aspectos metodológicos das pesquisas com crianças

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PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 23, n. 01, p. 41-64, jan./jul. 2005 http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html Questões teórico-metodológicas da pesquisa com crianças Juliana Pereira da Silva* Silvia Neli Falcão Barbosa** Sonia Kramer*** Resumo: O objetivo deste texto é o de contribuir para a fundamentação teórico-metodológica da pesquisa com crianças. Com base em Benjamin, o texto busca entender as relações entre infância, cultura e sociedade, a partir de uma perspectiva fundamentada na antropologia e na filosofia. Em primeiro lugar, situa-se o tema no contexto das ciências humanas e sociais, delineando alguns desafios e ilusões que os pesquisadores enfrentam. A seguir, é apresentada a produção acadêmica brasileira recente, trazendo diferentes perspectivas sobre o tema. O terceiro item analisa dois aspectos que, em uma interlocução com a antropologia, são considerados fundamentais para o trabalho de campo: distância e proximidade; familiaridade e estranhamento. O quarto item propõe algumas diretrizes metodológicas para a pesquisa com crianças, com base na obra de Bakhtin e de Vygotsky. Palavras-chave: Crianças-Pesquisa. Pesquisa-Metodologia. Crianças-Aspectos culturais. Infância- Aspectos culturais. * Graduanda em Pedagogia da PUC-Rio (bolsista de Iniciação Científica). ** Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação. Mestre em Educação pela PUC-RJ. *** Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação. Doutora em Educação pela PUC-RJ.

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Aspectos metodológicos das pesquisas com crianças

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  • PERSPECTIVA, Florianpolis, v. 23, n. 01, p. 41-64, jan./jul. 2005

    http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html

    Questes terico-metodolgicas da pesquisacom crianas

    Juliana Pereira da Silva*

    Silvia Neli Falco Barbosa**

    Sonia Kramer***

    Resumo:

    O objetivo deste texto o de contribuir para a fundamentao terico-metodolgicada pesquisa com crianas. Com base em Benjamin, o texto busca entender as relaesentre infncia, cultura e sociedade, a partir de uma perspectiva fundamentada naantropologia e na filosofia. Em primeiro lugar, situa-se o tema no contexto dascincias humanas e sociais, delineando alguns desafios e iluses que os pesquisadoresenfrentam. A seguir, apresentada a produo acadmica brasileira recente, trazendodiferentes perspectivas sobre o tema. O terceiro item analisa dois aspectos que, emuma interlocuo com a antropologia, so considerados fundamentais para o trabalhode campo: distncia e proximidade; familiaridade e estranhamento. O quarto itemprope algumas diretrizes metodolgicas para a pesquisa com crianas, com base naobra de Bakhtin e de Vygotsky.

    Palavras-chave:

    Crianas-Pesquisa. Pesquisa-Metodologia. Crianas-Aspectos culturais. Infncia-Aspectos culturais.

    * Graduanda em Pedagogia da PUC-Rio (bolsista de Iniciao Cientfica).** Professora da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, Departamento deEducao. Mestre em Educao pela PUC-RJ.*** Professora da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, Departamento deEducao. Doutora em Educao pela PUC-RJ.

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    Eis porque, por outro lado, a estada para oestrangeiro uma pedra de toque to mais preciosa.

    Obriga todos a escolher um critrio. No fundo, obviamente, a garantia nica do julgamento correto ter escolhido

    uma posio antes de vir.

    (Walter Benjamin)

    Este texto foi produzido como parte do trabalho de fundamentaoterico-metodolgica da pesquisa Crianas e adultos em diferentescontextos: a infncia, a cultura contempornea e a educao1 . O objetivodo texto compreender as relaes entre infncia, cultura e sociedade, apartir de uma perspectiva de estudos da infncia fundamentada naantropologia e na filosofia, como a obra de Benjamin (1987a, 1987b, 1984),da psicologia baseada na histria e na sociologia, como a ela se refereVygotsky (1984, 1987a, 1987b) e de uma concepo de linguagem quebusca suas bases na sociologia e na histria (BAKHTIN, 1982, 1988).

    Ao longo do texto so discutidos quatro aspectos. Em primeiro lugar,situamos a discusso no contexto das pesquisas humanas e sociais, aludindoa alguns desafios, iluses e possibilidades enfrentadas pelos pesquisadores.Em seguida, tratamos da pesquisa com crianas: o foco est colocadoaqui na produo brasileira recente que procuramos contextualizar eproblematizar. No terceiro item, analisamos dois aspectos que, numainterlocuo com a antropologia, so fundamentais para a pesquisa decampo: distncia e proximidade; familiaridade e estranhamento. No quartoitem, apresentamos algumas diretrizes metodolgicas para a pesquisa comcrianas com base nos estudos de Mikhail Bakhtin e de Lev Vygotsky. Otrabalho se destina leitura daqueles que valorizam, de um lado, a revisode literatura e, de outro lado, o processo de discusso crtica, num campo o dos estudos da infncia que tem se beneficiado da interlocuo frtilentre diferentes enfoques tericos e reas do conhecimento.

    A pesquisa nas cincias humanas e sociais

    Encontramos na obra do filsofo Japiassu (1976, 1977, 1982) umalonga e consistente anlise sobre os obstculos que as cincias humanasenfrentaram (e ainda enfrentam) para se manterem humanas. De um lado, secoloca o desafio da objetividade: mais do que captar o objeto ou os fatos

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    Questes terico-metodolgicas da pesquisa com crianas

    trata-se de um incessante movimento de objetivao em que os modelos decientificidade que as cincias humanas historicamente procuraram delinearficam em questo. As cincias humanas acabaram por definir seus critrios eprincpios a partir dos critrios e princpios consagrados pelas cincias exatas.De outro lado, condio para o pesquisador das cincias humanasreconhecer seus prprios limites, explicitar o ponto de vista de onde realizaa investigao, se inquietar, indagar. Ao apontar que a cincia se desvia,contrape, age por rupturas, Japiassu (1991) desvela o mito da neutralidadecientfica, mas aponta, simultaneamente, o risco do relativismo e dopragmatismo. Ainda que as paixes da cincia precisem ser explicitadas, paraJapiassu (2001), nem tudo relativo como dir o autor anos mais tarde e a questo da verdade se mantm como um desafio aos pesquisadores.Assim, ao aliar a conscincia da iluso das certezas busca de significados ede compreenso, no processo da pesquisa importa, segundo o filsofo,mais do que explicao factual de todas as coisas as indagaes; mais do querespostas exatas, novas perguntas so formuladas. Na sua viso de teoria doconhecimento, a inquietao a marca, tal como o so o movimento, amudana de ponto de vista, os deslocamentos.

    Alm disso, Japiassu (1989) identifica trs campos que contribuempara que, no processo de constituio das cincias humanas como cincias,elas se mantenham humanas: a antropologia (ao propor que se leve emconta o ponto de vista de quem e de onde o conhecimento se realiza e ossignificados que circulam), os estudos da linguagem (dada a centralidadeda linguagem nos processos humanos de constituio da conscincia e deproduo dos sentidos) e a psicanlise (favorecendo a compreenso doinconsciente com seus mecanismos de apreenso do mundo, dos objetos,das relaes). Sua anlise contribui para desmistificar a existncia de umsuposto melhor mtodo para a pesquisa, para diluir as fronteiras rgidasentre disciplinas e entre abordagens qualitativas e quantitativas, a perceberque os dados no so dados, mas sim construdos e, tambm, acompreender de maneira delicada e tensa que, por trs do dado, h sempreum rosto, um corpo, um sujeito. Na construo da metodologia, o desvio,a ruptura, a pergunta so centrais.

    Pois bem. E por que trazer aspectos de natureza epistemolgica numtexto que trata de questes da pesquisa com crianas? Porque a discussoepistemolgica de Hilton Japiassu tem fornecido a base terica para oreferencial que orienta nossa trajetria de pesquisa, desde 1988 at hoje

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    Juliana Pereira da Silva, Silvia Neli Falco Barbosa e Sonia Kramer

    (KRAMER 1993, 2002). A partir de suas reflexes filosficas, temosbuscado referenciais tericos que possibilitem uma compreensointerdisciplinar, dialgica e dialtica dos processos educacionais. E temosencontrado particularmente em trs estudiosos as ferramentas conceituaispara estudar a infncia, a cultura e a formao: Benjamin, Bakhtin e Vygotsky.Walter Benjamin (1987a, 1987b), por sua teoria crtica da cultura e damodernidade, por seu conceito de histria e por sua concepo de infnciana cultura contempornea (sem desconsiderar outros pensadorescontemporneos que tematizam e problematizam essa questo), Bakhtin(1988, 1982), por sua concepo de linguagem fundamentada na histria ena sociologia, pelas contribuies metodologia das cincias humanas esociais e tambm porque, segundo Bakhtin (2003), no processo da pesquisa preciso considerar o lugar de onde observo, escuto, pergunto, meo,avalio a exotopia entendendo que o objeto pesquisado das cinciashumanas, tanto quanto o pesquisador, sempre um sujeito (implicado,interessado, situado). E Vygotsky (1984, 1987a, 1987b) porque, baseandosua psicologia na sociologia e na histria, entende a criana como produtorade cultura e reconhece a brincadeira como o que caracteriza a infncia. Ostrs pensadores so referncia desta pesquisa por no dicotomizarem razoe emoo, porque tomam a linguagem na sua centralidade como produohumana, por sua perspectiva histrica, dialtica e humana da linguagementendida como experincia criativa ininterrupta, pela contribuio queoferecem tica e esttica e, em particular, por sua concepo de infnciacomo categoria da histria e das crianas como sujeitos sociais, queproduzem linguagem e cultura.

    A pesquisa que estamos desenvolvendo se fundamenta, portanto, emtrs campos tericos: o dos estudos da linguagem, onde o outro ocupa umpapel fundamental na construo do meu conhecimento; o da antropologia,que traz contribuies essenciais para a compreenso das significaesatribudas pelo outro. Alm dessas referncias, so consideradasinvestigaes da histria da infncia e da sociologia da infncia, assumindoo desafio de abordar o objeto da pesquisa (um sujeito, segundo Bakhtin)no mbito de uma antropologia filosfica que, de acordo com Benjamin, ocaminho necessrio para o estudo da infncia. A pesquisa com crianas,do modo como a entendemos, remete antropologia, na medida em quese prope a compreender as significaes, e filosofia, na medida em quelida com pressupostos e implicaes (RIBEIRO, 2002, p. 66). Temos,

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    Questes terico-metodolgicas da pesquisa com crianas

    portanto, uma combinao entre o mtodo scio-antropolgico e osestudos da linguagem a partir da abordagem filosfica de Vygotsky,Bakhtin e Benjamin combinao que se torna necessria para conhecerinteraes e prticas entre crianas e adultos nos espaos de educao infantile ensino fundamental escolhidos, mas tambm para compreender de quemodo a cultura contempornea se manifesta nestes espaos. O resultadodo ponto de vista metodolgico no uma etnografia no sentido estrito,tanto pelas estratgias adotadas, quanto pela reflexo sobre pressupostos eimplicaes dessas interaes na educao das crianas, embora com certezair se beneficiar das estratgias do trabalho etnogrfico.

    As contribuies principais advm da teoria de Bakhtin e sua reflexosobre as cincias humanas, onde os conceitos de dialogia, polifonia,exotopia, palavra e contrapalavra so centrais (BAKHTIN, 1988, 2003);estabelecendo um dilogo constante com a anlise da histria e dalinguagem, segundo a teoria crtica da cultura e da modernidade(BENJAMIN, 1987a, 1987b); as contribuies de Vygotsky (1984, 1987a,1987b), levando em considerao tambm a questo da circularidade dacultura (GINSZBURG, 1995); as estratgias e as tticas da cultura nocotidiano (CERTEAU, 1994, 1995), as marcas do processo civilizador(ELIAS, 1994) e, nas relaes sociais, como a cultura expressa e vaisendo impressa, inclusive no corpo (MAUSS, 1971, 1996).

    Alm disso, de acordo com Bakhtin (2003), a pesquisa em cinciashumanas sempre estudo de textos: dirios de campos, transcries deentrevistas so mais do que aparatos tcnicos modos de conhecimento.A tarefa do pesquisador implica em recortes e vieses, em procurar a distncia,o afastamento, a exotopia (o pesquisador sempre um outro), de formaa favorecer que o real seja captado na sua provisoriedade, dinmica,multiplicidade e polifonia. Por outro lado, os textos pesquisados (faladosou escritos) para serem entendidos exigem que se explicitem ascondies de produo dos discursos, prticas e interaes. Texto econtexto so, para o pesquisador, importantes ferramentas conceituais.

    E como conciliar estas questes com os desafios da pesquisa comcrianas? Como conhecer o particular sem abdicar de compreendercomo nele a totalidade se revela? Como entender o cotidiano e a histria?No caso da pesquisa com crianas se coloca como fundamental ouviros ditos e os no ditos; escutar os silncios. Ser, como o poeta, umapanhador de desperdcios:

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    Juliana Pereira da Silva, Silvia Neli Falco Barbosa e Sonia Kramer

    O apanhador de desperdcios

    Uso a palavra para compor meus silncios.No gosto das palavrasfatigadas de informar.

    Dou mais respeitos que vivem de barriga no cho

    tipo gua pedra sapo.Entendo bem o sotaque das guas.

    Dou respeito s coisas desimportantese aos serem desimportantes.

    [...]Amo os restos como as boas moscas.

    Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.Porque eu no sou da informtica:

    eu sou da invenciontica.S uso palavras para compor meus silncios

    (BARROS, 2003, p. IX)

    A pesquisa com crianas

    No Brasil, podemos observar o esforo recente de produo, oinvestimento terico e o desenvolvimento de estudos para a construode uma metodologia de pesquisa com crianas. No que se refere sociologiada infncia, desde a investigao feita nos anos 40 por Fernandes (1979),passando pela publicao de Martins (1993), a traduo dos trabalhos deMontandon (2001), Sirota (2001), alm dos trabalhos de Quinteiro (2000,2002), Faria, Demartini e Prado (2002), Gouva (2002), este um campoem constituio. A viso da infncia como construo social e a tentativade consolidar uma sociologia da infncia tm recebido ainda a contribuiode Sarmento (1997, 2000, 2001), Sarmento e Pinto (1997), Pinto (1997),alm de pesquisas baseadas na sociologia e na antropologia, tais como ade Aguiar (1994), Collares e Moyss (1996), Martins (1993), no seu estudosobre a criana sem infncia no Brasil, e quanto infncia, histria e polticaspblicas os trabalhos de Bazlio (1998), Passetti (1999), Irma Rizzini(1999), Irene Rizzini (1993), Pilotti e Rizzini (1995).

    Este campo tem se nutrido, ainda, de uma srie de estudos voltadospara a infncia como categoria da histria, ou que se propem a constituir

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    uma histria da infncia, desde o clssico trabalho de Aris (1981), passandopor Aris e Chartier (1991) e os trabalhos recentes de historiadoresbrasileiros, tais como Freitas (2001), Tozoni-Reis (2002), Altman (1999),Del Priore (1999), Monarcha (2001), entre outros. Neste contexto, aproduo cultural e a infncia no tm sido uma questo menor, seconsiderarmos tanto o ngulo da literatura como fonte de conhecimento(RAMOS, 1967; REGO, 1976, 1980) quanto a produo cultural para ascrianas (PERROTTI, 1990; SCHIAVONI, 1989; COQUET, 1998).

    Por outro lado, diversas reas do conhecimento que estudam a infncia,seu escopo e questes, contribuem para uma reflexo que problematiza aconcepo de infncia como categoria e os aspectos metodolgicos queprecisam ser considerados para conhecer os diferentes campos e contextosempricos onde as crianas agem e interagem, com crianas e com adultos.Questes relativas infncia e historicidade tm sido discutidas(BENJAMIN, 1987; PASOLINI, 1990; GAGNEBIN, 1994; POSTMAN,1994) e este tema, aliado infncia e crtica da cultura, tem se constitudoem objeto de reflexo de pesquisadores brasileiros de diversas reas doconhecimento (SOUZA, 1994, 2000; CASTRO, GARCIA; SOUZA, 1997;CASTRO, 2000; GHIRALDELLI, 1997; KRAMER, 1993, 1996;KRAMER; LEITE,1996, 1998).

    Valendo-nos do desvio como mtodo e atentos s insignificncias,aos detritos, aos restos, s dobras, a infncia tomada como categoriacentral da histria e as crianas so vistas como estando sempre em umcanteiro de obras, agindo, procurando, provocando a desordem(BENJAMIN, 1987b, 1984). O percurso metodolgico est baseadonas contribuies da antropologia, como dissemos, e na construo deum olhar e de uma escuta sensvel para captar e compreender crianas,adultos e suas interaes. Um srio esforo terico-metodolgico temsido feito nesse sentido (KRAMER; LEITE, 1996; DEBORTOLI, 2004;BARBOSA, 2004; CORSINO, 2003; NASCIMENTO, 2004;LACOMBE, 2004; GUSMO, 2003; SOUZA, 2003; AMORIM, 2003;FREITAS, 2003; BAZLIO; KRAMER, 2003) com base em Benjamin,Vygotsky, Bakhtin, entre outros, buscando entrecruzar o conhecimentoterico sobre a criana, a discusso metodolgica, o delineamento datcnica e a construo da sensibilidade do olhar.

    Nesse contexto, consideramos que preciso superar o mito doprotagonismo infantil e analisar criticamente as mudanas nos papis e nas

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    formas de interao entre crianas e adultos, compreendendo a infnciacomo categoria e as crianas como sujeitos empricos em interao constantecom crianas, jovens e adultos. Por se constituir como um campo dascincias humanas e sociais, na pesquisa com crianas pesquisamos semprerelaes (VYGOTSKY, 1984), o que torna fundamental ver e ouvir. Ver:observar, construir o olhar, captar e procurar entender, reeducar o olho ea tcnica. Ouvir: captar e procurar entender; escutar o que foi dito e o nodito, valorizar a narrativa, entender a histria. Ver e ouvir so cruciais paraque se possa compreender gestos, discursos e aes. Este aprender denovo a ver e ouvir (a estar l e estar afastado; a participar e anotar; ainteragir enquanto observa a interao) se alicera na sensibilidade e nateoria e produzida na investigao, mas tambm um exerccio que seenraza na trajetria vivida no cotidiano.

    A linha de pesquisa alicerada nessas bases conceituais compartilha daperplexidade ainda sentida por muitos adultos diante da desvalorizaoda experincia no mundo atual e tem seu foco colocado em:

    a) observar e escutar crianas em diferentes contextos;b) compreender crianas e adultos tambm em diferentes contextos.

    Nos dois casos, se torna necessrio levar em conta as profundasmudanas no mundo do trabalho, suas implicaes para a culturacontempornea e seu impacto nos processos de interao de crianascom adultos, no nosso caso, hoje, na cidade do Rio de Janeiro, num pasmarcado por uma profunda desigualdade econmica e social e peladiversidade cultural, tnica e religiosa. Nesse sentido, fundamental ainterlocuo com o campo da antropologia.

    Entre o familiar e o extico, entre a distncia e a proximidade:tenses e possibilidades na pesquisa de campo

    Toda vspera de trabalho de campo mobiliza, inquieta, suscitaexpectativas. A preparao para mais uma estada no campo traz a impressode estar desfazendo malas de uma longa viagem e arrumando outras.Algumas coisas ficam, outras vo. Este um momento de escolhas.

    Segundo Oliveira (1998, p. 17-18) o trabalho do pesquisador implicao olhar, o ouvir e o escrever. Atos cognitivos que precisam estardisciplinados. Ou seja, orientados pela disciplina. Assim, nenhum olhar,

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    ouvir ou escrever ser neutro, mas ter subjacente um esquema conceitualda disciplina formadora de nossa maneira de ver a realidade. A teoriasensibiliza o olhar e o ouvir e orienta o escrever. Para o autor, olhar e ouvirseriam atitudes que o pesquisador desenvolve estando no trabalho de campo.O primeiro movimento, o olhar, est orientado pelas escolhas que fizemosao arrumarmos as malas. Dessa forma, o objeto da pesquisa (no casodas cincias sociais um sujeito) sempre observado de um determinadolugar, onde esto envolvidas a subjetividade do pesquisador e sua bagagemterica. Isso quer dizer que, de certa forma, esse olhar modifica o objetoda pesquisa pelo modo como o encaramos. Na maioria das vezes,entretanto, o olhar no suficiente, faz-se necessrio ouvir. Isto porquequalquer conduta observada, sem a compreenso das idias que a sustentam,no poder ser compreendida inteiramente.

    A relao entre esses dois movimentos, olhar e ouvir, conduz o trabalhodo pesquisador na tarefa da pesquisa de campo, seja na observaoparticipante ou com a entrevista aberta que, segundo Velho (1978, p. 36), seconstituem na marca registrada da antropologia. Que desafios nos aguardam?

    Para Matisse (1983, p. 9), o artista inicia o seu processo criadorna viso, pois ver uma operao criadora que exige esforo. Exigeesforo porque precisamos, segundo Matisse, nos desvencilhar daquiloque nos imposto pelos hbitos e pela prpria imerso no cotidianopara ver todas as coisas como se as estivesse vendo pela primeiravez. Se assim para o artista, cremos que o pesquisador, no exercciodesse olhar, um pouco artista tambm.

    De acordo com Velho (1978), esse desafio implica a necessidade deum contato razoavelmente longo com a cultura a ser estudada, pois existemaspectos que no se mostraro a esse olhar imediato do pesquisador,principalmente no que diz respeito lgica das relaes que se estabelecemnesse universo a ser pesquisado.

    No olhar que para Matisse deve ser desvencilhado de preconceitose que, para Oliveira, deve ser complementado pelo ouvir est implicadaa necessidade de transformar o extico em familiar e o familiar emextico (DA MATTA, 1987, p. 28), idia trabalhada por Gilberto Velhoem dois textos: Observando o familiar (1978)2 e O desafio da proximidade (2003).

    Segundo Velho (1978, 2003), entre o ser extico ou ser familiar existeuma distncia. Reconhecidamente, sempre houve uma distncia fsica naspesquisas antropolgicas que buscavam conhecer culturas distantes. No

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    entanto, o pesquisador que tem como seu campo de pesquisa o seu prpriolugar como no caso da pesquisa urbana acaba tendo que lidar comoutros tipos de distncia, s vezes tanto ou mais difceis de transpor doque uma distncia fsica: a distncia social e a distncia psicolgica. Pesquisarnos centros urbanos exige investigar sistemas e redes de relaes/processossociais mais amplos aonde outros atores, alm do objeto de estudo (que,como vimos, sempre um sujeito), esto envolvidos. Sendo parte dessarede de relaes, muitas vezes o que o pesquisador v e encontra, pode serfamiliar, mas no necessariamente conhecido. Por outro lado, aquilo queno v e no encontra pode ser extico (fora da tica); pode ser, at certoponto, conhecido pelo pesquisador. Neste sentido, Velho aponta doismovimentos essenciais ao trabalho do pesquisador (que so movimentospresentes na histria da antropologia): transformar o conhecimento exticoem familiar e o conhecimento familiar em extico.

    Num contexto urbano como uma escola, uma praa, um museu dispomos, a princpio, de mapas que nos familiarizam com os cenrios e situaessociais. No entanto, esse conhecimento pode ser apenas superficial, pois nogarante a apreenso do ponto de vista dos atores nele envolvidos. Que regrasdefinem as interaes? Em especial aquelas implcitas nas relaes do cotidianoe que vo realmente definir a cultura do grupo? Para Velho (2003), o trabalhodo antroplogo busca o significado nas relaes sociais concretas, buscaconhecer as diferenas. Para isso no h receita ou mtodo prvio, antes preciso estabelecer estratgias que evitem esquemas reducionistas: cadapesquisador deve procurar suas trilhas prprias a partir do repertrio de mapaspossveis. (VELHO, 2003, p. 18). Os sujeitos da pesquisa seriam objeto deestudo como intrpretes de mapas e cdigos socioculturais; e o trabalho dopesquisador corresponde tentativa de trazer explicitaes e interpretaes,pois nem todos os aspectos de uma cultura, de uma sociedade, aparecem superfcie. Embora a familiaridade represente um certo tipo de apreenso darealidade, pode fornecer importantes contribuies para o conhecimento daorganizao social de um grupo, de uma poca.

    Como fazer isso? Ou seja: como registrar o discurso e o sistema declassificao desse universo pesquisado? Como captar a viso de mundodesses sujeitos para alm desse lugar familiar ou extico?

    Para Velho (1978, p. 42) (e para aqueles que se aventuram na pesquisano campo das Cincias Sociais, hoje), a realidade (familiar ou extica)sempre filtrada por um determinado ponto de vista do observador.

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    Neste sentido, esto implicados no processo tanto a subjetividade dopesquisador, quanto a rotina, os hbitos, esteretipos a que o mesmo estexposto nessa familiaridade na qual se insere ou no aparentedesconhecimento diante de uma situao extica. Faz-se necessrio, ento,apropriar-se de alguns instrumentos que possam levar em conta essasubjetividade, ao mesmo tempo em que possibilite ao pesquisador umapostura que no seja etnocntrica (nem adultocntrica, podemosacrescentar....). J mencionamos, no incio, a relao fundamental com adisciplina e a teoria. Gilberto Velho nos auxilia com dois outrosmovimentos: o estranhamento e a relativizao.

    O estranhamento a perplexidade diante do que observamos.Ou seja, trata-se de uma atitude de confronto intelectual ou emocionaldiante das diferentes verses e interpretaes que conseguimos captardo universo pesquisado. Isto se faz necessrio em especial diante doque nos familiar porque, muitas vezes, naturalizamos as nossas aesno meio em que vivemos. Por isso, a capacidade de ver, no familiar,o extico torna-se um instrumento precioso para o pesquisador. Nestecaso, o que ele estranha o seu prprio olhar? Como isso possvel?Colocando-se no lugar do outro. Ou seja, relativizando. sair deuma posio etnocntrica e buscar o ponto de vista do outro, darprioridade ao discurso do outro, sendo necessrio reconhecer e aceitara diferena a fim de capt-la.

    Nas cincias humanas, o critrio de validade, para Bakhtin (2003), a profundidade. impossvel conhecer totalmente o outro nos seusprprios termos; da mesma forma, no possvel conhecer totalmentea si mesmo. A alteridade fundamental para o conhecimento do outro,de mim como um outro e, portanto, da criana como um outro, queme faz rever uma posio de pesquisador e minha identidade de adulto.O modo de enfrentar ou ultrapassar este vis explicitar o lugar deonde se pesquisa, o contexto, os limites, as condies de produo (degestos, discursos e aes, incluindo as condies de produo daprpria pesquisa). Descrever densamente torna-se, pois, fundamental, tantonos marcos da antropologia quanto nos marcos da concepo filosficada linguagem de Bakhtin.

    Levando em considerao que o nosso objetivo pesquisar crianase adultos em diferentes contextos e levando em considerao a infncia, acultura contempornea e a educao, temos que lembrar que estes so

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    sujeitos imersos em contextos que nos so aparentemente familiares e que,de modo especial, as crianas no tm tido muitas oportunidades de secolocarem como sujeitos, mesmo diante das conquistas atuais no que dizrespeito aos direitos das crianas.

    Assim, precisamos delinear uma metodologia que ajude opesquisador a evitar projetar o seu olhar sobre as crianas (e porque nodizer sobre os jovens e adultos tambm?), colhendo delas apenas aquiloque o reflexo dos seus prprios preconceitos e representaes.(SARMENTO; PINTO, 1997, p. 26). preciso que o pesquisador secoloque no ponto de vista da criana e veja o mundo com os olhos dacriana, como se estivesse vendo tudo pela primeira vez! (MATISSE,1983). Isso vai exigir do pesquisador descentrar seu olhar de adulto parapoder entender, atravs das falas das crianas, os mundos sociais eculturais da infncia (QUINTEIRO, 2002, p. 29). A partir de um outroautor, esse mesmo aspecto se destaca. Para Bakhtin (2003, p. 23)

    devo entrar em empatia com esse outro indivduo,ver axiologicamente o mundo de dentro dele tal qualele o v, colocar-me no lugar dele e, depois de terretornado ao meu lugar, completar o horizonte delecom o excedente de viso que desse meu lugar sedescortina fora dele.

    Esse um lugar de exotopia. Assim, o pesquisador ocupa um lugarque no o lugar do outro, mas o seu prprio lugar. Meu olhar sobre ooutro no coincide nunca com o olhar que ele tem de si mesmo. Enquantopesquisador, minha tarefa tentar captar algo do modo como ele se v,para depois assumir plenamente meu lugar exterior e dali configurar o quevejo do que ele v (AMORIM, 2003, p. 14).

    Enfim, se, por um lado, estranhar e relativizar no isenta opesquisador de assumir o seu lugar na produo do conhecimento e nasescolhas a serem feitas para o desenvolvimento da pesquisa, por outro,nos torna cientes dos limites dessa construo que fruto de umainterpretao em que, por mais que possa ter reunido dados verdadeiros eobjetivos sobre as interaes, significados e regras (explcitas e implcitas),esto subjacentes tanto a subjetividade do pesquisador quanto os referenciaistericos que disciplinam o seu olhar.

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    Algumas diretrizes metodolgicas para a pesquisa com crianas

    Com base nas reflexes tericas apresentadas e na prtica, delineamosalgumas diretrizes metodolgicas para a pesquisa com crianas.

    A primeira tem a ver com o que considerado infantil e adulto. Aqui,alm das situaes descritas e da produo terica que vai se disseminando,h que se considerar a explorao que a mdia faz do tema. Duasreportagens de jornal podem ajudar a pensar sobre os lugares sociais dacriana e do adulto no presente: Quanto mais nova a criana, menos medo de searriscar diz uma matria de jornal a respeito da introduo de esportes radicaisnas escolas e vidas das crianas.

    Podemos pensar: quanto mais nova, mais coragem, em comparaoao prprio adulto? Parece haver uma imagem de criana poderosa;ento, precisaria do adulto para o qu? Outra questo: ser corajoso noter medo de nada ou aprender a dimensionar o perigo? Quais asdecorrncias, para a educao, desta valorizao? Em outra reportagem,vemos uma mulher comemorar seus trinta e poucos anos numa festa commotivos identificados hoje como infantis (da Cinderela ou da Minnie)3 .Nesta experincia percebemos uma inverso: o que para a criana e oque para o adulto? Por outro lado, percebemos como o infantil marcadopor uma viso de mercado (infantil consumir determinado tipo deproduto, o que evidencia a relao da infncia com massificao epadronizao cultural). Estas duas reportagens provocam a reflexo deque possvel considerar o ser criana na pluralidade. De qual crianafalamos ao chamar esta festa adulta de infantil e essa criana de corajosa?Isto aponta para as diferentes formas de insero da criana no mundocontemporneo. Enfim, pesquisar com crianas significa poder trazerdiferentes situaes onde as crianas esto interagindo. Por outro lado,parece que, hoje, a questo de classe no condiz com a questo cultural.Portanto, no s a referncia classe social das crianas importante napesquisa, mas indicaes de questes como valores, momento.

    Experincia, autoridade e narrativa so trs eixos que atravessam arelao adulto criana e precisam ser considerados. O adulto sempre propesua interao com as crianas a partir de alguns critrios. Que critrios tmsido propostos nas diferentes situaes observadas?

    Uma segunda diretriz metodolgica que parece interessante para apesquisa com crianas tem origem no conceito bakhtiniano de linguagem.

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    Para Bakhtin (1988), a palavra signo ideolgico. Como signo, a palavra(o discurso) adquire sentidos diversos, dependendo das histrias de quemfala, de acordo com a Histria que a circunda. Os sentidos gerados nocampo dos sistemas ideolgicos abrangentes (cultura, religio, cinciaetc.) tm uma trajetria descendente em direo s experincias cotidianas,enquanto os sentidos produzidos nessas experincias cotidianas fazemuma trajetria ascendente em direo aos sistemas abrangentes. A palavra arena de luta, pois nela se encontram, tensos, diferentes e divergentessentidos. A ideologia do cotidiano afeta os sistemas mais amplos e vice-versa. Quanto a este aspecto, um paralelo pode ser estabelecido comVygotsky (1984) e sua anlise de como a dimenso intersubjetiva ouinterpsquica a saber, os significados produzidos na esfera social, entreos sujeitos precede a dimenso intrapsquica ou intrasubjetiva, aproduo do sujeito singular.

    Outra diretriz metodolgica resulta do entendimento que temBakhtin de que fazer pesquisa em cincias humanas significa trabalhartextos. Por isso, importante pensar o que a linguagem, qual aconcepo de linguagem que orienta a pesquisa. No modo como serealiza a comunicao social, a compreenso sempre ativa. Nunca ointerlocutor passivo. H sempre uma possibilidade de rplica. Quandoescrevemos, nossa palavra sempre se dirige a algum (auditrio social).Quando falo ou escuto estou colocado em um determinado lugar quecaracteriza de determinada maneira os sujeitos com quem dialogo ouque observo. Na pesquisa, fundamental descrever densamente qual olugar de onde eu (pesquisador) falo e escuto e como explicito esseslugares. E de qual lugar falam ou agem os sujeitos pesquisados. O lugarde onde fao a observao interfere naquilo que eu observo e, assim, importante expor qual o lugar social e poltico de onde faoobservao, para alm do lugar fsico, explicitando relaes de fora,poder, desigualdade e modos de exerccio da autoridade. A classe social,os indicadores scio-econmicos, a insero e as prticas sociais eculturais oferecem o material concreto em que as relaes vo sendoestabelecidas e em que so tecidas as histrias; por causa disso precisamser conhecidos, descritos, considerados.

    Ainda outra diretriz metodolgica que se coloca como relevante na pesquisa com crianas estudar as especificidades dos gnerosdiscursivos, neste caso adultos e infantis. Diferentes prticas sociais e

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    formas de insero social distintas implicam em organizaes delinguagem tambm diversas, ou seja, toda esfera de ao humana produzdiferentes modos de enunciao e de usos da linguagem. Os enunciadosrefletem condies especficas e um certo estilo verbal (jeito,vocabulrio, gramtica, composio sinttica etc.). Mesmo no contextoda cultura contempornea, a heterogeneidade marca os gnerosdiscursivos de crianas, jovens e adultos, marca os modos de apropriaoe produo da linguagem. Identificar, analisar e problematizar estesdiscursos tarefa importante da pesquisa.

    Sintetizando, podemos dizer que nas situaes de pesquisa, tambmcom crianas, se coloca como fundamental analisar os discursos, asinterlocues tanto nas entrevistas quanto em outras situaes de interao(observao de brincadeiras, conversas, dilogos entre crianas, dilogosentre crianas e adultos, experincias culturais). No texto que descreve erelata, no texto da pesquisa , pois, necessrio explicitar:

    - as condies de produo do discurso;- o lugar social do pesquisador (posio de onde fala/escuta);- as marcaes de idade, gnero, classe social, etnia, tamanho;- as interaes, falas, aes, dilogos, movimentos. No basta que as

    crianas apaream; preciso descrio densa, cuidando para que asinterpretaes no sejam mais fortes que as falas. E que as descries e a transcrio das falas propiciem outras interpretaes diferentesda que apresenta o pesquisador;

    - o(s) gnero(s) discursivo(s) produzido(s), os modos de produoda linguagem, a corrente de comunicao verbal; os modos comque os adultos e as crianas organizam o discurso em termos dotempo verbal (imperativo? Quem o vocativo da fala?) e da forma(positiva ou negativa);

    - o auditrio social em jogo (fala para quem?);- o heri da fala qual o tpico da fala ? , teor e contedo da palavra;- os diferentes sentidos produzidos, as franjas das palavras e enunciados;- os gestos, movimentos, a entoao, as expresso faciais, caretas, choro, riso.

    O desafio trazer para o texto narrativo a riqueza da/na linguagemque trazem elementos marcadores da discursividade. Por outro lado,garantir a contextualizao das falas, evitando que sejam muito curtas ourecortadas, bem como transcrever dilogos entre as crianas e entre

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    crianas e adultos fundamental. Breves perfis com dados e trajetriasde todos os atores envolvidos (com idade, escolaridade, experinciacultural, famlia etc.) contribuem tambm no delineamento dos cenriose das condies de produo dos discursos e das interaes. Mais doque dar voz trata-se, ento, de escutar as vozes e observar as interaese situaes, sem abdicar do olhar do pesquisador, mas sem cair natentao de trazer os sujeitos apenas a partir desse olhar.

    Enfim, para enfrentar estes desafios terico-metodolgicos odilogo com vrios campos do conhecimento oferece ferramentasconceituais importantes para se entrar em campo. Esperamos, com esteprimeiro esboo, contribuir para essa tarefa do pesquisador preocupado,hoje, com a educao das crianas de diferentes condies sociais e dediversos contextos culturais. Afinal, o mundo com suas contradies,instabilidade e desigualdade existe no para ser contemplado, conhecidoou vendido, mas sobretudo para ser transformado. Conhecer as aes eprodues infantis, as relaes entre adultos e crianas, so passosessenciais para a interveno e a mudana.

    Notas

    1 Pesquisa realizada no Departamento de Educao PUC-Riocom apoio do CNPq. Integram o grupo de pesquisa: AdrianaFresquet, Alexandra Couto, Anelise Nascimento, Daniela deOliveira Guimares, Denise Sans, Eliane Fazolo, Juliana Pereira,Luciana Martins Alves, Maria Teresa J. Moura, Nbia de OliveiraSantos, Patrcia Corsino, Patrcia Santos, Rosaura Ferreira, SilviaNeli Barbosa e Sonia Kramer.

    2 O texto Observando o familiar foi republicado em Velho (1999).

    3 O tema da infncia, com este enfoque, tem sido foco de muitasmatrias de jornal. Este texto se refere a Infncia radical(INFNCIA radical. O Globo, Rio de Janeiro, Caderno Jornal daFamlia, p. 1, 24 abr. 2004) e Heris e princesas invadem a festa deadultos (HERIS e princesas invadem a festa de adultos. O Globo,Rio de Janeiro, 1 caderno, p. 2, 33, 09 maio, 2004).

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    Theoretical and methodological issuesconcerning childhood research

    Abstract:

    This paper aims to contribute to thetheoretical and methodological frameworkconcerning research on childhood. Basedon Benjamin, the text proposes theapprehension of the relationship ofinfancy, culture and society, relying bothon anthropological and philosophicalperspectives. In the first moment, thesubject is examined in the context of thedebates in the realm of Human Sciences,and the text underlies some challengesand illusions faced by researchers. Then,Brazilian recent academic literature ispresented, focusing different perspectiveson the main subject. On the thirdmoment, the article analyzes aspectsviewed as important for anthropologicalresearch: distance and proximity;acquaintance and unfamiliarity. At the end,based on Bakhtins and Vygotskys ideas,the text proposes some methodologicaldirections related to childhood research.

    Key words:

    Children-Research. Research-Methodology. Children-Culturalaspects. Infance-Cultural aspects.

    Recebido em: 21/03/2005

    Aprovado em: 04/05/2005

    Sonia KramerMarqus de So Vicente 255-Gvea22453900 - Rio de Janeiro, [email protected] Neli Falco BarbosaMarqus de So Vicente 255-Gvea22453900 - Rio de Janeiro, [email protected] [email protected];

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    Cuestiones terico-metodolgicas de lainvestigacin con nios

    Resumen:

    El objetivo del texto es contribuir para lasbases terico-metodolgicas de lainvestigacin con nios. Con apoyo enBenjamin, el texto busca entender las re-laciones entre infancia, cultura y sociedad,a partir de una perspectiva fundamentadaen la antropologa y en la filosofa. En unprimer momento, se sita el tema en elcontexto de las ciencias humanas y sociales,apuntando algunos desafos y ilusionesque los investigadores sociales enfrentan.Seguidamente, se presenta la produccinacadmica brasilea reciente, trayendo di-ferentes perspectivas sobre el tema. Eltercer tem analiza dos aspectos que, enuna interlocucin con la antropologa, sonfundamentales para el trabajo de campo:distancia y proximidad; familiaridad eextraamiento. El cuarto tem proponealgunas directrices metodolgicas para lainvestigacin con nios, con base en laobra de Bakhtin y de Vygotsky.

    Palabras-clave:

    Nios-Investigacin. Investigacin-Metodologia. Nios-Aspectos culturales.Infancia-Aspectos culturales.