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Balanço do Evento “I Fórum de Discussão do Eixo São Paulo-Rio de Janeiro sobre a Epidemiologia Molecular de Cryptosporidium” A todos os sócios/membros da Sociedade Paulista de Parasitologia e Grupo de Estudos dos Protozoários Emergentes e Oportunistas: No ultimo dia 6 de dezembro, foi realizado no Auditório da Sanasa/Campinas, o evento cujo tema versou sobre a Epidemiologia Molecular de Cryptosporidium. Estiveram presentes 54 pessoas, quando o público-alvo esperado era de 60 e, tivemos a participação de pessoas dos Estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná. Apesar do verdadeiro caos que se instalou nos aeroportos, houve um grande esforço dos palestrantes em prestigiarem o evento e a todos, os meus mais sinceros agradecimentos. Todas as apresentações orais foram de altíssimo nível e, os resumos já estão disponíveis na página da Sociedade Paulista de Parasitologia (www.ib.unicamp.br/sppar ). Esperamos, em breve, após a autorização por parte dos palestrantes, disponibilizar as apresentações em PowerPoint. Importantes aspectos emergiram do evento, como segue: 1. A prevalência da criptosporidiose, a partir de inquéritos parasitológicos fecais, é relativamente alta: de 1,5% a 19,1% entre os indivíduos HIV+ e em crianças, de 4,3% a 17,4%. 2. Com a realização das técnicas moleculares e reunindo os achados dos diversos grupos de pesquisa que realizaram as apresentações, as espécies que foram registradas no Brasil até o momento foram: Cryptosporidium hominis, Cryptosporidium parvum (genótipo bovino) e C. meleagridis (1 achado, relatado pela Dra. Ana Júlia Urias, da UNITAU), havendo ainda a necessidade de confirmação por sequenciamento. 3. Todos os pesquisadores presentes foram unânimes em apontar que há uma falha de conhecimento em relação às amostras ambientais, sendo os dados acima arrolados referentes às amostras clínicas. 4. Foi também apontado que , em situações de surtos de rotavírus, em alguns casos, a presença de Cryptosporidium foi documentada (Sidnei Silva; 3% - criptosporidiose). Levantou-se a questão: não inclusão da pesquisa de Cryptosporidium pelos laboratórios de parasitologia clínica. 5. Entre as dificuldades técnicas, foram destacadas aquelas referentes aos inibidores e o uso de diferentes substâncias para a remoção destes (PVP, BSA, CTAB). Também, foram utilizados diferentes protocolos de rompimento (ciclos de congelamento/descongelamento; digestão alcalina, uso de pérolas de vidro). Foi pontuada a questão dos custos dos kits comerciais (de extração). 6. Foi mencionado o risco potencial de transmissão do protozoário a partir de pets/animais de estimação, livremente comercializados em feiras de animais, levando a infecção para a criança e possibilidade de casos secundários através dos contatos familiares. Em casos especiais, quando adquiridos com finalidade de pesquisa científica, levando a infecção para outros animais de laboratório. 7. Houve unamidade de que os estudos a partir de agora, devam ser estendidos para Giardia, no que tange o aspecto molecular.

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Page 1: Balanço do Evento “I Fórum de Discussão do Eixo São Paulo ...20evento_epidemio... · Epidemiologia Molecular de Cryptosporidium” A todos os sócios/membros da Sociedade Paulista

Balanço do Evento “I Fórum de Discussão do Eixo São Paulo-Rio de Janeiro sobre a Epidemiologia Molecular de Cryptosporidium” A todos os sócios/membros da Sociedade Paulista de Parasitologia e Grupo de Estudos dos Protozoários Emergentes e Oportunistas:

No ultimo dia 6 de dezembro, foi realizado no Auditório da Sanasa/Campinas, o evento cujo tema versou sobre a Epidemiologia Molecular de Cryptosporidium.

Estiveram presentes 54 pessoas, quando o público-alvo esperado era de 60 e, tivemos a participação de pessoas dos Estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná. Apesar do verdadeiro caos que se instalou nos aeroportos, houve um grande esforço dos palestrantes em prestigiarem o evento e a todos, os meus mais sinceros agradecimentos. Todas as apresentações orais foram de altíssimo nível e, os resumos já estão disponíveis na página da Sociedade Paulista de Parasitologia (www.ib.unicamp.br/sppar). Esperamos, em breve, após a autorização por parte dos palestrantes, disponibilizar as apresentações em PowerPoint. Importantes aspectos emergiram do evento, como segue:

1. A prevalência da criptosporidiose, a partir de inquéritos parasitológicos fecais, é relativamente alta: de 1,5% a 19,1% entre os indivíduos HIV+ e em crianças, de 4,3% a 17,4%.

2. Com a realização das técnicas moleculares e reunindo os achados dos diversos grupos de pesquisa que realizaram as apresentações, as espécies que foram registradas no Brasil até o momento foram: Cryptosporidium hominis, Cryptosporidium parvum (genótipo bovino) e C. meleagridis (1 achado, relatado pela Dra. Ana Júlia Urias, da UNITAU), havendo ainda a necessidade de confirmação por sequenciamento.

3. Todos os pesquisadores presentes foram unânimes em apontar que há uma falha de conhecimento em relação às amostras ambientais, sendo os dados acima arrolados referentes às amostras clínicas.

4. Foi também apontado que , em situações de surtos de rotavírus, em alguns casos, a presença de Cryptosporidium foi documentada (Sidnei Silva; 3% - criptosporidiose). Levantou-se a questão: não inclusão da pesquisa de Cryptosporidium pelos laboratórios de parasitologia clínica.

5. Entre as dificuldades técnicas, foram destacadas aquelas referentes aos inibidores e o uso de diferentes substâncias para a remoção destes (PVP, BSA, CTAB). Também, foram utilizados diferentes protocolos de rompimento (ciclos de congelamento/descongelamento; digestão alcalina, uso de pérolas de vidro). Foi pontuada a questão dos custos dos kits comerciais (de extração).

6. Foi mencionado o risco potencial de transmissão do protozoário a partir de pets/animais de estimação, livremente comercializados em feiras de animais, levando a infecção para a criança e possibilidade de casos secundários através dos contatos familiares. Em casos especiais, quando adquiridos com finalidade de pesquisa científica, levando a infecção para outros animais de laboratório.

7. Houve unamidade de que os estudos a partir de agora, devam ser estendidos para Giardia, no que tange o aspecto molecular.

Page 2: Balanço do Evento “I Fórum de Discussão do Eixo São Paulo ...20evento_epidemio... · Epidemiologia Molecular de Cryptosporidium” A todos os sócios/membros da Sociedade Paulista

8. Debateu-se o conceito de espécie e quais critérios devem orientar a consideração de uma nova espécie.

9. Foi consenso entre os pesquisadores que diversos protocolos tem sido empregados nas diferentes pesquisas conduzidas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Emergiu como ponto principal a falta de padronização dos protocolos, inclusive os de extração, amplificação e, sequenciamento. Assim, há uma clara necessidade de padronização dos mesmos. Há também a necessidade de padronização de como devem ser efetuados os procedimentos de coleta das amostras (congelamento resultou em melhores resultados; dificuldades quando trabalhando com amostras conservadas em dicromato de potássio ou formalina 10%).

10. Apresentou-se uma metodologia que pode ser aplicada à amostra ambiental (água). Esta se revelou promissora, e é baseada, inicialmente, em protocolo nacional (filtração em membranas).

11. Em relação às amostras ambientais, foram apontados : o alto risco de ocorrência de artefatos, de perda do conteúdo do ácido nucléico e o pequeno número de oocistos presentes nessas amostras como fatores problemáticos.

12. No Brasil, há poucas publicações na área molecular, até o momento: Gonçalves et al., 2002; Brantley et al., 2003; Gatei et al., 2003; Araújo et al., 2005; Carvalho- Almeida et al., 2005; Gonçalves et al., 2006; Bushen et al., 2006.

13. Os custos das diversas preparações são (em dólares): coloração = 0,50; prospect = 7,00 e PCR=30,00 (dados da Elenice Gonçalves).

14. Em surto da creche do HC-USP_SP, foi detectado C. hominis e sub-genótipo ML1 (fragmento do SSUrRNA; região terminal).

15. Finalizando, houve consenso de que: C. hominis e C. parvum (genótipo bovino) foram as espécies detectadas nas amostras clínicas observadas, tanto em São Paulo como Rio de Janeiro. Os estudos moleculares ainda são poucos no Brasil e devem ser estendidos em relação à Giardia. Em relação aos protocolos da PCR, destaca-se a falta de padronização, atualmente, no Brasil. Recomenda-se a inclusão da abordagem dos protozoários emergentes e oportunistas no currículo do ensino médico, em nível de graduação e, há a necessidade de cursos de reciclagem para os profissionais da área da saúde , sobre este tema.

Regina Maura B. Franco Presidente- SPP Ana Júlia Urias vice-presidente – SPP Ana Maria Guaraldo Tesoureira – SPP Nilson Branco Secretário - SPP