boletim clg 6

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Durante a manhã do dia 19 de junho ocorreu um Ato Público intitulado “A universidade volta à rua”. O evento fez parte de uma mobilização nacional pela reestruturação da carreira docen- te e em protesto contra a suspensão pelo governo da reunião de negocia- ção marcada para o mesmo dia. O Ato Público teve por finalidade mos- trar à população sergipana os motivos da greve e a pauta de reivindicações dos professores federais. No evento, houve exposição de trabalhos produzi- dos na UFS, literatura de cordel, apre- sentação de repentistas entre outras atividades culturais. Leia mais na p.3 Professores realizam Ato Público para dialogar com sociedade 25 de junho a 1 de julho de 2012 N ° 6 ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Boletim CLG Reivindicação dos docentes

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O Boletim CLG é um periódico do Comando Local de Greve da ADUFS com informações sobre o movimento grevista dos professores federais da UFS.

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Page 1: Boletim CLG 6

Durante a manhã do dia 19 de junho

ocorreu um Ato Público intitulado “A

universidade volta à rua”. O evento fez

parte de uma mobilização nacional

pela reestruturação da carreira docen-

te e em protesto contra a suspensão

pelo governo da reunião de negocia-

ção marcada para o mesmo dia.

O Ato Público teve por finalidade mos-

trar à população sergipana os motivos

da greve e a pauta de reivindicações

dos professores federais. No evento,

houve exposição de trabalhos produzi-

dos na UFS, literatura de cordel, apre-

sentação de repentistas entre outras

atividades culturais. Leia mais na p.3

Professores realizam Ato Público para dialogar

com sociedade

25 de junho a 1 de julho de 2012 N° 6

A S S O C I A Ç Ã O D O S D O C E N T E S D A U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E S E R G I P E

Boletim CLG

Reivindicação

dos docentes

Page 2: Boletim CLG 6

Editorial

Depois de completado um mês da

deflagração da greve dos professo-

res das Instituições Federais de

Ensino Superior, estabeleceu-se

uma expectativa positiva de que

no dia 19/06 o governo apresen-

tasse uma proposta concreta, ain-

da que considerada por ele mes-

mo um esboço, mas que poderia

nos levar a uma situação em que

teríamos ao menos uma proposta

de estrutura remuneratória para

ser confrontada com a carreira

reivindicada pelo movimento do-

cente. O próprio MEC divulgou no-

ta no seu sítio na Internet e fez

sua repercussão nos sítios das

instituições de ensino, afirmando

que “o governo federal pretende,

na estruturação salarial da carrei-

ra dos professores das instituições

federais de ensino superior, tomar

como referência de remuneração

a carreira dos servidores do Minis-

tério da Ciência, Tecnologia e Ino-

vação”. O que ocorreu foi que sim-

plesmente o governo no dia 18/-

06, utilizando-se de uma ligação

telefônica, suspendeu unilateral-

mente a reunião por ele mesmo

agendada, sem marcar nova data

e alimentando o seu jogo protela-

tório, com a desculpa simplória de

que o esforço do governo estaria

concentrado na Rio+20. Na verda-

de, uma reconfirmação de que o

governo nunca teve uma proposta

e de que, se não fosse o forte mo-

vimento de greve que explodiu

pelo país, nos jogaria de novo no

palco das discussões e decisões

aligeiradas e autoritárias postas no

contexto de aprovação da lei de

diretrizes orçamentárias para o

ano de 2013.

Deve-se atentar para o fato de que

até agora a propalada referência

remuneratória na carreira da Ciên-

cia e Tecnologia não passa de um

discurso opaco. O que torna neces-

sário firmar a convicção em nossa

pauta, centrada na reestruturação

e valorização da carreira docente e

na melhoria das condições de tra-

balho. Não podemos cair nas ar-

madilhas dos remendos emergen-

ciais autoritários e discriminatórios

que têm sido a prática nestes últi-

mos tempos em relação à nossa

carreira. Precisamos compreender

e sustentar os elemen-

tos estruturais contidos

na proposta de carreira

colocada à mesa desde

dezembro de 2010 pelo

ANDES-SN: um piso sala-

rial que traduza valoriza-

ção do trabalho docente

fundado num fazer aca-

dêmico equilibrado nas

atividades de ensino,

pesquisa e extensão,

não submetidas a uma

lógica produtivista inó-

cua; um vencimento bá-

sico sem gratificações,

que contemple o tempo

na carreira com variação

isonômica entre os ní-

veis, o regime de traba-

lho e a titularidade. Re-

jeitar tratamento diferenciado em

relação aos professores aposenta-

dos é outro compromisso que te-

mos de ter com aqueles que já

deram sua contribuição à Universi-

dade Pública Brasileira.

Precisamos, pois, nos preparar

para esse embate. Entramos em

mais uma semana de greve sem

as devidas respostas pelo governo

à nossa pauta de reivindicações.

Frente a esse cenário, o desafio

que se coloca é a intensificação do

movimento, ampliando-se cada

vez mais a repercussão e a visibili-

dade social da nossa greve, de

modo a obrigar o governo a iniciar

efetivamente um processo de ne-

gociação.

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Boletim CLG

EXPEDIENTE DIRETORIA 2010-2012—GESTÃO “A LUTA CONTINUA”

Presidente: Antônio Carlos Campos; Vice-Presidente: Marcos Antônio da Silva Pedroso; Secretária: Manuela Ramos da Silva; Diretor Administrativo e Financeiro: Júlio Cesar Gandarela Resende; Diretor Acadê-

mico e Cultural: Fernando de Araújo Sá. Suplentes: Sonia Cristina Pimentel de Santana e Carlos Dias da Silva Júnior

Boletim produzido pela ADUFS - Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior

Endereço: Av. Marechal Rondon, s/n, bairro Rosa Elze, São Cristóvão-SE

Jornalismo: Raquel Brabec (DRT- 1517) Estagiário em Design Gráfico: Fernando Caldas

O conteúdo dos artigos assinados é de responsabilidade dos autores e não corresponde necessariamente à opinião da diretoria da ADUFS

Contato ADUFS: Tel.: (79) 3259-2021 E-mail: [email protected] Site: http://www.adufs.org.br N° de Tiragem: 1.000 exemplares

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N° 6

Ato Público movimenta Centro da Cidade de Aracaju

“A universidade volta à rua”, esse

foi o tema para o Ato Público reali-

zado no dia 19 de junho, que con-

tou com a presença de professo-

res, representantes de várias or-

ganizações dos trabalhadores e

estudantis. O tema foi escolhido

para estreitar o contato da socie-

dade com a produção acadêmica

da universidade. “Desde a déca-

da de 80 nós marcamos ponto

aqui na Praça Fausto Cardoso

com atividades para mostrar à

sociedade o que está sendo feito

dentro da universidade, através

da exposição de banners com

pesquisa de vários departamen-

tos da UFS. Esperamos fazer e-

ventos desse tipo com mais fre-

quência, não apenas em momen-

to de greve”, disse o presidente

da ADUFS, professor Antônio Car-

los.

O ato público foi uma oportunida-

de de os professores entrarem

em contato com a população e os

meios de comunicação para ex-

por os motivos da greve. Segundo

o professor de Computação da

UFS, Sérgio Queiroz, o ato foi bem

organizado e contou com boa par-

ticipação dos docentes e dos es-

tudantes. Para ele, houve um es-

topim que culminou na paralisa-

ção das atividades. “Algo que fez

reverberar a greve na UFS são as

condições de trabalho: há muita

carga horária, baixa estrutura,

cursos com poucos professores

contratados, uma situação de

precarização grande”, disse Sér-

gio.

Aula Pública

Um momento de destaque duran-

te a manhã foi a Aula na Praça

com o tema “A Dívida Pública”,

ministrada pelo professor convi-

dado José Menezes Gomes, da

UFMA. Segundo Menezes, o tema

é de grande relevância para a po-

pulação, pois trata diretamente

da qualidade do serviço público

que existe no Brasil.

“A dívida pública foi contraída

para resolver os problemas do

capitalismo, através de envio de

subsídios a indústria e bancos, e

não como consequência do inves-

timento na classe trabalhadora.

Os recursos que deveriam ser

destinados para o que as pessoas

precisam acabam direcionados

para pagar essa dívida. No final,

quem precisa de serviço público é

quem paga o preço, pois esse

investimento daria, por exemplo,

para construir hospitais novos,

aumentar o salário dos professo-

res, melhorar a segurança públi-

ca, etc”, afirma José Menezes.

O tema abordado é central na

Professores organizaram o evento para apresentar à sociedade a pauta de reivindicação da categoria

Prof. Antônio Carlos, presidente da ADUFS; abai-

xo, o prof. da UFS Sérgio Queiroz

Prof. José Menezes (UFMA); abaixo, represen-

tante da ANEL, Patrick Hallan

Page 4: Boletim CLG 6

Boletim CLG

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reivindicação dos professores.

Segundo dados apontados por

José Menezes, o governo pagou

no ano passado 708 bilhões de

juros da dívida pública; já o gasto

com pessoal do funcionalismo

público ficou em torno de 180

bilhões de reais, o que mostra a

distorção no sistema de investi-

mento do orçamento público. “O

governo alega que não há recurso

para promover a reestruturação

da carreira do professor, mas es-

se argumento perde força diante

do que percebemos”, completou

Menezes.

Apoio estudantil

Marcaram presença no evento

representantes de várias organi-

zações estudantis. Segundo Pa-

trick Hallan, da ANEL, essa greve

de 2012 deve ser unificada, pois

a luta dos professores e dos estu-

dantes é a mesma e a melhora na

carreira do professor beneficia

todos.

“É necessário fazer uma pressão

nacional para construir a educa-

ção que queremos, com participa-

ção de toda a sociedade. A mar-

cha ocorrida na semana passada,

que reuniu 15.000 pessoas entre

professores, servidores e estu-

dantes, é um exemplo da força do

movimento de greve”, disse Pa-

trick, e alertou: “Há meios que

tentam criminalizar e desqualifi-

car a greve do professor. Por isso,

os estudantes precisam se infor-

mar, participar das reuniões dos

comandos de mobilização da UFS

e do IFS para entender o que real-

mente está acontecendo”

Os estudantes Geilson Gomes, do

curso de Comunicação da UFS, e

Emilly Gabriela, do curso de Ali-

mentos do IFS, fazem parte dos

comandos de mobilização estu-

dantil que apoiam greve dos pro-

fessores. “Nós fazemos várias

atividades para dialogar com os

estudantes, porque a maioria de-

les não sabe o que está aconte-

cendo e discorda da greve por

falta de informação. O Comando

de Mobilização é um canal de co-

municação com o aluno”, afirmou

Geilson.

Cancelamento Reunião

Estava agendado para o mesmo

dia do ato uma reunião entre o

ANDES-SN e o Ministério do Pla-

nejamento (MP) para apresenta-

ção por parte do governo de uma

proposta de reestruturação do

Plano de Carreira dos professores

federais, porém ela foi cancelada.

O MP argumentou que do dia 12

de junho (data da última reunião)

até o momento não houve tempo

para organizar uma reunião com

toda sua equipe a fim de discutir

as propostas.

Para o presidente da ADUFS, pro-

fessor Antônio Carlos, o cancela-

mento é mais uma prova de que o

governo não tem novidades para

a p r e s e n t a r à c a t e g o r i a .

“Infelizmente, o governo está nos

levando até o limite dos prazos

para apresentação de proposta,

deixando para aprovar qualquer

coisa no último minuto para cair

na Lei de Diretrizes Orçamentá-

rias (LDO) e dessa forma nos em-

purra para acabar com a greve à

força. Essa é mais uma demons-

tração do descaso com a categori-

a dos professores”. Estudantes Emilly Gabriela, do IFS, e Geilson

Gomes, da UFS

Você sabia?

O Orçamento Geral da União de 2011 destinou,

até o dia 31 de dezembro, R$ 708 bilhões para o

pagamento de juros e amortizações da dívida pú-

blica federal. Este valor significou 45% dos recur-

sos do orçamento. Enquanto isso, apenas 3% fo-

ram destinados à Educação, 4% para a Saúde e

0,12% para a Reforma Agrária.

Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida

Page 5: Boletim CLG 6

N° 6

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vam atuantes. Foi ai que decidi-

mos entrar de vez, por ver que

tinha muitos professores pensan-

do no coletivo.

Lucas – Ao contrário de Elysson,

de início participei pouco das as-

sembleias, apesar de procurar

estar sempre informado. Só co-

mecei a participar mais para mos-

trar que uma greve pode ser ga-

nha pelo intelecto, e não pela im-

posição de força. A minha motiva-

ção principal para entrar foi fazer

a greve dar certo do jeito certo, no

meu entendimento.

O fato de termos participado da

greve enquanto alunos e sofrido

muito com isso me fez voltar a

maioria dos meus esforços para

tentar ajudar os alunos que estão

sendo prejudicados com a greve.

A grande queixa dos professores

é que nós nos esforçamos para

ter graduação, pós-graduação,

trabalhamos em pesquisa, não

paramos nunca de estudar, para

ganhar às vezes menos que uma

pessoa com segundo grau que

prestou um concurso para um

cargo mais valorizado. Algumas

pessoas contrárias à greve dizem,

“professor federal ganha bem,

por que está em greve?”. Para

mim, o que vale não é somente

quanto o professor ganha, mas

sim quanto ele ganha proporcio-

nal a quanto trabalha, estuda e

se esforça em toda a sua carreira.

ADUFS - Qual o recado que vocês

dão para os alunos da UFS neste

momento de greve?

Elysson – Nós estamos trabalhan-

do para garantir que os direitos

do aluno durante a greve sejam

preservados, porque o objetivo

não é professor prejudicar aluno,

e sim fazer uma educação que

seja melhor para professor e me-

lhor ainda para o aluno.

Lucas – O meu recado é: os alu-

nos que se sentem pressionados

pelo professor que insiste em dar

aula na greve de forma indevida,

fiquem tranquilos. Essas ativida-

des não são legais, independente

da greve, pois existem normas

acadêmicas e resoluções da uni-

versidade que impedem esse tipo

de atitude e a gente está traba-

lhando em cima disso.

Entrevista Em entrevista para o Boletim CLG,

os professores Elysson Carvalho e

Lucas Molina, ambos do Departa-

mento de Engenharia Elétrica da

UFS, falam sobre a primeira greve

que eles estão vivendo – dessa

vez, como professores:

ADUFS – Vocês já enfrentaram

greve como estudantes da UFS.

Agora a situação é outra. Como

está sendo essa primeira experi-

ência de greve, agora como pro-

fessores?

Elysson – Eu já participava das

assembleias antes da greve.

Quando surgiu a possibilidade de

mobilização nacional, eu comecei

a prestar mais atenção no assun-

to. Inicialmente, a minha ideia era

propor nas assembleias outros

caminhos que não levassem à

greve. Eu dava sugestões do que

a gente poderia fazer, mas tudo o

que eu pensava como uma possí-

vel solução alguém já tinha tenta-

do. Foi ai que me convenci que

não tinha outro caminho. No dia

da votação, eu pensei “se levan-

tar a mão, é pra fazer direito”, e

desde então me envolvi completa-

mente.

A princípio, pensei minha atuação

mais para conscientização dos

alunos do departamento, para

que o impacto que sofri na minha

época de estudante não aconte-

cesse com eles. A intenção inicial

não era participar das comissões,

mas, com o tempo, eu e Lucas

fomos percebemos o empenho

dos outros professores no movi-

mento: tinha professor sem almo-

çar, dormindo pouco, muito can-

sados, e mesmo assim eles esta- Professores da UFS Elysson Carvalho e Lucas Molina

Page 6: Boletim CLG 6

Boletim CLG

CHARGE DA

SEMANA