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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE MÚSICA RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA CAMARGO GUARNIERI, O MODERNISMO NACIONAL E AS PEÇAS BRASILEIRAS PARA O FAGOTE MARCOS VINÍCIUS TAVEIRA SÃO PAULO AGOSTO/2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

DEPARTAMENTO DE MÚSICA

RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

CAMARGO GUARNIERI, O

MODERNISMO NACIONAL E AS PEÇAS

BRASILEIRAS PARA O FAGOTE

MARCOS VINÍCIUS TAVEIRA

SÃO PAULO

AGOSTO/2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

DEPARTAMENTO DE MÚSICA

CAMARGO GUARNIERI, O

MODERNISMO NACIONAL E AS PEÇAS

BRASILEIRAS PARA O FAGOTE

Aluno:

MARCOS VINÍCIUS TAVEIRA – Bolsista RUSP

Orientador:

PROF. DR. FÁBIO CURY

SÃO PAULO

AGOSTO/2013

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INDÍCE

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4

2. OBJETIVOS .................................................................................................. 5

3. METODOLOGIA ............................................................................................ 6

4. RESULTADOS .............................................................................................. 8

5. ANÁLISES ..................................................................................................... 8

5.1 O QUINTETO DE SOPROS ......................................................................... 10

5.2 O REPERTÓRIO PARA FAGOTE NA MÚSICA BRASILEIRA ...................... 11

6. CONCLUSÕES FINAIS ............................................................................... 22

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 26

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1. INTRODUÇÃO

Inicialmente, a ideia foi realizar o levantamento de repertório para o trio

não convencional de sopros, contendo a flauta, o oboé e o fagote, formação

original do grupo: “Trio Cantabile” do qual o autor é membro fundador. Todavia,

no decorrer do trabalho, o autor, fiel a sua trajetória intelectual, observou a

necessidade de direcionar esse levantamento de repertório para obras

brasileiras, envolvendo o modernismo nacional e compositores ligados a Mário

de Andrade.

Com a expansão do “Trio Cantabile” para o “Cantabile Ensemble”,

atualmente um quinteto de sopros (flauta, oboé, clarineta, fagote e trompa) com

piano, houve um recorte de nosso objeto de estudo para obras de

compositores brasileiros envolvendo o fagote e os outros instrumentos citados,

visando a futuras apresentações do referido grupo com as obras pesquisadas.

O pressuposto levantado em trabalho anterior, de conclusão de curso,

no qual foi investigado o retorno da educação musical escolar (TAVEIRA,

2010), discutia sobre a necessidade do ensino de música formal.

Complementando o raciocínio defendido nesse trabalho, verificamos que, para

a formação dos instrumentistas em geral, além do ensino formal, é necessária

a inserção do músico em grupos como orquestras, bandas e formações

camerísticas. É no âmbito das formações camerísticas, pois, que se situa a

presente pesquisa.

Uma vez que já existem trabalhos específicos sobre a obra de Francisco

Mignone e Heitor Villa-Lobos em razoável quantidade, julgamos pertinente

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priorizar o enfoque para a obra do compositor M. Camargo Guarnieri, ao qual

número notadamente inferior de trabalhos acadêmicos foi dedicado.

Sobre Mignone, os trabalhos que serviram como base são

BARRENECHEA (2001) e MEDEIROS (1995). Para citação das obras de Villa-

Lobos, foi realizada consulta à Enciclopédia da Música Brasileira (1998). Ao

passo que, para as reflexões e citação das obras de Guarnieri, a base foi Cury

(2011), ABRAHIM (2010), VERHAALEN (2001) e WERNET (2009).

Os três compositores em questão estiveram ligados a Mário de Andrade

e ao modernismo nacional. O repertório para fagote por eles produzido torna-se

ainda mais significativo quando comparado à produção internacional

consagrada, tanto sob a ótica da quantidade quanto da qualidade. Além do

levantamento e da listagem de obras, esse trabalho traz algumas reflexões

sobre as formações envolvendo o fagote.

2. OBJETIVOS

Alinhado com a cultura de valorização da produção nacional de Mário de

Andrade, o trabalho teve como objetivos:

Efetuar levantamento de repertório para a formação camerística

contendo sexteto - com quinteto de sopros (flauta, oboé, clarineta, fagote

e trompa) e piano – no todo ou parcial, para incrementar as atividades

do “Cantabile Ensemble”, nome atual do “Trio Cantabile”;

Aprofundar o conhecimento relacionado à obra dos compositores

brasileiros envolvendo o fagote e assim promover um maior interesse

delas através da reflexão das ideias musicais e composições,

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principalmente a dos autores brasileiros ligados ao modernismo e a ao

pensamento modernista proposto por Mário de Andrade;

Contribuir para produção de publicações em área com enorme carência,

e assim, aumentar a produção científica na área. Existem poucas

pesquisas e trabalhos que tratam das obras dos compositores brasileiros

e suas peças para fagote.

Contribuir para a divulgação da música brasileira nacionalista e do

trabalho dos compositores em questão, esperando com isso que haja

aumento de execuções e gravações fonográficas. Levantar aspectos que

possam auxiliar no aumento de concertos e itens que os impedem ou

dificultam seu acontecimento, ou seja, difundir o repertório para essas

formações, auxiliando outros grupos já existentes e fomentar a criação

de grupos com essas formações camerísticas. Esse é o tipo de música

que diferencia o intérprete brasileiro, frente aos intérpretes estrangeiros.

3. METODOLOGIA

Os três grandes compositores nacionalistas, Villa-Lobos, Mignone e

Guarnieri e suas obras para fagote solo, fagote solista com orquestra ou fagote

na música de câmara inspiraram diretamente algumas obras acadêmicas. Em

consulta à CAPES1, em 12 de setembro de 2012, constatamos a existência de

10 obras de mestrado ou doutorado, das quais uma considerável parte

interessou diretamente à presente pesquisa. Além disso, prosseguindo com

1 http://www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses

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nosso levantamento bibliográfico, tivemos a oportunidade de consultar outros

trabalhos acadêmicos e artigos, de autores brasileiros ou estrangeiros,

aludindo a esses mesmos compositores. Nesses títulos pudemos encontrar

informações bastante preciosas tanto no que tange à literatura específica para

fagote e às características estilísticas das composições quanto aos dados

biográficos dos músicos.

Observa-se uma crescente na produção de trabalhos acadêmicos que

envolvem a vida e a obra de Camargo Guarnieri. Dentre os trabalhos

defendidos na USP sobre esse autor, um é de 2010 e outros dois são de 2011.

Os outros dois compositores, Mignone e Villa-Lobos, inspiraram trabalhos

acadêmicos anteriores. Isso mostra que os pesquisadores brasileiros têm

percebido cada vez mais a urgência de trabalhos sobre Guarnieri e o presente

projeto acompanha essa tendência.

Análise de bibliografia:

Sobre Guarnieri (sendo fundamental para levantamento de dados

biográficos e informações sobre as obras):

VERHAALEN (2001) e WERNET (2009).

Sobre Mignone e Villa-Lobos:

BARRENECHEA (2001), MEDEIROS (1995) e Enciclopédia da Música

Brasileira (1998).

Fonte que relaciona o fagote e a literatura musical brasileira:

PETRI (1999).

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Fontes relacionadas à música brasileira:

MARIZ (1983) e NEVES (1981).

Fontes que situam o trabalho no universo de pesquisas existentes:

ABRAHIM (2010); CURY (2011-1); FREIRE (1984); e LOUREIRO (1991).

4. RESULTADOS

Os compositores escreveram, excetuando-se as obras orquestrais,

peças envolvendo o fagote da seguinte forma:

Villa-Lobos: 13 (treze) obras

Mignone: 33 (trinta e três) obras (conforme MEDEIROS, 1995,

excetuando-se a redução para piano do Concertino) acrescido de 4

obras (três quartetos, sendo duas transcrições e Uratáu: o pássaro

fantástico, citados em BARRENECHEA, 2001 e não constante em

MEDEIROS, 1995), totalizando 37 (trinta e sete) obras.

Guarnieri: 6 (seis) obras, sendo uma delas interdita.

5. ANÁLISES

Duas situações foram marcantes para a defesa da música de câmara

como necessidade formativa do músico. A primeira delas remonta ao ano de

2005, quando o presente autor, em parceria com o flautista Rafael Fuchigami e

o oboísta Ricardo Barbosa, inicia suas atividades camerísticas na cidade de

São José do Rio Preto-SP, então local de residência dos membros, formando

um trio de madeiras atípico. Surge assim, o “Trio Cantabile”.

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Durante toda a trajetória do grupo, a maior dificuldade encontrada por

seus membros foi a pouca disponibilidade de repertório para essa formação

específica. Um dos motivos deriva da formação clássica e mais comum para

instrumentos de madeiras, constituído por: flauta, oboé, clarineta, fagote e

trompa. Outras formações também são recorrentes, como o trio de palhetas

com clarineta, oboé e fagote ou duos para oboé e fagote. Entretanto, apesar

do caráter relativamente inusitado da formação e do repertório escasso, o “Trio

Cantabile” permaneceu em sua configuração inicial até haver a inclusão de um

quarto membro, o pianista Vinícius Bota, em apresentação do dia 12/03/2012

no CMU/ECA/USP.

No decorrer da pesquisa, o grupo foi alterado novamente, adaptando-se

à participação do piano. O grupo acabou seguindo um caminho natural e se

transformou em uma formação mais convencional: quinteto de sopros (flauta,

oboé, clarineta, fagote e trompa) com piano. Nessa altura a atuação do

ensemble passou a se integrar no ambiente acadêmico, na medida em que

passou a ser formado por alunos e ex-alunos do departamento de música da

USP.

Apesar da necessidade de pesquisar repertório para trio de flauta, oboé

e fagote tenha surgido com o “Trio Cantabile”, foi observado, na sequência,

também a carência de pesquisas e publicações na área de música de câmara,

envolvendo o fagote. Essa escassez se deve, principalmente, à proximidade

temporal da criação dos cursos de pós-graduação, pois as pesquisas na área

ganham força substancial somente a partir da implantação desses cursos.

Consta que “os primeiros Cursos de Mestrado em Música são criados na UFRJ

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em 1980 e no Conservatório Brasileiro de Música, em 1982. O 3º Mestrado em

Música do país foi implantado em 1987, na UFRGS.” (LOUREIRO, 2001, p.

75). Outros cursos foram criados posteriormente, conforme aponta o artigo

citado.

5.1 O QUINTETO DE SOPROS

O quinteto de sopros (flauta, oboé, clarineta, fagote e trompa) como

combinação camerística, remonta ao fim do século XVIII. Franz Anton Rosseti

(1750-1792) foi pioneiro na escrita para a formação. Anton Reicha (1770-1836)

e Franz Danzi (1763-1826), conforme BARRENECHEA (2004) foram

importantes para a consolidação. Em consulta a KOENIGSBECK (1994) não

constam obras originais para quinteto de sopros, de compositores

internacionalmente renomados, como J. Haydn, L. V. Beethoven ou W. A.

Mozart. Da mesma forma, o repertório envolvendo o fagote em formações

camerísticas, nesses compositores, é escassa e há pouca quantidade de obras

nos compositores de maior projeção na literatura dos séculos XVII, XVIII e XIX.

No Brasil, importantes compositores do século XX escreveram para

quinteto, dentre eles os três importantes para o repertório de fagote: Villa-

Lobos, Francisco Mignone e Camargo Guarnieri. Outros compositores a

escrever para essa formação são: Radamés Gnatalli, Lorenzo Fernandes,

Claudio Santoro, Osvaldo Lacerda, Brenno Blauth, José Vieira Brandão, Edino

Krieger, Ernst Mahle, Ronaldo Miranda, Marlos Nobre, Ricardo Tacuchian,

Mário Tavares, José Siqueira, Sergio Vasconcellos Correia, Lindembergue

Cardoso (Conforme BARRENECHEA-2001 e Discografia do Quinteto Villa-

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Lobos2).

5.2 O REPERTÓRIO PARA FAGOTE NA MÚSICA BRASILEIRA

Em geral, a produção para fagote como solista ou na música de câmara

não é muito extensa, se comparada a outros instrumentos. Dentro desse

campo árido, grande parte das composições foram realizadas no século XX.

Conforme consulta a KOENIGSBECK (1994), dentre os compositores

importantes para a literatura do instrumento, nesse período, estão Eugène

Bozza, Jean Françaix, André Jolivet, Karlheinz Stockhausen, Darius Milhaud,

Luciano Berio, Paul Hindemith e Henri Tomasi, dentre outros, depois de um

século (XIX) praticamente infértil para o instrumento.

Se comparado com o piano ou o violino, o fagote possui uma literatura

bastante restrita. Historicamente, os compositores, por razões diversas que

ultrapassam o interesse do presente trabalho, se debruçaram na escrita para

piano solo ou para o instrumento no âmbito da música de câmara. O mesmo

ocorre com o violino e os instrumentos da família das cordas. Muito se

escreveu para violino ou violoncelo solo, trios, quartetos, e outras formações.

De forma diversa a outros períodos e outros contextos, na música

brasileira do século XX, existe uma marcante quantidade de obras envolvendo

o fagote. Ou seja, nesse universo de escassez, a música brasileira se mostra

notavelmente generosa com o instrumento. Referimo-nos a obras para fagote

solo, fagote solista e orquestra e fagote na música de câmara (com piano e

com combinações diversas).

2 Consulta realizada no site do grupo: http://www.quintetovillalobos.com.br em 03/05/2013.

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No país, muitos compositores apresentam em sua literatura obras para

fagote. PETRI (1999) apresenta trinta e seis peças de compositores brasileiros

para fagote solo, com recorte temporal de 1954 a 1999. Observa-se, na lista

apresentada pela autora, os nomes de importantes compositores, como

Gilberto Mendes, Ernani Aguiar, José Siqueira, Aylton Escobar, Cláudio

Santoro, Osvaldo Lacerda, dentre outros. Além dos importantes compositores,

existem outras obras na literatura brasileira que incluem o fagote como solista

ou em música de câmara, como as Nove variações para fagote e orquestra de

cordas de Lindemberg Cardoso, e outras peças de Antônio Ribeiro, André

Mehmari, Ernest Mahle, Ernani Aguiar, Almeida Prado, Aylton Escolbar e

outros. No entanto, existe carência de publicações sobre as obras dos referidos

autores, bem como de catálogos das mesmas. Juntamente com

Francisco Mignone, importante nome que aparece em PETRI (1999), outros

dois compositores escreveram de forma bastante significativa para o

instrumento, apesar de não apresentarem literatura para fagote solo. São eles:

Heitor Villa-Lobos e M. Camargo Guarnieri. Algumas das peças brasileiras para

fagote escritas pelos três compositores tornaram-se fundamentais dentro do

repertório de fagotistas do mundo todo.

As peças de Villa-Lobos, de forma geral, são bastante difundidas

internacionalmente. Para o fagote não é diferente. A sua Ciranda das sete

notas é um bom exemplo. Além de inúmeros concertos por todo o mundo e

através de instrumentistas das mais variadas nacionalidades, conta com um

bom número de registros fonográficos3. O número de textos envolvendo o autor

3 Existem gravações de Fábio Cury, Noel Devos, Turkovic e Azzolini, conforme entrevista

realizada com o Prof. Dr. Fábio Cury.

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e suas obras é o mais abrangente, se comparado com os outros compositores

aqui aprofundados. Por esse motivo, aqui são apresentados somente alguns

dados superficiais e suas obras são listadas.

Suas obras envolvendo o fagote, extraídas da obra completa de Villa-

Lobos, apresentada na Enciclopédia da Música Brasileira (p. 820-823), são:

Data Obra

1914 OCTETO (Dança Negra), para flauta, clarineta, fagote, dois violinos, violoncelo, piano e contrabaixo

1921 TRIO para oboé, clarineta e fagote

1923 NONETO, para flauta, oboé, clarineta, sax-alto, fagote, celesta, harpa. piano, percussão e coro misto

1924 CHOROS 7 (Setimino), para flauta, oboé, clarineta, sax-alto, fagote, violino, violoncelo e tantã

1925 CHOROS 3 (Pica-pau), para clarineta, sax-alto, fagote, três trompas, trombone e coro masculino

1928 QUATUOR, para flauta, oboé, clarineta e fagote

QUINTETO EM FORMA DE CHOROS, para flauta, oboé, clarineta, corne-inglês (ou trompa) e fagote

1933 CORRUPIO, para fagote e quinteto de cordas

CIRANDA DAS SETE NOTAS, para fagote e orquestra de cordas

1938 BACHIANAS BRASILEIRAS 6, para flauta e fagote

1943 DANÇA DE RODA, para coro a duas vozes, quinteto de cordas e fagote

1953 FANTASIA CONCERTANTE, para clarineta, fagote e piano

1957 DUO para oboé e fagote

O nome de Francisco Mignone, nas suas obras de forma geral, embora

ainda não tenha internacionalmente a mesma projeção de Villa-Lobos, entre os

fagotistas é bastante conhecido, ou seja, a difusão de suas obras para fagote

apresenta um grande interesse em fagotistas de todo o mundo, aparecendo

com frequência crescente em concertos. Afinal, este é o compositor de uma

das mais vastas obras para o instrumento de que se tem notícia: a já muito

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conhecida e divulgada série de 16 valsas para fagote solo4 aliadas a um

grande número de peças camerísticas para fagote em duos, trios e quartetos

de fagotes que se agrega à música de câmara com outros instrumentos,

conforme constatado em KOENIGSBECK (1994). Outras importantes obras

envolvendo o instrumento, em sua função de solista da orquestra, com duas

peças: o Concertino para fagote e orquestra5 e o Concertino para fagote,

clarinete e orquestra, a primeira delas, à semelhança da Ciranda, de Villa-

Lobos, também já com adesão de muitos fagotistas de todo mundo,

encontrando-se disponível em gravações fonográficas e sendo requisitada em

importantes concursos.

Das obras de Mignone, MEDEIROS (1995) apresenta a seguinte tabela:

Fagote solo

16 Valsas para fagote solo (1980)

Fagote e canto (soprano)

Assombração (1961)

Canto dos negros (1976)

Canção da mamãe paupérrima (1976)

Pinhão quente (1976)

Quando na roça anoitece (1976)

Fagote e piano

Concertino (redução de orquestra)

Duo de fagotes

1ª sonata para dois fagotes (1966-7)

2ª sonata para dois fagotes (1966-7) - (composta sob técnicas seriais)

Clarineta e fagote

Valsas Brasileiras 5, 8 e 11

Invenção para clarineta em si b. e fagote (1961)

Passacaglia para clarineta em si b. e fagote (1968)

Quartetos de fagote

4 A obra foi gravada por Fábio Cury e aguarda ocasião para ser lançada, conforme entrevista

realizada com o mesmo.

5 A obra foi executada por Alexandre Silvério, principal fagotista da OSESP, por essa mesma

orquestra em meados de 2005, conforme entrevista com o mesmo.

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Tetrafonia e variações em busca de um tema para 4 fagotes (1967)

Quatro peças brasileiras (1983)

Serenata bem acabada

Serenata humorística

Minuetto

Sarabanda do meu jeito

Mais uma lenda

Oboé e fagote

Impossible lullaby (1968)

Flauta e fagote

Invenção (1961)

Trio de palhetas

Sonata a Tre (1967)

Quatro sinfonias: para um trio de oboé, clarineta e fagote (1968)

Quintetos

Quinteto nº 1 (1960)

Quinteto de sopro nº 2 (1960)

Ária para quinteto de sopros (1961) (compostos sob técnicas seriais)

Sextetos

Sexteto para piano e quinteto de sopros n º1 (1935)

Sexteto para piano e quinteto de sopros n º 2 (1970)

Sexteto para piano e quinteto de sopros nº 3 (1977)

Concertos

Concertino para fagote e pequena orquestra (1957)

Concertino para clarineta e fagote (1980)

Seresta (original para cello) (1935)

Para completar a tabela apresentada, BARRENECHEA (2001):

DATA TÍTULO INSTRUMENTAÇÃO

1961 Invenção flauta e fagote

Quarteto para instrumentos de madeira flauta, oboé, clarineta e fagote

3ª Seresta (transc.) flauta, oboé, clarineta e fagote

Baianinha (transc.) flauta, oboé, clarineta e fagote

1 º Quinteto de sopros quinteto de sopros

2 º Quinteto de sopros quinteto de sopros

Ária quinteto de sopros

DATA TÍTULO INSTRUMENTAÇÃO

1935 1º Sexteto quinteto de sopros e piano

1944 Uratáu: o pássaro fantástico piccolo, flauta, clarineta em Mib, fagote e piano à quatro mãos

1970 2º Sexteto quinteto de sopros e piano

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1977 3º Sexteto - 6 Prelúdios e um Enigma quinteto de sopros e piano

Observação: a tabela é apresentada de forma parcial, excetuando-se obras que não contenham o fagote.

Entretanto, a obra para fagote de M. Camargo Guarnieri, tanto para

música de câmara, como o Choro para fagote e orquestra de câmara, de 1991

(o sétimo e último Choro escrito por ele para instrumento solo e orquestra), é,

portanto, mais recente que as obras de Mignone e Villa-Lobos, e ainda não

desfruta do mesmo status e interesse, tanto no Brasil quanto no exterior,

levando a crer que ainda não houve tempo para a divulgação e apreciação das

qualidades das obras. Desafortunadamente, não existem registros de execução

desse Choro fora do Brasil. Essa constatação não reflete a grandeza e

genialidade do compositor e seu Choro certamente ocupará lugar de destaque

dentro da literatura para o instrumento.

É fácil constatar que tal fato não reflete os inúmeros prêmios vencidos

pelo compositor, muitos deles internacionais, nem tampouco o status

conseguido por ele, dentro e fora do país. Parte desse respeito pode ser

observado na fundação de dois importantes grupos em sua homenagem, ainda

em vida, a saber: o Coral Paulistano, fundado em 1935; e a OSUSP (Orquestra

Sinfônica da USP), em 1975, ambos com nomeação de M. Camargo Guarnieri

à frente, segundo WERNET (2009).

Guarnieri é um dos principais nomes da composição. Segundo MARIZ

(1983) o compositor é considerado por muitos o mais importante dos

compositores brasileiros ou, parafraseando NEVES (1981), o compositor mais

importante pelo conjunto da obra, do nacionalismo modernista. Dentre os

muitos concursos que venceu no Brasil e no exterior, na Europa e nos Estados

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Unidos, se destaca o último, no final de 1992, poucos dias antes de sua morte,

o prêmio Gabriela Mistral, oferecido pela OEA em Washington, Estado Unidos,

como Maior Músico das Três Américas, conforme aponta VERHAALEN, 2001.

Alguns aspectos contribuem para a pequena quantidade de execuções

do Choro para fagote e orquestra de câmara. A peça em questão, foi revista,

com a colaboração do fagotista Fábio Cury, pelo compositor e professor

Antônio Ribeiro, discípulo de Guarnieri, e teve sua primeira gravação com

aquele, exímio intérprete, solando frente à Amazonas Filarmônica, em 2008,

através de apoio do governo do Estado de São Paulo, no Programa de Apoio à

Cultura (PROAC). O projeto aprovado com o título Velhas e novas cirandas:

música brasileira para fagote e orquestra é lançado em 2010 contendo a obra

final de Guarnieri e a citada Ciranda das Sete Notas de Villa-lobos, além de

outras peças nacionais. O autor ressalta que surgiu a ideia de registrar a obra,

em virtude do contato inicial frente à OSUSP e assim “nasceu a ideia de uma

pesquisa mais aprofundada que pudesse divulgar a peça, visando a alçá-la a

um posto mais condizente com seu mérito e sua relevância.” (CURY, 2011-1,

p.15).

Segundo CURY (2011-1), esta foi a última obra significativa escrita por

Guarnieri, encomendada pela Secretaria Estadual de Cultura com o intuito,

entre outros, de ajudá-lo financeiramente, uma vez que seu filho havia sofrido

um terrível acidente que lhe pusera em delicada posição econômica. Assim, ela

foi escrita no fim da vida do autor, em um momento em que sua saúde já se

encontrava debilitada. Testemunha desse período foi seu último discípulo, o

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compositor e professor Antônio Ribeiro, que esteve a seu lado durante todo o

processo de composição.

No momento da estreia da peça, em 1994, mais de um ano após o

falecimento do compositor, foram constatados inúmeros problemas no

manuscrito, como falta de compassos, erros de nota, dentre outros. Por esta

razão, Antônio Ribeiro fez a edição da partitura, concluindo-a para a sua

segunda execução, de Fábio Cury, à frente da OSUSP, em 2003. CURY (2011-

1) afirma que outra edição surge, em 2006, dentro da série Criadores do Brasil

da OSESP, cuja revisão musicológica é de Thomas Hansen, que, além de

empregar o manuscrito final da peça, fez também uso de esboços que se

encontram no IEB-USP.

Ainda em seu trabalho de doutorado, CURY o enfoca principalmente nas

questões interpretativas que envolvem a obra. A tese defendida, discute, sobre

o prisma da interpretação, as peculiaridades da música brasileira e, sobretudo,

as particularidades que a distinguem na sua performance. Ele se propõe a

comparar a linguagem composicional e a escrita do ponto de vista fagotístico

com aquela empregada em outras peças do repertório nacional e internacional,

visando à criação de parâmetros musicais que possam subsidiar a elaboração

de uma interpretação criteriosa e coerente. Para o autor,

“se por um lado parece bastante claro que exista, na prática, uma performance característica dos músicos brasileiros, que muitas vezes não pode ser depreendida pela simples e estrita observância da notação musical; por outro, são exíguos os trabalhos acadêmicos que versam sobre o assunto.” (CURY, 2011-2, p.1)

Retomando a questão da edição de obras, assim como com o Choro

para fagote de Guarnieri, acontece com muitas obras de compositores

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brasileiros contemporâneos ou anteriores a ele, sendo que muitas delas não

são editadas e se perdem, como grande parte da produção do padre José

Maurício Nunes Garcia, cuja obra ou as traças devoraram ou continua

inutilizada em manuscritos” (ANDRADE, 1980, p.166).

Ao trazer a fala de Mário de Andrade, vale ressaltar que sua importância

para a consolidação da música nacionalista brasileira no começo do século XX.

Em ANDRADE (1928), é defendida a utilização dos elementos populares e

folclóricos, bem como as influências recebidas no país, como única forma de

conferir à música nacional seu caráter particularmente brasileiro. Nesse ensaio,

ele aponta constâncias da música nacional especialmente nos seguintes

parâmetros: a) ritmo, mostrando como a herança musical africana, em sua

tentativa de se encaixar à notação europeia, acaba gerando polirritmias ou

sincopas; b) melodia, com suas linhas frequentemente descendentes, uso de

modos com sétima menor, padrões de notas repetidas, frases que repousam

insistentemente sobre a mediante etc.; c) no contraponto, descrevendo, por

exemplo, o uso do baixo melódico do choro ou as linhas improvisadas dos

chorões (ANDRADE, 1928, p. 31-52). A explanação dele sobre as

particularidades da música brasileira e a observação dos intérpretes nacionais

na performance de sua própria música nos levam a destacar a flexibilidade

rítmica e a acentuação como pontos-chave dentro de uma interpretação

autenticamente brasileira.

Uma questão importante é o porquê do emprego da palavra Choro para

nomear a obra de Guarnieri para fagote e orquestra. A princípio essa

terminologia levaria a acreditar ser uma tentativa de retratar o gênero popular

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choro. No entanto, tanto Guarnieri quanto Villa-Lobos, sendo esse o primeiro a

empregar o termo para designar sua série de obras dos anos 20, não usaram a

palavra com esse intuito. Ambos, ainda que com motivações bastante

diferentes, usaram o nome para mostrar o caráter distintamente nacional de

suas composições e, com isso, poderiam lançar mão de elementos de qualquer

uma das vertentes da música nacional, não se restringindo somente ao gênero

popular choro.

Esse modelo de composição visava “à aceitação e à projeção nos meios

vanguardistas da Paris dos anos 20 só século passado” (CURY, 2011-1, p. 31)

cidade onde residiu no referido período. O caráter multifacetado de sua série

de Choros comprova a intenção de livremente espelhar a música brasileira em

toda a sua abrangência de gêneros e estilos e não só o gênero choro. Villa-

Lobos compôs seus Choros para diversas formações camerísticas ou

orquestrais.

No caso de Guarnieri, o termo é empregado em dois momentos

distintos, com propósitos diferentes também. Em sua juventude, “o título foi

atribuído a um grupo de 6 peças com instrumentação variada” (CURY, 2011-1,

p.32), possivelmente inspirados pela série villa-lobiana. Contudo, os Choros de

Guarnieri, compostos a partir de 1951, sempre foram obras dedicadas a um

instrumento solista e orquestra que, apesar da denominação diferente, não

apresentam mudanças significativas se comparadas aos concertos dele,

todavia, conferindo uma conotação nacional para um formato universal. Diante

desse fato e da época em que esta série de obras se inicia (um ano antes, em

1950, Guarnieri havia publicado a sua polêmica Carta aberta aos músicos e

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críticos do Brasil, na qual veementemente critica a disseminação da música

serial no país), novamente, não existe a intenção única de retratar ou parodiar

o choro popular, ainda que algumas de suas características certamente

estejam presentes nas composições de Guarnieri.

Sem outras obras solistas para fagote, as composições dele, envolvendo

o fagote na música de câmara são:

- Da fase inicial (anterior ao contato com Mário de Andrade):

“Quinteto (GG/OI-130R), para flauta, oboé, clarinete em sib, fagote e

corne em Fá” (ABRAHIM, 2010, p.167) - o restante das obras do

período mesclam o piano com instrumentos solistas como violino,

violoncelo flauta e voz - a obra para piano ainda permeia a produção do

exímio compositor por toda a sua vida, com produção raramente inferior

a uma por ano, conforme aponta FREIRE (1984) em seu catálogo das

obras para piano, posterior a 1928.

- Da fase posterior ao contato com Mário de Andrade, segundo CURY

(2011-1) e LOUREIRO (1991), existem: o Choro no 1 (1929) para flauta,

clarineta, fagote – chocalho e cuíca ou cavaquinho e tambor; o Choro no 2

(1929) para flauta, clarineta, fagote, cavaquinho, reco-reco com ou sem

chocalho; Choro no 3 (1929) para quinteto de sopros; e Choro Flor do

Tremembé (1937) para flauta, clarineta, saxofone alto, fagote, trompa,

trompete, trombone, harpa, piano, cavaquinho, quarteto de cordas e

percussão (chocalho, reco-reco, cuíca, agogô). Não existem informações

sobre edições de todas as partituras das obras em questão, nem

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tampouco sobre registros fonográficos - apesar da quantidade

aparentemente pequena envolvendo o fagote, conforme relatado, é

importante salientar que o compositor tinha apreço especial pelo fagote e

não escreveu mais, nem antes, peças solo para fagote por falta de

circunstância. Esse apreço é evidenciado nos inúmeros solos importantes

em suas obras orquestrais.

De forma esquemática, através do cruzamento de dados constrantes em

ABRAHIM (2010), FREIRE (1984), CURY (2011-1) e LOUREIRO (1991), as

obras de Guarnieri são:

Ano Nome da obra formação

1991

Choro (em forma de concerto) fagote, harpa e orquestra de câmara

* Quinteto (GG/OI-130R) flauta, oboé, clarinete em sib, fagote e corne em Fá

1929 Choro no 1

flauta, clarineta, fagote – chocalho e cuíca ou cavaquinho e tambor

1929 Choro no 2

flauta, clarineta, fagote, cavaquinho, reco-reco com ou sem chocalho

1929 Choro nº 3 quinteto de sopros

1937

Choro Flor do Tremembé

flauta, clarineta, saxofone alto, fagote, trompa, trompete, trombone, harpa, piano, cavaquinho, quarteto de cordas e percussão (chocalho, reco-reco, cuíca, agogô).

*informação de ano não disponível.

6. CONCLUSÕES FINAIS

Mário de Andrade defendeu de forma incisiva a consolidação da música

brasileira, com caráter nacionalista. Devotou esforços e grande parte da sua

vida para tal intento. Influenciou e auxiliou diversos compositores para a

utilização dos elementos populares e folclóricos como caminho para conferir à

identidade nacional em suas obras.

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Apesar da grande quantidade de obras brasileiras escritas para o fagote

solo, fagote solista o fagote no âmbito da música de câmara, existe pouca

quantidade de execuções das obras, bem como uma quantidade limitada de

registros fonográficos.

É marcante a necessidade de trabalhos de pesquisa para aprofundar os

motivos limitadores da difusão das obras. Os resultados aqui presentes situam-

se em um universo pouco explorado e merecedor de maior aprofundamento.

Um dos pontos importantes, para trabalhos vindouros, é a nivelação das obras,

ou seja, diferenciá-las pelo grau de dificuldade na execução.

De forma inicial, os entraves encontrados para aumentar a propagação

das obras são:

1. Falta de edição das obras e dificuldade de localização das mesmas:

A maior parte das obras para música de câmara dos compositores ligados a

Mario de Andrade e ao modernismo brasileiro não foi editada e seus

originais e cópias encontram-se exclusivamente em bibliotecas ou acervos

pessoais, correndo risco de serem perdidas, como ocorreram com inúmeras

obras de compositores mundialmente difundidos, como W. A. Mozart e J. S.

Bach e aqui no Brasil com Nunes Garcia. A exceção à regra é parte da obra

de Villa-Lobos que foi editada no exterior, principalmente pela Max Esching

de Paris. Durante a pesquisa atual, houve o intento de levantar as obras em

questão. O entrave se deu por existir a dispersão dita a pouco. Varias obras

do Mignone encontram-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, mas

precisam de autorização da esposa para a realização de cópias. Esse

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procedimento que permite o acesso às obras, tanto para o referido

compositor, bem como para Villa-Lobos e Guarneri, envolveria um ônus não

previsto anteriormente e por esse motivo foi descartada a possibilidade.

Algumas obras foram localizadas por outras vias. Delas, interessa

diretamente para um passo acadêmico posterior, o sexteto nº 1 de Mignone.

Essa apresenta uma edição bastante precária.

2. Obrigatoriedade do pagamento de direitos autorais para execuções:

Como a maior parte das obras dos referidos compositores foram elaboradas

recentemente, a execução delas prevê o pagamento dos direitos;

3. Preferência por compositores estrangeiros e obras antigas e de

compositores já consagrados e não brasileiros:

4. Dificuldade técnica de execução:

Muitos estudantes não possuem o nível de exigência para a execução das

obras – o nível de dificuldade das obras, como dito anteriormente, é outro

aspecto para trabalhos posteriores;

5. Pouca exigência de formação de grupos de música de câmara nas

instituições de ensino – assim como os itens anteriores, esse não foi

foco do presente trabalho.

Foi observado ainda, que historicamente, obras de compositores não tão

consagrados também não tiveram sucesso na quantidade de execuções e, de

certa forma, caíram no esquecimento, como são as obras dos compositores

importantes para a formação do quinteto de sopros: Reicha, Rosseti e Danzi.

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Felizmente, o mesmo não ocorre no Brasil. Os compositores brasileiros mais

prestigiados nacional ou internacionalmente escreveram obras contendo o

fagote. Seja com Villa-Lobos, o mais reconhecido de forma universal, seja com

Mignone, que escreveu maior literatura para o instrumento nas diversas

possibilidades de enfoque aqui presentes, seja com Guarnieri, aquele que foi

altamente premiado, inúmeras obras aguardam seu lugar de maior prestígio,

tanto na quantidade de execuções quanto nos estudos científicos que permitam

um maior aprofundamento delas.

Essas obras precisam agregar os currículos das escolas de música e,

assim, participar da formação dos fagotistas brasileiros. As obras listadas

anteriormente, de Mignone, com destaque para as 16 Valsas para fagote solo

(1979-81 Segundo PETRI, 1999); o Concertino para fagote e pequena

orquestra (1957); e o Concertino para clarineta, fagote e orquestra (1980); bem

como os sextetos para piano e quinteto de sopros e as outras obras, do total de

37 obras envolvendo o fagote e as obras de Villa-Lobos, com destaque para a

Ciranda das Sete Notas (1933) para fagote e orquestra de cordas; o Choro no 3

(1925) para clarinete, saxofone, fagote, três trompas, trombones e coro

masculino a capella; o Choro no 7 (Settimino) para flauta, oboé, clarineta, sax,

fagote, violino, violoncelo e tam-tam; Bachiana no 6 para flauta e fagote; o

quinteto em forma de Choros (1928) para flauta, oboé, corne-inglês (ou

trompa), clarinete e fagote; Trio op. 21 (1921) para oboé, clarineta e fagote: e o

duo para oboé e fagote (1957) também merecem essa atenção.

Com as obras de Guarnieri não é diferente. O compositor foi

imensamente premiado e, assim, internacionalmente reconhecido, ainda em

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vida. Sua obra merece lugar de destaque. Seja na sua peça para fagote solista

e orquestra, seja nas suas obras camerísticas. Ainda existe muito a ser

explorado na prática, ou seja, em apresentações, bem como em textos

acadêmicos.

Como resultado prático do presente trabalho, o sexteto “Cantabile

Ensemble” iniciou seus trabalhos para executar o sexteto nº 1, de 1935, de

Mignone com o objetivo de trabalhar, na sequencia, outras obras aqui

apontadas. A obra foi escolhida devido à nova formação do “Cantabile

Ensemble” e devido ao insucesso na localização de todas as obras elencadas.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FREIRE, Helena Puglia. The piano sonatinas and sonata of Camargo Guarnieri. Tese (Doutorado) – School of Music, Indiana University, Indiana, 1984. KOENIGSBECK, Bodo. Bassoon Bibliography. Monteux, France: Musica Rara, 1994. LOUREIRO, A. M. A. O ensino de música na escola fundamental: Um estudo exploratório. Dissertação (mestrado), PUC/Minas, Belo Horizonte , 2001. LOUREIRO, Maurício Alves. The clarinet in the brazilian chôro with an analysis of the Chôro para clarineta e orquestra (Chôro para clarineta e orquestra) by Camargo Guarnieri. Tese (doutorado), University of Iowa, 1991.

MARIZ, Vasco. História da música no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.

MEDEIROS, Elione Alves. Uma abordagem técnica e interpretativa das 16 valsas para fagote solo de Francisco Mignone. Dissertação (mestrado) - Universidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995.

NEVES, Jose Maria. Musica Contemporânea Brasileira. 1ª edição. São Paulo: Ricordi – 1981.

PETRI, Ariane. Obras de compositores brasileiros para fagote solo. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.

TAVEIRA, Marcos Vinícius. Educação musical escolar: da concepção posta a concepção necessária. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Pedagogia) – Universidade do Estado de São Paulo, São José do Rio Preto, São Paulo, 2010. VERHAALEN, Marion. Camargo Guarnieri expressões de uma vida. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo / Imprensa Oficial do Estado, 2001. WERNET, Klaus. Camargo Guarnieri: memórias e reflexões sobre a música no Brasil. São Paulo: Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2009.