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Enviado por Carlos Alberto Teixeira - 20.04.2012 | 18h38m

A batalha iOS versus Android

Mundialmente, os smartphones caíram no gosto geral e a tendência é que em breve setornem mais e mais baratos, chegando ao preço dos celulares convencionais. Nesseponto, sua penetração no mercado irá literalmente explodir.

Pelo menos por enquanto, o mercado dos smarts está bem polarizado entre os iPhones,que rodam o iOS, sistema operacional móvel da Apple, e a ampla variedade desmartphones rodando Android, o sistema da Google. Segundo a Flurry, empresa quecoleta e trata “big data” (grandes massas de dados) sobre o mercado de telefoniainteligente, até o final do ano, a soma de smartphones ativados rodando iOS e Androidpassará do 1 bilhão de aparelhos.

O iPhone entrou primeiro em cena, em 2007. Mas o Android, mesmo chegando depois,acabou ultrapassando o antigo campeão iOS. Desde 2010, que foi o ano em que osistema da Google superou o da Apple em número de aparelhos vendidos, o Android sófez ganhar terreno. O motivo principal para esse avanço é o fato de existirem dezenasde fabricantes e centenas modelos de smartphones Android e apenas a Apple comofabricante dos cinco modelos de iPhone no mercado. Esse aumento na penetração doAndroid vem sendo intensificado graças às vendas de smartphones mais baratos defabricantes chineses e indianos usando o sistema da Google.

Analistas do mercado preveem que até o final do ano, terão sido vendidos 310,09milhões de smartphones Android, contra 118,89 milhões de iPhones. Mas a Apple,apesar de seu iPhone não ser o mais numeroso em uso, continua registrando expressivocrescimento. O quarto trimestre fiscal de 2011 da empresa fechou com a venda de 17,07

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milhões de iPhones no mundo inteiro, número que subiu para 37,04 milhões deaparelhos no primeiro trimestre fiscal de 2012 — um aumento de quase 117%.

Mercado brasileiro

Aqui no Brasil, tal como na maioria dos outros países, sãoos smartphones Android os que mais crescem em termos devolume de vendas e atratividade para o consumidor,basicamente pelo fato de estarem presentes em aparelhosmais baratos.

— Hoje o Android já é líder lá fora e também aqui no país —relata Roberto Guenzburger, diretor de produtos emobilidade da Oi, que oferece três modelos do iPhone emais de 15 modelos de smarts Android.. — O iPhone é mais

para usuários premium. Entre os clientes classe A, ele é matador. Enquanto o Androidtem mais apelo para os clientes geeks, que são os usuários mais tecnológicos, o iPhoneé o preferido dos mais idosos e endinheirados, e dos jovens não tão ligados em bits ebytes, mas mais interessados em tendências, estilo e status.

Guenzburger observa que os usuários de iPhone têm um comportamento mais tribal,eles se identificam entre si, especialmente os mais applemaníacos. Usuários Androidsão um pouco menos gregários. Porém, como em qualquer “religião”, quando o dogma éameaçado, os seguidores se sentem ameaçados.

— O Samsung Galaxy Notes, por exemplo, causou forte reação entre os adeptos doiPhone, em especial pela sua tela muito grande. Resultado: a turma do iOS detona oNote, eles ficaram bem incomodados — relata.

Há divergências, porém. Segundo HiltonMendes, diretor de terminais da Vivo (queoferece dois modelos de iPhone e mais de 50de Androids), a rivalidade entre os usuáriosdos dois sistemas não é generalizada.

— É uma disputa que envolve uma pequenaparcela do universo de usuários de lado alado. Só os mais ferrenhos e os “earlyadopters” (os que adotam uma plataformalogo que ela é lançada) nutrem essesentimento de rivalidade mais acirrado —pondera Mendes.

Instagram

Um dos mais emblemáticos exemplos da rixa entre a fauna do iOS e a do Android sedeu com o app Instagram, que tira fotos quadradas e permite nelas aplicar efeitosvisuais. Lançado em 2010 exclusivamente para iPhone, tornou-se um dos mais baixadosna App Store, chegando a formar numerosa comunidade de apaixonados usuários.Quando foi lançada a versão para Android, no início deste mês, os usuários do iPhonesubiram nas tamancas, esbravejando que o aplicativo se vulgarizaria, e, comoconsequência, baixaria drasticamente o nível das fotos subidas para o repositório deimagens.

— Eu seguia no Twitter uma guriasuperinteligente e perspicaz. Poisimagine que, no dia em quelançaram o Instagram paraAndroid, a mulher me posta notwitter : “Se você tem iPhone e nãogostou do Instagram pra Android,enfia seu celular no [lá], tira umafoto sem flash e poste seu luto”.Levei um susto. Não sabia se ria,se tinha pena de um ser tãorecalcado, ou se tirava mesmo afoto e mandava para ela — conta aarquiteta carioca Sheila Imbroinise,de 50 anos.


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Rivalidade no casal

Gostar do iOS ou do Android acabou se tornando quase como pertencer a uma seita outorcer para um time de futebol. Pipocam rivalidades e eclodem disputas, com cada ladoquerendo provar que seu sistema é melhor que o do “oponente”. Até casais se veemdivididos quando o assunto é smartphone.

— Devo dizer que minha alma estávendida ao Steve Jobs, que Deuso tenha. Tenho iPhone desde asegunda geração dessa maravilha.E não consigo me imaginar sem aApple, sem o iOS 5 e sem o iCloud— diz a carioca Luciana Rivoli, 38anos, especialista em marketingdigital. — Mas resolvi dar ao meunamorado um segundo aparelho,pois ele tinha um iPhonecorporativo cheio de restrições.Presenteei-o com um SamsungGalaxy S II e, para minha surpresa,ele se apaixonou pelo Android. Noinício tive até boa vontade com osistema, mas, verdade seja dita,aquele troço é um lixo! O Android éo jiló dos sistemas operacionaismóveis.

Origens da disputa

Vale lembrar que, na arena técnica, a competição entre os dois sistemas não remonta àsorigens do Android, cuja primeira versão comercial foi lançada em setembro de 2008, 15meses depois do lançamento do iPhone. A batalha começou bem depois.

Para reforçar sua preferência pelo iOS, Cássio Gondim, coordenador de TI do TecGraf,da PUC-Rio, macmaníaco confesso e ferrenho adepto do sistema operacional móvel daApple, sugere alguns links que, segundo ele, mostram que os tempos são outros, que apercepção do público mudou bastante nestes últimos anos e que o iOS não parecefadado a um nicho:

(1) Qual plataforma osdesenvolvedores preferem?<http://bit.ly/dm_chitika>Obviamente a que tem o maiornúmero de pessoas efetivamenteusando a internet e gastandodinheiro on-line. Não é o caso doAndroid, que tem sim o maiornúmero de usuários, mas na suamaioria do tipo que não quer gastarum centavo na web; (2) O iOS é aúnica plataforma que respeita aspessoas com dificuldades e queprecisam de cuidados especiais,gente como Stevie Wonder<http://bit.ly/dm_wonder> e AustinSeraphin <http://bit.ly/dm_seraphim>, um blogueirodesconhecido; e (3) A linha deprodutos que rodam iOS é bastante“limpa” e reduzida, mantendocompatibilidade de hardware esoftware durante anos. Porexemplo, o 3GS, um telefone de

2009, ainda é vendido e roda o iOS 5. Ou seja, os produtos permanecem valorizados eúteis, o que mostra um respeito grande com o consumidor.

— Hoje, Apple e Google estão competindo na arena da mobilidade, mas, de certo modo, começaram como parceiras. Tanto que Eric Schmidt, que foi CEO da Google de 2001 a2011, sendo hoje chairman executivo da empresa, foi eleito para o conselho diretor da


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Apple em 2006, permanecendo lá por quase três anos — lembra Gondim. — Enquantobuscava seu rumo, o Android começou a correr atrás do Blackberry, líder do mercado naépoca. Só passou a perseguir o iOS quando a Google viu o avanço que o iPhonerepresentava.

No entanto, como frequentemente acontece na indústria de tecnologia, muitas vezesquem copia acaba depois sendo copiado.

— Se num dado momento oAndroid correu atrás do iOS emtermos de sofisticação e requinteno layout e na interface, hoje já sevê o contrário. Algunsmelhoramentos como telaroll-down para notificações,tethering (deixar outros aparelhosusarem a conexão internet dosmartphone) e uso de certificadosdigitais, que já eram comuns noAndroid, só recentemente foramlançadas no iPhone — explicaMarkus Endler, “androidófilo” decoração e coordenador do LAC

(Laboratory for Advanced Collaboration) da PUC-Rio.

Ele destaca que outro ponto forte do Android, por ser uma derivação do sistemaoperacional Linux, é o seu processamento multitarefa.

— Cumpre ressaltar que o fato do Android ser uma plataforma aberta abre o caminhopara as massas. Por exemplo, enquanto o SDK (kit de desenvolvimento de software) doiOS é pago, o do Android é gratuito e tem versões para Windows, Linux e até para Mac— diz Endler. — Mas a Microsoft está correndo por fora e pode se tornar um playerimportante. Todavia, o Windows Phone só tem alguma chance real de sucesso seoferecer uma integração suave com o ambiente do Office, a que muita gente já estáacostumada. Caso contrário, terá poucas possibilidades de entrar significativa na batalhados smartphones.

Outro ponto a favor do Android, segundo o especialista, é que quando um usuáriocompra um aplicativo pago no Google Play, ele tem 15 minutos para se descobririnsatisfeito e solicitar reembolso integral do que pagou, sem precisar dar qualquerjustificativa. Já na App Store, obter um reembolso por um app que não agradou envolvemuita burocracia e raras vezes se obtém sucesso.

Mas o Google Play tem a aparente desvantagem de ser um ambiente aberto, o que àsvezes assusta o usuário que fica com medo de baixar algum aplicativo perigoso por nãoter sido homologado.

— Nesse caso, é recomendável, antes de baixar qualquer app Android, que se leia oscomentários dos outros usuários que testaram antes o programa. E depois, dependendodo feedback geral, decidir se vale ou não a pena instalar o app, seja ele gratuito ou pago— adverte Endler.

Endler lembra um trecho da biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson:“Lutarei até meu último suspiro, gastarei até o último centavo dos U$ 40 bilhões que aApple tem no banco para consertar isso. Vou destruir o Android porque é um produtoroubado. Se preciso irei até a guerra termonuclear para isso. Eles estão morrendo demedo porque sabem que são culpados”.

O especialista recomenda um artigo (em inglês) <http://bit.ly/dm_masnick> que comentaessa afirmação de Jobs e faz considerações gerais sobre inovação, e que afirma — comrazão — que Steve Jobs não podia acusar a Google de ter copiado ideias da Apple, jáque a própria Apple, no passado, também se “inspirou” em várias ideias inovadoras (doslaboratórios de pesquisa da Xerox) para criar o mouse o sistema de janelas.

Endler recomenda três sites que discutem as diferenças entre Android, iOS e WindowsPhone: (1) uma página <http://bit.ly/dm_shanklin> que compara as três plataformas sobvários aspectos e apresenta números e features; (2) um site <http://bit.ly/dm_epstein>que demonstra que o navegador do Android é mais rápido que o Safari, do iOS; e (3)uma matéria <http://bit.ly/dm_ionescu> (de 2010) que compara as três plataformas.


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Aplicativos

Um dos campos de batalha na guerra entre os dois sistemas é o setor dos aplicativosmóveis, com a Apple liderando na quantidade de títulos disponíveis. Sua App Storechegou aos 550 mil apps em 2012, contra 400 mil da Google Play, novo nome da loja deapps Android Market. No número total de aplicativos baixados, a App Store ultrapassouos 10 bilhões de downloads em janeiro de 2011, enquanto o Google Play superou amarca só em dezembro do mesmo ano.

Na batalha dos aplicativos, osistema que mais encantar osdesenvolvedores terá fortevantagem.

— A plataforma iOS é maismadura, com um modelo denegócio bem conhecido eexperimentado. No entanto onúmero de aplicações paraAndroid tem crescido emvelocidade maior que os novosaplicativos para iOS. Ou seja, atecnologia Android tem ganhadoforça e o número dedesenvolvedores tem crescido —diz Gustavo Robichez de Carvalho,gerente de tecnologia do

Laboratório de Engenharia de Software da PUC-Rio.

Tráfego

Segundo estudo da consultoria comScore, apesar do Android ser líder no mercado demobilidade em termos de número de aparelhos ativos, o iOS continua gerando o maiortráfego na internet em todos os países. Até o início do ano, os aparelhos da Apple foramresponsáveis por 60,1% de todo o tráfego geral oriundo de dispositivos móveis nos EUA,ao passo que dispositivos Android geraram apenas 32,4% do tráfego.

No entanto, quebrando esse tráfego total em parcelas relativas a tablets e smartphones,o iOS ganha disparado com seu iPad, sendo responsável por 90,4% do tráfego totalgerado em tablets, contra apenas 9,1% gerado por aparelhos Android. Já no tráfegoespecífico gerado por smartphones, o Android é o campeão, com 47,9%, contra 37,7%do iOS.

Tablets

Na disputa entre os dois sistemas, vale lembrar que tamanho não é documento. Apesardo Android estar vencendo longe em termos de número de unidades em uso, o iPhonetem lá seus encantos.

— O iPhone sempre surpreende acada atualização, comfuncionalidades e aplicativossempre mais atrativos ao cliente.Podemos dizer que a disputacontinuará aquecida,principalmente com a entrada donovo Windows Phone, fabricadopela Nokia — diz ThompsonGomes, responsável pelomarketing de dispositivos da TIM.— No que se refere aos tablets, omercado é mais igualmentedividido. De um lado temos a

Apple, com a grande força do iPad, líder mundial de mercado. E do outros vemos outrasmarcas como a Samsung, que tem ganho espaço com produtos de menor custo. É bemdiferente do que acontece no cenário de smartphones, onde o Android domina em todo omundo.

O Android não superará a liderança da Apple nos tablets, pelo menos em 2012. Aprevisão é da Gartner, que estima que as vendas mundiais de tablets devem chegar a


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118,9 milhões de unidades este ano, com o iPad liderando e a plataforma Androidlutando para repetir nesse mercado o sucesso que vem tendo no nicho dossmartphones. Esses números representam um aumento de 98% nas vendas emcomparação a 2011, quando foram vendidos 60 milhões de tablets.

A Apple deve vender 73 milhões de iPads durante o corrente ano, garantindo 61,4% domercado, comparando com os 66,6% que detinha em 2011. Quanto aos tablets Android,suas vendas crescerão de 17,3 milhões em 2011 para 37,9 milhões em 2012,representando um aumento de 3 pontos percentuais em sua participação de mercado,que chegará a 32%.

Para 2016, quando as vendas de tablets atingirão 369 milhões no ano, a Gartner prevêque a supremacia da Apple deve se enfraquecer, com 46% do mercado, enquanto oAndroid terá cerca de 37%, ficando em 3º lugar a Microsoft, com 12%.

Uma das razões pelas quais o Android não conseguirá vencer o iOS nos tablets no curtoprazo é que a Google e seus parceiros ainda não conseguiram tornar seu ecossistemasuficiente interessante, tanto para usuários quanto para desenvolvedores.

— A principal diferença entre o mercado de smartphones e o de tablets é o modelo denegócio. A Google, com seu Android, adota uma abordagem mais aberta e com o forteinvestimento de quem está buscando a liderança — explica Gustavo de Carvalho.

Quiz

Para quem quer saber ao certo qual o seu perfil com relação à batalha entre os doissistema, surgiu há poucos dias nas discussões do Google um satírico “quiz” (em inglês)que pode dirimir qualquer dúvida. Veja em <http://bit.ly/dm_quiz>.

Minha experiência pessoal

Acompanho o iOS e o Android de perto há anos, desde as versões 3.2 e 1.6,respectivamente. Hoje uso alternadamente um iPhone 4S rodando iOS 5.1 e um GalaxyNexus (aqui conhecido como Galaxy X) munido de Android 4.0.2. Quando passo mais deuma semana usando um, começo a sentir saudade do outro. É um caso típico deambiguidade smartphoniana. Mas nada grave.

Nesse período, testemunhei uma forte evolução do Android, que foi aos poucos seaproximando do iOS em termos de sofisticação e facilidade de uso. O sistema daGoogle, porém, é talhado para quem gosta de fuçar sistemas, de explorar configuraçõese de experimentar um sistema aberto. Espetar o Nexus na USB do computador de mesapermite uma viagem pelas entranhas do aparelho, coisa que não acontece quando sefaz o mesmo com o iPhone.

Para minha surpresa, testemunhei também o próprio iOS copiando detalhes de interfacedo Android, o que tornou o sistema da Apple ainda melhor do que já era.

No entanto, colocando-me no lugar de um usuário que não quer saber o que existe“debaixo do capô” do smartphone e que não sente prazer em configurar e reconfigurar oaparelho, sou forçado a reconhecer que nada se compara ao iPhone em termos defluidez na operação e facilidade do uso.

Quem tem um iPhone esquece que tem um computador nas mãos e põe-sesimplesmente a usá-lo para as finalidades que desejar. Baixar um app da App Store dá asegurança de que não haverá surpresas, apesar de, em caso de insatisfação com umaplicativo pago, não seja tão fácil obter reembolso, coisa que se faz no Google Play nosprimeiros 15 minutos após a compra, sem precisar dar qualquer justificativa à lojaon-line.

Em resumo, quando alguém me pede recomendação de qual plataforma usar, olho bempara a pessoa e me pergunto: Essa criatura tem espírito nerd? Se a resposta for sim,indico Android. Se for não, é iOS.

* * *

[Veja aqui o texto editado publicado na versão impressa em 2012-04-23, com direito ainfográfico]


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