizados com a finalidade de determinar o valor mdio de slidos totais presentes na secreo lctea de caprinos. Prata et al. (1998), estudando animais da raa Saanen, encontraram um valor mdio de 11,51% (11,51 g/dl), ao passo que Gomes (2004), ao estudar cabras durante os primeiros 8 meses de lactao, encontrou valores mdios de 12,70g/dl. A quantidade de slidos totais teve valor mximo no primeiro ms (13,09g/dl) e caiu durante o perodo analisado, sendo que o menor valor encontrado foi 11,61g/dl no stimo ms (GOMES, 2004). Silva et al. (2006) estudaram animais submetidos a diferentes tipos de concentrados e encontraram um valor mdio de 10,85% (10,85g/dl).

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Ainda a respeito da raa Saanen, Chornobai4 (1998 apud TORII et al. 2004 p.905) encontrou valores de slidos totais no leite in natura em torno de 12,4% (12,4g/dl), enquanto que Nunes (2002) e Torii et al. (2004) encontraram valores mdios iguais a 11,07% (11,07g/dl) e 10,13% (10,13 g/dl), respectivamente. Salama (2005) encontrou valores iguais a 13,6% (13,6g/dl) e 12,9% (12,9 g/dl) para caprinos ordenhados uma e duas vezes ao dia, respectivamente. Morgan et al. (2003), ao analisarem amostras de secreo lctea provenientes de diversos rebanhos caprinos de pases do mediterrneo, encontraram valores de slidos totais entre 10,4g/kg (10,4g/dl) e 14,8g/kg (14,8g/dl).

2.4.6 Protena

O leite caprino contm, basicamente cinco protenas, a saber: K-casena, caseina, s-2 casena, -lactoglobulina e -lactoalbumina. As casenas constituem a maior parte das protenas. Estas fraes proticas so insolveis em pH menor que 4,6 e so conhecidas como protena bruta. J as lactoglobulinas, lactoalbuminas, albuminas advindas do soro sanguneo e imunoglobulinas so solveis em pH menor que 4,6 e so conhecidas como protenas do soro lcteo. (REECE, 1997). Segundo Le Mens5 (1985 apud FERNANDES 2002 p. 11), quando comparamos os leites caprino e bovino notamos que o primeiro contm um teor menor de s-casena (21,2% contra 40,0% do bovino) e uma maior quantidade de casena (67,4% contra 43,3% do bovino). O tamanho das micelas de casena tambm difere entre as duas espcies, sendo 50nm no leite caprino e 75nm no bovino (LE JAOUEN6, 1981 apud FERNANDES, 2002 p. 14).

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Chornobai, C. A. M. Avaliao fsico-qumica de leite in natura de cabras cruza Saanen, ao longo do perodo de lactao. 1998. 100 f. Dissertao (Mestrado), Universidade Estadual de Maring Maring. 1998 LE MENS, P. Proprits physico-chimiques nutritionelles et chimiques. In: LUQUET, F. M. Lait et produits laitiers. Paris, tec. Doc. Lavoisier, 1985, v. 1, pat. 3, cap. 1, p. 349-368 LE JAOUEN, J. C. Milking and the technology of milk and milk products. In: GALL, C. (Ed.). Goat production. London: Academic Press, 1981. p. 345-377.

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Ao analisar caractersticas fsico-qumicas da secreo lctea de cabras da raa Saanen, Fernandes (2002) encontrou valores de 3,08g/dl. Segundo a autora, esse fator muito mais influenciado pela gentica do animal (raa) do que pela sade da glndula mamria, no sendo um bom indicador da sade do bere. Prata et al. (1998) encontraram 3,27% (3,27g/dl) de protena bruta no leite de caprinos predominantemente da raa Saanen submetidos a diferentes manejos e dietas. J Gomes (2004), ao estudar cabras durante os primeiros 8 meses de lactao, encontrou valores mdios de 2,83g/dl, sendo que o menor e o maior valores encontrados foram 2,55g/dl e 2,97g/dl, respectivamente. Torii et al. (2004) anotaram um valor mdio de protena na secreo lctea de cabras da raa Saanen em torno de 2,84% (2,84g/dl). Silva (2006), tambm em animais da raa Saanen, porm submetidos a diferentes tipos de concentrados, obteve um valor mdio de 3,17% (3,17g/dl) de protena no leite. Park e Humphrey (1986) encontraram uma mdia de 3,42% (3,42g/dl) de protena na secreo lctea de cabras das raas Alpina e Nubiana. Entretanto, num estudo posterior, Park (1991) encontrou na mistura da secreo lctea das duas raas (Alpina e Nubiana) valores mdios em torno de 3,51% (3,51g/dl) de protena. J Benedet (1996), ao estudar caprinos em Santa Catarina, obteve um valor mdio de protena do leite menor, 3,28% (3,28g/dl). Leitner (2004), ao estudar cabras israelenses, encontrou um valor de 34,2g/l (3,42g/dl) de protena na secreo lctea de mamas sadias, valores que tendiam a uma diferena significativa do valor encontrado em mamas infectadas (35,0g/l ou 3,5g/dl). J Salama (2005) encontrou valores de protenas na secreo lctea de 3,28% (3,28g/dl) e 3,20% (3,2g/dl) para caprinos ordenhados uma e duas vezes ao dia, respectivamente.

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2.4.7 Gordura

A gordura do leite constituda principalmente por triglicrides, porm pequenas fraes de fosfolpides, colesteris, cidos graxos livres, monoglicerdios e vitaminas lipossolveis tambm podem ser encontradas. A sntese da gordura do leite de ruminantes originria, principalmente, de cidos graxos formados no rmen, tais como o cido actico e butrico, e portanto diretamente influenciado pela dieta do animal (REECE, 1997). Animais que recebem altas quantidades de concentrado tendem a apresentar uma menor quantidade de gordura no leite devido menor produo de cido actico e maior produo de cido propinico (CALDERON, 1984) A constituio da gordura do leite caprino difere significativamente da gordura do leite bovino, sendo muito mais rico em cidos butrico, caprico, caprlico, cprico, lurico, mirstico, palmtico e linolico. Porm, possui menores teores de cidos esterico e olico. Trs das cadeias mdias de triglicerdeos (caprico, caprlico e cprico) tm nome relacionado com a espcie caprina, devido a sua predominncia no leite desses animais (JENNES, 1980). Segundo Tzibola-Clarice (2003), essa diferena deve-se, principalmente, a diferena existente entre a polimerizao do cido actico no rmen caprino e bovino. O cido cprico, caprlico e outras cadeias mdias de triglicerdeos tornaramse tratamentos mdicos rotineiros para sndromes de m-absoro, esteatorria, hiperlipoproteinemia, resseco intestinal, m nutrio infantil, epilepsia, fibrose cstica e cirurgia de ponte de safena devido a seu metabolismo nico que provm energia direta, ao invs de ser depositada como tecido adiposo. Uma das particularidades dos cidos graxos do leite caprino seu papel na determinao do sabor de cabra da secreo lctea em decorrncia da liberao de cidos graxos de cadeia mdia ramificada ou da rancidez do leite devido a grandes concentraes do cido butrico. Os lipdeos esto relacionados tambm com a produo, consistncia, colorao e sabor do queijo produzido. (CHILLIARD, 2003) Segundo Fernandes (2002), o teor de gordura da secreo lctea de cabras Saanen 3,30g/dl e tende a aumentar de acordo com o nmero de lactaes e com o decorrer da mesma. Prata et al. (1998) tambm estudaram cabras Saanen e

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encontraram uma mdia de 3,74% (3,74g/dl) de gordura na secreo lctea. J Guimares et al. (1989), estudando cabras das raas Saanen, Parda e Toggenburgen e utilizando amostras provenientes de animais em sua primeira lactao, anotaram um valor mdio de 2,85% (2,85g/dl). Porm, quando considerado apenas o final da lactao desses animais, o valor mdio foi de 2,04% (2,04g/dl). Utilizando animais em diferentes estgios de lactao, a mdia encontrada para o perodo de lactao foi de 2,86% (2,86g/dl) e 2,98% (2,98g/dl) para a fase final. Em outro estudo com cabras da raa Saanen, conduzido por Barros e Leito (1992), foi encontrado um valor mdio de 3,5% (3,5g/dl). O teor mdio de gordura do leite de cabras da raa Saanen obtido por Gomes (2004) variou entre 3,25 e 5,39g/dl no sexto e quarto ms, respectivamente, sendo que o teor mdio durante toda a lactao foi de 4,10g/dl. Damasceno et al. (1997) estudaram a influncia de diferentes nveis de concentrados na dieta nos teores de gordura do leite de cabras com variados graus de sangue da raa Saanen e encontraram um valor mdio de 3,5% (3,5g/dl) durante a lactao, enquanto que Chornobai7 (1998 apud Torii et al. 2004) e Nunes (2002) encontraram valores de gordura no leite in natura de cabras Saanen em torno de 3,81% (3,81g/dl) e de 2,74% (2,74g/dl), respectivamente. Silva (2006), estudando animais da raa Saanen submetidos a diferentes tipos de concentrados, obteve um valor mdio de 2,89% (2,89g/dl) de gordura no leite. Park e Humphrey (1986), em rebanhos de caprinos das raas Nubianas e Alpinas, encontraram uma mdia de 4,47% (4,47g/dl) de gordura no leite. J em outro estudo com as mesmas raas, porm no meio da lactao, Park (1991) encontrou valores mdios de gordura na mistura da secreo lctea das duas raas em torno de 3,94% (3,94g/dl). Leitner (2004), em cabras israelenses, anotou valores mdios de gordura na secreo lctea de mamas no infectadas iguais a 38,9 g/l (3,89g/dl), valor que no diferiu de maneira significativa do encontrado em mamas infectadas (38,8g/l ou 3,88g/dl). Boutinaud et al. (2003), ao estudarem a influncia do nmero de ordenhas dirias na composio do leite e na glndula mamria de cabras Saanen sadias,7

Chornobai, C. A. M. Avaliao fsico-qumica de leite in natura de cabras cruza Saanen, ao longo do perodo de lactao. 1998. 100 f. Dissertao (Mestrado), Universidade Estadual de Maring Maring. 1998

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encontrou valores mdios de 31,00,7g/kg (3,100,7g/dl) para a gordura no leite. J Benedet (1996), estudando caprinos do estado de Santa Catarina, obteve um valor mdio de gordura do leite de 3,34% (3,34g/dl). Morgan (2003) analisou amostras de secreo lctea provenientes de diversos rebanhos caprinos de pases do mediterrneo e encontrou valores de gordura entre 29,0 e 60,3g/Kg (2,90 e 6,03g/dl).

2.5 Caractersticas celulares da secreo lctea

A primeira linha de defesa contra as infeces da glndula mamria o canal do teto, sendo que durante o perodo seco possvel observar a formao de um tampo de queratina no canal do teto. Na realidade, esse tampo se forma aps um perodo de 24 a 60 horas sem ordenha (NICKERSON, 2003) e serve como uma barreira contra a entrada de bactrias no bere. Porm, a ocluso total do orifcio do teto s ocorre de duas a trs semanas aps a interrupo da ordenha. As bactrias que passarem por essa barreira e chegarem cisterna do teto enfrentaro a segunda linha de defesa da glndula mamria, constituda pelos leuccitos fagocitrios. Os neutrfilos constituem a maior parte das clulas somticas do leite de cabra sem infeco intramamria (50 a 70%). J nos bovinos, os neutrfilos repres