cisterna, uma revolução silenciosa
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Bahia
Ano 6|nº 930|Outubro|2012Tanque Novo - Bahia
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
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O Semiárido brasileiro, também conhecido como sertão é uma
área geográfica onde as chuvas são bastante irregulares e o
solo é raso. Essas características acarretam longos períodos
de seca, o que deixa a população com restrição à água para o
consumo humano e insegurança alimentar.
Com 50 famílias, Lagoa Redonda localiza - se na comunidade
Manoel Correia, onde moram dentre outras pessoas o Juraci e
dona Luzia Gomes, com cinco filhos, sendo que dois deles
migraram e foram trabalhar em São Paulo.
“
sofrimento seria maior tanto pra gente como para os animais e plantas”, afirma seu Juraci. Lembro que antes,
a água que era usada para todos os fins era derivada de tanque, era aberto, recebia sujeira de todos os tipos.
Essas caixas são uma benção! Comenta dona Luzia.
Chuva boa mesmo, de encher de esperança os olhos do sertanejo, não houve. O casal, porém, nem sequer
pensa em deixar a varandinha de sua casa, da qual costuma discorrer sobre os sabores dos frutos plantados
a poucos metros dali. “Este sertão mudou muito, meu senhor. Para melhor”.
Parte dos alimentos consumidos pela família é produzida no
quintal. Bananas, mamão, caju e manga, além de raízes. Dos
canteiros para a mesa vão cenouras, beterrabas, abóboras e
uma variedade de temperos, pois, “nunca mais comprei na
feira esse tipo de alimentos e verduras. O suco é daqui
mesmo, de maracujá, plantado no quintal, até ajuda para
controlar pressão alta” ressalta dona Luzia.
Apesar da má distribuição temporal das chuvas, as
precipitações anuais são suficientes para desenvolver
atividades produtivas de pequenas hortaliças e frutas.
Dos encontros e capacitações
Dona Luzia reconhece a importância da participação. “Eu não perco essas coisas por que são importantes.
Nos cursos que participei aprendi como fazer remédios de plantas medicinais e até o manejo de pragas, feito
a partir de produtos encontrados aqui mesmo na propriedade”. São práticas que a família aprendeu em
intercâmbios.
A última chuva foi antes da quaresma, em março. Com essa estiagem, se não fosse essas caixas, o
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Programa Cisternas
Juraci, diante da família relata que incorporou, além dessas, outra mudança:
abandonou a prática da queimada. “Hoje, depois dos encontros a gente aqui na
propriedade não queima mais o roçado. Procuramos preservar a natureza.
Assim, como nós, há outras vidas no roçado”.
A Articulação do Semiárido dá importância para promoção e mobilização social
com foco na cidadania onde os sujeitos assumem o protagonismo na defesa de
uma política alternativa de desenvolvimento para a região, contrapondo-se a velhas e decadentes
oligarquias e forças opostas a liberdade do povo do sertão.
“Depois das caixas, muitas pessoas deixaram de ir para São Paulo à procura de
trabalho e emprego, por conta das capacitações para a construção das
cisternas. Tem gerado alguns empregos, as pessoas recebem capacitação e por
aqui vão ficando, Diz dona Luiza com adesão de seu Juracy ao pensamento
dela. “Ir num movimento desse, ajuda a gente buscar as melhorias para a
comunidade, ajuda a pessoa permanecer no lugar”.
Das capacitações a família aprendeu a fazer e valorizar os produtos como doces e geleias, destacando o
fruto do umbuzeiro, principal fruta da região. Depois disso, tem sido comum mandar para os parentes que
moram em São Paulo, uma boa quantidade de doces e geleias, para que os mesmo possam matar um pouco
da saudade e não perder o gosto pela terra natal, disse dona Luiza.
Com bom humor e alegria garante que nesta época, com a ausência de chuvas, a peleja é grande para
alimentar o gado. São mais de seis meses sem cair uma gota de água na terra. A roça de mandioca tem
servido para alimentar o gado; Com as altas temperaturas e sem as chuvas a mandioca perde a qualidade
para o consumo humano e serve para alimentação dos animais.
Outra prática que a família preserva é a guarda de sementes da última lavoura. Guardamos em garrafas e
tambores as sementes de feijão e milho.
Eles destacam que na comunidade todas as famílias estão cadastradas nos programas do governo federal, a
exemplo da bolsa família e bolsa escola. Todos tem acesso à luz elétrica. Os filhos frequentam diariamente a
escola localizada a seis Km da comunidade.
Experiência de vida e conhecimento popular.
Apesar dos efeitos da estiagem, a esperança é sempre uma marca e faz parte da personalidade de quem vive
no sertão. Sr Juraci conhecedor do ambiente em que vive, comenta que a constante presença de besouros e
outros insetos no interior da casa, a exemplo de formigas de asa e o vento norte rasteiro no terreiro, além das
floradas do umbuzeiro, são sinais de esperança que a chuva não vai demorar cair no sertão.
Nesse cenário as ações da Articulação do Semiárido, em conjunto com os moradores, aplicando ao máximo
o potencial local, resguarda uma cultura própria junto aos agricultores e agricultoras, que a seu modo,
enfrentam as adversidades com sabedoria.